UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais...

59
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A LUDICIDADE PSICOMOTORA COM ALUNOS DE 8 A 10 ANOS DO 2° CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA MUNICIPAL VERA LUCIA MACHADO Por: Rosane de Azeredo Cunha Siqueira Orientador Prof. Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2005

Transcript of UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais...

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A LUDICIDADE PSICOMOTORA COM ALUNOS DE 8 A 10 ANOS

DO 2° CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA

MUNICIPAL VERA LUCIA MACHADO

Por: Rosane de Azeredo Cunha Siqueira

Orientador

Prof. Fabiane Muniz

Rio de Janeiro

2005

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

A LUDICIDADE PSICOMOTORA COM ALUNOS DE 8 A 10 ANOS

DO 2° CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA

MUNICIPAL VERA LÚCIA MACHADO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Psicomotricidade.

Por: Rosane de Azeredo Cunha Siqueira.

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

3

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, Senhor e

criador de todas as coisas, aos meus

queridos pais, irmãos, amigos e

parentes e ao meu grande amor

Rodrigo que muito incentivaram para

que este trabalho pudesse ter sido

realizado.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os

professores, que embora cansados da

falta de apoio, vêem ainda na Educação a

possibilidade de mudar o mundo.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

5

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo mostrar como a ludicidade é

significativa dentro do processo de desenvolvimento e ensino-aprendizagem.

Acreditando que a escola possui um papel fundamental no

desenvolvimento da criança, procuramos mostrar como os jogos e brincadeiras

estimulam a aprendizagem quando bem orientados e pautados em objetivos

claros.

Perpassando pela visão do que é desenvolvimento e aprendizagem

segundo Piaget, Wallon, Vigotsky, Winnicott e Vitor da Fonseca, procuramos

mostrar que a necessidade de se organizar um trabalho psicomotor não é só

desejo puramente de psicomotricistas, mas a busca por um trabalho que

envolva o aluno como um todo, é também procurado por outros especialistas.

Tentando mostrar que o trabalho é possível de ser realizado,

envolvemo-nos num trabalho de pesquisa junto a Escola Municipal Vera Lúcia

Machado.

Através do esforço comunitário de um grupo de professores

responsáveis por alunos na faixa etária de 8 a 10 anos, iniciamos um trabalho

psicomotor que, poderá ser tão somente, um ponta pé inicial para o trabalho de

futuros profissionais da área educacional.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

6

METODOLOGIA

Trabalhando há dois anos junto a alunos de escola pública do Município

de Niterói, pudemos perceber, que em muitos casos a maioria das tarefas

escolares exigia que o aluno ficasse sentado, parado, com muita atenção em

uma única direção. Nas relações, vividas em sala de aula, costumava-se

observar a hostilidade da criança em relação ao professor; tanto pela falta de

êxito da criança, pela severidade do mesmo.

Começamos a perceber que apesar de muitos trabalhos individuais,

para o desenvolvimento da aprendizagem, poucos eram bem sucedidos, ou

tornavam-se sucessos isolados.

Observando o trabalho da Oficina Lúdica, realizado uma vez por mês na

Escola Municipal Vera Lúcia Machado, idealizado pela diretora junto ao corpo

docente, pudemos perceber que o mesmo dava frutos em sala de aula, mesmo

que ainda muito tímidos.

Levamos também em consideração o trabalho realizado por uma das

professoras do 4° Ano do Ensino Fundamental (3ª série), formada em

Psicomotricidade, que isoladamente já realizava um trabalho nesse sentido e

encontrou êxito na metodologia aplicada.

Era preciso então demonstrar, em forma de pesquisa, que esse trabalho

poderia ser integrado ao dia a dia da sala de aula.

Contando com a parceria de mais três professores, começamos a

desenvolver um trabalho junto às turmas do 4° Ano, com faixa etária de 8 a 10

anos.

A pesquisa teve como base bibliográfica, Piaget, Vitor da Fonseca, Le

Boulch, Wallon, Winnicott, e Vigotsky. Contamos com o apoio da direção da

escola que permitiu que o trabalho pudesse ter sido realizado e nos forneceu

os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo.

Agradecemos as professoras Ramona Vieira, Kelly Reis e a supervisora

educacional Aliane, que foram precursoras do trabalho psicomotor dentro de

nossa escola.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................9

CAPÍTULO I –A Escola como estimuladora do desenvolvimento da

aprendizagem....................................................................................................11

CAPITULO II - O desenvolvimento da aprendizagem e a

psicomotricidade................................................................................................16

CAPÍTULO III – Jogos no desenvolvimento da sociabilidade............................31

CAPÍTULO IV – A importância da Psicomotricidade no processo de

aprendizagem....................................................................................................37

CAPÍTULO V – A ludicidade psicomotora com alunos de 8 a 10 anos do 2°

Ciclo do Ensino Fundamental da Escola Municipal Vera Lúcia

Machado ...........................................................................................................43

CONCLUSÃO....................................................................................................53

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................55

ANEXOS............................................................................................................56

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

8

ÍNDICE INTRODUÇÃO.....................................................................................................9

CAPÍTULO I –A Escola como estimuladora do desenvolvimento da

aprendizagem....................................................................................................11

I.I O Papel do Educador..........................................................................13

CAPITULO II - O desenvolvimento da aprendizagem e a

psicomotricidade................................................................................................16

II.I – Piaget, Vigotsky, Fonseca e Wallon Aprendizagem e

Desenvolvimento...............................................................................................18

II.II – Estágio das Operações Concretas................................................20

CAPÍTULO III – Jogos no desenvolvimento da sociabilidade............................31

CAPÍTULO IV – A importância da Psicomotricidade no processo de

aprendizagem....................................................................................................37

IV. I – Áreas Psicomotoras......................................................................38

CAPÍTULO V – A ludicidade psicomotora com alunos de 8 a 10 anos do 2°

Ciclo do Ensino Fundamental da Escola Municipal Vera Lúcia

Machado ...........................................................................................................43

V.I – Um breve histórico..........................................................................43

V.II – O trabalho......................................................................................45

V.III – Avaliação......................................................................................49

CONCLUSÃO....................................................................................................53

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................55

ANEXOS............................................................................................................56

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

9

INTRODUÇÃO

É indiscutível que, no dia-a-dia, em sala de aula, depara-se com

situações diversas e muitas vezes não se tem conhecimentos suficientes para

lidar com elas. Pode-se observar crianças que apresentam dificuldades para se

entrosar com o restante da turma, não participam das atividades propostas,

deixando de trocar experiências importantes para o seu desenvolvimento.

A necessidade de um trabalho específico que vise enriquecer e

aprimorar o desenvolvimento social da criança faz-se primordial ao

aprendizado do seu dia-a-dia. Atividades que envolvem a criança e sua cultura,

assumindo especificidade de acordo com o grupo social o qual ela pertence,

proporcionando o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da

concentração e da atenção, auxiliam a criança a entender a necessidade de

cumprir regras pré-estabelecidas e saber enfrentar situações, problemas e

desafios, encontrando soluções e alternativas até tingir os objetivos propostos.

Propomos que as atividades psicomotoras direcionadas aos alunos

devem ser cuidadosamente planejadas e com caráter desafiador, sem deixar

sumir a descontração. Os jogos conhecidos devem ser aproveitados, embora o

momento seja de inovar para que a aula tenha o ar descontraído que incentiva

o aprendizado.

Sendo assim o presente trabalho pretende mostrar como é de

fundamental importância entender as atitudes e reações das crianças,

detectando problemas e procurando compreender as ações próprias de uma

determinada faixa etária, considerando sua condição sócio-econômica, o

ambiente em que vive e as pessoas com quem convivem, através de atividades

psicomotoras realizadas com crianças de 8 a 10 anos do 2° Ciclo de Ensino

Fundamental na Escola Municipal Vera Lúcia Machado.

Colocamos ainda que a finalidade do trabalho não é mostrar a auto

suficiência do professor regente de turma, como se o mesmo não necessitasse

de parceiros importantes para o trabalho de desenvolvimento psicomotor. O

professor de Educação Física seria um bom exemplo, pois o mesmo trabalha

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

10com atividades motoras importantes que sinalizam a relevância da parceria

desse e de outros profissionais para o sucesso do trabalho.

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

11

CAPÍTULO I

A Escola como estimuladora do desenvolvimento da

aprendizagem

O período de aprendizagem pelo qual a criança passa no período

escolar é de extrema importância na construção dos alicerces de sua

afetividade, socialização e inteligência, conseqüentemente, em seu

desenvolvimento integral e harmonioso.

Para que a escola possa cumprir este papel, é necessário conhecer

mais de perto o aluno com o qual trabalha de forma a organizar um ambiente

que atenda as necessidades das crianças nas diversas etapas de sua vida.

Relacionando-se com outras crianças e também os adultos, os alunos

experimentam as duas espécies de sentimentos: simpatias e antipatias.

A simpatia existe quando as pessoas se valorizam mutuamente ou

quando possuem valores comuns. Para que haja simpatia é necessário que

exista um mínimo de equilíbrio ou enriquecimento mútuo. A antipatia é gerada

quando as trocas afetivas não proporcionam enriquecimento mútuo.

Geralmente as crianças que possuem interesses comuns costumam

brincar mais tempo juntas, experimentando sentimentos de cooperativismo,

compreensão e simpatias.

O desenvolvimento da criança ocorre de forma integrada, em relação a

si mesmo e ao meio ambiente. Seu desenvolvimento e aprendizagem não se

dão aos pulos. Ele é contínuo, ora mais rápido, ora mais lento.

