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RGSA – Revista de Gestão Social e Ambiental Jan. - Abr. 2008, V. 2, Nº. 1, pp.19-40 www.rgsa.com.br UMA PROPOSTA DE MODELO DE REFERÊNCIA PARA MENSURAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA Ivete Delai 1 Sérgio Takahashi 2 Resumo O capítulo oitavo da Agenda 21 aponta a integração entre meio ambiente e desenvolvimento na tomada de decisão, por meio de indicadores, como imprescindível para a operacionalização do desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, várias iniciativas para sua mensuração foram desenvolvidas tanto em nível global quanto empresarial. Essas últimas são em menor número e desenvolvidas a partir, principalmente, de pressões externas dos seus principais stakeholders. Apesar dessas iniciativas, vários autores apontam a falta de congruência do conteúdo mensurado como um dos principais limitadores da inclusão da sustentabilidade na agenda operacional das organizações. Nesse contexto, o objetivo deste artigo é apresentar um modelo de referência para mensuração da sustentabilidade corporativa, com base na complementaridade de oito renomadas iniciativas de mensuração, que possa ser utilizado pelas organizações no desenvolvimento ou na avaliação seus modelos de mensuração da sustentabilidade. Para tanto, primeiramente definiu-se o método de desenvolvimento do sistema composto por oito categorias de análise que abrangem desde a visão estratégica da organização até os indicadores. Posteriormente, construiu-se o modelo com base na análise da complementaridade das iniciativas em cada passo do método anteriormente definido. Essas iniciativas foram: Global Reporting Initiative (GRI), Métricas de Sustentabilidade do IChemE, Índice Dow Jones de Sustentabilidade, Índice Triple Bottom Line, Indicadores de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, Barômetro de Sustentabilidade, Dashboard de Sustentabilidade e Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. Como resultado final descreve-se o modelo de referência desenvolvido a partir da complementaridade das iniciativas e em pesquisa bibliográfica. Palavras Chave: Sustentabilidade Corporativa, Desenvolvimento Sustentável, Sistemas de Mensuração. 1 Consultora em Gestão Empresarial e pesquisadora externa do Grupo de Pesquisa em Gestão Estratégica de Conhecimento e Inovação (GECIN) da Universidade de São Paulo, Faculdade de Economia Administração e Contabilidade, Departamento de Administração. Avenida Bandeirantes, 3900 Monte Alegre 14048900 - Ribeirao Preto, SP – Brasil. Email: [email protected]. 2 Professor e Coordenador do Grupo de Pesquisa em Gestão Estratégica de Conhecimento e Inovação (GECIN) da Universidade de São Paulo, Faculdade de Economia Administração e Contabilidade, Departamento de Administração. Avenida Bandeirantes, 3900 Monte Alegre 14048900 - Ribeirao Preto, SP – Brasil. Email: [email protected].

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www.rgsa.com.br UMA PROPOSTA DE MODELO DE REFERÊNCIA PARA MENSURAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA

Ivete Delai1 Sérgio Takahashi2

Resumo

O capítulo oitavo da Agenda 21 aponta a integração entre meio ambiente e desenvolvimento na tomada de decisão, por meio de indicadores, como imprescindível para a operacionalização do desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, várias iniciativas para sua mensuração foram desenvolvidas tanto em nível global quanto empresarial. Essas últimas são em menor número e desenvolvidas a partir, principalmente, de pressões externas dos seus principais stakeholders. Apesar dessas iniciativas, vários autores apontam a falta de congruência do conteúdo mensurado como um dos principais limitadores da inclusão da sustentabilidade na agenda operacional das organizações. Nesse contexto, o objetivo deste artigo é apresentar um modelo de referência para mensuração da sustentabilidade corporativa, com base na complementaridade de oito renomadas iniciativas de mensuração, que possa ser utilizado pelas organizações no desenvolvimento ou na avaliação seus modelos de mensuração da sustentabilidade. Para tanto, primeiramente definiu-se o método de desenvolvimento do sistema composto por oito categorias de análise que abrangem desde a visão estratégica da organização até os indicadores. Posteriormente, construiu-se o modelo com base na análise da complementaridade das iniciativas em cada passo do método anteriormente definido. Essas iniciativas foram: Global Reporting Initiative (GRI), Métricas de Sustentabilidade do IChemE, Índice Dow Jones de Sustentabilidade, Índice Triple Bottom Line, Indicadores de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, Barômetro de Sustentabilidade, Dashboard de Sustentabilidade e Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. Como resultado final descreve-se o modelo de referência desenvolvido a partir da complementaridade das iniciativas e em pesquisa bibliográfica. Palavras Chave: Sustentabilidade Corporativa, Desenvolvimento Sustentável, Sistemas de Mensuração.

1 Consultora em Gestão Empresarial e pesquisadora externa do Grupo de Pesquisa em Gestão Estratégica de Conhecimento e Inovação (GECIN) da Universidade de São Paulo, Faculdade de Economia Administração e Contabilidade, Departamento de Administração. Avenida Bandeirantes, 3900 Monte Alegre 14048900 - Ribeirao Preto, SP – Brasil. Email: [email protected]. 2 Professor e Coordenador do Grupo de Pesquisa em Gestão Estratégica de Conhecimento e Inovação (GECIN) da Universidade de São Paulo, Faculdade de Economia Administração e Contabilidade, Departamento de Administração. Avenida Bandeirantes, 3900 Monte Alegre 14048900 - Ribeirao Preto, SP – Brasil. Email: [email protected].

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Abstract The eighth chapter of the Agenda 21 points out that if sustainable development is to be reached environment and development need to be taken into account in the decision-making at all levels of society, by using indicators as what gets measured gets managed. Since that, several sustainability measurement initiatives have been developed at various scales ranging from global down to business levels. Despite these various initiatives, some problems have still limited their use by companies. One of the main caveats, which has been pointed out by several authors, is the lack of a standard set of sustainability indicators. Therefore, this paper aims to propose a reference model to measure corporate sustainability that can be used by companies as a starting point to develop their tailor-made sustainability measurement systems as well as to evaluate their current systems. So as to achieve this objective, we followed two main stages. First, we built an eight-step system development method from literature review of sustainability measurement and performance measurement system. Secondly, we developed the model based on an analysis of the complementary of eight well-known sustainability measurement initiatives. These eight initiatives analysed are: Global Reporting Initiative, ICheme Sustainability Metrics, Dow Jones Sustainability Index, Triple Bottom Line Index System, Sustainable Development Indicators of the United Nations Commission on Sustainable Development, Barometer of Sustainability, Dashboard of Sustainability and Ethos Indicators of Corporate Responsibility. As a result, we present the reference model based on the complementary of the eight initiatives as well as on literature review. Keywords: Sustainability Measurement, Corporate Sustainability Measurement, Sustainable Development Introdução

Transformações expressivas em todas as dimensões da existência humana ocorreram durante o Século XX. Por um lado, um exponencial desenvolvimento tecnológico que aumentou a expectativa de vida, por outro, um crescimento significativo na utilização de matéria e de energia e na desigualdade dos padrões de vida entre e dentro dos países. Desse contexto surgiu em 1987 o conceito de desenvolvimento sustentável por meio do Relatório Brundtland elaborado pela World Commission on Environment and Development (WCED). Segundo ele, o desenvolvimento sustentável é “o que atende às necessidades do presente sem comprometer a habilidade das futuras gerações em atender às suas” (WCED, 1987, p.8). Esse conceito se tornou popular somente em 1992 quando o primeiro plano supranacional para o seu alcance foi consensado por 172 países – a Agenda 21 Global – durante a Rio-92.

