UNICAMP NO PROJETO RONDON: Experiência, Aprendizado e Realização, Rumo à Sustentabilidade

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Experiência das equipes da Unicamp no Projeto Rondon

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Rumo à Sustentabilidade

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ReitorProf. Dr. Fernando Ferreira Costa

Coordenador Geral da UniversidadeProf. Dr. Edgar Salvadori De Decca

Pró-Reitor de Extensão e Assuntos ComunitáriosProf. Dr. Mohamed Habib

Pró-Reitor de Desenvolvimento UniversitárioProf. Dr. Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva

Pró-Reitor de PesquisaProf. Dr. Ronaldo Aloise Pilli

Pró-Reitora de Pós-GraduaçãoProf. Dr. Euclides de Mesquita Neto

Pró-Reitor de GraduaçãoProf. Dr. Marcelo Knobel

Chefe de GabineteProf. Dr. José Ranali

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OrganizadoresAmauri Aparecido Aguiar

Célia Rosa Erclievsky PiglioneProf. Dr. Lisandro Pavie Cardoso

Projeto Gráfico e DiagramaçãoAlex Matos

RevisãoManoel Guilherme da Silva Mello

ContribuiçõesAntonio Scarpinetti

Álvaro Kassab

Dário Crispim

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Agradecimentos

A Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários, representando toda a comunidade da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp tem a honra de expressar os agradecimentos à Coordenação do Projeto Rondon, em particular a todas as pessoas, oficiais, soldados e civis, pertencentes ao Ministério da Defesa que, direta e indiretamente, não medem esforços para tornar possível a execução do Projeto Rondon.

As oportunidades significativas colocadas ao alcance das nossas equipes de docentes, dis-centes e técnicos, para que pudessem colocar em prática as propostas de ações de extensão, nos diversos municípios e estados do Brasil em que estivemos presentes, sempre foram ampa-radas e facilitadas pela rede disponibilizada de oficiais, soldados e cidadãos.

Somos testemunhas da brilhante participação e contribuição de todos os que representam o Ministério da Defesa com a essência do Projeto Rondon e que marcou definitivamente o com-promisso, o entusiasmo e as habilidades na coordenação e na execução das Operações. Sem dúvida, toda a equipe está colocando em prática, de forma honrosa, o lema “Integrar para não entregar”, criado pelo grupo de universitários rondonistas em 1967, e que continua vivo até os dias de hoje.

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UNICAMP NO PROJETO RONDON: Experiência, Aprendizado e Realização. Rumo à Sustentabilidade. Amauri Aparecido Aguiar, Célia Rosa Erclievsky Piglione e Lisandro Pavie Cardoso.Campinas, 2011.

Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários - Unicamp

Índices para Catálogo Sistemático1. Projeto Rondon2. Unicamp no Rondon3. Extensão Universitária4. Promoção da Cidadania5. Acesso à informação

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Sumário

Apresentação ............................................................................ 9

Breve Histótico ......................................................................... 10

Atividades Desenvolvidas ........................................................... 11

Participações da Unicamp.......................................................... 24

Operações

Amazonas 2005 ................................................................ 25

Amazônia 2006 ................................................................. 31

Vale do Ribeira 2006 ......................................................... 67

Amazônia Ocidental 2007 .................................................. 81

Amazônia Oriental 2007 .................................................... 95

Centenário da Comissão Rondon 2007 ................................ 111

Grão-Pará 2008 ................................................................. 129

Rio Grande do Sul 2008 .................................................... 135

Grão Pará - Retorno 2008 .................................................. 143

Norte de Minas 2008 ......................................................... 149

Centro-Norte 2009 ............................................................ 159

Nordeste-Sul 2009 ............................................................ 171

Centro-Nordeste 2010 ....................................................... 175

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9Apresentação

Em cada canto do Brasil por onde passa uma equipe do Rondon, as universidades intera-gem diretamente com a sociedade e o conhecimento se propaga. Com ele, se expande também a esperança, em cada município ou povoado que a recebe, de que as propostas de trabalho levadas por universitários repercutam em melhores condições de vida às populações tão dis-tantes. As páginas a seguir apresentam relatos de operações e revelam, em depoimentos de rondonistas, o valor dessa experiência para alunos e professores, construindo a cidadania entre os profissionais de amanhã.

Os organizadores

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10 Breve histórico

O Projeto Rondon é considerado o maior movimento voluntário entre universitários do Brasil e foi inspirado na vida do sertanista e militar brasileiro, marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, desbravador do interior do país. A idéia de estimular a juventude universitária a conhecer de perto a realidade do país teve origem na década de 60, na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. A Operação Zero, em 1967, mobilizou 30 estudantes e dois profes-sores do Rio de Janeiro para Rondônia.

A partir daquele ano, até ser extinto no final da década de 80, o Projeto Rondon mobilizou mais de 350 mil universitários de todo o país, em duas frentes: a primeira, possibilitava a atu-ação de jovens em 23 campi avançados espalhados pelo país, num trabalho que envolveu 55 instituições de ensino superior do Brasil; a segunda, promovia a participação de estudantes nas chamadas Operações Nacional, Regional e Especial, além de seminários e viagens de estudos.

Eram atividades que envolviam, além das instituições de ensino superior, também gover-nos municipais e estaduais e permitiram a milhares de universitários vivenciar uma experiência única: levar a comunidades carentes o conhecimento adquirido na graduação e, ao mesmo tempo, desvendar uma outra parte do território brasileiro.

O Projeto Rondon foi relançado em janeiro de 2005 pelo Ministério da Defesa, a pedido da União Nacional dos Estudantes (UNE). Desde então, a cada período de férias novos projetos percorrem o Brasil.

Os organizadores

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11Atividades Desenvolvidas

Durante as operações, as equipes da Unicamp junto ao poder público e as comunidades locais desenvolvem as seguintes atividades estabelecidas pela coordenação geral do Projeto Rondon.

Conforme segue:

Conjunto A

• Capacitar educadores do ensino fundamental em educação inclusiva e no atendimento a portadores de necessidades educativas especiais;

• Capacitar multiplicadores em atividades de recreação nas escolas da rede municipal;

• Promover ações de fomento à leitura na sociedade em geral e nas escolas em particular;

• Capacitar, mobilizar e realizar campanhas junto aos agentes de saúde, mães, edu-cadores, lideranças comunitárias e população em geral para a promoção da saúde materno-infantil;

• Capacitar multiplicadores em saúde sexual e reprodutiva de adolescentes e jovens, na prevenção da prostituição infantil, na prevenção do uso do álcool e de drogas e na prevenção da violência contra mulheres, crianças e adolescentes;

• Capacitar multiplicadores em ações de incentivo ao esporte e organizar atividades de atletismo e futebol;

• Capacitar multiplicadores em nutrição, com incentivo no uso de alimentos regionais; e

• Capacitar multiplicadores para o desenvolvimento de atividades que promovam a ca-pacidade de expressão cultural da comunidade, valorizem a cultura local e promovam o intercâmbio de informações.

• No encerramento a equipe deverá apresentar um levantamento de campo (diagnóstico) do município na área de saúde materno-infantil.

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12 Conjunto B

• Capacitar, mobilizar e realizar campanhas na área de saneamento ambiental, particu-larmente no que se refere a resíduo sólido, esgotamento sanitário e água;

• Promover ações para a recuperação de áreas degradadas, como matas ciliares, entre outras identificadas;

• Disseminar soluções auto-sustentáveis – tecnologias sociais – que melhorem a quali-dade de vida das comunidades em assuntos emergenciais (saneamento, fossas, cis-ternas etc.);

• Capacitar servidores públicos na área de informática;

• Capacitar servidores municipais em gestão pública e gerenciamento de projetos, par-ticularmente os da área de educação visando transporte escolar, merenda, recursos pedagógicos e outros;

• Incentivar o cooperativismo, associativismo e empreendedorismo para a geração de renda e o desenvolvimento econômico sustentável;

• Capacitar produtores locais; e

• Divulgar às lideranças e servidores municipais os benefícios, serviços e programas oferecidos na esfera federal.

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PALAVRA DO REITOR

É de conhecimento de todos que a Uni-camp vem se preocupando, cada vez mais, com a excelência acadêmica no desempenho de todos os membros da sua comunidade. Sem dúvida, os projetos e programas de Ex-tensão da nossa universidade não poderiam ser diferentes. É por isso que alunos, profes-sores e equipes de apoio técnico e administra-tivo vêm atuando, sustentados sempre pelos mesmos pilares de qualidade.

A participação da Unicamp no Proje-to Rondon Nacional, seguiu o mesmo crité-rio; pois em todas as operações contou com os conceitos mais avançados no pensamento acadêmico tendo, ainda e constantemente, como alicerce, o compromisso com a socie-dade brasileira. Alunos e professores da nossa

Instituição vêm investindo, persistentemente, mais energias e mais esforços nas atividades de pesquisa e nas práticas de formação de jo-vens altamente qualificados, através de vários projetos de Extensão, incluindo o do Rondon. Tal Projeto é visto pela Instituição e traba-lhado pela comunidade como um modelo de comprometimento da academia com a socie-dade brasileira, na busca e na construção do seu desenvolvimento sustentável.

Este livro, como registro histórico, reve-la claramente o compromisso assumido pela administração central da nossa Universidade.

Assim sendo, me congratulo com todos os alunos, professores e equipes da PREAC, que contribuíram para hoje podermos regis-trar este sucesso.

Fernando Ferreira CostaReitor da Unicamp

“Este livro, como registro his-tórico, revela claramente o compromisso assumido pela administração central da nos-sa Universidade.”

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Mohamed HabibPró-Reitor de Extensão e Assuntos

Comunitárias da Unicamp

Caro leitor,

Dirijo-me a você através de uma sucinta manifestação, como Pró-Reitor de uma das universidades mais destacadas no Brasil e no mundo, para divulgar uma das nossas respos-tas ao reclamo da sociedade brasileira. A so-ciedade indaga sobre o papel das nossas uni-versidades públicas de qualidade. Seria sufi-ciente apenas formar jovens altamente quali-ficados como profissionais? Bastaria somente o carimbo da excelência acadêmica na nossa produção intelectual? E, ainda, seria correto tratar a sociedade apenas como cliente? Dian-te dessas indagações, a Unicamp entende que as nossas universidades podem, como devem, contribuir muito mais. O Brasil, exa-geradamente excludente, obriga-nos a avançar muito mais nas nossas atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão Universitária. Na primei-ra, é fundamental construir a cidadania no

processo de formação dos nossos jovens. Na segunda, é urgente considerar as demandas dos diferentes setores da sociedade brasileira nas nossas investigações científicas, e gerar saberes e produtos que possam contribuir efe-tivamente ao desenvolvimento sustentável da nação. E, na terceira, a Extensão Universitária deve assumir a sua responsabilidade como o locus onde as nossas instituições devem inte-ragir com a sociedade, identificando deman-das, viabilizando a troca dos saberes, e ainda criando os instrumentos acadêmicos para a preservação cultural, além da humanização e a da harmonia social.

Este livro é uma das respostas da Unicamp às indagações da sociedade. Exibe alguns exem-plos da nossa participação no Projeto Rondon na sua segunda versão, a qual teve o seu início em 2005. Nosso aluno conseguiu conhecer o outro

“É mais uma página de suces-so que a Unicamp escreve na história do seu compromisso com a sociedade.”

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15lado do Brasil, o lado que não fazia parte do seu cotidiano como jovem, o lado que envolve uma parcela bastante significativa do povo brasileiro e, ainda, mostra quanto o nosso país é rico, não apenas na área física, mas também nos seus re-cursos naturais, nas suas culturas e na beleza da sua natureza e do seu povo.

O nosso aluno saiu a campo para trocar co-nhecimentos e saberes com as comunidades lo-cais, pois trata-se de uma atividade de mão du-pla. A presença do professor orientador em cada operação é para a construção em conjunto deste processo. O aluno aprende na prática a construir o conhecimento e a contribuir para resolver pro-blemas que a comunidade local enfrenta. Antes de cada operação, o nosso docente faz a sua viagem de reconhecimento e de diagnóstico dos problemas do município que receberá a equipe da universidade. Durante a operação o poder pú-blico local interage com a equipe, viabilizando a

participação de profissionais dos seus diferentes órgãos, de educadores e dirigentes das escolas daquele município.

As soluções apresentadas pelas nossas equipes têm como origem as pesquisas e a capacidade intelectual de cada equipe e dos seus dois orientadores. O período de cada operação é rico e fundamental para o convívio e para o trabalho coletivo e participativo. Po-rém, desses importantes modos de atuação, os nossos estudantes são bastante carentes.

Finalmente, as experiências adquiridas no Projeto Rondon Nacional, criaram a base de sustentação para a elaboração de um projeto específico da nossa universidade, para a região metropolitana de Campinas, que inicialmente terá o nome de “RONDON-CAMP”.

É mais uma página de sucesso que a Uni-camp escreve na história do seu compromisso com a sociedade.

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Desde janeiro de 2005, quando o proje-to Rondon foi relançado pelo Ministério da Defesa, a Universidade Estadual de Campi-nas – Unicamp tem participado ativamente de todas as operações do projeto Rondon, por acreditar que esta é uma excelente oportuni-dade de interação com a verdadeira realidade brasileira para toda a sua comunidade: do-cente, não-docente e discente. Após algumas participações das equipes da nossa universi-dade, a partir de 2006 sempre coordenadas pela Pró-Reitoria de Extensão de Assuntos Comunitários (PREAC), em abril de 2007, resolvemos realizar o primeiro Fórum Perma-nente de Extensão Universitária sobre o tema “O projeto Rondon na extensão universitária da Unicamp”, visando promover a discussão das atividades desenvolvidas nas operações das equipes da Unicamp nos municípios já atendidos, até aquele momento. No entanto,

imaginamos que a discussão desse tema não seria completa se não fosse contemplada a participação efetiva dos três atores realmente importantes, e que suportam o projeto Ron-don. Portanto, convidamos o Gal. Celso Krause Schramm, Coordenador Geral do Projeto Ron-don, representando o Ministério da Defesa; os Srs. Hidelfonso Abreu de Araújo e Melquíades Justiniano da Silva, respectivamente Prefeito e Secretário Municipal da Educação de Abel Figueiredo, município do Pará, representando o poder público dos municípios atendidos nas operações e, os Coordenadores de equipes da Unicamp. É interessante citar aqui, que esta iniciativa da Unicamp foi reconhecida como pioneira pelo Gal. Krause, por ter trazido para o mesmo evento as três visões que fortalecem, ampliam e possibilitam a avaliação de ações futuras do projeto Rondon.

“A PREAC tem dispensado todo o esforço necessário para via-bilizar a perenização do Proje-to Rondon”

Lisandro Pavie CardosoAssessor da Pró-Reitoria de Extensão e

Assuntos Comunitárias da Unicamp

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17Aquela primeira iniciativa de reunir os três principais atores que suportam o projeto Rondon teve uma avaliação muito boa, e sus-citou a realização de outro Fórum Permanente de Extensão Universitária sobre o Projeto Ron-don, um ano após, em abril/2008. Naquela ocasião, a participação da Unicamp já tinha sido efetiva em treze municípios pertencen-tes a nove estados brasileiros, promovendo a mobilização de mais de cem pessoas da nossa comunidade acadêmica, incluindo docentes, discentes, não docentes e equipes de apoio. Assim sendo, foi realizado o Fórum sobre o tema “Projeto Rondon – desafios e perspec-tivas”, que teve o propósito de apresentar e avaliar os principais desafios e discutir as perspectivas de continuidade para o projeto. As discussões envolveram a Coordenação Ge-ral do Projeto Rondon através do Gal. Júlio de Amo Júnior, os Srs. Gilnei Fischer, Prefeito do município de Arroio do Padre, RS e Antonio

Miguel da Silva, Diretor do Departamento de Educação, Esporte e Cultura de Pedro de To-ledo, SP, os Coordenadores das equipes da Unicamp, a parceira mais importante neste contexto, exatamente por prover os rondonis-tas, que são os responsáveis por todo o mérito do trabalho, como reconheceu o Gal. Júlio, além da coordenação na Unicamp, através do Prof. Mohamed Habib, pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários. Aliás, é importante citar aqui, que a PREAC tem dispensado todo o esforço necessário para viabilizar a pereni-zação do Projeto Rondon, por entender que um dos papéis mais importantes da univer-sidade é a formação de cidadãos comprome-tidos com os anseios da comunidade, e, que este projeto de cunho nacional traz grandes benefícios pois, além de evidenciar, promo-ve o exercício da cidadania pela comunidade universitária.

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Caros amigos rondonistas,

Estar junto com vocês na caminhada foi uma experiência rica e apaixonante. Rica em ensinamentos, na troca de conhecimentos e em calor humano. Militar profissional, sempre voltado para a carreira das armas, até assumir a Coordenação do Projeto Rondon eu pouco conhecia da universidade brasileira.

As operações que tive a ventura de coor-denar, o convívio fraterno com acadêmicos e professores, as jornadas de discussão e debate, a amizade franca e sincera, as trocas de experi-ências em tantos eventos, tudo isso me mostrou o quanto de solidariedade, de patriotismo, de entusiasmo e de doação existe em nossos uni-versitários, alunos e professores.

Trabalhar e conviver com cada um de vocês me proporcionou uma oportunidade especial de evolução como ser humano, de

“Trabalhar e conviver com cada um de vocês me proporcionou uma oportunidade especial de evolução como ser humano”

Celso Krause SchrammGeneral-de-Brigada

aprender muito e, sobretudo, de confirmar a fé no futuro de nossa Pátria. Muito obrigado por tudo o que me proporcionaram.

Muito agradeço, também, a laboriosa e de-dicada atuação dos companheiros que compõem a equipe do Projeto Rondon no Ministério da De-fesa. Foram muitos dias de trabalho, apreensões, discussões, mas acima de tudo de realizações. A cada um agradeço a amizade pessoal que me dedicaram e publicamente reconheço a correção profissional com que sempre me conduziram.

Meus caros rondonistas saibam que na cidade de Bagé, na fronteira Sul do Brasil, vocês têm um amigo. Que cada um de vocês guarde dentro de si o comprometimento com um futuro mais justo e próspero para todos os brasileiros e brasileiras, que sejam felizes e que Deus os proteja.

Estamos juntos.

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“O mérito de todo o trabalho é dos rondonistas”

Júlio de Amo JúniorGeneral-de-Brigada

O Projeto Rondon pertence ao Brasil e é realizado por brasileiros voluntários dotados de um alto grau de altruísmo e amor ao pró-ximo. Ser rondonista é ser um novo bandei-rante, é influenciar pessoas e compartilhar o conhecimento adquirido com aqueles que não têm a mesma oportunidade. Ser rondonista é dar um pouco de si aos outros e fazer a dife-rença em uma comunidade.

Por ser um projeto tão nobre ele tem o apoio de todos, produzindo uma sinergia in-comparável, elevando assim a autoestima das

pessoas. Os professores e alunos extrapolam os muros das universidades e faculdades, par-tilhando o saber com os menos favorecidos. O Ministério da Defesa e as Forças Armadas são apenas ferramentas que permitem a realiza-ção da atividade logística. O mérito de todo o trabalho é dos “rondonistas”.

O legado de Rondon deu ao Projeto um especial significado de integração, lição de vida e cidadania. Assim uma vez rondonista, sempre rondonista.

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O Projeto Rondon é executado pelo Go-verno Federal, por meio do Ministério da De-fesa e outros ministérios, já que é um trabalho de inclusão social, mas seu âmago é o univer-sitário, que será num futuro próximo a elite decisória desse país. O grande objetivo, então, é fazer com que o universitário conheça a re-alidade brasileira, os problemas nacionais, a alma do Brasil.

A intenção é que ele saia de sua comuni-dade, muitas vezes em grandes centros e estru-turadas, para levar meios que ajudem a resolver determinados problemas num Brasil deficitário, um Brasil que vive de carência, que sobrevive diante do possível. Esse projeto aproxima o uni-versitário da realidade brasileira, de um Brasil que ele não conhece. E certamente, quanto mais tivermos massa crítica que passou por esse projeto, mais ele será divulgado.

“O grande propósito é colocar uma semente no coração de cada um desses universitários.”

General Paulo HumbertoDiretor do Departamento de Ensino e Cooperação do Ministério da Defesa

responsável pelo Projeto Rondon

A vantagem para o universitário – inclu-sive nessa fase, que o projeto recruta quem tem uma passagem mais avançada dentro da faculdade, já finalizando seu curso – é que ele levará uma bagagem profissional, uma baga-gem para a sua vida profissional muito impor-tante, que outro programa não oferece.