A escola deve estar atenta ao comportamento social do aluno, que

reflete seus pais, parentes e outros adultos com o qual ela convive. O

ambiente escolar deve incentivar aos poucos atividades que conduzam ao

amadurecimento na área social e cognitiva e o equilíbrio afetivo conduzindo a

criança a conquistar sua autonomia moral.

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

12Para Piaget a finalidade moral é contribuir para a formação de

personalidades autônomas que por sua vez, permitam o florescimento de

atitudes e sentimentos de cooperação entre crianças.

Sendo assim os jogos cooperativos tem grande valor nesse momento

para a formação da criança, pois são jogos em que os participantes jogam uns

com os outros, em vez de uns contra os outros.

São jogos para compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para

assumir riscos. Eles reforçam a confiança mútua e todos podem participar

autenticamente.

Os jogos cooperativos buscam a participação de todos, sem que alguém

fique excluído, jogos em que o objetivo é a diversão, estão centrados em metas

coletivas e não em metas individuais.

Os jogos e as brincadeiras em conjunto proporcionam o

desenvolvimento social das crianças e contribuem para a formação de

sentimentos e atitudes de cooperação e respeito.

É brincando que a criança vai, pouco a pouco, tomando contato com a

realidade; na brincadeira ela oscila entre o real e o simbólico e tenta descobrir

sua própria identidade e a dos outros; a brincadeira faz parte do processo de

desenvolvimento da criança, ela proporciona um mundo encantado de

informações que não deve ser ignorado pela escola.

“O objetivo central da educação pelo movimento é contribuir ao desenvolvimento psicomotor da criança, de quem depende, ao mesmo tempo, a evolução de sua personalidade e o sucesso escolar”.(Le Boulch, 1988 p.15).

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

13

I.I Papel do educador

“Durante muito tempo confundiu-se ‘ensinar’ com ‘transmitir’ e, nesse contexto, o aluno era um agente passivo da aprendizagem e o professor um transmissor não necessariamente presente na vida do aluno. Acreditava-se que toda aprendizagem ocorria pela repetição e que os alunos que não aprendiam eram responsáveis por essa deficiência e, portanto merecedores do castigo da reprovação(...) e sabe-se que não existe ensino sem que ocorra a aprendizagem, e esta não acontece senão pela ação facilitadora do professor.” (Antunes, 1998, p.36)

É importante que o professor conheça bem os seus alunos para que

possa avaliar e escolher os jogos que melhor atendem as expectativas e

necessidades dos mesmos.

Quando o professor é capaz de detectar os problemas de uma turma e

criar formas para solucioná-los ele pode recorrer a atividades psicomotoras que

tornarão as aulas mais dinâmicas e prazerosas. Para tanto há uma variedade

de jogos com classificações diferentes que atendem a cada faixa etária, a cada

necessidade encontrada.

O jogo deve ser adequado à criança, considerada como indivíduo

especial e diferenciado, deve atender à etapa de desenvolvimento em que ela

se encontra e as suas necessidades emocionais, sócio culturais, físicas e

intelectuais, devendo estimular a criatividade. Deve-se tomar cuidado com os

jogos quando muito dirigidos sem oferta de alternativas para não se tornar uma

simples tarefa a ser cumprida.

Cabe ao educador definir jogos ou brincadeiras que estimulem a

imaginação, desenvolver jogos que tenham força socializadora para ajudar no

processo de interação. Esses jogos devem ter o objetivo de explorar a

ludicidade e favorecer a aquisição de condutas cognitivas.

Sabe-se que as brincadeiras podem ajudar a ensinar conteúdos e que

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

14atividades simples e lúdicas, nas aulas, levam a criança a perceber e explorar o

espaço em que está e a criar formas de representá-lo.

Os jogos e brincadeiras quando bem elaborados e orientados podem

ajudar o professor a desenvolver conteúdos. As atividades lúdicas, além de

tornarem a aprendizagem mais interessante permitem, ao professor, atingir

objetivos mais amplos como a sociabilização e o desenvolvimento do senso de

observação, além de estimular as atividades físicas e mentais necessárias para

a criança aprender.

O professor deve estar atento para o conhecimento prévio da criança. É

necessário conhecer o pensamento do aluno levando em consideração o seu

desenvolvimento cognitivo.

Verificar o que a criança já sabe e como ela raciocina a fim de ser capaz

de sugerir atividades e fazer perguntas no momento certo para que a criança

possa desenvolver o seu próprio conhecimento. O que as crianças dizem e

fazem pode contar muito ao professor a respeito de seu pensamento e de sua

inteligência. O que não fazem ou não conseguem fazer também pode contar

muito a respeito de suas capacidades.

O professor deve ser criador das situações de aprendizagem quando a

criança utiliza objetos sociais do conhecimento. Deve, ainda ser questionador,

conhecer como se encaminha o desenvolvimento da criança, quais as etapas

evolutivas e de que forma se executa o seu pensamento. As situações que

estimulam o desenvolvimento são aquelas em que as crianças têm a

oportunidade de exercer ações ativas sobre os objetos de que dispõe no

ambiente escolar. Portanto é preciso interrogar a criança no momento oportuno

para poder seguir os caminhos do seu pensamento.

O processo de ensino e aprendizagem baseado nos estudos de Jean

Piaget, Vygotsky entre outros, não se apresentam de forma direta, por

estímulos e respostas e sim através de hipóteses conceituais formuladas e

reformuladas através de confrontos e conflitos vivenciados pela própria criança.

O professor desempenha um papel fundamental na proposta de

desenvolvimento do aluno, cabendo-lhe a responsabilidade de criar situações

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

15férteis em conflitos, suscitando a construção da aprendizagem através da

superação de situações problemas.

O professor como agente facilitador da aprendizagem do aluno, deve

constantemente refletir sobre sua ação pedagógica e assumir uma postura

crítica diante do contexto social.

Enfim, o professor deve fazer parte do processo educativo, mediando,

sugerindo, organizando, motivando a cooperação, a iniciativa, a autonomia,

propondo situações e servindo de alavanca no processo de construção das

descobertas, fazendo o ambiente escolar estimulante para que fortaleça a

interação do aluno com o mundo em que vive, utilizando atividades que reflitam

as características de um processo dinâmico, indispensável à construção das

estruturas cognitivas. Além de ser questionador e conhecedor de como se

encaminha o desenvolvimento da criança.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

16

CAPÍTULO II

O desenvolvimento da aprendizagem e a psicomotricidade

Podemos dizer que a Aprendizagem é as mudanças sistemáticas do

comportamento ou da conduta, que se realiza através da experiência da

repetição de fatores internos e externos, ou seja, de condições

neuropsicológicas e ambientais.

Toda aprendizagem depende da maturação (condições orgânicos e

psicológicas) e das condições ambientais (cultura, classe social, etc.).

Pessoas preocupadas com a saúde e educação da criança e que

desejam compreendê-la, necessitam acompanhar o seu desenvolvimento,

aprender "ver e ouvir", enxergar a criança com suas necessidades, sentimentos

e capacidades. Se percebermos a criança como ela é, evidentemente a

compreenderemos, porém esta tarefa não é tão fácil como imaginamos. Isto

exige de nós, conhecimentos, sensibilidade e flexibilidade. Cada criança

apresenta um estilo e um ritmo próprio de evolução e, além disso, é preciso

considerar também o meio ambiente (social, econômico, cultural, etc), no qual

ela está inserida. É através da aprendizagem que o homem desenvolve os

comportamentos que o possibilita viver. Atualmente estudiosos afirmam que

este processo se inicia mesmo antes do nascimento.

É oportuno lembrar que; se a criança não está madura para executar

uma determinada atividade, não poderá aprendê-la, pois não disporá de

condições para a sua realização.

O Desenvolvimento do conhecimento é um processo espontâneo, ligado

ao processo global da embriogênese. A embriogênese diz respeito ao

desenvolvimento do corpo, mas também ao desenvolvimento do sistema

nervoso e ao desenvolvimento das funções mentais. No caso do

desenvolvimento do conhecimento nas crianças, a embriogênese só termina na

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

17vida adulta. É um processo de desenvolvimento total que devemos re-situar no

contexto geral biológico e psicológico. Em outras palavras, o desenvolvimento

é um processo que se relaciona com a totalidade de estruturas do

conhecimento.

A aprendizagem apresenta o caso oposto. Em geral, a aprendizagem é

provocada por situações - provocada por um experimentador psicológico; ou

por um professor, com referência a algum ponto didático; ou por uma situação

externa. Ela é provocada, em geral, como oposta ao que é espontâneo. Além

disso, é um processo limitado a um problema simples ou uma estrutura

simples.

O desenvolvimento explica a aprendizagem, e esta opinião é contrária à

opinião amplamente sustentada de que o desenvolvimento é uma soma de

unidades de experiências de aprendizagem. Para alguns psicólogos o

desenvolvimento é reduzido a uma série de itens específicos aprendidos, e

então o desenvolvimento seria a soma, a acumulação dessa série de itens

específicos. Na realidade, o desenvolvimento é o processo essencial e cada

elemento da aprendizagem ocorre como uma função do desenvolvimento total,

em lugar de ser um elemento que explica o desenvolvimento.

"O aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer”.(Vigotsky, 1987, p.101).

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

18

II.I – Piaget, Vigotsky, Fonseca e Wallon Aprendizagem e

Desenvolvimento.

