UMA MELHORIA APLICADA AO PROCESSO PRODUTIVO DE UMA...
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UMA MELHORIA APLICADA AO
PROCESSO PRODUTIVO DE UMA
INDÚSTRIA DE CALÇADOS DO RN
COM FOCO NA DIMINUIÇÃO DE NÃO
CONFORMIDADES E CONSEQUENTE
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE
Rafaelli Freire Costa Gentil (IFRN )
O atual trabalho propõe a elaboração e aplicação de uma melhoria no
processo produtivo de uma indústria do ramo de calçados esportivos
do Rio Grande do Norte com o intuito de reduzir as não conformidades
geradas pelo processo e consequentemente obter ganhos nos índices de
produtividade pela redução de retrabalho. Para estudar o problema e
auxiliar na identificação de suas causas raízes, foram utilizadas
ferramentas da qualidade, sendo elas o fluxograma e o diagrama de
causa e efeito. A aplicação das ferramentas da qualidade objetiva
identificar os motivos que levam a geração de um problema de
qualidade, e a partir daí encontrar a solução mais viável para sua
neutralização, levando em consideração que a fábrica estudada já
utiliza os conceitos do Sistema Toyota de Produção, em que a
preocupação com a qualidade está dentro do próprio processo
produtivo. Como resultado desta pesquisa, busca-se a diminuição da
perda de tempo com retrabalho, aumentando assim o rendimento
(eficiência) e a satisfação do trabalhador pelo atingimento de suas
metas diárias de produção.
Palavras-chaves: Processo produtivo, qualidade, conformidade,
diagrama de causa e efeito.
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1. Introdução
Sabe-se que para uma boa aceitação de qualquer produto, este deve possuir boa qualidade, e o
que se destacar, consequentemente terá maior chance de aceitação pelo mercado. Foi nessa
perspectiva que surgiu o conceito de Qualidade e do Controle da Qualidade Total (CQT) ou
Total Quality Control (TQC), com a intenção de garantir um novo conceito do produto, sendo
um diferencial no período de crise do pós-guerra.
Até o início da II Guerra Mundial, as indústrias não manifestavam muita preocupação com as
características físicas do produto por ainda não haver concorrência acirrada, já que a procura
era maior que a oferta. Essa competição de mercado levou as empresas a desenvolverem
ferramentas que auxiliassem na análise do trabalho, tomadas de decisões no âmbito
organizacional, a racionalização do processo produtivo, visando basicamente à economia de
tempo e recursos, gerando o aumento da produtividade com menos custos.
Em conjunto a essas ferramentas, o Controle da Qualidade surgiu como um diferencial e um
importante aliado na detecção e correção de produtos defeituosos, impedindo que os mesmos
continuem sendo produzidos sem a observância dos parâmetros de qualidade. Desta forma as
indústrias podiam ganhar tanto na melhoria do produto final quanto na melhoria de seus
resultados operacionais.
Sob esta perspectiva, este trabalho objetivou desenvolver e implementar uma melhoria numa
das etapas do processo produtivo de uma indústria do ramo de calçados esportivos do Rio
Grande do Norte que vinha apresentando um problema persistente de não conformidade no
material processado.
Para a correta identificação do problema, primeiramente, foi construído o fluxograma do
macroprocesso da costura de cabedais e do micro processo da operação que gera a não
conformidade, com o intuito de conhecer melhor o processo. Em seguida foi confeccionado
um Diagrama de Causa e Efeito (também chamado de Diagrama de Ishikawa ou Espinha de
Peixe) para identificar as causas raízes do problema.
Mediante resultados, foi proposto um novo método de trabalho, que foi testado e aprimorado
para a posterior construção e divulgação de sua Instrução de Trabalho (IT), na tentativa de
estimular o acompanhamento e a padronização dos elementos da operação (movimentos do
operador) de todos os operadores que a executavam.
