Unidade 2 - Comunica o Verbal e n O-Verbal - Parte 2 - Fun Es Da Linguagem - Comunica o Empresarial
-
Upload
nuno-de-mello -
Category
Documents
-
view
73 -
download
41
Transcript of Unidade 2 - Comunica o Verbal e n O-Verbal - Parte 2 - Fun Es Da Linguagem - Comunica o Empresarial
Unidade 2. Parte 2.
Comunicação verbal e não verbal
Funções da linguagem
Objetivos
Identificar as diferentes funções da linguagem.
Elaborar mensagens, adequando a linguagem aos diferentes objetivos
de comunicação.
Conhecer e aplicar os recursos da língua formal.
Apresentando a unidade
Terra à vista! Ou melhor, aprendizado à vista. Atracamos na Unidade 2:
As funções da linguagem: referencial, emotiva, conativa, poética, fática e
metalinguística. Ora, o próprio nome denuncia o foco de nosso estudo, certo?
Quando mencionamos a palavra função, estamos nos referindo à utilidade de
algo ou alguma coisa. Vamos fazer algumas perguntas elementares: para que
serve a voz? Para que serve a caneta? Para que serve a leitura? Então, para
que serve a linguagem? Observe que, ao responder a essas perguntas, você
usou alguns verbos que expressam o objetivo de cada uma dessas referências:
a voz para falar, cantar; a caneta para escrever; a leitura para ampliar nossos
conhecimentos. E a linguagem? Serve para quê? Obviamente, para nos
comunicarmos. No entanto, ao irmos um pouco além, vamos notar que, ao
usarmos a linguagem, deixamos explícitas as nossas intenções de
comunicação, ou seja, priorizamos um objetivo a ser atingido. Bem, além de
elucidarmos as funções da linguagem, apontaremos boas dicas de como evitar
alguns deslizes ao fazer uso da língua formal. Então, avente e sempre!
Iniciando o tema
Quando falamos em funções, estamos nos referindo às diversas
intenções que temos ao usar a linguagem. Expliquemos melhor. O uso que
fazemos da linguagem é automático, dificilmente pensamos sobre o ato de
falar, apenas falamos. Mas quando estudamos as funções, vamos observar
que a língua nos oferece uma série de recursos para podermos alcançar o
objetivo a que nos propomos, quando nos comunicamos, isto é, às vezes
queremos informar, outras, desejamos persuadir, emocionar, opinar, explicar,
etc. Quanto mais soubermos sobre como usar a linguagem, mais eficientes e
eficazes seremos em nossos contatos, por isso a grande importância desse
conhecimento para a sua área de atuação.
2.1 A intencionalidade discursiva
E para começarmos o nosso assunto, pensemos juntos: a linguagem
utilizada nas propagandas é a mesma que o dicionário apresenta para explicar
o significado das palavras? Qual seria, por exemplo, o propósito de seu
discurso ao ser convidado a falar sobre violência doméstica, num programa
que apresenta diferentes pontos de vista sobre o assunto? Qual seria a sua
intenção como jornalista, por exemplo, ao apresentar em rede nacional a
notícia do assassinato de uma mulher? Qual a sua intenção ao fazer um
resumo? Qual a intenção de um político ao fazer o seu discurso em época de
campanha? É, talvez precisemos de alguns conceitos para a formulação
dessas respostas. Então, que tal estudarmos as funções da linguagem?
2.1 As funções da linguagem: características e marcas linguísticas
As funções da linguagem surgem da diversidade de objetivos que o
falante tem ao produzir um texto (oral e escrito). Quando temos consciência do
nosso objetivo aos nos comunicarmos, podemos tornar a mensagem mais
eficaz e atingir com maior sucesso a nossa intenção.
Vejamos: se você deseja viajar neste final de semana, mas não tem
dinheiro suficiente e pretende pedir um vale ao seu chefe (que, aliás, é duro na
queda!), com que intuito você irá conversar com ele? Você, por acaso, vai
informá-lo de que vai viajar, ou quererá, talvez, persuadi-lo a lhe dar um
adiantamento? Pois é, às vezes construímos textos com o objetivo de informar,
de emocionar, de explicar, de criticar, cada um deles terá uma estrutura
própria, com vocabulário e sintaxe própria.
ATENÇÃO
Para melhor compreensão das funções de linguagem, torna-se necessário
o estudo dos componentes da comunicação, pois o objetivo de um texto
está diretamente relacionado com todo processo de comunicação.
Imagine-se, agora, deitado(a) em uma rede na varanda de uma casa
na praia. É quase noite e você está pensando em sua(seu) namorada(o). Será
que podemos afirmar que esta situação representa um ato de comunicação? O
que você acha? Não temos dúvida de que você responderá afirmativamente.
Por quê? Primeiro, porque, apesar de você estar sozinho(a), você está
envolvido(a) num processo de comunicação. Não é isso? Você (emissor) está
conversando consigo mesmo(a) (receptor), sobre sua namorada(o) (referente),
a respeito de seu noivado (mensagem), através de seu pensamento (canal) e
utilizando a língua portuguesa (código). Viu? Não é difícil entender que são seis
os elementos envolvidos em um ato de comunicação.
Certamente lhe ocorrerá de já ter lido por aqui algo a esse respeito.
Sim, é claro. Em nossa Unidade 1, já fizemos referência a todos eles ao
falarmos sobre o processo de comunicação. Lembra-se? Como as funções da
linguagem ligam-se estritamente a cada um deles, retomemos o elenco. São
eles:
Referente: é o assunto sobre o qual se estrutura a mensagem.
Emissor ou destinado: é quem transmite a mensagem. Pode ser um
indivíduo, uma empresa, um grupo. É quem emite e codifica a
mensagem.
Receptor ou destinatário: é aquele que recebe a mensagem. Pode ser
um indivíduo, um grupo, até um animal. É o decodificador da
mensagem.
Mensagem: é tudo aquilo que o emissor diz sobre o assunto tratado, ou
seja, o referente. É o conteúdo transmitido pelo emissor.
Canal ou contato: é o meio físico, o veículo através do qual a
mensagem é levada do emissor ao receptor.
Código: é a língua, o idioma utilizado. Conjunto de signos usado na
transmissão e recepção da mensagem.
Nós acabamos de refletir sobre o ato de comunicação, explicitando
todos os seus participantes. Mas, para a maior parte dos falantes, o uso da
linguagem se dá de modo automático. Por isso, raramente percebemos que o
modo como organizamos a linguagem está diretamente ligado à função que
desejamos dar a ela, isto é, à nossa intenção comunicativa.
Para Cereja e Magalhães (1999, p. 19), “a linguagem desempenha
determinada função, de acordo com a ênfase que se queira dar a cada um dos
componentes do ato de comunicação.” Como são seis os componentes
envolvidos, como vimos, a cada um deles corresponde uma das funções da
linguagem. Desse modo, a linguagem pode assumir as seguintes funções:
referencial, emotiva, conativa, poética, fática, metalinguística.
Calma! Não há motivo para pânico. Apesar de alguns nomes
parecerem estranhos, seus significados estão diretamente relacionados às
suas denominações. Por isso, convidamos você para conhecer cada uma delas
agora.
O linguista Roman Jakobson propôs, como já estudamos na Unidade 1,
em seus estudos sobre linguagem, uma fórmula de comunicação que aponta a
correspondência entre os elementos da comunicação e as funções da
linguagem. Vamos observá-la novamente?
Figura 1 – Fórmula de Comunicação de Jakobson. Fonte: Adaptada pela autora.
Passemos, então, a definir cada uma das funções da linguagem.
2.1.1 Função referencial (ou denotativa): informar
A função referencial está centralizada no referente (assunto). Ela se
manifesta quando o emissor procura oferecer informações da realidade, seu
objetivo, portanto, é informar sobre algo ou alguma coisa. É a linguagem da
CANAL
Função Fática Estabelecer e facilitar a
comunicação
RECEPTOR
Função Conativa ou Apelativa
Persuadir/Convencer
EMISSOR
Função Emotiva ou Expressiva
Opinar/Criticar
MENSAGEM
Função Poética ou Estética
Recriar a realidade
CÓDIGO
Função Metalinguística Explicar
REFERENTE
Função Referencial Informar
Contexto de
comunicação
constatação. Objetiva, direta, denotativa. Nesse tipo de texto não se percebe
nem a presença do emissor, nem a do remetente. Remete-se a isso. Não julga
nem emite juízo de valores. Seu propósito é levar a informação de caráter
impessoal que põe a par, de modo claro e direto.
