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VALDIR JOSÉ CORRÊA JÚNIOR UMA EXPERIÊNCIA DE USO DO GEOGEBRA NA IDENTIFICAÇÃO DE PADRÕES EM TRIGONOMETRIA ITAJAI (SC) 2014

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VALDIR JOSÉ CORRÊA JÚNIOR

UMA EXPERIÊNCIA DE USO DO GEOGEBRA NA IDENTIFICAÇÃO DE PADRÕES EM TRIGONOMETRIA

ITAJAI (SC)

2014

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UNIVALI UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI

Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE

Curso de Mestrado Acadêmico em Educação

VALDIR JOSÉ CORRÊA JÚNIOR

UMA EXPERIÊNCIA DE USO DO GEOGEBRA NA IDENTIFICAÇÃO DE PADRÕES EM TRIGONOMETRIA

Dissertação apresentada ao colegiado do PPGE, da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) como requisito à obtenção do grau de Mestre em Educação – área de concentração: Educação – (Linha de Pesquisa: Cultura, Tecnologia e Aprendizagem)

Orientador: Dr. André Luís Alice Raabe

ITAJAI (SC) 2014

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RESUMO Os Indicadores dos testes aplicados em larga escala como PISA e SAEB/PROVA BRASIL tem evidenciado o que as pesquisas sobre Educação Matemática já mostravam há muito tempo. O ensino da Matemática necessita ser repensado no Brasil. Em geral o ensino voltado a transmissão de conceitos prontos, desconexos e que não fazem sentido para uma parcela significativa dos estudantes predomina na realidade das escolas, tornando cada vez mais a Matemática uma ferramenta de exclusão. Dentre as diversas abordagens possíveis para buscar reverter este processo a presente pesquisa focaliza na essência da Matemática que é a percepção de padrões, e o faz buscando o apoio nas Tecnologias da Informação e Comunicação. Nesta direção foi realizada uma sequência didática com estudantes do 9º ano do ensino fundamental buscando fomentar a habilidade de perceber padrões e representá-los simbolicamente. Na atividade, cujo tema era trigonometria, foi utilizado o software Geogebra. O referencial teórico que norteou as crenças pedagógicas está centrado numa perspectiva construcionista (Papert), envolta em contribuições das teorias piagetiana (Piaget) e sócio-histórica (Vygotsky). A pesquisa concentra-se em analisar os resultados da sequência didática desenvolvida em uma abordagem mista. Usa um design quasi-experimental com grupo de controle na fase quantitativa e como mensuração aplica um teste matemático sobre trigonometria. Na fase qualitativa utiliza análise de conteúdo das perguntas abertas de um questionário respondido pelos estudantes e o método clínico na condução e registro das entrevistas individuais realizadas com três estudantes que participaram da sequência didática. Os resultados obtidos no pós-teste e análises provenientes das entrevistas apontam para as vantagens oriundas do uso do Geogebra no desenvolvimento da habilidade de perceber e representar simbolicamente padrões, além de contribuir para a construção de uma nova relação entre os estudantes e a Matemática, mais crítica, autônoma, criativa e motivadora. Palavras-chave: Educação Matemática; Informática na Educação Matemática; Geogebra; Trigonometria;

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ABSTRACT Indicators from tests applied on a large scale, such as the PISA and SAEB/PROVA BRAZIL have shown what research in mathematics education had already demonstrated long ago; that the teaching of mathematics needs to berethought in Brazil. In general, the teaching that predominates in the reality of schools is geared towards the transmission of disconnected, previously prepared concepts that do not make sense to significant portion of students, turning mathematics into a mechanism of exclusion. Among several possible approaches to reverse this process, this research focuses on the essence of mathematics, which is the perception of patterns, seeking support from Information and Communication Technologies. Along these lines, a didactic sequence was created, for use with students in the 9th grade of elementary school, aimed at fostering the ability to perceive patterns, and represent them symbolically. In the activity, which was based around the theme of trigonometry, the software Geogebra was used. The theoretical framework that guided the pedagogical premises is centered on Papert‟s constructionist perspective, permeated by contributions from Piaget‟s theories and Vygotsky‟s social historical theories. The research analyzes the results of the didactic sequence developed through a mixed approach. It uses a quasi-experimental design with a control group in the quantitative phase, and for the measurement, it applies a mathematical test on trigonometry. In the qualitative phase, it uses content analysis, based on the responses to the open questions of a questionnaire applied to the students, and the clinical method for conducting and recording individual interviews with three students who participated in the didactic sequence. The results of the post-test and analysis of the interviews highlight the advantages of using Geogebra in the development of the ability to perceive and represent patterns symbolically, as well as contributing to building a new relationship between students and Mathematics that is more critical, autonomous, creative and motivating. Keywords: Mathematics Education; Technology in Mathematics Education; Geogebra; Trigonometry

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“Ignis aurum probat, miseria fortes viros.”

(Sêneca)

Tradução livre:

“O fogo prova o ouro, a miséria

(adversidade) os homens fortes”

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AGRADECIMENTOS

Agradecer nem sempre é fácil: corre-se o risco do esquecimento! Mas é

preciso, afinal ninguém caminha sozinho nesta vida. Vamos lá...

Minha família. Começando pela minhã mãe, Maria Rita, mulher guerreira,

batalhadora, exemplo de vida, muito obrigado por tudo. Ao meu padrastro, Egon,

pela força que nos deu em tempos difíceis... Meus irmãos, Roberta, Paula, Júlia

e Egon, cada um do seu jeito, obrigado por acreditarem em mim. Este momento

é uma conquista de todos nós!

Fazer o mestrado com dois bebês em casa não é nada fácil, ainda mais

quando se tem que trabalhar trinta horas por dia para sustentar os pequenos.

Mas eu tive a sorte de contar sempre com ela: minha esposa Fabiana. Do seu

jeito, muitas vezes brigando comigo pelas “viradas de noite”, pelos dias em que

queria passear, mas eu tinha trabalho para fazer, leituras, textos... Estou certo

de que sem você ao meu lado eu não teria conseguido chegar até aqui. “Etam”

para sempre...

Meus filhos Gabriel, Leonardo e Guilherme, meus amados, muito do

esforço do pai vem no sentido de garantir a vocês uma boa qualidade de vida.

Ao meu segundo pai, Enio, e a minha segunda mãe, Simoni, minha eterna

gratidão. Certamente eu não estaria aqui se não fosse pela coragem, pela

dedicação, pelo amor que sempre me dedicaram e agora aos meus pequenos.

Aos meus amigos, especialmente ao meu “irmão” Leonardo Soares,

obrigado pelo carinho, respeito e consideração que sei tem por mim. E ao

grande “Giba”, valeu pelas dicas, pelos bate-papos, pela amizade verdadeira.

Desde o início da investigação tive apoio institucional, tanto

financeiramente – o Colégio Salesiano Itajaí assumiu os custos relativos ao

mestrado –, quanto no sentido de abrir espaços para que a pesquisa se

desenvolvesse. Assumir os custos faz parte de um plano de ação estratégico de

formação continuada do corpo docente. Abrir espaços para esta investigação é

sinal da preocupação que a instituição tem com a formação matemática de seu

corpo docente e discente e da crença institucional de que as novas tecnologias

podem interferir positivamente nos processos de ensino de aprendizagem

matemática. Fundamental salientar a abertura dada para consultas a dados

relativos às notas dos estudantes, a dados relativos ao quadro funcional, dentre

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outros. Por isso é absolutamente imprescindível agradecer ao então diretor do

Colégio Salesiano Itajaí, Padre Arcângelo Deretti, que confiou em mim e permitiu

que meu sonho de fazer o mestrado se realizasse. Tenha certeza que saberei

reverter o investimento realizado pelo Colégio Salesiano Itajaí trabalhando em

prol da educação dos jovens de Dom Bosco.

À Verônica Roncelli, administradora do Colégio Salesiano Itajaí que me

impulsionou a fazer o mestrado e não mediu esforços para que eu pudesse, aos

trancos e barrancos, dar conta do recado, meu reconhecimento e gratidão.

Aos colegas de mestrado meu muito obrigado, seguido de um sincero

pedido de desculpas por qualquer situação ruim/desagradável que tenha

acontecido ao longo de nossos estudos. Saibam que só levarei lembranças

positivas de todos vocês.

Aos professores que sempre me ajudaram, muito obrigado mesmo. Tenho

certeza de que todos vocês são muito mais do que meros profissionais da

educação. Quero agradecer, particularmente, ao professor Marcelo pelos

conselhos e conversas que mantivemos, pela oportunidade de aprimorar minha

produção textual e ao professor Luís, o Máximo, que ao longo desse tempo todo

sempre esteve disposto a colaborar, mostrando que é o “Máximo” não somente

no sobrenome...

Ao pessoal da secretaria, Mari e Tânia, valeu por tudo! Sempre muito

prestativas. Não lembro de tê-las visto de mal humor, tristes durante esses dois

anos e meio...Sempre com um sorriso aberto para nos acolher...

Ao professor André, meu orientador, a quem aprendi a admirar e

respeitar, apesar de no começo do mestrado divergirmos em muitas coisas.

Posso dizer que conheci na universidade um grande professor com um enorme

coração, repleto de bondade e sabedoria. Obrigado por ter acreditado em mim

quando eu mesmo já estava duvidando... Parte significativa desta conquista é

sua...

Para terminar, agradeço ao meu grande amigo Rubem Alves, a quem

nunca nem sequer cumprimentei, mas que, mesmo sem saber, é minha fonte de

fé na educação e no poder das pessoas de construírem um mundo melhor...

Desculpem se esqueci de alguém... Prometo que agradeço quando

estiver terminando minha tese de doutorado...

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Grupos Experimental e de Controle e as etapas da pesquisa ........... 29

Figura 2- Corda em uma circunferência ............................................................. 47

Figura 3 - Seno de um ângulo a partir de uma corda ......................................... 48

Figura 4 - Interação aprendiz-computador ......................................................... 60

Figura 5 - Geometria Dinâmica: o poder de transformar .................................... 61

Figura 6 - Traçando retas com auxílio do Geogebra .......................................... 64

Figura 7 - Inserindo pontos com auxílio do Geogebra ........................................ 65

Figura 8 - Traçando retas paralelas com auxílio do Geogebra........................... 65

Figura 9 - Localizando um ângulo ...................................................................... 77

Figura 10 - Representação pictórica do problema .............................................. 78

Figura 11 - Resolução do problema ................................................................... 79

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - Comparativo do PISA (Matemática) entre 2003 e 2012, por nível 17

GRÁFICO 2 - Formação acadêmica .................................................................. 31

GRÁFICO 3 - Notas dos estudantes do CSI no ENEM, em Matemática ............ 33

GRÁFICO 4 - Comparativo: CSI x outras escolas privadas ............................... 34

GRÁFICO 5 - Médias em Matemática (GE) 1º e 2º trimestres ........................... 35

GRÁFICO 6 - Resultado do Avalia, em Matemática, para o GE ........................ 36

GRÁFICO 7 - Médias em Matemática (GC) 1º e 2º trimestres ........................... 37

GRÁFICO 8 - Resultado do Avalia, em Matemática, para o GC ........................ 38

GRÁFICO 9 - Comparativo de médias GC e GE ................................................ 39

GRÁFICO 10 - Para você, o que é Matemática? ............................................... 83

GRÁFICO 11 - Descreva uma experiência positiva que você já teve com a

Matemática em sua vida .................................................................................... 85

GRÁFICO 12 - Descreva uma experiência negativa que você já teve com a

Matemática em sua vida .................................................................................... 87

GRÁFICO 13 - Qual das frases abaixo melhor representa a sua opinião em

relação à Matemática? ....................................................................................... 88

GRÁFICO 14 - Participação no pós-teste ........................................................ 104

GRÁFICO 15 - Médias no pós teste ................................................................. 106

GRÁFICO 16 - Médias consideradas do pós-teste .......................................... 107

GRÁFICO 17 - Comparação de acertos por questão – GC x GE..................... 110

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Metodologia .................................................................................. 30

QUADRO 2 - Níveis da escala de proficiência para as competências leitora e

matemática ......................................................................................................... 36

QUADRO 3 - Síntese do experimento ................................................................ 45

QUADRO 4 - Descrição dos estágios do desenvolvimento cognitivo ................. 54

QUADRO 5 - Trabalhos relacionados ao uso de softwares para ensino de

Trigonometria ..................................................................................................... 68

QUADRO 6 - Roteiro .......................................................................................... 99

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- PISA 2003 a 2012: resultados por países (Matemática) .................... 16

Tabela 2 - Custo do atendimento ....................................................................... 22

Tabela 3 - Período e raio da órbita ..................................................................... 22

Tabela 4 - Corpo docente do CSI por gênero e nível ......................................... 31

Tabela 5 - Estatística de candidatos inscritos e classificados no Vestibular da

UFSC ................................................................................................................. 32

Tabela 6 - GC x GE: comparativo por nível do AVALIA ..................................... 39

Tabela 7 - Comparativo das médias GE x GC por intervalo ............................... 40

Tabela 8 - Médias finais GC x GE ...................................................................... 40

Tabela 9 - Comparativo entre o CSI e outras escolas por nível de proficiência do

AVALIA ............................................................................................................... 41

Tabela 10 - Estatística das amostras ............................................................... 108

Tabela 11 - Teste F .......................................................................................... 109

Tabela 12 - Teste T .......................................................................................... 109

Tabela 13 - Teste Z (questões do pós-teste).................................................... 111

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AVALIA – Empresa de Assessoria Educacional

CSI – Colégio Salesiano Itajaí

EDUMATEC – Educação Matemática

ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio

EUA – Estados Unidos da América

GC – Grupo de controle

GD – Geometria Dinâmica

GE – Grupo experimental

Geogebra – software de geometria dinâmica

GPIMEM – Grupo de Pesquisa em Informática, outras Mídias e Educação

Matemática

ICMC – Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação

IGCE – Instituto de Geociências e Ciências Exatas

IME – Instituto de Matemática e Estatística da USP

INAF – Índice de Alfabetismo Funcional

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

IPBM – Instituto Paulo Montenegro

LEM – Laboratório de Ensino de Matemática

LInE – Laboratório de Informática a Educação

LOGO – Linguagem de programação

NCSM – National Council of Supervisors of Mathematics

OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos

ONG – Organização não governamental

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PISA – Programme for International Student Assessment

Poli – Escola Politécnica da USP

RSE – Rede Salesiana de Escolas

SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica

TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação

UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

USP – Universidade de São Paulo

ZDP – Zona de Desenvolvimento Proximal

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 16

1.1 TRAJETÓRIA PESSOAL ................................................................................................... 24 1.2 OBJETIVOS .................................................................................................................... 25

1.2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................... 25 1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................... 25

1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 25 1.4 METODOLOGIA ............................................................................................................. 27

1.4.1 1.4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA ..................................................................... 30 1.4.2 Sujeitos .................................................................................................................. 34

1.4.2.1 GRUPO EXPERIMENTAL ................................................................................ 34 1.4.2.2 GRUPO DE CONTROLE .................................................................................. 37 1.4.2.3 EQUIVALÊNCIA ENTRE OS GRUPOS .............................................................. 38 1.4.2.4 GENERALIDADE DA AMOSTRA...................................................................... 41

1.4.3 PROCEDIMENTOS ................................................................................................. 42

2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 47

2.1 TRIGONOMETRIA: UM POUCO DE HISTÓRIA ................................................................ 47 2.2 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO ............................................... 49 2.3 PIAGET E O CONSTRUTIVISMO ...................................................................................... 51 2.4 AS CONTRIBUIÇÕES DE VIGOTSKY ................................................................................ 55 2.5 O CONSTRUCIONISMO DE PAPERT ............................................................................... 58 2.6 GEOMETRIA DINÂMICA ................................................................................................ 61

2.6.1 O GEOGEBRA ........................................................................................................ 62 2.6.2 USANDO O GEOGEBRA: EXEMPLO DE ATIVIDADES .............................................. 63

2.7 INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA .............................................................. 66

3 DESENVOLVIMENTO ................................................................................................ 71

3.1 INTERVENÇÃO REALIZADA ............................................................................................ 71 3.1.1 3.1.1 ONDE TUDO COMEÇOU... ............................................................................ 71 3.1.2 3.1.2 AUMENTAM-SE AS DIFICULDADES... ........................................................... 73 3.1.3 3.1.3 BUSCANDO REGULARIDADES... ................................................................... 75

3.2COLETA DE DADOS ........................................................................................................... 80 3.2.1 1ª ETAPA ............................................................................................................... 80 3.2.2 2ª ETAPA ............................................................................................................... 88

3.2.2.1 O método clínico........................................................................................... 89 3.2.2.2 Entrevistas .................................................................................................... 91

3.2.3 3ª ETAPA ............................................................................................................. 103

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 112

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 116

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1 INTRODUÇÃO

Os problemas relacionados à Educação Matemática no Brasil são muitos.

Tomando como referência o desempenho dos estudantes brasileiros no PISA

(Programme for International Student Assessment) na área de Matemática do

ano de 2012 verifica-se que este é classificado como insuficiente. A Tabela 1 –

Comparativo de resultado/Pisa - apresenta os resultados do Brasil e de outros

países no teste PISA, em Matemática, dos anos de 2003 a 2012.

Nota-se que em 2003 a média dos estudantes brasileiros em Matemática

foi de 356 pontos e em 2012 foi de 391,5. Apesar deste aumento, os números

colocam o país abaixo de México, Uruguai e Chile e, muito abaixo de países

como a Finlândia e a Coreia do Sul, países cujos estudantes obtiveram os

melhores resultados no Pisa (Matemática) e que, consequentemente, servem

como parâmetro de comparação.

O Gráfico 1- Comparativo do Pisa (Matemática) entre 2003 e 2012, por

nível mostra que em 2012 aproximadamente 35% dos estudantes que

participaram do PISA encontram-se num nível de proficiência “abaixo de 1”,ou

seja, abaixo do mínimo. Isso significa que a Organização para Cooperação e

Desenvolvimento Econômicos (OCDE) que aplica o teste, não especifica as

habilidades desenvolvidas pelos indivíduos cujo desempenho esteja neste nível,

ou por não terem sido desenvolvidas ou por estarem muito aquém daquelas

Fonte: Relatório PISA (site do MEC)

Tabela 1- PISA 2003 a 2012: resultados por países (Matemática)

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relativas ao nível 1. Além disso, o gráfico mostra que menos de 1% dos

estudantes atingiram o nível 6 de proficiência, o mais alto na escala adotada

pelo PISA.

GRÁFICO 1 - Comparativo do PISA (Matemática) entre 2003 e 2012, por nível

Fonte: Relatório PISA (site do MEC)

Os resultados do SAEB/PROVA BRASIL 2011 (INEP, 2013) também são

preocupantes. Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, por exemplo, temos

uma média aproximada de 210 pontos. Na escala utilizada pelo Sistema de

Avaliação da Educação Básica (SAEB) , isso representa o nível 4, de um total de

12. Já a média relativa aos Anos Finais do Ensino Fundamental,

aproximadamente 250 pontos, está no limite entre os níveis 4 e 5 nesta mesma

escala. Para o Ensino Médio, a média, em torno de 274 pontos, seria o

equivalente ao nível 1, de um total de 6.

O Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação educativa, co-fundadores e

executores do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), após pesquisa

realizada por mais de dez anos, destacam que “[...] o percentual da população

alfabetizada funcionalmente foi de 61% em 2001 para 73% em 2011, mas

apenas um em cada 4 brasileiros domina plenamente as habilidades de leitura,

escrita e matemática [...] Os resultados mostram que durante os últimos 10 anos

houve uma redução do analfabetismo absoluto e da alfabetização rudimentar e

um incremento do nível básico de habilidades de leitura, escrita e matemática.

No entanto, a proporção dos que atingem um nível pleno de habilidades

manteve-se praticamente inalterada, em torno de 25%.” (IPBM, 2014)

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São vários fatores que se juntam para formar o quadro atual. Pode-se

falar da (des)formação docente, sinalizada por Nóvoa (1997) que menciona que

não há ensino de qualidade, nem reforma educativa, sem adequada formação

de professores. Pode-se mencionar a (des)valorização docente ou a falta de

motivação dos alunos, conforme Pozo (2002) a motivação é um requisito, uma

condição prévia da aprendizagem, afirmando que sem motivação não há

aprendizagem. Ainda sobre este aspecto, Bzuneck (2001) afirma que a

motivação talvez seja o principal elemento do êxito e da qualidade do que se

aprende na escola.

Para Vergnaud (2008), o problema está no foco dado à Matemática no

contexto escolar: muita simbologia, muito “rigor” e pouca realidade. D´Ámbrósio

(1998) sinaliza que os programas de Matemática são, em sua maioria,

justificados exclusivamente em afirmações como ”no meu tempo se fazia assim”.

A obsolescência dos programas de Matemática é absolutamente injustificável.

Quando se observa o que acontece em muitas salas de aula pode-se

entender parte do problema. Uma Matemática estéril, a-histórica, ilógica, um

aglomerado de regras/enunciados aparentemente sem sentido que, ao invés de

motivar os estudantes, acomoda-os, quando não os aterroriza, afastando-os de

qualquer tentativa de contato mais íntimo com a Matemática. Neto (1994) diz

que

Infelizmente, entre nós, o ensino da Matemática fica quase que apenas nos níveis de conhecimento e utilização de métodos e procedimentos, isto é, o aluno aprende a terminologia e as fórmulas e treina fazer substituições para resolver problemas de rotina. A Matemática fica transformada em algo rígido, acabado, chato, sem finalidade. O aluno usa apenas a memória; não desenvolve as habilidades de extrapolar, raciocinar, criar. Não tem o prazer da descoberta. Ficam faltando elementos para o seu desenvolvimento integral.(NETO, 1994)

Os estudantes não constroem conhecimento matemático pois, segundo

Chevallard (2003), tradicionalmente o trabalho matemático dos alunos não tem

sido levado a sério: na verdade, ele nunca foi considerado um verdadeiro

trabalho matemático. Dante (2000) destaca que a rapidez com que ocorrem as

mudanças na sociedade e o avanço cada vez mais célere da tecnologia

impedem que se faça uma previsão exata de quais habilidades, conceitos e

algoritmos matemáticos seriam hoje necessários para preparar um aluno para

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sua vida futura. E continua: “...Assim, um caminho bastante razoável é preparar

a criança para lidar com situações novas, quaisquer que sejam elas.”.

Diante desta situação complexa,diversas possibilidades de atuação

aparecem. Certamente, o uso das tecnologias de Informação e Comunicação é

uma delas. Valente (2005) ressalta que hoje, a utilização de computadores na

Educação é muito mais diversificada, interessante e desafiadora, do que

simplesmente a de transmitir informação ao aprendiz. O computador pode

também ser utilizado para enriquecer ambientes de aprendizagem e auxiliar o

aprendiz no processo de construção do seu conhecimento. O uso destas novas

tecnologias abre importantes possibilidades de interação entre os estudantes e a

Matemática, interações estas que podem ser mediadas pelo professor. Kenski

(2009) aponta para os benefícios do uso das TICs ao afirmar que quando esses

recursos são bem utilizados provocam alterações nas relações entre os sujeitos

envolvidos no processo pedagógico (professores e alunos) e proporcionam um

maior aprofundamento nos conteúdos estudados. Borba e Penteado (2005)

afirmam que as TICs podem ser grandes aliadas no ensino da Matemática por

permitirem a experimentação e a ênfase no processo de visualização. Vê-se que

podem contribuir de maneira significativa para a construção de conceitos

matemáticos por parte dos estudantes. Deve-se ressaltar, porém, que esta visão

pressupõe uma utilização não meramente instrucionista destas novas

tecnologias, conforme salientado por Ponte (2003).

O uso das TICs na Educação, e, particularmente, na Educação

Matemática esteve, originalmente, envolto em controvérsias. Da substituição dos

professores pelos computadores, passando pelos prováveis malefícios que o

uso de máquinas de calcular traria aos estudantes, até a certeza de que a

educação à distância democratiza o acesso ao conhecimento (Maltempi,

Javaroni, Borba , 2011). O papel que estas novas tecnologias podem vir a

desempenhar no contexto da educação matemática ainda não está bem claro

nem para os pesquisadores, muito menos para os professores. Misculin (2008)

destaca que a inserção da tecnologia na educação deve ser compreendida e

orientada no sentido de proporcionar nos indivíduos o desenvolvimento de uma

inteligência crítica, mais livre e criadora. Ponte e Canavarro (1997) afirmam que

o uso de novas mídias pode favorecer o desenvolvimento do raciocínio, da

resolução de problemas e da capacidade crítica, ao admitir outras abordagens

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às situações matemáticas, além dos processos formais algébricos e analíticos.

Também promove a realização de atividades de modelagem, de investigação e

exploração pelos alunos, possibilitando o envolvimento dos mesmos em

atividades de matemática intensas e significativas. Por isso é grande a

esperança de que a tecnologia possa auxiliar para a melhoria das práticas

educacionais.

Chomsky (citado por Devlin, 2004), em sua teoria gerativista, afirma que

os seres humanos apresentam uma predisposição genética que permite a

aquisição da linguagem. Para Devlin (2004) essa predisposição genética para a

linguagem é o que se precisa para lidar com a Matemática. Mas, se assim fosse,

por que pessoas com bom domínio da língua materna não se sentem “tão bons

assim” quando o assunto é a Matemática? Uma possível explicação, dada pelo

autor é que as pessoas não sabem o que é a Matemática. Segundo ele, muitas

pessoas confundem Matemática com Aritmética, o que constitui um erro, uma

vez que a Aritmética é apenas uma das tantas áreas na qual a Matemática está

dividida.