De acordo com esta Agenda, um fator imprescindível para a operacionalização desse conceito na tomada de decisão empresarial e governamental é a integração das decisões sociais, econômicas e ambientais por meio do uso de indicadores que mensurem o desenvolvimento sustentável em todos os níveis da sociedade. Afinal, o que é medido é gerenciado. Desde então, um número significativo de iniciativas para a sua mensuração em nível nacional e regional tem sido desenvolvido. Já no âmbito empresarial, foco deste artigo, um menor número de iniciativas foi desenvolvido constituindo-se mais de guias ou orientações para divulgação das ações corporativas em relação à sustentabilidade do que sistemas de mensuração para embasamento da tomada de decisão. Alguns exemplos são o Global Reporting Initiative, as Métricas de Sustentabilidade do IChemE, o Índice Dow Jones de Sustentabilidade, o Guia para Empresas Multinacionais da Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD) e os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. Além desses, algumas iniciativas setoriais são apresentadas por Veleva & Ellenbecker (2001), Krajnc & Glavic (2003), Azapagic (2004), Krajn & Glavic (2005), Labuschagne, Brent, & Erck (2005) e Wang (2005).

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Apesar dessas iniciativas de mensuração, alguns fatores ainda limitam seu uso nos níveis público e privado. O maior deles é a falta de um conjunto de medidas-padrão de sustentabilidade amplamente aceitas (Sikdar, 2003; Searcy, Karapetrovic, & McCartney, 2005; Wang, 2005). Para Warhurst (2002), a “proliferação de indicadores e metodologias leva a necessidade de definição de padrões metodológicos e conjuntos de indicadores comuns e de desenvolvimento de mecanismos apropriados para sua incorporação nos sistemas de mensuração” (p.40).

Assim, o objetivo deste artigo é apresentar um modelo de referência para mensuração da sustentabilidade corporativa a partir da análise da complementaridade de oito iniciativas de mensuração mundialmente conhecidas. Constitui-se numa tentativa de propor um modelo de sistema de mensuração que possa ser utilizado pelas organizações como ponto de partida para o desenvolvimento de novos sistemas de mensuração da sustentabilidade organizacional ou para avaliação dos atuais.

Para tanto, este artigo divide-se em quatro seções. A primeira apresenta os conceitos e a importância dos sistemas de mensuração da sustentabilidade corporativa bem como uma breve descrição das iniciativas utilizadas para o desenvolvimento do modelo proposto. Já a segunda descreve a metodologia utilizada no desenvolvimento deste trabalho. Por fim, as seções três e quatro apresentam, respectivamente, o modelo proposto e as conclusões.

1. Mensuração da Sustentabilidade

Mensurar a sustentabilidade é imprescindível para inseri-la no processo de decisão de todos os níveis organizacionais. Essa mensuração pode ser feita por meio de índices ou conjuntos de indicadores. Independente do tipo de mensuração utilizado, suas funções serão as mesmas e estão ligadas ao embasamento da tomada de decisão:

auxiliar os tomadores de decisão na avaliação do desempenho em relação aos objetivos do desenvolvimento sustentável fornecendo bases para o planejamento de ações futuras (Bellen, 2005; Moldan & Bilharz, 1997; Gallopin, 1997; Comission on Sustainable Development (CSD), 2005; McCool & Stankey, 2004);

tornar mais perceptível uma tendência ou fenômeno que não seja imediatamente detectável antecipando futuras condições e tendências (Moldan & Bilharz, 1997; Gallopin, 1997; McCool & Stankey, 2004);

quantificar, medir, sumarizar, simplificar, comparar e comunicar informações relevantes à tomada de decisão (Krajnc & Glavic, 2003; Moldan & Bilharz, 1997; Gallopin, 1997; CSD, 2005);

auxiliar os tomadores de decisão na compreensão do significado operacional do conceito de desenvolvimento sustentável funcionando como ferramenta educacional (Bellen, 2005).

Para o desenvolvimento desta pesquisa foram selecionadas oito iniciativas de mensuração da sustentabilidade que atenderam a três critérios principais: contemplam pelo menos três dimensões da sustentabilidade; têm foco nacional ou empresarial; e não estão fortemente baseadas em outra iniciativa. As iniciativas selecionadas e suas descrições são apresentadas na seqüência.

1.1. Indicadores de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (CSD)

Constitui-se num conjunto de indicadores desenvolvido pela Comissão para Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas em 1995. Ele tem como principal objetivo tornar os indicadores de desenvolvimento sustentável acessíveis aos tomadores de decisão por meio da sua definição e explicação de suas metodologias bem como do treinamento para sua utilização (CSD, 2005). Esse conjunto de indicadores tem foco

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nacional e segue o conceito de desenvolvimento sustentável proposto pelo Relatório Brundtland abrangendo quatro dimensões da sustentabilidade: social, ambiental, econômica e institucional.

1.2. Dashboard de Sustentabilidade

Foi desenvolvido em 1998 pelo Consultative Group for Sustainable Development Indicators e foi considerado dentre as três mais importantes iniciativas de mensuração da sustentabilidade de acordo com pesquisa realizada com especialistas internacionais (Bellen, 2005). Constitui-se em um índice que utiliza o painel de controle de um carro dividido em quatro raios – um para cada dimensão da sustentabilidade - como gráfico de interface para informar o desempenho do país em relação à sustentabilidade. A sua principal vantagem é que apresenta tanto um índice de desempenho global do país quanto sub-índices para cada dimensão e seus temas facilitando a identificação dos pontos a serem aprimorados (Hardi & Zdan, 2000).

1.3. Barômetro de Sustentabilidade

É um índice desenvolvido pelo Instituto Mundial de Conservação que mensura a sustentabilidade nos níveis local, regional e nacional por meio de uma escala de desempenho em duas dimensões - bem-estar humano e bem-estar do ecossistema. De forma similar ao Dashboard, foi considerado dentre as três mais importantes iniciativas de mensuração da sustentabilidade (Bellen, 2005). Ele considera a sustentabilidade como o balanço entre o bem-estar humano e o do ecossistema, respectivamente “a condição na qual todos os membros da sociedade são capazes de determinar e alcançar suas necessidades e seu potencial” e “a condição na qual o ecossistema mantém sua diversidade, qualidade e sua capacidade de suportar a vida humana e os outros seres” (Prescott-Allen, 2001, p.7).

1.4. Global Reporting Initiative (GRI)

Trata-se de um guia para elaboração de relatórios de sustentabilidade lançado em 1997 pela Organização Não-Governamental americana Coalition for Environmentally Responsible Economies (CERES) e pelo United Nations Environment Programme. Ele tem por objetivo auxiliar as empresas e suas partes interessadas no entendimento e comunicação das contribuições da organização ao alcance do desenvolvimento sustentável, melhorando a qualidade e utilidade dos relatórios de sustentabilidade. Tem como foco o conceito do resultado triplo – equilíbrio nas complexas relações atuais entre necessidades econômicas, ambientais e sociais que não comprometa o desenvolvimento futuro (GRI, 2005).

1.5. Métricas de Sustentabilidade da Instituição dos Engenheiros Químicos da Inglaterra (IChemE)

É um conjunto de indicadores com ênfase na mensuração da sustentabilidade de indústrias desenvolvido pela Instituição dos Químicos da Inglaterra. Ele também utiliza o conceito de resultado triplo sumarizado como o: “equilíbrio responsabilidade ambiental, retorno econômico (geração de riqueza) e desenvolvimento social” (IChemE, 2005, p. 4).

1.6. Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI)

O DJSI foi estabelecido em 1999 e avalia o desempenho das empresas líderes mundiais em sustentabilidade selecionadas dentre as 2.500 maiores empresas globais. É constituído a partir de um questionário com 33 diferentes critérios, documentos e informações prestadas pelas empresas aos analistas, à imprensa e às partes interessadas. Este índice define sustentabilidade como “criar valor de longo prazo aos acionistas por meio do aproveitamento

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das oportunidades e do gerenciamento dos riscos derivados dos desenvolvimentos econômico, social e ambiental” (Dow Jones, 2005, p. 7).

1.7. Índice Triple Bottom Line (TBL)

O TBL é um índice corporativo que se diferencia das demais por mensurar também as inter-relações entre as dimensões do desenvolvimento sustentável: eco-ambiental, eco-social, socio-ambiental e eco-socio-ambiental. Também adota o conceito de sustentabilidade do resultado triplo: melhorar o crescimento financeiro reduzindo os impactos ambientais negativos e atendendo às expectativas da sociedade (Wang, 2005).

