Uma nova geografia - As escolas da Bélgica

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Os princípios e as práticas da Escola da Rua de Namur e La Maison, Lovaina, anos setenta

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    (Rosto do Caderno 2.08 do esplio de M. G. Llansol. Fragmento. 1976)

    = LUGARES E TEMPOS DE LLANSOL =

    3 - AS ESCOLAS DA BLGICA !!!!!!!!

    14 e 21 de Maro 2015

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    Introduo

    H no esplio de Maria Gabriela Llansol um sector significativo e bem documentado, que s recentemente pudmos organizar e abarcar na sua totalidade (esse trabalho foi feito Albertina Pena, professora do ensino bsico e membro da nossa Direco).

    Em Dezembro do ano de 1965 parto de Portugal. Trs anos depois comparticipo em Lovaina na fundao de uma escola para crianas de diferentes nacionalidades a Escola da Rua de Namur. (Caderno 1.13, p. 128 1982)

    As duas escolas fundadas por Llansol e Augusto Joaquim, e que funcionaram, primeiro em Lovaina a Escola da Rua de Namur, entre 1971 e 1974 e depois, como parte de uma cooperativa de produo e ensino (a Ferme Jacob) em Ottignies, perto da zona universitria de Louvain-la-Neuve a escola La Maison, entre 1975 e 1978 haveriam de ocupar grande parte do seu tempo durante toda a dcada de setenta, aquela que v tambm nascer o livro-fonte de Llansol, O Livro das Comunidades. a prpria autora quem lembra, nos

  • ! =3= Apontamentos sobre a Escola da Rua de Namur, a ligao directa entre esse livro e uma experincia singular nessa Escola: O Livro das Comunidades nasceu da tentativa inabalvel de reconduzir fala e convivncia de grupo uma criana espanhola aparentemente autista. Nascidas para acolher crianas com necessidades especiais, filhas de exilados polticos, casais de estudantes estrangeiros e falando diferentes lnguas, estas escolas assumiriam um perfil pedaggico e organizativo muito particular, integradas que estavam desde incio num esprito alternativo, anti-autoritrio e integrador que se espelha nos seus modelos pedaggicos, que este caderno documenta, com textos de vrios tipos e trabalhos originais que se conservam no esplio. A prpria M. G. Llansol pensou, nesses anos, em fazer um livro a que chamaria O Livro da Escola, projecto que nunca chegaria a concretizar. Mas de um dos cadernos do esplio (o 2.08), e de outros apontamentos dispersos, haveria de nascer o texto que, juntamente com a reflexo sobre as escolas nos Livros de Horas (o primeiro, o segundo e o quarto) que vimos editando, acabou por substituir esse livro nunca feito: trata-se dos Apontamentos sobre a Escola da Rua de Namur, inseridos na segunda edio d' O Livro das Comunidades1. Poucos investigadores se tm debruado sobre o trabalho nas escolas da Blgica, um ncleo que ainda pode dar alguma reflexo de interesse, integrvel na prpria escrita de Llansol nesses anos. Foi o que fez agora Maria Carolina Fenati, cuja tese de doutoramento inclui um captulo que a primeira abordagem de fundo a esta matria (o terceiro captulo, !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1 Nenhum dos textos deste caderno repete esses outros, j publicados. Incluimos apenas textos e material visual inditos, quer da documentao das Escolas, quer do esplio manuscrito de Llansol e Augusto Joaquim. Todas as fotos e os documentos reproduzidos provm igualmente desses acervos do Espao Llansol.

  • ! =4= intitulado O livro da escola). Para alm disso, apenas Albertina Pena explorou e analisou nas Jornadas Llansolianas de Sintra em 2011 uma das peas mais interessantes do trabalho com as crianas no plano do texto e da imagem, um caderno relativamente extenso comentado em A Luminosa Vida dos Objectos, o volume que documenta essas Jornadas (vd. A construo do livro infantil: escrita e imagem na Escola da Rua de Namur, pp. 129-141). As duas sesses da Letra E que este caderno acompanha iro permitir lanar um pouco mais de luz sobre as orientaes e as prticas das escolas de Llansol na Blgica, com a colaborao preciosa do professor e pedagogo belga Pascal Paulus, que h vrias dcadas trabalha e publica em Portugal, e que coincidncia das coincidncias vem desses anos em Lovaina, teve formao pedaggica voltada para a escola alternativa e conheceu algumas pessoas directamente ligadas escola de Llansol e Augusto Joaquim! Na segunda sesso, Albertina Pena, Teresa Projecto e Paulo Sarmento orientaro, com as crianas que vierem, ateliers temticos de Texto, Desenho e Msica no esprito da Escola da Rua de Namur/La Maison.

