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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA (Um estudo de caso) CRISTINA SEMERARO RITO CARDOSO ORIENTADOR: PROF Ms. MARCO A. LAROSA I RIO DE JANEIRO 2001

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA

(Um estudo de caso)

CRISTINA SEMERARO RITO CARDOSO

ORIENTADOR: PROF Ms. MARCO A. LAROSA

I

RIO DE JANEIRO 2001

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Apresentação de monografia ao Conjunto Universitário Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicopedagogia.. Por CRISTINA SEMERARO RITO CARDOSO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA

(Um estudo de caso)

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AGRADECIMENTO

...às amigas Priscila Lannes, Regene Britto e Míriam Sutter Medeiros pelas grandes contribuições (de sempre).

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DEDICATÓRIA

...a Everaldo Silva, Henrique Rito Silva e Maria Ferreira Rito pela amizade, solidariedade e apoio para que eu pudesse realizar este trabalho.

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RESUMO

O presente trabalho é o resultado de um estudo exploratório sobre a

visão que um grupo de adolescentes, alunos de uma escola técnica estadual,

têm da relação entre a família e a escola.

A partir da aplicação de um questionário de dez perguntas sobre o

tema, a monografia tem como objetivo traçar algumas reflexões sobre o papel e

as funções que desempenham a escola e a família, hoje, na formação dos

adolescentes.

Além dos dados colhidos na aplicação dos questionários, foram

usadas teorias que analisam, do ponto de vista sociológico, o papel e as

funções desses dois agentes de socialização, de forma a buscar o

entendimento do que ocorre na efetiva relação entre ambos, e o impacto disso

na vida dos jovens alunos.

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METODOLOGIA

Usando uma metodologia qualitativa, foi feito um estudo de caso

com alunos do Ensino Médio de uma escola técnica estadual - FAETEC,

localizada em um bairro popular da cidade do Rio de Janeiro. A escolha dessa

escola como universo para a elaboração da monografia se deu em função do

acesso da pesquisadora aos alunos, o que facilitou a obtenção dos dados.

Para colher os dados foi aplicado um questionário em um universo

de 29 jovens, de ambos os sexos, todos estudantes do Ensino Médio.

Os dados obtidos foram analisados procurando identificar

semelhanças, recorrências, contradições e complementaridades existentes nos

depoimentos, articulando os resultados com algumas teorias existentes que

nos auxiliaram a uma compreensão, mesmo que parcial, do tema escolhido.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1

CAPÍTULO I

RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA 2

CAPÍTULO II

A VISÃO DOS ADOLESCENTES SOBRE A RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA 14

CONCLUSÃO 23

BIBLIOGRAFIA 25

ÍNDICE 26

FOLHA DE AVALIAÇÃO 27

ANEXOS 28

VII

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INTRODUÇÃO

A crise existente na sociedade contemporânea em relação à educação dos

jovens, se evidencia por várias razões. A constante associação da juventude

com atos de violência, ou outras transgressões como uso de drogas, pichação

e até mesmo a retomada de ideologias nazifacistas, demonstra que há algo

errado na escala de valores que as gerações mais velhas conhecem e tentam

repassar a seus descendentes. Soma-se a isso processo produtivo e temos

configurado um dimensões mais amplas da dinâmica a insuficiente formação

da escola para que os jovens possam ingressar e atender as necessidades do

problema que tem como causa sócio-econômica e cultural contemporânea,

mas que engloba também uma possível crise dos principais agentes

socializadores das novas gerações. Nesse sentido, pensamos em traçar nesse

trabalho uma reflexão sobre a relação entre os dois mais importantes agentes:

a família e a escola. Para isso, desenvolvemos um estudo exploratório sobre a

visão que o adolescente têm da relação família/escola.

No primeiro capítulo analisamos, do ponto de vista sociológico, o papel e as

funções da família e da escola no processo de desenvolvimento dos indivíduos,

buscando o entendimento das transformações históricas dessas instituições e o

impacto dessas transformações na dinâmica relacional das duas.

Apresentamos no segundo capítulo a análise e discussão dos dados obtidos,

delineando então uma amostra da realidade em relação a proximidade ou

distância existente entre a família e a escola, assim como, a visão que os

jovens tem dessa questão.

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CAPÍTULO I

RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA

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FAMÍLIA E ESCOLA

Qualquer discussão sobre a relação entre a família e a escola, seja de forma

ampla ou no recorte que nos propusemos trabalhar - a visão de alguns jovens

sobre o tema – faz-se necessária uma conceituação e análise do papel e das

modificações que essas duas instituições vêm vivenciando através do tempo.

1.1. A família enquanto instituição social: características e

funções

Como não é de nosso interesse discutir o papel da família na formação do

indivíduo do ponto de vista psicológico, optamos por analisá-la como instituição

social, que em parceria com a escola tem a responsabilidade no processo de

socialização/educação da criança em suas etapas de desenvolvimento e

integração social.

