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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A Gestão Ambiental e a Medicina Veterinária Por: Felipe Daetwyler Xavier de Oliveira Orientador profa. Maria Esther Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A Gestão Ambiental e a Medicina Veterinária

Por: Felipe Daetwyler Xavier de Oliveira

Orientador

profa. Maria Esther

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A Gestão Ambiental e a Medicina Veterinária

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão

Ambiental

Por: Felipe Daetwyler Xavier de Oliveira

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AGRADECIMENTOS

...a todos aqueles que, de alguma

forma contribuíram, para que eu

percebesse o quanto este caminho me

é importante...

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DEDICATÓRIA

...este esforço é dedicado a minha mãe

(que sempre foi uma mãe e um pai para

mim), à minha esposa (que, mais do que

esposa, sempre foi minha companheira e

melhor amiga) e ao meu filho (que foi tão

aguardado, mas que não pode ficar, onde

quer que ele esteja)...

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RESUMO

Enfrentamos hoje um problema muito sério: a possibilidade de extinção

da espécie humana. Nós nos encontramos nesta situação devido a uma série

de graves questões ambientais, capazes de alterar, dentre outros fatores, o

equilíbrio climático de todo o planeta, cujas conseqüências seriam

catastróficas. Os principais motivos que nos trouxeram até esta situação são,

em sua quase totalidade, fatores antrópicos, ou seja, nós mesmos estamos

degradando o nosso planeta com o nosso modelo produtivo e de utilização dos

recursos naturais.

Nesse quadro, a gestão ambiental se apresenta como uma forma mais

sustentável de gerir nossos processos produtivos e a degradação ambiental

por eles causada, respeitando as nossas necessidades atuais, sem prejudicar

a possibilidade das gerações futuras de preencherem as suas próprias

necessidades.

A Medicina Veterinária teve, historicamente, um importante papel na

evolução de nossa espécie, acompanhando-a em todas as suas revoluções

tecnológicas, desde a descoberta da agricultura até os dias de hoje, onde

desempenha papel fundamental na produção de alimentos e controle de

doenças. Como não poderia deixar de ser, existe um importante papel a ser

desempenhado por ela nesta nova era, dentro do escopo da gestão ambiental.

A Medicina Veterinária e a Gestão Ambiental podem auxiliar em muito as

mudanças necessárias para que os nossos processos produtivos tornem-se,

de fato, mais sustentáveis.

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METODOLOGIA

A presente monografia foi elaborada através da consulta de textos de

livros, reportagens de revistas e sítios da internet, com o objetivo de realizar

uma revisão bibliográfica sobre o histórico e o papel da medicina veterinária

como profissão, as definições de gestão ambiental e seu papel na atualidade

e, por fim, associar o mercado de trabalho da medicina veterinária com as

oportunidades que a gestão ambiental proporciona. Esta monografia tomará

por base as obras sobre gestão ambiental de autores como José Carlos

Barbieri, Reinaldo Dias e Arlindo Philippi Jr. e legislações próprias sobre o

tema, como a lei 5.517 que versa sobre a regulamentação da profissão de

médico veterinário.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

CAPÍTULO I - A Medicina Veterinária 13

CAPÍTULO II - A Gestão Ambiental 21

CAPÍTULO III – O Campo de Trabalho 27

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ÍNDICE 44

FOLHA DE AVALIAÇÃO 45

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INTRODUÇÃO

Atualmente, estamos atravessando um período de grandes mudanças

em toda a biosfera do planeta Terra. Muitas delas ocasionadas pelo próprio

animal “Homem”, são chamadas de influências antropomórficas no planeta.

As resultantes destas influências são as mais variadas possíveis e,

dentre tantas, podemos destacar as mudanças climáticas, a perda da

biodiversidade, a fome mundial e as constantes ameaças de microorganismos,

sejam eles zoonóticos ou não. Nas palavras de Lovelock:

“O sistema Terra se comporta como um

sistema único e auto-regulador, composto de

componentes físicos, químicos, biológicos e

humanos. As interações e “feedbacks” entre os

componentes são complexos e exibem uma

variabilidade temporal e espacial multiescala. (...)

Crescemos em número a ponto de nossa presença

estar perceptivelmente incapacitando nosso planeta,

como uma doença. À semelhança das doenças

humanas, quatro são os resultados possíveis:

destruição dos organismos invasores da doença,

infecção crônica, destruição do hospedeiro ou

simbiose – um relacionamento duradouro,

beneficiando mutuamente hospedeiro e invasor.”

(Lovelock, 2006, pag.12).

Em face desta realidade, urge que o profissional de Medicina

Veterinária, dentro das atribuições que esta profissão lhe delimita, inicie um

processo de conscientização ambiental e passe para uma atuação mais

voltada aos novos interesses desta nova era auxiliando a humanidade a ser

mais sustentável em sua exploração de recursos naturais.

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Seja atuando na criação de animais de abate e gerenciamento de

fazendas, seja no processo industrial de produção de alimentos de origem

animal e na fiscalização da qualidade dos alimentos produzidos, importados e

exportados, passando pelo gerenciamento de resíduos e a responsabilidade

técnica de clínicas e hospitais veterinários, policiamento do tráfico de animais

silvestres em nossas fronteiras, ou simplesmente atuando como um educador

ambiental ou como um aconselhador comportamental de animais, as

resultantes serão importantíssimas no objetivo de reduzirmos os nossos

impactos sobre o meio ambiente.

O objetivo final deste trabalho é demonstrar como a medicina

veterinária pode se utilizar das ferramentas da gestão ambiental nos seus

diferentes ramos de atuação, de modo a auxiliar nas mudanças de processos

produtivos e de comportamento que precisaremos para enfrentar a crise

ambiental que hoje nos defrontamos.

CAPÍTULO I

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A MEDICINA VETERINÁRIA

Neste capítulo será abordada a história da medicina veterinária, sua

formalização como profissão no Brasil, através da lei 5.517 e a abrangência de

sua área de atuação.

1.1 – Origens Históricas no Mundo:

O exercício da “ars veterinária” confunde-se com os primórdios da

civilização humana e sua antiguidade pode ser referenciada a partir do próprio

processo de domesticação animal. Tão antiga quanto a sua irmã humana, ela

desenvolveu-se em paralelo à domesticação dos animais, surgindo da

necessidade do homem em proteger o seu gado das possíveis causas de

doenças, que poderiam dizimar um rebanho que era criado com tanto custo. O

motivo principal desta preocupação reside no fato dos humanos, já àquela

época, dependerem de animais para seu sustento, para o preparo das terras

para o plantio e para seu transporte e locomoção.

A mais antiga referência encontrada sobre a profissão data de 4.000

a.C. e foi encontrada no Egito em 1890. Denominado de “Papiro de Kahoun”,

ele descreve fatos relacionados à arte de curar animais, indicando doenças de

diversas espécies animais. Os egípcios, por exemplo, já domesticavam o cão

por volta de 10.00 a.C. e domesticavam o boi e o cavalo 1800 anos antes da

era cristã. A memória histórica também permite inferir que a medicina animal já

era praticada em 2.000 a.C. em certas regiões da Ásia, África, indo do Egito

até a Índia Oriental.

