Uma crítica de história local

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1 CARLOS ALBERTO SEQUEIRA VARELA UMA CRÍTICA DE HISTÓRIA LOCAL AS ORIGENS (MEDIEVAIS) DA PARÓQUIA DE S. CIPRIANO DE PAÇOS DE BRANDÃO Paços de Brandão 01-06-2012

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CARLOS ALBERTO SEQUEIRA VARELA

UMA CRÍTICA DE HISTÓRIA LOCAL

AS ORIGENS (MEDIEVAIS) DA PARÓQUIA DE S. CIPRIANO DE PAÇOS DE BRANDÃO

Paços de Brandão

01-06-2012

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INTRODUÇÃO

O saber é o desejo de qualquer pessoa; todos, quer sejamos sábios ou ignorantes,

queremos conhecer a verdade e evitar o erro. Santo Agostinho dizia: «Omnes homines

gaudent de veritate; multos expertus sum qui vellent fallere: qui autem falli,

neminem.» (Todos os homens se regozijam com a verdade; conheci muitos que

quisessem enganar; nenhum que quisesse ser enganado.)

O desejo de saber tem que ser desinteressado; devemos amar a verdade por si

mesma, independentemente das vantagens que nos pode acarretar. Buscá-la deve ser

a lei de quem a procura; contemplá-la, a sua satisfação. Devemos conhecer as coisas

pelas suas causas, não basta saber que existe uma coisa, que se deu um facto; «o quod

sit, aquilo que é» como diz Aristóteles, não o satisfaz; quer saber o como, o porquê;

numa palavra, quer compreender, dar a razão das coisas; é um animal inquieto em

busca das causas.

A história, seja de um qualquer País, Região, Localidade, ou de uma qualquer

personalidade, quer seja nobre ou de um simples cidadão, terá como primeiro dos

objectivos, o de conhecer, na medida do possível, a verdade dos acontecimentos

históricos, das suas relações de tempo e de espaço, das correlações e implicações

causais que entre si mantêm. Será uma narração verídica de factos pelos quais passou

a humanidade. Heródoto, o Pai da História, quer que compreendamos, as acções do

homem não se deixem apagar pelo tempo. Um facto histórico tem de ter repercussão

social, isto é, ter implicações causais sobre um determinado meio, numa determinada

época .Sem documentos não se pode fazer história. Eles precisam de ser iluminados

pela crítica e terão que obedecer ao MÉTODO DA HISTÓRIA, que é o caminho a seguir

para se atingir o conhecimento exacto de um determinado facto.

É pois compreensível e determinante, que a HISTÓRIA LOCAL, tenha que obedecer aos

mesmos princípios dos conceitos que se apontam para a História em geral. Autores há

que, embora afirmando que a história era a certidão da verdade e que só diriam a

verdade. Se deixaram inconscientemente levar por certos condicionalismos, por vezes

tão anacrónicos como fabulosos, que essa «verdade» ou é apresentada muito

enfatuada ou pura e simplesmente se afasta do que deveria ser uma verdade

histórica.

Escrever sobre as origens de uma qualquer paróquia, é de uma complexidade tal, que

se é obrigado a confrontar documentos, críticas históricas, por vezes contraditórias, e,

opiniões sobre certos factos, sem qualquer prova documental, que um leitor, mais

atento e conhecedor de história, irá decerto refletir sobre, o que leu, obedece ou não

ao rigor do «Método da História».

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PARÓQUIA DE S. CIPRIANO DE PAÇOS DE BRANDÃO

ORIGENS

As origens da nossa Paróquia de S. Cipriano de Paços de Brandão, devem ser tratadas

com muito cuidado, uma vez que só recorrendo a documentos escritos, é que se pode

tratar da sua «História», e isto porque aquilo que está narrado na única Monografia

desta localidade, descreve as suas origens com uma falta bastante notória de realidade

e verdade histórica, bem como de investigação e crítica histórica.

Esta parte da Península Ibérica, onde está inserida esta Paróquia de Paços de Brandão,

foi habitada, antes dos Romanos, por povos primitivos (Túrdelos, Pésures), que

levavam uma vida errante e que se vieram a agrupar em tribos, passando a viver em

casas dispersas, em redor de um núcleo, uma espécie de praça- forte (oppidum), que

lhes servia de abrigo, a que os Romanos vieram a chamar «civitas» ou «populi», de que

se encontram muitos vestígios entre os rios Douro e Vouga.

Na nossa freguesia de Paços de Brandão não é visível qualquer espécie de ruína, quer

de citânias, castros ou crastos, embora bem perto desta vila, no lugar do Monte, na

freguesia de Paramos – Espinho, se encontrem as ruínas de um castro (Castro de Ovil),

e que em seu redor e no da lagoa (Lagoa de Paramos) se tenha conhecimento de

terem existido «vilas rústicas», Paramos, Lagoa, Silvalde, Esmoriz, Cortegaça, Oleiros.

O Dr. David Simões Rodrigues, em “RIO MEÃO – A TERRA E O POVO NA HISTÓRIA”, diz-

-nos terem existido vestígios da cultura pré-histórica, nomeadamente de «mamoas»,

em Rio Meão, bem como nas freguesias limítrofes. Na Mata, «as Petras Penas» as

«Petras Petraes»; nos limites de Paços – Rio Meão – Lamas, a «Mamoa Cavaleira»

(pág.11 – 1º vol.). Também no Livro das Campaínhas, no «Mandamento de Saa e de

Paaçoo», no que se refere à aldeia de Saa, encontramos referência ao «cassal da

mamoa».