Segundo Marconi (1985),

A família, em geral, é considerada o fundamento básico e universal das

sociedades, por se encontrar em todos os grupamentos humanos, embora

variem as estruturas e o funcionamento. Se, originariamente, a família foi um

fenômeno biológico de conservação e produção, transformou-se depois em

fenômeno social. Sofreu considerável evolução até regulamentar suas bases

conjugais conforme as leis contratuais, normas religiosas e morais.(p.185)

Embora seja um fenômeno social existente em qualquer sociedade, a família

se configura de forma diferente não só em relação às várias culturas existentes

mas também sofrendo modificações advindas das transformações históricas

que o tempo vai delineando. Por isso não se pode negar o caráter social da

organização e do funcionamento familiar.

Com relação a sua organização, Marconi aponta como variações dos grupos familiares

cinco tipos de família: elementar, extensa, composta, conjugada - fraterna e fantasma.

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A família elementar, também conhecida como nuclear, é o tipo mais freqüente

de organização. É constituída de marido, esposa e filhos que vivem juntos e é

socialmente reconhecida como legitima.

A família extensa, mais característica no período anterior ao capitalismo

industrial, é uma estrutura consangüínea que se compõe de duas ou mais

famílias nucleares.

A família composta é aquela constituída de três ou mais cônjuges e os filhos.

Esse tipo de família é característico das sociedades poligâmicas mas também

se refere às situações onde há um segundo casamento e a figura da madrasta

ou padrasto está presente.

A família conjugada-fraterna é formada por dois ou mais irmãos com suas

respectivas esposas e filhos.

A família fantasma é aquela em que não há o marido desempenhando

efetivamente o seu papel. Se constitui apenas da mãe e dos filhos e a função

de genitor é exercida pelo filho mais velho. Esse tipo de família foi observado

em um país da África como a forma cultural de estruturação do grupo familiar.

No entanto, cabe aqui uma reflexão sobre as modificações que hoje temos

dentro na nossa própria sociedade. Sabemos que hoje um grande número de

famílias, seja de classes menos ou mais favorecidas econômica e

culturalmente, vivencia essa ausência da figura paterna. Embora em nossa

cultura a presença do pai no núcleo familiar ainda pese moral e socialmente, a

realidade demonstra que, mesmo em diferentes classes sociais, há um

crescente número de mulheres que chefiam o grupo familiar e tem para si a

responsabilidade real de prover e educar seus filhos. Isso nos leva a acreditar

que o “tipo fantasma“ também poderia ser uma classificação pertinente à nossa

atual configuração de grupos familiares.

Apesar das várias estruturas familiares já citadas, Há autores que consideram

a família nuclear como a forma de estruturação fundamental.

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Segundo Bottomore (1978),

A família individual nuclear é um fenômeno social universal. (...) A

universalidade da família nuclear pode ser explicada pelas funções

indispensáveis que tem e a dificuldade de assegurar o desempenho dessas

funções por qualquer outro grupo social. (p.165)

Nenhum outro grupo social poderia suprir totalmente as funções que

desempenha a família nuclear , ou seja pai e mãe, embora já tivéssemos

comentado a respeito de que nem sempre a figura paterna cumpre o papel que

deveria cumprir.

Essa universalidade da família nuclear está relacionada com as efetivas

necessidades do ser humano de ser protegido e provido durante um longo

período após seu nascimento. Bottomore diz que

A família nuclear é um fenômeno universal porque realiza funções sociais

indispensáveis. É um grupo de grande importância em qualquer sociedade,

mas essa importância é muito específica. Os jovens humanos permanecem

imaturos por um período que é longo, em relação à duração da vida humana;

durante esse período, têm de ser mantidos e socializados. Essa é a principal

função da família nuclear. Sua realização é independente da forma da família,

das disposições de parentesco, dos hábitos matrimonias, do tipo de controle do

comportamento sexual, ou da realização de funções adicionais pela família.

(ibid:174)

De qualquer forma, a família, seja qual for a sua estrutura, tem cumprido

diversas funções das quais as fundamentais são: sexual, reprodutiva,

econômica e educacional. Sexual porque em uma estrutura familiar o homem e

a mulher podem suprir suas necessidades sexuais dentro de uma perspectiva

legal, garantindo uma paternidade legitimada pela lei para os filhos.

Reprodutiva porque garante a procriação e a perpetuação da espécie humana.

A função econômica assegura o atendimento das necessidades materiais. E

finalmente a educacional, que relacionada a econômica nos permite analisar o

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tema desse trabalho. Vale lembrar que as formas de exercício dessas funções

variam de acordo com o sistema cultural em que ela está inserida.

A função educacional da família diz respeito ao processo de socialização a que

todo ser humano deve submetido. Esse processo de socialização não se dá

apenas pela família. A forma como cada família se responsabilizará por ele

será determinada também por outros elementos da sociedade. O mesmo autor

diz que

A família primeiro socializa a criança, mas não cria os valores que transmite;

estes vêm da religião, nação, casta, ou classe. Assim, o caráter específico da

família nuclear em qualquer sociedade é determinado por outras instituições,

ao invés de determiná-la. ( ibid: 175)

A relativa autonomia das famílias na formação efetiva de seus filhos tem sido

freqüentemente abordada e constatada na dinâmica social e cultural

contemporânea. Hoje os pais, além de não criar valores, como aponta o autor,

compete com outros meios de transmissão dos mesmos e muitas vezes não

consegue obter o resultado esperado na formação, ou orientação de

dispensam aos filhos.

