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UNIVALI - UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CCS - CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA A ANSIEDADE NA PERPECTIVA EXISTENCIAL MARIA TEREZA PRATES BISSO Itajaí, (SC) [2009]

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UNIVALI - UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CCS - CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

A ANSIEDADE NA PERPECTIVA EXISTENCIAL

MARIA TEREZA PRATES BISSO

Itajaí, (SC) [2009]

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MARIA TEREZA PRATES BISSO

A ANSIEDADE NA PERSPECTIVA EXISTENCIAL

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientador: Prof. Aurino Ramos Filho

Itajaí SC, [2009]

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SUMÁRIO RESUMO ......................................................................................................... 4 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 5 2 EMBASAMENTO TEÓRICO ......................................................................... 7 3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ................................................................. 9 4 APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 10 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 20 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 21

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A ANSIEDADE NA PERSPECTIVA EXISTENCIAL

Orientador: Prof. Aurino Ramos Filho Defesa: dezembro de 2009. Resumo: Esta monografia, com características descritivas e interrogativas, apresenta a área da psicologia existencial como integrante do contexto da psicologia geral propriamente dita, incluindo seus conceitos, objetivos e principais tópicos de interesse científico e profissional. A monografia inclui, ainda, uma síntese das principais temáticas estudadas nesta área, e discute a necessidade da implementação de pesquisas científicas no campo do humanismo, psicanálise existencial, fenomenologia, logoterapia, ontologia, filosofia e teologia, pois serão úteis à promoção de condições favoráveis ao atendimento especializado de pacientes submetidos a tratamento psicoterápico, bem como a implementação de oportunidades de formação teórico-técnica específica para esta área considerada tão metafísica. Palavras-chave: psicologia; existência; ansiedade; ser; não ser. Sub-Área de concentração (CNPq) Membros da Banca

Roberta Pimenta Vieira de Carvalho Professora Convidada

Ana Luiza Maximo Ramos Professora Convidada

Aurino Ramos Filho Professor Orientador

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1 INTRODUÇÃO

Falando da existência...

Existir é pensar, ter consciência, agir, ter atitudes corretas ou incorretas, que

nos fazem refletir e voltar atrás. Como é bom termos a capacidade de raciocinar,

tirar conclusões, abstrair.

É pensando em si mesmo que o ser humano conhece seu interior, sua

essência, e ganha forças pra lutar no mundo. Se alimentarmos nosso mundo interior

viveremos com base para enfrentar o mundo exterior e o mundo das relações.

A nossa luta é estudada pela psicologia existencial, que se preocupa com o

sofrimento e a angústia do ser humano. Dedica-se em seus estudos à pesquisas

sobre o “porque” e “para que” sentimos ansiedade. Existe nela, por acaso, algo de

especial que nos faça evoluir?

Será a ansiedade fundamental para nos conhecermos?

“Existir é estar em constante processo; indo sempre adiante, caminhando para

um futuro que se abre diante de nós, com possibilidades imprevisíveis e

incontroláveis. É por isso que precisamos ter coragem para existir, coragem para

ser”. (FORGUIERI apud Tillichi,1984).

O tema desta monografia é bastante complexo.

Os cientistas em geral almejam captar e explicar o verdadeiro significado da

realidade e consideram que para conseguir necessitem de objetividade. O método

experimental adotado pelas ciências naturais, a partir do século passado passou a

ser usado também pela Psicologia, a partir do nosso século. Isto implica considerar

o ser humano como um objeto, governado por lei naturais que determinem os

eventos psicológicos.

Kierkegaard (1844) e Nietzsche (1881), principais incentivadores do movimento

existencialista, clamaram contra a objetividade e a naturalidade da ciência,

considerando que o conhecimento só poderia ser alcançado no próprio existir do

cientista. O objeto do conhecimento não é nem o pensador nem a realidade em si,

mas a realidade enquanto vivida pelo pensador.

A existência é instável, incerta e até mesmo contraditória. Por isso, o homem

procura se refugiar na ciência que é estável e congruente, para tentar escapar às

ansiedades do seu existir.