Para Piaget a criança é concebida como um ser dinâmico, que a todo o

momento interage com a realidade, operando ativamente com objetos e

pessoas.

Essa interação com o ambiente faz com que construa estruturas mentais

e adquira maneiras de fazê-las funcionar. O eixo central, portanto, é a interação

organismo-meio e essa interação acontece através de dois processos

simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio, funções exercidas

pelo organismo ao longo da vida.

A adaptação, definida por Piaget, como o próprio desenvolvimento da

inteligência, ocorre através da assimilação e acomodação. Os esquemas de

assimilação vão se modificando, configurando os estágios de desenvolvimento.

PIAGET, J. (1982) entende que a aprendizagem só se verificará se a

criança se transformar em face de uma situação. Nas aprendizagens escolares

a transformação assenta em aprendizagens anteriores, já conseguidas e

conservadas, a partir das quais se introduzirá novos elementos e variáveis que

permitirão novas adaptações (aprendizagens).

Na aprendizagem da leitura e do cálculo, só há aprendizagem

(acomodação) quando a criança percepcionar (assimilar) os pormenores e

atributos dos símbolos.

A aprendizagem, para PIAGET, J. (1973b, p.56), “... é assim uma

aquisição humana que resulta da organização de um aspecto interior

(assimilação - percepção) com um aspecto exterior (acomodação - movimento

– aprendizagem)”.

FONSECA, V. e MENDES, N. (1988, p.55) salientam que: “toda a

aprendizagem humana em Piaget supõe um sistema de implicações e

significações solidárias que permitirão à inteligência a adaptação concreta

ao meio”. As implicações e significações são categorias de tempo, espaço,

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

19causalidade, de substância, de ordem de conservação, de número, etc. Há

uma dependência recíproca do pensamento e da sua organização, da

assimilação e da acomodação, da percepção e da aprendizagem.

A este respeito PIAGET, J. (1973 p.35) diz que:

“Os dois aspectos do pensamento (assimilação e acomodação) são indissociáveis e, se é adaptando-se as coisa que o pensamento se organiza, é organizando-se que ele estrutura as coisas”.

Considera, ainda, que o processo de desenvolvimento é influenciado

por fatores como: maturação (crescimento biológico dos órgãos), exercitação

(funcionamento dos esquemas e órgãos que implica na formação de hábitos),

aprendizagem social (aquisição de valores, linguagem, costumes e padrões

culturais e sociais) e equilibração (processo de auto regulação interna do

organismo, que se constitui na busca sucessiva de reequilíbrio após cada

desequilíbrio sofrido). Para Piaget os estágios e períodos do desenvolvimento

caracterizam as diferentes maneiras do indivíduo interagir com a realidade, ou

seja, de organizar seus conhecimentos visando sua adaptação, constituindo-se

na modificação progressiva dos esquemas de assimilação.

Os estágios evoluem como uma espiral, de modo que cada estágio

engloba o anterior e o amplia. Piaget não define idades rígidas para os

estágios, mas sim que estes se apresentam em uma seqüência constante.

Com crianças no estágio operacional concreto, para onde se direciona

nossos estudos, as atividades de aprendizado devem envolver problemas de

classificação, ordenação, localização e conservação, utilizando-se objetos

concretos.

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

20

II.II - Estágio das operações concretas

Este estágio ocorre mais ou menos dos 7 aos 11 anos: a criança já

possui uma organização mental integrada, os sistemas de ação reúnem-se em

todos integrados. Piaget fala em operações de pensamento ao invés de ações.

É capaz de ver a totalidade de diferentes ângulos. Conclui e consolida as

conservações do número, da substância e do peso. Apesar de ainda trabalhar

com objetos, agora representados, sua flexibilidade de pensamento permite

um sem número de aprendizagens.

Durante este período, as deficiências do período anterior são, em grande

parte superadas. A criança adquire o conceito de conservação ou o princípio de

invariância.

A quantidade de água em vidros diferente não muda simplesmente

porque a forma mudou. Se pegar uma mesma massa e transformá-la ora numa

bola, ora numa salsicha, a quantidade não varia, simplesmente por ter mudado

a forma. Além disso, a criança adquire o conceito de reversibilidade: no

pensamento, as idéias podem ser retomadas, a situação original pode ser

restaurada, as coisas transformadas podem voltar às suas origens. A criança

tem mais capacidade de descontração, buscando as identidades e diferenças,

além do percebido.

Derivado desta capacidade, a criança pode classificar objetos sob

um aspecto e desclassificá-lo sobre um outro (em um aspecto pertence a um

conjunto, num outro aspecto pertence a outro grupo) Possui capacidade de

ordenar os objetos tendo em vista uma qualidade padrão (ordenar varas de

tamanhos diversos). Isto se dá porque consegue estabelecer relações.

Estabelecer relação, classificando e seriando, faz com que o indivíduo deduza

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

21das ações percebidas, operações implícitas, porém estas operações são feitas

tendo em vista objetos concretos.

A simples verbalização para expressar relações não são compreendidas

nesta fase. O mesmo processo se dá em relação à percepção espacial-

temporal, isto é, todas as características de flexibilidade (reversibilidades) e

constância de elementos aparecem na percepção de causa e efeito.Igualmente

na avaliação (julgamento ético e estético) todas as características citadas acima

entram no processo.

A inteligência é a resultante dialética da experiência motora assimilada. É

uma criação de adaptações, que visa estabelecer um progressivo equilíbrio

entre o mundo e a criança. As investigações de JEAN PIAGET têm uma grande

importância para o estudo da motricidade, já que as ações motoras têm um

papel importante e fundamental no acesso ao conhecimento. PIAGET, J. (1982)

salienta que a motricidade intervém em diferentes níveis no desenvolvimento

das funções cognitivas.

...a inteligência « é a resultante (e o resultado) da experiência do indivíduo; é através da experiência (como - ação - e – movimento) que o indivíduo simultaneamente incorpora o mundo exterior e o vai transformando». Num primeiro momento há a assimilação do mundo exterior e numa segunda fase, a acomodação no mundo exterior. O indivíduo transforma-se e transforma o mundo. PIAGET in FONSECA, V. e MENDES, N. (1988, p.43).

Segundo PIAGET, J. (id.), é na motricidade que assentam os

mecanismos cognitivos e esta é o meio facilitador da expressão verbal e não

verbal.

A motricidade no seu aspecto operacional pode constituir a unidade

fundamental da ação e da inteligência. A ação não deve ser entendida como

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

22uma sucessão de movimentos lineares e mecanicamente ligados, mas como

uma relação entre meio e fim. Esta sucessão de movimentos orienta-se para a

satisfação das necessidades.A inteligência tem a sua origem na ação e a ação

é movimento. A ação é inteligência em movimento.

As concepções de VIGOTSKY sobre Aprendizagem remetem às

relações entre pensamento e linguagem, à questão cultural no processo de

construção de significados pelos indivíduos, ao processo de internalização e ao

papel da escola na transmissão de conhecimento, que é de natureza diferente

daqueles aprendidos na vida cotidiana. Propõem uma visão de formação das

funções psíquicas superiores como internalização mediada pela cultura.

As concepções de VIGOTSKY sobre Desenvolvimento colocam que o

cérebro é a base biológica, e suas peculiaridades definem limites e

possibilidades para o desenvolvimento humano. Essas concepções

fundamentam sua idéia de que as funções psicológicas superiores (por ex.

linguagem, memória) são construídas ao longo da história social do homem,

em sua relação com o mundo. Desse modo, as funções psicológicas superiores

referem-se a processos voluntários, ações conscientes, mecanismos

intencionais e dependem de processos de aprendizagem.

Existem, pelo menos dois níveis de desenvolvimento identificados por

Vygotsky: um real, já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é

capaz de fazer por si própria, e um potencial, ou seja, a capacidade de

aprender com outra pessoa.

A aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo

abertura nas zonas de desenvolvimento proximal (distância entre aquilo que

a criança faz sozinha e o que ela é capaz de fazer com a intervenção de um

adulto; potencialidade para aprender, que não é a mesma para todas as

pessoas; ou seja, distância entre o nível de desenvolvimento real e o

potencial) nas quais as interações sociais são centrais, estando então, ambos

os processos, aprendizagem e desenvolvimento, inter-relacionados; assim, um

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

23conceito que se pretenda trabalhar, como por exemplo, em matemática, requer

sempre um grau de experiência anterior para a criança.

O desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de

internalização da interação social com materiais fornecidos pela cultura, sendo

que o processo se constrói de fora para dentro. Para Vygotsky, a atividade do

sujeito refere-se ao domínio dos instrumentos de mediação, inclusive sua

transformação por uma atividade mental. Para ele, o sujeito não é apenas

ativo, mas interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir de

relações intra e interpessoais.

É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão

internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a

formação de conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo

que caminha do plano social - relações interpessoais - para o plano individual

interno - relações intrapessoais. Assim, a escola é o lugar onde a intervenção

pedagógica intencional desencadeia o processo ensino-aprendizagem.

O professor tem o papel explícito de interferir no processo,

diferentemente de situações informais nas quais a criança aprende por imersão

em um ambiente cultural. Portanto, é papel do docente provocar avanços nos

alunos e isso se torna possível com sua interferência na zona proximal.

Vemos ainda como fator relevante para a educação, decorrente das

interpretações das teorias de Vygotsky, a importância da atuação dos outros

membros do grupo social na mediação entre a cultura e o indivíduo, pois uma

intervenção deliberada desses membros da cultura, nessa perspectiva, é

essencial no processo de desenvolvimento. Isso nos mostra os processos

pedagógicos como intencionais, deliberados, sendo o objeto dessa

intervenção: a construção de conceitos.