Outras fontes históricas são os códigos babilônicos de Eshn Unna, de

1.900 a.C., e o de Hammurabi, de 1.700 a.C., onde estão registradas

referências à remuneração e as responsabilidades atribuídas aos médicos dos

animais. Este último previa até mesmo sanções para os eventuais

descumpridores das normas de correção, ou para aqueles que, por

negligência, deixassem morrer os animais. Também o código dos Hititas

(povos do tronco Israelita, provindo do Norte e fixados na antiga Palestina ou

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Canaan) é consagrado, em boa parte, à patologia e terapêutica dos cavalos,

dos bois ou vacas e dos ovinos.

Gravura em pedra encontrada perto de Ur, Mesopotâmia, a que se atribui 5

000 anos de idade (as cabeças dos cavalos encontram-se dispostas segundo três dos principais tipos de crinas (eretos, pendentes ou sem crinas) e perfil

(convexo, reto e côncavo). (Fonte: http://www.drapc.min-agricultura.pt/base/documentos/ historia_medicina_veterinaria.htm)

Os primeiros registros europeus sobre a prática da medicina animal

originam-se da Grécia, no século VI a.C., onde em algumas cidades eram

reservados cargos públicos para os que praticavam a cura dos animais. Estes

profissionais eram denominados de Hipiatras.

No mundo romano, autores como Cato e Columella produziram

interessantes observações sobre a história natural das doenças dos animais,

sendo Columella o responsável pela criação do termo “veterinária medicina”

para designar a arte de curar cavalos e outras bestas de carga e do termo

“veterinário” para designar o mestre desta arte.

Algumas teorias sustentam que estes termos derivam do latim “vetus”,

ou velho, uma vez que o responsável por cuidar dos rebanhos, o pastor, seria

sempre o líder do clã, a figura mais velha, ou “veteranus”. Já outras teorias

sustentam que os termos derivariam do baixo latim “vehe” (veículo) e “vehere

(acarretar), ou ainda de “veterina” (jumenta) ou “veterinus”, que significa animal

de cargo ou tiro.

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Na era cristã, em Bizâncio, atual Istambul, foi identificado um

verdadeiro tratado enciclopédico chamado Hippiatrika, compilado por diversos

autores e que tratava da criação dos diversos animais e suas doenças,

contendo 420 artigos, dos quais 121 escritos por Apsirtos, considerado no

mundo ocidental, pelos Helenos o pai da medicina veterinária. Ele nasceu no

ano 300 da nossa era, em Clazômenas, cidade litorânea do mar Egeu, na

costa ocidental da Ásia Menor. Estudou Medicina na Alexandria e,

posteriormente, tornou-se Veterinário chefe do exército de Constantino, o

Grande, durante a guerra contra os Sármatas do Danúbio entre os anos de

332 e 334. Após a guerra, exerceu a sua arte de curar animais em Peruza e

Nicomédia, também cidades da Ásia Menor criando uma escola de Hippiatras.

Entre os assuntos descritos por Apsirtos, merecem referência o mormo,

enfisema pulmonar, tétano, cólicas, fraturas, a sangria com suas indicações e

modalidades, as beberagens, os ungüentos. Sua obra revela um domínio

sobre o conhecimento prevalecente na prática hippiátrica da época.

Prática de sangria na tábua do pescoço In “Livro de Marescálcia” de Álvarez

Salamiella. (Fonte: http://www.drapc.min-agricultura.pt/base/documentos/

historia _medicina_veterinaria.htm)

Na Espanha, durante o reinado de Afonso V de Aragão, foram

estabelecidos os princípios fundamentais de uma medicina animal racional,

culminando com a criação de um "Tribunal de Proto-albeiterado", pelos reis

católicos Fernando e Isabel, no qual eram examinados os candidatos ao cargo

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de "albeitar". Esta denominação deriva do mais famoso médico de animais

espanhol, cujo nome de origem árabe era "Ibne Albeitar". Em língua

portuguesa, o termo foi traduzido para "alveitar", sendo usado em 1810 para

designar os Veterinários práticos da cavalaria militar do Brasil Colônia.

Todavia, ainda que a raiz do termo veterinária tenha entrado no

"corpus" lexical da globalidade das línguas ocidentais, o certo é que nem

sempre foi assim. A raiz seria céltica e composta de "marc’h" (cavalo) + skalk

(servidor) e daria na Germânia Interior ou terra dos Francos, já na alta Idade

Média, "marhskalk" (encarregado de cavalos ou cavalariço), na Gália

"maréchal-ferrand" ou simplesmente "maréchal" (ferrador), entre os

Aragoneses de "mariscal" e na Britânia de "marshal". Na Europa, antes da

criação das primeiras escolas de Medicina Veterinária, aqueles que exerciam a

empírica medicina animal eram denominados de “Marechais-ferradores” em

países de língua latina

A Medicina Veterinária moderna, organizada a partir de critérios

científicos, começou a desenvolver-se com o surgimento da primeira escola de

Medicina Veterinária do mundo, em Lyon-França, criada pelo hipologista e

advogado francês Claude Bougerlat, a partir do Édito Real assinado pelo Rei

Luiz XV, em 04 de agosto de 1761. Este primeiro centro mundial de formação

de Médicos Veterinários iniciou o seu funcionamento com 8 alunos, em 19 de

fevereiro de 1762.

Em 1766, também na França, foi criada a segunda escola de

veterinária do mundo, a Escola de Alfort, em Paris. A partir daí, com a

compreensão crescente da relevância social, econômica e política da nova

profissão, outras escolas foram criadas em diversos países, a exemplo da

Áustria, em Viena, (1768), Itália, em Turim, (1769), Dinamarca, em

Copenhague, (1773), Suécia, em Skara, (1775), Alemanha, em Hannover,

(1778), Hungria, em Budapeste, (1781), Inglaterra, em Londres, (1791),

Espanha, em Madri, (1792), alcançando, no final do século XVIII, 19 escolas

ao todo.

1.2 – Origens Históricas no Brasil:

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Em 1808, nossa cultura científica e literária recebeu novo alento com a

vinda da família real ao país, pois até então não havia bibliotecas, imprensa e

ensino superior no Brasil Colônia.

Inicialmente foram fundadas as Faculdades de Medicina (1815), Direito

(1827) e a de Engenharia Politécnica (1874).

Quanto ao ensino das Ciências Agrárias, seu interesse só foi

despertado quando o Imperador D. Pedro II, ao viajar para França, em 1875,

visitou a Escola Veterinária de Alfort e impressionou-se com uma Conferência

ministrada pelo Veterinário e Fisiologista Collin. Ao regressar ao Brasil, tentou

propiciar condições para a criação de entidade semelhante no País.

Entretanto, somente no início deste século, já sob regime republicano,

nossas autoridades decretaram a criação das duas primeiras instituições de

ensino de Veterinária no Brasil, a Escola de Veterinária do Exército, pelo Dec.

nº 2.232, de 06 de janeiro de 1910 (aberta em 17/07/1914), e a Escola

Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, através do Dec. nº 8.919 de

20/10/1910 (aberta em 04/07/1913), ambas na cidade do Rio de Janeiro.

Em 1911, em Olinda, Pernambuco, a Congregação Beneditina

Brasileira do Mosteiro de São Bento, através do Abade D. Pedro Roeser,

sugere a criação de uma instituição destinada ao ensino das ciências agrárias,

ou seja, Agronomia e Veterinária. As escolas teriam como padrão de ensino as

clássicas escolas agrícolas da Alemanha, as "Landwirschaf Hochschule".

