Unidade 2 - Comunica o Verbal e n O-Verbal - Parte 2 - Fun Es Da Linguagem - Comunica o Empresarial

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Unidade 2. Parte 2. Comunicação verbal e não verbal Funções da linguagem Objetivos Identificar as diferentes funções da linguagem. Elaborar mensagens, adequando a linguagem aos diferentes objetivos de comunicação. Conhecer e aplicar os recursos da língua formal. Apresentando a unidade Terra à vista! Ou melhor, aprendizado à vista. Atracamos na Unidade 2: As funções da linguagem: referencial, emotiva, conativa, poética, fática e metalinguística. Ora, o próprio nome denuncia o foco de nosso estudo, certo? Quando mencionamos a palavra função, estamos nos referindo à utilidade de algo ou alguma coisa. Vamos fazer algumas perguntas elementares: para que serve a voz? Para que serve a caneta? Para que serve a leitura? Então, para que serve a linguagem? Observe que, ao responder a essas perguntas, você usou alguns verbos que expressam o objetivo de cada uma dessas referências: a voz para falar, cantar; a caneta para escrever; a leitura para ampliar nossos conhecimentos. E a linguagem? Serve para quê? Obviamente, para nos comunicarmos. No entanto, ao irmos um pouco além, vamos notar que, ao usarmos a linguagem, deixamos explícitas as nossas intenções de comunicação, ou seja, priorizamos um objetivo a ser atingido. Bem, além de

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Unidade 2. Parte 2.

Comunicação verbal e não verbal

Funções da linguagem

Objetivos

Identificar as diferentes funções da linguagem.

Elaborar mensagens, adequando a linguagem aos diferentes objetivos

de comunicação.

Conhecer e aplicar os recursos da língua formal.

Apresentando a unidade

Terra à vista! Ou melhor, aprendizado à vista. Atracamos na Unidade 2:

As funções da linguagem: referencial, emotiva, conativa, poética, fática e

metalinguística. Ora, o próprio nome denuncia o foco de nosso estudo, certo?

Quando mencionamos a palavra função, estamos nos referindo à utilidade de

algo ou alguma coisa. Vamos fazer algumas perguntas elementares: para que

serve a voz? Para que serve a caneta? Para que serve a leitura? Então, para

que serve a linguagem? Observe que, ao responder a essas perguntas, você

usou alguns verbos que expressam o objetivo de cada uma dessas referências:

a voz para falar, cantar; a caneta para escrever; a leitura para ampliar nossos

conhecimentos. E a linguagem? Serve para quê? Obviamente, para nos

comunicarmos. No entanto, ao irmos um pouco além, vamos notar que, ao

usarmos a linguagem, deixamos explícitas as nossas intenções de

comunicação, ou seja, priorizamos um objetivo a ser atingido. Bem, além de

elucidarmos as funções da linguagem, apontaremos boas dicas de como evitar

alguns deslizes ao fazer uso da língua formal. Então, avente e sempre!

Iniciando o tema

Quando falamos em funções, estamos nos referindo às diversas

intenções que temos ao usar a linguagem. Expliquemos melhor. O uso que

fazemos da linguagem é automático, dificilmente pensamos sobre o ato de

falar, apenas falamos. Mas quando estudamos as funções, vamos observar

que a língua nos oferece uma série de recursos para podermos alcançar o

objetivo a que nos propomos, quando nos comunicamos, isto é, às vezes

queremos informar, outras, desejamos persuadir, emocionar, opinar, explicar,

etc. Quanto mais soubermos sobre como usar a linguagem, mais eficientes e

eficazes seremos em nossos contatos, por isso a grande importância desse

conhecimento para a sua área de atuação.

2.1 A intencionalidade discursiva

E para começarmos o nosso assunto, pensemos juntos: a linguagem

utilizada nas propagandas é a mesma que o dicionário apresenta para explicar

o significado das palavras? Qual seria, por exemplo, o propósito de seu

discurso ao ser convidado a falar sobre violência doméstica, num programa

que apresenta diferentes pontos de vista sobre o assunto? Qual seria a sua

intenção como jornalista, por exemplo, ao apresentar em rede nacional a

notícia do assassinato de uma mulher? Qual a sua intenção ao fazer um

resumo? Qual a intenção de um político ao fazer o seu discurso em época de

campanha? É, talvez precisemos de alguns conceitos para a formulação

dessas respostas. Então, que tal estudarmos as funções da linguagem?

2.1 As funções da linguagem: características e marcas linguísticas

As funções da linguagem surgem da diversidade de objetivos que o

falante tem ao produzir um texto (oral e escrito). Quando temos consciência do

nosso objetivo aos nos comunicarmos, podemos tornar a mensagem mais

eficaz e atingir com maior sucesso a nossa intenção.

Vejamos: se você deseja viajar neste final de semana, mas não tem

dinheiro suficiente e pretende pedir um vale ao seu chefe (que, aliás, é duro na

queda!), com que intuito você irá conversar com ele? Você, por acaso, vai

informá-lo de que vai viajar, ou quererá, talvez, persuadi-lo a lhe dar um

adiantamento? Pois é, às vezes construímos textos com o objetivo de informar,

de emocionar, de explicar, de criticar, cada um deles terá uma estrutura

própria, com vocabulário e sintaxe própria.

ATENÇÃO

Para melhor compreensão das funções de linguagem, torna-se necessário

o estudo dos componentes da comunicação, pois o objetivo de um texto

está diretamente relacionado com todo processo de comunicação.

Imagine-se, agora, deitado(a) em uma rede na varanda de uma casa

na praia. É quase noite e você está pensando em sua(seu) namorada(o). Será

que podemos afirmar que esta situação representa um ato de comunicação? O

que você acha? Não temos dúvida de que você responderá afirmativamente.

Por quê? Primeiro, porque, apesar de você estar sozinho(a), você está

envolvido(a) num processo de comunicação. Não é isso? Você (emissor) está

conversando consigo mesmo(a) (receptor), sobre sua namorada(o) (referente),

a respeito de seu noivado (mensagem), através de seu pensamento (canal) e

utilizando a língua portuguesa (código). Viu? Não é difícil entender que são seis

os elementos envolvidos em um ato de comunicação.

Certamente lhe ocorrerá de já ter lido por aqui algo a esse respeito.

Sim, é claro. Em nossa Unidade 1, já fizemos referência a todos eles ao

falarmos sobre o processo de comunicação. Lembra-se? Como as funções da

linguagem ligam-se estritamente a cada um deles, retomemos o elenco. São

eles:

Referente: é o assunto sobre o qual se estrutura a mensagem.

Emissor ou destinado: é quem transmite a mensagem. Pode ser um

indivíduo, uma empresa, um grupo. É quem emite e codifica a

mensagem.

Receptor ou destinatário: é aquele que recebe a mensagem. Pode ser

um indivíduo, um grupo, até um animal. É o decodificador da

mensagem.

Mensagem: é tudo aquilo que o emissor diz sobre o assunto tratado, ou

seja, o referente. É o conteúdo transmitido pelo emissor.

Canal ou contato: é o meio físico, o veículo através do qual a

mensagem é levada do emissor ao receptor.

Código: é a língua, o idioma utilizado. Conjunto de signos usado na

transmissão e recepção da mensagem.

Nós acabamos de refletir sobre o ato de comunicação, explicitando

todos os seus participantes. Mas, para a maior parte dos falantes, o uso da

linguagem se dá de modo automático. Por isso, raramente percebemos que o

modo como organizamos a linguagem está diretamente ligado à função que

desejamos dar a ela, isto é, à nossa intenção comunicativa.

Para Cereja e Magalhães (1999, p. 19), “a linguagem desempenha

determinada função, de acordo com a ênfase que se queira dar a cada um dos

componentes do ato de comunicação.” Como são seis os componentes

envolvidos, como vimos, a cada um deles corresponde uma das funções da

linguagem. Desse modo, a linguagem pode assumir as seguintes funções:

referencial, emotiva, conativa, poética, fática, metalinguística.

Calma! Não há motivo para pânico. Apesar de alguns nomes

parecerem estranhos, seus significados estão diretamente relacionados às

suas denominações. Por isso, convidamos você para conhecer cada uma delas

agora.