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Como resultado desta pesquisa, busca-se a diminuição do inutilizado, assim como a redução
da perda de tempo com retrabalho, aumentando assim o rendimento (eficiência) da produção e
a satisfação do trabalhador pelo atingimento de suas metas diárias de produção.
2. Referencial Teórico
Para o melhor entendimento, neste ponto serão abordados alguns dos conceitos utilizados para
a execução desta pesquisa, sendo os conceitos de processo, conformidade, gestão da qualidade
no processo e das duas ferramentas da qualidade utilizadas, o fluxograma e o diagrama de
causa e efeito.
2.1 Processo
Até chegar ao produto final a matéria-prima passa por diversas etapas que chamamos de
processo. Para Slack et al. (2009, p. 69), um “processo pode ser definido como o arranjo de
recursos que produzem alguma mistura de produtos e serviços”. Para chegar a um bem final a
produção envolve um conjunto de recursos que chamamos de inputs (entradas) usados pra
transformar algo ou ser transformado em outputs (saídas), que podem ser bens ou serviços
(CORRÊA; CORRÊA, 2011).
Segundo Lobo (2010), todos os processos existem pra produzir um produto final (outputs),
seja ele produto ou serviço. Embora ambos sejam bem diferentes, a diferença óbvia é quanto à
tangibilidade, os produtos são tangíveis e os serviços intangíveis.
É importante considerar que dentro de um processo produtivo de uma empresa, existem vários
micro processos que compõem o fluxo maior da produção, essa divisão ajuda a identificar e
controlar separadamente possíveis problemas que veiam atrapalhar a produção (LOBO,
2010).
As operações produtivas variam de acordo com o volume e variedade dos produtos, baixo
volume pode proporcionar alta variedade, alto volume leva a baixa variedade. Normalmente
as duas dimensões são dependentes entre si (SLACK et al., 2009). Por meio dessas diferenças
pode-se diferenciar etapas das operações para gerenciar as atividades em tipos de processo:
processos por projeto, processos por jobbing, processos em lotes, processos de produção em
massa e processos contínuos (CORRÊA; CORRÊA, 2011). E para um bom desempenho
desses processos é de fundamental importância que os setores da empresa estejam interligados
através de um layout eficiente que apoie o tipo de processo da empresa.
2.2 Conformidade e gestão da qualidade no processo
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Conformidade traz a ideia de que um produto ou serviço foi realizado conforme o que foi
definido em seu projeto. Durante o projeto de qualquer produto ou serviço seu conceito e
propósito são definidos entre os componentes e suas especificações, essa é a atividade de
planejamento e controle da qualidade. Para gerir e ter um controle sobre a qualidade foi
definido um padrão que contém seis passos fundamentais (SLACK et al, 2009):
Definir as características de qualidade;
Definir como medir cada característica de qualidade;
Estabelecer padrões de qualidade para cada característica de qualidade;
Controlar a qualidade em relação a esses padrões;
Encontrar e corrigir causas de má qualidade;
Continuar a fazer melhoramentos.
Esse conjunto de detalhes (conformidade) obedece a um conjunto de normas e essa
conformidade sofre influências das especificações, que objetivam padronizar os métodos
utilizados na confecção do produto.
Entende-se que o esforço para a padronização dos métodos de trabalho no processo produtivo
(causa) leva a consequente qualidade do produto final (efeito). A gestão da qualidade no
processo cuida para que a qualidade não se restrinja ao produto, mas muito antes disso seja
gerada no processo produtivo (PALADINI, 2009).
A gestão da qualidade do processo “[...] ao priorizar as ações de produção (causas), propôs a
imposição de determinados comportamentos ao processo, cujo resultado mais visível era um
produto sem defeitos (consequência).” (PALADINI, 2009).
Para ajudar essa obtenção se deu maior ênfase na padronização da qualidade que desenvolveu
ferramentas de suporte para auxiliar na análise do trabalho (CORRÊA; CORRÊA, 2011). Elas
auxiliam na identificação de problemas, e na tomada de decisões no âmbito organizacional.