Os cursos de Agronomia e de Veterinária foram oficialmente

inaugurados no dia 1º de julho de 1914. Contudo, por ocasião da realização da

terceira sessão da Congregação, em 15/12/1913, ou seja, antes da abertura

oficial do curso de Medicina Veterinária, um Farmacêutico formado pela

Faculdade de Medicina e Farmácia da Bahia solicitava matrícula no curso de

Veterinária, na condição de "portador de outro diploma do curso superior". A

Congregação, acatando a solicitação do postulante, além de aceitar dispensa

das matérias já cursadas indica um professor particular, para lhe transmitir os

conhecimentos necessários para a obtenção do diploma antes dos quatro anos

regimentares. Assim, no dia 13/11/1915, durante a 24ª sessão da

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Congregação, recebia o grau de Médico Veterinário o senhor Dionysio Meilli,

primeiro Médico Veterinário formado e diplomado no Brasil.

Desde o início de suas atividades até o ano de 1925, foram

diplomados 24 Veterinários. Em 29 de janeiro, após 13 anos de

funcionamento, a Escola foi fechada por ordem do Abade D. Pedro Roeser.

A primeira mulher diplomada em Medicina Veterinária no Brasil foi a

Dra. Nair Eugenia Lobo, na turma de 1929 pela Escola Superior de Agricultura

e Veterinária, hoje Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

No Brasil, os primeiros trabalhos científicos abrangendo a patologia

comparada (animal e humana) foram realizados pelo Capitão-Médico João

Moniz Barreto de Aragão, fundador da Escola de Veterinária do Exército, em

1917, no Rio de Janeiro, e cognominado “Patrono da Veterinária Militar

Brasileira”, cuja comemoração se dá no dia 17 de junho, data oficial de

inauguração da Escola de Veterinária do Exército (17/06/1914).

Desde 1917, data de formatura da primeira turma de Veterinária, até

1932, não havia nenhuma regulamentação sobre o exercício da Medicina

Veterinária.

Somente a partir de 09 de Setembro de 1933, através do Dec. nº

23.133, do então Presidente da República Getúlio Vargas, é que as condições

e os campos de atuação do Médico Veterinário foram normatizados,

conferindo-se “privatividade” para a organização, a direção e a execução do

ensino Veterinário, para os serviços referentes à Defesa Sanitária Animal,

Inspeção dos estabelecimentos industriais de produtos de origem animal,

direção técnica de hospitais e policlínicas veterinárias, para organizações de

congressos e representação oficial e peritagem em questões judiciais que

envolvessem apreciação sobre os estados dos animais, dentre outras.

Para o exercício profissional tornou-se obrigatório o registro do

diploma, que passou, a partir de 1940, a ser feito na Superintendência do

Ensino Agrícola e Veterinário do Ministério da Agricultura, órgão igualmente

responsável pela fiscalização do exercício profissional. O decreto representou

um marco indelével na evolução da Medicina Veterinária, cumprindo sua

missão por mais de três décadas, e em seu reconhecimento é que a data de

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sua publicação, 09 de setembro, foi escolhida para se comemorar o "Dia do

Médico Veterinário Brasileiro".

Em 23 de outubro de 1968, entra em vigor a Lei 5.517, de autoria do

então Deputado Federal Dr. Sadi Coube Bogado, que dispõe sobre o exercício

da profissão do Médico Veterinário e cria o conselho Federal e os conselhos

Regionais de Medicina Veterinária, transferindo para a própria classe a função

fiscalizadora do exercício da profissão.

1.3 – A Medicina Veterinária na Atualidade:

A profissão de Médico Veterinário hoje é uma profissão de grande

abrangência no que tange ao espectro de ação do profissional. É uma

profissão em constante atualização, principalmente em suas principais

atribuições, acompanhando as necessidades do mercado mundial de

alimentos e os principais avanços da medicina humana, adaptando-os à

medicina veterinária.

Com a publicação da Lei 5.517 de 23 de outubro de 1969, a profissão

foi finalmente regulamentada. Ela determina em seu artigo 5º que são

atribuições exclusivas do Médico Veterinário a prática da clínica de animais,

bem como a direção de hospitais veterinários e a assistência técnica e

sanitária a animais sob qualquer forma (itens “a”, “b” e “c”); o planejamento e a

execução da defesa sanitária animal (item “d”); a direção técnica e sanitária de

qualquer estabelecimento que mantenha, proteja, trabalhe ou lide com animais

ou produtos de origem animal, sejam eles industriais, comerciais, de recreação

ou de proteção (item “e”); a inspeção e a fiscalização higiênico-sanitária e

tecnológica de qualquer estabelecimento que produza, manipule, armazene ou

comercialize alimentos de origem animal, dos frigoríficos e abatedouros até os

mercados (item “f”); a peritagem sobre animais em questões judiciais, bem

como as perícias e exames de animais de competição ou exposição (itens “g” e

“h”); o ensino, a direção, o controle e a orientação dos serviços de inseminação

artificial em animais (item ‘i’); a regência de cadeiras e disciplinas específicas

da medicina veterinária, bem como a direção e fiscalização do ensino da

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medicina veterinária em qualquer estabelecimento cuja natureza do trabalho

tenha por objetivo a indústria animal (itens “j” e “l”); e, por fim, a organização de

qualquer reunião que tenha por objetivo o ensino da medicina veterinária

(sejam palestras, congressos, etc), bem como a acessória técnica do Ministério

das Relações exteriores, no país ou no estrangeiro, em problemas relativos a

produção e a industria animal.

Em seu artigo 6º, esta mesma lei determina as atribuições não

exclusivas da profissão de Médico Veterinário, dentre elas, o estudo e a

aplicação de medidas de saúde pública no tocante a transmissão de zoonoses

(item “b”); a avaliação e peritagem relativas aos animais para fins

administrativos de crédito e seguro, bem como a classificação e padronização

dos produtos de origem animal e a participação nos exames de animais para

efeito de inscrição nas Sociedades de registro Genealógico (itens “c”, “d” e “f”);

a defesa da fauna, especialmente no controle da exploração das espécies

animais silvestres e de seus produtos (item “i”); e a organização da educação

rural relativa à pecuária (item “l”).

CAPÍTULO II

A GESTÃO AMBIENTAL

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Segundo Barbieri (2010) a preocupação com o meio ambiente não é

recente, mas foi nas últimas três décadas do século XX que ela entrou

definitivamente na agenda dos governos de muitos países e de diversos

segmentos da sociedade civil organizada.

No âmbito empresarial, essa preocupação é ainda mais recente,

embora não faltassem empresas e entidades empresariais que buscassem

práticas ambientalmente saudáveis, mesmo quando o assunto apenas

começava a despertar interesse fora dos círculos restritos dos especialistas.

Porém, para a maioria das empresas, essa preocupação ainda não se

transformou em práticas administrativas e operacionais efetivas, pois se fosse

o caso, o acúmulo de problemas ambientais que coloca em risco todos os

seres vivos certamente não se verificaria com a intensidade que hoje se

observa. A globalização dos problemas ambientais é um fato incontestável e

as empresas estão, desde sua origem, no centro deste processo. Em recente

reportagem da revista Época (2010), foi apresentada uma pesquisa feita pela

consultoria McKinsey onde 1576 executivos de grandes empresas do mundo

responderam sobre “fatores de sustentabilidade que eles acham importantes

para os negócios”. 43% deles dão importância às mudanças climáticas, 42%

ao lixo, poluição e reciclagem, 27% à escassez de água, 18% aos direitos

humanos e trabalhistas e somente 5% disseram não dar importância a nenhum

tema relacionado à sustentabilidade, entre outras questões.

