UNIR2013 Angel Incorporação Amerindias

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Semana Internacional de Etnolinguística da UNIR. Universidade Federal de Rondônia, Campus de Guajará-Mirim. Programa de Mestrado em Ciências da Linguagem/Centro de Pesquisas Linguísticas da Amazônia. 18-23 de novembro de 2013. 2013 Uma breve abordagem tipológica dos processos de incorporação em línguas ameríndias Angel Corbera Mori CELCAM/IEL-UNICAMP [email protected] Resumo: A incorporação nominal é um mecanismo em que o nome com a função sintática de argumento interno, em alguns casos também de argumento externo, de um verbo transforma- se em um modificador desse verbo, obtendo-se como resultado um verbo complexo com um argumento menos que o verbo original, o que tem caracterizado esse processo como tipicamente, mas não necessariamente, intransitivizador. Os estudos, desde uma perspectiva funcional-tipológica, das línguas ameríndias mostram que em uma construção prototípica, o complexo nome-verbo resultante forma uma única palavra fonológica, seguindo os padrões fonológicos da formação de palavras da língua em questão. Como mostram os trabalhos de Payne (1990), Dixon e Aikhenvald (1999), a incorporação nominal é um traço relevante de muitas línguas ameríndias, sobretudo, das faladas na região amazônica. Além da incorporação estrita de nomes no verbo, nas línguas amazônicas esse processo inclui também a incorporação de aposições e advérbios (Aikhenvald 2012). Além disso, um traço típico de muitas línguas amazônicas, por exemplo, é que somente nomes obrigatoriamente possuídos, sobretudo partes do corpo, podem ser incorporados. Um segundo traço importante encontrado na incorporação nominal, nessas línguas, é o fato que quando se incorporam nomes, subcategorizados como alienáveis, apresenta-se redução da valência do verbo, mas ao se incorporar um nome com a propriedade semântica de inalienável, a valência do verbo não é afetada. Palavras-chave: incorporação nominal, línguas ameríndias, tipologia morfológica, línguas da America do Sul. 1. Incorporação nominal Teoricamente, a incorporação é definida com um “mecanismo pelo qual um nome que tem função de argumento interno – às vezes também de argumento externo intransitivo – de um verbo converte-se em um modificador desse verbo, obtendo-se, como resultado, um verbo complexo com um argumento menos que o verbo original, daí o caráter estritamente intransitivizador desse processo” (Moreno Cabrera 1991: 494). Em termos de Gerdts (1998), a incorporação é a composição de uma palavra, tipicamente um verbo ou preposição com outro elemento, tipicamente um nome, pronome ou advérbio. Em uma incorporação prototípica, o complexo nome-verbo resultante forma uma única palavra fonológica, de acordo com os padrões fonológicos das outras palavras da língua em questão e que funciona como predicado de uma cláusula. Em algumas línguas indígenas, sobre tudo amazônicas, a incorporação atinge também os advérbios e as posposições (Aikhenvald 2012). E possível também que reflexivos sejam incorporados ao verbo como ocorre em Dâw (Martins 2004), Parkatejê (Ferreira 2011), Tapirapé (Leite 2012), entre outros. A forma mais simples de incorporação resulta da composição lexical, em que um nome e um verbo formam um novo item lexical, cujo significado nem sempre é composicional. Nesse tipo de processo é preciso identificar se a formação nome-verbo é um caso de composição verbal ou trata-se de uma incorporação efetiva na língua. A incorporação mais produtiva é aquela em que ocorrem modificações nos papeis dos participantes, que, em termos de Mithun (1984), é denominado “a manipulação de

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  • Semana Internacional de Etnolingustica da UNIR. Universidade Federal de Rondnia, Campus de Guajar-Mirim. Programa de Mestrado em Cincias da Linguagem/Centro de Pesquisas Lingusticas da Amaznia. 18-23 de novembro de 2013.