Entre suas marcas linguísticas estão a neutralidade do emissor, a
objetividade e precisão, o seu conteúdo informacional, o uso de verbos no
modo indicativo, a marca da 3ª pessoa do singular, o uso de frases afirmativas
e pronomes de indeterminação do sujeito. É a linguagem encontrada em textos
jornalísticos, livros didáticos, cartas comerciais, redações técnicas, manuais de
instruções, bulas de remédios, relatórios, resenhas, resumos, informes e
descrições. Na propaganda – informações gerais sobre o produto ou serviço.
Vamos aos exemplos.
TEXTO 1
Telescópio espacial descobre novo e estranho sistema solar
Astrônomos localizaram um estranho novo sistema solar, com pequenos
planetas "inchados" e amontoados em órbitas próximas à sua estrela. A
descoberta, publicada na revista "Nature", na quarta-feira, intriga os
astrônomos e mostra quanta variedade o universo pode abrigar. A
equipe da Nasa e de diversas universidades batizaram o sistema de
Kepler-11, por ter sido descoberto pelo telescópio orbital Kepler. A
estrela lembra o nosso Sol, mas cinco dos planetas que a orbitam estão
"amontoados" numa distância equivalente à que separa Mercúrio de
Vênus. E eles são maiores e menos densos do que os planetas
rochosos do nosso sistema - Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. No
entanto, estão entre os menores exoplanetas (planetas fora do nosso
Sistema Solar) já vistos. Já existem mais de 500 exoplanetas
catalogados, e a maioria é gigante - pois, sendo muito distantes, só os
maiores são detectáveis. Os pesquisadores têm certeza de que existem
planetas como a Terra por aí.
Lançado em março de 2009, o Kepler está medindo a luz de cem mil
estrelas nas constelações Cisne e Lira. A esperança é encontrar
planetas com tamanho e composição semelhantes às da Terra, dentro
da chamada zona habitável - quente o suficiente para que exista água
líquida, mas não quente demais para abrigar vida. No mês passado, os
cientistas do telescópio Kepler confirmaram a descoberta do seu
primeiro planeta rochoso, batizado de Kepler-10b, com 1,4 vez o
tamanho da Terra.
Fonte: adaptado de <http://www1.folha.uol.com.br/ciencia>.
TEXTO 2
Resumo do livro Incidente em Antares, de Érico Veríssimo
No livro, dividido em duas partes, mesclam-se acontecimentos reais e
irreais. Na cidade fictícia de Antares, apresenta-nos, o Autor, na primeira
parte, o progressivo acomodamento das duas facções (os Campolargo e
os Vacariano) às oscilações da política nacional e a união de ambas em
face da ameaça comunista, como é conhecida, pelos senhores da
cidade, a classe operária que reivindica seus direitos. Na segunda parte,
o "incidente" do título: a greve dos coveiros. Morrem inesperadamente
sete pessoas em Antares, incluindo a matriarca dos Campolargo. Os
coveiros se negam a efetuar o enterro, a fim de aumentar a pressão
sobre os patrões. Os mortos, insepultos, adquirem "vida" e passam a
vasculhar a vida dos parentes e amigos, descobrindo, com isso, a
extrema podridão moral da sociedade. Como as personagens são
cadáveres, livres, portanto, das pressões sociais, podem criticar
violentamente a sociedade.
Fonte: <http://www.resumosdelivros.com.br>.
TEXTO 3
Paracetamol
Bula do medicamento genérico Paracetamol. Classe terapêutica dos
Analgésicos e Antitérmicos. Princípio ativo paracetamol. Referência
Tylenol (Janssen-Cilag).
Indicações de Paracetamol
Analgésico e antitérmico.
Efeitos colaterais de Paracetamol
Agranulocitose, anemia hemolítica, neutropenia, leucopenia,
pancitopenia e trombocitopenia; erupções cutâneas, urticária, eritema
pigmentar, angioedema e choque anafilático.
O uso abusivo e prolongado pode produzir nefropatias, pancreatites e
insuficiência hepática.
Como usar (Posologia)
Adultos e crianças acima de 12 anos: 750mg VO, de 3 a 4 vezes ao
dia. Não ultrapassar 4g/dia.
Crianças: 10mg a 15mg/kg/dose VO, até 5 vezes ao dia. Não exceder
2,6g/dia.
Contra-indicações de Paracetamol
Hipersensibilidade à droga. Pacientes com deficiência de glicose-6-
fosfato desidrogenase.
Precauções
Administrar com cautela em pacientes mal-nutridos ou alcoólatras:
pode ocasionar hepatotoxicidade grave, mesmo em uso de doses
terapêuticas. Monitorizar a função hepática com o uso prolongado.
Pacientes com insuficiência renal devem ter ajustado o intervalo entre
as doses. Ocorrendo reação de hipersensibilidade, deve ser suspenso
imediatamente. Administração com alimentos ricos em carboidratos
pode retardar sua absorção. Não usar no primeiro trimestre da
gravidez.
Fonte: Bulário on line. <http://bulario.net/paracetamol>.
Comentário: observa-se, a partir da leitura dos textos, que o objetivo
predominante de seus autores era informar: o Texto 1 sobre a existência de um
novo sistema solar; o Texto 2 sobre os principais fatos da história narrada por
Érico Veríssimo; o Texto 3 sobre a composição e posologia do medicamento
Paracetamol. Em nenhum dos casos, percebe-se a presença de seus autores
ou a intenção de emitir juízo de valor, a neutralidade é perseguida, privilegiam
a 3ª pessoa do discurso. Focam-se no referente (assunto). Tão pouco há o
propósito de persuadir o interlocutor, que, aliás, não é identificado, pois não há
marcas para tal. Quanto à linguagem, todos eles trazem frases afirmativas,
verbos no modo indicativo e ausência de adjetivos e elementos subjetivos.
Privilegiam, portanto, a função referencial.
2.1.2 Função emotiva (ou expressiva): expressar o mundo interior, opinar
A função emotiva (ou expressiva) é a que está centralizada no
emissor (também chamado de remetente/transmissor/codificador/falante/
interlocutor. A função emotiva intervém numa mensagem toda vez que o
emissor manifesta seus pensamentos ou reações relativamente ao conteúdo
desta mensagem. A linguagem é subjetiva, predominam as emoções, opiniões,
reflexões pessoais. Aqui o emissor busca expressar seu mundo interior, opinar.
É a linguagem das biografias, memórias, poesias líricas e cartas de amor.
Entre suas marcas linguísticas estão: o discurso em 1ª pessoa,
caracterizado pela presença dos pronomes eu, me, mim, minha, as interjeições
com valor emotivo (oh!, Meu Deus!, Que horror!), as figuras literárias (Minha
vizinha é um avião!) e as frases exclamativas. O texto de caráter emotivo,
opinativo, é muito encontrado em revistas, jornais, cuja seção recebe o nome
de: Cartas ou Cartas do leitor, neste espaço, o veículo impresso permite que
seus leitores apresentem suas opiniões sobre determinadas matérias. A função
emotiva também se manisfesta nos palavrões, fruto de situações que
externalizam emoções como a raiva, a dor, o prazer ou a alegria.
COLOCAR ILUSTRAÇÃO DA MAFALDA OU SIMILAR
Alguns exemplos.
TEXTO 4
Cartas dos leitores à Revista Época sobre a reportagem de capa.
Polícia
(3/11/2004) Mortos pelos homens da lei
Nunca confiei na polícia. Eles pensam que são os donos do mundo, porque têm o poder da arma, a força maior. Saem pelas ruas e matam inocentes. Estamos sendo escravizados pelos homens da lei, aqueles que deveriam nos proteger nos matam. Nunca esquecerei do caso do dentista Flávio Santana, morto injustamente por policiais que não sabem trabalhar honestamente. Carrego comigo a dor e a revolta da família desse pobre rapaz, vítima do preconceito. Poderia ser eu o alvo, e não o Flávio. Afinal, sou negro.