Sendo assim, foram desenvolvidos sete principais ferramentas, a saber: fluxograma,
estratificação, folhas de verificação, gráficos de Pareto, diagrama de causa e efeito,
histograma e cartas de controle.
2.3 Fluxograma
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Todos os processos passam por um fluxo caracterizado por entrada, processo e saída, do
produto ou serviço acabado, no qual envolvem a interligação de vários setores da empresa.
Para ajudar na análise e domínio de cada etapa do processo foi desenvolvida uma ferramenta
denominada fluxograma, de extrema importância para qualquer análise que se queria realizar
dentro de um processo produtivo, pois fornece a representação gráfica e sequencial do inter-
relacionamento de todas as atividades, permitindo sua melhor compreensão (COSTA NETO;
CANUTO, 2010).
Segundo Costa Neto e Canuto (2010), o fluxograma não demonstra apenas a sequência das
atividades como um todo, ele traz de forma mais clara e detalhada como é realizada cada
etapa de qualquer processo, independente do seu grau dentro da organização. Ele mostra quais
os materiais ou serviços foram necessários para alcançar os resultados, quais as decisões
devem ser tomadas para que o fluxo siga da maneira mais harmoniosa possível e as pessoas
envolvidas.
Wanzeler (2010) classifica os fluxogramas em duas categorias, podendo ser horizontal ou
vertical. Os verticais são utilizados com mais frequência na produção em linha, no qual pode
se dividir um extenso processo em outros mais simples. Os horizontais demonstram o
processo na horizontal sempre começando da esquerda para direita, possuindo duas variações,
os fluxogramas descritivos e os de coluna.
2.4 Diagrama de causa e efeito
Uma ferramenta simples e eficaz na detecção de problemas é o diagrama de causa e efeito,
que identifica as possíveis causas raízes de um problema (COSTA NETO; CANUTO, 2010).
Construído no formato de uma espinha de peixe, foi desenvolvido por Ishikawa para sintetizar
as opiniões quanto ao que pode estar ocasionando o problema em estudo. Sua formação se dá
através da exposição dos possíveis problemas primários e secundários, favorecendo a análise
e a identificação de soluções, para então alcançar melhorias.
Para a construção de um diagrama de causa e efeito, o primeiro passo é isolar o problema
principal (efeito) e traçar uma reta na horizontal agrupando em categorias (causas), e as
subcategorias (sub-causas) do problema.
3. Método e planejamento da pesquisa
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Na presente parte do trabalho encontra-se a caracterização da pesquisa quanto a sua natureza,
objetivos e procedimentos técnicos. Além disso, serão apresentadas as etapas do processo de
pesquisa.
Do ponto de vista de sua natureza, esta pesquisa é classificada como aplicada, pois “objetiva
gerar conhecimentos para aplicação prática e dirigidos a solução de problemas específicos”
(GIL, 2010).
Quanto a seus objetivos podemos classifica-la em explicativa, pois, “tem como propósito
identificar fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência de um fenômeno” (GIL,
2010).
Para consecução dos objetivos propostos foi adotado o método de pesquisa-ação que segundo
Gil (2010), é utilizado “quando concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou
com a resolução de um problema coletivo. Os pesquisadores e participantes representativos da
situação do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo”. É aquela que
além de conhecer, procura interferir na situação com a intenção de modificá-la através de uma
observação da situação pesquisada, assim ao mesmo tempo em que ela mostra um diagnóstico
da situação ela propõe aos envolvidos mudanças para aprimorar o ambiente em estudo,
(SEVERINO, 2007).
Nesse sentido, esta pesquisa propõe-se a melhoria de uma situação atual de produção de uma
indústria de forma participativa entre agentes a serem transformados e a pesquisadora,
envolvendo pesquisa bibliográfica e avaliação dos resultados para verificar o alcance dos
objetivos.