O linguista Roman Jakobson propôs, como já estudamos na Unidade 1,

em seus estudos sobre linguagem, uma fórmula de comunicação que aponta a

correspondência entre os elementos da comunicação e as funções da

linguagem. Vamos observá-la novamente?

Figura 1 – Fórmula de Comunicação de Jakobson. Fonte: Adaptada pela autora.

Passemos, então, a definir cada uma das funções da linguagem.

2.1.1 Função referencial (ou denotativa): informar

A função referencial está centralizada no referente (assunto). Ela se

manifesta quando o emissor procura oferecer informações da realidade, seu

objetivo, portanto, é informar sobre algo ou alguma coisa. É a linguagem da

CANAL

Função Fática Estabelecer e facilitar a

comunicação

RECEPTOR

Função Conativa ou Apelativa

Persuadir/Convencer

EMISSOR

Função Emotiva ou Expressiva

Opinar/Criticar

MENSAGEM

Função Poética ou Estética

Recriar a realidade

CÓDIGO

Função Metalinguística Explicar

REFERENTE

Função Referencial Informar

Contexto de

comunicação

constatação. Objetiva, direta, denotativa. Nesse tipo de texto não se percebe

nem a presença do emissor, nem a do remetente. Remete-se a isso. Não julga

nem emite juízo de valores. Seu propósito é levar a informação de caráter

impessoal que põe a par, de modo claro e direto.

Entre suas marcas linguísticas estão a neutralidade do emissor, a

objetividade e precisão, o seu conteúdo informacional, o uso de verbos no

modo indicativo, a marca da 3ª pessoa do singular, o uso de frases afirmativas

e pronomes de indeterminação do sujeito. É a linguagem encontrada em textos

jornalísticos, livros didáticos, cartas comerciais, redações técnicas, manuais de

instruções, bulas de remédios, relatórios, resenhas, resumos, informes e

descrições. Na propaganda – informações gerais sobre o produto ou serviço.

Vamos aos exemplos.

TEXTO 1

Telescópio espacial descobre novo e estranho sistema solar

Astrônomos localizaram um estranho novo sistema solar, com pequenos

planetas "inchados" e amontoados em órbitas próximas à sua estrela. A

descoberta, publicada na revista "Nature", na quarta-feira, intriga os

astrônomos e mostra quanta variedade o universo pode abrigar. A

equipe da Nasa e de diversas universidades batizaram o sistema de

Kepler-11, por ter sido descoberto pelo telescópio orbital Kepler. A

estrela lembra o nosso Sol, mas cinco dos planetas que a orbitam estão

"amontoados" numa distância equivalente à que separa Mercúrio de

Vênus. E eles são maiores e menos densos do que os planetas

rochosos do nosso sistema - Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. No

entanto, estão entre os menores exoplanetas (planetas fora do nosso

Sistema Solar) já vistos. Já existem mais de 500 exoplanetas

catalogados, e a maioria é gigante - pois, sendo muito distantes, só os

maiores são detectáveis. Os pesquisadores têm certeza de que existem

planetas como a Terra por aí.

Lançado em março de 2009, o Kepler está medindo a luz de cem mil

estrelas nas constelações Cisne e Lira. A esperança é encontrar

planetas com tamanho e composição semelhantes às da Terra, dentro

da chamada zona habitável - quente o suficiente para que exista água

líquida, mas não quente demais para abrigar vida. No mês passado, os

cientistas do telescópio Kepler confirmaram a descoberta do seu

primeiro planeta rochoso, batizado de Kepler-10b, com 1,4 vez o

tamanho da Terra.

Fonte: adaptado de <http://www1.folha.uol.com.br/ciencia>.

TEXTO 2

Resumo do livro Incidente em Antares, de Érico Veríssimo

No livro, dividido em duas partes, mesclam-se acontecimentos reais e

irreais. Na cidade fictícia de Antares, apresenta-nos, o Autor, na primeira

parte, o progressivo acomodamento das duas facções (os Campolargo e

os Vacariano) às oscilações da política nacional e a união de ambas em

face da ameaça comunista, como é conhecida, pelos senhores da

cidade, a classe operária que reivindica seus direitos. Na segunda parte,

o "incidente" do título: a greve dos coveiros. Morrem inesperadamente

sete pessoas em Antares, incluindo a matriarca dos Campolargo. Os

coveiros se negam a efetuar o enterro, a fim de aumentar a pressão

sobre os patrões. Os mortos, insepultos, adquirem "vida" e passam a

vasculhar a vida dos parentes e amigos, descobrindo, com isso, a

extrema podridão moral da sociedade. Como as personagens são

cadáveres, livres, portanto, das pressões sociais, podem criticar

violentamente a sociedade.

Fonte: <http://www.resumosdelivros.com.br>.

TEXTO 3

Paracetamol

Bula do medicamento genérico Paracetamol. Classe terapêutica dos

Analgésicos e Antitérmicos. Princípio ativo paracetamol. Referência

Tylenol (Janssen-Cilag).

Indicações de Paracetamol

Analgésico e antitérmico.

Efeitos colaterais de Paracetamol

Agranulocitose, anemia hemolítica, neutropenia, leucopenia,

pancitopenia e trombocitopenia; erupções cutâneas, urticária, eritema

pigmentar, angioedema e choque anafilático.

O uso abusivo e prolongado pode produzir nefropatias, pancreatites e

insuficiência hepática.

Como usar (Posologia)

Adultos e crianças acima de 12 anos: 750mg VO, de 3 a 4 vezes ao

dia. Não ultrapassar 4g/dia.

Crianças: 10mg a 15mg/kg/dose VO, até 5 vezes ao dia. Não exceder

2,6g/dia.

Contra-indicações de Paracetamol

Hipersensibilidade à droga. Pacientes com deficiência de glicose-6-

fosfato desidrogenase.

Precauções

Administrar com cautela em pacientes mal-nutridos ou alcoólatras:

pode ocasionar hepatotoxicidade grave, mesmo em uso de doses

terapêuticas. Monitorizar a função hepática com o uso prolongado.

Pacientes com insuficiência renal devem ter ajustado o intervalo entre

as doses. Ocorrendo reação de hipersensibilidade, deve ser suspenso

imediatamente. Administração com alimentos ricos em carboidratos

pode retardar sua absorção. Não usar no primeiro trimestre da

gravidez.

Fonte: Bulário on line. <http://bulario.net/paracetamol>.

Comentário: observa-se, a partir da leitura dos textos, que o objetivo

predominante de seus autores era informar: o Texto 1 sobre a existência de um

novo sistema solar; o Texto 2 sobre os principais fatos da história narrada por

Érico Veríssimo; o Texto 3 sobre a composição e posologia do medicamento

Paracetamol. Em nenhum dos casos, percebe-se a presença de seus autores

ou a intenção de emitir juízo de valor, a neutralidade é perseguida, privilegiam

a 3ª pessoa do discurso. Focam-se no referente (assunto). Tão pouco há o

propósito de persuadir o interlocutor, que, aliás, não é identificado, pois não há

marcas para tal. Quanto à linguagem, todos eles trazem frases afirmativas,

verbos no modo indicativo e ausência de adjetivos e elementos subjetivos.

Privilegiam, portanto, a função referencial.

2.1.2 Função emotiva (ou expressiva): expressar o mundo interior, opinar

A função emotiva (ou expressiva) é a que está centralizada no

emissor (também chamado de remetente/transmissor/codificador/falante/

interlocutor. A função emotiva intervém numa mensagem toda vez que o

emissor manifesta seus pensamentos ou reações relativamente ao conteúdo

desta mensagem. A linguagem é subjetiva, predominam as emoções, opiniões,

reflexões pessoais. Aqui o emissor busca expressar seu mundo interior, opinar.

É a linguagem das biografias, memórias, poesias líricas e cartas de amor.

Entre suas marcas linguísticas estão: o discurso em 1ª pessoa,

caracterizado pela presença dos pronomes eu, me, mim, minha, as interjeições

com valor emotivo (oh!, Meu Deus!, Que horror!), as figuras literárias (Minha

vizinha é um avião!) e as frases exclamativas. O texto de caráter emotivo,

opinativo, é muito encontrado em revistas, jornais, cuja seção recebe o nome

de: Cartas ou Cartas do leitor, neste espaço, o veículo impresso permite que

seus leitores apresentem suas opiniões sobre determinadas matérias. A função

emotiva também se manisfesta nos palavrões, fruto de situações que

externalizam emoções como a raiva, a dor, o prazer ou a alegria.

