Umbanda Para Nao Praticantes

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documentos para leigos no assunto

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Umbanda para não Umbandistas

Perguntas e Respostas

Instituto Cultural Taba de Oxalá

Livreto explicativo acerca da Umbanda e das práticas e da doutrina do Instituto Cultural Taba de Oxalá. Escrito com perguntas enviadas por trabalhadores da casa e leigos na Umbanda. Especiais agradecimentos aos que colaboraram com perguntas e a todas as entidades de luz que sustentam essa corrente.

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Sumário

Introdução..............................................................................11

Perguntas e Respostas...........................................................13

1. O que é Umbanda?................................................................132. Quais os Fundamentos da Umbanda?......................................133. Qual a diferença entre Umbanda x Quimbanda x Candomblé x Espiritismo x Macumba?.............................................................154. Qual a Visão da Umbanda Sobre Deus?...................................175. O que são os Orixás?.............................................................186. Porque os orixás da Umbanda e do Candomblé são diferentes? 187. Quais são os orixás da Umbanda?...........................................198. A Umbanda pede dinheiro para realização de trabalhos?..........2309. Adeptos de outras religiões podem participar das sessões umbandistas?............................................................................2410. Os orixás são deuses?..........................................................2511. O que é um Exu e uma Pomba Gira? Eles são malignos?........2512. Para ser umbandista preciso frequentar terreiro?...................2613. Qual a diferença de pai de santo, sacerdote e zelador de santo?................................................................................................2614. Porque a Umbanda não é como o espiritismo, totalmente desprovida de hierarquia e sacerdócio?.......................................2915. Na Umbanda se sacrifica animais?.........................................3016. Segundo um teste da internet meu pai de cabeça é Oxóssi, isso é correto?..................................................................................31 17. Um pai de santo pode dar entidades como um Exu para alguém ou tirar as entidades das pessoas?..................................32 18. Entidades da Umbanda podem fazer sexo com outras pessoas enquanto incorporados?.............................................................3319. Porque as Entidades da Umbanda falam palavrões?...............34 20. Porque entidades da Umbanda precisam beber?...................3521. Os guias obrigam as pessoas da qual cuidam a trabalhar em terreiros?..................................................................................36 22. Tinha um problema pessoal e um pai de santo disse que era devido a uma determinada entidade estar brava comigo e falou

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para eu fazer determinada oferenda pra ela, isso pode ser verdade?................................................................................................3723. O Exu Caveira que incorpora em um terreiro de SP, é o mesmo Exu Caveira que incorpora em outros terreiros?...........................37 24. Podem ter duas entidades com o mesmo nome, trabalhando no mesmo terreiro?........................................................................3725. Por que se tira o calçado ao entrar no ‘terreiro’?....................3826. Por que se aconselha a não cruzar os braços e pernas durante uma gira de Umbanda?..............................................................3827. Qual a finalidade dos colares de contas (guias) na Umbanda?.3928. O que é Cambono?..............................................................3929. O que é pemba?..................................................................3930. O que são os pontos riscados ?.............................................4031. O que é amaci?....................................................................4132. Médiuns com os mesmos Orixás trabalharão com os mesmos guias espirituais?.......................................................................4133. O que é uma corrente espiritual?..........................................4234. Em média, quantos guias atuam com um único médium?.......4235. Quanto tempo é necessário para o médium ser considerado pronto para trabalhar?...............................................................4336. Como são feitos os pontos cantados?....................................4437. Qual a importância/influência da Astrologia na Umbanda?......4438. O médium corre o risco de ter sua sexualidade afetada ao incorporar entidades de gênero diverso do seu?..........................4539. O que são eguns e quiumbas?..............................................4640. O que são e para que servem as oferendas?..........................4741. O que é animismo e mistificação?.........................................4742. Como as datas comemorativas católicas são vivenciadas na Umbanda?.................................................................................4943. O que é Curimba?................................................................5044. Porque as roupas dos médiuns são brancas?.........................5045. Qual a visão da Umbanda de justiça divina? Existe a condenação eterna?...................................................................5146. Onde ficam as entidades quando não estão trabalhando? E onde fica o médium quando a entidade está trabalhando?...........5147. Depois da incorporação os médiuns lembram de alguma coisa?................................................................................................52

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48. Que são os passes das entidades?........................................5249. Porque os guias usam as vezes linguagem incomum?.............5350. Como ocorreu o sincretismo dos Orixás com os santos católicos?..................................................................................5351. Qual a importância dos banhos de ervas na Umbanda?..........5452. O que é e para que serve a defumação?................................5453. O que significa "bater cabeça"?.............................................55

Pequeno Vocabulário Umbandista.........................................56

Mensagem Final: A quem Pertence a Umbanda?...................61

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Introdução

A ideia do Instituto Cultural Taba de Oxalá surgiu tímida, marota, em passo suave. Do contato inicial com as entidades e o estabelecimento de giras de Umbanda fixas mensais para um grupo de médiuns floresceu um ideal de trabalho e um projeto de Centro Umbandista que continua cada dia a se arquitetar melhor e a evoluir.

A maior conquista de uma corrente é a solidez doutrinária, que vale muito mais que a solidez dos templos. Que não haja assentamento algum, templo algum, que as giras se façam ao ar livre, na casa de quem tiver a boa vontade de ceder um espaço, mas que a doutrina seja sólida, o ideal seja firme e a fé seja inabalável.

Esta cartilha tem um objetivo duplo. O primeiro, explicar a forma de praticar e ver a Umbanda do ICTO como um grupo. O segundo, dar uma noção geral aos leigos acerca da Umbanda em si. As duas propostas são ambiciosas, mas uma depende da outra. Explicar a Umbanda é essencial para fazer compreender a nossa Umbanda em particular, o que diferencia este trabalho de outros trabalhos dentro da religião. Não se trata de defender esta ou aquela forma de trabalhar, trata-se apenas de expor, uma vez que Umbanda é uma religião que abarca uma gama imensurável de práticas e tradições diferentes, todas dignas do respeito que se deve ter à fé e ao pensamento alheio.

Esperamos que este pequeno escrito lhe seja muito útil, que lhe acrescente conhecimento e esclareça eventuais preconceitos. Que a Paz de Zambi, a benção de Nosso Pai Oxalá e a força de todos os Orixás estejam sempre com você.

Axé.

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Perguntas e Respostas

1. O que é Umbanda?

Umbanda é uma religião espiritualista, anunciada ao mundo em 1908 por uma entidade chamada Caboclo da Sete Encruzilhadas, incorporada no médium Zélio Fernandino de Moraes. A Umbanda é baseada em práticas muito antigas como a veneração às forças da natureza, a mediunidade de incorporação e o xamanismo, motivo pelo qual em muitas tradições é ensinado que ela é bem antiga que a data antes assinalada, no entanto, é necessário deixar claro que o nome Umbanda teve sim um marco inicial.

Segundo as palavras da entidade que a anunciou, Umbanda significa “manifestação do espírito para a caridade.” Enfim, Umbanda retrata a alma brasileira expressa pela religiosidade, é o sincretismo das tradições, branca, preta e vermelha. Europeu, africano e indígena.

2. Quais os Fundamentos da Umbanda?

Um dos pontos mais conhecidos da Umbanda diz: “Umbanda tem fundamento, é preciso preparar”, mas que fundamentos são esses? Em primeiro lugar, fundamento de uma religião são os elementos que compõem o alicerce da mesma, sem os quais a religião desaba, sem os quais ela não se sustenta em pé. Esta definição é de suma importância porque muitos falam diferentes coisas ao elencar os fundamento da Umbanda, alguns colocando elementos que pessoalmente consideram essenciais como fundamentos, como forma de induzir outros a erro.

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Os fundamentos da Umbanda, em nossas práticas, são os seguintes:

Existência de Deus: a Umbanda não prescinde da noção de que há uma inteligência suprema, manifesta na diversidade de energias que compõem a realidade que nos cerca.

Pluralidade das realidades espirituais: O termo é meio difícil, mas de fácil compreensão. Um dos fundamentos da Umbanda é a existência de outros planos além deste plano físico em que estamos, bem como a habitabilidade de tais planos por seres inteligentes que se encontrem em níveis vibratórios afins.

