UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES DOCUMENTO … · A literatura infantil, que muitas vezes não é vista...
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
POR: CARLA FERNANDA DE SOUZA MARTINS
ORIENTADOR
Professora Edla Trocoli
NITERÓI
2015
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
Apresentação de Monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Educação Infantil e Desenvolvimento.
Por: Carla Fernanda de Souza Martins
NITERÓI
2015
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus.
A minha mãe por cuidar do meu filho na minha ausência;
Ao meu filho por entender tamanha falta;
As minhas companheiras de turma pelo apoio e incentivo.
RESUMO
Este trabalho monográfico cuja temática é A importância da Literatura para o desenvolvimento da criança, tem como objetivo avaliar como a literatura é necessária no desenvolvimento da criança. A escolha do tema justifica-se pelo fato de que existe um afastamento das crianças do contato com os livros infantis. Seja pelo pouco uso que o professor faz desse recurso, pela falta de incentivo da família, maior interesse pelos aparelhos eletrônicos ou até mesmo pela falta de acesso.Vale ressaltar que a literatura é um caminho que leva a criança a desenvolver a capacidade de concentração, desenvolver a oralidade, a imaginação, emoções e sentimentos de forma prazerosa e significativa.Permitindo a criança o manuseio e utilização de diferentes livros, levando-a ao interesse pela leitura, utilizando a contação de história para enriquecimento das atividades propostas em sala de aula.Para efetivação desta pesquisa foram realizadas pesquisas fundamentadas em BETTHELHEIM (2002), CADERMATORI (2002), COELHO (2000), MIGUEZ (2012) e outros. O presente trabalho inicia com um breve histórico sobre a Literatura Infantil, onde enfoca a importância de ouvir histórias e do contato desde cedo da criança com o livro., esboçando algumas estratégias para desenvolver o hábito da leitura, além de evidenciar a literatura como forma de abrir caminhos para a aprendizagem dos alunos, Nesse contexto a investigação é sustentada/fundamentada numa metodologia de cunho quantitativo. Finalmente, as considerações finais, sem a menor pretensão de esgotar as discussões sobre o tema, alguns comentários visando a necessidade de redimensionar a formação continuada do professor mediador de leituras, que no momento que pesquisa e se aperfeiçoa, contribui para a formação de um sujeito-leitor.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para a realização da sondagem do problema proposto será
através da leitura de livros, revistas, artigos e a pesquisa bibliográfica a partir de alguns
autores, tais como; Nelly Novaes Coelho, Fátima Miguez, Ana Arlinda Oliveira, Ligia
Cadermatori e Bruno Bettelhein.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................8
CAPÍTULO I- EXISTE LITERATURA PARA CRIANÇAS? .........................10
CAPÍTULO II- DANDO ASAS A IMAGINAÇÃO..........................................18
CAPÍTULO III- LITERATURA-BASE PARA A CONSTRUÇÃO DE SI MESMO..26
CONCLUSÃO..............................................................................................................34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................36
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INTRODUÇÃO
Atualmente percebe-se que as crianças não tem se interessado pela leitura. Em
seus momentos de diversão e lazer as crianças, tem optado por outras formas de
diversão, que não os livros. Cabe a família cultivar o hábito da leitura, e a escola deve
estimular e difundi-lo aos que ainda não possuem.
Esta monografia tem como tema a Importância da literatura infantil no
desenvolvimento da criança, abordaremos aqui, quais campos o trabalho com a
literatura é capaz de potencializar.
A presente monografia tem como objetivo avaliar como a literatura
infantil é necessária no desenvolvimento da criança, como professores, bibliotecários e
agentes educativos podem utilizar esse recurso para potencializar suas aulas e/ou
atividades.
No primeiro capítulo intitulado “Existe literatura para crianças” se faz necessário
um breve histórico sobre o surgimento da literatura infantil. Em que momento começou-
se a se escrever para as crianças, quem foram esses autores e de que forma chegaram
nas mãos dessas crianças, enfocando o tempo e o modo que esses pequenos leitores
viviam.
No segundo capítulo será abordado a temática do professor que está envolvido
com esses livros, que procura e deve se aprimorar constantemente para que sua prática
se torne cada dia mais dinâmica. Como este professor que pouco lê, e as vezes mal
escreve pode estimular seus alunos em sala de aula. De que formação necessária este
educador precisa, para que possa desenvolver no seu educando habilidades e
potencialidades, para que venha a se tornar um bom leitor. E que esse espaço
privilegiado que é a escola, o aluno encontre de fato, bases para a sua formação, com
acesso ao mundo da cultura, com trocas culturais. Onde o professor consiga construir
um espaço libertário e orientador.
No terceiro e último capítulo será abordado temáticas em torno desse leitor, o
que é um leitor ideal e que potencialidades se é possível desenvolver com a criança. É
por meio de uma história que a criança pode descobrir outros tempos, lugares e etnias.
Dessa forma, quanto mais cedo os pequenos tiverem contato com os livros mais cedo
irão perceber o prazer que a leitura produz, sendo maior a probabilidade dela se tornar
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um adulto leitor. Ouvir ou contar uma história é compartilhar uma experiência, na
descoberta do mundo dos livros e das histórias.
A metodologia utilizada para a realização da pesquisa foi bibliográfica,
utilizando as obras dos seguintes autores: Abramovich (1997), Coelho (1993),
Cadematori (2010), Vigostky (1991), artigos de sites e revistas especializadas.
A literatura infantil, que muitas vezes não é vista como atividade pedagógica, e
em alguns casos é usada sem nenhuma relação com o ensino, deve ser aqui melhor
explorada, pois, ao lidar com a literatura infantil em sala de aula, o professor quando
conta uma história está abrindo um universo de possibilidades para que essa criança
reflita sua própria condição pessoal, e a partir dali possa construir novos pontos de vista.
A literatura infantil tem uma tarefa importante a cumprir nesta sociedade que
está a todo momento em trasformação, ela deve servir como agente de formação, seja no
espontâneo convívio leitor/ livro, seja no diálogo leitor/texto estimulado pela escola
como cita Nelly Novaes em seu livro literatura infantil: teoria, análise e didática.
Instrumento motivador e desafiador, a literatura infantil é capaz de transformar o
indivíduo em um sujeito ativo, responsável pela sua aprendizagem, pois, pesquisa,
debate, confronta suas idéias, é capaz de compreender o contexto em que vive e capaz
também de modificá-lo de acordo com a sua necessidade.
A leitura possibilita motivar ainda mais a imaginação, a fantasia , fazendo com
que a criança conheça, interprete e compreenda a realidade. Quando bem dirigida pelos
pais e educadores, causa também um crescimento crítico em relação as questões
familiares, aos relacionamentos interpessoais e sociais.
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CAPÍTULO I
EXISTE LITERATURA PARA CRIANÇAS?
Para iniciarmos este capítulo será necessário que se faça um breve histórico
sobre o surgimento da literatura infantil.
Comecemos pelo significado da palavra literatura. A palavra literatura vem do
latim “litteris” que significa “letra”, que também quer dizer “escritos, cartas” e parece
referir-se, primordialmente, à palavra escrita ou impressa. Em latim, literatura significa
uma instrução ou um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem e se
relaciona com as artes da gramática, da retórica e da poética.
Os primeiros livros destinados as crianças foram escritos no final do século
XVII, com caráter ético-didático, ou seja, com a finalidade de moldar as crianças, com a
finalidade única de educar. Eram escritos por professores e sua função consistia em
ensinar hábitos, valores e ajudar a enfrentar a realidade social. Proporcionando assim
uma leitura utilitária. A criança era considerada um adulto em miniatura, que
participava juntamente com os adultos, compartilhando também a literatura.