1.2. Família e sociedade contemporânea.

Houve tempo que os cientistas sociais afirmavam que a estrutura familiar havia

se transformado e evoluído de uma forma extensa para a forma nuclear e

relacionava essa mudança com as transformações ocorridas no processo de

industrialização e urbanização. Isso porque as famílias extensas eram comuns

nas sociedades agrícolas características do mundo pré-capitalista.

Segundo Ferreira ( 1995),

A implantação das fábricas promoveu o desenvolvimento da várias cidades,

milhares de pessoas afluíram para elas em busca de emprego. Em termos

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gerais, nas cidades uma família muito grande teria muitas despesas para criar

os filhos. Além disso, com os órgãos assistenciais existentes nas cidades os

pais já não precisariam contar tanto com a ajuda dos filhos para garantir uma

velhice mais tranqüila. Além disso, os novos valores, típicos da vida moderna,

atuariam no sentido de fazer com que as pessoas passassem a ver as famílias

muito numerosas como algo muito sacrificante e aprisionador. ( P. 61)

O mesmo autor aponta que embora as famílias extensas tenham sido mais

comuns no período pré-capitalista, outros estudos sociológicos já

demonstraram que os dois tipos de família sempre coexistiram. Mesmo que

com predominância de um ou de outro. No entanto, o que podemos observar

na realidade contemporânea é que há uma predominância real das famílias

nucleares e que os argumentos acima citados fazem sentido para nós. Os

efeitos do processo de urbanização e industrialização na constituição familiar

são reais e evidentes.

Para analisar e explicar o que hoje ocorre com as instituições familiais,

Toscano (1984) parte de uma síntese do que era a família-tipo da sociedade

burguesa ocidental do século passado:

Tal família estava inserida num contexto de mudanças lentas, ainda em grande

parte sujeita aos moldes do patriarcalismo rural e, - do ponto de vista da

estrutura – organizada em torno do “pater-familias” , com prole numerosa e a

mulher submetida ao poder masculino; a vida econômica já estava

diferenciada, em termos de trabalho, fora do ambiente doméstico, mas ainda

permitia uma convivência grande dos pais com os filhos e destes entre si; a

religião constituía-se em um elo de união, através de uma moral rigidamente

imposta e cegamente cumprida; no plano jurídico, o reconhecimento da família

como célula social básica, o direito de herança plenamente reconhecido, o

código civil enfatizando os direitos do marido sobre a mulher e dos pais sobre

os filhos, a inexistência, de fato e de direito, do divórcio, principalmente em

países de origem latina e uma grande estabilidade de todas as instituições

ligadas à família. (p.90)

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Segundo a autora, o impacto da industrialização foi transformando esse padrão

familiar. A lógica sócio-econômica capitalista faz do século XX um período de

transformação radical de formas e valores relacionais dos quais a instituição

familial não escapou. O modelo de família que hoje temos como o tipo mais

freqüente está distante da família-tipo relatada pela autora.

Quando o impacto da industrialização se fez sentir sobre a sociedade

contemporânea, a família, tal como nós nos acostumáramos a encará-la,

passou a sofrer uma série de abalos que determinara, com maior ou menor

rapidez, a quebra dos padrões tradicionais. A urbanização violenta, o êxodo

rural, o trabalho feminino fora do lar, a influência crescente dos meios de

comunicação de massa, a grande mobilidade geográfica e social, são apenas

alguns dos fatores responsáveis pela maior parte das profundas alterações por

que passou a família. (ibid:90)

Muitas alterações ocorreram. A família contemporânea possui uma formação eclética.

A introdução do divórcio mudou a configuração de muitos núcleos familiares.Há

famílias em que co-habitam apenas mãe e filhos, outras pais e filhos, e em algumas há

também membros surgidos de um segundo casamento.

Além disso, a própria dinâmica das relações conjugais se modificou. Não há

mais submissão absoluta da mulher ao poder masculino. A entrada da mulher

no mercado de trabalho gerou alterações, inclusive legais, no papel de cada

um no casamento. Muitas vezes a condição profissional do marido fica aquém

da esposa e isso muda completamente as regras de convívio até mesmo com

os filhos. A autoridade paterna também se modificou assim como a qualidade e

a intensidade da convivência entre os membros de uma mesma família.

Essa qualidade, e intensidade da convivência, principalmente entre pais e filhos

tem gerado um distanciamento que não contribui para uma condução

adequada na formação pessoal e social das crianças e jovens. Os pais,

despendem a maior parte do tempo trabalhando para cumprir as exigências

sociais e materiais de suas vidas e negligenciam a atenção e a interação tão

fundamental no processo de socialização dos filhos.