MARCELO TEIXEIRA, São Paulo, SP
As leis brasileiras são as mais brandas do mundo, já morei em pelo menos outros três países e atestei com meus próprios olhos. O trabalho da polícia muitas vezes se compara ao de 'enxuga-gelo', já que não raro vemos casos em que a polícia prende, e o Judiciário solta. Seria excelente uma reportagem que ressaltasse os heróis anônimos que
Geralmente chego à conclusão de que a polícia dos Estados Unidos é melhor do que a brasileira. Porém, é preciso passar por outros assuntos delicados da sociedade para chegar a essa conclusão: como o Estado americano trata seu cidadão quando comparado com o Estado brasileiro? Quanto os EUA investem em segurança pública? Como é tratado o ser humano dentro da
Fonte: Revista Época (2004).
TEXTO 5
Samba em Prelúdio
Baden powell e Vinícios de Morais
Eu sem você não tenho porque
porque sem você não sei nem chorar
Sou chama sem luz
jardim sem luar
luar sem amor
amor sem se dar
E eu sem você
sou só desamor
um barco sem mar
um campo sem flor
Tristeza que vai
tristeza que vem
Sem você meu amor eu não sou
Ninguém
Ah que saudade
que vontade de ver renascer
nossa vida
Volta querido
os meus braços precisam dos teus
Teus abraços precisam dos meus
Estou tão sozinha
tenho os olhos cansados de olhar
para o além
Vem ver a vida
Sem você meu amor eu não sou
ninguém
Fonte: <http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes>.
TEXTO 6
Resenha crítica do livro Memória – ricas lembranças de um precioso modo
de vida
Memória — ricas lembranças de um precioso modo de vida
O Diário de uma garota (Record. Maria Julieta Drummond de Andrade) é
um texto que comove de tão bonito. Nele o leitor encontra o registro amoroso e
miúdo dos pequenos nadas que preencheram os dias de uma adolescente em
férias no verão antigo de 41 para 42.
Acabados os exames, Maria Julieta começa seu diário. anotado em um
caderno de capa dura que ela ganha já usado até a página 49. É a partir daí
que o espaço é todo da menina, que se propõe a registrar nele os principais
acontecimentos destas férias para mais tarde recordar coisas já esquecidas.
O resultado final dá conta plena do recado e ultrapassa em muito a
proclamada modéstia do texto que ao ser concebido, tinha como destinatária
única a mãe da autora a quem o caderno deveria ser entregue quando
acabado.
E quais foram os afazeres de Maria Julieta naquele longínquo verão?
Foram muitos. pontilhados de muita comilança e de muita leitura: cinema, doce-
de-Ieite. Novena, o Tico-Tico, doce-de-banana, teatrinho, visita, picolés, missa,
rosca, cinema de novo, sapatos novos de camurça branca, o Cruzeiro, bem-
casados, romances franceses, comunhão, recorte de gravuras, Fon-Fon, espiar
casamentos, bolinho de legumes, festas de aniversário, Missa do Galo, carta
para a família, dor-de-barriga, desenho de aquarela, mingau, indigestão... Tudo
parecia pouco para encher os dias de uma garota carioca em férias mineiras,
das quais regressa sozinha, de avião.
Tantas e tão preciosas evocações resgatam do esquecimento um modo
de vida que é hoje apenas um dolorido retrato na parede. Retrato. Entretanto,
que, graças à arte de Julieta escapa da moldura, ganha movimentos, cheiros,
risos e vida.
O livro, no entanto, guarda ainda outras riquezas, por exemplo, o
tom autêntico de sua linguagem, que, se, como prometeu sua autora, evita
as pompas, guarda, não obstante, o sotaque antigo do tempo em que os
adolescentes que faziam diários dominavam os pronomes cujo/a/os/as.
conheciam a impessoalidade do verbo haver no sentido de existir e
empregavam. sem pestanejar, o mais--que-perfeito do indicativo quando
de direito...
Outra e não menor riqueza do livro é o acerto de seu.projeto
gráfico, aos cuidados de Raquel Braga. Aproveitando para ilustração
recortes que Maria Julieta pregava em seu diário e reproduzindo na capa
do livro a capa marmorizada do caderno com sua lombada e cantoneiras
imitando couro, o resultado é um trabalho em que forma e conteúdo se
casam tão bem casados que este Diário de uma garota acaba constituindo
uma grande festa para seus leitores.
Marisa Lajolo, Jornal da Tarde, 18 jan. 1986.
Comentário: com claro objetivo de expressar o mundo interior, os autores dos
Textos 4, 5 e 6, intencionalmente emitem a sua visão de mundo sobre o
referente. Vão além da informação, querem registrar a sua opinião sobre o
assunto. No Texto 1 – Cartas dos leitores à revista Época sobre a reportagem
Mortos pelos homens da lei, cada um dos leitores emite o seu posicionamento
e argumenta, defendendo seu ponto de vista. Na canção Samba em prelúdio,
Texto 2, os sentimentos e as emoções estão explícitos em cada verso. E no
Texto 3, a resenhista, além de apresentar um breve resumo da obra, faz uma
apreciação do seu valor (exemplo, 1º período do 1º parágrafo, 3º parágrafo).
Ao comentar a linguagem do livro (6º parágrafo), emite um juízo de valor sobre
ela, estabelecendo um paralelo entre os adolescentes da década de 40 e os de
hoje do ponto de vista da capacidade de se expressar por escrito. No último
parágrafo, comenta o projeto gráfico da obra e faz uma apreciação a respeito
dele. Quanto à linguagem, observam-se pronomes e verbos com marcas em 1ª
pessoa, o uso de frases interrogativas, a presença de adjetivações, a
subjetividade da linguagem. Tudo isso remete-nos a classificá-los dentro da
função emotiva da linguagem
2.1.3 Função conativa (ou apelativa): persuadir, convencer
A função conativa (ou apelativa) centraliza-se no receptor (também
chamado de destinatário, decodificador, ouvinte, interlocutor). A palavra
conativa provém do latim conatus, que significa “esforço ou ação que procura
impor-se a uma resistência”. Aqui o público-alvo é definido. O léxico é
selecionado com critério a fim de envolver o receptor da mensagem. O emissor
procura influenciar o comportamento do receptor, seu objetivo é persuadir,
convencer. Espera-se do receptor uma resposta ou atitude. É a linguagem que
marca os discursos, os sermões e as propagandas que se dirigem diretamente
ao ouvinte/consumidor/leitor.
Entre os recursos que a língua oferece para a produção de textos
persuasivos estão: verbos no Modo Imperativo, emprego de vocativos (nome
das pessoas ou formas de tratamento) e uso de pronomes de 2ª pessoa (tu/
vós ou você/ vocês). As frases interrogativas e os adjetivos são
abundantemente utilizados na linguagem apelativa, já que implicam uma
resposta do interlocutor à interpelação (Você está cansado de morar longe do
trabalho? Então venha para o belíssimo residencial Porto das Águas.). É
comum encontrá-la em textos publicitários, políticos e linguagem comum.
Alguns exemplos são apresentados a seguir.
TEXTO 7
Anúncio
Fonte: Submarino (2011).
TEXTO 8
Anúncio
Sandra Presidente
Convencional do PFL! Compareça às prévias de seu partido nesse
domingo, faça ouvir sua opinião, vote, fiscalize! Mas antes tire cópia deste
Livros nunca são demais. Uma boa leitura traz conhecimentos, cultura além de ser ótimo passatempo. E com o Passaporte da Leitura do Submarino, você vai levar livros com até 80% de desconto. Lançamentos, os mais vendidos, best-sellers, livros de todos gêneros para você viajar pelo mundo dos livros. Faça a sua seleção, aproveite a redução de preço em vários títulos e boa leitura.
anúncio, distribua-o entre outros convencionais – vamos juntos dar um
basta a tanto conchavo e tanta “negociação”. Não permita que continuem a
nos usar! E, na convenção, vote na decência, na honestidade – que é o
que suas bases mais pedem hoje! VOTE SANDRA PRESIDENTE!
Delegado do PFL! Entre em contato com o Movimento Parlamentarista
Brasileiro, no Gabinete da Deputada Sandra Cavalcanti em Brasília
(telefone 061-311-5346) ou no Comitê Central no Rio ( telefone 021-541-
9294). Não temos carros, aviões, máquina “administrativa”, material de
propaganda – mas temos a sua consciência, que ninguém pode comprar!
