Uma revisão com currículo - opinião de um cruzado

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  • 8/7/2019 Uma reviso com currculo - opinio de um cruzado

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    Uma revisao com currculo

    opiniao de cruzado

    Arselio Martins

    Professor de Matematica

    Escola Secundaria de Jose Estevao

    Aveiro

    Dezembro de 2000

    1 Da memoria persistente ...

    Em democracia, cada pessoa conhece a melhor solucao para cada problema e e, por isso,que raramente cada pessoa se reconhece nas decisoes que se tomam mesmo quando paraelas concorreram. A medida que a participacao democratica se aprofunda e influencia asdecisoes governativas, mais dificil se torna que os pareceres de fundo cientfico aparecam comodeterminantes exclusivos das decisoes. Em questoes da educacao, ainda e mais problematicaa influencia de algum sector de opiniao em especial, ja que o assunto interessa a toda a gentee parece que todos sabem do assunto, tanto te orica como praticamente.A revisao curricular do ensino secundario foi, com alguma propriedade, nomeada como re-visao participada. O Departamento do Ensino Secundario (ou seja, o Ministerio da Educacao

    do Governo de Portugal) lancou a sua discussao na segunda metade da decada de 90 comvista a obter decisoes teoricas por volta do ano 2000 e aplicacoes ao sistema apos 2002. Emtodo o pas e ao longo do tempo, foram realizados encontros juntando escolas e restantesmembros de comunidades educativas, por iniciativa do DES. Nao houve organizacao escolar(publica ou privada) e comunidade educativa a quem nao tivesse sido reclamada partic-ipacao e opiniao. Foram tambem ouvidos os parceiros sociais, em varias ocasioes e pordiversas razoes: Associacoes de Professores, de Estudantes e de Pais, Sindicatos, Federacoese Confederacoes, Ordens, Associacoes e Sociedades Cientficas e Profissionais, Universidades,Institutos Superiores Politecnicos, etc. Tambem se realizaram conferencias com especialistasportugueses e de varios pases da Europa. Os documentos foram saindo e nao consta que setenham levantado entraves a reunioes de iniciativa independente do governo, que se tenhamdesprezado em absoluto contribuicoes de eventuais interessados, ... Houve apoio a muitasiniciativas autonomas e os resultados sempre estiveram ao alcance da vista desarmada.

    Apesar disso tudo, muitos especialistas entendem que nao houve discussao suficiente, que osresultados ficaram muito aquem do que se podia esperar, que nao se resolveram os problemasfundamentais do ensino, que uma revisao curricular e outra coisa, . . .

    2 ... a razao da memoria volatil

    Lembramos que nao se trata agora de uma reforma do sistema educativo, mas tao so deajustamento dentro de uma reforma iniciada nos anos 80, mas que a nvel dos planos cur-riculares so teve aplicacoes generalizadas a partir de 1993. Lembramos ainda que ja houvepequenos ajustamentos aos planos curriculares previstos nessa reforma.Feito isso, nao nos apressamos a concordar com todos os defeitos que s ao apontados asdecisoes sobre a revisao curricular. Muitos dos participantes nas discussoes, entre os quaiseu, mesmo sem querer pensam que a revisao curricular deveria ser o que nao e.Mas sabemos que, quando devamos ter estudado e dado opiniao estavamos ocupados comoutras coisas mais urgentes(?), quando nos questionavamos sobre o modelo estavamos presos

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    ao modelo em vigor, quando uma novidade aparecia levantamos duvidas sobre a exequibili-dade nesta organizacao escolar e com estes professores, etc. O tempo e a habilidade que nossobram para discutir a decisao final faltaram-nos para ajudar na construcao. E sabemos que

    as decisoes negociadas sobre educacao levaram em conta parceiros que so podem construirou aceitar que se construa sobre o modelo pre-existente, mesmo quando o criticam. Naoestamos a falar so de pais ou encarregados de educacao. Tambem os professores e as suasorganizacoes, embora criticando a actual situacao, nao aceitam naturalmente mudancas queos obriguem a novas praticas, funcoes, formas e ritmos de trabalho. E temos os diversossectores de opiniao cientfica e educacional que raramente conseguem situar-se no campo dointeresse geral e se refugiam em campos estreitos, quer do ponto de vista disciplinar querdo ponto de vista dos profissionais que pensam representar. A decisao final modera estadiversidade de interesses, tao dificilmente quanto e certo existirem interesses contraditoriosem jogo e haver contradicao entre os parceiros sociais e as proprias intencoes do governo. Adiscussao pode ter sido probre e insuficiente. Se faltou riqueza essencial a discussao, sobrouriqueza na diversidade de pobres contradicoes.