1.8. Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial

Trata-se de um conjunto de indicadores lançado em 2002 pela organização não-governamental Instituto Ethos para servir de ferramenta de auto-avaliação do desempenho organizacional em relação às práticas de responsabilidade social. Enfoca aspectos sociais da sustentabilidade considerando a Responsabilidade Social Empresarial uma forma de gerenciar buscando competitividade, sustentabilidade e atendendo às demandas da sociedade (Ethos, 2005). 2. Metodologia

O modelo de sistema de mensuração da sustentabilidade proposto neste artigo foi desenvolvido seguindo-se dois estágios principais: definição do método para desenvolvimento e o desenvolvimento do sistema por meio da análise da complementaridade das iniciativas.

No primeiro estágio, definiu-se, com base em pesquisa bibliográfica sumarizada na Tabela 1, o método de desenvolvimento do sistema e um conjunto de categorias de análise a serem utilizadas na análise comparativa das iniciativas. Como pode ser observado na Tabela 1, o método de desenvolvimento do sistema segue quatro fases: a definição do conceito de sustentabilidade (início); a definição do conteúdo do sistema; o processo de mensuração e a melhoria contínua.

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Tabela 1 – Fases do desenvolvimento de sistemas de mensuração da sustentabilidade

FASE CATEGORIAS CONTEÚDO REFERÊNCIAS

I -Início Conceito/ visão sustentabilidade

conceito de sustentabilidade estratégia de sustentabilidade desdobramento da estratégia em metas

OECD (2005), Hardi & Zdan (1997), Martin (1996), Veleva & Ellenbecker (2001), Labuschagne et. al. (2005), Figueiredo (2003)

Estrutura níveis de abstração do sistema

Martin (1996), Gallopin (1997), Hardi & Zdan (1997), OECD (2005), Phillis & Andriantiatsaholiniaina (2001), Figueiredo (2003)

Conteúdo conteúdo de cada nível do sistema

Hardi & Zdan (1997), OECD (2005), Gallopin (1997), CSD (2005), Bellen (2005), Figueiredo (2003)

Esfera horizonte de tempo da mensuração espaço de estudo

Hardi & Zdan (1997), Kleebe, Topiol, & Berkeley (2003), Allenby & Graedel (2002), Bellen (2005)

II – Conteúdo

Dados tipo de dados nível de agregação

Parris & Kates (2003), Phillis & Andriantiatsaholiniaina (2001), Veiga (2005), Figueiredo (2003)

Interface

complexidade do sistema grau de transparência apresentação potencial pedagógico

Hardi & Zdan (1997), Bellen (2005), Hilson (2003), Gallopin (1997), CSD (2005), Kleebe et. al. (2003), Allenby & Graedel (2002), Figueiredo (2003) III –

Processo Participação do

público

forma e intensidade do envolvimento dos atores sociais

Hardi & Zdan (1997), Bellen (2005), Gallopin (1997), Figueiredo (2003)

IV – Melhoria contínua

Possibilidade de melhoria contínua

flexibilidade de alteração rotinas de suporte ao processo de mensuração

Hilson (2003),CSD (2005), Hardi & Zdan (1997), Figueiredo (2003)

Fonte: Delai,Takahashi (2006). Por fim, no segundo estágio criou-se o modelo de referência a partir da análise da

complementaridade das iniciativas em cada fase da Tabela 1. Porém, neste artigo são apresentados somente os resultados da fase um e das categorias estrutura e conteúdo da fase dois.

3. Modelo proposto Essa seção apresenta o modelo de sistema de mensuração proposto resultante da análise

da complementaridade entre as oito iniciativas estudadas. Esses resultados serão apresentados seguindo-se as fases e categorias apresentadas na Tabela 1: conceito e visão de sustentabilidade, estrutura do sistema e conteúdo.

3.1. Conceito e visão de sustentabilidade

O primeiro passo para o desenvolvimento de um sistema de mensuração da sustentabilidade é a definição do conceito/visão de desenvolvimento sustentável e seu sistema de desdobramento de metas para todos os níveis da organização. Essa fase é crucial uma vez que define os limites de mensuração do sistema (Hardi & Zdan, 1997; OECD, 2005; Martin, 1996) facilitando a identificação das ações necessárias para o alcance das metas e para o entendimento, pelo público envolvido, do impacto positivo ou negativo dessas ações (Hardi & Zdan, 1997) em todos os níveis organizacionais (Labuschagne et. al., 2005).

Alguns pontos podem ser salientados com base na análise do conceito/visão de sustentabilidade das iniciativas estudadas. Em primeiro lugar, todas elas apresentam um

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conceito norteador, estando assim, adequadas às premissas da literatura pesquisada. Com relação ao conceito utilizado, existe uma congruência entre os sistemas (CSD, Dashboard, Barômetro, GRI, ICheme, Índice Dow Jones e Índice TBL) no uso do conceito clássico de desenvolvimento sustentável definido pelo Relatório Brundtland. No entanto, GRI, IChemE, Índice Dow Jones e Índice TBL o traduzem para o ambiente empresarial por meio do conceito do triple bottom line ou resultado triplo: equilíbrio dos impactos econômico, social e ambiental. Já o Ethos utiliza um conceito basilar relacionado à responsabilidade social onde o desenvolvimento sustentável é um dos aspectos considerados.

Já no que tange a definição da estratégia de sustentabilidade e seu sistema de definição e desdobramento de metas, verifica-se que somente o GRI, IChemE e Barômetro salientam sua importância. Dentre eles o GRI é o mais completo uma vez que além de orientar as organizações na definição de metas de sustentabilidade em todos os níveis, sugere a inclusão dessas metas de sustentabilidade no sistema de remuneração variável da organização juntamente com as demais metas organizacionais. Fato este extremamente importante para a inclusão da sustentabilidade no dia-a-dia organizacional, uma vez que sinaliza para todos os membros da organização a importância que a mesma dispensa ao tema sustentabilidade.

Assim, como resultado da complementaridade dos sistemas estudados, o conceito de sustentabilidade e o sistema de metas do modelo proposto foram definidos. Em relação ao primeiro, o modelo proposto utiliza o conceito do resultado triplo: equilíbrio nas relações entre as necessidades econômicas, ambientais e sociais que não comprometa o desenvolvimento futuro. Já em relação ao segundo o modelo proposto propõe que a estratégia de sustentabilidade e suas metas sejam definidas em todos os níveis organizacionais com base no conceito e na visão de sustentabilidade, acompanhadas historicamente e que seu alcance faça parte da remuneração variável dos executivos da organização.

3.2. Estrutura

A estrutura do sistema diz respeito aos níveis de abstração que o mesmo apresenta ou o seu nível de detalhamento do conceito de sustentabilidade. A importância dessa hierarquia reside no fato de facilitar a análise do sistema como um todo e de suas partes (Hardi & Zdan, 1997; Galopin, 1997, Phillis & Andriantiatsaholiniaina, 2001) além de possibilitar análises profundas e a fácil identificação dos fatores de maior impacto no resultado do sistema como um todo e a conseqüente definição de ações mais focadas e eficazes (OECD, 2005).

Analisando-se a estrutura dos sistemas estudados verifica-se que utilizam, em sua maioria, quatro níveis de abstração, embora com diferentes denominações: dimensão, categoria, tema ou elemento, aspecto, critério ou sub-tema, e indicadores ou questões.

Assim, como resultado da complementaridade entre as iniciativas estudadas, o modelo proposto apresenta uma hierarquia de quatro níveis: dimensões (grandes focos do desenvolvimento sustentável), temas (assuntos prioritários de cada dimensão do desenvolvimento sustentável), sub-temas (matérias prioritárias em cada tema) e indicadores (mensuradores propriamente ditos). A estrutura do modelo proposto é apresentada na Figura 1.