Sawyer (1955), em seu livro Prelude To Mathematics, fornece uma

definição de matemática:

Para o propósito deste livro, podemos dizer que a Matemática é a classificação e o estudo de todos os padrões possíveis. A palavra padrão é usada aqui de uma maneira com a qual nem todos concordarão. Ela deve ser entendida num sentido bem amplo, cobrindo quase qualquer tipo de regularidade que se pode imaginar na mente. A vida, e certamente a vida intelectual, somente é possível porque há certas regularidades no mundo. Uma ave reconhece as listas pretas e amarelas de uma vespa; o homem reconhece que o crescimento de uma planta se segue ao plantio da semente. E, em cada caso, uma mente está ciente do padrão.(SAWER, 1955, p.12).

Gleason (apud Devlin, 2004) compartilha desta visão ao escrever que a

matemática é a ciência da ordem. Ordem aqui no sentido de padrão e

regularidade. É objetivo da matemática identificar e descrever as fontes de

ordem, tipo de ordem, e as relações entre os diversos tipos de ordem que

ocorrem.

Orton (1999) sugere que os padrões:

- podem contribuir para a construção de uma imagem mais positiva da

Matemática;

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21

- permitem o estabelecimento de conexões matemáticas;

- atraem e motivam os alunos, porque apelam fortemente ao seu sentido

estético e criatividade;

- permitem a promoção e desenvolvimento das capacidades e

competências dos alunos;

- ajudam a desenvolver a capacidade de classificar e ordenar informação;

- permitem a compreensão da ligação entre a Matemática e o mundo em

que se vive.

Os padrões aparecem na natureza. Desde a simetria verificada em folhas

e flores, passando pelos padrões celestes (movimento dos astros), pela música,

até os padrões geométricos nos mosaicos. E também estão presentes em

atividades tipicamente humanas. Busca-se identificar padrões que nos permitam

fazer previsões das condições meteorológicas, para prever resultados de

eleições, médicos identificam a doença que aflige seus pacientes a partir de

certos padrões (sintomas).

O que se busca aqui é mostrar que, esta habilidade de identificar padrões

é elemento fundamental para a compreensão da Matemática, principalmente nos

estágios iniciais de construção de conhecimento. Primeiro a percepção do

padrão; depois a representação simbólica dele. Para Felicetti e Giraffa

(2012):“Num primeiro momento, os conceitos são formalizados na língua

materna, transcrevendo-os posteriormente para a linguagem matemática formal.”

A inversão desta ordem, ou pior, a não importância dada à primeira, pode ser a

origem de parte dos problemas detectados no ensino da matemática. A Álgebra,

geralmente a parte da matemática mais odiada pelos estudantes, tem, dentre

outras funções , a de representar um padrão numa determinada linguagem.

- permitem a compreensão da ligação entre a Matemática e o mundo em

que se vive.

Considere um exemplo simples que mostra como a percepção de um

padrão auxilia na construção do pensamento algébrico: uma empresa cobra pela

prestação de um serviço, uma taxa fixa de R$ 5,00 por atendimento, acrescida

de R$ 1,25 por minuto de atendimento. Quanto pagará alguém que utilizar este

serviço por: 3 minutos? 7 minutos? 20 minutos? "x" minutos?

Os dados por ser organizados na Tabela 2 – Custo do Atendimento -,

conforme mostrado abaixo:

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22

Tabela 2 - Custo do atendimento

TEMPO EXPRESSÃO VALOR

3 5+ 3.1,25 R$ 8,75

7 5 + 7.1,25 R$ 13,75

20 5 + 20.1,25 R$ 30,00

x 5 + x.1,25 R$ (5+x.1,25)

Fonte: Elaborada pelo autor.

A partir da análise atenta dos três primeiros exemplos (numéricos), o

estudante pode perceber que existe um padrão na expressão que permite

calcular o valor que será pago pelo atendimento. Tem-se que todas as

expressões serão do tipo: 5 + (algum número).1,25. E este (algum número)

representa o tempo de atendimento.

Outro exemplo relacionado à percepção de padrões, pode ser identificado

no trabalho de Johannes Kepler. Estudando as tabelas de Tycho Brahe, ele

procurou estabelecer relações entre os períodos de revolução dos planetas e os

raios de suas órbitas. Depois de cerca de 10 anos de tentativas, Kepler

descobriu uma relação que é sintetizada em sua 3ª lei. A Tabela 3 – período e

órbita dos planestas apresenta os dados com os quais Kepler trabalhou:

Tabela 3 - Período e raio da órbita

PLANETA PERÍODO DE

REVOLUÇÃO (T) (EM ANOS)

RAIO DA ÓRBITA (R)

Mercúrio 0,241 0,387 1,002

Vênus 0,615 0,723 1,000

Terra 1,000 1,000 1,000

Marte 1,888 1,524 0,999

Júpiter 11,86 5,204 0,997

Saturno 29,6 9,58 0,996

Urano 83,7 19,14 1,000

Netuno 165,4 30,2 0,993

Plutão 248 39,4 1,004

Raio R dado em u.a. (unidade astronômica). 1u.a = raio da órbita da Terra. A órbita dos planetas foi suposta circular.

Fonte: MÁXIMO, A. ; ALVARENGA, B.

Note-se que os períodos de revolução dos planetas (2ª coluna da

Tabela3) são bem diferentes uns dos outros. O mesmo pode ser verificado para

os raios das órbitas (3ª coluna). Entretanto, na 4ª coluna, vê-se que as razões

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entre os quadrados dos períodos de revolução e os cubos dos raios da órbita,

tendem a um determinado valor, ou seja, convergem para um determinado valor

(representado pela constante K). Esta percepção não é óbvia (por isso foram

necessários dez anos de trabalho por parte de Kepler), mas parece razoável

supor que de posse dos atuais recursos tecnológicos, a percepção deste padrão

teria sido “mais rápida”. E pode-se, então levantar o seguinte questionamento:

quais teriam sido as conseqüências para a ciência e, conseqüentemente, para a

humanidade, de se antecipar em dez anos as descobertas de Kepler?

Na edição de Setembro de 1989 do Mathematics Teacher, o National

Council of Supervisors of Mathematics (NCSM) dos EUA descreve, num artigo

com o título "Matemática Fundamental para o Século XXI", aquilo a que chamou

"as competências matemáticas fundamentais de que os cidadãos terão

necessidade para iniciarem a vida adulta no próximo milênio". No item

Investigação Matemática, tem-se que " [...] os alunos devem aprender por si

próprios as ideias matemáticas. Devem ser capazes de identificar padrões, fazer

generalizações e usar experiências e observações para formular conjecturas

[...]"NCSM (1989)

Tomando como ponto de partida esta concepção do que seja Matemática

e do fato de que a percepção deve anteceder a representação simbólica, surge o

seguinte questionamento: que contribuições o uso do Geogebra como elemento

mediador no processo de ensino pode trazer para que os estudantes construam,

de forma mais significativa conceitos matemáticos a partir do desenvolvimento

da competência de perceber padrões?

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24

1.1 TRAJETÓRIA PESSOAL

Esta pesquisa traz consigo muito da história do pessoal do pesquisador,

no que se refere à sua vivência matemática e neste sentido esta será detalhada

a seguir.

Enquanto estudante do antigo primeiro grau, nunca sentiu grande

entusiasmo em estudar e, consequentemente, aprender matemática. Achava

tudo muito sem lógica, sem um por quê. A repetição mecânica de exercícios era

tarefa maçante, enfadonha. E, além disso, os professores carregavam consigo

um certo peso, parecia um fardo. A impressão que tinha era a de que os outros

professores (de outras disciplinas) eram mais... felizes!

Porém, no ano de 1992, um sentimento diferente em relação à

matemática surgiu. Um professor, de nome Luís Carlos Maçaneiro, começou a

mudar a história. E para fazer isso não precisou de muita coisa: bastou mostrar-

se feliz com aquilo que fazia. Ele gostava de estar ali e ensinar matemática. E o

seu gostar fez com que muitos também começassem a gostar. Mas a mudança

definitiva veio com o professor de Física, Carlos Alberto de Souza. Este mudou a

vida do pesquisador! Buscava fazer com que seus alunos pensassem e não os

enchia de exercícios enfadonhos. Fazia-os “viajar”. E mostrava como a

matemática era importante para a Física. Fórmulas eram estudadas, nunca

decoradas. A compreensão e a percepção da aplicabilidade de determinados

conceitos era, para ele, mais importante do que a simples memorização de uma

fórmula.

Ao longo deste tempo, o professor-pesquisador viu-se, constantemente,

diante de situações nas quais percebia que os estudantes, em geral:

relacionavam Matemática apenas às operações e manipulações

(numéricas e algébricas);

não viam espaço para descobertas em Matemática;

acreditavam que o uso de tecnologias não auxilia no processo de

aprender Matemática (para muitos, inclusive, atrapalha este processo);

Com o intuito de superar as visões acima expostas nasceu a presente

proposta de pesquisa.

O pesquisador interessou-se em investigar acerca das possíveis

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25

vantagens que a utilização do Geogebra poderia trazer no processo. E, ao invés

de realizar tais construções com os instrumentos clássicos de desenho, elas

serão realizadas com a utilização do software Geogebra. E a determinação das

razões feita a partir da utilização de uma planilha eletrônica, também disponível

neste software. Espera-se que seja criado um cenário para investigação o qual,

segundo Skovsmose (2000), é um ambiente em que os alunos são convidados

a se envolverem nos processos de exploração.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 OBJETIVO GERAL

Avaliar de que forma o uso do Geogebra pode contribuir para fazer com

que os estudantes aprendam Matemática ao desenvolver a habilidade de

identificar padrões.

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Conhecer as concepções dos estudantes sobre a Matemática;

Analisar o processo de identificação de padrões, em trigonometria, por

parte dos estudantes;

Avaliar o impacto de uma intervenção com uso do Geogebra na

habilidade de perceber e representar simbolicamente padrões.

1.3 JUSTIFICATIVA

Uma das características mais marcantes deste conhecimento ao qual se

dá o nome de Matemática é o fato de estar presente em todas as comunidades

humanas. Este fato é analisado por D´Ambrósio (1998) que salienta que a

matemática esta presente em todos dos currículos, em todo o mundo, em função

de sua importância.. Essa dominância universal absoluta da matemática sobre

as demais disciplinas escolares, inclusive da própria língua pátria, que

obviamente não tem o caráter da universalidade, nos convida a uma reflexão

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26

muito profunda e abrangente do porquê dessas características de um setor do

conhecimento humano (D`ÁMBRÓSIO, 1998).Tradicionalmente e infelizmente, a

matemática – e em especial a matemática escolar - tem sido usada como meio

para exclusão de indivíduos. D´Ambrósio (1998) adverte que desde Platão, esse

tem sido o filtro utilizado para selecionar lideranças. A matemática assume

características quase que divinas. Ela é exata! Sua estrutura serve de modelo

para outras áreas do conhecimento. Algo que se projeta desta forma, certamente

não admite a diferença. É uma visão dicotômica: ou é assim, ou não é

matemática. E aqueles que não se adaptam a esta estrutura tão rígida são,

certamente, incapazes, inferiores. A matemática tornou-se critério para

determinar a inteligência de um indivíduo. E esta situação gera sentimentos,

reações que qualquer um que já tenha vivenciado o ambiente escolar já

presenciou: o amor de uns poucos e o ódio – pior, talvez, a indiferença – de

muitos pela matemática.. Na escola tradicional, e por que não dizer na

sociedade, “a superioridade de quem atingiu um nível mais alto em matemática é

reconhecida por todos, sendo a habilidade matemática uma marca do gênio”

(Kennedy, apud D´Ambrósio, 1998). Cabe retomar aqui o que pensa Neto

(1994):

Infelizmente, entre nós, o ensino da Matemática fica quase que apenas nos níveis de conhecimento e utilização de métodos e procedimentos, isto é, o aluno aprende a terminologia e as fórmulas e treina fazer substituições para resolver problemas de rotina. A Matemática fica transformada em algo rígido, acabado, chato, sem finalidade. O aluno usa apenas a memória; não desenvolve as habilidades de extrapolar, raciocinar, criar. Não tem o prazer da descoberta. Ficam faltando elementos para o seu desenvolvimento integral.(NETO, 1994)

No livro “Na vida 10, na escola 0”, Terezinha Nunes et al mostram que

estudantes com rendimento abaixo do esperado na escola conseguem, fora dela

e num contexto mais significativo, fazer uso de idéias matemáticas de formas

muito ricas, muitas vezes mais complexas (do ponto de vista das ações mentais)

do que aquelas vivenciadas na escola.

A presente pesquisa se justifica por tentar superar os aspectos acima

mencionados (matemática como forma de exclusão, matemática como algo “só

para gênios”, matemática como algo pronto, acabado...), por meio da inserção

no processo pedagógico das TICs, particularmente do Geogebra e de um

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27

redimensionamento, de uma releitura acerca do conhecimento matemático. Isto

a partir da convicção que o segredo para o desenvolvimento e construção do

conhecimento matemático está diretamente ligado à habilidade de perceber

padrões e representá-los simbolicamente.

1.4 METODOLOGIA

Shaffer e Serlin (2004) mostram que durante muito tempo se colocaram

em lados opostos as duas formas de pesquisa: a qualitativa e a quantitativa e

que, portanto, eram incompatíveis em pesquisas educacionais. Entretanto,

partindo do pressuposto de que tais formas destinam-se a responder diferentes

tipos de questões e que, na verdade, podem se complementar, muitos estudos

começaram a ser realizados tendo como base uma abordagem mista, ou seja,

que abarca as duas formas, simultaneamente. Tashakkori e Teddlie (1998)

apresentam vários estudos em que as abordagens qualitativa e quantitativa são

usadas sequencialmente ou paralelamente. Eles descrevem de que forma uma

análise quantitativa permite, por exemplo, identificar sujeitos para um estudo

qualitativo. Mostram, também, como uma abordagem qualitativa pode influenciar

na geração de hipóteses para estudos quantitativos. Como afirmam Shaffer e

Serlin (2004):

Os métodos qualitativos e quantitativos são, em última análise, métodos para garantir a apresentação de uma amostra adequada. Ambos constituem tentativas para projetar um conjunto finito de informação para uma população mais ampla: uma população de indivíduos no caso do típico inquérito quantitativo, ou uma coleção de observações na análise qualitativa. [...] .

E continuam:

O objetivo em qualquer análise é adequar a técnica à inferência, a afirmação à comprovação. As questões que se colocam a um investigador são sempre: Que questões merecem ser levantadas nesta situação? Que dados poderão lançar luz sobre estas questões? E que métodos analíticos poderão garantir afirmações, baseadas em dados, sobre aquelas questões? Responder a estas questões é uma tarefa que envolve, necessariamente, uma profunda compreensão das potencialidades e limites de uma variedade de técnicas quantitativas e qualitativas.” (SHAFFER e SERLIN,2004)grifo nosso.

Flyvbjerg (2001) salienta que

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28

Além de desprovido de sentido, é contraprodutivo em termos da nossa compreensão falar da „vitória dos sinais sobre a diferença‟ ou das regras sobre o particular. […] Amputar um dos lados nestes pares de fenômenos numa dualidade „ou-ou‟ é amputar a nossa compreensão. Em vez de „ou-ou‟, deve-se desenvolver um não dualista e pluralista „ambos-e‟. Assim, não devemos criticar regras, lógica, sinais, e racionalidade em si mesmos. Devemos apenas criticar o domínio destes fenômenos sobre a exclusão de outros na sociedade moderna e nas ciências sociais. Inversamente, deve ser igualmente problemático se regras, lógica, sinais, e racionalidade forem marginalizados pelo

concreto, pela diferença, e pelo particular. [...]FLYVBJERG (2001)

A presente pesquisa realiza-se sobre a premissa de que ambas as

abordagens são viáveis e perfeitamente compatíveis, tendo em vista os objetivos

propostos. Desta forma ela está organizada em uma abordagem mista com fase

quantitativa e fase qualitativa. Será conduzida em três etapas cada uma

associada a um objetivo específico. Estas serão detalhadas na seção 1.4.3

(procedimentos). A Figura 1 - Grupos Experimental e de Controle e as etapas da

pesquisa- busca apresentar uma visão geral do modo como a pesquisa foi

conduzida.

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29

Figura 1 - Grupos Experimental e de Controle e as etapas da pesquisa

A fase quantitativa adota um design quasi-experimental pelo fato dos

grupos experimental e de controle serem formados de forma não aleatória. O

grupo de controle é constituído por 101 estudantes de três classes de 9º ano e o

grupo experimental é formado por 36 estudantes da classe que vivenciou a

sequência didática. Os grupos serão comparados com base no escore em um

teste sobre percepção de padrões (numéricos e geométricos) e em

trigonometria, além da representação simbólica desses padrões, que será

aplicado a ambos os grupos (pós teste).

A fase qualitativa utilizará analise de conteúdo nas respostas de um

questionário aplicado a todos os estudantes (ambos os grupos). O objetivo do

questionário é analisar as concepções dos estudantes sobre a Matemática.

Três estudantes do grupo experimental serão selecionados para entrevistas que

serão conduzidas reproduzindo parte dos procedimentos da sequência didática

utilizando o método clínico de Piaget para analisar o processo de identificação

de padrões realizado pelos estudantes.

O Quadro 1 – Metodologia - abaixo sintetiza dá uma visão geral da

metodologia:

Fonte: Elaborada pelo autor.

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30

QUADRO 1 - Metodologia

Objetivo Instrumento de Coleta Estratégia de Análise

Abordagem

Conhecer as concepções dos estudantes sobre a

Matemática.

Questionário aplicado aos sujeitos de ambos os

grupos.

Estatística descritiva

Qualitativa

Analisar o processo de identificação padrões em

trigonometria.

Entrevista (vídeo) individual com sujeitos do grupo experimental.

Método clínico

Qualitativa

Avaliar o impacto de uma intervenção com o uso

do Geogebra na habilidade de perceber e

representar simbolicamente padrões.

Quasi-experimental Prova (pós-teste)

aplicado aos sujeitos de ambos os grupos. Teste de hipótese

Testes estatísticos

Quantitativa

Fonte: Elaborado pelo autor.

A seguir são caracterizados a escola e os sujeitos onde foi conduzida a

pesquisa.

1.4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA

O Colégio Salesiano completou 58 anos de presença em Itajaí em 2014.

Faz parte da RSE – Rede Salesiana de Escolas. A RSE trabalha com uma

proposta pedagógica unificada em suas escolas e produz o próprio material

didático.

Neste contexto o Colégio Salesiano Itajaí atende - em 2014 - a mais de

1600 alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio, a escola particular da cidade

com o maior número de alunos matriculados, segundo dados do INEP (2013)

Para atender as necessidades da escola, cerca de 120 funcionários

integram os recursos humanos da instituição. A equipe docente é formada por

69 professores, distribuídos entre as três etapas da educação básica, conforme

mostrado na Tabela 4 – Corpo docente do CSI por gênero e nível:.

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31

Tabela 4 - Corpo docente do CSI por gênero e nível

Fonte: Elaborada pelo autor.

O Gráfico 2 - Formação acadêmica do corpo docente do CSI - apresenta

a distribuição dos professores em função da formação acadêmica:

GRÁFICO 2 - Formação acadêmica

Fonte: Elaborado pelo autor.

Note-se que o quadro de professores é formado por profissionais com

curso superior completo, sendo que 46 deles (66,7%) possuem especialização

em alguma área (não necessariamente ligada à educação). Apenas três

professores (4,3%) possuem mestrado e apenas um (1,4%) possui doutorado.

1211

01

22 22

0 0

21

5

2

0

14

8

10

0

5

10

15

20

25

SUPERIOR COMPLETO

ESPECIALIZAÇÃO MESTRADO DOUTORADO

EI

EF - I

EF - II

EM

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Estes últimos números indicam a necessidade de maior capacitação do quadro

de professores, apesar de o quadro não ser tão diferente em relação às outras

escolas privadas da região uma vez que conforme Felicetti e Giraffa (2012)

Pode-se conjecturar aqui que quanto maior o estudo e aprendizagem do professor acerca das metologias de ensino, melhor será o

desempenho de seus alunos. (FELICETTI E GIRAFFA, 2012)

Os professores da Educação Infantil trabalham na instituição no horário

vespertino, assim como os professores do Ensino Fundamental I (anos iniciais),

tendo, portanto, carga horária média de 25 horas semanais. Os professores do

Ensino Fundamental II e do Ensino Médio trabalham no período matutino, com

cargas horárias que variam em função da disciplina que lecionam. Alguns

desses professores trabalham no período vespertino com aulas de Apoio

Pedagógico.

A Tabela 5 – Estatística de candidatos inscritos e classificados no

Vestibular da UFSC -apresenta os dados relativos à aprovação dos alunos

oriundos do CSI no vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina –

UFSC, nos últimos 5 anos.

Tabela 5 - Estatística de candidatos inscritos e classificados no Vestibular da UFSC

Fonte: Elaborada pelo autor.

Os índices mostram que os estudantes do CSI tem conquistado bons

resultados no vestibular da UFSC, lembrando que é sempre difícil fazer análises

deste tipo porque, por exemplo, os dados sofrem influência do curso escolhido,

do número de candidatos inscritos, dentre outros. Por exemplo: uma escola X

teve um (1) candidato inscrito em um curso cuja relação candidato/vaga é de

0,5/1 (ou seja, tem-se mais vagas do que candidatos inscritos). E ele foi

classificado, então o índice de aprovação da escola X será de 100%.

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Ainda no que toca os desempenho dos estudantes do CSI em avaliações

externas, são mostradas, no GRÁFICO 3, as médias dos alunos da instituição no

Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM –, nos anos de 2010, 2011 e 2012.

GRÁFICO 3 - Notas dos estudantes do CSI no ENEM, em Matemática

Fonte: Elaborado pelo autor.

Observa-se que os resultados obtidos pelos estudantes estão acima das

médias nacionais nos anos de 2009, 2010 e 2011.

Abaixo, Gráfico 4 - Comparativo: CSI x outras escolas privadas - são

apresentados os resultados obtidos (médias) em Matemática por outras escolas

privadas da cidade de Itajaí no ENEM nos anos de 2011/2012

666,24

674,83

626,85

600 610 620 630 640 650 660 670 680

2010

2011

2012

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34

GRÁFICO 4 - Comparativo: CSI x outras escolas privadas

Fonte: Elaborado pelo autor.

A análise do gráfico indica que, à exceção de uma das escolas (Colégio

A), as demais, encontram-se numa faixa de resultados relativamente próximos.

Nesta situação, os resultados obtidos no ENEM (em Matemática), não as

colocariam em situação de significativa desigualdade

1.4.2 SUJEITOS

1.4.2.1 GRUPO EXPERIMENTAL

A intervenção didática foi em setembro de 2013 com 36 estudantes de

uma turma de nono ano do ensino fundamental, do Colégio Salesiano Itajaí

(CSI), com idade média de 14 anos. O grupo era formado por 12 meninos

(33,3% do total) e 24 meninas (66,6% do total). A escolha do grupo foi feita em

função da disponibilidade para aplicação da intervenção, uma vez que esta era a

527

691

606

631

626

627

557

651

652

596

0

675

542

671

629

613,5

626

651

0 100 200 300 400 500 600 700 800

Colégio A

Colégio B

Colégio C

Colégio D

Colégio E

Colégio Salesiano

MÉDIA

2011

2012

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35

única turma de nono ano para qual o professor-pesquisador lecionava. Dos 36

componentes do grupo, apenas dois haviam ingressado na escola no nono ano.

Nenhum dos participantes reprovou em anos anteriores. À época da

implementação da sequência didática, a distribuição das médias, na disciplina de

Matemática apresentava-se conforme mostrado no Gráfico 5 - Médias em

Matemática (GE) 1º e 2º trimestres

GRÁFICO 5 - Médias em Matemática (GE) 1º e 2º trimestres

Fonte: Elaborado pelo autor.

O gráfico revela que os estudantes que fazem parte do grupo

experimental apresentam, em sua maioria, bom aproveitamento em Matemática,

uma vez que aproximadamente 81% deles estavam com média igual ou maior

do que sete. Saliente-se, também, que não havia estudantes com média inferior

a cinco.

Em avaliação institucional executada pela empresa AVALIA nas seguintes

áreas Leitura, Matemática e Redação , no final de 2013, (AVALIA, 2013), os

estudantes do grupo experimental ficaram assim caracterizados em Matemática

e suas Tecnologias, (Gráfico 6 - Resultado do Avalia, em Matemática, para o

GE):

0

7

17

12

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

0 |----- 5 5 |----- 7 7 |----- 8 8 |----- 10

FREQ

UÊN

CIA

AB

SOLU

TA

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36

GRÁFICO 6 - Resultado do Avalia, em Matemática, para o GE

Fonte: Elaborado pelo autor.

O AVALIA propõe que os resultados dos alunos sejam interpretados por

meio da distribuição desse público em quatro níveis de uma escala de

proficiência: Avançado, Proficiente, Básico e Abaixo do Básico, conforme pode

ser verificado no Quadro 2 - Níveis da escala de proficiência para as

competências leitora e matemática (AVALIA, 2013).

QUADRO 2 - Níveis da escala de proficiência para as competências leitora e matemática

Fonte: Relatório AVALIA.

Importante salientar que os resultados do AVALIA para o grupo

experimental muito se aproximam daqueles relacionados às medias trimestrais.

Note-se que 67% dos integrantes do grupo experimental foram classificados

como proficientes e nenhum deles ficou no nível abaixo do básico.

514%

1953%

1233%

AVANÇADO

PROFICIENTE

BÁSICO

ABAIXO DO BÁSICO

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37

1.4.2.2 GRUPO DE CONTROLE

O grupo de controle é formado por 101 alunos, dos quais 51 são do sexo

feminino (50,5%) e 50 são do sexo masculino (49,5%), idade média de 14

anos,todos estudantes de turmas do nono ano do CSI, no ano de 2013. Os

estudantes do grupo de controle não tinham aulas com o professor-pesquisador.

Ao longo da pesquisa o número de indivíduos no GC sofreu alterações,

passando de 101 para 108. Tal alteração deve-se ao fato da pesquisa ter sido

iniciada em 2013 e finalizada em 2014. A inserção dos indivíduos não afetou as

características gerais do GC.

