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Unidade IV
Ética e Responsabilidade Profissional
Síntese da Unidade
Veremos nesta unidade, uma breve história social do
trabalho, noções básicas sobre a ética no trabalho e nas
organizações, princípios de virtudes que se referem à ética
profissional e a relação entre ética, trabalho e responsabilidade
social.
Objetivos da Unidade
Identificar e analisar o processo histórico-social do trabalho;
Refletir sobre a relação homem-trabalho;
Compreender noções básicas sobre ética no trabalho e nas
organizações;
Identificar e compreender a importância dos códigos de ética
profissional;
Sensibilizar o aluno para a importância do desenvolvimento de
políticas de responsabilidade social em seu local de trabalho.
Como estudar a Unidade
Você deverá estudar a unidade, lendo o texto, “Ética, trabalho e
cidadania”, buscar leituras complementares indicadas nos links,
ao longo do texto, fazer os exercícios propostos nas Atividades da
Unidade, participar do Fórum de Discussões e se interagir com o
professor e com os colegas.
Introdução
Veremos nesta unidade sobre ética e trabalho. A ética na profissão do cidadão.
Como já vimos na unidade I, saber técnico e saber teórico se distinguem. Assim, em
uma empresa, seus gestores podem atingir os objetivos no que diz respeito aos ganhos,
devido a atitudes antiéticas, mas pode ser vista no mercado, como aquela empresa que
tem a filosofia máxima de que os fins justificam os meios. Isto mais cedo ou mais tarde
pode trazer resultados negativos para uma organização.
A Revista Brasileira de Administração, publicada pelo Conselho Federal de
Administração, informa que
A multa pela falta de ética na conduta de uma empresa nos Estados Unidos pode chegar a US$ 72,5 milhões, com a possibilidade de ser elevada em 400% ou reduzida em 95%, conforme fatores considerados agravantes ou atenuantes durante o processo. A legislação norte-americana para o controle de crimes corporativos – as chamadas Federal Sentencing Guidelines for Organizations (FSGO) -, aprovada em 1991, possui um sistema de sanções pecuniárias para punir adequadamente as organizações e seus agentes e incentivá-los a manter mecanismos de prevenção, detecção e informação de condutas criminosas. O julgamento das organizações é feito com base numa tabela chamada culpability score. Cada tipo de comportamento antiético ou offense possui um valor numérico diferenciado (Revista Brasileira de Administração, 39, 2005).
Esta é uma informação que nos dá a dimensão ética e cidadã, que ultrapassa os
limites das relações interpessoais, das relações do indivíduo com o Estado e ganha
também o terreno da economia. Tem a ver com o regimento interno de uma empresa,
com as leis de mercado em níveis nacionais e internacionais. Um país pode sofrer
sanções econômicas internacionais por transgredir uma determinada lei de mercado, por
agredir os direitos humanos ou ferir os direitos políticos de seus cidadãos.
Na tentativa de reduzir conflitos entre empresas e entre os valores morais,
sociais e a prática de algumas empresas, se criou nos Estados Unidos um movimento de
ética empresarial. Nesse sentido, em função de uma sustentabilidade das relações entre a
sociedade e as organizações, a ética adquiriu um “caráter de ferramenta gerencial de
controle disciplinar” (Revista Brasileira de Administração, 40, 2005) e abriu caminho
para novos campos de atuação profissional nos setores jurídicos das empresas,
escritórios de consultoria, cargos de supervisão e criação de departamentos de ética no
meio organizacional. A Revista Brasileira de Administração ressalta que as
preocupações com as questões éticas das empresas têm se voltado para problemas
relativos a fraudes e crimes corporativos em geral, deixando a desejar ainda no que diz
respeito à questão ambiental e ao problema do desemprego (Revista Brasileira de
Administração, 2005). Estas são questões que também medem o nível de
sustentabilidade das organizações e revelam seu grau de responsabilidade social e
ambiental.
Antes de explorarmos com maior profundidade a questão da ética na sua relação
com o trabalho e a cidadania, vamos recorrer mais uma vez à história e entender como
se desenvolveu o que podemos chamar de uma breve história social do trabalho.
Conheçamos um pouco mais o que representa essa atividade que Karl Marx
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx) dizia ser a própria expressão da
humanidade do homem e que, assim como a ética, a moral e a cidadania, também variou
de tempo histórico para tempo histórico.
Uma breve história social do trabalho
O trabalho é, sem dúvida, uma expressão da nossa humanidade. Gradualmente
ele revela nosso descolamento da natureza, com o trabalho de domesticação dos
animais, de plantio e de manutenção dos espaços sobre os quais o homem se
sedentarizou, no caso, as cidades.
Originalmente o trabalho era comunal e continua sendo em algumas sociedades
tradicionais, como sociedades indígenas, por exemplo. Porém, com a produção de
excedentes e o surgimento da propriedade privada, algumas sociedades na antiguidade
passaram a instituir o trabalho escravo, o que significava dizer, que uns passariam a
trabalhar para os outros.
Na Idade Média, é instituído o trabalho servil, no qual, o servo não é um
escravo, mas ao mesmo tempo, não é um homem livre. Como já vimos, ele está preso à
terra. Na sociedade feudal, as classes sociais são definidas por Hubermann (1981),
dentre outros, como a sociedade dos sacerdotes, dos guerreiros e dos trabalhadores.
Estes eram os únicos vistos como os que trabalhavam. As atividades dos sacerdotes
(clero) e dos guerreiros (senhores feudais), não eram vistas como trabalho, pois o
trabalho era visto como algo indigno.
