Uma Fisiologia da Paisagem: Locomoção, GIS e Sites ...

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23 Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 23-37, 2007. Uma Fisiologia da Paisagem: Locomoção, GIS e Sites Catchment. Uma Nova Perspectiva. José Roberto Pellini* PELLINI, J.R. Uma Fisiologia da Paisagem: Locomoção, GIS e Sites Catchment. Uma Nova Perspectiva. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 23-37, 2007. Resumo: Locomoção e distância são elementos essenciais da vida humana. Mas a despeito de sua importância estes conceitos têm sido tratados de maneira simplista pela arqueologia, principalmente no que se refere às Analises de Site Catchment. Os modelos mais tradicionais de Site Catchment tratam o espaço como um elemento cartesiano neutro dissociado de seu conteúdo social. Nos últimos anos o uso do GIS tem permitido a determinação de Site Catchments de maneira mais realista, principalmente ao considerar fatores fisiológicos e elementos de percepção na modelagem dos territórios de exploração. A proposta deste artigo é apresentar um exemplo do uso destes novos modelos e testar sua validade como método de interpretação. Palavras-chave: Site Catchment – Locomoção – GIS. intrincados elementos do espaço, mas estes avanços não estão livres de deficiências. A principal delas é a pouca importância que se tem dado a processos de percepção, movi- mento e interação. Movimento é um aspecto central na história humana. É através do movimento que os indivíduos concebem e alteram sua percep- ção do meio. É através do movimento que os indivíduos criam um senso de espacialidade que não ocorre em um espaço cartesiano vazio. O meio existe somente em relação aos observa- dores e se pensarmos que estes observadores são móveis, sua percepção e seu conhecimento sobre o meio são experimentados através do movimento. Movimento e locomoção determi- nam a acessibilidade a recursos, produtos e serviços. Mobilidade estabelece interação com locais que apresentam oportunidades e (*) Museu de Arqueologia e Etnologia. Pós-doutorado. [email protected] Introdução nquanto a chamada arqueologia da paisagem tem reconhecido a abrangência e a complexidade dos processos que ocorrem dentro da paisagem através da incorporação de elementos originados em campos como história social, sociologia e fenomenologia, estas incorporações não têm tido seu reflexo no desenvolvimento de novas metodologias de análise. Segundo Llobera (2000), indubitavel-mente as aborda- gens da arqueologia da paisagem incorporam importantes avanços teóricos que têm deixado os arqueólogos sensíveis aos E

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Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 23-37, 2007.

Uma Fisiologia da Paisagem: Locomoção, GIS e Sites Catchment.Uma Nova Perspectiva.

José Roberto Pellini*

PELLINI, J.R. Uma Fisiologia da Paisagem: Locomoção, GIS e Sites Catchment.Uma Nova Perspectiva. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo,17: 23-37, 2007.

Resumo: Locomoção e distância são elementos essenciais da vida humana.Mas a despeito de sua importância estes conceitos têm sido tratados demaneira simplista pela arqueologia, principalmente no que se refere às Analisesde Site Catchment. Os modelos mais tradicionais de Site Catchment tratam oespaço como um elemento cartesiano neutro dissociado de seu conteúdosocial. Nos últimos anos o uso do GIS tem permitido a determinação de SiteCatchments de maneira mais realista, principalmente ao considerar fatoresfisiológicos e elementos de percepção na modelagem dos territórios deexploração. A proposta deste artigo é apresentar um exemplo do uso destesnovos modelos e testar sua validade como método de interpretação.

Palavras-chave: Site Catchment – Locomoção – GIS.

intrincados elementos do espaço, mas estesavanços não estão livres de deficiências. Aprincipal delas é a pouca importância que setem dado a processos de percepção, movi-mento e interação.