O grande propósito é colocar uma semen-te no coração de cada um desses universitá-rios. E essa semente, no momento em que frutificar, quando e onde os universitários ti-verem posições de auxiliar nas decisões nacio-nais, nas decisões municipais, nas decisões estaduais, certamente vai fazer uma diferença muito grande para a comunidade.

Hoje nós estamos numa posição de fran-ca ascensão, em termos de procura do projeto. As universidades cada vez mais têm se volun-tariado e nos procurado para participar. Essa

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21grande demanda é muito positiva. Pode ser ruim para aquele companheiro que talvez não tenha a oportunidade de participar – e é claro, nós temos que fazer uma seleção porque há um limite de pessoas que nós podemos co-locar dentro do projeto. Mas é muito bom no sentido de quanto maior a demanda, quanto mais nós temos interessados em participar, nós podemos aumentar o nível de exigência e melhorar o projeto.

É importante, portanto, que unamos nos-sas forças para não deixar que esse projeto, como aconteceu em outras oportunidades

dentro do Brasil, venha a regredir ou até mes-mo parar. É um projeto que beneficia a todos: beneficia o governo, o município, o país, os estudantes, os universitários.

O projeto só traz grandezas e nós sabemos que, às vezes, por nuances políticas ou econô-micas ou sociais, esses projetos perdem inten-sidade. Então, nós precisamos do compromisso para que ele cresça cada vez mais e possa correr no sentido do seu grande objetivo, que é fazer com que o universitário conheça o país. Conse-quentemente, nós vamos ter no futuro grandes frutos colhidos desse projeto.

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Projeto Rondon – Um Curso Intensivo de Brasil

O espírito idealista, desbravador, solidá-rio, humanista e integrador de Cândido Ma-riano da Silva Rondon, o Marechal Rondon, inspira e norteia todas as atividades do Projeto Rondon, motivando professores e estudantes universitários a, cada vez mais, participarem das operações que o Ministério da Defesa de-senvolve há exatos cinco anos.

O Projeto Rondon é uma ação do Gover-no Federal que começou tímida e que foi ga-nhando corpo. Foi como o início de um namo-ro entre as Forças Armadas e a Universidade. A convivência foi estreitando as relações. Aos poucos alguns preconceitos foram sendo ven-cidos e algumas barreiras ultrapassadas. As duas instituições aprenderam a viver com as diferenças. Somaram-se a organização, o sen-

José Paulo da Cunha VictorioGerente de Operações do Projeto Rondon

“Com o sucesso dos resul-tados, o Projeto Rondon foi gradualmente aumentando o número de participantes.”

timento de cumprimento da missão e a expe-riência logística das forças com a curiosidade, a inteligência e a experiência da academia no trato dos mais diversos assuntos de interesse da nação. O resultado surpreendeu a todos positivamente.

Com o sucesso dos resultados, o Projeto Rondon foi gradualmente aumentando o nú-mero de participantes. Esse processo parece uma bola de neve. Quanto maior é o número de rondonistas, maior é o número de estudan-tes desejosos de participar.

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23Por que isto acontece?

Porque o jovem é naturalmente motivado. Basta que se lhe apresente um objetivo, uma boa razão, e ele troca, sem titubear, 20 dias de férias escolares, por um tempo muito maior de preparação, estudo e finalmente de traba-lho num município distante, carente de toda espécie de recursos, mas que o emociona e o marca de maneira indelével.

A expectativa da viagem para uma região desconhecida, a curiosidade, e por vezes o re-ceio, em ser recebido e alojado em um quar-tel do Exército e a oportunidade de aplicar os conhecimentos universitários fora dos muros acadêmicos, em benefício de alguém mais necessitado, criam no estudante uma forte ansiedade.

Essa ansiedade começa a se dissipar com o desenvolvimento dos trabalhos no Projeto Rondon. O rondonista vai, aos poucos, co-nhecendo a comunidade e se apaixonando por ela. Percebe que são pessoas boas, que tem uma vida sofrida e para quem qualquer conhecimento novo pode significar grandes transformações. Isso faz com que o rondonista se sinta importante.

À medida que o final da operação se apro-xima, é normal um sentimento de frustração e saudade. Por mais que tenha trabalhado, o rondonista percebe que há muito mais a fazer e que não é capaz de mudar o mundo. Começa a sentir saudade daquela gente que o acolheu tão bem e tem a convicção de que aprendeu muito mais do que ensinou, que está levan-do muito mais do que trouxe. Nasce um sen-timento de gratidão e o desejo de auxiliar o próximo, participando de outros trabalhos solidários. Há a concordância plena de que o

Projeto Rondon é mesmo uma lição de vida e de cidadania.

O rondonista, ao voltar ao convívio aca-dêmico, contagia seus colegas ao relatar as experiências vividas numa operação do Pro-jeto Rondon e ao exibir um conhecimento do Brasil que o destaca entre os demais. Esse é o maior objetivo do Projeto Rondon: mostrar ao estudante universitário um pouco das diversas realidades deste país continente.

Por essa razão, dentre todas as campa-nhas publicitárias do Projeto Rondon, a que mais gostei foi a que dizia: Projeto Rondon – Um Curso Intensivo de Brasil.

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24 Participações da Unicamp

Participação da Unicamp de 2005 a janeiro 2010

Estados 11

Operações 13

Equipes 25

Professores 33

Alunos 140

Técnicos 6

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25OPERAçãO

Amazonas 2005

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0526 Iniciada em janeiro de 2005, marca a retomada das atividades do Projeto Rondon.

Participaram 200 professores e estudantes de 40 instituições de ensino superior.

EIRUNEPé Amazonas - AM

Equipe

Antonio Márcio Buainain (Coordenador)

Aguirre Chung Micca (Ciências Econômicas)

Antonio Márcio Buainain (Ciências Econômicas)

Caroline Nascimento Pereira (Ciências Econômicas)

Felippe Caue Serigati (Ciências Econômicas)

Rafael Gonçalves dos Reis (Ciências Econômicas)

Os pioneiros da Unicamp na retomada do Projeto Rondon – Janeiro/2005

A Unicamp ainda não estava oficialmente engajada na nova fase do Projeto Rondon, em janeiro de 2005, quando os alunos de graduação Aguirre Chung Micca, Caroline Nascimento Pereira, Felippe Caue Serigati e Rafael Gonçalves dos Reis, do Instituto de Economia (IE), se integraram ao trabalho voluntário em Eirunepé – cidade onde ocorreu a Operação Amazonas 2005, que marcou a retomada das atividades do Projeto Rondon.

Naquele ano, 200 professores e estudantes universitários, representando 40 instituições de ensino superior brasileiras, pesquisaram aspectos e indicadores da situação social, econômi-ca, educacional, sanitária e de infra-estrutura de onze municípios do Estado do Amazonas. As informações orientaram novas operações do Projeto Rondon que se seguiram na região.

Eirunepé tem 15.832 quilômetros quadrados de área e está no limite entre o Amazonas e o Acre. Possui cerca de 31 mil habitantes, 60% com idade acima de 19 anos, e sua economia é baseada em agricultura de subsistência e pesca. Os problemas mais sérios são a lepra, a alta taxa de natalidade e a prostituição infantil.

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27O quadro de desemprego também foi relacionado, assim como a ausência de profissionais da área de saúde. Outro diagnóstico da equipe – coordenada pelo professor Antonio Márcio Buainain, também do Instituto de Economia da Unicamp e que havia participado de edições anteriores do Projeto Rondon – foi a carência de planejamento da Prefeitura Municipal, ocasio-nada pela insuficiência de documentação de administrações anteriores.

A partir dessa experiência, para a equipe da Unicamp dois aspectos merecem ser destaca-dos: a observação da realidade no local onde elas ocorrem, como a exploração da madeira; e o intercâmbio com alunos de outras universidades, que amplia a troca de informações.

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0528 Depoimento

Os pioneiros da Unicamp na retomada do Projeto Rondon – Janeiro/2005

Em janeiro de 2005, partiu da base área de Guarulhos a primeira equipe da Unicamp a participar do Projeto Rondon após sua retomada. A equipe era composta por nós quatro, alunos do curso de Ciências Econômicas e estagiários do Núcleo de Economia Agrícola, e pelo Profº Antônio Márcio Buainain, que infelizmente, devido a problemas de saúde, não pode viajar. Mas o Projeto Rondon não era novidade para o professor, pois ele já havia participado do projeto na sua primeira fase, nos anos 1970, como estudante. Ele nos sugeriu a análise sócio-econômica a partir de entre-vistas com as autoridades governamentais e sociais locais e pesquisa de campo com os moradores locais aleatoriamente amostrados, com dezenas de questões que abran-giam aspectos diversos, como estrutura familiar, rendimentos, segurança alimentar, entre outros.

Embora tenham sido alocados 15 dias para a execução do projeto, a equipe não viajou diretamente para a cidade onde foi realizada a pesquisa de campo. Inicialmen-te, passamos um período em Manaus realizando treinamentos para poder trabalhar na Floresta Amazônica e em Tabatinga para participar da solenidade de lançamento do Projeto Rondon.

Após este período de preparativos, seguimos juntamente com uma equipe da UFSE para o município de Eirunepé. Passamos cerca de uma semana levantando informações que delineassem as principais características sócio-econômicas do muni-cípio, contando principalmente com a ajuda do pessoal das forças armadas.

Após as entrevistas e a pesquisa de campo, a equipe retornou a Tabatinga e compartilhou suas experiências com as demais equipes do Projeto Rondon em um se-minário em Manaus. Após este evento, a equipe retornou a Campinas e, de posse das informações coletadas, elaborou um relatório com as principais conclusões e reflexões alcançadas. Estas foram apresentadas em um seminário em Brasília quatro meses depois (Abril/2005).

A nossa impressão foi obviamente particular de cada um dos integrantes, mas infelizmente não tão chocante, visto que alguns de nós já havíamos feito pesquisas no sertão nordestino e deparado com outras formas de pobreza, porém a pobreza na Amazônia e, em especifico na cidade que visitamos, foi chocante no sentido da grande quantidade de pessoas doentes e as condições precárias de moradia nas quais viviam, o que aumentava a infestação por doenças. Isso foi a principal comparação que fize-

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mos entre a pobreza do sertão nordestino e da região amazônica, em que apesar da miséria ter sempre o mesmo caráter, ela tem demonstrações distintas, mesmo porque na Amazônia não há o problema da seca e a falta de alimentos, havendo peixes e fru-tos em abundância, mas por outro lado, as condições habitacionais e os alagamentos favorecem a proliferação de doenças.

Por fim, além do relatório, a experiência proporcionada pelo Projeto Rondon per-mitiu que os alunos entrassem em contato com uma realidade muito distinta daque-la que estavam habituados. A exuberância dos recursos naturais, a hospitalidade e companheirismo dos seus habitantes, bem como as particularidades da cidade de Eirunepé deixaram lembranças marcantes nos alunos e foram um ponto de inflexão em sua formação.

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0530 Ademais, deve-se ressaltar a importância da necessidade de mostrar aos universi-

tários a realidade do país do ponto de vista prático, em que o aluno pode sair dos livros e das teorias e saber as implicações reais de tudo aquilo que ele aprendeu na sala de aula, ou seja, não basta analisar pobreza, temos que saber qual a sua verdadeira face. Além de considerar a experiência de ter sido um grupo que recomeçava algo tão importante do ponto de vista de introduzir o pensar sobre o desenvolvimento na mente de diversos universitários dos mais variados cursos e áreas da ciência.

Encerramos com uma frase: “Rondon aos 22 anos de idade é uma mistura de experiências que lembra um verdadeiro Tacacá: é poder conhecer estudantes do Brasil inteiro, é vivenciar um Brasil que ainda tem muito que se conhecer, é experimentar o contato com pessoas que surpreendem, é conviver de outra forma com colegas de faculdade, é fazer universidade fora da sala... é a troca de experiências. Mas há tam-bém um gosto amargo de realidades que poderiam ser bem melhores. Enfim: Rondon tem um gostinho igual ao Tacacá, difícil de esquecer, sempre na ponta da língua de quem o prova”.

Esta primeira equipe da Unicamp que participou do Projeto Rondon após sua retomada deseja que sua experiência seja uma fonte de motivação para que outros alunos também se envolvam com projeto. Para quem o fizer, com certeza será uma vivência inesquecível.

Aguirre C. Micca, Caroline N. Pereira, Felippe C. Serigati e Rafael G. Reis”

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632 Mobilizou cerca de 700 estudantes de 67 universidades públicas e privadas, em

mais de 40 municípios carentes do norte do país, para levar melhorias às comunidades locais em missões de cidadania e bem-estar social. As equipes da Unicamp e da Uni-versidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) atuaram em Eirunepé.

EIRUNEPé Amazonas - AM

Equipe

Francisco Sérgio Bernardes Ladeira (Coordenador)

Sérgio Rezende de Carvalho (Coord. Adjunto - Medicina)

Alexandre Pavia Junior (Geografia)

Álvaro Luís Kassab (Jornalista)

Bruno Mariani de Souza Azevedo (Medicina)

Camila Sunaitis Donini (Medicina)

Cristiane Oliveira de Barros (Geografia)

Dário Mendes (Fotógrafo)

Milena Flogliarini Brolesi (Geografia)

Thiago Marinho Del Corso (Ciências Biológicas)

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33A cidade de Eirunepé localiza-se no sudoeste do estado do Amazonas, em 15.832 quilôme-tros quadrados e tem cerca de 30 mil habitantes. A área urbana posiciona-se sobre um terraço na margem esquerda do rio Juruá, recortada por meandros abandonados, que se transformam em lagos durante o período das cheias – isso obriga parte da população a morar em casas sobre palafitas e dificulta a construção de obras de saneamento básico. No ano anterior o município havia recebido uma equipe de rondonistas da Unicamp. Desta vez o trabalho avançava mais.

Em nosso diagnóstico percebemos que a economia local é baseada nos serviços, especial-mente aqueles vinculados ao setor público, e as carências da população são inúmeras: falta de acesso à saúde (especialmente da população ribeirinha, que necessita, por vezes, dias de viagem de canoa até a sede do município), deficiência nutricional, falta de saneamento básico adequado, incluindo ausência de coleta de lixo e deficiente distribuição de água tratada, além do desemprego.

A aplicação de um questionário para avaliação de a insegurança alimentar no município foi o eixo estratégico e alvo prioritário de nossa ação, o que nos possibilitou conhecer a realidade da população mais carente, escolhida a partir do cadastro da bolsa família. Ao adentrarmos

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634 296 domicílios na zona rural e urbana, junto com agentes sociais e de saúde, interagimos com

parte significativa da população. Todos da equipe participaram da aplicação dos questionários, o que nos permitiu vivenciar diferentes realidades, fazer observações, propostas e, por vezes, indicar soluções para os problemas ali observados.

Também capacitamos trabalhadores do município por meio de oficinas, incluindo as es-pecíficas para gestores de saúde local, nas quais discutimos o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde da cidade. Entre outras demandas, o Ibama e prefeitura solicitaram a seleção de uma área nova para a disposição do lixo municipal, já que o local em uso estava para ser invadido pelas águas do rio Juruá. Além disso, colaboramos na elaboração do Plano Diretor e do mapeamento para delimitar as áreas mais problemáticas em saneamento básico. Em todas atividades foram aplicadas diferentes habilidades adquiridas na universidade, algumas comuns às diferentes carreiras outras mais específicas.

Como forma de prestação pública de nossas ações, no encerramento do projeto realizamos, em parceria com a equipe rondonista da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), a exibição em praça pública de documentário áudio visual sobre as atividades realizadas. Um aspecto que merece destaque em nossa equipe foi a presença do jornalista Álvaro Kassab e do fotógrafo Dário Crispim, ambos da Unicamp – o que possibilitou também a realização de um blog (www.reitoria.unicamp.br/ascom/blog/), intensamente acessado e que certamente motivou outros alunos e professores a participarem do Projeto Rondon.

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35Novas impressões de um velho repórterEscrito por Álvaro Kassab, 06/3/2006 - 16:36:24

Tudo teve início com um e-mail da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) endereçado à redação da Ascom. Nele, Roberto Costa, editor do Portal da Unicamp, anunciava que havia lugar para um jornalista na equipe da Universidade no Projeto Rondon, composta de seis alunos e dois docentes. Destino: município de Eirunepé, sudoeste do Ama-zonas. Não titubeei, candidatando-me de chofre, sob a alegação “de que conhecer a Amazônia

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636 seria a concretização de um sonho deste velho repórter”. Escolhido, tive outra surpresa: seria

titular de um blog. Orientação do amigo Eustáquio Gomes, nosso coordenador: blog é liberdade.

Eu estava, portanto, diante de dois desafios: ser uma espécie de emissário virtual das notícias da expedição, naquela que era a primeira incursão no país de uma universidade públi-ca nesse terreno; o outro, circunscrito ao campo pessoal, consistia no meu contato com uma realidade desconhecida. No caso do blog, cabe ao leitor julgar seus acertos e desacertos. Meu julgamento, subjetivo, confere a este veículo um poder transformador fantástico. Na esfera da alma, a coisa toda muda, ganha contornos concretos. Serei direto: voltei outro.

Os motivos são muitos, alguns deles expostos no blog ao longo da jornada. Mas destaco a relação brevíssima (14 dias incompletos) com os habitantes de Eirunepé. Eis o motivo da minha transformação. Não que tivesse desprezado o caráter científico da empreitada. Preparei--me para viajar. Li, por exemplo, o minucioso relatório preparado pelos alunos da Unicamp que estiveram em 2005 no município, também pelo Projeto Rondon. Fui buscar, em diferentes fontes, elementos que me auxiliassem na estada. Vasculhei o Google, consultei diferentes atlas, busquei detalhes sobre a região.

Bastou chegar na cidade, entretanto, para a alma do repórter atropelar a razão. Dei-me conta de que não adiantava brigar contra uma máxima atávica, intangível: meu negócio é – e sempre será – gente. Um componente referendaria minha opção por retratar o cotidiano dos ha-bitantes de Eirunepé: a natureza exuberante. Conheci várias regiões do país, mas nunca havia visto tamanha simbiose. O eirunupeense é parte integrante da floresta (praticamente intacta) e dos cinco rios que cortam o município. Os sorrisos são minerais.

O isolamento é o combustível dessa relação. Dependendo da direção a ser tomada, são neces-sários 6 dias para sair de barco do município, cuja área é de 15.800 km2, algo próximo de ¼ do território de Portugal. Uma viagem de barco a Manaus dura, em média, 15 dias. A cidade é abaste-cida pelo rio Juruá, um corredor de 3.350 km que nasce no Peru, atravessa o Acre e desemboca no Solimões. O outro meio de se chegar a Eirunepé é de avião. Desconfio (perdão pela falta de rigor) que não mais do que cem dos 30 mil habitantes do lugar teriam condições de sobrevoar a planície.

Tive, na chegada, a forte impressão de que a cidade andava em círculos concêntricos, re-gida por uma anarquia saudável. Logo constataria que a tragédia é tecida em silêncio por essa coisa largada, sem eira nem beira (a não ser a do Juruá, não menos caótica). A ausência do que se convenciona chamar na academia de arcabouço institucional produz a mais letal das distor-ções: a miséria e seus derivados. Os indícios estão por toda a parte. Um deles, talvez o menos nocivo, choca os desafortunados habituados a transitar em meio a radares e fábricas de multas: contam-se nos dedos, entre milhares de motos que circulam pelas ruas da cidade, aquelas que têm placa. Não vi um único capacete.

Os efeitos mais dramáticos da fragilidade do poder público fazem dos cidadãos suas víti-mas preferenciais. E elas – as vítimas – têm nome e sobrenome. A cidade é asfaltada, mas não possui rede de esgoto. A falta de saneamento básico torna endêmicas doenças como hepatites virais, hanseníase, malária e tuberculose. Infecções respiratórias, dermatoses, diarréias e ver-

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37minoses matam além do concebível. Eirunepé tem um hospital (referência regional) com 80 leitos, mas não há médicos suficientes e faltam medicamentos.

A rede de ensino é razoavelmente aparelhada, mas centenas de crianças estão fora da es-cola. Os ribeirinhos (e aqui estamos falando de 185 comunidades) migram cada vez mais para o centro urbano, mas não encontram o que fazer. Grassam o desemprego, a informalidade e a ocupação temporária. A natureza oferece de tudo, mas a fome é crescente.