Intercâmbio entre as Realidades Espirituais: Este intercâmbio nada mais é que a mediunidade. A Umbanda tem na mediunidade um fundamento inafastável. Tanto que o próprio Caboclo das Sete Encruzilhadas falou da religião como “Manifestação do espírito...”.

Caridade: A caridade é indissociável da prática Umbandista, sua importância é tanta que como explanado anteriormente, se encontra na própria definição deixada pelo Caboclo que a fundou: “Manifestação do Espírito para a CARIDADE.”. Este princípio será lembrado diversas vezes no decorrer deste trabalho, em virtude de, lamentavelmente, ser o mais esquecido de todos.

3. Qual a diferença entre Umbanda x Quimbanda x Candomblé x Espiritismo x Macumba?

São tantas as confusões em torno destes termos, que é necessário diferenciar logo no começo. Vamos lá.

Umbanda: tradição religiosa que une elementos das religiosidades europeia, afro e indígena brasileiras (vide pergunta 1).

Quimbanda: É a esquerda da Umbanda, a linha de trabalho ocupada por Exus, Pomba Giras, Malandros e etc. Umbanda e Quimbanda são faces de uma mesma moeda. Em terreiros ditos de magia negra é comum ser afirmado por seus dirigentes que

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trabalham apenas com Quimbanda, como forma de justificar certas práticas que adotam, quando na verdade, falar em terreiro apenas de Quimbanda é como falar de baião de dois que só tem feijão, se é baião de dois, deve haver feijão e arroz misturados. Para diferenciar a esquerda da Umbanda de terreiros de magia negra, muitos usam o termo KIUmbanda (referência a kiumba=espíritos trevosos) para se referir a estes. Consideramos isto pouco apropriado porque, apesar de a diferenciação ser uma tentativa de esclarecer, a enorme semelhança fonética entre os termos pode levar a mais confusão ainda. Popularmente, muitos consideram a Umbanda magia branca e a Quimbanda a magia negra, diante de quadro tão confuso, é melhor não firmar com certeza o que cada termo significa e sim verificar com os próprios olhos se quem diz ser adepto da Quimbanda o diz apenas por trabalhar com a esquerda da Umbanda ou por realizar trabalhos para o mal. As palavras importam bem menos que as ações.

Candomblé: Termo utilizado para se referir ao apanhado de tradições genuinamente africanas presentes no Brasil. Possui várias tradições chamadas Nações e são fundados em costumes milenares transmitidos de forma oral. A principal diferença para a Umbanda está no fato de que o Candomblé se propõe a resgatar as tradições africanas e o culto aos Orixás, além de possuir hierarquias rígidas, algumas com linhagens bem antigas de sacerdotes. Enquanto a Umbanda é mais voltada para o serviço, o auxílio espiritual através da mediunidade e mescla em sua doutrina a sabedoria branca e indígena, somando-as às tradições africanas.

Espiritismo: Tradição Filosófica, Religiosa e Científica surgia na França através dos estudos e codificações de Leon Hippolite Denizard Rivail, eternalizado pelo pseudônimo Allan Kardec. O espiritismo possui ampla penetração no inconsciente coletivo nacional, devido às ancestrais inclinações do brasileiro para a mística e o oculto. O espiritismo não é uma religião comum, uma vez que substitui dogmas rígidos pela investigação científica, se propondo como uma posição

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filosófica a ser adotada por todos que se propõem a racionalizar antes de internalizar uma crença. Embora a fé racional seja uma característica marcante de muitas religiões espiritualista, como a própria Umbanda, o espiritismo se destaca por ter na mesma a sua bandeira mais cara, embora na prática seja pouco comum o espírita dito completo, que valoriza os três aspectos igualmente. O espírita religioso é o mais comum dos três, seguido pelo científico e por último, o mais raro, o espírita filosófico.

A mediunidade, a caridade e a reencarnação são os principais pontos de contato entre o espiritismo e a Umbanda.

Macumba: Macumba é um instrumento musical e macumbeiro seriam aqueles que sabem tocar macumba. O termo se popularizou para se referir a toda doutrina e culto que faz uso de oferendas.

4. Qual a Visão da Umbanda Sobre Deus?

Deus para a Umbanda, é Zambi, Olorum, Olodumarê. Os três nomes são retirados de tradições africanas e retratam bem a visão umbandista do supremo criador como um ser infinito em todos os seus aspectos. Poder infinito, sabedoria infinita, amor infinito. Zambi é aquele que se manifesta em nós e ao nosso redor através de nossos pais Orixás.

5. O que são os Orixás?

Orixás são os tronos de Deus, energias divinas regentes da criação. Na visão Umbandista, Zambi (Deus), se manifesta no universo através de diferentes energias, estas energias regem todos os aspectos da existência: a geração, a morte, a sabedoria, a luz, a fé. A interação de todas essas energias gera a tudo que existe,

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inclusive nossos espíritos. Pela etimologia yorubá, Orixá vem de ori=cabeça e xá=senhor, traduzido como Senhor da Cabeça.

6. Porque os orixás da Umbanda e do Candomblé são diferentes?

Devemos pensar nos orixás como um caleidoscópio, a energia divina é uma só, bem como a figura por trás do caleidoscópio é una. Sob diferentes pontos de vista, sob os diferentes giros do caleidoscópio, podemos visualizar a imagem por trás de formas infinitamente diferentes. Assim é com as energias divinas, elas existem e interagem entre si, mas podem ser classificadas de muitas formas diferentes. Podem ser divididas em 400 Orixás, como em algumas tradições africanas antigas, 22 ou 16 como algumas tradições atuais do candomblé, 10 ou 7, como na maior parte das tradições umbandistas.

Qual divisão é correta? Todas elas. São apenas pontos de vista diferentes e nem os umbandistas nem os adeptos do Candomblé devem entrar em questão por causa de um elemento tão simples. Oxalá é a cor branca, que contém todas as outras cores, eu posso dividir essa cor branca em 7, em 10, em 12, em 16, em 22, em 1000. Os tons de cores, as combinações entre elas, são infinitas. Tudo depende do quão colorido você deseja o seu mundo.

7. Quais são os orixás da Umbanda?

Como falado na pergunta anterior, existem várias versões e divisões, mas falaremos dos Orixás mais comuns da Umbanda, explicando seu sincretismo.

Exu: Exu sempre vem primeiro, é um ensinamento ancestral do Candomblé. Na Umbanda é muito difundida a atuação das entidades Exus e não tanto o Orixá Exu. Exu é o senhor dos caminhos, rege a

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comunicação entre os Orixás e os homens. Sem Exu não se faz nada, uma vez que para se relacionar com qualquer força, primeiro Exu tem que abrir uma passagem entre você e esta força. Por estar tão próximo do ser humano. Em algumas regiões, Exu é sincretizado com Santo Antônio. Sua saudação é Laroyê Exu, Exu é Mojubá.

Oxalá: É o pai da Humanidade, sincretizado com Jesus Cristo. O rei do pano branco, orixá da paz e da espiritualidade. Simboliza o deus interior de todos, a centelha divina que Zambi semeou em cada um. Oxalá representa a energia do messias cósmico, do caminho até o pai supremo, da senda da iluminação. Um erro comum é dizer que Oxalá é Jesus Cristo, podemos dizer que não é a verdade completa. Não é Oxalá que é Jesus, é Jesus que é Oxalá. Pode parecer tudo igual há uma diferenciação muito especial. Jesus é o avatar deste mundo ocidental, o nosso Cristo, representa a nossa visão de Oxalá. Diferentes culturas, diferentes povos e diferentes épocas viram esta energia de outra forma. Podemos dizer então que Jesus é Oxalá, mas Krishna também é Oxalá, Buda é Oxalá, Mithra é Oxalá, bem como Hórus e tantos outros cristos. Sua saudação é Epa Babá.

Yemanjá: Talvez o orixá mais conhecido de todos, juntamente com Oxalá. É a rainha do mar, rege a chamada calunga grande (o mar). Yemanjá é uma das Orixás que simbolizam a figura universal da grande mãe protetora e amorosa, mas também terrível na defesa dos seus filhos. Sincretizada com Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da Glória, entre outras. Sua saudação é Odoiá.