Movimento é um aspecto central nahistória humana. É através do movimento queos indivíduos concebem e alteram sua percep-ção do meio. É através do movimento que osindivíduos criam um senso de espacialidadeque não ocorre em um espaço cartesiano vazio.O meio existe somente em relação aos observa-dores e se pensarmos que estes observadoressão móveis, sua percepção e seu conhecimentosobre o meio são experimentados através domovimento. Movimento e locomoção determi-nam a acessibilidade a recursos, produtos eserviços. Mobilidade estabelece interação comlocais que apresentam oportunidades e

(*) Museu de Arqueologia e Etnologia. Pó[email protected]

Introdução

nquanto a chamada arqueologia dapaisagem tem reconhecido a

abrangência e a complexidade dos processosque ocorrem dentro da paisagem através daincorporação de elementos originados emcampos como história social, sociologia efenomenologia, estas incorporações não têmtido seu reflexo no desenvolvimento denovas metodologias de análise. SegundoLlobera (2000), indubitavel-mente as aborda-gens da arqueologia da paisagem incorporamimportantes avanços teóricos que têmdeixado os arqueólogos sensíveis aos

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vantagens econômicas ou socioculturais. Mas adespeito de sua importância, movimento temsido tratado de forma simplista pela arqueolo-gia. Parte do problema não está associada àdefinição de movimento em si, mas de espaço edistância.

Os modelos tradicionais de site catchment,por exemplo, tentam impor uma geometriacartesiana, abstrata e atemporal sobre umarealidade que é fundamentalmente reflexiva,subjetiva e contingente. O espaço nesses casosé visto como uma entidade puramente física,separada do tempo e expressa como um valorabsoluto. Sabemos que o espaço não é narealidade um conceito cartesiano neutro, mas ésocialmente construído.

A idéia central das análises de site catchmentpropostas por Vita-Finzi e Higgs (1970) é queo custo-benefício do investimento energético edo retorno econômico decai exponencialmenteconforme aumenta a distância em relação aocentro do assentamento. Quando o limiteeconômico ou energético é alcançado, o custo-benefício de exploração do território se tornanegativo. A premissa básica é que quanto maislonge do sítio as fontes de recursos estão,maiores são os custos econômicos ou energéticospara explorá-los. Normalmente há um pontoem que o benefício econômico se iguala aocusto de exploração. Sendo assim, um limiteeconômico ou energético pode ser definidoneste ponto para determinar o território deexploração do sítio. Como ressaltou Gaffney eStancic (1991), estudos etnográficos demons-traram que este território limite varia entresociedades mais móveis, como a dos caçadores-coletores, e entre sociedades mais sedentárias,como as dos horticultores. Limites de 10 e 5km são sugeridos para estas sociedades respec-tivamente

Tradicionalmente, o primeiro passo nasanálises de site catchment é a determinação deum território (catchment) associado a um dadoponto focal (sítio), através da utilização dealgum pressuposto geográfico. Os dois mode-los mais utilizados para a determinação de umterritório de exploração são os modelos que sebaseiam na identificação de limites naturais ouem distância.

No primeiro modelo, as zonas territoriaissão baseadas em regiões naturais como corposde água, vales e montanhas. Como os catchmentsrepresentam delimitações de caráter social,político e econômico, tal modelo falha natentativa de recriar os territórios de exploração,pois leva em conta apenas a fisiografia local,deixando de fora aspectos culturais e mesmofisiológicos.