O Gráfico 7 - Médias em Matemática (GC) 1º e 2º trimestres apresenta as

médias dos indivíduos que compõem o grupo de controle à época da realização

da sequência didática:

GRÁFICO 7 - Médias em Matemática (GC) 1º e 2º trimestres

Fonte: Elaborado pelo autor.

Pode-se perceber que também aqui a maior parte dos estudantes (cerca

de 66,3%) possuem nota igual ou superior a sete, enquanto que apenas dois

estudantes (cerca de 2%) encontram-se com média abaixo de cinco.

Na avaliação realizada pela AVALIA em 2013, os estudantes incluídos no

2

3230

37

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 |----- 5 5 |----- 7 7 |----- 8 8 |----| 10

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38

grupo de controle apresentaram a seguinte distribuição entre os níveis de

desempenho estabelecidos por aquela avaliação: (Gráfico 8 - Resultado do

Avalia, em Matemática, para o GE)

GRÁFICO 8 - Resultado do Avalia, em Matemática, para o GC

Fonte: Elaborado pelo autor.

Novamente os resultados do AVALIA corroboram com os resultados das

médias trimestrais desses estudantes. Observe-se que 65% deles são, no

mínimo, proficientes. Já no outro extremo não foram identificados indivíduos no

nível abaixo do básico.

1.4.2.3 EQUIVALÊNCIA ENTRE OS GRUPOS

A Tabela 6 – GC x GE: comparativo por nível do AVALIA - estabelece um

comparativo da situação dos grupos experimental e de controle antes da

realização da pesquisa e com base na avaliação promovida pela AVALIA:

14; 15%

48; 50%

34; 35%

0; 0%

AVANÇADO

PROFICIENTE

BÁSICO

ABAIXO DO BÁSICO

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39

Tabela 6 - GC x GE: comparativo por nível do AVALIA

NÍVEL AVANÇADO PROFICIENTE BÁSICO

ABAIXO DO BÁSICO GRUPO

EXPERIMENTAL 14% 53% 33% 0%

CONTROLE 15% 50% 35% 0% Fonte: Elaborada pelo autor.

Nota-se a pequena diferença entre os resultados obtidos pelos grupos de

estudantes. Tais dados fornecem indícios de que estes grupos sejam

equivalentes e que fazem parte da mesma população.

O Gráfico 9- Comparativo de médias GC e GE, mostra a distribuição dos

estudantes dos grupos de controle e experimental por intervalo de médias, à

época da aplicação da sequência didática ao grupo experimental.

GRÁFICO 9 - Comparativo de médias GC e GE

Fonte: Elaborado pelo autor.

A Tabela 7 – Comparativo das médias GE x GC por intervalo - traz um

comparativo, em termos percentuais, entre as médias dos estudantes dos

grupos experimental e de controle, à época da aplicação da sequência didática:

2 0

32

7

30

17

37

12

0

5

10

15

20

25

30

35

40

GRUPO DE CONTROLE GRUPO EXPERIMENTAL

0 |----- 5

5 |----- 7

7 |----- 8

8 |-----| 10

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40

Tabela 7 - Comparativo das médias GE x GC por intervalo

INTERVALO DE MÉDIAS

GRUPO EXPERIMENTAL GRUPO DE CONTROLE

0 |----- 5 0% 1,98%

5 |----- 7 19,44% 31,68%

7 |----- 8 47,22% 29,70%

ACUMULADO 5 |----- 8

66,67% 61,38%

8 |-----| 10 33,33% 36,63 Fonte: Elaborada pelo autor.

Cabe novamente ressaltar que os percentuais no intervalo de zero

(inclusive) a cinco (exclusive) estão muito próximos, o mesmo ocorrendo no

intervalo de oito (inclusive) a dez (inclusive). Diferenças foram encontradas para

os intervalos de cinco (inclusive) a sete (exclusive) e de sete (inclusive) a oito

(exclusive). Entretanto, se agruparmos os dados em um intervalo mais amplo, de

cinco (inclusive) a oito (exclusive), os valores estariam muito próximos. Ressalte-

se que a média para aprovação é cinco e, portanto, todos os estudantes cujas

médias pertencem a este intervalo estariam, a princípio, aprovados.

A Tabela 8 – Médias Finais GC x GE apresenta as médias finais,

considerando o 1º, o 2º e o 3º trimestres de 2013 dos estudantes do grupo de

controle e do grupo experimental.

Tabela 8 - Médias finais GC x GE

INTERVALO GRUPO DE CONTROLE GRUPO EXPERIMENTAL

FABSOLUTA FRELATIVA FABSOLUTA FRELATIVA

0 |----- 5 17 16,83% 6 16,67%

5 |----- 7 35 34,65% 10 27,78%

7 |----- 8 48 47,52% 19 52,78%

ACUMULADO 5 |----- 8

83 82,18% 29 80,55%

8 |-----| 10 1 1% 1 2,78% Fonte: Elaborada pelo autor.

Nota-se não haver diferença significativa nos resultados quando

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41

considerados os intervalos: 0 |----- 5, ( 16,83% para 16,67%) , 5 |----- 8 (82,18%

para 80,55%) e 8 |-----| 10 (1% para 2,78%). Estes dados permitem concluir que

os grupos de controle e o grupo experimental podem ser comparados, em

relação à Matemática, para os fins a que se propõe a presente pesquisa.

1.4.2.4 GENERALIDADE DA AMOSTRA

Com intuito de demonstrar que a amostra desta pesquisa não é atípica e

com isso conferir algum grau de validade externa, apoia-se, também, nos dados

fornecidos pela AVALIA em um conjunto de escolas.

A Tabela 9– Comparativo entre o CSI e outras escolas por nível de

proficiência do AVALIA - traz um comparativo entre os resultados obtidos (em

Matemática) pelos estudantes dos nonos anos do CSI, aqueles obtidos por

escolas semelhantes, por escolas privadas do estado, por escolas públicas do

estado e a escola definida como padrão:

Tabela 9 - Comparativo entre o CSI e outras escolas por nível de proficiência do AVALIA

Fonte: Relatório AVALIA.

Segundo o AVALIA, as escolas agrupadas se organizam da seguinte

forma:

i. Escolas semelhantes: considera a localização, o tamanho e o nível

socioeconômico das famílias atendidas.

ii. Escolas públicas de seu estado: considera instituições municipais

ou estaduais, localizadas em sua unidade da federação, que

participaram do Saeb/2009.

iii. Escolas privadas de seu estado: considera instituições de educação

escolar privadas, localizadas em sua unidade da federação, que

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participaram do Saeb/2009.

iv. Escola-padrão: fundamentada na terceira meta do compromisso Todos

pela Educação;

Pode-se perceber, a partir da análise da TABELA 8, que o CSI, quando

comparado com as escolas semelhantes, encontra-se acima da média pelos

seguintes motivos: maior concentração de estudantes no nível avançado: 14%

contra 11% das escolas semelhantes; maior concentração de estudantes no

nível de proficiência: 51% contra 33% das escolas semelhantes; menor

concentração de estudantes nos níveis básico e abaixo do básico.

Quando os dados são comparados com as escolas privadas do estado

percebe-se não haver variação significativa no percentual de estudantes nos

níveis avançado e básico. O percentual de estudantes no nível proficiente é

significativamente maior do que a média das escolas privadas do estado.

Finalmente, a comparação com a Escola-padrão indica como fatores

positivos para CSI o não aparecimento de estudantes no nível abaixo do básico

e o fato de mais da metade dos estudantes encontrarem-se no nível proficiente.

Em contra partida, o percentual de estudantes no nível avançado está

significativamente abaixo do estabelecido como padrão e o percentual de

estudantes no nível básico está acima do padrão.

1.4.3 PROCEDIMENTOS

Esta pesquisa está dividida em três etapas, cada uma delas focando em

um dos objetivos, quais sejam:

-Conhecer as concepções dos estudantes sobre a Matemática;

-Analisar o processo de identificação de padrões numéricos, em

trigonometria, por parte dos estudantes;

- Avaliar o impacto de uma intervenção com uso do Geogebra na

habilidade de perceber e representar simbolicamente padrões;

A primeira etapa da pesquisa está relacionada ao objetivo “conhecer as

concepções dos estudantes sobre a Matemática”. Para tanto, será aplicado um

questionário aos sujeitos da pesquisa. O questionário será aberto e com ele

buscar-se-á determinar a relação que cada um dos sujeitos estabelece com a

matemática, ou seja, como o sujeito se sente em relação a ela. Rodrigues (1999)

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43

afirma que "o que o indivíduo aprecia e deseja, influencia aquilo que vê e

interpreta. E, inversamente, o que é visto e interpretado influencia aquilo que se

aprecia e se deseja". Terá, também, a função de informar a concepção que cada

um deles tem acerca do conhecimento matemático, ou seja, o que caracteriza a

matemática enquanto ciência.

A segunda etapa liga-se ao objetivo “analisar o processo de identificação

de padrões numéricos, em trigonometria, por parte dos estudantes”. O livro

didático utilizado pelos estudantes que fazem parte da pesquisa traz, em seu

capítulo 10, um roteiro de atividades que foram desenvolvidas com o intuito de

fazer com que os estudantes construam o conceito acerca das razões

trigonométricas seno, cosseno e tangente. Neste roteiro foi solicitado que os

estudantes construíssem diversos triângulos retângulos utilizando régua,

compasso e transferidor e que, depois de tais construções, determinassem (com

uso da calculadora) a razão entre os lados (tomados dois a dois, numa ordem

pré-definida) dos triângulos construídos. Ao invés de realizar tais construções

com os instrumentos clássicos de desenho (compasso, transferidor, régua), elas

foram construídas com a utilização do software Geogebra. E a determinação das

razões foi realizada a partir da utilização de uma planilha eletrônica. Pode-se ter

uma visão mais detalhada da atividade na seção 3.1, Sequência Didática. Serão

escolhidos três estudantes do grupo experimental para serem estudados através

do método clínico de Piaget.

Na terceira e última etapa da pesquisa será aplicado um pós-teste a todos

os participantes da pesquisa (grupo de teste e grupo de controle). Este pós-teste

foi concebido para coletar evidências empíricas de que aqueles estudantes que

se submeteram à intervenção realizada desenvolveram uma habilidade de

perceber padrões e representá-los simbolicamente maior do que aqueles que

não se submeteram a tal intervenção.

Como já citado, farão parte dessa pesquisa estudantes dos nonos anos

do CSI/2013. Para tanto, organizou-se o experimento com duas amostras,

selecionadas de forma não-aleatória (quasi-experimento).

Amostra 1: Grupo de Controle – 101 estudantes que não participaram da

sequência didática realizada.

Amostra 2: Grupo Experimental – 36 estudantes que participaram da

sequência didática realizada (tratamento);

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44

Será aplicado o mesmo instrumento aos integrantes destas duas

amostras. O instrumento será composto por questões relacionadas à “habilidade

de perceber padrões (numéricos, geométricos) e em trigonometria e sua

representação simbólica..”.

Nesta terceira etapa busca-se avaliar o impacto de uma intervenção com

uso do Geogebra na habilidade de perceber e representar simbolicamente

padrões.

Para responder a pergunta de pesquisa foi definida a seguinte hipótese: A

média do escore no Grupo Experimental será maior que a média do escore do

Grupo de Controle, ou seja,

Em se tratando de amostras grandes (n>30) assume-se a normalidade

destas e a utilização de testes paramétricos. Utilizar-se-ão os testes F, T e Z.

Com o teste F busca-se identificar se há igualdade de variâncias. O teste T será

utilizado para testar a hipótese de diferença entre os escores médios dos grupos

com um grau de confiança determinado. Para identificação das questões que

colaboraram mais fortemente para melhoria da média utilizar-se-á o teste Z para

comparação de proporções.

A prova (pós-teste) era constituída por duas partes. Na primeira parte

foram colocadas onze questões, numeradas de um a onze, oito das quais

objetivas e três abertas. Essas questões envolviam a percepção de padrões

numéricos e geométricos. A segunda parte era constituída por sete questões,

numeradas de doze a dezoito, todas objetivas, as quais envolviam a percepção

e representação simbólica de padrões. A elaboração das questões foi norteada

pelo objetivo acerca da percepção de padrões. A prova (pós-teste) encontra-se

disponível no Apêndice.

O Quadro 3 - Síntese do Experimento - sintetiza o design do experimento:

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QUADRO 3 - Síntese do experimento

Tipo de design Quasi-experimental, dois grupos, apenas

pós-teste, seleção não aleatória.

População Estudantes do CSI/2013

Amostra

Estudantes dos nonos anos/2013: Grupo de Controle: (n= 101); Grupo Experimental: (n= 36)

Instrumento de coleta Provas categorizadas aplicadas às duas

amostras

Variáveis Dependentes

Nota média, Proporção de acertos

Variável Independente

Participação na sequência didática

Hipóteses

Procedimentos Teste F – comparar variâncias a 95%

Teste T – comparar médias a 99% Teste Z – comparar proporções 95%

Fonte: Elaborado pelo autor.

As principais ameaças à validade do experimento, segundo Wainer (2007)

e as ações de correção ou redução de seus efeitos estão listadas a seguir:

Ameaça de instrumentação: relacionada a uma diferença entre o grau

de dificuldade do instrumento de coleta, foi eliminada pela aplicação

do mesmo instrumento para as duas amostras;

Ameaça de testagem: não se aplica por envolver apenas pós-teste.

Esta ameaça está presente quando o instrumento de coleta promove

uma aprendizagem nos estudantes, afetando, assim, resultados

futuros;

Ameaça de maturação: aquela relacionada à evolução natural dos

participantes e que acontece entre o pré-teste e o pós-teste. Como

não houve pré-teste, esta ameaça não se aplica ao design adotado;

Ameaça de história: quando um evento externo ao experimento pode

ter influenciado o resultado. Esta ameaça é de difícil eliminação.

Algumas ações para minimizá-la foram: aplicar o instrumento

simultaneamente a ambos os grupos; não aplicação de aulas de

preparação ou revisão. O fato de se utilizar professores diferentes para

as amostras é uma ameaça que não pode ser eliminada;

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46

Ameaça de mortalidade seletiva: em que uma das amostras possui

maior probabilidade de abandonar o experimento. Não pode ser

eliminada do experimento porque há um índice significativo de

mudança de escola nos grupos envolvidos no design, especialmente o

grupo experimental;

Ameaça de contaminação: em que indivíduos de uma amostra

repassam conhecimentos a outra amostra. Ameaça minimizada pelo

fato de o pós-teste ter sido aplicado simultaneamente aos dois grupos,

sem aviso prévio;

Ameaça de comportamento competitivo: em que uma amostra busca

ter melhores resultados que o grupo de controle. Minimizada pelo fato

de os estudantes não terem conhecimento do grupo a que pertenciam;

Ameaça de comportamento compensatório: em que uma das amostras

recebe medidas compensatórias por parte dos experimentadores.

Houve problemas nesse sentido com uma parcela do grupo de

controle a qual foi descartada na análise dos resultados;

Ameaça de expectativa do sujeito: quando o simples fato de saber que

estavam sendo avaliado altera a performance do sujeito. Não se aplica

pois os estudantes não sabiam que estavam participando de um

experimento;

Ameaça de expectativa do experimentador: quando o interesse do

pesquisador cria algum viés no experimento. Esta ameaça pode ter

alguma influência pelo fato de o pesquisador ter sido professor da

turma que compõe o grupo experimental;

Ameaça à validade externa: tratando-se de um design quase-

experimental onde a amostragem não é aleatória, a generalização do

resultado para a população não pode ser efetuada;

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47

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 TRIGONOMETRIA: UM POUCO DE HISTÓRIA

A trigonometria está, desde muito, presente na história do homem.

Segundo Berlinghoff (2010)

[...] A história do seno remonta ao menos ao astrônomo grego Hiparco de Rodes (190-120 a.C). Como outros astrônomos gregos, ele queria encontrar um modelo que descrevesse como os astros e os planetas se movem pelo céu da noite. O céu era representado como uma esfera gigantesca e as posições dos astros eram especificadas por ângulos. Trabalhar com ângulos é difícil; assim, mostrou-se útil relacionar o ângulo com algum segmento (de reta). O segmento que escolheram foi a corda. Como mostra a Figura 2 – Exemplo de corda -, um ângulo centralem um círculo de raio fixo determina sua corda, e a chamamos (ou ao seu comprimento) de corda de . Usando cordas era possível calcular as posições, presente e futura, de astros e planetas. BERLINGHOFF (2010)

Acredita-se que Hiparco tenha construído uma tabela de tais cordas.

Entretanto, esta tabela nunca foi encontrada e não foi possível saber com

exatidão como as cordas eram calculadas. Coube a Claudius Ptolomeu (85-165

d.C) realizar um estudo bastante abrangente sobre as cordas, incluindo a

elaboração de diversos teoremas. É dele a primeira explicação conhecida de

como construir uma tabela de cordas.

Em Berlinghogg (2010), vê-se que os matemáticos indianos deram um

Figura 2- Corda em uma circunferência

Fonte: Elaborada pelo autor.

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48

novo tratamento à tabela de cordas por perceberem que, em determinados

casos, é necessário utilizar a metade da corda do dobro do ângulo. Estes

matemáticos passaram, então, a tabular metade das cordas. Em termos

práticos, as meias cordas dos matemáticos da Índia correspondem ao que hoje

chama-se de seno de um ângulo. Ele pode ser identificado na Figura 3 – Seno

de um ângulo a partir de uma corda:

Graças ao árabes as idéias matemáticas dos indianos chegaram à

Europa. Além de propagar a matemática indiana, os árabes traziam suas

próprias contribuições. Descobriram, dentre muitas outras coisas, que havia uma

relação entre equações cúbicas e o seno de ângulos quaisquer. Foram os

árabes, também que “inventaram” a função “sombra”, que hoje é denominada

tangente. Eles construíram tabelas de meias-cordas e de sombras.

Quando esses conhecimentos chegaram à Europa, houve a necessidade

de se traduzir os escritos árabes. Quando foi feita a tradução da palavra jiba

(palavra inventada pelos árabes que significa “meia corda”), houve um erro: os

tradutores pensaram tratar-se da palavra jaib, a qual significa baía. E traduziram

jiba por sinus (baía, em latim). Dessa tradução equivocada que surge a palavra

seno.

Já foi citada a origem de duas das funções trigonométricas fundamentais:

o seno e a tangente. O cosseno surgiu como sendo o seno do ângulo

complementar, ou seja, o sinus complementi. Com o tempo passou a ser

chamado de co.sinus, passou por cosinus, até chegar à forma cosseno, utilizada

Figura 3 - Seno de um ângulo a partir de uma

corda

Fonte: Elaborada pelo autor.

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atualmente.

Percebe-se que o nascimento da trigonometria teve como ponto de

partida os estudos da astronomia. Foi no século XVI que a trigonometria tornou-

se “independente”, graças, principalmente, ao livro Regiomontanus, escrito por

Johannes Muller, por volta de 1463, mas só publicado várias décadas depois.

Foi George Joachin Rheticus (1514-1574) quem trabalhou com o seno e a

tangente num triângulo retângulo pela primeira vez. Foi Thomas Fincke (1561-

1656) quem inventou a palavra tangente e coube a Bartholomeu Pitiscus (1561-

1613) inventar a palavra trigonometria. Foi Pitiscus quem mostrou como a

trigonometria poderia ser usada para resolver problemas relacionados à medição

de terras, altura de objetos, dentre outras aplicações. Nos dias atuais, a

trigonometria está presente na navegação, na engenharia, na arquitetura, em

diversas áreas das ciências da saúde (como na optimetria, por exemplo).

O estudo da trigonometria é feito quase que completamente no ensino

médio. Nos anos finais do ensino fundamental são estudadas, quando o são - as

razões trigonométricas fundamentais (seno, cosseno e tangente). Evidentemente

existem diferenças importantes: no ensino médio, o estudo da trigonometria é

feito, via de regra, a partir do "círculo trigonométrico", enquanto que no ensino

básico o estudo é feito a partir de triângulos retângulos.

Independentemente disso, a trigonometria é profícua na geração de

padrões e como esta pesquisa baseia-se na importância da percepção de

padrões para a aprendizagem matemática, nada mais natural do que ela se

utilizar da trigonometria para tal fim.

2.2 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

As TICs, como manifestação concreta dos enormes progressos da ciência

e da tecnologia, estão presentes, atualmente, nas mais diversas situações da

vida humana. Papert (1994) faz uma ressalva ao questionar o por quê de não se

verificar tal presença e modificação substancial na forma como as crianças

aprendem. Segundo ele, “a escola é um notável exemplo de uma área que não

mudou tanto”.

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Neste contexto, o uso das TICs na Educação Matemática torna-se, ainda,

muito mais incipiente. Apesar disso, parece ser esta inclusão algo necessário e

inevitável. Smart (1994) afirma que “o ensino da Matemática nunca mais será o

mesmo, em virtude da ciência da computação; o ensino da geometria nunca

mais será o mesmo, em virtude da computação gráfica.” Para se ter uma ideia

de como as novas tecnologias modificaram a forma de se construir o

conhecimento matemático, atualmente inúmeros computadores estão ligados em

rede, nos diversos continentes, buscando encontrar números primos cada vez

maiores, os quais serão utilizados para se construir sistemas de segurança cada

vez mais seguros (criptografia).

Tentativas de inserir as TICs no contexto da Educação Matemática, no

Brasil, têm sido feitos, particularmente no que se refere à modelagem e à

investigação em matemática. Borba e Malheiros (2007) salientam que as TICs

são fundamentais em muitos estudos que envolvem a modelagem, como, por

exemplo, nas pesquisas feitas na internet, na utilização de um software, na

construção de gráficos, dentre outros. O GPIMEM (Grupo de Pesquisa em

Informática, outras Mídias e Educação Matemática), vinculado ao Instituto de

Geociências e Ciências Exatas (IGCE) da UNESP de Rio Claro/SP tem

desenvolvido pesquisas ao longo de duas décadas sobre o uso das TICs na

educação matemática. A professora Sueli Javaroni realiza pesquisa sobre o

processo de ensino-aprendizagem de equações diferenciais com o uso de

tecnologias informáticas. Outro pesquisador do grupo, Ricardo Scucuglia

realizou pesquisa sobre a forma como estudantes investigam o Teorema

Fundamental do Cálculo utilizando calculadoras gráficas. Outras pesquisas

realizadas ou em curso no GPIMEM podem ser acessadas em GPIMEM.

Pode-se citar, também, o site Educação Matemática e Tecnologia

Informática – EDUMATEC- , vinculado ao Instituto de Matemática da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, criado em 2000, sob

responsabilidade da professora Maria Alice Gravina e que tem como principais

objetivos

O site Educação Matemática e Tecnologia Informática tem como um dos objetivos a apresentação de material que trate do potencial da tecnologia informática no âmbito da educação matemática escolar. Especial atenção é dada a seleção de software, com escolhas que recaem sobre aqueles que se caracterizam como ambientes de expressão e exploração, o que significa a oportunidade de

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viabilizarpráticas pedagógicas que coloquem os alunos no papel de ativos aprendizes. Pensando-se naqueles professores ainda com pouca experiência na utilização desta tecnologia também apresentamos atividades que podem servir como ponto de partida para trabalho em sala de aula. E dado o crescente número de informação que circula na Internet, procuramos também selecionar artigos e links que contribuam para a formação de professores e alunos. O site também e' utilizado ao longo dos trabalhos da disciplina, de mesmo nome, do curso de Licenciatura em Matemática da UFRGS. Esta disciplina tem como propósito preparar o futuro professor no uso de tecnologia informática no âmbito do ensino e aprendizagem da Matemática escolar. Parte da produção dos alunos tem sido aqui publicada, criando-se desta forma um ambiente para produção de cultura no uso de tecnologia informática. (EDUMATEC, 2014)

Cabe também citar o Laboratório de Informática na Educação - LIne,

formado por pesquisadores do IME-USP, da Poli-USP e do ICMC-USP. Fazem

parte do LInE, o Laboratório de Ensino de Matemática (LEM) e o projeto iMática,

este último coordenado pelo professor Leônidas de Oliveira Brandão. O LIne tem

como um dos objetivos desenvolver e difundir atividades e sistemas para o

ensino de Matemática nos quais os alunos aprendam Matemática fazendo-a e

usando os sistemas computacionais como ferramenta catalisadora deste

processo.

A forma como estes estudos são realizados está diretamente ligada à

forma como o ser humano constrói o conhecimento e sobre o que é a

Matemática.

2.3 PIAGET E O CONSTRUTIVISMO

À primeira destas questões – como o ser humano constrói o

conhecimento – busca-se, aqui, resposta na teoria construtivista, de Jean Piaget,

a qual coloca o sujeito como agente ativo no processo de aprendizagem. É a

partir das estruturas mentais já construídas ou em construção que o

conhecimento é construído.

Piaget procurou mostrar como acontece o desenvolvimento cognitivo, o

qual, segundo Gravina (2001), ocorre a partir das interações espontâneas que

os indivíduos estabelecem com seu objeto de conhecimento, situações estas

diferentes das apresentadas no âmbito da educação escolar.

Para Piaget o conhecimento surge a partir das ações que o sujeito realiza

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sobre o meio, ações que, ao se internalizarem e organizarem, promovem

alterações nas estruturas lógicas, em níveis crescentes de complexidade. Para

ele, a ação é a grande responsável pelo desenvolvimento das estruturas

cognitivas. Em Piaget (1967/2003), o pensamento está ancorado na ação, visto

que os esquemas operatórios diretamente derivam dos esquemas de ação.

Gravina (2001) afirma que as ações do sujeito evidenciam formas de

organização e que não se apresentam de forma caótica, desordenada e sem

conexão, mas revelam [...] estruturas lógicas cada vez mais ricas.

Ele destaca que nesse processo de desenvolvimento existem quatro

estágios básicos, os quais são imutáveis: o sensório-motor, o pré-operatório, o

operatório concreto e o estágio das operações formais.

