UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · de escola é um excelente espaço para incutir...
Transcript of UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · de escola é um excelente espaço para incutir...
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A TRAMA DA EDUCAÇÃO:
GESTÃO E QUALIDADE NO ENSINO
Por: Danielle Costa de Araujo
Orientador
Prof. Marie Sue
Niterói
2011
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A TRAMA DA EDUCAÇÃO:
GESTÃO E QUALIDADE NO ENSINO
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Administração
e Supervisão Escolar.
Por: Danielle Costa de Araujo
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela oportunidade de ter
chegado até aqui.
4
DEDICATÓRIA
Dedico aos meus filhos Marcos Fillipe e
Thaynah e minha mãe Eliete, pela
compreensão e respeito, e que possam
refletir tão quanto é importante e
imprescindível educar-se.
5
RESUMO
O presente trabalho visa analisar a gestão escolar democrática, em
ocasião a sociedade atual, que vive em transformações constantes. Enfatiza a
necessidade de a escola acompanhar essas transformações.
O gestor escolar que assume papel de um líder precisa desencadear
essas ideias junto à comunidade que lidera, com a participação de todos,
professores, funcionários, educandos, pais e comunidade.
O conceito de qualidade é explicitado, com base teórica. A qualidade no
ensino apresentada visa à formação de cidadãos competentes, para viver em
democracia, que aqui é apresentada como não só a capacidade de usufruir de
direitos, mas também de criá-los.
O estudo busca verificar como um gestor escolar pode ou não conseguir
qualidade no ensino da escola que dirige, a partir dos instrumentos que tem
acesso.
Instrumentos esses que inclui o projeto político pedagógico, recursos
humanos, recursos materiais e financeiros, e compromisso ético e profissional.
6
METODOLOGIA
A metodologia utilizada foi a leitura de diversos livros de teóricos que
abordam o assunto em estudo.
A resposta foi obtida através da análise da leitura de bibliografia
específica confrontada a ideias pessoais da autora do estudo presente.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
ESCOLA, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE 10
CAPÍTULO II
GESTÃO ESCOLAR 19
CAPÍTULO III
QUALIDADE NA EDUCAÇÃO 28
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA 39
ÍNDICE 41
8
INTRODUÇÃO
Educação pode ser entendida como a aquisição de conhecimentos
produzidos por gerações que nos antecedem, e a capacidade de reconstruir
tais conhecimentos objetivando a formação de cidadãos capazes de
transformar suas próprias realidades.
Ser cidadão está intrinsecamente ligado a democracia, que
superficialmente e vulgarmente entende-se que seria o governo do povo, todos
terem os mesmos direitos, saber votar. Mas democracia está muito além
dessas concepções, pois se vivemos numa democracia, esta deve ser vivida
cotidianamente, o que inclui a vivência na escola e esta, além de participar da
democracia, é um dos meios de se aprender a viver para a democracia. A
escola deve formar pessoas para uma vida digna, que possam participar da
vida política, cultural, econômica e social, fazendo escolhas, pensando no bem
estar da sociedade, o que o inclui o bem estar pessoal.
Ter qualidade no ensino faz parte da vivência da democracia na escola,
é o resultado de uma gestão participativa, onde a equipe pedagógica,
comunidade, professores e educandos participam. A gestão é um
direcionamento à ação educacional que visa o aperfeiçoamento da
aprendizagem dos educandos em uma instituição.
Em se tratando de qualidade no ensino Heloísa Lück afirma que são
necessárias mudanças não apenas nas práticas pedagógicas como também
nas concepções que orientam essas práticas. O tipo de ensino conteudista,
descontextualizado, tão presente em nossas escolas já não atende à
sociedade atual.
A qualidade educativa segundo Pedro Demo está além de assimilar
conhecimento, para ele é necessário habilitar o indivíduo a saber, manejá-lo e
produzi-lo.
9
A gestão escolar não só pode como deve intervir e preconizar qualidade
no ensino, que não envolve apenas a preocupação em oferecer ensino para
um grande número de educandos e aprová-los através de testes e provas, sem
a preocupação com a formação ética dos educandos.
Dessas reflexões resolvi investigar o que é, e como funciona a gestão
democrática, relacionando-a a qualidade no ensino e democracia.
Para elucidação e verificação destes temas, esta pesquisa foi dividida
em três capítulos, onde o percurso se inicia com a concepção de educação,
democracia e objetivos da escola, perpassando pelas transformações da
sociedade atual; sobre a prática da gestão democrática, e finalmente como
numa trama de fios se relacionam para que seja analisado como a gestão
democrática pode trabalhar em busca de qualidade de ensino.
No primeiro capítulo abordo as transformações que a sociedade tem
sofrido, junto, como a educação nas escolas tem acompanhado esta
transformações, a fim de proporcionar condições para que o educando esteja
inserido democraticamente nesta sociedade. Através de um conceito mais bem
elaborado de democracia, pautado em teóricos, ser cidadão é abordado neste
estudo com conceito que vai além de ter direitos e deveres.
No segundo capítulo a reflexão é feita sobre a prática de uma gestão
escolar de forma democrática ou participativa, como esta atua ou deveria atuar.
É apresentada a importância do projeto político pedagógico, como norteador
das ações da gestão.
No terceiro capítulo apresento o que seria qualidade na educação, com
base em teóricos como Heloísa Lück, Pedro Demo e Vitor Henrique Paro.
Em minha conclusão pretendo refletir sobre o que é verdadeiramente
qualidade no ensino e como uma gestão escolar democrática pode atingir tal
qualidade, se é que seja possível realmente.
10
CAPÍTULO I
ESCOLA, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
A educação é uma forma de se obter conhecimentos produzidos por
gerações passadas, mas também e principalmente uma forma pela qual o
homem produz cultura, reconstrói conhecimento, transforma sua realidade,
procura compreender-se e o meio que está inserido, trocando informações,
ideias, opiniões.
A educação acontece em variadas esferas da vida social, nas famílias,
igreja, grupos sociais, instituições educacionais ou assistenciais, dentre outras.
A educação pode ser formal ou informal, formalmente acontece em instituições
específicas, escolares ou não, que tem propósitos intencionais, objetivos,
metas e resultados a serem alcançados. Informalmente a educação acontece
espontaneamente, não segue objetivos específicos, apesar de contribuir para a
formação humana.