Ainda segundo Barbieri (2010), o papel das empresas na promoção de

um desenvolvimento que respeite o meio ambiente não resulta apenas da

necessidade de resolver os problemas ambientais acumulados ao longo dos

anos em decorrência de suas atividades. Resulta também da ampliação da sua

influência em todas as esferas da atividade humana.

As empresas se tornaram as principais forças condutoras da sociedade

em todos os níveis de abrangência, do global ao interior dos lares, dos acordos

multilaterais comerciais às decisões corriqueiras do dia-a-dia de bilhões de

pessoas em todas as partes do mundo. Daí a emergência de uma nova

concepção de responsabilidade social empresarial que rejeite a velha fórmula

de apenas produzir bens e serviços dentro da lei. A gestão ambiental deve

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fazer parte dessa nova responsabilidade social e deve refletir o poder ampliado

das empresas de modo que elas possam de fato se tornar parceiras no

desenvolvimento sustentável.

A responsabilidade social empresarial pode ser definida, segundo Dias

(2008), como a que promove um comportamento empresarial que integra

elementos sociais e ambientais que não necessariamente estão contidos na

legislação, mas que atendem às expectativas da sociedade em relação à

empresa.

Não se trata de filantropia, ou seja, doações que uma empresa faz

ocasionalmente como forma de ajuda a um determinado grupo ou setor, mas

estratégias pensadas para orientar as ações da empresa para as

necessidades sociais, de forma que ela garanta, além do lucro e da satisfação

de seus clientes, o bem estar da sociedade. É um comprometimento. E esse

compromisso leva a empresa a contribuir ao desenvolvimento sustentável,

trabalhando com os empregados, suas famílias, a comunidade local e a

sociedade em geral para melhorar a qualidade de vida de todos.

Ainda segundo o autor, a consciência ecológica empresarial tem sido

motivada, em parte, pelas pressões contínuas do poder público, da opinião

pública e dos consumidores, e em muitos casos pela possibilidade de melhorar

sua imagem junto a determinados mercados, o que resulta em um aumento de

seus benefícios. De qualquer modo, como resultado dessa preocupação

ambiental, associada com as exigências legais e éticas da sociedade, muitas

empresas têm procurado gradativamente assumir maior responsabilidade

ecológica, adotando um papel mais ativo.

O termo “Desenvolvimento Sustentável” ficou mundialmente conhecido

após ser mencionado pela primeira vez no relatório “Nosso Futuro Comum”,

depois conhecido como “Relatório Brundtland”, que foi apresentado em 1987 à

Assembléia Geral das Nações Unidas pela Comissão Mundial sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento. Segundo esse relatório, o significado de

desenvolvimento sustentável seria atender as necessidades presentes, sem

comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias

necessidades. Como abordado por Veiga (2008), até o final dos anos 70,

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sustentabilidade era uma noção usada apenas pela biologia, especialmente

por pesquisadores especializados em biologia populacional, que procuravam

avaliar quando uma atividade extrativa, como a pesqueira, por exemplo,

ultrapassa os limites de reprodução da espécie estudada, ou seja, procuram

identificar o ponto a partir do qual é rompida a resiliência de um ecossistema.

Hoje, há pelo menos uma dúzia de problemas ambientais suficientemente

sérios para que cenários de colapsos não possam ser descartados. Não é por

acaso, portanto, que o relatório de Brundtland expressou pela primeira vez

num organismo internacional o desejo de que o desenvolvimento seja

sustentável. Isto é, manifesta a ambição de que o crescimento econômico, que

por enquanto é o principal motor do desenvolvimento da humanidade, possa

respeitar os limites da natureza, em vez de destruir seus ecossistemas.

O processo de gestão ambiental, tal qual abordado por Philippi (2009),

inicia-se quando se promovem adaptações ou modificações no ambiente

natural, de forma a adequá-lo às necessidades individuais ou coletivas,

gerando dessa forma o ambiente urbano nas suas mais diversas variedades

de conformação e escala. O ambiente urbano, dessa forma, é o resultado de

aglomerações localizadas em ambientes naturais transformados, e que para a

sua sobrevivência e desenvolvimento, necessitam dos recursos do ambiente

natural. A maneira de gerir a utilização desses recursos é o fator que pode

acentuar ou minimizar os impactos. Esse processo de gestão fundamenta-se

em três variáveis: a diversidade dos recursos extraídos do ambiente natural, a

velocidade de extração desses recursos, que permite ou não a sua reposição,

e a forma de disposição e tratamento dos resíduos e efluentes. A somatória

dessas três variáveis e a maneira de geri-las define o grau de impacto do

ambiente urbano sobre o natural. Para o autor, o primeiro passo nessa

abordagem é uma Gestão Ambiental Urbana Consciente, que consiste no ato

de conhecer todas as questões que envolvem esta estreita trama de variáveis

que compões a realidade das cidades. Isto significa dizer que o conhecer

precede o agir. As cidades ou aglomerações urbanas, que incluem os setores

industrial, residencial, comercial, de serviços públicos e de transporte, são

organismos vivos e pulsantes e necessitam de alimento, água e oxigênio,

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emitindo no processo o gás carbônico, entre outros, e produzindo resíduos.

Elas absorvem matérias-primas e as transformam em produtos

industrializados, gerando excedentes residuais. O transporte desses materiais,

e o transporte diário das populações envolvidas nesses processos demandam

quantidades diversificadas de energia e insumos e geram quantidades e

intensidades diversificadas de impactos. Vale ressaltar que as populações

rurais também utilizam a cidade para a aquisição de bens manufaturados e

para as atividades de comércio e serviços, na utilização do seu sistema viário e

de laboratórios, que geram suporte tecnológico para a melhoria da própria

atividade do campo.

Uma vez conhecidas essas questões, o aspecto seguinte que se

coloca é a necessidade de enfrentar, de forma multidisciplinar, os impactos

então produzidos, buscando soluções factíveis para uma gestão ambiental

eficaz.

Na abordagem de Almeida (2006), a Gestão Ambiental seria o

processo de articulação das ações de diferentes agentes sociais que

interagindo em um dado espaço com vistas a garantir a adequação dos meios

de exploração dos recursos ambientais, sendo eles naturais, econômicos e

culturais, às especificações do meio ambiente, com base em princípios e

diretrizes previamente definidos. Ela integraria a política ambiental, o

planejamento ambiental e o gerenciamento ambiental.

A política ambiental seria o conjunto consistente de princípios que

conformam as aspirações sociais e governamentais no que concerne à

regulamentação ou modificação no uso, controle, proteção e conservação do

ambiente.

O planejamento ambiental seria o estudo prospectivo que visa à

adequação do uso, controle e proteção do ambiente às aspirações sociais e

governamentais expressas na política ambiental, através da coordenação,

compatibilização, articulação e implementação de projetos de intervenções

estruturais e não estruturais.

O gerenciamento ambiental seria o conjunto das ações destinadas a

regular o uso, controle, proteção e conservação do ambiente, e avaliar a

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conformidade da situação corrente com os princípios estabelecidos pela

política ambiental.

