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UNIVERSIDADE CÂNDICO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
UMA PERSPECTIVA PSICOPEDAGÓGICA
DO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO:
DESAFIOS ATUAIS NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO
Por: LUCIANA MACHADO MONTEIRO
ORIENTADOR: Profª FABIANE MUNIZ
Niterói – RJ
- 2003 -
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UNIVERSIDADE CÂNDICO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
UMA PERSPECTIVA PSICOPEDAGÓGICA
DO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO:
DESAFIOS ATUAIS NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO
Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Universidade Cândido Mendes, Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento, Diretoria de Projetos Especiais, Projeto “A Vez Do Mestre” como requisito para obtenção do grau de especialidade em Psicopedagogia.
Por: LUCIANA MACHADO MONTEIRO
ORIENTADOR: Profª FABIANE MUNIZ
Niterói – RJ
- 2003 -
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DEDICATÓRIA
Aos futuros educadores interessados em construir um ensino de
qualidade, significativo e eficaz.
A todos os profissionais de educação no desafio de ensinar.
A qualquer um que acredita na EDUCAÇÃO...
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PENSAMENTO
“Cheguei a uma conclusão amedrontadora. Eu sou o elemento
decisivo na atividade da criança. É minha relação pessoal que cria o
ambiente. É o meu humor diário que gera o clima. Como adulto possuo
tremendo poder para fazer a vida de uma criança miserável ou alegre.
Posso ser a ferramenta da tortura ou o instrumento da inspiração. Posso
humilhar ou alegrar, ferir ou curar. Em todas as situações é minha resposta
que decidirá se uma crise poderá ser vencida ou vencedora, uma criança
humanizada ou desumanizada”.
Haim Ginett
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RESUMO
O presente estudo teve por objetivo refletir sobre a dinâmica da sala da
aula com ênfase na relação professor/aluno, à luz da psicologia considerando
que, esta área de conhecimento busca compreender o processo de
desenvolvimento humano, com um recorte na aprendizagem. A pesquisa
qualitativa na abordagem etnográfica norteou o trabalho de campo, que envolveu
uma professora e sua turma de alunos da 1ª série do ensino fundamental de uma
escola pública situada no Município de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. As
reflexões desenvolvidas convergem para a necessidade de se abrir espaço às
diferenças dos alunos na sala de aula e, para tanto, faz-se necessário que o
professor extrapole sua função de transmissor de informações, para uma postura
de educador, que busca sempre a socialização do conhecimento, viabilizando,
assim sua apropriação por parte de todos os alunos.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7
CAPÍTULO I – FORMAÇÃO TEÓRICA ............................................................. 9
1.1 – Aspectos Evolutivos da Psicopedagogia ....................................................9 1.2 – Objetivo de Estudo da Psicopedagogia......................................................11 1.3 – A Psicopedagogia na Instituição Escolar: Princípios Norteadores. ........14 1.4 – A avaliação Educacional numa Perspectiva Psicopedagógica ................17 1.5 – A relação Professor/aluno no Processo Ensino-aprendizagem...............18 1.6 – Comportamento do Professor e Resultados da Aprendizagem: Possíveis
Relações. .......................................................................................................19 1.7 – Desafios Atuais na Relação Professor-aluno: Rumo à Integração ..........20
CAPÍTULO II – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS NORTEADORES DO TRABALHO DE CAMPO ................................................................................. 23
2.1 – A Pesquisa Qualitativa na Abordagem Etnográfica : Um Processo em Construção. ...................................................................................................23
2.2 – Caracterizando a Escola: Aspectos Observados.......................................24 2.3 – Trocando Experiências: Mais Observações e Reflexões ..........................25
CAPÍTULO III – CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................... 29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 30
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INTRODUÇÃO
Por considerar a intencionalidade de toda ação educativa exercida por
professores em situações planejadas de ensino-aprendizagem, o interesse do
presente estudo centra-se nas questões relacionadas à atuação do professor, seu
papel no processo educativo como agente de mudanças e o seu relacionamento
com os alunos.
Lembremos que o professor é também chamado de mestre. Ora, a
palavra mestre leva-nos a pensar um ser superior, um guia que mostra o caminho
e ensina a seus discípulos a caminharem sozinhos, dentro de uma relação de
confiança, respeito e amor. Porém, o professor nem sempre tem consciência da
importância e responsabilidade do seu papel junto a seus alunos.
Se o professor é um ser humano, como poderia ser divino? É certo que
sua missão como educador é tão difícil que realmente mereceria possuir poderes
superiores. Entretanto, é passível de erros e atua num meio “viciado”, com idéias
ultrapassadas e nem sempre tem a oportunidade de se atualizar.
Partindo desse pressuposto, a reflexão sobre Educação implica um
posicionamento sobre o problema da qualidade do ensino e, conseqüentemente,
sobre o papel do professor no contexto sócio-educacional do momento. Para
isso, faz-se necessário repensarmos o papel do professor atualmente enquanto
facilitador da aprendizagem.
É preciso que o professor seja consciente e tenha clareza quanto à sua
especificidade enquanto educador para que assim possibilite aos alunos o prazer
e o acesso ao conhecimento.