Jamais fui de desprezar estatísticas. Minha escolha, entretanto, era clara. Queria conhecer de perto os personagens desse drama que coloca Eirunepé entre os 500 piores municípios do país em índice de desenvolvimento humano (IDH). Não me interessava apenas saber como – e quando – o declínio da borracha pegou a cidade de jeito. Seus órfãos e descendentes precisavam ser ouvidos.

Não bastava ler que a macaxeira é um dos pilares da economia – era imperativo entrar numa casa de farinha. E, depois, comê-la, misturada ao naco de pirarara, de preferência recém--pescada e adquirida no mercado informal das barrancas. Não podia ir embora sem experimen-tar o gramixó, espécie de rapadura local, boa parte dela comprada pela Coca-Cola. O feijão de praia deveria ser saboreado de acordo com a receita local. O açaí, à moda, e não aquele forjado no modismo de academias que guardam a polpa congelada.

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638 Passei a tropeçar em assuntos – aquilo que nos jornais é conhecido como “pauta” – e a

conviver com o paradoxal. Quanto mais os dramas surgiam, mais íntimo ficava dos morado-res. Encontrei um número sem fim de voluntários que ocupavam o vácuo deixado pelo poder público. Meu encantamento com tanta generosidade deixara de ser uma abstração. Preenchi cadernos de anotações. Fui tomado por uma dúvida: teria tempo – e espaço – para expor tudo? Não, certamente. Mas o estrago já estava consumado. Eu havia sido tomado por uma compul-são irreversível. Não tinha volta.

Na outra ponta, mais precisamente no motivo que me levou a Eirunepé, as surpresas não foram menores. O empenho de alunos e docentes era comovente. Acompanhei parte dessa ro-tina extenuante, pesada. Não sobrava tempo para pausas. No cronograma, de tudo um pouco: aplicação de questionários em visitas domiciliares, aulas, oficinas para gestores, cursos para agentes, encontros com autoridades municipais, prospecção de áreas para o novo aterro da cidade, discussão sobre o plano diretor, exposição de dados etc.

Na condição de editor improvisado do blog, testemunhei a emoção manifestada pelos integrantes do grupo. Os relatos impressionavam; a entrega da equipe foi total. Os alunos não conseguiam esconder a alegria e a perplexidade. Alexandre Pavia Neto, Bruno Mariani de Souza Azevedo, Camila Sunaitis Donini, Cristiane Oliveira Barros, Milena Flogliarini Brolesi e Thiago Marinho Del Corso entraram de corpo e alma neste universo peculiar, em um território a ser des-bravado. Foi preciso viajar milhares de quilômetros para entender os atributos que diferenciam o estudante da Unicamp dos demais. Solidariedade, espírito crítico, capacidade de dialogar, discernimento e iniciativa eram perceptíveis nos gestos mínimos.

Com os dois professores da equipe, não foi diferente. Perdi a conta de quantas vezes vi o professor Francisco Ladeira, do Instituto de Geociências, caminhar solitário pelas ruas da cida-de. Observador arguto, recolhia informações que certamente no futuro serão úteis. Atravessava taboão, pisava no charco, estudava a várzea. Num encontro casual de fim de tarde, pedi permis-são para acompanhá-lo. Percorremos um longo trapiche e fomos parar em um dos extremos da cidade, numa localidade conhecida como “Baixada”, talvez a mais pobre do município. Ladeira estava demarcando os limites da tragédia.

Sérgio Resende Carvalho, sanitarista e professor da Faculdade de Ciências Médicas, invaria-velmente estava a postos às 5h30 da manhã na varanda do Hotel Líder, onde nos hospedamos. O docente protagonizou uma cena reveladora, emblemática da nossa permanência em Eirunepé. Na subida do rio Juruá, no único dia de folga da equipe, o destino final foi a comunidade ribeirinha Terra Firme. Todos mergulharam nas águas escuras e límpidas do igarapé Tripa. De canoa, Sérgio preferiu visitar os moradores. Na volta, quando todos já estavam acomodados e o ronco do motor do batelão reverberava na mata fechada, o docente debruçou-se no parapeito da embarcação. Longe de todos, chorou. O médico sanitarista, que já havia trabalhado na Nicarágua, no Jequitinhonha e em Roraima, viu um garoto com lábio leporino em estado avançado, sem perspectiva de cura.

Senti, naquele momento, que todo o esforço não era – e nem pode ser – efêmero. Este velho repórter espera ter jogado alguma semente nas águas turvas do Juruá.

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640 Subindo o Juruá com Chupeta, Ferrim e Cipriano

Escrito por Álvaro Kassab, 14/2/2006 - 10:42:29

A canoa carregando curumins e um adulto (no remo) deslizou suave sobre a canarana, folhagem que às vezes dá a impressão de ser anteparo natural para as pequenas embarcações que atracam nas barrancas do aterro do Lago. O local parece ser extensão de um cais que não tem fim nem começo. Esse negócio de muita ordem não cola no ribeirinho. Ele sabe que o rio sempre lhe reserva um bom lugar. Há espaço para aqueles que conhecem seus segredos. Não é diferente com o Juruá. Avistam-se barcos em boa parte das margens que compreendem o perímetro urbano de Eirunepé. Por isso, as obras para a implantação do Aterro do Lago foram contestadas. É ali que param as balsas carregadas de mercadorias que abastecem o município. É ali também que o esgoto empoça quando as águas de março alcançam seu nível máximo. O lugar era chamado de dispensa pelos antigos moradores, tamanha a abundância de peixes.

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Os críticos apontaram aberrações na obra. A maior delas, na opinião dos ribeirinhos mais rodados, foi a mudança do curso do Juruá. O rio caudaloso da memória afetiva havia escoado para as planilhas de custos. Talvez por isso eu tenha constatado um travo de tristeza na fala de Francisco Alves de Souza, o Chupeta, timoneiro do Cipriano II, barco que nos levou ontem ao coração da floresta. O comentário de Chupeta sobre uma parte do rio que deixou de existir foi feito no fim da viagem. Veio a reboque de outra constatação, esta aterradora: o Juruá vem perdendo água há pelo menos 15 anos. O relógio do ciclo das águas está descompassado. No ano passado, por exemplo, o rio começou a encher com atraso de um mês.

***

Passava pouca coisa das 6 horas quando Chupeta concentrou-se na manobra que nos leva-ria de volta ao aterro do Lago. Não era dia nem noite. A lua cheia que irrompia atrás das copas das árvores, os últimos reflexos alaranjados do sol e as primeiras luzes acesas na cidade com-puseram um cenário que jamais esquecerei. Comecei naquele momento a entender Eirunepé.

***

A subida do Juruá estava prevista para as primeiras horas da manhã. Nosso destino seria o igarapé Preto, também conhecido como Simpatia. Problemas de última hora protelaram a saída. Às 10 horas estávamos no aterro, mas a embarcação ganhou o rio apenas depois do meio-dia. A espera me levou com uma filmadora para os lados das pequenas embarcações. A rotina dentro delas é de uma casa qualquer. Rede, panelas no fogo, roupas nos varais, o barulho das tralhas. O centro das atenções foi a retirada de uma camionete Hyllux, um acontecimento para uma cidade movida a milhares de motos e bicicletas. O carro estava numa balsa atracada ao lado do nosso batelão. A operação mobilizou meia dúzia de pessoas, enquanto outras três dezenas aglomeravam-se do outro lado da rua. Nagib Atem de Oliveira, proprietário do único posto de gasolina da cidade, dividia com amigos uma panela de farinha com carne. Ele estava à espera do desembarque de sua mercadoria. De nossa parte, faltavam alguns suprimentos para iniciar a viagem. Nagib providenciou. Os detalhes foram acertados com Marcelo Dutra, funcio-nário do Ibama local e um dos organizadores da expedição. Estávamos prontos para partir.

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642 Senti uma vertigem quando a campainha soou e o motor Yamaha de 18 HP foi acionado. A

excitação deu espaço a um torpor intraduzível assim que o Cipriano entrou no curso do Juruá. Nunca havia experimentado algo semelhante. Era o meu primeiro contato com o interior da flo-resta amazônica. Tratei de me acomodar no banco do comandante e de lá não saí mais. O me-cânico Francisco Afonso de Oliveira, o Ferrim, e João Marinho Cipriano, proprietário do barco, nos faziam companhia. Cipriano não só colocou sua embarcação à disposição das equipes da Unicamp e da Unioeste como bancou um churrasco a bordo. Os três logo perceberam que es-tavam acompanhados de um marinheiro de primeira viagem. Apressaram-se em servir de guias.

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Passava do meio-dia quando avistamos Estirão, a primeira comunidade ribeirinha . Eiru-nepé tem 185 delas. O número impressiona tanto quanto a extensão territorial do município – cerca de 15 mil quilômetros quadrados. Cipriano tocava a 5 km/hora, evitando as curvas da margem direita, mais sujeitas ao humor da correnteza do rio mais sinuoso do mundo – como gostam de alardear os eirunepeenses. Ferrim me mostrou uma casa de farinha. Dois homens pareciam trabalhar num ritmo frenético. O mecânico me explicou o motivo da pressa: logo as águas sobem e comem pelas beiradas a macaxeira. Quando isto ocorre, a planta vira uma mas-sa podre, imprestável. Logo mais à frente, Chupeta emocionou-se ao me mostrar a samaúma, árvore usada na fabricação de embarcações e cada vez mais rara no beiradão.

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Ao passarmos por outra comunidade, Vila Gomes, uma voadeira lotada de índios cortou veloz a outra margem. Os índios acenavam muito, riam alto, pareciam alterados. Ferrim diag-nosticou no ato o motivo da algazarra: a ingestão em excesso de caiçuma, uma aguardente feita com a macaxeira. Na falta da bebida, revela o mecânico, consomem um chá alucinógeno. Não havia sinal de julgamento moral em suas palavras. O mecânico apenas presenciou uma cena que se torna cada vez mais frequente na região. O alcoolismo tomou as aldeias de assalto. Logo Ferrim sairia em defesa dos índios. Disse jamais ter visto um índio morrer afogado, por mais bêbado que estivesse.

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Depois de passarmos pela terceira comunidade, Paris, um susto. O barulho de ferro re-torcido e o timão girando sem controle indicavam que algo havia acontecido. Chupeta tocou a campainha. O motor foi desligado e as hélices do motor erguidas para evitar o enrosco. A tri-

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43pulação logo correu para a banda esquerda da embarcação. Para evitar o choque do barco com as árvores, os tripulantes colocavam todas as forças nos braços e chegavam antes nos troncos. Chupeta manteve-se calmo. Sabia que havia se rompido um elo da corrente que ia presa à roldana do timão. Presenciara muitas vezes cenas semelhantes em 40 anos de navegação no Juruá. Ele e Cipriano fizeram o reparo em minutos. O Cipriano II retomava sua rota.

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Chupeta é o típico eirunepeense. Sorriso aberto, espirituoso, sossegado, generoso. É che-gado numa boa prosa. Começou a trabalhar aos 10 anos, na seringa. Aos 14 tornou-se tra-balhador braçal. Foi também auxiliar de mecânico. Explicou-me a origem do apelido: era ele o encarregado de dar uma carga nas baterias arriadas dos tratores da Secretaria Estadual de Transportes, seu último emprego antes de ir para a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), onde está lotado há mais de 20 anos na condição de faz tudo. Mas o que ele gosta mesmo é de estar no Juruá. Cumpre longas jornadas comunidades ribeirinhas adentro com o barco da Funasa, transportando pessoal, vacinas, exames. Diz que já chegou a ficar um mês longe da mulher e dos seis filhos.

***

Chupeta me mostra o ninho do japó, que de longe parece uma imensa casa de marimbondo de cabeça para baixo. Conta como pacientemente o pássaro tece sua casa, capaz de suportar quaisquer intempéries da natureza. Supervisionado por Cipriano, que conhece de cabeça cada volta do timão, assumo o leme. Durante longos cinco minutos o Juruá esteve em minhas mãos. O barulho do motor a diesel ecoa na mata.

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Uma placa do Ibama anuncia a entrada do igarapé Preto. O barco tangencia um pouco e entra à esquerda. A partir daí desliza no curso d’água fechado e estreito, muito menor que os 300 metros em média que separam uma margem da outra no Juruá. A tripulação decide ir mais adiante, na comunidade de Terra Firme, famosa por sediar em abril a Festa do Açaí. De repente, o caminho se afunila. A embarcação toca nas galhadas; estávamos chegando no igarapé Tripa, três horas e quarenta minutos depois de sairmos de Eirunepé. Os moradores de Terra Firme estavam a postos na outra margem do rio. Uma água límpida e negra nos esperava.

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644 A descida do Juruá foi rápida. Recostei-me numa rede, de onde era possível apenas avistar

a copa das árvores. Ferrim, Cipriano e Chupeta vez ou outra acenavam para mim. A casa de farinha continuava a todo vapor.

Os indígenas de Eirunepé – I Escrito por Álvaro Kassab, 28/2/2006 - 11:08:32

Álcool, preconceito e extorsão

Um velho kulina, vestido de linho branco dos pés à cabeça, subia cambaleante a Avenida Getúlio Vargas. Estava embriagado. Era amparado por sua companheira, uma mulher frágil que aparentava 65 anos. A cada tombo, a índia olhava para os lados e erguia pacientemente o ho-mem. Nas calçadas do centro comercial de Eirunepé, a chacota corria solta. Ninguém se dispôs a ajudar o casal. Presenciei a cena da sobreloja do prédio onde funciona a única lan house da cidade. Dali, no conforto do ar-condicionado ligado a todo vapor e protegido por um vidro meio espelhado, havia visto no dia anterior outra cena que me deixara intrigado: um curumim visivel-mente amedrontado estava na caçamba de uma camionete da Funai. Pelos relatos do fotógrafo Dário Crispim, o garoto não falava português.

Os dois episódios reforçaram minha desconfiança: os indígenas do chamado Médio Juruá são vítimas do preconceito. Para aplacá-lo, muitos deles recorrem à bebida, outro problema crônico segundo indianistas e autoridades da área da saúde. O pior, porém, saberia depois in loco e por meio de relatos recolhidos juntos a fontes confiáveis: eles são explorados - o escritó-rio regional da Funai está envolto em suspeitas de desvio de dinheiro - e vivem em condições subumanas no único alojamento de Eirunepé, a chamada casa da Opan (Operação Amazônia Nativa), onde funcionou até abril do ano passado a sede da organização não-governamental homônima. Tentei sem êxito fazer contato com a Ong.

No local pernoitam aqueles que se deslocam das aldeias para a cidade, na maioria das vezes para sacar benefícios (aposentadoria, quase sempre), e para vender o fruto da caça, do roçado e do extrativismo. São duas as etnias que vivem em 18 aldeias espalhadas no município de Eirunepé: os kulina e os kanamari. As estatísticas são desencontradas, mas calcula-se que entre 2.500 e 3.000 indígenas estejam radicados na região, a maioria dos quais da tribo kulina.

Apareci de surpresa na casa da Opan. Já havia passado ao lado da residência no dia de nossa chegada à cidade. “Isso não é o simba”, chamou à razão um professor vendo que todos correram para as janelas do ônibus que nos levava ao hotel. Fazia sentido. O que vi na casa, entretanto, foi muito diferente da primeira impressão, ocasião em índios sorridentes e brinca-lhões acenavam da calçada para nós. Repórter rodado, fiquei chocado com o que presenciei

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646 dez dias depois. Famílias inteiras, distribuídas em meia dúzia de cômodos, estavam instaladas

num ambiente sem as mínimas condições de higiene. Não cabe aqui descer aos detalhes, mas a sujeira e o mau-cheiro tornavam o local inabitável. Num golpe de vista, contei, no meio da tarde, pelo menos 40 pessoas, a maioria das quais crianças.

Fui recebido no portão da casa por Zino Nonato Kulina. Ele vinha com a mulher e três filhos da aldeia Porto Velho, onde moram 189 kulina, para apanhar seu salário de R$ 450,00. Professor de português, Zino era o mais entusiasmado do grupo. Eufórico, gesticulando muito, gravador à mão, tirou um toco de batom vermelho da bolsa da mulher e começou a se pintar. Foi imitado por mulheres e crianças. Disse a eles que só queria conversar, mas não me deram ouvido.

Mais tranquilo estava Pidi Kulina, da aldeia Estirão, situada às margens do rio Eiru, a seis dias e meio de barco de Eirunepé e onde vivem cerca de 300 conterrâneos. Havia se deslocado até a ci-dade com a mulher e duas filhas para comprar sal, sabão e querosene “para alumiar”. Aproveitou a viagem para vender carne de caça: veado (R$ 3,50 o quilo), queixada (3,50) e anta (3,00). Voltaria no dia seguinte para a sua gente. Na aldeia Estirão, Pidi estaria longe do inferno.

Nascido na mesma aldeia de Pidi, o líder indígena Dsomo Kulina, coordenador da Comis-são dos Povos Indígenas do Médio Juruá, já tentou inúmeras vezes, sem êxito, solucionar o problema de hospedagem dos índios no município. Não obteve resposta da Opan ou das auto-ridades de Eurinepé, onde chegou há oito anos. Nesse período, Dsomo colecionou dezenas de histórias nas quais os índios aparecem como vítimas do preconceito e da exploração.

A mais rumorosa delas tornou-se pública e foi parar em Brasília. Dsomo acusa o chefe do Posto da Funai de Eirunepé, José Simão Pereira Sobrinho, de se apropriar de parte do dinheiro de aposentadorias de indígenas. Um caso pelo menos, diz ele, foi comprovado: Dsomo acusa Pereira de sacar indevidamente, entre julho de 2003 e setembro de 2005, R$ 7.480,00 da aposentada Huacossa Margarida Kulina. A beneficiária, tia de Dsomo, ficou sabendo do ocorri-do um mês depois, no final de outubro. “Ela voltou para a sua aldeia para morrer. De desgosto”, indigna-se Dsomo.

O líder indígena relata que o chefe da Funai ficou com os documentos pessoais de Hua-cossa, entre os quais o cartão do INSS, com o compromisso de retirar o benefício para posterior entrega. “Ele adotou o mesmo procedimento com outros indígenas e, na maioria das vezes, en-tregava apenas uma parte do dinheiro, cerca de um terço, aos beneficiários”, denuncia Dsomo, que descobriu o problema ao ser alertado por outros kulina, por funcionários do INSS local e por funcionários da agência do Banco do Brasil, onde foram efetuados os saques.

O caso de Huacossa rendeu um inquérito policial (em andamento), denúncia ao Ministério Público e uma carta (leia a íntegra abaixo) endereçada à presidência da Funai, por meio da qual as lideranças exigem a exoneração de Pereira. Até agora, nada. “Não vamos sossegar enquanto o caso não for resolvido e Pereira, afastado”, promete Dsomo, que diz ter sido ameaçado ver-balmente mais de uma vez pelo servidor.

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47Segundo o líder indígena, o chefe do posto da Funai e dois de seus filhos, que de acordo com ele também estariam envolvidos na suposta fraude, “montaram um comércio” com o di-nheiro dos índios. “São três anos de desmandos e manipulação. Não aguentamos mais. Com o antecessor de Pereira, afastado por motivos de saúde, não havia nada disso, tínhamos o respaldo da Funai”. Este blog tentou várias vezes, sem sucesso, contato com o posto da Funai.

Os problemas, porém, não se limitam ao órgão oficial. Dsomo revela que o fato de os indígenas se embriagarem com frequência só faz aumentar o preconceito da população de Eirunepé. O líder indígena chegou inclusive a pedir aos comerciantes da cidade que não servis-sem bebidas alcoólicas. Não foi ouvido. Segundo Dsomo, alguns donos de bares não só lucram com as vendas como também exploram seus conterrâneos. “Alguns índios chegam a gastar no balcão, num só dia, todo o salário ou benefício”. Alcoolizados, os kulina e kanamari tornam-se presas fáceis. “Já recebi denúncias de índias que foram abusadas sexualmente e os casos de violência policial são frequentes”.

Dsomo faz o que pode para tentar mudar esse quadro. Com mais três colegas, fundou em 2003 a Comissão dos Povos Indígenas do Médio Juruá, organização não-governamental que não tem sede própria, apesar das reiteradas reivindicações nesse sentido feitas a particulares e aos órgãos públicos. Tudo é mantido com recursos próprios. Dsomo, que acaba de ser aprovado no vestibular (Matemática, na Universidade do Estado do Amazonas), sabe que tem muito tra-balho pela frente, a começar por iniciativas que atenuem o preconceito dos brancos. Indignado, resume numa frase curta o que pensa sobre o assunto. “Parece que as pessoas têm prazer em destruir as outras”.