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Figura 1 – Estrutura do sistema proposto

3.3. Conteúdo A definição do conteúdo de cada nível do sistema inicia-se com o nível de abstração

mais alto (dimensão) ao mais específico - indicador - e depende do conceito e visão de sustentabilidade adotado pelo sistema. Este artigo foca na definição dos três primeiros níveis do sistema: dimensão, temas e sub-temas. O último nível – indicadores – pode ser encontrado em Delai (2006). 3.3.1. Dimensões

Seguindo-se a seqüência da Figura 1, o primeiro passo para definição do conteúdo são as dimensões. Para tanto, comparou-se as dimensões de cada iniciativa e fim de identificar sua complementaridade. Primeiramente, verificou-se que existe um consenso entre os sistemas estudados quanto ao uso das três dimensões da sustentabilidade: econômica, social e ambiental. Em segundo lugar, algumas iniciativas com foco nacional acrescentam uma quarta dimensão – a institucional, que trata das políticas e instrumentos usados pelos países para implementar o desenvolvimento sustentável. Já o Índice TBL é o único que acrescenta quatro dimensões visando mensurar as inter-relações entre as dimensões econômica, social e ambiental: eco-ambiental, eco-social, socio-ambiental e eco-socio-ambiental.

Diante deste contexto e visando à complementaridade dos sistemas estudados, o sistema proposto neste artigo faz uso das três dimensões da sustentabilidade: social, ambiental e econômica. O conteúdo (temas e sub-temas) de cada dimensão é apresentado na seqüência.

3.3.1.1. Dimensão Social: temas e sub-temas

A dimensão social da sustentabilidade trata do bem-estar humano, do como atender às necessidades humanas e aumentar as oportunidades de desenvolvimento igualmente para todos (CSD, 2005, Sachs, 2004, Wang, 2005). Em outras palavras, está relacionada com eqüidade e a qualidade de vida. Do ponto de vista organizacional, a dimensão social “preocupa-se com os impactos da organização nas sociedades onde opera” (GRI, 2005, p. 51) e em todos os outros stakeholders ou partes interessadas – funcionários, fornecedores e parceiros, consumidores, organizações da sociedade civil e setor público.

Algumas considerações podem ser tecidas a partir da análise das iniciativas estudadas. Em primeiro lugar, verificou-se que vários temas e sub-temas sociais são considerados por alguns sistemas na dimensão econômica e vice-versa. É o caso do tema corrupção e suborno classificado como aspecto social pela maioria dos sistemas e como econômico pelo Índice

Conceito

Dimensão A Dimensão B

Tema ... ...

Sub-tema .. ...

Indicador .. ...

Tema ...

Sub-tema ..

...

...

Indicador .. ...

1º. nível

2º. nível

3º. nível

4º. nível

Conceito

Dimensão A Dimensão B

Tema ... ...

Sub-tema .. ...

Indicador .. ...

Tema ...

Sub-tema ..

...

...

Indicador .. ...

1º. nível

Conceito

Dimensão A Dimensão B

Tema ... ...

Sub-tema .. ...

Indicador .. ...

Tema ...

Sub-tema ..

...

...

Indicador .. ...

1º. nível

2º. nível

3º. nível

4º. nível

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Dow Jones. Outro exemplo é o tema treinamento, educação e desenvolvimento considerado aspecto social pela maior parte dos sistemas analisados, porém como econômico pelo IChemE.

Assim, foi necessária a delimitação clara dessas dimensões antes da definição dos seus temas e sub-temas. Com isso, a dimensão social do sistema proposto avalia a relação organização e suas partes interessadas funcionários, consumidores, fornecedores, governos e sociedade, enquanto que a econômica foca na sua relação com os acionistas e investidores.

Uma segunda conclusão é que não existe padrão no uso de termos entre os sistemas para tratar de assuntos similares, o que dificulta o seu entendimento. Por fim, não existe congruência entre as iniciativas em relação às partes interessadas cujo relacionamento a empresa deve zelar. Somente funcionários e comunidade são apontadas por todas as iniciativas enquanto consumidores, governo e fornecedores são considerados somente por algumas.

Diante desse contexto, a dimensão social do sistema proposto foca no relacionamento da organização com todas as suas partes interessadas – funcionários, sociedade, governo, consumidores e fornecedores, cujos temas e sub-temas são apresentadores na Figura 2 e descritos mais detalhadamente na seqüência.

Figura 2 - Dimensão Social do sistema proposto

3.3.1.1.1. Práticas trabalhistas e trabalho decente Este tema avalia o relacionamento da organização com seus funcionários e a sua

importância está relacionada a dois fatos principais. Em primeiro lugar, o ambiente de trabalho tem um impacto direto na motivação, na produtividade e no desempenho dos funcionários (Neely, Gregory, & Platts, 2005).

Segundo, condições de trabalho inadequadas podem resultar em ações legais contra a organização o que pode impactar negativamente na sua reputação e licença para operar (GRI, 2005). Este tema é avaliado por meio de seis sub-temas: a) Educação, treinamento e desenvolvimento de funcionários: avalia a eficiência da organização na promoção da educação corporativa: treinamento, desenvolvimento e educação. Segundo Eboli (2002), esses níveis educacionais têm diferentes objetivos: o treinamento

SOCIAL

Práticas trabalhistas e trabalho decente

Gerenciamento do relacionamento com

o consumidor

Cidadania corporativa

Fornecedores e parceiros

Setor público

Seleção, avaliação e desenvolvimento de

fornecedores

Educação, treinamento e

desenvolvimento

Diversidade e oportunidade

Saúde e segurança

Geração de empregos

Atração e retenção de talentos

Ações sociais

Contribuições políticas

Códigos de conduta, corrupção e suborno

Competição e preço

Diálogo com a

sociedade

Subsídios

Impostos

Satisfação do consumidor

Saúde e segurança do consumidor

Produtos e rótulos

Publicidade

Respeito à privacidade

Contratos

Direitos humanos

Func

ioná

rios

Soci

edad

e

Con

sum

idor

Forn

eced

ores

Gov

erno

s

Parte Interessada

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melhora o desempenho das pessoas numa tarefa específica, foca no conhecimento e tem alcance de curto prazo, o desenvolvimento capacita os profissionais a assumirem novas e futuras posições na carreira, tem foco nas habilidades e alcance de médio prazo, e a educação forma a pessoa para a vida e para o mundo tendo alcance de longo prazo e foco nas atitudes. A sua importância está ligada ao fato de a educação ser elemento crítico para a satisfação das necessidades humanas, o alcance da igualdade, da capacidade de desenvolvimento, do acesso à informação e conseqüente redução da pobreza (CSD, 2005). Ademais, melhorar e manter o capital intelectual, sobretudo humano (habilidades, educação, atitudes e agilidade intelectual dos funcionários), é crucial para a sustentabilidade e competitividade da organização (GRI, 2005). b) Diversidade e oportunidade: foca num dos principais aspectos do conceito de sustentabilidade: a eqüidade. A eqüidade “envolve o grau de justiça e inclusão com que os recursos são distribuídos, as oportunidades oferecidas e as decisões tomadas” (CSD,2005, p.20). Oportunidade e tratamento igualitário no ambiente de trabalho significam igualdade nas oportunidades de desenvolvimento e igualdade de remuneração para todos os funcionários independente de raça, idade e sexo bem como razoáveis diferenças entre as mais altas e baixas remunerações. Esse é um aspecto crítico para a retenção de talentos e redução de riscos financeiros por problemas trabalhistas assim como para a proteção da reputação (GRI, 2005). c) Saúde e segurança: avalia a gestão da saúde e segurança dos funcionários incluindo a ocorrência de acidentes, doenças ocupacionais, doenças transmissíveis, HIV/AIDS e dias perdidos em função desses problemas bem como a avaliação das práticas para sua prevenção. O zelo pela saúde e segurança dos funcionários é importante uma vez que impacta na sua produtividade (CSD, 2005; GRI, 2005) e moral (GRI, 2005), nos custos e na licença para operar da organização (GRI, 2005). d) Geração de empregos: mensura a contribuição organizacional ao desenvolvimento da região onde opera focando na criação líquida de empregos (diretos ou indiretos) e na forma como gerencia as demissões. Esse tema é importante pois impacta na taxa de emprego da região ou país onde a organização opera (GRI, 2005), o qual é uma das principais causas da pobreza (CSD, 2005). Ele também demonstra o potencial de crescimento da organização e sua responsabilidade social em prover oportunidades de desenvolvimento da sociedade (Wang, 2005). Já a forma como a organização gere suas demissões pode afetar sua reputação e licença para operar, bem como sua saúde financeira em função de possíveis problemas trabalhistas. e) Atração e retenção de talentos: analisa como a organização gerencia a satisfação e a retenção de seu capital humano. Ele inclui a avaliação dos três tipos de remuneração aos funcionários – salários/benefícios, bônus e outros (promoções, acesso a programas de desenvolvimento, etc.) – bem como as suas taxas de satisfação, retenção e promoção. A motivação e satisfação dos funcionários estão diretamente relacionadas à sua produtividade e desempenho (Neely et. al, 2005) impactando na lucratividade da organização (Bontis, Keow & Richardson, 2000) e na sua sustentabilidade de longo prazo (GRI, 2005). Ademais, a média de rendimentos dos funcionários das organizações reflete na taxa de riqueza da comunidade em que opera. f) Direitos humanos: avalia como a organização lida com aspectos dos direitos humanos em suas operações e cadeia de suprimentos. Os principais aspectos a serem considerados são a liberdade de associação dos funcionários, o uso de trabalho infantil, forçado ou compulsório, as práticas disciplinares e a proteção aos direitos indígenas. Sua significância está relacionada à redução dos riscos do negócio uma vez que “problemas relacionados aos direitos humanos podem resultar em danos à reputação da organização” (GRI, 2005, p. 6).

