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ABIM 005 JV Ano XII - Nº 99 - Jul/18 Phoenix Uma Ave Chamada Brasil

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ABIM 005 JV Ano XII - Nº 99 - Jul/18

PhoenixUma Ave Chamada

Brasil

A Revista Arte Real é um periódico maçônico virtual, fundado em 24 de fevereiro de 2007, de periodicidade mensal, distribuído, gratuitamente, pela Internet, atualmente, para 27.874 e-mails de leitores cadastrados, no Brasil e no exterior, com registro na ABIM - Associação Brasileira de Imprensa Maçônica, sob o nº 005 JV, tendo como Editor Responsável o Irmão Francisco Feitosa da Fonseca, 33º - Jornalista MTb 19038/MG.

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EditorialO temário desta edição servirá como o tilintar de

um despertador, para os mais desatentos, com relação à caótica situação da política brasileira. É pelo menos preocupante o desenrolar do próximo pleito eleitoral, já que o “tudo pode” da suprema corte brasileira (que propositalmente aqui recebe de nós letras minúsculas) permita que uma corja de ratos políticos se mantenha no poder, mesmo arrastando toneladas de processos ao longo de sua pífia trajetória na vida pública.

O tema política brasileira poderia, se não fosse tão fétido, ser um assunto de constante debates entre as pessoas, preocupadas com os destinos desta nação. A corrupção sistêmica, o descaso com a coisa pública, somados a falta de comprometimento do eleitor, fez do Brasil um campo fértil para a bandidagem se apossar de diversos setores, senão todos, da sociedade.

Na contramão deste lúgubre cenário, observamos o surgimento de isolados movimentos em busca de fazer o país renascer, através de campanhas, coleta de assinaturas, etc. Razão da escolha da capa desta edição, simbolizada por uma Phoenix, a qual representa o Brasil, em um eterno renascer das crises, embora sendo, corriqueiramente, traído e subtraído por seus próprios filhos desnaturados.

De nossa lavra, publicamos a matéria “Uma Nova Postura, Um Novo Brasil”. Uma expectativa de alertar o leitor que o país somente mudará, a partir do momento que essa mudança se iniciar dentro de cada um de nós. Somos, cada um de nós, a centelha que, juntos, formará a Phoenix que renascerá das cinzas, para o dealbar de

um novo tempo de Paz, Justiça, Dignidade e Respeito, em terras brasileiras.

Nosso Irmão Rodolfo Germano, Mestre Maçom da Loja Maçônica Deus, Justiça e Amor n° 2086, do Oriente de Sumaré-SP, jurisdicionada ao GOB-SP, brindou-nos com uma abordagem muito realista da postura do maçom, com relação à política atual, através de sua matéria “Maçonaria e Política – Um Ensaio de Interpretação Libertária!”, sobre a qual pede-se uma profunda reflexão!

Fechamos esta edição com outra matéria de nossa autoria, sobre a situação vexaminosa do GOB, que, lamentavelmente, já estampa revistas e jornais do mundo profano, com considerações que envergonha o Povo Maçônico. A matéria “Vanitas Vanitatum et Omnia Vanitas” (vaidade das vaidades, tudo é vaidade), trata o assunto, considerando a história de quase dois séculos do GOB, composta de capítulos de cisões, renúncias, brigas pelo poder, eleições fraudadas, e tantas outras descomposturas, em perfeito descompasso com os ensinamentos que preceituam nossos rituais.

Que a Phoenix que ilustra a capa desta edição, à guisa de nosso Brasil, possa servir, também, para representar o egrégio Grande Oriente do Brasil, e que os bons ventos dissipem os gladiadores de um pseudo-poder, para que esta secular instituição possa renascer das cinzas e cumprir seu verdadeiro papel, na reconstrução de um Brasil mais justo e digno.

Esse é o objetivo maior da escolha desse temário. Boa leitura para todos!

Revista Arte Real nº 99 - Jul/18 - Pg 03

Uma Nova Postura,

Um Novo Brasil!