Já nos modelos que utilizam distânciacomo meio de determinar a forma e a extensãodos catchments, um raio predefinido dedistância é determinado ao redor do sítio. Oresultado assim seria um catchment definido apartir de um raio variante em quilômetros oumetros ao redor do sítio. O raio de distânciapoderia ser escolhido a partir de observaçõesempíricas ou baseado em dados etnográficos.O grande problema relacionado a este tipo demetodologia é a maneira simplista na qual apaisagem é retratada. Na paisagem real, o uso eo controle socioeconômico de um dadoterritório não terminam abruptamente confor-me se cruza o limite de um território. Em vezdisso ele torna-se menor conforme aumenta adistância para o centro do território. Empregarum raio de distância fixo para definir umcatchment é o equivalente a se deslocar emuma superfície plana e regular, onde o custoassociado à locomoção é o mesmo em todas asdireções, ou seja, isotrópico.1 Neste contexto,o catchment é definido apenas pela máximadistância horizontal a partir do centro doassentamento. Distância aqui é vista em termoseuclidianos, não levando em conta o contextosociocultural dos sistemas analisados. Oespaço é visto como um produto cartesianoque é abstraído de seu contexto. Comoapontou Llobera (1996), não há observadores,não há perspectiva, não há história.

Segundo Morril e Pitts (1967), se nósanalisarmos a locomoção de certo indivíduo,podemos determinar de antemão que somente

(1) Análises isotrópicas de custo são utilizadas onde o custode retorno à base não está sendo calculado ou em casos emque a direção do movimento através de uma dada superfíciede fricção não afeta o custo da movimentação.

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uma viagem é possível em um momentoespecífico de tempo. Neste momento o indiví-duo é confrontado com um grande número depossíveis destinos, direções e distância, masevidentemente apenas uma escolha pode serfeita. Mesmo que seu movimento não possa serdeterminado com precisão, sabemos que odestino escolhido é influenciado por forçassistemáticas. Para os autores, os movimentosde um indivíduo são governados por umarelação entre informação e distância. Ainformação consiste no conhecimento que umindivíduo tem do seu mundo, e seu campo deinformação é a distribuição espacial desteconhecimento.

Como sugeriu Hagerstrand (1962), aprobabilidade de um indivíduo se mover deum local para o outro precisa ser computadacomo uma função das características doindivíduo (idade, raça, sexo, vida urbana ourural etc.), das características da área estudada(formas de relevo, paisagens, formaçõesurbanas, contexto socioeconômico), dascaracterísticas dos possíveis destinos, bemcomo das diferenças entre eles.

Embora muitos arqueólogos venhamutilizando distância linear reta entre pontos deinteresse como fator de análise dos padrões delocomoção e para a determinação do sitecatchment, sabemos que no mundo real alocalização de fontes de recursos ou a área deexploração territorial não é limitada peladistância linear direta para algum lugar. Pelocontrário, é o custo de alcançar um dadoponto na paisagem que condiciona o movi-mento e a locomoção, ou seja, o custo de sealcançar um dado ponto ou recurso é umafunção do esforço requerido para cruzar asdistâncias entre os dois pontos. Para Whitleyand Hicks (2003), a localização de assenta-mentos ou a exploração de territórios não élimitada pela distância linear para algumponto específico, isto porque o custo dealcançar um dado local ou recurso é umafunção do esforço requerido para se transpora distância entre o ponto inicial e o pontofinal. Este esforço é chamado custo de distân-cia. Determinar um site catchment a partir doscustos envolvidos nos processos de locomoção

e deslocamento representa um meio maisrealístico de definir o território associado aum dado assentamento.

Índices fisiológicos de deslocamento elocomoção

A grande maioria dos softwares de GISoferece a possibilidade de gerar superfícies decusto. Estas superfícies de custo podem serconsideradas como um produto baseado emproximidades contínuas que levam em contanão somente a proximidade, como também ocaráter do terreno sobre o qual as proximida-des são calculadas. Superfície de custo, assimcomo distância, é um modelo matemático cujosignificado arqueológico não é fixado, cabendoao arqueólogo definir os parâmetros deanálise.

Uma superfície de custo é um modelocomputadorizado da paisagem no qual paracada parte da superfície é assinalado um valor,ou custo, que representa o esforço ou energiarequerida para alcançar certo ponto a partir deum ponto predeterminado. O custo total édeterminado por um logaritmo que incorporanão só as distâncias em relação ao ponto final,mas também os custos adicionais relacionadosa aspectos particulares da paisagem. Estescustos adicionais são determinados pelopesquisador e são derivados de sistemas declassificação nos quais para cada característicada paisagem é determinado certo valor decusto.