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Um professor que esteja engajado numa prática transformadora
procurará respeitar o aluno como sujeito do conhecimento, sendo capaz de
construir seu saber; compreenderá o processo de construção do desenvolvimento
psicológico, social e cultural visando tornar os conteúdos acessíveis ao aluno,
relacionando-os com a sua experiência concreta e criando um ambiente favorável
à aprendizagem. É a qualidade do ambiente que o professor cria, incluindo a
relação professor/aluno e aluno/aluno que promoverá ou retardará o
desenvolvimento de aprendizagem.
A escola precisa estar organizada em função de um ensino de
qualidade e a aprendizagem deve dar-se de forma integrada, valorizando o aluno
em seu pensar, sentir, falar... e partindo de sua realidade para a sistematização
dos conhecimentos. A má qualidade de ensino provoca um desestímulo na busca
do conhecimento.
A psicopedagogia busca compreender o processo de desenvolvimento
humano com recorte na aprendizagem, considerando não somente os aspectos
cognitivos, mas os aspectos psicológicos, biológicos, históricos e sociais. Dessa
forma, vê o individuo como ser multifacetado e completo. Vem destes elementos
o interesse em estudarmos a relação professor/aluno com base na perspectiva
psicopedagógica.
Sendo assim, neste trabalho buscamos refletir sobre a dinâmica da sala
de aula, à luz da psicopedagogia.
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– CAPÍTULO I –
FORMAÇÃO TEÓRICA
1.1 – Aspectos Evolutivos da Psicopedagogia
No princípio da década de 1970, surgiram, em nível institucional, cursos
com enfoque psicopedagógico, antecedendo a criação dos cursos formais de
especialização e aperfeiçoamento. Esses cursos tratavam de temas como “A
criança-problema numa classe comum”, “Dificuldades escolares”, “Pedagogia
terapêutica”, “Problemas de aprendizagem escolar”. Eram oferecidos a
psicólogos, pedagogos e profissionais de áreas afins, em busca de subsídios para
atuar junto às crianças que não respondiam às solicitações das escolas.
Os primeiros cursos de especialização em Psicopedagogia no Brasil
surgiram no final da década de 70, idealizados para complementar a formação
dos psicólogos e de educadores que buscavam soluções para os problemas
acima referidos. Esses cursos foram estruturados e, dentro desse contexto
histórico, amparados num conhecimento científico, fruto de uma dinâmica
sociocultural que não era nossa.
Vale dizer que a Psicopedagogia surge com o compromisso de
contribuir para a compreensão do processo de aprendizagem e identificação dos
fatores facilitados e comprometedores desse processo, com vistas a uma
intervenção. A grande necessidade de uma ação efetiva, nesse sentido, fica
evidenciada no interesse que tem havido pela Psicopedagogia em nosso país.
Historicamente, a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia
10
e a Psicologia, a partir da necessidade de atendimento de crianças com
“distúrbios de aprendizagem” consideradas inaptas dentro do sistema
educacional.
O termo Psicopedagogia distingue-se em três conotações: como uma
prática, como um campo de investigações do ato de aprender e como (pretende-
se) um saber científico.
Porém, quanto mais tentamos explicitar o significado do termo
Psicopedagogia, mais certos ficamos da sua ambigüidade, tanto em relação à sua
etimologia quanto ao seu objeto de estudo.
Os diversos autores que tratam da Psicopedagogia enfatizam o seu
caráter interdisciplinar e como diz BARTHES (in: BOSSA, 1994: 05), “A
interdisciplinaridade consiste em criar um objeto novo que não pertença a
ninguém”.
A Psicopedagogia recorre à Psicologia e a outras áreas do
conhecimento para estudar a aprendizagem humana e sistematizar um corpo
teórico próprio.
Pode-se dizer que ela surgiu como uma necessidade de compreender o
processo de aprendizagem, refletindo sobre questões relacionadas ao
desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo, implícitas nas situações de
aprendizagem. Assim, vê o indivíduo como ser completo, multifacetado e
complexo.
A Psicopedagogia integra várias áreas do conhecimento e tem um
vasto campo de atuação. Seu enfoque multidimensional e histórico permite-lhe
ultrapassar o pensamento racional e fragmentado.
A Psicopedagogia é um campo de conhecimento em estruturação,
sendo o estudo e a pesquisa dos fenômenos que concretamente ocorrem na
dinâmica de sala de aula, o pano de fundo que nos fornece os indicadores para a
ação psicopedagógica, compromissada com o processo de integração do ser
cognoscente no seu movimento do saber.
A indefinição do termo dá-se pelo fato de não se ter respostas prontas e
únicas para o que seria Psicopedagogia. Porém, vale ressaltar que se trata de um
saber aberto, situada num devir, que se constitui a partir da sua eficiência: a
prática, isto é, a própria realidade e o inesperado que lhe é peculiar.
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A Psicopedagogia permite uma apreensão mais eficaz do processo de
aprendizagem. Uma apreensão que possibilita ao profissional identificar
elementos facilitadores e comprometedores desse processo. Afinal, é o problema
de aprendizagem que mobiliza a Psicopedagogia.
1.2 – Objetivo de Estudo da Psicopedagogia
A Psicopedagogia estuda as características de aprendizagem humana:
como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está
condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na
aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-Ias. Esse objeto de
estudo, que é um sujeito, adquire características específicas a depender do
trabalho clínico ou preventivo.