Erondina Araújo da Silva, tradutora há seis anos da Casa de Saúde Indígena de (Casai) Eirunepé, também endossa as palavras de Dsomo. Filha de pai branco e mãe kulina, Erondina nasceu na aldeia Piau, onde viveu até os 15 dos seus 35 anos. Diz, resignada, que era feliz e não sabia. “O preconceito contra os índios é muito grande. Às vezes, sem motivo, os brancos chegam a ameaçá-los de morte”. A funcionária da Casai reivindica mais atenção das autorida-des locais – e federais – para os problemas vivenciados pelos indígenas. A Funai é seu alvo pre-ferencial. “Onde já se viu o chefe do posto tomar dinheiro de aposentados? ”, indaga, fazendo coro às denúncias de Dsomo.

A tradutora vê descaso na distribuição de verbas destinadas às duas etnias indígenas de Eirunepé. “O dinheiro chega ao caixa do município, mas não traz benefícios aos índios, sobre-tudo no que diz respeito ao atendimento médico no hospital e nos postos de saúde”, argumenta Erondina. Ela e Dsomo têm a mesma opinião acerca do consumo exagerado de álcool. Os dois kulina sabem que seus conterrâneos não bebem nas aldeias. E sabem também porque na ci-dade a história é outra.

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648 A íntegra da carta

Abaixo, a íntegra da carta encaminhada, no último dia 4 de novembro, pela Comissão dos Po-vos Indígenas do Médio Juruá ao presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes. Passados mais de quatro meses, Dsomo e seus companheiros ainda aguardam uma resposta do órgão federal.

À Presidência da FUNAI

Mércio Pereira Gomes

Brasília – DF

Senhor Presidente

A organização indígena Comissão dos Povos Indígenas do Médio Juruá, fundada em 23 de abril de 2003, sediada na rua Kanamari, número 356, na cidade de Eirunepé--AM, inscrito no CNPJ sob número 04.956.212/0001-06, neste ato representado por seu coordenador Dsomo Kulina, brasileiro, solteiro, domiciliado e residente nesta cida-de, na rua Kanamari, 356, inscrito no CPF sob número 310135112-04, portador da cé-dula de identidade número 186.813,vem informar e solicitar providência a esta Presidên-cia sobre atos praticados pelo Chefe de Posto local da Funai, José Simão Pereira Sobrinho:

I – Em 30 março do ano em curso, por ocasião da Assembléia dos Povos Indígenas do Médio Juruá, os caciques, demais lideranças, professores e agentes indígenas de saúde pre-sentes escreveram uma carta-denúncia e a enviaram a esta presidência da Funai, com cópia para a administração regional deste órgão em Manaus, solicitando a exoneração de José Simão Pereira Sobrinho em virtude de diversas irregularidades cometidas pelo mesmo. Entre outros, foram mencionadas as repetidas fraudes sobre indígenas aposentados, possibilitadas pelo fato de que o mencionado Chefe de Posto retém os cartões do INSS destes idosos. Foi mencionado também o forte e permanente envolvimento de dois filhos deste funcionário nestes atos ilícitos.

II – Em 19 de maio do ano em curso, reclamei para a Promotora de Justiça de Eiru-nepé, Dra. Ana Paula Serizawa S. Podedworny, que há alguns anos ocorre que indíge-nas aposentados, orientados pelo atual Chefe de Posto da Funai, deixam seus docu-mentos pessoais e/ou seus cartões do INSS com o mesmo e viajam das suas aldeias para esta cidade apenas após dois ou três meses. Neste intervalo,quem saca os benefí-cios desses aposentados é o Chefe de Posto. Porém, ele só repassa parte do valor do sa-cado aos beneficiários, por exemplo, metade ou um terço, apropriando-se do restante.

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49Dra. Ana Paula Serizawa S. Podedworny solicitou a instauração de inquérito policial e ficou de oficiar à administração regional da Funai em Manaus sobre esses fatos.

III – O ato ilícito mais recente é o mais brutal e assustador a ser relatado, e há indícios que não seja o único cometido desta maneira:

1. A senhora Huacossa Magarida Kulina veio à cidade de Eirunepé pela penúltima vez há aproximadamente três meses para ver como estava o andamento de sua aposentadoria. Aconselhada pelo referido Chefe de Posto da Funai, entregou toda a sua documenta-ção pessoal (CPF, título de eleitor, carteira de identidade, carteira do Ministério de Trabalho etc.) ao Chefe de Posto que ficou de avisar à Sra. Huacossa Magarida Kulina por radiofonia, quando houvesse um pagamento de aposentadoria a ser pago para ela.

2. No início do mês em curso, a gerência do INSS local informou o pastor luterano e representante do Conselho de Missão entre Índios (Comin) Frank Tiss que haveria dois pagamentos para a Sra. Huacossa Magarida Kulina a serem efetuados no dia 06 de outubro de 2005, sendo um sobre R$ 7.180,00 (sete mil e cento e oitenta reais), pa-gamento atrasado do benefício desta aposentada, referente ao período de 01/07/2003 a 31/08/2005, e um outro sobre R$ 300,00 (trezentos reais), pagamento da aposen-tadoria do mês de setembro de 2005. Preocupado com um possível abuso de poder por parte do Chefe de Posto da Funai, que regularmente tinha pedido informações a respeito da data do pagamento deste benefício, e sabendo que o pastor Frank Tiss do-mina o idioma indígena kulina, a gerência do INSS solicitou que o mesmo chamasse por radiofonia a Sra. Huacossa Magarida Kulina para Eirunepé.

3. No dia 06 de outubro de manhã, em conversa por radiofonia com o filho da Sra. Hua-cossa Magarida Kulina, Jaconi Kulina, o mesmo respondeu ao pastor Frank Tiss que viajaria em breve com a sua mão da sua aldeia Sossego no igarapé Baú a Eirunepé, mas que a viagem demoraria quatro a cinco dias, e que a documentação pessoal da sua mãe, nomeadamente a sua carteira de identidade e carteira do Ministério do Tra-balho, encontram-se no Posto da Funai de Eirunepé.

4. No dia 6 de outubro, o Chefe de Posto da Funai foi ao INSS, de acordo com testemu-nhas presentes, reclamando que ainda não foi possível o saque do benefício da Sra. Huacossa Magarida Kulina.

5. Conforme o Histórico de Créditos do INSS com data de 17/10/2005, foi efetuado o pagamento dos dois valores em questão no dia 07 de outubro, na agência local do Bando do Brasil. A Sra. Huacossa Magarida Kulina, porém, não esteve presente na cidade neste dia, chegou apenas no dia 24 de outubro.

6. Devido a esta contradição, no dia 17 de outubro, o gerente local do INSS, Sr. Geraldo da Silva Sinimbu Júnior, foi, com o pastor Frank Tiss, à agência do Banco do Bra-sil, solicitando da gerência esclarecimentos sobre o que tinha ocorrido: no respectivo comprovante de pagamento, arquivado na agência, consta como nome da pessoa que

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650 recebeu o pagamento a Sra. Huacossa Magarida Kulina, também consta o número

da sua carteira do Ministério do Trabalho e duas impressões digitais, com data de 07/10/2005. Ocorre, como dito acima, que nesta data a Huacossa Magarida Kulina ainda não estava em Eirunepé.

7. Preocupado com a demora da chegada da Sra. Huacossa Magarida Kulina e também com os poucos dias de presença da promotora Dra. Ana Paula Serizawa S. Podedworny nesta Comarca, procurei a mesma no dia 20 de outubro e relatei os fatos dos pará-grafos 1 a 6, tendo ela tomado a termo o meu depoimento e solicitado a instalação do respectivo inquérito policial. Soube que, posteriormente por determinação da MM Juíza desta Comarca, o delegado de Polícia foi até a sede do Chefe de Posto e recolheu todos os cartões dos aposentados que estavam em seu poder.

8. No dia 24 de outubro, finalmente chegaram a Eirunepé a Sra. Huacossa Magarida Ku-lina, trazido por seu filho Jaconi Kulina em seis dias de viagem fluvial, reconfirmando que a sua documentação completa ficou há meses nas mãos do Chefe de Posto da Fu-nai. Disse também que o mesmo não tinha informado a Sra. Huacossa Magarida Kuli-na dos pagamentos em questão, mas que ela foi avisada apenas pelo pastor Frank Tiss.

9. Por orientação da própria Promotora de Justiça, após a chegada da Sra. Huacossa M. Kulina, fizemos a queixa na delegacia de polícia local e a investigação policial está em andamento.

Havendo fortes indícios de diversos atos ilícitos contra os Kulina e Kanamari, cometidos pelo Chefe de Posto José Simão Pereira Sobrinho, solicitamos que finalmente sejam tomadas com urgência as medidas administrativas pertinentes.

Dsomo Kulina

Coordenador da Comissão dos Povos Indígenas do Médio Juruá

Eirunepé-AM, 04 de novembro de 2005.

C/c - Administração Regional Funai/Manaus - Coiab

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51Os indígenas de Eirunepé – II Escrito por Álvaro Kassab, 03/3/2006 - 15:08:32

Laerte, formado na Unicamp, o guardião dos índios

Laerte Peres é muito simples, despojado. Chega de bicicleta na Casa de Saúde Indígena de Eirunepé (Casai), local para onde são encaminhados os doentes das 18 aldeias localizadas no município. Na Casai, com o know-how adquirido no curso de Enfermagem da Unicamp (turma de 2001), há oito meses Laerte comanda 28 funcionários, sendo responsável por cerca de 200 atendimentos e 45 internações mensais.

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652 Laerte reconhece: jamais imaginou que um dia faria o que faz. Mas ele está lá, encarando

de frente um desafio que considera gratificante: vê o que há de errado com os pulmões dos filhos de Wahio Kanamari, da aldeia Mawetek (Bola); examina Sekiá Kulina, que acabara de perder um filho na aldeia Piau; acompanha a evolução de Rerá Lelande Kulina, que teve uma perna fraturada numa briga na aldeia Torre da Lua.

Sua jornada às vezes bate nas 24 horas/dia. Cuida da farmácia e dos suprimentos da dis-pensa da Casai (que também abriga, em dois quartos, acompanhantes dos doentes), fica atento aos chamados do sistema de radiofonia, tira índio alcoolizado da cadeia, providencia o conserto do motor de 40 hp da voadeira que percorre as aldeias – avarias em expedições já o obrigaram, em pelo menos cinco situações, a remar com as próprias mãos até a chegada do reboque sal-vador. Numa campanha de vacinação, chegou a ficar 25 dias longe de casa.

Na falta de dados confiáveis, Laerte foi à luta. Por conta e risco, está promovendo um censo nas aldeias da cidade. Em duas delas (por enquanto, diz), estendendo um lençol como fundo, tirou fotos digitais 3x4 de todos os habitantes. Cada imagem vem acompanhada dos dados pessoais do retratado. A Funai local ignorou seu recenseamento.

Laerte sabe que não dá para dormir em berço esplêndido à espera de ajuda oficial. O dinheiro destinado à Casai é repassado pela Funasa (Fundação Nacional de Saúde) à ONG Organização das Nações Indígenas, cuja sede fica na cidade amazonense de Tefé. Laerte ficou recentemente sete meses sem receber. Não foi por isso que deixou de orientar os agentes que promovem campanhas de prevenção e imunização junto aos indígenas.

Nesse período, manteve uma rotina estóica: tratou de pacientes com diarréia aguda, doen-ças respiratórias, doenças dermatológicas e alcoolismo, os quatro problemas mais recorrentes nas aldeias. Não deixou de socorrer vítimas de picadas de cobras, de malária ou criança de-sidratada, embora tenha conhecido uma indiazinha que morreu porque sua mãe, assustada, fugiu mais de uma vez com a menina do hospital estadual, para onde são encaminhados os casos mais graves.

Laerte sabe que os índios fazem tatuagem usando espinho de uma palmeira nativa e um pigmento retirado da casca de uma árvore. Sabe também que os partos são feitos por eles. La-erte adensou seus conhecimentos sobre as cultura dos kulina (maioria) e dos kunamari, as duas etnias de Eirunepé. O conhecimento acumulado, às vezes, retorna em forma de tratamento. Sem Laerte, os índios de Eirunepé estariam numa pior.

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53Três Perfis de Moradores de EirunepéEscrito por Álvaro Kassab

1) Moacina quer voltar07/2/2006 - 14:51:25

Conheci Moacina por acaso, nos assentos de lona do Hércules C-130. Já havia botado reparo nos seus grandes olhos negros. E ela, apesar do barulho ensurdecedor na decolagem da aeronave em Manaus, ouviu que iríamos para Eirunepé, sua cidade natal. Perguntei se podía-mos conversar. Ela consentiu. Seguindo orientações de um sargento, esperei o avião “nivelar”, desatei o cinto e troquei de lugar com um jovem que estava ao lado da eirunepeense. A equipe

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654 da Unicamp faria uma escala rápida em Tefé. De lá, seguiríamos em frente. Já Moacina partiria

para Alvarães com seus colegas da Universidade Estadual do Amazonas. Até chegar à condi-ção de rondonista, velha aspiração, Moacina teve uma trajetória semelhante à de milhares de amazonenses que migraram do interior para a capital. Os encontros efêmeros têm o condão de trazer revelações à tona. Não foi diferente com minha interlocutora. O relato feito por ela foi esclarecedor. Aí vai a sua história.

Moacina Maria da Silva Moreira nasceu e foi criada na zona rural de Eirunepé, nas barran-cas do rio Juruá. O casamento de seus pais é fruto de um movimento migratório que mudaria o perfil populacional do Amazonas. Na Segunda Guerra, Getúlio Vargas decidiu convocar milhares de soldados, em sua maioria nordestinos, para a extração da borracha, produto que era usado pelos países aliados na fabricação de artefatos de guerra. Atraído pela extração da borracha, o pai desceu do Médio Amazonas; a mãe era filha de cearenses. Durante o dia, o pai plantava o suficiente para o sustento dos 14 filhos. A sobra do roçado ia para o escambo. No final da tarde preparava os espinhéis no rio Juruá. A ceva era composta de abiurana, fruta muito apreciada pelos tambaquis. A sobra dos peixes recolhidos nas primeiras horas da manhã também entrava na conta da relação de troca. As frutas vinham do extrativismo. A família pouco via a cor do dinheiro. Era desnecessário. Entre mergulhos nos igapós e o curso primário na escola paroquial, base da qual se orgulha até hoje, transcorreu a infância de Moacina.

Uma epidemia de febre amarela mudaria o curso das coisas. Dois de seus irmãos – Mauro (14 anos) e Mário (22) – morreram vitimados pela doença. Preocupado, seu pai levou a família para a zona urbana. Moacina permaneceu em Eirunepé até o começo da adolescência. A morte do pai, que chegou a presidir a Câmara de Vereadores de Eurinepé pela antiga Arena, fez com que toda a família fosse embora para Manaus. Da capital seguiu para o Rio, onde se casou aos 18 anos. Em 1987, com três filhos para criar, voltou para a capital amazonense, passando a trabalhar em um jornal local como gráfica. A informatização do seu departamento, em 1991, decretou a extinção de seu ofício. As oportunidades de emprego começaram a escassear e ela passou a viver de pequenos biscates. Moacina decidiu enfrentar de frente a reestruturação produtiva. Retomou os estudos, abandonados na 7 série, e foi em busca de um velho sonho: tornar-se professora de uma escola rural.

Moacina cursa hoje o terceiro ano do curso de Pedagogia na Universidade Estadual do Amazonas. Quer aplicar na futura profissão, em alguma comunidade isolada de Eirunepé, o que ela chama de “linha dialética”, com base nas concepções preconizadas pelo educador Paulo Freire. Um episódio trágico pode antecipar seu retorno à cidade que não vê desde 1987: no último dia 25, seu filho mais velho, Marcelo (28 anos), morreu num acidente de moto em Manaus. O jovem trabalhava numa fábrica que produzia motocicletas na Zona Franca. Emocio-nada, Moacina acredita que o filho perdeu a vida porque foi “engolido pelo sistema”.

Apesar da distância, Moacina mantém-se informada sobre a situação política de Eirunepé. Deixou tios e primos na cidade. Antes de sair do Hércules, ela brincou: os “coronéis de barran-ca” que se cuidem.

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552) Eone intui, entoa e inclui 21/2/2006 - 18:51:01

Eone Cavalcante inspira-se no pôr-do-sol visto do Lago dos Portugueses para compor as suas canções. Um banquinho, um violão e o alagado do Juruá como fundo. Ali, pesca piaus com parentes e amigos desde sempre. Eone é muito colocado, super-articulado. Ele é descendente direto de um “soldado da borracha”, de mais um integrante da tropa nordestina destacada por Getúlio Vargas para embrenhar-se floresta adentro na Segunda Guerra. Eone é filho do cearense João Cavalcante (já falecido), ex-prefeito de Eirunepé, e de Margarida Furtado, a professora que revisa as letras das canções. Eone mora numa rua que leva o nome do pai.

A música de Eone às vezes tem uma levada de aboio, de lamento nordestino com timbres caboclos. As cordas do seu violão, sempre vigoroso, às vezes esgarçam (nas denúncias), às ve-zes vão na toada da balada, cadenciam a embolada ou embalam o baião sentido. Suas músicas cantam a realidade ribeirinha, a floresta – estão lá os pescadores, as paisagens, os amores, as veredas, a fauna, a moto-serra, os remansos. Para Eone, os rios amazônicos são alamedas de múltiplas sensações, flancos abertos para todo o tipo de aventureiro, alguns invasivos, nocivos para a sua gente.

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656 Eone tem nos compositores Zé Geraldo e Zé Ramalho as suas maiores influências, mas lembra

no jeito Paulinho da Viola. Leva o barco devagar quando preciso, mas é enfático na defesa da cultu-ra. Não é xenófobo, canta até em espanhol. É agitador cultural numa cidade em que as manifesta-ções nativas sobrevivem em meio a todo tipo de carência. Tem mais de 400 composições, já tocou na tevê, coleciona prêmios em festivais. Nunca gravou um CD comercial, mas não perde a oportu-nidade de mandar o seu recado. Eone é contemplativo mas rompe trilhas na selva com sua moto.

Eone desbrava caminhos no voluntariado. Eone acaba de criar, em sua escola, o curso “Terapia da Informática”. Público alvo: 50 crianças que passaram pelo Conselho Tutelar. Pro-grama: informática, aulas de canto, dança, pintura artística, música e acompanhamento psico-lógico. Tudo gratuito, bancado por ele. Eone aposta no sorriso.

3) Júnior Rezende, dos seringais ao voluntariado

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57Gonzaga Júnior Rezende Gomes morou em seringais até os 12 anos de idade, quando veio para Eirunepé. Hoje, 11 anos depois, Júnior Rezende, como é conhecido na cidade, está matriculado em dois cursos superiores: Ciência Política (último ano) e Curso Normal Superior (segundo ano), ambos no núcleo que a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) mantém em Eirunepé.

A história de superação deste palmeirense fanático tem um capítulo que merece ser desta-cado: Júnior atua há quatro anos como voluntário no laboratório de informática da Escola Esta-dual Conrado Pinto Gomes, onde ensina e/ou orienta centenas de cidadãos que nunca haviam visto um computador ou Internet. Nessa empreitada, Júnior Rezende conta com o apoio da diretora da escola, Antonia Cavalcante Bezerra, a Rosa, que autoriza o acesso da população aos equipamentos (dez computadores). “Ela me deu todo o apoio possível para que eu conseguisse ampliar meus conhecimentos na área”.

Autodidata em informática, Júnior acaba de formular três projetos voltados à formação cidadã e à inclusão social. São eles: “Eirunepé em dia com o futuro”; “Telecentro Comunitário do Município de Envira”; e “Brincando com o Paint” (para crianças de 10 a 13 anos). Pretende agora fazer o curso técnico ou licenciatura em informática em Manaus. Com base na sua experi-ência na área e nos estudos que desenvolve, Júnior Rezende prega a implantação de telecentros em Eirunepé, já que o único que funciona no município é justamente na escola em que atua. “A internet é hoje um instrumento poderoso de conscientização e de aprendizado. A exclusão digital mantém a população alheia às coisas que acontecem no mundo, sem dizer que dificulta o ingresso no mercado de trabalho”.

