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Uma flor no asfaltoEu li A Flor e a Nusea pela primeira vez quando tinha 12 anos. A imagem da flor que nasce no asfalto abriu meus olhos para a vida e para Drummond. Buuel, outro dos meus preferidos, narra uma histria semelhante que marcou a sua infncia. Quando era criana, ele estava passando por um cemitrio de sua cidade natal quando viu um antigo tmulo semi aberto. Sua curiosidade foi maior que seu medo (virtude invejvel nas crianas) e ele foi contemplar a morte em seu leito. O cadver j estava descarnado e a vegetao j havia invadido a tumba, renovando o ciclo da vida naquele espao. Foi quando ele percebeu que no meio da costelas, a altura do peito, crescia uma rosa. Aquela imagem influenciou sua maneira de ver o mundo e seus filmes. Uma rosa nasce em qualquer lugar diria anos mais tarde. Anos mais tarde, estou eu no meu trabalho, quase meia noite, esperando uma pizza que seria meu jantar e certamente o caf da manh do dia seguinte. A campainha toca e um motoboy todo de preto, molhado do capacete aos ps, me entrega a pizza quente e redentora. A princpio ele me parece aterrador, como o Anjo Exterminador de Buuel. Pego o dinheiro da carteira e quando vou pag-lo percebo que ele olha fixamente para o canto da minha sala, onde fica um violo incompreendido. Aps alguns segundos, esse anjo da morte tira o capacete, revelando seus olhos tristes. Sua voz baixa e me pergunta se eu toco. No, mas pelo jeito voc sim. E ofereo o instrumento, esperando que ele fosse tocar alguma daquelas msicas que me fazem trocar de estao quando estou ouvindo rdio. Ele retira as luvas e revela mos grandes cheias de cicatrizes, alm de um dedo mnimo sem a primeira falange. Meu corao aperta e sento. Aos primeiro acordes do Egberto Gismonti, fico com uma bola de sinuca na garganta. Ele me pergunta timidamente se eu conheo e emenda um Elomar. Depois Guinga. Depois Jobim. Baden. Uma rosa nasce em qualquer lugar. O rdio toca, chamando o Cavaleiro Negro de volta para a sua misso inglria. Ele se despede sorrindo tristemente. Uma rosa nasceu no asfalto. Regada pela chuva cida dessa cidade que nunca se cansa de me surpreender.posted by robson henriques at 24.10.06

1 comments:marcelo ferrari said...Robson, eu no consigo tocar Elomar nem com 6 dedos e cara tocava com 4... PQP! Manda prender o desgraado! Linda crnica, minha rosinha rechonchuda de santos. Hehehehe... Parabns! 28/1/06 07:50 Postar um comentrio