O trabalho clínico se dá na relação entre um sujeito com sua história
pessoal e sua modalidade de aprendizagem, buscando compreender a
mensagem de outro sujeito, implícita no não-aprender. Nesse processo, onde
investigador e o objeto-sujeito de estudo interagem constantemente, a própria
alteração torna-se alvo de estudo da Psicopedagogia. Isto significa que, nesta
modalidade de trabalho, o profissional deve compreender o que o sujeito aprende
e por que, além de perceber a dimensão da relação entre psicopedagogo e sujeito
de forma a favorecer a aprendizagem.
No trabalho preventivo, a instituição, enquanto espaço físico e psíquico
da aprendizagem, é o objeto de estudo da Psicopedagogia, uma vez que são
avaliados os processos didático-metodológicos e a dinâmica institucional que
interferem no processo de aprendizagem.
A definição do objeto de estudo da Psicopedagogia passou por fases
distintas, assim como os demais aspectos dessa área de estudo. Em diferentes
momentos históricos, que repercutem nas produções científicas, esse objeto foi
entendido de várias formas. Houve tempo em que o trabalho psicopedagógico
priorizava a redução, o processo de aprendizagem era avaliado em função de
seus déficits e o trabalho procurava vencer tais defasagens. O objetivo de estudo
12
era o sujeito que não podia aprender, concebendo-se a “não-aprendizagem” pelo
enfoque que salientava a falta. Esse enfoque buscava estabelecer semelhanças
entre grandes grupos de sujeitos, as regularidades, o esperado para determinada
idade, visando reduzir as diferenças e acentuar a uniformidade.
Posteriormente, a Psicopedagogia adotou a noção de não-
aprendizagem de uma outra maneira: o não-aprender é concebido como
carregado de significados, e não se opõe ao aprender. Essa nova concepção
leva em conta a singularidade do indivíduo ou grupo, buscando o sentido
particular de suas características e alterações, segundo as circunstâncias da sua
própria história e do seu mundo sociocultural. O processo evolutivo pelo qual essa
nova área de estudo procurou estruturar-se entende que o objeto de estudo é
sempre o sujeito “aprendendo”.
A aprendizagem ocupa e preocupa os profissionais brasileiros, sendo
os aspectos inerentes ao processo desta aprendizagem a causa e a razão da
Psicopedagogia.
Faz-se necessário, então, revermos as opiniões de alguns especialistas
que, ao longo do tempo, vêm tentando delinear o campo de atuação da
Psicopedagogia.
“A Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades internas e externas da aprendizagem tomadas em conjunto. E mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos”.
NEVES (in: BOSSA, 1994: 08)
KIGUEL (in: BOSSA, 1994: 08) assim se expressa:
“O objetivo central de estudo da Psicopedagogia está se estruturando entorno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos – bem como a influência do meio (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento”.
E ainda:
13
“A Psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores”.
WEISS (in: BOSSA, 1991: 09)
Segundo ALVES (s/d: 10)
“A Psicopedagogia tem como objeto o estudo das forças que integram o ser sujeito diante do objeto do conhecimento e aprendizado”.
SCOZ (in: BOSSA, 1994: 08) salienta que:
“A Psicopedagogia estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades e numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento integrando-os e sintetizando-os”.
“O principal objetivo é a investigação de etiologia da dificuldade de aprendizagem, bem como a compreensão do processamento da aprendizagem, considerando todas as variáveis que intervém neste processo”.
RUBINSTEINS (in: BOSSA, 1994: 09)
GOLBERT (in: BOSSA, 1994: 08) salienta que:
“O objeto de estudo da Psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêutico. O enfoque preventivo considera o objeto de estudo da Psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento, enquanto educável. Seu objeto de estudo é a pessoa a ser educada, seus processos de desenvolvimento e as alterações de tais processos... O enfoque terapêutico considera o objeto de estudo da Psicopedagogia a identificação, análise, elaboração de uma metodologia de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem”.
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BOSSA (1994: 09) é conclusiva:
“Essas considerações em relação ao objeto de estudo da Psicopedagogia sugerem que há um certo consenso quanto ao fato de que ela deve ocupar-se em estudar a aprendizagem humana, porém é uma ilusão pensar que tal consenso nos conduza, a todos, a um único caminho... A concepção de aprendizagem é resultado de uma visão de homem, e é em razão desta, que acontece a práxis psicopedagógica”.
1.3 – A Psicopedagogia na Instituição Escolar: Princípios Norteadores.
A Psicopedagogia não é um fim. É o início de um novo pensar que
busca a integração entre ensino e aprendizagem. Ela propõe ao educador uma
leitura globalizada dos problemas de aprendizagem considerados em todas as
dimensões que lhe são pertinentes: a orgânica, a cognitiva, a pedagógica, a
afetiva, a social, a familiar, a cultural entre outras. Desta forma, está sempre
tentando resgatar um sujeito total, ou seja, não a soma, mas sim, a articulação
desses sujeitos ou fragmentos.
A Psicopedagogia deve ser utilizada pelo educador principalmente no
âmbito preventivo partindo da sala de aula e enxergando o aluno,
fundamentalmente, como um ser social, valorizando e resgatando sua identidade
cultural.
A Psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem,
assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de
alunos e educadores. Deve-se dar ao professor e ao aluno um nível de autonomia
na busca do conhecimento e ao mesmo tempo, possibilitar uma postura critica em
relação à estrutura da escola e da sociedade que ela representa.
Podemos dizer que atualmente a Psicopedagogia não se restringe
apenas aos “problemas” e suas pesquisas, mas está voltada para dois enfoques
da instituição escolar: Psicopedagogia terapêutica ou curativa e Psicopedagogia
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preventiva.