COLOCAR ILUSTRAÇÃO DA MAFALDA OU SIMILAR

Alguns exemplos.

TEXTO 4

Cartas dos leitores à Revista Época sobre a reportagem de capa.

Polícia

(3/11/2004) Mortos pelos homens da lei

Nunca confiei na polícia. Eles pensam que são os donos do mundo, porque têm o poder da arma, a força maior. Saem pelas ruas e matam inocentes. Estamos sendo escravizados pelos homens da lei, aqueles que deveriam nos proteger nos matam. Nunca esquecerei do caso do dentista Flávio Santana, morto injustamente por policiais que não sabem trabalhar honestamente. Carrego comigo a dor e a revolta da família desse pobre rapaz, vítima do preconceito. Poderia ser eu o alvo, e não o Flávio. Afinal, sou negro.

MARCELO TEIXEIRA, São Paulo, SP

As leis brasileiras são as mais brandas do mundo, já morei em pelo menos outros três países e atestei com meus próprios olhos. O trabalho da polícia muitas vezes se compara ao de 'enxuga-gelo', já que não raro vemos casos em que a polícia prende, e o Judiciário solta. Seria excelente uma reportagem que ressaltasse os heróis anônimos que

Geralmente chego à conclusão de que a polícia dos Estados Unidos é melhor do que a brasileira. Porém, é preciso passar por outros assuntos delicados da sociedade para chegar a essa conclusão: como o Estado americano trata seu cidadão quando comparado com o Estado brasileiro? Quanto os EUA investem em segurança pública? Como é tratado o ser humano dentro da

Fonte: Revista Época (2004).

TEXTO 5

Samba em Prelúdio

Baden powell e Vinícios de Morais

Eu sem você não tenho porque

porque sem você não sei nem chorar

Sou chama sem luz

jardim sem luar

luar sem amor

amor sem se dar

E eu sem você

sou só desamor

um barco sem mar

um campo sem flor

Tristeza que vai

tristeza que vem

Sem você meu amor eu não sou

Ninguém

Ah que saudade

que vontade de ver renascer

nossa vida

Volta querido

os meus braços precisam dos teus

Teus abraços precisam dos meus

Estou tão sozinha

tenho os olhos cansados de olhar

para o além

Vem ver a vida

Sem você meu amor eu não sou

ninguém

Fonte: <http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes>.

TEXTO 6

Resenha crítica do livro Memória – ricas lembranças de um precioso modo

de vida

Memória — ricas lembranças de um precioso modo de vida

O Diário de uma garota (Record. Maria Julieta Drummond de Andrade) é

um texto que comove de tão bonito. Nele o leitor encontra o registro amoroso e

miúdo dos pequenos nadas que preencheram os dias de uma adolescente em

férias no verão antigo de 41 para 42.

Acabados os exames, Maria Julieta começa seu diário. anotado em um

caderno de capa dura que ela ganha já usado até a página 49. É a partir daí

que o espaço é todo da menina, que se propõe a registrar nele os principais

acontecimentos destas férias para mais tarde recordar coisas já esquecidas.

O resultado final dá conta plena do recado e ultrapassa em muito a

proclamada modéstia do texto que ao ser concebido, tinha como destinatária

única a mãe da autora a quem o caderno deveria ser entregue quando

acabado.

E quais foram os afazeres de Maria Julieta naquele longínquo verão?

Foram muitos. pontilhados de muita comilança e de muita leitura: cinema, doce-

de-Ieite. Novena, o Tico-Tico, doce-de-banana, teatrinho, visita, picolés, missa,

rosca, cinema de novo, sapatos novos de camurça branca, o Cruzeiro, bem-

casados, romances franceses, comunhão, recorte de gravuras, Fon-Fon, espiar

casamentos, bolinho de legumes, festas de aniversário, Missa do Galo, carta

para a família, dor-de-barriga, desenho de aquarela, mingau, indigestão... Tudo

parecia pouco para encher os dias de uma garota carioca em férias mineiras,

das quais regressa sozinha, de avião.

Tantas e tão preciosas evocações resgatam do esquecimento um modo

de vida que é hoje apenas um dolorido retrato na parede. Retrato. Entretanto,

que, graças à arte de Julieta escapa da moldura, ganha movimentos, cheiros,

risos e vida.

O livro, no entanto, guarda ainda outras riquezas, por exemplo, o

tom autêntico de sua linguagem, que, se, como prometeu sua autora, evita

as pompas, guarda, não obstante, o sotaque antigo do tempo em que os

adolescentes que faziam diários dominavam os pronomes cujo/a/os/as.

conheciam a impessoalidade do verbo haver no sentido de existir e

empregavam. sem pestanejar, o mais--que-perfeito do indicativo quando

de direito...

Outra e não menor riqueza do livro é o acerto de seu.projeto

gráfico, aos cuidados de Raquel Braga. Aproveitando para ilustração

recortes que Maria Julieta pregava em seu diário e reproduzindo na capa

do livro a capa marmorizada do caderno com sua lombada e cantoneiras

imitando couro, o resultado é um trabalho em que forma e conteúdo se

casam tão bem casados que este Diário de uma garota acaba constituindo

uma grande festa para seus leitores.

Marisa Lajolo, Jornal da Tarde, 18 jan. 1986.

Comentário: com claro objetivo de expressar o mundo interior, os autores dos

Textos 4, 5 e 6, intencionalmente emitem a sua visão de mundo sobre o

referente. Vão além da informação, querem registrar a sua opinião sobre o

assunto. No Texto 1 – Cartas dos leitores à revista Época sobre a reportagem

Mortos pelos homens da lei, cada um dos leitores emite o seu posicionamento

e argumenta, defendendo seu ponto de vista. Na canção Samba em prelúdio,

Texto 2, os sentimentos e as emoções estão explícitos em cada verso. E no

Texto 3, a resenhista, além de apresentar um breve resumo da obra, faz uma

apreciação do seu valor (exemplo, 1º período do 1º parágrafo, 3º parágrafo).

Ao comentar a linguagem do livro (6º parágrafo), emite um juízo de valor sobre

ela, estabelecendo um paralelo entre os adolescentes da década de 40 e os de

hoje do ponto de vista da capacidade de se expressar por escrito. No último

parágrafo, comenta o projeto gráfico da obra e faz uma apreciação a respeito

dele. Quanto à linguagem, observam-se pronomes e verbos com marcas em 1ª

pessoa, o uso de frases interrogativas, a presença de adjetivações, a

subjetividade da linguagem. Tudo isso remete-nos a classificá-los dentro da

função emotiva da linguagem

2.1.3 Função conativa (ou apelativa): persuadir, convencer

A função conativa (ou apelativa) centraliza-se no receptor (também

chamado de destinatário, decodificador, ouvinte, interlocutor). A palavra

conativa provém do latim conatus, que significa “esforço ou ação que procura

impor-se a uma resistência”. Aqui o público-alvo é definido. O léxico é

selecionado com critério a fim de envolver o receptor da mensagem. O emissor

procura influenciar o comportamento do receptor, seu objetivo é persuadir,

convencer. Espera-se do receptor uma resposta ou atitude. É a linguagem que

marca os discursos, os sermões e as propagandas que se dirigem diretamente

ao ouvinte/consumidor/leitor.

Entre os recursos que a língua oferece para a produção de textos

persuasivos estão: verbos no Modo Imperativo, emprego de vocativos (nome

das pessoas ou formas de tratamento) e uso de pronomes de 2ª pessoa (tu/

vós ou você/ vocês). As frases interrogativas e os adjetivos são

abundantemente utilizados na linguagem apelativa, já que implicam uma

resposta do interlocutor à interpelação (Você está cansado de morar longe do

trabalho? Então venha para o belíssimo residencial Porto das Águas.). É

comum encontrá-la em textos publicitários, políticos e linguagem comum.

Alguns exemplos são apresentados a seguir.

TEXTO 7

Anúncio

Fonte: Submarino (2011).