    2013

    Uma breve abordagem tipolgica dos processos de incorporao em lnguas amerndias

    Angel Corbera Mori CELCAM/IEL-UNICAMP

    [email protected]

    Resumo: A incorporao nominal um mecanismo em que o nome com a funo sinttica de argumento interno, em alguns casos tambm de argumento externo, de um verbo transforma-se em um modificador desse verbo, obtendo-se como resultado um verbo complexo com um argumento menos que o verbo original, o que tem caracterizado esse processo como tipicamente, mas no necessariamente, intransitivizador. Os estudos, desde uma perspectiva funcional-tipolgica, das lnguas amerndias mostram que em uma construo prototpica, o complexo nome-verbo resultante forma uma nica palavra fonolgica, seguindo os padres fonolgicos da formao de palavras da lngua em questo. Como mostram os trabalhos de Payne (1990), Dixon e Aikhenvald (1999), a incorporao nominal um trao relevante de muitas lnguas amerndias, sobretudo, das faladas na regio amaznica. Alm da incorporao estrita de nomes no verbo, nas lnguas amaznicas esse processo inclui tambm a incorporao de aposies e advrbios (Aikhenvald 2012). Alm disso, um trao tpico de muitas lnguas amaznicas, por exemplo, que somente nomes obrigatoriamente possudos, sobretudo partes do corpo, podem ser incorporados. Um segundo trao importante encontrado na incorporao nominal, nessas lnguas, o fato que quando se incorporam nomes, subcategorizados como alienveis, apresenta-se reduo da valncia do verbo, mas ao se incorporar um nome com a propriedade semntica de inalienvel, a valncia do verbo no afetada.

    Palavras-chave: incorporao nominal, lnguas amerndias, tipologia morfolgica, lnguas da America do Sul.

    1. Incorporao nominal

    Teoricamente, a incorporao definida com um mecanismo pelo qual um nome que tem funo de argumento interno s vezes tambm de argumento externo intransitivo de um verbo converte-se em um modificador desse verbo, obtendo-se, como resultado, um verbo complexo com um argumento menos que o verbo original, da o carter estritamente intransitivizador desse processo (Moreno Cabrera 1991: 494). Em termos de Gerdts (1998), a incorporao a composio de uma palavra, tipicamente um verbo ou preposio com outro elemento, tipicamente um nome, pronome ou advrbio. Em uma incorporao prototpica, o complexo nome-verbo resultante forma uma nica palavra fonolgica, de acordo com os padres fonolgicos das outras palavras da lngua em questo e que funciona como predicado de uma clusula. Em algumas lnguas indgenas, sobre tudo amaznicas, a incorporao atinge tambm os advrbios e as posposies (Aikhenvald 2012). E possvel tambm que reflexivos sejam incorporados ao verbo como ocorre em Dw (Martins 2004), Parkatej (Ferreira 2011), Tapirap (Leite 2012), entre outros.

    A forma mais simples de incorporao resulta da composio lexical, em que um nome e um verbo formam um novo item lexical, cujo significado nem sempre composicional. Nesse tipo de processo preciso identificar se a formao nome-verbo um caso de composio verbal ou trata-se de uma incorporao efetiva na lngua. A incorporao mais produtiva aquela em que ocorrem modificaes nos papeis dos participantes, que, em termos de Mithun (1984), denominado a manipulao de

  • caso. Esse fato ocorre quando na incorporao o nome perde sua funo sinttica de argumento interno, o verbo transitivo mantm sua valncia, mas outro nome, geralmente um oblquo, ocupa a funo da posio deixada livre. Isso acontece, por exemplo, na lngua tapirap, segundo mostram os dados extrados do trabalho de Leite (2012: 101).

    (1) a. -pir-ak-akan tat i-xope 1SG-pele-tirar-CAUS banana 3P-DAT eu mandei ele tirar a casca da banana

    b. ipira i-t-py-wo peixe 3P-fogo-acender-GER acendendo o fogo do peixe Nessas duas construes, os verbos akan tirar e -py acender mantm-se como transitivos, mesmo sendo sido incorporados seus objetos internos, podendo ocorrer um objeto externo, tat banana em (1a) e ipira peixe em (1b), respectivamente.

    De acordo com Payne (1997), a incorporao apresenta todas as caractersticas morfossintticas e semnticas do processo de composio, entre elas: (i) padro acentual caracterstico de uma palavra e no de sintagmas, (ii) ordem incomum na ocorrncia das palavras, (iii) processos morfofonolgicos caractersticos de palavras e no de sintagmas, (iv) morfologia especfica, (v) significados mais especficos que seus partes individuais.