O IBOPE CONFIRMA! Em pesquisa de maio, o Ibope revela: 73% dos
eleitores votariam numa mulher para Presidente. Sandra Cavalcanti – com
32% - é a mais votada entre as mulheres!
PARLAMENTARISMO JÁ
Anúncio pago por cotização de membros do Movimento Parlamentarista
Brasileiro
Fonte: Infante (1998, p. 245).
TEXTO 9
Fonte: <http://www.metro.sp.gov.br/noticias/campanhas/bicicleta/regulamento.asp>.
Comentário: os textos que representam a função conativa têm forte apelo
persuasivo. Visam mudar o comportamento do interlocutor, levando-o a agir
dentro dos propósitos de seus produtores. Em todos eles o uso de verbos que
exprimem ordem é feito em abundância (“compre”, “confira”, “Cuide”,
“compareça”, o que marca o tom imperativo da linguagem. A 2ª pessoa do
discurso vem exemplificada no uso dos verbos (compre (você), aproveite
(você), no uso de pronomes (“suas bases”, “curtir a sua bike”), na presença do
vocativo( chamamento, invocação) “Delegado do PFL!”. Adjetivos também
fazem parte do elenco das marcas linguísticas dessa função (“boa leitura”,
“ótimo passatempo”, “hábito saudável”. Também o uso das aspas nas palavras
“negociação” e “máquina administrativa” conduzem o leitor a ser persuadido a
pensar de forma negativa sobre os outros candidatos. Podemos também
identificar o público-alvo a quem se dirige cada mensagem, o que demonstra a
tentativa de envolver o interlocutor. Por essas razões, os Textos 7, 8 e 9 são
representantes da função conativa da linguagem.
2.1.4 Função poética: recriar a realidade
Centralizada na mensagem, a função poética revela o uso de recursos
imaginativos criados pelo emissor. Caracteriza-se pela valorização da
mensagem em si mesma e por si mesma. O desejo do emissor, aqui, não é
informar ou convencer, é recriar a realidade, embalar a mensagem de modo
totalmente diferente, criativo. A estética é cuidadosamente criada para
surpreender e gerar o estranhamento. A forma é o alvo das atenções que, por
sua vez, potencializa o conteúdo. Afetiva, sugestiva, conotativa, ela é
metafórica. Privilegia a multiplicidade de sentidos e a ambiguidade. O desvio de
linguagem acontece, neste caso, para dar maior expressividade ao texto. É a
linguagem figurada apresentada em obras literárias, letras de música, em
algumas propagandas, etc. A função poética não abrange só a poesia, no
entanto, é nessa forma de expressão que a função é dominante. Nela, a forma
e a estrutura da mensagem reforçam ou modificam o seu conteúdo. Ela
suplementa ou modifica o sentido denotativo da mensagem.
O ritmo, o jogo de sonoridades, a rima, os versos, o grafismo. Ganham
destaque figuras de linguagem como a metáfora, a metonímia, a antítese, a
prosopopeia, a repetição, entre outras. Valorizam-se as palavras e suas
combinações. A ambiguidade, a polissemia, os trocadilhos, a seleção vocabular
são também algumas das estratégias linguísticas encontradas em textos que
privilegiam a função poética.
Exemplos:
TEXTO 10
Na propaganda:
Pneu carecou? HM trocou.
(HM – Hermes Macedo - revendedor de pneus)
A força do novo, a força do povo. (propaganda política)
Verão colorido. Verão Colorama. (batom Colorama)
TEXTO 11
De repente
Vinícius de Morais
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Fonte: <http://letras.terra.com.br/vinicius-de-moraes>.
TEXTO 12
Fonte: <http://www.google.com.br/imagens>.
Comentário: depois da literatura, a propaganda é um dos maiores redutos da
função poética. Preocupada com a estética, investe no poder da criação. Nos
textos 10, 11 e 12, fica evidente o rigor na escolha das palavras (“aventura
errante”), o jogo de sonoridades, o desenho gráfico concretamente reiterando o
conteúdo, reforçado pela forma. A novidade deve provocar. (Re)criar a
realidade, ver o referente com novas lentes é o critério. Causar o
estranhamento pelo ritmo, pelos versos, pelas figuras de linguagem presentes
na repetição (“De repente, não mais que de repente”) (“força do novo, a força
do povo”). Os desvios de linguagem provocados pelo criador têm a função aqui
de dar mais expressividade à mensagem. O foco é como embalar a mensagem
de forma a transformá-la em arte. Por esses motivos, a função poética se
sobressai.
2.1.5 A função fática: estabelecer comunicação, facilitar
COLOCAR ILUSTRAÇÃO DA MAFALDA
Fonte: <geraldoramosjunior.zip.net>.
A palavra fático vem do grego phátis, que significa “ruído, rumor”. Está
centralizada no contato (físico ou psicológico) que se estabelece através de um
canal entre emissor e receptor, tendo como objetivo iniciar, prolongar, encerrar
o contato com o receptor, ou testar a eficiência do canal. O objetivo é chamar a
atenção do interlocutor e assegurar que este não fique distraído. Ela representa
a manifestação da necessidade ou desejo de comunicação e a manutenção
dos vínculos sociais.
Aplicação: conversas telefônicas e informais, saudações, propaganda
e música. Numa conversa telefônica, por exemplo, a expressão “alô”
estabelece o contato; as expressões “um momento, por favor”, “você está me
ouvindo” mantêm o contato; e “vou desligar” interrompe a comunicação.
Segundo Vanoye (1983, p. 54), “essa função manifesta
essencialmente a necessidade ou o desejo de comunicar.” É o tipo de
linguagem comumente utilizada pelas crianças em expressões como “hein,
mãe!”.
O conjunto organizado de expressões traz pouca informação. Aparece
em partículas ou expressões como “alô”, “olá, “tudo bem”, “né?”, “entendeu?”,
“tchau”. Em alguns casos, as expressões fáticas são vazias de significado, ou
seja, não correspondem ao significado que costumam ter. Ao
cumprimentarmos alguém, por exemplo, e perguntarmos “como vai?”, muitas
vezes faz parte de um ato mecânico, nem sempre queremos realmente saber
como a pessoa está. Assim como respondemos “tudo bem”, quando, às vezes,
não está nada bem.
Ao percebermos a função fática somente por este prisma, o de manter
o contato, possivelmente ela será tratada com certa indiferença. Mas seu
propósito vai um pouco além. Expliquemos. Ao escrevermos, muitas vezes,
sublinhamos os títulos, usamos cores diferenciadas para ressaltar algum termo,
marcamos o texto com canetas coloridas, não é? Por que fizemos isso?
Apenas para enfeitar o caderno? Certamente, não. Usamos os recursos
gráficos para que a informação chegue até nós mais facilmente. Este livro, por
exemplo, faz uso dessa estratégia, apresentando seus títulos e subtítulos em
negrito e usando outros recursos gráficos. Ao escolhermos o tipo de fonte para
redigirmos nosso trabalho usando o computador, privilegiamos aquelas que
potencializam a legibilidade da informação, ou seja, evitamos usar fontes que
dificultam a leitura. Queremos que a informação chegue rápido, sem obstáculos
até o nosso leitor. Ainda no campo de legibilidade, ao selecionarmos palavras
menos extensas, escrevermos frases curtas, evitarmos os parágrafos muito
longos, facilitamos a apreensão da mensagem pelo nosso interlocutor.
Portanto, dois fatores influem definitivamente no grau de legibilidade de um
texto: a construção e a (tipo)grafia (VANOYE, 1983, p. 85).
TEXTO 13
Sinal fechado (1974)
Paulinho da Viola
Composição: Paulinho da Viola
Olá, como vai?
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem eu vou indo correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranquilo, quem sabe...
Quanto tempo... pois é...
Quanto tempo...
Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos negócios
Oh! Não tem de quê
Eu também só ando a cem
Quando é que você telefona?
Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo talvez nos vejamos
Quem sabe?
Quanto tempo... pois é... (pois é... quanto tempo...)
Tanta coisa que eu tinha a dizer
Mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer
Mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso
Beber alguma coisa, rapidamente
Pra semana
O sinal...
Eu espero você
Vai abrir...
Por favor, não esqueça,
Adeus...
Fonte: <http://letras.terra.com.br/paulinho-da-viola>.
TEXTO 14
Fonte: <maryposando.blogspot.com>.