    A forma como decorreu o debate ao longo do tempo contrastou com a surpresa perante adecisao. Algumas intervencoes feitas fizeram-nos suspeitar que muitos intervenientes ja setinham esquecido de si mesmos.

    As polticas em educacao sao sempre lentas, para o longo prazo. Por um lado, demoramtempo a acertar-se no concerto da quase totalidade dos interesses sociais (a educacao afectatudo e todos e diz respeito a tudo e a todos). Demoram tempo ate terem uma aplicacaogeneralizada ao conjunto ou ao sector respectivo, sendo que uma aplicacao de papel naoe uma aplicacao ao nvel das praticas. Muito mais tempo ainda penaremos ate saber seelas sao certas ou erradas. E certo que qualquer decisao poltica de vulto passa por variosministros na elaboracao, concepcao e aplicacao e qualquer destes vai estar reformado quando

    o processo iniciado der frutos (saborosos ou nao). Pior ainda: a aplicacao pratica vai semprepedir ajustamentos sucessivos que podem desfigurar o proposto e permitir aos responsaveissacudir os resultados apurados (quando negativos) para polticas diferentes das inicialmentepropostas.Se pensarmos no processo do ponto de vista dos estudantes, e seguro que os estudantes queparticiparam activamente nas primeiras discussoes desta revisao ja serao licenciados e os quevivem o momento da decisao dizem que nao foram ouvidos antes e pedem a suspensao dadecisao poltica que ate e para ser aplicada a outros que ainda nao se preocupam com isso.Alias, estes jovens que contestam as decisoes para o futuro nunca poderiam ter sido ouvidossobre o sistema em que eles mesmos se inserem e contestam (tanto na permanencia comona mudanca).Os estudantes so tem razao por nao haver um processo contnuo de informacao que faca aspontes. Nao tem razao quando dizem em abstracto que os estudantes nao foram ouvidosou quando nao fazem a distancia que os separa dos outros que virao e serao diferentes(os professores podem ser diferentes; os alunos podem ser diferentes) e presumem que o quee hoje (do que querem e do que recusam) vai manter-se amanha. Mais tarde, podem vira fazer o louvor do seu tempo lamentando que a eternidade nao tenha conservado os seusvalores e o exemplo do seu tempo n ao pensam na juventude dos outros, so querem a suade volta.

    3 Da ninharia das grandezas....

    Ha quem diga que uma revisao curricular para o ensino secundario so pode ser feita a partirde novass definicoes claras: nova identidade feita com finalidades separadoras e novos papeis,novas identidades feitas de competencias em accao para os actores (instituicoes e agentes)que vao representar os papeis, ... Dificilmente se aceita que uma revisao nao seja maisdo que a revisao de um segmento do sistema. O pensamento comum estabelece que hauma dependencia estreita entre todas as questoes e os executantes das accoes, como se osistema existente estivesse construdo de tal modo que as instituicoes e os actores so para

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    ele existissem e fossem incapazes de adequar a sua ac cao a novas ideias e novas praticas.Os mais optimistas aceitam algumas mudancas condicionadas a accoes que as suportem,desde novos esquemas de administracao ate sistemas de formacao previos a aplicacao das

    mudancas.Sabemos que a revisao curricular e feita dentro de um sistema que esta mais em reparacaoque em mudanca. Se pensarmos na qualidade e quantidade das ideias feitas sobre educacaoe escolas, no sistema de emprego (quase exclusivo para licenciados em ensino e de recursopara todos os outros que nao encontram emprego compatvel) em que o sistema publico deensino se transformou (com quadros de afectacao ... a cada uma das escolas) prevemos quetipo de transformacoes e possvel realizar sem uma revolucao.Todos os debates que antecederam a decisao sobre a revisao curricular, desde os encon-tros regionais ate a conferencia internacional de Evora, tiveram como pano de fundo taisconstrangimentos a decisao poltica.O papel activo nas negociacoes dos sindicatos profissionais, das associacoes de pais e deestudantes, fez-se representar com todos os medos perante as mudancas. Os sindicatos