    A incorporao nominal um trao recorrente em muitas lnguas faladas na regio amaznica (Payne 1990, Dixon e Aikhenvald 1999). Um exemplo tpico de incorporao nominal em Tupinamb (Tupi-Guarani), a partir de Lemos Barbosa (1956), citado por Vieira (1995: 225).

    (2) a. a--potar ita 1SG-3-querer pedra

    b. a-it-potar 1SG-pedra-querer

    eu quero pedras (Lemos Barbosa, p. 63)

    (3) a. a-s-asab y moki 1SG-3-atravessar rio dois

    b. a-y-asab moki 1SG-rio-atravessar dois

    eu atravessei dois rios (Lemos Barbosa, p. 207).

    2. Incorporao nominal em lnguas indgenas

    O processo de incorporao nominal ocorre em diversas lnguas indgenas da Amrica do Sul, uma grande parte delas so lnguas amaznicas, mas tambm ocorre em as no amaznicas, por exemplo, no Mapudungun ou Mapuche, uma lngua indgena falada nos pases de Chile e Argentina.

    Em Nadb, uma das lnguas da famlia mak, o ncleo de um sintagma nominal ou de um sintagma posposicional se incorpora ao predicado verbal para formar um novo

  • complexo verbal. Segundo Weir (1990), o ncleo de um SN absolutivo se incorpora ao complexo verbal se o SN for uma construo genitiva. Esse processo no afeta a valncia do verbo, pois um verbo intransitivo permanece intransitivo e os transitivos mantm, igualmente, sua transitividade. Contudo, a incorporao produz mudanas nas relaes gramaticais, pois um SN possuidor, inicialmente um SN absolutivo, ascende posio de novo SN absolutivo (subida do possuidor). Em (3) vemos um exemplo de incorporao com verbo intransitivo, em (4) com verbo transitivo. Em ambos os casos trata-se da incorporao de nomes inalienveis ou obrigatoriamente possudos, localizando-se em posio pr-verbal.

    Nadb (Weir 1990: 323-324) (4) (a) tg da-ts dente 1SG.POSS tema-doer meu dente di

    (b) h tg da-ts 1SG dente tema-doer tenho dor de dente (Lit. eu-dente-doer) (5) (a) a mooh h hi-jxt 2SG.POSS mo 1SG tema.ASP-lavar eu lavo tuas mos

    (b) m h mooh hi-jxt 2SG 1SG mo tema.ASP-lavar eu lavo tuas mos (Lit. eu mo-lavar voc)

    Como se observa nesses dados do Nadb, os nomes incorporados no se aglutinam base verbal. Eles mantm sua independncia fonolgica, fato que poderia ser considerado um tipo de composio por justaposio (Mithun 1984) ou noun stripping (Miner 1986). Segundo Gerdts (1998: 94) noun stripping is very much like incorporation. The sole difference is that in true incorporation the noun and verb form a single word. Noun stripping can thus be seen as a precursor of noun incorporation. If the language tolerates complex morphology, over time noun stripping can develop into incorporation.

    comum observar que na maioria dos dados consultados mostram que as lnguas que apresentam incorporao de partes do todo, ocorrem com nomes que so obrigatoriamente possudos. Por exemplo, na lngua Nanti (Arawk), segundo Michael (2008), s partes do corpo humano e parte de plantas podem ser incorporados no verbo. Nesse caso, o elemento incorporado o nominal possudo e no o possuidor, como se mostra nos seguintes exemplos.

    (6) a. no-kiba-t-ak-i-ro i-bonkiti 1SG-lavar-EP-PERF-REA.IRR-3nmO 3mP-p lavei seu p

  • b. no-kiba-bonkiti-t-ak-e-ri 1SG-lavar-p-EP-PERF-REA.IRR.3mO

    lavei seu p Em (6) observa-se a incorporao do argumento interno do verbo transitivo kiba lavar. Uma caracterstica importante nessa lngua que somente verbos que subcategorizam semanticamente seu argumento externo como agentivo e seu argumento interno como paciente permitem a incorporao de seu objeto; em verbos que no renem essas caractersticas no permitida a incorporao. Por exemplo, um verbo como neh ver que subcategorias um argumento externo experienciador e um argumento interno estmulo no permite a incorporao de seu objeto. Em se tratando de incorporao com verbos intransitivos, o elemento incorporado deve ser inicialmente um nome com a propriedade semntica paciente, como se observa em (7).