Podemos dizer que a literatura infantil surgiu juntamente com o conceito de
infância, pois antes a literatura que chegava a mão das crianças, era a mesma dos
adultos.
As crianças não eram percebidas socialmente, como seres diferentes dos adultos,
ainda compartilhavam as mesmas vestimentas dos adultos, participava dos ambientes
caseiros e sociais, como também o trabalho.
O francês Charles Perrault, iniciou uma literatura destinada as crianças
coletando lendas e contos da Idade Média e os adaptando, constituindo os chamados
contos de fadas. Publicou os Contos da Mamãe Gansa. Esses contos chegaram para a
família Perrault, através de contadores que, na época, se integravam à vida doméstica
como servos. A sociedade vivia um momento de tensão entre as classes populares e
burguesas. O então burguês Perrault era um homem culto, que desprezava o povo e
ironizava as superstições populares. Podemos perceber alguns de seus contos certo
sarcasmo em relação ao popular.
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Perrault deu uma nova roupagem às narrativas folclóricas contadas pelos
camponeses, onde retirou passagens obscenas de conteúdo incestuoso e até cenas de
canibalismo. Acredita-se que, antes do cunho pedagógico, houve o objetivo de leitura e
contemplação pela mente adulta. Posteriormente, Charles Perrault trouxe a história
moralizadora e mais adequada aos ambientes sociais que conviviam na época.
Cadermatori (2010) acrescenta que o trabalho de Perrault é o de um adaptador.
Pois ele parte de um tema popular, trabalha sobre ele e acresce-o de detalhes que
respondem ao gosto da classe a qual pretende endereçar seus contos: a burguesia.
Com a ascensão da família burguesa, a infância começa a configurar um
novo “status”, acontece uma nova configuração da família. Sendo necessária, uma
reorganização da escola, para atender a nova demanda. Daí a literatura infantil surge
como instrumento de apoio ao ensino.
A partir do século XVIII o conceito de criança começou a mudar. Possuindo
agora necessidades e características próprias, sendo assim, um tipo específico de
literatura foi desenvolvido para ela. Esse tipo de literatura foi denominado: literatura
infantil. Antes daquela época, as crianças da nobreza liam os grandes clássicos e as
crianças das classes populares liam lendas e contos folclóricos. Com o passar do tempo,
esses clássicos sofreram adaptações e os contos folclóricos inspiraram os contos de
fadas. Segundo Cademartori (2010)
“a palavra literatura é intransitiva e, independente do adjetivo que
receba, é arte e deleite. Deste modo, o termo infantil que acompanha a
palavra literatura não significa que ela tenha sido feita
necessariamente para crianças. Na verdade, a literatura infantil acaba
sendo aquela que, corresponde de alguma forma, a vontade do leitor e
que se identifique com ele.”
Foi dentro desse contexto e a partir da literatura oral e popular que despontaram
os primeiros livros infantis. Mas ainda não possuíam o encanto e os “finais felizes” tão
comuns nos dias de hoje. Eram de natureza essencialmente fantástica, o que
predominava era o pensamento mágico, prevaleciam neste momento às narrativas de
natureza simbólica, encontrada em prosa ou verso, cujos personagens são geralmente
animais, acompanhadas sempre por uma lição de moral, eram conhecidas como fábulas.
Reinventada no Ocidente pelo grego Esopo, e no século XVII por Jean de La Fontaine.
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COELHO (2000) acrescenta que:
O Maravilhoso sempre foi e continua sendo um dos elementos mais
importantes na literatura destinada as crianças. Essa tem sido a
conclusão da psicanálise, ao provar que os significados simbólicos dos
contos maravilhosos estão ligados aos eternos dilemas que o homem
enfrenta ao longo de seu amadurecimento emocional.
Nesse momento a criança passa da fase do egocentrismo para o sociocentrismo:
a do eu para o nós. A criança passa por um processo de amadurecimento, e os contos de
fadas, com seus personagens (bons e ruins, bonitos e feios, fracos e fortes) vão facilitar
a compreensão dos valores na conduta humana. Quando se identifica com os heróis e
heroínas do mundo do maravilhoso, a criança inconscientemente é levada a resolver sua
própria situação- superando o medo que muitas vezes a inibe e ajudando-a a enfrentar os
perigos e ameaças que sente a sua volta. Nesse sentido a Literatura Infantil e,
principalmente, os contos de fadas podem ser decisivos para a formação da criança em
relação a si mesma e ao mundo à sua volta.
Segundo COELHO (2000)
“A literatura infantil ocupa um lugar específico no âmbito do gênero
ficção, visto que ela se destina a um leitor especial, a seres em
formação, a seres que estão passando pelo processo de aprendizagem
inicial da vida. Daí o caráter pedagógico (conscientizador) que, de
maneira latente ou patente, é inerente a sua matéria. E também, ou
acima de tudo, a necessidade de ênfase em seu caráter lúdico... Aquilo
que não divertir emocionar ou interessar ao pequeno leitor, não poderá
também transmitir-lhe nenhuma experiência duradoura ou fecunda.”
Por serem histórias simples e autenticas é que atraem e encantam as crianças. As
histórias vão se tornando “pedagógicas”, pois os ouvintes estão passando pelo processo
de aprendizagem. Como são seres em formação, o que lhes chamar a atenção, o que lhes
provocar dúvida, rejeição, com certeza irá determinar certo tipo de aprendizado. Sem
contar que estarão estabelecendo sua identidade a cada novo conto, seja ele
maravilhoso, de fadas, uma fábula ou lenda.
A estrutura dos contos de fadas e dos contos maravilhosos é muito simples, o
que talvez colabore para o seu sucesso junto às crianças. O conto inicia com uma
condição de equilíbrio, que é alterada pelo aparecimento de carência ou conflito por
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parte do herói. A seguir, são apresentadas as aventuras vividas pelo personagem, que,
com a ajuda dos seres ou objetos mágicos, vence os desafios e surge vitoriosa no final.
Voltando a situação de harmonia inicial.
Nelly Novaes Coelho estabelece diferença entre conto de fadas e conto
maravilhosos. De acordo com Nelly, essa distinção evidencia-se, na narrativa, por meio
da carência manifestada pelo personagem principal. Nos contos maravilhosos, como “O
Gato de Botas”, “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa”, a carência das personagens
relaciona-se com uma dificuldade social e econômica. Portanto, contos maravilhosos,
são todas as narrativas, sem fadas, com o maravilhoso representado por animais
falantes, objetos mágicos, gênios, duendes, gigantes, anões, etc. Já os contos de fadas,
como “A Bela Adormecida”, “Rapunzel”, “Branca de Neve” e “Cinderela” são histórias
que o elemento do maravilhoso é representado por reis, rainhas, fadas, príncipes,
bruxas, gênios, gigantes, objetos mágicos e metamorfose.
A tradição oral deve ter nascido no momento em que as pessoas passaram a ter
necessidade de comunicarem aos outros suas lendas, experiências e tradições. Inicia-se
neste momento a íntima relação entre literatura e oralidade.
A lenda mostra o espanto do homem primitivo e o seu medo diante do mundo.
Nessas narrativas são envolvidos agentes e fenômenos da natureza, possuem um caráter
breve, transmitidas de forma oral, onde o maravilhoso e o imaginário superam o
histórico e o verdadeiro. Conservam-se as características do anonimato, da persistência,
antiguidade e oralidade.