O primeiro estágio, sensório-motor, tem início no nascimento e se

estende até por volta dos dois anos. Nesse período a criança passa das

atividades reflexas à formação dos primeiros hábitos, seguida da capacidade de

coordenar visão e preensão (olhos e mãos). Segundo Piaget e Inhleder (1986)

“... à falta de função simbólica, o bebê ainda não apresenta pensamento nem

afetividade ligados a representações, que permitam evocar pessoas ou objetos

na ausência deles.” Aqui surgem as representações lógico-matemáticas, as

quais assentam-se sobre ações sensório-motoras, exigindo, portanto, a

presença física de materiais. Por não terem ainda construído um sistema de

representação, não existe na criança (neste estágio), a relação causa-

consequência: ela precisa fazer para ver o que vai acontecer. Neste estágio os

exercícios de repetição trazem o domínio e a expansão generalizadora da ação.

Gravina (1998) evidencia a importância deste estágio:

Já no primeiro estágio de desenvolvimento, na construção e coordenação de esquemas evidencia-se o uso de regras muito próximas a da lógica - associação (união), generalização (inclusão), restrição (interseção) . Percebe-se uma construção espontânea de estruturas lógico-matemáticas, que se aproximam das utilizadas no desenvolvimento do conhecimento matemático. É a gênese do pensamento lógico-matemático, que se apresenta na forma de

generalização de ações e coordenação de esquemas.(GRAVINA,1998)

O comportamento sensório-motor é a base da aquisição de formas mais

avançadas de pensamento. Piaget (1970/2007) afirma que

Distinguiremos a esse respeito dois períodos sucessivos: o das ações

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sensório-motoras anteriores a toda linguagem ou a toda conceituação representativa, e o das ações completadas por essas novas propriedades e a propósito das quais se apresenta então o problema da tomada de consciência dos resultados, intenções e mecanismos do ato, ou seja, de sua tradução em termos de pensamento conceitualizado. (PIAGET, 1970/2007)

No estágio seguinte, denominado por ele pré-operatório ,desenvolvem-se

a linguagem e as funções representativas, aparecem as ações em pensamento

(operações), mas com a necessidade da mediação de objetos concretos para

que tais ações de pensamento convertam-se em definições, conceitos. A criança

começa a realizar as primeiras experiências de pensamento, distanciando-se

das experiências sensoriais.

No terceiro estágio, denominado operatório-concreto, há uma

amplificação das operações e, consequentemente, ganhos nas estruturas

lógicas, em relação ao estágio anterior. A criança consegue agir sobre suas

representações, mas ainda mantém vínculos com objetos concretos que servem

como base para as ações em pensamento. As estruturas cognitivas ainda não

estão suficientemente desenvolvidas para que dêem conta do pensamento

puramente abstrato.

O quarto e último estágio – operatório formal - apresenta como fim a

capacidade de se construir o pensamento puramente abstrato, ou seja, pensa-se

e constrói-se sobre objetos abstratos. É neste estágio que a criança consegue

abstrair, independentemente de qualquer tipo de relação física com o objeto.

Aqui nascem os raciocínios hipotéticos, dedutivos, generalizantes.

Piaget explica o desenvolvimento a partir dos conceitos de assimilação,

acomodação e adaptação. Afirma Piaget (1967/2003) que o fato essencial de

que convém partir é que nenhum conhecimento, mesmo perceptivo, constitui

uma simples cópia do real, porque contém um processo de assimilação a

estruturas anteriores. Papert (1994) resume a idéia de Piaget, segundo ele,

óbvia (quando compreendida): todo funcionamento mental possui duas facetas,

que ele chama de assimilação (mudar sua representação de mundo para

encaixar-se aos seus modos de pensar) e acomodação (adaptar seus modos de

pensar para encaixar-se ao mundo.” São os desequilíbrios entre o conhecimento

assimilado por meio das estruturas já desenvolvidas pelo sujeito e a

acomodação dessas estruturas que permitem a construção do conhecimento.

O Quadro 4 – Descrição dos estágios do desenvolvimento cognitivo -

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abaixo, resume o que foi acima exposto:

QUADRO 4 - Descrição dos estágios do desenvolvimento cognitivo

Fonte: Piaget (1967)

Gravina (2001) salienta que na teoria piagetiana, o modelo de sujeito é o

epistêmico, cujo último estágio de desenvolvimento cognitivo é o operatório-

formal. Tratando-se de um modelo, nada garante que os sujeitos reais, em

situação de aprendizagem, estejam em tal estágio ou funcionalmente aptos a

construir conhecimentos matemáticos. Seus recursos intelectuais encontram-se,

muitas vezes, em estado potencial, passíveis de serem colocados em ação

mediante provocação.

Pode-se, portanto, inferir que as ações pedagógicas tem papel

fundamental no processo de evolução das estruturas cognitivas. Estas podem

interferir positiva ou negativamente no desenvolvimento de tais estruturas.

Haidt (2000) apresenta algumas ações que devem ser implementadas

pelos professores e que surgem a partir da teoria construtivista:

- Respeitar as características de cada etapa do desenvolvimento;

- Propor atividades desafiadoras, que estimulem a reflexão e a descoberta

por parte dos estudantes;

- Utilizar uma metodologia que privilegie a estimulação do pensamento, a

construção de esquemas mentais;

- Tornar os ambientes de convivência dos estudantes ricos em materiais

diversos a fim de possibilitar o ver, o tocar, o manipular;

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-Utilizar o jogo como elemento pedagógico, tendo em vista o interesse

que naturalmente desperta nos estudantes;

- Promover atividades que permitam a troca de idéias, a argumentação

oral e a cooperação entre os estudantes;

- Estabelecer um processo de avaliação contínuo, valorizando os avanços

conquistados e incentivando-os no processo de construção do

conhecimento;

2.4 AS CONTRIBUIÇÕES DE VIGOTSKY

Aliada à teoria construtivista, tem-se, também, a contribuição dada por

Vygotsky, principalmente no tocante aos processos de mediação e da

importância que a história individual desempenha no processo de

desenvolvimento. É importante salientar que Vygotsky estabelece diferenças

entre a educação escolar e o processo de educação em sentido amplo:

O processo de educação escolar é qualitativamente diferente do processo de educação em sentido amplo. Na escola, a criança está diante de uma tarefa particular: entender as bases dos estudos científicos, ou seja, um sistema de concepções cientíticas.(VYGOTSKY, 1998)

Para Vygotsky, durante o processo de educação escolar a criança parte

de suas próprias generalizações e significados, entrando em novos caminhos

acompanhadas de seus conhecimentos iniciais (espontâneos). Então, a partir

das explicações recebidas, ela raciocina, reproduz relações lógicas e re-significa

seus conceitos espontâneos, alterando sua estrutura.

Vygotsky baseia sua teoria na idéia de que o desenvolvimento do

indivíduo é resultado de um processo social e histórico e, portanto, cultural. Para

ele, nesse processo, a linguagem assume um papel fundamental, por tratar-se

do principal instrumento de mediação verbal, tornando-se um sistema simbólico

fundamental na mediação sujeito-objeto.

A teoria de Vygotsky parte da premissa de que as mudanças que ocorrem

no indivíduo, ao longo de seu desenvolvimento, são frutos das interações que

ele (o indivíduo) estabelece com a sociedade, com a sua história, com a cultura

e com as situações que promovem o desenvolvimento (situações de

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aprendizagem). Vê-se, aqui, o papel que a teoria marxista da sociedade (o

materialismo histórico) exerceu sobre o pensamento de Vygotsky. De acordo

com Marx, mudanças históricas na sociedade e na vida material produzem

mudanças na natureza humana (consciência e comportamento).

Para compreender a teoria de Vygotsky é fundamental que se analisem

alguns conceitos que são importantes para o entendimento do processo de

desenvolvimento. Ei-los: mediação simbólica, signos, sistemas de símbolos,

zona de desenvolvimento proximal, desenvolvimento e aprendizado.

Entende-se por mediação como sendo um processo pelo qual a ação do

indivíduo sobre um determinado objeto é mediada por um determinado

elemento. Como o próprio termo sugere, mediar é estar “no meio”, é “estar

entre”. Este elemento mediador pode ser classificado em três categorias: os

instrumentos, os signos e os sistemas simbólicos.

Segundo Engels (1940), a especialização da mão – que implica o

instrumento, e o instrumento implica a atividade humana específica, a reação

transformadora do homem sobre a natureza. Vygotsky vê o instrumento desta

forma: como um elemento que otimiza as ações humanas sobre a natureza. Os

instrumentos são criados pelas sociedades ao longo do curso da história

humana e mudam a forma social e o nível de seu desenvolvimento cultural.

Os signos, tais quais os instrumentos, também são elementos de

mediação, porém de natureza psicológica. O signo é próprio de cada indivíduo e

serve para regular e controlaras ações psicológicas. Segundo Vygotsky (1998):

Toda forma elementar de comportamento pressupõe uma reação direta à situação-problema defrontada pelo organismo – o que pode ser representado pela fórmula simples (S R). Por outro lado, a estrutura de operações com signos requer um elo intermediário entre o estímulo e a resposta. Esse elo intermediário é um estímulo de segunda ordem (signo), colocado no interior da operação, onde preenche uma função especial; ele cria uma nova relação entre S e R. [...] Esse signo possui, também, a característica importante da ação reversa (isto é, ele age sobre o indivíduo e não sobre o ambiente. Consequentemente, o processo simples estímulo resposta é substituído por um ato complexo, mediado, que representamos da seguinte forma:

Nesse novo processo o impulso direto para reagir é inibido e é

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incorporado um estímulo auxiliar que facilita a complementação da operação por meios indiretos. [...] Na medida em que esse estímulo auxiliar possui função específica de ação reversa, ele confere à operação psicológica formas qualitativas novas e superiores, permitindo aos seres humanos, com o auxílio de estímulos extrínsecos, controlar o seu próprio comportamento. O uso se signos conduz os seres humanos a uma estrutura específica de comportamento que se destaca do desenvolvimento biológico e cria novas formas de

processos psicológicos enraizados na cultura.(VYGOTSKY, 1998)

O símbolo é um recurso de que dispõe o indivíduo para controlar ou

orientar a interação dele (o indíviduo) com o mundo. Os sistemas de signos

(sistemas simbólicos), tais como a linguagem, a escrita, os sistemas de

numeração, são construtos sociais que, segundo Vygotsky, provocam

transformações comportamentais e estabelecem um elo de ligação entre as

formas iniciais e tardias do desenvolvimento individual.

Dentre os sistemas de signos, Vygotsky dá ênfase à linguagem. Segundo

ele, a fala produz mudanças qualitativas na estrutura cognitiva do indivíduo,

reestruturando algumas funções psicológicas, como a memória, a atenção

voluntária, a formação de conceitos, dentre outras. Sob esta perspectiva, a

linguagem é um instrumento, pois modifica estruturalmente as funções

psicológicas superiores.

Para Vygotsky existe uma estreita relação entre aprendizagem

(aprendizado) e desenvolvimento. Cabe ressaltar que qualquer situação de

aprendizado com a qual o indívíduo (ele utiliza, aqui, a palavra criança) se

defronta na escola tem sempre uma história prévia. Fundamentalmente,

aprendizagem e desenvolvimento estão inter-relacionados deste o primeiro dia

de vida da criança.

Indubitavelmente, o campo educacional, o principal conceito construído

por Vygotsky é o de zona de desenvolvimento proximal (ZDP), definida por ele

como sendo a distância entre o nível real (da criança) de desenvolvimento

determinado pela resolução de problemas independentemente e o nível de

desenvolvimento potencial determinado pela resolução de problemas sob

orientação de adultos ou em colaboração com companheiros mais capacitados

(VIGOTSKY, 1998). É na zona de desenvolvimento proximal que devem agir as

intervenções pedagógicas por parte dos professores. O nível real está

relacionado com funções cognitivas que já amadureceram, ou seja, constituem-

se em produtos finais do desenvolvimento. A zona de desenvolvimento proximal

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define aquelas funções que estão em processo de maturação. Para ele, aquilo

que é zona de desenvolvimento proximal hoje será o nível de desenvolvimento

real amanhã, ou seja, aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje,

ela será capaz de fazer sozinha amanhã. Aponta Vygotsky (1998)

[...] Esses exemplos individuais ilustram uma lei geral do desenvolvimento das funções mentais superiores, a qual achamos que pode ser aplicada em sua totalidade aos processos de aprendizagem das crianças. Propomos que um aspecto essencial do aprendizado é o fato de ele criar a zona de desenvolvimento proximal; ou seja, o aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a criança interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com companheiros. [...] Desse ponto de vista, aprendizado não é desenvolvimento; entretanto, o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas. (VYGOTSKY, 1998).

Finalizando, cabe ressaltar que segundo a teoria de Vygotsky, os

processos relacionados ao desenvolvimento não coincidem com os processos

de aprendizado. Aqueles ocorrem de forma mais lenta do que estes. É nesta

defasagem que nascem as zonas de desenvolvimento proximal.

2.5 O CONSTRUCIONISMO DE PAPERT

A partir da teoria piagetiana, de caráter epistemológico, uma vez que

busca definir o que é conhecimento e como ele é construído, Seymour Papert

concebeu uma teoria de aprendizagem, a qual é conhecida como

construcionismo. Ao partir da concepção piagetiana de que o conhecimento é

fruto da ação das pessoas sobre o objeto de conhecimento, Papert (1994)

caracteriza o ato de educar como o desenvolvimento de situações que

promovam o engajamento dos estudantes em situações que subsidiem o

processo de construção do conhecimento. Um dos pilares do construcionismo é

a crença de que o aprendizado ocorre quando o estudante está realizando uma

atividade que seja de seu interesse; e, além disso, a possibilidade de socializar o

resultado do trabalho realizado torna o aprendizado mais significativo. Ao

construir um produto (resultado de uma atividade) ele está mobilizando suas

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estruturas cognitivas e construindo conhecimento. E este conhecimento o leva a

refletir sobre o produto construído, buscando melhorias e aperfeiçoamentos.

Gera-se, um círculo virtuoso, de ação, reflexão e aprimoramento.

Insatisfeito com o que vivenciava nas aulas de matemática, Papert

concluiu que seria necessário empregar novos meios para que os estudantes

pudessem construir o conhecimento matemático de forma mais interativa. Foi,

então, que desenvolveu, no início da década de 1960, a linguagem Logo de

programação. Esta linguagem, extremamente simples e de fácil assimilação por

parte dos estudantes, permite que sejam criados diversos produtos, como

figuras, animações, jogos, utilizando conhecimentos matemáticos. É na criação

que os conhecimentos vão sendo construídos. Nesta perspectiva o computador

é uma ferramenta que possibilita a concepção de ambientes de aprendizagem

baseados nas concepções construcionistas.

Almeida (2012) salienta que a metodologia de Papert supõe que a

iniciação à linguagem de diálogo com as máquinas computadorizadas se dê

através do lúdico. A linguagem viva, passo a passo, se estabelece e a criança

aprende noções de forma, de velocidade, espaço, de procedimento, número,

ângulo, variáveis, cálculo diferencial, limites, que se encontram no coração do

sistema LOGO, e não aprende segundo moldes formais e teóricos, mas no

sentido profundo e utilitário. O diálogo que a criança estabelece com a tartaruga

LOGO reproduz o próprio modo de cada um se relacionar com o material de

suas experiências e reproduz seu próprio modo de pensar.

Segundo Papert (2001), [...] a tecnologia não é a solução, é somente um

instrumento. Logo, a tecnologia por si não implica em uma boa educação, mas a

falta de tecnologia automaticamente implica em uma má educação. Saliente-se,

porém, que a perspectiva construcionista vai muito além o uso do computador.

Ela pressupõe, como já apresentado, que o estudante comunique suas idéias e

reflita sobre elas. Por isso a ênfase dada pelos construcionistas à programação

de computadores, particularmente na linguagem Logo, por permitir que se

registre, analise, experimente, modifique as estratégias e idéias utilizadas para

se resolver determinado problema.

Valente (2002) estabelece quatro ações cognitivas realizadas durante o

processo de programação e que auxiliam o entendimento de como se dá a

elaboração do conhecimento: a descrição, a execução, a reflexão e a

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depuração.

Na descrição o estudante explana suas intenções. O que vai fazer, como

pretende fazer, que recursos irá utilizar. Aqui o professor pode identificar o nível

real de desenvolvimento do estudante.

Durante a execução o estudante vê o resultado imediato de seu trabalho.

Ligada à execução está a reflexão. Trata-se de um valioso momento no qual o

estudante pode avaliar o quão distante do pensado estado o objeto, fruto de seu

trabalho. No estágio do refletir cabe ao aluno, com a mediação do professor,

pensar se o resultado final atingiu o objetivo e como poderiam ser modificados

para um melhor aproveitamento. Se o resultado não foi o esperado, o processo

de depuração tem seu início. Nele o estudante vai analisar todo o processo

realizado e procurar identificar as causas das discrepâncias verificadas. A

experimentação tem seu lugar aqui. Não uma “tentativa-e-erro”, mas uma

“aproximação sucessiva do objeto desejado”. Esta reflexão constante e

crescente – porque se constrói sobre conhecimentos anteriores que serão

“superados” – permite ao estudante construir novos conhecimentos, fazendo que

a aprendizagem cresça, conforme apontado por Valente (2002), em forma de

espiral, pois a depuração leva a uma nova descrição, diferente da anterior. A

Figura 4 – Interação aprendiz-computador - apresenta, de forma sintética, o que

foi discutido nos parágrafos anteriores.

Figura 4 - Interação aprendiz-computador

Fonte: VALENTE(2002)

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2.6 GEOMETRIA DINÂMICA

Parece razoável aceitar que se hoje muito se fala de Geometria Dinâmica

é porque, em algum momento, existiu ou ainda existe uma “Geométrica

Estática”. Brandão e Isotani (2003) apresentam a diferença básica entre estas

duas formas de se “fazer” geometria quando diz que

O nome “Geometria Dinâmica” (GD) hoje é largamente utilizado para especificar a Geometria implementada em computador, a qual permite que objetos sejam movidos mantendo-se todos os vínculos estabelecidos inicialmente na construção. Este nome pode ser melhor entendido como oposição à geometria tradicional de régua e compasso, que é "estática", pois após o aprendiz realizar uma construção, se ele desejar analisá-la com alguns dos objetos em outra disposição terá que construir um novo desenho.(BRANDÃO&ISOTANI, 2003).

Neste tipo de software é possível construir um objeto e, a partir do

movimento (dinâmica), mudar uma ou muitas de suas características. Por

exemplo: um quadrado pode, facilmente, transformar-se em uma pipa, pela

simples translação do vértice B, conforme mostrado na Figura 5 – Geometria

Dinâmica: o poder de transformar:

Figura 5 - Geometria Dinâmica: o poder de transformar

Fonte: Elaborada pelo autor.

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Gravina (2001) afirma que

[...] Os ambientes de geometria dinâmica também incentivam o espírito de investigação matemática: sua interface interativa, aberta à exploração e à experimentação, disponibiliza os experimentos de pensamento. Manipulando diretamente os objetos na tela do computador, e com realimentação imediata, os alunos questionam o resultado de suas ações/operações, conjecturam e testam a validade das conjecturas [...] GRAVINA (2001)

E continua, fazendo referência à importância da geometria dinâmica na

percepção e explicação de regularidades (padrões):

Num segundo momento, coloca-se a eles o problema de explicar as regularidades que „saltam aos olhos‟ nos „desenhos em movimento, ou seja, de engajarem-se na construção de demonstrações. GRAVINA (2001)

Dentre os muitos softwares de geometria dinâmica disponíveis

atualmente, nesta pesquisa utilizar-se-á o Geogebra pelos seguintes motivos:

1 – Trata-se de um software livre;

2 – Facilidade operacional por parte dos estudantes;

3 – Relaciona diferentes representações de um mesmo objeto, particularmente

as representações geométricas e algébricas;

2.6.1 O GEOGEBRA

O Geogebra é um software que unifica, pelo menos, três eixos da

Matemática: a Geometria, a Álgebra e o Cálculo. Dos dois primeiros eixos deriva

seu nome: GEO (geometria) + GEBRA (álgebra). Estas três dimensões de um

mesmo objeto matemático interligam-se de tal forma do software que qualquer

modificação efetuada na estrutura geométrica, implica na imediata modificação

na estrutura algébrica e numérica e, de forma recíproca, qualquer alteração

algébrica implica na imediata modificação da estrutura geométrica/numérica. Por

isso, o GEOGEBRA pode ser considerado um software de geometria dinâmica.

Para Petla (2009)

O Geogebra é um programa bastante intuitivo e autoexplicativo adequado a usuário com conhecimentos avançados em informática ou para iniciantes, sendo que o conhecimento matemático é o ponto fundamental de sua utilização. Por ser um software livre há

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colaboração de vários programadores, inclusive brasileiros, os quais disponibilizaram uma versão totalmente em português, o que facilita muito sua utilização em nosso país (PETLA, 2008)

O fato de ser um software livre de custos (exceto para uso com fins

lucrativos, conforme pode ser verificado em sua Licença, em www.geogebra.org)

é um elemento decisivo para a escolha deste software para fins pedagógicos,

principalmente para aquelas escolas que não dispõem de recursos financeiros

para a aquisição de softwares educacionais, mas que possuem disponibilidade

de computadores. Outro elemento que é muito importante é o fato do Geogebra

possuir versões on-line (atualizadas periodicamente) e versões off-line (que

podem ser atualizadas a qualquer momento, desde que o interessado possua

acesso à internet). Mesmo a versão off-line permite a realização de inúmeras

atividades pedagógicas.

O Geogebra foi utilizado nesta pesquisa como “substituto” dos

instrumentos clássicos de desenho (compasso e régua) no desenvolvimento das

atividades relacionadas à construção dos triângulos retângulos. A construção de

tais triângulos, conforme pode ser verificado em 3.1 (Intervenções Realizadas)

foi realizada de tal forma que vários conceitos importantes no contexto da

Matemática fossem retomados, tais como: segmentos de reta, ângulos,

perpendicularismo, intersecções, dentre outros. A determinação das medidas

dos lados dos triângulos, que mais tarde seriam utilizadas na determinação das

razões trigonométricas, foi feita a partir de recursos do Geogebra, bem como a

medição dos ângulos internos dos triângulos construídos que garantia tratar-se

de triângulos retângulos.

2.6.2 USANDO O GEOGEBRA: EXEMPLO DE ATIVIDADES

1. Inserir uma reta que passe por dois pontos dados, A e B (Figura 6 –

Usando o Geogebra):

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Observe que no canto superior esquerdo (Figura 6 – Usando o Geogebra)

tem-se a janela de álgebra, onde aparecem as coordenadas cartesianas dos

pontos A e B, além da equação da reta. O Geogebra atribui “um nome” à reta.

Neste caso, a reta foi identificada por “a”. É possível renomeá-la. Também é

possível apresentar a equação da reta na forma .

2. Inserir cinco pontos que não pertençam à reta “a” (FIGURA 6)

Os pontos foram inseridos aleatoriamente. Suas coordenadas estão na janela

de álgebra, na Figura 7 – Usando o Geogebra;

Figura 6 - Traçando retas com auxílio do Geogebra

Fonte: Elaborada pelo autor.

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Figura 7 - Inserindo pontos com auxílio do Geogebra

Fonte: Elaborada pelo autor.

3. Traçar retas paralelas à reta que passa pelos pontos A e B e que passem

pelos pontos inseridos no plano (Figura 8 – Usando o Geogebra)

Figura 8 - Traçando retas paralelas com auxílio do Geogebra

Fonte: Elaborada pelo autor.

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As equações das retas b, c, de e estão na janela de álgebra (FIGURA 7)

Com esta atividade simples, pode-se, por exemplo, buscar "padrões",

regularidades que aparecem nas representações algébricas de um feixe de retas

paralelas.

2.7 INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: TRABALHOS

RELACIONADOS AO ENSINO DE TRIGONOMETRIA

Com o intuito de situar este estudo no contexto da literatura existente foi

realizado um levantamento bibliográfico (dissertações e artigos) de trabalhos que

tratam, especificamente, do uso das TICs na Educação Matemática no ensino de

Trigonometria. Foram considerados trabalhos nacionais realizados a partir do

ano 2000.

Moreira (2009) et al desenvolveram uma unidade de aprendizagem online

para estudo de trigonometria. Esta unidade foi elaborada por professores de

Matemática e contém 19 applets e uma apostila com atividades que promovem

investigações de natureza matemática. A unidade passou por um processo de

validação em duas etapas: primeiramente com professores de matemática e

licenciandos em matemática; em seguida, a validação deu-se com estudantes do

ensino médio. Segundo os pesquisadores, os alunos participantes da validação,

demonstraram atenção e motivação, buscando extrair todo o potencial dos

applets.

Spilimbergo (2010) et al apresentam um conjunto de atividades orientadas

que utilizam softwares livres Trigonometria e Círculo Trigonométrico. Foram

explorados conceitos de trigonometria, a partir de um roteiro e um questionário.

Segundo os autores, embora os participantes da pesquisa, em sua maioria, não

conhecessem o software, não encontraram dificuldades para utilizá-lo. O

trabalho indica que a falta de clareza sobre o significado das palavras oposto e

adjacente esta presente para alguns estudantes e que isto compromete a

compreensão dos conceitos. Foram realizadas atividades relativas ao

reconhecimento de triângulos retângulos, ao círculo trigonométrico, às razões

trigonométricas para ângulos no intervalo de 0 a 360 (graus). Os autores

concluem afirmando que perceberam mudanças na aprendizagem dos alunos,

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no sentido de construir um conhecimento mais significativo e duradouro.

Em sua dissertação, Pereira (2002) analisa a utilização de computadores

no processo de ensino-aprendizagem, baseando-se nos modelos Construtivista

e Construcionista. Ele desenvolve um software contemplando os conteúdos

referentes às funções trigonométricas, desde seu “conceito”, passando pelo

domínio e imagem e período das funções trigonométricas. Na avaliação

realizada com professores de Matemática e alunos do terceiro ano do ensino

médio, o software obteve conceituação positiva.