Na sua origem, a palavra trabalho vem do latim tripalium, tripaliare, que quer
dizer tortura. Associado a castigo e penalização, o trabalho era compreendido no
imaginário social, como a expressão da ira divina pelo pecado humano. “Comerás o teu
pão, com o suor do teu rosto” (Gênesis, 3, 19). Porém, a partir da época moderna,
especialmente por volta do século XV, na Europa, é que o trabalho começa a adquirir
uma conotação diferente da original. Nessa transição o trabalho passa a adquirir uma
conotação valorativa.
Na Unidade II, nos referimos a John Locke e a Adam Smith. Locke no século
XVII e Smith no século XVIII, foram dois pensadores da sociedade do livre mercado,
cujas idéias muito contribuíram para a formação e desenvolvimento da sociedade
burguesa. Para ambos, respectivamente, o trabalho era fonte de propriedade e de
riqueza, o que nos dá a idéia do quanto o trabalho se eleva a uma atividade humana das
mais importantes. Tal construção em torno do trabalho não ocorreu por acaso. Ele era (e
continua sendo) o pilar mais importante da economia capitalista, principalmente com o
processo de industrialização, a partir de meados do século XVIII.
Sobre o mundo do trabalho, a classe patronal passou a dedicar uma atenção
especial. A menina dos olhos da burguesia era a classe trabalhadora e sobre esta, recai
um olhar vigilante e disciplinador. Não bastaria, portanto, somente elevar o trabalho a
uma das mais dignas atividades do homem. Mais do que isto, era importante fazer com
que as pessoas acreditassem moralmente nisso. De que maneira: através de estratégias
disciplinarizadoras e de vigilância.
Para termos idéia de como isso se deu, em meados do século XIX, nas cidades
de Londres e Paris, ocorreu um crescimento populacional espantoso, devido à
industrialização. Em apenas seis anos, Londres teve um crescimento demográfico de
mais de 1 milhão de habitantes e Paris, na mesma época, de mais de 600.000 habitantes
(BRESCIANI, 1982). Eram pessoas em busca de trabalho, nas indústrias emergentes,
originárias de diferentes regiões da Inglaterra e da França, com hábitos e costumes
diversos. Haveria a necessidade, por parte da classe patronal de uniformizar as
diferenças, eliminando a diversidade assustadora, representada pelo proletariado que se
formava.
Adentrar a porta da fábrica significava adentrar o mundo burguês, com suas
estratégias de controle do processo de produção. Significava domesticar os corpos,
reduzir gestos, economizar movimentos, administrar o tempo e otimizar a produção. O
trabalho, portanto, ganhava um significado técnico-científico, com o método racional de
produção, conhecido como taylorismo ou fordismo
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Taylorismo), desenvolvido por Frederick Taylor, com a
sua máxima de maior produtividade em menor espaço de tempo.
Linha de montagem inspirada no taylorismo, criada por Henry Ford ((1863-1947), pioneiro da indústria automobilística
Fonte: www.mundoeducacao.com.br/geografia/taylorismo...
Charles Chaplin, um dos cineastas mais geniais da história do cinema, em seu
filme Tempos modernos (http://pt.wikipedia.org/wiki/Modern_Times), nos anos de
1930, representou de modo genial, o mundo do trabalho e a realidade vivenciada pelo
trabalhador operário, no interior de uma fábrica. Chaplin desfaz o mito de que a
industrialização viria trazer benefícios para toda a humanidade. Nessa imagem
idealizada da sociedade industrial, com a mecanização da produção, o homem teria mais
tempo para se dedicar a atividades mais importantes, como o desenvolvimento do
intelecto e o lazer.
Charles Chaplin (Carlitos). Tempos Modernos Fonte: www.planetaeducacao.com.br/novo/impressao.asp...
O que se viu, ao contrário foi uma submissão do homem ao trabalho e ao tempo.
Ou no dizer de Marx, o homem tornou-se um mero apêndice da máquina. Movimentos
cansativos e repetitivos, alienação no processo de produção, vigilância e controle,
jornadas de trabalho de 12, 14 horas diárias, sem descanso semanal remunerado,
ausência de regulamentação do trabalho de crianças, de mulheres e de idosos, revelavam
as péssimas condições em que encontravam aqueles que se dedicavam ao trabalho, na
esperança da melhoria das suas condições materiais de existência.
Um conjunto de estratégias visava, minuciosamente, penetrar o coração e a
mente de cada trabalhador, os valores morais do trabalho, da obediência, da disciplina e
da docilidade. A família deveria cumprir um papel fundamental nessa sociedade
idealizada do trabalho. Cada célula familiar deveria reproduzir esses valores, sendo
estes uma referência de boa educação. As vilas operárias não foram criadas com o
simples objetivo de garantir moradia aos trabalhadores fabris. Constituíram-se numa
estratégia de controle sobre o trabalhador tanto dentro como fora das fábricas. Havia
toque de recolher e vigilância sobre o comportamento de cada trabalhador; este não
necessitaria ganhar o pernicioso mundo da rua, pois de tudo que necessitasse, a vila
poderia lhe oferecer, da mercearia à capela, passando pelo campo de futebol.
Com sua arquitetura panóptica, as vilas operárias foram projetadas para que
todos pudessem vigiar todos. Não havia muros que fizessem divisão entre as casas, que
ficavam de frente umas para as outras. Como já foi dito, nada disso foi por acaso. Havia
objetivos claros de moldar toda uma sociedade aos valores do trabalho e obter o
máximo de produtividade dos trabalhadores.