    J. B.

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    Augusto Joaquim

    ... O IMPORTANTE A QUESTO IDEOLGICA...1

    | A | destruir a escola = mudar a famlia

    1 Porque temos midos? 2 Porque vivemos ns com eles? 3 Queremos [porque realmente uma questo de desejo orientado] que eles sejam nossos companheiros ou nossos herdeiros? 4 Estamos com os putos para vivermos com eles aprendendo a fazer grupo? Acrescentar os seis critrios, isto : sentir-se bem, consonante com o seu corpo; saber falar com o seu interlocutor; saber escutar e saber fazer silncio (quem no tem orelhas, no tem boca; quem no tem boca, no mostra os olhos que tem); ser sensvel ao humor; acreditar no seu sonho, na realidade motora do seu sonho, e no sonho que alimenta o grupo; saber ver, discutir, agir em conjunto. Ou estamos com os putos para os moldarmos gente? (Ns mold-los-emos, mas eles moldar-nos-o. Eles so a nossa avant-garde e ns os claireurs).

    !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1 Partes deste texto esto escritas em francs. Para facilitar e uniformizar a leitura, traduziram-se todas essas passagens.

  • ! =6= Voltemos escola.

    | B | A escola o lugar social da moldagem

    A famlia a sustentadora iludida1 dessa moldagem

    !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1 O meu puto, o futuro do meu puto, adaptao dele, a sua 'rentabilidade', a sua sagesse. Nenhuma famlia tem a capacidade de lhe responder, a no ser por impotncia. Mas fazem-lhe crer o contrrio. A famlia actual responsvel por mudanas que, em caso algum, poder concretizar. (Nota margem).

  • ! =7= A escola de que falo a que governa as pessoas, porque vivemos numa sociedade organizada nesse sentido: governo das pessoas, e no administrao dos bens, dos nossos bens, do bem e do bom e do belo que somos. A famlia nuclear=impotente e patriarcal=impositente o primeiro sustentculo deste Estado das coisas. Escola-outra no-escola: comuna. No lugar de transmisso, de moldagem e de repetio, mas o assumir colectivo dos sonhos, do pensamento e da aco. A escola no-escola um dos momentos desse assumir colectivo, ao mesmo ttulo que os tomos familiares e a constelao das quartas-feiras1.

    | C |

    Estes trs momentos (escola, famlia e quarta-feira e outros podero vir a ser acrescentados) tiraro a sua eficcia da realizao de duas condies estritas: 1 Que nesta constelao ningum ocupe um lugar fictcio (conjunto de pessoas, e no agregado de papis teatrais de pan-tomima); 2 Que se ultrapasse o limiar da concorrncia monetria: o meu esforo reconhecido, multiplicado pelo dos outros, e no impedido. Que nenhuma parcela da minha energia seja perdida.

    !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1 A expresso (tal como a pergunta final deste texto: E as nossas quartas-feiras?) refere-se aos encontros semanais das quartas-feiras que os membros da escola La Maison faziam com os pais das crianas nesse dia.

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    !

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  • ! =10= | D |

    Os obstculos, luz da constelao

    O Estado e a propriedade privada Um aparelho - O poder de uns sobre os outros e concepes. considerado como natural Tudo est no - O isolamento ! ignorncia detalhe. ! desconfiana ! agressividade como modo de estar aqui, de estar entre outros - A gesto por outros do produto do trabalho que no forneceram - A apropriao por alguns das energias da maior parte

    A famlia e a Escola (ver atrs). A mudana de detalhes traz a angstia ao todo.