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Ao apresentar a sua análise existencial (Boss, 1957) afirma que esta procura

ver o homem tal como se revela imediatamente e descobre que ele existe apenas

em sua relação com os objetos e com seus semelhantes.

O modo humano de ser-no-mundo é comparável ao resplendor de uma luz, em

cuja claridade tudo quanto existe pode tornar-se presente e revelar a sua natureza

própria.

A tarefa intrínseca do homem é cuidar de si, das coisas e seus semelhantes,

para que tudo quanto existe possa realmente ser, alcançar um pleno

desenvolvimento. Ele precisa assumir e aceitar responsavelmente todas as

possibilidades que o constituem e desenvolve-las, cuidando também das coisas e

das demais pessoas do mundo: “Só assim poderá alcançar a plenitude de seu

existir.”

O homem não é algo pronto, e sim um conjunto de possibilidades que vão se

atualizando no decorrer de sua existência.

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2 EMBASAMENTO TEÓRICO

A psicoterapia existencial busca compreender o conflito que emana do

enfrentamento da pessoa humana com os supostos básicos da existência.

“Supostos básicos” são preocupações essenciais que fazem parte da existência

humana no mundo: a liberdade, a morte, o isolamento, e a falta de um sentido para

a vida. Diante destas preocupações, o individuo se depara com a sua fragilidade e

nasce então um conflito existencial.

“O homem é o único ser a ter conhecimento da morte, da finitude de sua

existência corporal e da transitoriedade da vida. Este fato faz com que a pessoa

humana seja um ser preocupado com o tempo e, responsável por sua

transitoriedade, busca um sentido para a qual sente um chamamento interno.”

(Gomes apud Frankl, 1992).

Segundo Frankl, a coerência do sentido para a vida é a base das

psicopatologias modernas, porque a humanidade nunca viveu tão sem perspectivas.

A falta de sentido para a vida faz com que o homem se envolva num grande vazio

existencial, um grande vazio que hoje é o mal estar da civilização, daqueles que

atuam mecanicamente, sem tomar consciência do sentido que a vida esconde de si

mesma.

Frankl dizia que a maioria dos clientes sofria uma frustração existencial, um

vazio existencial. Um vácuo que pode ser compreendido em termos de uma falta de

sentido para a vida e que deixa a pessoa em um profundo estado de confusão. Dizia

ele que a sensação de falta de sentido e vazio estava crescendo e se tornando uma

espécie de angústia coletiva, que as pessoas pareciam sentir um mal estar quando

em ausência de um bom motivo para viver e que este fenômeno se observava em

todo o mundo, em todos os regimes políticos dos diversos países do Oriente e do

Ocidente.

Pensando em psicoterapia existencial, angústia, conflitos, vazio e frustração,

lembramos que a Logoterapia, psicoterapia existencial humanista de Viktor Emil

Frankl, nos fala de vazio e de falta de sentido como um sofrimento de massas. Este

sofrimento foi tangenciado até mesmo por Freud, que em uma carta dizia: “Desde o

momento em que alguém se pergunta pelo sentido ou valor da vida, está enfermo”.

Na visão da logoterapia, no uso da consciência a pessoa humaniza e passa a

dar expressões à sua liberdade pessoal. Consciência, liberdade e responsabilidade

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podem adquirir significado quando consideradas juntas. São qualidades do ser

humano e só podem ser compreendidas como manifestações do homem no mundo.

(Gomes apud Frankl, 1992).

O homem tem se esforçado sobremaneira, com o intuito de elaborar a ciência.

Entretanto, a “investigação cientifica não é o seu único modo possível de ser e nem

o mais imediato, pois, ao ser humano é essencialmente inerente ser-no-mundo”.

(Heidegger, 1971)

Para saber quem somos precisamos, de certo modo, saber onde estamos, pois

a identidade de cada um de nós está implicada nos acontecimentos que

vivenciamos no mundo, e precisamos do ‘mundo” para saber onde estamos e quem

somos.