Maia (2013) buscou minimizar as dificuldades encontradas pelos alunos

quando estudavam as funções trigonométricas seno e cosseno. Para tanto,

propôs utilizar a o software Geogebra na realização de uma sequência de

atividades sobre o conteúdo abordado. Os resultados indicam que a utilização

do software contribuiu para uma melhor compreensão dos conceitos

matemáticos estudados.

Em sua dissertação, Lopes (2010) analisa as potencialidades e limitações

do software Geogebra no ensino e aprendizagem de Trigonometria. Uma

sequência de atividades de caráter investigativo foi realizada com estudantes de

uma escola pública de Natal. O estudo identificou inúmeros vantagens acerca da

utilização do software no processo de ensino aprendizagem, destacando-se a

facilidade de se construir figuras e viabilização da experimentação. Algumas

limitações foram identificadas, principalmente relacionadas à formação dos

professores para uso dos softwares disponíveis e às condições dos laboratórios

de informática. Deste estudo surgiu um produto educacional intitulado Sequência

Didática para o Ensino de Trigonometria usando o Software Geogebra.

Bacelar (2013) em sua dissertação, cujo título é Uso do Geogebra no

ensino da Trigonometria, apresenta um estudo para utilização deste software,

versão 4.2, para desenvolver conteúdos relacionados à Trigonometria, tais

como: ciclo trigonométrico, Funções Trigonométricas, Razões Trigonométricas

no triângulo retângulo, Lei dos Senos , Lei dos Cossenos, entre outras que são

abordadas no ensino médio.

Pedroso (2012) apresenta em sua dissertação uma proposta de ensino da

Trigonometria para estudantes do Ensino Médio, com base na utilização do

Geogebra. O uso do software favoreceu a aplicação da experiência didática,

tornando-a, segundo a autora, mais dinâmica e o trabalho mais cooperativo.

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Foram trabalhados os conceitos de ângulo, razão trigonométrica, círculo

trigonométrico, dentre outros. A experiência permitiu a experimentação de

hipóteses e a elaboração de conclusões, além de instigar discussões.

Meier (2012) desenvolve um trabalho envolvendo a modelagem

matemática em uma proposta que visa desenvolver hábitos do pensamento

matemático no Ensino Fundamental. O Geogebra foi utilizado como suporte para

algumas atividades. Este trabalho, embora não esteja relacionado ao ensino de

Trigonometria, traz como um de seus elementos importantes a percepção de

padrões, de invariâncias. Segundo o relato da pesquisadora, os estudantes

mostraram avanços em relação aos hábitos do pensamento matemático,

construindo modelos e foram capazes de explicitar seus raciocínios

matemáticos.

Oliveira e Fernandes (2010) relatam em um artigo os resultados de uma

pesquisa realizada para investigar a eficiência de estratégias pedagógicas com

tecnologias na construção significativa de conhecimentos sobre conceitos iniciais

de trigonometria. O estudo utilizou, num primeiro momento, as tecnologias

“tradicionais” e no segundo as tecnologias digitais, particularmente o Geogebra.

Concluem que a utilização do Geogebra foi importante para a aprendizagem

significativa.

No Quadro 3 – Trabalhos relacionados ao uso de softwares para ensino

de Trigonometria são descritos os trabalhos que foram consultados e que tratam

do ensino da trigonometria com a utilização de softwares:

QUADRO 5 - Trabalhos relacionados ao uso de softwares para ensino de Trigonometria

AUTOR ANO TIPO SOFTWARE RESULTADOS

PEREIRA, A. A. 2002 Dissertação Trigonométrikes O software obteve

conceituação positiva;

MOREIRA, L.S et al

2009 Artigo (RBIE) Geogebra

Despertou atenção e motivação;

Usuários buscando aproveitar todo o

potencial do material;

LOPES, M. M. 2010 Dissertação Geogebra

Facilidade para construção e

visualização das figuras;

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69

Formação dos professores não

capacita para uso de tais recursos;

Elaboração de um produto educacional

SPILIMBERGO, A. P. et al

2010 Relato de

Experiência

Aplicativos: Trigonometria e

Círculo trigonométrico

Mudanças na aprendizagem dos alunos, no sentido

de construir um conhecimento mais

significativo e duradouro.

Oliveira e Fernandes.

2010 Artigo Geogebra

Concluem que a utilização do Geogebra foi

importante para a aprendizagem

significativa

PEDROSO 2012 Dissertação Geogebra

O uso do software favoreceu

a aplicação da experiência

didática, tornando-a mais dinâmica e o

trabalho mais cooperativo. A

experiência permitiu a experimentação de hipóteses e a elaboração de

conclusões, além de instigar

discussões.

MEIER 2012 Dissertação Geogebra

Os estudantes mostraram avanços

em relação aos hábitos do

pensamento matemático, construindo

modelos e foram capazes de

explicitar seus raciocínios

matemáticos.

BACELAR, 2013 Dissertação Geogebra Construção de conhecimentos

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70

Fonte: Elaborado pelo autor.

A proposta desta pesquisa, embora possa ser colocada nas mesmas

categorias que as acima citadas (software Geogebra Educação Matemática

Trigonometria), difere-se destas por ter como fim a identificação do potencial do

Geogebra no desenvolvimento da habilidade de perceber padrões e como meio

a trigonometria.

trigonométricos por parte dos alunos.

MAIA 2013 Dissertação Geogebra

Contribuiu para uma melhor

compreensão dos conceitos

matemáticos estudados (função

seno e função cosseno)

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71

3 DESENVOLVIMENTO

A pesquisa teve como principal etapa (já executada) a realização da

sequência didática com o grupo experimental. O relato desta experiência está

detalhado na seção seguinte. Após são discutidas as etapas futuras do trabalho.

3.1 INTERVENÇÃO REALIZADA

Um dos objetivos da pesquisa é analisar o processo de identificação de

padrões em trigonometria, por parte dos estudantes. Para realizar tal análise foi

realizada uma intervenção (tratamento) junto ao grupo experimental com o

intuito de desenvolver atividades relacionadas à percepção de padrões.

3.1.1 ONDE TUDO COMEÇOU...

O ponto de partida foi o seguinte questionamento: como poderíamos

determinar a altura de um prédio, localizado nas proximidades da escola, sem

medi-lo diretamente? Várias respostas foram dadas pelos estudantes. Depois

das explicações, foi-lhes proposta uma atividade no laboratório de informática da

escola e que envolvia a construção de triângulos através do software Geogebra.

Não foi feito nenhum tipo de comentário sobre esta atividade e o questionamento

sobre a “altura do prédio”. Grande parte dos estudantes já conhecia o software,

uma vez que o mesmo já fora utilizado anteriormente no estudo do plano

cartesiano (coordenadas cartesianas), na “visualização” do Teorema de Tales e

na construção de polígonos regulares. Os estudantes trabalharam

individualmente ou em duplas, em função da quantidade de computadores

disponíveis (30), mas estavam liberados para se auxiliarem.

Foram utilizadas diversas estratégias para a construção dos triângulos:

utilizando a ferramenta polígono, dispondo três pontos e unindo-os por meio de

segmentos, traçando-se três retas concorrentes (duas a duas). Uma vez que não

havia qualquer tipo de condição para a construção dos triângulos, esta atividade

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foi realizada com facilidade por todos.

Num momento seguinte, foi-lhes imposta uma condição: o triângulo

construído deveria ser “retângulo”. A solução encontrada por eles, em sua

maioria, foi a seguinte: com a malha quadriculada ativada, dispor dois pontos

que estivessem numa mesma linha vertical e um ponto que estivesse na mesma

linha horizontal que um dos dois anteriores. Unindo estes três pontos,

construíram triângulos retângulos.

Esta atividade foi novamente proposta, com a condição de que não fosse

utilizada a malha quadriculada. Neste ponto os problemas começaram. Muitos

tentaram construir o triângulo “na tentativa”, mas, ao utilizarem a ferramenta que

permite a medida de um ângulo, perceberam que nenhum dos ângulos internos

do triângulo era reto e que, portanto, o triângulo não era retângulo. Neste ponto,

foi feita a primeira intervenção direta por parte do professor, com o seguinte

questionamento: que condição deve ser satisfeita por duas retas para que entre

elas “apareça” um ângulo reto? A resposta veio rapidamente: elas devem ser

perpendiculares! É importante citar que um grupo significativo de estudantes

usou o termo concorrentes e isto foi utilizado para promover uma discussão

entre o grupo. Depois de algum tempo um grupo “defensor” do

“perpendiculares”, tomou a palavra e disse que as retas perpendiculares são

concorrentes também – e apresentou a definição (com palavras próprias) do que

são retas concorrentes, o que encerrou a discussão. O problema agora era

outro: como utilizar o Geogebra para construir retas perpendiculares. Os

estudantes foram orientados a investigarem como conseguir tal construção.

Alguns foram pesquisar na web. Outros, porém, lembraram que quando do

estudo do Teorema de Tales, utilizaram a função retas paralelas. E foram no

mesmo local, onde encontraram a função retas perpendiculares. Rapidamente a

informação se espalhou e quem não havia conseguido realizar a atividade,

seguiu as instruções dadas pelos colegas e realizou. Interessante ressaltar que

a maioria dos estudantes procurou traçar uma primeira reta horizontal e,

consequentemente, a segunda reta seria construída pelo Geogebra na vertical.

Utilizando-se novamente a função ângulo eles verificaram que o ângulo entre as

retas era, realmente, reto. Para traçar o triângulo bastou escolher um ponto

sobre cada uma das retas e uni-los, o que fizeram sem maiores dificuldades.

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3.1.2 AUMENTAM-SE AS DIFICULDADES...

A próxima sequência de atividades foi a que apresentou um maior grau de

dificuldade, em relação às anteriores: construir um triângulo retângulo, sem a

malha quadriculada, com lados não-horizontais/verticais. Poucos estudantes

perceberam que o processo utilizado anteriormente (descrito no parágrafo

anterior) é “geral”, ou seja, sua aplicação sempre dará origem a um triângulo

retângulo; a maioria dos estudantes envolvidos na atividade optou, novamente,

por uma tentativa: construíram uma reta inclinada e depois outra, concorrente a

ela, buscando formar entre elas um ângulo reto. Ao utilizarem a ferramenta para

medir os ângulos do triângulo perceberam que não se tratava de um triângulo

retângulo. Neste momento um grupo de alunos descobriu que poderia utilizar a

ferramenta que permite medir um ângulo para fazer com que o ângulo entre

duas retas fosse reto: bastava construir duas retas concorrentes, medir um dos

ângulos formados por elas e girar umas das retas em torno do ponto de

intersecção das duas, até que aparecesse o símbolo do ângulo reto. Nem

sempre conseguiam obter o ângulo de 90º . Depois de algum tempo e muita

conversa entre eles, todos conseguiram cumprir a tarefa.

Continuando o trabalho, foi-lhes solicitado que construíssem um triângulo

retângulo que tivesse um ângulo agudo de 28º, sem a utilização da malha

quadriculada. Algumas estratégias utilizadas pelos estudantes são descritas a

seguir:

- Utilizando a função polígono, construir um triângulo e medir seus

ângulos internos. Movimentar um dos vértices do triângulo até que o Geogebra

indicasse o aparecimento de um ângulo reto. Depois, movimentando-se um

outro vértice, obter o ângulo solicitado. Os que optaram por este procedimento

perceberam a dificuldade que é obter o triângulo, uma vez que a movimentação

de um dos vértices implica na possibilidade de mudança dos três ângulos do

triângulo. Alguns triângulos construídos não estavam de acordo com as

condições impostas, apesar da proximidade.

- Construir um par de retas perpendiculares, escolher um ponto em cada

uma delas e unir estes pontos. Medir os dois ângulos agudos que aparecem.

Escolher um dos pontos e movimentá-lo sobre a reta na qual se encontra, até

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que o software indique o aparecimento de um ângulo de 28º. Novamente surgiu

o problema da precisão e um questionamento interessante surgiu, entre eles: “-

Não dá para construir um ângulo de 28º sem precisar ficar tentando?”. Neste

momento houve uma intervenção e foi-lhes solicitado que investigassem a

função Ângulo com Amplitude Fixa, seguindo as seguintes orientações:

1ª – Traçar um par de retas perpendiculares, identificar o ponto de

intersecção (com uso da função Intersecção de dois objetos) e marcar sobre

uma delas um ponto;

2ª – Selecionar a função Ângulo com Amplitude Fixa. Clicar no ponto

marcado sobre uma das retas e no ponto de intersecção delas. Na janela que se

abrirá, marcar a medida do ângulo desejado (no caso, 28º). Traçar a reta que

passa pelo ponto indicado pelo Geogebra e pelo ponto marcado sobre a reta. O

triângulo formado é reto e possui um ângulo de 28º.

Para que treinassem o processo, solicitou-se que construíssem novos

triângulos retângulos, com ângulos de 20º e 55º, o que fizeram sem maiores

problemas.

Continuando o trabalho, propôs-se que cada estudante (ou dupla)

construísse pares de triângulos retângulos (os triângulos que constituem o par

deveriam ter dimensões diferentes) com os seguintes ângulos agudos: 46º , 28º,

17º, 44º, 62º, 73º, totalizando 12 triângulos retângulos. Nestes triângulos

deveriam aparecer:

- a medida, em graus, de cada um dos ângulos internos;

- o comprimento de cada um dos lados dos triângulos;

Todos os outros elementos pertinentes à construção da figura deveriam

ficar ocultos.

Cada um dos estudantes (ou duplas, conforme o caso) recebeu uma

tabela (impressa) na qual deveriam registrar, para cada triängulo: a medida da

hipotenusa, a medida do cateto adjacente ao ängulo dado (citados acima) e a

medida docateto oposto a este mesmo ângulo. Nesta mesma tabela, com o

auxílio de uma calculadora, os estudantes deveriam determinar o valor das

seguintes razoes:

a) Razão entre o cateto adjacente ao ângulo e o cateto oposto ao

ângulo;

b) Razão entre o cateto adjacente ao ângulo e a hipotenusa;

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c) Razão entre o cateto oposto ao ângulo e a hipotenusa;

Importante salientar que os estudantes, em sua maioria, já conheciam o

Teorema de Pitágoras e, portanto, tinham conhecimento dos termos hipotenusa

e catetos. Os termos adjacente e oposto trouxeram dúvidas aos estudantes, que

foram orientados a fazerem uma busca na internet para compreender estes

novos conceitos. Novamente a maioria deles conseguiu entender a lógica por

detrás destes termos. Neste momento foi feita por parte do mediador (professor)

uma intervenção no sentido de mostrar-lhes o caráter relativo destas palavras: o

cateto oposto a um dos ângulos agudos do triängulo retângulo é adjacente em

relação ao outro ângulo agudo deste mesmo triangulo.

3.1.3 BUSCANDO REGULARIDADES...

Depois de calcularem as razões solicitadas, os estudantes reuniram-se,

inicialmente em duplas, para compararem os resultados obtidos (registrados na

tabela). Se houvesse alguma discrepância muito significativa entre os valores

obtidos, deveriam buscar as possíveis causas para a diferença encontrada. Um

novo agrupamento, agora em quartetos, e a mesma tarefa: encontrar diferenças

entre as razões calculadas. O processo teve prosseguimento até que todos os

envolvidos comparassem os valores encontrados. Basicamente, dois tipos de

equívocos foram encontrados e que geraram as maiores diferenças:

1º - O triângulo construído não era retângulo (por exemplo, o suposto

ângulo reto media, na verdade, 89,85º ...);

2º - Houve confusão em relação aos catetos;

Os estudantes ficaram intrigados com aquilo que presenciaram: qualquer

que fosse o triângulo retângulo construído, se um dos ângulos agudos medisse

17º, então a razão entre o cateto oposto e o cateto adjacente seria um valor em

torno de 0,3; a razão entre o cateto adjacente e a hipotenusa seria algo em torno

de 0,9; e, finalmente, a razão entre o cateto oposto e a hipotenusa resultava

sempre num valor muito próximo de 0,3. E o mesmo fato acontecia (com valores

das razões diferentes) para os outros triângulos construídos.

Neste momento foi apresentado, no quadro, o seguinte problema: “Num

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triângulo retângulo um dos ângulos agudos mede 17º e o cateto oposto a este

ângulo mede 8 cm. Qual o comprimento do outro cateto do triângulo?”

Alguns estudantes inicialmente tentaram resolvê-lo utilizando o Teorema

de Pitágoras, mas logo perceberam que faltavam dados. Um grupo significativo

de estudantes conseguiu estabelecer e verbalizar a seguinte relação: se o

triângulo é retângulo e tem um ângulo que mede 17º, então se dividirmos o

comprimento do cateto oposto ao ângulo pelo comprimento do cateto adjacente

ao ângulo, iremos obter aproximadamente 0,3. A relação foi escrita no quadro da

seguinte forma:

e, na sequência, reescrita pelos próprios estudantes, assumindo a seguinte

estrutura:

Resolvendo a equação, a medida procurada foi “descoberta”, muito

embora alguns estudantes ( quatro, com certeza, porque apresentaram sua

resolução ao professor), tenham resolvido a equação de forma equivocada.

Outras atividades semelhantes a esta foram realizadas utilizando o livro

didático adotado pela escola e não foram detectados problemas significativos

quanto à estruturação matemática dos problemas, embora erros na resolução

das equações tenham sido detectados.

O prosseguimento da atividade deu-se com um questionamento feito pelo

professor: “Tem-se informações relativas aos ângulos de 46º , 28º, 17º, 44º, 62º,

73º, mas e se o triângulo retângulo em questão tiver um ângulo agudo diferente

destes, como determinar o valor das razões para este ângulo?”

A resposta foi imediata : “- Basta construir um triângulo retângulo que

tenha um ângulo agudo com a mesma medida do ângulo em questão, medir

seus lados e calcular as razões.”

“- Mas são muitos os ângulos possíveis”, retrucou o professor. “- Será que cada

vez que precisar de informações sobre um ângulo será necessário construir um

triângulo e refazer todo este processo?”

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“- A gente poderia construir uma tabela!”, sugeriu um estudante após alguns

instantes. “- E como seria esta tabela?”, questionou o professor. E o estudante

prosseguiu: “- A gente organiza os ângulos, faz os triângulos, calcula os valores

e completa a tabela!”.

Ficou combinado que cada estudante ficaria responsável por um ângulo

(alguns ficaram responsáveis por dois). Ao professor coube a tarefa de construir

uma planilha onde os dados coletados pelos estudantes seriam digitados (por

eles) e as razões fossem automaticamente calculadas. Depois de algum tempo a

tabela estava pronta e foi então projetada para que todos pudessem observá-la.

Nela constavam ângulos de 1º a 45º, as medidas dos catetos, da hipotenusa e o

valor das razões. Os estudantes perceberam que havia um certo padrão nas

razões e que alguns valores não estavam de acordo com tais padrões. Quando

foram verificar, encontraram os mesmos erros já citados: de construção do

triângulo e de confusão em relação aos catetos. Tais problemas foram por eles

mesmos corrigidos e a tabela com as razões foi finalizada e estava pronta para o

uso. O professor retomou o problema que deu origem aos estudos: “como

poderíamos determinar a altura de um prédio, localizado nas proximidades da

escola, sem medi-lo diretamente?”, utilizando a tabela construída?

Um estudante disse, com outras palavras, que era necessário conhecer

um ângulo. O professor perguntou: “Mas que ângulo?”. Depois de alguns

momentos de conversas um estudante e três outros que juntaram-se a ele

fizeram o um desenho para mostrar o ângulo a que se referiam. O professor

representou o desenho feito por eles no quadro para que todos pudessem

visualizar. Este desenho está apresentado na Figura 9 – Localizando um ângulo.

Fonte: Elaborada pelo autor.

E continuou: “se conhecemos o ângulo , isso é suficiente para

Figura 9 - Localizando um ângulo

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determinarmos a altura do prédio? “Não. Precisamos do tamanho de uma das

duas linhas,” respondeu um outro estudante, referindo-se aos segmentos AB e

AC do desenho feito no quadro pelo professor. E o professor questionou este

estudante: “Na prática, qual das duas medidas é mais fácil de ser realizada?”. O

estudante respondeu prontamente que era a medida AB, porque “era no chão...”.

O professor, então, de forma aleatória, colocou uma medida para o segmento

AB e para o ângulo , conforme mostrado na Figura 10 – Representação

pictórica do problema - abaixo:

Foi solicitado aos estudantes que, a partir dos dados apresentados no

desenho, tentassem calcular a altura do prédio, que está representada pela letra

. Antes, porém, foram feitos alguns questionamentos aos estudantes:

1 - No triângulo ABC, retângulo em B, qual o valor das seguintes razões:

2 – Qual das razões nos permite calcular, imediatamente, o valor de

(altura do prédio)?

Os estudantes utilizaram a tabela trigonométrica que construíram para

determinar o valor de tais razões e, após algumas discussões entre eles

Figura 10 - Representação pictórica do problema

Fonte: Elaborada pelo autor.

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concluíram que a razão era mais “conveniente”. Importante salientar que

alguns estudantes conseguiram perceber que, utilizando ou poderiam

descobrir o valor de e, a partir dele, calcular o valor de .

Abaixo, Figura 11 – Resolução do problema - é apresentada a resolução

feita no quadro por um estudante:

Após a resolução no quadro, discutiu-se sobre o valor obtido para . Os

estudantes perceberam que o valor encontrado era muito alto para os padrões

dos edifícios das cercanias do CSI (prédios de, no máximo, 25 andares,

aproximadamente 75 metros de altura). Surgiram duas idéias:

1ª – O ângulo de 42º não corresponde à realidade ou

2ª – A distância entre A e B não é de 230 metros

que foram “guardadas” para futuras investigações.

Os estudantes perceberam, também, que determinar a distância entre os

pontos A e B era “fácil”, mas determinar o ângulo entre AC e AB não seria tão

fácil. O professor explanou sobre o teodolito e pediu aos estudantes que

fizessem em casa uma pesquisa sobre o assunto.

A próxima etapa dos trabalhos aconteceu em sala de aula, onde os estudantes

Figura 11 - Resolução do problema

Fonte: Elaborada pelo autor.

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80

realizaram os exercícios propostos no livro didático.

3.2 COLETA DE DADOS

Esta seção está dividida em três partes, cada uma relacionada a um dos

objetivos da pesquisa. A primeira parte traz os dados relativos ao objetivo

“conhecer as concepções dos estudantes sobre a Matemática” A análise das

respostas coletadas por meio de um questionário foram submetidas à análise de

conteúdo, proposta por Bardin (1977), sem categorização a priori. A segunda,

ligada ao objetivo “analisar o processo de identificação de padrões, em

trigonometria, por parte dos estudantes” traz as entrevistas que foram realizadas

com três sujeitos do grupo experimental, analisadas à luz do método clínico de

Jean Piaget. Finalmente, a terceira e última etapa, relaciona-se ao objetivo

“avaliar o impacto de uma intervenção com o uso do Geogebra na habilidade de

perceber e representar simbolicamente padrões. Com um design quase-

experimental, os dados foram obtidos por meio de uma prova objetiva (pós-teste)

aplicada aos sujeitos de ambos os grupos.

3.2.1 1ª ETAPA

Em relação ao objetivo específico “analisar as concepções dos

estudantes sobre a Matemática”, 108 estudantes responderam ao questionário,

embora nem todos tenham respondido a todas as perguntas. O questionário era

composto pelas seguintes questões:

1 – Para você, o que é Matemática?

2 – Descreva uma experiência positiva que você já teve com a

Matemática em sua vida.

3 – Descreva uma experiência negativa que você já teve com a

Matemática em sua vida.

4 – Qual das frases abaixo representa melhor a sua opinião em relação à

Matemática? (assinale apenas uma)

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Uma matéria que ensina a calcular as coisas

Uma ferramenta que me permite compreender o mundo

e foi aplicado em sala de aula, durante o período de aulas. Coube ao professor

que estava na sala de aula zelar pelo bom andamento da atividade. Alguns

estudantes levaram o questionário para terminar o preenchimento em casa.

Outros, que faltaram no dia da aplicação, receberam o questionário em outra

oportunidade e puderam respondê-lo.

Abaixo são apresentadas as categorias e a freqüência relativa (na forma

de fração) das respostas relacionadas a cada uma delas e a transcrição de

algumas das respostas dadas e um gráfico onde estas informações aparecem

de forma sintetizadas.

Em relação à primeira das questões propostas (Para você, o que é

Matemática?) foram identificadas cinco categorias nas quais as respostas

podem ser agrupadas. Entre colchetes [ ] temos a freqüência de respostas em

relação ao total de pessoas que responderam à pergunta. Por exemplo: [60/90]

significa que das 90 respostas dadas, 60 eram do tipo “x”.

I – Matemática é a ciência que ensina a calcular [60/90]:

a) É uma forma de lidar com cálculos,números, mais facilmente. b) É o estudo dos números que é muito utilizado no dia-a-dia de todos. c) É o estudo de cálculos e prática de exercícios envolvendo números. Sendo muitas partes

necessárias, porém outras não. d) A ciência que estuda a relação dos números. e) Para mim matemática é conhecimento de algarismos, resoluções, utilização da lógica e

principalmente os cálculos, esses que utilizamos diariamente muitas vezes de forma imperceptível.

f) É o estudo dos números e sua aplicação em diversas situações. É uma ciência que se compreende por números e incógnitas que buscam respostas que variam desde situações do dia-a-dia até situações mais complexas, um estudo muito importante para todos.

g) Matemática é a forma (maneira) de explicar e/ou entender a natureza de forma quantitativa, de onde se tira valores, equações e resultados.

h) Matéria que ensina cálculos.

II – Matemática é algo que pode ser utilizado na vida/vida profissional

[6/90]

a) É a matéria da qual eu mais gosto e me identifico, é uma matéria necessária para vida independente de sua profissão.