Você não ouviu?
Comentário: ao ler o Texto 13, observamos que grande parte de suas frases é
formada de expressões que pouco informam, mas mantêm os interlocutores
em contato. Muitas delas cumprem apenas a função de instaurar ou manter o
contato. No Texto 14, fica nítida a preocupação de Mafalda em confirmar a
comunicação, preocupada em receber uma resposta externa uma expressão
de confirmação e indagação, querendo saber se a mensagem havia chegado
até ele.
2.1.6 Função metalinguística: definir, explicar
Centralizada no código. Ela aparece quando a linguagem se volta
sobre si mesma, transformando-se em seu próprio referente. A
(meta)linguagem é a linguagem que fala da própria linguagem (meta - prefixo
grego que significa mudança, posterioridade). O objetivo é explicar, elucidar,
conceituar, definir o próprio código linguístico. É a poesia que fala da poesia,
da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto. Os dicionários
são bons exemplos de metalinguagem. Servem para dar explicações ou dar
precisão ao código utilizado pelo emissor. Tem por objetivo a língua usada
como forma de expressão. Ela pode ser encontrada em textos explicativos e
didáticos, em pesquisas científicas, dicionários, comentários explicativos ou
descritivos de fotografia (imagem) e análises.
Você já se perguntou por que um livro é categorizado como didático?
Não? Por que será, então? Qual a diferença entre um livro didático e um não
didático? Estaria o autor de um livro didático priorizando uma das funções da
linguagem?
A metalinguagem está presente até na moda, sabia? Os textos que
acompanham as fotografias nas revistas de moda e comentam o que a imagem
traz, nada mais é do que metalinguagem, ou seja, o redator utiliza-se de uma
linguagem verbal (língua) para explicar uma linguagem visual (foto). Quem já
não leu histórias em quadrinho sem ler a legenda? Apenas olhando as
figurinhas? Pois então, neste caso, as legendas elucidam o que a imagem já
está traduzindo, fazendo o papel metalinguístico.
Palavras que explicam palavras, cinema que fala de cinema, música
que fala de música, teatro de teatro, poesia de poesia, quadrinhos de
quadrinhos, tudo isso constitui metalinguagem. Então, temos o metacinema, a
metamúsica, a metapoesia, o metaquadrinho, a metacharge, a
metapropaganda, o metateatro, etc. Essa função existe em abundância nos
discursos, talvez, por ser da essência humana questionar-se e buscar resposta
à sua existência.
A função metalinguística ocorre em numerosas situações do cotidiano.
Expressões como “O que você quis dizer com isso?” ou “Explique melhor o que
você acabou de dizer.” Em sala de aula, é muito comum o uso da função
metalinguística, pois a todo instante estamos recorrendo à linguagem para
explicar os seus próprios termos. Aliás, o teor da linguagem na academia
privilegia a elucidação dos conceitos, das definições, por isso a presença
constante de inúmeros questionamentos. Frases afirmativas, verbos no modo
indicativo, verbos de ligação, exemplificações são marcas dessa função.
Veja os exemplos.
TEXTO 15
Mídia. (co) Conjunto dos meios de comunicação existentes em uma área, ou
disponível para uma determinada estratégia de comunicação. Grafia
aportuguesada da palavra latina media, conforme esta é pronunciada em
inglês. Media, em latim, é plural de medium, que significa “meio”. Em
publicidade, costuma-se classificar os veículos em duas categorias: mídia
impressa (jornal, revista, folheto, outdoor, mala direta, displays etc.) e mídia
eletrônica (TV, rádio, CD, vídeo, cinema etc.). Em port., diz-se média. V.
multimídia.
Fonte: Barbosa; Rabaça (2001, p. 490).
Autopsicografia
Fernando Pessoa
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fonte: <http://www.tanto.com.br/fernandopessoa-autopsicografia>.
Comentário: os dicionários são os melhores exemplos da metalinguagem. Ao
procurarmos por um, certamente, vamos em busca de uma resposta, uma
explicação, uma definição. Veja a explicação da palavra mídia no Texto 15.
Enquanto um telejornal, por exemplo, tem o objetivo de informar os
acontecimentos do dia, uma enciclopédia, uma teleaula, um dicionário vão
além da mera informação, apresentam os detalhes, incluindo a origem da
palavra. Também existem programas de televisão cujo propósito é falar do
próprio ato de fazer TV.. O programa de televisão Vídeo Show, produzido e
exibido pela Rede Globo e apresentado desde 1983, é exemplo de
metalinguagem. Ao recuperar a memória televisiva, comenta as características
da linguagem da televisão, explica como determinadas cenas foram
produzidas, faz uma reflexão sobre si mesma e sobre a trajetória de seus
profissionais. Obviamente, que a função conativa da linguagem também se faz
presente. Ao trazermos o texto de Fernando Pessoa, grande escritor
português, queremos ilustrar a presença da metalinguagem na poesia. Observe
que o “poeta é um fingidor”, “Gira, a entreter a razão”, o poeta traz para si a
reflexão do ato de criar um universo “que chaga a fingir que é dor”, “a dor que
deveras sente”. A metapoesia ocorre quando a poesia fala do fazer poético, da
relação do poeta com a criação poética, ou quando tenta explicar ou
caracterizar o próprio poeta.
2.6 A superposição das funções da linguagem
As seis funções da linguagem não se excluem, mas também não se
encontram, necessariamente, todas reunidas em uma mesma mensagem.
Portanto, em uma mensagem, é muito raro encontrar apenas uma dessas seis
funções. Há sobreposição das funções, mas sempre uma será dominante de
acordo com o objetivo do produtor da mensagem.
Ao voltarmos aos textos já analisados aqui, perceberemos que seus
autores/produtores privilegiaram um entre os seis objetivos descritos a partir da
Fórmula de Jakobson. Mas, numa mensagem, é muito difícil encontrarmos uma
única das funções da linguagem isolada.
Nos Textos 7,8 e 9 que ilustram a função conativa, por exemplo, fica
evidente a presença da função referencial. Não há como persuadir o
interlocutor sem oferecer-lhe informações. Assim, além de deixar explícito o
objetivo de persuadir seu público-alvo, o Texto 7 traz uma série de informações
sobre o produto ofertado como preço, condições de venda, formas de
pagamento, telefone. O Texto 9 faz referência ao Metrô de São Paulo, tendo
como alvo seus usuários, dirige-se a eles, dando-lhes informações de como
proceder. As condições da persuasão neste caso são marcadas pelo tom
imperativo da mensagem, pela marca da 2ª pessoa do discurso.
Vanoye (1983, p. 141-142), ao referir-se à função poética, aponta as
suas condições de produção: “é por ela que se manifesta o código estético e
que os elementos do código da língua se transfiguram tomando novas
significações”. A mensagem literária centra-se sobre si mesma e a
preocupação de seu autor é dar-lhe forma e estrutura singulares. Em seu livro
Usos da linguagem – descreve com maestria a presença de outras funções da
linguagem na mensagem literária como prova de que elas se superpõem à
função poética. Leia os exemplos a seguir.
Função poética
Função Emotiva (Expressiva) Obra onde domina o “eu”, a personalidade do autor:
confissões, diários íntimos, memórias, cartas, poemas
lírico. Ex.: Memórias do Cárcere (Graciliano Ramos), Carta
ao Me Pai (Kafka); Baú de Ossos (Pedro Navas).
Função Conativa (Apelativa) Obra onde o destinatário está implicado de maneira direta:
discursos, exortações, sermões, súplicas, orações, teatro.
Ex.: Brecht (e seu teatro político), Oswald de Andrade
(teatro), Sermões (Padre Vieira).
Função Referencial Obra onde dominam o “ele” e o “isso”, os heróis e os
acontecimentos: narrativas, epopeia, história. Ex.: Ilíada,
Odisseia (Homero), Os Lusíadas (Camões), Guimarães
Rosa, Machado de Assis.
Função Metalinguística Obra onde domina o projeto didático: as narrativas
educativas, poemas didáticos. Ex.: As fábulas de La
Fontaine, os livros infantis de Monteiro Lobato.
Função Fática Obra onde domina o desejo de comunicar, de tocar o leitor:
obras “grito”, obras “sinal”.
Função Poética Obra onde a função poética se manifesta em estado puro,
por si mesma: poesia pura, poesia de essência da poesia.
