Unidade de ação exige independência da CUT

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1 de Agosto de 2016 – Número 31 A executiva nacional da CUT de 5 de julho adotou resolução de preparação da Greve Geral em nossas bases, contra os ataques ao conjunto da classe trabalhadora anunciados pelo governo Temer. Além de propor assembleias sindicais e plenárias de ramos e estaduais da CUT, a resolução estabelecia: 3. Dia Nacional de Assembleia da Classe Trabalhadora: A CUT está buscando a unidade de ação com as demais Centrais Sindicais em torno da defesa dos direitos da classe trabalhadora e com base numa pauta concreta de exigências e reivindicações. Esta unidade deverá traduzir-se numa agenda comum de ação e na realização de um Dia Nacional de Assembleias da Classe Trabalhadora, em todas as capitais dos estados, na segunda quinzena de agosto. Essas assembleias devem deliberar e fazer o indicativo de data da greve geral.” (grifado por nós). As discussões com as demais centrais desembocaram em duas atividades no final de julho: um ato diante do Banco Central em São Paulo no dia 19, pela “redução da taxa de juros” e “contra o desemprego”, e uma reunião no dia 26, chamada de “Assembleia nacional da classe trabalhadora”. Nesta última, também em São Paulo, após discursos de um dirigente por central, (CUT, Força, UGT, CTB, NCS, CSB, CGTB e Conlutas) foi adotado um documento que não toca em Greve Geral, não traz qualquer reivindicação do setor público ou dos rurais, limitando-se a pedir diminuição nos juros e jornada de 40 horas, além de propostas requentadas de “mais investimento” extraídas do documento conjunto com empresários entregue a Dilma antes do início do impeachment (“Compromisso pelo desenvolvimento”). Dar palanque ao Paulinho em meio à luta contra o golpe, serve para que? É preciso muito malabarismo para justificar o ato das centrais de 26 de julho – em que o companheiro Vagner apareceu lado a lado com o golpista Paulinho – como sendo aplicação da resolução da CUT citada acima. Afinal, onde está no documento adotado a “pauta concreta de exigências e reivindicações” e o compromisso de preparar a Greve Geral? Na véspera desse ato, em 25 de julho, representantes das distintas forças cutistas foram convidados a reunir-se com o secretário geral, quando foram informados que havia um acordo de não tocar no assunto golpe (ou “Fora Temer”) e solicitados a não hostilizar o Paulinho da Força, para não atrapalhar a “unidade das centrais”. Exceto a CSD, as demais correntes manifestaram-se contrárias a tal encaminhamento. No dia do ato – para o qual foram convocados presidentes e dirigentes de CUTs estaduais – houve reunião prévia dos cutistas, em que se repetiu tal orientação, provocando a reação de vários dirigentes que criticaram o método e o conteúdo da iniciativa. Companheiras e companheiros indagavam: Por que “dar palanque” para o golpista Paulinho, antes do desenlace do impeachment? Por que não há nenhuma menção no documento à derrubada dos PLs 257 e 241 que afetam os servidores públicos em todos os níveis? Por que não existe menção à reforma agrária ou a qualquer reivindicação dos rurais? Por que não se defende o regime de partilha no Pré-sal, que Temer e Serra querem destruir? Também a data de 16 de agosto, proposta para assembleias unitárias nas capitais, foi questionada, por estar atravessada no meio das mobilizações de 5 e 9 de agosto por “Fora Temer” e a votação do impeachment no final do mês. O fato é que a maioria dos que estavam na reunião dos cutistas não foi ao ato com as outras Unidade de ação exige independência da CUT

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1 de Agosto de 2016 – Número 31

A executiva nacional da CUT de 5 de julho adotou resolução de preparação da Greve Geral em nossas bases, contra os ataques ao conjunto da classe trabalhadora anunciados pelo governo Temer. Além de propor assembleias sindicais e plenárias de ramos e estaduais da CUT, a resolução estabelecia: “3. Dia Nacional de Assembleia da Classe Trabalhadora: A CUT está buscando a unidade de ação com as demais Centrais Sindicais em torno da defesa dos direitos da classe trabalhadora e com base numa pauta concreta de exigências e reivindicações. Esta unidade deverá traduzir-se numa agenda comum de ação e na realização de um Dia Nacional de Assembleias da Classe Trabalhadora, em todas as capitais dos estados, na segunda quinzena de agosto. Essas assembleias devem deliberar e fazer o indicativo de data da greve geral.” (grifado por nós). As discussões com as demais centrais desembocaram em duas atividades no final de julho: um ato diante do Banco Central em São Paulo no dia 19, pela “redução da taxa de juros” e “contra o desemprego”, e uma reunião no dia 26, chamada de “Assembleia nacional da classe trabalhadora”. Nesta última, também em São Paulo, após discursos de um dirigente por central, (CUT, Força, UGT, CTB, NCS, CSB, CGTB e Conlutas) foi adotado um documento que não toca em Greve Geral, não traz qualquer reivindicação do setor público ou dos rurais, limitando-se a pedir diminuição nos juros e jornada de 40 horas, além de propostas requentadas de “mais investimento” extraídas do documento conjunto com empresários entregue a Dilma antes do início do impeachment (“Compromisso pelo desenvolvimento”).