Moacir Gadotti define muito bem a educação não formal:
“Gostaria de definir a educação não-formal por aquilo que
ela é, pela sua especificidade e não por sua oposição à
educação formal. Gostaria também de demonstrar que o
conceito de educação sustentado pela Convenção dos
Direitos da Infância ultrapassa os limites do ensino
escolar formal e engloba as experiências de vida, e os
processos de aprendizagem não-formais, que
desenvolvem a autonomia da criança. [...] A educação
não-formal é mais difusa, menos hierárquica e menos
burocrática. Os programas de educação não-formal não
precisam necessariamente seguir um sistema seqüencial
e hierárquico de ‘progressão’. Podem ter duração variável,
11
e podem, ou não, conceder certificados de
aprendizagem.” (GADOTTI, 1979, p.83 e 84)
A educação formal, a qual acontece em instituições públicas ou
privadas, escolas e universidades, implica em ações de ensino com objetivos
pedagógicos explícitos, sistematização, procedimentos didáticos, segue
currículos pré estabelecidos, e, atualmente há a preocupação em se
contextualizar esse conhecimento de acordo com a realidade de cada público.
Logo, escola e vida devem ser encarados no mesmo plano, não como
situações opostas ou diferenciadas.
Fica claro que o fenômeno educação não pode ser visto fora do contexto
histórico geral, algo a parte da vida, pois faz parte da mesma. As pessoas
constituem a sociedade, que é gerida por regras, formas de pensar, agir, de se
comportar, enfim organizar-se socialmente, economicamente e politicamente.
“Nesse sentido, a educação não é um fenômeno neutro,
mas sofre os efeitos da ideologia, por estar de fato
envolvida na política. [...] toda mutação social interfere
nos rumos da educação, é preciso estarmos atentos a ela,
para não ficar a reboque dos acontecimentos, mas atuar
de forma intencional.” (ARANHA, 1996, p.19 e 20)
As mudanças sociais, políticas, econômicas e intelectuais caminham
juntas, há de se concordar com a concepção de Marx que diz que a
superestrutura é concebida sobre a infraestrutura, base da sociedade, ou seja,
a consciência, as idéias, concepções, cultura são determinadas pelas forças
produtivas materiais que constituem a estrutura econômica da sociedade.
Logo, a educação não tem como estar à parte das mesmas. A educação é um
ato político.
12
Sendo a educação um ato político, por ela toda uma massa ou
população pode ser manipulada direta ou indiretamente por uma elite
dominante a fim de perpetuar seus poderes. Formam indivíduos alienados, que
produzem através do trabalho e nem mesmo tem a oportunidade de usufruir do
que produzem. Que alimentam um capitalismo selvagem, enriquecendo uma
minoria e não se dão conta, e se se dão conta, não têm força, não têm
argumento para modificar tal situação.
E se a classe dominante é detentora dos meios de produção,
logicamente, é esta classe que detém o conhecimento mais bem elaborado e
que principalmente o coloca a seu dispor; a única forma da classe dita
“dominada” vivenciar cidadania e lutar por seus ideais é adquirir esse
conhecimento que é voltado para a elite e fazer-se sujeito de sua história,
construindo cidadania.
A escola precisa assim oferecer conteúdos significativos, aulas
argumentativas, críticas, que envolvam situações reais, da vida cotidiana; uma
educação propedêutica sendo ao mesmo tempo prazerosa, que estimule o
gostar de aprender, que envolva a leitura e interpretação de diferentes gêneros,
o escrever bem, falar bem, pensar criticamente, expor, criar e recriar, concordar
e discordar de ideias, enfim que estimule sua autonomia, senso crítico,
emancipação.
Assim como a educação pode formar indivíduos despolitizados e
alienados, também pode formar indivíduos capazes de emancipar-se, lutar por
uma vida melhor, com dignidade, igualdade de direitos, desfrutando do
supérfluo que produz, de lazer, cultura e principalmente fazer parte da política
em si, criando leis, fazendo parte do governo de forma realmente ativa e
inovadora.
Segundo Demerval Saviani a educação segue duas vertentes a de como
instrumento de equalização e de como instrumento de discriminação social.
Como equalizadora tem-se a sociedade como harmoniosa e a marginalidade é
vista como uma distorção, uma fatalidade que pode ser corrigida através da
13 educação. Como discriminatória a educação já faz parte da estrutura da
sociedade que é marcada pela divisão social do trabalho, onde uns dominam
os outros. (SAVIANI, 2002, p. 3 e 4)
De acordo com a primeira premissa, a educação é vista de forma
autônoma, existe para equalizar a sociedade. Os marginalizados são os
indivíduos sem instrução, sem estudo, logo, isso é a única diferença entre as
pessoas, já que são todas consideradas iguais. Assim, devem receber ensino
de forma homogênea, não se considera as diferenças individuais.
A educação aqui corrige os ditos “desvios”, e quem não acompanha é
anormal, destituído de inteligência. Essa educação é discriminadora e
excludente.
Seguindo a segunda vertente sobre educação, a escola deve ser
modificada de acordo com a sociedade, que tem sofrido a cada instante
transformações na economia, na difusão de informações, nos processos de
produção, nos paradigmas da ciência e conhecimento.
Essa educação deveria realmente acompanhar as transformações
sociais, econômicas e políticas, mas pelo contrário, esse tipo de educação
objetiva o agravamento da exclusão social com a prática do neoliberalismo,
que induz ao individualismo, a busca de riqueza, de poder, a qualquer preço.
Apesar de ter sido esta política neoliberal a responsável pela
universalidade, gratuidade e obrigatoriedade da escolaridade básica, esse tipo
de escola é um excelente espaço para incutir e promover a todos que a
freqüentam, valores e visões do mundo dominante.
A escola não pode mais ser dualista, boa para os ricos e ruim para os
pobres, não pode mais participar da exclusão social, pelo contrário, deve ser
utilizada como uma “arma” contra a exclusão social.
Segundo José Carlos Libâneo:
14
“A escola de hoje não pode limitar-se a passar informação
sobre as matérias, a transmitir o conhecimento do livro
didático. Ela é uma síntese entre cultura experienciada
que acontece na cidade, na rua, nas praças, nos pontos
de encontro, nos meios de comunicação, na família, no
trabalho etc., e a cultura formal que é o domínio dos
conhecimentos, das habilidades de pensamento. Nela, os
alunos aprendem a atribuir significados às mensagens e
informações recebida de fora, dos meios de comunicação,
da vida cotidiana, das formas de educação
proporcionadas pela cidade, pela comunidade. O
professor tem aí seu lugar, com o papel insubstituível de
provimento das condições cognitivas e afetivas que
ajudarão o aluno a atribuir significados às mensagens e
informações recebidas das mídias, das multimídias e
formas diversas de intervenção educativa urbana. O valor
da aprendizagem escolar, com a ajuda pedagógica do
professor, está justamente na sua capacidade de
introduzir os alunos nos significados da cultura e da
ciência por meio de mediações cognitivas e interacionais.