A Psicopedagogia terapêutica tem como objeto reintegrar o aluno que
apresenta dificuldade de aprendizagem ao processo de construção de
conhecimento. Procura identificar, analisar e elaborar uma metodologia de
diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem.
A Psicopedagogia preventiva, para a qual está direcionado o enfoque
deste trabalho, tem como meta refletir e desenvolver projetos pedagógicos
educacionais, enriquecendo os procedimentos em sala de aula, as avaliações e
planejamentos na educação sistemática ou assistemática. Seu principal interesse
é a pessoa a ser educada, seus processos de desenvolvimento e as alterações
de tais processos. Procura focalizar as possibilidades de aprender e de ensinar,
sem se restringir somente à escola, mas buscando a integração, também, da
família e da comunidade.
Como salienta BOSSA (1994:13):
“Há diferentes níveis de prevenção. No primeiro nível o psicopedagogo atua nos processos educativos com o objetivo de diminuir a freqüência dos problemas de aprendizagem. Seu trabalho incide nas questões didático-metodológicas, bem como na formação e orientação de professores, além de fazer aconselhamento aos pais. No segundo nível, o objetivo é diminuir e tratar dos problemas de aprendizagem já instalados. Para tanto, cria-se um plano diagnóstico da realidade institucional e elabora-se planos de intervenção baseados nesse diagnóstico, a partir do qual procura-se avaliar os currículos com os professores, para que não se repitam transtornos. No terceiro nível, o objetivo é eliminar os transtornos já instalados, num procedimento clínico com todas as suas implicações. O caráter preventivo permanece, uma vez que, ao eliminarmos um transtorno, estamos prevenindo o aparecimento de outros”.
A questão, portanto, do papel da Psicopedagogia na e para a instituição
escolar, dá-se num contexto instituído, com seus limites, mas com um enorme
potencial inerente ao ser humano constituinte desta dinâmica A ação educativa
historicamente construída, caminha para uma interseção de sua própria
compreensão e da concepção da área do conhecimento humano com os meios e
limites institucionais de seu espaço de ação.
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O psicopedagogo deve ter a visão global do ser humano, buscando no
saber, no conhecimento interdisciplinar, no contexto individualizado e
institucionalizado, o sentido de se trabalhar a diversidade.
Podemos caracterizar a Psicopedagogia como uma área de confluência
do psicólogo (a subjetividade do ser humano) e do educacional (atividade
especificamente humana, social e cultural). Assim sendo, o psicopedagogo ensina
como aprender e, para isso, necessita aprender o aprender e a aprendizagem. E
como afirma BOSSA (1994: 21):
“Para o psicopedagogo, aprender é um processo que implica pôr em ação diferentes sistemas que intervêm em todo sujeito: a rede de relações e códigos culturais e de linguagem que, desde antes do nascimento, têm lugar em cada ser humano à medida que ele se incorpora à sociedade”.
O psicopedagogo deve ter uma formação multidisciplinar embasada nas
diversas ciências. Do ponto de vista filosófico, seu embasamento deve lhe
permitir encontrar a idéia de homem e os valores implícitos nas teorias
educacionais. Sua formação sociológica deve lhe possibilitar a compreensão do
seu tempo e do seu espaço sociocultural. Sensível à realidade social, ele pode
discriminar as influências positivas e/ou negativas que as organizações sociais
têm sobre o educando; pode também, orientar sua ação numa perspectiva de
renovação social, visando a que sejam dadas ao indivíduo as oportunidades
educacionais que este necessita para seu desenvolvimento pessoal e sua
autonomia.
O psicopedagogo norteia sua ação consciente de que a aprendizagem
do indivíduo é, antes de tudo, uma relação com o mundo externo e que o vínculo
que se estabelece com o indivíduo será um fator relevante na sua mobilização
para a busca do novo.
É um profissional que, reunindo conhecimentos de várias áreas de
conhecimento e aprendizagem, atuando numa linha preventiva ou terapêutica.
Em relação ao educador, o psicopedagogo tem como meta sistematizar
e instrumentalizar sua atuação profissional no sentido de proporcionar a melhoria
das condições de aprendizagem, levando em consideração as características do
educando.
17
1.4 – A avaliação Educacional numa Perspectiva Psicopedagógica
A avaliação é um subsídio do projeto pedagógico e por isso não pode
ser vista de maneira isolada, mas sim como parte integrante do processo de
ensino-aprendizagem. Seu objetivo principal deve ser a facilitação do processo de
aprender.
É preciso implementar formas de avaliar que não desanimem os alunos,
mas os encorajem a encarar os resultados de suas produções e a prosseguir.
Essa valorização do ser humano só poderá ocorrer se for vivenciado no
próprio ambiente de trabalho. Mudar o espaço de ensino não significa apenas
mudar a metodologia ou adotar procedimentos de um professor “bem sucedido”.
Significa questionar profundamente as próprias posições e se perguntar sobre as
próprias intencionalidades.
A avaliação numa perspectiva de mudança parte da premissa de que o
aluno é sujeito do conhecimento e, portanto, é capaz de construir seu saber.
A avaliação nas escolas tem servido apenas para classificar o aluno em
bom, médio, ruim... ao invés de tirar conseqüências da sua aprendizagem. O
aluno é sua nota. Ora, isso não constitui uma avaliação efetiva. Avaliar implica
um ato dinâmico e não estático. Pode-se através da avaliação melhorar o ensino
e aprendizagem. A avaliação traz conseqüências significativas para o ensino.