A obtenção dos dados para a construção dessa pesquisa teve início a partir de um quadro
interno de controle sobre problemas de qualidade ocorrentes dentro do processo. Na tentativa
de encontrar essas causas foi definida uma sequência de procedimentos apresentados na
Figura 1.
Figura 1 – Processo da pesquisa.
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Fonte: Elaboração própria.
4. Apresentação do problema
Esta pesquisa, desenvolveu-se focando no processo de costura do cabedal de um tênis, ou
seja, todas as etapas de costura necessárias para unir cada parte do mesmo até chegar ao
produto final (cabedal) sem o solado, conforme Figura 2.
Figura 2 - Cabedal costurado (parte superior do tênis sem o solado).
Fonte: Elaboração própria.
O conjunto das 18 operações executadas nas células de produção responsáveis pela costura
dos cabedais são realizadas por 6 operadores diferentes. O quarto operador, responsável pela
operação de costurar a etiqueta de numeração do tênis na peça denominada de colarinho
(Figura 3) trabalha em duas máquinas diferentes, máquina plana e máquina de coluna,
executando as operações 10 (costurar etiqueta no colarinho) e 11 (costurar colarinho no
cabedal) respectivamente, conforme fluxograma apresentado na Figura XX.
Figura 3 – Colarinho com etiqueta costurada no lado correto.
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Fonte: Próprio autor.
Portanto, buscou-se identificar os motivos que levam a geração da não conformidade
denominada pelos operadores de “cabedais ímpares” (Figura 4) nesse processo produtivo.
Essa não conformidade surge na inobservância do operador nos piques de determinação dos
lados (direito e esquerdo) do colarinho no momento da costura da etiqueta (operação 10).
Figura 4 – Não conformidade “cabedais ímpares” (um dos pés com etiqueta costurada no lado
errado).
Fonte: próprio autor.
Quando o operador costura a etiqueta no lado errado, esta que deveria, nos dois pés do
calçado, ficar na parte interna do pé, acaba ficando uma na parte interna e outra na parte
externa do pé, formando assim um “cabedal ímpar” conforme visualizado na Figura 4.
Na Figura 5, observa-se que ambas etiquetas estão dispostas na parte interna do cabedal,
formando um par corretamente.
Figura 5 – Etiquetas costuradas nos lados corretos.
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Fonte: Próprio autor.
Com base em um quadro de não conformidade existente na empresa para monitorar a
qualidade interna da produção, foram coletados os dados para comparação da quantidade de
etiquetas costuradas erroneamente nos dois turnos nos meses de junho, julho e agosto de
2013, verificando os índices para utilizá-los como parâmetro.
Tabela 1 - Índice de cabedais com etiquetas costuradas erradas.
Fonte: Elaboração própria.
5. Resultados e discussão
Para melhor compreensão de todas as operações e dos elementos da operação que origina a
não conformidade, foi elaborado o fluxograma do processo de costura de cabedais (Figura 6)
e da operação de costura de etiquetas (Figura 7), o que auxiliou na construção do Diagrama de
Causa e Efeito (Figura 8).
1° Turno 2º Turno Total
Junho 61 28 87
Julho 62 29 91
Agosto 74 67 141
Total 197 124 319
Figura 6 – Fluxograma do macro processo da costura.
Fonte: Elaboração própria.
Figura 7 – Fluxograma da operação 10 e 11 executadas pelo operador 4 (costura figurada do
colarinho – costura da etiqueta no colarinho – e finalização).
Micro processo da costura(4 º Operador)
Máq
uin
a d
e
Co
lun
aM
áqu
ina
Pla
na
Fase
INÍCIO1
Conferência dos colarinhos
2Conferência da
etiqueta de numeração
3Costura figurada da
etiquetaQUALIDADE
4Separar os
colarinhos em direito e esquerdo
SE SIM
SE NÃO
5Costura final do
colarinho no cabedal
Qualidade SE SIM FIM
SE NÃO
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Fonte: Elaboração própria.