O aluno não é tão somente o sujeito da aprendizagem, mas, aquele

que aprende junto ao outro o que o seu grupo social produz, tal como:

valores, linguagem e o próprio conhecimento.

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

24A formação de conceitos espontâneos ou cotidianos desenvolvidos

no decorrer das interações sociais diferencia-se dos conceitos científicos

adquiridos pelo ensino, parte de um sistema organizado de conhecimentos.

Enquanto Piaget não aceita em suas provas "ajudas externas", por

considerá-las inviáveis para detectar e possibilitar a evolução mental do sujeito,

Vygotsky não só as aceita, como as considera fundamentais para o processo

evolutivo.

Se em Piaget deve-se levar em conta o desenvolvimento como um limite

para adequar o tipo de conteúdo de ensino a um nível evolutivo do aluno, em

Vygotsky o que tem que ser estabelecido é uma seqüência que permita o

progresso de forma adequada, impulsionando ao longo de novas aquisições,

sem esperar a maduração "mecânica" e com isso evitando que possa

pressupor dificuldades para prosperar por não gerar um desequilíbrio

adequado. É desta concepção que Vygotsky afirma que a aprendizagem vai à

frente do desenvolvimento.

O educador, por sua vez, deve ter a clareza de alimentar apenas os

interesses que sirvam de fato para seu desenvolvimento intelectual. Por isso é

que: “Do ponto de vista moral e racional, o professor deve ser um colaborador

e não um mestre autoritário” (PIAGET, 1965, P. 104).

Para FONSECA, V. (1984), a aprendizagem no ser humano é a

conseqüência de duas heranças: a herança sócio – cultural, onde entram os

aspectos antropológicos e necessariamente a linguagem; e a herança

biológica, onde entram os comportamentos programados pelo genótipo e que

decorrem do desenvolvimento ontogênico.

Segundo FONSECA, V. (1984, p.145) “a aprendizagem visa uma

adaptação a situações novas, inéditas, imprevisíveis, isto é, uma

disponibilidade adaptativa a situações futuras”.

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

25A aprendizagem deve ser, portanto, encarada como uma ação

educativa, cuja finalidade é desenvolver no ser humano capacidades que lhe

permitam a integração no meio em que vive (humano e físico), utilizando as

estruturas sensório –motoras, cognitivas, afetivas e lingüísticas.

O ser humano possui estruturas neurológicas sobrepostas sobre outras

estruturas mais básicas. Estas estruturas permitem o simbolismo, a linguagem,

etc. Desde o nascimento que o ser humano traz essas estruturas, implicadas

no comportamento e são elas, que permitem o aparecimento da linguagem.

O desenvolvimento do ser humano quer no aspecto neurológico, quer

motor, realiza-se no mundo «sócio-cultural», num meio ao qual o sujeito tem

que se adaptar e apropriar-se da experiência sócio-histórica.

Para FONSECA, citando PÉREZ, L. ( 1994, p.55, trad.), “a ontogênese

da motricidade começa com o que denomina a primeira dimensão

maturativa ou inteligência Neuro - motora ...”. Esta primeira dimensão é

composta por comportamentos inatos e organização “tónico-emocional”. À

inteligência neuromotora, segue-se à inteligência Sensório - motora. Esta fase

vai dos 2 aos 6 anos e nela se incluem atividades motoras de locomoção,

preensão e suspensão.

A fase seguinte foi denominada de inteligência Perceptivo - motora. Está

relacionada com a noção de corpo, lateralidade, orientação no espaço e no

tempo.

Por último, Fonseca, V. (1984) fala na inteligência Psicomotora, que

integra as anteriores e permite a ação no mundo.

Para Vítor da Fonseca, "Psicomotricidade é a evolução das relações

recíprocas, incessantes e permanentes dos fatores neurofisiológicos,

psicológicos e sociais que intervêm na integração, elaboração e realização do

movimento humano". Existem outros teóricos da área, Nelson Mendes, Le

Boulch, Pierre Vayer, Ajuriaguerra, Paul Shilder e Piaget, que falam da

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

26importância do desenvolvimento motor como precursor de todas as demais

áreas.

Na escola recebemos crianças de um a sete anos de idade – cada vez

maior o número de hipotônicas (relaxamento exagerado da musculatura),

descoordenadas (desajeitadas), arrítmicas (não conseguem um ajuste entre o

ritmo interno e o externo), com andar de "periquito" (andar na ponta dos pés),

dificuldade verbal (fala infantilizada, troca de letras, afásicas, omissões de

letras etc.), dificuldade de orientação espaço-temporal, de percepção visual, de

esquema corporal e de lateralidade.

Segundo FONSECA, V. (ibid. p.9) “ Motricidade sem cognitividade é

possível, mas cognitividade sem motricidade não o é”. O desenvolvimento

da motricidade contribui para o desenvolvimento intelectual do ser humano.

Este autor constatou que os distúrbios no desenvolvimento motor

comprometem o desenvolvimento da linguagem e da cognitividade.

FONSECA, V. (id.) entende a motricidade como uma ação, como uma

conduta relativa a um sujeito histórico.

É a motricidade que prolonga a idéia e a materializa. A motricidade é o

meio, pelo qual a inteligência humana se desenvolve, se materializa, se

constrói e se edifica.

Toda a motricidade tem como objetivo a obtenção de um fim, de um

resultado, de um efeito, tornando-se numa práxis.

Fonseca considera a motricidade como psicomotricidade e meta

motricidade. Esta motricidade não se fica só pelo plano motor, mas vai muito

mais além.

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

27"O aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer”.(Vigotsky, 1987, p.101).

Todas as obras de WALLON assinalam a importância da motricidade na

emergência da consciência, onde a reciprocidade entre os aspectos cinéticos e

tônicos da motricidade são salientados, assim como as interações entre as

atitudes, os movimentos, a sensibilidade e a acomodação perceptiva e mental

no decurso do desenvolvimento humano.

Segundo WALLON, H (1966, p.27), “... entre o indivíduo e o seu meio há

uma unidade indissolúvel”. O indivíduo não se pode separar do meio. O meio é

para o homem uma necessidade orgânica e é essa necessidade orgânica que

vai determinar o seu desenvolvimento, portanto a sua inteligência. A este

respeito e de acordo com os autores já citados o desenvolvimento biológico (a

sua maturação nervosa e psicomotora), e o desenvolvimento social, (a

apropriação da experiência social) são condições um do outro.

Os primeiros gestos úteis são os de expressão, desenvolvidos na

criança para tomar os objetos que são indispensáveis ao seu bem estar. A esta

expressão motora encontra-se ligada à esfera afetiva, por ser o escape das

emoções vividas. A expressão emotiva é, para WALLON, H. (1979), o elemento

da formulação da consciência.

WALLON, H. (1966) destaca o papel que os comportamentos motores

têm na evolução psicológica do ser humano. Este autor defende que a

motricidade desempenha um papel importante na elaboração das funções

psicológicas dos primeiros anos de vida. Depois acompanha e sustém os

processos mentais.

WALLON, H. (id.) ao analisar a motricidade, determinou a existência de

dois aspectos: o tônico ou plástico (nível de contratibilidade ou relaxamento da

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

28musculatura) e o clônico ou cinético (alongamento ou encurtamento dos

músculos). Estes dois aspectos complementam-se.

O aspecto tônico tem um papel fundamental no desenvolvimento da

criança. Ele está relacionado, tanto com as atitudes e posturas perceptivas,

como com as motoras.

O tônico põe em relação motricidade, percepção e conhecimento e daí

as relações entre motricidade e inteligência.

WALLON, H. (ibid.), enfatiza a relação do aspecto tônico do movimento

com o desenvolvimento cognitivo, enquanto que o tônus seria o fundamento da

emoção e da afetividade. Assim, inteligência e afetividade desenvolver-se-iam

par a par.

Durante as suas investigações WALLON, H. (ibid.), teve necessidade de

dividir o desenvolvimento humano em diferentes estágios:

¬ Estádio impulsivo, contemporâneo do nascimento: A

motricidade tem um significado puramente fisiológico. Os atos são

simples descargas de reflexos ou automatismos.

¬ Estádio sensório motor: A partir deste momento, o movimento

organiza-se. Desejo de explorar e investigar.

¬ Estádio projetivo: A motricidade constitui o instrumento de ação

sobre o mundo.

¬ Estádio do personalismo: Os outros são significativos para a

criança, no processo da experiência. Neste período, há a

consciência e depois afirmação do Eu. A sua capacidade de

movimento manifesta-se como meio de favorecer o seu

desenvolvimento psicológico.

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

29“Não se pode explicar uma conduta isolando-a do meio em que ela

se desenvolve. Com os diferentes meios de que faz parte à conduta do

indivíduo pode mudar” (WALLON, 1986:369).

WALLON, H. foi precursor da relação entre a função tônica,

comportamento humano e expressão emocional. Para WALLON, H. (1970,

p.16), “o tônus é o suporte e garante do movimento e a sua expressão

(hipertonia e hipotonia) representa a acomodação perceptiva na sua

afetividade”.

WALLON, H. (ibid.), considera que a organização do movimento

depende dos músculos estriados. Esta organização apoia-se na função clônica

do músculo e na função tônica.

De acordo com WALLON, H. (1979, p.43) a essência do movimento “...