A chave para um modelo de custo querealmente represente o custo envolvido nodeslocamento dos indivíduos dentro dapaisagem é a escolha dos valores de fricçãomais apropriados.

O custo de locomoção tem sido alvofreqüente em trabalhos de arqueologia(Duggan e Haisman 1992; Limp 1990; Beck eTaylor 2003; Balstrom 2002). Nestes traba-lhos, a forma mais simples de superfície defricção é a declividade do terreno. Em teoria, ocusto de deslocamento associado a umaparcela do terreno aumenta conforme aumentaa declividade.

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O ponto a ser considerado quando utiliza-mos modelos de inclinação para a criação desuperfícies de custo é que a inclinação nãoexerce a mesma força uniformemente em todasas direções. Isto porque quando o movimento éperpendicular à inclinação o esforço exercido émenor. Neste sentido, o uso de modelos decusto de superfície anisotrópicos é mais eficien-te, pois leva em conta tanto a magnitude quantoa direção do movimento entre o ponto A e B, oque produz uma superfície de custo direcionalna qual a direção é calculada contra a suavidadee o aspecto da inclinação.

A fim de contornar as deficiências dosmodelos de catchment que utilizam declividadecomo aspecto de determinação de custo,modelos mais recentes têm utilizado tempo, enão distância, como um fator determinante nacriação do catchment. A principal inovação é ouso de medidas fisiológicas de gasto de energiapara representar o custo de deslocamento demaneira mais realística.

A idéia central destes modelos é transformaros fatores de declividade e elevação em índices quemostrem gasto calórico, velocidade ou tempo dedeslocamento. Verhagen et al. (1999) utilizou, porexemplo, a função desenvolvida por Imholf (1950)e reformulada pelo geógrafo Waldo Tobler (1993),em que o efeito da declividade sobre a velocidadedo deslocamento é expressa por:

V= 6exp(–3,5 (S + 0,05))

onde (V) representa a velocidade em km/h, (S)é a declividade do terreno expressa em porcen-tagem e (Exp) é a base natural de logaritmo.Neste caso, a declividade do terreno descritaem porcentagem é modificada para representara velocidade de caminhamento de acordo comas diferenças e especificidades do terreno.Desta maneira, o resultado final irá representaruma superfície que expressa a velocidade queum ser humano pode atingir de acordo com otipo de terreno. Com base nas velocidadespraticadas é possível definir um catchment apartir do centro do sítio tomando por base ospadrões de mobilidade descritos por Vita-Finzie Higgs (1970), que pressupõem um catchmentde 10 km em média para sociedades de

caçadores-coletores e 5 km para sociedadeshorticultoras. O método de análise é orienta-do, o que significa dizer que se a resolução dacélula de elevação for de 30 x 30 m, o resulta-do irá expressar a velocidade necessária para sedeslocar 30 m dentro da paisagem de acordocom o tipo de terreno.

Um modelo de deslocamento um poucodiferente foi utilizado por Marbe (1996), queutilizou a fórmula desenvolvida por Pandolf(1977), que calcula o gasto fisiológico em wattsa partir das diferenças de declividade doterreno para determinar o limite do catchment.A diferença da fórmula utilizada por Marbecom a fórmula de Tobler é que a fórmula dePandolf leva em conta as características doindivíduo nas análises. A fórmula é descrita como:

M = 1,5 +2(W+L)(L/W)2 + N(W+L)(1,5V2 +0.35VG)

onde (M) é a taxa metabólica expressa emwatts, (W) é o peso corporal, (L) é o peso dacarga extra, (V) velocidade, (G) é a declividadedo terreno. Leusen modificou a fórmula dePandolf alterando o valor final de (G) pararepresentar a simetria da declividade comoexpressa por Llobera (2000), substituindo-opelo valor absoluto (G+6). O resultado esperadoé uma superfície que apresenta os valorescalóricos em watts a partir do centro do sítio.O limite do catchment neste caso seria o chamadooptimum energético, ou seja, a distância na qualo gasto calórico se iguala ao ganho calórico.