O apólogo é uma narrativa breve, de uma situação vivida por seres inanimados,
já a parábola também de narrativa breve de situações vividas por seres humanos, uma
das fontes mais ricas, pode ser encontrada na Bíblia. A alegoria é uma narrativa escrita
em prosa ou em verso, possuindo um sentido figurado, com a presença de tipos
sobrenaturais, lendários e mitológicos. Encontramos no mito, narrativas muito antigas
que falam sobre os deuses, heróis, duendes, sobre a criação do homem e do mundo, e
também explicações mágicas a cerca das forças da natureza.
COELHO (2000) enfatiza que:
“... o mito e a história caminham juntos e, em última análise, um
explica o outro: o mito (construído pela imaginação, pela intuição do
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homem) responde pela zona escura enigmática do mundo e da
condição humana, zona inabarcável pela inteligência; a história
(construída pela razão) responde pela parte clara, apreensível e
mensurável pelo pensamento lógico.”
A partir do século XIX, outra coleta de contos populares acontece na
Alemanha, com os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, que retomam a temática da fantasia
e do popular, publicando Contos de Fadas para Crianças e Adultos.
Logo após 20 anos, o dinamarquês Hans Christian Andersen publica cerca de
duzentos contos infantis sob o título geral de Eventyr (Contos). Com seu estilo
sentimental e afetuoso foi considerado o grande criador da literatura infantil romântica.
Com ele, os contos assumem uma dimensão calcada no real, que denunciavam as
misérias e tocava na sensibilidade de seus leitores. Assim é O Patinho Feio, que, após
ser rejeitado pela família, cresce e se torna um belo cisne.
A literatura infantil brasileira despontou apenas no final do século 19, com obras
precárias e irregulares. Era representada por edições portuguesas, que aos poucos se
fundiram com as tentativas pioneiras e esporádicas de traduções nacionais.
No entanto, Carl Jansen (1829-1889) traduziu e adaptou clássicos como, as As
Mil e uma Noites, Dom Quixote, Robson Crusoé, entre outros. Um dos primeiros
autores que se preocupou em escrever diretamente para as crianças foi Alberto
Figueiredo Pinheiro (1867-1914), onde tinha como objetivo despertar nas crianças
sentimentos do bem, da religião e da caridade, publicando Contos da Carochinha,
Histórias da Dona Baratinha e da Avozinha.
Mas foi Monteiro Lobato que fortaleceu, revolucionou e renovou os alicerces
literários para as crianças. O “Era uma vez” da nossa literatura infantil inaugura-se,
então, no Sítio do Pica Pau Amarelo, onde pode ser considerada uma universidade da
leitura, pois todos os personagens atuam tanto como contadores de histórias quanto
como leitores-críticos-criativos das histórias contadas.
Registrando as peculiaridades locais, identificando-se com o seu meio através da
sensibilidade e da inteligência, em suas obras Monteiro Lobato, estimula o leitor a ver a
realidade através de conceitos próprios.
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Porém, o boom da literatura infantil brasileira ocorreu na década de 1970, pois o
mercado editorial se consolidou e houve uma crescente dependência do livro para a
escola, aumentando consideravelmente o número de autores, que criavam e produziam
para as crianças. Como Ana Maria Machado, Sylvia Orthof, Marina Colasanti, Lygia
Bojunga Nunes, Ruth Rocha, Roseana Murray, Ziraldo, Pedro Bloch.
A partir desse contexto a literatura permeou por contos, fábulas e até poesias.
De acordo com COELHO (2000):
“O caminho para a redescoberta da literatura infantil, no século XX,
foi aberto pela psicologia experimental, que, revelando a inteligência
como o elemento estruturador do universo que cada indivíduo
constrói dentro de si, chama a atenção para os diferentes estágios de
seu desenvolvimento (da infância à adolescência) e sua importância
fundamental para a evolução e formação da personalidade do futuro
adulto.” (pág. 30)
É de fundamental importância que as crianças tenham contato com a literatura,
pois é possível ampliar, enriquecer e transformar sua própria experiência de vida.
Mas de que forma? Somente ouvindo as histórias?
O caminho se inicia quando se ouvem as histórias. Pois ouvir histórias estimula
o pensar, o desenhar, o escrever, o criar, o recriar. E no mundo atual, cheio de
tecnologias e de informações diárias praticamente prontas, é necessário que se
desenvolvam cidadãos criativos, capazes de pensar e repensar.
A literatura infantil deve ser utilizada como fonte de prazer, mas também como
instrumento para a sensibilização da consciência, para expandir a capacidade e o
interesse de analisar o mundo em que vivem.
A literatura infantil aparece nesse contexto, como uma valiosa ferramenta que
pode ser utilizada pela escola na construção do aluno leitor.
De acordo com MIGUEZ (2012)
“Sabemos que a criança lê o mundo a partir dos sentidos e que, nesse
aspecto, identifica-se com o poeta no exercício dessa sensibilidade. A
arte, de forma geral, alimenta essa tendência inata do ser contribuindo
para o desenvolvimento equilibrado das emoções humanas. O
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professor deve, portanto, promover a leitura visando à presença desse
estímulo criativo na formação do verdadeiro leitor. Para isso, é
conveniente abolir as praticas leitoras utilitárias que tratam o texto
literário de forma objetiva, mecânica. Ao democratizar essa via
artística de conhecimento, o professor viabiliza uma pluralidade de
rumos literários na travessia da leitura reveladora. Ler é navegar “por
mares nunca dantes navegados”, descobrindo caminhos poéticos de
salvação. O leitor, viajante no mar da imaginação, é o eterno
navegante em busca de terras prometidas, de tesouros escondidos, de
gigantes adormecidos.”
Acreditamos que a escola tem como uma de suas funções primordiais a
formação do indivíduo leitor, pois ela ocupa o espaço privilegiado de acesso a leitura, é
indispensável que a escola crie possibilidades que oportunizem o desenvolvimento do
desejo pela leitura por intermédio de textos significativos para os alunos.
A literatura vem solidificar o espaço da leitura na escola enquanto formação de
leitores, sendo assim, torna-se importante que o educador não dê a todos os gêneros
textuais um caráter prático, porque o prazer de ler está ligado ao prazer de criar novas
situações e a adentrar num mundo diferente, através das histórias infantis. É possível
entrar um mundo de sonhos, desmitificando preconceitos, fazendo relação com fatos da
própria vida, e podendo tornar as relações com os pares melhor.
A literatura nos dá oportunidade de entrar em contato com diferentes emoções e
visões de mundo, proporciona condições para o crescimento interior, é possível que se
crie parâmetros para melhorarmos nossas ações e trabalharmos melhores com os nossos
sentimentos.
Com as obras infantis é possível investir na relação entre a interpretação do texto
literário e a realidade. Não devemos infantilizar as crianças, devemos criar cidadãos
capazes de interferir na organização de uma sociedade mais consciente e democrática, e
isso só possível, ao cidadão que lê.
Para COELHO (2000):
“A verdadeira evolução de um povo se faz ao nível da mente, ao nível
da consciência de mundo que cada um vai assimilando desde a
infância. Ou ainda não descobriram que o caminho essencial para se
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chegar a esse nível é a palavra. Ou melhor, é a literatura- verdadeiro
microcosmo da vida real, transfigurada em arte.”
Encontramos nos contos de fadas um estímulo encorajador na luta da vida,
através das experiências humanas encontradas nos contos maravilhosos, parábolas,
lendas e mitos, o leitor vai vivenciando de maneira inconsciente, enriquecendo assim
seu mundo interior. Nas transformações encontradas em alguns contos (a do patinho em
Cisne, do Sapo ou Fera em Príncipe, entre outros), podemos localizar também
transformações pelos quais todo ser humano precisa passar (da infância a maturidade),
para ir à busca de seu ideal de vida.