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b) Para mim, matemática é uma matéria escolar muito importante. Ela será de grande ajuda durante toda a nossa vida, em diversas ocasiões.

c) A matemática é um ensino que levaremos para as nossas vidas daqui em diante e de que usaremos para as nossas experiências de vida.

d) Algo que posso usar em minha futura carreira profissional, já que o que eu pretendo é fazer é quase totalmente ligado a cálculos.

e) Uma disciplina que é muito importante para o currículo escolar e para a vida, e talvez área de minha futura profissão.

III – Matemática é ferramenta para resolver problemas [11/90]

a) A matemática pode ser compreendida de várias maneiras, positivamente ou negativamente, eu acredito que a matemática é um instrumento de estudo que iremos utilizar em inúmeras ocasiões de nossa vida, como na resolução de problemas, identificação de algum fator que a envolva, etc.

b) É aprender a resolver milimetricamente os problemas da vida. c) Uma matéria que facilita minha vida, me ajudando a solucionar problemas e resolver

contas. d) Matemática é a habilidade de resolver problemas relacionados com números, como

cálculos. Ela é utilizada em nosso dia-a-dia em diversas situações e é uma matéria extremamente importante para o desenvolvimento intelectual de todos.

e) É uma ciência que procura estudar e resolver os problemas do dia-a-dia de uma forma simples (a mais simples possível). Através dos números podemos calcular e compreender coisas que não seriam possíveis sem os mesmos.

f) É uma ferramenta básica dos seres humanos, usada desviar ou enfrentar pequenas ou desafiadoras situações do cotidiano.

g) É uma ferramenta que torna possível a resolução de problemas. h) É uma área de estudo que nos permite resolver problemas de uma maneira lógica e

consciente.

IV – Matemática é base para outras ciências/tecnologia [5/90]

a) Matemática para mim é uma importante ferramenta de aprendizagem, que existe para nós compreendermos o universo dos números e da lógica.

b) Pra mim matemática é uma matéria que aprendemos desde o princípio dos estudos e que usamos nas demais matérias. A matemática é utilizada desde a antiguidade e é muito útil no dia-a-dia.

c) Matemática em minha opinião é o que causa a evolução tecnológica, científica e humana. Pois está presente em qualquer coisa, seja na geometria ou então como cálculos para a produção de softwares, sistemas, celulares, casas, construções, em tudo.

d) É uma importante ferramenta de aprendizagem. e) Matemática, além de uma matéria escolar, é também uma espécie de ferramenta de

aprendizagem que nos ajuda a melhorar nosso raciocínio e pode nos ajudar muito tanto para desenvolver melhor nosso cérebro, quanto para um eventual curso de engenharia, matemática, etc na faculdade.

IV – Matemática é instrumento para raciocinar/desenvolver raciocínio

lógico/linguagem [8/90]

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a) Matemática, para mim, é o estudo lógico de tudo aquilo que pode ser tido como verdade incontestável, os números.

b) Matemática é uma ferramenta lógica utilizada diariamente por todos. c) Matemática é uma matéria que nos ajuda a compreender situações no dia-a-dia de uma

maneira lógica e eficiente. d) É uma matéria escolar com o objetivo de melhorar o pensamento lógico e o raciocínio

rápido. e) Para mim são cálculos com linguagem lógicas com mais raciocínio, a matemática em si

serve como instrumento para raciocinar. f) Para mim, matemática é a linguagem do universo. É o que determina praticamente tudo

que é lógico no mundo, tudo ao nosso redor utiliza matemática de algum jeito. É como se fosse a programação de nosso universo, determinando suas leis e como tudo funciona.

g) Para mim matemática é utilizar a parte lógica do nosso cérebro para facilitar nossas vidas, aumentar nosso conhecimento e muitas vezes a usamos sem perceber. Ela está por todo o canto e é inegável a essencialidade da mesma.

GRÁFICO 10 - Para você, o que é Matemática?

Fonte: Elaborado pelo autor.

Fica evidente, analisando o Gráfico 10 - Para você, o que é Matemática -

que a maior parte dos estudantes (67%) ainda considera a Matemática como

uma ciência que “ensina a calcular” , visão está já apresentada por Felicetti e

Giraffa (2012) “A matemática ainda é vista como um conjunto de atividades

instrucionais, sem conexões com situações hodiernas.” Pode-se conjecturar que

esta visão tenha relação direta com o que seus professores e o meio em que

60; 67%

6; 7%

11; 12%

5; 5%

8; 9%Matemática é a ciência que ensina a calcular

Matemática é algo que pode ser utilizado na vida/vida profissional

Matemática é ferramenta para resolver problemas

Matemática é base para outras ciências/tecnologia

Matemática é instrumento para raciocinar/desenvolver o raciocínio lógico/linguagem

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vivem acreditem ser a matemática. Devlin (1998) escreve que

Ao longo dos anos a matemática tornou-se cada vez mais e mais complicada, as pessoas concentraram-se cada vez mais nos números, fórmulas, equações e métodos e perderam de vista o que aqueles números, fórmulas e equações eram realmente e porque é que se desenvolveram aqueles métodos. Não conseguem entender que a matemática não é apenas manipulação de símbolos de acordo com regras arcaicas mas sim a compreensão de padrões – padrões da natureza, padrões da vida, padrões da beleza (DEVLIN, 1998 p. 206).

Destaca-se, também, a pequena representatividade (7%) daqueles que

consideram a matemática aplicável no cotidiano ou que será útil no futuro.

As respostas dadas à segunda questão (Descreva uma experiência

positiva que você já teve com a Matemática em sua vida) foram assim

categorizadas:

I – Nenhuma experiência positiva/não lembra [22/108]

a) Não consigo me lembrar de nenhuma. b) Por enquanto nenhuma, mas sei que quando for adulto vai me ajudar bastante. c) Não tive nenhuma experiência positiva na matemática. d) Não tenho experiências positivas em relação à matemática, pois nunca me dei bem

nesta matéria. e) Não tenho experiências positivas com a matemática e números, pois nunca me

identifiquei com essa matéria.

II – Notas altas em avaliações internas/externas [32/108]

a) Quando eu fui avançado no AVALIA de matemática. b) Uma experiência positiva eu sempre tenho quando faço uma prova ou trabalho e tiro

nota boa, pois é gratificante para mim saber que eu aprendi a matéria, a compreendi. c) Acho que a única experiência positiva que consigo me recordar de matemática, é ter

tirado um 10 em um cálculo mental, me senti muito bem e realizada. d) Quando tirei uma nota boa.

III – Utilizar a matemática em uma situação do cotidiano [48/108]

a) Nunca ser enganado quando receber o troco. b) Já trabalhei em uma estamparia e tinha que calcular as encomendas, o valor e a

quantidade eu era produzida no processo. c) Ajudo meu pai no caixa do empreendimento dele. d) Quando compreendi frações e isso me ajudou a cozinhar. e) Aprender a calcular. E posso compreender as medidas dos ingredientes de minhas

receitas. f) Consigo resolver o tangran e realizar cálculos.

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g) Na loja do meu pai, muitas vezes uso para calcular impostos, valores em geral de mercadorias, porcentagem de desconto e do salário dos funcionários, etc.

IV – Ajudar/ser ajudado por colegas que estão em dificuldade [6/108]

a) A tutoria que tem aqui na escola onde é possível auxiliar aqueles que possuem mais dificuldade no assunto, essa interação ajuda ambas as partes (tutor e tutorada) sendo algo que influencia positivamente.

b) Esse ano comecei com as aulas de apoio é é bem legal ouvir do professor novo que você está indo bem e seu tutor dizer que você é a melhor aluna dele. Só queria ter feito isso no ano passado.

c) Uma experiência positiva na matemática é no colégio, especialmente nas terças-feiras, quando faço parte (como tutorada) na aula de apoio do Colégio, é muito bom e gratificante aprender com aqueles que estão a nossa volta.

GRÁFICO 11 - Descreva uma experiência positiva que você já teve com a Matemática em sua vida

Fonte: Elaborado pelo autor.

O Gráfico 11 - Descreva uma experiência positiva que você já teve com a

Matemática em sua vida ressalta a importância que tem para os estudantes

perceberem a aplicação daquilo que estudam em situações do cotidiano,

indicando que este pode ser um ponto de partida interessante para nortear o

trabalho do professor. Também destaca-se a obtenção de notas altas como

experiência positiva. Neste sentido,Felicetti e Giraffa (2012) já indicaram

22; 20%

32; 30%

48; 44%

6; 6%

Nenhuma experiência positiva/não lembra

Notas altas em avaliações internas/externas

Utilizar a matemática em uma situação do cotidiano

Ajudar/ser ajudado por colegas que estão com dificuldades

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Desempenham as atividades em Matemática pensando na prova, na nota, e não em realmente compreendê-la. Não associam a Matemática da escola com a Matemática do cotidiano. Parece que a Matemática serve somente para „passar de ano‟ na escola e nada mais. (FELICETTI E GIRAFFA ,2012)

As respostas dadas à terceira questão (Descreva uma experiência

negativa que você já teve com a Matemática em sua vida) foram agrupadas em

três categorias:

I – Nenhuma experiência negativa/não recorda [33/89]

a) Tive nenhuma. b) Não consigo me recordar de nada. c) Para ser sincera, em nenhum momento tive uma experiência negativa, mesmo quando

recebia notas baixas pois fico ainda mais motivada a entender. d) Não creio que eu tenha experiências terríveis que é possível ser lembrada. Matemática é

difícil, mas se é necessário e extremamente presente no dia-a-dia, se a pessoa se esforçar ela vai começar a ter prazer em utilizar a mesma.

II - Notas baixas em avaliações [42/89]

a) Por enquanto as dificuldades em provas, que eu tiro apenas notas baixas. b) Minha dificuldade em matemática é grande, sempre tirei notas baixas nas provas e

nunca soube realizar exercícios sozinha em casa e sempre tive medo de fazer perguntas durante as aulas.

c) Matemática sempre foi uma matéria em que eu tenho muita dificuldade, então em diversas situações posso dizer que tive experiências ruins relacionadas à Matemática. Em 2013 por exemplo meu desempenho na matéria foi lamentável, resultando várias notas ruins e por fim, o exame.

d) Em inúmeras vezes ter me empenhado para alguma prova, e não ter o resultado esperado.

e) Muitas notas baixas! Todos os anos sempre tiro notas que não me agradam muito, elas me magoam, mas ao mesmo tempo me deixa intrigada por não conseguir resolver, por que é tão difícil para mim? Sempre tento entender.

f) Nunca confiar em mim por conta dos resultados das provas. g) Na verdade são a grande maioria, sempre tiro nota baixa nas provas e sinceramente não

gosto da matéria.

III – Não entender o conteúdo/relacionamento ruim com professor [14/89]

a) Este ano só tive experiências ruins, pois não consigo aprender nada com meu professor. b) A de não conseguir resolver problemas propostos pelo fato de não saber resolve-os c) De forma inversa, é a frustração em geral de não conseguir entender algum conceito

devido o quão complicado eles podem ser em matemática. d) Não aprender ou não entender algum conteúdo. e) Acho que a “pior” experiência para mim é quando não entendo algo e vou mal em

prova, mas principalmente quando não entendo.

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GRÁFICO 12 - Descreva uma experiência negativa que você já teve com a Matemática em

sua vida

Fonte: Elaborado pelo autor.

O Gráfico 12 - Descreva uma experiência negativa que você já teve com a

Matemática em sua vida – mostra que 47% dos estudantes relacionam

experiência negativa com notas baixas em avaliações. Por outro lado, apenas

16% consideram experiência negativa não entender o conteúdo/relacionamento

ruim com professor. Fica claro que muitos estudantes ainda vêem a nota como

“um fim em si mesmo” e não como um indicador para se reavaliar o processo

seguido. Novamente o professor tem fundamental participação nestas respostas

porque elas podem indicar que o mesmo também as vê assim, acabando por

construir tal imagem junto aos estudantes.

Por fim, as respostas dadas à quarta pergunta do questionário (Qual das

frases abaixo representa melhor a sua opinião em relação à Matemática?

assinale apenas uma), ficaram assim distribuídas:

Uma matéria que ensina a calcular as coisas: [58/106]

Uma ferramenta que me permite compreender o mundo: [48/106]

33; 37%

42; 47%

14; 16%0; 0%

Nenhuma experiência negativa

Notas baixas em avaliações

Não entender o conteúdo/relacionamento ruim com o professor

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GRÁFICO 13 - Qual das frases abaixo melhor representa a sua opinião em relação à Matemática?

Fonte: Elaborado pelo autor.

O Gráfico 13 - Qual das frases abaixo melhor representa a sua opinião

em relação à Matemática? - mostra que, tal qual já havia sido mostrado no

Gráfico 10 - Para você, o que é Matemática? - a maior parte dos estudantes

pesquisados vê a Matemática como “cálculo” e “técnicas de cálculo”. Trata-se,

indubitavelmente, de uma visão bastante limitada e limitante do que venha a ser

a Matemática. Segundo Felicetti e Giraffa (2012)

“Isto nos faz perceber que a Matemática vem sendo trabalhada de uma forma muito descontextualizada, desarticulada do pensar, do fazer e compreender, mas sim de forma decorada, instrucionista e, principalmente, algebrista.” (FELICETTI E GIRAFFA , 2012)

3.2.2 2ª ETAPA

Nesta etapa tem-se os dados oriundos das entrevistas que foram

realizadas com três estudantes do grupo experimental. Inicialmente a idéia era

escolher três estudantes que tenham se destacado no pós-teste. Depois decidiu-

58; 55%

48; 45%Uma matéria que ensina a calcular as coisas

Uma ferramenta que me permite compreender o mundo

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se que seriam escolhidos dois estudantes de destaque (não apenas no pós-

teste, mas em todo o conjunto de avaliações realizadas: média anual (escola),

resultado no AVALIA, partipação na intervenção didática e, finalmente, o pós-

teste. Assim sendo, foram selecionados os três estudantes com os quais foram

feitas as entrevistas. Ao longo do texto eles serão identificados por A, B e C.

Antes do relato das entrevistas é importante conhecer um pouco desses

estudantes.

O estudante A é do gênero masculino, 15 anos, média anual acima de nove

em Matemática, com participação ativa na intervenção didática e nível avançado

no AVALIA em Matemática. O estudante B é do gênero feminino, 15 anos, média

anual acima de nove em Matemática, com participação ativa na intervenção

didática e nível avançado no AVALIA em Matemática. O estudante C é, também,

do gênero feminino, 16 anos, média anual muito próxima de seis, participação

ativa na intervenção didática e nível básico no AVALIA, em Matemática. Os

estudantes A e B são do tipo “que sempre se deram bem em Matemática”,

sendo bastante autônomos e confiantes em sua capacidade. Já a estudante C é

extremamente insegura e sente-se incapaz de aprender Matemática. Sempre se

viu como “burra em Matemática”. Extremamente caprichosa e dedicada,

geralmente não consegue bons resultados, apesar de todo o esforço no estudo

da matemática.

A atividade foi realizada nas dependências do CSI, no contra-turno,

individualmente. A filmagem foi feita com uma câmera fornecida pela equipe de

audiovisual do colégio. Utilizou-se o software Geogebra para o desenvolvimento

da atividade.

Tendo em vista que a estratégia de análise das entrevistas será o método

clínico, convém dissertar um pouco sobre ele.

3.2.2.1 O método clínico

Piaget utilizou o método clínico em suas pesquisas por não aceitar os

resultados dos testes padronizados, utilizados por Binet e tampouco os

resultados obtidos nas observações puras ou diretas, por terem campo muito

amplo. Neste método, que é uma adaptação do método clínico usado por

psiquiatras, o entrevistador pode formular problemas, acompanhar o processo

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utilizado pela criança para resolver o problema e buscar entender os

pensamentos que nortearam o trabalho da criança e, consequentemente, as

respostas dadas.

Delval (2002) apresenta a origem do termo “método clínico”:

A expressão método clínico foi usada pela primeira vez em 1896, por L. Witmer, psicólogo norte-americano, que foi aluno de WilhemWundt. O método clínico servia para prevenir e tratar anomalias mentais de indivíduos, entre elas crianças com dificuldades escolares normais […]. Na medicina, a clínica constituiu-se em ramo das ciências médicas que compreende outras disciplinas, com a finalidade prática para estudar um organismo doente e poder devolvê-lo ao seu estado normal. Mas no caso da psicologia normal e do estudo do pensamento das crianças, foi Piaget quem introduziu o método clínico, dando-lhe um significado muito distinto que só guarda uma semelhança distante com suas

origens.(DELVAL, 2002)

O próprio Piaget ressalta que

Assim, desde minhas primeiras entrevistas, observei que, embora os testes de Burt tivessem méritos indubitáveis quanto ao diagnóstico, já que se fundamentavam sobre o número de êxitos e fracassos, era muito mais interessante tentar descobrir as razões do fracasso. Desse modo, empreendi com meus sujeitos conversas do tipo das entrevistas clínicas com a finalidade de descobrir algo sobre os processos de raciocínio que estavam por trás de suas respostas correlatas, com interesse particular pelo que ocultavam as respostas falsas. Descobri com espanto que os raciocínios mais simples que implicavam a inclusão de uma parte no todo ou o encadeamento de relações ou ainda a “multiplicação” de classes (encontrar a parte comum de suas entidades) apresentavam para as crianças normais até de 11 anos dificuldades insuspeitadas para o adulto (PIAGET apud DELVAL, 2002, ).

É fundamental ressaltar a mudança de paradigma trazida por Piaget:

embora os testes padronizados fossem importantes para diagnosticar os

problemas eles nada informavam acerca dos elementos que influenciam nos

resultados obtidos. Piaget queria “descobrir as razões do fracasso” e, por que

não estender tal intenção para “descobrir as razões do fracasso e do sucesso?”

No contexto da pesquisa o método clínico será utilizado para analisar o

processo de identificação de padrões em trigonometria, por parte dos

estudantes. Após a intervenção realizada (sequência didática) serão escolhidos

três estudantes que participaram de todas as atividades propostas. A estes

estudantes, individualmente, será apresentada uma situação que envolve a

percepção de padrões, a identificação de regularidades relativas ao baricentro

de um triângulo. O roteiro da atividade está descrito no APÊNDICE

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3.2.2.2 Entrevistas

Seguem as transcrições das partes mais importantes das entrevistas

realizadas. Adotou-se o seguinte critério para identificação das falas: D

representa a descrição, feita pelo professor, das observações realizadas; P

representa uma fala do professor, enquanto que A, B e C representam falas,

respectivamente, dos estudantes A, B e C. As transcrições são fiéis às falas,

exceto por pequenos detalhes. Entre parênteses estão colocadas informações

para deixar mais claro ao leitor o que está acontecendo, com o intuito de facilitar

a visualização daquilo que está sendo falado.

Entrevista com estudante A, realizada no dia 20 de outubro de 2014, com

início às 17h12min e duração aproximada de 22min14s.

D – O ESTUDANTE JÁ HAVIA DESENHADO OS CINCO TRIÂNGULOS SOLICITADOS PELO PROFESSOR. P - Como é que tu definirias assim o ponto médio? A - Ponto no meio de dois vértices... no triângulo. P - Encontra prá mim ai um ponto médio, faz favor. D - UTILIZANDO A FUNÇÃOPONTO MÉDIO... P - Tá, só uma coisinha, .... Tu consegues identificar ali o ponto médio... Que propriedade tem o ponto médio de um segmento? Por que que ele é chamado de ponto médio? A - Porque ele é exatamente o ponto no meio de um segmento.... P - Mostra pra mim o que isso significaria aí nessa situação... D - PROCURANDO A FUNÇÃO DISTÂNCIA....MOSTRA QUE AS DISTÂNCIAS DO PONTO MÉDIO ATÉ AS EXTREMIDADES DO SEGMENTO (LADO DO TRIÃNGULO) SÃO IGUAIS. P - Beleza... D - TRAÇOU AS MEDIANAS.... P - Em cada triângulo vai ter quantos desses? A - Tres.... D - APÓS TER TRAÇADO TODAS AS MEDIANAS EM TODOS OS TRIÂNGULOS. P - Percebesse alguma coisa, não? A - Eles (referindo-se aos segmentos) se cruzam no meio do triângulo. P - O que tu entendes por meio do triangulo? A - O centro dele, né... P - O conceito de meio do triângulo é meio estranho. Como é que tu definirias o meio do triângulo? Que propriedade tem o meio do triângulo. A - Eu acho que a distância desse ponto (localizou o baricentro) até esse ponto (indicou um dos vértices e utilizou a função DISTÂNCIA)é igual a essa distância aqui (do baricentro até outro vértice. Igualmente utilizou a função DISTÂNCIA.)... Não! P - Essa tua conjectura, essa tua idéia ela seria verdadeira para que tipo de triângulo? A - Um eqüilátero... P - Um eqüilátero. Então ela é uma idéia que não é completamente equivocada, mas ela só serve para um tipo de triângulo... não é uma propriedade que pode ser generalizada. Mas tu percebeste uma coisa importante: quando a gente pega um triângulo, encontra o ponto médio dos lados e une esses pontos médios aos vértices opostos, o que que acontece? A - Todos... Eles vão se cruzar, as linhas... P - Todas elas se encontram... A - Num ponto.

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P - Num único ponto. P - Agora eu gostaria que você observasse este ponto (referindo-se ao baricentro). D - ESCOLHE UM DOS TRIÂNGULOS...NO TRIÂNGULO ESCOLHIDO (W É PONTO MÉDIO DE UM DOS LADOS, G1 É O BARICENTRO E H É O VERTICE OPOSTO AO LADO QUE CONTEM W) P - Pelo que tu estás observando, a distância entre o W e o G1 é menor, maior ou igual à distância entre o G1 e o H? A - A distância entre o W e o G1 é menor que a distância entre o G1 e o H. P - Tu estás convicto disso? A - Urum... D - FEZ O MESMO PARA OUTRAS MEDIANAS... P - Então esse ponto (baricentro) que é o ponto de encontro daqueles segmentos... a distância dele até o ponto médio do lado é sempre o que?É o que? O que estás percebendo? A - Ele (o baricentro) sempre está mais perto do ponto médio. D - V É O PONTO MÉDIO DE UM DOS LADOS, G1 É O BARICENTRO E I É O VÉRTICE OPOSTO AO LADO QUE CONTÉM V) P - Tu conseguirias, mais ou menos, pensando no (segmento)V G1 e no (segmento) G1 I, mais ou menos, quantas vezes o (segmento) G1 I é maior que o (segmento) V G1? Assim, faz uma estimativa... A - Umas duas... P - Duas? P - E para os outros valeria a mesma relação? (referindo-se às outras medianas do mesmo triângulo) A - Acredito que sim. P - E para os outros triângulos? D - UTILIZA O MESMO PROCEDIMENTO EM OUTROS TRIÂNGULOS. A - Mais ou menos a mesma coisa. P - É??? E tu achas que isso independe do tamanho do triângulo? A - Eu acho que sim. D - FAZ NOVAS MEDIÇÕES, TRANSLADA UM DOS VÉRTICES DO TRIÂNGULOE CONCLUI: A - As distâncias mudaram, mas a razão ta a mesma. P - Dá um exemplo, mostra ai... A – Aqui (aponta para uma mediana), só um pouquinho arredondou, mas deu 4,15 e 8,30... P - Se nós pegássemos o segmento que une um vértice ao ponto médio do lado oposto e o dividíssemos em três partes, quantas dessas partes ficariam aqui (entre o vértice e o baricentro)? A - Duas. P - E aqui (entre o baricentro e o ponto médio)? A - Uma. P - Então a gente poderia dizer que aquele ponto (o baricentro), o ponto G, divide o segmento (mediana) em duas partes e a razão entre essas partes é de quanto para quanto? A - Dois prá um. D - PROFESSOR DÁ NOME AO PONTO (BARICENTRO) E AOS SEGMENTOS (MEDIANAS). P - Imagine que tu tenhas que passar uma definição pelo telefone. Ó, Vavá, o baricentro de um triângulo é um ponto que é obtido assim... A - Traçando ... Com o ponto médio de cada lado do triângulo, traça uma linha desse ponto médio até o vértice oposto, e o ponto em que todos eles se cruzam, todas essas linhas se cruzarem é o baricentro. P - Tá. E o baricentro, ele divide cada uma dessas linhas... A - Em duas partes... P - Duas partes. Iguais? A - Diferentes, mas numa proporção de dois para um... P - E ta mais próximo sempre de quem? A - Do ponto médio...

Entrevista com estudante B, realizada no dia 14 de novembro de 2014,

com início às 17h e duração aproximada de 22min56s.