    vieram esclarecer que os professores e os funcionarios nao docentes nao podem assumirnovos papeis sem os aceitarem e nao os aceitam enquanto nao se reunirem condicoes deformacao. Mas vieram tambem trazer para a decisao todos os medos e desconfiancas perantea possibilidade das mudancas na identidade do ensino secundario significarem discriminacoesdos filhos das classes trabalhadoras no acesso ao ensino superior. E nisto foram apoiadospelas intencoes dos pais, dos estudantes e de muitos estudiosos da questao social.Uma das discussoes basicas tem sempre a ver com a diversificacao dos fins do ensino se-cundario que nao tem sido mais do que a passagem entre o ensino b asico e o ensino superior.E e neste campo que se perdeu mais. O ensino secundario continua a ter uma so finali-dade teorica e continua a ser a vida real a determinar as outras finalidaes sem que o ensinosecundario possa participar na formacao de jovens que serao empurrados para a vida profis-sional activa, apesar de todas as boas intencoes que enchem este inferno secundario. Nadiscussao, mantem-se uma desqualificacao do ensino tecnologico em geral em vez de umatentativa seria de criar teoria e novas praticas do sistema para enfrentar a realidade.Neste campo, as organizacoes escolares (que sao ainda organizacoes de professores) farao oresto. Procurarao ler o que ja existe (e falhou) no novo articulado e defenderao os cursos quelhes permitam fazer durante mais tempo a mesma coisa. E farao com que, no fundamental,tudo seja a mesma coisa sob novos nomes.

    As tentativas serias para uma nova definicao do ensino secundario ficam ainda pelas declaracoes.O ensino secundario continuara a ser a generalista porta do abstracto ensino superior e tudoo que e ensino profissional ou artstico continuara com perspectivas de uma vidinha a partecom mais propaganda que vida vivida.

    Mas ha mudancas, ainda que mitigadas, neste campo da identidade, que podem e devem ser

    aproveitadas para comecar a sair da actual situacao e criar condicoes para que as futurasmelhores decisoes sejam consentidas pelo conjunto da sociedade. Tudo foi assim, sempre foiassim,... mas pode ser diferente. Outra forma de ver o ensino e a escola tem de ser mostradae demonstrada para as geracoes que nunca conheceram outra forma de ser escola.As declaracoes de mudanca sobre os cursos gerais e os cursos tecnologicos mostram aevidencia que ha, no actual sistema, falhas que e preciso corrigir. Algumas delas teraoa ver com total desadequacao dos cursos para os fins sociais a vista.As declaracoes sobre a necessidade de criar modulos de remediacao para obviar as dificul-dades na transicao do basico para o secundario, denunciam que ha problemas e e necessarioencontrar novas formas para o 10o ano e para o conjunto do ensino secundario.A necessidade estabelecida de falar de estudo acompanhado e em diminuir as cargas lectivasrevela que se compreende que ha uma fraqueza fundamental no sistema de base em aulas e

    nas actuais relacoes pedagogicas ou que estas, por si so, nao cumprem o papel que da escolase espera. Os professores tem novos graus de liberdade para a sua accao e podem vivernovos papeis fora da sala de aula.A necessidade consentida de falar de disciplinas de pro jecto (atribudas a um ou mais pro-fessores) revela que a area escola, integradora de saberes, falhou ou que os professores do

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    ensino secundario estao longe de saber trabalhar em projectos fora do ambiente da sala deaula e da sua disciplina e estao longe de saber trabalhar em equipa.A necessidade consentida de procurar novas vias para o ensino de Portugues e a necessidade

    de diversificar a Matematica que se ensina vem denunciar que a situacao de igual ensinopara todos talvez tenha sido um molde para a desigualdade, uma forma de discrimina caodisfarcada sob o manto igualitario.Ainda nao se sabe qual a profundidade das medidas consequentes a essas constatacoes. Massabe-se que tais constatacoes nao podem deixar de se converter em mudancas nos novosprogramas de ensino.