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3.3.1.1.2. Cidadania Corporativa

Este tema tem como foco o relacionamento da organização com as comunidades onde opera. Um dos principais contribuidores para a sustentabilidade da organização é a sua licença para operar ou a sua aceitação pela comunidade onde opera (Ribeiro, 2005). E para se alcançar essa licença é necessário que a organização atinja seus objetivos ao mesmo tempo em que atenda às necessidades da sociedade onde atua (Wang, 2005). Um bom gerenciamento da cidadania corporativa amplia a percepção da marca e a reputação da organização como uma parceira potencial, o que reforça a habilidade de manter as operações atuais e também o início de novas (GRI, 2005). Cinco sub-temas são utilizados para avaliar a cidadania corporativa: a) Ações sociais: avalia a contribuição da organização à sociedade em que opera por meio da análise dos seus investimentos sociais (projetos sociais, doações, investimentos em infra-estrutura e trabalho voluntário) bem como os seus resultados. Sua importância está relacionada ao aumento da confiança e credibilidade da empresa perante a sociedade assegurando sua licença para operar. b) Diálogo com a sociedade: trata da maneira como a organização dialoga com as comunidades onde opera. Considera tanto a avaliação do sistema de gerenciamento das reclamações da comunidade quanto o sistema de coleta e o uso feito pela organização das opiniões e necessidades das comunidades onde atua. c) Contribuições políticas: este sub-tema objetiva avaliar o engajamento e a transparência da organização quanto a contribuições a partidos políticos e a sua aderência às legislações locais pertinentes. d) Práticas de competição e preço: este sub-tema avalia o grau em que a organização segue a legislação anti-monopólio. Este aspecto é importante pois impacta nas escolhas dos consumidores e nos preços dos produtos, que são cruciais para a existência de mercados eficientes e para o crescimento sustentado (Holliday Jr, Schmidheiny, & Watts, 2001). Além de que “decisões legais relacionadas às práticas de competição e preço podem levar a significativas disrupções nas atividades de mercado da organização e punições financeiras” (GRI, 2005, p. 13) e impactar em sua reputação e licença para operar. e) Códigos de conduta, corrupção e suborno: avalia as políticas e procedimentos organizacionais para gerenciar e evitar a prática da corrupção e suborno pelos seus funcionários e parceiros, assim como seus resultados. Esse é um tópico relevante na medida em que a corrupção está fortemente relacionada com o aumento da pobreza, degradação ambiental, abuso dos direitos humanos e má alocação de investimentos (GRI, 2005; CSD, 2005). Além, é claro, de afetar a reputação e licença para operar da organização.

3.3.1.1.3. Gerenciamento do relacionamento com o consumidor

Este tema concentra-se na relação entre a organização e seus consumidores. O bom relacionamento com o consumidor é importante uma vez que está diretamente ligado à participação de mercado da organização e, conseqüentemente, às suas receitas (Neely, 2002; GRI, 2005) e performance de longo prazo (Bontis & Keow, 2000). Cinco são os sub-temas que avaliam o relacionamento da organização com seus consumidores: a) Satisfação do consumidor: avalia a satisfação do consumidor ou o grau em que a organização é capaz de entregar os produtos e serviços requeridos pelos seus clientes. Para tanto, ele foca na análise da taxa de retenção de clientes da organização, a sua participação de mercado, grau de satisfação dos clientes e seu nível de reclamação. b) Saúde e segurança: analisa as políticas e procedimentos da organização para reduzir os riscos à saúde e segurança do consumidor e os seus resultados. Minimizar riscos ao

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consumidor quando do uso do produto significa reduzir riscos financeiros e legais com recalls e proteger a reputação da organização (GRI, 2005). c) Produtos e rótulos: avalia a capacidade da organização em prover informações adequadas relativas às funcionalidades e impactos de seus produtos bem como o respeito às leis e legislações específicas. Os seus principais impactos estão relacionados com problemas financeiros causados por multas e penalidades pelo não cumprimento da legislação e a danos à reputação, a lealdade e satisfação dos seus atuais consumidores (GRI, 2005). d) Publicidade: mensura o grau em que as práticas de comunicação da organização seguem padrões éticos e culturais a fim de evitar violação da privacidade ou tentativas de influenciar consumidores mais vulneráveis. É importante porque “abordagens de marketing inapropriadas podem levar a riscos como alienação dos consumidores e das partes interessadas, danos à reputação, custos financeiros e ações legais” (GRI, 2005, p. 9). e) Respeito à privacidade: este é outro aspecto que afeta diretamente a reputação das empresas. Ele avalia a eficácia dos sistemas e procedimentos da organização em proteger as informações pessoais dos seus consumidores e o respeito às leis e regulamentações específicas a fim de evitar abusos, perdas financeiras, riscos de danos pessoais e comerciais. 3.3.1.1.4. Fornecedores e Parceiros

Este tema analisa a relação da empresa com a sua cadeia de suprimentos. Essa relação tem se tornado particularmente importante nos últimos anos dada a onda de terceirização de atividades secundárias visando à redução de custos (Neely, 2002). Porém, esse movimento aumentou a exposição da reputação da organização a problemas ocorridos em sua cadeia de suprimentos tornando crucial o seu gerenciamento. Ademais, um bom relacionamento com os fornecedores pode resultar no desenvolvimento de novos mercados e produtos, aumentando a produtividade e melhorando os processos (Hart & Milstein, 2004). Dois são os seus sub-temas: a) Seleção, avaliação e desenvolvimento de fornecedores: avalia os critérios e o sistema utilizado pela organização para avaliar e desenvolver seus fornecedores e parceiros. Ele considera tanto aspectos relacionados à qualidade do produto quanto relativos à sustentabilidade. A sua importância está relacionada à minimização dos riscos de danos na reputação e na licença para operar devido a problemas ocorridos com empresas fornecedoras. b) Contratos: analisa o grau com que a organização cumpre os contratos com seus fornecedores. A importância desse aspecto está relacionada à saúde financeira das empresas fornecedoras a qual pode impactar na disponibilidade de longo prazo e a qualidade dos produtos fornecidos. 3.3.1.1.5. Setor Público

Este tema trata da relação entre a organização e o governo em dois sentidos: empresa-governo (pagamento de impostos) e governo-empresa (subsídios). Esforços para melhorar esse relacionamento auxiliam a proteger a reputação da organização e minimizar riscos financeiros. Este tema divide-se em dois sub-temas: a) Impostos: avalia a contribuição da organização ao governo por meio do pagamento de impostos. O cumprimento das obrigações tributárias é crucial para a sustentabilidade de longo prazo da organização uma vez que evita perdas financeiras (multas) e problemas de reputação. b) Subsídios: analisa a contribuição do governo à organização por meio de subsídios recebidos. Esse aspecto tem impacto positivo uma vez que provê auxílio financeiro.