    Creio no me afastar das duas questes iniciais. Queria s afirmar a minha convico de que se pode responder provisoriamente primeira parte da alternativa, de que s positivamente a elas vale a pena responder, reivindicando na teoria e nos factos (a saber, no nosso corpo) o direito de assumir, o melhor possvel, o processo da vida em comum, no que respeita dimenso educativa. Uma s regra:

    Viver o desejo de viver (ns e os putos) tendo em conta a realidade do que nos faz andar e regularmente nos impede de andar (o real um corpo onde em cada ponto o motor o obstculo). Amar o passado de cada um, noutro lugar,

  • ! =11= no futuro de todos. Eis a minha convico.

    | E |

    Isto importante, para ns e para os outros: Com efeito, vivemos uma poca em que o desejo de viver em conjunto, na apropriao de processos colectivos, insistente e no esmorece.

    o engodo manifesta-se enquanto tal

    a explorao aparece no que ela : desapropriao

    o isolamento no tem mais a mscara da voie royale: o isolamento o vazio da vida interior/anterior

    Estamos procura, porque para trs no h caminho. Procura duma nova barbrie que no tenha vergonha do seu nome. Outros procuram. Entremos tambm com esses no processo cumulativo de energia que no se desperdia, porque

    as pessoas no querem o poder, querem o poder de estar juntas

    | F |

    E as nossas quartas-feiras?

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    COMO UMA CARTA DE PRINCPIOS1

    I. O historial A nossa experincia tem a sua origem numa crtica activa da escola tradicional, ligada a uma experincia semelhante que inicimos em 1971 e contava com 35 crianas. Em Outubro de 1973 ela congregava pessoas que habitavam em Lovaina e que desejavam, tanto encontrar para os seus filhos, como pr de p uma escola que pusesse em prtica princpios pedaggicos contrrios aos dos defeitos que encontravam na escola tradicional. Questionavam em particular o carcter arbitrrio das relaes de autoridade prprio desta ltima. Pensavam que era importante promover uma vida em grupo para as crianas, bem como dar ateno s suas exigncias psicolgicas implcitas (em geral resolvidas por via disciplinar) e respeitar o seu ritmo prprio. O grupo foi, desde o incio, amplamente plurinacional. O neerlands e o francs eram as principais lnguas de comunicao. Durante um ano, trs educadores ocuparam-se a de catorze crianas, com idades entre os dois anos e meio e os cinco anos (uma psicloga, um pedagogo e um educador). A escola declara-se aberta a todas as pessoas que se interessem realmente pela educao das crianas; mas, como contra-

    !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1 O texto todo ele redigido em francs, como praticamente todos os documentos das Escolas traz a seguinte indicao manuscrita: Texto redigido por um grupo de trabalho em Janeiro de 1975

  • ! =13= partida, espera-se dos pais uma participao activa e colectiva no trabalho pedaggico e na reflexo que o acompanha. As limitaes desta experincia, que se revelavam, por exemplo, nas dificuldades de participao por parte dos pais, levaram-nos a aprofundar a nossa crtica da escola tradicional e a formular um projecto mais radical.

    Trabalhos de crianas, La Maison 2. Princpios A. Crtica da escola tradicional A escola tradicional um lugar separado da vida, onde o real s penetra em forma de representaes. Centra-se, assim, na figura do Mestre, sujeito detentor do saber e modelo de identificao.

  • ! =14= Exerce sobre o aluno uma dominao coerciva ou baseada na seduo. Esta posio do mestre pressupe uma comunicao unilateral (vertical) mestre-aluno, a que corresponde a ausncia de comunicao horizontal entre os alunos. As suas relaes so marcadas pela rivalidade e pela concorrncia. Eles prprios, o seu trabalho e as suas aces, so classificados e hierarquizados de acordo com o seu grau de conformidade ao modelo. Uma tal situao equivale negao da criana nas suas virtualidades e na sua diferena. A escola, por outro lado, ao reproduzir as relaes hierarquizadas de concorrncia e competio, reproduz o sistema social. Ainda que seja acessvel a todos, no deixa de ser um instrumento de dominao.