Outra variação da fórmula de Pandolf foisugerida por Wood e Wood (2006). Segundo osautores, a fórmula inicial não considerava a direçãodo movimento como fator de fricção. Sendoassim, seria necessário utilizar a fórmula originalpara declividades positivas e planas e uma derivati-va para declividades negativas. Assim, temos que:

MR = M–C, ondeM = 1,5 + 2(W+L)(L/W)2 + N(W+L)(1,5V2 +0.35VG)C = n[(g(w+1)v/3.5–((w+1)(g+6)2/W)+(25–V2)]

(MR) é a taxa metabólica em watts, (W) é opeso do indivíduo em quilogramas, (L) a carga

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extra, (V) velocidade em metros por segundo,(G) declividade em porcentagem e (N) o fator doterreno.

A fim de reduzir o efeito da dependênciada direção do movimento sobre a velocidadede deslocamento, Hare (2004) utilizou afórmula de Tobler e converteu a velocidade emgasto calórico por km. Para isso utilizou afórmula:

E = 48+30/V

onde (E) representa o gasto calórico dado emquilocaloria por quilômetro e (V) é a velocida-de expressa em km/h. A idéia do autor é queconforme aumenta o ritmo do caminhamento,maior é a eficácia do deslocamento até que avelocidade limite seja alcançada.

Um modelo alternativo foi proposto porMcDonald (1961) e adaptado por Van Leusen(2000). O modelo propõe cálculos diferencia-dos para cada faixa fixa de declividade. Segun-do o modelo teremos:

para faixas de –40º a – 20º de declividade:F1= 0,000049V2 – 0,00415V – 0,13276G –0,004692G2 – 0,00005213G3 – 0,000325VG+ 0,000002036V2G – 0,8588.

para faixas de –20º a + 5º de declividade:F2 = 0,00202V + 0,000021V2 + 0,0256G +0,00154G2 + 0,000044VG – 0,00000314V2G+ 0,3515.

e para as faixas de + 5º a declividade máxima:F3 = V* (0,00275 + 0,049 sen(S)) * cos(S) +V2 * (0,00002 – 0,00033 sen(S)) * (cos(s))2 +0,396 + 0,17sen (S).

As superfícies de fricção criadas pelasfunções F1, F2 e F3 são então somadas e oresultado é uma superfície final que apresentao custo de deslocamento em termos dequilocaloria por km.

Todos estes estudos tentam recriar sobreuma base fisiológica os padrões de locomoçãoe deslocamento humano dentro da paisagem.Definindo como um ser humano se desloca equais as características associadas a esse

deslocamento, é possível delinear zonas deexploração territorial, ou site catchment, demaneira mais realista, pois podemos avaliarquais os fatores que determinam do ponto devista fisiológico o custo benefício docaminhamento.

Reinterpretando a paisagem. Um modelo desite catchment

A fim de testar a validade das novasmetodologias de determinação de site catchment,utilizamos algumas das fórmulas acima em umaplataforma de GIS adotando como exemploalguns sítios escolhidos de maneira direcionadaa partir do Banco de Dados Tapirus.2 Oobjetivo era selecionar pelo menos doisagrupamentos de sítios dentro e no entornoimediato da chamada Área Arqueológica deSerranópolis (Mapa 1). Esta região foi escolhi-da por apresentar uma indústria lítica bemdistintiva. Esta área foi ocupada há 12.000 AP,por grupos caçadores-coletores, que produzi-am utensílios de pedra lascada, com estilotecnológico próprio, tendo como “fóssil-guia”,lesmas ogivais, pertencentes à Tradição Itaparica,fase Paranaíba (Teixeira 2007).