Ex.: poesia parnasiana, Mallarmé, Augusto de Campos,
Haroldo de Campos.
Quadro 1: As funções da linguagem na mensagem literária Fonte: Vanoye (1983).
Corroborando o posicionamento de Vanoye (1983, p. 143), “a análise
de uma obra não pode se conduzir a partir de seu conteúdo [...]; não pode
também se conduzir a partir de uma forma”. A análise deve se conduzir a partir
da evidência das funções dominantes e de suas relações que definem o código
particular de cada obra. Ou seja, a partir da elucidação do objetivo de seu
criador.
A intencionalidade comunicativa do autor leva-o a produzir textos com
diferentes objetivos de comunicação, certo? Então, pergunta-se: é possível
elaborar textos com diferentes propósitos a partir do mesmo referente
(assunto)?
Se você respondeu não, equivocou-se. Tomemos como
referente/tema/assunto casa. Se você é convidado a comentar o estilo
arquitetônico das casas alemãs, qual será o objetivo que vai predominar em
seu discurso? Opinar. Se você trabalha numa agência de publicidade e seu
cliente tem um complexo de casas de alto padrão e lhe pede para produzir uma
campanha publicitária, qual será o seu objetivo ao criar os textos? Persuadir.
Se você é convidado a participar de um concurso de poesias cujo assunto é
casa, qual será seu objetivo ao criar o poema? Recriar a realidade. Se você é
repórter de uma emissora de TV local e vai apresentar a ocorrência da
demolição de várias casas construídas em local proibido, qual será seu
objetivo? Informar. Se você chega frente à casa de um amigo e lá do portão o
chama “Oh, de casa!”, qual é sua intenção comunicativa? Estabelecer contato.
Bem, como você percebeu, não importa o assunto tratado – casa, mulher,
morte, universidade, vida – os propósitos do texto são definidos por sua
intenção ao produzi-lo.
Ufa! Esse navio não sai mais daqui. Caramba!
Espere! Espere! Só mais uma perguntinha: Você entendeu a nossa intenção ao
apresentar-lhe as funções da linguagem? Analisando o modo como essas
funções se organizam nos textos alheios, podemos detectar as finalidades que
orientam a sua elaboração. Aplicando-as nos nossos próprios textos, podemos
planejar o que escrevemos, de modo a fortalecer a eficácia e a expressividade
das mensagens (INFANTE, 1991, p. 141).
2.7 Tópico de língua formal
“Escrever é cortar palavras.”
(Carlos Drummond de Andrade)
Caro(a) acadêmico(a), chegou a hora de darmos um pouquinho de
atenção à língua formal. A seguir, apresentamos a você boas dicas de redação
extraídas do livro A arte de escrever bem (SQUARISI; SALVADOR, 2005, p.
21-52):
1 Maximize a informação com o mínimo de palavras
Ex.: Esta tem o objetivo de comunicar...
Comunicamos
2 Elimine os clichês
Ex.: Nada mais havendo a declarar, subscrevemo-nos
Atenciosamente
3 Corte redundâncias
Ex.: Em resposta ao Ofício enviado por V. Sa.
Em resposta a seu ofício
4 Retire ideias excessivas
Ex.: Informamos que a entrada, a frequência e a permanência nas
dependências deste clube é terminantemente proibida, seja qual for o
pretexto, a pessoas que não fazem parte de seu quadro de sócios.
É proibida a entrada de não-sócios.
5 Livre-se do excesso de quês
Ex.: Espero que me respondas a fim de que se esclareçam as dúvidas que
dizem respeito ao assunto que foi discutido.
Espero sua resposta a fim de esclarecer as dúvidas a respeito do
assunto discutido.
6 Corte que é, que foi, que era & Cia
Ex.: Juscelino Kubitschek, que foi presidente do Brasil de 1956 a 1960,
construiu Brasília, que é a capital do país.
Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil de 1956 a 1960, construiu
Brasília, a capital do país.
7 Elimine palavras ou expressões desnecessárias
Ex.: Decisão tomada no âmbito da diretoria = decisão da diretoria
Trabalho de natureza temporária = trabalho temporário
Curso em nível de pós-graduação = curso de pós-graduação
8 Substitua a locução verbo+ substantivo pelo verbo
Ex.: Fazer uma viagem = viajar
Fazer música = compor
Pôr as ideias em ordem = ordenar as ideias
Pôr moedas em circulação = emitir moedas
9 Substitua o gerúndio por ponto:
Ex.: Alunos recém-aprovados no vestibular chegarão à universidade no
segundo semestre podendo, se forem estudiosos, concluir o curso em
quatro anos, fazendo em seguida um curso de pós-graduação.
Alunos recém-aprovados no vestibular chegarão à universidade no
segundo semestre do ano. Se forem estudiosos, poderão concluir o
curso em quatro anos e, em seguida, fazer uma pós-graduação.
10 Livre-se do já que:
Ex.: Os líderes europeus tiveram de falar em Ronald Reagan, já que a morte
do cowboy presidente os surpreendeu reunidos em Paris na
comemoração da passagem dos 60 anos do Dia D.
Os líderes europeus tiveram de falar em Ronald Reagan. A morte do
cowboy presidente os surpreendeu reunidos em Paris na comemoração
da passagem dos 60 anos do Dia D.
11 Troque a oração adjetiva por um adjetivo equivalente
Ex.: Jacaré que não se cuida vira bolsa de madame.
Jacaré descuidado vira bolsa de madame.
Quem escreve animal que se alimenta de carne quer dizer animal
carnívoro; pessoa que planta café, cafeicultor; criança que não tem
educação, criança mal-educada.
12 Opte pela voz ativa
Ex.: Voz passiva: A notícia foi publicada pelos jornais de grande circulação.
Voz ativa: Os jornais de grande circulação publicaram a notícia.
Voz passiva: O processo foi devolvido pela Diretoria
Voz ativa: A Diretoria devolveu o processo
13 Ponha as sentenças na forma positiva
A regra é dizer o que é, não o que não é. Dizer o que não é em geral soa
hesitante, impreciso. Pode sugerir malandragem, tentativa de fugir do
compromisso de afirmar.
Ex.: Não ser honesto é ser desonesto. Não lembrar é esquecer. Não dar
atenção é ignorar. Não comparecer é faltar. Não pagar em dia é atrasar
o pagamento. Emprego que não paga bem paga mal.
Ex.: O presidente diz que não fará alterações na política econômica.
O presidente nega alterações na política econômica.
14 Procure a frase harmoniosa
A harmonia abomina os ecos. A rima, qualidade da poesia, constitui defeito
da prosa. Releia seus textos, de preferência em voz alta, para verificar se
ocorre repetição de sons iguais ou semelhantes.
Ex.: Houve muita confusão e provocação na reunião de representantes do
Ceará e do Maranhão.
Houve muita provocação e tumulto no encontro de representantes de
Fortaleza e São Luís.
O crescimento sem desenvolvimento pode implicar incremento do
subdesenvolvimento.
Crescer sem preocupação com o desenvolvimento pode implicar mais
atraso.
15 Tenha cuidado com as cacofonias
Às vezes, a última sílaba de uma palavra se junta à primeira de outra e
forma novo vocábulo, soando mal aos ouvidos do leitor atento ou
desavisado: por cada, uma mão, por razões, boca dela, por tal, por tais, por
tão.
16 Evite o “gerundismo”
Recorremos a mil estratégias de falar sem dizer. Uma delas é espichar os
verbos e expressões.
Trazido pelas más traduções do inglês e adotado por secretárias,
telefonistas e, sobretudo serviços de telemarketing, o gerundismo criou asas
e voou.
Para não afugentar o cliente, mandam o bom senso e a boa norma dar o
recado no futuro simples ou no composto.
Evite as expressões “vou estar anotando”, vou estar encaminhando”, “vai
estar lendo”.
Use “vou anotar”, “vou encaminhar”, “vou ler” ou “anotarei”,
“encaminharei”,. “lerei”.
Ex.: Pode deixar, eu vou estar escrevendo o relatório.
Pode deixar, eu escreverei o relatório.
17 Evite usar os verbos poder, querer, tentar & gangue.
Esses verbos são apenas parasitas. Roubam a força do verbo principal.
Ex.: Ele fez tudo para poder salvar o casamento.