    E verdade que muitas destas desejadas mudancas so tem sentido se forem apropriadas pelosprofessores. Mas e verdade que, apesar dos actuais horarios lectivos, os professores aparecemcansados e desmotivados para as actuais praticas docentes e mais ainda para as pequenasexperiencias. O que aconteceu com as propostas de actividades para as interrupcoes lectivasnas escolas e disso prova bastante. Esta escola cansa. Quem sabe se uma mudanca nas

    praticas escolares nao alteraria este estado de enfado cansado dos professores? O que serapreciso mudar no sistema e nas organizacoes escolares? O que sera preciso mudar na imagemdas escolas? O que sera preciso mudar na sociedade? E so a escola que esta cansada de sero que e?

    4 ... a grandeza das ninharias

    E verdade que nao encontramos as grandes alteracoes de poltica nas grandes declaracoes.Mas elas existem, com certeza. Se elas nao existissem, como explicar as grandes mani-festacoes contra as mudancas?Quase podemos dizer que sao as pequenas ninharias que carregam a grandeza das verdadeirasmudancas.

    4.1 Os pes pelas maos

    Em teoria todos concordam que o actual formato das aulas a uma so voz e mais geradorde rudo que de criacao e troca de saberes. E todos concordam que essa situacao tem deser alterada. Todas as conversas nos corredores da pedagogia concordam na necessidade defazer dos estudantes participantes activos na construcao do saber.A um professor de pe (ou sentado a uma secretaria elevada ate ser pulpito) que baseia asua autoridade na materia da parte da sabedoria ou que domina e impoe o que se chamadisciplina, resistindo a passividade de ouvintes sentados, os estudantes opoem e impoem amateria de que sao feitos os sonhos e a que se chama indisciplina. Ja nao e o professor ounico veculo da sabedoria que apregoa nas aulas e ja nao e seguro que ela seja um bemapetecvel. E e verdade que as escolas sao habitadas por uma massa de estudantes longe dosaber escolar por falta de expectativas sobre a sua utilidade ou por afastamentos ainda maisradicais. Ja nao ha respeito e o que dizem. E e verdade, so que e duplamente verdade.Os estudantes ja nao nutrem qualquer respeito temeroso perante professores que nao osrespeitam e lhes dao menos instrumentos de compreensao e transformacao do real actual emais descricoes do que aconteceu ontem com recurso a meios desadequados e obsoletos.Todos concordam que e preciso passar o estudo para um novo formato e, principalmente,fazer passar os estudantes para o lado da disciplina como construtores ou fazedores desaber, como seres que tanto precisam de sermoes como de tentativas de compreender, errare acertar, de fazer experiencias, de debater, de... Os estudantes precisam mais da companhiade professores do que dantes, mas estes nao podem substitu-los em toda a procura e recolhade informacao, nem podem obriga-los a fazer essa procura e a trabalhar na constru cao dosaber com a tecnologia que se usavae ja nao e mais do que uma entre milhares de novas e

    mais potentes tecnologias presentes em todos os aspectos da vida quotidiana.Todos se queixam que a duracao das aulas actuais nao permite o trabalho autonomo dosestudantes em ambiente de sala de aula, muito menos permite que seja facultado aos estu-dantes o uso de tecnologias (computadores, por exemplo), a realiza cao e a apresentacao de

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    trabalhos serios, etc. E se e verdade que todos estudantes, professores e pais se queixamdo mesmo, nao e menos verdade que se criam movimentos contra a alteracao da duracaodos tempos lectivos.

    A proposta de aulas de 90 minutos todos se opoem porque nao vislumbram ou nao queremvislumbrar qualquer alteracao das praticas, antes insistem em ver o dobro da desgraca actual.Esta medida esta conjugada com alteracoes das praticas previstas nos programas. Sem aulascom duracao superior a actual, todos os programas de ensino que falem de iniciativas detrabalho autonomo para os estudantes ou de introducao de novas tecnologias em ambientede sala de aula estao condenados a nao serem cumpridos no essencial das praticas quepreconizam.