Há um perfeito ele entre os contos de fadas e a vida humana, quando a
entendemos como um uma caminhada, um percurso, uma viagem em busca da auto-
realização. É comum nesse “percurso” surgirem obstáculos (inimigos, maldades,
bruxas, madrastas...), mas também algum tipo de ajuda (amigos, fadas, anões...), e o
final é sempre feliz: a realização do ideal.
Assim como os contos de fadas, nossa vida humana também é marcada por um
ideal a ser alcançado, começando por um projeto de vida (ou vários projetos
sucessivos), onde nos lançamos a “caminhada” para realizá-lo, é comum encontramos
muitas vezes os inevitáveis “obstáculos” que precisam ser superados com esforço, e
paciência (com auxílio de amigos, parentes ou outro meio) e no final concretizamos tal
objetivo.
As crianças ao ouvirem (ou lerem) tais contos, mesmo sem o saber, estão
formando as leituras de mundo que as ajudarão nos caminhos a serem trilhados na vida.
Ao participar de tais aventuras, estarão recebendo grandes lições de sabedoria e de vida.
Pois os contos de fadas têm como base a vida real, e que a literatura infantil não é
infantil ou pueril, como o senso comum a considera. Sendo um excelente meio de
educação a ser explorado.
Em cada uma dessas histórias maravilhosas, há uma verdade vital. Cabe a nós
educadores, sabermos explorar e interpretar da melhor maneira possível.
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CAPÍTULO II
DANDO ASAS A IMAGINAÇÃO
Neste segundo capítulo será abordada a temática do professor que está envolvido
com a literatura infantil na sala de aula, que procura e deve se aprimorar constantemente
para que sua prática se torne cada dia, mais dinâmica. Como este professor que pouco
lê, e às vezes mal escreve pode estimular seus alunos em sala de aula. De que formação
necessária este educador precisa, para que possa desenvolver no seu educando
habilidades e potencialidades, para que venha a se tornar um bom leitor. E que esse
espaço privilegiado que é a escola, o aluno encontre de fato, bases para a sua formação,
com acesso ao mundo da cultura, com trocas culturais. Onde o professor consiga
construir um espaço libertário e orientador.
Mas quem propõe a fantasia?
Ana Arlinda de Oliveira, em seu artigo O professor como mediador das leituras
literárias, diz que: Na escola, quem propõe a fantasia, quem estimula a imaginação da
criança, é o professor, quando faz boas mediações oferecendo textos literários com
qualidade.
E esse professor precisa estar bem preparado, precisa estar em contato com as
obras diariamente, é necessário que as leia com atenção e anteriormente, como um leitor
comum. A autora Ana Arlinda de Oliveira salienta que:
Somente após ter lido a obra e sentido o que ela pode oferecer é que o professor poderá planejar sua atuação no momento da atividade de leitura. Se ele próprio não se entusiasmar com a obra, deve ir em
busca de outra. Uma obra que não emocione deve ser descartada.
O professor deve procurar obras com temas enriquecedores, deixando-as ao
alcance dos alunos, para que façam diferentes interpretações. São de suma importância
as primeiras experiências da criança com a leitura de textos literários, por apresentarem
duas dimensões primordiais: a da sensibilidade para o estético e a do conhecimento
como afirma OLIVEIRA (2010).
Como é do nosso conhecimento ler e contar histórias são duas coisas bem
diferentes. . Todavia, para ler ou contar uma história aos seus alunos, o professor tem
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que ser capaz de seduzi-los, de convencê-los a ouvi-las. Assim, serão capazes de receber
todo e qualquer tipo de informação, buscando em alguns momentos criticá-las ou
questioná-las, serão capazes também de ler as entrelinhas de qualquer texto. Logo,
professor leitor formará aluno leitor. Sem a oferta de leituras variadas, sem contato com
bons livros e sem oportunidades para praticar a escrita, não há como se fornecer para as
crianças que se tornem bons leitores e, por conseguinte bons na escrita também.
Existem duas estratégias muito eficazes que o professor pode utilizar em suas
mediações, a dramatização e as rodas de leitura, pois é capaz de brotar a sensibilidade
dos pequenos leitores. Outra forma de provocar curiosidade e encantamento no
momento de se ouvir histórias, é através da dramatização. A dramatização propicia a
exibição de um tema que os impactou, pois ao ser vivido imaginariamente no ato de ler
ou ouvir, nos provoca inúmeras sensações.
Outro instrumento mediador importante para a formação do leitor infantil são as
rodas de leitura, que podem ser utilizadas com crianças que já sabem ler. Isso causa
muito incentivo e encantamento, pois possuem uma participação mais ativa.
No momento de se contar histórias, deve-se evitar os estereótipos das palavras e
dos gestos, e também a tão famosa lição de moral. Deve-se deixar que a criança se
deleite não presa ao tempo cronológico, e sim a tempo afetivo. Pois neste momento o
professor há de comover, emocionar e promover a sensibilidade.
De acordo com OLIVEIRA (2010)
Uma história tem que durar o tempo da liberdade do leitor e do ouvinte para que ele possa ser o co-autor da história narrada, percebendo a experiência viva e criando na imaginação o que for sugerido pelo narrador.
O professor deve criar momentos apropriados e aconchegantes para se contar as
histórias, valorizando o valor intelectual que cada obra possui, neste momento não é
apropriado propor conhecimentos utilitários, se serve ou não para tal coisa.
Ao ler um conto para as crianças, o professor estará dando-lhes condições de se
tornarem adultos mais seguros dos seus sentimentos, enriquecendo cada vez mais o
imaginário infantil.
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Outro recurso de muito valor que pode ser usado em sala de aula é a utilização
de fantoches, que materializa os personagens. Além de se divertirem as crianças tem a
possibilidade de vivenciar o texto literário.
As histórias devem ser contadas por e com prazer, todo o corpo precisa
participar deste momento mágico, a voz precisa receber diferentes entonações, é preciso
que se olhe nos olhos das crianças. Dessa forma estaremos contribuindo efetivamente,
para o entendimento e motivação da obra literária pela criança.
Mas como o professor que pouco lê e mal escreve pode estimular seus alunos?
É preciso que se análise alguns fatores como: a história de leitura e a
qualificação profissional, ou até a formação acadêmica que estes professores tiveram.
O fato de alguns professores não se interessarem por ler ou contar histórias para
seus alunos, pode demonstrar que o seu contato com as histórias infantis na infância foi
preconizado. No entanto, no momento de qualificação docente, também não foi possível
recuperar esse elo perdido na infância.
Nesse sentido, como mediador da leitura, fica difícil para o professor usar
estratégias para provocar o contato das crianças com obras literárias, visando sua
formação e desenvolvimento como leitoras proficientes.
Por este motivo OLIVEIRA afirma que:
É necessário repensar a formação inicial e continuada, de modo que o processo de formação docente seja construído e reconstruído em favor de uma nova postura pedagógica, que inclua, com consistência, a leitura do texto literário nas diversas modalidades do ensino.
É da competência de um professor engajado e compromissado que promova uma
auto-formação e uma interlocução com seus pares, ampliando assim as possibilidades
literárias para si e para seus alunos.
Como agente de cultura, o professor se torna mediador entre os objetos, nesse
caso o livro, e eventos culturais que devem estar ao seu alcance, para que o professor
possa dar condições de, pelo menos, conhecer e dar a conhecer as crianças aspectos da
cultura, como afirma OLIVEIRA (2010).
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O livro é capaz de promover à socialização, a informação, a formação
de opinião e o desenvolvimento da capacidade criadora e inventiva
sobre temáticas dos mais variados contextos.