A avaliação numa visão libertadora não tem o papel de apresentar
verdades únicas, mas de investigar, de problematizar e principalmente, de ampliar
perspectivas. O sentido fundamental da ação avaliativa é o movimento, a
transformação.
A avaliação faz-se pela capacidade de observar, refletir e registrar as
atividades em sala de aula.
Um professor que não problematiza as situações do cotidiano, que não
reflete sobre as suas ações e sobre as manifestações dos alunos, baseia-se em
verdades prontas e preestabelecidas. Reduz a avaliação a uma prática de registro
de resultados acerca do desempenho do aluno, ou seja, restringe-se às questões
da aprovação e reprovação.
A construção de um novo significado da avaliação pressupõe que os
educadores dêem um enfoque crítico à educação e ao seu papel social.
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“O educador libertador tem que estar atento para o fato de que a transformação não é só uma questão de método e técnicas. Se a educação libertadora fosse só uma questão de método, então o problema seria mudar algumas metodologias tradicionais por outras mais modernas. Mas esse não é o problema. A questão é o estabelecimento de uma relação diferente com o conhecimento e com a sociedade”.
(SHOR & FREIRE, 1986: 48).
Podemos também ter em mente que:
“É preciso que haja um projeto comum, a definição de um caminho teórico e dos modos de caminhar, para que possam ser estabelecidos critérios para o repensar do trabalho pedagógico, para a avaliação escolar”.
ANDRE (in: HOFFMAN, sld:09)
HOFFMAN (s/d: 10) é conclusiva:
“É necessária a tomada de consciência gradual e coletiva a nível da escola de tal forma que ultrapasse os seus muros e transforme-se numa força que influencie a revisão do significado social e político das exigências burocráticas da avaliação”.
1.5 – A relação Professor/aluno no Processo Ensino-aprendizagem
É o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos do
indivíduo, ligando o desenvolvimento da pessoa à sua relação com o ambiente
sócio-cultural em que vive. Pode-se afirmar então que o ser humano cresce num
ambiente social e a interação com outras pessoas é essencial a seu
desenvolvimento.
Considerando que a aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo
adquire informações, habilidades, atitudes, valores a partir de seu contato com a
realidade, o meio ambiente e outras pessoas, a idéia de aprendizado inclui a
interdependência dos indivíduos envolvidos neste processo.
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O processo de ensino-aprendizagem na escola deve ser construído
tomando como ponto de partido o nível de desenvolvimento real da criança para
chegar aos objetivos estabelecidos pela escola, conforme preconiza Vygotsky.
Esta tem o papel de fazer o indivíduo avançar em sua compreensão de mundo a
partir de seu desenvolvimento já consolidado, tendo como meta às etapas
posteriores ainda não alcançadas. Dessa forma, o aprendizado escolar torna-se
o elemento propulsor de desenvolvimento do indivíduo que freqüenta a escola.
Vygotsky (in: Oliveira, 1995:57) afirma que:
“O processo de aprendizagem inclui sempre aquele que aprende, o que ensina e a relação entre essas pessoas. Toda aprendizagem da criança na escola tem uma pré-história, visto que a aprendizagem começa muito antes da aprendizagem escolar e esta nunca parte do zero”.
A influência do professor e dos demais alunos é fundamental para a
promoção do desenvolvimento do indivíduo. Por isso, é considerado bom ensino
aquele que adianta ao desenvolvimento.
Qualquer forma de interação social quando integrada num contexto
realmente voltado para a promoção do aprendizado e do desenvolvimento, pode
ser utilizada de forma produtiva na situação escolar.
O professor deve afirmar seu papel através de um trabalho sério e
comprometido, buscando tornar seu ensino relacionado à realidade do aluno e na
direção do seu preparo para a vida. Deve ser um profissional entusiasmado com
a educação, oportunizando um ensino prazeroso e um espaço para a descoberta
onde os alunos possam elaborar e organizar seu saber.
1.6 – Comportamento do Professor e Resultados da Aprendizagem: Possíveis Relações.
Existe uma relação direta entre o comportamento do professor e as
conquistas do aluno. Pode-se até dizer que o comportamento do professor em
sala de aula marca as diferenças de aprendizagem dos alunos.
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Há um modelo de bom aluno que é o quieto, respeitador das normas
sem as questionar. Aqueles que se afastam desse modelo são gradativamente
excluídos da participação em sala de aula. O professor define o bom aluno como
aquele que “consegue aprender, que é atento e quer saber de tudo” ou “que é
interessado, que busca informações e procura em livros”. Essas caracterizações
de aluno ideal não são questionadas pelos professores, nem quando eles próprios
constatam que o número de alunos que se adequa a esse “ideal” é mínimo. É
possível afirmar que essa caracterização corresponde, a partir dos pressupostos
do professor, a um aluno idealizado, não ao aluno real, com o qual ele trabalha.
Ao estabelecer contato com um novo aluno, o professor selecionaria
aquelas características que apresenta um maior peso em sua imagem do aluno
ideal. De acordo com estes parâmetros, categoriza-o e interpreta sua conduta.