Ele fez tudo para salvar o casamento.
18 Não esconda-se atrás do tentar
Outro recurso para fugir da responsabilidade é esconder-se atrás do tentar.
Ao dizer “vou tentar resolver meu problema de pontuação”, você dá razão
aos psicólogos. Eles explicam: Quem quer faz. Quem não quer tenta.
Ex.: Vou tentar resolver meu problema de pontuação.
Vou resolver meu problema de pontuação.
Saiba mais
Um trabalho muito interessante sobre a função metalinguística é
apresentado por André Valente (1997) em seu livro A linguagem nossa de cada
dia . Vale a pena conferir.
Para confirmar as marcas linguísticas da função conativa no texto
publicitário e o bom humor de seus criadores, não deixe de visitar os inúmeros
sites destinados a propagandas premiadas no mundo todo, entre eles
<http://www.internessante.com.br/2009/11/14/propagandas-criativas/> ou
<http://fmanha.com.br/blogs/cartasnamanga/category/comercias-premiados>.
Para sintetizar
Como você já sabe, o ato de comunicação é composto por seis
elementos: emissor, receptor, referente, canal, mensagem e código. Cada um
desses componentes está relacionado com uma função da linguagem. As
funções da linguagem nascem dos diversos objetivos estabelecidos pelo
emissor/produtor no ato de se comunicar. Elas são frutos de nossa intenção de
comunicação. São seis as funções da linguagem: função emotiva ou
expressiva (centrada no emissor); função apelativa ou conativa (centrada no
receptor); função referencial (centrada no referente); função poética (centrada
na mensagem); função fática (centrada no canal); função metalinguística
(centrada no código). As funções agem simultaneamente, havendo sempre a
predominância de uma delas. Tão importante quanto definir o propósito da
mensagem, é saber apresentá-la. Assim, volte às dicas para uma boa redação.
Conhecer a língua formal é um importante caminho de acesso ao
conhecimento.
Revisando vocabulário
Denotação: diz-se do sentido das palavras que se refere diretamente à coisa,
e não às sugestões por ela provocadas.
Conotação: diz-se do sentido das palavras que não se refere diretamente à
coisa, mas às sugestões provocadas por ela; figurado, metafórico.
Polissemia: faculdade que tem uma palavra de apresentar diferentes sentidos.
Fática: a palavra fático vem do grego phátis, que significa “ruído, rumor”.
Conativa: a palavra conativa provém do latim conatus, que significa “esforço
ou ação que procura impor-se a uma resistência”.
Metalinguagem: linguagem que se utiliza para descrever outra linguagem ou
qualquer sistema de significação.
Superposição: o mesmo que sobreposição.
Texto: unidade linguística concreta, percebida pela audição (na fala) ou pela
visão (na escrita), que dê unidade de sentido e intencionalidade comunicativa.
Exercícios de aprendizagem
1) Sabemos que são seis os elementos envolvidos no processo de
comunicação. Roman Jakobson aponta uma correspondência entre esses
elementos e a diversidade de objetivos de cada emissor ao organizar sua
mensagem. A seguir, apresentamos a você cinco extratos de um mesmo tema:
mulher. Leia-os com atenção.
Texto 1
Milton Nascimento
Maria, Maria
Maria, Maria é um dom
Uma certa magia, Uma força que nos alenta.
Uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta
Maria, Maria é um som,
É a cor, é o suor, é a dose mais forte, lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta.
Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre.
Quem traz no corpo essa marca,
Maria, Maria, mistura a dor e alegria
Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça, é preciso ter sonho sempre.
Texto 2
Marieta da Silva morre na explosão de avião
A deputada estadual, Marieta da Silva, morreu às 19h15min de ontem, na
explosão do jatinho HS da FAB, ocorrida seis segundos após a decolagem do
aparelho da pista do aeroporto de Carajás, no Pará, 500 quilômetros ao sul de
Belém, em viagem de retorno a Brasília. Uma informação não confirmada
indicava que um dos filhos da deputada estaria a bordo. Marieta da Silva havia
completado 50 anos na terça-feira, dia 6. (CORREIO DO POVO, 09/09/2008)
Texto 3
Mulher. Do lat. muliere. Sf. 1. Pessoa do sexo feminino após a puberdade.
um.: mulherão, mulheraça, mulherona. 2. Esposa.
(FERREIRA, 1975).
Texto 4
Seja marcada por quem lhe ama
Tenha sempre em seu corpo quem sabe lhe tratar bem.
Com carinho, leveza, elasticidade, com um conforto que só os grandes amores
podem proporcionar.
DE MILLUS sabe cuidar de você de acordo com suas expectativas. Entrega-se
aos soutiens DE MILLUS; eles sabem lhe tratar com o devido amor.
DE MILLUS feito com amor.
(REVISTA CLAUDIA, Abril 2007)
Texto 5
NOVA - E o que você acha das chamadas novas conquistas femininas, do
feminismo em geral?
JÕ SOARES - Aí são duas coisas diferentes. As conquistas femininas eu
encaro com a maior alegria. A mulher, que sempre foi discriminada de todas as
formas, ainda tem muito caminho a percorrer. (...) Agora, esse negócio de
feminismo eu acho o reverso da medalha do machismo. (...)
(REVISTA NOVA, Maio 2000).
Podemos afirmar que o objetivo predominante nos Textos 1, 2, 3, 4, e 5 e
a função da linguagem equivalente são, respectivamente:
a) informar, Referencial; explicar, Metalinguística; persuadir, Conativa; opinar,
Emotiva; recriar a realidade, Poética;
b) recriar a realidade, Poética; persuadir, Conativa; opinar, Emotiva; informar,
Referencial; explicar, Metalinguística;
c) explicar, Metalinguística; opinar, Emotiva; informar, Referencial; recriar a
realidade, Poética; persuadir, Conativa;
d) opinar, Emotiva; informar, Referencial; explicar, Metalinguística; persuadir,
Conativa; recriar a realidade, Poética.
e) recriar a realidade, Poética; informar, Referencial; explicar, Metalinguística;
persuadir, Conativa; opinar, Emotiva;
2) Levando-se em consideração os estudos realizados sobre as Funções da
linguagem, leia com atenção as afirmações a seguir.
I. Entre as funções da linguagem há uma que está em todos os textos
existentes: é a função referencial.
II. O objetivo principal do discurso de um professor na universidade é persuadir
os acadêmicos.
III. A função fática procura organizar o texto de forma a se impor sobre o
receptor da mensagem, persuadindo-o, seduzindo-o.
IV. Numa mensagem escrita, é muito difícil encontrarmos uma única função de
linguagem. O que ocorre, de modo geral, é a superposição de várias funções.
Mas há uma que sempre se sobressai.
V. A função emotiva aparece quando a mensagem é elaborada de forma
inovadora e imprevista, utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de
imagens ou de ideias. Nessa função, a linguagem é manipulada de forma
pouco convencional.
Marque a sequência correspondente:
a) Apenas as afirmações I, II, e V estão corretas.
b) Apenas as afirmações IV e V estão corretas.
c) Apenas as afirmações I, III, IV estão corretas.
d) Apenas as afirmações III e IV estão corretas.
e) Apenas as afirmações I e IV estão corretas.
3) A seguir, coloque V para as afirmações VERDADEIRAS e F para as
afirmações FALSAS.
( ) Quando, ao produzir um texto, o emissor manifesta sua posição pessoal
diante do conteúdo transmitido, temos a ocorrência da função emotiva e/ou
expressiva.
( ) Um recurso muito importante na atuação conativa da linguagem é a
argumentação, por meio da qual o emissor procura a adesão do receptor ao
seu ponto de vista.
( ) A função metalinguística ocorre com frequência em textos didáticos, assim
como em textos que tratam de outros textos, como é o caso de análises
literárias e interpretações e críticas diversas.
( ) A função conativa ocorre quando a mensagem se orienta sobre o canal de
comunicação ou contato, buscando verificar e fortalecer sua eficiência.
( ) A função referencial centraliza seu interesse na terceira pessoa do discurso;
a função emotiva focaliza a segunda pessoa do discurso. Já a função conativa
centraliza-se na primeira pessoa do discurso.
A sequência que corresponde à ordem é:
a) V, V, F, F, F;
b) V, V, V, F, F;
c) F, F, F, V, V;
d) V, F, V, F, F;
e) F, V, F, V, V.