Apesar de desejar estudar em Manaus, Júnior não pensa em deixar sua cidade natal. O estudante é apaixonado pelas coisas de sua cidade. Conhece profundamente sua história e sua gente e vai sempre que pode às comunidades ribeirinhas nos finais de semana de folga. Até por isso, considera que a vinda do projeto Rondon pode atenuar alguns dos problemas vivenciados pelos moradores do município. “A desigualdade social e a falta de iniciativas que fomentem o empreendedorismo são problemas históricos em Eirunepé. Ademais, não existem políticas publicas para a geração de empregos”, diagnostica.

Outra questão que o universitário coloca como fundamental para a melhoria das condições de vida da população é a necessidade de o município implementar seu primeiro Plano Diretor. “Sem o documento, não temos perspectivas de desenvolvimento e de planejamento para o futu-ro. Acredito que esta seja, no momento, a prioridade para que tenhamos uma cidade mais justa e humanitária”. Júnior defende a participação da comunidade na elaboração do plano, até para que as decisões não sejam tomadas de cima para baixo. “Ninguém mais do que a população conhece a realidade. A gestão participativa pressupõe a tomada de decisões mais democráticas que neutralizariam ou pelo menos minimizariam as ações que dão um peso excessivo aos po-deres Executivo e Legislativo em detrimento do conjunto da população”.

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658 Outro ponto destacado pelo estudante é a necessidade de o poder público implantar pro-

jetos que fomentem a prática do esporte. Júnior Rezende fala com conhecimento de causa: já defendeu a seleção de vôlei do município e gosta de jogar com os amigos. “Acredito que o esporte pode ser também um instrumento de inclusão social.

Júnior se diz otimista quanto ao futuro do município. Sua aspiração é trabalhar em Eirune-pé como gestor público para buscar soluções para os problemas enfrentados pelas comunida-des locais, tanto na zona rural como na urbana. Eirunepé só tem a ganhar.

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67OPERAçãO

Vale do Ribeira 2006

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68 Cerca de 500 universitários do Paraná e de São Paulo, conviveram com a popula-ção de 28 municípios carentes da região do Vale do Ribeira, desenvolvendo ações de cidadania, bem-estar, desenvolvimento local sustentável e gestão pública. Da Unicamp seguiram equipes para Barra do Chapéu, Iguape, Pedro de Toledo e Tapiraí.

Reconhecida pela Unesco como patrimônio natural, socioambiental e cultural da humanida-de, a região do Vale do Ribeira, na divisa entre São Paulo e Paraná, recebeu em julho de 2006 cer-ca de 500 universitários, que conviveram com a população de 28 municípios carentes. A Unicamp enviou rondonistas para quatro municípios: Barra do Chapéu, Iguape, Pedro de Toledo e Tapiraí.

A região de aproximadamente 400 mil habitantes possui os piores indicadores sociais desses dois estados, incluindo altos índices de mortalidade infantil e de analfabetismo – perde apenas para o Vale do Jequitinhonha (entre o nordeste de Minas Gerais e sul da Bahia) e o sertão do nordeste brasileiro.

Com economia voltada à produção de chumbo, zinco e prata, o Vale do Ribeira não possui alternativas econômicas adequadas ao desenvolvimento sustentável, que permitam a utilização ra-cional do patrimônio ambiental e cultural, sem a ameaça de transformar a região em fornecedora de recursos naturais de baixo custo.

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69BARRA DO CHAPéU São Paulo - SP

Equipe

Carlos Fernando S. de Andrade (Coordenador)

Eduardo Gallembeck (Coordenador)

Araceli Regina Silva Pereira (Medicina)

Lélia Mara Rizzanti Pereira (Medicina)

Natássia Martins (Medicina)

Sílvia Maria Leli (Medicina)

Cirano Milanez Shibuya (Engenharia Elétrica)

Thiago Lemos Cury (Ciências Biológicas)

Neste município de 407 quilômetros quadrados e pouco mais de cinco mil habitantes, nossa equipe de rondonistas desenvolveu intenso trabalho de saúde pública. Visitou a maior parte das casas, entrevistou famílias e selecionou moradores para uma pesquisa parasitológica. As análises evidenciaram a necessidade de melhorar as condições de saneamento da cidade, com a instalação de fossas sépticas nas casas onde que não há este tipo de cuidado, distribuição de água tratada para todos os bairros e distribuição de medicamentos adequados aos moradores.

Oficina para adolescentes sobre sexualidade foi outra frente de trabalho, nos moldes de um programa executado por alunos de Medicina da Unicamp junto à população jovem de um bairro ca-rente de Campinas. Para isso selecionamos 26 integrantes do projeto municipal “Agentes Jovens” de Barra do Chapéu. Eles aprenderam anatomia, fisiologia e sociologia, entre outros assuntos, e se tornaram agentes multiplicadores desse conhecimento. Com o apoio da Prefeitura, dos agentes de saúde e de uma rádio local, promovemos uma feira de saúde infantil com serviços de antropometria, acuidade visual, verificação da carteira de vacinação, oficinas de higiene pessoal, piolho e recicla-gem de lixo. Foram atendidas 205 crianças, juntamente com seus responsáveis. No evento houve demonstração de animais peçonhentos da região e, para conscientizar a população da existência de seres microscópicos nocivos à saúde humana, por um microscópio óptico mostramos vermes e protozoários vivos, presentes em ambientes onde não há higiene, água tratada e saneamento básico. Durante a feira os alunos distribuíram panfletos com orientações sobre visão, anticoncepção, den-gue, higiene pessoal e doenças sexualmente transmissíveis. Quando alguma criança apresentava problemas de visão, vacina em atraso ou inadequação de peso, altura ou crescimento, os pais eram orientados a procurar o serviço médico da cidade. Ao final de um dia de intenso trabalho, consta-mos grande prevalência de baixo peso e déficits de acuidade visual em grande parte da população infantil analisada. Porém observamos que a vacinação estava em dia com o calendário estadual na quase totalidade das crianças.

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70 IGUAPE São Paulo - SP

Equipe

Carmenlucia Santos (Coordenadora)

André Franceschi de Angelis (Coordenador)

Daniela Cristina Batista (Saneamento Ambiental)

Gleyce Kelly Dantas Araújo (Saneamento Ambiental)

Juliana Rodrigues da Silva (Saneamento Ambiental)

Vanessa de Menezes Oliveira (Saneamento Ambiental)

Felipe Sinbo Hanashiro (Engenharia Agrícola)

Leonardo Machado Pitombo (Construção Civil)

Município com cerca de 30 mil habitantes e perto de dois mil quilômetros quadrados de área, o que o caracteriza como o maior em extensão territorial do Estado de São Paulo, Iguape contou com a atuação de rondonistas da Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp – antigo Centro Superior de Educação Tecnológica (Ceset) de Limeira – e do Centro Universitário Monte

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71Serrat, de Santos. A equipe da Unicamp concentrou suas atividades no bairro Agrovila, situado a 35 quilômetros da cidade e com aproximadamente 42 famílias.

Para conhecer a qualidade ambiental da região aplicamos um questionário junto aos mora-dores. Os principais problemas apontados estavam relacionados à saúde, saneamento e falta de infra-estrutura geral. Nossa equipe também percorreu outros locais para conhecer o potencial turístico da cidade, fazer análise de água de poços artesianos e orientar como construir a com-posteira doméstica para transformar material orgânico em adubo.

No período em que permanecemos em Iguape notamos a necessidade de conscientizar a população com relação ao lixo gerado em suas casas – problema visto tanto na área rural como no centro da cidade, onde há coleta de lixo regular, além de uma coleta seletiva simples. Obser-vamos ainda que tanto o lixo comum quanto o entulho eram despejados pelas ruas do centro.

Para nossa equipe um aspecto marcou: no Rondon não existem diferenças entre professores e alunos, pois o aprendizado é mútuo. Porém, uma análise final aponta aspectos que podem contri-buir para futuras operações: o reconhecimento das necessidades do município antes da execução da proposta do projeto, a apresentação de dados de operações anteriores, haver multidisciplinarie-dade na equipe, promover maior interatividade dos alunos com a população e focalizar a atuação nos cursos de capacitação e formação de agentes multiplicadores.

A atuação em Iguape foi uma oportunidade ímpar de colocar os conhecimentos à disposi-ção de quem dele necessita sem, no entanto, achar que o conhecimento formal e acadêmico é a única forma de se resolver os problemas. Dentro dos preceitos do Projeto Rondon, de não gerar expectativas, de não criar conflitos e de não promover o assistencialismo, nossa equipe acredita ter cumprido o seu dever.

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75PEDRO DE TOLEDO São Paulo - SP

Equipe

Sigisfredo Luis Brenelli (Coordenador)

Regina C. Oliveira (Coordenadora)

Alex de Oliveira (Medicina)

Leonardo Henrique Mendonça de Oliveira (Medicina)

Silvio Mistro Neto (Medicina)

Alexandre Pavia Junior (Geografia)

Thiago Rodrigues Gonçalves (Geografia)

Pouco mais de 10 mil habitantes distribuídos em 471 quilômetros quadrados e uma inu-sitada proposta de trabalho nas mãos: antes da partida, nossos alunos de Medicina elaboraram projeto de pesquisa científica, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Huma-nos, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Com isso, nossa experiência em Pedro de Toledo resultou em trabalhos de cunho científico.

No 44º Congresso Brasileiro de Educação Médica, no Rio Grande do Sul, apresentamos “O contato do aluno com a realidade do sistema de saúde e o amadurecimento da relação médico paciente: uma ação desenvolvida no contexto do Projeto Rondon”, no qual destacamos a im-portância e as nuances do projeto em relação ao aprendizado médico.

Já no 3º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, em Santa Catarina, apresentamos “O Projeto Rondon possibilitando contato do aluno de Medicina com o sistema público de saúde e seu envolvimento em ação multidisciplinar”, em que destacamos a importância do contato multidisciplinar com os alunos de Geografia para a obtenção de uma visão global do ser humano.

Outras produções científicas puderam ser estruturadas, uma vez que realizamos levanta-mento de dados clínicos básicos junto à população de Pedro de Toledo (pressão arterial, glice-mia sanguínea, peso e altura) e aplicamos questionários estruturados e validados para pesquisa epidemiológica.

Entendemos que vários aspectos envolvem a participação numa operação Rondon. Des-tacamos o conhecimento de uma realidade brasileira repleta de problemas sociais, o desen-volvimento de uma visão mais crítica e simultaneamente mais criativa por parte de alunos e professores e, finalmente, uma experiência de convivência social muito enriquecedora.

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76 Se por um lado o Projeto Rondon é eficiente ao colocar alunos em contato com essa reali-dade, unindo áreas distintas e possibilitando novos horizontes de conhecimento, também deve buscar uma abordagem científica do contato que ele proporciona, possibilitando a formulação de ferramentas para promover e divulgar o conhecimento e, em outras etapas, trazer benefícios à população assistida.

Depoimento

Na atuação criteriosa, a aplicação de conhecimentos

A participação em Pedro de Toledo foi de grande valia para os estudantes e pro-fessores, uma vez que a troca de experiências e idéias no ato de planejar, executar e refletir a respeito dos resultados obtidos trouxe grande contribuição ao entendimento daquela realidade local, à aplicação de conhecimentos básicos e à forma de se tra-balhar.

A aplicação de conceitos básicos de epidemiologia e clínica médica deu aos alu-nos do curso de Medicina a real dimensão da problemática médica no Brasil, uma vez que, apesar de estarmos a menos de 150 quilômetros da capital, os problemas eram gravíssimos, comparáveis as áreas amazônicas ou do nordeste brasileiro.

Aos estudantes de Geografia, a participação na Operação Vale do Ribeira possi-bilitou a aplicação de conhecimentos técnicos, além de forte estímulo à capacidade de planejamento e execução de projetos; análise ambiental local e compreensão dos problemas regionais e de todos aqueles ligados ao ciclo agropecuário, em especial à bananicultura (devido a ocupação de terras, grilagem, disputas pela terra, problemas ambientais como assoreamento, contaminação de solo e água).

Além disso, os estudantes tiveram contato muito próximo com a realidade técnica e política de uma prefeitura carente de recursos e de pessoal capacitado, o que per-mite uma perfeita compreensão da dificuldade de trabalho no setor público brasileiro. Além disso, era evidente o descontentamento de membros do poder público com os dados obtidos e a não realização de tarefas solicitadas a ambas as equipes – a nossa e da Universidade de Franca (Unifran) – apesar de todos os pedidos serem criteriosa-mente analisados e, quando inviáveis, serem perfeita e tecnicamente justificados aos solicitantes.

Alexandre Pavia Junior (Geografia)

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77TAPIRAÍ São Paulo - SP

Equipe

Paulo Maria Ferreira de Araújo (Coordenador)

Aline Trombini (Geografia)

Priscilla Moreira Argentin (Geografia)

Rafael Galeotti de Lima (Geografia)

Ana Claudia Vaz Tostes (Medicina)

Nathália da Silva Braga (Medicina)

Paola Keese Montanhesi (Medicina)

Diferentes ações foram realizadas nos onze dias de efetivo exercício em pesquisa-ação, junto à comunidade de Tapiraí – município com cerca de oito mil habitantes e 755 quilômetros quadrados de área territorial, onde nossas ações se concentraram no plano A, sobre Cidadania e Bem Estar, ao lado da equipe do Centro Universitário de Franca (Unifacef), cujas ações visavam a implementação da gestão pública e o incentivo ao desenvolvimento local sustentável.

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78 Nosso principal papel foi estimular, suscitar, dinamizar, fomentar e orientar em diferentes instân-cias a discussão para identificação de alternativas, que viabilizassem a expansão da prática de cidadania e a conquista do bem estar. Para isso, a educação, a saúde e o meio ambiente seriam como eixos norte-adores, numa perspectiva do município caminhar rumo ao perfil de uma comunidade saudável, segundo preceitos da modernidade.

Nossa atuação começou com reuniões com representantes das lideranças locais – diretores de escola, secretários da prefeitura, vereadores, líderes comunitários, agentes de saúde, entre outros – e uma série de visitas para conhecer as diferentes áreas da cidade e entrar em contato com mora-dores locais. Buscávamos subsídios para a elaboração de um diagnóstico da cidade.

Participamos das atividades do programa Escola da Família, no qual apresentamos diferen-tes temas: alimentação saudável, educação ambiental, educação sexual, expressão artística na exposição do cartunista Péricles com o “Amigo da Onça” e um treinamento com o jogo Evoluin-do Saúde, que dimensiona de forma simples o conceito multidisciplinar de saúde a partir de temas atuais e importantes (como dengue, doenças sexualmente transmissíveis, corpo humano, acidentes domésticos, cidadania, esporte, genética e trabalho, entre outros temas).

Na expectativa de melhor conhecer os membros do Clube da Melhor Idade, organizamos um baile/seresta para a comunidade vivenciar a realidade das políticas públicas do município voltadas para a terceira idade. Num julgamento quase unânime, o baile/seresta foi considerado um sucesso: tivemos inclusive a presença de algumas autoridades como o prefeito da cidade e secretários.

No distrito do Turvo, onde predomina a população mais carente, realizamos oficinas com crianças e adolescentes. Mesmo trabalhando sob efeito de alguns atropelos e condições pre-cárias, conseguimos nos integrar com a comunidade e promover e desfrutar de momentos inesquecíveis para todos.

Em nossa segunda semana, ainda visando compor nosso diagnóstico da cidade, desenvol-vemos outras visitas e promovemos novas reuniões, nas quais realizamos oficinas de capacita-ção voltadas para professores ou para agentes de saúde. Ao final dos trabalhos concluímos: este Projeto Rondon foi mais que uma experiência rica e sugerimos a continuidade dessa pesquisa--ação em Tapiraí.

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82 Para dar sequência ao trabalho iniciado em atividades anteriores do Projeto Ron-don e implementar novas ações sob demanda das comunidades, 112 professores e estudantes de 16 instituições de ensino superior foram designados para a Operação Amazônia Ocidental 2007, em onze municípios dos Estados do Acre, Amazonas e Ro-raima, para atividades relacionadas ao bem-estar, cidadania, desenvolvimento local sustentável e gestão pública. A Unicamp enviou uma equipe para Atalaia do Norte, no Estado do Amazonas.

ATALAIA DO NORTE Amazonas - AM

Equipe

Hiroshi Paulo Yoshizane (Coordenador)

Carmenlucia Santos (Coordenadora)

Fábio Santana de Oliveira (Medicina)

Adriana Ribeiro Francisco (Saneamento Ambiental)

Karina Zanetti de Souza (Saneamento Ambiental)

Leonardo Rey Oliveira Lopes (Saneamento Ambiental)

Marcelo Lemos Buffon (Saneamento Ambiental)

Samuel Ricardo Dos Santos (Saneamento Ambiental)

Com cerca de 15 mil habitantes e pouco mais de 76 mil quilômetros quadrados de área territorial, Atalaia do Norte surgiu em fins do século 19 na divisa do Brasil com o Peru. Sua economia é baseada na produção agropecuária, principalmente o cultivo de mandioca, além de farta extração de madeira e borracha. Os problemas encontrados por nossa equipe estavam relacionados com a falta de tratamento de água e de esgoto, ausência de gerenciamento de lixo e principalmente falta de infra-estrutura para o seu desenvolvimento, além de problemas sociais e de saúde, como malária, uso de drogas, alcoolismo, doenças sexualmente transmissí-veis, gravidez precoce e prostituição.

De forma aleatória, realizamos uma série de entrevistas com a população para levantar dados, opi-niões e sugestões para nossos trabalhos. O apoio por parte da prefeitura foi praticamente nulo; o grande apoio que tivemos foi da Secretaria de Ação Social, que se empenhou em transmitir informações sobre as demandas do município e nos auxiliou a organizar algumas atividades com a comunidade. Também recebemos apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que nos repassaram informações que auxiliaram no desenvolvimento dos trabalhos.

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83Assim focamos nossas ações na conscientização da população, estudantes e indígenas sobre a qualidade da água, as doenças relacionadas ao consumo de água não tratada, doenças sexual-mente transmissíveis (DST) e formas de prevenção. Prevendo as dificuldades de infra-estrutura que teríamos para desenvolver das atividades, levamos materiais obtidos junto à Secretaria de Saúde de Campinas e a Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp, além de material de papelaria adquirido pelos próprios alunos. Realizamos palestras em escolas, na Casa de Apoio ao Indígena, no Ginásio Municipal de Esportes, em uma igreja evangélica, numa escola municipal e na Comunidade de São Pedro, localizada fora do limite urbano do município e onde moram peruanos que vivem no Brasil.

Os desafios encontrados pela equipe foram proporcionais à grandiosidade da beleza e en-cantamento da região amazônica. Dentro de nossas habilidades e espaço de tempo, desenvol-vemos um trabalho voltado para o despertar da conscientização e, acima de tudo, aprendemos muito sobre as diferenças culturais e a alegria da vida na simplicidade. Também aprendemos que uma simples palestra, desprovida de qualquer recurso tecnológico ao qual estamos acos-tumados, pode contribuir para a melhoria do bem-estar de uma pessoa, um grupo de jovens, uma comunidade.

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A atuação pelo Projeto Rondon em Atalaia do Norte foi uma experiência indescrití-vel: nos deparamos com uma realidade que jamais poderíamos imaginar. Das paisagens exuberantes à intervenção com a população, vivemos momentos que permanecerão em nossas mentes e corações.

Na chegada ao município de Atalaia do Norte observamos um povo humilde, carente, cheio de esperanças e de calorosa recepção. Nos primeiros dias conhecemos a estrutura da cidade e entramos em contato com representantes de órgãos públicos, que nos retrataram a situação local do município, composto pela população central do município, as comunidades ribeirinhas e diferentes etnias indígenas. Os principais problemas identificados eram a falta de saneamento básico, saúde e problemas so-ciais, como drogas e prostituição.

Nosso trabalho consistiu de uma série de palestras e cursos de capacitação para a comunidade, inclusive para a Casa de Apoio ao Índio (Casai). Um dos momentos mais marcantes foi ministrarmos palestras com traduções simultâneas em quatro etnias: Mayu-runa, Kanamary, Matis e Marubo. Era fascinante conversar com os índios e conhecer as histórias da formação e organização de seus povos, suas lendas, culturas e leis.

Consegui não apenas transmitir conhecimentos técnicos adquiridos na Univer-sidade, mas aprender muito com o meu próximo. Além disso, com o auxílio do meu grupo, fui capaz de realizar esse incrível projeto.