Ogum: Simboliza a energia dos guerreiros, o ímpeto para a luta e o desbravamento presentes no ser humano. Ogum rege os instrumentos de metal, símbolos da tecnologia e da coragem da humanidade, uma vez que a manipulação de metal simbolizou imensos avanços nas civilizações antigas. Orixá bem conhecido e sincretizado com São Jorge. Sua saudação é Ogunhê ou o popular Salve Jorge.

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Xangô: Orixá da Justiça, dos trovões, do sol e das pedreiras. Xangô representa a força, a energia em si, o poder. Sua regência sobre a justiça demonstra que toda força precisa ser guiada pelas leis divinas. Força sem lei é apenas destruição. Sincretizado com São João Batista. Sua saudação é Kaô Kabecile.

Oxóssi: Senhor das matas, da busca pelo conhecimento e da fartura de alimentos. Oxóssi simboliza o conhecimento pois o caçador é também aquele que sai da tribo e desbrava o mundo, que sabe os segredos que se escondem nos recônditos mais escondidos das matas. Sincretizado com São Sebastião. Sua saudação é Okê Arô.

Oxum: Senhora dos rios, das cachoeiras, da beleza e do ouro. Oxum é orixá feminino, delicada e poderosa ao mesmo tempo. Patrona da feitiçaria. Representa o aspecto da grande mãe de donzela, bela e fatal, conhecedora profunda da arte da sedução. Representa a beleza e a vaidade, a feminilidade em seu aspecto mais intenso e ao mesmo tempo mais sutil. Sincretizada com Nossa Senhora da Conceição ou Aparecida. Sua saudação é Ora Ye Ye ô.

Iansã (Oyá): Representa o arquétipo da mulher guerreira, destemida. Segundo as lendas foi o amor verdadeiro de Xangô, dividindo com ele inclusive as regências sobre ventos e trovões e sua energia estando presente sempre que a de Xangô está. Xangô está em Iansã assim como o fogo da masculinidade também está presente na mulher, Yansã está em Xangô assim como as emoções da feminilidade também estão presentes no homem. Sincretizada com Santa Bárbara (Oyá guerreira) ou Santa Clara (Oyá do tempo). Sua saudação é Eparrêi Oyá.

Nanã: Simboliza o aspecto da grande mãe de velha sábia, a anciã que já viu tudo o que a vida tinha de mostrar. É a sabedoria feminina, carregada da sisudez e seriedade de mulher que sabe o que está falando, não pelo estudo, mas por ter vivido. Rege os pântanos, as águas paradas e os lamaçais. É sincretizada com Sant’Ana. Sua saudação é Salúba.

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Omolu/Obaluaiê: Orixá da calunga pequena (cemitério), da saúde e da doença, da vida e da morte. Omolu é o sisudo regente dos cemitérios, da passagem desta para a outra vida. Obaluaiê é seu aspecto jovem, em algumas tradições considerado um Orixá diferente. Pela sua regência se torna um orixá bastante temido. Como a própria morte, Omolu é aquele, que embora muitos temam, todos sabem que um dia fatalmente irão encontrá-lo. Sincretizado com São Lázaro, São Bento ou São Francisco de Assis. Sua saudação é Atotô.

Ibeijis: Os orixás crianças, são dois e gêmeos, regem a inocência, o poder que floresce da bondade do coração das crianças. Sincretizados com os santos gêmeos Cosme e Damião. Sua saudação é Omi Beijada.

Estes são os 11 orixás mais comuns na Umbanda, embora nada impeça que outros sejam venerados. Outros orixás também conhecidos:

Oxumarê: rege as serpentes, o arco-íris e a dualidade. Ossain/Ossanha: Rege os segredos das folhas, o conhecimento

de cura, de morte e de vida presentes nos vegetais. Obá: Senhora das águas revoltas dos rios, correntezas e

quedas d'agua (não confundir com cachoeiras, que são domínios de Oxum).

8. A Umbanda pede dinheiro para realização de trabalhos?

Não, a Umbanda é a “manifestação do espírito para a caridade”. Caridade é o trabalho benemérito, o serviço espontâneo, gratuito e incondicional de auxílio ao próximo. Qualquer tipo de trabalho em que seja cobrado dinheiro para sua realização, certamente não é de Umbanda.

Façamos a ressalva de quando a pessoa pede a uma entidade um trabalho de interesse pessoal e a entidade concede. Neste caso, a

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própria entidade pode repassar uma lista de materiais a ser trazido pela pessoa. O que de forma alguma é cobrança por trabalhos, considerando que não é recomendado que a pessoa forneça qualquer quantia para a compra de materiais e sim que os compre pessoalmente, uma vez que isto já a envolverá na sintonia necessária para a recepção das energias liberadas em um trabalho.

Por fim, é importante salientar que uma casa Umbandista, como todo templo, precisa de recursos para se manter, então é lícito e comum que terreiros, a exemplo de centros espíritas, recebam doações espontâneas ou organizem programas de associados para manter suas atividades. Contribuições que jamais serão atreladas a benefícios espirituais (como bençãos ou trabalhos especiais para associados).

09. Adeptos de outras religiões podem participar das sessões umbandistas?

Com toda certeza. A Umbanda é uma religião baseada em caridade, em ajuda ao próximo. Seria paradoxal se uma casa umbandista fizesse qualquer tipo de diferenciação em seu público. Seja por motivos de raça, sexo, condição econômica e até mesmo religião. Todos são bem-vindos a receber auxílio nas sessões, porém, apenas o que se dedicam e se propõe a ser filhos de fé podem ter acesso aos profundos conhecimentos da Sagrada lei de Umbanda.

10. Os orixás são deuses?

Depende da visão que se tem de deus. Para quem enxerga Deus como uma manifestação energética ou arquetípica, então os Orixás são sim deuses, à exemplo de deuses gregos, egípcios, nórdicos e etc. Já quem concebe por Deus apenas a fonte suprema,

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inteligência superior, arquiteto maior da realidade, então os Orixás não são Deuses, apenas manifestações ou criações de Deus, assim como nós.

11. O que é um Exu e uma Pomba Gira? Eles são malignos?

Exus e pombas giras são entidades de Umbanda e trabalham na linha da esquerda, que é responsável pelo trabalho em regiões mais sombrias e negativas, inclusive locais do nosso plano físico. São entidades boas, treinadas para um trabalho difícil e dignas de muito respeito. Não existe entidade de Umbanda ignorante ou maligna, se uma entidade manifesta ignorância sobre o bem e o mal ou tendências para práticas malignas ou nefastas, afaste-se. Você está diante de um trevoso se passando por entidade séria, algo que tristemente é mais comum do que as pessoas imaginam.

12. Para ser umbandista preciso frequentar terreiro?

Uma visão equivocada que se tem dos Umbandistas é que só é possível seguir a religião se você for integrante de um terreiro. Embora participar de uma corrente dê acesso a uma gama mais ampla de energias e entidades, proporcionando uma maior evolução a depender da corrente, Umbanda é sobretudo amor à natureza e busca de conexão com a espiritualidade e para isto ser frequentador de uma casa não é estritamente necessário. Na verdade, aqui vale o velho ditado: antes só que mal acompanhado. Se for pra participar de uma corrente desequilibrada ou até mesmo com pendores para magia negra e práticas não umbandistas, melhor é praticar de forma solitária.

13. Qual a diferença de pai de santo, sacerdote e zelador de santo?

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Pai de Santo procede do termo afro Babalorixá. Baba significa Pai, e os orixás foram sincretizados com os santos, daí o termo, Pai de Santo. No entanto, como bem dizemos, o termo provem do africano e, portanto, é adequado para os cultos de origem africana como o Candomblé, Zelador de Santo é apenas outro entendimento sobre a tradição do termo Babalaô. Santo tem pai? O Papel do pai de santo de fato é Zelar pelas estruturas físicas de um terreiro e os assentamentos dos Orixás, que merecem cuidados específicos e especiais, motivo pelo qual algumas tradições preferem usar o nome Zelador de Santo.