A participação da Maçonaria nos mais diversos acontecimentos na história do Brasil é um fato e tem sido exaustivamente citada, quase que

diariamente em nossos templos. Embora tenhamos verdadeiro orgulho de tais inciativas desses valorosos Irmãos, não poderemos nos debruçar nas glórias do passado e assistirmos ao caos em que vive nosso Brasil, nas mais variadas áreas da sociedade.

O momento delicadíssimo por que passa o nosso país é motivo de grande preocupação para o povo brasileiro, em especial, nós Maçons. Embora, parte da população, influenciada pela mídia, prefira entender que a corrupção sistêmica no Brasil e como tratar de uma doença incurável, uma maioria caminha em contra fluxo e defende que o único remédio eficaz para este mal, tem como Princípio Ativo a vontade do eleitor na construção de um país digno e justo.

Diversos segmentos da sociedade vêm apresentando iniciativas, campanhas e projetos para reivindicar os direitos da população, subtraídos pelos maus políticos. A exemplo da Campanha Nacional, nascida no seio de uma Loja da GLMMG – Grande Loja Maçônica de Minas Gerais e encabeçada pela CMSB – Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, intitulada “Corrupção Nunca Mais”. Outro d grande importância é o Projeto “Dez Medidas Contra

a Corrupção”, de autoria do MPF, que o Congresso Nacional, na calada da noite, aproveitando-se do luto nacional, com a queda do avião do time da Chapecoense, manipulou e alterou o projeto em benefício dos políticos investigados. Citaria, também, o 1º Ciclo de Cursos on-line gratuito de “Formação da Cidadania”, promovido pelo Observatório Social do Brasil, em São Paulo. Além de diversos movimentos como o MBL - Movimento Brasil Livre. Movimento Avança Brasil Maçons. O Ranking dos Políticos. Politize. As 33 Medidas Para Um Brasil Justo e Perfeito, encabeçado pelo GOB-São Paulo, projeto que tem como parceira a Sociedade Brasileira de Eubiose.

Após a Constituinte de 1988, quatro PL - Projetos de Lei, de Iniciativa popular, tornaram-se Lei: o Homicídio Qualificado passou a ser crime hediondo (com bases no caso Glória Perez); Combate à Compra de Votos; Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social; Lei da Ficha Limpa (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral), projeto de lei do maçom e Juiz Márlon Reis – GOB-Maranhão.

Ao longo da história da política brasileira, a corrupção sistêmica implantada, maquiavelicamente, além de subtrair as finanças públicas em cerca de R$ 230 bilhões/ano, através das mais atrevidas estratégias criminosas, as quais estão sendo reveladas pelas 51 fases da “Operação Lava Jato” (março/14 a 08/mai/18), o

Francisco Feitosa

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que vem desestimulando o eleitor de seu direito de votar. O que mais preocupa é que, ainda, não sabemos o que de corrupção existe no BNDES. Comenta-se em algo muito maior e constrangedor, em comparação a tudo que a Operação Lava jato já revelou.

Outro fato a se considerar é o desprezo com o civismo, que se reflete nas escolas, com a retirada de disciplinas como Moral e Cívica e OSPB dos currículos escolares; entoar o Hino Nacional, apesar da criação da lei federal 12.031/09, que determina essa prática, pelo menos, uma vez por semana, não tem sido observada. O ato de votar, diante de tantos escândalos e impunidades, passou a ser um sacrifício pelo cumprimento do dever, quando deveria ser um sacro-ofício do seu direito de escolher seus dignos representantes.

Com isso, o desinteresse do povo pela política que já não era pouco, consolida-se com um total descomprometimento do eleitor - tudo que o político mau caráter mais deseja! O filósofo grego Platão (427 a.C – 347 a.C), dizia que “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”. Martin Luther King, assassinado há meio século, dizia que “O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”. Portanto, não ser parte da solução, já nos coloca na posição de sermos parte do problema.