Adriana Ribeiro Francisco (aluna de Saneamento Ambiental)Operação Amazônia Ocidental 2007Equipe Atalaia do Norte (AM)

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85Foi uma experiência incrível participar deste projeto, por desvendar parte dessa grandiosidade chamada Brasil e conhecer um lugar totalmente diferente de nossa re-alidade. Tive bastante contato com o povo local e posso garantir que só tive a ganhar com isso. As pessoas são maravilhosas, receptivas, festivas, humildes e felizes.

Aprendemos muito com a simplicidade daquelas pessoas, que financeiramente têm tão pouco e são tão ricas culturalmente falando. Na minha opinião, elas merecem atenção, respeito e toda a estrutura necessária para uma melhor qualidade de vida.

Marcelo Lemos Buffon (aluno de curso Saneamento Ambiental)Operação Amazônia Ocidental 2007Equipe Atalaia do Norte (AM)

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86 A operação foi uma aventura mágica, única e de agregação de valores profissio-nais e pessoais. Foram 20 dias de aprendizagem contínua de convivência, paciência, estratégias, planejamento e de dedicação.

A maior satisfação foi receber o carinho e os agradecimentos das pessoas que participaram de nossas atividades – desde senhoras de idade até as queridíssimas crianças, me cativaram. A experiência com os indígenas foi única! Incrível a sensibi-lidade, coragem, determinação que eles possuem. São pessoas muito especiais, seres humanos raros.

Por outro lado, foi enriquecedor expor parte de nosso conhecimento para uma pla-téia tão interessada e acolhedora, que vive numa região carente de desenvolvimento sócio-ambiental, porém com alto potencial em qualidade de vida.

Diante de dificuldades que encontramos (logística municipal, clima, apoio) fiquei satisfeita com os objetivos alcançados e as idéias que surgiram para futuras operações rondonistas. Com certeza, vamos levar essas experiências para outras atividades da nossa vida!

Karina Zanetti (aluna de Saneamento Ambiental) Operação Amazônia Ocidental 2007 Equipe Atalaia do Norte (AM)s

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87Em nossa missão pelo Projeto Rondon tudo era novidade: as pessoas, as casas de madeira em palafitas, o comércio, os costumes e, principalmente, o comportamento e a fisionomia das pessoas – indígena misturada com andina, de pele bem morena, queimada pelo sol. No entanto, o que mais impressionou foi o visual de pobreza. Enquanto coorde-nador do grupo Atalaia do Norte, em janeiro de 2007 pude diagnosticar, na região do ex-tremo ocidente do Amazonas, a necessidade de tratamento de água potável e de sistema de tratamento de esgoto naquela região.

Num levantamento de dados estruturais de saneamento básico ambiental diag-nosticamos a disposição a céu aberto do esgoto sanitário, que segue direto pela lateral das ruas – local onde os pedestres pisam e as crianças brincam, apoiando as mãos sobre o precário pavimento asfáltico, com muitas fezes de cães e gatos. Como não há rede de esgoto, o fluxo segue direto pelos meandros sob as palafitas das casas de madeira. Sabe-se que estruturalmente esse tipo de construção é o mais recomendável, pela característica do solo argiloso e muito úmido, porém atrai ratos, aranhas e insetos voadores como pernilongos (carapanã) e borrachudos (pium).

Em São Pedro, uma distante comunidade que visitamos, a situação não é diferen-te. Vimos que os principais problemas são o saneamento básico, a qualidade da água potável e doenças regionais. Porém, o que mais nos surpreendeu é que a comunida-de sobrevive de forma sustentável da caça e da pesca, do plantio de mandioca e do extrativismo natural de frutas – ou seja, eles não devastam quando colhem os frutos.

Uma parte da Amazônia que conheci Prof. Hiroshi Paulo Yoshizane Faculdade de Tecnologia da Unicamp

Participar do Projeto Rondon foi uma experiência única para mim. Encontrei uma região com muitos desafios, mas com um povo que irradia felicidade. A grande riqueza em recursos naturais permite que não haja fome na região, apesar do número considerável de desnutridos.

Em contraste, apesar da grande oferta de recursos hídricos, a água oferecida à população tem baixa qualidade e a grande maioria da população sequer tem acesso ao saneamento básico.

A questão das comunidades indígenas também me surpreendeu. Grande parte tem padecido de doenças como hepatite, malária ou mesmo gripe. Muitas crianças sofrem de pneumonias e verminoses. O alcoolismo tornou-se uma chaga desoladora, levando muitos ao extremo de consumir gasolina.

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88 O que eu trouxe de mais valioso foram as experiências compartilhadas durante as atividades e entrevistas. As histórias de vida daqueles com quem tive o privilégio de conversar colaboraram para que eu refletisse sobre o que realmente devo dar im-portância.

Minha compreensão sobre o verdadeiro significado da extensão universitária expandiu-se e amadureceu. O universitário, principalmente aquele oriundo de uma instituição pública, tem uma dívida social que não pode fugir da responsabilidade de resgatá-la. Hoje, percebo que existe um grande potencial nos alunos, no sentido de levarem conhecimento e tornarem-se verdadeiros atores sociais.

O projeto Rondon tem um papel muito importante na formação do aluno, seja ele de qualquer área. Fiquei impressionado também com a organização do exército e do seu trabalho para proteger e vigiar uma área tão vasta, com um efetivo reduzido. Incentivo a todos que busquem participar deste programa.

Fábio Santana de Oliveira (aluno de Medicina) Operação Amazônia Ocidental 2007 Equipe Atalaia do Norte (AM)

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96 Distribuídos em 22 municípios dos estados do Pará, Maranhão e Tocantins, 353 rondonistas participaram desta operação. Os estudantes e professores realizaram ativi-dades nas áreas de bem-estar, cidadania, desenvolvimento local sustentável e gestão pública. A Unicamp esteve presente em dois municípios do Pará: em Abel Figueiredo, ao lado da equipe da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucurí; e em Bom Jesus do Tocantins, com a equipe da Universidade Federal de Lavras.

ABEL FIGUEIREDO Pará - PA

Equipe

Profa. Maria Salette Mayer de Aquino (coordenadora)

Prof. Elói Lima (coordenador)

Arleide Dantas (Controle Ambiental)

André Martelli (Engenharia Mecânica)

Isabela Trombetta (Controle Ambiental)

Henrique Ferreira (Controle Ambiental)

Heloísa Fagundes (Controle Ambiental)

Ronaldo da Silva (Tecnologia da Construção Civil)

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97Entre janeiro e fevereiro de 2007 nossa equipe atuou em um dos mais novos mu-nicípios do sudeste do Pará: Abel Figueiredo, emancipado em 1991 e que recebeu este nome em homenagem a um ex-deputado da região. Possui uma das menores áreas entre os 143 municípios do Estado e sua população gira em torno de 12 mil habitantes – são prin-cipalmente mineiros, baianos, maranhenses e capixabas.

Com economia baseada na pecuária extensiva e na extração de madeira, em sua estrutura o município conta com 15 escolas – nove na zona rural e seis na zona urbana – e cerca de três mil alunos matriculados. Possui quatro postos de saúde e um hospital municipal. Faz coleta de lixo, porém não dispõe de aterro sanitário. Em Abel Figueiredo, que tem energia pela Hidrelétrica de Tucuruí, há uma retransmissora de TV e uma rádio comunitária. Entre as atrações turísticas destaca--se o Rio 92, que banha a cidade.

Os principais problemas diagnosticados e que nortearam nosso trabalho foram o desempre-go, o desmatamento e o saneamento básico. Para estimular o empreendedorismo oferecemos um curso para a formação de 40 agentes de microcrédito produtivo orientado. Com doações que somaram R$ 900,00, estabeleceu-se um fundo para empréstimos que possibilitou à popu-lação a formação de grupos de culinária, música e artesanato.

Outra atividade foi a recomposição de mata ciliar, a partir da construção de viveiros e plan-tios realizados por estudantes. Para isso a equipe da Unicamp se reuniu com alunos de todas as escolas. Árvores foram plantadas, marcando o início de nossas atividades, e assim a recu-peração de mata ciliar foi abordada de forma interdisciplinar, inserida no programa pedagógico de todas as escolas da cidade.

Também foi construído e instalado um clorador na caixa d’água central da cidade, para a de-sinfecção da água na rede de distribuição. Análises nas águas captadas em residências revelaram um surto de dengue e nossa equipe orientou como desinfetar a água utilizando pastilhas de cloro, fornecidas pela Prefeitura. No final deixamos inúmeros projetos, como para instalação de um aterro sanitário na cidade e estudos para a viabilização de projeto de cooperação com a Unicamp.

As ações implementadas em Abel Figueiredo – com o apoio irrestrito da Prefeitura local e da equipe-irmã, da Universidade dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – puderam ser realizadas graças a atuação de estudantes de engenharia e das áreas de meio ambiente.

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98 Esta foi uma experiência de fundamental relevância para a formação integral da equipe. Em nossa avaliação observamos que foi um choque presenciar o desmatamento daquele território, bem como a impotência que se tem frente a tão grande desafio. Por outro lado, para nós também foi unânime a importância de poder conhecer uma parte tão significativa do Brasil, a Amazônia.

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99BOM JESUS DO TOCANTINS Pará - PA

Equipe

Marisa Dibbern Lopes Correa (Coordenadora)

Salvador Carpi Júnior (Coordenador)

Alexandre Pavia Junior (Geografia)

Fernanda Lodi Trevisan (Geografia)

Luiz Carlos Biason Junior (Geografia)

Francisca Sueli Alves (Enfermagem)

Maria Carolina Silvano Pacheco Corrêa Furtado (Enfermagem)

Rogério Eduardo da Costa Moraes (Enfermagem)

Com pouco mais de 13.500 habitantes e área territorial de 2.816 quilômetros quadrados, Bom Jesus do Tocantins é um município recente: foi criado por lei no final dos anos 80, de uma área desmembrada do vizinho São João do Araguaia. Sua principal atividade econômica é a pecuária, de gado leiteiro e de corte, ao lado da produção de carvão vegetal, que alimenta os fornos das indús-trias minero-metalúrgicas instaladas nos municípios de Marabá e Tucuruí. A extração de madeira, sobretudo para exportação, e a coleta de castanha-do-pará são outras atividades de reconhecido valor para a região.

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100 A saúde de seus habitantes, no entanto, foi um dos pontos mais enfatizados por nossa equipe: a cidade registra muitos casos de problemas pulmonares, desnutrição e hepatite. O município é muito grande em extensão, algumas vilas ficam há mais de 40 quilômetros de distância e a única unidade de saúde localiza-se na cidade. Como a nossa intenção não era meramente introduzir assistência, aplicamos um questionário socioeconômico e cultural para conhecer a realidade local e levamos materiais educativos, com a missão de capacitar agentes de saúde. Também visitamos escolas públicas e oferecemos palestras de educação sexual para professores, pais e alunos.

Para alcançar nossos objetivos, várias reuniões aconteceram com representantes de diver-sas secretarias e fizemos vários subgrupos para trabalhar pela cidade. A realidade impressionou a todos. A população é carente de tudo: falta água, coleta de lixo, rede de esgoto e principal-mente condições de educação à população. É muito comum encontrar casas com famílias mui-to numerosas, com até 14 filhos. As casas com poços têm fossa bem ao lado, daí imaginamos a qualidade da água. Num dos bairros mais pobres descobrimos que o aluguel de uma casa sem água, sem energia elétrica é de R$ 20,00/mês e uma casa de pau-a-pique chega a valer R$ 1.400,00.

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101Outras ações realizadas foram visitas às minas da cidade e ao lixão, para identificação e solução de problemas. Tivemos grande empenho no que se refere à coleta seletiva e reciclagem do lixo. Outra ação importante foi com uma aldeia indígena localizada num bairro pobre, onde prestamos orientações sobre doenças sexualmente transmissíveis. Assim, envolvemos tanto o conjunto A quanto o B das ações do Projeto Rondon e integramos as equipes da Federal de Lavras e da Unicamp.

Para todos, a experiência foi enriquecedora, sobretudo para os alunos que tiveram a oportuni-dade única de atuar em diferentes áreas do conhecimento, entre elas bem-estar, gestão pública, cidadania e desenvolvimento local sustentável, desenvolvendo tarefas que envolveram estreito relacionamento com gestores públicos, lideranças da comunidade e moradores da localidade.

Depoimentos

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102 O calor era imenso; a gente não tem idéia do quão quente e abafado um lugar pode ser. Mas falando do trabalho: logo que foi aberta oficialmente nossa temporada, nos reunimos com a prefeita Luciene e todos os secretários da cidade. Só faltou o da agricultura, que é um índio e mora na tribo.

Várias atividades aconteceram: visita as minas da cidade e à aldeia indígena, inspeção ao lixão, a um bairro pobre onde passamos orientações sobre doenças sexu-almente transmissíveis; além de reuniões com secretarias da assistência social, obras, esportes e saúde. Nosso maior empenho era com a coleta seletiva e reciclagem do lixo. Assim, envolvemos tanto o conjunto A quanto o B de atividades do Projeto Rondon e integramos as equipes. Aliás, a UFLA e a Unicamp foram irmãs em tudo. A convivên-cia foi ótima e houve muita troca de informações.

Marisa Dibbern Lopes Correa (coordenadora)Operação Amazônia Oriental 2007Equipe Bom Jesus do Tocantins (PA)

Abel Figueiredo, o retorno 35 anos depois

Em meados de 2007 o município de Abel Figueiredo recebeu duas equipes de rondonistas: uma da Universidade Estadual de Campinas e outra da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. A população jovem de pronto ficou interessada com as propostas de trabalho, enquanto o restante dos moradores se ali-mentou de profunda nostalgia: no início da década de 70, rondonistas das regiões sul e sudeste do país atuaram no povoado que se formava e que deu origem ao município, no quilômetro 92, da então rodovia PA-70.

Naquela época, o povoado constituía-se de um amontoado de casebres habitados por migrantes de outras regiões do país e não pôde oferecer muita colaboração para a infraestrutura necessária à realização dos trabalhos, pois carecia absolutamente de tudo. Em 2007, aproximadamente 35 anos depois, o povoado agora emancipado pôde interferir positivamente no processo, oferecendo aos rondonistas todas as condições para o sucesso do trabalho, envolvendo todas as secretarias de governo, em especial as de Saúde e de Educação.

A presença de rondonistas em Abel Figueiredo provocou impacto positivo na to-mada de consciência da comunidade, em sua participação no processo de desenvol-vimento local. Além disso, por servir como instrumento de cidadania, na medida em que despertou não apenas o aprender a fazer, mas o aprender a cobrar uma postura

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103mais ética e comprometida dos gestores municipais, no planejamento e execução de prioridades nos serviços de infraestrutura, que venham a melhorar a qualidade de vida da população.

Vale ressaltar o profissionalismo, o espírito científico e o empreendedorismo das coordenações das duas universidades, consagrando o sucesso da participação de to-dos no evento. As atividades desenvolvidas pelas duas equipes foram bem executadas, deixando grandes lições para a população que, certamente, reverterão em iniciativas comunitárias de resgate de valores, perdidos ao longo do processo de crescimento da cidade e desenvolvimento da população.

Portanto, pela grande possibilidade de crescimento da relação de trabalho esboçada neste primeiro contato entre as equipes rondonistas e a população do município de Abel Figueiredo, queremos estar nos planos das duas universidades, nos próximos anos, para a continuidade do trabalho.

Hildefonso de Abreu Araújo – prefeito de Abel Figueiredo (PA)”

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Centenário da Comissão Rondon 2007

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N112 Homenagem aos cem anos do início dos trabalhos da Comissão de Linhas Telegráficas

Estratégicas, liderada pelo então major Cândido Mariano da Silva Rondon. A operação en-volveu 928 rondonistas em ações realizadas em 58 municípios dos estados do Acre, Ama-pá, Mato Grosso, Minas Gerais e Sergipe. A Unicamp enviou equipes para os municípios de Diamantino (MT), Feijó (AC), Laranjal do Jarí (AP) e Rosário do Catete (SE).

LARANJAL DO JARÍ Amapá - AP

Equipe

Kellen Maria Junqueira (Coordenadora - Engenharia Agrícola)

Felipe Francisco Da Silva (Ciências Econômicas)

Fernanda Rodrigues (Enfermagem)

Guilherme Silva Rossi (Ciências Econômicas)

Pedro Carvalho do Nascimento (Ciências Econômicas)

Raquel Prado Thomaz (Medicina)

Thalyta Cristina Mansano (Enfermagem)

“Aqui começa o Brasil!”. Esta frase, que ouvimos e lemos repetidas vezes, nos remete ao desejo de reconhecimento da região que só recentemente foi transformada em estado (1988), depois de muito tempo sem autonomia na condução de sua política. Em Laranjal do Jarí – mu-nicípio com pouco mais de 40 mil habitantes e área territorial de quase 31 mil quilômetros quadrados – devemos destacar, antes de tudo, a acolhida que recebemos da população da cida-de, para além da simpatia na troca de olhares e cumprimentos. A maioria é migrante de estados vizinhos, alguns já com famílias e emprego, mas muitos ainda estão instalados precariamente e sem perspectiva de melhorar sua qualidade de vida.

Nossa integração com a outra equipe que atuou no município, da Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná, foi muito positiva e repercutiu no apoio mútuo às atividades que cada uma desenvolveu. As ações de cidadania, que visam capacitar organizações da sociedade civil na defesa dos direitos de cidadania, se concentraram em palestras com associações de mora-dores e integrantes de uma ONG voltada às mulheres e também à comunidade atendida nas escolas da rede pública. Além disso, oferecemos capacitação aos professores no atendimento a portadores de necessidades educativas especiais.

Já nas ações de bem estar enfatizamos com a Associação de Parteiras Tradicionais de La-ranjal do Jarí e suas integrantes o incentivo ao trabalho e o uso de plantas medicinais – orienta-

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113mos a concepção e instalação de uma horta, à disposição de todas as parteiras da comunidade, incluindo a confecção de apostila com a relação das plantas medicinais mais utilizadas, sua finalidade terapêutica e posologia.

O tema educação sexual também mereceu nossa atenção. Atendendo a demanda da popu-lação realizamos oficinas com orientações sobre as doenças sexualmente transmissíveis mais comuns, explicando aos interessados a maneira de transmissão, sintomas, tratamento e preven-ção. Participaram professores, funcionários públicos e pessoas da comunidade.

Uma vez que a integração das equipes possibilitou que atuássemos nas ações de desenvol-vimento local sustentável, que incentivam o cooperativismo e o associativismo para a geração de renda, pudemos compartilhar experiências de cooperativas e de assentamentos da região sudeste e lá deixamos uma publicação com alternativas viáveis de manejo agrícola sustentável em áreas de parque. Outras ações realizadas foram oficina de brinquedoterapia para professo-res, funcionários públicos e pessoas da comunidade, orientações às profissionais do sexo para se organizarem em prol dos direitos da mulher, e dinâmicas com as crianças e adultos de um assentamento local sobre higiene pessoal e prevenção de doenças endêmicas da região: febre amarela, dengue, leishmaniose, tifo e malária.

O Projeto Rondon nos proporcionou a oportunidade de ver muitas diferenças existentes entre as regiões, mas acreditamos será preciso muito esforço e trabalho, e um certo tempo, para prover mais qualidade de vida, bem-estar, dignidade e desenvolvimento àquela esta população, de maneira independente, possibilitando a eles próprios sua sustentação e gestão.

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N114 DIAMANTINO Mato Grosso - MT

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Glauber José Vaz (Coordenador)

Marilia Vieira Soares (Coord. adjunto - IA)

Felipe Silva de Oliveira (Informática)

Jóice Curvelano Freire (Educação Física)

Luara Rebechi (Saneamento Ambiental)

Lucas Fiore (Medicina)

Maísa Harumi Morey (Saneamento Ambiental)

Viviane Sayemi Ito (Enfermagem)

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115Criar oportunidades para a geração de renda é o maior desafio da mato-grossense Diamantino, cidade fundada há mais de 270 anos e que está a 208 quilômetros da capital do estado, Cuiabá. Seus cerca de 20 mil habitantes contam com bons serviços nas áreas da saúde e educação, que são referência para a região – o município conta com escolas em assentamentos rurais, instituições de ensino técnico e superior, o que resulta em avanços em diferentes áreas.

Na Operação Centenário da Comissão Rondon a Unicamp enviou a nossa equipe, que ficou responsável pelo conjunto de atividades relacionadas à cidadania e ao bem-estar da população. As atividades foram organizadas de acordo com o público-alvo e as demandas identificadas pelos rondonistas.