Na escola, pelos conhecimentos e pelo desenvolvimento
das competências cognitivas, torna-se possível analisar e
criticar informação. Os alunos vão aprendendo a buscar a
informação (na TV, no rádio, no jornal, no livro didático,
nos vídeos, no computador etc.) mas, também, os
instrumentos conceituais para analisarem essa
informação criticamente e darem-lhe um significado
pessoal e social. A escola fará, assim, a síntese entre a
cultura formal (dos conhecimentos sistematizados) e a
cultura experienciada. Por isso, é necessário que
proporcione não só o domínio de linguagens para a busca
da informação, mas também para a criação da
15
informação. Ou seja, a escola precisa articular sua
capacidade de receber e interpretar informação, com a de
produzi-la, considerando-se o aluno sujeito do seu próprio
conhecimento.” (LIBÂNEO, 2008, p. 52 e 53).
Em síntese, a escola deve não só compartilhar conhecimentos como
também deve criar habilidades no indivíduo para que ele atue de forma
dinâmica na sociedade. É preciso que “[...] o educando vá assumindo o papel
de sujeito da produção de sua inteligência do mundo e não apenas o de
recebedor da que lhe seja transferida pelo professor.” (FREIRE, 2002, p. 140)
Isso mostra que a educação é um canal pelo qual um indivíduo tem a
oportunidade e direito de construir uma cidadania democrática, sendo a escola
um lugar que alguns direitos humanos básicos devem ser promovidos e postos
em prática, levando os educandos e professores a vivenciá-los, interiorizá-los e
defendê-los futuramente. (AFONSO, 2003, p. 86)
Paro afirma que a escola deve pautar-se em duas dimensões: a
individual e a social. Na dimensão individual o homem se apropria da cultura
para:
“[...] a realização de seu bem-estar pelo usufruto dos bens
sociais e culturais que são proporcionados aos cidadãos
de uma sociedade democrática. Sendo o homem um ser
que se autocria pelo trabalho, nessa sua autocriação
produz o supérfluo – ou seja, aquilo que transcende a
necessidade natural e se apresenta como desejável pelo
homem em sua postura ética de não indiferença com
relação ao mundo em que se encontra. Essa produção do
supérfluo é que lhe imprime sua dimensão histórica,
possibilitando a criação e acumulação da cultura e a
16
transformação e enriquecimento constantes do mundo em
que vive.” (PARO, 2010, p. 110 e 111)
Na dimensão social o indivíduo é educado não apenas para o bem viver
individual, mas para o bem viver de todos, ou seja, é a educação para a
democracia. É importante esclarecer que democracia segundo Vitor Henrique
Paro “[...] caracteriza-se, dentre outras coisas, pela participação ativa dos
cidadãos na vida pública, considerados não apenas como ‘titulares de direito’,
mas também como ‘criadores de novos direitos’, [...]” (PARO, 2010, p. 25)
Entendendo que democracia é mais que ter direitos, é também criá-los,
logo, a educação deve ser voltada para a democracia, a escola que é uma das
vertentes que educa para a democracia, precisa enxergar este indivíduo como
sujeito de seu conhecimento, precisa, “Saber que ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a
sua construção.” (FREIRE, 2002, p. 52)
Assim a escola pode ser uma ferramenta a favor de educar indivíduos
para a verdadeira democracia, tornando-os cidadãos e “arma” contra a
exclusão social. Sobre essa luta contra a exclusão Libâneo afirma:
“A escola contemporânea precisa voltar-se para as novas
realidades, ligar-se ao mundo econômico, político,
cultural, mas precisa ser um baluarte contra a exclusão
social. A luta contra a exclusão social e por uma
sociedade justa, uma sociedade que inclua todos, passa
pela escola e pelo trabalho dos professores. Propõe-se,
para essa escola, um currículo centrado na formação
geral e continuada de sujeitos pensantes e críticos, na
preparação para uma sociedade
técnica/científica/informacional, na formação para a
17
cidadania crítico-participativa e na formação ética.”
(LIBÂNEO, 2008, p. 51)
A partir da educação democrática, é possível a luta contra a exclusão
social, pois, uma educação democrática é capaz de compreender as diferenças
entre as pessoas, diferenças em variados aspectos como cor, religião, raça,
classe social e econômica, e também e principalmente diferenças no domínio
do conhecimento e no desempenho cognitivo.
Uma escola democrática acolhe seu educando, respeita suas
individualidades, facilitando o acesso a mesma, também a sua permanência
com qualidade.
A permanência do educando deve ser garantida com uma educação
digna, com professores comprometidos eticamente e profissionalmente, com
espaço adequado onde o educando possa sentir-se bem, e recursos materiais
devem também ser disponibilizados para que atenda às necessidades
educacionais.
É possível viver democraticamente em uma escola democrática de
verdade, pois não se dá democracia, se vive a mesma.
A escola criada para atender as demandas de décadas passadas, não
mais atende às novas exigências da atualidade. Sobre o papel da escola,
Perrenoud (1997), defende a ideia de que a escola deve desenvolver
competências, ou seja, relacionar constantemente os saberes e sua
operacionalização em situações complexas. A maioria dos conceitos
acumulados na escola permanece inútil na vida cotidiana. Não que não sejam
importantes, mas perderam sua força de concretude, no processo de
transposição didática.
A fim de desenvolver competências, a escola deve relacionar os saberes
e sua operacionalização, o que implica em mudança no currículo e atendimento
individualizado comportando o ritmo do educando.
18
Tarefa difícil para uma instituição que se nega a inovar, pois ora falta a
vontade, ora há também a ausência de um estimulante econômico para a
adoção de inovações e falta a pesquisa científica.
Nessa visão a escola deixa de ser local de emissão de informações para
tornar-se um local de discussão das informações e de produção de novos
saberes, ao invés de apenas reproduzir conhecimentos já construídos
historicamente.