    Defende-se aqui que as aulas de 90 minutos (podia mesmo ser mais tempo) constituem umaprimeira possibilidade para obrigar a romper com o velho crculo da seca para os alunose tensao esgotante para os professores, criando novos ambientes de trabalho cooperativo

    do lado mais luminoso da vida escolar como participantes construtores de cada disciplinaorganizadora de saberes.Descansam mais os estudantes que, nao tendo que fazer enormes esforcos de concentracaopara ouvir exposicoes, podem verdadeiramente trabalhar e mais concentrados porque emmenos temas cada dia. Descansam mais os professores que preparam aulas de trabalho paraos outros com pequenaas exposicoes e nao esse trabalho inglorio de exposicao contnua (arecusa do publico que os devia ouvir).

    4.2 Dois ou tres?

    Uma outra medida desta revisao curricular que deve ser apoiada vivamente tem a ver com adivisao, para todos os efeitos, do ano escolar em dois perodos (semestres?). E uma medidaque vai diminuir muita da pressao feita sobre os professores. As classificacoes propostas pelos

    professores das disciplinas assumem uma grande importancia para a generalidade dos estu-dantes e particularmente para as famlias dos estudantes que pretendem prosseguir estudossuperiores.Sob vigilancia apertada de pais e encarregados de educacao (quase sempre incapazes dequestionar os metodos de ensino e o ensinado, quase sempre capazes de questionar notas)os professores e os estudantes perdem de vista a avaliacao como auxiliar do ensino e daaprendizagem e trocam-na por um conjunto de provas produtoras de seria cao de alunos.As indicacoes dos programas sobre o papel da avaliacao e a diversidadde dos instrumentosde avaliacao nao tem sido outra coisa do que indicacoes de papel.

    A necessidade de produzir classificacoes numericas para estudantes e pais num prazo dedois a 3 meses tem prejudicado claramente as intencoes dos professores que pretendem

    criar relacoes com os estudantes na base de uma grande diversidade de actividades a seremdevidamente apreciadas e consideradas na avaliacao e classificacao.Ha pouca pressao para a concretizacao do trabalho de ensino e aprendizagem (em que aavaliacao se inclui). Ha muita pressao para obter dados sobre o desempenho e localizacaona escala (0 a 20), isto e, para a realizacao de provas que so podem ser constitudas porperguntas (a maior parte de baixo nvel).A mudanca para dois perodos vai permitir uma respiracao pausada no que a avaliacaorespeita e e possvel que os professores possam propor e apreciar os diversos tipos de trabalho(mais ou menos complexos, com diversas duracoes de execucao) e nao so contar (as certas eas erradas) respostas curtas a perguntas curtssimas.

    Mais tempo para cada aula e mais tempo para viver o ensino sao condicoes fundamentais deuma mudanca para melhor. Sao as duas ninharias que podem constituir as duas primeirasgrandes alteracoes a um sistema de escolas organizadas para as aulas expositivas e para ostestes selectivos (ao nvel mais baixo). Esta organizacao escolar foi feita para a educacao deelites e manteve-se, sem alteracoes, para o ensino de massas.

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    Ha quem pense que estas duas pequenas medidas constituem a alteracao mais radical queja se fez ao nvel da escola, obrigando a mudancas nas praticas docentes ao mesmo tempoque obriga a mudancas das proprias escolas.

    4.3 As maos com dedos de pes

    Mas ja havia disciplinas praticas com aulas de duracao superior aos 50 minutos. O que eque ha entao de novo? Nao eram as as disciplinas praticas que sofriam do mal das aulasexpositivas. A alteracao esta em que a totalidade das disciplinas passa a ter aulas de 90 min-utos, especialmente aquelas que nunca foram abordadas com aulas praticas. Alias, sendo aspraticas experimentais integradas, muitas disciplinas praticas (que se foram transformandoem teoricas desdobradas ou em pratica sem teoria) vao deixar de existir. Muitas dessasdisciplinas que nasceram por obra das mais puras intencoes nao foram outra coisa senaomaos com dedos de pes.Ha ainda outras deformadas intencoes, outras maos com dedos de pes: area-escola, mal

    praticada; desenvolvimento pessoal e social (?) impraticavel; educacao sexual (?); educacaomoral e religiosa de varias confissoes; etc.

    Outras propostas importantes vao no sentido de prevenir deformacoes e influenciam mu-dancas nas organizacoes escolares e nas praticas dos professores. Assim venham a ser de-cisoes devidamente transformadas em aspectos da vida pratica.