TEXTO 8

Anúncio

Sandra Presidente

Convencional do PFL! Compareça às prévias de seu partido nesse

domingo, faça ouvir sua opinião, vote, fiscalize! Mas antes tire cópia deste

Livros nunca são demais. Uma boa leitura traz conhecimentos, cultura além de ser ótimo passatempo. E com o Passaporte da Leitura do Submarino, você vai levar livros com até 80% de desconto. Lançamentos, os mais vendidos, best-sellers, livros de todos gêneros para você viajar pelo mundo dos livros. Faça a sua seleção, aproveite a redução de preço em vários títulos e boa leitura.

anúncio, distribua-o entre outros convencionais – vamos juntos dar um

basta a tanto conchavo e tanta “negociação”. Não permita que continuem a

nos usar! E, na convenção, vote na decência, na honestidade – que é o

que suas bases mais pedem hoje! VOTE SANDRA PRESIDENTE!

Delegado do PFL! Entre em contato com o Movimento Parlamentarista

Brasileiro, no Gabinete da Deputada Sandra Cavalcanti em Brasília

(telefone 061-311-5346) ou no Comitê Central no Rio ( telefone 021-541-

9294). Não temos carros, aviões, máquina “administrativa”, material de

propaganda – mas temos a sua consciência, que ninguém pode comprar!

O IBOPE CONFIRMA! Em pesquisa de maio, o Ibope revela: 73% dos

eleitores votariam numa mulher para Presidente. Sandra Cavalcanti – com

32% - é a mais votada entre as mulheres!

PARLAMENTARISMO JÁ

Anúncio pago por cotização de membros do Movimento Parlamentarista

Brasileiro

Fonte: Infante (1998, p. 245).

TEXTO 9

Fonte: <http://www.metro.sp.gov.br/noticias/campanhas/bicicleta/regulamento.asp>.

Comentário: os textos que representam a função conativa têm forte apelo

persuasivo. Visam mudar o comportamento do interlocutor, levando-o a agir

dentro dos propósitos de seus produtores. Em todos eles o uso de verbos que

exprimem ordem é feito em abundância (“compre”, “confira”, “Cuide”,

“compareça”, o que marca o tom imperativo da linguagem. A 2ª pessoa do

discurso vem exemplificada no uso dos verbos (compre (você), aproveite

(você), no uso de pronomes (“suas bases”, “curtir a sua bike”), na presença do

vocativo( chamamento, invocação) “Delegado do PFL!”. Adjetivos também

fazem parte do elenco das marcas linguísticas dessa função (“boa leitura”,

“ótimo passatempo”, “hábito saudável”. Também o uso das aspas nas palavras

“negociação” e “máquina administrativa” conduzem o leitor a ser persuadido a

pensar de forma negativa sobre os outros candidatos. Podemos também

identificar o público-alvo a quem se dirige cada mensagem, o que demonstra a

tentativa de envolver o interlocutor. Por essas razões, os Textos 7, 8 e 9 são

representantes da função conativa da linguagem.

2.1.4 Função poética: recriar a realidade

Centralizada na mensagem, a função poética revela o uso de recursos

imaginativos criados pelo emissor. Caracteriza-se pela valorização da

mensagem em si mesma e por si mesma. O desejo do emissor, aqui, não é

informar ou convencer, é recriar a realidade, embalar a mensagem de modo

totalmente diferente, criativo. A estética é cuidadosamente criada para

surpreender e gerar o estranhamento. A forma é o alvo das atenções que, por

sua vez, potencializa o conteúdo. Afetiva, sugestiva, conotativa, ela é

metafórica. Privilegia a multiplicidade de sentidos e a ambiguidade. O desvio de

linguagem acontece, neste caso, para dar maior expressividade ao texto. É a

linguagem figurada apresentada em obras literárias, letras de música, em

algumas propagandas, etc. A função poética não abrange só a poesia, no

entanto, é nessa forma de expressão que a função é dominante. Nela, a forma

e a estrutura da mensagem reforçam ou modificam o seu conteúdo. Ela

suplementa ou modifica o sentido denotativo da mensagem.

O ritmo, o jogo de sonoridades, a rima, os versos, o grafismo. Ganham

destaque figuras de linguagem como a metáfora, a metonímia, a antítese, a

prosopopeia, a repetição, entre outras. Valorizam-se as palavras e suas

combinações. A ambiguidade, a polissemia, os trocadilhos, a seleção vocabular

são também algumas das estratégias linguísticas encontradas em textos que

privilegiam a função poética.

Exemplos:

TEXTO 10

Na propaganda:

Pneu carecou? HM trocou.

(HM – Hermes Macedo - revendedor de pneus)

A força do novo, a força do povo. (propaganda política)

Verão colorido. Verão Colorama. (batom Colorama)

TEXTO 11

De repente

Vinícius de Morais

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente.

Fonte: <http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes>.

TEXTO 12

Fonte: <http://www.google.com.br/imagens>.

Comentário: depois da literatura, a propaganda é um dos maiores redutos da

função poética. Preocupada com a estética, investe no poder da criação. Nos

textos 10, 11 e 12, fica evidente o rigor na escolha das palavras (“aventura

errante”), o jogo de sonoridades, o desenho gráfico concretamente reiterando o

conteúdo, reforçado pela forma. A novidade deve provocar. (Re)criar a

realidade, ver o referente com novas lentes é o critério. Causar o

estranhamento pelo ritmo, pelos versos, pelas figuras de linguagem presentes

na repetição (“De repente, não mais que de repente”) (“força do novo, a força

do povo”). Os desvios de linguagem provocados pelo criador têm a função aqui

de dar mais expressividade à mensagem. O foco é como embalar a mensagem

de forma a transformá-la em arte. Por esses motivos, a função poética se

sobressai.

2.1.5 A função fática: estabelecer comunicação, facilitar

COLOCAR ILUSTRAÇÃO DA MAFALDA

Fonte: <geraldoramosjunior.zip.net>.

A palavra fático vem do grego phátis, que significa “ruído, rumor”. Está

centralizada no contato (físico ou psicológico) que se estabelece através de um

canal entre emissor e receptor, tendo como objetivo iniciar, prolongar, encerrar

o contato com o receptor, ou testar a eficiência do canal. O objetivo é chamar a

atenção do interlocutor e assegurar que este não fique distraído. Ela representa

a manifestação da necessidade ou desejo de comunicação e a manutenção

dos vínculos sociais.

Aplicação: conversas telefônicas e informais, saudações, propaganda

e música. Numa conversa telefônica, por exemplo, a expressão “alô”

estabelece o contato; as expressões “um momento, por favor”, “você está me

ouvindo” mantêm o contato; e “vou desligar” interrompe a comunicação.

Segundo Vanoye (1983, p. 54), “essa função manifesta

essencialmente a necessidade ou o desejo de comunicar.” É o tipo de

linguagem comumente utilizada pelas crianças em expressões como “hein,

mãe!”.

O conjunto organizado de expressões traz pouca informação. Aparece

em partículas ou expressões como “alô”, “olá, “tudo bem”, “né?”, “entendeu?”,

“tchau”. Em alguns casos, as expressões fáticas são vazias de significado, ou

seja, não correspondem ao significado que costumam ter. Ao

cumprimentarmos alguém, por exemplo, e perguntarmos “como vai?”, muitas

vezes faz parte de um ato mecânico, nem sempre queremos realmente saber

como a pessoa está. Assim como respondemos “tudo bem”, quando, às vezes,

não está nada bem.

Ao percebermos a função fática somente por este prisma, o de manter

o contato, possivelmente ela será tratada com certa indiferença. Mas seu

propósito vai um pouco além. Expliquemos. Ao escrevermos, muitas vezes,

sublinhamos os títulos, usamos cores diferenciadas para ressaltar algum termo,

marcamos o texto com canetas coloridas, não é? Por que fizemos isso?

Apenas para enfeitar o caderno? Certamente, não. Usamos os recursos

gráficos para que a informação chegue até nós mais facilmente. Este livro, por

exemplo, faz uso dessa estratégia, apresentando seus títulos e subtítulos em

negrito e usando outros recursos gráficos. Ao escolhermos o tipo de fonte para

redigirmos nosso trabalho usando o computador, privilegiamos aquelas que

potencializam a legibilidade da informação, ou seja, evitamos usar fontes que

dificultam a leitura. Queremos que a informação chegue rápido, sem obstáculos

até o nosso leitor. Ainda no campo de legibilidade, ao selecionarmos palavras

menos extensas, escrevermos frases curtas, evitarmos os parágrafos muito

longos, facilitamos a apreensão da mensagem pelo nosso interlocutor.