é função do conjunto das relações sociais na medida em que é a natureza

social da vida humana que determina o desenvolvimento psicomotor”.

Mais tarde, o desenvolvimento psicomotor é ação transformadora. O

movimento e a consciência contêm-se mutuamente e é a relação total e a

dialética, entre o meio e o indivíduo, que conferem ao comportamento uma

“estrutura cibernética”.

No ser humano, a maturação resulta da interação continua e dialética do

pensamento e da ação.

O pensamento do homem é estruturado a partir da ação, integrando e

integrando-se num social. O homem, como referem FONSECA, V. e MENDES,

N. (1988, p.34) “... se transforma num ser - social - total - e – integrado”. A

passagem do ato ao pensamento resulta de conflitos e oposições entre a

situação e a ação. Esta passagem introduziu mudanças no desenvolvimento

psicobiológico.

É manipulando os objetos que a criança integra as propriedades das

coisas. Este gesto é um gesto útil e prático.

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

30Como adianta WALLON, H. (1966 p.35) “é na relação dialética entre o

ato e o pensamento que a consciência se organiza, garantindo a evolução

numa contínua metamorfose de contrastes e conflitos”.

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

31

CAPÍTULO III

Jogos no desenvolvimento da sociabilidade

O jogo é uma ação motivadora e por isso é um instrumento muito

poderoso na estimulação da construção do raciocínio e para o desenvolvimento

integral da criança.

Os jogos possibilitam à criança aprender de forma prazerosa, num

contexto desvinculado da situação de aprendizagem formal. Facilitam também

os vínculos terapêuticos, fundamentais para que qualquer processo tenha

êxito.

Através da aprendizagem do próprio jogo, do domínio das habilidades e

raciocínios utilizados, a criança tem a possibilidade de redimensionar sua

relação com as situações de aprendizagem, com seu desejo de buscar novos

conhecimentos. Tem também a oportunidade de lidar com a frustração do não

saber, com a alternância entre vitórias e derrotas.

“A criança não é atraída por algum jogo por forças externas inerentes ao jogo e sim por uma força interna, pela chama acesa de sua evolução. É por essa chama que busca no meio exterior os jogos que lhe permitem satisfazer a necessidade imperiosa posta por seu crescimento.” (ANTUNES, 1998, p.37)

Estas mudanças na percepção de si mesmo e do objeto de

conhecimento podem ser estendidas às situações de aprendizagem formal, na

medida em que se restabelecem o desejo e a confiança da criança na sua

capacidade de aprender.

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

32O jogo gera emoções fazendo surgir às necessidades de ordem afetiva e

é a afetividade a mola mestra dessas ações. Ela mobiliza o indivíduo em uma

determinada direção com o objetivo de obter prazer.

O jogo motiva e é um instrumento que proporciona a estimulação do

raciocínio.

O jogo e a criança caminham juntos desde o momento em que se fixa a

imagem da criança como um ser que brinca.

Com base nesses vemos a importância que o jogo tem na vida da

criança, tendo um papel específico e direcionado com segundas intenções,

levando o indivíduo a agir de forma espontânea.

É através do jogo que a criança constrói sua aprendizagem acerca do

mundo em que vive, da cultura em que está inserida. Os jogos são uma fração,

uma pequena parte desta atividade de brincar da criança. Os jogos, pela sua

estrutura, representam situações em que a criança tem de enfrentar limites.

Não somente os limites das regras a serem respeitadas, mas também seus

próprios limites que devem ser superados para que a criança possa ter êxito.

Permitem ainda que a criança crie ou modifique as regras, de comum acordo

com seus parceiros, propiciando o desenvolvimento de sua autonomia moral.

No jogo, por mais que certos objetivos estejam presentes, o desafio

sempre existe, isto porque não se sabe aonde ele levará nem como as coisas

acontecerão. Há sempre um caráter novo, e a novidade é fundamental para

despertar o interesse e a curiosidade infantil.

O jogo é, por excelência, integrador. À medida que joga a criança vai-se

conhecendo melhor, e interagindo com seus pares e com adultos. O jogo

permite que a criança compreenda a realidade e se adapte espontaneamente a

ela.

Em seu trabalho Winnicott (1971) mostra que a brincadeira é universal e

que esta facilita o crescimento, a saúde e conduz aos relacionamentos grupais.

De acordo com Winnicott (1971, p.26): “Brincar é fazer”

Nenhuma ciência construiu realmente um conceito de jogo, não existe

registro em literatura sobre o conceito de jogo.

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

33Huizinga (1971), realizou uma intensa pesquisa sobre a categoria jogo

em diferentes culturas e línguas, estudou suas aplicações na língua grega, no

Chinês, Japonês, línguas hebraicas, latim, inglês, alemão, holandês, etc.

Na sua pesquisa, identificou pontos de discussão sobre a concepção do

termo, um dos quais de grande importância, porque se refere à relação entre

jogo e competição. Foi observando que em algumas línguas, como a grega, a

chinesa e a sânscrita, existem palavras diferentes para designar o jogo e

competição.

Outras empregam o termo jogo numa concepção mais ampla, sem

diferenciação nítida. Nesse caso encontram-se o Japonês, Inglês, Francês,

Alemão, Italiano, Holandês e Português.

A investigação lingüística relativisa a noção de jogo, e sem validá-la de

fato, o problema é menos lingüístico do que cultural, sendo a Língua apenas

um aspecto cultural.

Hunzinga (1971), propôs uma definição para jogo que abrange tanto as

manifestações competitivas como as demais.

“O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, seguido de regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias ditado de um fim em si mesmo, acompanhado de sentido de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana.” ( Huizinga, 1971, p.33)

Segundo Piaget o jogo é um caso típico das condutas negligenciadas

pela escola tradicional, dado o fato de parecerem destituídas de significados

funcional. Para a pedagogia corrente, é apenas um descaso ou desgoste de

um excedente de energia.

Para Piaget, o jogo de exercício não tem outra finalidade que não o

próprio prazer do funcionamento.

Ao chegar o período das operações concretas (por volta dos sete anos

de idade) a criança, pelas aquisições que fez, pode jogar atendo-se a normas.

Surgem então os jogos de regras, e ela terá que abandonar a arbitrariedade

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

34que governava seus jogos para adaptar-se a um código comum podendo ser

criado por iniciativa própria ou por outras pessoas, mas que deverá acatar

limites porque a violação das regras traz consigo um castigo.

Isto ajudará a criança a aceitar o ponto de vista das demais, a limitar sua

própria liberdade em favor dos outros, a ceder, a discutir e a compreender.

Quando se praticam jogos de grupo a experiência se engrandece já que

a sociabilidade é agregada à vida da criança, surgindo assim os primeiros

sentimentos morais e a consciência de grupo.

Segundo ANTUNES(1998, p. 11), “A palavra ‘jogo’ provem e jocu,

substantivo masculino de origem latina que significa gracejo”. Que

expressa divertimento, brincadeira ou passatempo, mas que estão sujeitas a

regras, como uma verdadeira metáfora da vida.

Quando a criança joga compromete toda sua personalidade, não o faz

para passar o tempo. Podemos dizer, sem dúvida, que o jogo é o "trabalho" da

infância ao qual a criança dedica-se com prazer.

Além de movimentar-se, estimula a mente, aprende a lidar com as

emoções e tem a possibilidade de explorar o ambiente externo, pois, lida com

experiências concretas que vão auxiliar seu desenvolvimento intelectual.

“Brincando a criança manipula fenômenos externos a serviço dos sonhos e vestes fenômenos externos escolhidos com significado e sentimentos oníricos”.Winnicott (1971, p.76).

A inteligência se desenvolve a partir das ações realizadas pelo indivíduo

no meio em que vive. A criança que vive consegue criar, falar e inventar com

maior facilidade e de forma natural, porque estão em contato constante com o

real e o imaginário.

Jogando, a criança desenvolve seu senso de companheirismo, pois

brincando com companheiros, aprende a conviver, ganhando ou perdendo,

procurando entender regras e conseguir uma participação satisfatória.

No jogo, a lei não é derivada do poder ou da autoridade, mas das regras,

portanto, do jogo em si. Conhecidas as normas, todos têm as mesmas

oportunidades, e participando do jogo, a criança aprende a aceitar regras, pois

o desafio está, justamente, em saber respeitá-las.

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

35Esperar sua vez, aceitar o resultado dos dados ou outro fator de sorte

são excelentes exercícios para lidar com frustrações e, ao mesmo tempo,

elevar o nível de motivação, confrontando suas hipóteses e interando-se

socialmente.

Talvez não se tenha atentado para o fato de que jogos como amarelinha,

pegador, cantigas de roda têm exercido ao longo da história importante papel

no desenvolvimento das crianças e que as habilidades motoras, desenvolvidas

num contexto de jogos, de brinquedos, no universo da cultura infantil, de

acordo com o desenvolvimento que a criança já possui pode se desenvolver

sem a monotonia dos exercícios elaborados e dirigidos.

No jogo as crianças aprendem quem são, quais são os papéis das

pessoas que interagem com ela e tornam-se familiarizadas com a cultura e os

costumes da sociedade em que está inserida.

Os jogos podem ser entendidos como suportes que ajudam a criança a

crescer de modo saudável, atingindo padrões considerados como adequados

na área física, social, intelectual e emocional sem os quais fica prejudicado o

processo de desenvolvimento infantil.