19
CAPÍTULO II
A GESTÃO ESCOLAR
Entende-se por gestão o ato de gerir, organizar, administrar uma
organização, uma empresa. Quando se fala em gestão escolar, o conceito se
amplia, pois administrar uma escola está além de gerenciar recursos
financeiros, utilizando estratégias com fins em si mesmas, onde o que importa
é o resultado, e, se esse for positivo, se mantém a estratégia, caso seja
negativo, modifica-se a estratégia com o intuito principal que é o lucro imediato.
Em uma escola o dito “lucro imediato” não há, ou melhor, é difícil se
visualizar com tanta rapidez, pois esta lida com seres humanos, com suas
angústias, seu jeito de ser, de se comportar, de pensar, com sua “bagagem
pessoal”, com diferentes visões do que é ser ou estar bom, enfim, cada
indivíduo pertence a uma classe social, econômica, cultural; cada grupo
acredita em determinada ideologia, afinal, cada ser humano é único.
O dito resultado positivo só se vivenciará ao longo do tempo, quando as
classes populares que são encontradas em grande maioria nas escolas
públicas, estiverem vivenciando a democracia através da aquisição de
conhecimento e habilidades para acessar, utilizar e modificá-los a favor do bem
estar pessoal e social.
Quando se fala em gestão escolar, se fala em gerir capital material e
principalmente humano, pois a escola é esse movimento.
Um gestor escolar necessita ter conhecimento da realidade de sua
escola, para então poder coordenar e dirigir ações juntamente com toda a
comunidade escolar, a fim de que se planeje e se chegue a resultados
esperados.
Sendo um gestor um líder, não significa dizer que só o mesmo detém o
“poder”, apesar de este dito “poder” ser controlado pela máquina burocrática do
20 Estado. Quando se fala em liderança, não quer dizer que todas as decisões
precisam ser tomadas apenas por um, o líder.
O líder na verdade orienta uma equipe ou organização. Ser líder é ter
uma visão global, uma relação entre o homem e o seu ambiente de trabalho. É
saber organizar, ensinar e também ouvir e aprender.
A principal função de um gestor é conduzir pessoas para que obtenha os
melhores resultados das mesmas. Gerir democraticamente é esse movimento,
onde a equipe é ouvida, colabora, onde todos estão articulados em busca de
objetivos pré definidos, todos comprometidos com responsabilidade e ética, em
busca do sucesso.
O PNE (Plano Nacional de Educação) aborda a gestão democrática da
seguinte forma:
“Deve-se promover a efetiva desburocratização e
descentralização da gestão nas dimensões pedagógica,
administrativa e de gestão financeira, devendo as
unidades escolares contar com repasse direto de recursos
para desenvolver o essencial de sua proposta pedagógica
e para despesas de seu cotidiano. Finalmente, no
exercício de sua autonomia, cada sistema de ensino há
de implantar gestão democrática. Em nível de gestão de
sistema na forma de Conselhos de Educação que reúnam
competência técnica e representatividade dos diversos
setores educacionais; em nível das unidades escolares,
por meio da formação de conselhos escolares de que
participe a comunidade educacional e formas de escolha
da direção escolar que associem a garantia da
competência ao compromisso com a proposta pedagógica
emanada dos conselhos escolares e a representatividade
21
e liderança dos gestores escolares.” (PNE, 2001, p.160 e
161)
Teoricamente o discurso se mostra muito bonito, mas na prática não é
possível se observar que seja desta forma. Se vê muito a preocupação de
gestores em prestar contas com as Secretárias, com preenchimento de
documentos e mais documentos, culminâncias que deveriam pautar todo um
projeto de semanas ou meses e que na verdade são feitas de um dia para o
outro para apenas fazer com que a escola seja bem conceituada, a fim de que
se garanta o cargo da direção, a fim de que “se mostre trabalho” para quem
interessar.
Conselhos escolares são formados, mas geralmente não se sabe da
existência dos mesmos, ou, na maioria das vezes os participantes dos mesmos
não têm a possibilidade da verdadeira participação, pois não podem ser
liberados do trabalho, o empregador vai achar uma “besteira”, faltar o trabalho
para opinar ou decidir algo para auxiliar na educação de seus filhos.
O foco principal que seria a criança acaba se perdendo neste jogo de
interesses ou falta de interesse.
É importante frisar que não se pode achar que é uma regra o que foi
explanado nos parágrafos acima, mas que infelizmente é o que se vê na
maioria das escolas.
A gestão escolar direciona e mobiliza o modo de ser e de fazer das
escolas, objetivando permanentemente a qualidade do ensino, sendo
importante frisar que o conceito de qualidade do ensino é algo cultural,
segundo Heloísa Lück que afirma que esta qualidade:
“[...] ganha conotações e nuances diversas em vários
contextos e ambientes. Em vista disso, a sua definição em
educação passa pelo exame dos fundamentos, princípios
22
e objetivos educacionais e a natureza dos seus
processos. [...] torna-se importante aprofundar o seu
entendimento e construir a lógica da qualidade do ensino,
para além do apelo meramente verbal que tem sido
característica de discursos e documentos da educação.”
(LÜCK, 2010, p. 24)
Mas não basta apenas unir administração com qualidade de ensino para
se conceituar gestão escolar. Lück apresenta a gestão escolar como uma
mudança de paradigma, onde gerir supera administrar, onde gerir associa-se a
dimensão política e social, agindo em prol da transformação, cidadania,
autonomia, avaliação qualitativa etc.; a gestão não retira a importância da
administração, supera suas limitações.
A simples administração é um processo linear, racional e fragmentado,
onde a hierarquia está calcificada, a organização é sempre feita de forma
vertical, o que leva a um afastamento do idealizador de uma idéia da realização
da mesma. A administração tem objetivos utilitaristas, sem levar em conta a
dinâmica do processo, preocupando-se apenas com o resultado, ou seja, o
lucro.
Peter Drucker afirma que a administração é imprescindível em todas as
organizações, e que a função do grupo de pessoas que as administram é fazer
com que esta funcione bem.
“E em todas isso requer um trabalho específico: fixar
objetivos, metas e prioridades; organizar; selecionar e
colocar pessoal; medir resultados; comunicar e tomar
decisões; e assim por diante. E em todas elas é a
administração o órgão eficaz e ativo que faz com que haja
desempenho.” (DRUCKER, 2002, p. 13)
23
Essa definição faz parte da gestão escolar, apenas parte de uma
dimensão muito maior que envolve a gestão educacional. Com certeza há a
necessidade do gestor definir previamente os objetivos que deseja alcançar,
listar metas, priorizar pontos dentro da área financeira principalmente, a fim de
proporcionar melhor bem estar à comunidade escolar, que inclui não só os
educandos como também professores, funcionários.