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1.3. A família brasileira

O contexto da família brasileira não se diferencia do que já vimos. As

mudanças na família brasileira também têm ocorrido e se relacionam com a

dinâmica sócio-econômica que o país vivencia. Mas não podemos falar da

família brasileira como sendo uma instituição homogênea pois aqui convivem

diversos tipos de família. Temos famílias pobres, ricas, médias, urbanas, rurais,

religiosas etc...

Mas apesar da diversidade, existem aspectos predominantes, principalmente com

relação às famílias urbanas e que é o tipo do qual tratamos nesse trabalho.

Dias (1992), usando pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas, aponta

que as principais características da família brasileira urbana. Dentre elas

podemos verificar que de 1960 a 1980 houve uma tendência a nuclearização;

cresceu o número de famílias e diminuiu seu tamanho médio; diminuíram os

casamentos religiosos e aumentaram as uniões livres;cresceu o número de

mulheres chefes de família;ocorreu um aumento da participação feminina na

força de trabalho e outras mudanças menos relevantes para o tema que aqui

tratamos. ( p.62)

O que podemos verificar é que também na família brasileira as mudanças ocorridas

se relacionam com as transformações no tipo de vida característico da sociedade

capitalista industrial. Da década de 60 aos dias de hoje é evidente o impacto que a

dinâmica sócio-econômica tem causado à vida dos brasileiros e os pais brasileiros

também se encontram em processo de distanciamento dos filhos. Seja nas famílias

pobres, médias ou ricas, a luta pela sobrevivência, as novas configurações

familiares e a interface nem sempre positiva da família com os outros agentes de

socialização tem dificultado um acompanhamento ideal do desenvolvimento das

crianças e jovens.

Assim como a família reage às modificações da sociedade, a escola, outro

importante agente socializador, também tem enfrentado momentos que

podemos considerar críticos.

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1.4. A escola

A integração do indivíduo na sociedade e no grupo em que vive é a

possibilidade dele se apropriar do acervo cultural já existente e esse processo

se dá através da educação.

Segundo Durkheim (1967), a educação

...é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se

encontrem ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e

desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais,

reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a

que a criança, particularmente, se destine. (p.41)

A educação compreendida como processo de socialização tem como objetivos

preparar a criança para a vida social, desenvolver suas potencialidades, adaptando-a

à sociedade e tornando-a parte integrante das forças que a desenvolve.

Nas sociedades simples, devido à simplicidade da cultura produzida, esse

processo se dava, e ainda se dá, de forma espontânea e assistemática, em

que tudo que uma criança ou jovem deve aprender é passado pelas gerações

mais velhas.

No entanto, nas sociedades complexas como a nossa, em função da

complexidade e extensão do acervo cultural produzido e da dinâmica relacional

que as sociedades modernas adquiriram, a educação, ou processo de

socialização vai se especializar e se efetivar através de vários agentes, dentre

eles a escola. A escola vai dividir com a família e outras estruturas

intermediárias, como os meios de comunicação, a função de socializar, educar.

Além da função de educar, tomando como base a educação como transmissão de

hábitos, valores e comportamentos, a escola nas sociedades complexas tem

também como função preparar o indivíduo para integrar ativamente o processo

produtivo.

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Segundo Toscano (1994)

...quando as técnicas especializadas e o domínio de conhecimentos

específicos, ligados a uma sociedade altamente complexa, vão exigir a atuação

de instituições dedicadas exclusivamente à educação.É então que a escola

assume papel de relevo, sendo a instituição que se incumbe de transmitir, de

forma metódica e dentro de princípios socialmente reconhecidos, a herança

social de que é depositário o grupo. Isto acontece porque nem a família, nem o

grupo profissional ou religiosos, são suficientes para introduzir as jovens

gerações em todo o complexo mundo tecnológico-industrial. (p.107)

Historicamente a escola nas sociedades complexas tem cumprido de forma

inconstante esse papel. Isto porque como em todas as outras instituições, a

dinâmica interna da escola reflete a realidade social, econômica e cultural da

sociedade na qual ela está inserida. Em cada momento histórico a escola

responde ao movimento e a demanda externa a ela.

No Brasil a trajetória do sistema educacional tem refletido as mudanças

ocorridas na realidade política, econômica e cultural de seu processo histórico.

Desde o Brasil colônia até os nossos dias, o sistema de ensino sofreu

modificações, ora avançando, ora retrocedendo, mas sempre buscando

atender a demanda social de uma escola que integrasse efetivamente o

indivíduo na sociedade.

Em termos qualitativos a educação escolar brasileira já viveu sob as mais

diversas influências pedagógicas. Com duzentos anos marcados pela

influência da educação jesuítica, a escola passou, nos trezentos anos

seguintes por modificações geradas pelos confrontos político-pedagógicos.

Nesses confrontos, diferentes forças sociais debatiam as perspectivas de

inovação do sistema de ensino a luz de teorias ligadas às pedagogias

tradicional, escolanovistas, libertárias e mais tardiamente libertadora.