Os sítios arqueológicos escolhidos paraanálise foram os sítios Cachoeira 1, Cachoeira3, Casa de Pedra, Aporé 1, Aporé 2, Aporé 3 eLobe, por apresentarem em suas coleçõesvestígios associados à Tradição Itaparica emsua Fase Paranaíba.

Os sítios Casa de Pedra, Cachoeira 1 eCachoeira 3 formam um complexo de oficinaslíticas, localizado no vale do Rio Corrente,sudoeste do estado de Goiás. Esses sítiosforam descobertos e pesquisados durante os

(2) O Banco de Dados Tapirus é um projeto que vem sendoexecutado pelos pesquisadores Dr. José Roberto Pellini, Me.Jonas Israel de Souza e Márcio Antônio Telles, em parceriacom a 14.ª Regional do IPHAN (Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional). Tal projeto visa cadastrartodos os sítios já identificados na área sob a responsabilida-de da 14.ª Regional a fim de possibilitar não somente oestudo mais aprofundado da arqueologia do Centro-Oestebrasileiro, como também permitir políticas de manejo epreservação deste patrimônio.

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Mapa 1. Localização geral.

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trabalhos realizados ao longo do Projeto deResgate do Patrimônio Arqueológico, Históricoe Cultural da UHE Espora no ano de 2006(Teixeira 2007; Telles 2006).

Já os sítios Aporé 1, Aporé 2, Aporé 3 eLobe, são pequenos acampamentos temporári-os que apresentam vestígios arqueológicostambém na forma de material lítico lascado,mas distribuídos de forma dispersa e combaixa densidade (Pellini e Telles 2007). Estessítios foram escavados dentro do escopo doProjeto Arqueológico da PCH Planalto.3

Para cada agrupamento foi definida umaárea, um centro de gravidade, a fim de repre-sentar o ponto inicial de locomoção e desloca-mento.

Com a área de pesquisa definida e os sítiosselecionados, o passo seguinte foi obter umModelo de Elevação Digital4 da área a fim derepresentar as elevações do terreno. NossoModelo de Elevação, ou simplesmente DEM,foi obtido junto a Shuttle Radar TopographyMission da NASA e conta com uma resoluçãode 30 x 30 m (Mapa 2). A partir da DEM, foigerada uma superfície de declividade convertendoos valores de elevação em declividade expressasem graus,5 tarefa relativamente fácil com omódulo Spatial Analyst da suíte ArcGis 9.2.

A etapa final foi transformar os dados dedeclividade em tempo de deslocamento. Oobjetivo era obter uma superfície que represen-tasse o tempo de caminhada baseado emvelocidade, declividade e gasto calórico. Comoa direção do deslocamento era um fator a serconsiderado na análise, já que como dissemosacima o custo de locomoção pode variar deacordo com a direção do deslocamento,

utilizamos o módulo PathDistance da mesmasuíte ArcGis. Como fator de peso vertical foiutilizada a fórmula de Tobler, que foi modifica-da por Van Leusen (2000). O resultado finalapresenta uma superfície que representa otempo, em horas, gasto para percorrer umadada distância a partir do centro do sítio(Mapas 3 e 4).

Com base nestes dados foram estabeleci-dos os catchments ou territórios de exploraçãopara os dois agrupamentos de sítios. A propos-ta básica foi definir áreas dentro de um limitede 120 minutos de caminhamento como áreaprincipal de catchment. Sendo assim, oscírculos concêntricos mostram a área que sepode percorrer dentro de tempo estimado em120 minutos. Como podemos ver nos mapas 3e 4, que definem as zonas de caminhamentoem grupos de 2 horas, o primeiro círculodefine os catchments imediatos aos centros degravidade dos sítios. Cada contorno restantemostra as distâncias que se podem percorrerdentro de um período de 2 horas de maneirasubseqüente.