Os Movimentos “Diretas Já”, “Caras Pintadas”, “Ética na Política”, tiveram seus frutos. A partir de 2013, os movimentos populares voltaram a tomar força, com as mobilizações pelas redes sociais, como o “Movimento Passe Livre”, “Vem Pra Rua”, tirando a classe política da zona de conforto, que até insinuaram fazer as reformas política, agrária, fiscal e trabalhista, mas quase nada foi levado a efeito, depois que o povo deixou de ocupar as ruas.

Desses movimentos, cresceram iniciativas como a de Redução de Salários de Prefeitos, Vereadores por diversas cidades do Brasil. De parte do Senador Magno Malta foi lançada, nov/16, uma PEC (proposta de emenda constitucional) de redução de 50% dos salários dos políticos, a serem congelados por 20 anos.

A realidade de nosso país não é motivo de desânimo, pelo contrário. Os calabouços da política brasileira estão sendo colocados às claras. Tudo isso já vinha acontecendo há décadas!

Imaginemos a política brasileira como um jarro de vidro, cheio de água e com depósito de sujeira no fundo. O que vem acontecendo no Brasil é que está sendo colocada água limpa, cristalina nesse jarro, criando um grande turbilhonamento na água e levantando todas as impurezas do fundo. Com a entrada de água, o jarro vai

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transbordando e jogando o excesso para fora e, com isso, a sujeira, paulatinamente, sendo expulsa, até o momento de ficar, somente, a água límpida e pura. O processo é lento, porém constante, e deve ser mantido a qualquer custo, para que a limpeza seja, de fato, realizada.

É bem possível que, apenas, as gerações futuras possam se beneficiar desses esforços, à guisa do dito popular: “quem planta jabuticabeira não colhe jabuticabas”.

Chamo atenção para a Campanha “REAGE, BRASIL!”, que foi lançada no dia 21 de março deste ano pela CMSB - Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, instituição que reúne as 27 Grandes Lojas brasileiras. O palco do lançamento foi a sede da GLMMG. Vale citar que o projeto anterior – “Corrupção Nunca Mais”, também, encabeçado pela CMSB, nasceu da iniciativa de valorosos Irmãos da Loja Regeneração Barbacenense, do Oriente de Barbacena, jurisdicionada à GLMMG.

No lançamento da Campanha “Reage Brasil”, foi proferida a palestra do Desembargador Rogério Medeiros Garcia de Lima, do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), doutor em Direito Administrativo e

autor do livro “Respeitemos a Polícia”, que abordou o funcionamento da Justiça Eleitoral no país e os principais problemas que envolvem uma eleição nacional. Na sequência, desenvolveu o tema “A Justiça Eleitoral e as Eleições 2018”, abordando as fraudes eleitorais, o funcionamento da “Lei da Ficha Limpa”, as urnas eletrônicas e as dificuldades do combate às infrações eleitorais.

Para marcar a data, o, então, Grande 1º Vigilante, Irmão José Anísio Moura, discorreu sobre o “Dia da Consciência Política”, destacando a importância para o debate e a conscientização da família maçônica sobre os temas políticos nacionais, sobretudo, em ano de eleições, tendo em vista a delicada situação das instituições públicas e privadas envolvidas com a corrupção, tônica diária de todos os assuntos e problemas atuais do país. Disse que aposta na melhoria da educação, em todos os níveis escolares, a fim de melhor preparar a nova geração, com eleitores mais conscientes.

Mahatmã Ghandi dizia: “Seja você a mudança que você quer ver no mundo”. Portanto, para que o resultado seja diferente, não poderemos continuar agindo da mesma forma. A princípio, a mudança que deve ser implantada por nós é a postura mental. Acreditar que possamos mudar o Brasil, pois o Brasil somos todos nós! Pensar positivo e não nos deixarmos ser influenciados pelos boatos e/ou pela mídia interesseira (fake news).