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D - DEPOIS DE CONSTRUIR OS TRIÂNGULOS... P - Beleza. Agora escolha um triângulo qualquer e identifica prá mim o ponto médio de cada um dos lados desse triângulo que você escolheu. Com que triângulo você quer trabalhar? P–Pode ser esse aqui (aponta para um dos triângulos). D - UTILIZANDO A FUNÇÃO PONTO MÉDIO, DETERMINOU A LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS MÉDIOS DOS TRÊS LADOS DO TRIÂNGULO. P - O que prá ti significa ponto médio? B - É o ponto que... é o ponto que fica no meio assim, entre os dois. P - E tu consegues utilizar o Geogebra para encontrar o ponto médio dos lados dos triângulos? B - Tá...Esse ponto aqui (aponta para o ponto médio de um dos segmentos) D - CONSIDERE QUE OS LADOS E SEUS RESPECTIVOS PONTOS MÉDIOS SEJAM: AB, M1; BC, M2 E CA, M3 P - Por exemplo, esse ponto aqui (aponta para o ponto M1) é o ponto médio desse segmento (mostra o segmento AB). O que a gente pode dizer sobre a distância entre esse ponto (aponta para o ponto A) e este ponto (aponta para o ponto M1) e entre este ponto (aponta para o ponto B) e este (aponta para o ponto M1)? B - A distância é a mesma. P - E tu consegues usar o Geogebraprá mostrar que é a mesma distância? B - Consigo. D - UTILIZANDO A FUNÇÃO DISTÂNCIA, DETERMINA AS DISTÂNCIAS ENTRE A E M1 E ENTRE B E M1. P - Como eu te falei no início, nós estamos buscando identificar padrões que sejam comuns a todos os triângulos. Você construiu cinco triângulos quaisquer, não houve necessidade de que eles tivessem lados iguais, nem ângulos iguais, nada disso, né? P - Pediria que você traçasse um segmento que une o ponto médio de um lado ao vértice oposto a este lado. D - CONSTRUIU OS SEGMENTOS UTILIZANDO A FUNÇÃO SEGMENTO.P - Percebeste alguma coisa? B - Que tem um ponto de encontro entre eles. P - O que tu queres dizer “que tem um ponto de encontro”? B - Um ponto em que os três segmentos que eu determinei se encontram. P - Como é que esses três segmentos foram construídos, mesmo? B - A partir dos pontos médios e dos vértices opostos. P - E daí tu percebeste que para este triângulo aí esses três segmentos... eles se encontram... B - Num ponto determinado. P - Num ponto determinado. P - Vamos fazer o seguinte: faz o mesmo procedimento, aplica a mesma idéia para os outros triângulos. D - DEPOIS DE TER REPETIDO O PROCESSO PARA TODOS OS OUTROS TRIÂNGULOS... P - Então tu percebeste que... B - Em todos os triângulos tem um ponto em que os segmentos se encontram (aponta para os pontos de encontro dos segmentos). P - Escolha um triângulo qualquer aí, qualquer um... e daí com a função mover (localiza a função) escolhe um vértice desse triângulo (aquele que ela escolheu). D - ESCOLHEU O TRIANGULO E O VÉRTICE P - Beleza. Clica sobre ele (vértice) e desloca esse vértice. Observa. Pode fazer um deslocamento qualquer. Vai variando aí o tamanho do triângulo. Tu percebes alguma coisa? B - Que esse ponto se mantém. Sempre tem um ponto de encontro. P - Ou seja, esses três segmentos... B – Eles continuam se cruzando... P - Se cruzando no mesmo ponto. B - No mesmo ponto. P - Beleza, dá uma, faz um malabarismo aí, muda de lado... (referindo-se ao vértice escolhido para mover). Pode girar, fazer a volta que tu quiseres... O tamanho do triângulo está mudando, os lados estão mudando. Os ângulos internos estão mudando? B - Os ângulos mudam... P - Mas aquele ponto (referindo-se ao ponto de encontro dos segmentos)??? B - Não. D - UTILIZOU A FUNÇÃO INTERSECÇÃO DE DOIS OBJETOS PARA DETERMINAR O PONTO

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DE ENCONTRO DOS SEGMENTOS QUE UNEM O PONTO MÉDIO DE UM LADO AO VÉRTICE OPOSTO. ESTE PONTO SERÁ, DORAVANTE, IDENTIFICADO PELA LETRA G. P - Eu queria que tu analisasses a distância entre desse ponto (G) ao lado e ao vértice. Triângulo por triângulo. B - A distância do ponto até o vértice parece maior do que a distância do ponto até o lado. P - A distância do ponto até o vértice parece maior do que a distância do ponto até o lado. Tu consegues assim, pelo desenho, fazer uma estimativa dequão maior? B - Parece que é o dobro. P - Parece que é o dobro. P - Então tu dirias, por exemplo, que se esse aqui fosse o ponto A (aponta para o ponto médio de um segmento), esse aqui o B (aponta para o ponto G) e esse aqui o C (aponta para o vértice oposto ao A), pela tua impressão, a distância entre o A e o B(G) seria a metade da distância entre o B (G) e o C. B - Sim... P - Vamos fazer uma inspeção. Usa aquela, aquela ferramenta distância prá ver se isso que tu estás dizendo faz sentido. P - Se a tua hipótese estiver certa, a distância entre o H1 e o B deveria ser quanto? B - Três e quarenta e seis... P - Três e quarenta e seis. P - Vamos ver... D - USOU A FUNÇÃO DISTÂNCIA PARA DETERMINAR TAIS MEDIDAS... P - Deu três e quarenta e sete. B - É porque aproximou, de certo. P - Vamos fazer um teste para as outras medianas nesse triângulo. Essa deu um e vinte e nove; então a outra media teria que dar mais ou menos quanto? B - Dois e sessenta. P - Dois e sessenta, dois e cinqüenta ... B - Dois e cinqüenta e oito... P - Dois e cinqüenta e oito. Certinho. P - Agora, o pessoal poderia dizer assim ó: isso é verdadeiro para esse triângulo aí. Como é que tu convencerias uma pessoa de que realmente este ponto (G) está mais perto do lado da figura do que do vértice oposto. Porque a gente desenhou cinco triângulos. O que que tu poderias fazer aí no programa que a pessoa assim se convenceria de que qualquer que fosse o triângulo esta relação de um para dois permanece a mesma. B - O que que eu poderia fazer? P - É... utilizando isso que tu tens ai... B - Eu teria feito mais outros tipos de triângulos para provar que vai ter sempre a mesma....entre aspas, “regra”... D - PROFESSOR PEDE PARA QUE COMPLETE UM DOS TRIÂNGULOS COM TODAS AS MEDIDAS. UTILIZANDO A FUNÇÃO DISTÂNCIA A ESTUDANTE O FAZ. P - Olha só: se eu te der essa medida aqui (aponta para a distância entre o baricentro e o ponto médio de um dos lados) tu já consegues estimar a outra (referindo-se à distância entre o baricentro e o vértice oposto)... Mais ou menos... B - Dois e quarenta e oito... P - Dois e quarenta e oito... Beleza. B - Posso fazer aqui? (usou a função DISTÂNCIA para verificar se seu valor estava correto). P - Vai que ele coloca sete e noventa... P - Dois e quarenta e oito, beleza. Agora o seguinte, ..., só trabalhando com este triângulo (que está com todas as medidas inseridas), mostra para um descrente que esta relação vai permanecer a mesma. P – Tu lembras o que tu fizeste com este triângulo aqui (aponta para outro triângulo) para mostrar que este ponto (o baricentro) é sempre o ponto de encontro dos três segmentos (medianas), qualquer que seja o triângulo??? B - Eu poderia mover o... P - Experimenta... Move para algum lugar bem distante.... Ai. Vamos ver o que aconteceu... P - Dois e sessenta e dois aqui (distância do baricentro ao ponto médio do lado); cinco e vinte três (distância do baricentro ao vértice oposto). Dois e sessenta e dois vezes dois??? B - Dá cinco e vinte quatro. P - Cinco e vinte quatro. Tá dentro de uma margem....de aproximação, né? P - Aqui ó, (distância do baricentro ao vértice oposto a outro lado), três e quarenta e seis... Um e

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setenta e três (distância do baricentro ao ponto médio oposto ao vértice considerado)... Razoável? B - Aham...Um e quarenta e seis, dois e noventa e dois... P - Move o vértice C para algum lugar. Vamos tentar deixar este triângulo maior. Tu consegues perceber... Te fixa num desses segmento (uma das medianas), fixa tua atenção num desses segmentos e movimenta o vértice. B - Esse vértice? (aponta para o vértice C) P - Qualquer um que tu quiseres...Só que olha o que está acontecendo com os números (distâncias entre o baricentro e o ponto médio e do baricentro e o vértice oposto ao ponto médio do lado). P - Agora é o seguinte, ... A gente vai tentar representar tudo isto que tu percebeste utilizando a linguagem matemática... OK? D - [...] PARA MELHOR ENTENDIMENTO, CONSIDERE UM TRIÂNGULO DE LADOS AB, BC E AC. O BARICENTRO SERÁ REPRESENTADO PELO PONTO G. P - O “x” representa o que para você? B - A distância entre este ponto (ponto médio do lado AB) e a interseção (referindo-se ao G). P - Beleza. Eu quero que tu representes para mim, algebricamente, a distância entre este ponto (G) e aquele lá (C). B - Dois xis... P - E para as outras? B - A mesma coisa... P - Mas será que tu podes chamar isso aqui de x também? (distância entre G e o ponto médio de BC) B - Não, porque daí é outra medida.... P - Será que tem algum caso, algum triângulo, em que estas medidas serão todas iguais? B - O eqüilátero??? P - Legal...

Entrevista com estudante C, realizada no dia 26 de novembro de 2014,

com início às 17h e duração aproximada de 34min08s.

P – Primeiro eu gostaria que tu desenhaste cinco triângulos quaisquer. Enquanto tu estás desenhando estás pensando em alguma coisa, assim, tamanho do lado, tamanho do ângulo, alguma coisa assim, ou tu estás fazendo aleatoriamente? C – Eu to fazendo aleatoriamente, só estou tentando fazer em formas diferentes. P – O que tu queres dizer com “formas diferentes”? C – Pra eles não ficarem todos iguais, da mesma maneira assim... P – Beleza. Todos triângulos... Foi difícil desenhar? C – Não... P – Tu achas que é mais fácil desenhar aí no Geogebra ou no papel? C – No Geogebra... P – Por que? C – Porque fica tudo retinho, sem precisar usar régua.... P – E se tu errares? C – Aí é só tu deletar... P – E no papel? C – Tem que apagar com borracha e o papel fica marcado... P – Então, digamos, que aí no Geogebra o teu erro some? C – Isso... P – E no papel tu sempre vais saber que tu erraste... C – Mais ou menos assim... P – Beleza, .... Tu sabes, evidentemente, que todo triângulo tem três lados, né. C – Sim. P – E eu queria que tu encontraste para mim o ponto médio de cada um dos lados desses triângulos. C – De todos os lados? P – De todos os lados.

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D -UTILIZA A FUNÇÃO PONTO MÉDIO PARA DETERMINAR O PONTO MÉDIO DE TODOS OS LADOS DE TODOS OS CINCO TRIÂNGULOS. P – Para determinar o ponto médio tu precisas colocar a flechinha (cursos) exatamente no ponto médio do segmento? C – Em qualquer lugar do segmento... só precisa deixar o negocinho mais escuro (querendo dizer que o segmento deve estar selecionado). P – O que que é o ponto médio de um segmento? C – Ponto médio é...a... o meio da reta. P – Meio da reta? C – Ou do segmento de reta... P – O..., o ponto médio ele tem uma propriedade, uma característica. Então pega, por exemplo, ali... Vai naquele primeiro triângulo, pega aquele vértice lá de cima (A) e um outro vértice (C). Agora identifica o ponto médio do segmento AC (Q). O ponto Q é o ponto médio de qual segmento? C – Do segmento AC... P – Do segmento AC. Pede pro Geogebra calcular, por favor, a distância entre o ponto A e o ponto Q. D -UTILIZA A FUNÇÃO DISTÂNCIA PARA DETERMINAR A DISTÂNCIA ENTRE A E Q. P – Dois ponto quinze.... Mede também a distância entre o Q e o C... Beleza... Então, a distância entre o A e o Q é quanto? C – Dois ponto vinte e cinco. (A distância mudou porque ela, sem querer, modificou a posição de um dos vértices). P – E entre o Q e o C? C – Dois ponto vinte e cinco. P – Que característica que tem o ponto médio de um segmento? C – Que o ponto médio vai ser a metade, vai ser o A e o Q vão ser iguais ao Q e o C. P – Por exemplo, pega um outro lado desse triângulo (selecionou o lado AB, cujo ponto médio é F1). Faz de conta... Se a distância entre A e o B foi seis, a distância entre o A e o F1 vai ser quanto? C – Três. P – E a distância entre o F1 e o B? C – Três também. P – Três também. Será que isso vale para todos os pontos médios? C – Acho que sim. P – Por que tu achas que vale? C – Na verdade depende muito de se as linhas tem tamanhos iguais, são... P – Como assim a linha ter tamanhos iguais? C – Depende se essa aqui (refere-se a um dos lados de um triângulo) for igual a essa aqui (referindo-se a outro lado do mesmo triângulo). Porque se eu pegar essa daqui (referindo-se ao terceiro lado do triângulo), vai ser maior ou menor.... P – Tá. Escolhe um lado qualquer do triângulo. C – Tá. P – Se eu pegar o ponto médio desse lado, esse ponto médio divide o lado em duas partes, certo? C – E as duas partes vão ser iguais. P – Faz o seguinte para mim: movimenta o vértice C e observa o que acontece com as medidas AQ e QC. Observa que à medida que tu moves o vértice C o triângulo vai mudando, não é mais o mesmo triângulo. C – Elas estão mudando... P – Elas estão mudando, mas... C – Mas elas sempre ficam iguais. P – Escolhe um outro triângulo aí qualquer e agora eu vou pedir para tu fazeres o seguinte: que tu ligues o ponto médio de um dos lados do triângulo ao vértice oposto a ele. Então eu quero que tu traces um segmento de reta que vai ligar o ponto médio ao vértice oposto a ele. D -USA A FUNÇÃO SEGMENTO DE RETA PARA REALIZAR A TAREFA SOLICITADA. P – Beleza. Tu traçaste um segmento de reta que une o ponto médio de um lado ao vértice oposto a ele. Faz isso para os outros pontos médios. D -REPETE O PROCEDIMENTO ANTERIOR PARA OS OUTROS PONTOS MÉDIOS. P – Percebeste alguma coisa, ....? C – Que eles se cruzam, as linhas se cruzam.

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P – Mais do que isso... C – Faz para os outros triângulos, por favor. D -REPETE O PROCEDIMENTO PARA OS OUTROS TRIÂNGULOS. C – Vai ficar sempre a mesma figura. P – Tu observaste uma coisa interessante: estas três linhas sempre se cruzam... Mas elas se cruzam em qualquer lugar? C – Não, sempre no centro. Em todo triângulo elas vão se cruzar no mesmo lugar e vão ter a mesma forma. P – Mas elas se encontram no mesmo ponto ou em pontos diferentes? C – No mesmo ponto. P – Elas se encontram no mesmo ponto... C – Aqui... no meio (apontando para o ponto de encontro dos três segmentos). D -USOU A FUNÇÃO INTERSECÇÃO DE DOIS OBJETOS PARA LOCALIZAR O PONTO DE INTERSECÇÃO DOS TRÊS SEGMENTOS. P – Escolhe um desses triângulos, escolhe um dos vértices e movimenta esse vértice. E fica olhando aquele ponto onde os três segmentos de reta se encontraram. C – (Enquanto movimenta o vértice escolhido) Ele não sai do lugar. P – Ele não sai do lugar. O que tu quer dizer com “ele não sai do lugar”? C – Que ele não se move... P – Mas eu estou vendo ele se mover. C – Não, mas ele fica sempre no mesmo... no centro. C – Ó, ele se move, mas ó, ele não saiu do centro. Ele só tem que se adaptar ao movimento que eu faço (com o vértice), mas ele sempre fica ali no centro, nunca sai. P – Tu queres dizer que estas três retas (referindo-se aos segmentos de reta) sempre se encontram no mesmo ponto? C – Urum. P – Por exemplo: não existe a possibilidade de duas dessas retas se encontrarem num ponto e a terceira num outro ponto? C – Como assim? P – Por exemplo. C – Pelo que eu vi aqui, não. Elas sempre estão passando por aqui (aponta para o baricentro). P – Então este seria o ponto de encontro delas... C – Isso. D -ESCOLHE UM DOS TRIÂNGULOS. OS VÉRTICES SÃO OS PONTOS D, E, F. OS PONTOS MÉDIOS SÃO V (DO LADO DF), U (DO LADO DE) E W(DO LADO EF). H1 É O BARICENTRO DO TRIÂNGULO. P - ..., agora eu gostaria que tu observaste o segmento DW. Mostra ele ali pra mim. (ela mostrou o segmento). Olha pro H1. O H1 é o ponto médio desse segmento? C – Não. P – O H1 tá mais perto do W ou do D? C – Do W. P – Do W. O W é o que mesmo? C – W é um ponto médio. P – Ponto médio. Então o H1 tá mais perto do W. C – Tá. P – Agora olha para o segmento FU. O H1 é o ponto médio desse segmento? C – Não. P – Ele ta mais perto do U ou do F? C – Do U. P – E o que é o U? C – O U é um segmento. É o ponto médio, desculpa. P – Olha pro segmento VE e pro H1. Ele é ponto médio do VE? C – Não. P – Ele ta mais perto do V ou do E? C – Do V, eu acho. P – Tu achas ou tu estás certa disso? C – Tô certa porque essa linha (mostrando o segmento VH1) é menorzinha. Tá mais perto do ponto médio. P – Isso aconteceu C – Em todos.

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P – Em todos. Então a gente poderia dizer que este ponto está mais próximo C – Dos pontos médios P – Do que C – Os vértices... P – Do que os vértices. Beleza. P – Agora eu vou te fazer a seguinte pergunta: tu ta vendo ali o segmento FU. C – Sim. P – E tu já sabes que o H1 não é o ponto médio. C – Não. P – E já sabes que o H1 tá mais perto do U do que do F. C – Sim. P – Se a gente fosse estabelecer uma relação, a distância entre o U e o H1 é mais ou menos o que da distância entre o H1 e o F? C – Duas vezes menor. P – Quer dizer então que e eu pegar H1U caberia quantas vezes em H1F? C – Eu acho que duas vezes. P- Duas vezes... E o H1W e o H1D? C – Eu acho que duas vezes também. P – E o H1V e o H1E? C – Duas vezes também. Eu acho que é a metade, em todos. P – Tu achas queH1U é a metade de H1F? C – Aram. P – Vamos fazer o teste. Mede ali. D -UTILIZA A FUNÇÃO DISTÂNCIA PARA DETERMINAR O COMPRIMENTO DOS SEGMENTOS. PERCEBE A RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE OS COMPRIMENTOS. P – Então a tua idéia estava correta. P – Então esse ponto (H1) que a gente descobriu, ele tem uma característica: a distância dele , até o vértice é o que da distância dele até o ponto médio? C – É a metade. C – É o dobro... P – Beleza. Se eu disser que a distância entre D e W é x, a distância entre D e H1 vai ser o que? C – Vai ser a metade de x. P – Olha só, ..., a distância daqui (D) até aqui (W) é x. Este ponto (H1)djvide esta linha em quantas partes? C – Em duas partes. P – Tudo bem, mas tu sabes que essa parte aqui (DH1) é o que dessa (H1W)? C – É o dobro. P – Então se essa daqui (DH1) é o dobro daquela (H1W), então a gente poderia imaginar que este ponto (H1) divide esta linha (DW) em duas partes. Tudo é x. Mas esta aqui (DH1) é o dobro dessa (H1W). Quantos desse aqui (H1W) cabem na linha inteira (DW)? C – Dois... P – Não, na linha inteira. C – Quatro??? P – Esse aqui,..., (DH1) é o que deste aqui (H1W)? C – É o dobro. P – Esse (H1W) cabe quantas vezes aqui dentro (DH1)? C – Duas. P – Então ele (H1W)cabe duas vezes ele cabe aqui (DH1) e quantas vezes ele (H1W) cabe aqui (H1W)? C – Uma só. P – Então dentro dessa linha DW o H1W cabe quantas vezes? C – Três vezes. P – Se eu chamei isso tudo aqui de x (DW), esse pedacinho (H1W) aqui é o que? C – Pode ser um y. P – Pode. Mas esse pedacinho (H1W) cabe quantas vezes dentro do x (DW)? C – Três vezes. P – Se ele cabe três vezes, então que fração ele representa da linha toda. C – Três. P – Que fração, ele é um pedaço da linha toda. C – Um terço.

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P – Esse pedaço aqui (H1W) é um terço dessa linha (DW). E esse pedaço aqui (DH1)? C – Dois terços. P – Dois terços. Isso mesmo. Então, se isso tudo aqui é x (DW), isso aqui (H1W) vai ser C – Um terço de x. P – E isso aqui (H1D)? C – Dois terços de x.

O Quadro 6 – Roteiro - apresenta o desempenho de cada um dos

estudantes no processo investigativo. “OK” significa que o estudante em questão

conseguiu realizar a atividade solicitada sem maiores dificuldades. “Parcial” será

utilizado quando o estudante não conseguiu atingir o objetivo numa primeira

tentativa, sendo necessárias maiores intervenções por parte do professor para

que o mesmo fosse atingido.

QUADRO 6 - Roteiro

Investigação sobre o Baricentro de um triângulo

AÇÃO ESTUDANTE A ESTUDANTE B ESTUDANTE C

I Solicitar que o estudante construa cinco triângulos utilizando Geogebra

OK OK OK

II Solicitar que identifique o ponto médio de cada um dos lados dos triângulos construídos.

OK OK OK

III Solicitar que trace os segmentos de reta que unem um vértice ao ponto médio do lado oposto a ele;

OK OK OK

IV Determinar o comprimento de cada um dos segmentos traçados

OK OK OK

V O estudante deve perceber que os segmentos interceptam-se num ponto comum, em todos os triângulos construídos

OK OK OK

VI O estudante deve perceber que o ponto de intersecção dos segmentos está mais próximo do vértice do que do ponto médio do lado oposto;

OK OK OK

VII Determinar a distância entre o ponto de intersecção dos segmentos e o vértice e a distância entre o ponto de intersecção dos segmentos e o ponto médio do lado oposto;

OK OK OK

VIII O estudante deve perceber a relação entre os valores obtidos nos itens 4 e 7 e representar tal situação simbolicamente

OK OK PARCIAL

Fonte: Elaborado pelo autor.

Primeiramente é importante salientar que existem inúmeros tipos de

padrões, dos mais variados graus de dificuldade. Os padrões aqui trabalhados

não estão, certamente, entre os mais complexos. Mas, de qualquer forma,

dentro do contexto ao qual se aplica e dentro da visão de Matemática que daqui

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emerge, servem para análise. O Quadro 6 – Investigação sobre o baricentro de

um triângulo - mostra que não houve diferenças significativas entre os

estudantes na maior parte da atividade. Todos conseguiram realizar e perceber

os padrões estabelecidos.

As quatro primeiras ações são “operativas”, ou seja: bastava conhecer o

funcionamento do Geogebra para realizá-las. Entretanto, para executar com

sucesso a ação VIII, é imprescindível que os conceitos envolvidos nas ações

anteriores tenham sido bem construídos. Um fato que chamou a atenção do

pesquisador foi em relação à idéia de ponto médio, apresentada na ação III.

Inicialmente os estudantes A, B e C diziam saber o que era o ponto médio.

Entretanto, ao serem colocados a darem uma definição, não conseguiram

realizá-la de maneira apropriada, ou seja, eles passaram por um processo de

desestabilização que os fez perceber que o conceito que tinham acerca do

assunto era insuficiente para defini-lo com clareza. Segundo Vale et al. (2009),

padrões tem uma importância significativa na descoberta de conceitos,

propriedades e resolução de problemas em matemática.O software apresenta

respostas imediatas aos comandos dados pelos estudantes e isso permite ao

estudante confrontar suas idéias originais com aquilo que está presenciando.

Inicia-se, então, um processo de reflexão e de consciência do saber/não saber.

Se o resultado proveniente do software não foi o esperado, o estudante precisa

repensar seus conceitos, depurando-os. Valente (2002) afirma que os diferentes

níveis de abstração que ocorrem nestes dois momentos (reflexão e depuração)

permitem ao estudante construir novos conhecimentos.

Observe-se:

.

A - Ponto no meio de dois vértices... no triângulo. B - É o ponto que... é o ponto que fica no meio assim, entre os dois. C – Ponto médio é...a... o meio da reta.

Para que o conceito de ponto médio esteja “completo”, é fundamental que

se fale da distância entre pontos. Neste momento o Geogebra foi utilizado com o

intuito de auxiliar os estudantes na reconstrução de seus conceitos, servindo

como um instrumento de mediação entre o individuo e o conceito. A partir das

representações efetuadas através do software, os conceitos iniciais dos

estudantes sofreram modificações. Segundo Piaget é a partir de estruturas já

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101

construídas que o novo conhecimento é construído. Note-se o “novo conceito”

surge a partir do “velho”. Como já foi visto, Valente (2002) sugere que o

conhecimento se constrói sobre conhecimentos anteriores que serão superados.

Após as intervenções realizadas pelo professor, com apoio do software, o ponto

médio deixou de ser um apenas um ponto “no meio” para ser

B - A distância é a mesma. (referindo-se à distância entre o ponto médio e as extremidades do segmento considerado) C – Que o ponto médio vai ser a metade, vai ser o A e o Q vão ser iguais ao Q e o C.(mostrando que se Q é ponto médio de AC, então AQ = QC)

Outro momento fundamental da investigação relaciona-se à ação cinco. Após o

traçado das medianas os entrevistados perceberam que

B - Que esse ponto se mantém. Sempre tem um ponto de encontro.

e esta percepção pode ser, de forma intuitiva, é verdade, mas não por isso

menos válida, generalizada, a partir do momento em que o estudante, ao

modificar a posição de um dos vértices do triângulo, conseguiu perceber que

todas as mudanças ocorridas (medidas dos ângulos e medidas dos lados) não

afetavam o ponto de encontro dos segmentos:

P - Beleza, dá uma, faz um malabarismo aí, muda de lado... (referindo-se ao vértice escolhido para mover). Pode girar, fazer a volta que tu quiseres... O tamanho do triângulo está mudando, os lados estão mudando. Os ângulos internos estão mudando? B - Os ângulos mudam... P - Mas aquele ponto (referindo-se ao ponto de encontro dos segmentos)??? B - Não.

Na ação VI novamente o uso do software agilizou o processo de identificação de regularidades, conforme mostrado no diálogo abaixo: C – Tô certa porque essa linha (mostrando o segmento VH1) é menorzinha. Tá mais perto do ponto médio. P – Isso aconteceu... C – Em todos. P – Em todos. Então a gente poderia dizer que este ponto está mais próximo C – Dos pontos médios Novamente é importante perceber que a possibilidade de alterar a forma

da figura de forma dinâmica foi determinante para a percepção desta invariante.

E, portanto, o software continua, junto é claro com a mediação do professor, a

modificar a forma pela qual os estudantes percebem os padrões, tornando-a

mais rápida.