    (7) a. o-katsi-t-i no-negi 3nmS-doler-EP-REA.IRR 1P-peito di-me o peito

    b. no-katsi-negi-t-i 1S-doler-pecho-EP-REA.IRR di-me o peito

    Em Yine, outra lngua arawak, a incorporao se d com os nomes possudos, tanto alienveis como inalienveis. Segundo Hanson (2010), ao se produzir a incorporao do ncleo nominal possudo, o possuidor deve estar obrigatoriamente expresso como argumento nuclear do predicado. O processo no desencadeia mudana da valncia do verbo, mas os papeis argumentais so modificados para pode acomodar o possuidor. De esta forma, o possuidor passa a desempenhar a funo de S de uma construo intransitiva como em (8) e a funo de O da clusula transitiva como em (9).

    (8) a. r-hapoka 3-arrive he arrives

    b. hi hima r-hapoka-kari-e-ta-na hispwnaha NEG QUOT 3-arrive-arrow-PSSD-VCL-CMPV shore his arrow did not make it to the shore Lit. He did not arrow-of-arrive at the shore

    (9) a. r-histaka-na-no-na 3-cut-CMPV-1SG-3PL they cut me

    b. r-histaka- kse-ta-na-no-na 3-cut-leg.of-VCL-CMPV-1SG-3PL they cut my leg (they leg-cut me) (Hanson 2010: 282) Outra caracterstica relevante que se observa na incorporao da maioria das lnguas que apresentam esse processo, diz respeito subida do possuidor, como se viu nos dados do Nadb (em 4). O mesmo processo se pode ver em Guarani Paraguaio, como mostra os dados extrados de Velzquez-Castillo (1995)

  • (10) a. a-joei-ta che - juru 1SG-lavar-FUT 1P-boca eu vou lavar a minha boca

    b. a-je-juru-hei-ta 1SG-RFLX-boca-lavar-FUT eu vou lavar a minha boca (lit: eu vou boca-lavar-me)

    (Velzquez-Castillo 1995: 555).

    A subida do possuidor fica mais evidente na construo de (11) em que o SN pleno Maria, inicialmente o possuidor do Sintagma Genitivo (11a) passa ter o papel funcional de sujeito (11b):

    (11) a. Maria resay o-syry Maria lgrimas 3SG-fluxo o fluxo de lgrimas da Maria

    b. Maria hesay-syry Maria 3SG=lgrimas-fluxo Maria est chorando profusamente (Velzquez-Castillo 1995: 556).

    Da mesma forma, Ribeiro (1996, 2001) mostra que o processo de incorporao nominal em Karaj (Makro-J) relaciona-se com a promoo do possuidor em construes genitivas. A caracterstica principal nessa lngua que somente nomes inalienveis, principalmente partes do corpo, podem ser incorporados, alm da valncia do verbo permanecer inalterada. Como o Karaj uma lngua com alinhamento ergativo-absolutivo, apenas o sujeito de uma construo com verbo intransitivo e objeto direto de verbo transitivo so incorporados. Assim, nos dados de (12a) e (12b), vemos que o SN possuidor {kwru} rvore foi promovido para a posio de sujeito em (12b). (12) Karaj (Ribeiro (1996: 45)

    a kwru ruru -r-a-kuk=r-ri rvore galho 3-DIR-INTR-balanar=DIR-PROGR os galhos da rvore esto balanando b kwru -r-a-ruru- kuk=r-ri rvore 3-DIR-INTR-galho-balanar=DIR-PROGR a rvore est balanando os galhos

    Nas construes de (13) com verbo transitivo observa-se que o possuidor {kuehewe} ema em (13a) promovido para a posio de objeto e o ncleo {} pernas do SN genitivo ocorre incorporado ao verbo {deka} amarrar em (13b).