Ainda que a imagem do aluno ideal seja única e própria de cada professor, fruto
de sua experiência profissional e pessoal, há possibilidade de encontrar traços
comuns nas imagens do aluno ideal construídas por diferentes professores, em
um momento ou em um contexto histórico-cultural dado. Isto permite que
associemos a este processo a influência de fatores sociais e culturais em sua
formação. As atitudes de desvalorização ou autodesvalorização, instaladas
precocemente, provocam a aceitação do insucesso escolar como conseqüência
do comportamento escolar individual das crianças e, portanto, de sua total
responsabilidade.
1.7 – Desafios Atuais na Relação Professor-aluno: Rumo à Integração
A integração entre iguais e a interação professor-aluno são, com toda a
segurança, caminhos que podem convergir para um enfoque educativo cuja
finalidade seja a de promover a aprendizagem significativa, a socialização e o
desenvolvimento dos alunos.
A escola é uma instituição social que depende da interação de dois
elementos: o aluno, centro do processo educativo, e o professor, agente dessa
ação educativa.
A formação pedagógica do professor envolve a aprendizagem de um
21
conjunto de conhecimentos sobre ensinar e aprender, essenciais ao exercício do
magistério. Ou seja, o professor deve conhecer o processo de desenvolvimento e
de aprendizagem do educando. O professor só pode orientar bem o
desenvolvimento dos seus alunos se souber de que modo se dá a aprendizagem.
É preciso que o professor não tenha medo de perder o seu lugar social,
o poder do início e que possa dividir o seu saber com o aluno. Quando ele faz o
aluno refletir, criticar, questionar... ambos se tornam elementos ativos no processo
de construção do conhecimento.
Muitas barreiras se interpõem entre o aluno, o professor e os objetos do
conhecimento. E para que haja um bom relacionamento entre eles, torna-se
necessário que sejam quebrados os preconceitos e os estereótipos.
É preciso que seja construída uma relação dialética entre o saber e o
ainda não saber, que possibilite nova integração, dando ao aluno a verdadeira
possibilidade de ser o construtor do seu conhecimento.
A educação escolar não pode ser reduzida à pura transmissão de
conhecimentos. Os conhecimentos transmitidos devem ser concretos, vivos,
ligados às experiências de vida dos alunos e à realidade da sociedade vigente.
O professor deve criar possibilidades, abrir espaço para que no
processo de interação o aluno construa o próprio conhecimento. Desta forma
deve ter consciência de sua responsabilidade, pois dependerá dele criar
condições para que se estabeleça vínculos, adequando os conteúdos de acordo
com as necessidades e interesses do aluno, procurando compreender as
diferenças individuais e os ritmos de aprendizagem.
Não existe receita pronta para se fazer o ensino e é preciso que a
aprendizagem seja construída dia após dia.
O desafio para qualquer educador é justamente o de utilizar a
informação disponível na reflexão em sua ação e sobre sua ação.
O professor precisa acreditar na sua capacidade dentro do processo
educativo, seja no interior da escola ou fora dela e, mais que isso, precisa de uma
educação crítica e reflexiva, capaz de procurar e conhecer a realidade e o seu
papel na sociedade.
A principal tarefa dos pesquisadores consiste em identificar, descrever
e documentar os efeitos produzidos pelos professores nas aulas, com a
22
esperança de que esses efeitos possam ser reconhecidos por outros professores
e reinterpretados no contexto de suas salas.
O professor deve ser um profissional reflexivo com capacidade para
analisar os fundamentos e as conseqüências de sua ação; um pesquisador
entusiasmado com a possibilidade de conhecer melhor o processo de
desenvolvimento, a fim de proporcionar a seus alunos auxílio na construção do
conhecimento, de relacionamento cooperativo, da autonomia, da auto-imagem
positiva e a cidadania; reconhecendo o aluno como elemento ativo, respeitando
seu contexto cultural e encarando-o como importante fator de mudança social.
Assim, aos poucos, o professor irá eliminando seus erros na sala de aula, visto
que ela é o contexto para se estudar o ensino e a relação professor-aluno.
É preciso planejar situações educativas que promovam uma
aprendizagem efetiva, levando os alunos a explicitarem seus conhecimentos, a
questionarem, a preencherem lacunas de informação, a se apropriarem de novos
conhecimentos. Para isso, há necessidade de capacitar os professores para que
compreendam com maior clareza o processo de aprendizagem e a não-
aprendizagem dos alunos com vistas à prevenção de maiores problemas futuros.
Assim, o processo educativo torna-se mais eficiente quando professor e
aluno caminham juntos, dialogando e vivenciando experiências, num
relacionamento que os levará à realização pessoal e profissional.
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– CAPÍTULO II –
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS NORTEADORES
DO TRABALHO DE CAMPO
2.1 – A Pesquisa Qualitativa na Abordagem Etnográfica: Um Processo em Construção.
O presente estudo se desenvolveu a partir de uma pesquisa qualitativa,
com ênfase na abordagem etnográfica, configurando-se como estudo caso a
relação professor-aluno no processo de escolarização.
Entende-se por pesquisa qualitativa, a que:
“considera o pesquisador como o principal instrumento de investigação e a necessidade de contato direto e prolongado com o campo”.
(ALVES, 1991:54).
Além disso, torna-se ainda necessário destacar que:
“A realidade é uma construção social da qual o investigador participa e, portanto, os fenômenos só podem ser compreendidos dentro de uma perspectiva holística, que leve em consideração os componentes de uma dada situação em suas interações e influências recíprocas, o que exclui a possibilidade de se identificar relações de tipo estatístico”.
(ALVES, 1991:55).