Nada disso se deu sem resistência. Se a sociedade do trabalho construída no
imaginário burguês era idealizada, a realidade era bem diferente. As condições de
trabalho eram péssimas, o trabalho era aviltante, as estruturas das cidades industriais
eram bastante precárias, as epidemias vitimavam muitos trabalhadores, a criminalidade
e as resistências operárias, através de greves, por exemplo, revelavam uma profunda
contradição social e uma profunda contradição entre o capital e o trabalho.
Marcha de trabalhadores na Itália - gravura do século XIX
Fonte: www.vermelho.org.br/museu/principios/anterior...
O movimento ludita
(http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/2006/03/13/001.htm), na primeira
metade do século XIX na Inglaterra se constituiu em uma das primeiras e mais
expressivas formas de resistência dos trabalhadores às suas péssimas condições de vida
e de trabalho. Os movimentos operários passaram a ganhar contornos mais definidos,
com a organização dos trabalhadores em sindicatos, tendo nas greves, a principal arma
de luta.
O fato é que, com as lutas operárias, a classe patronal e os próprios Estados
europeus perceberam que haveria a necessidade de serem revistas as relações entre
capital e trabalho. Percebeu-se a necessidade de uma política de reorganização do
espaço urbano e de uma política sanitarista, pois a multidão que se aglomerava nas
cidades, sofria com o rápido crescimento demográfico e com a falta de infra-estrutura
das mesmas; percebeu-se também que se tornava urgente o combate às epidemias que se
proliferavam rapidamente nas cidades; percebeu-se ainda, que a pressão dos
trabalhadores exigia políticas sociais voltadas para o mundo do trabalho e, portanto,
haveria que se pensar na regulamentação da jornada de trabalho, na regulamentação do
trabalho da mulher e da criança, na lei de aposentadoria, no descanso semanal
remunerado, etc.
Orientados pelas idéias socialistas, os trabalhadores organizados em sindicatos,
faziam valer seus direitos, ao lembrarem que também eram cidadãos e que deveriam ser
contemplados no texto da Declaração dos Direitos do Homem. A luta operária passava a
representar uma ameaça à ordem burguesa e ao progresso capitalista. As paralizações
comprometiam a produtividade e o lucro patronal. Isto fez com que, no século XX,
políticas sociais mais efetivas viessem amenizar o conflito capital X trabalho e garantir
a continuidade do trabalho aos moldes da produção capitalista.
Um momento marcante nesse processo conflituoso das relações entre capital e
trabalho, foi o da crise da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, mais conhecida
como a Grande Depressão (http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Depress
%C3%A3o). A crise de superprodução
A fotografia Migrant Mother, uma das fotos americanas mais famosas da década de 1930, mostrando Florence Owens Thompson, mãe de sete crianças, de 32 anos de idade, em Nipono, Califórnia, março de 1936, em busca de um emprego ou de ajuda social para sustentar sua família. Seu marido havia perdido
seu emprego em 1931, e morrera no mesmo ano.Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Depress%C3%A3o
nos EUA, pouco mais de 10 anos depois do término da 1ª Guerra Mundial
(http://www.suapesquisa.com/primeiraguerra/) (1914-1918) e da Revolução Russa
(http://www.suapesquisa.com/russa/) (1917), desencadeou uma crise mundial do
capitalismo, gerando desemprego, fome, desespero e revolta. Essa crise revelava a
necessidade do Estado capitalista intervir na economia e
Greve geral em São Paulo. 1917 Fonte: www.assis.unesp.br/~folquito/bras.htm
nas relações entre patrões e empregados. Um economista britânico, John Maynard
Keynes (1883-1946)
(http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/crise_economia6.htm), contrariou o
modelo econômico vigente até então, baseado no liberalismo, já visto na Unidade II.
Para Keynes, o Estado deveria cumprir o papel de regulador da economia e das relações
de trabalho, fazendo os ajustes necessários, incentivando investimentos através de obras
públicas, por exemplo, como forma de garantia de reprodução do capital e, ao mesmo
tempo, de redução das tensões sociais.
Na década de 1930, Franklin Delano Roosevelt (1882-1945)
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Franklin_Delano_Roosevelt), implantou o plano
conhecido como New Deal (http://www.brasilescola.com/historiag/new-deal.htm)
(“Novo acordo”), que promoveu melhores condições de trabalho; extensão de energia
elétrica e modernidade às regiões mais pobres do país; política de empregos através de
parcerias entre o governo, empresas e consumidores; programas de ajuda social,
construção de aeroportos, escolas, hospitais, pontes e represas; estabelecimento do
salários mínimos e de limites na carga horária de trabalho; reformas trabalhistas;
regulamentação dos sindicatos, maiores garantias de proteção dos trabalhadores e dos
seus direitos; pensões mensais para aposentados; ajuda financeira regular por um certo
período de tempo, para pessoas desempregadas, etc
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Depress%C3%A3o).
A Grande Depressão causou pobreza geral nos Estados Unidos e em diversos países do mundo. Aqui, família desempregada, vivendo em condições miseráveis, em Elm Grove, Califórnia, Estados Unidos.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Depress%C3%A3o
Podemos dizer que a política do New Deal foi o antídoto para a crise capitalista.
Nasce com essa política, um novo modelo de Estado, o Welfare State Social
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado-provid%C3%AAncia) ou Estado do Bem-Estar
Social. Foi a forma encontrada pelos principais Estados capitalistas para fazer frente à
ameaça socialista, que ganhava força com a Revolução Russa. Passou-se a ter um novo
entendimento das relações entre o capital e o trabalho e o Estado e os trabalhadores.
Podemos dizer que o Estado do Bem Estar Social foi um Estado bastante
vigoroso até a crise do petróleo em 1973
(http://br.geocities.com/vinicrashbr/historia/geral/crisedopetroleo.htm). Esta crise
representou um enfraquecimento das políticas sociais, dando início a uma gradual
redução da participação do Estado nas relações de trabalho e na economia.