3.3.1.2. Dimensão Ambiental: temas e sub-temas

A dimensão ambiental da sustentabilidade lida com o bem-estar do ecossistema, que é a “condição na qual o ecossistema mantém sua diversidade e qualidade, sua capacidade de

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suportar a vida e seu potencial de adaptar às mudanças provendo futuras opções” (Prescott-Allen, 2001, p. 7). A contribuição organizacional para este bem-estar ocorre por meio da redução do consumo de recursos, da geração de resíduos, do seu impacto nos ecossistemas, terra, água e ar (GRI, 2005). Tal contribuição melhora o resultado financeiro pois minimizar os impactos ambientais significa otimizar o uso de materiais, prevenir multas pelo não cumprimento de leis, reduzir riscos de compensações por danos e manter a reputação (Ribeiro, 2005).

Para a definição dos temas e sub-temas ambientais do sistema proposto analisou-se a complementaridade entre as iniciativas estudadas. Algumas conclusões dessa análise podem ser apresentadas. Primeiramente, verifica-se unanimidade quanto à necessidade de mensuração dos temas ar, terra, água, energia e materiais. Por outro lado, os impactos da organização na biodiversidade, impacto de produtos e serviços e o sistema de gerenciamento dos impactos ambientais são salientados somente por parte dos sistemas estudados.

Apesar dessa aparente congruência entre os sistemas estudados, verificou-se nessa dimensão como na social a inexistência do uso de terminologia padrão dificultando seu entendimento. Assim, como resultado dessa análise comparativa, a dimensão ambiental do modelo proposto é composta por sete temas divididos em vários sub-temas que são mostrados na Figura 3 e detalhados a seguir.

Figura 3 – Dimensão Ambiental do sistema proposto

3.3.1.2.1. Ar Este tema trata da poluição atmosférica causada pelas operações da empresa. Esse é um

tema especialmente importante uma vez que afeta a saúde humana, a biodiversidade, a saúde dos ecossistemas, as mudanças climáticas e o desenvolvimento econômico (CSD, 2005). Ademais, o ar é condição ambiental fundamental para a vida humana (CSD, 2005).

Do ponto de vista empresarial, a redução de emissões atmosféricas apresenta impactos em seus custos por meio da redução do desperdício e dos riscos relativos a multas pelo não cumprimento da legislação ambiental. Ademais, empresas com sérias emissões atmosféricas podem ter sua reputação e licença para operar afetadas devido ao aumento da consciência

AMBIENTAL

Ar

Terra

Materiais

Energia

Água

Consumo Emissões de gases estufa

Emissões - camada de

ozônio

Acidificação atmosférica

Emissões com efeito

cancerígeno

Poluição atmosférica fotoquímica

Consumo

Consumo de materiais perigosos

Consumo

Acidificação

Uso da terra

Geração de resíduos

Biodiversi-dade

Produtos e serviços

Demanda bioquímica de oxigênio

Ecotoxidade

Eutrofização

Ecossis-temas

Áreas protegidas

Espécies

Reciclabili-dade dos produtos

Produtos ambiental-

mente amigáveis

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ambiental dos seus consumidores e pressões de organizações ambientalistas. Cinco são os seus sub-temas: a) Emissões de gases estufa: mensura as emissões de gases estufa definidos pelo Protocolo de Quioto: dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, hidrofluorcarbonos, perfluorcarbonos e hexafluoreto sulfúrico. A importância de sua redução está relacionada ao aquecimento global que provoca sérios problemas ambientais e sociais como: aumento do nível do mar submergindo áreas baixas, aumento da freqüência de eventos extremos, dentre vários outros. Efeitos estes que acabam por afetar as sociedades mais pobres uma vez que estas têm menos recursos para investir em atividades de adaptação. b) Emissões de gases que afetam a camada de ozônio: avalia as emissões atmosféricas que afetam a camada de ozônio retratadas no Protocolo de Montreal e na Convenção de Viena: clorofluorcabonos e hidroclorofluorcarbonos. A sua importância fundamenta-se no fato de que esses gases reduzem a camada de ozônio, que é fundamental para a absorção dos raios ultra-violeta danosos à saúde humana, animais, plantas, micro-organismos, vida marinha, materiais, ciclos bioquímicos e qualidade do ar (CSD, 2005). c) Acidificação atmosférica: mensura as emissões de substâncias que provocam a chuva ácida a qual aumenta a acidez da terra e da água degradando florestas e ecossistemas aquáticos (GRI, 2005). Esse tipo de poluição é causado sobretudo pelo ácido clorídrico, fluorídrico e sulfúrico, amônia, dióxido de enxofre e óxido nítrico (IChemE, 2005). d) Emissões com efeito cancerígeno: avalia as emissões de substâncias cancerígenas como: benzeno, cádmio, cromo, cobalto, níquel e compostos inorgânicos (IChemE, 2005). e) Poluição atmosférica fotoquímica: analisa emissões que geram a poluição atmosférica baixa caracterizada por nevoeiros comuns em grandes cidades. Os seus principais efeitos são o surgimento e agravamento de doenças respiratórias como resfriados, asma brônquica, doenças pulmonares obstrutivas crônicas e câncer pulmonar (CSD, 2005). Ela é causada pelas substâncias: monóxido de carbono, óxidos nítricos, dióxido de enxofre, óxidos de enxofre, material particulado, compostos orgânicos voláteis, alcanos, aromáticos, aldeídos, cetonas, alcoóis, ésteres, ácidos orgânicos, éteres, halocarbonos, alcanos e alcenos (IChemE, 2005). 3.3.1.2.2. Água

Este tema avalia os impactos da organização na quantidade e na qualidade de água potável disponível. A água potável é “essencial para suportar a vida humana, os ecossistemas e o desenvolvimento econômico. Ela suporta o fornecimento doméstico, a produção de alimentos, peixes, indústria, geração de energia (hidrelétrica), navegação e lazer” (CSD, 2005, p. 37). Ademais, a redução do consumo de água reflete nos custos industriais da organização e na sua lucratividade. Por outro lado, a poluição de corpos aquáticos afeta negativamente sua reputação e licença para operar bem como aumenta os custos devidos a possíveis multas por desrespeito à legislação ambiental. Cinco são os sub-temas desse tema: a) Consumo: mensura o impacto da organização nas fontes de água bem como a eficiência de seu uso. Esses impactos podem ser reduzidos por meio da reutilização e reciclagem de água, que eleva a eficiência do seu consumo reduzindo impacto da empresa nas fontes, suas descargas e seus custos de produção (GRI, 2005). b) Acidificação: lida com a poluição aquática gerada por descargas de produtos como: ácido sulfúrico, ácido hidroclorídrico, hidrogênio fluorídrico e ácido acético (IChemE, 2005). Estes ácidos aumentam o pH da água em rios e lagos provocando a mortalidade de peixes. c) Demanda bioquímica de oxigênio: avalia a poluição aquática provocada por descargas de ácido acético, acetona, nitrato de amônia, sulfato de amônia, clorofluoretano, dicloroetano, etileno, glicoletileno, metanol, fenol e vinilcloridro (IChemE, 2005). Quanto maior a demanda bioquímica de oxigênio, mais poluída é a água e menos própria ao consumo humano.