Portanto, dois fatores influem definitivamente no grau de legibilidade de um

texto: a construção e a (tipo)grafia (VANOYE, 1983, p. 85).

TEXTO 13

Sinal fechado (1974)

Paulinho da Viola

Composição: Paulinho da Viola

Olá, como vai?

Eu vou indo e você, tudo bem?

Tudo bem eu vou indo correndo

Pegar meu lugar no futuro, e você?

Tudo bem, eu vou indo em busca

De um sono tranquilo, quem sabe...

Quanto tempo... pois é...

Quanto tempo...

Me perdoe a pressa

É a alma dos nossos negócios

Oh! Não tem de quê

Eu também só ando a cem

Quando é que você telefona?

Precisamos nos ver por aí

Pra semana, prometo talvez nos vejamos

Quem sabe?

Quanto tempo... pois é... (pois é... quanto tempo...)

Tanta coisa que eu tinha a dizer

Mas eu sumi na poeira das ruas

Eu também tenho algo a dizer

Mas me foge a lembrança

Por favor, telefone, eu preciso

Beber alguma coisa, rapidamente

Pra semana

O sinal...

Eu espero você

Vai abrir...

Por favor, não esqueça,

Adeus...

Fonte: <http://letras.terra.com.br/paulinho-da-viola>.

TEXTO 14

Fonte: <maryposando.blogspot.com>.

Você não ouviu?

Comentário: ao ler o Texto 13, observamos que grande parte de suas frases é

formada de expressões que pouco informam, mas mantêm os interlocutores

em contato. Muitas delas cumprem apenas a função de instaurar ou manter o

contato. No Texto 14, fica nítida a preocupação de Mafalda em confirmar a

comunicação, preocupada em receber uma resposta externa uma expressão

de confirmação e indagação, querendo saber se a mensagem havia chegado

até ele.

2.1.6 Função metalinguística: definir, explicar

Centralizada no código. Ela aparece quando a linguagem se volta

sobre si mesma, transformando-se em seu próprio referente. A

(meta)linguagem é a linguagem que fala da própria linguagem (meta - prefixo

grego que significa mudança, posterioridade). O objetivo é explicar, elucidar,

conceituar, definir o próprio código linguístico. É a poesia que fala da poesia,

da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto. Os dicionários

são bons exemplos de metalinguagem. Servem para dar explicações ou dar

precisão ao código utilizado pelo emissor. Tem por objetivo a língua usada

como forma de expressão. Ela pode ser encontrada em textos explicativos e

didáticos, em pesquisas científicas, dicionários, comentários explicativos ou

descritivos de fotografia (imagem) e análises.

Você já se perguntou por que um livro é categorizado como didático?

Não? Por que será, então? Qual a diferença entre um livro didático e um não

didático? Estaria o autor de um livro didático priorizando uma das funções da

linguagem?

A metalinguagem está presente até na moda, sabia? Os textos que

acompanham as fotografias nas revistas de moda e comentam o que a imagem

traz, nada mais é do que metalinguagem, ou seja, o redator utiliza-se de uma

linguagem verbal (língua) para explicar uma linguagem visual (foto). Quem já

não leu histórias em quadrinho sem ler a legenda? Apenas olhando as

figurinhas? Pois então, neste caso, as legendas elucidam o que a imagem já

está traduzindo, fazendo o papel metalinguístico.

Palavras que explicam palavras, cinema que fala de cinema, música

que fala de música, teatro de teatro, poesia de poesia, quadrinhos de

quadrinhos, tudo isso constitui metalinguagem. Então, temos o metacinema, a

metamúsica, a metapoesia, o metaquadrinho, a metacharge, a

metapropaganda, o metateatro, etc. Essa função existe em abundância nos

discursos, talvez, por ser da essência humana questionar-se e buscar resposta

à sua existência.

A função metalinguística ocorre em numerosas situações do cotidiano.

Expressões como “O que você quis dizer com isso?” ou “Explique melhor o que

você acabou de dizer.” Em sala de aula, é muito comum o uso da função

metalinguística, pois a todo instante estamos recorrendo à linguagem para

explicar os seus próprios termos. Aliás, o teor da linguagem na academia

privilegia a elucidação dos conceitos, das definições, por isso a presença

constante de inúmeros questionamentos. Frases afirmativas, verbos no modo

indicativo, verbos de ligação, exemplificações são marcas dessa função.

Veja os exemplos.

TEXTO 15

Mídia. (co) Conjunto dos meios de comunicação existentes em uma área, ou

disponível para uma determinada estratégia de comunicação. Grafia

aportuguesada da palavra latina media, conforme esta é pronunciada em

inglês. Media, em latim, é plural de medium, que significa “meio”. Em

publicidade, costuma-se classificar os veículos em duas categorias: mídia

impressa (jornal, revista, folheto, outdoor, mala direta, displays etc.) e mídia

eletrônica (TV, rádio, CD, vídeo, cinema etc.). Em port., diz-se média. V.

multimídia.

Fonte: Barbosa; Rabaça (2001, p. 490).

Autopsicografia

Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

Fonte: <http://www.tanto.com.br/fernandopessoa-autopsicografia>.

Comentário: os dicionários são os melhores exemplos da metalinguagem. Ao

procurarmos por um, certamente, vamos em busca de uma resposta, uma

explicação, uma definição. Veja a explicação da palavra mídia no Texto 15.

Enquanto um telejornal, por exemplo, tem o objetivo de informar os

acontecimentos do dia, uma enciclopédia, uma teleaula, um dicionário vão

além da mera informação, apresentam os detalhes, incluindo a origem da

palavra. Também existem programas de televisão cujo propósito é falar do

próprio ato de fazer TV.. O programa de televisão Vídeo Show, produzido e

exibido pela Rede Globo e apresentado desde 1983, é exemplo de

metalinguagem. Ao recuperar a memória televisiva, comenta as características

da linguagem da televisão, explica como determinadas cenas foram

produzidas, faz uma reflexão sobre si mesma e sobre a trajetória de seus

profissionais. Obviamente, que a função conativa da linguagem também se faz

presente. Ao trazermos o texto de Fernando Pessoa, grande escritor

português, queremos ilustrar a presença da metalinguagem na poesia. Observe

que o “poeta é um fingidor”, “Gira, a entreter a razão”, o poeta traz para si a

reflexão do ato de criar um universo “que chaga a fingir que é dor”, “a dor que

deveras sente”. A metapoesia ocorre quando a poesia fala do fazer poético, da

relação do poeta com a criação poética, ou quando tenta explicar ou

caracterizar o próprio poeta.

2.6 A superposição das funções da linguagem

As seis funções da linguagem não se excluem, mas também não se

encontram, necessariamente, todas reunidas em uma mesma mensagem.

Portanto, em uma mensagem, é muito raro encontrar apenas uma dessas seis

funções. Há sobreposição das funções, mas sempre uma será dominante de

acordo com o objetivo do produtor da mensagem.

Ao voltarmos aos textos já analisados aqui, perceberemos que seus

autores/produtores privilegiaram um entre os seis objetivos descritos a partir da

Fórmula de Jakobson. Mas, numa mensagem, é muito difícil encontrarmos uma

única das funções da linguagem isolada.

Nos Textos 7,8 e 9 que ilustram a função conativa, por exemplo, fica

evidente a presença da função referencial. Não há como persuadir o

interlocutor sem oferecer-lhe informações. Assim, além de deixar explícito o

objetivo de persuadir seu público-alvo, o Texto 7 traz uma série de informações

sobre o produto ofertado como preço, condições de venda, formas de

pagamento, telefone. O Texto 9 faz referência ao Metrô de São Paulo, tendo

como alvo seus usuários, dirige-se a eles, dando-lhes informações de como

proceder. As condições da persuasão neste caso são marcadas pelo tom

imperativo da mensagem, pela marca da 2ª pessoa do discurso.

Vanoye (1983, p. 141-142), ao referir-se à função poética, aponta as

suas condições de produção: “é por ela que se manifesta o código estético e

que os elementos do código da língua se transfiguram tomando novas

significações”. A mensagem literária centra-se sobre si mesma e a

preocupação de seu autor é dar-lhe forma e estrutura singulares. Em seu livro

Usos da linguagem – descreve com maestria a presença de outras funções da

linguagem na mensagem literária como prova de que elas se superpõem à

função poética. Leia os exemplos a seguir.