A Umbanda surgiu dentro de um centro espírita, uma religião pautada na igualdade entre os fiéis. O objetivo da Umbanda era ser um espaço onde ninguém fosse julgado puramente pelo que era, incluindo tanto os encarnados que procurariam atendimento quanto os espíritos benevolentes que se dispusessem a ajudar. Dentro deste cenário, a figura do Pai de Santo como um guia espiritual, Pai Espiritual, soa um pouco deslocada, para não dizer paradoxal. Nossos Pais Espirituais são os Orixás, tronos de Deus e as entidades, espíritos de luz treinados na lei de Umbanda, são guias muito mais adequados que uma pessoa encarnada, por melhor que esta seja. Iniciações não conferem a ninguém uma aura de divindade, que deva ser saudada e respeitada como alguém superior dentro do culto. Um calhamaço de guias no pescoço não vai tornar alguém sacro, santo ou superior a quem quer que seja.

Ressalte-se que no Candomblé, o babalaô ou Yalorixá são pessoas preparadas por anos para levar adiante um trabalho, em uma estrutura parecida com a dos pajés indígenas, são guias naturais de uma comunidade de santo, que aprendem por anos, as vezes desde que nascem, todos os cuidados para zelar antigas estruturas de assentamentos. Quando se passa essa pompa para a Umbanda, sem o necessário arcabouço histórico, passamos a ter muitas vezes um apanhado de hipocrisia e desvios. Pais de Santo sem terreiro, outros

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sem instrução. Apenas recebem várias iniciações, penduram suas guias no pescoço e vão indo de gira em gira por aí para serem saudados como “Coroas Grandes”. Daí a César o que é de César, os Pais de Santo são característicos do Candomblé, uma belíssima religião a qual muito devemos.

Ressaltamos por fim o nosso respeito a todas as tradições que usam o termo, a intenção não é criar polêmica, é esclarecer. Por motivos culturais difíceis de serem mudados, muitos maravilhosos sacerdotes de Umbanda utilizam o termo pai de santo e não há nada de errado nisso, desde que vejam os outros como irmãos, iguais em tudo nesta caminhada terrena.

Mas na Umbanda então não existe Sacerdócio? Sim, existe o que se chama de Sacerdote de Umbanda, termo que anda se popularizando bastante. O Sacerdote, por definição é aquele que abraça uma missão espiritual dentro da religião. Em muitos terreiros é considerado Sacerdote o dirigente e em outros os médiuns que completam seu ciclo de iniciações e se dedicam à prática da mediunidade para a manifestação dos espíritos para a caridade.

Existem dois tipos de sacerdócio, horizontal e vertical. Horizontal costuma ser muito visto, mais comum, é a transmissão do sacerdócio por alguém que já é detentor do cargo. Bastante comum no Candomblé e tradições de maior influência afro. Já o vertical é o sacerdócio que nasce a partir da interferência do mundo espiritual, quando as entidades comunicam ao médium que ele tem um trabalho a realizar e deve fundar uma corrente mediúnica ou abrir um terreiro. Na Umbanda temos os dois tipos de sacerdócio presentes, há tanto pessoas que entram para um terreiro ou tenda e são preparados lentamente para o trabalho até assumirem funções sacerdotais, como pessoas que mesmo sem preparo e às vezes sem sequer conhecerem outros locais, passam a incorporar espontaneamente e trabalhar mediunicamente sob orientação de suas entidades.

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14. Porque a Umbanda não é como o espiritismo, totalmente desprovida de hierarquia e sacerdócio?

A resposta é simples, a Umbanda possui rituais, diferentemente do Espiritismo, que não os possui. Toda religião que possui rituais naturalmente precisa de alguém que saiba realizar tais rituais. Normalmente a diferença entre um sacerdote e um seguidor normal de uma religião é exatamente a habilitação para executar os ritos próprios da tradição religiosa.

E a hierarquia na Umbanda – salvo aqueles que usam a posição de pai de santo como um pilar para ficarem acima dos outros em vez de um poderoso instrumento de auxílio ao próximo – é simplesmente administrativa e organizacional, espiritualmente ninguém deve ser tratado como mais poderoso e iluminado que os outros. O sacerdócio costuma ser um fardo, uma posição que traz muitas responsabilidades e preocupações. Se o pretenso sacerdote, seja de qual religião for, está sempre acima dos outros e tomando mais dos outros que doando de si (casos de muitos pastores e pais de santo que só vive para ganhar dinheiro com a fé), há alguma coisa errada aí.

15. Na Umbanda se sacrifica animais?

A Umbanda é uma religião que prega essencialmente a harmonia com a natureza e o respeito a vida, portanto, entre seus fundamentos não está o sacrifício de animais. No entanto, não podemos dizer que a Umbanda seja uma religião vegetariana, a exemplo dos Hare Krishna, uma vez que a mesma não faz proselitismo de nenhuma prática alimentar e inclusive não é vedado doutrinariamente o uso de alimentos de origem animal em comidas a serem distribuídas em trabalhos, como por exemplo, creme de galinha ou vatapá.

O vegetarianismo é uma prática que demonstra imenso amor aos animais e denota uma grande qualidade espiritual no momento

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em que a pessoa deixa de consumir carne para não infligir dor a seres inocentes. A despeito disso, a Umbanda considera mais pura a energia de quem não consome carne animal, a partir do momento em que nas preparações, resguardos ou preceitos (períodos de preparo para iniciações ou em dias de trabalhos espirituais) é vedado o consumo de carne.

Dentro do Candomblé e de tradições de grande influência africana, dentre as quais algumas que são conhecidas popularmente como Umbanda mas se tratam de tradições diferentes, o sacrifício de animais tem um sentido ritualístico e procede de costumes muito antigos, que embora possam ser considerados ultrapassados e cruéis, do ponto de vista religioso, devemos respeitar e evitar julgamentos, que cada um pratique o que for de sua consciência. Já dentro da Umbanda, muitas vezes a inserção de sacrifício é apenas um show à parte para impressionar os incautos ou então puramente a prática de magia negra.

16. Segundo um teste da internet meu pai de cabeça é Oxóssi, isso é correto?

Existem diversos cálculos desenvolvidos para determinar os Odús de nascimento de alguém, e por conseguinte os orixás que regem o seu nascimento. Devido muito ao apelo da mídia existe uma verdadeira febre sobre saber os orixás que regem a cabeça das pessoas. Embora seja um importante meio para o autoconhecimento, não devemos cair no primeiro cálculo que aparecer.

Existe uma função para cada orixá da nossa coroa e um motivo lógico para cada um ocupar cada posição. Se você tem uma explicação lógica que satisfaça sua razão e seu coração aceite como verdade e aquele orixá como seu, dificilmente estará errado. Mas nunca creia somente em um cálculo matemático ou um jogo de búzios, que pode ter sido interpretado errado. A determinação dos

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orixás de alguém pode ser feita a partir de um bom conhecimento dos Orixás e da personalidade da pessoa examinada, sem uso de oráculos ou cálculos. Para fins iniciáticos, é essencial mesmo com toda a certeza, ter a confirmação de uma entidade de confiança da corrente de trabalho sobre quais são os seus Orixás.

17. Um pai de santo pode dar entidades como um Exu para alguém ou tirar as entidades das pessoas?

As entidades são designadas para uma pessoa pelas hierarquias superiores e os critérios são sempre o melhor serviço possível e o desenvolvimento da pessoa e das entidades. A Umbanda carrega uma forte carga de culto aos ancestrais, então é muito comum entre suas entidades haver espíritos afins a você, seja por serem familiares seus de outras existências, seja por afinidades energéticas diversas e ligações que muitas vezes levamos anos para entender. Então deve ser visto com desconfiança e reserva a prática de alguns sacerdotes de “darem” entidades para as pessoas, como se fossem generais comandando um exército. Por outro lado, mais temerária ainda é a prática de tomar entidades ou popularmente “amarrar o santo” de alguém. Tais coisas são possível nos domínios da magia negra, onde as entidades trevosas atendem a quem pagar o maior preço, em um verdadeiro leilão de horrores. Entidades sérias, consagradas na Santa Lei de Umbanda, não são passíveis de serem tomadas por ninguém, nem amarradas e muito menos voltadas contra seus médiuns. São espíritos em desenvolvimento, mas com grau de discernimento superior ao nosso, que estamos na carne.