Fonte: http://www.igeo.pt/instituto/organizacao/centros_imagens/GQA222.gif

Diversos instrumentos têm sido utilizados para a implementação da

política ambiental.

Instrumentos do tipo comando e controle são, basicamente, um

conjunto de normas, regras, procedimentos e padrões a serem obedecidos

pelos agentes econômicos de modo a adequarem-se a certas metas

ambientais, acompanhado de um conjunto de penalidades previstas para os

recalcitrantes. Este tipo de instrumento pode se utilizar de licenças,

zoneamentos e padrões para a sua aplicação.

Já os instrumentos de mercado seriam instrumentos alternativos ou

complementares para as regras de comando e controle, que podem ajudar em

muito na aplicação das regras estabelecidas para políticas ambientais através

de taxações ambientais, criação de mercados alternativos (como o mercado de

carbono, por exemplo), através de subsídios ou sistemas de depósito e

reembolso.

Outros instrumentos, como a ampla divulgação ao público, a

informação e a educação vêm sendo cada vez mais utilizados, e podem ser

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eficazes para mobilizar as partes afetadas e aumentar o conhecimento acerca

das condições ambientais e sanitárias.

CAPÍTULO III

AS PRINCIPAIS QUESTÕES AMBIENTAIS E A

MEDICINA VETERINÁRIA

Conciliar o crescimento econômico e a conservação ambiental é, sem

dúvida, um grande dilema. E isso se manifesta principalmente em uma dúzia

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de grandes desafios. Alguns deles têm a ver com a destruição ou perda de

recursos naturais tais como os habitat das espécies, as florestas, os solos, os

estoques de peixe. Outros dizem respeito aos limites da natureza propriamente

ditos e a forma como nós seres humanos ultrapassamos estes limites sem nos

darmos conta de que os recursos naturais são finitos.

3.1 – A Degradação dos Solos:

Um solo é considerado degradado quando para de exercer parte de

suas funções, tais como nutrir as plantas, filtrar a água ou abrigar a

biodiversidade. Dos desgastes leves aos mais graves, esse fenômeno atinge

cerca de 1,96 bilhão de hectares, ou seja, mais da metade das superfícies

cultiváveis do mundo. Quatro formas principais de degradação foram

identificadas, todas elas provocadas ou acentuadas pela ação humana.

A primeira é a erosão hídrica do solo, processo pelo qual a água

separa e carrega partículas do solo. Causada em grande parte pelo

escoamento, seja da chuva ou da água de superfície, essa ação se agrava

com a exploração agrícola. O cultivo da terra tem como conseqüências o

ressecamento do solo, a diminuição da vida biológica e até o desaparecimento

da vegetação sobre a área. Todos esses fatores impedem uma boa

penetração da água.

Já no caso da erosão eólica, o desgaste do solo é resultado do efeito

do vento. O processo afeta especialmente as zonas peridesérticas, como as

grandes planícies dos Estados Unidos, a orla do Sahel e os planaltos do norte

da China. Também aí a exploração da terra é um fator agravante. A terra

cultivada se solta mais facilmente e pode ser levada pelo vento.

O terceiro tipo de degradação é a alteração da composição do solo,

que pode assumir diversas formas. Assim, a absorção dos elementos minerais

presentes na terra cultivada (azoto, fosfato, potássio, etc.) desencadeia uma

queda de fertilidade caso não seja compensada pela introdução de insumos. A

acidificação também diminui a produtividade se não for reequilibrada, assim

como a salinização, provocada pela utilização de água levemente salgada na

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irrigação. Além disso, o despejo inadequado de agrotóxicos e resíduos

industriais ou o fluxo de águas carregadas de elementos poluentes modificam

seriamente a composição química do solo.

O quarto tipo de degradação é a natureza física. Ele se explica

principalmente pela compressão dos solos, que é provocada pela passagem

de máquinas pesadas ou, em menor medida, pelo pisoteio animal. O resultado

é que as raízes de desenvolvem com muito mais dificuldade.

Fonte: http://sidklein.vilabol.uol.com.br/pos/fig2_1.JPG

Para piorar, todos esses fatores são suscetíveis de acumulação. Em

geral, uma terra cultivada tem sua acidez aumentada, perde sais minerais, é

compactada e favorece o escoamento superficial de águas. A isso se soma o

desmatamento, que na maioria dos casos esta ligado à expansão das

fronteiras agropecuárias, acelerando ainda mais a erosão.

A medicina veterinária pode atuar nesta questão de várias formas. A

pecuária praticada no Brasil atualmente é do tipo extensiva, com pouca

ocupação de pasto por cabeças de gado, que em conjunto com o baixo preço

das terras, favorece a derrubada de matas nativas para a plantação de novas

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pastagens. Sabe-se que a quantidade de terras direcionadas para pastagens

no país seria capaz de praticamente dobrar a produção de alimentos se estas

fossem mais bem utilizadas. Instituindo mudanças simples, como o rodízio de

pastagens e com um melhor aproveitamento do terreno por cabeça de gado

criada, a degradação dos solos reduziria muito, além de desacelerar o avanço

da fronteira agropecuária para regiões de mata nativa.

Ainda dentro do sistema de criação animal, existe a possibilidade de

utilizar o sistema de agroflorestas, onde as pastagens são plantadas em

consórcio com outras plantas, como leguminosas, capazes de fixar o nitrogênio

no solo, e árvores, que teriam a função de sombreamento e redução do

impacto da erosão pluvial e do vento sobre o solo.

Atuando como consultor de frigoríficos e centros de criação (como

avícolas e suinoculturas), um médico veterinário com formação em gestão

ambiental, poderia ainda auxiliar no tratamento dos resíduos animais,

direcionando o esterco e os refugos de produção (matéria orgânica) para

composteiras, produzindo adubo orgânico à ser utilizado em terrenos inférteis

ou na melhora produtiva de pastagens, retornando muitos minerais que seriam

perdidos ao solo.

3.2 – A Perda da Biodiversidade:

Em condições normais e estáveis de biodiversidade, uma mesma

espécie dura de 1 milhão a 10 milhões de anos, de acordo com estimativas

dos paleontólogos. Mas, com a supremacia da espécie Humana, essa

possibilidade foi enormemente perturbada e parece pouco provável que os

seres vivos possam se perpetuar por tanto tempo assim.

Ao confundir a utilização da natureza com sua predação, o homem

destrói os seres vivos cada vez mais rapidamente. As taxas atuais de extinção

são de cem a mil vezes superiores em relação às taxas existentes nas eras

geológicas anteriores. As ameaças tradicionais de origem antrópica, que

causam a destruição dos habitat e a super exploração, são reforçadas pelas

invasões biológicas, poluição, crescimento populacional humano e mudanças

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climáticas bruscas, de modo geral seguidas da alteração dos ciclos

biogeoquímicos.

A fauna, a flora e os microorganismos resistem cada vez menos às

pressões humanas. O processo de desaparecimento de indivíduos,

populações e, finalmente, de espécies está bem estabelecido e é

acompanhado por uma desorganização da cadeia alimentar (produtores,

consumidores e decompositores), em que os ecossistemas são atingidos como

um todo porque sua produtividade e estabilidade, até mesmo evolutiva,

dependem da diversidade dos tipos funcionais das espécies que eles abrigam.