  • ! =15= B. Limites das experincias de pedagogia activa As experincias de pedagogia activa, quaisquer que sejam os seus nomes ou os princpios de que se reclamam, pem em questo o monoplio da comunicao pelo mestre, que deixa de ser o sujeito pretensamente detentor do conhecimento e o modelo nico de identificao. Esssas experincias favorecem antes as interaces e as trocas entre alunos, cuja dinmica substitui em maior ou menor grau a das relaes de autoridade. Mas para que este passo seja possvel necessrio que acontea, na escola ou na sala de aula, uma abertura ao real, um alargamento do campo da experincia, porque na diversidade de experincias que assenta a questionao do monoplio magistral e o desenvolvimento do intercmbio horizontal. Os resultados deste movimento sero, logicamente, o fim da escola enquanto lugar especfico de transmisso do saber. Nem a participao efectiva dos pais no trabalho educativo, nem a multiplicao das experincias necessrias ao desenvolvimento autnomo das virtualidades da criana, so possveis no quadro de uma instituio que permanece margem do real. A abertura ao real dever, logicamente, levar constituio de redes educativas nas quais as tcnicas e o saber se adquirem em contacto directo com as diferentes actividades socio-econmicas. Mas uma tal dissoluo da funo educativa s poder realizar- -se num meio em que a distribuio dos papis se efectue segundo um modelo no-hierarquizado, e exclui o fechamento das especialidades. Pr deste modo em questo a escola significa questionar igualmente a sociedade, e contribui para motivar a criao de um tecido social de adultos que aceitem:

  • ! =16= 1. Pr em questo as suas prprias atitudes para com as crianas e os adultos; 2. Tentar levar a cabo um modo de vida liberto das presses da paralelizao do trabalho e dos modelos de consumo, e em que as trocas laterais sejam privilegiadas face s relaes hori-zontais; 3. Fazer convergir as suas reflexes e os seus esforos, com vista a tornar coerentes e viveis estas transformaes. C. Projecto de rede educativa evidente que este projecto no poder realizar-se de hoje para amanh. De momento, estamos a pr de p uma primeira etapa do projecto, que consiste essencialmente: 1. Na restituio, aos pais, da funo pedaggica.

  • ! =17= 2. Na preparao de ateliers abertos tanto aos adultos como s crianas. Para este efeito alugmos uma casa, concebida mais como um centro de animao do que como um lugar especfico para crianas. Esta casa est aberta em permanncia aos pais e outros adultos que se ajustem a estes nossos princpios.

    A Ferme Jacob e escola La Maison em Ottignies Vrios colaboradores permanentes asseguram a continuidade do trabalho. Pelo menos uma reunio por semana, aberta a todos, para tratar de questes de fundo e problemas prticos. As actividades so, em princpio, concebidas sob forma de ateliers, produtivos ou no se que tal coisa existe. Na prtica, temos em funcionamento neste momento ateliers de marcenaria, costura, pintura e bricolage, e ainda um caf- -restaurante que assegura quotidianamente a refeio do almoo das crianas e de uma dezena de adultos.

  • ! =18= Os custos (remunerao dos permanentes, aluguer da casa, alimentao das crianas, investimentos e custos de funcionamento dos ateliers) so suportados pelos pais, proporcionalmente aos seus rendimentos. Procuramos outros meios de financiamento. A breve prazo, a rentabilidade de alguns ateliers e de uma loja devero assegurar receitas regulares para cobrir os custos de funcionamento.

    A entrada da Ferme Jacob em Ottignies 3. Vantagens e limitaes da actual situao A. Vantagens 1. A estrutura em ateliers proporciona s crianas um acesso mais directo menos imaginado ao real (matria e trabalho), bem como vida os adultos. Melhora sensivelmente a comunicao entre adultos e crianas.

  • ! =19= 2. O acesso dos pais aos ateliers acaba com o papel especfico do educador e cria um terreno propcio a uma nova forma de interaco entre criana e adulto. 3. A diversificao dos laos pessoais e espaciais (multipli-cidade dos adultos, mobilidade espacial nos ateliers), o desenvolvimento de uma dinmica prpria do grupo de crianas, e a multiplicao de experincias de vida nos ateliers so outros tantos elementos que favorecem o desenvolvimento autnomo da criana, permitindo-lhe escapar a modelos de identificao limitativos. 4. A reflexo comum entre adultos torna possvel uma relao nova com a criana, atravs de um distanciamento em relao aos desejos e s expectativas que se projectam nela, e pelo reconhecimento da sua especificidade. 5. Para os adultos que participam nos ateliers, a interaco que a tem lugar, entre adultos e com as crianas, pode constituir a base de uma nova relao com o real e tambm com o trabalho.