    A aparente diminuicao (concentracao) das cargas lectivas opoe-se o acrescimo em actividadesobrigatorias (?) fora da sala de aula. As actividades de estudo acompanhado obrigaraoas escolas a procurar nova organizacao dos espacos para actividades diferentes das aulas.Comeca a perceber-se que nao basta ensinar, que nao basta dar os livros, que nao bastapropor trabalhos e preciso ensinar e aprender a estudar, a procurar a informacao e a trata-la, e preciso seleccionar de entre o todo disponvel o que e preciso para cada situacao....

    Para as escolas e para os professores ha uma nova oportunidade de dar a conhecer as outrasescolas que a escola pode ser.E estes espacos de novas intervencoes sao vulneraveis a accao da comunidade educativa. Nasescolas de hoje, com todos os espacos preenchidos por actividades bem espartilhadas porprogramas a cumprir, nao ha espacos nem tempos para a accao formativa da comunidadede pais e encarregados de educacao. Novos espacos para novos tipos de funcoes novaspossibilidades para motivar interaccoes com a comunidade, de mobilizar para a accao emambiente escolar as competencias dos pais e encarregados de educacao ou outros interessadosno processo educativo dos jovens.

    O estudo acompanhado pode motivar o trabalho de colectivos de professores da escola.Uma das grandes dificuldades dos professores reside na incapacidade de trabalho em projecto

    e de trabalho em equipa.A disciplina de Projecto vai no sentido da integracao de saberes e do trabalho em equipa.Algumas decisoes sobre a Educacao Sexual (que resiste a ser um par disciplina/professor)tambem parecem apontar para a formacao na base de intencoes diversificadas e nao naespecializacao (sempre redutora para assuntos que nao podem ser reduzidos a qualquer dassuas dimensoes).

    5 A revisao como forma de vida

    Procuramos levantar algumas questoes relacionadas com a revisao curricular participada, aomesmo tempo que consentimos as suas limitacoes como ajustamento fundamental e tenden-cialmente reparador ou regenerador do ensino secundario.

    Nao quisemos fazer um estudo neutro da decisao sobre a revisao curricular. Exprimimosuma opiniao pessoal e defendemos veementemente as medidas que consideramos boas epotenciadoras de verdadeiras mudancas com sentido positivo.

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    Viver na perspectiva da revisao nao exige preparacao para enfrentar e vencer novos desafios.Trata-se simplesmente de estar vivo num mundo em mudanca e saber que o nosso currculo(de sobrevivencia) tem de ser adequado a vida num pas desenvolvido em que novos con-

    hecimentos e novas tecnicas surgem no dia a dia e em que as tecnologias de informacao ecomunicacao ocupam todas as esquinas do nosso mundo. Trata-se de viver o nosso tempono nosso tempo.

    Referencias:

    Os documentos publicados pelo Departamento do Ensino Secundario, que acompanharam (e fizeram

    parte d) o processo, definem e esclarecem o ambito da decisao poltica na materia, reflectindo as

    dificuldades e limitacoes mas tambem as virtudes desta importante revisao em marcha. Para melhor

    enquadramento, juntem-se programas de governo, documentos orientadores de poltica do Ministerio

    da Educacao e respectivos pareceres do Conselho Nacional de Educacao. Sobre os movimento e a

    contestacao, leiam-se os jornais diarios e semanarios de 2000. Aqui ficam apontados os documentosprincipais do Departamento do Ensino Secundario.

    DES(1998). O Ensino secundario em debate: Reflexoes de Escolas e de Professores. Lisboa:ME/DES.DES(1998). O Ensino secundario em debate: Analise das consultas aos Paceiros Educativos. Lisboa:ME/DES.DES(1998). Ensino secundario: Ajustar para consolidar. Lisboa: ME/DES.DES(1999). O Ensino secundario em debate: Ciclo de Conferencias. Comunicacoes. Lisboa:ME/DES.DES(1999). O Ensino secundario em debate: Projectar o fuutro Polticas, Currculos e Praticas.Lisboa: ME/DES

    DES(2000). Revisao Curricular no Ensino Secundario: Cursos Gerais e Cursos Tecnologicos I.

    Lisboa: ME/DES

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