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d) Ecotoxidade: mensura a poluição aquática provocada por metais pesados como: arsênio, cádmio, cromo, cobre, ferro, manganês, mercúrio, níquel e zinco. Todos esses metais apresentam sérios riscos à saúde humana. Um exemplo é o caso do mercúrio que se acumula no sistema nervoso, sobretudo no cérebro, medula e rins provocando perda da coordenação motora, dificuldade no falar, comer e ouvir, além de atrofia e lesões renais. e) Eutrofização: trata da poluição aquática por substâncias como a amônia, o nitrogênio, o fósforo, o fosfato, o ácido nítrico e o óxido nítrico (IChemE, 2005) que geram a eutrofização. Esse fenômeno “é o potencial de superfertilização da água e do solo que pode resultar no aumento da biomassa e redução da qualidade da água” (IChemE, 2005, p. 24).

3.3.1.2.3. Terra

Este tema mensura os impactos da organização na quantidade e na qualidade do recurso natural terra disponível. A sua importância está relacionada ao fato de que a “terra consiste não somente no espaço físico e na superfície topográfica, mas também inclui os recursos naturais associados com o solo, depósitos minerais, água e comunidades de animais e plantas. O uso da terra de uma maneira insustentável afeta esses recursos bem como a atmosfera e os ecossistemas marinhos” (CSD, 2005, p. 32). Ademais, a magnitude do uso da terra e mudanças em sua cobertura ameaçam a estabilidade e resiliência dos ecossistemas provocando o aquecimento global e a disrupção do ciclo do nitrogênio (CSD, 2005).

Avaliar os impactos nesse recurso natural é crucial para evitar impactos negativos na sua reputação e licença para operar (GRI, 2005). Dois sub-temas estão inclusos neste tema: a) Uso da terra: avalia a quantidade de terra usada pela empresa e a quantidade coberta por florestas nativas ou reflorestamentos. O objetivo é reduzir o impacto líquido da organização por meio da compensação do uso da terra com áreas de florestas ou reflorestamento. b) Geração de resíduos: mensura a poluição provocada pela geração de resíduos sólidos bem como a sua periculosidade. Minimizar a geração de resíduos e gerenciar seu descarte significa aumentar a produtividade da organização, reduzindo seus custos industriais, e minimizar o risco de danos à sua reputação e licença para operar pelo descumprimento de legislações específicas. 3.3.1.2.4. Energia

Este tema avalia o uso de energia da organização e suas fontes. Trata-se de um tema de fundamental importância uma vez que a energia “é um fator crítico para o desenvolvimento industrial e provê serviços vitais para a melhoria da qualidade de vida humana” (CSD, 2005, p. 212). No entanto, sua produção, uso e sub-produtos afetam o meio-ambiente desde a disponibilidade de recursos até a poluição ambiental, sendo esta mais ou menos crítica dependendo das suas fontes – renováveis ou não-renováveis. Nesse contexto, ampliar a eficiência energética e aumentar o uso de energias renováveis (solar, eólica, biomassa) são fundamentais para reduzir os impactos do desenvolvimento e alcançar a sustentabilidade, uma vez que as energias não-renováveis têm seus recursos finitos e são poluentes (CSD, 2005) e estão fortemente relacionados às emissões de gases estufa que provocam o aquecimento global.

Do ponto de vista das organizações, reduzir a sua dependência de energias não-renováveis significa minimizar os riscos de possíveis aumentos de preços e redução de volumes no longo prazo (GRI, 2005). Além disso, essas mudanças no perfil energético reduzem os custos industriais (Wang, 2005) e melhoram a reputação da empresa em função da redução das emissões de emissões de gases estufa na atmosfera. Este tema apresenta somente um sub-tema: a) Consumo: avalia o consumo e a dependência de energias não-renováveis. O primeiro relaciona-se com a eficiência energética da organização mensurada pelo consumo por unidade

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produzida. Já o segundo, consiste em alterar a matriz energética aumentando a participação de energias renováveis. 3.3.1.2.5. Materiais

Similar ao tema energia, materiais está ligado à depleção de recursos naturais e à deterioração do meio ambiente. A deterioração dos materiais não-renováveis, como os combustíveis fósseis e os metais, e o superconsumo de materiais renováveis (madeira, peixes, solo) estão se tornando um fator limitante ao desenvolvimento econômico (GRI, 2005, Veleva,Ellenbecker, 2001). Assim, conservar e utilizar de forma mais eficiente esses recursos é fundamental para a sobrevivência da humanidade, considerando a taxa de crescimento atual da população e do consumo (Veleva e Ellenbecker, 2001).

Do ponto de vista das empresas, maior eficiência no uso de materiais com redução de resíduos significa corte nos custos de materiais, de processamento e de descarte (GRI, 2005). Este tema está dividido em dois sub-temas: a) Consumo de materiais: avalia o impacto da organização na disponibilidade de recursos naturais em suas fontes por meio da eficiência no consumo de materiais. Para tanto, recuperar, reutilizar e reciclar são atividades fundamentais. Quanto maior o reuso ou a reciclagem de materiais, menor é a geração de resíduos e o conseqüente impacto da organização nas fontes de recursos naturais. “Reduções na intensidade do uso de materiais podem ser alcançadas aumentando produtividade na produção e consumo por meio da reciclagem e de mudanças nos padrões de consumo para produtos menos intensivos em materiais” (CSD, 2005, p. 209). b) Consumo de materiais perigosos: trata do potencial de geração de impactos à saúde humana tanto pelo uso quanto descarte de materiais perigosos. Manipular e descartar corretamente esse tipo de material é fundamental para minimizar riscos à saúde humana, reduzir a probabilidade de eventuais danos financeiros por multas e indenizações e, é claro, os impactos negativos na reputação. 3.3.1.2.6. Biodiversidade

A biodiversidade “consiste não somente na variedade entre as espécies, mas também na variação genética entre as espécies e entre as comunidade de espécies, habitats e ecossistemas” (CSD, 2005, p. 40). A sua manutenção está diretamente relacionada com a continuidade da vida humana uma vez que aquela provê produtos e serviços essenciais como a segurança alimentar, a estabilidade climática, água potável, entre outros (CSD, 2005).

Do ponto de vista das empresas, gerenciar seus impactos na biodiversidade significa reduzir a sua exposição a riscos de danos à reputação, multas e proteção da sua licença para operar. Ela pode ser feita por meio da prevenção e correção de danos provocados aos ecossistemas e espécies. Três são os sub-temas que compõem este tema: a) Ecossistemas: avalia os impactos organizacionais nos ecossistemas terrestres, aquáticos e marinhos. Um ecossistema é uma comunidade complexa e dinâmica de plantas, animais e micro-organismos interagindo com seu ambiente como uma unidade funcional (Convention on Biological Diversity, 1992). Assegurar a integridade dos habitats naturais pode melhorar a reputação da organização, a estabilidade dos recursos naturais próximos e a sua aceitação pelas comunidades vizinhas (GRI, 2005). b) Áreas protegidas: avalia os impactos da empresa em áreas protegidas. Uma área protegida é uma área geográfica definida, regulada e gerenciada para alcançar determinados objetivos de conservação (Convention on Biological Diversity, 1992). Monitorar as atividades que ocorrem em áreas protegidas torna possível à organização reduzir os riscos de impactos ambientais, atrasos na obtenção de permissões ambientais de desenvolvimento de projetos, danos reputacionais e perda da sua licença para operar.

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c) Espécies: analisa os impactos da organização em espécies animais e vegetais em extinção, sobretudo as constantes na Lista da União para Conservação da Natureza e Recursos Naturais. 3.3.1.2.7. Produtos e Serviços

Este tema trata dos impactos ambientais de todo o ciclo de vida dos produtos e serviços da organização. O ciclo de vida de um produto ou serviço considera todas as atividades envolvidas desde o seu design e desenvolvimento, a extração de recursos, sua produção, seu consumo/uso e as suas atividades de descarte. A avaliação do ciclo de vida do produto ou life cycle assessment (LCA) é uma metodologia para estimar e avaliar todos os impactos ambientais de todo o ciclo de vida do produto (Rebitzer et. al, 2004). Trata-se de uma abordagem proativa de prevenção dos impactos ambientais e de redução no consumo ao mesmo tempo em que protege a reputação organizacional. Este tema está divido em dois sub-tema: a) Reciclabilidade dos produtos: avalia o grau que os produtos da organização podem ser reusados ou reciclados e a proporção de produtos, componentes e materiais que são coletados e utilizados pela organização ou por terceiros como matéria-prima em novos processos. b) Produtos ambientalmente amigáveis: analisa o grau em que a abordagem da análise do ciclo de vida do produto está internalizada na organização. Ele pode ser avaliado por meio da representatividade das vendas dos produtos ambientalmente amigáveis em relação ao total de vendas da organização.