Especialmente a partir de 1979, com Margaret Tatcher
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Margaret_Thatcher), na Inglaterra, de 1981, com
Ronald Reagan (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ronald_Reagan), nos EUA e de 1982,
com Helmut Khol (http://pt.wikipedia.org/wiki/Helmut_Kohl), na Alemanha. Eram
os ventos do neoliberalismo
(http://www.suapesquisa.com/geografia/neoliberalismo.htm). Os governos de
Tatcher, por exemplo, na prática, contraíram emissão monetária, elevaram taxas de
juros, elevaram níveis de desemprego e impuseram uma legislação anti-sindical,
reduziram impostos sobre rendimentos mais altos e promoveram um amplo programa de
privatização (ANDERSON, 1995).
Na década de 1990, sob os efeitos da implantação do programa neoliberal e da
derrocada do socialismo, com a queda do Muro de Berlim
(http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/muro4.htm), em 1989, as relações
entre capital e trabalho ganham novos contornos, despojadas das ideologias mais
radicalizadas. Os trabalhadores, outrora classificados como “classes perigosas”, passam
a ganhar status de colaboradores e grandes empresas passam a adotar estratégias
motivacionais que dessem maior sustentabilidade às relações de trabalho.
Responsabilidade social
(http://www.fae.edu/publicacoes/pdf/revista_fae_business/n9/01_rs.pdf), passou a
representar palavra chave no mundo organizacional, sendo responsável pela melhoria da
imagem das grandes corporações e, até mesmo, das pequenas e médias empresas que
passaram a adotar essa política. Para o desenvolvimento de uma política de
responsabilidade social em uma organização, é imprescindível a ética empresarial.
Da Revolução Industrial até a década de 1990, praticamente não se falou em
ética empresarial. Por isso percorremos esse longo caminho na história social do
trabalho, passando pelas relações de escravidão, nas quais nem o corpo do trabalhador
lhe pertencia, pelas relações de servidão nas quais o trabalhador estava preso ao seu
local de trabalho, ou seja, à terra e pelo sistema de assalariamento, no qual, os
trabalhadores, apesar de livres, não tinham garantias mínimas,. A sociedade industrial,
que nascera no século XVIII, se desenvolveu alavancada fundamentalmente pelo
trabalho, sem oferecer amparo à infância, à mulher e à velhice, sem salários
minimamente dignos, sem férias e sem descanso semanal remunerado.
Aos poucos percebia-se que as reivindicações dos trabalhadores deveriam ser
atendidas e incorporadas às políticas dos Estados Nacionais ou a miséria social se
apresentaria como um grande obstáculo ao desenvolvimento econômico.
Infelizmente notamos ainda hoje, péssimos exemplos de desrespeito à ética e à
cidadania no trabalho, como os casos de exploração do trabalho e condições de
escravidão, não raros no Brasil. Os chamados “gatos”, prestam serviços para
fazendeiros em época de derrubada de matas nativas para criação de pastos ou de
produção de carvão para a indústria siderúrgica, aliciando desempregados que se situam
em áreas distantes daquelas em que vão trabalhar, com promessas de bons salários e
boas condições de trabalho. Nas fazendas, se vêm completamente endividados com
transporte, moradia e alimentação (precários) e não têm como se livrarem dessa
condição, sob a alegação de que estão endividados.
Em março de 2004, o Brasil reconheceu na Organização das Nações Unidas a existência de pelo menos 25 mil pessoas reduzidas à condição de escravos no país - e esse é um índice considerado otimista. Os números servem de alerta para o tamanho do problema. Porém, mesmo que houvesse um único caso de trabalhador reduzido à escravidão no Brasil, esse caso deveria ser combatido e eliminado (http://www.comciencia.br/200405/reportagens/11.shtml).
Além do mais, o tráfico de pessoas é uma forma contemporânea de escravidão,
envolvendo mulheres, crianças e adolescentes, com fins de exploração sexual e do
trabalho escravo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 2 milhões
de pessoas são vítimas do tráfico humano por ano, informa a Iniciativa Global de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (http://www.ungift.org/brazil/).
Esta é uma dura realidade com a qual nos deparamos também em países como o
Brasil, o que contribui para manchar ainda mais a imagem do Brasil no exterior, como
um país que pouco respeita os Direitos Humanos e que tem um baixo Indice de
Desenvolvimento Humano
(http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dndice_de_Desenvolvimento_Humano).
Indicam também que deixamos a desejar no quesito ética e cidadania.
Há que se considerar, porém, que uma mudança de mentalidade está em curso,
acompanhada da necessidade de se definir códigos de ética empresarial no que diz
respeito às relações de trabalho, bem como também, às relações das corporações com o
meio ambiente e com os problemas sociais em geral.