Estes jogos devem respeitar as faixas etárias, suas características e

necessidades, portanto não se deve oferecer qualquer tipo de jogo e sim o que

naquele momento irá atendê-la melhor. Proporcionando o aprender-fazendo e

para ser mais aproveitado é conveniente que ofereça atividades dinâmicas e

desafiadoras, que exijam participação ativa da criança e que tenha ligação com

sua realidade.

Na utilização de jogos pode-se desenvolver e observar na criança, o

equilíbrio, a tenção, a lateralidade, a coordenação motora, a coordenação

óculo-segmentar, a velocidade, entre outros aspectos da psicomotricidade,

além de facilitar a socialização e a cooperação entre as crianças e o

desenvolvimento da criatividade, da atenção e da emoção.

Enfim podemos dizer que o jogo é fundamental para o desenvolvimento

infantil, já que é uma atividade sociocultural impregnada de valores, hábitos e

normas que refletem o modo de agir e pensar de um grupo social.

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

36A ludicidade, tão importante para a saúde mental do ser humana,

precisa ser mais considerada; o espaço lúdico da criança está merecendo

maior atenção, pois é o espaço para a expressão mais genuína do ser, é o

espaço do exercícios da relação afetiva com o mundo, com as pessoas e com

os objetos.

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

37

CAPÍTULO IV

A importância da Psicomotricidade no processo

de aprendizagem

A Psicomotricidade é a ciência que estuda o homem através do seu

corpo em movimento e em relação ao mundo interno e externo e de suas

possibilidades de perceber, atuar e agir com o outro, com os objetivos e

consigo mesmo.

Esta ciência está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é

a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas.

Sabe-se que a psicomotricidade está associada á afetividade e a

personalidade, já que o indivíduo utiliza seu corpo para demonstrar o que

sente.

Por tratar da relação entre o homem, seu corpo e o meio físico

sociocultural no qual convive, a psicomotricidade é fundamentada e estudada

por um amplo conjunto de campos científicos, onde se pode destacar a

Neurofisiologia, a Psiquiatria, a psicologia e a Educação, imprimindo a cada

uma delas enfoques que lhes são específicos.

A educação psicomotora vem sendo enfatizada em várias instituições

escolares que fazem trabalhos relacionados à recreação infantil. Através de

uma série de atividades, principalmente exercícios e jogos, procura-se

promover o completo desenvolvimento físico, mental, afetivo e social.

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

38A falta de estimulação adequada no decorrer da infância pode causar

algumas perturbações psicomotoras. O profissional que trabalha com educação

psicomotora pode propor experiências que produzam a adequada estimulação

que venha ampliar o conhecimento corporal, para que este objetivo seja

alcançado é necessário à observação constante das necessidades das

crianças.

A educação psicomotora é indispensável nas aprendizagens escolares e

realizar-se em todos os momentos da vida, pois ajuda a criança a organizar-se,

possibilitando que ela resolva os exercícios de análise, de lógica e relações

entre os números.

A psicomotricidade é dividida em áreas que agem quase sempre

vinculadas umas as outras. A escola pode desenvolver atividades para

trabalhar essas áreas ao mesmo tempo em que estimula a criatividade e

diverte.

Sendo assim as atividades abaixo são desenvolvidas, nas escolas,

dentro de cada área.

IV. I – Áreas Psicomotoras

¬ Comunicação e Expressão

Nesta área a linguagem tem função de comunicação e socialização do

indivíduo. Neste campo a psicomotricidade está relacionada com a articulação

e respiração, utilizando exercícios fonoarticulatórios e respiratórios, podendo

desenvolver atividades como: fazer caretas que expressão tristeza, alegria,

raiva, surpresa, susto etc.

Atividades que trabalham a parte fonoarticulatória e exercícios

respiratórios como inspirar pelo nariz e expirar pela boca, encher bexigas, entre

outras.

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

39

¬ Percepção

A percepção está ligada à atenção, a consciência e a memória. Os

estímulos contribuem para o melhor desenvolvimento da percepção e

discriminação dos sentidos.

a) Percepção Tátil

Desenvolvem-se atividades que possibilitem o reconhecimento dos

colegas pelo tato e atividades de manipulação de objetos e materiais para

trabalhar conceitos de tamanho, largura, espessura, textura, forma,

temperatura,...

b) Percepção Gustativa

Quando são oferecidas atividades em que o aluno experimenta vários

alimentos comparando sabores.

c) Percepção Olfativa

Pode-se comparar coisas que têm e que na tem cheiro. Experimentar

odores fortes e fracos, agradáveis e desagradáveis, utilizando materiais como:

vinagre, álcool, café, perfume, sabonetes, chás, flores.

d) Percepção Auditiva

Através de jogos como, identificar e produzir sons, tocar instrumentos

musicais, brincar, trabalhar ritmos e dançar.

e) Percepção Visual

Utilizando jogos de memória, quebra-cabeças, observar objetos e

apontar objetos solicitados, trabalhar com cores e formas.

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

40¬ Coordenação

A coordenação motora está ligada ao desenvolvimento físico. A

coordenação motora pode ser dividida em coordenação dinâmica global ou

geral que envolve movimentos amplos com todo o corpo, em coordenação

visomanual que engloba movimentos dos pequenos músculos e em

coordenação visual que trabalha movimentos específicos com os olhos.

a) Coordenação Dinâmica Geral

São desenvolvidas atividades de rolar, engatinhar, andar, correr, pular

como coelho, canguru, pular com dois pés, pular amarelinha, pular sem sair do

lugar, pular com um pé só, subir em escadas, em cadeiras, bancos, imitar

animais, arremessar bolas, argolas, bolas de papel e jogar boliche.

b) Coordenação visomanual ou fina

Atividades de modelar massas e barro, rasgar e amassar papel, de

dobradura e jardinagem, recreio dirigido utilizando sacos de areia e linha de

movimento.

c) Coordenação visual

O aluno acompanha com os olhos e a cabeça o movimento de

determinado objeto e andar ao redor de alguns objetos, tendo o olhar fixo

neles.

¬ Orientação

Orientação Temporal e Orientação Espacial

É a capacidade de orientar-se diante de um espaço físico e de perceber

a relação de proximidade de coisas entre si. A organização temporal

corresponde à capacidade de relacionar ações a uma determinada dimensão

ou tempo, onde sucessões de acontecimentos e de intervalo de tempo são

fundamentais.

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

41a) Orientação Temporal

O professor pode junto com a turma plantar feijões e observar o seu

crescimento, ouvir histórias ou músicas, e depois contar a seqüência dos fatos,

ordenar cartões com figuras e formas e recompor uma história com início, meio

e fim.

b) Orientação Espacial

Fazendo atividades de medir com barbante, jogar amarelinha, montar

quebra-cabeças, brincar de guia de cego para explorar o ambiente.

¬ Conhecimento Corporal e Lateralidade

É a capacidade de vivenciar as noções de direita e esquerda sobre o

mundo exterior e conhecimento do seu próprio corpo.

a) Exercícios de Lateralidade

Nesta área as atividades dão oportunidade à criança de descobrir qual

lado do corpo ela utiliza com mais eficiência. Isso é necessário para ela

manusear de maneira eficiente lápis e outros objetos de sala de aula.

Fazer gestos diante do espelho e seguindo orientação do professor

desenhar ou colocar objetos do lado direito ou esquerdo de uma folha ou outro

objeto.

b) Exercícios de Conhecimento Corporal

Atividades para nomear o próprio corpo e corpo de colegas, explorar o

próprio corpo com as mãos, de olhos fechados e abertos, associar parte do

corpo com roupas ou objeto mostrados pelo professor.

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

42¬ Habilidades Conceituais

Na área de habilidades conceituais temos a Matemática como

linguagem que tem como função expressar relações de quantidade, espaço,

tamanho, ordem, distância etc. Brincando com formas, quebra-cabeças, caixas

ou panelas, a criança adquire uma visão dos conceitos pré-simbólicos de

tamanho, número e forma.

Com atividades de formas e comparar conjuntos, de pesar objetos

diversos, colocar a mesma quantidade de água em copos e vasilhas de

tamanhos e formatos diferentes, nomear as formas geométricas, jogos com

alvos, com blocos lógicos, etc.

Essas, dentre outras atividades que podem ser desenvolvidas a escola,

permitem que a criança explore o ambiente externo, proporcionando-lhe

experiências concretas indispensáveis ao seu desenvolvimento intelectual. È

devido a isso que a Psicomotricidade tem sua importância na aprendizagem,

pois é através dessa exploração que a criança descobre o mundo a cada dia.

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

43

CAPÍTULO V

A ludicidade psicomotora com alunos de 8 a 10

anos do 2° Ciclo do Ensino Fundamental da Escola

Municipal Vera Lúcia Machado

V. I - Um breve histórico

Após observar o sucesso conseguido nas Colônias de Férias realizadas

na instituição, por volta dos anos de 2000 e 2001, no que diz respeito à

melhora de comportamento e relacionamento de seus alunos, a Diretora

vigente da Escola Municipal Vera Lúcia Machado localizada no bairro do Badu,

Pendotiba, Niterói, propõe junto ao corpo docente a possibilidade de tornar este

trabalho mais constante.

Com o objetivo de diversificar mais os trabalhos dos professores para

que os mesmos não ficassem puramente no trabalho de “cuspe e giz”, a

mesma, auxiliada pela Supervisora Escolar, organiza as chamadas “Oficinas

Lúdicas”.