“O primordial ser-no-mundo do homem não é uma abstração, mas uma

coerência concreta; acontece e se realiza nas múltiplas formas peculiares do

comportamento humano, e nas diferentes maneiras dele relacionar-se às coisas e às

pessoas. “Ser” não é uma estrutura ontológica existindo em algum “ supermundo”

que se manifesta uma vez ou outra na existência humana. Ser-no-mundo consiste

na maneira única e exclusiva do homem existir, se comportar e se relacionar às

coisas que encontra...”(Boss, 1963)

Como seres racionais, temos necessidade de analisar a nossa vivencia

cotidiana imediata, para conceituá-la e estabelecer relação entre nossas

experiências, elaborando desse modo um conjunto de conceitos, relacionados por

princípios coerentes, que nos permitem explicá-los.

Quando as experiências agradáveis são pouco intensas, concentramos a nossa

atenção nos afazeres cotidianos. Estes podem chegar a nos absorver de modo tão

intenso que nos dificultam perceber como estamos vivendo e nos sentindo no

decorrer de nossa existência. Tal não é o caso de uma vivência de angústia, na qual

nos sentimos mal sem saber porque.

Angústia, medo e coragem encontram-se intimamente relacionados. É os

vivenciando que os analisamos racionalmente e dispomos de recursos para

enfrentá-los.

“Finalmente, somos vivos, mas também mortais. Vivemos e morremos, de certo

modo simultaneamente, pois, a cada dia que passa, nosso existir caminha para viver

mais plenamente, assim como para morrer mais proximamente”. (Forghieri, 1984)

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A saúde existencial está profundamente relacionada ao modo como

conseguimos estabelecer articulações eficientes entre a amplitude e as restrições de

nosso existir.

O adoecimento existencial só acontece quando as limitações e conflitos

são reconhecidos e enfrentados pela pessoa, à luz de suas múltiplas possibilidades,

passando então a se tornar exageradamente ampliados e dominantes em sua vida.

“A essência de todos os sofrimentos humanos fundamentam-se no fato de que

a pessoa perdeu a capacidade de se abrir e de se decidir livremente acerca de suas

possibilidades de comportamento normal... Os métodos psicoterapêuticos têm por

objetivo devolver à pessoa, na medida do possível, a livre disposição de suas

possibilidades existenciais de comportamento que respondem aos dados do

mundo”. (Boss, 1975).

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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

O método utilizado nesta monografia foi o da pesquisa bibliográfica indutiva –

dedutiva → reflexão.

Sendo assim, os instrumentos foram os livros. Mantive cautela na escolha.

Coletei dados, citações, informações, apenas nos livros com teor existencial,

filosófico, fenomenológico, para que viessem com a proposta existencial, humanista

e ontológica às quais me propus conhecer, como por exemplo, os mistérios da

mente, do “ser” e do “existir”.

No momento da coleta dos dados, fundamentais para minha monografia, fiz a

análise do conteúdo que viriam responder indagações que surgiam em mim, sobre a

mente humana, o ser humano, a ansiedade, a angústia e a tão sonhada paz.

Coletei e analisei dados com argumentos que satisfizeram minhas

curiosidades psicológicas, meu mundo interior, meu mundo científico e também

filosófico.

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4. APRESENTAÇÃO Capítulo Um:

Psicologia Existencial e Ansiedade

A ansiedade é o estado do ser humano na luta contra o que poderá destruir seu

ser (Tillich). Isso vem a ser a ação da autoconsciência no sentido de defendermos

nosso ser. Não queremos destruí-lo e sim preservá-lo. Como a autoconsciência

surge como uma nova função do homem, e toda a nova função forma uma

complexibilidade,o simples pode ser compreendido em termos do mais complexo

(Chardin em sua obra “o fenômeno humano”).

A consciência não é a minha percepção da ameaça do mundo, mas a minha

capacidade de conhecer-me como uma pessoa que está sendo ameaçada, a minha

experiência própria como a pessoa que possui um mundo.

A consciência é a capacidade do ser humano de transcender a situação

imediata,de viver em termos do possível (Goldstein).

Voltando à autoconsciência, ela é a forma exclusivamente humana de

percepção(Liddell). A esta percepção das ameaças à existência, nos animais, Liddell

chama de vigilância e a identifica como replica simples e primitiva neles, do que nos

seres humanos se torna a ansiedade.