Mesmo de um ponto de vista utilitário, passa quase despercebida a

infinidade de bens e serviços fornecidos pelos ecossistemas. Cabe o

questionamento sobre quantas novas moléculas com finalidades farmacêuticas

são perdidas para sempre, quantas novas fibras naturais deixam de ser

pesquisadas e quantas novas espécies deixam de ter o seu papel na natureza

catalogados quando caminhamos num ritimo tão acelerado de extinções.

Essas contribuições “gratuitas” puderam ser estimadas anualmente entre 2,9

trilhões e 38 trilhões de dólares. Para efeito de comparação, o produto interno

bruto (PIB) mundial representa 18 trilhões de dólares.

Alguns exemplos claros do que podemos aprender com a

biodiversidade do planeta encontra-se, por exemplo, nas algas

bioluminescentes, que combinam substâncias para abastecer suas lanternas

orgânicas, ou os peixes e rãs das regiões árticas que congelam-se e tornam a

surgir para a vida depois de terem protegido seus órgãos dos danos causados

pelo gelo, ou os ursos pardos que hibernam durante invernos inteiros sem se

envenenarem com a própria uréia. Esses processos não envolvem o aporte

energético artificial que os nossos processos produtivos atuais costumam se

utilizar, mas são naturais e poderiam nos ajudar em muito a promover um salto

tecnológico sustentável.

A medicina veterinária possui um valor inestimável no auxílio à

proteção da biodiversidade. Seja através do policiamento especializado de

fronteiras e mercados ilegais, coibindo o tráfico de animais, plantas e insetos

de nosso território, seja no trabalho em clínica de animais selvagens e técnicas

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de reprodução animal em centros de reabilitação ou zoológicos, o profissional

da área pode reduzir em muito a perda de material genético destes seres

através da reintrodução de animais em seu habitat ou do auxílio no aumento

populacional de uma determinada espécie.

Ainda, dentro da criação de animais de produção, mudanças simples

como as citadas no problema de degradação de solos, como a implementação

de sistemas agroflorestais e a melhor ocupação das pastagens com aumento

da produtividade por hectare, podem representar um grande ganho na redução

da degradação de ambientes naturais (por desflorestamento ou queimadas)

tão necessários para a manutenção de nossa biodiversidade.

Dentro do âmbito do controle de zoonoses, o profissional da área pode

atuar em campanhas de conscientização, demonstrando que, quanto mais

nossas fronteiras urbanas se aproximam das fronteiras das matas

preservadas, mais as doenças tropicais e zoonóticas afligem a população.

Doenças como a Leishmaniose, a malária, a dengue e etc.

Já dentro da indústria farmacêutica, podem e devem valorizar o

potencial de criação de novas drogas para o tratamento das mais diversas

afecções que podem ser encontradas em plantas, insetos e animais de nossa

biodiversidade.

3.3 – A Crise da Água:

A agricultura consome 80% de toda a água utilizada no mundo,

principalmente nos processos de irrigação, contra 12% da indústria e 8%

destinados ao uso público. A conseqüência direta da super exploração e do

aumento de superfícies agrícolas irrigadas é a baixa dos lençóis freáticos e a

seca dos rios. Para se produzir 1 quilo de trigo são necessários 1.500 litros de

água e para 1 quilo de carne industrializada são gastos cerca de 10 mil litros,

assim, os recursos indispensáveis aos 6,5 bilhões de habitantes do planeta,

que chegarão a 8 bilhões em 2030, são dilapidados aos poucos.

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Fonte: http://static.infoescola.com/wp-content/uploads/2009/08/ciclo-da-agua.jpg

As ameaças de escassez devem motivar uma mudança radical de

comportamentos e práticas, aí compreendidos também os países ricos. As

alterações climáticas, o desaparecimento das zonas úmidas, a poluição

crescente e a má alocação de recursos contribuem para o aparecimento de

desequilíbrios inquietantes. A urbanização galopante e a pavimentação maciça

deixam os solos impermeáveis, provocando jusantes cheias e inundações. As

águas subterrâneas, cujo ritmo de renovação pode exigir dezenas de milhares

de anos, são literalmente tomadas de assalto, em detrimento das

necessidades das gerações futuras.

Torna-se assim imperativo incrementar a produtividade da água,

sobretudo nos países que não dispõem dos meios técnicos e financeiros para

captá-la. Explorar cada gota a fim de extrair dela mais produtos agrícolas,

carne, peixe e leite.

Os sistemas agroflorestais já abordados neste capítulo possuem

imenso potencial de preservação e retenção da água dentro do solo,

alimentando os lençóis freáticos e as bacias hidrográficas. Pequenas

alterações nos sistemas de manejo de animais de produção, como o

cercamento de olhos d’água para evitar o pisoteamento por parte do gado,

evitando o desmatamento das margens de rios para plantação de pastagens e

criando as chamadas praças de alimentação, lugares aonde o gado pode

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encontrar a água e os sais minerais em cochos, ajudam na manutenção da

integridade dos corpos hídricos.

O profissional veterinário pode ainda auxiliar a implantação de

criatórios e de frigoríficos, determinando materiais mais porosos na construção

de pisos e vias, para a absorção da água da chuva pelo solo, e no

aproveitamento da água da chuva para a utilização na limpeza e outras

funções menos nobres, economizando a utilização de água potável para estes

fins. Ainda nesta função, o profissional deverá fiscalizar o tratamento de

efluentes das indústrias de alimentos de origem animal, de modo a reduzir e

evitar a contaminação, ou eutrofização, dos corpos hídricos. Em alguns

estabelecimentos desta natureza, os efluentes carregados de matéria orgânica

são tratados e reutilizados na irrigação de áreas de reflorestamento para a

produção de celulose, retornando parte da água utilizada no processo

produtivo ao solo, juntamente com minerais e matéria orgânica necessários

para a produtividade do mesmo. A água é utilizada em grande quantidade ao

longo de todo o processamento de carcaças em frigoríficos e o profissional

veterinário pode e deve demonstrar a economia nos custos do processo

produtivo com a economia no uso da água potável.

O controle do despejo de efluentes é de grande importância para a

manutenção dos sistemas de esgotamento, evitando que placas de matéria

orgânica ou gordura se fixem nos encanamentos, ocasionando rompimentos e

vazamentos que poderiam resultar na contaminação de corpos hídricos.

Na área da administração de hospitais e clínicas veterinárias, a

captação e utilização da água da chuva para processos como a limpeza de

pisos e irrigação de jardins reduziria em muito o consumo de água dos

estabelecimentos, podendo tornar ainda mais lucrativo o serviço de banho e

tosa de animais de companhia, que demandam uma grande quantidade de

água encanada.

3.4 – As Doenças Ambientais:

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As políticas sanitaristas empreendidas nos países ocidentais quase

eliminaram as doenças infecciosas. Há um século, elas representavam 20%

das causas de mortalidade e hoje são responsáveis por apenas 2% dos

falecimentos.

Mas, apesar da estatística positiva, os países pobres ainda sofrem com

infecções e intoxicações crônicas que dificilmente são tratadas. Na raiz do

problema está a má qualidade da água de bebida. Ela provoca diarréia,

desinteira, cólera, febre tifóide e contaminações por vermes intestinais. A

insalubridade, aliada à imensa quantidade de focos de água parada é propícia

aos insetos que transmitem parasitas extremamente graves, como a doenças

de Chagas, febre amarela, dengue, leishmaniose, febres hemorrágicas e

malária.