    (13) Karaj (Ribeiro 2001)

  • a) kdiw kuehewe -r--ka=r-e Kynyxiw ema pernas 3-CTFG-TR-amarrar=CTFG-IMPF Kynyxiw amarrou as pernas da ema

    b) kdiw kuehewe -r-- -ka=r-e Kynyxiw ema 3-CTFG-TR-perna-amarrar=CTFG-IMPF Kynyxiw amarrou as pernas da ema

    Os estudos de Praa (2004, 2007) mostram que em Tapirap, uma lngua tupi-guarani, a incorporao ocorre apenas com verbos transitivos, modificando ou no a valncia do verbo. A mudana da valncia verbal apresenta-se quando o objeto se incorpora ao verbo transitivo, e este muda para intransitivo, alm de o argumento nominal interno perder, simultaneamente, sua referencialidade, como em (14). (14) Tapirap (Praa 2007: 132)

    ag- m a-pira-paj pina- -pe PL-REFER HAB 3.I-peixe-alimentar anzol-REFER R-POSP eles sempre pescam com anzol

    Nesse exemplo, {pira-paj} peixe-alimentar traduz-se como pescar com anzol, {pira} peixe uma palavra independente com contedo referencial em Tapirrap, mas ao se incorporar ao verbo perde sua referencialidade. Entretanto, como afirma a autora, nem sempre a incorporao nominal afeta a valncia do verbo. Por exemplo, em (15b) o verbo transitivo {kotok} cutucar continua transitivo mesmo quando o ncleo do SN genitivo {xoro- r--} olho do papagaio ocorre incorporado ao verbo e o possuidor ocupa a posio deixada pelo nominal possudo; assim o possuidor passa ter a funo de argumento interno do verbo (Praa 2007:134). (15) a. konom- a-kotok xoro- r-- menino-REFER 3.I-cutucar papagaio-REFER R-olho-REFER o menino cutucou o olho do papagaio

    b. konom- a--kotok xoro- menino-REFER 3.I-olho-cutucar papagaio-REFER o menino cutucou o olho do papagaio (Lit. menino olho-cutucou o papagaio)

    Em Apurin, lngua arawk, Facundes (2000) registra apenas a incorporao nominal com verbos transitivos. O processo de incorporao pode incluir tanto nomes regulares no classificatrios (alienveis e inalienveis) como nomes classificatrios. De acordo com o autor, a incorporao nessa lngua no afeta a valncia do verbo, e o nominal incorporado, ainda, mantm sua funo sinttica de objeto. Compare-se, por exemplo, os dados em (16a) e (16b) que mostram a incorporao de nomes regulares no classificatrios. (16) Apurin (Facundes 2001: 301)

  • a. nota pu-suka-ta-ru pu-tou 1SG 2SG-dar-VBLZ-3M.OBJ 2SG-coisas d-me tuas coisas

    b. nota pu-suka-toi-txi-ta-ru 1SG 2SG-dar-coisas-NPOSS-VBLZ-3M.OBJ d-me as coisas

    Em (16a) o SN {pu-tou} argumento interno do verbo {-suka-ta-} dar ocorre separadamente, mas em (16b) ele est incorporado ao verbo. Observa-se tambm que esse argumento leva o marcador {-txi} sufixo do nominal absoluto ou no possudo, alm do morfema de fecho {-ru} marcador de objeto, terceira pessoa masculino. Esse comportamento, segundo Facundes (2000: 302) seria uma evidncia de que o verbo continua sendo transitivo, e o nominal incorporado manteria, igualmente, sua funo sinttica de argumento interno do verbo. Os dados seguintes mostram construes com incorporao de nomes classificatrios na lngua apurin. Nesse caso, os nomes com funo de classificador ocorrem incorporados ao verbo (Facundes 2000: 304). (17) a. nu-taka-pe-ta-ru eu coloquei a polpa 1SG-colocar-CL:massa-VBLZ-3M.O

    b. u-pokka--ta ele flutuava na gua 3M-flutuar-CL:lquido-VBLZ

    Um caso semelhante se d tambm em Nanti, lngua Arawk falada na Amaznia Peruana. Em efeito, consoante com Michael (2008), essa lngua apresenta classificadores verbais, eles no ocorrem como palavras autnomas, mas se comportam como se fossem sufixos. O processo de afixao do clasificadores verbales comparte con el proceso de la incorporacin nominal la caracterstica de ligar semnticamente y/o sintcticamente um elemento nominal dentro del complejo verbal con un argumento del verbo (p. 7). Assim temos que em uma construo com verbo intransitivo o classificador afixado a uma raiz verbal intransitiva categoriza o sujeito do verbo como em (18).