As Oficinas Lúdicas seriam realizadas uma vez por mês, tendo como

orientadores, de atividades diversificadas, os próprios professores. Neste dia

os alunos uniformizados, não precisariam trazer material e entrariam e sairiam

da escola em horário normal.

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

44Visando que o trabalho não fosse meramente mais um dia comum de

lazer para os alunos, foi proposto ao corpo docente direcionar cada dia de

Oficina Lúdica a um tema específico: Páscoa, Carnaval, Folclore, etc. As

oficinas aconteceriam nas próprias salas de aula e no pátio da escola, segundo

a necessidade do professor orientador.

Divididos de acordo com suas turmas, cada grupo seria conduzido a

atividades de 20 minutos, que compreenderiam: recorte e colagem, massa de

modelar, jogos populares, jogos de mesa, informática, pintura, atividades

recreativas, música, teatro, jogos de quadra, dobraduras, contação de histórias

etc. (Ver Anexo 1). Ao final do dia, como culminância, seriam apresentados os

trabalhos realizados pelos grupos.

O trabalho foi bem recebido pelo corpo docente e transformou-se numa

poderosa arma avaliativa. Os professores foram percebendo dificuldades que

seus alunos possuíam e que influenciavam na aprendizagem no dia a dia.

As dificuldades visuais, auditivas e comportamentais foram sendo

observadas mais rapidamente, pois não derivavam somente da opinião do

professor regente. Como o aluno passava por várias atividades, os outros

professores do corpo docente também auxiliavam na avaliação dos mesmos,

com suas observações.

É certo que com o decorrer do tempo alguns professores não

conseguiram assimilar bem a idéia de outros professores estarem avaliando

seus alunos, pois afinal, está era a função deles, e mesmo com toda a opinião

do grupo, o conceito final sempre partiria dele e da vivência do seu aluno em

sala de aula.

Evidentemente essas opiniões levaram o trabalho ao desgaste da

proposta inicial, mas não ao seu término. Alguns professores limitavam-se

somente a realizar as atividades, reclamavam do tempo curto de realização e

colocaram de lado a questão avaliativa do processo.

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

45Para que o trabalho não fosse totalmente descartado foi-se proposto

uma nova divisão do tempo e grupos (Ver Anexo 2), e no ano de 2003 a

atividade avaliativa foi renovada, não com o objetivo de ser feito por opiniões

isoladas, mas com a parceria de todos do corpo docente.

V. II – O Trabalho

A importância da introdução do trabalho de Oficina Lúdica realizada pela

escola, e o estudo de determinadas correntes educacionais, como Piaget,

Vigotsky, entre outros, levou-nos a perceber que trabalhar a questão lúdica

uma vez por mês seria pouco. Era preciso incorporar mais jogos, brincadeiras,

atividades de colagem e pinturas a nossa prática diária.

Para não nos precipitarmos em envolver todo o corpo docente na

proposta e sabendo da resistência de certos profissionais, iniciamos o trabalho

com os alunos do 4° Ano do Ensino Fundamental (3ª série), na faixa etária de 8

a 10 anos.

O primeiro passo, foi à busca bibliográfica. Nos reportamos a autores

como Vitor da Fonseca, Wallon e Winnicott, com o auxílio de uma das

professoras do grupo formada em Psicomotricidade. Passamos a ter então

uma breve noção do que seria um trabalho psicomotor, e sua importância para

o desenvolvimento da aprendizagem.

Percebemos que a questão do brincar não é meramente para a

descontração, ou limita-se a uma simples avaliação visual e auditiva. Vimos

que o corpo dos nossos alunos fala, e que este é reflexo de uma gama de

sentimentos.

O segundo passo foi o planejamento para a realização das atividades.

As mesmas deveriam ser organizadas pelo grupo de pesquisa e também

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

46avaliadas pelo mesmo. Dividimos as atividades para conseguirmos trabalhar, o

equilíbrio, a coordenação motora global, motora-fina, óculo-manual e pedal, o

esquema corporal, a lateralidade, a estrutura espacial e temporal, o ritmo, a

linguagem, as funções intelectuais, a leitura, escrita e o cálculo. Incluímos as

atividades em nossos planejamentos semanais, delimitando inicialmente um

tempo específico para realizadas, o que ampliado posterior mente.

Segue abaixo algumas das atividades realizadas pelo grupo. (Ver anexo

3)

a) Equilíbrio

Para trabalhar a questão do Equilíbrio utilizamos atividades como: Andar

no barbante, Colocar a caneta na garrafa, Corrida do ovo na colher, Dançar da

laranja, piques: Saci-pererê, Fruta, Travessia do rio, Peteca, entre outras.

b) A Coordenação Motora Global, Motora-fina, Óculo-manual e

Pedal

Para trabalhar a Coordenação Motora Global Foram trabalhadas

atividades como: Coelhinho sai da toca, Jogos de imitação, Danças

coreografadas, Chicotinho queimado, Pique ajuda, Pular corda, Corrida entre

cones, Jogos com obstáculos, Brincar com bambolê, Morto Vivo etc.

As atividades realizadas, para trabalhar a coordenação motora fina são:

Recorte e colagem, Pintura, Desenho, Montagem de cata-ventos, Pega-

varetas, Quebra-cabeça, Origami, Tangran, Dominó, Baralho, Dança com fitas,

Massa para modelar, Argila, etc.

Para óculo manual: Queimado, Vôlei, Jogar a bola para o colega da

roda, Jogar a bola que está no pé e segurá-la com as mãos, jogar Totó,

Tamancobol, Jogar botões dentro de um copo, etc. Algumas atividades para a

coordenação motora fina também serviram de suporte para o trabalho óculo

manual.

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

47Para óculo pedal: Futebol, Chute ao gol, Andar com os pés amarrados

ao um colega e dar a volta em um obstáculo, Andar em bambolês, etc.

c) Esquema Corporal

Para tal os alunos seguiram os seguintes passos:

¬ Desenho inicial: Quem sou eu?

¬ Recorte de partes do corpo de revistas e jornais e montagem de

uma pessoa;

¬ Contorno do corpo de um amigo e desenho: Como meu amigo é?

¬ Música: cabeça, ombro, joelho e pé;

¬ Eu e o espelho. Simples observação;

¬ Desenho final: Quem sou eu?

d) Lateralidade

Atividades: Brincadeira do Labirinto, Desenhar com os olhos fechados,

Jogo do passa anel, Corrida do saco, Corrida do limão na colher, Arremesso de

dardos, etc.

e) Estrutura espacial e temporal

Atividade espacial: Montagem do mapa da sala, do bairro, Dominó,

Trabalhos com formas, Brincar de casinha, Carrinho, Meus pintinhos venham

cá, Cabra-cega, Caça ao tesouro, Brincadeira do barbante, Caixa-surpresa,

Atividade temporal: Montar o mural do tempo, Aniversariantes do mês,

Datas comemorativas, Contagem de histórias que tenham início, meio e fim,

que falem sobre as estações do ano. Descrever um dia na escola, ou um dia

em casa.

Page 48: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

48f) Ritmo

Atividades: Imitando o relógio, com a música de Vinícius de Moraes,

Quem roubou pão na casa do João? Chicotinho Queimado. Quem está fazendo

o movimento? Qual é a música? Qual a seqüência de sons? Pandeirinho.

g) A leitura, escrita e o cálculo

Atividades para leitura e escrita: Leitura de emoções. Continue a história.

Leitura dramatizada. Fantoche, Fantasia, Alfabeto Vivo, adivinhações, Telefone

sem fio, Forca, leitura de Gibis, etc.

Cálculo: Bingo, Cores e formas, Amarelinha, Dominó, Baralho, Jogo da

velha, Futebol de botão, Encontre o impar, Feirinha, Batalha naval, balança,

Pizza, Jogos de tabuleiro com dados, Bagunça no transito, Blocos lógicos (só

pode ter dez), etc.

Todas as atividades aqui relacionadas não trabalharam exclusivamente

as áreas psicomotoras relacionadas acima. As mesmas levaram os alunos a

pontos importantes como: Empatia, auto-conhecimento, administração das

emoções, lingüística, atenção, descriminação de tamanho, forma, escala,

valores, quantidade, criatividade, imaginação, interação, memória, noções de

limites, etc.

Podemos dizer que apesar de buscarmos determinados objetivos com

as atividades, nos foi de grande alegria aprender que todas as atividades se

relacionam, e que de uma única brincadeira encontraremos mais de um

resultado.

Page 49: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

49V. III – Avaliação

Nosso terceiro passo foi o processo de Avaliação dos resultados.

Sempre nos reuníamos uma vez por semana para planejar, e acabamos vendo,

que esse tempo era pouco para formar uma avaliação minuciosa da maneira

que queríamos.

Procuramos junto à direção mais um momento para avaliação, mas não

foi possível. Tivemos então, que conseguir organizar bem o nosso tempo para

que tudo corresse conforme esperávamos.

O acolhimento das crianças em relação às atividades já foi um grande

momento. Alguns alunos recusavam-se terminantemente a participar das

atividades, ora achando-as infantis, ora por não aceitarem a proposta do

orientador.

À medida que o tempo foi passando os alunos começaram a perceber

que a aula se tornará uma surpresa. Antes acostumados à rotina do “cuspi e

giz”, ficavam agora esperando qual seria a novidade daquele dia de aula.