DO «PALACIOLO» ATÉ AO «PALACIOO BLÃDO»

Vejamos a evolução da denominação desta Paróquia de S. Cipriano de Paços de

Brandão, pelos séculos X ao XIV, e os documentos em que esta povoação é

referenciada:

DIPLOMATA ER CHARTAE

Ano de 773 (?) – Palaciolo (Doc. nº I) ; Ano de 922 – Palatiolo (Doc.nº XXV);

Ano de 1025 – Palaciolo (Doc.nº CCLVII); Ano de 1082 – Ecclesiola (Doc.nº DCVII)

CARTULAIRE GÉNÉRALE DE L’ORDRE DU TEMPLE

Ano de 1146 – Palatiolo (Doc.nº CCCCIII)

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CARTULÁRIO BAIO-FERRADO (MOSTEIRO DE SÃO SALVADOR DE GRIJÓ)

PALATIOLO – Ano de 1134, 27 Junho (Doc.nº 206); 12 Fevereiro (Doc.nº 207)

VILLA PALATIOLO - Ano de 1135, 14 Junho (Doc.nº 209); Ano de 1141, Junho (Doc.nº

210)

K(arta) de PALACIOLO – ano de 1159 ?, Dezembro (Doc.nº 211)

HISTÓRIA DA ORDEM DO HOSPITAL / MALTA

COMENDA DE RIO MEÃO – Actas do Ano de 1220 - «PALACIOO BLÃDO».

LIVRO DAS CAMPAÍNHAS (Códice da segunda metade do século XIV) – Mosteiro de

São Salvador de Grijó

É feita referência ao “MANDAMENTO DE SAA E DE PAAÇOO”; «eigreja de Paaçoo»;

«Aldeia de Paaços»; «reguengo de Paaçoo de Brandon» e aos Fidalgos Naturais do

Mosteiro (Joham Brandon e duas filhas; Fernam Martinz (Brandon) sa irmaa;

Biringuell Diaz sua madre).

O S B R A N D Õ E S

A origem dos «BRANDÕES», bem como a de outras famílias medievais portuguesas,

tem apresentado um elevado grau de dificuldade para os nossos historiadores. Talvez

o primeiro a referir-se a esta família medieval, tenha sido Frei António Brandão (1584-

1627), deu-lhe como origem a Inglaterra; outros houve, como Alão de Moraes, Sousa e

Silva Gayo, que seguem a opinião de Frei António Brandão; outros, como Manso de

Lima, consideraram a sua origem na Normandia e ainda há aqueles que lhes indicam

como origem a Irlanda.

O certo é que nem no “Livro de linhagens do Conde D. Pedro”, nos aparece registada a

origem desta família, como também nenhum dos historiadores, nos deu a conhecer

tal. Como diz D. Pedro, no seu Nobiliário, «foram caualeiros de hum escudo e de huma

lança e nom de gran fazenda», eles só são referidos por parte das mulheres com

quem casaram.

Encontrar as origens da personalidade, que deu origem a que esta Paróquia de

Palaciolo se viesse a denominar «frigisia d’Palácio blãdo» , é o assunto que de seguida

vou tratar, sem antes, contudo, me referir a Afonso VI de Leão e Castela e aos

Borguinhões.

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AFONSO VI DE LEÃO E CASTELA

Afonso Vi, rei de Leão e Castela, era casado com Constança de Borgonha. Quando foi

vencido em Zéleca pelos Almorávides em 1086, procurou fortificar-se por intermédio

de alianças; ele casou a sua filha Urraca com Raimundo de Borgonha e a sua outra

filha, Teresa com Henrique de Besançon. Os Borguinhões que vieram então para a

Península Hispânica combateram mais que uma vez o infiel em companhia de «Ruy

Diaz de Bivar», «Le Cid», que foi imortalizado na tragédia de Corneille.

Os laços de Afonso VI com o reino ou ducado da Borgonha, eram por demais

evidentes, que a afirmação de que ele pediu reforços a Filipe 1º de Francia, não tem

qualquer sentido histórico, uma vez que a Borgonha senão tinha Rei, possuía uma

personalidade semelhante, o Duque, que tinha poderes feudais e que só por alianças

conjugais é que o rei de Francia os considerava como seus aliados. O Duque da

Borgonha, no seu território, procedia como muito bem entendia em aspectos de

auxílio a outros reis católicos em lutas que travassem contra os Mouros.

A afirmação de que, com os Cavaleiros da Borgonha (Raimundo e Henrique) vieram

fidalgos da Normandia, que se distinguiram nas hostes de Henrique, é feita sem

qualquer fundamento histórico, quem o afirmou revela um total desconhecimento da

História da Normandia e da Borgonha, deste período da Idade Média, contemporânea

dos “DESCAPÉTIENS – Rois de France”. Diziam eles a respeito dos Normandos: «Les

Rois de France regrettaieent constamment la perte d’une de leurs plus belles provinces,

conquise sur eux par les guerriers du Nord; ils regardaient les ducs de Normandie

comme des vassaux infidéles, comme des rivaux et voisins dangereux». (Histoire –

DESCAPÉTIENS – Rois de France, par M. Le Comte de Ségur – Paris M.DCCC.XXIV).

FERNAND BLANDON

FERNÃO BRANDON (1109-1131) – É referido como sendo «cavaleiro Normando» que

terá acompanhado Henrique de Borgonha, quando este casou com a condessa D.

Teresa, filha de Afonso VI de Leão e Castela, e, a quem lhe teria sido doada esta

povoação de Paços em 1095. Esta data de 1095 é por diversas vezes referida na

monografia de Paços ( “OS 900 ANOS DE PAÇOS DE BRANDÃO” – 1995- Junta de

Freguesia, autor, o Sr. Padre Correia), como sendo a data em que tal personalidade

tomou posse desta terra.

Consultando-se diversos compêndios sobre história medieval, fica-se a saber que:

«Até 1096 o território português, desde o rio Minho ao Mondego, estava sob a tutela

de Raimundo da Borgonha e, é possível que estivesse unido à Galiza, só a partir

daquela data (1096) é que foi entregue a Henrique de Borgonha e á condessa D.