Função poética

Função Emotiva (Expressiva) Obra onde domina o “eu”, a personalidade do autor:

confissões, diários íntimos, memórias, cartas, poemas

lírico. Ex.: Memórias do Cárcere (Graciliano Ramos), Carta

ao Me Pai (Kafka); Baú de Ossos (Pedro Navas).

Função Conativa (Apelativa) Obra onde o destinatário está implicado de maneira direta:

discursos, exortações, sermões, súplicas, orações, teatro.

Ex.: Brecht (e seu teatro político), Oswald de Andrade

(teatro), Sermões (Padre Vieira).

Função Referencial Obra onde dominam o “ele” e o “isso”, os heróis e os

acontecimentos: narrativas, epopeia, história. Ex.: Ilíada,

Odisseia (Homero), Os Lusíadas (Camões), Guimarães

Rosa, Machado de Assis.

Função Metalinguística Obra onde domina o projeto didático: as narrativas

educativas, poemas didáticos. Ex.: As fábulas de La

Fontaine, os livros infantis de Monteiro Lobato.

Função Fática Obra onde domina o desejo de comunicar, de tocar o leitor:

obras “grito”, obras “sinal”.

Função Poética Obra onde a função poética se manifesta em estado puro,

por si mesma: poesia pura, poesia de essência da poesia.

Ex.: poesia parnasiana, Mallarmé, Augusto de Campos,

Haroldo de Campos.

Quadro 1: As funções da linguagem na mensagem literária Fonte: Vanoye (1983).

Corroborando o posicionamento de Vanoye (1983, p. 143), “a análise

de uma obra não pode se conduzir a partir de seu conteúdo [...]; não pode

também se conduzir a partir de uma forma”. A análise deve se conduzir a partir

da evidência das funções dominantes e de suas relações que definem o código

particular de cada obra. Ou seja, a partir da elucidação do objetivo de seu

criador.

A intencionalidade comunicativa do autor leva-o a produzir textos com

diferentes objetivos de comunicação, certo? Então, pergunta-se: é possível

elaborar textos com diferentes propósitos a partir do mesmo referente

(assunto)?

Se você respondeu não, equivocou-se. Tomemos como

referente/tema/assunto casa. Se você é convidado a comentar o estilo

arquitetônico das casas alemãs, qual será o objetivo que vai predominar em

seu discurso? Opinar. Se você trabalha numa agência de publicidade e seu

cliente tem um complexo de casas de alto padrão e lhe pede para produzir uma

campanha publicitária, qual será o seu objetivo ao criar os textos? Persuadir.

Se você é convidado a participar de um concurso de poesias cujo assunto é

casa, qual será seu objetivo ao criar o poema? Recriar a realidade. Se você é

repórter de uma emissora de TV local e vai apresentar a ocorrência da

demolição de várias casas construídas em local proibido, qual será seu

objetivo? Informar. Se você chega frente à casa de um amigo e lá do portão o

chama “Oh, de casa!”, qual é sua intenção comunicativa? Estabelecer contato.

Bem, como você percebeu, não importa o assunto tratado – casa, mulher,

morte, universidade, vida – os propósitos do texto são definidos por sua

intenção ao produzi-lo.

Ufa! Esse navio não sai mais daqui. Caramba!

Espere! Espere! Só mais uma perguntinha: Você entendeu a nossa intenção ao

apresentar-lhe as funções da linguagem? Analisando o modo como essas

funções se organizam nos textos alheios, podemos detectar as finalidades que

orientam a sua elaboração. Aplicando-as nos nossos próprios textos, podemos

planejar o que escrevemos, de modo a fortalecer a eficácia e a expressividade

das mensagens (INFANTE, 1991, p. 141).

2.7 Tópico de língua formal

“Escrever é cortar palavras.”

(Carlos Drummond de Andrade)

Caro(a) acadêmico(a), chegou a hora de darmos um pouquinho de

atenção à língua formal. A seguir, apresentamos a você boas dicas de redação

extraídas do livro A arte de escrever bem (SQUARISI; SALVADOR, 2005, p.

21-52):

1 Maximize a informação com o mínimo de palavras

Ex.: Esta tem o objetivo de comunicar...

Comunicamos

2 Elimine os clichês

Ex.: Nada mais havendo a declarar, subscrevemo-nos

Atenciosamente

3 Corte redundâncias

Ex.: Em resposta ao Ofício enviado por V. Sa.

Em resposta a seu ofício

4 Retire ideias excessivas

Ex.: Informamos que a entrada, a frequência e a permanência nas

dependências deste clube é terminantemente proibida, seja qual for o

pretexto, a pessoas que não fazem parte de seu quadro de sócios.

É proibida a entrada de não-sócios.

5 Livre-se do excesso de quês

Ex.: Espero que me respondas a fim de que se esclareçam as dúvidas que

dizem respeito ao assunto que foi discutido.

Espero sua resposta a fim de esclarecer as dúvidas a respeito do

assunto discutido.

6 Corte que é, que foi, que era & Cia

Ex.: Juscelino Kubitschek, que foi presidente do Brasil de 1956 a 1960,

construiu Brasília, que é a capital do país.

Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil de 1956 a 1960, construiu

Brasília, a capital do país.

7 Elimine palavras ou expressões desnecessárias

Ex.: Decisão tomada no âmbito da diretoria = decisão da diretoria

Trabalho de natureza temporária = trabalho temporário

Curso em nível de pós-graduação = curso de pós-graduação

8 Substitua a locução verbo+ substantivo pelo verbo

Ex.: Fazer uma viagem = viajar

Fazer música = compor

Pôr as ideias em ordem = ordenar as ideias

Pôr moedas em circulação = emitir moedas

9 Substitua o gerúndio por ponto:

Ex.: Alunos recém-aprovados no vestibular chegarão à universidade no

segundo semestre podendo, se forem estudiosos, concluir o curso em

quatro anos, fazendo em seguida um curso de pós-graduação.

Alunos recém-aprovados no vestibular chegarão à universidade no

segundo semestre do ano. Se forem estudiosos, poderão concluir o

curso em quatro anos e, em seguida, fazer uma pós-graduação.

10 Livre-se do já que:

Ex.: Os líderes europeus tiveram de falar em Ronald Reagan, já que a morte

do cowboy presidente os surpreendeu reunidos em Paris na

comemoração da passagem dos 60 anos do Dia D.

Os líderes europeus tiveram de falar em Ronald Reagan. A morte do

cowboy presidente os surpreendeu reunidos em Paris na comemoração

da passagem dos 60 anos do Dia D.

11 Troque a oração adjetiva por um adjetivo equivalente

Ex.: Jacaré que não se cuida vira bolsa de madame.

Jacaré descuidado vira bolsa de madame.

Quem escreve animal que se alimenta de carne quer dizer animal

carnívoro; pessoa que planta café, cafeicultor; criança que não tem

educação, criança mal-educada.

12 Opte pela voz ativa

Ex.: Voz passiva: A notícia foi publicada pelos jornais de grande circulação.

Voz ativa: Os jornais de grande circulação publicaram a notícia.

Voz passiva: O processo foi devolvido pela Diretoria

Voz ativa: A Diretoria devolveu o processo

13 Ponha as sentenças na forma positiva

A regra é dizer o que é, não o que não é. Dizer o que não é em geral soa

hesitante, impreciso. Pode sugerir malandragem, tentativa de fugir do

compromisso de afirmar.

Ex.: Não ser honesto é ser desonesto. Não lembrar é esquecer. Não dar

atenção é ignorar. Não comparecer é faltar. Não pagar em dia é atrasar

o pagamento. Emprego que não paga bem paga mal.

Ex.: O presidente diz que não fará alterações na política econômica.

O presidente nega alterações na política econômica.

14 Procure a frase harmoniosa

A harmonia abomina os ecos. A rima, qualidade da poesia, constitui defeito

da prosa. Releia seus textos, de preferência em voz alta, para verificar se

ocorre repetição de sons iguais ou semelhantes.

Ex.: Houve muita confusão e provocação na reunião de representantes do

Ceará e do Maranhão.

Houve muita provocação e tumulto no encontro de representantes de

Fortaleza e São Luís.

O crescimento sem desenvolvimento pode implicar incremento do

subdesenvolvimento.