Vejam a opinião de Miguel Krigsner, presidente do Boticário
Os governos de forma geral em todo o mundo já não conseguem mais atender às demandas econômicas, sociais, políticas e ambientais, cabendo às empresas dividir essa responsabilidade, pois formamos uma grande força alavancadora da sociedade (MENDONÇA, disponível em
http://www.fae.edu/publicacoes/pdf/revista_fae_business/n9/01_rs.pdf)
Seguindo mais ou menos o mesmo discurso, vejam também a opinião de
Emerson Kapaz, presidente do Instituto Ethos (http://www.ethos.com.br/)
O primeiro passo para qualquer ação de responsabilidade social em empresas, passa pela conscientização dos empreendedores e, principalmente dos acionistas majoritários de que o consumidor valoriza a diferença entre empresas que são socialmente responsáveis e outras que não têm essa preocupação...Passamos hoje por uma saudável evolução na conscientização de que não podemos mais fingir ser possível ao Brasil continuar como está. Esse é o primeiro passo para se reduzirem os níveis de pobreza no país.(MENDONÇA, disponível em http://www.fae.edu/publicacoes/pdf/revista_fae_business/n9/01_rs.pdf)
Técnicas de relaxamento para funcionários, planos de saúde, cestas
básicas, criação de espaços recreativos nas empresas e fora delas, ganhos de
participação nos lucros da empresa, projetos de ajuda comunitária, projetos de
sustentabilidade ambiental, constituem hoje, estratégias motivacionais importantes para
criar no funcionário uma relação mais afetiva com o trabalho e o sentimento de pertença
em relação à empresa. Com essa relação afetiva e com esse sentimento, o que se espera
é que sejam atingidas as metas de produtividade desejadas.
Ética no Trabalho, Ética nas Organizações
Já vimos em outras palavras, que a ética é a ciência da conduta do homem
perante seus semelhantes. Assim, “Coisa alguma é Ética se é produzida com o prejuízo
de alguém, com a intenção de um subjetivismo acentuado e pernicioso” (SÁ, 1998: 55).
Para Antônio Lopes de Sá, “A história do mundo está plena de atos lesivos à
Ética praticados pelo fanatismo religioso, pelos preconceitos, em suma, por emoções
que empanam a razão, mas que dominam o ego e que contaminam as sociedades” (SÁ,
1998: 62).
Contra esse legado histórico bastante desfavorável, a educação deve cumprir um
papel fundamental para a criação de uma cultura ética e cidadã. Educação para a ética
que deve transpor os muros das escolas e ser cultivada também nas organizações. Para
isso, lembra Elizete Passos, que as
Organizações éticas buscam, na prática, serem honestas, justas, verdadeiras e democráticas por uma questão de princípio e não de conveniência. Não é ético o modelo de empresa que apenas usa os seres humanos como recursos, um tipo de objeto sem vontade nem direito de participar. A empresa precisa ser sólida, produtiva e lucrativa; precisa desenvolver-se desde que promova, ao mesmo tempo, o desenvolvimento dos seres humanos” (PASSOS in Revista Brasileira de Administração, 43, 2005).
Há muitos entraves para a efetivação da ética nas organizações e dentre eles
podemos citar a alienação do trabalhador no processo de produção, a ausência de
identificação do trabalhador em relação à profissão que exerce e a expansão exagerada
que o trabalho passou a ocupar na vida de todos os cidadãos. A construção de relações
humanas mais éticas nas organizações passa, necessariamente, pela revisão das relações
homem-trabalho. Há mais de 100 anos, Nietzche já alertava para a relação doentia que
passamos a ter com o trabalho e a produção, nos esquecendo que a ética e a cidadania
não se sustentam somente sob a lógica do produzir, produzir, produzir, trabalhar,
trabalhar, trabalhar. Nietzche dizia na sua obra Gaia Ciência,
Já hoje as pessoas têm vergonha do ócio e quando elas se dedicam a um longo período de reflexão e contemplação elas já estão com a consciência suja. Pensamos com o relógio na mão, e comemos no almoço com o relógio na mão, olhando para a seção de economia e o relatório da bolsa de valores no jornal, amamos como pessoas que poderiam perder alguma coisa (NIETZCHE apud ALVES, 2002: 124).
Alertar para a exploração inescrupulosa do trabalho alheio, para a alienação do
trabalho, para a ausência do sentimento de pertença do trabalhador em relação ao seu
local de trabalho e para o tempo excessivo que o trabalho ocupa em nossas vidas, nos
faz perceber que aos estudarmos sobre o tema ética no trabalho e nas organizações,
estamos tratando de uma questão bastante abrangente, que envolve muitos problemas
que devem ser enfrentados pelas empresas, porém, de forma ética e levando-se em conta
que todos aqueles que atuam nela, direta ou indiretamente, são cidadãos, dos acionistas
aos funcionários, passando pelos seus consumidores e fornecedores, conjunto este,
denominado na Administração de stakeholders
(http://webinsider.uol.com.br/index.php/2003/09/23/gc-e-a-administracao-para-os-
stakeholders/).
As relações no trabalho pautadas pela ética contribuem para cultivar o princípio
de que as organizações são “organismos vivos”, pois o que as faz mover são as pessoas
e o tratamento que se dá às relações interpessoais tem um peso bastante representativo
no alcance das metas e resultados de uma empresa.
Deve-se ter em mente também que não adianta muito uma empresa ter seu
código de conduta ética se este fica arquivado. A ética deve ser entendida
Como algo que se forma a partir de valores morais construídos ao longo da vida de um indivíduo, inseridos numa certa cultura e momento histórico, em harmonia com os interesses da organização da qual faz parte. Nesse ponto de vista, ficam evidentes os prejuízos de se limitar o exercício da ética à simples aplicação de códigos de conduta, uma vez que a realidade é modificada a cada segundo pelos acontecimentos e que os principais conflitos éticos surgem em situações inesperadas, vividas pelo indivíduo, que optará pela ética ou não conforme seus próprios interesses e a importância que ele dá à empresa da qual faz parte (Revista Brasileira de Administração, 2005: 43-44).
Esse entendimento nos permite perceber que a ética, como ciência de nossos
valores morais, não deve ser regulada por estratégias de vigilância, ameaças e punição
nos locais de trabalho. Somos educados com os valores morais que temos. Portanto, o
que o conhecimento sobre a ética faz é nos orientar para seguirmos esses valores. Por
isso não adianta muito termos consciência desses valores e conhecimento dos códigos
de conduta de uma profissão, se não os respeitamos, se os negligenciamos, se os
ignoramos.