A organização dos alunos em grupo, também pode ser considerado um

outro ponto positivo para o trabalho. Como vimos à faixa etária trabalhada tem

a necessidade de se relacionar. Ri com a aceitação, sofre com suas

inseguranças e cresce à medida que compartilha. Segundo ANTUNES (1988,

p. 242):

“Dos 7 aos 8 - É a fase do ‘grande’ amigo. A empatia cresce como valor imenso e se fortalecem os sentimentos de fidelidade, traição e desprezo. Dos 9 aos 13 – Os amigos são muito importantes, ainda que um ou outro possam ser os melhores confidentes. É o momento de se aprofundar as estruturas do autoconhecimento, da comunicação interpessoal e da empatia”.

Page 50: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

50No nosso campo de trabalho, a questão da solidão familiar e da

violência, é comum. O desinteresse pelo estudo e a falta de perspectiva no

futuro começaram a aparecer no decorrer da pesquisa.

Formar esse trabalho psicomotor na escola fez com que muitos alunos

começassem a falar um pouco mais sobre sua realidade, e a mostrar quais

interesses lhes eram relevantes.

Não foi espanto para nós, que alguns alunos fossem admiradores do

chamado “poder paralelo”, que ocorre nos morros é e chefiado por um

traficante local. Para eles estava claro que o futuro estava ali. Para que ficar

estudando tanto? Onde o estudo os levaria? Essas opiniões não

representavam a maioria e eram até repelidas pelos demais. Mas, para o

grupo, esses relatos eram altamente significativos, pois justamente estes

alunos, em particular, vieram com histórico de problemas de aprendizagem,

brigas por motivos fúteis e eram em sua maioria repetentes.

Trabalhando a auto-estima, o espírito de companheirismo, entre outras

atividades psicomotoras, conseguimos ver passo a passo um resultado

positivo. A princípio os discursos outrora inflamados, tornaram-se meros

comentários esporádicos em momentos de raiva, e a agressividade era contida

pelo desejo de participar das brincadeiras.

Nossa alegria tornou-se maior quando vimos que, mesmo lentamente,

estes resultados foram tendo seus reflexos na sala de aula.

Com o apoio da direção, cadernos foram trocados, materiais pessoais

(lápis, borracha, apontador...) foram doados e pouco a pouco a auto-estima

recuperada.

A dificuldade de concentração e as participações tímidas tornaram-se

entusiásticas. As questões que eram debatidas em grupo inflamadas, e cheias

de criatividade.

Page 51: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

51Procuramos também, durante o trabalho, formar uma pesquisa informal

junto aos alunos.

Inserimos nas salas de aula, onde os trabalhos estavam sendo

realizados, quadros de “Avaliação do Dia”, onde através de fichas coloridas o

aluno identificava se a atividade do dia fora boa ou ruim.

Das três turmas, com 30 alunos, que participaram do projeto, poucos

foram os que não aprovavam as atividades. Mas mesmo assim nos faltou

formar uma estatística consolidada sobre o processo.

O ponto culminante da Avaliação do projeto foi à realização das

“Olimpíadas internas do Vera Lúcia Machado”, onde a participação foi de forma

ativa e criativa, contando principalmente com a participação de outros

professores que não estavam envolvidos na pesquisa. (Ver anexo 4)

Certamente nosso trabalho foi apenas o começo. E sabemos também

que pais e professores ainda resistem a estes tipos de atividades em sala de

aula, achando que se a professora fica brincando em sala de aula, talvez não

seja boa para dar aula ao seu filho. E para os professores este tipo de atividade

deveria ser realizado pelos profissionais especializados na área, professores

de Ed. Artística e Ed. Física.

Não descordamos dos demais professores quando colocam a questão

por essa ótica. Torna-se realmente necessária à presença desses profissionais

em nosso meio. E é pelo qual lutamos a cada dia, junto a Fundação Municipal

de Educação. Mas, que fique claro que o objetivo da presença desses

profissionais em nosso meio é somar e não dividir.

Seria consideravelmente fácil para nós continuarmos com o nosso “cuspi

e giz”, enquanto outros profissionais preocupam-se com as questões

psicomotoras. Continuaríamos a olhar os nossos alunos como mais um.

Apenas um depositário de conhecimentos que não responde, não pode sorrir,

não expressa emoções, somente quando é solicitado.

Page 52: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

52O que esperamos com a pesquisa realizada, e com os resultados

apresentados, é fazer com que os profissionais possam perceber a importância

do trabalho psicomotor para o desenvolvimento da aprendizagem. Já

conseguimos com um ano de trabalho conquistar os nossos alunos, o que nos

falta agora é conquistar todos os professores.

Para muitos os resultados ainda podem parecer pequenos, mas com

certeza para nós eles foram extremamente significativos.

Page 53: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

53

CONCLUSÃO

Pode-se perceber através do que foi exposto o valor educativo que a

prática lúdica possui. Muitos estudiosos afirmam que os primeiros anos são os

mais importantes na vida do homem sendo que a atividade central manifestada

é o jogo.

É notável o que se pode aprender construindo seus próprios jogos,

utilizando-se diferentes conceitos.

Um erro que muitos professores cometem é não valorizar em toda sua

extensão esta atividade, extraindo o que ela contém de educativo.

É inegável que a criança, através da brincadeira, aprende a conhecer a

si própria, as pessoas com quem convive e o meio social em que está inserida.

Com as brincadeiras as crianças revivem situações e acontecimentos do

seu dia a dia e consegue entendê-los.

Brincando a criança se sociabiliza, se integra ao grupo, aprende a

competir e a dividir. Sabendo disso a escola pode valer-se do uso de materiais

concretos e de jogos para facilitar as atividades, enriquecendo o aprendizado e

tornando as aulas mais agradáveis e eficazes.

Ao brincar as crianças recriam e repensam fatos que fazem parte do seu

cotidiano, fortalecem sua auto-estima e transformam os conhecimentos

adquiridos anteriormente em conceitos. Na brincadeira a criança estabiliza e

começa a entender o que sabe sobre as mais diversas esferas do

conhecimento. Elas crescem, experimentam situações e emoções e relacionam

o mundo da fantasia e realidade.

Sabe-se que as brincadeiras podem ajudar a ensinar conteúdos e que

atividades simples e lúdicas, nas aulas, levam a criança a perceber e explorar o

espaço em que está e a criar formas de representá-lo.

A atividade lúdica pode ser um eficiente recurso aliado do educador

interessado no desenvolvimento da inteligência dos seus alunos.

A criança que tem seus primeiros contatos com a aprendizagem de

forma lúdica, provavelmente vai ter a chance de desenvolver um vínculo mais

Page 54: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

54positivo com a educação formal, vai estar mais fortalecida para lidar com os

medos e frustrações inerentes ao processo de aprender. Mas, para que os

jogos cumpram seu papel dentro da escola, o professor deve realizar as

intervenções necessárias para fazer deste jogo uma aprendizagem.

Os jogos e brincadeiras quando bem elaborados e orientados podem

ajudar o professor a desenvolver conteúdos. As atividades lúdicas, além de

tornarem a aprendizagem mais interessante, permitem, ao professor, atingir

objetivos mais amplos como a sociabilizarão e o desenvolvimento do senso de

observação, além de estimular as atividades físicas e mentais necessárias para

a criança aprender.

Mas devemos observar que as atividades propostas aos alunos devem

ser cuidadosamente planejadas e com caráter desafiador, sem deixar sumir a

descontração.

Através de jogos o professor encontrará um campo rico de experiências

para seus alunos estimulando-os em toda a sua dimensão, no seu

desenvolvimento físico, cognitivo e afetivo.

BIBLIOGRAFIA

Page 55: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

55ANTUNES, Celso, 1937 – Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências/

Celso Antunes, - Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

FONSECA, V. – Uma introdução às dificuldades de aprendizagem. Lisboa:

Editorial Notícias, 1984.

FONSECA, V. – Contributo para o estudo da Génese da psicomotricidade. 4ª

Ed., Lisboa: Editorial Notícias, 1988.

FONSECA, V. – Desenvolvimento humano. Da Filogênese à ontogênese da

motricidade. Lisboa: Editorial Notícias, 1989.

FONSECA, V.; MENDES, N. - Escola, escola quem és tu? 4ª Ed., Lisboa:

Editorial Notícias, 1988.

HUIZINGA, Johan in www. clube do professor.com.br Johan.

LE BOULCH, JEAN. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento aos 6

anos. Trad. por Ana Guardiola Brizolara. Porto Alegre: Artes médicas, 1982.

LE BOULCH, JEAN. A educação psicomotora: A Psicocinética na idade

escolar.Porto Alegre; Artes Médicas, 1987.

WALLON, H – Les origines de la pensée chez l’enfant. Paris: Ed.Puf, 1963

WALLON, H. – Do Acto ao Pensamento. Lisboa: Edições Portugália, 1966.

WALLON, H – Psicologia e Educação da Criança. Lisboa: Ed. Vaga, 1979.

WINNICOTT. D. W. O aprender e a realidade. Rio de Janeiro: Imago.

Page 56: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

56

ANEXO 1

Page 57: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

57

ANEXO 2

Page 58: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

58

ANEXO 3

EXPLICAÇÃO DAS ATIVIDADES A PARTIR DO LIVRO:

“Jogos para estimulação das múltiplas inteligências” do autor Celso Antunes.

Page 59: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DE AZEREDO CUNHA SIQUEIRA.pdf · os materiais necessários para conseguirmos estruturá-lo. Agradecemos as professoras Ramona Vieira,

59

ANEXO 4

OLIMPÍADAS DO VERA LÚCIA MACHADO

PROFESSORES ENVOLVIDOS

O ESPÍRITO DE EQUIPE