Dentro da área pedagógica é mister haver uma avaliação do que
verdadeiramente é importante para aquela comunidade, investigar suas
aspirações, suas prioridades, sem esquecer lógico, de valorizar toda suas
vivências e experiências, a fim de oferecer uma aprendizagem significativa,
metodologicamente que interesse à comunidade e dê à esta habilidades para
traçar seu “destino” com ética e cidadania.
Sobre gestão escolar Heloísa Lück afirma que:
“Os sistemas de ensino e as escolas, como unidades
sociais, são organismos vivos e dinâmicos, e na medida
em que sejam entendidos dessa forma tornam-se
importantes e significativas células vivas da sociedade,
com ela interagindo, a partir da dinâmica de seus
múltiplos processos. [...] a gestão não se propõe a
depreciar ou invalidar a importância da administração,
mas, sim, a superar as limitações de enfoque
fragmentado, simplificado e reduzido. Para ser efetiva, a
gestão baseia-se na administração e a propõe como uma
dimensão e área da gestão que possibilita o bom
funcionamento das demais dimensões, a redimensioná-la,
no contexto de uma concepção de mundo e de realidade
construída a partir de visão da sua complexidade e
dinamicidade, pela qual as diferentes dimensões e
dinâmicas são concebidas como forças na construção da
24
realidade e sua superação, sem precisar reinventar a
roda.” (LÜCK, 2010, p. 50, 51, 53 e 54)
Algo muito importante na gestão escolar é que seja democrática, e para
que isso ocorra, é necessária a participação da comunidade escolar, na
tomada de decisões. Isso implica em autonomia, que se contrapõe a modelos
autoritários de administração.
O trabalho em equipe, onde as responsabilidades são distribuídas, é
muito importante, desde que o grupo apesar de suas individualidades, siga o
mesmo propósito, neste caso, que haja o comprometimento ético e profissional
em proporcionar aprendizagem significativa, desenvolvimento de habilidades,
atitudes e valores, que proporcione aos estudantes a construção de cidadania,
capacitando-os a serem sujeitos de seu conhecimento, capazes de transformar
suas realidades.
A relação escola/comunidade é importante, pois ajuda na resolução de
desafios cotidianos vivenciados na unidade escolar, como violência e até
mesmo permanência exitosa das crianças na escola. Mas para isso, é
necessário que a escola se veja como parte integrante da comunidade, logo,
que está sujeita a influências e transformações da mesma; assim como
também que a comunidade enxergue a escola como sua, na qual pode e deve
participar e cuidar.
Funcionários também têm seu papel na educação das crianças, através
do currículo oculto, são capazes e tem a responsabilidade de lutarem pela
qualidade de ensino. São pessoas com funções muito importantes, apesar de
infelizmente, nem sempre serem vistos dessa forma.
Se estiverem envolvidos verdadeiramente, de forma responsável, com a
qualidade de ensino; estes serão capazes de oferecer ideias, sugestões, de
uma ótica diferente, o que contribui muito para uma organização, um plano de
ação; e, também seriam capazes de oferecer um tratamento mais humano à
comunidade escolar.
25
Professores têm um papel estratégico na escola, logo, deveriam receber
o devido reconhecimento, através da valorização profissional com salários
dignos e formação qualificada. Se este é responsável direto pela
instrumentação fundamental da cidadania, é imprescindível que ele seja um
cidadão.
Além de uma formação de qualidade, também é necessário que se
atualizem constantemente para corresponder às expectativas da sociedade
que se modifica a cada instante.
A realização do ensino não depende apenas da vontade do educando,
depende e muito, da vontade do professor, sendo ele relevante para qualquer
modificação ou transformação da escola, é necessário que tenha participação
efetiva na elaboração de projetos na escola.
A construção coletiva de um projeto político pedagógico é de suma
importância. Celso Vasconcellos afirma que o projeto político pedagógico se
define pelo tipo de ação educativa que se deseja realizar, quanto à sua
intencionalidade e a partir da leitura da realidade. Sendo assim é o caminho
para a construção da identidade da instituição.
Essa identidade da escola deve ser construída por todos que dela fazem
parte. Só assim se terá uma gestão participativa e democrática, pois os
idealizadores que incluem a equipe pedagógica, dirigentes, professores,
funcionários e comunidade, sentir-se-ão responsáveis por tudo que acontece
na escola.
Quando se constrói algo, no caso o projeto, que apresenta finalidades
pré determinadas por seus autores, lógico, com a possibilidade de mudanças,
há um compromisso dos que estão envolvidos, favorecendo para que esse dê
certo.
O projeto político pedagógico não pode reduzir-se apenas à sua
elaboração com o auxílio de todos e pronto. Na verdade é uma atividade de
ação e reflexão permanente, pois continuamente há que analisar a realidade
26 escolar em suas condições concretas em busca de alternativas para solução
de problemas e resolução dos mesmos através de tomadas de decisões.
Através do projeto político pedagógico o gestor escolar norteia suas
ações, fugindo a possíveis improvisações. Deve ser considerado como um
instrumento de organização da escola, pois neste é instituído objetivos, modos
de agir, estruturas, hábitos, valores, procedimentos, atitudes, conteúdos, enfim,
o projeto orienta a prática de produzir uma realidade.
A produção da realidade ocorre primeiramente através da análise e
diagnóstico da realidade da escola presente, reflete-se sobre ela para então
definir objetivos e metas compatibilizando as diretrizes e políticas do sistema
escolar a fim de produzir uma nova realidade que atenda às prioridades
apontadas pela realidade concreta e compatibilizando com os recursos
humanos, materiais e financeiros disponíveis.
Faz parte do projeto político pedagógico a avaliação desse processo e
resultado previsto, tendo em vista a análise crítica do trabalho realizado e
reorientando-o caso necessário.
Logo, o projeto político pedagógico orienta a prática do gestor
objetivando que o mesmo atenda as especificações constituintes no projeto,
democratizando a gestão.
Uma gestão escolar democrática funciona com a participação de todos,
onde todos têm seu “papel”, todos têm para si a responsabilidade de lutar pelo
êxito escolar, pela melhoria da qualidade de ensino. Trabalhando assim, a
escola estará mais comprometida com a identidade de sua comunidade,
respeitando diferenças locais, concebendo uma escola participativa,
democrática e autônoma.