18. Entidades da Umbanda podem fazer sexo com outras pessoas enquanto incorporados?

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Relatos deste tipo são muitas das coisas que enfraquecem a confiança na religião e a tornam motivo de pilhérias. Entidades são espíritos altamente treinados no mundo espiritual em atividades missionárias, não espíritos viciados em sexo, drogas, dinheiro ou poder. A pomba gira não é uma mulher devassa em busca de sexo, é um espírito de muita luz que atua em região onde reina devassidão e a energia sexual é utilizada de forma desvairada. É a mesma coisa que achar que um médico trata os doentes porque adora doença, se o médico trata os doentes é porque quer vê-los com saúde. De igual forma, a pomba gira trabalha em regiões de baixa vibração, para melhorar tais regiões e não porque é viciada nas práticas que lá são realizadas.

19. Porque as Entidades da Umbanda falam palavrões?

Entidades sérias são sempre muito educadas, embora algumas sejam brincalhonas e possam conversar de maneira informal, como se fossem um de nós, muitas vezes para nos deixar à vontade. Agora, falar palavrões e ofender os outros de forma deliberada é um vício ou da cabeça do médium que incorpora, ou decorrente do fato de não estar ali um espírito de luz e sim uma entidade atrasada ou trevosa.

Serve o exemplo da pergunta anterior, não é porque um Exu atua em regiões onde há muitos mal educados falando palavrões, que ele irá falar palavrão também. Você, como médium, deve se policiar, deixar a entidade agir conforme o temperamento dela, não aproveitar o transe mediúnico para liberar frustrações, ansiedades e problemas em geral em forma de palavrões e ofensas gratuitas a quem está ali assistindo o trabalho em busca de ajuda e alento.

20. Porque entidades da Umbanda precisam beber?

Elas não precisam, ponto. Entidades não são viciadas em beber, nem em fumar, nem em comer. Tudo isso são os chamados

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instrumentos de trabalho. Elementos dos quais as entidades extraem energias para realizar seus trabalhos de auxílio. As entidades precisam de energias deste mundo para resolver certos problemas daqui. Beber ou fumar não são necessários para a incorporação. Alguns médiuns com problemas com bebidas ou com restrições médicas podem trabalhar normalmente criando outras formas de deixar a disposição das entidades seus instrumentos de trabalho.

Entidades também não tem preferência pessoal por bebidas ou pela bebida estar gelada ou quente. Tampouco por marca de charuto ou cigarro. Toda e qualquer preferência sempre tem uma explicação, que a entidade séria dirá se for indagada a respeito. Algumas vezes a explicação é simplesmente a preferência pessoal do médium, que a entidade gentilmente não se opõe em atender e outras vezes são necessidades do trabalho, como nível de vibração, energia liberada ou associação de determinado elemento à egrégora ou energia específica.

21. Os guias obrigam as pessoas da qual cuidam a trabalhar em terreiros?

Não. É outra grande falácia muito usada por certos dirigentes de terreiro que querem prender as pessoas em suas casas. O trabalho na Umbanda é caridoso, ou seja, deve ser feito de coração. Se você não está trabalhando de coração, é melhor ficar em casa. Seu coração deve estar na Umbanda ou o corpo todo deve ficar de fora. O que pode ocorrer, é o espírito de determinada pessoa haver encarnado com certa obrigação com a espiritualidade e no decurso da vida se desviar do compromisso assumido. Neste caso, essa pessoa será sim cobrada e orientada pela espiritualidade a abraçar o trabalho com o qual se comprometeu antes de encarnar, mas jamais será ameaçada ou coagida, não sofrendo nenhuma consequência negativa em razão de não assumir o trabalho além das que ela mesma planejou antes de

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encarnar.

22. Tinha um problema pessoal e um pai de santo disse que era devido a uma determinada entidade estar brava comigo e falou para eu fazer determinada oferenda pra ela, isso pode ser verdade?

Só se for uma entidade trevosa. Entidades de Umbanda verdadeiras só trabalham para o bem e estão acima dos nossos humores terrenos de ter raivas ou rancores por motivos tolos. Neste caso, você não deve agradar o trevoso para te deixar em paz e sim procurar ajuda espiritual em uma autêntica casa umbandista.

23. O Exu Caveira que incorpora em um terreiro de São Paulo, é o mesmo Exu Caveira que incorpora em outros terreiros?

Não, as entidades de Umbanda são organizadas em falanges, como um exército. Exu caveira é o nome de um batalhão deste exército, formado por milhares de espíritos, totalmente diferentes uns dos outros.

24. Podem ter duas entidades com o mesmo nome, trabalhando no mesmo terreiro?

Sim. Embora alguns terreiros vedem isso, proibir é irracional. Não é no plano terreno que são definidas as entidades de alguém e sim no plano espiritual. Então nada impede que duas pessoas com afinidades com a falange da cabocla Jurema, por exemplo, trabalhem na mesma corrente. Embora as próprias entidades às vezes criem formas de diferenciar, como uma delas usar um nome levemente diferente, para evitar confusões.

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25. Por que se tira o calçado ao entrar no ‘terreiro’?

Todo ambiente de trabalho umbandista, bem como os terreiros, são complexos energéticos especialmente desenvolvidos para trabalhar nossas energias. Simplesmente pisar em uma gira ou terreiro, já é trocar energias com o ambiente, receber forças positivas e descarregar as energias negativas. Nosso corpo é um sistema energético complexo, que vai do topo da cabeça à planta dos pés, isolar do chão do terreiro nossos pés é abrir mão de uma conexão plena com essa energia. É como estar em um imenso pomar e optar apenas por chupar limão.

26. Por que se aconselha a não cruzar os braços e pernas durante uma gira de Umbanda?

Por um motivo bem semelhante ao da pergunta anterior. Cruzar braços e pernas é interromper o fluxo normal da energia no corpo, impedindo a conexão perfeita com a energia que está girando nos trabalhos.

27. Qual a finalidade dos colares de contas (guias) na Umbanda?

As guias possuem muitas funções. São colares que proporcionam uma ligação com nossas entidades, orixás e correntes bem como proporcionam proteção ao médium e ainda servem de instrumento de trabalho para o médium e a entidade, sendo utilizada para benzer, fazer descarregos e coisas do tipo.

28. O que é Cambono?

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Cambonos são as pessoas que se dedicam ao trabalho de prestar assistência às entidades que estão incorporadas. É um trabalho complexo e que exige muito preparo, que vai desde a disponibilização dos instrumentos de trabalho da entidade até traduzir para os consulentes conselhos e receitas que este não entenda, bem como o jargão umbandista que muitas entidades usam em larga escala e os leigos têm dificuldade de compreender. O primeiro passo para ser um bom umbandista é ser um bom cambono.

29. O que é pemba?

A pemba é um importante instrumento de trabalho dentro da Umbanda e uma das mais significativas heranças da tradição africana. Pemba é o nome dado a um giz, normalmente de forma ovalada mas que pode ser de diferentes formatos. A pemba tem uma gama de usos enorme e é extremamente importante nos rituais mais diversos. É com ela que são riscados os pontos gráficos das entidades, ela é raspada em todos os amacis para dar a "liga" energética necessária entre todos os elementos que o constituem. Outro uso comum é para riscar círculos e símbolos de invocação ou proteção.

A pemba pode ser encontrada nas mais diversas cores, de acordo com a divisão das linhas, sendo a branca a mais comum é universal.

30. O que são os pontos riscados ?

Pontos riscados são códigos em forma gráfica que possuem diversas funções. Entidades, falanges e orixás possuem seus pontos riscados. Este desenho é feito em geral dentro de um círculo e contém símbolos e/ou imagens que identificam a linha e área de atuação das entidades, além de constituírem verdadeiros portais através dos quais as entidades podem ser evocadas ou apenas podem

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enviar suas energias de forma mais efetiva. O ponto pode ser usado pela própria entidade para reforçar a ancoragem de sua energia ou realizar energizações e descarregos com o auxílio do portal aberto.

Existem pontos riscados de orixás e de falanges de entidades mais populares disponíveis em livros e na internet, porém, pontos riscados de entidades particulares costumam ser passados apenas ao médium ou a corrente de trabalho, utilizando os canais mediúnicos.

31. O que é amaci?

Amaci deriva do verbo amaciar e são banhos de ervas frescas destinados exatamente a “amaciar” a ligação energética do médium com seus orixás e guias. O fundamento por trás do amaci consiste na interação dos fluxos energéticos da natureza correspondentes aos orixás e suas linhas diretamente com o chacra da coroa do adepto. Ao contrário dos demais banhos, o amaci é despejado diretamente no topo da cabeça do médium, local onde está localizado o chacra coronário.