Teresa. Como poderá, em 1095, o conde Henrique e a condessa D. Teresa efectuar

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uma doação de uma qualquer parte de um território que só lhe foi entregue para

administração e governo no ano de 1096?

Ao se procurar a referência do apelido «Blandon» no Dicionário histórico e heráldico

de França (Dictionnaire – Historique et Héraldique – de la Noblesse Française – par D.

de Mailhol – Tome Second – Paris 1896) tal apelido não aparece referenciado, passo

pois a descrever as denominações que lá se encontram, e, que em português, podem

dar origem a denominações idênticas a «Brandão».

BRANDE – Família nobre de origem belga, residente em França – Século XIX.

BRANDT – Família originária dos Países Baixos, com existência em França cerca de

1500.

BRANDIN DE SAINT-LAURENS – Família originária da Normandia e remonta ao século

XV.

FOUCHER DE BRANDOIS – Família Nobre de Potou, barões de Brandois, o nome de

Foucher é conhecido desde o século X.

Pelas consultas efectuadas não se chega à confirmação de que o «Blandon» é

Normando e muito menos Francês, pelos documentos existentes desde o século X.

Uma vez que apelidos idênticos a «Blandon» e que devido à sua evolução deram

origem a «Brandão» são referenciados em documentos portugueses, desde o século X,

só me resta afirmar que a origem do «Blandon» é bem portuguesa, senão vejamos:

BRANDILUNI – Documento referente à igreja de Águas Sanctas, é testemunhado, entre

outros, por «anagildus brandiluni». )DP. Chartae nº XIII) . Ano de 906.

BRANDILIZ – Testamento referente ao «Monastéri Morariae), confirmado por: Osório

brandiliz; geda brandiliz; odario brandiliz. /DP.CH.nº LVI – Ano de 946)

BRANDON – BLANDILA – Documento do Livro Preto da Sé de Coimbra (DP.CH.nº XCIII

– Ano de 967. (É a primeira vez em que é mencionado o nome, BRANDON e

BLANDILA).

BLANDO – Livro das Doações do Mosteiro de Paço de Sousa. Confirmação por

«Trutesendo testi.Blando». (DP.CH.nº CCXXVI – Ano de 1015).

BRANDIA - «Karta de Tarouquela» - Confirmação por «Brandia test», referente ao

Mosteiro de Grijó (Baio-Ferrado, Doc. 128 de 1079, 12 Abril; DP.CH.nº DLXVI – Ano de

1079)

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FERNÃO BRANDON (1109-1131) – Em 1109, Documentos Medievais Portugueses, T.III,

doc.324, aparece este «Brandon» referenciados em Souselas (Coimbra) e em 1131

confirma documentos do Mosteiro de Lorvão (Fernandus Brand)

Este Fernandus Brand, é descendente de Trutesendo Venandiz (1075-1084), fidalgo

oriundo da «Terra da Maia».

OS DETENTORES DE PROPRIEDADES EM PAÇOS DE BRANDÃO (IDADE

MÉDIA)

GODINHA ABOMAR – Vem identificada numa venda de metade de “uilla que vocitant

Palaciolo” sita “sutus mons Sagitella”, “inter Palaciolo et uilla Nugaria”, “qui fuit de

Avorna Didaz”, feita por seu irmão SENDINO e por ela (Doc.de Dp.CH. nº 257 de

1025); sabendo-se que por este documento de 1025 e por outros de 972 (DP.CH. nº

76) e de 1027 (DP. CH. Nº 262) que esta «villa», chamada “Palaciolo” (Paçô),

pertenceu a Avorna ou Abomar Dias e que os netos do Mestre Evenando vieram a ter

assento aqui e a chamar-se BRANDÕES, só pode ter sido por esta Godinha ter casado

com o dito Mestre Evenendo e ficado herdeira da outra parte de herdade de Paçô.

TRUTESENDO VENANDIZ, INVEANDIZ (1075-1084) e talvez só INVEANDRO ou INVRANDO,

em 1092 e 1099, possivelmente também chamado TRUTESENDO ABOMAR, como aparece

em 1080, notário do Mosteiro de Grijó em 1075 (Baio-Ferrado, Doc. 147, de 1075, 31

Janeiro), vende terra em Corveiros (Grijó), que tomara de “gaancia”. Devia ter herdado

Paçô e aí vivido.

Não consta com quem casasse, mas teve os seguintes filhos:

1 - Diogo Trutesendes (BLANDON)

2 – Fernão Brandon (1109-1131), já referenciado nestes apontamentos.

3 – Paio Trutesendes (BRANDON)

4 – Godinho Trutesendes (Proprietário das “vilas” Casal, em Rio Meão, e Brantães, em

Semonde).

5 – Mendo Trutesendes.

DIOGO TRUTESENDES (BLANDON) – patrono da “villa Palacios” e de parte do

mosteiro de Vilar de Andorinho, cujos bens menciona em 1136 e, com seus filhos e

netos, faz doação da 5ª parte deles ao Mosteiro de Pedroso (Dissertações

Chronologicas, t.I, doc. XXXIX).

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PEDRO DIAS (BRANDÃO) – mencionado por seu pai, Diogo Trutesendes (Blandon), em

doc. de 1136. Casou com ERMESENDA VIEGAS, que, em Agosto do ano de 1146

(Cartulaire Générale de l’Ordre du Temple, acta CCCCCIII), com seu filho Gonçalo, doou

à Ordem do Templo seus bens em “território Sancte Marie civitatis, scilicet Palatiolo”.

GONÇALO PIRES BLANDON (1136-1224), filho de Pedro Dias (Brandão) e de

Ermesenda Viegas, casado com D.OUROANA PERES, ama da Rainha D. Mafalda, em

1220, Dezembro, comprou uma herdade “in terra da Sancta Maria in loco qui dicitur

Palaciolo et extra Palatiolum et ubicumque fuerit” (Mosteiro de Arouca, doc. 226,

pg.357 – Maria Helena da Cruz Coelho).