Com as áreas de catchment definidas,podemos analisar quais as característicasambientais que formam cada território deexploração, ou seja, quais os recursos ecaracterísticas que estão a 120 minutos dosítio. Utilizando dados fornecidos pela Seplan(Secretaria de Planejamento) do estado deGoiás, podemos caracterizar a zona de 120minutos de catchment para os sítios da PCHPlanalto como constituída por latossolos(52%), plintossolos (22%) e neossolos (26%).Os arenitos cobrem cerca de 87% da área e osquartzos, 11%. A vegetação atual é representa-da por pasto (63%), cerrado (23%) e mata(14%). Já no caso do catchment associado aossítios da UHE Espora, arenitos cobrem cercade 35%, basaltos 22% e areias e argilas 43%.Os latossolos representam o tipo de solopredominante, com 57%, seguidos dosneossolos, com 43%. Quanto à vegetaçãoatual, temos na área do catchment 71% depasto, 12 % de cerrado e 17% de mata,principalmente na forma de mata ciliar. Estarápida configuração mostra que a área decatchment dos sítios da UHE Espora, pelo

(3) Tanto o Projeto da UHE Espora quanto o Projeto daPCH Planalto foram executados pela empresa GriphusConsultoria como parte dos processos associados aoLicenciamento Ambiental.(4) Um Modelo de Elevação Digital é uma representação datopografia e da elevação de um terreno em forma de raster,ou imagem georreferenciada.(5) Balstrom (2002) demonstrou através de dados de campoque declividades acima de 35º positivo e negativo são poucousuais e quase impraticáveis. Segundo o autor, o tempomédio requerido para se cruzar 1 m a uma declividade de30º é de 8 segundos.

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Mapa 2. Modelo de elevação digital – Área de estudo.

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Mapa 3. Zonas de locomoção – Sítios arqueológicos PCH Planalto.

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Mapa 4. Zonas de locomoção – Sítios arqueológicos PCH Espora.

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menos do ponto de vista da obtenção dematéria-prima, é mais diversificada. Quanto àqualidade dos solos para plantio, a área deexploração territorial da UHE Espora mostrauma maior capacidade agrícola, pois é forma-da por 72% de solos eutróficos, enquanto aárea de catchment dos sítios da PCH Planaltoapresentam apenas 34% de solos deste tipo,prevalecendo assim os solos distróficos debaixa qualidade.6 A baixa qualidade do soloassociada à baixa diversificação dos recursosexplica a não existência de sítios mais perma-nentes na área da PCH Planalto. A próprianão existência de fontes de argila dentro dazona de 120 minutos é em si um empecilhopara o desenvolvimento de sociedadesceramistas e horticultoras nesta área. Emcontrapartida, a maior diversidade doscatchments da área de Serranópolis é evidenci-ada diretamente na estratigrafia dos abrigos,onde se observa não somente a existência deuma maior quantidade de matérias-primaslíticas, mas também a presença de cerâmica erestos faunísticos variados, o que não acontecenos sítios da PCH Planalto.

Inserindo nas análises os Abrigos deSerranópolis (Schmitz 1997), podemosobservar que os sítios da UHE Espora seinserem no limite da principal zona decatchment dos Abrigos, ou seja, mesmoestando na periferia do território de explora-ção, inserem-se dentro da área de domínio dosAbrigos (Mapa 5). Ao mesmo tempo podemosver que os sítios da PCH Planalto, mesmoapresentando uma cultura material semelhante,inserem-se completamente fora do catchmentde Serranópolis.