Após a visualização de cada etapa do processo e do problema, foram definidos quais são os
possíveis motivos para a ocorrência da formação dos pares ímpares por meio da elaboração de
um Diagrama de Causa e Efeito, demonstrado na Figura 8, que aponta os aspectos que podem
ser os causadores desse problema, e com os dados dessa exposição procurar a maneira mais
eficaz para sua neutralização.
Figura 8 – Diagrama de Causa e Efeito para a não conformidade de “pares ímpares” (etiqueta
costurada no lado errado).
Fonte: Elaboração própria.
5.1 Implantação do novo método
A partir dos dados coletados identificou-se a necessidade de criação e implantação de um
novo método pra concretizar a operação. Foi estabelecido que na máquina plana o primeiro a
ser seguido, seria a conferência dos colarinhos, verificar se contém doze colarinhos do lado
direito e doze esquerdo. O segundo passo seria dispor o colarinho no lugar demarcado em
direito e esquerdo, onde este ficará preso por um elástico, pra evitar que o vento externo e dos
ventiladores retirem os mesmos do lugar correto. Posteriormente a conferência da etiqueta de
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numeração, e a execução da operação de costura figurada do colarinho que será depositado
em uma pequena caixa de papel para evitar que o vento os jogue no chão.
Já na máquina de coluna haverá um espaço demarcado novamente com direito e esquerdo
para a distinção na hora de costurar o colarinho no cabedal. Na Figura 9 pode-se verificar o
layout do posto de trabalho da operação 10 e 11 conforme o novo método de trabalho
proposto.
Figura 9 – Disposição do layout da bancada de trabalho da operação 10 e 11, segundo novo
método proposto.
Fonte: Elaboração própria.
Antes dessa implantação cada operador tinha seu próprio método de trabalho. Na Figura 10
pode-se visualizar como era o mais comum.
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Figura 10 – Disposição do layout da bancada de trabalho da operação 4, segundo novo
método proposto.
Fonte: Elaboração própria.
5.2 Teste do novo método
Por meio da implantação do novo método foram feitos alguns ajustes durante o processo de
implantação até chegar ao modelo final. Antes de se chegar à ideia do elástico primeiramente
se pensou na hipótese de colocar um pequeno peso com cores diferentes em cima de cada lado
do colarinho pra diferenciar direito e esquerdo, porém essa ideia não foi bem aceita, pois
agregava muito tempo a operação, pois o operador teria que levantar várias vezes o peso pra
colocar e retirar o colarinho.
Posteriormente a caixa de descarte teve suas extremidades diminuídas, pois estava tomando
muito espaço na bancada da máquina, e sua cor adaptada para uma que chamasse menos
atenção dos colaboradores no chão de fábrica, já que a primeira versão teria sido vermelha,
uma cor muito chamativa, então se optou por uma cor mais neutra.
A partir dos resultados apresentados foi estabelecido que a carência de uma padronização da
operação é o que dificulta o controle de cada etapa específica do processo que segue essa
operação, então o método encontrado para iniciar o desfecho desse problema foi a
implantação de uma Instrução de Trabalho (IT), na tentativa de que todos que realizam essa
operação sigam um padrão evitando contradições no fluxo. Essa IT encontra-se na Tabela 2.
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Tabela 2 – Nova Instrução de Trabalho.
Logomarca da empresa
INSTRUÇÃO DE TRABALHO
TÍTULO: COSTURA DO COLARINHO
Controle das alterações
Nº revisão Descrição das alterações Data Aprovação
Objetivo: Padronizar o processo.
Função responsável: Operador de costura colarinho.
Modelo: Todos os modelos da marca X.
Instrução
Máquina Plana
1º passo Conferir se a caixa de colarinhos contém 12 pares direito, 12 esquerdo e
separá-los.