PAIO TRUTESENDES (BRANDON) , filho de Trutesendo Venandiz (Abomar), comprou

em 1137 (Baio-Ferrado, doc. 207) uma herdade a Nodário Cides e a sua mulher, Elvira

Pais, “in villa de Palatiolo”,cuja herdade e outros bens legou uma parte em 1146 à

Ordem do Templo (Cartulaire Gánárale de l’Ordre du Temple, acta CCCXIV), e a outra

parte ao Mosteiro de Grijó, em 1151 e 1154 (Baio-Ferrado, docs.nºs. 50, 98 e 181).

PATRONOS DE GRIJÓ

No Livro das Campaínhas (Códice da segunda metade do século XIV), encontramos a

lista dos fidalgos naturais do Mosteiro de Grijó. No que se refere a «outros cavalleiros

e escudeiros gerados (?)», encontramos entre outros:

- Joham Brandon e duas filhas;

- Fernam Martinz (Brandom) sa irmaa;

- Beringuella Diaz sua madre.

Consultando-se Felgueiras Gayo, «Nobiliário de Famílias de Portugal»; Cristóvão Alão

de Morais, «Pedatura Lusitana»; M. Antonino Fernandes, «Os Brndões – Origem e

Varonia (938-1663)»; entre outros autores, ficamos a saber que Biringuella Diaz (do

Avelal), era casada com Martim (Pires) Brandom e que tiveram os seguintes filhos,

que estão assinalados no Livro das Campaínhas como fidalgos naturais do Mosteiro de

S. Salvador de Grijó. (Não nos devemos esquecer da importância da transmissão dos

direitos de padroado, que no caso acima referido, é transmitido por via feminina).

1 – Dona maria Brandoa, que casou com Vasco Esteves das Medas ou Medãs, patrono

do Mosteiro de Pedroso, em 1363, e filho de Estévão Martins de Medãs.

2 – João Martins Brandão, que D. Pedro I nomeou Alcaide-mor de Penamacor em

1362 e, segundo a lista dos Patronos de Grijó de 1365, tinha duas filhas, que não são

nomeadas, com ração neste mosteiro; em 1387, sua mulher fez testamento,

acrescentado em 1395, a favor do Mosteiro de Paço de Sousa, pedindo para ser

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sepultada neste mosteiro, junto a seu marido e filho Rui. Casou com Dona Leonor

Esteves das Medãs, sua cunhada; c.g.extinta.

3 – Fernão Martins Brandam, Alcaide-mor de Arronches, em 1363 por D. Pedro I,

Regedor de Évora (1391), Aio de D. Fernando (1373), pelo rei D. Pedro foi Monteiro-

mor do Coutado de Vale de Arca (Montemor-o-Novo) em 1369. Casou em Évora com

D. maria de Brito, filha de Afonso de Brito, Alcaide de Beja, (tinha ração no Mosteiro de

Grijó, com sua mãe e irmãos em 1365), de quem houve um filho: Lopo Fernandes

Brandão.

Quem eram Martim (Pires Brandom) e Biringuella Diaz (do Avelal) ?

Cristóvão Alão de Morais, na «Pedatura Lusitana» (Nobiliário de Famílias de Portugal),

bem como Felgueiras Gayo, no seu «Nobiliário», dizem-nos que: «O Conde D. Pedro no

seu livro não faz título particular dos Brandões, e só fala neles por razão de algumas

mulheres com quem casaram; diz-nos que Mayor Rioz Durão,filha de Ruy Diaz Durão e

neta de Diogo Gil, fidalgo valente que morreu na batalha de Ourique, casara com

Garcia Martins Brandão e tiveram os seguintes filhos: Pedro Garcia, João Garcia e Gil

Garcia, que todos foram cavaleiros de uma lança e pouca fazenda».

Diz mais o mesmo Conde D. Pedro que D. Euxamea Diaz de Urrô (A Bespa), por ter

sido ferrada por uma vespa nas partes íntimas, de que sofreu muito, tendo deixado a

todos os seus descendentes a obrigação de matar vespas onde quer que as

encontrassem, filha de Diogo Gil Valente, e de sua mulher Urraca Mendes de

Bragança, irmã de Rui Dias de Urrô e de João Dias de Freitas, casara com Fernão

Gonçalves de Sousa (1118-1175) cavaleiro da Terra de Sousa, de que houvera D.

Theresa Fernandes, casada com Martim Brandão (O Velho).

Martim (Pais) Brandom (O Velho) é o primeiro com o apelido de «Brandão» a figurar

no Livro de Linhagens de D. Pedro. É também mencionado como padroeiro do

Mosteiro de Lordelo. Era filho de Paio Trutesendes (Brandon) e de Unisco (Dias) (2º

casamento). Este Paio Trutesendes, comprou uma propriedade na «Villa de Palatiolo»

a Nodário Cides e sua mulher, Elvira Pais, em 12 de Fevereiro de 1137 (Baio-Ferrado nº

207). Como já está assinalado, casou com D. Thereza Fernandes, de que tiveram os

seguintes filhos: Pero Martins Brandom; Garcia Martins Brandom e Egas Martins

Brandom.

Pero Martins Brandom, assim mencionado no Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, é

suposto ter vivido na Terra da Feira em 1248 com seus irmãos, era patrono do

Mosteiro de Lordelo, onde possuía 5 casais e dois em Redemoinhos (Inq. Afonsinas,

Manuel de Sousa e Silva, Os Brandões); casou com Dona Orraca Pires, filha de Pêro

Bool e mulher Dona Sancha Rodrigues, de Azambuja. Filhos:

1 – Martim (Pires) Brandom (O Novo).

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2 – Garcia Pires de Frazom ou Farezom, assim chamado por ter vivido na honra de

Frazão (Paços de Ferreira).