A essas ameaças se juntam os poluentes difundidos via alimentos,

solo e ar. Nas cidades, os habitantes respiram óxido de enxofre, partículas

finas de veículos e fábricas e até resíduos de chumbo, eliminados nas cidades

européias. Os aquecimentos sem exaustão correta da fumaça, bem como o

consumo de tabaco favorecem as bronquites crônicas ou enfisemas. A

incidência dessas patologias, assim como de câncer e das doenças

cardiovasculares, está aumentando.

No total, o ambiente infectado ou intoxicado é tido como responsável

por 25% das mortes nos países em desenvolvimento, contra 17% nas nações

industrializadas.

O número de anos de vida saudável perdidos por motivos ambientais é

15 vezes mais elevado nos países pobres do que nos industrializados, onde a

poluição é a maior vilã, principalmente nas cidades. Lá, a asma atinge as

crianças de forma severa e o câncer cresce em todas as faixas etárias. Essa

progressão nãos e deve unicamente ao envelhecimento. Em 35% dos casos,

ela pode ser imputada ao efeito de elementos cancerígenos como o alcatrão, o

amianto e diversas partículas finas que induzem ao aparecimento de câncer de

pulmão; o benzeno e o óxido de etileno são causa de 2% das leucemias; já as

aflotoxinas, toxinas de fungos encontrados em grãos estocados, atingem e

lesionam os rins e o fígado.

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Observa-se também um aumento da obesidade, das doenças auto-

imunes, tais como a esclerose múltipla, das dificuldades em procriar, com a

diminuição acentuada da quantidade e qualidade de espermatozóides, e de

manifestações que podem ser explicadas pelas desordens hormonais

causadas por produtos chamados de perturbadores endócrinos. Essa

categoria reúne uma diversidade de moléculas que entram na composição de

detergentes, plastificantes, solventes ou pesticidas e que são difíceis de

controlar. São substâncias que se acumulam dentro a progressão da cadeia

alimentar no processo denominado de bioacumulação.

Mesmo assim, a indústria química não freou seu crescimento e a cada

ano, 400 milhões de toneladas de produtos químicos entram no mercado. As

contaminações se propagam por todos os meios (rios, mares, sangue humano,

leite materno, etc.), mas também através do planeta. É desse modo que o

povo Inuite do Alasca absorve uma alta taxa de mercúrio com os peixes de que

se alimenta, mercúrio este que não provém de sua região. Esta substância,

derivada de resíduos industriais estimados em 4.500 toneladas por ano, é tão

neurotóxica quanto outros metais pesados, como o arsênico e o cádmio.

Encontramos atualmente, em regiões frias mais próximas aos pólos,

concentrações surpreendentemente altas de produtos químicos tóxicos e

persistentes (com velocidade de biodegradação muito baixa), que são

transportados para estas regiões pelo ar ou pelas águas. Os poluentes

orgânicos persistentes (POPs), são compostos orgânicos representados por

compostos aromáticos, poliaromáticos e alicíclicos clorados. Alguns exemplos

são produtos industriais como os PCBs (bifenilas policloradas, usadas em

transformadores elétricos, equipamentos de resfriamento e materiais de

isolamento), pesticidas como DDT, Lindano e Toxafeno, que nunca foram

utilizados naquelas regiões, e produtos secundários de origem industrial, de

produção não intencional, como as dioxinas e furanos.

Os POPs permanecem por longos períodos de tempo no ambiente

(dez anos ou mais) sem sofrer processos de degradação, e mantendo,

portanto seu potencial tóxico ao homem e ao meio ambiente. São geralmente

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caracterizados pela sua baixa solubilidade em água e alta lipossolubilidade, o

que resulta em bioacumulação nos tecidos gordurosos dos homens e animais.

Fonte:http://www.desconversa.com.br/biologia/wp-

content/uploads/2009/05/bioacumulacao.jpg

O profissional veterinário tem grande responsabilidade no controle de

doenças nos centros urbanos. Dentro do âmbito da clínica de pequenos

animais, ou animais de companhia, o veterinário deve orientar seus clientes de

forma correta acerca da posse responsável de animais, valorizando o bem

estar e a saúde animal, com vacinações importantes e medidas de controle de

natalidade, como as campanhas de castração, de modo a evitar o abandono e

o conseqüente aumento da população urbana de animais. Estas medidas

ajudam a controlar a disseminação de importantes zoonoses como a raiva, a

esporotricose e a leishmaniose e de parasitoses, como o bicho geográfico e as

doenças sanguíneas transmitidas por pulgas e carrapatos.

O controle de efluentes dos frigoríficos e indústrias de alimentos de

origem animal, já mencionados neste capítulo, também ajudam na redução da

contaminação dos corpos hídricos que abastecem os centros urbanos com

eventuais microorganismos patogênicos.

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O médico veterinário deve estar atento ainda para as novas drogas e

sua utilização em larga escala, principalmente os inseticidas, que muitas vezes

não possuem estudos de longo prazo acerca de sua persistência no meio

ambiente e de suas capacidades de bioacumulação ao longo da cadeia

alimentar. Drogas como as mencionadas neste capítulo, devido à grande

capacidade de concentrarem-se no leite materno, são de suma importância na

indústria leiteira, cujo controle higiênico qualitativo e sanitário é atribuição

exclusiva do profissional desta área. Elas possuem importância ainda nos

processos reprodutivos, podendo reduzir a natalidade e a produtividade de

criatórios para a produção de proteína de origem animal.

3.5 – O Aquecimento Global:

Esta questão vem sendo tema prioritário de discussão entre as nações

desde a conferência Rio-92, mas, somente em 1997 o protocolo de Kyoto,

documento que estabeleceu metas de redução dos gases de efeito estufa, foi

assinado pelas nações e somente em 2005 foi ratificado e entrou em vigor.

Considerado o problema essencial da mudança climática que está

ocorrendo no planeta, o aquecimento global se dá pelo aumento dos

chamados gases de feito estufa, entre eles o dióxido de carbono, o metano, o

vapor d’água, entre outros, na atmosfera. O efeito estufa, no entanto, não pode

ser encarado como vilão, pois se não fosse ele, não haveria vida no planeta,

pois a temperatura média seria de 33 graus negativos. O que se afirma é que

esta havendo um aumento excessivo da concentração desses gases na

atmosfera e, portanto, um rápido superaquecimento.

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Fonte: http://www.rudzerhost.com/ambiente/images/efeitoestufa2.gif

Segundo dados recentes, a temperatura média da superfície terrestre

aumentou cerca de 1 grau Celsius desde 1900 até 2005 e os modelos

climáticos que estão sendo construídos e estudados prevêem aumentos nas

temperaturas médias de 2 a 4 graus Célsius de 1990 até 2100. As previsões

climáticas são altamente complexas, mas, de qualquer forma, já existe um

consenso entre os especialistas de que um aumento próximo de 2 graus

Célsius na temperatura média global será suficiente para provocar

conseqüências catastróficas como falta de água potável, comprometimento

irreversível das florestas tropicais, extinção de 15% a 40% das espécies,

desaparecimento das geleiras e conseqüente aumento do nível do mar, o que

em última análise levaria a uma migração em massa e a conflitos bélicos.

