UMA LISBOA OPERÁRIA XIX XX ENTRE …. Tomé: «Foi este teatro um Luna-Park do sítio e da época!...

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Escreve um filho do bairro: «[…] o mestre- sol corruptela do “shoe-maker” inglês […] a minú em centro de cavaco, com o seu jogo de cartas Constantino, «o popular sapateiro, brilhante or «[…] Em minha casa, ao domingo de manhã a Vinha família, vinham amigos e vizinhos; uns predominância dos assuntos políticos e sociais abordavam as questões sindicais, as posições d Operário’ e na Caixa Económica, mas sempre Santana, Memórias de um Militante…) Teatro do Maldonado, na Rua dos Cegos, a S. Tomé: «Foi este teatro um Luna-Park do sítio e da época! Durante o dia da semana, os estúrdios e os operários que davam parte de doente… lá iam bater a malha e deitar o paulito abaixo no tradicional chinquilho! À noite jogos inofensivos… enquanto os amadores ensaiavam. Madame Augusto [o Augusto do Maldonado] e a sua gentil filha faziam as honras do bufet, enquanto que o Augusto ensaiava ou recosia alguma perua encruada! Aos domingos, quasi sempre havia Récita e Baile – lá vinha sempre na secção teatral d’A Voz do Operario.» (Martins dos Santos, Repregos…) Resp.: João Freire Maria Alexandre Lousada Margarida Reis e Silva «[…] Em virtude da aliança que os Senhores deste feudo têm com os Senhores da região inglesa, os escravos portugueses têm de ir para essa monstruosa fogueira que é a GUERRA. […] Agora que são chamados todos os homens válidos da região portuguesa a incorporarem-se nos regimentos, tendo antes recebido a instrução militar, é a melhor ocasião de protestar praticamente contra a guerra não se incorporando nos regimentos. […] Mulheres, Homens e Crianças, gritai: Abaixo a guerra! Abaixo os tiranos! Viva a Humanidade Livre!» (Panfleto distribuído em Março de 1916) «Desculpem voltar a falar da Calçada do Mon bem diferente da rua de hoje que se chama He […]. A outra, a rua da minha infância, tinha a lado direito de quem sobe − algumas ainda lá gradinhas de rendas de ferro − e as carroças só trepá-la graças a uma ou duas parelhas de mul bem chicoteadas pela praga de má sorte dos ca lado esquerdo subia pausadamente o longo mu […].» (José Gomes Ferreira, Lisboa: talvez o ola, popularmente denominado o “chumeco”, provável úscula oficina do sapateiro transformava-se, aos domingos, s ou dominó, e em cenáculo político»; e lembra Bartolomeu rador e polemista, anarquista inquieto». abria-se a porta da escada, que ficava todo o dia encostada. s iam outros chegavam e falava -se de tudo mas com grande s. Petiscava -se, cantava-se no quintal e as conversas dos socialistas e dos sindicalistas, os debates na ‘Voz do e num ambiente de entusiasmo e cordialidade .» (Emídio Entre finais do século republicano e republic da lírica de agitação e poética do fado […]. M a par com os próprios p autoria de alguns dos m movimento operário [… papel atribuído ao fado propaganda. Era o caso Sousa». (Rui V. Nery, 10. Greve 11. Grevist entram no nte Agudo […] eliodoro Salgado apenas casas do estão com as suas ó conseguiam las de reforço, arroceiros. No uro da Quinta último tema…) 8. Cinema Royal. AML. 9. Rua da Sra. da Glória - 1907. AML. Avelino de Sousa ‘Um pobre operário morreu’ (1919) Descobre-te, milionário, Vae o enterro a passar: − É o corpo d’um operário Que morreu a trabalhar. Uma pedreira abateu D’uma forma inesperada, Mas ao dar-se a derrocada Um pobre operário morreu. No seu posto pereceu Esse infeliz proletário Que auferia um magro salário, Mal chegando para o pão! Por isso, ante o seu caixão, Descobre-te, milionário.[…] Sezuirosa ‘Fado livre ou racional’ (1913?) Fado livre, oh!... belo fado, Emancipa a Umanidade, Viva o povo emancipado Em completa liberdade. Lutais, povo, com prestígio Pela vossa autonomia, Para toda a Umanidade Comunismo e Anarkia.[…] XIX e inícios do XX, nos períodos pré- cano, existe uma «representação esmagadora propaganda no contexto da produção Mais ainda, abundavam até na mesma época, poemas, os textos de reflexão política da mais influentes intelectuais orgânicos do …] que teorizavam explicitamente sobre o o como instrumento de agitação e o, muito em particular, de Avelino de Fados para a República) UMA L ENTRE E MILI ferroviária - 1911. AML. tas do Arsenal do Exército o Teatro D. Maria II - 1920. AML. 12. Grev AML LISBOA OPERÁRIA: E ANARQUISTAS ITARES ve ferroviária - 1919.

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Escreve um filho do bairro: «[…] o mestre-sola, popularmente denominado o “chumeco”, provável

corruptela do “shoe-maker” inglês […] a minúscula oficina do sapateiro

em centro de cavaco, com o seu jogo de cartas ou dominó, e em cenáculo político»

Constantino, «o popular sapateiro, brilhante orador e polemista, anarquista inquieto».