Martim (Pires) Brandom (O Novo) casou com Dona Berengária Dias de Avelal, patrona

do dito Mosteiro de Grijó. Segundo as Inquirições de D. Dinis, honrava o casal de

Travaços, em Luzim, e 6 casais na freguesia de Rio de Moinhos; faleceu em 1336 e no

seu testamento deixou bens ao Mosteiro de Grijó para a celebração de uma missa

perpétua.

Dona Berengária Dias de Avelar (1314-1374), casou 2ª vez com João Afonso de Sanir.

Era filha de Diogo Gil de Avelal (1261-1388), que em 1333 vivia na Terra da Feira e

casara com Maria Anes de Cambra.

Os filhos de Martim (Pires) Brandom e de Berengária Dias do Avelal, Dona Maria

Brandoa, João Martins Brandão e Fernão Martins Brandão, como já foi assinalado,

aparecem na lista dos Patronos de Grijó, (Livro das Campaínhas).

“OS PATRONOS DO MOSTEIRO DE GRIJÓ” (Evolução e Estrutura da

Família Nobre – Séculos XI a XIV) – Dr. José Augusto P. de Sotto Mayor

Pizarro (páginas 417 e sgs.) - Diz-nos que: «O grupo das famílias que é

representado pelos ricos-homens naturais de Grijó, identifica-se, na sua quase

totalidade, com a alta nobreza da época. A casa de Barcelos destaca-se de todas as

outras quer pelo seu prestígio e influência “palatiana” quer pelos seus bens que,

encabeçados pela minhota vila que dá o nome ao condado, se estendem por várias

zonas do território nacional .As honras e os coutos possuídos pelos condes e seus

parentes permitem-lhes o exercício de vários poderes, que os monarcas confirmam,

numa clara demonstração de apreço pela família mas, também, de autoridade régia

afirmada que, agora, é a verdadeira detentora e distribuidora do poder.»

«A progressiva ocupação de zonas a sul do Mondego e do Tejo por parte da alta

nobreza marca também, a partir de meados do século XIV, o final da identificação do

Entre-Douro-e-Minho com o local privilegiado para a fiação patrimonial daquela.»

«Os ricos-homens de Grijó representavam, assim, no seu conjunto, um poder territorial

e senhorial considerável, a que acrescentavam o seu relacionamento com a corte, onde

muitos deles, desempenhavam importantes funções.»

«As famílias de infanções, que pelo seu número seria fastidioso enumer, parecem

concentrar os seus bens a norte do Douro, quer até às margens do rio Mimho quer em

algumas zonas transmontanas, e a sul daquele rio, em regiões situadas nos vales do

Vouga e do Paiva. São poucas as que representam as zonas centro (Cunhas-Tábua e

Goes) e sul (Cogominhos) do país.»

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«Os seus representantes em Grijó são os componentes preferenciais das clientelas

vassálicas dos infans e monarcas. A sua importância na corte, porém, era secundária,

ocupando postos de segundo plano. O seu peso em termos senhoriais era também

reduzido, a ver pelo pequeno número de honras e coutos que detinha.»

«A sua influência, ou mesmo pressão, a nível local seria, porventura, bem maior que a

dos ricos-homens, geralmente fixados na corte e tendo as suas terras administradas

por dependentes de confiança.»

«Finalmente os cavaleiros-escudeiros. Os bens das famílias que conseguimos

identificar, situavam-se também no Entre-Douro-e-Minho, muito embora se verifique

uma importância considerável da Terra de Santa Maria, provavelmente,

administravam diretamente, não deviam ser muito extensos. Considerável seria a sua

influência a nível local marcada, por certo, pela presença constante.»

«Alguns deles serviam como vassalos de casas senhoriais ou alimentavam os

contingentes das ordens militares.»

«Quase todos seriam, em suma, e pelas sempre certeiras palavras do Conde D. Pedro,

“cavaleiros de um escudo e uma lança”, a atestar a pouca riqueza material que

possuíam. Para eles, mais duramente até, o século XIV, com as suas alterações sociais e

económicas, deve ter representado um momento bem difícil e que terá mesmo, em

alguns casos, ditado o final de algumas famílias.»

PALATIUM – ELEMENTOS PARA A HISTÓRIA DESTA PALAVRA

Uma transcrição dos elementos para a história desta palavra, é , forçosamente de toda

a utilidade para o conhecimento da sua evolução até chegar à palavra de Paço e Paços.

Em “OPUSCULOS”, volume I – FILOLOGIA (Parte I) – COIMBRA – Imprensa de

Universidade – 1928, de J. LEITE DE VASCONCELOS, páginas 546 a 550, refª. 51 –

PALATIUM, e com a indicação de: «Do Homenaje a Menéndez Pidal, t.I, págs. 612-614»

, encontrei este interessante artigo, que passo a transcrever, para que se fique a

conhecer a origem do nosso «Palatiolo»:

«Ás vezes por motivos fonéticos e históricos as palavras experimentam, no decorrer dos

séculos, transmudamentos curiosos, acontecendo que de uma que a princípio tinha

certa forma e significação resulta, após muito tempo, outra ou outras muito diversas

da primeira. Vou dar um exemplo.

Dos sete montes em que Roma fora edificada, ou Sepitmontium, um chamava-se,

como é sabido, Palatium, denominação talvez proveniente, como quer o Dr. Walde, de

palus, «estaca» (1): do que poderemos concluir que aí teria havido em data

antiquíssima uma «estacada» ou «estacaria», defesa militar, que muitas vezes se

observa em povos de carácter primitivo. No Palatium estabeleceu o Imperador Augusto

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a sua habitação, o que os sucessores continuaram fazendo. Disto veio o dar-se ao

edifício o nome do sítio, e tornar-se palatium nome comum na acepção de «morada de

monarca». Também do nome de Moneta, ou templo da deusa Iuno Moneta, que servia

de casa da moeda em Roma, veio a chamar-se moneta ou nummus ali fabricado; e

moneta tornou-se depois na nossa língua mõeda e moéda, ou moêda, como diz o

povo. Este fenómeno que, aplicado individualmente ao estilo, os retóricos chamam

metonímia, é muito corrente na língua moderna, e basta abrir um dicionário para

encontrar, por exemplo: madeira, em vez de «vinho produzido na Ilha da Madeira»;

marialva, na acepção de «pessoa afadistada», porque um Marquês de Marialva

formulou certos preceitos de bem cavalgar.