Na ação VIII os estudantes deveriam representar o padrão detectado por

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meio de uma representação simbólica. Não foram detectadas diferenças

significativas em relação aos estudantes A e B, mas C precisou de um tempo

maior para realizar a tarefa.

Os estudantes A e B conseguiram representar de forma simbólica o

padrão detectado, sem necessidade de uma maior interferência do professor. As

respostas dadas por eles indicam que realmente se apropriaram das idéias

trabalhadas:

P - Tá. E o baricentro, ele divide cada uma dessas linhas... A - Em duas partes... P - Duas partes. Iguais? A - Diferentes, mas numa proporção de dois para um... P - E ta mais próximo sempre de quem? A - Do ponto médio...

não por terem “cumprido a tarefa”, mas pela forma como conseguiram expor seu

raciocínio, revelando que compreenderam o que estavam fazendo.Porque,

segundo Piaget (1978):

[...] fazer é compreender em ação uma dada situação em grau suficiente para atingir os fins propostos, e compreender é conseguir dominar, em pensamento, as mesmas situações até poder resolver os problemas por elas levantadas, em relação ao porquê e ao como das ligações constatadas e, por outro lado, utilizadas na ação (PIAGET, 1978, p. 176).

O estudante C apresentou dificuldade para representar o padrão

simbolicamente. Isso pode ser percebido no tempo de duração da entrevista

(34min), cerca de 50% a mais do que o tempo necessário para que os outros

estudantes realizassem a mesma atividade e nas inúmeras tentativas que fez

até acertar a resposta. No contexto da pesquisa esta situação foi muito

importante, porque revela que a percepção de um padrão e a sua representação

simbólica não se relacionam na forma de ação-reação, ou seja, o fato de alguém

identificar um padrão não é garantia de que será capaz de representá-lo

algebricamente. E aqui se estabelece um possível dilema: o que é mais

importante, identificar um padrão ou representá-lo simbolicamente. Aqui a opção

do pesquisador é clara: a percepção é mais fundamental e representativa do

pensamento matemático. Só se pode representar algebricamente algo que já

existe na mente como um padrão.

Os entrevistados A, B e C apresentam, como já foi relatado, vivências

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103

completamente distintas em relação à Matemática. Mas, apesar disso, tiveram

desempenhos semelhantes, exceto pela última ação. Isso pode ser um indício

de que a identificação de padrões não esteja diretamente relacionada com o

desempenho escolar do estudante em Matemática, mas às interações que eles

estabelecem, mediados pelo professor e pelo instrumento (no caso o Geogebra)

com o objeto de estudo. A impressão deixada pelas entrevistas é a de que a

representação simbólica, esta sim, está, de algum modo ligada ao desempenho

escolar do estudante. O que ora se acaba de conjecturar é de extrema

importância porque se:

1. Matemática é a ciência dos padrões e,

2. A percepção de padrões não está ligada ao desempenho acadêmico

e,

3. A mediação é elemento fundamental nesse processo,

então a Matemática é acessível à quase totalidade dos seres humanos (não se

tem aqui condições de avaliar o impacto desta afirmação sobre indivíduos que

sejam portadores de necessidades especiais), conforme já afirmado por Devlin

(2004, p.294): “A tese que defendo nesse livro é que todo mundo tem a

capacidade básica – todos nós temos o “gene da matemática”.

3.2.3 3ª ETAPA

A terceira etapa da pesquisa tinha como relaciona-se com o objetivo

“avaliar o impacto de uma intervenção com uso do Geogebra na competência”

de perceber e representar simbolicamente padrões.

Nesta etapa da pesquisa foi aplicado um pós-teste aos participantes da

pesquisa (grupo de teste e grupo de controle). Este pós-teste foi concebido para

coletar evidências empíricas de que aqueles estudantes que se submeteram à

intervenção realizada desenvolveram uma habilidade de perceber padrões e

representá-los simbolicamente maior do que aqueles que não se submeteram a

tal intervenção.

Amostra 1: Grupo de Controle – 101 estudantes que não participaram da

sequência didática realizada.

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Amostra 2: Grupo Experimental – 36 estudantes que participaram da

sequência didática realizada;

Foi aplicado o mesmo instrumento aos integrantes destas duas amostras.

O instrumento era composto por questões relacionadas à “habilidade de

perceber padrões (numéricos, geométricos) e perceber e representar

simbolicamente padrões em trigonometria.” As questões, em número de

dezessete, eram objetivas, com cinco alternativas em cada uma.

O Gráfico 14 - Participação no pós-teste - indica o número de estudantes

que se esperava participassem do pós-teste e os que efetivamente participaram:

GRÁFICO 14 - Participação no pós-teste

Fonte: Elaborado pelo autor.

Percebe-se que aproximadamente 83,2% dos integrantes do grupo de

controle participaram do pós-teste, enquanto que o percentual dos integrantes

do grupo experimental ficou em torno de 52,8%. Duas observações são

importantes para que se avalie tais números: primeiro, o pós-teste foi opcional,

ou seja, coube ao indivíduo a decisão de participar ou não da atividade. Como

se percebe, alguns optaram por não fazê-lo (notar a diferença entre o número

esperado e o número observado); segundo, no grupo experimental não houve

ingresso de integrantes, uma vez que este grupo era constituído por estudantes

101

36

84

19

0

20

40

60

80

100

120

GC GE

Nº Esperado

Nº Observado

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105

que, em 2013, estavam na turma que participou da sequência didática. E um

número considerável desses estudantes saiu da escola no final do ano de 2013.

Infelizmente, porém, após a realização do pós-teste, descobriu-se que os

dados oriundos de uma das turmas que compunham o grupo de controle

poderiam estavam corrompidos, uma vez que não foi dada a devida atenção

pelo aplicador ao caráter individual da atividade. Para garantir que os resultados

representassem o mais fielmente possível a realidade, todos os dados relativos

a esta turma foram excluídos da análise. Ao todo, 32 avaliações do grupo de

controle foram descartadas e o número de integrantes do grupo de controle

considerado para a analise caiu de 84 para 52, representando, portanto, pouco

mais de 50% do público esperado.

Para responder a pergunta de pesquisa foi definida a seguinte hipótese: a

média do escore no Grupo Experimental será maior que a média do escore do

Grupo de Controle, ou seja,

O Gráfico 15 - Médias no pós teste apresenta a média dos estudantes,

ressaltando que o grupo de controle é constituído por estudantes das turmas A,

B e C e o grupo experimental por estudantes da turma D.

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GRÁFICO 15 - Médias no pós teste

Fonte: Elaborado pelo autor.

Inicialmente observou-se que as médias do grupo de controle ficaram

maiores do que as médias do grupo experimental. Tendo em vista o problema

ocorrido, as médias sofreram alterações, e assumiram a distribuição mostrada

no Gráfico 16 - Médias consideradas do pós-teste:

7,2

7,6

7

7,3

6,7

6,8

6,9

7

7,1

7,2

7,3

7,4

7,5

7,6

7,7

Questões sobre Trigonometria Questões gerais

GC

GE

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107

GRÁFICO 16 - Médias consideradas do pós-teste

Fonte: Elaborado pelo autor.

Observa-se que as médias do grupo experimental, após a exclusão dos

dados corrompidos, tornaram-se maiores do que as médias do grupo de

controle. Entretanto, essa diferença não foi significativa, conforme foi verificado

pelos testes realizados. Com o teste F buscou-se identificar se havia igualdade

de variâncias. Foram realizados os testes F, T e Z. Com o teste F buscou-se

identificarse havia igualdade de variâncias. O teste T serviu para testar a

hipótese de diferença entre os escores médios dos grupos com um grau de

confiança determinado. Já o teste Z foi utilizado para comparação de

proporções.

Todos os testes realizados mostraram não existir diferenças

significativas entre os resultados dos dois grupos

Portanto, a hipótese de que a média do grupo experimental seria maior do

que a média do grupo de controle não foi verificada.

É fundamental ressaltar que o pós-teste foi realizado em setembro de

2014, quase um ano após a realização da intervenção didática junto aos

indivíduos do grupo experimental, fato este que pode ter afetado os resultados.

Serão apresentados, agora, as descobertas realizadas a partir dos

resultados da prova (pós-teste). Todos os cálculos foram realizados no Excell.

A Tabela10 – Estatística das amostras -fornece elementos estatísticos

6,4

7,1

6,7

7,2

6

6,2

6,4

6,6

6,8

7

7,2

7,4

Questões sobre Trigonometria Questões gerais

GC

GE

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108

importantes relativos às as duas amostras utilizadas no experimento. Atenção

especial à media, mediana e ao desvio-padrão, os quais serão utilizados

posteriormente para verificar possíveis alterações oriundas da aplicação da

intervenção didática.

Tabela 10 - Estatística das amostras

GC

GE Média 7,082692308 Média 7,166666667

Erro padrão 0,198271588 Erro padrão 0,39092889

Mediana 7,2 Mediana 7,2

Modo 7,2 Modo 8,9

Desvio padrão 1,429756753 Desvio padrão 1,791461229

Variância da amostra 2,044204374 Variância da amostra 3,209333333

Curtose 0,207318085 Curtose 0,882266377

Assimetria -0,363295708 Assimetria -1,089495941

Intervalo 6,7 Intervalo 6,6

Mínimo 3,3 Mínimo 2,8

Máximo 10 Máximo 9,4

Soma 368,3 Soma 150,5

Contagem 52 Contagem 21

Maior(1) 10 Maior(1) 9,4

Menor(1) 3,3 Menor(1) 2,8

Nível de confiança(99,0%) 0,530519694

Nível de confiança(99,0%) 1,112325492

Fonte: Elaborada pelo autor.

A utilização do teste F permitiu identificar a igualdade das variâncias entre

as amostras ( ) e, assim sendo, indicou o tipo de teste T que seria

adequado para a comparação entre as médias (teste T para duas amostras

independentes com variâncias iguais), conforme apresentado na Tabela 11 –

Teste F -:

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Tabela 11 - Teste F

Teste-F: duas amostras para variâncias

GC GE

Média 7,082692308 7,166666667

Variância 2,044204374 3,209333333

Observações 52 21

Gl 51 20

F 0,636956078 P(F<=f) uni-caudal 0,098510805 F crítico uni-caudal 0,561842225 Fonte: Elaborada pelo autor.

Utilizou-se o teste T do Excell para verificar a hipótese experimental. O

resultado encontrado está destacado na Tabela 12 – Teste T - abaixo:

Tabela 12 - Teste T

Teste-t: duas amostras presumindo variâncias equivalentes

GC GE

Média 7,082692308 7,166666667

Variância 2,044204374 3,209333333

Observações 52 21

Variância agrupada 2,372409715 Hipótese da diferença de média 0 gl 71 Stat t -0,21086366 P(T<=t) uni-caudal 0,416798846 t crítico uni-caudal 1,666599659 P(T<=t) bi-caudal 0,833597692 t crítico bi-caudal 1,993943341

Fonte: Elaborada pelo autor.

O valor calculado foi comparado com um valor crítico tabelado que

depende do grau de confiança utilizado. Neste caso o valor encontrado é menor

que o valor crítico tabelado para o grau de confiança estabelecido. Diante deste

resultado não foi possível rejeitar a hipótese nula, ou seja, não conseguiu-se

evidências estatísticas de que a média do grupo experimental fosse maior do

que a media do grupo de controle.

Embora não tenha sido validada a hipótese alternativa, houve algo de

positivo e que merece atenção: a média do grupo experimental também não é

inferior à média do grupo de controle, mesmo o pós-teste ter acontecido quase

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110

um ano após a intervenção didática. Este fato pode ser um indício de que as

aprendizagens construídas ao longo da intervenção didática foram reais e

conservaram-se ao longo do tempo.

O Gráfico 17 – Comparação de acertos por questão – GC x GE -

apresenta um comparativo, em termos percentuais, de acertos nas questões do

pós-teste pelos sujeitos do grupo de controle e do grupo experimental:

GRÁFICO 17 - Comparação de acertos por questão – GC x GE

Fonte: Elaborado pelo autor

Na primeira parte da prova (padrões em geral) o grupo de controle obteve

melhores resultados em sete das onze questões, um percentual de

aproximadamente 63,3%; já o grupo experimento apresentou melhores

resultados em quatro das onze questões, algo próximo de 36,4%. Na segunda

parte da prova (padrões em trigonometria) o grupo de controle apresentou

melhor resultado em uma das sete questões, aproximadamente 14,3%. Por sua

vez o grupo experimental destacou-se, obtendo melhor resultado em seis das

sete questões propostas, um percentual de aproximadamente 85,7%. Este

número é significativo se for utilizado como base para uma analise qualitativa: o

estudo das razões trigonométricas tendo como suporte o Geogebra produz

aprendizagens, no mínimo, similares àquelas promovidas pelas tecnologias

“tradicionais”.

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

GC

GE

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111

Na Tabela 13 – Teste Z (questões do pós-teste) -, tem-se os resultados

do Teste Z para a diferença de proporções:

Tabela 13 - Teste Z (questões do pós-teste)

QUESTÃO Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9

GC 0,92 0,81 0,69 0,69 0,98 0,62 0,88 0,5 0,79

GE 1 0,86 0,67 0,62 0,81 0,86 0,81 0,62 0,67

Z 1,31 -0,5 0,21 0,6 *2,62 -2,01 0,84 -0,9 1,09

QUESTÃO Q10 Q11 Q12 Q13 Q14 Q15 Q16 Q17 Q18

GC 0,44 0,96 0,92 0,67 0,62 0,62 0,77 0,5 0,37

GE 0,43 0,86 0,95 0,57 0,62 0,71 0,81 0,52 0,52

Z 0,11 1,6 -0,45 0,82 -0,03 -0,8 -0,38 -0,18 -1,25

Fonte: Elaborada pelo autor.

O teste Z foi aplicado às questões com o intuito de verificar quais

questões apresentaram melhoras na proporção de acertos, lembrando que as

questões de 1 a 11 referem-se a padrões gerais, enquanto que as questões de

12 a 18 estão relacionadas com padrões em trigonometria.A questão 05

apresentou melhoria com grau de confiança de 95%. Esta questão refere-se à

percepção de um padrão numérico em uma dada sequência. Para as demais

questões o Teste Z para a diferença de proporções não indicou melhora na

proporção.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista o objetivo geral desta pesquisa - avaliar de que forma o

uso do Geogebra pode contribuir para fazer com que os estudantes aprendam

Matemática ao desenvolver a habilidade de perceber padrões – esperava-se que

os resultados apontassem para:

1 – uma concepção tradicional do que é a Matemática, por parte dos

estudantes, e que acaba comprometendo a aprendizagem;

2 – A validação da hipótese, mostrando que o uso do Geogebra auxilia no

desenvolvimento da habilidade de perceber padrões;

É fundamental retomar aqui os objetivos específicos desta pesquisa, para

que se possa avaliar o que ora foi feito com base no alcance ou não desses

objetivos. A discussão que segue será feita em função do processo exploratório

que buscou dar conta de cada um deles.

O primeiro objetivo da pesquisa era o de conhecer as concepções dos

estudantes acerca do que seja a Matemática. Os resultados apontaram para o

que há muito já se sabe, quer seja, a idéia de que a Matemática é a “ciência das

contas”. Pudera. Grande parte do tempo que o estudante passa diante da

Matemática é destinado para este fim. A escola continua a reforçar esta postura,

principalmente porque os professores, em sua maioria, acreditam que realmente

a Matemática é isto mesmo e, intencionalmente ou não, acabam perpetuando

suas crenças e convicções em seus alunos. Neste contexto o professor deveria

tornar-se um animador da inteligência coletiva dos grupos que estão ao seu encargo. Sua atividade será centrada no acompanhamento e na gestão das aprendizagens: o incitamento à trocados saberes, a mediação relacional e simbólica, a pilotagem personalizada dos percursos de aprendizagem, etc. (LÉVY, 1999 p.171)

Mas, ao não agir assim, a proposta da pesquisa que relaciona de forma

indissociável a construção do conhecimento matemático com a habilidade de

perceber padrões, fica como a semente jogada em terra seca, não vinga, não

produz frutos. Infelizmente ainda tem-se, na maioria das escolas, um trabalho

algebrista, como mencionado por Felicetti e Giraffa (2012, p.58):

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Mesmo os bons alunos em Matemática tem uma visão muito limitada da mesma. Manipulam corretamente a Aritmética, a Álgebra, mas apresentam dificuldades em relacioná-las com situações cotidianas, e sentem limitações nas atividades que requerem o pensar. Isto nos faz perceber que a Matemática vem sendo trabalhada de forma muito descontextualizada, desarticulada do pensar, do fazer e compreender, mas sim de forma decorada, instrucionista e, principalmente, algebrista. (FELICETTI eGIRAFFA,2012, p..58)

É notório o valor dado pelos estudantes ao cálculo escrito e à resolução

tradicional de problemas. Qualquer pensamento diferente já os tira da zona de

conforto e os incomoda. Mais intrigante, ainda, é a dificuldade que eles tem de

aceitar o uso das novas tecnologias nas aulas de Matemática. Em aulas com os

estudantes do terceiro ano do ensino médio, resoluções criativas de muitos

problemas propostos no livro didático e realizadas com o auxílio do Geogebra

são desprezadas, colocados em um nível inferior. Quantas vezes ouvi os alunos

se manifestarem perguntando se “não iriam fazer do jeito certo”, referindo-se ao

uso do papel e do lápis. O principal argumento ,mesmo nos anos finais do

ensino fundamental, é o de que “no vestibular não é permitido o uso desses

recursos”. Inove-se com um barulho desses...

Apesar deste panorama difícil a pesquisa acena com uma nova forma de

se ver e se fazer Matemática, a partir da colaboração com o outro. Saliente-se

que uma parcela dos estudantes citou como experiência positiva em Matemática

a possibilidade de ajudar/ou ser ajudado, mediante a tutoria. depoimentos são

significativos e revelam que embora o jogo esteja difícil, ele ainda não foi

perdido. E vale a pena investir em novas formas de se trabalhar a Matemática na

escola, sem que ela esteja centrada no professore em processos que não

reconheçam o valor da diversidade e da diferença como forma de construção de

conhecimento, inclusive o matemático.

Um dos momentos mais importantes desta pesquisa foi a intervenção

didática realizada com os estudantes do grupo experimental, no final de 2013,

tendo o Geogebra como elemento fundamental. Esta intervenção está

diretamente ligada com o objetivo de analisar o processo de identificação de

padrões, em trigonometria, por parte dos estudantes. Foi uma experiência muito

significativa porque foi possível, pelo menos por algumas semanas, fazer um

novo tipo de Matemática, criadora, investigativa, democrática e, ainda sim,

Matemática. O uso do Geogebra mostrou-se de um valor inestimável,

principalmente porque permitiu que muitos estudantes tivessem uma experiência

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diferente com a Matemática e com a construção do conhecimento. Estudantes

que sempre viveram escondidos atrás do medo, da baixa auto-estima, do

fracasso conseguiram, a seu tempo e modo, aprender Matemática. As

entrevistas realizadas trouxeram à tona elementos importantes na construção do

conhecimento, da construção de conceitos, das aproximações sucessivas para

reconstruir significados. Nessa perspectiva, o Geogebra assume o papel de

instrumento, tal qual sugerido por Vygotsky. Segundo ele entende-se por

mediação como sendo um processo pelo qual a ação do indivíduo sobre um

determinado objeto (a Matemática) é mediada por um determinado elemento (o

Geogebra). Como o próprio termo sugere, mediar é estar “no meio”, é “estar

entre” e o Geogebra desempenha, em simbiose com o professor, este papel.

Na intervenção ficou claro para o pesquisador que a percepção de

padrões, do ponto de vista do “pensar matematicamente”, é muito mais

significativo do que a mera aplicação de algoritmos, particularmente com o uso

do Geogebra, por permitir a exploração, a investigação de novas possibilidades.

Convém lembrar Ferreiro (2000, p.31) quando afirma que “nenhuma prática

pedagógica é neutra. Todas estão apoiadas em certo modo de conceber o

processo de aprendizagem e o objeto dessa aprendizagem”.

Urge salientar que, após a intervenção didática com uso do Geogebra, os

estudantes foram colocados diante dos exercícios propostos pelo livro-didático,

muitos dos quais, digamos, “tradicionais”. E, diga-se, não encontraram

dificuldades para resolvê-los, mesmo não tendo sido treinados para fazê-los. Os

resultados obtidos em avaliações internas (provas) não indicavam nenhum tipo

de inferioridade em relação aos estudantes que haviam participado de aulas

“tradicionais” (sem uso do Geogebra). Destacam-se, ainda, os seguintes fatos

associados à intervenção didática:

Participação ativa dos estudantes em todos os momentos;

O professor (mediador) não precisou chamar atenção dos

estudantes por estarem fazendo outras coisas, desinteressados;

Os constantes pedidos para sair de sala (particularmente para ir ao

banheiro) foram praticamente zerados;

Houve intensa colaboração entre os estudantes, uma vez que a

conversa, o diálogo, o levantar e ajudar alguém no outro lado da

sala não seriam vistos como “ato de indisciplina”;

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115

Muitos estudantes “baixaram” o software em seus computadores

de uso pessoal para “brincar” com o Geogebra;

Em relação ao terceiro objetivo específico, avaliar o impacto de uma

intervenção com uso do Geogebra na habilidade de perceber e representar

simbolicamente padrões, os dados obtidos não permitiram concluir que a média

dos estudantes do grupo experimental, num pós-teste (prova categorizada),

seria maior do que a média dos estudantes do grupo de controle. Os dados

indicam uma equivalência entre essas médias. Neste ponto é imprescindível

uma análise sobre o caminho traçado pelo estudantes do grupo de experimental.

Durante o ano de 2013 esse grupo de estudantes desenvolveu algumas

atividades utilizando o Geogebra e com ênfase na percepção de padrões:

quando estudaram o Teorema de Tales e no estudo dos polígonos regulares.

Depois no estudo da trigonometria (intervenção didática que serviu como ponto

de partida para esta pesquisa). Depois, durante o ano de 2014, não utilizaram

mais o Geogebra com a finalidade de perceber padrões, mas de uma forma

meramente substitutiva (como para construir o gráfico de uma função do 2º grau,

por exemplo.).

Acredito que educação seja processo. E não serão ações pontuais que

consolidarão mudanças significativas no processo de construção de

conhecimentos matemáticos com o uso do Geogebra. É fundamental que o uso

do software seja uma “política escolar”, ou seja, deve estar presente no dia-a-dia

do estudante. Só assim as novas tecnologias, e particularmente o software

utilizado na pesquisa, passarão efetivamente a serem vistas como instrumentos

e aprendizagem.

Diante da realidade em que se encontra a educação brasileira,

particularmente a educação matemática, é fundamental que se investigue e se

busquem alternativas para tornar os processos de aprender e ensinar

matemática mais eficientes e eficazes. E, por trazer à tona a discussão acerca

do potencial do Geogebra neste processo, esta pesquisa se justifica e se faz

relevante.

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122

APÊNDICE1

Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura – ProPPEC Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE

Curso de Mestrado Acadêmico

QUESTIONÁRIO

Identifique seu número e sua turma em 2014: Nº___ Turma: 1º [A][B][C][D]

1) Para você, o que é Matemática? 2) Descreva uma experiência positiva que você já teve com a Matemática em sua vida

3) Descreva uma experiência negativa que você já teve com a Matemática em sua vida? Qual das frases abaixo representa melhor sua opinião em relação à Matemática? [Assinale apenas uma]

Uma matéria que ensina a calcular as coisas

Uma ferramenta que me permite compreender o mundo

Em 2013você estudava em qual turma? 9º A 9º B 9º C 9º D

Muito obrigado por sua participação!

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA

Título Uma experiência de uso das TIC´s na descoberta de padrões em trigonometria Pesquisador/Orientador Valdir J. Corrêa Júnior – [email protected] Professor Orientador - Doutor André Luis Alice Raabe Objetivo Identificar as percepções e concepções que os estudantes têm sobre Matemática, através da aplicação de um questionário, que será aplicado aos estudantesde 07/07/2014 a 11/07/2014, no período matutino. O tempo previsto para se responder ao questionário é de quinze minutos. Importante Os dados serão tratados de modo a garantir absoluto sigilo em relação às informações prestadas e seguindo a ética acadêmica da pesquisa. Será reservado o direito de anonimato, ou seja, o estudante poderá responder às questões apresentadas sem precisar identificar-se.

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APÊNDICE 2

Roteiro para análise – Método Clínico

Investigação sobre o Baricentro de um triângulo

1- solicitar que o estudante construa cinco triângulos utilizando Geogebra;

2- solicitar que identifique o ponto médio de cada um dos lados dos triângulos

construídos.

3- solicitar que trace os segmentos de reta que unem um vértice ao ponto médio

do lado oposto a ele;

4- determinar o comprimento de cada um dos segmentos traçados;

5 - O estudante deve perceber que os segmentos interceptam-se num ponto

comum, em todos os triângulos construídos;

6- O estudante deve perceber que o ponto de intersecção dos segmentos está

mais próximo do vértice do que do ponto médio do lado oposto;

7- determinar a distância entre o ponto de intersecção dos segmentos e o vértice

e a distância entre o ponto de intersecção dos segmentos e o ponto médio do

lado oposto;

8 - O estudante deve perceber a relação entre os valores obtidos nos itens 4 e 7

e representar tal situação simbolicamente;

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APÊNDICE 3

PÓS-TESTE

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ANEXOS

Anexos disponíveis nos endereços eletrônicos listados abaixo.

Anexo A:

http://download.inep.gov.br/acoes_internacionais/pisa/marcos_referenciais/2013/

matriz_avaliacao_matematica.pdf

Anexo B:

http://download.inep.gov.br/educacao_basica/prova_brasil_saeb/escala/2011/esc

ala_desempenho_matematica_medio.pdf

Anexo C:

http://download.inep.gov.br/educacao_basica/prova_brasil_saeb/escala/2011/esc

ala_desempenho_matematica_medio.pdf