Crescer sem preocupação com o desenvolvimento pode implicar mais

atraso.

15 Tenha cuidado com as cacofonias

Às vezes, a última sílaba de uma palavra se junta à primeira de outra e

forma novo vocábulo, soando mal aos ouvidos do leitor atento ou

desavisado: por cada, uma mão, por razões, boca dela, por tal, por tais, por

tão.

16 Evite o “gerundismo”

Recorremos a mil estratégias de falar sem dizer. Uma delas é espichar os

verbos e expressões.

Trazido pelas más traduções do inglês e adotado por secretárias,

telefonistas e, sobretudo serviços de telemarketing, o gerundismo criou asas

e voou.

Para não afugentar o cliente, mandam o bom senso e a boa norma dar o

recado no futuro simples ou no composto.

Evite as expressões “vou estar anotando”, vou estar encaminhando”, “vai

estar lendo”.

Use “vou anotar”, “vou encaminhar”, “vou ler” ou “anotarei”,

“encaminharei”,. “lerei”.

Ex.: Pode deixar, eu vou estar escrevendo o relatório.

Pode deixar, eu escreverei o relatório.

17 Evite usar os verbos poder, querer, tentar & gangue.

Esses verbos são apenas parasitas. Roubam a força do verbo principal.

Ex.: Ele fez tudo para poder salvar o casamento.

Ele fez tudo para salvar o casamento.

18 Não esconda-se atrás do tentar

Outro recurso para fugir da responsabilidade é esconder-se atrás do tentar.

Ao dizer “vou tentar resolver meu problema de pontuação”, você dá razão

aos psicólogos. Eles explicam: Quem quer faz. Quem não quer tenta.

Ex.: Vou tentar resolver meu problema de pontuação.

Vou resolver meu problema de pontuação.

Saiba mais

Um trabalho muito interessante sobre a função metalinguística é

apresentado por André Valente (1997) em seu livro A linguagem nossa de cada

dia . Vale a pena conferir.

Para confirmar as marcas linguísticas da função conativa no texto

publicitário e o bom humor de seus criadores, não deixe de visitar os inúmeros

sites destinados a propagandas premiadas no mundo todo, entre eles

<http://www.internessante.com.br/2009/11/14/propagandas-criativas/> ou

<http://fmanha.com.br/blogs/cartasnamanga/category/comercias-premiados>.

Para sintetizar

Como você já sabe, o ato de comunicação é composto por seis

elementos: emissor, receptor, referente, canal, mensagem e código. Cada um

desses componentes está relacionado com uma função da linguagem. As

funções da linguagem nascem dos diversos objetivos estabelecidos pelo

emissor/produtor no ato de se comunicar. Elas são frutos de nossa intenção de

comunicação. São seis as funções da linguagem: função emotiva ou

expressiva (centrada no emissor); função apelativa ou conativa (centrada no

receptor); função referencial (centrada no referente); função poética (centrada

na mensagem); função fática (centrada no canal); função metalinguística

(centrada no código). As funções agem simultaneamente, havendo sempre a

predominância de uma delas. Tão importante quanto definir o propósito da

mensagem, é saber apresentá-la. Assim, volte às dicas para uma boa redação.

Conhecer a língua formal é um importante caminho de acesso ao

conhecimento.

Revisando vocabulário

Denotação: diz-se do sentido das palavras que se refere diretamente à coisa,

e não às sugestões por ela provocadas.

Conotação: diz-se do sentido das palavras que não se refere diretamente à

coisa, mas às sugestões provocadas por ela; figurado, metafórico.

Polissemia: faculdade que tem uma palavra de apresentar diferentes sentidos.

Fática: a palavra fático vem do grego phátis, que significa “ruído, rumor”.

Conativa: a palavra conativa provém do latim conatus, que significa “esforço

ou ação que procura impor-se a uma resistência”.

Metalinguagem: linguagem que se utiliza para descrever outra linguagem ou

qualquer sistema de significação.

Superposição: o mesmo que sobreposição.

Texto: unidade linguística concreta, percebida pela audição (na fala) ou pela

visão (na escrita), que dê unidade de sentido e intencionalidade comunicativa.

Exercícios de aprendizagem

1) Sabemos que são seis os elementos envolvidos no processo de

comunicação. Roman Jakobson aponta uma correspondência entre esses

elementos e a diversidade de objetivos de cada emissor ao organizar sua

mensagem. A seguir, apresentamos a você cinco extratos de um mesmo tema:

mulher. Leia-os com atenção.

Texto 1

Milton Nascimento

Maria, Maria

Maria, Maria é um dom

Uma certa magia, Uma força que nos alenta.

Uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta

Maria, Maria é um som,

É a cor, é o suor, é a dose mais forte, lenta

De uma gente que ri quando deve chorar

E não vive, apenas aguenta.

Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre.

Quem traz no corpo essa marca,

Maria, Maria, mistura a dor e alegria

Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça, é preciso ter sonho sempre.

Texto 2

Marieta da Silva morre na explosão de avião

A deputada estadual, Marieta da Silva, morreu às 19h15min de ontem, na

explosão do jatinho HS da FAB, ocorrida seis segundos após a decolagem do

aparelho da pista do aeroporto de Carajás, no Pará, 500 quilômetros ao sul de

Belém, em viagem de retorno a Brasília. Uma informação não confirmada

indicava que um dos filhos da deputada estaria a bordo. Marieta da Silva havia

completado 50 anos na terça-feira, dia 6. (CORREIO DO POVO, 09/09/2008)

Texto 3

Mulher. Do lat. muliere. Sf. 1. Pessoa do sexo feminino após a puberdade.

um.: mulherão, mulheraça, mulherona. 2. Esposa.

(FERREIRA, 1975).

Texto 4

Seja marcada por quem lhe ama

Tenha sempre em seu corpo quem sabe lhe tratar bem.

Com carinho, leveza, elasticidade, com um conforto que só os grandes amores

podem proporcionar.

DE MILLUS sabe cuidar de você de acordo com suas expectativas. Entrega-se

aos soutiens DE MILLUS; eles sabem lhe tratar com o devido amor.

DE MILLUS feito com amor.

(REVISTA CLAUDIA, Abril 2007)

Texto 5

NOVA - E o que você acha das chamadas novas conquistas femininas, do

feminismo em geral?

JÕ SOARES - Aí são duas coisas diferentes. As conquistas femininas eu

encaro com a maior alegria. A mulher, que sempre foi discriminada de todas as

formas, ainda tem muito caminho a percorrer. (...) Agora, esse negócio de

feminismo eu acho o reverso da medalha do machismo. (...)

(REVISTA NOVA, Maio 2000).

Podemos afirmar que o objetivo predominante nos Textos 1, 2, 3, 4, e 5 e

a função da linguagem equivalente são, respectivamente:

a) informar, Referencial; explicar, Metalinguística; persuadir, Conativa; opinar,

Emotiva; recriar a realidade, Poética;

b) recriar a realidade, Poética; persuadir, Conativa; opinar, Emotiva; informar,

Referencial; explicar, Metalinguística;

c) explicar, Metalinguística; opinar, Emotiva; informar, Referencial; recriar a

realidade, Poética; persuadir, Conativa;

d) opinar, Emotiva; informar, Referencial; explicar, Metalinguística; persuadir,

Conativa; recriar a realidade, Poética.

e) recriar a realidade, Poética; informar, Referencial; explicar, Metalinguística;

persuadir, Conativa; opinar, Emotiva;

2) Levando-se em consideração os estudos realizados sobre as Funções da

linguagem, leia com atenção as afirmações a seguir.

I. Entre as funções da linguagem há uma que está em todos os textos

existentes: é a função referencial.

II. O objetivo principal do discurso de um professor na universidade é persuadir

os acadêmicos.

III. A função fática procura organizar o texto de forma a se impor sobre o

receptor da mensagem, persuadindo-o, seduzindo-o.

IV. Numa mensagem escrita, é muito difícil encontrarmos uma única função de

linguagem. O que ocorre, de modo geral, é a superposição de várias funções.

Mas há uma que sempre se sobressai.

V. A função emotiva aparece quando a mensagem é elaborada de forma

inovadora e imprevista, utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de

imagens ou de ideias. Nessa função, a linguagem é manipulada de forma

pouco convencional.