A gestão participativa é esse movimento, não decide por si só, ouve
diferentes segmentos, analisam as ideias juntos, a fim de chegar a um
consenso do melhor para todos. Tudo é pensado no coletivo. As
responsabilidades são dirigidas a todos.
27
Uma escola democrática só existe com a participação dos segmentos
que compõe o processo educacional, a família, o governo e a sociedade, todos
precisam ser ouvidos. Sobre a participação de todos em busca do mesmo
ideal, Heloisa Lück sintetiza muito bem:
“A superação da visão burocrática e hierarquizadora de
funções e posições, evoluindo para uma ação coordenada
e horizontalizada, passa, necessariamente, pelo
desenvolvimento e aperfeiçoamento da totalidade dos
membros do estabelecimento de ensino, na compreensão
da complexidade do trabalho educacional e percepção da
importância da contribuição individual de todos, em
articulação com os demais, para a realização dos
objetivos comuns da educação e da organização coletiva.”
(LÜCK, 2010, p. 90 e 91)
28
CAPÍTULO III
A QUALIDADE NO ENSINO
“Qualidade é, assim, questão de
competência humana. Implica
consciência crítica e capacidade de
ação, saber & mudar.”
(Pedro Demo, 1994, p. 19)
Qualidade como dito anteriormente depende do contexto, do ambiente.
Segundo Pedro Demo, a qualidade é um atributo humano, e o desenvolvimento
humano é o que melhor representa a marca humana.
Pedro Demo afirma que: “[...] buscar qualidade em qualquer instituição
significa trabalhar com seres humanos para ajudá-los a se construírem como
sujeitos.” (DEMO, 1994, p. 32)
Quando se fala em qualidade no ensino, busca-se a formação do
indivíduo de forma que possa fazer sua história e nela possa participar
ativamente.
No mundo capitalista em que se vive atualmente, é difícil acreditar que a
educação modifique a essência capitalista, que visa a mais-valia, ou seja, o
lucro a qualquer preço, através da exploração de trabalhadores e reduzindo
salários ao máximo. Mas, a educação pode diminuir os parâmetros dessa
exploração da mão-de-obra, e dar suporte à cidadania do trabalhador.
A base educativa comum inclui qualidade formal e qualidade política,
tanto no âmbito quantitativo, quanto no âmbito qualitativo; logo, saber ler,
escrever e contar apenas, já não é suficiente, não podem ser considerados os
mínimos suficientes. A questão da informação e da comunicação social hoje
em dia, é o foco.
29
Informar-se é ter acesso ao conhecimento disponível e ter a capacidade
de reconstruir a todo o momento um horizonte informativo.
“Os conteúdos são fundamentais e sem conteúdos
relevantes, conteúdos significativos, a aprendizagem
deixa de existir, ela transforma-se num arremedo, ela
transforma-se numa farsa. [...] o domínio da cultura
constitui instrumento indispensável para a participação
política das massas. Se os membros das camadas
populares não dominam os conteúdos culturais, eles não
podem fazer valer os seus interesses, porque ficam
desarmados contra os dominadores, que se servem
exatamente desses conteúdos culturais para legitimar e
consolidar a sua dominação. [...] dominar o que os
dominantes dominam é condição de libertação.”
(SAVIANI, 2002, p. 55)
O saber da escola deve ser o mesmo do lado de fora, o indivíduo deve
saber o porquê do que está aprendendo, para quê e deve relacionar esse
ensinamento à realidade da vida.
Quando se fala em qualidade no âmbito quantitativo, significa dizer que
existe uma quantidade mínima de informação universalmente disponível, que é
tanto interdisciplinar, quanto matricial. Quanto ao âmbito qualitativo,
compreende-se o mínimo de qualidade em termos de aprofundamento e
atualização, liberadas em habilidades metodológico-propedêutica, que são
habilidades pertencentes à linha o aprender a aprender. Habilitar um indivíduo
a manejar e produzir conhecimento, está além de obter conhecimento puro e
simplesmente.
A formação básica segundo Pedro Demo une a horizontalidade com a
verticalidade do saber; logo, não basta saber um pouco de cada coisa, mas
30 saber o que é necessário, ou seja, o “[...] saber estratégico, de teor
interdisciplinar e aprofundado, sobretudo propedêutico.” (DEMO, 2004, p. 30)
O professor como dito anteriormente é peça estratégica, mas é
necessário se repensar na formação deste profissional, que recebe uma
formação precária, desprovida de qualidade, ofertada através de cursos
arcaicos que se baseiam em simples transmissões de conhecimentos
copiados, a “educação depositária” segundo Paulo Freire. Logo, é difícil
proporcionar nas escolas uma educação de qualidade, se ele mesmo não a
recebeu.
O professor faz de sua aula um monólogo, onde ele se acha o dono do
saber e o educando deve ouvir, “aprender”, fazer a prova e ser promovido para
o próximo ano. Faz porque aprendeu assim, logo, não consegue fazer
diferente, ou, faz porque o importante é o salário no fim do mês, ou mesmo se
ouve muito frases como: Essas crianças não vão aprender mesmo!, Não
adianta ele não tem futuro!
A carreira profissional de professor também é desprestigiada
socialmente, não recebem salários adequados, o que ocasiona uma carga
horária de trabalho sobrehumana a fim de aumentarem seus salários e como
conseqüência não tem tempo para planejar, estudar, atualizar-se em curso de
especialização.
Se educação não é um ato neutro, é político, qualidade em educação
não pode ser pensada de forma abstrata, ou também não se pode pensar que
é inserir todas as crianças na idade adequada na escola, ou mesmo, mantê-los
dentro da escola de qualquer forma.
Qualidade educativa é o desafio de informar-se e manter-se informado.
Pedro Demo afirma que a formação básica ultrapassa a capacidade de ser
alfabetizado, que pode ser considerado apenas um pressuposto.
“Tem como finalidade principal dotar a pessoa da
capacidade de pensar crítica e criativamente, e de
31
manter-se em estado ininterrupto de atualização. [...]
constitui referência fundamental realimentadora de todo
processo formativo, profissionalizante ou não, perfazendo
o papel essencial de espelho e iluminação do processo de
mudança. [...] formar-se e reciclar-se tornaram-se
sinônimos. [...] Ao repto de saber, une-se o de revisar e
refazer o saber, o que significa poder sempre informar-se
convenientemente. (DEMO, 2004, p. 33 e 34)
A avaliação também é um ponto muito importante a ser comentado
quanto à qualidade do ensino. A avaliação deve ser utilizada como prática de
investigação, o que pressupõe a interrogação constante e que pode revelar-se
como um instrumento de grande importância para professores que são
comprometidos com uma escola democrática.