Ser mediador da leitura é conseguir compartilhar com a criança. E a criança
compartilha e aprende com a interação social. O professor é o elo ao mundo da fantasia,
e isso pode ser usada para motivar posteriormente as atividades de leitura. Quando o
professor é capaz de comunicar o entusiasmo no momento da leitura, a criança
permanece curiosa e seduzida pelas narrativas, pois o que prende sua atenção é o mundo
imaginário, as figuras e todo encantamento presentes naquele momento.
No momento em que a criança entra em contato com as histórias, sua cultura e
realidade se fundem e ela é capaz de ver a partir de seu ponto de vista, trocando
impressões sobre ela, adquirindo posições e personagens, e assim cria novas situações e
nesse desenrolar descobre a história original.
É imprescindível que o educador seja um usuário assíduo da leitura, precisa ler,
antes de tudo precisa: conhecer, selecionar e indicar livros para a criança. Isso é ser um
mediador da leitura. É de sua responsabilidade, a interação da criança com o livro.
O professor deve ter muito cuidado nas escolhas das histórias, pois não podem
conter textos preconceituosos, com desrespeito as etnias, aos gêneros humanos, aos
analfabetos, ao meio ambiente, aos diferentes grupos sociais e toda e qualquer
diferença.
O aluno, sujeito que está em fase de formação, com valores éticos e morais
sendo construídos, precisa ser encarado com um olhar sensível, e depende desse
mediador, contribuir para o desenvolvimento de sua capacidade de ler o mundo e refletir
sobre ele. As histórias lidas ou ouvidas desenvolvem a capacidade de discernir, e isso é
muito importante para a formação de sua personalidade.
De acordo com MIGUEZ (2012, pág. 28)
“A presença do imaginário como uma forma de leitura do mundo é,
assim, uma experiência literária reveladora na construção da leitura.
Todo livro de qualidade trabalha com a imaginação do leitor, suscita a
fantasia. O texto literário criativo/criador favorece a liberação do
imaginário, estimulando a participação do leitor na história, no
22
exercício lúdico de ler o mundo. Inventar uma história entrando no
reino do faz de conta é usufruir de uma das possibilidades de
conhecimento do mundo. É seguindo pelo território da invenção, da
curiosidade e, principalmente, da fantasia que o ser humano caminha
na paisagem mágica do seu próprio mistério. [...] Mas, sem dúvida, a
plenitude do pensamento mágico se revela na quadra da infância, pois
é pela ótica do sentir que a criança vê/lê o mundo.”
É no mundo do faz de conta de conta, que inúmeras crianças têm o seu primeiro
contato com o mundo, a partir de um bom livro de histórias, seja ela, uma poesia, um
conto maravilhoso, um conto de fadas, entre outros. Contudo, é necessário que o
professor lhe ofereça doses diárias de uma boa história. Mas para isso é importante
também que o professor observe a idade cronológica da criança e, sobretudo o estágio
de desenvolvimento de leitura em que ela se encontra.
Segundo COELHO (2000)
“... a inclusão do leitor em determinada “categoria” depende não
apenas de sua faixa etária, mas principalmente da inter-relação entre
sua idade cronológica, nível de amadurecimento biopsiquico-afetivo-
intelectual e grau ou nível de conhecimento/ domínio do mecanismo
da leitura. Daí que as condições de livros para determinadas “faixas
etárias” sejam sempre aproximativas.”
De acordo com COELHO (2000) existem cinco categorias que norteiam as fases
do desenvolvimento psicológico da criança: o pré-leitor, o leitor iniciante, o leitor em
processo, o leitor fluente e o leitor crítico.
A categoria inicial chamada Pré-leitor abrange duas fases: a Primeira infância
(dos 15/17 meses aos três anos) e a Segunda Infância (a partir dos 2/3 anos).
Pré-leitor: Primeira Infância (dos 15/17 meses aos três anos)- Sua interação
acontece a partir do contato afetivo e pelo tato. Nesta fase inicia-se a conquista da
própria linguagem e a nomeação da realidade a sua volta. É essencial nesta fase a
atuação do adulto, nomeando e manipulando os brinquedos, que podem ser gravuras de
animais, objetos familiares a criança, chocalhos, bichinhos de pelúcia, entre outros.
23
Segunda Infância (a partir dos 2/3 anos)- Nesta fase se dá o acesso da
indiferenciação psíquica para a percepção do próprio ser. Inicio da fase egocêntrica e
dos interesses ludo práticos. A brincadeira com o livro será muito importante e
significativa, assim como a presença do adulto nesta brincadeira. Por meio das
atividades lúdicas, se dá também a descoberta do mundo concreto e do mundo da
linguagem. Através da nomeação das coisas, é possível levar a criança a um convívio
inteligente, afetivo e profundo com a realidade que a rodeia.
Livros com imagens que já sugiram uma situação, desenhos ou pinturas nítidas,
técnica de colagem, da repetição, e com textos com graça e humor, são ótimos para
manter a atenção e o interesse desse leitor.
O leitor-iniciante (a partir dos 6/7anos)- Fase em que o processo de socialização
e de racionalização se inicia. A presença do adulto, como “agente estimulador” é
importante, principalmente na decodificação dos sinais gráficos, pois se encontra na
fase da aprendizagem da leitura. Algumas características são essenciais para os livros
dessa faixa etária: A imagem ainda irá predominar sobre o texto, com narrativas
simples, lineares e que tenham principio, meio e fim. Os traços de caráter dos
personagens sejam eles, reais ou simbólicas devem estar bem nítidos. De acordo com
Coelho (2012), nessa fase “os argumentos devem estimular a imaginação, a inteligência,
a afetividade, as emoções, o pensar, o querer, o sentir.”
O leitor-em-processo (a partir dos 8/9 anos)- Neste período a criança já domina o
mecanismo da leitura. Interessa-se pelo conhecimento das coisas, e é atraídas pelos
desafios. O estímulo a leitura ainda deve ser feito pelo adulto, assim como provocador
de atividades pós-leitura. De acordo com Coelho (2012) a narrativa deve girar em torno
de um conflito bem definido a ser resolvido até o final. O humor, a graça e as situações
inesperadas agradam a esse público. O imaginário e o realismo exercem grande fascínio.
O leitor- fluente (a partir dos 10/11 anos)- Fase da pré-adolescência. Momento
onde, os mecanismos da leitura e da compreensão do mundo se consolidam. Suas
leituras já são baseadas na reflexão, a capacidade de concentração aumenta nesta fase.
De acordo com Coelho (2012) a partir dessa fase, desenvolve-se o pensamento
hipotético dedutivo, o leitor é atraído pelo confronto de ideias e ideais. As imagens já
não são indispensáveis, Desafios a inteligência, emotividade e idealismo se tornam
presentes neste tipo de narrativa, onde os personagens mais atraentes são “heróis”, ou
24
“heroínas”. Os contos, as crônicas e as novelas são os gêneros narrativos que mais
interessam.
O leitor crítico (a partir dos 12/13 anos)- Nesta fase o leitor se encontra com
total domínio da leitura e da escrita, neste período o pensamento se torna reflexivo e
crítico. Para Coelho (2012), o convívio do leitor crítico com o texto literário deve
extrapolar a mera fruição de prazer ou emoção e deve provocá-lo para penetrar no
mecanismo da leitura. Faz-se necessário, nesta etapa o conhecimento de ferramentas
básicas da teoria literária, pois a literatura é a arte da linguagem e como qualquer arte
exige uma iniciação.