3.3.1.3. Dimensão Econômica: temas e sub-temas

A dimensão econômica avalia a geração de valor de curto e longo prazos da organização e o relacionamento que esta mantém com seus acionistas e investidores. A sua importância é óbvia e está relacionada com a saúde financeira da organização no curto e longo prazo.

Para a definição dos temas e sub-temas dessa dimensão também se fez uso da análise da complementaridade entre as oito iniciativas estudadas. Dessa análise verificou-se uma congruência entre os sistemas com a mensuração de aspectos de curto prazo da organização, como lucro e investimentos, exceção feita ao Índice Dow Jones que avalia somente a capacidade de geração de valor no longo prazo considerando aspectos como governança corporativa e gerenciamento de riscos.

Assim, o sistema proposto avalia a geração de valor no curto e longo prazo da organização por meio de quatro temas: lucro e valor, investimentos, relações com investidores e gerenciamento de crises, conforme mostrado na Figura 4 e detalhado na seqüência.

Figura 4 - Dimensão Econômica do sistema proposto

ECONÔMICA

Relações com investidores Investimentos Lucro e valor Gerenciamento de

crises

Governança corporativa

Remuneração dos acionistas

Capital investido

Pesquisa e desenvolvimento

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3.3.1.3.1. Lucro e valor Este tema mensura a criação de valor que é crucial para a sustentabilidade de curto e

longo prazo de qualquer tipo de organização. É avaliado por meio da análise dos resultados financeiros da organização.

3.3.1.3.2. Investimentos

Este tema avalia tanto os resultados dos investimentos feitos pela organização no passado quanto o grau em que esses investimentos estão relacionados com o seu crescimento futuro. Sua importância está relacionada ao fato de os investimentos proverem os recursos necessários para o crescimento, substituição e renovação dos ativos da organização a fim de garantir a lucratividade de longo prazo (Gitman, 2004). Ademais, esse tema avalia a atratividade da organização aos investidores e acionistas. Dois são os seus sub-temas: a) Capital investido: avalia a média de retorno dos investimentos feitos pela organização e demonstra a sua atratividade e a sua eficiência na aplicação do capital investido. b) Pesquisa e desenvolvimento: mede o grau de preocupação da organização com sua sustentabilidade de longo prazo uma vez que investimentos em pesquisa e desenvolvimento estão diretamente relacionados com novos produtos e novas receitas no longo prazo. De acordo com Hart (2003), focar em inovação e no desenvolvimento de novos produtos é a única forma que a empresa tem para criar valor no longo prazo. 3.3.1.3.3. Relações com investidores

Este tema avalia o relacionamento da organização com seus investidores e acionistas e o grau em que sua gestão é transparente. Sua importância reside no fato de fortalecer a relação com os investidores garantindo a sua longevidade. Dois são os seus sub-temas: a) Governança corporativa: analisa as práticas de governança corporativa da organização, que “está relacionada aos processos pelos quais as organizações são dirigidas e controladas” (Australian Standard AS8000, 2003). Trata dos direitos e responsabilidade do conselho de administração, seu gerenciamento, dos acionistas e das partes interessadas (OECD, 2004). A sua importância está relacionada com a redução do risco de crises, falhas e fraudes. b) Remuneração dos acionistas: avalia a remuneração paga aos acionistas da organização e está diretamente ligado com a sua satisfação e continuidade de investimento. 3.3.1.3.4. Gerenciamento de Crises

Este tema avalia a estrutura da organização para gerenciar possíveis crises e como é utilizada para preveni-las. O gerenciamento de crises tem forte ligação com a proteção da reputação e da licença para operar da organização. 4. Conclusão

Desde a divulgação da Agenda 21 salienta-se a importância da integração dos temas da sustentabilidade na tomada de decisão em todos os níveis da sociedade para o alcance do desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, a mensuração e o uso de indicadores é primordial uma vez que “o que é medido é gerenciado”.

Do ponto de vista empresarial, essa integração pode ser feita por meio da adaptação (inclusão de medidas de sustentabilidade) dos sistemas de mensuração do desempenho empresarial em uso ou o desenvolvimento de um novo. Constitui-se em uma estratégia particularmente eficaz de a organização integrar a sustentabilidade em seu core business uma vez que ao embutir os temas de sustentabilidade em seu sistema de mensuração da perfomance, a empresa alinha todos os esforços organizacionais para a mesma direção criando comprometimento e cultura organizacional voltados à sustentabilidade. Ademais, sem essa

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integração, as iniciativas de sustentabilidade estarão mais suscetíveis a falhas uma vez que podem concorrer ou conflitar com metas financeiras aumentando a probabilidade de serem cortadas quando a organização enfrentar dificuldades financeiras.

Porém, essa integração tem sido dificultada sobretudo pela falta de um conjunto de medidas-padrão de sustentabilidade amplamente aceitas e de padronização dos termos utilizados, também confirmado durante o desenvolvimento deste artigo.

Nesse contexto, este artigo buscou contribuir para a solução desse problema e para uma melhor compreensão operacional do conceito de sustentabilidade por meio da apresentação de um modelo de referência para mensuração da sustentabilidade corporativa, construído com base na complementaridade de oito iniciativas de mensuração amplamente conhecidas e utilizadas, que padroniza e esclarece conceitos e termos utilizados diferentemente entre os vários sistemas analisados. Tal modelo pode ser utilizado como ponto de partida para o desenvolvimento de sistemas de mensuração da sustentabilidade ou para adaptação dos atuais sistemas de avaliação da performance organizacional. Trata-se de um modelo flexível, que não tem a pretensão de ser exaustivo nem de esgotar o tema e que por ter sido desenvolvido com base em oito iniciativas, é mais completo e compreensivo que aqueles que o embasaram.

Baseadas no modelo proposto, as organizações podem desenvolver ou adaptar seus sistemas de mensuração para mensurar a sustentabilidade seguindo três passos principais. Primeiro precisam selecionar em cada dimensão os temas e sub-temas relevantes ao seu contexto por meio do diálogo com suas partes interessadas. Em seguida, definir o conjunto de indicadores mais apropriados para mensurar cada sub-tema e inseri-los em sua rotina de mensuração da performance organizacional. E por fim, definir metas e ligar seu alcance ao sistema de remuneração variável.

Enfim, a mensuração da sustentabilidade corporativa não é uma tarefa fácil visto a complexidade inerente a esse conceito. No entanto, ela é imprescindível para que as organizações a internalizem e possam fazer frente às ameaças e, principalmente, aproveitar as várias oportunidades por ela apresentadas. Referências Bibliográficas ALLENBY, B. R., & GRAEDEL, T. E. (2002). Hierarquical metrics for sustainability. Environmental Quality Management, 12(2), 21–30. AZAPAGIC, A. (2004). Developing a framework for sustainable development indicators for mining and minerals industry. Journal of Cleaner Production, 12 (6), 639–662. BELLEN, H. V. (2005). Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. Rio de Janeiro: FGV Editora. BITICTI et. al., (2002). Integrated performance measurement systems: structure and dynamics. In: Neely, A., Business performance measurement: theory and practice. Cambridge: Cambridge University Press. BONTIS, N., KEOW, W.C.C., & RICHARDSON S. (2000). Intellectual capital and business performance in Malaysian industries. Journal of Intellectual Capital, 1(1), 85–100.

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