O ser humano é um “ser” em conflito com o “não ser”. A psicologia existencial

se preocupa com o sofrimento e a angústia do ser humano. E se dedica a estudos e

pesquisas sobre o “por quê” e o “para quê” sentimos ansiedade.

Na verdade, “existir é estar em constante processo, evolução. Por isso

precisamos ter coragem para existir, coragem para ser”. (Tillich).

Podemos definir a ansiedade como a dificuldade do ser humano de encontrar-

se no seu mundo. Esta situação humana encontram-se no âmago das aspirações e

das limitações humanas, (entre o que o ser humano é, o que ela gostaria de ser e o

que ele poderia ser).

Isso implica em que a pessoa, em virtude do que tenha se tornado, assume

uma relação nova com a ansiedade. Não transcende também a sua cultura. “Se o

estudo da singularidade do individuo não se ajustar aos conhecimentos da ciência,

tanto pior para o conceito de ciência. Ela terá de suportar a re-criação” (Allport).

Somos “seres humanos” com “vontade” e “sentidos”. A vontade nos dirige para

a ação e os sentidos dão essência à ela. Cheguei à conclusão de que a Psicologia

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Existencial mais que uma ênfase, uma confirmação, é um realce e uma

redescoberta das tendências já existentes na psicologia.

Não podemos perder nesta concentração o que conquistamos

existencialmente, pois estaremos sujeitos a cair num vazio, o “vazio existencial”. Ele

é repleto de temores, medos, angustias e ansiedade exacerbada.

Uma sensação causadora de vazio pode ser a solidão, além de sensações de

perda e de “não-ser”. A ênfase existencialista sobre a solidão do indivíduo torna

mais problemático e mais fascinante o mistério da comunicação entre eles, como por

exemplo intuição e empatia, amor e altruísmo, identificação com os outros.

Uma preocupação dos escritores existencialistas é a dimensão da seriedade e

profundidade de viver, contrastando com a vida frívola e superficial, que é um tipo de

viver diminuído, uma defesa contra os problemas da vida.

O existencialismo com seus conceitos, não somente enriquece a Psicologia,

como também é um empurrão adicional para o estabelecimento de um outro ramo

da Psicologia: a psicologia do eu evoluído e autêntico e suas maneiras de ser. Tillich

deu a sugestão de chamar de ontopsicologia.

Os existencialistas europeus repisam muito sobre o medo, a angústia e a

ansiedade. E o único remédio que oferecem é o de manter a fortaleza de ânimo.

Esta lamúria de alto Q.I. ocorre toda vez que uma fonte externa de valores não

funciona. Eles aprenderam que a perda das ilusões e a descoberta da identidade,

embora dolorosa, podem ser estimulantes e fortalecedoras.

Paul Tillich, teólogo, baseia sua teoria de ansiedade no postulado ontológico de

que o ser humano é finito, sujeito ao “não-ser”. A insegurança bem pode ser um

símbolo de perda. Qualquer perda pode representar uma perda total.

Yung vê a segunda metade da vida como estando dominada pelas atitudes do

individuo para como uma perda, a morte, pois há um crescente reconhecimento da

relação entre a doença mental de alguém e sua filosofia de vida.

Angustia, medo, ansiedade e coragem encontram-se relacionados. É os

vivenciando que os analisamos racionalmente.

A saúde existencial está profundamente conjugada ao modo como

conseguimos estabelecer articulações eficientes entre a amplitude e as restrições de

nosso existir. Ao contrário da saúde, o adoecimento existencial acontece quando as

limitações e conflitos são reconhecidos regeneradamente pela pessoa, passando

então a se tornarem ampliados e dominantes em sua vida.

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“A essência de todos os sofrimentos humanos está no fato de que a pessoa

perde a capacidade de se decidir acerca de suas possibilidades... Os métodos da

psicoterapia têm por objetivo devolver à pessoa, a livre disposição de suas

possibilidades existenciais”. (Boss)

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Capítulo Dois: Relevância da ansiedade no processo de maturação humana

Teorias sobre a ansiedade humana só podem ser entendidas na medida em

que cada uma delas pretende elucidar experiências do ser humano que viveu numa

fase particular do desenvolvimento da cultura. Cada fase da vida, cada época, no

passar do tempo na nossa historia marca um pólo distinto dentro do nosso

pensamento cultural. Ele simboliza nossa vida, nossas ações, nossa identidade.