Ignorá-los significa dar continuidade aos principais problemas éticos vividos nos
locais de trabalho de muitos brasileiros, tais como os listados por Elizete Passos:
Favoritismo, sacrifício dos mais fracos, obediência inquestionável às regras impostas, tráfico de influências, abandono das obrigações familiares pelos empregados, subornos, sonegação fiscal, pirataria, espionagem industrial,
propinas, falta de investimento em segurança...danos ao meio ambiente, exploração do trabalho feminino e infantil... (PASSOS in Revista Brasileira de Administração, 2005, 44-45).
Apesar desses problemas éticos, não pode ser descartada a importância dos
códigos de ética nos locais de trabalho, pois eles são necessários para nortear tanto as
estratégias a serem desenvolvidas em uma empresa, quanto as ações individuais e
grupais de seus integrantes, segundo Osmar Bertero. Para ele, “Os códigos não podem
se contradizer e nenhuma empresa terá um código de ética que se afaste de padrões
éticos socialmente aceitos e legitimados” (BERTERO in Revista Brasileira de
Administração, 2005: 45).
Nos códigos de ética profissional (PINHO e NASCIMENTO, 2006) podemos
identificar pontos comuns que dizem respeito à preservação de valores morais,
independentemente da profissão. No Código de Ética Profissional do Administrador
(http://www.cfa.org.br/download/RN01253.pdf), no Código de Ética Profissional
do Advogado (http://www.oab.org.br/CodEticaDisciplina.pdf) e no Código de Ética
Profissional do Contabilista
(http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/res803.htm), para citarmos esses
exemplos, podemos perceber o coletivo se sobrepondo ao individualismo, a
cidadania se sobrepondo ao desrespeito ao cidadão, o zelo pela profissão e pela
informação se sobrepondo às ambições pessoais. Além disso, o sigilo, a
honestidade, o coleguismo, a mútua cooperação, a fidelidade e o respeito ao meio
ambiente, estão baseados no respeito ao cliente-cidadão e a toda coletividade.
Pelos seus conteúdos, é inegável a importância dos códigos de ética profissional
e neles estão inscritas as virtudes básicas profissionais. Para Lopes de Sá, são muitas as
virtudes que um profissional precisa ter para desenvolver com eficácia seu trabalho. Sá
destaca quatro delas como as mais importantes: a virtude do zelo, a virtude da
honestidade, a virtude do sigilo e a virtude da competência (SÁ, 1998).
No que se refere ao zelo, Sá observa que profissionais como médicos, advogados
e contabilistas, por exemplo, se deparam com casos de difícil solução. O médico que
recebe um paciente em estado terminal, o advogado que se incumbe de uma causa de
difícil amparo da lei, o contador que se encarrega da difícil missão de tentar a
recuperação patrimonial de uma empresa em processo de falência. Para o autor, a
virtude não está necessariamente no êxito do profissional, mas no zelo para alcançá-lo,
pois “Mesmo diante de uma situação aparentemente sem solução, o profissional pode
aplicar de tal forma o zelo que venha a modificar o prognóstico negativo” (SÁ, 1998:
163).
Lopes de Sá chama a atenção para o fato de que o zelo é indispensável à ética
profissional porque quem procura um advogado, um médico, um contador, um
profissional da informática, deposita nesses profissionais um bem precioso que é a
confiança. A ausência do zelo é, pois, traição à confiança depositada pelo cliente (SÁ,
1998).
Pela confiança depositada pelo cliente, o profissional deve pautar o exercício da
sua profissão também pela virtude da honestidade. Virtude de difícil compreensão em
um país como o Brasil, devido aos péssimos exemplos que partem do Congresso
Nacional, dos governos, das Assembléias Legislativas e das Câmaras Municipais,
noticiados na mídia de modo tão corriqueiro que a impressão que dá é que a virtude está
na desonestidade. Essa inversão de valores é altamente nociva à sociedade, pois se
dissemina por todo o corpo social, corrompendo as profissões.
Para Lopes de Sá
O profissional tem dever ético de ser honesto integralmente. Não existe meia-confiança, como não existe meia-honestidade; ou confiamos, ou desconfiamos; o ser é honesto ou desonesto, ao transgredir os princípios da honestidade, não prejudica só seu cliente, mas também aquele de sua classe.(SÁ, 1998: 173).
Acrescenta-se às virtudes do zelo e da honestidade, a virtude do sigilo. O
exercício da profissão exige discrição, pois é ético ser discreto, preservar o quanto
possível, a vida privada do cliente e fazer valer a confiança do segredo das informações
sigilosas a quem lhe confiou. O senso ético não exige necessariamente o pedido de
sigilo, cabe ao profissional ter em mente a necessidade da discrição quanto a tudo que se
refere ao trabalho e à empresa em que trabalha. O ato de ferir a ética do sigilo revela,
mais cedo ou mais tarde, a qualidade do profissional.
A competência também não pode se esquivar da conduta ética de um
profissional. Os erros médicos, a causa certa perdida devido à incompetência do
advogado, multas aplicadas à empresa devido à incompetência do contabilista, são
exemplos de agressão aos códigos de conduta profissional desses segmentos
vocacionais.