Palatium tinha o adjectivo palatinus,por exemplo, colles palatini. Este adjectivo

aplicou-se naturalmente à morada imperial e à côrte: domus palatina ou «palácio

imperial»; palatinus «dignitário do palácio», «cortesão». Este sentido de nobreza

transparece no comes palatinus ou «conde palatino» dos antigos estados germânicos.

Os Italianos, alterando um pouco a ideia, fizeram daqui paladino, no sentido de «herói

cavaleiresco», e a palavra passou para a França na forma de paladin, para a Espanha

na de paladín, e para Portugal na de paladino, que tem a par também paladim.

O latim palatinus seguiu ainda outro caminho, passando à classe de cognome

(romano), que com o andar do tempo veio a ser verdadeiro nome próprio. Nesse

significado temos em documentos nossos do século XI Paladinu-,a que correspondem

os patronímicos Paladinici e Paladiniz (2). De Palatinu-, como nome de donos de

propriedades, veio Paadinho, hoje Padinho,que decerto se pronuncia pàdinho, nome

de duas povoações nos concelhos de Fafe e Guimarães . No feminino há o moderno

apelido de família Padinha, que sei se pronuncia pàdinha. Do genetivo Paladini, em

compostos como villa Paladini, segundo um tipo muito usual na idade-média, veio

Paadim, que aparece no século XIII (3); e por último Padim ou Pàdim, nome de seis

lugares no Minho. Comparáveis a Palatinus, na qualidade de cognome romano, temos

na nossa língua actual, pelo menos no aspecto externo, os apelidos Cortesão e Côrte

Real.

Voltemos a palatium, substantivo comum. Palatium dewsgnou na idade média, como

tradição romana, a habitação do proprietário de um terreno (4): donde, por intermédio

de paaço, que ainda existia no século XIV (5), vieram Paço e Paços, como nomes

geográficos muito espalhados por todo o Portugal, com especialidade no Norte e

Centro da beira, regiões em que a palavra teve o seu berço. A Paço e Paços se ligam os

diminutivos Paçinho e Pacinhos. Outro diminutivo geográfico é Pàçô, igualmente

muito usado no Norte e no Centro, o qual, por intermédio das formas medievais

(geográficas) Palatiolo, Palaciolo, ou melhor Paacioo, Paaçoo, provém directamente

de palatiolum, à letra, «palácio pequeno», pronunciado no latim vulgar palatiólu-.

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Em alguns dos citados exemplos notámos que muitos nomes de povoações provêm de

nomes próprios de indivíduos. Entenda-se que estes eram senhores de quintas, «vilas»,

etc., que no decurso das idades aumentaram de moradores, e se tornaram aldeias e

maiores povoações. Ás avessas acontece que os mesmos nomes geográficos passam a

significar nomes pessoais: quantos apelidos não há, que soam Paço e Paços? Eu já tive

um aluno apelidado de Paço, e todos em Portugal conhecem o nobre Conde de Paçô-

Vieira, que por abreviatura chamamos «o Paçô-Vieira». É possível que os apelidos que

se escrevem Passos, com dois ss, pertençam, em parte, à classe que estou estudando,

embora alguns possam provir de ideias religiosas, isto é, de Senhor dos Passos, como

Ascenção, etc.

Além da significação de habitação de um senhor ou proprietário, paço, ou o latinismo

palácio, conserva a anterior tradição romana de «habitação de monarca». A todo o

instante falam os nossos textos medievais de palatium Domini Regis, por exemplo nas

Leges, p. 604, de 1260. Paralelamente a paço e palácio real temos paço episcopal,

paços do concelho, e como nome próprio em Lisboa: Terreiro do Paço, por paço do

Governo. Na língua usual chamamos por isso palácio a um edifício grande. Com paço

real se relacionam os adjectivos arcaicos pàceiro e paaceiro (títulos de cargos), e

palaciano, forma restaurada da medieval paação, latim palatianus. É notável que

assim como palatinus se tornou nome próprio, também, palatianus. Os documentos

medievais de Portugal têm Paaciano e Paaciana, como nomes geográficos do século

XIII (6), provenientes de nomes de proprietários: o segundo está ainda hoje

representado em Paçam, por Pàçam, ou Pàçã, nome de um lugar na Beira-Alta.

E assim termino, pois me parece que fica justificada a afirmação que comecei por fazer:

que as palavras têm muitas vicissitudes. No caso presente vimos que as estacas secas

que constituíam a primitiva paliçada que foi Roma reverdeceram pujantemente, dando

vergônteas que se tornaram, ora nomes de domicílios principescos, e símbolos de

aventura, ora designações de pessoas e de localidades. Tão alto pôde subir a

ramificação, que por palácio ou paço celeste entendem os crentes a morada de Deus, e

já os pagãos diziam palácio de Jove ! »

Anotações a este numero:

(1) – Latein. Etym. Wb., sub voce.

(2) – Vid. Os textosão, Onomastico, 251.

(3) – Inquisitiones, I, 698, col. 2ª

(4) – Sampaio, «Villas» do Norte, págs.. 57-58.

(5) – Por exemplo, nos Inéditos fa Academia, IV, 595.

(6) – Cortesão, Onomástico, pág.249.

(Do Homenaje a Menéndez Pidal, t. I, págs. 612-614).