Os amacis são certamente uma das experiências místicas mais intensas que podem ser vividas dentro da prática umbandista.

32. Médiuns com os mesmos Orixás trabalharão com os mesmos guias espirituais?

Não necessariamente. Embora os orixás de uma pessoa forneçam uma boa pista acerca das linhas de entidades com as quais ela tem afinidade, a determinação de quais guias cada um tem depende de diversos fatores tais como sua ancestralidade, afinidades construídas no mundo espiritual com espíritos que hoje atuam como entidades, bem como a corrente espiritual a qual irá se filiar.

33. O que é uma corrente espiritual?

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Dá-se o nome de corrente espiritual a um grupo de médiuns umbandistas que atuam em conjunto dirigidos por uma única hierarquia espiritual. Cada terreiro forma uma corrente, em regra. Embora todos que compõem o povo de santo sejam manos de fé, irmãos de corrente possuem um laço mais intenso e complexo, uma vez que partilham os mesmos direcionamentos espirituais, espaços de trabalho e até as mesmas dificuldades no dia a dia da casa de axé que frequentam.

34. Em média, quantos guias atuam com um único médium?

Este número é muito relativo, varia de pessoa para pessoa. Um dos fatores mais preponderantes é a missão individual daquele médium. Digamos que um médium tenha a missão de atuar como curandeiro ou rezador em uma comunidade carente. Ele pode nem conhecer nenhuma casa de Umbanda, mas incorpora um preto velho que o auxilia nas curas que leva aos necessitados. No caso, trata-se de um médium que trabalha com uma única entidade.

Um médium com a incorporação já desenvolvida costuma incorporar ao menos uma entidade de cada grande linha: exu, pomba-gira, caboclo, erê, preto-velho etc. Sendo que isto também não é determinante, uma vez que existem inúmeras linhas, como marinheiros, boiadeiros e cangaceiros. Além disso, nem todas as entidades de um médium precisam incorporar nele. De fato, é possível ter inúmeras entidades e não incorporar nenhuma. Enfim, o importante é deixar claro que quantidade de entidades que se incorpora ou possui não define a qualidade do médium nem a importância do seu trabalho.

35. Quanto tempo é necessário para o médium ser considerado pronto para trabalhar?

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Varia de médium para médium. É possível que alguém sequer imagine ser médium e em um caso fortuito passe a incorporar e trabalhar, caso do médium fundador da Umbanda, Zélio de Moraes. Outros podem precisar de meses ou anos de estudos e práticas para se tornar apto ao trabalho. Lembrando que preparação não é só nascer com mediunidade aflorada ou aprender a desenvolvê-la, trata-se de um complexo de fatores nos quais a reforma íntima, o preparo emocional e o amor ao próximo, possuem importância tão grande quanto a mediunidade em si.

36. Como são feitos os pontos cantados?

Pontos cantados possuem na Umbanda a mesma importância que o mantra, se destinam a colocar o praticante em determinada sintonia vibratória afim à entidade a que o ponto pertence. Não é uma música qualquer, é um canto sagrado. Apesar disto, não necessariamente precisa ser revelado por uma entidade ou composto a partir de inspiração espiritual em um compositor encarnado. Um bom poeta pode por si só criar uma melodia e letra que eleve a mente e o espírito a determinada sintonia espiritual.

37. Qual a importância/influência da Astrologia na Umbanda?

Antes desse plano material ser manifestado, já haviam espíritos e mundos espirituais. Entender isso é muito importante para não julgar certas coisas sem conhecimento. A verdade é que tudo no universo está interligado, os astros trabalham em padrões, seguindo uma lei, a mesma lei rege a vida dos homens, das abelhas, das formigas. Não é que os astros regem a nossa vida, é que a nossa vida e os astros são regidos pelas mesmas forças. Não devemos confundir a causa com o efeito.

Uma força determinou que os astros estivessem em uma determinada posição quando determinada pessoa nasceu. Outra força determinou que aquele astro cruzasse os céus em certo momento. O

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astro não influenciou, mas a energia que o enviou também influencia você. Os astros são apenas uma forma de ler as manifestações da energia. São como os búzios de zambi lançados na peneira do firmamento, quem quer que se disponha a aprender a lê-los, descobrirá os muitos segredos que eles revelam.

38. O médium corre o risco de ter sua sexualidade afetada ao incorporar entidades de gênero diverso do seu?

Aquele que desenvolve sua mediunidade na Umbanda corre vários riscos. Risco de conhecer melhor a si próprio. Risco de ajudar muita gente, de através do oráculo conseguir maior contato com seus guias, mentores e forças regentes. Corre também alguns riscos negativos, como ser tomado pela vaidade ou se corromper usando seu conhecimento para fins pérfidos. Mas de ter sua sexualidade afetada ele certamente não corre perigo algum, pois esta é uma característica intrínseca de cada um. A sua sexualidade é uma manifestação da sua vontade como espírito, da sua natureza. É uma mostra de como você se relaciona com as suas energias corporais e espirituais. Dizer que uma sexualidade é superior a outra é apenas mais uma mostra de como o homem, sendo tão pequeno, em vez de buscar crescer tenta quebrar as pernas do irmão para parecer maior que ele.

Agora é fato que a Umbanda tem muitos homossexuais, bem como muitos negros, muitos pobres e membros de diversas minorias. Talvez seja por ser uma religião que já nasceu sob o signo da tolerância, destinada a se tornar o local onde qualquer um – encarnado ou desencarnado – possa trabalhar, independente de suas origens e dos preconceitos que a sociedade lhes dirija. Quem quer que deseje qualquer dom ou conhecimento, só precisa de duas coisas para que as energias divinas olhem o pedido com bons olhos: o desejo sincero de aprender e o desejo sincero de usar o conhecimento para ajudar ao próximo. A Umbanda pratica a lei do

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amor. A tarefa de julgar as pessoas cabe somente a Deus, a nós cabe a tarefa de amá-las e auxiliá-las.

39. O que são eguns e quiumbas?

São duas palavras que são bem confundidas. Na tradição do Candomblé, Eguns são os espíritos dos mortos, seres que encarnaram na terra, em oposição aos orixás, que não reencarnam. Todos os espíritos são eguns, seja as entidades boas, sejam as ruins, sejam os espíritos perdidos.

Já quiumba é um termo utilizado para se referir a entidades trevosas, voltadas à prática do mal em benefício próprio. São desde os espíritos que atuam junto aos vendedores de amarração e trabalhos de morte utilizando e denegrindo as entidades sérias utilizando os mesmos nomes que elas até os poderosos magos negros do astral que comandam verdadeiras organizações destinadas a espalhar as trevas com o intuito de acumular poder.

40. O que são e para que servem as oferendas?

As oferendas são uma forma do umbandista entrar em comunhão com seus orixás, guias e linhas espirituais. Simbolizam a necessária troca energética entre os planos material e espiritual, que leva ao conhecimento e à evolução de ambos os planos. Oferendar é trazer para perto nossos queridos orixás e entidades. É mostrar como são importantes e como nos é gratificante comungar com eles. As oferendas possuem diversos sentidos e fins, muitos revelados apenas pelas entidades quando solicitam ou recomendam que alguma seja realizada.

41. O que é animismo e mistificação?

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Animismo deriva de anima, que significa animado, aquilo que porta uma alma. É comum que o animismo e a mistificação sejam apontados como vícios da mediunidade, ou seja, fatores que tornam a mediunidade imperfeita ou indesejável.

É uma verdade quanto se trata da mistificação. Mistificar significa enganar, iludir. O mistificador é aquele que finge possuir mais mediunidade do que realmente possui ou finge ser médium sem possuir habilidade alguma, apenas com fins egoísticos ou materiais. Existem mistificações leves, como o médium consciente ou semiconsciente afirmar que é totalmente inconsciente, ou seja, dizer que não lembra de nada de quando está incorporado, quando na verdade lembra de tudo ou de várias coisas. Há ainda as mistificações sérias, praticadas por criminosos que afirmam possuir poderes mirabolantes de trazer a pessoa amada amarrada em alguns dias ou até horas, com o intuito de iludir pessoas desesperadas e arrancar dinheiro das mesmas.