Além de respeitar esses estágios, é imprescindível que o professor não torne a
leitura objeto de avaliação, é vital que se construa uma relação lúdica e prazerosa da
obra literária com a criança. Nesse momento o professor mediado, deverá realizar
leituras de variados gêneros, ou proporcionar acessos aos livros (para os que já possuem
domínio da leitura) para que a criança seja capaz de vivenciar experiências positivas,
entrando em contato com outras realidades e culturas.
As situações de interação, contato e manuseio de materiais escritos são
importantes para a evolução da leitura e da escrita. Os livros de literatura infantil devem
deixar as estantes, e serem manuseados, folheados e devem enriquecer o imaginário das
crianças. O interesse e prazer encontrados na fase do pré-leitor devem ser estimulados
por todas as fases, mas para isso é importante que o professor também se entregue a
literatura infantil.
Nesse sentido, “a literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte:
fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem a vida, através da palavra.
Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua
possível/impossível realização...” (COELHO, 2000, p.27)
Ana Arlinda de Oliveira (2010) descreve de forma poética:
“O professor é um leitor, mas, antes precisa ser um leitor literário.
Não que seja obrigado, mas para seu próprio enriquecimento como
pessoa. Viver o livro literário infantil não é desmerecer seu trabalho
com o ensino, mas ampliar as linguagens que são importantes para dar
vivacidade à prática pedagógica e para a compreensão do mundo e as
múltiplas linguagens que o explicam. Quem se entrega ao livro
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literário infantil sai da leitura, mais enriquecido interiormente, pois ela
não foi feita somente para a fruição das crianças, mas, neste mundo
caótico, para alimentar nossos sentimentos, fazendo-nos mais felizes.
Todo adulto, e de modo especial o professor, deveria ler livros
literários indicados às crianças, para rever aquilo que foi ou poderia
ter sido sua infância na companhia deles.”
O professor deve estar aberto também para o mundo do imaginário, precisa
fornecer aos seus alunos, cada vez mais propostas que explorem a magia, a imaginação,
a criatividade de seus alunos. E isso só é possível através de muita pesquisa, de contato
diário com as literaturas, com sede do novo, não que os clássicos não sejam
importantes.
Ser um professor mediador é fornecer sempre doses de humor, de interação com
o outro e com o meio em que vivem. Através da literatura infantil as crianças serão
capazes de viver experiências que enriquecem seu conhecimento real, seu conhecimento
também será fruto de um intenso trabalho de criação, significação e ressignificação. Isso
se torna possível através do contato com as narrativas infantis. Seja um conto de fadas,
um conto maravilhoso, uma poesia, uma novela, entre outros.
Ser um professor mediador é ser um elo entre o real e o mundo da fantasia. A
literatura contribui em vários aspectos para o desenvolvimento do aluno, pois a
afetividade será estabelecida com esse professor, a compreensão sobre outros pontos de
vistas serão criadas, os alunos podem trocar impressões a cerca das histórias ouvidas e /
ou lidas, assumindo posições e personagens e a inteligência será assim estimulada.
26
CAPÍTULO III
LITERATURA-BASE PARA A CONSTRUÇÃO DE SI MESMO
No terceiro e último capítulo será abordado temáticas em torno desse leitor, o que é um leitor ideal e que potencialidades são possíveis de se desenvolver com a criança através dos gêneros infantis.
Segundo Cadermatori (2010)
as obras infantis que respeitam seu público são aquelas cujos textos têm potencial para permitir ao leitor infantil possibilidade ampla de atribuição de sentidos aquilo que lê. A literatura infantil digna do nome estimula a criança a viver uma aventura com a linguagem e seus efeitos, em lugar de deixá-la cercada pelas intenções do autor.
Como avaliar um livro como sendo literário? Pode-se iniciar a avaliação fazendo
a seguinte pergunta: esse livro permite que a criança perceba a força criativa da palavra
ou da imagem? Ou não há nele nenhuma novidade, nada que atraia e prenda a atenção
no arranjo dos signos, no modo como foi composto?Alguma forma de surpresa,
alteração, renovação do olhar um livro deve trazer.
A obra apresenta alguma particularidade ou só reproduz chavões narrativos ou
poéticos?
A surpresa com as relações, que um bom livro de literatura é capaz de tecer,
estimula que sejam estabelecidas novas conexões entre fenômenos diversos.
Inicialmente o livro é só um brinquedo. Através da presença de adultos, no
momento em que a criança tem relacionamento com ele, é que a levará a descobrir o seu
verdadeiro sentido e suas múltiplas possibilidades
Contar histórias costuma ser uma prática diária nas instituições de
educação, acredita-se que essa prática, destacando-se os contos, favorece o processo de
aprendizagem. Através das histórias, dos contos em geral, a criança pode estabelecer
relações com a sua forma de pensar e o modo de interagir com o grupo social a qual
pertence.
Ao ouvir histórias as crianças podem ampliar gradativamente as possibilidades
de comunicação e expressão da criança, melhorando sua oralidade, não sendo apenas
um divertimento.
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Narrar histórias pode despertar na criança o gosto pela leitura que, por
conseguinte, irá desenvolver, entre outras coisas, a sua capacidade de imaginar e
fantasiar, fazendo com que ela imagine e conheça lugares, situações, personagens, etc,
permitindo-lhe “sair” do mundo em que vive através do mundo da literatura.
Através da prática de ouvir e contar histórias surge a nossa relação com a
literatura. Se definirmos no nosso dia-a-dia com estes momentos, estaremos
contribuindo para formar crianças que gostem de ler e vejam na leitura uma fonte de
prazer e divertimento.
Porém o gosto pela leitura deve se iniciar no seio familiar, juntamente, com seus
pais e responsáveis deve se estrear esse maravilhoso caminho pelo mundo da literatura.
De acordo com MIGUEZ:
A família é essencial na construção e perseverança desse leitor, fruto
de uma iniciação. Quanto mais experiências com livros a criança tiver,
maior será seu repertório de leituras. A leitura compartilhada e
comentada desenvolve a habilidade leitora, permitindo uma troca de
aprendizagens de natureza afetiva. “O convívio familiar, num clima de
envolvimento constante com os livros, desperta a curiosidade da
criança, abrindo-lhes oportunidades de ouvir e presenciar leituras
alheias.”
Para desenvolver o interesse pelas histórias, em geral, lidas para elas, é
importante que a produção literária tenha dois signos em dialógica interação: a palavra e
a imagem. Esses instrumentos, numa total parceria artística, devem ampliar o espaço
poético de experimentação do ser leitor. Este diálogo entre a palavra e a imagem no
livro infantil inicialmente aumentam o apelo comunicativo da obra, incitando a
participação crítica do leitor no despertar das suas fantasias, dos seus sentimentos, das
suas opiniões.
O importante também na hora da escolha não é se a obra é consagrada ou não,
mas se ela contribui para fazer com que a criança enfrente seus medos, vença suas
angústias, desenvolva sua imaginação, conheça outros mundos, permitindo que ela
tenha acesso à herança cultural da humanidade. Para tanto, é necessário que o professor
não veja a literatura infantil de forma deturpada. A literatura infantil deve servir para
28
estimular o imaginário da criança de forma saudável, lúdica, ensinando-lhe a libertar-se
pelo espírito, e para isso é preciso compreender sua estrutura, sua natureza.
Quando o professor mediador estiver contando uma história para, crianças
pequenas, que não sabem ler, ou lêem pouco, deve ficar atento ao tipo de leitura que
estará trabalhando, pois, somente o desenho das palavras é desagradável, exatamente
porque não significa nada para elas. Um livro sem ilustrações nada lhes diz.