2º passo Colocar os colarinhos separados no espaço demarcado da máquina (direito e
esquerdo).
3º passo Pegar etiquetas de numeração do calçado de acordo com o número da caixa e
depositá-las a esquerda da máquina no local demarcado para as etiquetas.
4º passo Pegar com a mão direita o colarinho (direito ou esquerdo), e a etiqueta com a
mão esquerda.
5º passo Posicionar etiqueta no colarinho, posicioná-los na máquina e costurar a
etiqueta no colarinho.
6º passo Descartar com a mão esquerda na caixa de papelão.
7º passo Após os 12 colarinhos da caixa terem a etiqueta costurada, passar para a
máquina de coluna.
Máquina de Coluna
1º passo Separar o colarinho em direito e esquerdo.
2º passo Colocar os colarinhos separados no espaço demarcado na bancada da máquina
(direito e esquerdo).
3º passo Costurar o colarinho no cabedal.
4º passo Descartar com a mão esquerda o cabedal no local demarcado na bancada da
máquina.
Fonte: Elaboração própria.
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Com o intuito de comparar se o novo método seria eficaz na solução do problema foram
observados durante as duas primeiras semanas de setembro os índices das etiquetas que
formavam par ímpar, para avaliar se o método estava surtindo efeito. Esses números são
apresentados na Tabela 3.
Tabela 3 - Índice de cabedais ímpares.
Fonte: Elaboração própria.
5.3 Eficiência do novo método
Como podemos observar na Tabela 3, o número de não conformidades do primeiro turno teve
uma redução de 15 unidades, configurando um índice de 47% em relação à primeira semana.
Já no segundo turno essa redução foi de 3 unidades, configurando o índice de 50% com
relação à primeira semana. Através dos dados coletados observa-se que o método está
trazendo o resultado positivo em relação à problemática, porém esse índice ainda tende a ter
melhores reduções após o processo de adaptação por parte dos operadores ao novo método,
além do que, por limitações de tempo para observação dos dados, apenas foi possível coletar
números de duas semanas, quando seria necessário a análise de alguns meses para atestar a
real eficiência do novo método de trabalho na redução das não conformidades geradas pelo
operador 4.
Porém, sabe-se que esses números são variáveis e depende do desempenho do operador.
Sempre que um novo operador assumir a função, há a tendência de realizar o mesmo erro num
índice maior até chegar ao nível aceitável de erros. Entretanto, com a proposta de solução
implementada, objetiva-se que, mesmo sendo um novo operador nas referidas operações do
macroprocesso de costura, este consiga manter baixos índices de não conformidade ao fazer
uso da Instrução de Trabalho e do novo arranjo da estação de trabalho, que está melhor
sinalizada em relação a separação do pé direito e esquerdo do par do calçado.
SETEMBRO 1º TURNO 2º TURNO TOTAL
1ª Semana 32 6 38
2ª Semana 17 3 20
Total 49 9 58
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Além disso, a fase de adaptação do novo método também é um período crítico, visto que
alguns erros podem ocorrer devido mudança nos movimentos repetitivos antes executados.
Mas entende-se que este é um processo natural e que os benefícios gerados serão
compensatórios tanto para a empresa quanto para todos os operadores envolvidos neste
processo, já que, reduzindo-se a quantidade de peças defeituosas, será reduzido também o
tempo deste operador gasto com retrabalho, aumentando sua eficiência individual e do grupo
e, consequentemente, sua recompensa salarial devido produção, aceitação dele no grupo de
trabalho e reconhecimento (fatores psicológicos), visto que o TPS (Toyota Production
System), sistema de produção utilizado pela indústria em estudo, remunera seus operadores
pela eficiência de cada grupo de trabalho (célula de produção) e não individualmente, como é
mais comum no tipo de produção em massa quando se tem um layout configurado,
geralmente, em linha.