O Voto Consciente transcende, em muito, da prática corriqueira de se depositar o voto na urna. Requer uma análise apurada do candidato, independentemente de partido, observando sua vida pregressa, sua qualificação para o exercício do cargo e sua escolha desinteressada, consolidando-se com o acompanhamento de todo o seu mandato. Diversos aplicativos foram lançados. Citaremos, apenas, um como exemplo: o “Detector de Corrupção”, que pela foto do candidato, faz-se uma varredura e logo se apresenta se o mesmo está respondendo ou respondeu processos. Adotemos uma nova postura, e somente assim, teremos um novo Brasil!

Na Assembleia Geral da CMSB 2018, realizada em Vitória-ES, foi assinada a “Carta de Vitória”, cujo teor, com base na Campanha “Reage Brasil”, conclama o povo brasileiro, para que no pleito eleitoral, em outubro próximo, faça de seu voto um instrumento de mudança. Cabe-nos tornar exequíveis tais iniciativas, exercendo, de fato, nosso papel de cidadão, difundindo, junto aos nossos familiares e amigos, a necessidade do comprometimento de cada um com o Voto Ético!

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Maçonaria e PolíticaUm Ensaio de Interpretação Libertária!

Rodolfo Germano

Inspirado pelos atuais posicionamentos políticos que os diversos representantes maçônicos têm tomado diante da sociedade, os quais demonstram relevante falta de

unidade e de princípios mais robustos que demonstrem preparo para lidar filosoficamente com o cerne das questões e dos problemas da sociedade, este artigo introduz aos leitores o conceito libertário como instrumento de análise desses posicionamentos e de possível evolução dos maçons enquanto agentes políticos.

O objetivo do presente artigo passa longe de estabelecer qualquer tratado sobre o tema. Pelo contrário, é suscetível a reavaliações e passível de erro.

Todos os cidadãos não inimputáveis são conhecedores, sendo maçons ou não, de vários feitos históricos relacionados a famosos maçons engajados politicamente em ideais de liberdade e democracia, que protagonizaram, ou foram importantes coadjuvantes em diversas independências coloniais, na instituição de repúblicas democráticas, bem como no fim de alguns sistemas escravocratas. Sobre esse tema, José Castellani (2007) indica alguns desses famosos maçons:

(…) nenhum pesquisador imparcial e desapaixonado poderá negar que, entre os principais líderes da libertação das colônias americanas, sobressaíram-se os maçons: George Washington e Benjamin Franklin, nos Estados Unidos da América; San Martin, na Argentina; Simon Bolívar, na Venezuela; Benito Juarez, no México; José Marti, em Cuba; O’Higghins, no Chile; Sucre, na Colômbia (…). Isso sem contar a figura maiúscula do venezuelano Francisco Miranda que lutou,

direta ou indiretamente, pela libertação da maior parte das colônias espanholas (A Ação Secreta da Maçonaria na Política Mundial, CASTELLANI, p. 37).

Vê-se que se trata de um passado glorioso, ainda que contestável em seus detalhes. Mas e o maçom atual? Mais especificamente, e o maçom brasileiro atual? É possível constatarmos o exercício político de algum maçom que nos salte aos olhos? Existe literatura maçônica vasta e estabelecida sobre o tema? Ou, como estamos acostumados a concordar, a Maçonaria brasileira realmente se distanciou da política, a ponto de se demonstrar incapaz de fugir do senso comum “direita x esquerda” em seus posicionamentos? É sobre isto que trataremos neste ensaio, apresentando como proposta o libertarismo ou libertarianismo, como alguns preferem, como ideal que coaduna com os princípios maçônicos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, tendo florescido na França e nos EUA, onde a Maçonaria exerceu papel protagonista nas revoluções em defesa de tais princípios.

Lá se vão quase três séculos quando o clérigo James Anderson escreveu suas constituições, afastando os debates políticos e religiosos das Lojas Maçônicas. No entanto, a despeito do evidente e feliz desrespeito à essa norma por parte dos maçons ilustres supramencionados, os maçons brasileiros atuais a seguem quase que religiosamente, ao mesmo tempo em que se vangloriam da filiação maçônica de tais revolucionários.