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CONCLUSÃO

O primeiro documento em que se faz referência a «villa palatiolo», é-lhe atribuído a data de 773 ?, no entanto a de 922 em que se relacionam bens, em «Palatiolo», poderá ser o documento mais fiável em que tal tenha acontecido. Desde estas datas, aparecem diversas trocas, vendas e doações de bens na terra de «Paçoo», sendo que no ano de 1220, na Comenda de Rio Meão, aparece a denominação como hoje esta freguesia é conhecida, «frigisia d’Palacioo blãdo», é decerto a primeira vez, que num documento oficial, tal aparece.

Quanto à data da fundação da primeira igreja, não é fiável, apontar-se uma data, o certo é que já no ano de 1146 encontramos uma doação efectuada à Ordem do Templo de bens em “Palaciolo” , efectuada por Ermesinda Viegas (Cartulaire Générale de l’Ordre du Temple, por Marquis d’Albon, Paris, Acta nº CCCCIII). O mesmo acontecendo no mesmo ano de 1146 (Acta nº CCCXIV do mesmoCartulaire Générale), da doação, por Paio Trutesendes (Brandon), de uma parte dos seus bens à Ordem do Templo, e, em 1151 e 1154 da outra parte ao Mosteiro de S. Salvador de Grijó, o que vem provar o que se afirma na Comenda de Rio Meão, de que os bens da Igreja de Paços, estavam divididos, quase em parte iguais, entre Grijó e Rio Meão.

Também em 1270 (Er. 1270, 11 K. Januari), nas Dissertações Cronológicas, Diss.XIX, pág.49, nos é indicado a «Transacção do Bispo do Porto, D. Pedro Salvador, com os Frates de S. João de Jerusalém, recebendo Elle huma procuração annua pelas Igrejas de Riomeam, Mazaneda, e Hereda, e unindo a de Paços de Brandão à de Riomeam, exercendo nella todos os direitos Episcopaes».

Porque se especula muito quanto ao significado da palavra «palatiolo», «palaciolo», etc., com que esta «villa» aparece descrita em documentos medievais, foi em “OPUSCULOS” de J. Leite de Vasconcellos, que encontrei a melhor maneira de conhecer a evolução, e, o significado da palavra latina «PALATIUM», de onde vieram o nosso «Palatiolo»; «Palaciolo», «Paaço»; «Paços»; e que traduzidos, à letra, significava «palácio pequeno» (palatiolum), o que me levou a transcrever, na íntegra, o referido artigo que tem o nº. 51 dos referidos “OPUSCULOS”.

UM MAU EXEMPLO DE HISTÓRIA LOCAL

Nem sempre o que vem exposto numa «Monografia», de qualquer Paróquia, obedece aos critérios de História Local. O caso da monografia desta «Paróquia de S. Cipriano de Paços de Brandão», e, no que diz respeito ao período da Idade Média, é «Um Mau Exemplo de História Local»; vamos pois analisar aquilo que “RECORDAR 900 ANOS DE PAÇOS DE BRANDÃO”, do Sr. Padre Joaquim Correia da Rocha, de 1995, nos diz de assuntos tratados, com tamanha irrealidade histórica, que são dignos de merecerem os seguntes reparos:

Página 15 - «…a alma deste TERRITÓRIO, por algum motivo chamado, desde os finais do século XI, PAÇOS DE BRANDÃO»

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Que se saiba, nesta época, pertencíamos ao TERRITÓRIO DE SANCTA MARIAE, Paços de Brandão seria certamente , a habitação do proprietário de um terreno, e, verificando as formas medievais de Palatiolo, Palaciolo ou Paaçioo, Paaçoo, que

provém directamente de Palatiolum, à letra, «palácio pequeno». Uma questão se

deve levantar: «Onde está o documento dos finais do século XI que levou o autor de “9OO Anos de Paços de Brandão” a fazer tal afirmação?»

Página 52 - «… Mais um acontecimento invulgaríssimo ocorreu, quase do termo do séc.XI, ou seja no ano de 1095.»

«Um cavaleiro oriundo das nórdicas terras de França (nessa data 1066 sob a bandeira anglo-normanda) desceu á Espanha, com espírito de Cruzada, e em 1095, aqui entrou para levantar o seu Palácio e iluminá-lo com os 5 Brandões da sua estirpe nobre.»

Quanto ao ano de 1095, e, ao conteúdo da página 52, é notória a falta de rigor histórico do que vem lá exposto. Será que o «nosso Brandão» era um fidalgo de uma estirpe muito avançada?...Esta questão é sugerida, uma vez que em 1095, decerto que ainda não era comum, na Europa, especialmente na França e na Península Ibérica, existirem cartas de armas, brasões, etc., assuntos relacionados com”Heráldica”; então como explicar o que nos é dito, como se de uma verdade, se tratasse, nesta página de ao “9OO Anos de P.B.”!...É espantosa esta afirmação: «O nobre Fernão Brandão recebia, no seu Solar, as visitas de cortesia que o Conde Ermígio Moniz (mano do aio régio Egas Moniz) lhe fazia, porquanto gozava da impar situação de Tenens Terrae do Castelo da Feira.»…É caso para perguntar, em que documentos estão descritos tais acontecimentos?...

Como já deixei expresso, nesta crítica, no que se refere ao Henrique de Borgonha e à Condessa D. Teresa, em 1095, eles não eram donatários do que se veio a denominar “Condado Portucalense”, seria, decerto, um acto fora do normal, tais personalidades efectuarem qualquer doação, de uma qualquer parte de terreno, que não lhe pertencesse. Vamos pois recordar:

“Afonso VI, em 1093, entregava os condados de Portucale e Coimbra, a Raimundo da Borgonha, que já dominava na Galiza. Este território, veio a ser desmembrado em 1096, tendo Afonso VI designado Henrique de Borgonha, primo de Raimundo, para ficar à frente dos Condados de Portucale e de Coimbra. Pelo documento V de “O Mosteiro de Arouca”, e, transcrito no livro de “O MOSTEIRO DE AROUCA – Do século X ao século XIII”, por Maria Helena da Cruz Coelho, página 192, cuja cópia se anexa, verifica-se que em «1094 depois de Agosto, 10 – 1096», o Raimundo, genro de Afonso VI, ainda intervém, como representante do referido Rei, em Arouca, o que confirma o que atrás se afirma.