Em se tratando de retrabalho, foram cronometrados os tempos gastos por esse retrabalho
desde a identificação da falha na auditoria de qualidade, passando pelo operador número 4,
até retornar a nova inspeção de qualidade. Esse tempo total é de 109 segundos, sendo 36
segundos de transporte para retorno à célula de produção que originou o problema, 10
segundos em média de espera para ser retrabalhado, 27 segundos de efetivo retrabalho pelo
operador e 36 segundos de transporte para retornar à inspeção de qualidade.
Fazendo uma média do número de não conformidades desta natureza dos três meses
coletados, tem-se 106 pares ímpares por mês, que gastam 47,7 minutos no total para serem
retrabalhados. Levando em consideração que o tackt time desta operação é de 16 segundos
divididos entre 4 segundos para costura da etiqueta e 12 segundos para a costura do colarinho,
este operador deixa de processar em média 178 pés de calçados por mês, gerando uma
ineficiência de 1,35% mensalmente para a sua célula de produção. Ou seja, pôde-se obter já
nas duas primeiras semanas de implantação do novo método um ganho na eficiência das
células de produção de ambos os turnos de trabalho.
6. Conclusão
Sabe-se que um processo produtivo gerenciado com base na qualidade do processo (causa)
possui maiores chances de obter bons resultados na qualidade do produto (efeito), pois a
qualidade deve ser gerada a partir das operações do processo produtivo e a primeira ação para
viabilizar este princípio centra-se no esforço em eliminar defeitos no produto. Neste sentido
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deve-se perseguir a eliminação de não conformidades que comprometam o funcionamento, a
apresentação do produto ou até mesmo sua inutilização.
Em seu foco principal, este trabalho teve como objetivo identificar os motivos que levava a
geração de cabedais ímpares (não conformidade) no processo produtivo em uma indústria do
setor de calçados esportivos do RN. Buscou-se auxílio nas ferramentas da qualidade no intuito
de conhecer detalhadamente o processo, encontrar as causas raízes que originavam o
problema de não conformidade, e juntamente com essa análise definir qual a melhor decisão a
ser tomada, diminuindo assim o tempo com retrabalhos gerando benefícios para o empregador
e empregado.
Dessa forma, conclui-se que o objetivo principal da pesquisa foi alcançado ao observar que as
ferramentas da qualidade utilizadas para levantar as causas do problema foram adequadas à
medida que possibilitou sua devida identificação, que consequentemente gerava alto índice de
inutilizado, retrabalho e perdas de produtividade pela célula de produção originária do
problema.
Neste sentido, observa-se que o método da pesquisa-ação utilizado foi satisfatório, juntamente
com o devido procedimento adotado, visto que proporcionou o alcance do objetivo da
pesquisa.
Sugere-se que os resultados do presente trabalho sejam replicados para padronização de todas
as micro operações do processo da fábrica, possibilitando uma melhoria contínua desse
processo, de forma segura evitando não só o inutilizado e o retrabalho como também os
acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.
Referências
CORRÊA, H. L.; CORRÊA C. A. Administração de Produção e Operações: Manufatura e serviços: Uma
Abordagem Estratégica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
COSTA NETO, P. L. de O.; CANUTO S. A. Administração com qualidade: conhecimentos necessários para a
gestão moderna. 1. ed. São Paulo: Blucher, 2010.
GIL, A. C.; Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
LOBO R. N.; Gestão da produção. São Paulo: Érica, 2010.
PALADINI, E.P. Gestão Estratégica da qualidade: princípios métodos e processos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
SEVERINO A. J. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. rev. atual . São Paulo: Cortez, 2007.
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SLACK, N.; et al. Administração da Produção. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
WANZELER, M. dos S.; FERREIRA, L.M.L.; SANTOS, Y. B. I. Padronização de processos em uma empresa
do setor moveleiro: um estudo de caso. In: XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE
PRODUÇÃO. São Carlos, SP, Brasil. 12 a 15 de outubro de 2010. p.4.