Ainda nesse sentido, apesar de termos no Rito Escocês Antigo e Aceito, o rito com o maior número de adeptos no Brasil, verdadeiras convocações à luta política

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contra déspotas e tiranos, prevalece a completa inanição por parte da Maçonaria brasileira.

Mas seria essa omissão deliberada? Talvez não. Vê-se muita vontade, bastante disposição, mas pouco preparo. Veem-se maçons “atirando para todos os lados”, o que só evidencia um ponto: o maçom brasileiro não entende de política. Ao que tudo indica, o maçom brasileiro nutre poucos ou incompletos conceitos relativos aos contextos necessários ao debate político e acaba por pecar, muitas vezes miseravelmente, naquilo em que deveria, em nome do passado político glorioso da instituição, ser exemplo e destaque para a sociedade.

Vejam, por exemplo, o “Posicionamento da Maçonaria perante o Povo Brasileiro” declarado pela Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil – CMSB, no qual, diante das manifestações populares ocorridas em 2013 e após profunda deliberação de seus membros, fez uma lista de “exigências”, até certo ponto compatíveis com bons e autênticos anseios populares e até com os princípios de liberdade e igualdade, como o voto distrital, a descentralização do poder executivo, o fim de foros privilegiados, entre outras. No entanto, o documento insistiu na cobrança de mais financiamentos para serviços públicos, como a saúde, educação e segurança, legitimando o conceito profundamente disseminado em nossa cultura de que bens e serviços podem configurar “direitos naturais” dos cidadãos e que, portanto, o Estado seria o fornecedor ideal desses serviços. Isso demonstra como o brasileiro acaba por adotar o sistema paternalista no qual viveu nos últimos séculos como uma verdade absoluta, tendo dificuldades de visualizar um sistema diferente, em que os cidadãos assumem maior responsabilidade perante a sociedade. Em defesa de tal responsabilidade individual, o político norte-americano Ron Paul manifestou-se da seguinte forma:

“O suposto direito à assistência médica só pode ser assegurado a alguém à custa de outras pessoas. Essa transferência só é possível através do uso da

força. E ela cria burocracias opressivas, encoraja o uso exagerado de recursos e leva à estagnação tecnológica e, inevitavelmente, ao racionamento e restrições”. (RON ERNEST PAUL. Definindo a Liberdade. Tradução de Tatiana Villas Boas Gabbi e Caio Márcio Rodrigues. São Paulo: Instituto Von Mises Brasil, 2013, p. 41)

Já a “Carta ao Senador Aécio Neves”, assinada pelo Eminente Grão Mestre Estadual do Grande Oriente de São Paulo, Mário Sérgio Nunes da Costa, motivada por uma palestra proferida pelo pré-candidato à Presidência da República em evento maçônico de grande porte, organizado pelo GEAP (Grupo Estadual de Ação Política da Maçonaria Paulista), onde se destacam, também, os acertados apoios ao fim do voto obrigatório, ao fim da reeleição, mas, por sua vez, “escorregando” com o apoio ao voto distrital misto, que manteria, ainda que em menor proporção, o problema atual de se votar num candidato e se eleger outro (lembrando que a CMSB optou por defender o voto distrital na íntegra), à fidelidade partidária e todo o engessamento de candidaturas, que não são compatíveis com nenhum princípio de liberdade e ao financiamento público de campanhas, que soa bem intencionado, mas que, assim como em todos os outros aspectos, configuraria apenas mais impostos para os cidadãos. Isso tudo num contexto de:

“O Povo não quer reformas que solapem seu direito à livre escolha e concentrem todo Poder nas mãos de um punhado de “chefes” partidários; ou que cerceiem a liberdade de representação das minorias, cassem o direito à livre expressão, ampliem privilégios dos mais fortes ou que asfixiem economicamente os pequenos”.

Mais incoerente, impossível. O direito à livre escolha ainda é solapado pelo voto distrital misto, a concentração do poder nas mãos de um punhado de chefes partidários se manteria intacta e a liberdade de representação das minorias continuaria cerceada pela falta de liberdade de se criar partidos políticos.