Os universitários desenvolveram atividades relacionadas à educação ambiental e à educação sexu-al, organizaram brincadeiras e jogos que permitiram a expressão de crianças e adolescentes, além de estimularem a prática de esportes. Estas aconteceram em escolas e também no Lar Anjo Gabriel, casa que dá abrigo a crianças e adolescentes.

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N116 Com o objetivo de se refletir sobre as relações entre as pessoas e fortalecê-las foram feitos tra-

balhos corporais e vivências psicodramáticas, principalmente com grupos de funcionários públicos, inclusive os professores e os colaboradores do Lar Anjo Gabriel.

Também promovemos com merendeiras dos colégios públicos da cidade encontros sobre o aproveitamento integral dos alimentos e saneamento básico no ambiente de trabalho, e sobre a organização de feiras de saúde com funcionários da Secretaria de Saúde.

Direcionadas à população rural, ministramos palestras e oficinas sobre compostagem, so-bre purificação de água e limpeza de caixa d’água, além de palestras sobre hantavírus e hanse-níase, doenças em destaque na região e sobre as quais não havia muito esclarecimento.

As atividades que impulsionam o desenvolvimento da cultura no município também esti-veram incluídas em nossos trabalhos, além de eventos organizados pela própria comunidade, que eram estimulados e prestigiados pelos rondonistas. Por exemplo, o 1º Passeio Ciclístico de Diamantino e apresentações de música e dança em escolas.

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117Posso garantir que atividades programadas somente puderam ser viabilizadas porque os alunos tinham conhecimento técnico e motivação para realizá-las. As ações que envolviam, por exemplo, trabalhos corporais, saúde, meio ambiente e saneamento básico puderam ser feitas com qualidade devido à formação dos alunos da equipe em Educação Física Medicina, Enfer-magem, e Saneamento Ambiental.

Sem dúvida o Projeto Rondon é capaz de oferecer aos rondonistas uma oportunidade única de aprendizado e real contribuição à sociedade, sendo determinante na formação de profissio-nais mais sensíveis e atentos às necessidades das pessoas.

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N118 FEIJó Acre - AC

Equipe

Carmenlucia Santos (Coordenadora)

Elaine Prodócimo (Coord. Adjunta)

Eloisa Maria dos Reis dos Santos (Saneamento Ambiental)

Gabriela Cristina Ramos (Educação Física)

Gustavo Faria Ferreira (Medicina)

Luciana Bortoletto (Pedagogia)

Mário Luiz Rodrigues Foco (Saneamento Ambiental)

Rafael Augusto Tamasaukas Torres (Medicina)

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119O município de Feijó, localizado a 360 quilômetros de Cruzeiro do Sul, possui cerca de 25 mil habitantes. Sua ligação com a capital e demais localidades no verão, época de seca, é pela BR 364. No período de chuvas só é possível chegar por avião ou embarcações que navegam pelo Rio Envira, que banha o município. A cidade conta com uma boa infra-estrutura e parte das ruas é bem pavimentada.

Feijó é relativamente limpa, apesar de existir pontos com lixo jogado no chão, o que denota a necessidade de se conscientizar a população sobre educação ambiental. Carros de boi são usados para serviços como a retirada de entulho das vias públicas. Cerca de quatro toneladas de lixo coletadas diariamente são conduzidas a um lixão. O esgoto escorre a céu aberto, em valetas canalizadas, mas a água distribuída para a população é tratada. Em comunidades mais isoladas e regiões periféricas, no entanto, não existe qualquer tipo de tratamento.

Quanto à saúde, o município conta com um hospital e alguns postos de atendimento, inclusive voltados à saúde e educação dos indígenas. As áreas de educação e esportes são bem estruturadas, as escolas são equipadas e os locais para as práticas de lazer e esportes encontram-se em bom estado de conservação.

Nossas ações durante a Operação Centenário se concentraram em cursos de capacitação e oficinas para professores de escolas públicas, para agentes de saúde e funcionários do hospital, bem como palestras informativas para estudantes e grupos de jovens, além de atividades com idosos e a população em geral.

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Dentro dessas atividades destacamos o incentivo à prática de leitura e a elaboração de textos, as práticas de esportes, orientações sobre sexualidade, doenças sexualmente transmis-síveis, Aids, planejamento familiar, álcool e tabagismo, além de saúde da família, as doenças mais comuns; método de desinfecção de água por radiação solar e fossa séptica, meio ambien-te e cidadania, bem como gerenciamento de resíduos hospitalares.

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121Além dos cursos de capacitação foram realizadas atividades que permitissem uma maior inte-ração com a população de Feijó. Por exemplo, a cicleata temática. Em meio a pedaladas transmiti-mos mensagens de estímulo a preservação do meio ambiente, de hábitos saudáveis de alimentação e de prática de exercícios regulares.

Também promovemos uma oficina de reciclagem de materiais e o “Festival Cultural Rondon Feijó 2007 – Cultura, Turismo, Saúde e Meio Ambiente”, em parceria com a Secretaria de Cultu-ra, Esportes e Lazer e com apoio da Secretaria de Educação e do Núcleo Estadual de Educação de Feijó e da Secretaria de Saúde. O festival teve como principal objetivo a confraternização entre todos os que participaram das atividades e foi a despedida dos rondonistas com a cidade.

Os conhecimentos que levamos à população foram muito importantes e acreditamos que ainda são utilizados com êxito por parte dos professores, agentes comunitários, enfermeiros e o grupo de teatro. Vale destacar que, além de atuarmos como professores, participamos como alunos: aprendemos muito com o povo de Feijó, conhecimento esse não vindo de salas de aula, palestras ou capacitações, mas da convivência do dia-a-dia com esse povo tão simples que, apesar de todas as dificuldades, sabe ser feliz com o que possui e está sempre disposto a rece-ber as pessoas com o mais sincero sorriso no rosto.

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N122 ROSÁRIO DO CATETE Sergipe - SE

Equipe

Hiroshi Paulo Yoshizane (Coordenador)

Déborah Cristina de Oliveira (Enfermagem)

Edson Antonio Mengatto Júnior (Geografia)

Gustavo Bigolotti Panosso (Engenharia Mecânica)

Henrique Cury Casula (Engenharia Mecânica)

Lara Costa Dias (Educação Física)

Natally Annunciato Siqueira (Saneamento Ambiental)

Ricardo Alves Nogueira (Ciências Econômicas)

Distante 37 quilômetros da capital Aracaju e detentor da maior reserva de potássio da América Latina, o município Rosário do Catete abriu suas portas para a equipe de rondonistas da Unicamp e do Centro Universitário do Triângulo (Unitri), do Triângulo Mineiro. Com cerca de nove mil habitantes e 105 quilômetros quadrados de área territorial, o município requer principalmente ações voltadas à educação ambiental.

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123Nossa atuação foi um sucesso, graças ao suporte logístico das forças armadas e o apoio da Prefeitura, da Companhia Vale do Rio Doce e da Petrobrás; mas principalmente pelo esforço de cada integrante do grupo, procurando sempre se doar ao máximo para a missão, tão impor-tante não só para si, como para o município e o nosso Brasil. Pudemos cumprir tudo o que foi previsto e planejado desde a viagem precursora, inclusive por causa da integração das equipes de universitários nas atividades.

Recreação e esportes, marcada por competições em diversos tipos de jogos, foi uma das atividades que envolveu a todos, independente da área de estudo – eram alunos de Engenharia Mecânica, Saneamento Geografia e de Educação Física da Unicamp, ao lado da área social da Unitrio. Realizamos palestras sobre as doenças sexualmente transmissíveis, fizemos campanha de coleta seletiva de lixo e construímos uma horta comunitária. A Vale do Rio Doce nos deu todo suporte para a implantação da horta, que em homenagem aos trabalhos dos rondonistas da cida-de recebeu o nome do coordenador da equipe da Unicamp, professor Hiroshi Paulo Yoshizane.

Tivemos o privilégio de conhecer de perto a mineração de potássio, ao visitar uma mina localizada a 580 metros abaixo da superfície, onde permanecemos durante três horas. Foi uma verdadeira viagem de estudos, que nos possibilitou conhecer de fato a temperatura geotérmica. Para trazer para o sudeste um exemplo da cultura sergipana, formamos em Rosário do Catete um conjunto de pífanos e não podemos deixar de mencionar a festa especial que a comunidade fez para os rondonistas. Ao final dos trabalhos percebemos a lição de vida e de cidadania real-mente foi vivida por todos nós.

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130 Realizada em 44 municípios dos Estados do Pará (31) e do Piauí (13), contou com a participação de mais de 700 rondonistas, vindo de várias partes do país. A equipe da Unicamp seguiu para o município de Limoeiro do Ajuru, no Pará.

LIMOEIRO DO AJURU Pará - PA

Equipe

Nir Cohen (coordenador)

Marisa Dibbern Lopes Correia (coordenadora)

Gabriel Piovesana Pereira Romeiro (Engenharia Elétrica)

Mônica Beraldo Campos (Medicina)

Murillo Moreno Augusto (Biologia)

Willian Fernando dos Santos (Engenharia Elétrica)

Ximenia Mariama de Souza (Medicina)

Limoeiro do Ajuru tem economia baseada no extrativismo do açaí e na exploração do palmito, além da pesca bem marcada pela presença da colônia dos pescadores. Os primórdios de sua povoa-ção remontam ao final do século 19 e seu nome advém do Rio Limoeiro, afluente do Rio Tocantins, e do vocábulo tupi Ajuru. Acredita-se que a hidrografia da região tenha contribuído para a consoli-dação da localidade.

O município tem 1.490 quilômetros quadrados e perto de 25 mil habitantes, que contam com um hospital, nove unidades básicas de saúde, energia elétrica, agência de correios e telégrafos, lotérica federal com agência bancária, biblioteca e escolas públicas de ensinos fundamental e médio (municipal e estadual). As atividades desenvolvidas pelos rondonistas da Unicamp, em janeiro de 2008, das quais participaram mais de 700 pessoas, são descritas a seguir.

Capacitação de integrantes da ONG “Mulheres em Ação”, capacitação de professores da rede pública do ensino fundamental no atendimento a portadores de necessidades educativas especiais, encontro com familiares e pessoas portadoras de necessidades especiais, encontros com famílias de crianças inseridas no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, encontro com o Grupo da Terceira Idade da cidade, grupos de trabalho com conselheiros do município, além de oficina de compostagem do lixo orgânico e de separação e reciclagem do lixo.

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131Promovemos importante palestra com agentes comunitários de saúde sobre o valor da água, a poluição dos rios e tratamentos alternativos da água para consumo da população. Outras ações foram abordagem sobre a matemática nos ensinos fundamental e médio com professores de alunos de curso de matemática; palestra com professores, diretores, líderes comunitários e alunos de graduação sobre sexualidade na escola, em sala de aula, estratégias e dinâmicas de grupo; palestras sobre sexualidade para adolescentes na escola e em dois bairros da cidade com elevados índices de doenças sexualmente transmissíveis e de gravidez precoce.

Os cursos ministrados foram de instalações elétricas, de manutenção preventiva de equi-pamentos hospitalares; e formação de Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, além de reuniões para implantação de indicadores de infecção hospitalar e vigilância epidemiológica das infecções hospitalares; e com a comissão organizadora da Conferência do Meio Ambiente dos Municípios da Ilha do Marajó. Fizemos ainda doação de livros sobre saúde da mulher para a biblioteca municipal, para as secretarias de saúde e da assistência social.

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132 Durante as duas semanas de atividades aconteceram aulas de ballet feminino infantil, apresentação de danças típicas, reativação da banda municipal e gincana com crianças e adolescentes da cidade, para integração entre os rondonistas e a população. Junto com a ou-tra equipe de universitários que esteve em Limoeiro do Ajuru, fizemos uma série de visitas e também destacamos o evento de encerramento, com exposição das atividades desenvolvidas, apresentações de ballet e da banda ensaiada pelos rondonistas, além da entrega de certificados aos participantes dos cursos e palestras diante de toda população.

Concluímos que os conhecimentos aplicados extrapolam qualquer currículo universitário, pois foi necessária uma fundamentação dos rondonistas, antes e durante a viagem, para que conseguissem o êxito apresentado na operação. Os alunos de Biologia, Medicina e Engenharia Elétrica ampliaram sua visão de mundo e conhecimento, a fim de oferecer à população carente da cidade uma nova visão de mundo, de cidadania e troca de experiências.

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L136 Organizada em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e a Fun-

dação Universidade Federal do Rio Grande (FURG), dela participaram 240 rondonistas, entre estudantes e professores universitários de 17 diferentes instituições de ensino superior de todo o Brasil. Suas ações foram realizadas em 15 municípios da região de Pelotas, entre os quais Arroio do Padre, que recebeu a equipe da Unicamp.

ARROIO DO PADRE Rio Grande do Sul - RS

Equipe

Paulo Maria Ferreira de Araújo (Coordenador)Albetiza Lôbo de Araújo (Coordenadora)Daniel Etore P. Vulcani (Medicina)Daniela Gobbo Donadon (Pedagogia)Gustavo dos Santos Zanetti (Ciências Sociais)Jonas Rafael Gazoli (Engenharia Elétrica)Majore Moraes Souza (Geografia)

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137Nesse município – antigo distrito de Pelotas, com área territorial de 124 quilômetros quadrados e onde as plantações de tabaco se destacam na economia de seus quase três mil habitantes – nosso principal papel foi o de estimular, suscitar, dinamizar, fomentar e orientar a discussão, em diferentes instâncias, para identificar alternativas que viabilizassem a expansão da prática de cidadania e a conquista do bem estar. A educação, a saúde e o meio ambiente foram os eixos norteadores, numa perspectiva de que o município pudesse caminhar rumo ao perfil de uma comunidade saudável, segundo preceitos da modernidade.

Reuniões, visitas, passeios e caminhadas permitiram o acesso da equipe a diferentes lo-cais da cidade, bem como o contato com moradores – a grande maioria descendente de pome-ranos, que imigraram de uma região histórica da Alemanha, hoje pertencente à Polônia. Numa tentativa de estimular a manifestação de demandas já sinalizadas na viagem precursora, ou ainda em pesquisa pelas equipes, diferentes propostas e adaptações foram experimentadas na forma de discursos, aulas e discussões; nas realizações de oficinas culturais, educacionais e científicas; em celebrações lúdicas de confraternização e descobertas pessoais e de grupos.

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L138 Tínhamos como desafio promover a mobilização das lideranças locais representadas pelo pre-

feito, vice-prefeito, secretários municipais, vereadores, diretores de escolas, além de professores, conselheiros municipais, representantes dos setores produtivos do município, e ainda estudantes dos vários níveis de escolaridade, grupos religiosos, comunidade agrícolas, minifúndios, agriculto-res, moradores e pessoas comuns.

A nossa permanência em Arroio do Padre foi pautada num corolário de inúmeros desafios, alguns deles inesperados, enriquecendo a nossa capacidade de improviso e de tolerância e pro-movendo um grande aprendizado. Uma série de interferências dificultou sobremaneira o conta-to dos seus moradores com as equipes do Rondon em ação: além da dificuldade de lidar com a estruturação urbana do município, as escolas estavam em recesso e ocorria o pico da colheita do fumo, que envolvia a mão de obra de grande parte da população. Mesmo assim, diferentes ações foram realizadas nos 13 dias de permanência, num efetivo exercício de pesquisa-ação junto à comunidade.

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139Depoimento

Ao conhecer uma realidade tão diferente da cidade grande e conviver com ela durante 15 dias, me fez entender que temos de abordar de diversas formas os conhe-cimentos médicos e de prevenção, por exemplo, do câncer de pele.

Para a população desse município é difícil aceitar e acreditar que o uso do prote-tor solar é realmente eficaz no combate à doença, provocada pelo excesso de exposi-ção ao sol. Eles entendem que vale mais gastar dinheiro em alimentação, do que num produto do qual não podem ver o resultado imediato.

Daniel Vulcano (Medicina)Operação Rio Grande do Sul 2008Arroio do Padre (RS)

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Inverno 2008Grão-Pará - Retorno

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O144 Realizada em 30 municípios dos Estados do Amapá, Bahia, Pará, Piauí e Sergipe,

viabilizou o retorno de 298 rondonistas aos municípios integrantes das operações re-alizadas em julho de 2007 e janeiro e fevereiro de 2008. Durante duas semanas, 27 diferentes instituições de ensino superior (IES) trabalharam ações específicas com os multiplicadores dos municípios. A equipe da Unicamp voltou ao município paraense de Limoeiro do Ajuru, onde também esteve a equipe da Universidade de Ensino do Sudo-este do Paraná (Unisep).

LIMOEIRO DO AJURU Pará - PA

Equipe

Domingos da Silva Leite (coordenador)

Renê José Trentin Silveira (coordenador)

Daniele Gonçalves (Biologia)

Danilo Ferreira Pereira (Engenharia Elétrica)

Geise Daniele Milagres Crepaldi (Pedagogia)

Lucas Frungillo (Biologia)

Mariana Dall’aqua (Enfermagem)

Thiago Campos Paixão (Engenharia Elétrica)

Quase seis meses após ter recebido alunos da Unicamp na Operação Grão Pará, o municí-pio de Limoeiro do Ajuru, no Pará, abriu suas portas para mais uma equipe de rondonistas. Por se tratar de uma operação de retorno do Projeto Rondon, focamos nossas atividades tanto em novas ações como naquelas anteriormente identificadas como necessárias.

Junto ao Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Pró-Jovem) do governo federal, desenvol-vemos ações relacionadas à educação sexual, higiene, profilaxia e prevenção de doenças; sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e ainda, de incentivo ao esporte e lazer (jogos cooperativos, oficinas de capoeira e de dança). Essas atividades também foram abertas à população.

Oficinas sobre produtos de limpeza ecologicamente corretos e produção de brinquedos com materiais recicláveis também estiveram no elenco de nossa atuação, assim como orienta-ções quanto à segurança em embarcações, erosão e assoreamento dos rios. Tivemos a oportuni-dade de visitar ilhas no interior do município, onde realizamos algumas ações – como profilaxia e prevenção de doenças, além de jogos cooperativos e discussões sobre os problemas locais.

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145Com o intuito de divulgar o uso de jogos aplicados à educação, realizamos encontros com professores da rede municipal de ensino. Por outro lado, para incentivar o turismo ecológico, desenvolvemos na Internet uma página para divulgação do município. Para encerrar a progra-mação, no período noturno promovíamos a exibição de filmes infantis no pátio da escola.

Ao final de nossa experiência, observamos que os estudantes tiveram a chance de colocar em prática os conhecimentos adquiridos na universidade, principalmente quando relacionados à higiene, profilaxia e prevenção de doenças.

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Norte de Minas 2008

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150 Numa das regiões mais carentes do país, o Vale do Jequitinhonha, cerca de 250 rondonistas de 30 instituições de ensino superior atuaram na Operação Norte de Minas, distribuídos em 16 equipes. Uma equipe da Unicamp seguiu para Curral de Dentro, que também recebeu estudantes e professores da Universidade Federal de Viçosa.

Numa das regiões mais carentes do país, o Vale do Jequitinhonha, cerca de 250 rondonistas de 30 instituições de ensino superior atuaram na Operação Norte de Minas, distribuídos em 16 equi-pes. Além de atividades relacionadas à cidadania e bem-estar, desenvolvimento local e sustentável e gestão pública, as equipes levaram ações inéditas, incluídas por orientação do Comitê de Orienta-ção e Supervisão do Projeto Rondon (COS) ou por sugestão dos prefeitos. A Unicamp enviou equipe para Curral de Dentro, que também recebeu estudantes e professores da Universidade Federal de Viçosa. Todas as atividades foram compartilhadas pelas duas equipes.

CURRAL DE DENTRO Minas Gerais - MG

Equipe

Eloi José da Silva Lima (Coordenador)

Andressa Teoli Nunciaroni (Enfermagem)

Gabriel Peres (Medicina)

Íkaro Soares Santos Breder (Medicina)

Lucas Andrade Ribeiro (Filosofia)

Maikol Yoshie Yabuki (Arquitetura e Urbanismo)

Natália de Oliveira Plaisant (Artes Cênicas)

Paulo Roberto de Lima Bittencourt (Educação Física)

Nesse município com aproximadamente 7.500 habitantes, dos quais 80% estão na zona rural, o principal problema vincula-se à deficiência no saneamento ambiental, responsável por surtos de parasitoses que atingem principalmente a população infantil. A ausência de coleta e tratamento de esgoto nos motivou uma parceria com os agentes de saúde do município, visan-do a melhoria da saúde coletiva. Em Curral de Dentro o governo investe muito em Saúde e em Educação – áreas que apresentam indicadores bem superiores às médias da região – além de

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151apoiar a agricultura familiar voltada para a produção de alimentos, que são ações capazes de auxiliar na melhoria da saúde coletiva.