Dar palanque ao Paulinho em meio à luta contra o golpe, serve para que? É preciso muito malabarismo para justificar o ato das centrais de 26 de julho – em que o companheiro Vagner apareceu lado a lado com o golpista Paulinho – como sendo aplicação da resolução da CUT citada acima. Afinal, onde está no documento adotado a “pauta concreta de exigências e reivindicações” e o compromisso de preparar a Greve Geral? Na véspera desse ato, em 25 de julho, representantes das distintas forças cutistas foram convidados a reunir-se com o secretário geral, quando foram informados que havia um acordo de não tocar no assunto golpe (ou “Fora Temer”) e solicitados a não hostilizar o Paulinho da Força, para não atrapalhar a “unidade das centrais”. Exceto a CSD, as demais correntes manifestaram-se contrárias a tal encaminhamento. No dia do ato – para o qual foram convocados presidentes e dirigentes de CUTs estaduais – houve reunião prévia dos cutistas, em que se repetiu tal orientação, provocando a reação de vários dirigentes que criticaram o método e o conteúdo da iniciativa. Companheiras e companheiros indagavam: Por que “dar palanque” para o golpista Paulinho, antes do desenlace do impeachment? Por que não há nenhuma menção no documento à derrubada dos PLs 257 e 241 que afetam os servidores públicos em todos os níveis? Por que não existe menção à reforma agrária ou a qualquer reivindicação dos rurais? Por que não se defende o regime de partilha no Pré-sal, que Temer e Serra querem destruir? Também a data de 16 de agosto, proposta para assembleias unitárias nas capitais, foi questionada, por estar atravessada no meio das mobilizações de 5 e 9 de agosto por “Fora Temer” e a votação do impeachment no final do mês. O fato é que a maioria dos que estavam na reunião dos cutistas não foi ao ato com as outras

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centrais, resultando numa frágil representação da CUT num plenário coalhado de bandeiras da Força e UGT. Segundo matéria no site da CUT, o companheiro Vagner Freitas teria dito no ato que “greve geral só acontece se todas as centrais quiserem fazer”. Se foi isso mesmo que ele disse, trata-se de um enorme equívoco. Primeiro, porque não corresponde às experiências de greve geral feitas no Brasil. Segundo, porque deixaria nas mãos dos pelegos o poder de “veto” sobre convocar ou não uma greve geral. Estaria o Paulinho disposto a organizar uma greve geral contra as medidas do governo Temer? Alguém pode acreditar nisso? No site “Brasil: 2 pontos” (28 de julho), Paulinho reagiu a um editorial do “Estadão” que o criticou, dizendo que era uma “tentativa de intriga com o presidente interino Michel Temer”, acrescentando que: “O presidente abriu espaço para as centrais sindicais nas grandes mesas de negociação de seu governo...”. No dia seguinte ao ato das centrais, quatro delas (Força, UGT, NCS e CSB) estavam de novo em negociações com o ministro do Trabalho de Temer! No mesmo 27 de julho, Vagner Freitas, em declaração ao jornal “Valor Econômico”, teria dito que, passado o impeachment, vai negociar com o governo (seja Dilma ou Temer). Se isso corresponde ao que foi dito, cabe a pergunta: negociar o que, quando o que se trata é de exigir a retirada da reforma da Previdência e de qualquer iniciativa de exibilização da CLT, é impedir os demais ataques anunciados por Temer? O que quer Paulinho é ser o articulador da “unidade das centrais” para levá-las ao colo de Temer e negociar direitos previdenciários, sociais e trabalhistas inegociáveis. Já para a CUT se trata de reunir as condições para a Greve Geral para barrar esses ataques, encostando na parede os pelegos. São duas linhas inconciliáveis.

A CUT deve preparar suas bases para a Greve Geral Sabemos que a situação é difícil, inclusive nas bases da CUT, pois os estragos causados pelo ajuste fiscal de Levy, ministro de Dilma – o desemprego em particular – pesam negativamente. Mas não há como enfrentar a destruição de direitos e conquistas anunciada por Temer de forma isolada em cada categoria ou ramo. Por isso é preciso sair da rotina e ir às bases explicar o que está em jogo, mobilizar para uma resposta de conjunto que é a greve geral. Nenhum “acordo por cima” de dirigentes de centrais (alguns sem base real, outros golpistas), vai resolver esse problema. A CUT deve, de imediato, produzir material próprio explicando cada um dos ataques à nossa classe, qual é a sua origem (o golpe), concluindo na necessidade da greve geral. É com esse material que devemos preparar inclusive o 16 de agosto (assembleias da classe trabalhadora). Ter “cara própria” (independência), inclusive para ganhar a base da pelegada para a luta, é o que temos que fazer. Do ponto de vista político, devemos manter o “Fora Temer, nenhum direito a menos” como eixo de mobilização para além da votação do impeachment. Sim, pois se Dilma for afastada, Temer continuará sendo ilegítimo, fruto de um golpe, como martelamos há meses! Esse tipo de ato de “unidade com as centrais”, sem base clara e sem compromisso de preparação da greve geral, acaba sendo negativo para a CUT e o lugar que ocupou de protagonista na luta contra o golpe. Mas, pensamos que esse tropeço pode ser revertido de maneira positiva. Basta que valorizemos a unidade da CUT e a mobilização concreta de nossas bases. Somos a maior central sindical do Brasil e não podemos ficar reféns de pelegos golpistas! Unidade de ação, sim, mas para preparar a greve geral e derrotar os ataques do governo Temer aos direitos da classe trabalhadora e à soberania nacional.

www.cutindependentedeluta.wordpress.com

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Julio Turra, Juliana Salles (executiva nacional).João B. Gomes, Cleusa Cassiano, José Jorge Maggio,

Cida Pinto e Lourival Lopes (direção nacional)