O maçom talvez seja o elemento da sociedade que mais fala sobre liberdade, mas o que se pode observar é que ele pode ser um dos que menos a compreende.

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Vanitas Vanitatum et Omnia Vanitas

É lamentável a exposição, ao mundo profano, do que vem acontecendo na Maçonaria Brasileira, especificamente, no Grande Oriente do Brasil, que

vem se esfacelando em fatias da vaidade. Pequenos grupos, que se revezam em um pseudo-poder, ao longo de sua história, insistem em tentar transformar a “primeira” Obediência Maçônica do Brasil em uma Casa sem Ordem. E aqui vale citar que este termo “Obediência” é um substantivo que define a ação de quem obedece, às leis e normas de uma nação, por exemplo, e devem ser permeadas pela obediência geral da sociedade, ou seja, todos devem obedecer e cumprir o que estiver pré-estabelecido e decretado como lei de ordem.

Ordem, portanto, do latim, “Ordo”: boa disposição das coisas. Como uma instituição, significa: “confraria de seculares que se comprometem a cumprir um conjunto de preceitos e regras definidos em estatuto próprio”. No caso da “Obediência” supracitada... bem, recorreremos a sua própria história para melhor explicá-la!

Nada está ao acaso. Os resultados atuais são reflexos de ações anteriores. Entendemos o presente pesquisando o passado. Viajaremos pela história da Maçonaria no Brasil e iremos entender que, o caos de hoje é tão somente mais um capítulo de uma história de turbulências, renúncias, dissidências, resultando no surgimento de tantas outras “potências maçônicas”.

As tentativas de organização da Maçonaria no Brasil vêm bem antes do surgimento do Grande Oriente Brasílico, em 1822. Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, irmão consanguíneo de José Bonifácio, já havia fundado uma Obediência, o Grande Oriente Brasileiro, em 1813, que teve vida efêmera.

Na reinstalada Loja Comércio e Arte, em sessão de 15 de maio de 1822, portanto, antes da fundação do Grande Oriente Brasílico, o Irmão Gonçalves Ledo (Diderot) propôs “nomear uma Comissão de sete membros, destinada a redigir a Constituição Brasílica Maçônica, para reger o Grande Oriente e Maçonaria Brasiliense” – este é o primeiro registro da intenção de se fundar a nova Obediência” (trecho da Ata daquela Sessão).

Ledo, o verdadeiro arquiteto da Maçonaria Brasileira, levou seu intento a efeito em 17 de junho daquele ano, subdividindo a Loja Comércio e Artes, em três Lojas, a fim de atender a legalidade para a criação de uma Obediência Maçônica. Poderia sim, ter se apresentado para ser o primeiro Grão-Mestre do novel Grande Oriente Brasílico, ou Brasiliano, mas, sua estratégia foi a de ficar como Grande 1º Vigilante e indicar o nome de José Bonifácio, Conselheiro do Imperador, pois através dele, conseguiria convencê-lo a iniciar na Maçonaria D. Pedro I (Irmão Guatimozin), e, com isso, colocar em pauta seu plano de libertar o Brasil da Coroa Portuguesa.

Gonçalves Ledo

Francisco Feitosa

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O Irmão Bonifácio era muito pouco assíduo às sessões do Grande Oriente Brasílico, sendo presididas, na maioria das vezes, por Ledo. Em uma das poucas em que presidiu, temos a 9ª Sessão (extraordinária) da Assembleia Geral, de 02 de agosto de 1822, em que foi proposto e aprovado, por unanimidade, o nome de D Pedro para iniciar na Maçonaria, e sendo iniciado, ainda, naquela mesma Sessão. Três dias depois, na 10ª Sessão, mais uma presidida por Ledo, seguindo sua estratégia, D. Pedro foi exaltado, diretamente, a Mestre Maçom.