Quanto a Henrique e D. Teresa, o primeiro documento em que intervém D. Teresa, no Mosteiro de Grijó, encontramo-lo em Baio-Ferrado, nº 34, página 45 de “Le Cartulaire Baio-Ferrado du Monastére de Grijó” – Robert Durand, de que se anexa uma cópia, é referente ao ano de 1112, de Maio, doação a Mendo Gonçalves e a sua mulher, Maior Soares, pelos serviços prestados, de bens em Castro à entrada de Guimarães (Casal de Castro em Perosinho junto à estrada real do Porto até ao lugar de Guimarães).”

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Sobre Heráldica, convém recordar o que “Armando de Matos”, no seu Manual de Heráldica Portuguesa, nos diz: «A heráldica surgiu em Portugal no século XII, sendo que o primeiro documento heráldico português, é o selo de D. Sancho I, de 1189, no mesmo ano em que sua irmã, a condessa de Flandres, também teria organizado o seu, com similar arranjo simbólico.» Sabe-se que as armas mais antigas de que há memória na Europa são as de Rui de Beaumont de 1087-1110.

O Marquês de Abrantes, em “Introdução ao Estudo da Heráldica diz que, «a origem da Heráldica Europeia é do séculos XI-XII, e, as grandes linhagens dominantes portuguesas eram num número reduzido». Quanto à concessão de uma Carta de Brasão de Armas, é do reinado de D. Fernando que dizem ter escrito a mais antiga; contudo as Cartas de Armas ou Cartas de Brasão, só no reinado de D. Duarte se tem conhecimento de dois diplomas, no entanto a mais antiga Carta de Armas, que chegou até aos nossos dias , é datada de 1492 pelo Rei D. João II.

Até ao tempo das Cruzadas, o carácter dos escudos, estandartes, etc., que os cavaleiros usavam, não tinha qualquer regra própria, e, esses sinais não eram hereditários, normalmente eles morriam com a pessoa que os usava. Foi só sob o reino de «Louis-le-Gros», em França, e sob «Frédéric Barberousse», em Itália, que «les armoires desinnent héréditaires dans les familles». Quanto às regras precisas da arte heráldica, o monumento mais antigo e mais autêntico que se conhece, são as armas do Papa Pascoal, que datam do ano de 1100. Elas são realmente compostas segundo as regras que regem o brasão dos nossos dias, e encontra-se pela primeirta vez uma «des sept piéces honorables, les chevrons». (Conforme vem exposto na “Chancellerie Héraldique et Historique De La Noblesse Européenne”, págs. 13 e 14).

Pelo exposto, verifica-se que os “900 Anos P.B.”, na página 52, dão-nos a conhecer factos, que se forem confirmados, por documentos autênticos, e levados ao conhecimentos dos nossos historiadores, bem como da comunidade internacional, decerto que os levará a reverem tudo o que têm escrito sobre heráldica e nobiliarquia”…

Página 103 – MAPA

Mais um reparo, veja-se o Mapa publicado na pág.103 do “900 Anos P.B.”; não será isto mais uma mau exemplo de como se pretende retratar qualquer facto histórico?...Tal mapa foi fotocopiado de “Le Cartulaire de Baio-Ferrado du Monastére de Grijó”, de Robert Durand. O que diria este autor, se tivesse acesso ao livro dos “900 Anos de P.B.” e se consultasse o referido mapa?... Em História é inadmissível o que o autor de os “900 Anos de P.B.” efectuou. Apresentando o original de um Mapa adulterado com acrescentos de nomes ( Paços de Brandão e Rio Maior), tal só pode ser classificado, por um advérbio, que coloca em total descrédito, a obra, em que tal foi efectuado.

Página 206 –Fernando «Blandon»

É certo que o Fernando Blandon existiu, mas a sua origem é «bem portuguesa» e no que se refere a esta figura, o autor de os “900 Anos de P. B.”, trata o assunto de uma maneira muito enfatuada e sem apresentar qualquer documento que justifique as afirmações que faz. Veja-se o que esta Crónica nos diz sobre este assunto.

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N

E

X

O

S

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Dictionnaire – Historique et Héraldique – de la Noblesse Française – par D. de

Mailhol – Tome Second – Paris 1896 (Pesquisa do apelido «Blandon»)

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DIPLOMATE ET CHARTAE – Documento em que vem referenciado «villa palatiolo»

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(Documento referente à Igreja de Águas Sanctas – É testemunhado, entre outros, por

«ANAGILDUS BRANDILUNI».

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Documento referente ao «Monastéri Morariae», confirmam o testamento, «OSÓRIO

BRANDILIZ», «GEDA BRANDILIZ», «ODARIO BRANDILIZ»

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Documento do Livro Preto da Sé de Coimbra, em que é mencionado, pela primeira

vez, o nome de «BRANDON» e «BLANDILA»

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Livro de Doações do Mosteiro de Paço de Sousa, confirmação por «TRUTESENDO

TESTI. BLANDO»

KARTA DE TARAUQUELA – Confirmação por «BRANDIA TEST»

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Documento referente ao Mosteiro de Arouca – REFERÊNCIA AO IMPERADOR

AFONSO E AO CONDE RAIMUNDO

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NOBILIÁRIO DO CONDE D. PEDRO, TÍTULO XLIII, PÁGS. 343 A 346

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CÓPIA DO MAPA PUBLICADO NO “LE CARTULAIRE BAIO-FERRADO” de Robert Durand

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O mesmo Mapa, publicado em “900 ANOS DE PAÇOS DE BRANDÃO”, com os

acrescentos de Rio Maior e Paços de Brandão