    O jornal belga Le Soir, em 7 de Setembro de 1976, sobre a Escola La Maison

  • ! =20= B. Limitaes Acontece, no entanto, que numerosos elementos do funcionamento actual esto ainda prximos da estrutura escolar. 1. A concentrao das actividades numa nica casa e o sistema dos colaboradores permanentes continuam muito prximos do modelo da escola. Os pais no podem, e nem sempre desejam, consagrar uma parte significativa do seu tempo s actividades educativas. Mas, por outro lado, parece-nos que a concentrao dessas actividades necessria, para permitir o confronto de ideias e de prticas pedaggicas. 2. As crianas no esto ainda totalmente integradas nos ateliers em que se realiza uma actividade econmica como aquelas de que vivem os adultos. Por isso, de momento, todos esses ateliers tm um carcter artificial que os aparenta escola. 3. Do modo como funciona actualmente, o Centro acumula actividades e custos que correspondem a uma escola e a uma estrutura nova em vias de criao. Exige, por isso, daqueles que participam neste projecto um investimento muito pesado em tempo e em dinheiro, e que pressupe uma motivao muito slida. 4. As caractersticas socioculturais e de idade do grupo que criou o projecto (intelectuais volta dos trinta anos, com filhos de 2 a 7 anos) geram sem dvida elas mesmas outras limitaes.

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    Maria Gabriela Llansol/Augusto Joaquim UMA IDEIA DE ESCOLA

    !

    A anlise e o acompanha-mento de cada puto mais no que um efeito (alis, aci-dental) do processo constitu-tivo do grupo: posio moque* (integrao do tempo) liberdade de escolha trabalho colectivo interge- raes a teoria incorporada ao processo produtivo de rela- es sociais. (Agenda A05, p. 3 | 1972) ______________ * Moque = relativo ao moi (eu) (Estas anotaes so de Augusto Joaquim)

  • ! =22= M. G. Llansol, Caderno 2.05, p. 48 | 23 de Fev. 1973 Do Caderno 2.05, pp. 49-51 | Fev. de 1973

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    A organizao dos alunos em grupos (Caderno 2.06, pp. 12-13 | 27 de Setembro de 1973)

    "

    As pginas que se seguem provm de agendas (nos. 8, 12 e 13) da fase da Escola da Rua de Namur (1973-1974), essencialmente com tpicos para o trabalho de linguagem com as crianas.

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    Maria Gabriela Llansol O LIVRO DA ESCOLA

    (Fragmentos)1 30 de Novembro de 1976 Reflexo Malograda Na rua de Namur ramos uma Escola inteligente, mas a nossa opo era hbrida. Havia causerie [conversas] perfeitamente adaptada a seus fins: confrontao do corpo, ora com uma exploso ora com uma economia de movimentos. Abertura do caminho de acesso a vrios planos e realidades simblicos, o que permitia deslocaes e reajustamento da vida emotiva das crianas, e consequentemente uma maior mobilidade psquica. Havia longas horas em que crianas e adultos desenhavam a brincar como amigos que jogando descobrem que deram seus passos e esto agora um pouco mais alm.

    !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1 Trata-se de algumas anotaes no Caderno 2.08, directa ou indirectamente relacionadas com a Escola, e que no entraram nos Apontamentos sobre a Escola da Rua de Namur.

  • ! =30= 13 de Dezembro [de 1977] Como a casa est calma... As crianas partiram para a piscina. Com a densa atmosfera do jardim, o lugar propcio para a quietude e o pensamento. A planta raqutica de minha sala sobre a capela desenvolve-se. Precisa de um ponto fixo no solo: virada luz, no a posso mudar de lugar. H um lugar estvel. O vaso verde est sempre voltado para a fraca luz, e na mesma direco. Depois de varrer o cho da sala ao lado da sala de jantar das crianas, sentei-me. Tenho fome. A casa grande. A mesa est posta, vinte e dois pratos. Hoje os maiores esto ausentes, o clima do almoo ser mais doce, as vozes mais baixas e prximas das origens. Uma montanha de bananas fez de centro da mesa. De cada lado, uma vela, depois o po. A cobrir a parede ao fundo, uma ampla colcha, um pouco dobrada na ponta para cobrir um rasgo. Na parede da esquerda uma sequncia de quadros feitos com aplicaes de tecido sobre tecido: um albatroz que voa, uma casa mergulhada numa noite castanha ou na terra. Depois a porta que abre sobre um pequeno compartimento onde se lava a loua e est o retrato. Atrs das minhas costas o armrio com a loua; necessrio renovar os copos quase todos os meses.