Somos o que fazemos. Somos nós mais nossas ações.

Pensadores que se tornaram importantes para seu século, devido a

formulações que obtiveram êxito e também para os séculos subseqüentes,

penetraram e articularam o significado de seus conceitos dentro da direção

dominante de seu contexto de cultura. Temos Espinosa no século XVII, Kierkegaard

no século XIX e Freud no século XX.

Kierkegaard e todos os pensadores da tradição existencial até Paul Tillich,

insistem em que não podem ser evitados os problemas de ansiedade, culpa, tédio e

conflito do homem ocidental. É fundamental na tradição existencial a ênfase

“igualmente/ou”, a insistência de que somente com um alto conhecimento destes

problemas e decisões podem eles ser abordados. O enfoque existencial e a

conquista de individualidade (inclusive individualidade subjetiva), com a omissão ou

fuga das realidades conflitantes do mundo em que agora nos encontramos, mas

enfrentando estes conflitos diretamente, através do encontro com os mesmos,

alcançando a própria individualidade.

Não precisamos tomar tão a sério o repisar dos existencialistas europeus sobre

o medo, a angústia, o desespero e coisas assim, para os quais o único remédio

parece ser o de manter a fortaleza de ânimo. Eles devem ter aprendido com os

psicoterapeutas que a perda das ilusões e a descoberta da identidade, embora

dolorosa a principio, podem ser estimulantes e fortalecedoras,

Vemos à nossa frente, com toda a percepção que nos é deliberada pela

existência de nós mesmos, uma estrutura de “ser-no-mundo”, e nos agarramos

fortemente a ela porque temos medo de perdê-la.

“Ser-no-mundo consiste na maneira única e exclusiva do homem existir, se

comportar e se relacionar às coisas que encontra”.

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Forghieri enfatiza que “ser-no-mundo” é uma estrutura originária e sempre total,

não podendo ser decomposta em elementos isolados.

Tal estrutura primordial, no entanto, pode ser visualizada e descrita em seus

vários momentos constitutivos. É desse modo que podemos considerar os vários

aspectos do mundo e as diferentes maneiras do ser humano existir no mundo. Ela

só conseguirá existir plenamente se fizer uso ponderado de sua liberdade. A

liberdade não deve ser abusiva nem tampouco comedida. Há sempre um meio

termo para tudo. Devemos utilizá-la como fonte liberadora do sofrimento e da

angústia, que nos farão agir, pensar, analisar, sempre em paz com nós mesmos.

Kierkegaard sustentou que a própria liberdade envolve sempre uma ansiedade

potencial, que será proporcionalmente maior quanto mais possibilidades criadoras

tiver o homem.

Aquele que aprendeu corretamente a ser ansioso, aprendeu a mais importante

de todas as coisas: a ansiedade é a mais profunda das maneiras de compreender a

psicologia humana.

Nossas plenitudes nos fazem ver a verdadeira condição de “ser” e a luta que

travamos com o “não-ser”. Nossas restrições nos diminuem como pessoas

existentes. “Ser” e “não-ser”; condição psicológica existencial, condição inevitável do

cotidiano das pessoas, condição psicológica das nossas inúmeras interrogações,

condição das ilimitadas condições universais.

Durante o processo de maturação humana, nossa consciência, parte pensante

do nosso ser, oscila entre fenômenos simples e fenômenos relevantes. Entre os

simples podemos destacar fenômenos do cotidiano que não nos causam sofrimento

maior. Mas entre os relevantes estão os conflitos, os traumas e a ansiedade.

Para Sartre, ”o homem está condenado a ser livre”. Esta citação define a

necessidade de uma redimensão da existência.

Angerami – Camon diz que, “condenado, porque não criou a si próprio, e no

entanto, livre, porque uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto

fizer. Este passa a ser um dos principais valores existencialistas: a liberdade para

assumir a totalidade dos próprios atos”.