Várias oficinas e cursos foram oferecidos para professores da rede pública de ensino fun-damental e médio e para agentes de saúde, profissionais da assistência social e voluntários. Os temas foram cuidados com idosos, parasitoses, higiene, alcoolismo, tabagismo, aleitamento materno, doenças sexualmente transmissíveis e métodos anticoncepcionais. Elencamos ainda capacitações em Educação Física escolar e atividades de lazer no intervalo da escola, cursos com merendeiras sobre aproveitamento total de alimentos, oficina de teatro para alunos, ati-vidades lúdicas e de entretenimento na rua, treinamento em tratamento de água e localização de cisternas e fossas; e a realização de uma Feira de Saúde em praça pública para avaliação e aconselhamento da população para prevenção de doenças em geral.

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152 Para dar continuidade ao trabalho realizado em 2008, as duas equipes recomendaram ações de qualificação de agentes de saúde em ações preventivas dirigidas à população de adultos, enfatizando mudanças de hábitos alimentares, prevenção da hipertensão arterial e o combate ao alcoolismo. Em educação, sugerimos a capacitação de professores da rede pública como agentes de mudança comportamental dos alunos, tendo em vista a cidadania e os hábitos alimentares.

A agricultura familiar em Curral de Dentro tem grande importância e recebe incentivo do governo municipal, pois é uma produção voltada exclusivamente para atender ao consumo local. O seu maior potencial está em oferecer conhecimento sobre novos cultivares, que gerem trabalho e renda a partir da exportação de excedentes, hoje inexistente, e melhore o padrão alimentar da população, que é pouco diversificado. O governo local, no entanto, reclama que o programa Bolsa-Família do Governo Federal desestimula a agricultura. Esta é uma equação a ser resolvida.

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Centro-Norte 2009

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160 Os estados do Amazonas, Goiás, Pará e Roraima receberam 896 rondonistas para desenvolver atividades em 56 municípios carentes. Da Unicamp seguiram duas equi-pes: uma para Borba, no Amazonas, que também recebeu equipe da Universidade Ca-tólica de Brasília (UCB), e outra para Colinas do Sul, em Goiás, onde também esteve a equipe do Centro Universitário do Espírito Santo (Unesc).

BORBA Amazonas - AM

Equipe

Luciana de Lione Melo (coordenadora)

Marco Antonio Coelho Bortoleto (coordenador)

Ana Paula de Brito (Enfermagem)

Arthur Fernandes Gaspari (Educação Física)

Giovani Archanjo Brota (Engenharia Agrícola)

Karina Rospendowiski (Enfermagem)

Karolina Ap. Pereira (Enfermagem)

Luiz Guilherme Andrade Menossi (Química)

Nossa jornada aconteceu em Borba, a primeira vila em território amazonense (1728), hoje cidade com mais de 30 mil habitantes. É cortada por seis grandes rios e sua ligação com a ca-pital, distante 220 quilômetros, se dá em 23 horas de viagem por via fluvial ou em 30 minutos por via aérea, a uma distância de 150 quilômetros. Foi nesta localidade, numa região chuvosa e de muito calor, onde aprendemos a trabalhar conforme as leis da selva e abandonamos nossas vidas para aprender outro modo de vida, igualmente valioso e belo.

Caracterizado pela agricultura de subsistência em que predominam as culturas de mandio-ca, melancia, abacaxi, banana e abacate, no município existem aproximadamente 170 escolas que atendem a pouco mais de 10 mil alunos, regularmente cadastrados em escolas municipais e estaduais. Borba conta com um hospital municipal e cinco postos de saúde, sendo mais co-muns as doenças tropicais, principalmente dengue e malária. Na região a gravidez precoce é frequente, assim como os registros de doenças sexualmente transmissíveis.

O município possui uma pequena estação de tratamento de água, que atende parte da população, porém a maioria dos habitantes recebe água de poços artesianos coletivos, sem tra-tamento prévio. O esgoto não é tratado: as fossas sanitárias individuais são o destino da maior parte do esgoto gerado pela população. Recentemente foi implantado o sistema de coleta de

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161resíduo sólido urbano, porém seu descarte é numa região afastada do centro, em lixão precário e ainda distante dos projetos ambientais atuais.

É com a força da parceria que existe o Projeto Rondon e pensar em atividades pela me-lhoria daquele município só poderia ser uma obra coletiva. Considerando que os membros do nosso grupo têm experiência com projetos de pesquisa, docência, assessoria, trabalhos técni-cos ou mesmo como voluntários em cidadania e bem-estar, nos enquadramos no conjunto A das atividades do Projeto Rondon – cultura, direitos humanos e justiça, educação e saúde.

Programamos um leque de atividades: cinema na rua, teatro sobre parasitoses, fabricação artesanal de sabão e de papel reciclado, construção de fossas sépticas orgânicas, mutirão para retirada de entulho, coleta seletiva de lixo, criação de mini-bibliotecas, organização de grêmio es-tudantil; cursos de pedagogia, sobre dificuldade na aprendizagem e ludicidade na escola; oficinas de origami, sobre educação sexual, doenças sexualmente transmissíveis, Aids, álcool e tabagismo, sobre meio ambiente e saúde, de massagem Shantala, aleitamento materno e alimentação comple-mentar; e ainda cursos sobre avaliação do crescimento e desenvolvimento de bebês, humanização e acolhimento no serviço de saúde, mini-feira de saúde sobre hipertensão e diabetes.

Para essas atividades cabe destacar nosso mais generoso aliado, a rádio local. Não podemos também deixar de salientar nosso contato com os formadores indígenas, cuja diversidade étnica, linguística e cultural nos deixaram maravilhados e ampliaram aprendizagens e trocas. Aprendemos que a generosidade é um bem, que escutar vale tanto quanto agir, que o conhecimento não possui patente, não se limita aos letrados, mas se nutre da aptidão da bondade e da vontade de compar-tilhar e unir esforços.

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Equipe

Varese Salvador Timóteo (Coordenador)

Grace Juliana Gonçalves de Oliveira (Geografia)

Jefferson Eduardo Silveira (Saneamento Ambiental)

Marcela Cover Fernandes (História)

Maria Isabel Zanzotti de Oliveira (Ciências Sociais)

Rafael Carvalho Alves de Mello (Saneamento Ambiental)

Simone Patrícia Mondin (Enfermagem)

Localizado a 270 quilômetros de Brasília, o município de Colinas do Sul possui pouco mais de quatro mil habitantes – população quase exclusivamente rural – e área territorial de 1.700 quilômetros quadrados. Assim como em outros municípios vizinhos, sua economia é voltada à criação de gado bovino, destinado principalmente para o corte. Outro aspecto importante é o potencial turístico, favorecido pela existência de rios e cavernas. Integrados com a equipe da Universidade Federal do Espírito Santo, trabalhamos coletivamente em atividades voltadas ao direito e cidadania, saúde pública e meio ambiente.

Um fato marcante nessa experiência foi justamente o trabalho coletivo, unindo alunos de His-tória, Geografia, Direito, Enfermagem, Saneamento Ambiental e Educação Física. Cada um partici-pou do trabalho do outro e todos aprenderam muito. Outro aspecto importante foi a oportunidade

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163dos alunos colocarem em prática a teoria que aprendem na Universidade. Esse é um elo importante. Outro exemplo é dos alunos da Faculdade de Tecnologia (FT) de Limeira, que puderam exercer o conhecimento acadêmico em saneamento básico e em controle ambiental, ao mesmo tempo em que vivenciaram discussões políticas que não constam de grade curricular nenhuma.

Colinas do Sul tem duas situações polêmicas relacionadas ao meio ambiente, que são o as-faltamento de acessos da cidade, que são todos por estradas de terra, e a proibição de corte de madeiras em fazendas para fazer pastagens. Quando discutíamos essas questões, os moradores associavam mais a questão ambiental com prejuízo do que com o cuidado com o entorno: para a população isso prejudica o turismo e para os fazendeiros prejudica a produção de gado. Então é um assunto delicado de se tratar.

No final, avaliamos que a experiência superou as expectativas da equipe e a aceitação da po-pulação foi algo muito gratificante – as pessoas eram receptivas e tinham muito a ensinar também.

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Nordeste-Sul 2009

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L172 Realizada nos estados da Paraíba e do Rio Grande do Sul, contou com 704 estu-

dantes e professores universitários que desenvolveram atividades em 44 municípios carentes das duas regiões. Da unicamp saiu uma equipe com destino ao município de Mari, na Paraíba.

MARI Paraíba - PB

Equipe

Elaine Prodócimo (Coordenadora)

Paulo Maria Ferreira de Araújo (Coord. Adjunto)

Gisele Bosqueiro (Pedagogia)

Julia Domiciana Franco de Campos (Enfermagem)

Liliane Santos Sousa (Educação Física)

Luana Aparecida Ribeiro Javoni (Saneamento Ambiental)

Marcos Lourenço Chabes (Ciências Biológicas)

Rafaela Aparecida Batista dos Santos (Enfermagem)

Mari, antiga Araçá, está localizada a 60 quilômetros da capital João Pessoa, na região da Mata Paraibana, e foi fundada em 19 de setembro de 1958. Tem pouco mais de 21 mil ha-bitantes e sua base econômica é a agricultura, sendo a mandioca o principal produto. O nível de desemprego em Mari é alto e muitas famílias sobrevivem dos auxílios do governo. Embora

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173o município comporte um pólo Universitário de Educação à Distância, o nível de escolaridade entre os habitantes ainda é baixo.

Em relação à infra-estrutura, a cidade sofre com várias ruas sem calçamento e também o sis-tema de esgoto não se estende a todo o município. As opções de lazer são poucas: há somente um ginásio de esportes, que durante a semana é usado para as aulas de Educação Física das escolas e nos finais de semana, para partidas de futebol; contudo, não há opções organizadas para as crian-ças. Embora tantos problemas se apresentem na cidade, o povo é muito hospitaleiro e demonstra interesse em melhorar suas condições. Assim, buscamos nos integrar e agir nas principais necessi-dades do município.

Nosso trabalho centrou-se nas áreas de educação, saúde, lazer, cultura, meio ambiente e direitos humanos. Realizamos oficinas com professores da rede municipal e estadual de todos os níveis de ensino, tratando de temas como violência escolar, uso do lúdico na escola e diferentes propostas metodológicas. Com os agentes de saúde e outros profissionais da área promovemos oficinas de atualização sobre uso de droga, doenças sexualmente transmissíveis e Aids, além de humanização nos tratamentos.

Também aproveitamos um espaço na feira municipal e montamos uma barraca da saúde para dar orientações básicas de saúde e higiene. Fizemos sessões de cinema na praça, con-tação de história na biblioteca, ginásio do lazer com brincadeiras variadas, baile para terceira idade, exposição de artes, entre outras atividades de lazer e cultura com a população. Com os conselhos municipais e as cooperativas de organização de moradores trabalhamos a possibili-dade de captação de recursos por meio de projetos.

Pela nossa experiência, notamos que a participação no projeto possibilita aos alunos, durante todo o tempo, incomparável troca de experiências – todos contaram histórias, brincaram com as crianças, todos conversaram com os líderes locais e visitaram as casas, as escolas, o hospital, a casa de repouso, as associações e viram como as pessoas se organizam. Embora os alunos estejam ainda em formação, é possível perceber o quanto eles podem contribuir, pois seus conhecimentos, mesmo ainda incompletos, naquela realidade fazem uma grande diferença.

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176 Esta operação recrutou 1.216 estudantes e professores de 98 instituições de ensi-no superior de todo o país, para promover ações de desenvolvimento sustentável em 76 municípios de Alagoas, Bahia, Goiás e Tocantins. Da Unicamp seguiram equipes para os municípios de Baixa Grande (BA), São Simão (GO) e Silvanópolis (TO).

BAIxA GRANDE Bahia - BA

Equipe

Hiroshi Paulo Yoshizane (Coordenador)

Aline Serra (Pedagogia)

Isadora de Andrade (Pedagogia)

Vanessa Simas (Pedagogia)

Diego Barbosa (Medicina)

Rafael Henrique da Silva (Medicina)

Fernanda Sampaio (IFCH)

Fernando de Nadai (Engenharia Agrícola)

Numa região de transição da Mata Atlântica para o agreste, a 252 quilômetros da capital baiana, está Baixa Grande – município que recebeu nossa equipe de rondonistas da Unicamp e da Faculdade Dom Bosco, de Curitiba. Com aproximadamente 22 mil habitantes e área territorial de 983 quilômetros quadrados, tem sua economia baseada na lavoura de cereais, leguminosas e oleaginosas. A implantação de um plano diretor para o município ocupou parte das ações de nossa equipe.

A cidade enfrenta dificuldades com o escoamento da água das chuvas e o saneamento básico, mas o plano diretor prevê um consórcio com as cidades vizinhas visando à implantação de um aterro controlado. Pudemos deixar nossa contribuição ao proferir uma palestra sobre de-senvolvimento sustentável e planejamento urbano, durante a Conferência da Cidade, realizada no final de janeiro justamente para discutir o plano diretor.

Nossa equipe também atuou em atividades de educação infantil, com recreação e criação de materiais didáticos sobre a preservação ambiental. Além disso, fizemos um interessante trabalho sobre educação sexual junto aos jovens, abordando principalmente a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e drogas; e também atuamos na orientação da população em geral quanto a primeiros socorros e prevenção contra picadas de insetos e animais peço-

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177nhentos. Outras ações realizadas foram o levantamento de dados históricos da cidade para a produção de artigos e um curso sobre horta comunitária ecologicamente controlada.

Entretanto, como o Projeto Rondon tem como premissa promover a troca de cultura e de conhecimento, seja no âmbito da saúde, da educação ou cidadania, nossos alunos também pu-deram aprender, por exemplo, sobre as festas tradicionais organizadas pela comunidade, como o bumba meu boi, o samba de roda, a quadrilha e o “baba” – partida de futebol disputada todas as tardes, a fim de manter as crianças carentes em atividade e longe das drogas.

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Equipe

José Eduardo Ribeiro Paiva (Coordenador)

André Andere (Economia)

Débora Assumpção e Lima (Geografia)

Laura Caetano Escobar da Silva (Química)

Tiago Coelho (Química)

Lívia Perez (Midialogia)

Ravena Sena Maia (Midialogia)

Matheus Bersan Rovere (Educação Física)

Localizado às margens do Rio Paranaíba, na divisa de Goiás com Minas Gerais, o município de São Simão tem sua origem num antigo povoado, iniciado em 1930 por garimpeiros de diamantes e pescadores. Hoje com cerca de 15 mil habitantes e área territorial de 414 quilômetros quadrados, o município vive basicamente do agronegócio. Mas é nas áreas de comunicação e meio ambiente que se concentraram nossas ações, ao lado dos rondonistas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Sobre meio ambiente nosso grupo trabalhou com oficinas de gestão de resíduos sólidos, capa-citação de guias turísticos, agricultura verde, educação ambiental para professores da rede pública e gestão de bem comum. Para a área de comu-nicação foram programadas oficinas de produção audiovisual para crianças da rede pública, a fim de transmitir noções básicas de como desenvol-ver roteiros e prática de conteúdos, de forma a construir uma nova maneira de olhar e pensar os programas de TV e filmes.

Entre outras ações, realizamos as sessões de cinema em praça pública e mutirão que, com a participação de 60 crianças e o apoio da comunidade, o que antes era um terreno baldio

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179na frente de uma escola pública da cidade, hoje é uma praça que simboliza a passagem do Projeto Rondon em São Simão.

Para alcançar esses objetivos montamos um plano de divulgação com visitas aos bairros, carro de som e contato com os meios de comunicação da cidade, dois jornais impressos e duas rádios. Foi uma interessante troca de experiências e contatos com as lideranças da cidade, agentes de saúde e outros rondonistas.

Com certeza, o Projeto Rondon de hoje é diferente de antigamente, sendo cada vez mais volta-do a atividades de formação e, com isso, temos que despertar o interesse e motivar multiplicadores em todas as áreas, algo que nossos alunos têm trabalhado com muita dedicação e afinco. E saber que podemos produzir elementos capazes de mudar para melhor a vida de muitas pessoas é uma sensação muito gratificante, que transcende as limitações inerentes ao Projeto.

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181SILVANóPOLIS Tocantins - TO

Equipe

Carlos Eduardo Albuquerque Miranda (Coordenador)

Ana Cecilia Moz Alves Rodrigues (Pedagogia)

Bruno Baptista Nunes (Engenharia Agrícola)

Fernanda Knebl Rodrigues Nadais de Souza (Pedagogia)

Fernando Kuninari (Engenharia Agrícola)

Ives Marcel Nomura Sato (Engenharia Agrícola)

José Fernando Queiroz (Ciências Sociais)

Vivian Ozaki Gushiken (Alimentos)

O Brasil que viemos conhecer não é o Brasil que imaginávamos encontrar e a realidade mostrou-se mais surpreendente do que a imaginação. Nossa equipe de alunos da Unicamp atuou em Silvanópolis, distante 123 quilômetros de Palmas, capital de Tocantins. Não vimos miséria, mas descobrimos o quanto precisamos fazer pelas pessoas, pelos cidadãos, pelo país. No final de duas semanas de atividades, a equipe passou a ver o Brasil com outras perspectivas, construindo novos paradigmas.

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182 Silvanópolis, nome em homenagem a uma tradicional família da região, tem pouco mais de cinco mil habitantes, distribuídos em 1.259 quilômetros quadrados, e sua economia é ba-seada na agropecuária. A história do município é recente: foi criado em 1980 e até então era um povoado conhecido por Extrema. No município, pudemos perceber os benefícios de muitos programas do governo federal. As escolas são bem equipadas e os produtores rurais têm o apoio de instituições do governo estadual e municipal.

Nossa equipe desenvolveu atividades dentro do conjunto B: comunicação, meio ambiente, tec-nologia e produção e trabalho. A experiência com o Projeto Rondon comprovou que o país precisa pensar no ser humano, no cidadão, na formação destes sentimentos de humanidade e cidadania. Porém, se não houver investimento na formação dos recursos humanos, os benefícios físicos e materiais de órgãos governamentais, da iniciativa privada e do terceiro setor serão subaproveitados.

Neste sentido, a educação escolar é um foco importante, porém a educação de agentes co-munitários, agentes de saúde, lideranças locais e de outras figuras importantes da comunidade também deve ser a preocupação da formação dos nossos profissionais na Unicamp – e isso diz respeito a todas as áreas de conhecimento e a todos os cursos. A responsabilidade social da universidade pede uma preocupação maior com o desenvolvimento do ser humano.

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183Depoimento

Valeu a pena.

Em 1979, um grupo de rondonistas da USP escreveu que “não bastava olhar o mapa do Brasil aberto sobre a mesa do trabalho ou pregado à parede de nossa casa. É necessário andar sobre ele para sentir de perto as angústias do povo, suas esperanças, seus dramas ou suas tragédias, sua história e sua fé no destino da nacionalidade”.

Com certeza, conhecer nosso país é algo básico para que possamos compreen-der a real dimensão das coisas que temos pela frente, e olhar para ele, como Milton Nascimento canta na bela Notícias do Brasil, com letra de Fernando Brandt: “Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil, não vai fazer desse lugar um bom país”.

Conhecer é transformar, interagir, saber, aproximar, trocar as informações entre a academia e o popular, para que ambos possam crescer em busca de uma vida melhor e mais digna a todos os brasileiros. Hoje a informação circula de forma muito mais fluida que antes, o país está muito mais ligado e temos que discutir como utilizar isso tudo para tentar compreender melhor o que se espera de nós, enquanto instituições de ensino, neste contexto, o que realmente podemos fazer para transformar o país e nos transformarmos junto com ele.

Este é o mérito do Projeto Rondon, que a cada seis meses permite que um grande grupo de professores e alunos de todo o país possam se conhecer e conhecer melhor o Brasil. Poderia ser maior, poderíamos ter mais tempo e também poderíamos ter um acom-panhamento maior de como as sementes que plantamos crescem pelo país todo. Mas fazemos o que se pode. Valeu a pena.

Eduardo Paiva, coordenador da equipe da Unicamp na cidade de São Simão – Goiás

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