    Desenhos de Augusto Joaquim com texto de criana

  • ! =31= 29 de Janeiro de 1977 Uma educao nacional planificada superstio. Uma educao nacional planificada com programas obriga-trios em breve se torna para todos (poderes pblicos, pais, educadores) superstio. Procuramos, agora, criar uma nova geografia entre ns. Desmembrar a Quinta de Jacob ou antes, fazer dela uma das pontas de uma estrela que irradiou. Aqui uma casa, ali outra casa, uma figura geomtrica irregular vai sendo traada no Brabante Valo. Projecta-se vir apenas Quinta de Jacob duas vezes por semana para os trabalhos do po, da capela, da central de compras. Num dos vrtices do polgono, a horta, a criao de animais, noutro a execuo do vesturio e o

  • ! =32= tratamento da l; por toda a parte, sobretudo nos locais mais calmos, o convvio com as crianas, que desviamos da superstio dos programas, ou seja, dos poderes limitados, julgados indispensveis vida. Nos restantes dias da semana, ficamos em nossas casas, promovendo as culturas e outras ocupaes que nos exprimem, recebendo, como disse, as crianas. Investigamos, escrevemos a par, ensinamos aos mais jovens o que, suspensos, aprendemos ontem. Eles tambm falam para ns, um grande e doce rumor de energia ecoa. Isto no uma paisagem buclica, o desejo de implantar no nosso quotidiano uma economia de onde esteja ausente a vontade de poder; tambm uma lucidez que no querer alimentar-se de detritos, de produtos e acontecimentos mortos, que conduzem morte. 3 de Dezembro de 1977 Grande espao de tempo sem escrever. H muito tempo que no escrevo, seno de vez em quando, o resumo de reunies. Durante um tempo, a Quinta absorvia uma grande parte da minha vida, ficava impressionada com o que nela se passava durante dias e dias, mesmo se na minha frente se abriam perodos de frias. Hoje creio que comea a ser diferente. Eu evoluo numa profundidade e direco que no so aquelas a que as coisas l se passam. Por momentos, estar com outros, para depois os deixar, com o mnimo de feridas, se possvel. Por que comecei hoje a escrever aqui? Fui Cabay, um dos meus grandes prazeres da quinta-feira, dia em que apenas fao duas fornadas de po. Comprei um livro ambicionado o primeiro volume do dirio de Cosima Wagner recentemente publicado. Estava a ler o seguinte: noite difcil, violenta

  • ! =33= enchaqueca relacionada com pesadelos, preocupao com as crianas, penso com tristeza no meu pai e na minha me, com dor no passado, com angstia no futuro das crianas, quando tive o desejo de me levantar para ir buscar este caderno e escrever o que tinha visto hoje ao deixar a Quinta de Jacob: a partida, na penumbra, dos diferentes carros carregados de pessoas, crianas, ces, po, compras, farelos para as galinhas. A porta da casa aberta, sabendo que o corredor est molhado e ao cho agarrados pedaos de lama. Um certo prazer, visto no escuro, de partir em direco da casa de Jodoigne, da escrita, da nossa amizade que um subtil entendimento, podendo deixar atrs um lugar desmantelado mas vivo e onde os homens se conhecem a partir de uma desiluso e da sua pequenez. Esta partida, e o que ela suscitou em mim de vontade de escrever, faz-me lembrar a primeira pgina deste livro/caderno. Vontade de anotar para que as noites sejam lidas daqui a cem anos.

    Atelier e recreio na La Maison

  • ! =34= Levanto-me com um desejo desmedido de ir Escola prestar contas do meu saber e do meu no-saber; verifico que prefiro andar num cho de tbuas do que sobre qualquer alcatifa que produz um som oco e abafado. Desabitado, oco intil porque aqui uma palavra faltou. o princpio do Inverno, porque ele j se pressente depois de Novembro. Sinto a falta do radical e do justo________ (Caderno 1.48, p. 103 1997)

    "

    _____ Que bom! j manh (quase 6h30) e o dia comea a aquecer-me com a sua cor. Benditos sejam meus pais que me mandaram escola, lugar em que regularmente amanhece.

    (Caderno 1.68, p. 173 | 7 de Setembro de 2004)!

  • ! =35=

    A EXPERINCIA DE LOVAINA, VINTE ANOS DEPOIS... (ARTIGO DE JOO MENDES, PBLICO, 10 DE ABRIL 1994)

  • ! =36=

    Caderno Escolas(Nova serie)