Na abordagem de Veiga (2008), O aquecimento global é um exemplo

específico do fenômeno mais amplo denominado mudança do clima. O uso

comum dessa expressão refere-se à elevação da temperatura média da terra

nos últimos 100 anos de algo em torno e 1 grau Célsius. Há inúmeras

indicações de que esse aumento seja devido às atividades humanas,

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principalmente aquelas que envolvem a queima de petróleo e de carvão,

emitindo gases conhecidos como de efeito estufa.

Nas últimas décadas, tem havido um enorme avanço na pesquisa da

ciência do clima, tanto na área da observação, quanto no campo da

modelagem e no tratamento da incerteza, gerando um consenso entre a maior

parte da comunidade científica internacional de que este aumento global da

temperatura no século XX tem como origem as atividades humanas, também

chamadas de antrópicas.

É importante também destacar o papel do Brasil na questão. O país

está entre os grandes emissores de gases de efeito estufa, contudo, sua

contribuição não vem da queima de combustíveis fósseis, como é o caso da

maioria dos outros países. Ela vem do desmatamento e das queimadas.

Apesar de muitos estudiosos do aquecimento global considerarem o

desmatamento da Floresta Amazônica como principal causa das emissões

brasileiras, estas se devem também de forma significativa às queimadas

agropecuárias fora da Amazônia. Em menor grau, mas de forma crescente,

contribuem para as emissões brasileiras a produção de energia elétrica pelo

uso de carvão ou diesel, além dos vários setores mais poluentes como a

construção, indústrias, transportes e etc.

O profissional veterinário possui grande responsabilidade no controle

deste que pode ser o principal problema ambiental que enfrentamos. A criação

de animais em pastagens da forma como ela é feita no Brasil é a responsável

pela principal fonte de emissões de gases de feito estufo do país, uma vez que

estimula a derrubada e a queimada de matas virgens, principalmente nas

regiões da Amazônia e do Cerrado, biomas importantes e ameaçados, onde as

terras ainda possuem baixo valor e estimulam a criação de gado de forma

extensiva e com baixo aproveitamento por hectare. Mudanças no processo

produtivo como as já mencionadas agroflorestas e o rodízio de pastagens são

capazes de aumentar a produtividade das terras já desmatadas. Em conjunto,

as legislações imputem grandes somas de multa a produtores que

desrespeitem suas determinações e o profissional veterinário, principalmente

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quando na função de responsável técnico, deve estar apto a informar e a

direcionar o produtor a se adequar as normas vigentes.

Dentro da área de fiscalização, o profissional veterinário pode atuar em

órgãos governamentais federais, estaduais ou municipais, como o IBAMA, o

ICM-Bio ou o próprio Ministério do Meio ambiente, entre outros, coibindo o

desmatamento e fiscalizando a manutenção das áreas de florestas protegidas,

além de estimular iniciativas particulares de reflorestamento e seqüestro de

carbono.

A criação de mercados como o do boi certificado, ou “boi verde”, são

exemplos de pressões externas dentro de nossos processos produtivos para

os quais o profissional da área deverá estar atento.

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CONCLUSÃO

O planeta Terra passa por grandes questões ambientais que podem

afetar profundamente a forma como a raça humana vive hoje. Estas alterações

são, praticamente todas, fruto da maneira como a espécie humana usufrui dos

recursos naturais, e a manutenção do sistema produtivo tal qual o

concebemos, pode nos levar a extinção em algumas dezenas de anos. Faz-se

necessária a mudança deste paradigma, para que nossos processos

produtivos tornem-se mais sustentáveis e agridam menos o planeta.

A Medicina Veterinária sempre foi uma arte que acompanhou em

paralelo o desenvolvimento da espécie humana. Desde os primórdios, quando

o ser humano domesticou seu primeiro animal com o intuito de auxiliá-lo em

sua sobrevivência, seja para a proteção ou para a alimentação, até os dias

atuais, onde exerce importante papel na produção de alimentos de origem

animal, controle de doenças e proteção da vida animal. Desta forma, não

poderia deixar de exercer importante papel nesta era de mudança e adaptação

da espécie humana a uma nova forma de se relacionar com o planeta Terra.

Dentro do âmbito que a legislação reguladora da profissão de Médico

Veterinário delimita, existem diversas formas de inserção do profissional desta

área dentro da atuação da gestão ambiental. Este é um mercado de trabalho

em franco crescimento, principalmente devido as pressões sociais,

econômicas e políticas, e o médico veterinário possui atribuições que o tornam

um profissional indispensável e responsável por implementar mudanças

importantes de processo produtivo nas mais diversas áreas.

Urge que se desenvolva a qualificação destes profissionais através da

especialização, de modo a auxiliar e acelerar o processo adaptativo dos meios

produtivos que farão a nossa espécie saltar para uma nova era do

desenvolvimento da espécie humana, a era da sustentabilidade.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALMEIDA, Josimar Ribeiro de. Gestão Ambiental para o Desenvolvimento

Sustentável. 1ª edição. Rio de Janeiro: Thex Editora, 2006.

BARBIERI, José Carlos. Gestão Ambiental Empresarial. 2ª edição. São Paulo:

Editora Saraiva, 2010.

BENYUS, Janine M. Biomimética – Inovação Inspirada pela Natureza. 4ª

edição. São Paulo: Editora Cultrix, 2009.

Congresso Nacional. Decreto nº 23.133. Estado da Guanabara-DF, 09 de

setembro de 1933.

Congresso Nacional. Lei 5.517. Brasília-DF, 23 de outubro de 1968.

DIAS, Reinaldo. Gestão Ambiental – Responsabilidade Social e

Sustentabilidade. 1ª edição. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2008

História da Medicina Veterinária. Disponível em: <http://www.drapc.min-

agricultura.pt/base/documentos/historia_medicina_veterinaria.htm>. Acessado

em: 27/09/2010.

Le Monde Diplomatique Brasil. Atlas do Meio Ambiente. Curitiba: 2010, edição

especial.

LOVELOCK, James. A Vingança de Gaia. 1ª edição. São Paulo: Intrínseca,

2006.

PHILIPPI Jr, Arlindo et all. Curso de Gestão Ambiental. 1ª edição. São Paulo:

Manole, 2009.

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Revista Época. Editora Globo. Quanto Vale a Natureza? São Paulo: 20 de

Setembro de 2010, edição 644 (pág. 82).

Síntese da História da Medicina Veterinária. Disponível em:

<http://www.cfmv.org.br/portal/historia.php>. Acessado em: 27/09/2010.

VEIGA, José Eli da. Aquecimento Global – Frias Contendas Científicas. 1ª

edição. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008.

VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento Sustentável, que Bicho é esse? 1ª

edição. São Paulo: Autores Associados, 2008.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 07

SUMÁRIO 09

INTRODUÇÃO 11

CAPÍTULO I

A MEDICINA VETERINÁRIA 13

1.1 – Origens Históricas no Mundo 13

1.2 – Origens Históricas no Brasil 17

1.3 – A Veterinária na Atualidade 19

CAPÍTULO II

A GESTÃO AMBIENTAL 21

CAPÍTULO III

AS PRINCIPAIS QUESTÕES AMBIENTAIS E

A MEDICINA VETERINÁRIA 27

3.1 – A Degradação dos Solos 27

3.2 – Perda da Biodiversidade 29

3.3 – Crise da Água 31

3.4 – Doenças Ambientais 34

3.5 – O Aquecimento Global 37

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ÍNDICE 44

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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