As desavenças entre os grupos de Bonifácio e Ledo eram públicas e cresciam a cada dia, por suas diferenças nos ideais para a libertação do Brasil. Ledo, estrategicamente, em Sessão, novamente, presidida por ele, menos de dois meses depois, por aclamação, conduziu D Pedro a Grão-Mestre do Grande Oriente Brasílico. Isso desencadeou um contra ataque por parte de Bonifácio, que ficou conhecida por “Bonifácia”, com a deportação de vários Irmãos do grupo de Ledo. As desavenças entre eles, envolveram o Apostolado e o Grande Oriente, enfim, D Pedro resolveu, por bem, fechar a Maçonaria, em 25 de outubro de 1822, dias depois, o Apostolado. O adormecimento da Ordem foi fruto de uma grande disputa pelo poder, que durou até 1831, com o retorno de D Pedro I a Portugal.

Em junho de 1830 surgia o Grande Oriente Nacional Brasileiro da rua de Santo Antônio, que só fora instalado um ano depois, conhecido por Grande Oriente do

Passeio, que durou até 1861. O Grande Oriente do Brasil, volta as suas atividades, em 1832. Tem-se notícia da existência do Grande Oriente Brazileiro, 1834. A instalação do Supremo Conselho, por Montezuma, em 1832. Brigas internas, motiva um grupo a se retirar e criar outros Supremos Conselhos, como o SC do Grande Oriente do Passeio, o SC de Caxias, o SC de Brito Saches, até o o próprio Montezuma, depois de destituído do SC, em 1835, aparece em dez/1854 e funda um novo SC, também, irregular, extinto em 1859.

Entre 1854-55, o Supremo Conselho original e legítimo, de 1832, funde-se ao Grande Oriente do Brasil, como Potência mista. As brigas por interesses de pequenos grupos se mantém constante. Surge, então, mais uma dissidência, o Grande Oriente dos Beneditinos, em dezembro de 1863. Nove anos mais tarde, surge a tentativa de fusão entre o GOB e o Grande Oriente dos Beneditinos, com a criação do Grande Oriente Unido. Feita a eleição, mais uma vez, a confusão. Houve fraude, mas o Grande Oriente Unido do Brasil continuou a existir, sem o GOB e sem o dos Beneditinos. Em 1883, oficializou-se a fusão do Grande Oriente Unido do Brasil com o dos Beneditinos.

As cisões continuam: surge o Grande Oriente do Norte do Brasil, em outubro de 1884. Em 1889, foi autorizado a instalação da Grande Loja Provincial (GLUI), em São Paulo. Naquele mesmo ano, foram instaladas as Grandes Lojas Federadas do Grande Oriente do Brasil de São Paulo e da Bahia. Em 1893, mais uma cisão no GOB: fundado o Grande Oriente e Supremo Conselho do Estado de São Paulo; um mês depois, fundado o Grande Oriente e Supremo Conselho do Rio Grande do Sul; mais um ano depois, fundado o Grande Oriente Mineiro.

Turbulências, brigas e cisões e mais uma “potência”: março de 1900, Grande Oriente Autônomo da Bahia. Em 1902, surge o Grande Oriente e Supremo Conselho do Paraná. O Grande Oriente do RS, fundado em 1893, funde-se ao GOB, em 1909, porém o namoro durou, apenas, até 1915. Um ano depois, mais uma “potência”, o Grande Oriente Autônomo de São Paulo. Em 1921, mais uma cisão e ressurge o Grande Oriente e Supremo Conselho de São Paulo.

Mais uma briga e, em 1921, o Grande Oriente do Brasil declara extinto o Grande Oriente Estadual de São Paulo. No ano seguinte, Mario Behring é empossado Grão-Mestre do GOB. Um ano depois, o Grande Oriente do Brasil cria a Grande Loja Simbólica do Estado de São Paulo, sendo extinta em 1925. Neste mesmo ano, nova eleição e Behring é reeleito, porém houve fraude nas eleições. Behring reassume, dissolve o Conselho Geral da Ordem e renuncia 20 dias depois, porém, como era uma

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Potência mista, mantém-se Soberano Grande Comendador no Supremo Conselho.