Faz parte do trabalho docente julgar, não existe trabalho de avaliação
sem julgamento. Mas é importante frisar que quando se avalia um educando, o
professor coloca num espelho e a público o seu trabalho, realizando uma
autoavaliação.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a avaliação é tida
como:
“[...] elemento integrador entre a aprendizagem e o
ensino; conjunto de ações cujo objetivo é o ajuste e a
orientação da intervenção pedagógica para que o aluno
aprenda da melhor forma; conjunto de ações que busca
obter informações sobre o que foi aprendido e como;
elemento de reflexão contínua para o professor sobre sua
prática educativa; instrumento que possibilita ao aluno
tomar consciência de seus avanços, dificuldades e
possibilidades; ação que ocorre durante todo o processo
32
de ensino e aprendizagem e não apenas em momentos
específicos caracterizados como fechamento de grandes
etapas de trabalho.” (PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS, 2000, p. 83 e 84)
Logo, a avaliação não deve ser vista, ou melhor, utilizada como uma
forma de controle ou castigo, estigmatizando e excluindo o educando. A
mesma tem como finalidade a reflexão da prática do professor, propiciando
avanço, progressão, mudança, que resulta em aprendizagem.
Uma escola que educa para a cidadania utiliza a avaliação de forma
contínua e processual, pois, não acontece ao final de cada bimestre ou ano
letivo, acontece durante o processo de aprendizagem; de forma participativa,
pois envolve os pais, educandos e professores; investigativa e diagnóstica,
respeitando o processo de construção de conhecimento de cada educando e
valorizando sua “bagagem pessoal”; e, também se utilizando de variados
instrumentos, não só as provas.
Quando se utiliza testes, verifica-se o desempenho do indivíduo através
de situações previamente organizadas, mas, há que se concordar que nem
todos os objetivos educacionais, como situações que envolvam relações
sociais, podem ser avaliados através de testes.
Avaliar é uma forma de julgar tendo como base uma escala de valores.
Sendo que através da avaliação é possível unir quantidade com qualidade.
Quando se avalia no ponto de vista educacional não se pode referir-se apenas
a aspectos quantitativos da aprendizagem, mas também é imprescindível que
se valorize os aspectos qualitativos, que abrangem a assimilação de
conhecimentos e informações, como também atitudes, habilidades, interesses,
hábitos de estudo, ajustamento social e pessoal.
Logo, testes e provas, não são suficientes para avaliar um educando, é
necessário se utilizar outros instrumentos avaliativos ao longo de todo processo
educacional, já que a avaliação não deve ou deveria ser encarada de forma
33 pontual e organizada, pois é um processo contínuo e sistemático; é funcional
pois se realiza em função de objetivos; é orientadora auxiliando o educando e o
professor a corrigir suas falhas e é integral, pois analisa os diversos aspectos
da aprendizagem de conhecimentos, habilidades, comportamento e
socialização do educando.
Esse tipo de avaliação, a qual é chamada de avaliação formativa, visa
diagnosticar avanços ou não, a fim de se intervir, com o intuito de redefinir a
prática pedagógica caso haja a necessidade.
Uma avaliação formativa auxilia tanto o professor quanto o educando,
levando-os a realizar uma autoavaliação, a fim de percorrer caminhos
adequados para alcançar uma aprendizagem significativa; a habilidade de
aprender a aprender; criar e recriar; informar-se; atualizar-se, enfim viver
cidadania.
“Em suma, os processos de organização e gestão das
escolas, a avaliação dos resultados por meio de provas
ou exames nacionais, a modificação dos currículos, os
modernos equipamentos – todos são fatores
imprescindíveis para promover a qualidade, mas eles
devem ser considerados como meios, não como fins. O
que as escolas precisam buscar, de fato, é a qualidade
cognitiva das experiências de aprendizagem dos alunos.”
(LIBÂNEO, 2008, p. 69)
Na escola que se deseja qualidade no ensino, o que pressupõe não só
aprender a aprender, mas também vivenciar a democracia, a cidadania, a
busca, interpretação e criação de informação; incentivo à pesquisa;
desenvolvimento de competências; preparação para o trabalho; respeito às
diferenças; acesso à cultura, dentre inúmeras finalidades, é bem pontuada por
José Carlos Libâneo que aponta cinco objetivos que sintetizam muito bem o
34 processo tão complexo que é a educação, não qualquer educação. Mas, a que
atende à sociedade atual, que visa a qualidade no ensino.
“1. Promover o desenvolvimento de capacidades
cognitivas, operativas e sociais dos alunos [...], por meio
dos conteúdos escolares.
2. Promover as condições para o fortalecimento da
subjetividade e da identidade cultural dos alunos; [...]
3. Preparar para o trabalho e para a sociedade
tecnológica e comunicacional; [...]
4. Formar para a cidadania ética; [...]
5. Desenvolver a formação para valores éticos; [...]”
(LIBÂNEO, 2008, p. 53 e 54)
No primeiro objetivo a questão refere-se à formação do educando, com a
preocupação de torná-lo um ser pensante, assimilando os conteúdos, mas
também e principalmente utilizando-os para desenvolver a capacidade do
pensar.
No segundo objetivo há a importância em que o educando compreenda
o mundo cultural, respeite as individualidades dos outros e tenha respeito
consigo mesmo, aumentando sua autoestima, desenvolvendo sua
sensibilidade.
O terceiro objetivo implica em promover a inserção competente e crítica
no mundo do trabalho, também objetiva à preparação para o mundo
tecnológico e da comunicação, preparando-se para o mundo das informações.
No quarto objetivo há a preocupação em que o indivíduo capacite-se
para ser capaz de transformar sua realidade e que no trabalho seja crítico, ou
seja, não existe apenas a preocupação em se encaixar no mundo do trabalho;
35 que exerça a cidadania dentro e fora da escola, sendo autônomo, participativo
e fazendo uso do diálogo em busca da justiça social e solidariedade.