«[…] Em minha casa, ao domingo de manhã abria

Vinha família, vinham amigos e vizinhos; uns iam outros chegavam e falava

predominância dos assuntos políticos e sociais. Petiscava

abordavam as questões sindicais, as posições dos socialistas e dos sindicalistas, os debates na ‘Voz do

Operário’ e na Caixa Económica, mas sempre num ambiente de entusiasmo e cordialidade

Santana, Memórias de um Militante…)

Teatro do Maldonado, na Rua dos Cegos, a

S. Tomé: «Foi este teatro um Luna-Park do

sítio e da época! Durante o dia da semana,

os estúrdios e os operários que davam parte

de doente… lá iam bater a malha e deitar o

paulito abaixo no tradicional chinquilho! À

noite jogos inofensivos… enquanto os

amadores ensaiavam. Madame Augusto [o

Augusto do Maldonado] e a sua gentil filha

faziam as honras do bufet, enquanto que o

Augusto ensaiava ou recosia alguma perua

encruada! Aos domingos, quasi sempre

havia Récita e Baile – lá vinha sempre na

secção teatral d’A Voz do Operario.»

(Martins dos Santos, Repregos…)

Resp.:

João Freire

Maria Alexandre Lousada

Margarida Reis e Silva

«[…] Em virtude da aliança que

os Senhores deste feudo têm com

os Senhores da região inglesa, os

escravos portugueses têm de ir

para essa monstruosa fogueira

que é a GUERRA. […] Agora

que são chamados todos os

homens válidos da região

portuguesa a incorporarem-se nos

regimentos, tendo antes recebido

a instrução militar, é a melhor

ocasião de protestar praticamente

contra a guerra não se

incorporando nos regimentos.

[…] Mulheres, Homens e

Crianças, gritai: Abaixo a guerra!

Abaixo os tiranos! Viva a

Humanidade Livre!»

(Panfleto distribuído

em Março de 1916)

«Desculpem voltar a falar da Calçada do Monte Agudo […]

bem diferente da rua de hoje que se chama Heliodoro Salgado

[…]. A outra, a rua da minha infância, tinha apenas casas do

lado direito de quem sobe − algumas ainda lá estão com as suas

gradinhas de rendas de ferro − e as carroças só conseguiam

trepá-la graças a uma ou duas parelhas de mulas de reforço,

bem chicoteadas pela praga de má sorte dos carroceiros. No

lado esquerdo subia pausadamente o longo muro da Quinta

[…].» (José Gomes Ferreira, Lisboa: talvez o último tema…

sola, popularmente denominado o “chumeco”, provável

” inglês […] a minúscula oficina do sapateiro transformava-se, aos domingos,

em centro de cavaco, com o seu jogo de cartas ou dominó, e em cenáculo político»; e lembra Bartolomeu

Constantino, «o popular sapateiro, brilhante orador e polemista, anarquista inquieto».

anhã abria-se a porta da escada, que ficava todo o dia encostada.

Vinha família, vinham amigos e vizinhos; uns iam outros chegavam e falava-se de tudo mas com grande

predominância dos assuntos políticos e sociais. Petiscava-se, cantava-se no quintal e as conversas

abordavam as questões sindicais, as posições dos socialistas e dos sindicalistas, os debates na ‘Voz do

Operário’ e na Caixa Económica, mas sempre num ambiente de entusiasmo e cordialidade.» (Emídio

Entre finais do século

republicano e republicano, existe uma «re

da lírica de agitação e propaganda no contexto da produção

poética do fado […]. Mais ainda, abundavam até na mesma época,

a par com os próprios poemas, os textos de reflexão política da

autoria de alguns dos mais influentes intelectu

movimento operário […] que teorizavam explicitamente sobre o

papel atribuído ao fado como instrumento de agitação e

propaganda. Era o caso, muito em particular, de Avelino de

Sousa». (Rui V. Nery,

10. Greve ferroviária

11. Grevistas do Arsenal do Exército

entram no Teatro D. Maria II«Desculpem voltar a falar da Calçada do Monte Agudo […]

bem diferente da rua de hoje que se chama Heliodoro Salgado

, a rua da minha infância, tinha apenas casas do

algumas ainda lá estão com as suas

e as carroças só conseguiam

la graças a uma ou duas parelhas de mulas de reforço,

bem chicoteadas pela praga de má sorte dos carroceiros. No

uro da Quinta

Lisboa: talvez o último tema…)

8. Cinema Royal. AML.

9. Rua da Sra. da Glória - 1907.

AML.

Avelino de Sousa

‘Um pobre operário morreu’

(1919)

Descobre-te, milionário,Vae o enterro a passar:− É o corpo d’um operário Que morreu a trabalhar.

Uma pedreira abateuD’uma forma inesperada,Mas ao dar-se a derrocadaUm pobre operário morreu.No seu posto pereceuEsse infeliz proletárioQue auferia um magro salário,Mal chegando para o pão!Por isso, ante o seu caixão,Descobre-te, milionário.[…]

Sezuirosa

‘Fado livre ou racional’

(1913?)

Fado livre, oh!... belo fado,Emancipa a Umanidade,Viva o povo emancipadoEm completa liberdade.

Lutais, povo, com prestígioPela vossa autonomia,Para toda a UmanidadeComunismo e Anarkia.[…]

Entre finais do século XIX e inícios do XX, nos períodos pré-

republicano e republicano, existe uma «representação esmagadora

da lírica de agitação e propaganda no contexto da produção

poética do fado […]. Mais ainda, abundavam até na mesma época,

a par com os próprios poemas, os textos de reflexão política da

autoria de alguns dos mais influentes intelectuais orgânicos do

movimento operário […] que teorizavam explicitamente sobre o

papel atribuído ao fado como instrumento de agitação e

propaganda. Era o caso, muito em particular, de Avelino de

(Rui V. Nery, Fados para a República)

UMA L

ENTRE ANARQUISTAS

E MILITARES

Greve ferroviária - 1911. AML.

Grevistas do Arsenal do Exército

entram no Teatro D. Maria II - 1920. AML.

12. Greve ferroviária

AML

LISBOA OPERÁRIA:

ENTRE ANARQUISTAS

E MILITARES

Greve ferroviária - 1919.