Como lembra Lopes de Sá, tais agressões aos códigos de conduta profissional
são graves deficiências cometidas por quem exerce determinada função, ciente de que
não é capaz de exercê-la. O autor de Ética profissional afirma que
Tais lesões são infrações à Ética, conscientemente praticadas. Um profissional precisa saber reconhecer suas limitações. A evolução vertiginosa pela qual passam todos os conhecimentos requer ainda uma permanente reciclagem, uma constante atualização. Conforme o ramo profissional, as técnicas comportam evoluções em apenas poucos meses (SÁ, 1998: 177).
Fonte: 100-stress.blogspot.com/2005/03/tica-profissi...
Ética, Cidadania e Responsabilidade Social
Aliar os princípios éticos aos valores morais é um objetivo que deveríamos ter
em mente o tempo todo, se queremos alcançar nossas metas a médio e longo prazo. As
atitudes anti-éticas podem até trazer resultados positivos e a curto prazo, mas são
resultados transitórios, passageiros e que colocam em risco nossa imagem pessoal ou a
imagem da empresa no mercado. Em função de imagem, muitas empresas têm se
ocupado em desenvolver seu marketing social, através de políticas de responsabilidade
social e ambiental.
Por essas políticas, empresas brasileiras investem anualmente, 2,5 bilhões de
dólares. As ações corporativas ocorrem geralmente na região na qual, as empresas
atuam, para reduzir impactos sociais e ambientais decorrentes da atividade econômica
que realiza (CARELLI, 2003).
Importante que se tenha em mente, porém, é que o volume em dinheiro investido
deve ser acompanhado por um senso de responsabilidade cidadã. O que a empresa
espera é retorno financeiro, mas não deve encarar seu investimento como uma atividade
econômica a mais. O retorno não é imediato e muitas empresas desistem no meio do
caminho, por não terem um programa de avaliação do seu próprio projeto de
responsabilidade social em uma determinada comunidade.
Gabriela Carelli cita o exemplo da Petrobrás. Uma das empresas brasileiras que
já causou bastantes estragos ambientais. Com um orçamento anual de 700 milhões de
reais investidos em projetos sociais, não se deu conta, durante muito tempo de que
estava gastando demais, sem obter os resultados sociais desejados. É o caso do Projeto
Chafariz. Ao invés de encontrar petróleo no semi-árido nordestino, a companhia
encontrava água. O Chafariz foi criado para se criar um melhor aproveitamento desse
bem da natureza para a comunidade carente. Porém, sem o apoio das prefeituras locais,
o projeto não alcançou os resultados esperados. Em 40 anos de existência do projeto, 48
poços de água foram abertos, mas muitos foram fechados. O projeto foi reestruturado
com a ajuda de consultores e de Projeto Chafariz passou a se chamar Projeto Molhar a
Terra. A meta desse novo projeto era a de atingir 200 poços de água para atender
27.000 pessoas, que passaram a ser capacitadas para o plantio de milho, mamona e
feijão (CARELLI, 2003).
Exemplos como este, revelam que não basta a uma empresa, seja ela grande,
média ou pequena, destinar verbas para fins sociais ou ambientais e se apresentar como
uma empresa ética e preocupada com a questão da cidadania no país, melhorando sua
imagem. Empresas que são modelo de ética e cidadania, não são aquelas que mais
investem em responsabilidade social ou ambiental, mas aquelas que se preocupam em
colocar ética em suas decisões.
A revista Exame, em edição especial, realizou uma pesquisa para identificação
de empresas que mais se preocupam com a ética e a cidadania em suas ações. A
pesquisa foi realizada em parceria com o Instituto Ethos de Empresas de
Responsabilidade Social e abordou sete temas no questionário dirigido a 245
companhias, de diferentes regiões do Brasil. Abaixo, estão dispostos em uma tabela, os
temas abordados. Eles são muito importantes, pois servem de parâmetro para
avaliarmos como estão se comportando as empresas em que atuamos, na sua relação
com os compromissos éticos, com o aperfeiçoamento dos seus funcionários e a
educação dos mesmos, com os impactos ambientais que ela provoca, com o
relacionamento com seus parceiros, com os seus clientes, a comunidade na qual ela
atua, com o governo e a sociedade. Confira:
1 - Valores de transparência Adoção e abrangência de práticas como divulgação de crenças, valores e compromissos éticos, transparência e discussão com os stakeholders sobre os indicadores usados para avaliar o sucesso do negócio.
2 – Funcionários e público interno Gestão participativa, benefícios, posicionamento em relação ao trabalho infantil, tratamento dado ao tema diversidade e investimento em desenvolvimento profissional e educação.
3 – Meio ambiente Gerenciamento do impacto, melhoria dos processos de gestão ambiental e desenvolvimento de programas de conscientização e educação.
4 – Fornecedores Trata do relacionamento da empresa com sua cadeia produtiva e de seu empenho em disseminar conceitos ligados à responsabilidade social entre fornecedores e parceiros.
5 – Consumidores/Clientes A valia o tratamento dado aos que compram produtos e serviços da empresa e seu compromisso com o atendimento.
6 – Comunidade Inclui questões como o cuidado com os possíveis impactos da atuação da empresa na comunidade, o relacionamento com lideranças locais, voluntariado e investimento social.
7 – Governo e sociedade Trata da ética no relacionamento com governos e autoridades, da parceria com órgãos públicos e da preocupação da empresa em ser uma formadora de opinião em seu setor.
Fonte: Guia da Boa Cidadania Corporativa. Exame. Edição especial, 2003, 31
Fazer com que a prática siga o discurso é o grande desafio de muitas empresas.
Assim como qualquer outro investimento, investir em responsabilidade social e
ambiental também exige planejamento e acompanhamento dos resultados. É preciso
portanto de competência e vontade para se investir em ética e cidadania.