No quinto objetivo a formação deve preocupar-se em propiciar
conhecimentos para que o educando adquira valores e critérios sobre
problemas da sociedade como questões raciais, de gênero, de minorias
culturais, sobre o meio ambiente, violência e outros.
Nesses objetivos fica claro a importância da escola e que essa ofereça
qualidade cognitiva da aprendizagem. A escola deve interagir com as práticas
sociais, sendo uma das impulsionadoras das transformações sociais.
Para Libâneo a qualidade na educação:
“[...] é aquela que promove para todos o domínio de
conhecimentos e do desenvolvimento de capacidades
cognitivas, operativas e sociais necessários ao
atendimento de necessidades individuais e sociais dos
alunos, à inserção no mundo do trabalho, à constituição
da cidadania, tendo em vista a construção de uma
sociedade mais justa e igualitária.” (LIBÂNEO, 2008, p.
66)
36
CONCLUSÃO
Através do estudo foi possível explorar um pouco mais as mudanças que
têm ocorrido na sociedade atual. Mudanças essas que envolvem o âmbito
econômico, político, social e principalmente o âmbito informacional.
Vive-se em um mundo capitalista, e que a educação não irá transformá-
lo, mas que trabalhadores mais bem preparados, indivíduos pensantes, que
saibam solucionar problemas complexos, que se tornam sujeitos de sua própria
história, têm maiores condições de lutar por seus direitos, que não se resumem
ao sufrágio universal, vão além, direito de exercerem a verdadeira cidadania, o
que os faz não só ter, como criar direitos e deveres, em busca de uma vida
mais digna.
A educação apresentada aqui não se resume apenas como instrumento
de transmissão de conhecimentos adquiridos historicamente, mas também a
construção, elaboração de ideias. Além dessa concepção, a educação
possibilita o indivíduo a “aprender a aprender”; a buscar, refletir, criar e
atualizar-se a todo o momento através da informação.
A informação é algo de suma importância nos dias atuais, logo, aprender
a informa-se, pesquisando, filtrando o que é valioso ou não; conflitar
concordando ou discordando; recriar informação, é algo de muito valor
atualmente.
A verdadeira educação cria no indivíduo habilidades tecno-
metodológicas para formá-lo em um cidadão visando a dimensão individual e
social.
Na dimensão individual a formação é voltada para a própria
personalidade do educando, tornando-o capaz de usufruir de bens sociais e
culturais que são proporcionados aos cidadãos de uma sociedade democrática.
37
Na dimensão social a formação não preocupa-se apenas com a
formação para o bem estar pessoal, e sim, o bem estar de todos, capacitando o
indivíduo a conviver com respeito às diferenças e individualidades de cada um.
Um gestor escolar que objetiva qualidade no ensino, pode dividir as
responsabilidades, o que não faz que perca o poder, até porque não se pode
perder o que não se tem, e fazendo isso é a escola que ganha o poder.
A escola se apropriando desse poder acaba pressionando o sistema
superior a conceber real autonomia e recursos para a mesma.
Uma escola que contempla essa educação, respeitando o trabalho do
professor, do gestor escolar, dos funcionários, educandos e da comunidade
conseguiria qualidade educacional? Infelizmente concluo que ainda há que se
caminhar bastante, pois o sucesso depende do comprometimento de cada
indivíduo que faz parte da escola, como também depende da ação do Estado,
um sistema maior, onde a escola está inserida.
Tendo compreendido o real significado de qualidade, que é algo único e
exclusivamente humano, onde esse busca a capacidade de tornar-se sujeito
ativo de sua história, é perceptível que a qualidade no ensino possa estar
caminhando a sua real concretude.
Acredito que não se trata de utopia, que um gestor escolar possa dirigir
junto com outros segmentos, uma escola com o objetivo maior que é
proporcionar qualidade no ensino. Tenho certeza de que isso não acontecerá
amanhã ou no próximo mês, pois sei que é difícil, romper com determinadas
acomodações.
Mas estou convencida de que se a formação, assim como a vida política
e social não estabelecerem, como dever fundamental, a criação de uma
sociedade verdadeiramente igualitária, pacífica, solidária, humana, enfim
democrática, permaneceremos em uma sociedade que maltrata, engana, que
exclui.
38
É preciso que de uma vez por todas se compreenda e principalmente
que se valorize, investindo não só financeiramente, mas na formação dos
atores que compõe o corpo escolar.
Gestores escolares precisam estar preparados para assumir tamanha
responsabilidade, e isso envolve formação e comprometimento ético e
profissional com uma educação democrática, com qualidade no ensino, em prol
do desenvolvimento de uma sociedade composta por cidadãos.
39
BIBLIOGRAFIA
APAP, Georges et al. A construção dos saberes e da cidadania: da escola à
cidade. Porto Alegre: Artmed, 2002.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2 ª ed. São Paulo:
Moderna, 1996.
DEMO, Pedro. Desafios modernos da educação. 13ª ed. Rio de Janeiro:
Vozes, 2004.
____________. Educação e qualidade. Campinas: Papirus, 1994.
DRUCKER, Peter Ferdinand. O melhor de Peter Drucker sobre administração:
fator humano e desempenho. São Paulo: Pioneira Learning Thomson, 2002.
EAGLETON, Terry. Marx e a liberdade. São Paulo: UNESP, 1999.
ESTEBAN, Maria Teresa (org.). Avaliação: uma prática em busca de novos
sentidos. 4ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. 24ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GADOTTI, Moacir, PADILHA, Paulo Roberto e CABEZUDO, Alicia. Cidade
educadora: princípios e experiências. São Paulo: Cortez, 2004.
40 LAROSO, Marco Antonio e AYRES, Fernando Arduini. Como produzir uma
monografia. 7ª ed. Rio de Janeiro: WAK, 2008.
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5ª.
ed. Goiânia: MF Livros, 2008.
PERRENOUD, Philippe. Construir competências desde a Escola. Porto Alegre:
Artmed, 1997.
PARO, Vitor Henrique. Gestão escolar, democracia e qualidade de ensino. São
Paulo: Ática, 2007.
PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
SAVIANI, Demerval. Escola e democracia. 35ª ed. São Paulo: Autores
Associados, 2002.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Coordenação do Trabalho Pedagógico: do
projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula. 11ª ed. São Paulo:
Libertad, 1999.
41
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I – ESCOLA, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE 10
CAPÍTULO II – A GESTÃO ESCOLAR 19
CAPÍTULO III – A QUALIDADE NO ENSINO 28
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA 39
ÍNDICE 41