4) Leia o texto que segue.
Autopsicografia
(Fernando Pessoa)
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
A partir da leitura do texto de Fernando Pessoa, é possível afirmar:
I. Temos aqui um caso de metapoesia, onde o autor fala do fazer poético, da
relação do poeta com a criação poética.
II. A metalinguagem não tem caráter alienante. Na verdade, significa para o
autor uma necessidade de pensar sobre a obra que produz, ou mais ainda,
sobre a linguagem de tal obra.
III. O jogo de sonoridades, as rimas, os versos, enfim, a preocupação do autor
com a forma de seu texto demonstra a forte presença da função emotiva da
linguagem.
IV. É possível encontrar a metalinguagem no cinema, na poesia, na música, em
quadrinhos, em sonetos, menos no teatro, onde esse tipo de linguagem não se
traduz como expressão.
V. Metalinguagem é a linguagem que fala da própria linguagem e está
fortemente presente na universidade.
A sequência que corresponde à ordem é:
a) Estão corretas as afirmações I, III e V.
b) Estão corretas as afirmações II, III e V
c) Estão corretas as afirmações II, III, IV e V.
d) Estão corretas as afirmações I, II e V.
e) Todas estão corretas.
5) Leia as afirmações a seguir.
I. Expressões como “vou estar respondendo”, “vou estar fazendo o trabalho”
são legitimamente aceitas em nível formal da língua, pois atribuem à
mensagem um caráter de muita clareza.
II. Frases como Espero que me respondas a fim de que se esclareçam as
dúvidas que dizem respeito ao assunto que foi discutido facilitam o
entendimento do texto, pois o uso dos “quês” torna o texto mais elegante.
III. De preferência, ponha as frases na forma negativa. A regra é dizer o que
não é, não o que é. Dizer o que é em geral soa hesitante, impreciso. Pode
sugerir malandragem, tentativa de fugir do compromisso de afirmar.
IV. Clichês, redundâncias, cacofonias são vícios que devem ser evitados se
privilegiamos a clareza e a objetividade em nossos textos.
A sequência que corresponde à ordem é:
a) Estão corretas apenas as afirmações I e III.
b) Estão corretas apenas as afirmações III e IV.
c) Estão incorretas apenas as afirmações I, II, III.
d) Todas as afirmações estão incorretas.
Comentários dos exercícios
Questão 1 - Resposta correta: e. Todos os textos referem-se à mesma
temática: mulher. Ao lermos com atenção, observamos que o Texto 1 fica clara
a intenção do autor de falar sobre Maria de forma a dar-lhe mais de um
significado. A escolha das palavras, os versos, a possibilidade de extrapolar a
interpretação, levam-nos a identificar a Função Poética como predominante.
Já, o Texto 2, o objetivo de seu emissor é informar sobre a ocorrência de um
fato envolvendo a morte de uma mulher. Ele não quer opinar, apenas transmitir
informações sobre o acontecimento, o que reafirma a presença da Função
Referencial. Ao nos depararmos com o Texto 3, sua própria estrutura nos
inclina a classificá-lo como metalinguístico. Ao lê-lo comprovamos a nossa
hipótese, seu autor busca explicar o sentido do código mulher, privilegiando a
Função Metalinguística. O Texto 4 direciona-se às mulheres, apesar de não
falar diretamente sobre elas, tem como foco esse universo. O uso de
expressões adjetivas exaltando o produto é a tentativa de persuadir o
interlocutor (mulher) estimulando-a a agir, aqui a Função Conativa aparece. O
Texto 5 traz o posicionamento do entrevistado sobre o movimento feminista.
Importa aqui salientar que interessa a ele mostrar a sua opinião, assim o texto
vem marcado por expressões em 1ª pessoa do discurso. Evidencia-se, assim,
a Função Emotiva da linguagem.
Questão 2 - Resposta correta: e. A função referencial está em qualquer texto,
mesmo que digamos bobagens, sempre estaremos nos referendo a algo ou
alguma coisa da realidade, por isso ela está presente sempre. Apesar de
muitos professores terem um bom discurso e conseguir persuadir seu aluno,
em sala de aula o objetivo de um professor é ensinar, para tanto explicará
conceitos, elucidará definições, na tentativa de responder à pergunta “O que o
autor quis dizer com tal expressão, professor?”. Portanto, o discurso é
predominantemente metalinguístico. A função fática busca estabelecer a
comunicação entre os interlocutores e não persuadi-lo, que é objetivo da
função conativa. Como observamos em nossos estudos, dificilmente
encontraremos uma só função em um texto, o que existe é a predominância de
um objetivo, como num texto publicitário em que o objetivo é persuadir, temos
uma série de informações sobre o produto, pois o referente deve ser
mencionado. Ao usarmos as figuras de linguagem, o jogo de sonoridades, a
linguagem com caráter inovador, estaremos dando ênfase à função poética e
não emotiva.
Questão 3 - Resposta correta: b. Quando a sua intenção é expressar o seu
mundo interior, ou seja, o seu ponto de vista sobre determinado referente, a
função que se manifesta é a função emotiva.
Para persuadirmos e fazermos alguém mudar de idéia, é frequente usarmos
argumentos de convencimento plausíveis para atingirmos nosso objetivo, por
isso a argumentação é um dos elementos que compõem a função conativa da
linguagem. O propósito de um livro didático é trazer explicações sobre eventos
da natureza, seu foco não é só informar. Ele vai além, elucidando,
esclarecendo, os conceitos que ali estão, portanto sua função é
metalinguística. Quando a preocupação se volta para o canal da mensagem, é
a função fática que se manifesta e não a função conativa.
Questão 4 - Resposta correta: d. Fernando Pessoa trata do ato de fazer
poesia e conceitua o poeta como um fingidor, diz o que ele faz. Sua poesia,
portanto, busca refletir sobre seu próprio ato de criação. Essa postura diante do
referente faz com que sua linguagem seja metalinguística. A preocupação do
poeta em escolher palavras, traduzir em versos, compor sonoridades denuncia
a presença da função poética da linguagem. É possível encontrar
metalinguagem em qualquer elemento referido por nós, pois ao surgir a dúvida
sobre alguma coisa, é inevitável a pergunta: o que é isso? Ao fazê-la,
queremos uma explicação.
Questão 5 - Resposta correta: c. Ao apresentarmos as dicas para uma boa
redação, aconselhamos evitar o uso de clichês, as redundâncias e as
repetições que provocam as cacofonias. Assim como sugerimos que o
gerúndio em excesso fosse evitado. Outra dica interessante foi o uso de frases
afirmativas e não negativas. As frases afirmativas evidenciam melhor a
informação. Acompanhando a lista do que se deve evitar, está o uso dos
“quês”, os quais tornam o texto longo e dispersam a atenção do leitor.
Referências
BARBOSA, Gustavo; RABAÇA, Carlos Alberto. Dicionário de comunicação.
2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001.
CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Gramática
reflexiva: Texto, semântica e interação. São Paulo: Atual, 1999.
FOLHA DE S. PAULO. Telescópio espacial descobre novo e estranho sistema
solar. 3 fev. 2011. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ciencia>.
Acesso em: 2 fev. 2011.
VIOLA, Paulinho da. Sinal fechado. Disponível em:
<http://letras.terra.com.br/paulinho-da-viola>. Acesso em: 7 fev. 2011.
INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto: curso prático de leitura e redação. 5. ed.
São Paulo: Scipione, 1998.
VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção
oral e escrita. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1983.
VALENTE, André. A linguagem nossa de cada dia. Petrópolis: Vozes, 1997.
SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. A arte de escrever bem: um guia para
jornalistas e profissionais do texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2005.
BULÁRIO ON LINE. Paracetamol. Disponível em:
<http://bulario.net/paracetamol/>. Acesso em: 02 fev. 2011.
REVISTA ÉPOCA. Carta do leitor. 3 nov. 2004. Disponível
em:<http://revistaepoca.globo.com/Epoca>. Acesso em: 2 fev. 2011.
MICHAELIS MODERNO DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível
em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php>. Acesso em:
10 fev. 2011.
METRÔ. Notícias. Disponível em:
<http://www.metro.sp.gov.br/noticias/campanhas/bicicleta/regulamento.asp>.
Acesso em: 10 FEV 2011.