    (18) o-maka-kita-t-an-ak-i 3nmS-apodrecer-CL:esteira-EP-ALL-PERF-IRR.REA

    apodreceu-se (com referncia a una esteira)

    Um classificador verbal pode afixar-se a um verbo transitivo, nesse caso, ele faz referencia ao argumento interno desse verbo, como nos seguintes dados.

    (19) a. no-sagu-boki-t-i 1S-jogar.gua.encima-CL:fogo-CEP-REA.IRR estou jogando gua encima do fogo

  • b. no-tisarah-bant-ak-i-ro (o-shi) 1S-rasgar-CL:2D.flexvel-PERF-REA.IRR-3nmO 3nm-hoja eu rasguei-a (a folha)

    Na lngua baure, outra lngua arawak da regio amaznica da Bolvia, tambm envolve, alm de nomes, a incorporao de classificadores. Esses classificadores, segundo Danielsen (2007) podem ser tratados com morfemas flexionais ou como derivacionais. Em (20a) se pode observar a incorporao com verbo intransitivo e em (20b) com verbo transitivo:

    (20) a. ro=aromo-se-wapa to yaor 3SGm=sink-CLF:oval-COS ART boat the boat has sunk (Danielsen 2010: 208)

    b. ro=ni-po-a-po ep 3SGm=eat-CLF:tiny-LK-PRFLX chive he ate chive (Danielsen 2010: 209)

    3. Incorporao ou prefixao em lnguas Pano? Em lnguas da famlia pano tambm ocorrem processos de incorporao; contudo o tema est ainda aberto discusso. Inicialmente, em Matis, Matss, Shanenawa, Kashinawa, Shipibo-Konibo e Kapanawa, formas monossilbicas, especificamente termos de partes do corpo, ocorrem presas base verbal (Fleck 2006:59). De acordo com Loos (1999:243), as lnguas pano carecem de prefixos, da que os termos de partes de corpo que ocorrem presos, imediatamente precedendo, base verbal seriam interpretados como casos de incorporao. Em seu estudo sobre o Matss, Fleck (2006) lista 28 formas monossilbicas de termos de partes do corpo que se aglutinam fonologicamente a nomes, adjetivos e verbos, que em outras lnguas pano so interpretadas como derivadas sincronicamente de suas correspondentes formas nominais plenas. Para Fleck, essas formas possuem algumas caractersticas morfossintticas semelhantes ao processo de incorporao nominal de outras lnguas no pano, mas que no se pode considerar no sentido estritamente morfolgico como incorporao nominal (p. 91). possvel que o processo tenha-se desenvolvido a partir da incorporao nominal, mas no estgio atual da lngua matss resulta mais coerente interpret-lo como casos de prefixao (p. 59). Alguns exemplos do respectivo processo so mostrados, a seguir. (21) Matss (Fleck 2006)

    a. ta-kiad-o-bi (< ta p) aprendi jogar futebol p-aprender-PAS-1SG

    b. k-kiad-o-bi (< kbid lbios) aprendi beijar lbios-aprender-PAS-1SG c. debi-n m-pan-e-k (

  • d. debi- m-pan-ad-e-k (< mdante mos) Davi-ABS mo-lavar-RFL-NPAS-INDIC Davi lavou suas mos (suas prprias mos)

    importante observar que a prefixao de mdante mo em (21c) no modifica a transitividade dado que o argumento A do verbo lavar, continua em caso ergativo. Contrariamente, o mesmo verbo lavar reduz sua valncia motivada pela presena do sufixo reflexivo {-ad} em (21d).