Quantitativamente houve uma expansão da rede de ensino e foi

efetivamente democratizado o acesso da maioria das crianças e jovens

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ao sistema público de ensino. Mas o papel da escola, sua função social

permanece em discussão.

Inúmeras teorias sociológicas apontam a ineficiência do sistema educacional

nos países capitalista demonstrando que a formação das crianças e jovens

ainda se encontra aquém das reais necessidades da maioria e isto se constitui

em uma evidente crise do sistema.

A crise do sistema de ensino não se encontra isolada. O que hoje vivemos é

uma crise ampla que perpassa e compromete o papel de todas as instituições

sociais e conseqüentemente o papel dos agentes socializadores também se

encontra em crise.

A educação se encontra no Brasil e no mundo sendo debatida no sentido de

repensar e redefinir seu papel e função na formação do homem

contemporâneo. E o que parece ser o núcleo central dessa crise é a pouca

clareza do ideal de homem que a nova dinâmica social necessita.

Segundo Paul Singer (1995), um dos aspectos fundamentais dessa crise

É a alienação do ensino escolar das novas características tanto do mercado de

trabalho como do panorama político e social. Que tipo de pessoa nossas

escolas estão formando e para que tipo de sociedade? Se a democracia é uma

conquista irreversível, qual é o modelo de cidadão consciente que inspira

nosso ensino? Será que nossos currículos correspondem adequadamente ao

desejo natural de aprender dos jovens, motivando-os a participar ativamente do

processo educativo? (p.12)

Para o autor, o cerne da crise do sistema de ensino está nessas questões mas

o que parece ser a causa maior para a maioria da população é que a crise se

fundamenta principalmente na insuficiência de recursos materiais e

investimento nas instituições de ensino e profissionais da educação.

Todas essas questões se integram e evidenciam um problema real. Uma crise

que passa pela redefinição do papel da escola, pela reformulação de seus

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currículos e também pela vontade política de investir efetivamente na qualidade

do ensino público e gratuito de forma a oferecer a maioria das crianças e

jovens a possibilidade de uma formação cidadã ativa e produtiva.

O que vimos é que há no momento em que vivemos, uma crise que tem gerado

modificações na família e na escola e essas modificações tem tido um impacto

significativo na formação das novas gerações e foi isso que nos levou a buscar,

mesmo que em nível exploratório, a visão que os jovens tem da relação entre

esses dois importantes agentes socializadores. Isto porque acreditamos que

um movimento positivo de estreitamento da relação entre esses dois agentes

poderia contribuir muito para solucionar problemas na condução

comportamental e existencial dos jovens contemporâneos.

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CAPÍTULO II

A VISÃO DOS ADOLESCENTES SOBRE A

RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA

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A VISÃO DOS ADOLESCENTES SOBRE

A RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA

A partir do momento em que a escola passa a assumir junto com a família a

responsabilidade de promover o desenvolvimento e a formação das crianças e

jovens para integrar a lógica social em que vivem, não parece absurdo que a

proximidade entre ambos deva estreitar-se e instaure-se uma co-

responsabilidade no processo educacional, ou socializador.

No entanto, apesar de algumas campanhas de incentivo a esse estreitamento –

como a recente campanha do governo federal – por uma série de motivos a

família e a escola parecem estar cada vez mais distantes no propósito de

pensar e efetivar a formação de seus filhos/alunos.

Com a intenção de explorar o tema, fizemos um levantamento sobre a visão

que alguns jovens tem dessa relação. Para isso delimitamos um universo de

trinta jovens estudantes do Ensino Médio de uma escola técnica pública,

localizada em um bairro de periferia na cidade do Rio de Janeiro.

Apresentamos a seguir os resultados obtidos.

2.1. Perfil dos alunos entrevistados

Para levantar os dados que nos interessava, elaboramos

QUADRO 1

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Os alunos foram receptivos para responder ao questionário e não

apresentaram dificuldades. As perguntas envolviam informações sobre a forma

e a freqüência da relação entre seus pais, ou responsáveis, e a escola.

Apresentamos a seguir os resultados obtidos.

2.2. A atitude da família frente a escola

Para sabermos o tipo de relação que os pais estabelecem com a escola,

perguntamos sobre a freqüência de visitas solicitadas, ou não, pela escola e o

grau de interesse que os pais tem pela vida escolar dos filhos.

Sobre a freqüência de visitas não solicitadas, a maioria respondeu que os pais

só vão a escola quando são chamados e três dos jovens responderam que os

pais nunca vão à escola. Apenas três alunos responderam que independente

da solicitação da escola, os pais realizam duas ou três visitas por ano.

Duas falas ilustram que a proximidade com a escola se dá em situações de

necessidade:

Eles vêm mais quando tem reunião. (2ª série / 16 anos )

Eles vêm quando é necessário, se tratando de assuntos “muito“ importantes.

(1ª série / 14 anos )

Quanto à assiduidade nas reuniões convocadas pela escola, a maioria disse

que os pais costumam ir a reuniões. No entanto, cinco alunos disseram que os

pais nunca vão e quatro que só atendem a solicitação quando podem, o que

significa 30% de pais distantes na vida escolar do filho. No entanto, sobre os

motivos de não comparecerem às reuniões citaram a falta de tempo e o pouco

interesse pelos assuntos tratados.