Alguns entendem o animismo como uma espécie de autoilusão, um estado em que o médium acha que está recebendo uma entidade ou comunicação espiritual quando na verdade trata-se de um simples estado alterado de consciência. Na verdade, o animismo é a medida da interferência do médium na manifestação mediúnica. No começo do desenvolvimento, o médium sente a presença das entidades, às vezes executa algum gesto ou posição corporal característico das mesmas, como bater no peito como o caboclo ou se curvar como o preto velho, mas o seu psiquismo está 100% ativo, ele está no total controle da manifestação. À medida que o desenvolvimento prossegue, o médium aprende a conter o seu animismo (seus pensamentos) e deixar a mente da entidade trabalhar cada vez mais.

São extremamente raros, raros a ponto de serem poucos no mundo inteiro em todos os tempos, os médiuns que incorporam totalmente inconscientes, ou seja, sem qualquer nível de animismo. Considerando que o primeiro que tem que aprender com suas

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entidades é exatamente quem incorpora, a mediunidade semiconsciente é a mais adequada para tal. Estando semiconsciente, o médium manifesta o seu animismo em nível suficiente para estar a par do que a entidade faz e colher o aprendizado necessário da experiência sem que interfira no trabalho da entidade e a impeça de ajudar as pessoas ao redor.

42. Como as datas comemorativas católicas são vivenciadas na Umbanda?

Em razão do sincretismo diversas datas religiosas do catolicismo são também utilizadas na Umbanda, em especial os dias dos santos que sincretizam com os principais orixás. Em vez de um problema, isto trás uma grande vantagem para o praticante umbandista. Como diversas datas do calendário católico são também feriados, torna mais fácil e simples para o Umbandista dedicar esses dias ao culto a seus orixás.

43. O que é Curimba?

Curimba, como várias palavras na Umbanda, pode possuir diferentes significados dependendo de como e onde a palavra é utilizada. Alguns chamam de curimba o próprio ritual umbandista, em outras casas chamado de gira ou sessão, enquanto a palavra também é utilizada como sinônimo de ponto cantado ou da parte musical da religião. Em alguns grupos é possível ouvir as pessoas “cantando a curimba de Tranca Rua das Almas” em vez de “Cantando o ponto de Tranca Rua das Almas”.

44. Porque as roupas dos médiuns são brancas?

O branco é a cor que se origina da fusão de todas as outras, a cor mais completa. Cada energia vibra em cores, tons e sintonias

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próprias, este é o motivo de cada orixá ter sua cor. Oxalá, nosso pai, é o orixá da cor branca, porque assim como o branco contém todas as cores, em Oxalá se centraliza e se manifestam todas as demais energias. O médium ao usar a roupa branca se torna receptivo a todas as vibrações de energias, sem desprezar nenhuma. Ademais, o branco é um símbolo universal de pureza, limpeza e bondade, lembrando ao médium que a prática umbandista jamais deve se afastar destas três qualidades essenciais.

45. Qual a visão da Umbanda de justiça divina? Existe a condenação eterna?

Imagine se houvesse um verdadeiro juízo final. Um dia Deus julgaria todos que estivessem passado pelo mundo e determinaria que uns gozariam os prazeres celestes para sempre e outros seriam destruídos. Como determinar quais seriam esses? E se substituir a destruição pela danação eterna no inferno, como determinar, nenhum ser com uma vida finita pode causar pecados infinitos, em algum momento queimando no inferno você suplantaria com dor todo mal que houvesse causado. Entendam, Deus é perfeito, se a justiça humana já evoluiu em muitos lugares para entender que não podem existir penas perpétuas ou penas de morte, Deus não teria entendido isso bem antes?

Na Umbanda não há danação eterna, tudo que existe para o espírito é trabalho, trabalho e mais trabalho. Quanto mais tarde ele acordar e ir trabalhar, mais trabalho se acumulará. Isso vale para encarnados e desencarnados.

46. Onde ficam as entidades quando não estão trabalhando? E onde fica o médium quando a entidade está trabalhando?

Existem diversas dimensões espirituais além do plano em que estamos encarnados. As entidades vem dos mais diversos planos, a depender do seu grau evolutivo, falange da qual faz parte ou trabalho que esteja desenvolvendo. Já o médium, na maior parte das vezes,

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fica ao lado da entidade, ouvindo e aprendendo com tudo que ela diz e faz, uma vez que a maioria das incorporações são semiconscientes. Em algumas ocasiões pode ocorrer o arrebatamento do espírito do médium, que vai para um lugar diverso daquele onde os trabalhos estão ocorrendo, normalmente nas raríssimas incorporações inconscientes ou em situações bem especiais.

47. Depois da incorporação os médiuns lembram de alguma coisa?

Na grande maioria das vezes sim, dependendo do médium a memória pode ser claramente lúcida ou embaçada, como quem lembra de algo que sonhou. A entidade também pode, a seu critério, cuidar para que o médium não recorde de algo especialmente embaraçoso ou sigiloso que alguém tenha falado em consulta.

48. Que são os passes das entidades?

Passe é transmissão de energia. Cada entidade tem uma forma de passar o seu axé, canalizar forças para aqueles que buscam ajuda. Mesmo que alguém participe de uma gira ou sessão de Umbanda e não fale com nenhuma entidade, não deixa de alguma forma receber algum passe.

49. Porque os guias usam as vezes linguagem incomum?

Apesar de serem espiritualmente de diversas origens, os guias se comunicam facilmente com os encarnados. É comum cada linha, falange ou entidade ter seu jeito próprio de falar. Ciganos e malandros podem usar um vocabulário mais descontraído. Preto velhos podem falar de forma extremamente simples e Erês com linguagem infantil. A linguagem diferente decorre da roupagem fluídica que a entidade está utilizando, de seu próprio modo de falar

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quando encarnado ou apenas do animismo do médium. Mas é fato que dificilmente duas entidades no mesmo médium usarão tons de voz e linguagem exatamente igual, afinal são pessoas (espíritos) diferentes.

50. Como ocorreu o sincretismo dos Orixás com os santos católicos?

Existem várias histórias acerca do sincretismo. Todos aprendem a mais comum delas na escola: ao chegar no Brasil os negros foram proibidos em vários locais de cultuar seus orixás e como estratégia passaram a utilizar as imagens dos santos católicos populares como forma de escapar de perseguições religiosas, uma vez que já sofriam muito com a exploração de seu trabalho forçado. Porém, existem meandros bem mais profundos. Os orixás representam forças da natureza na Umbanda e em diversas tradições afro, forças que se manifestam de diferentes formas em diferentes locais. Ogum, o Orixá do ferro podia bem ser o grego Hefesto no que toca à forjar metais, ou mesmo Ares, no papel de Deus da Guerra. Yemanjá, nossa grande mãe, bem podia ser a maternal Ísis ou Durga, a esposa do Deus Hindu Shiva. Oxalá, o cristo cósmico universal, bem pode ser Hórus, assim como krishna ou Sidarta Gautama. Vendo os Orixás como manifestações energéticas é possível enxergá-los em todas as mitologias, épocas, culturas e sociedades, mostrando o caráter da Umbanda de uma grande religião universalista.

51. Qual a importância dos banhos de ervas na Umbanda?

Banhos de ervas podem ser usados para os mais diversos fins. Limpeza, energização, descarrego, atração de boas energias. Tudo depende das ervas utilizadas e dos poderes contidos em sua seiva. Os banhos são um dos elementos mais presentes no culto umbandista,

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sua importância é tanta que as iniciações na religião são feitas através de banhos iniciáticos chamados amacis.

52. O que é e para que serve a defumação?

Defumação é uma das práticas umbandistas mais difundidas. Defumar é espalhar em um ambiente, através da fumaça gerada pela sua queima ritualística, a energia de uma erva ou conjunto de ervas. Se a folha de determinada planta tem energias de descarrego, defumar com ela descarregará o ambiente.