    4. Incorporao de no argumentos 4.1. Incorporao de posposio Como afirma Aikhenvald (2012), a incorporao nas lnguas indgenas no se limita aos nomes. Ao contrrio, os elementos incorporados podem ser tambm advrbios e posposies. No caso da incorporao de posposies, o ncleo do sintagma posposicional incorpora-se ao predicado verbal, e seu SN complemento ocupa a posio de objeto direto do novo complexo verbal. O objeto direto original demovido para oblquo, posio na qual recebe caso dativo, mas a transitividade do verbo mantida como se v no seguinte dado do Nadb, descrito por Weir (1990: 327). (22) a. kalaak dab Subih a-wh kaat sii frango carne Subih PREF-comer tia POSP Subih est comendo carne de frango com a tia

    b. kaat Subih sii wh kalaak dab h tia Subih POSP comer frango carne DAT Subih est comendo carne de frango com a tia

    Na lngua Dw (Mak), de acordo com o estudo de Martins (2004) a incorporao de posposies produtivo na formao de outros verbos e muito frequente no discurso. Contudo, o processo no ocorre com todos os tipos de posposies, o mais comum com a posposio hd recipiente e com as posposies locativas classificatrias, entre elas: w encima de, kd dentro de, xx no meio de. No seguinte exemplo (23a) e (23b) observa-se o contraste ente o uso autnomo da posposio xx estar no meio de e quando ocorre incorporado no verbo.

    (23) a. wih wb tih-j bh pg gavio pr.em.cima 3SG-AFET pau ser.grande:AUM b-m xx vegetal-galho POSP o gavio colocou-o no meio dos galhos de uma rvore bem alta

    b. dw-jw un xax-xd j hid tug n gente-moca COL POSP-procurar voltar 3PL marido CONJ as moas vieram escolher os rapazes para ficar maridos delas

  • A incorporao de posposies tambm encontrada no Paresi-Haliti (Arawak). Em efeito, de acordo com Silva (2013), a incorporao de posposies pode afetar o verbo aumentando sua valncia como em (24). ou apenas modificando-o, como em (25).

    (24) a. na-teho-ka hati ako 1SG=fumar-PERF casa dentro eu fumei dentro da casa

    b. na=teho-ka-ko-tya hati 1SG=fumar-PERF-dentro-PERF casa eu fumei dentro da casa (lit. eu dentro-fumei a casa) (Silva 2013: 262)

    Observa-se em (24) a incorporao no verbo da posposio ako dentro, nesse caso, o complemento dessa posposio hati casa passou ocupar a posio de argumento interno do verbo. Mas, como afirma Silva (2013), a incorporao de posposio pode tambm apenas modificar o papel dos participantes, como no exemplo de (25).

    (25) a. na=zawa-tya haira Juarandir zem-a 1SG=lanar-PERF bola Jurandir atrs-conc eu lancei a bola atrs do Jurandir

    b. na=zawa-zema-tya Jurandir haira kako-a 1SG=lanar-atrs-PERF Jurandir bola com-conc eu lancei a bola atrs do Jurandir (lit. eu atrs-lancei o Jurandir com a bola (Silva 2013: 262)

    Em (25b) a posposio zema atrs incorporou-se no verbo transitivo zawa lanar e o nome prprio Jurandir subiu para a posio de objeto direto do verbo, logo o argumento interno inicial haira bola passou ocupar a posio de oblquo. A incorporao de posposies ocorre tambm na lngua Kanamari (Groth 1985, Queixals (2010).

    4.2. Incorporao de advrbio

    Um caso de incorporao do advrbio no verbo apresenta-se no Paumar, como nos mostra o exemplo extrado de Aikhenvald (2012: 197):

    (26) va'o-ra va-nako'di-danoki-'iana-vini 3PL-OBJ 3PL-procurar-insistentemente-outra vez:ADV- TRANS. DEP eles estavam procurando duro novamente para encontr-los

    O advrbio 'iana outra vez ocorre tambm incorporado na seguinte construo:

    (27) bi-ka-vi-kha-vini naothini-a 3SG-canoa-COMIT-MOV-TRANS.DEP depois-OBL

  • ka-barava-'iana-ha VBLZR-febre-outra vez:ADV-tema 'depois que ele trouxe-a (a tartaruga), ele teve febre novamente

    Silva (2013) menciona que no Paresi-Haliti ocorre incorporao de adjetivos, que inicialmente exerceriam o papel de modificadores, mas que um olhar mais atento desses modificadores apresenta um conglomerado de leituras, entre elas de (i) adverbial de modo, (ii) adverbial de locao, (iii) instrumental, entre outras. Assim, uma leitura adverbial de modo ocorre com koa superficie e li arredondado, como em (28).