...acham sempre repetitivas e desnecessárias. Eu também acho. (2ª série/16

anos)

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Perguntamos também sobre o interesse de seus pais estarem próximos a

escola, treze responderam que sim e o restante afirmou que não. Alguns

ressaltaram que os pais não se interessam por falta de tempo e também que

preferem deixar a responsabilidade da escola por conta do filho.

Minha mãe não se interessa porque ela sabe que eu estou fazendo a minha

parte. ( 2ª série / 15 anos )

Eles deixam tudo para eu resolver. Não vêem a necessidade de se

“intrometerem” em assuntos desse tipo. ( 2ª série / 16 anos )

Vimos que embora alguns pais estejam disponíveis para estarem mais

próximos da escola, uma boa parte não o faz por motivos diversos. Um desses

motivos foi apontado como sendo o pouco investimento da escola nessa

aproximação e é o que veremos a seguir.

Ressaltamos que dos vinte e nove jovens apenas três não consideram

importante essa proximidade da família com sua vida escolar. Alguns

depoimentos ilustram o sentimento que os jovens têm em relação a isso. Ao

responderem se acham importante os pais acompanharem sua vida escolar

responderam que sim porque:

...assim me sinto segura com a atenção deles. ( 2ª série / 16 anos )

...eles são as pessoas das quais tiro mais motivação para que eu possa

melhorar cada vez mais. (2ª série/21 anos)

...para que me incentivem, me ajudem a resolver problemas de diversos

aspectos e me critiquem se necessário. ( 2ª série / 16 anos )

...é importante pois na adolescência nos deixamos levar por ilusões e isso pode

atrapalhar o nosso rendimento. (2ª série / 16 anos )

O que podemos concluir é que os filhos valorizam a aproximação da família

mas respostas sobre o tema nos levam a pensar que o distanciamento da

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família é um fato e que há nisso uma responsabilidade que também é da

escola.

2.3. O investimento da escola na aproximação com a família

No depoimento dos alunos sobre o investimento da escola na aproximação

com as famílias obtivemos algumas falas muito significativas. A maioria

respondeu que a escola não investe o quanto deveria. Um aluno afirmou que

embora a escola tente não consegue quebrar a distância e dois ressaltaram

que a aproximação só se dá quando há necessidade de reclamações ou para

pedir contribuições. Uma das alunas deu um forte depoimento ao responder se

a escola procura estar próxima da família:

Não. Pois para ela sou somente mais uma aluna. (2ª série / 16 anos )

Nesse depoimento identificamos que o distanciamento parece ser também em

relação ao aluno no que diz respeito a sua singularidade.

No entanto, do grupo, vinte jovens responderam que a escola promove reunião

de pais mas ao serem perguntados pela freqüência dessas reuniões, a

diversificação das respostas tornou evidente que essa prática de reuniões não

está efetivamente incorporada e valorizada pela e na rotina da escola.

...raramente são convocadas reuniões para saber que situação o aluno se

encontra. (2ª série / 16 anos )

Vejamos finalmente como os jovens avaliam a questão.

2.4. A avaliação do adolescente sobre a relação família-escola

Apenas dois dos vinte nove alunos entrevistados não acham importante a

proximidade entre a escola e a família. Um deles vê essa proximidade como

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um meio de “opressão” aos alunos . Seu argumento é que pais e escola juntos

pode significar aumento do poder de cercear as atitudes e o comportamento do

jovem.

Podemos identificar nessa reação uma atitude característica da adolescência

que é a necessidade de afirmar sua independência. Mas a grande maioria dos

entrevistados, afirma a importância dessa proximidade para suas vidas como

mostram alguns dos depoimentos :

A família assim como a escola faz parte dos momentos mais importantes da

vida e é importante que haja interação entre elas. ( 2ªsérie / 16 anos )

...a escola é como a segunda casa do aluno então nada melhor do que

aproximar as duas. ( 1ª série / 16 anos )

... a proximidade entre a escola e a família torna o relacionamento mais

agradável e afável. Uma boa convivência. ( 2ª série / 16 anos )

Além de considerarem essa proximidade importante ressaltaram que por

necessitarem de apoio na fase em que se encontram, essa proximidade muito

contribuiria para o desempenho escolar e também para o enfrentamento de

outras dificuldades.