53. O que significa "bater cabeça"?

Bater cabeça é uma saudação muito respeitosa. Consiste em curvar-se até deixar o chacra coronário à mostra. É um símbolo de entrega, de respeito. Existem várias formas de bater cabeça. É possível executar o cumprimento tanto em pé quanto curvando apenas a cintura e até mesmo deitado, apondo a testa no chão. A ocasião mais comum em que se bate cabeça é diante do altar, antes do início dos rituais. É também possível bater cabeça para um ponto de força, uma vez que ali está presente um orixá, para uma entidade pela qual se queira demonstrar muito respeito e até mesmo para irmãos de fé, em ocasiões em que um simples agradecimento ou homenagem não se mostra suficiente para demonstrar a gratidão ou respeitabilidade que se deseje expressar.

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Pequeno Vocabulário Umbandista

Adjá: Instrumento metálico semelhante a uma sineta de herança do candomblé, usado em algumas casas e tradições no auxílio as cerimônias.

Agô: Significa licença. Aiocá: Os domínios de Iemanjá, uma de seus títulos é princesa

do aiocá.Alguidar: Utensílios de barro antigamente de largo uso entre as

populações carentes e atualmente muito utilizado nas mais diversas finalidades dentro do ritual umbandista.

Amaci: Banhos iniciáticos.Aparelho: Médium.Aruanda: Lugar espiritual no qual atuam e habitam muitas

entidades que trabalham na Umbanda.Assentamento: Poderoso instrumento de trabalho que tem

como finalidade manifestar de forma permanente em determinado local a energia de uma linha, orixá ou ponto de força.

Axé: A energia presente em tudo. Cada coisa na natureza possui seu axé.

Banda: Termo utilizado largamente para se referir a linhas ou tradições de trabalho. Salve a tua banda e salve todas as bandas são expressões bem comuns em templos de Umbanda.

Bater cabeça: Cumprimento umbandista que demonstra grande respeito.

Bombo-gira: O mesmo que Pomba Gira.Cabeça Feita: Médium que já realizou Amaci de pai de Cabeça,

a definição exata varia de acordo com o terreiro e tradição. Cair no Santo: “Entuar a entidade”, passagem da mediunidade

sensorial para motora, transe mediúnico incompleto.

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Chefe de Cabeça: O mesmo que mentor. Espírito que coordena o trabalho espiritual do médium.

Calunga: cemitério e mar. O cemitério é chamado calunga pequena e o mar, calunga grande.

Cambono/cambone: Trabalhador dos centros de Umbanda encarregado de auxiliar as entidades incorporadas no atendimento às pessoas e orientar os consulentes antes, durante e depois dos atendimentos. Função que exige muito preparo, dedicação e estudo.

Cavalo: Médium, termo antes muito popular e atualmente em certo desuso. Apesar da aparente conotação negativa, a palavra tinha um importante significado: simbolizada que na incorporação a entidade não possui o corpo do médium e sim o conduz, como um cavaleiro conduz sua montaria.

Congar ou gongar: O altar umbandista, polo positivo de um templo.

Descarrego: Ato ou efeito de limpar espiritualmente alguma coisa ou alguém.

Descida/subida: Vinda e partida das entidades, existem pontos específicos para descida e para subida.

Despacho: Popularmente pode se referir a uma oferenda, internamente a palavra é mais utilizada para denominar o ato ou efeito de descartar alguma coisa, exemplo "despachar os elementos utilizados em um trabalho".

Encosto: O mesmo que espírito obsessor.Eguns: Espíritos de seres que encarnaram na terra.Erê: Espíritos das Crianças, representam a pureza espiritual.Eró: Conhecimentos que o umbandista só adquire ao se

comprometer com um trabalho, seja através de irmãos de fé mais antigos, seja através das entidades. O termo é bastante corrompido por ser usados por muitos para esconder a ignorância dos fundamentos da religião, alegando que algo é eró para não ser obrigado a admitir que não sabe explicar.

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Falange: Grupo de entidades hierarquicamente organizadas para servir a um determinado fim. Tranca ruas, Pena Branca e Maria Padilha são exemplos de falanges.

Filho de fé: Adepto da Umbanda.Firmeza: É como um assentamento temporário ou a semente

de um assentamento, tem a intenção de manifestar determinada a energia de uma linha, orixá ou entidade de forma temporária, apenas para um trabalho específico.

Gira: Sessão de trabalho umbandista. Guia: Pode se referir as entidades de alguém ou aos colares de

conta largamente utilizados na Umbanda.Jurema: Nome de uma falange de caboclas. Pode ainda se

referir a uma tradição religiosa também chamada Catimbó. Ao se pronunciar Juremá, refere-se a um local do mundo espiritual onde ficam caboclos e mestres da Jurema.

Linha: Agrupamento de falanges. Caboclos, Pretos Velhos e Ciganos são exemplos de linhas.

Marafo: Aguardente.Mironga: Feitiços, mandingas, segredos.Obrigações: Rituais específicos realizados por médiuns iniciados

com a função de fortalecer e manter o vínculo com seus Orixás e entidades.

Omolocô: Culto diverso da Umbanda, porém muito confundido com a mesma, de fundamentos e doutrina mais africanizados, a ligação é tamanha que muitos o conhecem como “Umbanda Omolocô”.

Orixás: Forças da natureza. Otá: Pedra que conecta o médium iniciado a seu Orixá,

semente central dos assentados. Item altamente sagrado.Patuá: Amuleto em forma de saquinho.Pemba: Giz cerimonial. Porteira: Entrada do templo umbandista.

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Receber o santo: Incorporar.Saravá: Saudação largamente usada na Umbanda. Significa

“salve”.Sacudimento: Nome dado a um poderoso ritual de descarrego

que pode ser realizado em uma pessoa ou lugar.Tenda: Outro nome para designar os templos. Terreiro: Templo de Umbanda. Nome utilizado de forma

extensiva para designar qualquer lugar de culto de tradição afro. Tronqueira: Polo negativo dos terreiro, é onde se assentam as

forças da esquerda, que protegem os trabalhos. Quimbanda: A linha da esquerda. Quiumba: espíritos das trevas.

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Mensagem Final: A quem Pertence a Umbanda?

Desde que surgiu das brumas distantes que guardam as queridas Aruanda e Juremá, dentre outras, a Umbanda já possuiu muitos pretensos donos. De doutrina consoladora, que prega paz e caridade, já foi tida e ainda é por muitos como verdadeira banca de produtos espirituais, onde com o preço certo, e até com regateios é possível comprar o amor, a vingança e o sucesso.

Meus irmãos, a matéria pertence à matéria e o espírito pertence ao espírito. Os bons e velhos guias jamais se negarão a remover obstáculos impróprios colocados nos caminhos de seus filhos de fé ou de qualquer um que busque ajuda, mas tudo de acordo com o merecimento. Ninguém pode romper os liames do carma e dar o que é indevido ou tomar o que é merecido sem contrair enorme dívida perante a Divina Providência. Corram dos mercadores de trabalhos, pois suas mercadorias são como um empréstimo tomado a usurário. Fácil de contrair, mas tremendamente pesado de se pagar.

Muitas luzes de esclarecimento foram levantadas sobre tal questão, porém, ainda muitas ovelhas de Pai Oxalá caem em tais armadilhas, acreditando que a Umbanda possui um dono, que as entidades acatam ordens de seres encarnados a troco de pagamentos materiais, oferendas de sangue ou coisa que o valha. Um trabalhador do bem deseja o sangue dos filhos de fé batendo forte no peito no serviço à Oxalá e não derramado em trabalhos para os escravos das trevas beberem.

A Umbanda não pertence a nenhum espírito, nenhuma entidade, nenhum sacerdote. Fujam sem hesitar de qualquer um que coloque sua prática como verdadeira e as demais como frutos da

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ignorância. São crias de lobo em busca de ovelhas para saciar sua fome material e espiritual.

A Umbanda pertence a todos que, de coração aberto, aceitam seus princípios e ensinamentos sagrados. Ninguém é mais ou menos umbandista a não ser na medida em que seu coração está entregue ao serviço de Nosso Senhor.

Os guias, os Orixás e todas as forças que trabalham pela evolução da humanidade não desamparam um filho do pai por este não ser iniciado ou por não frequentar casa, tenda ou terreiro. Batei, e a porta vos será aberta, já dizia alguém maior que todos nós.

Na paz do Senhor,

Caboclo Ubirajara, em 17 de fevereiro de 2014.

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