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Este trabalho foi conduzido tendo em vista princípios extraídos da
pesquisa etnográfica educacional, que busca descrever, compreender e
interpretar os fenômenos educativos relativos ao contexto escolar. Além,
também, de penetrar no mundo individual dos sujeitos, buscando o significado
singular da ação das pessoas e afirmando que a descrição pode mostrar uma
realidade dinâmica e múltipla.
O que caracteriza mais fundamentalmente a pesquisa do tipo
etnográfico é, principalmente, o contato direto do pesquisador com a situação e as
pessoas ou grupos selecionados.
Os sujeitos envolvidos são uma professora e sua turma de alunos da 1ª
série do Ensino Fundamental.
A turma é composta por trinta e quatro alunos, sendo dezoito meninos e
dezesseis meninas, com média de idade de sete anos.
Os dados foram obtidos através de observação e de entrevistas
interativas com os atores sociais.
2.2 – Caracterizando a Escola: Aspectos Observados
O presente estudo se desenvolveu em uma escola pública que oferece
desde a educação infantil até o final do ensino médio, com ênfase no curso de
Formação de Professores.
A escola com cerca de 2.600 alunos atende à classe média baixa do
Município de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro.
No ano de 2002 o Curso de Formação de Professores contava com 178
alunos divididos entre o 1º, 2º e 3º ano com duas turmas de cada série e com
média de 18 anos.
A equipe técnica ficou constituída por um diretor geral e três diretores
adjuntos, um coordenador de área, um coordenador de disciplinas e um
supervisor de estágio.
A escola conta com treze professores que atuam da Alfabetização à 4ª
série, com os seguintes níveis de formação: 2º grau Pedagógico; curso adIcional
em Português, Matemática e Ciências; 3º grau em Fonoaudiologia e Pedagogia.
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A professora da turma observada atua no magistério há apenas quatro
anos, mesmo sendo formada há dez anos no Curso de Formação de Professores.
É também, fonoaudióloga e cursou até o quinto período da Faculdade de
Pedagogia, não concluindo a mesma. Sempre trabalhou na rede pública de
ensino.
2.3 – Trocando Experiências: Mais Observações e Reflexões
No que se refere aos aspectos envolvidos na relação professor/aluno e
à importância de uma perspectiva psicopedagógica no processo de escolarização,
podemos destacar algumas falas significativas da professora Márcia e dois de
seus alunos.
“A aprendizagem é muito mais do que um simples ato de fazer o exercício corretamente. Ela parte do que vemos do aluno no dia-a-dia, o crescer dele na sala de aula. A aprendizagem é um processo evolutivo e cada criança tem um potencial a ser desenvolvido”.
(Professora Márcia)
Percebe-se que na fala da professora há preocupação com cada aluno,
como processo e não como produto de aprendizagem acadêmica padronizado. O
conhecimento é visto como uma transformação contínua e não como transmissão
de conteúdos programáticos. O sujeito da aprendizagem é o aluno. Acredita ser
necessário aceitar o aluno tal como é e compreender os sentimentos que ele
possui. O conhecimento é considerado uma construção contínua e não como
algo mecânico, pronto e acabado.
Durante a fala do aluno Maycon, observamos como ele percebe o
trabalho da professora:
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“... a professora ensina direito. Quando a gente não entende, ela ensina de novo até a gente aprender. E quando ela erra alguma coisa, a gente fala e ela conserta”.
Aproveito, também, a fala da professora quanto esta diz:
“O professor não é dono do saber. Ele pode até saber mais do que o aluno, mas o aluno também tem muito o que ensinar. O professor deve propiciar aos alunos às descobertas e, nessa relação, eu me sinto como a pessoa que vai dar as dicas pra que eles percebam que aquilo que vêem nos livros super difícil, não é nada mais do que eles já viram em casa, que eles já têm experiências. Eu estou ali para fazer despertar o que eles já sabem e aperfeiçoar isso. Eu não sou uma detentora do saber, eu estou ali para ajudar”.
A professora percebe e compreende que o processo de aprendizagem
se desencadeia a partir da necessidade, do conflito, da inquietação e do desafio,
desenvolvendo estratégias de ação que estimulem a criança a superar suas
próprias limitações. Acredita ser a mediadora do processo de construção do
conhecimento, já que o mesmo está sendo redescoberto e re-criado pelos alunos.
Isto fica claro quando acontece o erro da professora e esta admite ter errado,
postura esta, que não é tomada pela maioria dos professores. O diálogo é
desenvolvido, ao mesmo tempo em que são oportunizadas a cooperação, a
união, a organização, a solução em comum dos problemas.
Conversando com a aluna Drieli sobre o seu relacionamento com a
professora e os colegas, ela comenta:
“Eu adoro a Tia Márcia, ela é muito carinhosa. Também gosto dos meus colegas. A gente não briga e um ajuda o outro. Tem uns que são bagunceiros, mas a tia chama a atenção e eles ficam quietos”.
E ainda:
“... a tia trata todo mundo igual. Ela está sempre brincando e conversando com a gente. Assim, agente aprende melhor”.
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Ratificando a fala da aluna sobre a importância do relacionamento
afetivo, pude comparar com o discurso da professora, quando esta expõe:
“Acho importante, antes de tudo, ter uma relação afetiva com as crianças. Através da confiança de meus alunos, a aprendizagem se dará de forma bem melhor. Considero a relação professor/aluno fundamental. O aluno precisa confiar, se identificar, ter uma relação amigável com o professor. Deve haver respeito entre ambas as partes”.