...a família é parte muito importante no nosso aprendizado, é ela que nos

oferece compreensão e apoio em nossas dificuldades. ( 2ª série / 16 anos )

A escola é nossa segunda casa, passamos aqui a maioria dos nossos dias, a

família estando em proximidade com a nossa escola estará mais ciente de

nossas necessidades. (2ª série / 16 anos )

...é possível haver troca de informações sobre o aluno, que às vezes precisa de

apoio. ( 2ª série / 16 anos )

...o aluno sente que os pais se importam com ele e interessa-se mais pelas

matérias e com isso seu rendimento aumenta consideravelmente. (2ª série / 16

anos )

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...muitas vezes nós alunos não temos um bom diálogo com a família e

geralmente passamos mais tempo na escola do que em casa, por isso é muito

bom ver o interesse dos pais em sua vida. ( 2ª série / 16 anos )

Nos depoimentos fica evidente o anseio dos jovens por serem tratados com

mais atenção de ambas as partes, escola e família, envolvidas em seu

processo de desenvolvimento pessoal. A adolescência é um momento delicado

e uma interação positiva com esses atores, que são os mais significativos na

formação de crianças e jovens, pode ser de extrema relevância na construção

de sua identidade. Embora necessitem afirmar independência, os adolescentes

vivem um momento de pressões e conflitos internos e nesse processo todo o

apoio será importante para ele.

Para Osório (1992),

...tanto à família como à escola corresponde educar e instruir. Pode-se dizer,

contudo, que à família cabe primordialmente educar e à escola instruir, mas na

realidade, ambos os processos se interpenetram. (p.93)

E os jovens, ao afirmarem que passam a maior parte do tempo na escola,

confirmam que hoje seu papel na formação, isto é, na educação, se torna

fundamental. Pelo menos na teoria a escola deveria assumir parte dessa

responsabilidade como dizem os artigos 1º e 2º da LDBEN/96:

Art. 1º - A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na

vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e

pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas

manifestações culturais.

...............................................................................................................................

Art. 2º - A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de

liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno

desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e

sua qualificação para o trabalho.

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No entanto, vimos nos depoimentos colhidos que na realidade concreta dos

jovens é inegável a necessidade de uma escola mais participante no processo

de sua formação ampla. Ao mesmo tempo verificamos que, por questões

circunstanciais, a família se encontra distante de seus cotidianos e a distância

existente entre família e escola parece delinear uma sutil lacuna nas principais

referências formativas dos alunos. Vimos também que seus depoimentos

demonstraram uma visão crítica sobre o assunto quando opinaram , por

exemplo, sobre o papel da Orientação Educacional, ainda conhecida na escola

como o SOE – Serviço de Orientação Educacional.

Apenas um dos alunos entrevistados teve uma fala positiva a respeito desse

setor escolar:

São eles que promovem reuniões, além de ajudar os alunos em alguns

problemas. Eles são a ligação da escola com a família. (2ª série / 17 anos)

Os demais alunos entrevistados declararam que a atuação do SOE está longe

do ideal:

Nunca vi atuação alguma e mesmo entre os alunos o SOE deixa muito a

desejar. (2ª série / 16 anos)

Meus pais nem sabem que o SOE existe. ( 2ª série / 16 anos )

...falta um melhor canal de comunicação. ( 2ª série / 21 anos )

Meus pais nem sabem que existe. Na minha opinião as reuniões promovidas

pelo SOE não promovem nenhuma interação com a família, até porque não

conhecem os alunos, falam de maneira geral da escola. ( 2ª série / 16 anos )

...é difícil encontrar escolas com um setor dedicado só para a relação de pais,

alunos e mestres. (1ª série / 15 anos)

Para ser sincera eu não sei o que o SOE faz na escola além de receber

atestado. (2ª série / 16 anos)

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No regimento da escola em questão, o artigo 17 dispõe sobre as atribuições do

Orientador Educacional, um dos membros que compõem a Gerência Técnico-

Pedagógica. Nesse artigo estão listadas 17 atribuições como a participação na

elaboração do Projeto Pedagógico da escola, atendimento à alunos com

necessidades especiais, e principalmente funções ligadas a preparação do

aluno para sua inserção no mercado de trabalho. Não há nenhum item que se

refira a algum tipo de responsabilidade em promover a aproximação com a

família e portanto a atuação do SOE não pode ser avaliada nesse sentido. Não

faz parte da orientação educacional promover essa proximidade.

Ora, se a escola em seu regimento não prevê a promoção dessa aproximação

é porque ainda não percebeu que há uma demanda real de seus alunos por

uma atenção maior ao momento de passagem e decisões importantes que

vivem no ensino médio, especialmente em um curso técnico, que pressupõe

uma inserção profissional mais imediata.

Arriscamos dizer que o mundo adulto, neste trabalho representado pela família

e pela escola, tem sido negligente em seu papel de mediação

adolescente/mundo. Talvez seja essa uma das causas dos problemas que hoje

enfrentamos com a juventude. A família se modificou, as pressões da

sociedade aumentaram e a escola tem sido lenta em responder à necessidade

de reformulações de seu papel formador/ educador.

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CONCLUSÃO

Os desafios sociais e educacionais do mundo atual suscitam muitas análises e

reflexões sobre os procedimentos que permitiriam a humanidade refazer seus

parâmetros de felicidade e realização. Entre as dúvidas e equívocos sobre o

ideal de homem e de sociedade que balizam o mundo hoje, crescem as

crianças e amadurecem os jovens sob a influência de um mundo adulto imaturo

em sua responsabilidade de conduzir as novas gerações. Não por opção, mas

pela própria insegurança e indefinição de futuro, pais e educadores parecem

estar ainda vivendo um momento de perplexidade que não tem permitido

mudanças relevantes em suas estratégias educativas.