    (28) a. na-teho-ka-koa-tya eu fumei por fumar, andando, por a 1SG=fumar-PERF-adj.sup-PERF

    b. n=aza-li-ty-e 1SG=perguntar-adj.arred-PERF--3 eu o interroguei (Lit. eu o em.volta-perguntei) (Silva 2013: 264-65)

    5. Incorporao e ordem de constituintes

    Para Baker (1988) a incorporao o resultado do movimento de um ncleo nominal que se junta ao verbo e que esse movimento est condicionado por restries universais, pela qual somente permitido adjuno esquerda da raiz verbal. Nesse sentido, o nominal incorporado universalmente preceder a raiz verbal, independentemente da ordem dos constituintes na lngua em questo. Contudo, lnguas como o Mapudungun (Isolada) e Nanti, Apurin, Yine, Paresi (lnguas Arawk) mostram que os nomes incorporados nem sempre so pr-verbais. O mesmo processo se observa tambm em Ranquel, uma variedade do Mapudunguns falada em al Provncia de la Pampa, Argentina (Fernndez Garay 2001). Em Mapudungun, consoante com Golluscio (1998), a incorporao se posiciona direita da raiz verbal, assemelhando-se, formalmente, a um sufixo, como se v nos dados seguintes.

    (19) a. ngilla-me-a-lu kofke inche comprar-DIR-FUT-N.FIN po 1SG eu vou comprar po

    b. ngilla-kofke-me-a-lu inche comprar-po-DIR-FUT-N.F 1SG vou comprar po

    (20) a. trafo-i ta i namun quebrar-3.IND M.D POSS.1 p quebrou meu p

    b. trafo-namun--(V)n quebrar-p-IND-1S quebrou meu p

  • 6. Concluses

    Observa-se que em varias lnguas indgenas somente nomes caracterizados como inalienveis, como partes do corpo e plantas, podem ocorrer incorporadas no verbo. Em outras lnguas, como nas da famlia Tupi-Guarani e nas da famlia Maku, tanto nomes alienveis como inalienveis se incorporam no verbo. diferena da restrio universal postulada por Baker (1988), os elementos incorporados no apenas precedem, mas tambm seguem a raiz verbal. Nem sempre o processo de incorporao acarreta diminuio da Valencia do verbo, contudo pode ocorrer reanjo do papel dos participantes. Segundo Mardirussian (1975) na incorporao o nome se afixa direita da base verbal em lnguas com verbo final e se posiciona esquerda do verbo em lnguas com verbos em posio inicial. Esse padro universal postulado por Mardirussian precisa ainda ser mais estudado nas lnguas amerndias. Verificar em que medida a incorporao nominal resulta sensitiva ordem dos constituintes.

    7. REFERNCIAS

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    Apndice (Lista de lnguas consultadas)

    Lnguas Tronco Famlia Guarani Tupi Tupi-Guarani Tapirap Tupi Tupi-Guarani Guaj Tupi Tupi-Guarani Tenetehra Tupi Tupi-Guarani

  • Kamaiur Tupi Tupi-Guarani Urubu Kaapr Tupi Tupi-Guarani Munduruk Tupi Munduruk Tupinamb Tupi Tupi-Guarani Nambikwara Nambikwara Nadb Mak Hup Mak Yuhup Mak Dw Maku Puinave/Wnsht Maku Karaj Macro-J Karaj Panar Macro-J J Parkatj Macro-J J Wai-Wai Karib Makuxi Karib Apala Karib Sanuma Yanomami Paumar Araw Kano Isolada Apurin Arawk Baure Arawk Palikur Arawk Yine/Piro Arawk Nanti Arawk Matsigenka Arawk Paresi-Haliti Aawak Pirah Mura Matss Pano Matis Pano Shanenawa Pano Cavinea Takana Retuar Tukano Desano Tukano

  • Kotiria /Wanano Tukano Mapudungun/Mapuche Isolada (?) Kanamari Katukina Bora Witoto

    Guajar Mirim, Rondnia, Novembro/2013.