Sartre salienta que a liberdade é o que precisamente estrutura o homem,

porque é uma designação especifica da própria qualidade de ser consciente, de

poder negar, de transcender.

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“A liberdade é o que define a minha possibilidade de me recusar como coisa,

projetando-me para além disso, ou, se quiser, para além de mim”.

A Psicologia Existencial percebeu que o homem em geral não aprendeu a

trabalhar sua liberdade, sendo que idênticas situações podem mudar de um

momentos para outro. Assim como nos sentimos livres como pássaros gigantes

sobrevoando os oceanos, de repente, os mares transformam-se em pedras e

caímos do alto machucando e destruindo nosso arbítrio e falsa força. Se isso

ocorrer, o medo tomará conta de nós. E tudo começará de novo.

Não podemos permitir que fantasmas de fracassos nos arrebatam para outras

situações que ainda não estamos preparados para sair delas vitoriosos. Lembremos

sempre que o medo é condição humana.

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Capítulo Três: Atitudes favoráveis à ansiedade durante a maturação do ser humano.

Durante o processo de maturação humana, é fundamental o homem estar

consciente da necessidade de tomar atitudes favoráveis para transpor a ansiedade,

articulando de tal maneira que ela possa minimizar o sofrimento inerente à condição

humana. Para que isso ocorra, temos que nos agarrar à liberdade, recusar-se como

coisa e projetar-se para além disso e para além dele.

O homem é livre por necessidade ontológica, e fugir dessa condição é reprimir-

se, é negar-se. Depois, temos que pensar liberdade como ética, sem fobias, e muita

autenticidade.

Devemos estar conscientes da relevante relação que existe entre ética e

autenticidade. Baseados nesta relação, administrar e trabalhar o lado saudável do

nosso todo. Abrilhantar nossos pensamentos e sentir que somos capazes de muito

mais. Nós somos o que somos, o que falamos, mais nossas ações. Sempre temos

que repensar o dizer do outro sobre nós. Uma visão distorcida pode acontecer,

mesmo que o outro seja nosso amigo e nos admire.

A autenticidade será sempre relevante, pois ela nos dará a importância de

sermos importantes. Sem ela, estaremos fadados ao insucesso. Com ela,

venceremos a dor da angústia com altivez. E tem mais. A autenticidade é inimiga da

rotina, pois a rotina representa o soterramento da existência em escombros de

repetição.

Aos poucos, no nosso amadurecer, iremos tomar atitudes favoráveis para

colocar fim ao sofrimento, que implicitamente está em nós, por ser nossa condição.

É difícil entrar em contato com a solidão, mas quando o homem compreende

que cada um é único e tem sua história individual, mais a maneira própria de buscar

sentido para a vida, vai então perceber que a solidão demonstra a magnitude da

condição humana.

Ao contrário da árvore que se desenvolve a partir da essência, a essência do

ser humano se desenvolve e se transforma de acordo com os projetos estipulados

por ele mesmo. Essa condição permite ao homem reconstruir sua vida a cada

instante.

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O homem existe, pois está na condição de ser-no-mundo, não apenas em sua

relação corpórea ou por ocupar um lugar no espaço.

O ser-no-mundo, implica uma luta constante do homem consigo próprio para

não perder sua dignidade existencial e suas características individuais.

O homem existe a partir do contesto de suas realizações. Porém, o ato da

morte interrompe a existência humana. Isso determina à existência o fim dos seus

planos e ilusões.

Portanto, a morte é o acontecimento mais concreto da vida, mas muitas vezes

exerce a condição de algo desagradável para a pessoa existente. Na visão

existencialista a morte é a “ocorrência que determina o fim”. Nossa existência não é

eterna. Temos que ter sabedoria para assimilar essa realidade.

Se a existência não tem sentido, a consciência disso leva o individuo ir em

busca de realizações significativas, e com isso, dar sentido a essa existência. Na

maior parte dela, o homem tenta compreender seu sentido, a questiona para

conhecer a verdade. É necessário que o homem decida de maneira adequada seu

projeto de vida, para que o sentido de vida seja pertinente às suas realizações.