Em outubro de 1926, enfim, um acordo entre o GOB e Behring, ficando os Altos Graus do REAA a cargo do Supremo Conselho. No mesmo ano foi fundado, em Recife, o Grande Oriente Estadual de Pernambuco e o Grande Oriente e Supremo Conselho para o Norte do Brasil. Em 1927 acontece o que ficou conhecida por a 1ª Grande Cisão, com a criação das Grandes Lojas, por Mario Behring.

De outubro de 1937 a janeiro de 1940 a Maçonaria no Brasil foi fechada por ordem das autoridades federais. De mais outra cisão com o GOB, em 1944, surge o Grande Oriente Independente do RJ, no mesmo ano, o de Minas Gerais e o do Paraná. Em 1945, de outra cisão, surge a Grande Loja do Brasil, que existiu por pouco tempo. Em outra dissidência do GOB, surgia em 1948, Grande Oriente Unido, que absorveu a Grande Loja do Brasil. Em 1950, surgia o Grande Oriente Estadual de Santa Catarina.

Em 1952, foi fundado o Grande Oriente do Paraná. No ano seguinte, o Grande Oriente do Brasil funda o Grande Oriente Estadual “Tiradentes” de Minas Gerais, que se fundiria, em 1960, ao novo Grande Oriente de Minas Gerais. Em 1953 foi fundado o Grande Oriente Independente de Pernambuco. De outra cisão do GOB, em 1964, surge o Grande Oriente Independente do Paraná. Em 1973, fraudes nas eleições do GOB, que deu origem a 2ª Grande Cisão, com o surgimento da COMAB – Confederação da Maçonaria do Brasil.

Em 1978, eleições no GOB, suspensa pelo decreto nº 001, e feita uma nova eleição. Enfim, depois dessa turbulenta viagem na história do GOB, há de se considerar que a “desordem”, que estamos assistindo não é nenhuma novidade! O REAA, quando do surgimento do primeiro Supremo Conselho, criado na Jurisdição Sul dos EUA, adotou o dístico latino “Ordo Ab Chao”, ou seja, “Ordem no Caos”, colocando um ordenamento nos 33

graus do Rito. Tal momento do GOB inspira a adoção, também, de um dístico, dada essa trajetória de brigas pelo poder: “Vanitas Vanitatum et Omnia Vanitas”, traduzindo, “Vaidade das vaidades, e tudo é vaidade”.

Quero discordar do ditado popular, que diz: “pau que nasce torto morre torto”. A planta, enquanto muda, aos cuidados de quem a plantou e acompanhou seu crescimento, terá a forma ou a deformação, de acordo com os cuidados do agricultor. A instituição não nasceu torta, mas fora conduzida a luz da vaidade de alguns pequenos grupos que a deformaram. Esses grupos, pelo que vemos, proliferaram-se até os dias atuais e mantêm a sede pelo poder, semeando a desunião, manchando a história de glória de valorosos Irmãos do passado.

É duro ver a terceira maior Maçonaria do mundo desunida e espargida em dezenas de “potências”, assistindo o país atravessar sua pior crise política e econômica da história, implorando por soluções, enquanto altos dirigentes se digladiam, recorrendo a tribunais da justiça comum, estampando suas brigas, sem o menor pudor, nos jornais e revistas, tudo por um pseudo poder!

Mas nem tudo está perdido! Com a renovação na direção de vários dirigentes das instituições maçônicas brasileiras, fez surgir um fio de esperança. Na Assembleia Geral da CMSB - Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil (jul/2018), em Vitória-ES, tivemos o inédito encontro, reunindo o Soberano Grande Comendador do Grau 33 do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil - Jorge Luiz de Andrade Lins, o Grão-Mestre Geral do GOB - Ricardo Maciel Monteiro de Carvalho, o Presidente da COMAB - Confederação Maçônica do Brasil - Gilberto Lima da Silva e os 27 Grão-Mestres da Grandes Lojas brasileiras, que enfatizaram a necessidade de reaproximação e convivência fraternal entre as instituições maçônicas nacionais. Que isso se cumpra, em nome do resgate do nosso Brasil!