E complementa:
“Pra poder se estabelecer à relação professor/aluno satisfatoriamente, é preciso que quem esteja trabalhando, esteja ali com gosto, com vontade de fazer aquilo, que goste do que está fazendo. É muito fácil falar: ‘Eu sou professor’, mas é difícil entrar numa sala e agir como tal. É uma questão de ajudar os seus alunos, tirar as dúvidas que eles têm e se alegrar com isso. É gostar do que faz e estar ali por prazer”.
Fica claro que o relacionamento entre professor/aluno e aluno/aluno,
constitui-se na principal estratégia para que a aprendizagem se torne significativa
e não uma simples memorização de letras e números. A influência do professor e
dos mais alunos é fundamental para promover o desenvolvimento do indivíduo.
Através das falas, percebe-se como o relacionamento entre a professora e os
alunos torna-se um fator extremamente importante para a sistematização e
construção do conhecimento.
Segundo a professora Márcia:
“O professor deve respeitar e conhecer o aluno, sua insegurança, seus medos, seu desenvolvimento... Gostando do que está fazendo e tendo um pouco de conhecimento do processo de desenvolvimento da criança, o trabalho de sala de aula se tornará mais coeso, daí vem o companheirismo, a relação de grupo, a afinidade...”. “As qualidades de um bom professor seriam, por exemplo, a empatia para possibilitar a relação com os alunos; gostar do que está fazendo; conhecer o que está fazendo para não
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cometer tantos erros, ter uma relação harmoniosa com os alunos”.
Durante a fala, percebe-se que a professora acha necessário refletir e
aprofundar estudos teóricos que lhe possibilite entender como a criança aprende,
pois acredita que só assim encontrará recursos necessários para orientar e
organizar as atividades de ensino. A professora, na medida do possível, tenta
descobrir os interesses individuais e coletivizá-los, abrindo espaço para integrar
os diferentes conteúdos e fazer um trabalho coletivo, estabelecendo relações
entre os alunos e os conhecimentos.
Conversando sobre a escola, Maycon revela:
“A escola serve pra gente aprender tudo que a professora ensina, pra ficar com os colegas, pra fazer dever, pra brincar e ficar inteligente. Eu adoro a minha escola!”.
Posicionando-se sobre este mesmo assunto, a professora diz:
“Acredito que a escola ideal está muito ligada ao aluno ter prazer de ir lá, ao professor estar lá por gosto e proporcionar aulas e atividades diferenciadas. A escola está muito distante da realidade de criança... o Professor deve trazer a vida do aluno pra dentro da sala de aula e trabalhar com essas diferentes realidades”.
Mediante as duas falas, percebe-se que a educação e,
conseqüentemente, a escola, assumem um caráter amplo e não se restringem às
situações formais de ensino-aprendizagem. A escola deve ser um local onde seja
possível o crescimento mútuo do professor e do aluno, o que implica uma escola
diferente da que se tem atualmente com seus currículos e prioridades. Propiciar
atividades diversificadas, compreender e trabalhar as diferentes realidades,
articular o conhecimento que o aluno traz consigo com os conteúdos
apresentados devem constituir um dos objetivos da escola de hoje.
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– CAPÍTULO III –
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Numa perspectiva psicopedagógica, o professor constrói-se a cada dia,
é um permanente aprendiz. Assim, aprendiz entre aprendizes, ele não tem a
pretensão de ensinar ninguém, mas está presente onde quer que se faça da
realidade uma lição e do cotidiano uma cartilha. Folheando com crianças ou
jovens as páginas da vida, será capaz de ajudá-los a compreender, expressar a
realidade e expressar-se; descobrir e assumir a responsabilidade de ser elemento
de mudança na realidade.
Construindo-se assim aprendiz, mantendo viva e forte a chama de uma
paixão intensa pelo fascinante universo do saber. É esse professor que
queremos!!!
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, A. J. — O Planejamento de Pesquisas Qualitativas em Educação Caderno de Pesquisa da Fundação Carlos Chagas. São Paulo, Cortez, nº 37, p.53-61, Maio, 1991.
BOSSA, Nídia Aparecida. - A Psicopedagogia no Brasil: Contribuições a partir da prática. Porto Alegre, Artes Médicas, 1994.
GOLBEFRT, Clarisse S. — Considerações sobre as atividades dos Profissionais em Psicopedagogia na região de Porto Alegre. Boletim da Associação Brasileira de Psicopedagogia, ano 4, nº 8, agosto, 1985.
HOFFMAN, Jussara M. Lerch — Avaliação: Mito e Desafio. Coletânea AMAE: Avaliação. Belo Horizonte, MG, p.7-71, s/d.
NEVES, Maria A.C.M. — Psicopedagogia: um só termo e muitas Significações. Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Vol.10, nº 21, p 10-14, 1991.
OLIVEIRA, Marta Kohl de — Vygotsky – aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico. São Paulo, Scipione, 1995.
SCOZ, Beatriz. — Psicopedagogia e Realidade Escolar — o Problema Escolar e de Aprendizagem. Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 1994.
SHOR, Ira e FREIRE, Paulo. — Medo e Ousadia: o Cotidiano do Professor. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1986.
WEISS, Maria Lúcia Leme. — Psicopedagogia Clínica: Uma Visão diagnóstica Porto Alegre, Artes Médicas, 1994.