O sentido de vida será pobre e limitado, quando as pessoas escolhem como tal

a realização de projetos inalcançáveis, aquém de suas possibilidades. Isso acarreta

muito sofrimento. Mas é através do sentido de vida que sentimentos podem ser

avaliados e superados de maneira autêntica.

O homem tem a capacidade de transcender, ultrapassar seus limites corpóreos.

É através da transcendência que o homem desvenda a totalidade de suas

possibilidades existenciais, porque ele não é um ser estático e sim, em constante

desenvolvimento. Ao transcender, nos lançamos para além das nossas

possibilidades de existência.

Quando tomamos consciência da nossa condição humana, passamos por uma

experiência atípica, a angústia, que para o existencialismo não é um sentimento

negativo. É um sentimento negativo. É um sentimento que nos amedronta diante do

“medo” existencial, diante da morte, diante da própria condição humana ou da

liberdade. Logo, o homem é um ser arrojado que, uma vez lançado ao mundo, busca

condições existenciais que tragam perspectivas à própria vida.

Algumas atitudes humanas como o desejo físico, a indiferença e o amor, estão

fadadas à frustração. O amor é um sentimento que torna dócil o próprio ódio, e,

como sentimento, é capaz de dar formas concretas ao abstrato. O amor é a própria

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esperança, capaz de escorraçar o ódio dos corações humanos. Se cair na

frustração, o tédio existencial faz o amor sofrer e morrer.

O tédio existencial é um dos aspectos que mais sofrimento tem legado à

existência.

Se caracteriza como uma situação em que o homem sofre a dor de ver o tempo

passar, sem estar se realizando. Aí vem a culpa de ter deixado o tempo passar.

A culpa se faz presente quando o homem questiona a realização de suas

possibilidades existenciais. E se transforma em um sintoma ou patologia, quando a

culpa ontológica não é assumida como tal.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término da Monografia, tenho que afirmar com sinceridade o quanto cresci

interiormente.

Já não sou mais a mesma.

Sou muito mais do que posso imaginar.

Me sinto filosofia salpicada de ciência e subjetividade. A Psicologia Existencial

penetrou dentro de mim e me ensinou a trabalhar a liberdade com ética e amor.

Deu-me sentido para a vida, e fez com que a angústia e a ansiedade

invadissem meu mundo antes pequeno, e o transformassem num gigante repleto de

amor e sabedoria.

Por tudo isso fiz meu trabalho com enorme satisfação, sentido dia-a-dia a

psicologia cobrir minha vida de esperança.

Somente a esperança é capaz de nos tornar plenos e significativos naquilo que

de agora em diante iremos enfrentar: um trabalho belo, humano, digno de um curso

como o que estamos terminando.

A angústia e a ansiedade que modifiquei dentro de mim, tinham um propósito

especial: o de amadurecer minha mente a ponto de eu encontrar o meu “sentido

para a vida”.

Aprendi também a trabalhar o sofrimento e os conflitos que aparecem no nosso

cotidiano.

Driblei problemas sérios de saúde e problemas existenciais, em prol da

magnâmine felicidade que sinto hoje e tenho certeza, sentirei enquanto pessoa

existente.

Mais uma vez eu saúdo a Filosofia, a Ontologia e a Psicologia Existencial.

Termino aqui meu começo.

Sinto-me honrada por tudo que me aconteceu.

As oportunidades que eu tive, jamais esquecerei...

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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FORGUIERI, Y. C. ET AL; Fenomenologia e Psicologia, Cortez Editora, São Paulo,

1984.

GOMES, José Carlos Vitor; Logoterapia – A Psicoterapia Existencial Humanista de

Viktor Emil Frankl, Edições Loyola, São Paulo, 1992.

FORGUIERI, Yolanda Cintrão; Psicologia Fenomenológica – Fundamentos, Métodos

e Pesquisas. Editora Pioneira, São Paulo, 1997.

ANGERAMI – CAMON, Valdemar Augusto; Psicoterapia e subjetivação – uma

análise de fenomenologia, emoção e percepção, São Paulo, Thomson, 2003.