Com as superfícies de deslocamento criadas eos territórios de exploração analisados, o passofinal é estabelecer quais seriam as rotas maiseficientes ligando os sítios da UHE Espora, os sítiosAbrigos de Serranópolis e os sítios da PCHPlanalto. Utilizando como base de fricção assuperfícies de deslocamento criadas com asfórmulas de Tobler, foram definidos quais osmelhores acessos interligando as áreas em estudo.Como podemos ver no Mapa 6, se traçarmosuma linha reta (a menor distância linear do pontode vista euclidiano) interligando os pontosescolhidos para análise e compararmos com asdistâncias de maior eficiência, veremos que asdistâncias que ligam os sítios da PCH Planaltocom o agrupamento de sítios da UHE Esporasão de 43,314 km no sistema euclidiano contra44,405 km da rota de eficiência. Interligando ossítios da UHE com o centro do agrupamentodos Abrigos de Serranópolis teremos 18,662contra 18,117 km. E por fim a interligação dossítios da PCH Planalto com os Abrigos deSerranópolis apresenta 59,653 km no sistemalinear e 58,200 km no sistema de maior eficiên-cia. Analisando mais detalhadamente os valoresobtidos veremos que, excetuando a relaçãoPlanalto/Abrigos, todas as demais rotas deeficiência se apresentaram maiores que a rota emlinha reta. Isto se justifica pelo fato de que nemsempre a menor distância entre dois pontos é amelhor rota dentro da paisagem. Em nosso casoespecífico, embora as rotas de maior eficiênciasejam maiores em termos de quilômetros, elassão as rotas em que o gasto calórico é menor eem que a velocidade de deslocamento é maior, ouseja, em que o tempo de deslocamento é menor(Tabela 1).

(6) As análises paleo-ambientais que estão sendoconduzidas na região relativas ao Projeto de Levantamen-to e Resgate da UHE Espora irão fornecer maiores

subsídios para a análise das áreas de catchment de ambosos agrupamentos.

Comparação das distâncias em km

Tabela 1

Rota linearRota de eficiência

Planalto/Espora

43,31444,405

18,66218,117

Espora/Abrigos Planalto/Abrigos

59,65318,117

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Mapa 5. Zonas de sobreposição.

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Mapa 6. Rotas de deslocamento.

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Abstract: Locomotion and distance are essential elements of the humanlife. However, in spite of its importance, these concepts have been treated in asimple way for archaeology, mainly for Site Catchment Analysis. The mosttraditional models of Site Catchment deal with the space as a neutral cartesianelement. In the last years the use of the GIS has allowed the determination ofSite Catchments in more realistic way, mainly when considering physiologicalfactors and elements of perception in the modeling of the exploration territo-ries. The proposal of this article is to present an example of the use of thesenew models and to test its validity as interpretation method.

Keywords: Site Catchment – Travel – GIS.

Conclusão

Os sistemas de deslocamento e locomoçãotêm um peso importante na maneira como osindivíduos concebem o meio que os cerca.Compreender este sistema é fator essencial natentativa de entender como os grupos explora-vam, assimilavam e compreendiam o mundo asua volta. Distância, locomoção e acessibilidadesão aspectos culturais e assim devem ser encara-dos nas análises de site catchment. Não bastatraçar um círculo ao redor do sítio com umdeterminado comprimento de raio, essa é umaabstração cartesiana que pouco tem a ver com osintrincados processos de deslocamento. Faz-senecessário definir catchment com base em dadosque remetam ao indivíduo ou ao grupo. Faz-se

necessário conceber distância em termos huma-nos e não geográficos. Nessa linha, a determina-ção de catchments baseada em medidas fisiológi-cas de custo calórico e velocidade de transposi-ção de terreno são mais adequadas para adeterminação de territórios de exploração, poispermitem a comparação do custo-benefício dasatividades desenvolvidas dentro do catchment.

O principal objetivo deste artigo foiapresentar um modelo de site catchment maisrealístico e demonstrar o que a nosso ver são asvantagens intrínsecas no processo de análise. Opasso a seguir é inserir nas análises fatores deimpedimento, ou seja, barreiras físicas e cultu-rais que limitam o deslocamento, bem comotrabalhar com superfícies de fricção que sejamcada vez mais próximas da realidade humana.

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Recebido para publicação em 25 de setembro de 2007.

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