Apesar de ser este um trabalho desenvolvido com um número reduzido de

jovens, de um grupo social específico, em uma escola determinada, seu

resultado nos aponta que há nos adolescentes uma visão crítica sobre o papel

da família e da escola em suas vidas escolares. A família, sempre ocupada na

luta pela sobrevivência tem sido afastada de seus cotidianos e pouco dispõe de

tempo para acompanhar e responder os anseios naturais dessa fase de

desenvolvimento. Com esse afastamento a escola ganha a tutela da maior

parte do tempo cotidiano dos jovens mas parece permanecer mais voltada para

função de instruir que a de educar. Isso se evidenciou nas atribuições

essenciais do SOE.

Assim, o que podemos concluir nessa pequena amostra da visão do

adolescente sobre a relação entre a família e a escola é que:

• em geral, eles percebem a família sem disponibilidade para um

acompanhamento mais próximo da vida escolar do filho e se atendo a

responder, quando possível, a solicitação de sua participação nas reuniões

escolares, geralmente convocadas para tratar de problemas gerais de seu

funcionamento;

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• vêem a escola sem uma prática de promover essa aproximação, ou

pelo menos de manter informados os pais sobre o desempenho dos filhos;

• a distância entre escola e família é vista pela maioria dos jovens

como ruim pois se sentem secundarizados em suas necessidade de vida

pessoal e escolar e explicitaram em suas falas o desejo de um apoio maior de

ambos.

O que na verdade essas questões demonstram é que o momento atual requer

uma atenção maior de pais e professores para o impacto que as demandas do

mundo contemporâneo têm sobre os jovens. Nesse sentido defendemos que

uma maior aproximação entre ambos talvez fosse uma estratégia positiva na

diminuição dos problemas sociais que hoje a juventude enfrenta. A escuta, o

respeito e a valorização dos desejos e potenciais apresentados pelos

adolescentes devem ter uma atenção mais cuidada dos adultos para que se

possa efetivamente refazer valores e expectativas de uma vida social mais

justa e prazerosa.

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BIBLIOGRAFIA

BOTTOMORE, T.B. Introdução à Sociologia. 7ª edição. Tradução de Waltencir

Dutra e Patrick Burglin. Rio de Janeiro: Zahar Editores,1978.

DIAS, Maria Luiza. Vivendo em família. São Paulo, Editora Moderna, 1992

FERREIRA, Roberto M. Sociologia da Educação. São Paulo: Ed. Moderna,

1995.

LDBEN . Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, dezembro

de 1996.

MARCONI, Marina de Andrade. Instituição Família e Parentesco in Lakatos,

Eva M. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 1985.

OSÓRIO, Luiz Carlos Osório. Adolescente hoje. Porto Alegre:Artes Médicas,

1992.

FAETEC. Regimento Escolar das Escolas Técnicas Estaduais / Rio de Janeiro,

Ano 2000.

SINGER, Paul. Poder, Política e Educação. Conferência de abertura da XVIII

Reunião da ANPED, Caxambu, 1995.

TOSCANO, Moema. Introdução à Sociologia Educacional. 8ª edição.

Petrópolis: Editora Vozes, 1984.

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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS III DEDICATÓRIA IV RESUMO V METODOLOGIA VI SUMÁRIO VII INTRODUÇÃO 1 CAPÍTULO I RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA 2 1.1. A família enquanto instituição social: características e funções 3 1.2. Família e sociedade contemporânea. 6 1.3. A família brasileira 9 1.4. A escola 10 CAPÍTULO II A VISÃO DOS ADOLESCENTES SOBRE A RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA 14 2.1. Perfil dos alunos entrevistados 15 2.2. A atitude da família frente a escola 16 2.3. O investimento da escola na aproximação com a família 18 2.4. A avaliação do adolescente sobre a relação família-escola 18 CONCLUSÃO 23 BIBLIOGRAFIA 25 ÍNDICE 26 FOLHA DE AVALIAÇÃO 27 ANEXOS 28

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas

Pós-Graduação “Latu Sensu”

Título da Monografia

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

Data da Entrega: _______________________________________

Avaliado por _________________________ Grau: ________

Rio de Janeiro, ______ de _____________ de 200___.

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Coordenação do Curso

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ANEXOS

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QUESTIONÁRIO

01 - Quantas vezes por ano seus pais vêm à escola?

02 - Você acha importante que seus pais estejam acompanhando sua vida

escolar?

03 - O que você acha da relação entre a sua escola e a sua família/

04 - Você acha que sua família se interessa em estar próxima à escola?

05 - E a escola? Você acha que ela procura estar próxima à sua família?

06 - A escola promove reunião de pais?

07 - Quantas reuniões por ano?

08 - Seus pais costumam vir?

09 - Como você vê a atuação do SOE junto aos pais?

10 - Você acha importante a proximidade entre a escola e a família? Por quê?

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