Neste momento o professor mediador deve mostrar diversos livros, para este
leitor iniciante, de variados tamanhos e texturas. Possuindo gravuras, com alto valor
estético, não o bastante para agradar a criança e sim ser bem sugestiva, dando a elas a
oportunidade de recriar, imaginar, fantasiar, ir além do próprio desenho.
Conforme a criança vai crescendo e tornando-se falante pleno da língua
portuguesa, as ilustrações do texto vão-se reduzindo levando-as a se interessar mais pela
escrita, cuja letra também diminui até o formato e o tamanho normais, o mesmo
acontecendo com o próprio livro. Neste momento, as ilustrações devem apresentar a
realidade vivenciada pelo leitor infantil. A criança passa, a uma autonomia de atividade,
mediante o conhecimento progressivo do ambiente. Nesse começo de atitude referencial
e na formação da inteligência, busca resposta na imagem. Por isso, os objetos e as
ilustrações devem refletir o vivido
Nos momentos onde se ouve uma história, ou quando a criança está lendo um
gênero literário, é possível que cada uma encontre o seu jeito de imaginar. No entanto, a
imaginação só se desenvolve a partir do conhecimento que já possuem. Quanto mais
elementos concretos o professor, a escola e o meio oferecerem para a criança, mais rica
se tornarão sua imaginação.
Porém, o livro só será interessante e desafiador se, de algum modo, puder
atender a essa forma de compreender o mundo de seu leitor. MIGUEZ (2012) diz que:
O livro de literatura é, portanto, um objeto de arte com características
particulares oriundas de sua natureza criadora. Enquanto arte da
palavra, o texto literário semeia diversos sentidos na busca de um
cultivo plural de leituras. Cabe a cada leitor a cultura desse solo
criativo de descampado feitio. O ato de ler atualiza esse processo
revelador da arte da palavra, desenvolvendo a expressão do sujeito
leitor numa dimensão crítico-reflexivo. É dentro dessa perspectiva,
29
então, que a prática leitora do livro infantil deve se manifestar no
convívio da sala de aula. O professor é o interprete dessa fala
reveladora da literatura ao desvelar e provocar, no leitor, os múltiplos
caminhos da leitura.
O professor mediador precisa ser capaz de provocar no leitor os múltiplos
caminhos da leitura. Mas de que forma se é capaz de fazer isso?
Primeiramente o professor precisa ser um bom contador de histórias,
compartilhando suas emoções, juntamente com os personagens. Precisa ter uma relação
com a literatura, precisa gostar de ler procurando fazê-lo com alegria, entusiasmo,
costurando cada leitura como retalho colorido, significativo.
Cabe ao professor dar condições para que a imaginação da criança se
desenvolva, não a inibindo em suas descobertas, mas levando-a a questioná-las de forma
que ela possa por si mesma, verificar suas contradições e refazer seus conceitos. O
professor deve estimular as crianças com perguntas e comparações, sendo assim, a
criança, será capaz de refletir e a usar sua imaginação com mais liberdade.
De acordo com BETTELHEIN (2002)
Para que uma estória realmente prenda a atenção da criança, deve
entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida,
deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto
e a tornar claras suas emoções; estar harmonizada com suas
ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e,
ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a perturbam.
Quando o professor amplia o repertório de histórias para as crianças, está
fazendo com que se amplie também todo o seu potencial crítico. A criança pode,
perguntar, duvidar, pensar e até mesmo questionar-se. E o mais importante, vai querer
saber mais e em certo momento pode querer mudar de opinião. Conforme vai ouvindo e
lendo as histórias, já é capaz de começar a formar a sua opinião com relação às mesmas,
se gostou, se se identificou, se não lhe interessou, entre outros conceitos.
Da mesma forma, suas ansiedades, aspirações e emoções vão sendo
gradativamente reconhecidas e solucionadas.
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Contudo, é importante que a criança através das histórias, imagine os
lugares e os personagens de modo que perceba uma atitude positiva em torno do livro e
da leitura. É importante também projetar uma criança ativa, curiosa, para que vá
construindo sua imagem do mundo em interação com a realidade, fazendo com que a
mesma descubra no livro que não só a imagem, mas também as palavras escritas
constituem uma fonte de informações.
Segundo BETTELHEIN (2002)
Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece sobre si
mesma, e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece
significado em tantos níveis diferentes, e enriquece a existência da
criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à
multidão e diversidade de contribuições que esses contos dão à vida
da criança
Nos momentos em que estão ouvindo as histórias, o conto de fadas vai aos
poucos esclarecendo sobre cada criança, e com isso as mesmas são capazes de irem
desenvolvendo traços de sua personalidade.
Como dissemos anteriormente, o primeiro contato com o livro, é muito
importante. Este deve desencadear experiências de prazer e saber nas crianças. Variadas
e inúmeras são as histórias que podem ser contadas às crianças, seja ela, curta, antiga,
longa ou dos dias atuais. A leitura de história é um momento em que ela pode conhecer
a forma de viver, pensar, agir e o universo de valores, costumes e comportamentos de
outras culturas localizadas em outros tempos e lugares que não o seu. A partir daí, ela
pode também estabelecer relações com a sua forma de pensar e o modo de ser do grupo
social ao qual pertence.
No espaço escolar, é importante que se resgate o repertório de histórias que as
crianças ouvem, seja em casa, ou nos ambientes que freqüentam, pois essas histórias são
uma rica fonte de informação sobre as diversas formas culturais de lidar com as
questões éticas e com as emoções, podendo contribuir de forma efetiva para construção
da sensibilidade das crianças.
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Quando as crianças tem acesso à boa literatura, passam a possuir de uma de uma
informação cultural que alimenta a fantasia, imaginação e desperta o prazer pela leitura.
A criança que está em contato com várias histórias, e às vezes gosta de escutar a
mesma várias vezes, simplesmente pelo prazer de reconhecê-la, de aprendê-la em seus
detalhes, de cobrar a mesma sequência e até mesmo antecipar as mesmas emoções que
teve da primeira vez que foi lida, são as que irão mais tarde construir um saber sobre
diversas formas de linguagem, seja escrita, corporal, gestual, verbal, musical e plástica.
Através das histórias as crianças também podem sentir emoções importantes,
como a raiva, a tristeza, o medo, o bem estar, a alegria e tantas outras mais e viver
intensamente tudo o que as narrativas provocam a quem as ouve, com toda a amplitude,
significância e verdade que cada uma dela faz ou não brotar.
“Tais temas são vivenciados como maravilhas porque a criança se
sente entendida e apreciada bem no fundo de seus sentimentos,
esperanças e ansiedades, sem que tudo isso tenha que ser puxado e
investigado sob a luz austera de uma racionalidade que ainda está
aquém dela. Os contos de fadas enriquecem a vida da criança e dão-
lhe uma dimensão encantada exatamente porque ela não sabe
absolutamente como as estórias puseram a funcionar seu
encantamento sobre ela.” BETTELHEIN (2002)pág.18.
A forma como se conta uma história também devem ser levados em conta, a
entonação ao falar, a descrição dos personagens e do lugar onde se passa a história, irão
contribuir para que as crianças usem a sua imaginação. É ideal que se crie todo um
clima de envolvimento, que o professor saiba dar pausas, criar os intervalos, respeitando
o tempo necessário para que o imaginário de cada criança possa construir seu cenário,
visualizar seus monstros, criar seus dragões, sentir o galope do cavalo, imaginar o
tamanho do castelo e muitas outras coisas. E com isso as crianças podem rir, se
espantar, gargalhar, dar lugar ao imaginário e ter também sua curiosidade saciada sobre
as mais variadas questões.
Dessa forma, as crianças realmente se envolvem com as histórias buscam nelas
elementos para enriquecer ainda mais a sua imaginação e fantasia, bem como encontram
novos subsídios para as suas brincadeiras.