Marque a sequência correspondente:

a) Apenas as afirmações I, II, e V estão corretas.

b) Apenas as afirmações IV e V estão corretas.

c) Apenas as afirmações I, III, IV estão corretas.

d) Apenas as afirmações III e IV estão corretas.

e) Apenas as afirmações I e IV estão corretas.

3) A seguir, coloque V para as afirmações VERDADEIRAS e F para as

afirmações FALSAS.

( ) Quando, ao produzir um texto, o emissor manifesta sua posição pessoal

diante do conteúdo transmitido, temos a ocorrência da função emotiva e/ou

expressiva.

( ) Um recurso muito importante na atuação conativa da linguagem é a

argumentação, por meio da qual o emissor procura a adesão do receptor ao

seu ponto de vista.

( ) A função metalinguística ocorre com frequência em textos didáticos, assim

como em textos que tratam de outros textos, como é o caso de análises

literárias e interpretações e críticas diversas.

( ) A função conativa ocorre quando a mensagem se orienta sobre o canal de

comunicação ou contato, buscando verificar e fortalecer sua eficiência.

( ) A função referencial centraliza seu interesse na terceira pessoa do discurso;

a função emotiva focaliza a segunda pessoa do discurso. Já a função conativa

centraliza-se na primeira pessoa do discurso.

A sequência que corresponde à ordem é:

a) V, V, F, F, F;

b) V, V, V, F, F;

c) F, F, F, V, V;

d) V, F, V, F, F;

e) F, V, F, V, V.

4) Leia o texto que segue.

Autopsicografia

(Fernando Pessoa)

O poeta é um fingidor

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

A partir da leitura do texto de Fernando Pessoa, é possível afirmar:

I. Temos aqui um caso de metapoesia, onde o autor fala do fazer poético, da

relação do poeta com a criação poética.

II. A metalinguagem não tem caráter alienante. Na verdade, significa para o

autor uma necessidade de pensar sobre a obra que produz, ou mais ainda,

sobre a linguagem de tal obra.

III. O jogo de sonoridades, as rimas, os versos, enfim, a preocupação do autor

com a forma de seu texto demonstra a forte presença da função emotiva da

linguagem.

IV. É possível encontrar a metalinguagem no cinema, na poesia, na música, em

quadrinhos, em sonetos, menos no teatro, onde esse tipo de linguagem não se

traduz como expressão.

V. Metalinguagem é a linguagem que fala da própria linguagem e está

fortemente presente na universidade.

A sequência que corresponde à ordem é:

a) Estão corretas as afirmações I, III e V.

b) Estão corretas as afirmações II, III e V

c) Estão corretas as afirmações II, III, IV e V.

d) Estão corretas as afirmações I, II e V.

e) Todas estão corretas.

5) Leia as afirmações a seguir.

I. Expressões como “vou estar respondendo”, “vou estar fazendo o trabalho”

são legitimamente aceitas em nível formal da língua, pois atribuem à

mensagem um caráter de muita clareza.

II. Frases como Espero que me respondas a fim de que se esclareçam as

dúvidas que dizem respeito ao assunto que foi discutido facilitam o

entendimento do texto, pois o uso dos “quês” torna o texto mais elegante.

III. De preferência, ponha as frases na forma negativa. A regra é dizer o que

não é, não o que é. Dizer o que é em geral soa hesitante, impreciso. Pode

sugerir malandragem, tentativa de fugir do compromisso de afirmar.

IV. Clichês, redundâncias, cacofonias são vícios que devem ser evitados se

privilegiamos a clareza e a objetividade em nossos textos.

A sequência que corresponde à ordem é:

a) Estão corretas apenas as afirmações I e III.

b) Estão corretas apenas as afirmações III e IV.

c) Estão incorretas apenas as afirmações I, II, III.

d) Todas as afirmações estão incorretas.

Comentários dos exercícios

Questão 1 - Resposta correta: e. Todos os textos referem-se à mesma

temática: mulher. Ao lermos com atenção, observamos que o Texto 1 fica clara

a intenção do autor de falar sobre Maria de forma a dar-lhe mais de um

significado. A escolha das palavras, os versos, a possibilidade de extrapolar a

interpretação, levam-nos a identificar a Função Poética como predominante.

Já, o Texto 2, o objetivo de seu emissor é informar sobre a ocorrência de um

fato envolvendo a morte de uma mulher. Ele não quer opinar, apenas transmitir

informações sobre o acontecimento, o que reafirma a presença da Função

Referencial. Ao nos depararmos com o Texto 3, sua própria estrutura nos

inclina a classificá-lo como metalinguístico. Ao lê-lo comprovamos a nossa

hipótese, seu autor busca explicar o sentido do código mulher, privilegiando a

Função Metalinguística. O Texto 4 direciona-se às mulheres, apesar de não

falar diretamente sobre elas, tem como foco esse universo. O uso de

expressões adjetivas exaltando o produto é a tentativa de persuadir o

interlocutor (mulher) estimulando-a a agir, aqui a Função Conativa aparece. O

Texto 5 traz o posicionamento do entrevistado sobre o movimento feminista.

Importa aqui salientar que interessa a ele mostrar a sua opinião, assim o texto

vem marcado por expressões em 1ª pessoa do discurso. Evidencia-se, assim,

a Função Emotiva da linguagem.

Questão 2 - Resposta correta: e. A função referencial está em qualquer texto,

mesmo que digamos bobagens, sempre estaremos nos referendo a algo ou

alguma coisa da realidade, por isso ela está presente sempre. Apesar de

muitos professores terem um bom discurso e conseguir persuadir seu aluno,

em sala de aula o objetivo de um professor é ensinar, para tanto explicará

conceitos, elucidará definições, na tentativa de responder à pergunta “O que o

autor quis dizer com tal expressão, professor?”. Portanto, o discurso é

predominantemente metalinguístico. A função fática busca estabelecer a

comunicação entre os interlocutores e não persuadi-lo, que é objetivo da

função conativa. Como observamos em nossos estudos, dificilmente

encontraremos uma só função em um texto, o que existe é a predominância de

um objetivo, como num texto publicitário em que o objetivo é persuadir, temos

uma série de informações sobre o produto, pois o referente deve ser

mencionado. Ao usarmos as figuras de linguagem, o jogo de sonoridades, a

linguagem com caráter inovador, estaremos dando ênfase à função poética e

não emotiva.

Questão 3 - Resposta correta: b. Quando a sua intenção é expressar o seu

mundo interior, ou seja, o seu ponto de vista sobre determinado referente, a

função que se manifesta é a função emotiva.

Para persuadirmos e fazermos alguém mudar de idéia, é frequente usarmos

argumentos de convencimento plausíveis para atingirmos nosso objetivo, por

isso a argumentação é um dos elementos que compõem a função conativa da

linguagem. O propósito de um livro didático é trazer explicações sobre eventos

da natureza, seu foco não é só informar. Ele vai além, elucidando,

esclarecendo, os conceitos que ali estão, portanto sua função é

metalinguística. Quando a preocupação se volta para o canal da mensagem, é

a função fática que se manifesta e não a função conativa.

Questão 4 - Resposta correta: d. Fernando Pessoa trata do ato de fazer

poesia e conceitua o poeta como um fingidor, diz o que ele faz. Sua poesia,

portanto, busca refletir sobre seu próprio ato de criação. Essa postura diante do

referente faz com que sua linguagem seja metalinguística. A preocupação do

poeta em escolher palavras, traduzir em versos, compor sonoridades denuncia

a presença da função poética da linguagem. É possível encontrar

metalinguagem em qualquer elemento referido por nós, pois ao surgir a dúvida

sobre alguma coisa, é inevitável a pergunta: o que é isso? Ao fazê-la,

queremos uma explicação.

Questão 5 - Resposta correta: c. Ao apresentarmos as dicas para uma boa

redação, aconselhamos evitar o uso de clichês, as redundâncias e as

repetições que provocam as cacofonias. Assim como sugerimos que o

gerúndio em excesso fosse evitado. Outra dica interessante foi o uso de frases

afirmativas e não negativas. As frases afirmativas evidenciam melhor a

informação. Acompanhando a lista do que se deve evitar, está o uso dos

“quês”, os quais tornam o texto longo e dispersam a atenção do leitor.

Referências

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INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto: curso prático de leitura e redação. 5. ed.

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