Conclusão
Bem amigos, estamos chegamos ao final de uma longa jornada, cujo maior
resultado, espero, tenha sido um maior crescimento pessoal e intelectual de todos nós.
Os temas ética e cidadania não se esgotam aqui e devemos tê-los em mente, todos os
momentos de nossas vidas, nas relações que estabelecemos no ambiente de trabalho,
com o namorado, com a namorada, com a esposa, com o marido, com os filhos, com os
pais, com os professores, com o alunos, etc.
A ética se estende às diferentes atividades realizadas pelo homem, quando ele se
envolve com as questões genéticas, com as questões relativas à fome, à pobreza, à
miséria, à falta de água, à política, à ecologia, à publicidade, à religião, à vida (NALINI,
2001).
Precisamos muito que a ética e a cidadania sejam colocadas como temas para
debate constante, em um país que tem péssimos exemplos da anti-ética e do desrespeito
à vida cidadã. São exemplos que contaminam todo o corpo social, criando a cultura do
“levar vantagem em tudo”, que se multiplica rapidamente. A maioria dos brasileiros é
gente boa e honesta. Mas não é de se temer que casos de corrupção que vemos
noticiados todos os dias, nos telejornais, no rádio, na mídia impressa e na internet
passem a ser a regra? Mensalões, mensalinhos, fraudes na previdência, rombos
financeiros, cartões corporativos, sonegações fiscais, lavagem de dinheiro, dinheiro na
cueca, notas frias de campanhas eleitorais e superfaturamentos; convivem com a falta de
água no semi-árido nordestino, com equipamentos hospitalares se enferrujando em
hospitais modernos, mas que não são colocados em funcionamento para atender a uma
população carente de atendimento à saúde, com transportes escolares bastante precários
para crianças da zona rural e que ferem direitos constitucionais.
Não dá para citar todas as agressões aos princípios éticos e à cidadania que
vivenciamos cotidianamente. Elas dariam um livro à parte. Mas tenho certeza que este
estudo contribuiu para termos um pouco mais de clareza sobre o que deve e o que não
deve ser feito. Pautarmos nossa vida pela ética na família, no trabalho, na religião, no
lazer, significa pautarmos nossa vida pelo respeito ao outro e pelo respeito a nós
mesmos. Esta é uma condição elementar para o exercício pleno da cidadania. Sigamos,
portanto, os bons exemplos.
Glossário
Alienação – Conceito utilizado por Karl Marx para referir-se à estranheza do
trabalhador em relação ao trabalho e ao produto do trabalho. Refere-se ao trabalhador
que só executa ordens no processo de produção, em uma linha de montagem, sem
identificação alguma com o trabalho e o produto do trabalho.
Arquitetura panóptica – Projetada para instituições sociais como prisões, escolas,
manicômios, conventos, vilas operárias, a arquitetura panóptica é uma arquitetura da
vigilância, através da qual, todos podem vigiar todos, todos se sentem vigiados, mesmo
que não esteja alguém na vigília. Se caracterizam por desenhos arquitetônicos circulares
ou quadrados, voltados para dentro, geralmente com pátios centrais.
Aviltante – detestável, desprezível, abominável.
Pecuniárias – Relativo a dinheiro; no caso, o sentido da palavra na primeira página do
texto está relacionado com multa, ou seja, as empresas que não têm conduta ética,
podem sofrer sanções pecuniárias, podem sofrer penas na forma de multas.
Política sanitarista – A política sanitarista acompanhou a política de reorganização do
espaço urbano (ver texto abaixo). Além do sistema de água tratada e da infra-estrutura
da rede de esgoto e pluvial, desenvolveu-se uma política de combate às epidemias, com
políticas de vacinação contra a varíola, por exemplo.
Pernicioso – danoso, nocivo, doentio.
Reorganização do espaço urbano – Londres e Paris passaram por um processo de
reorganização do espaço urbano na segunda metade do século XIX, que resultou na
modernização dessas cidades e no seu embelezamento; ruas e avenidas foram alargadas,
árvores foram plantadas, foi implantado um sistema moderno de distribuição de água e
uma infra-estrutura do sistema de esgoto e pluvial, foi implantado também um sistema
de transporte coletivo, para levar os trabalhadores ao seu local de trabalho, com a
instalação de linhas de bonde.
Comunal – Está associado ao coletivo, o trabalho comunal se dá no espaço coletivo, no
qual todos podem usufruir igualmente dos frutos da terra que esse espaço pode oferecer.
Instituído – Estabelecido.
Referências
Livros:1 - ALVES, Julia Favilene. Ética, cidadania e trabalho. São Paulo: Copidart, 2002.
2 - BRESCIANI, Maria Stella Martins. Londres e Paris no século XIX, o espetáculo da pobreza. São Paulo: Brasiliense, 1982.
3 - CARELLI, Gabriela. Seu projeto social dá resultado. In: Guia de Boa Cidadania Corporativa. Exame. Edição especial, 2003, 8-12.
4 - Guia da Boa Cidadania Corporativa. Exame, 30-33.
5 - NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2001.
6 – PINHO, Ruy Rebello e NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Instituições de direito público e privado. Introdução ao estudo do direito e noções de ética profissional. 24ª ed. São Paulo: Atlas, 2006.
7 - Revista Brasileira de Administração. Ano XVI, n. 51, dezembro de 2005.
8 - SA, Antonio Lopes de. Ética profissional. 2a ed. São Paulo: Atlas, 1998.
Internet:MENDONÇA, Fernando. O que é responsabilidade social? disponível em http://www.fae.edu/publicacoes/pdf/revista_fae_business/n9/01_rs.pdf
http://www.ungift.org/brazil/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Depress%C3%A3o