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É fundamental para o desenvolvimento do pensamento das crianças, a
brincadeira com as histórias, por meio do enredo e do personagem, as crianças pode
fantasiar e imaginar, ser ela na brincadeira, brincar de ser.
As histórias permitem às crianças infinitas sensações e representações nas
brincadeiras, nos gestos, nas falas, nas expressões no momento de recontá-las ou
vivenciá-las, em que as crianças possuem seu mundo próprio povoado de fantasias e
sonhos.
Através das histórias, a criança constrói o mundo das idéias abstratas, vivencia
experiências que enriquecem seu conhecimento real e povoam a sua imaginação com
elementos da sua fantasia e do jogo simbólico.
Através das histórias é possível sugerir experiências para desenvolver ainda o
seu caráter, como afirma BETTELHEIN (2002), pág. 23.
“Os contos de fadas, à diferença de qualquer outra forma de literatura,
dirigem a criança para a descoberta de sua identidade e comunicação,
e também sugerem as experiências que são necessárias para
desenvolver ainda mais o seu caráter. Os contos de fadas declaram que
uma vida compensadora e boa está ao alcance da pessoa apesar da
adversidade - mas apenas se ela não se intimidar com as lutas do
destino, sem as quais nunca se adquire verdadeira identidade. Estas
estórias prometem à criança que, se ela ousar se engajar nesta busca
atemorizante, os poderes benevolentes virão em sua ajuda, e ela o
conseguirá. As estórias também advertem que os muito temerosos e de
mente medíocre, que não se arriscam a se encontrar, devem se
estabelecer numa existência monótona - se um destino ainda pior não
recair sobre eles.”
A Literatura Infantil, lida ou contada é um extenso caminho no qual as crianças
se envolvem e contribuem para o desenvolvimento imaginativo, afetivo, cognitivo,
fantasioso e escrito. E estas possibilidades, englobam o direito da criança ser criança
sonhadora e questionadora na sua totalidade.
Considerar a Literatura Infantil no cotidiano escolar é permitir à criança
divertimento e possibilidade de viajar num “tapete mágico” para novas descobertas e
aventuras, adquirindo experiências nas diversas linguagens.
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No momento em que se conta ou ouve-se histórias é um tempo de interação
entre o professor e a criança. Momento este de conexão entre a prática pedagógica e a
literatura, relevante, acessível e importante para o desenvolvimento da imaginação e
fantasia, pois a literatura infantil é algo que atraí as crianças e dão prazer tanto para
quem ouve como para quem conta.
Mas e o leitor ideal? Após ouvir as histórias, agora já é capaz de lê-las.
Segundo MIGUEZ (2012)
Deixar o leitor penetrar livremente no descampado território da
criação é permitir um vôo de poética paisagem dando asas ao silêncio
do texto. Ler é hospedar-se nesse silêncio habitando a palavra e
envolvendo-se na silenciosa intimidade dos seus sentidos...
Após ouvir inúmeras histórias, de ter contato com os livros, seja na escola, ou
em casa, após o contato com o professor mediador envolvido e envolvente, este leitor
ideal poderá viajar por lugares inesquecíveis, por um mundo mágico e encantador, que é
o mundo da leitura.
Ouvir histórias é penetrar em mundo fascinante, cheios de surpresas e segredos,
um mundo curioso e interessante, que diverte e também ensina. No momento da leitura
a imaginação flui, e a literatura e a criança combinam, pois o encontro se dá no âmbito
da arte, do lúdico, do mágico, enfim, do imaginário.
Mas cabe a nós educadores, aguçarmos na criança possibilidades e habilidades
de expressar seus sentimentos, pensamentos, dúvidas, criatividade, contribuindo assim
para a formação da cidadania, pois a criança além de adquirir conhecimentos
específicos nas mais diferentes áreas do conhecimento humano desenvolverá
habilidades que a fará entrar em contato com as mais amplas condições culturais,
políticas e sociais para sua interação com o mundo sempre e potencialmente melhor.
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CONCLUSÃO
A Literatura Infantil é uma cultura historicamente construída, é a arte que
perpassa as diversas gerações enriquecendo e transmitindo as variedades culturais e
sociais. É uma comunicação, veículo de conhecimento, que possui uma riqueza
profunda de experiências vividas e contadas.
Ao tentar esboçar algumas conclusões resultantes desse estudo, posso afirmar
que, o conceito de literatura infantil, surgiu juntamente com o conceito de infância. A
literatura sofreu modificações, assim como as atitudes e emoções das crianças, em
comum ligação, com as transformações da sociedade burguesa da época.
Além disso, posso afirmar que a criação do hábito da leitura se inicia no seio
familiar e se aprofunda nas instituições de ensino e não o contrário. É no contexto
familiar, que se deve começar a ouvir histórias e também os primeiros contatos com os
livros. Mas também pudemos perceber que o professor exerce grande influência, pois
além de ser um professor mediador entre a criança e a leitura, também deve ser capaz de
provocar, de abrir o leque de oportunidades para que a criança possa imaginar, criar,
conhecer, se encantar, apoiar, discordar, inventar novos finais, e porque não, aprender.
Assim, tive a oportunidade de confirmar que através de professor dedicado que
leva em conta a idade cronológica da criança e principalmente o estágio de
desenvolvimento de leitura em que ela se encontra, se é capaz de criar na criança o
gosto pela leitura.
Percebi que mesmo num mundo tão cheios de tecnologias em que vivemos, onde
todas as informações, músicas, notícias, podem ser vinculadas via internet, o lugar do
livro parece ter sido esquecido. Mas quem realmente conhece e reconhece à importância
da literatura na vida de uma pessoa, quem sabe o poder de uma história bem contada, os
benefícios que uma aparente simples história pode proporcionar, com certeza há de
concordar que não há tecnologia no mundo que substitua o prazer de folhear, de ler as
páginas de um livro, e encontrar dentro delas um mundo cheio de encanto e magia.
Desta forma, cabe ao professor encontrar meios para mostrar a criança, que
benefícios o livro pode trazer, através do encantamento, do fazer pensar, do
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questionamento. A chance de mostrar o melhor para as crianças está nas mãos do
professor mediador eficiente e eficaz, que se preocupa em formar não apenas leitores,
mas leitores críticos, fornecendo ao aluno conhecimento que o faça um produtor de
significados, capaz de lidar com todos os gêneros textuais, não só na escola, mas
também na sociedade em que está inserido
Portanto, não podemos negar que a Literatura Infantil é um forte subsídio a ser
utilizado na prática pedagógica, uma vez que ela permite na criança o pulsar das vias
imaginárias para aproximá-la da realidade objetiva e subjetiva em forma de beleza,
alegria e emoção. Ela atende as exigências da alma e o desejo da criança, bem como
permite que ela expresse seu íntimo e obtenha recreação e também uma aprendizagem.
Assim, os educadores devem ser estimulados a fazer com que os alunos
compreendam que a leitura, antes de qualquer coisa, deve ser vista como veículo de
aperfeiçoamento da sociedade, para que o sujeito-leitor seja um cidadão consciente de
seu papel de agente transformador do mundo em que vive.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 16.ed. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 2002.
CADERMATORI, Ligia. O que é literatura infantil.São Paulo: Brasiliense, 2010.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. 11ªed. São Paulo.Ed Ática, 2000. (Serie Fundamentos).
PAIVA, Aparecida; MACIEL, Francisca; COSSON, Rildo. Coleção Explorando o Ensino.Brasília:Ministério da Educação, 2010.204p.
MIGUEZ, Fátima. A literatura na leitura da infância. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.