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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE ANDRAGOGIA: QUANTO MAIS VELHO MAIS SE APRENDE Por: Marcus dos Santos Pereira Orientador Prof. Luiz Cláudio Lopes Alves Rio de Janeiro 2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ANDRAGOGIA: QUANTO MAIS VELHO MAIS SE APRENDE

Por: Marcus dos Santos Pereira

Orientador

Prof. Luiz Cláudio Lopes Alves

Rio de Janeiro

2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ANDRAGOGIA: QUANTO MAIS VELHO MAIS SE APRENDE

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Docência do Ensino Superior.

Por: Marcus dos Santos Pereira

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AGRADECIMENTOS

A DEUS que me deu saúde, paciência e força de vontade

para atingir os meus objetivos.

A todos professores, em especial à professora Mary

Sue por seu exemplo de conduta e habilidade em sala de aula.

A todos amigos que compartilharam as longas noites de

terças-feiras do ano de 2003, especialmente aos amigos Ângela, Ducival,

Luciene, Tânia e Salvatore, que muito me incentivaram.

Ao amigo Alexander Neri que digitou gentilmente esta

monografia.

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais que tanto me apoiaram e incentivaram a estudar e aos meus sobrinhos, para quem faço votos que encontrem na vida acadêmica inspiração para um futuro melhor.

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RESUMO

É comum ouvir que os adultos têm mais dificuldades em aprender, mas

será esta uma verdade científica? Quais os mecanismos psicológicos que

envolvem o aprendizado dos adultos? Quais técnicas podem ser empregadas

para desenvolver, acelerar ou facilitar a aprendizagem de adultos?

Inspirado nestas perguntas, a monografia a seguir procura conhecer um

pouco mais sobre a andragogia, comparando-a com a pedagogia e verificando

onde é possível atuar para melhorar o desempenho da aprendizagem dos

adultos.

Por fim, são mostrados exemplos onde claramente a aprendizagem de

adultos se deu de forma efetiva e perfeita, provando que “quanto mais velho,

mais se aprende”.

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METODOLOGIA

O fato motivador foi uma das aulas de Didática da professora Mary Sue,

ministrada no 1º. Semestre de 2003, durante o Curso de Pós-graduação em

Docência do Ensino Superior, onde ela citou uma reportagem da Revista Nova

Escola. Neste momento o autor ouviu, pela primeira vez, o termo

“andragogia”, e decidiu que este seria o tema da sua monografia.

Uma vez escolhido o tema, optou-se pelo caminho da pesquisa

bibliográfica. A primeira providência foi consultar a Internet, onde se encontrou

pouco material, mas vastas referências bibliográficas.

No campus Tijuca da Universidade Cândido Mendes, não foi localizado

nenhum livro abordando o assunto. Desta forma, foi necessário abrir o leque

para outras universidades: foram visitadas as bibliotecas da UERJ e Gama

Filho, onde foram encontradas as principais obras que serviram de base para

esta monografia.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Evolução Histórica 10

CAPÍTULO II

Conceito de Andragogia 15

CAPÍTULO III

Psicologia e Aprendizagem do Adulto 21

CAPÍTULO IV

Quanto mais velho mais se aprende 30

CONCLUSÃO 35

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37

ATIVIDADES CULTURAIS 40

ÍNDICE 41

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INTRODUÇÃO

Segundo Cavalcanti (1999), crianças são seres indefesos,

dependentes. Precisam ser alimentados, protegidos, vestidos, banhados,

auxiliados nos primeiros passos. Durante anos se acostumam a esta

dependência, considerando-a como um componente normal do ambiente que

as rodeia. Na idade escolar, continuam aceitando esta dependência, a

autoridade do professor e a orientação deles como inquestionáveis.

Com a adolescência vêm as primeiras manifestações de rebeldia. A

infalibilidade de pais e professores é questionada, assim como as próprias

motivações para ir à escola (“Por que preciso aprender trigonometria?”).

A idade adulta trás a independência. O indivíduo acumula experiências

de vida, aprende com os próprios erros, apercebe-se daquilo que não sabe e o

quanto este desconhecimento faz-lhe falta. Escolhe uma namorada ou esposa,

escolhe uma profissão e analisa criticamente cada informação que recebe,

classificando-a como útil ou inútil.

Todos parecem atentar para o fato básico de que crianças se tornam

um dia adolescentes e adultos, menos a instituição escolar. E eis que a

universidade e os cursos profissionalizantes tendem a utilizar com adultos os

mesmíssimos métodos e recursos do ensino fundamental e médio. Para

Cavalcanti (2001), entretanto, falar de educação continuada neste cenário é

falar de promoção social, criação de saberes, criatividade, liberdade de

pensamento, desenvolvimento de competências e julgamento, evolução de

atitudes através das múltiplas formas de educação formal, informal ou invisível

Para Lipman (1998), o processo educativo na sala de aula deveria

tomar como modelo o processo de investigação científica, ou seja, ao invés de

ensinar soluções, a escola deveria ensinar a investigar os problemas e

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propiciar o envolvimento dos alunos nos questionamentos, estimulando-os a

pensar de forma crítica, criativa e cuidadosa.

Concorda-se que educar é um verbo intransitivo, com sentido

completo, cuja ação fica no sujeito, conforme nos indica a Gramática da Língua

Portuguesa. Gagné (1996), também pensa assim, quando define educação não

como um simples veículo transmissor de conhecimentos mais como um

processo destinado a provocar uma mudança pode consistir em um aumento

da capacidade de realizações ou ainda numa modificação de atitudes,

interesses e calores. Para Mucchielli (1981), educar é assinalar como de

relevância a presença de forte identidade e ou interseção conceitual, quanto à

importância dada à experiência, e na ênfase à reflexão e à solução de

problemas, características operativas comuns à andragogia ativa da

descoberta ou por projeto e que denotam idêntico privilégio à idéia de

aprendizagem como processo prazeroso de investigação ativa, proativa,

contextualizada e criativa, que valoriza a autonomia, autodireção e a motivação

intrínseca do sujeito, como autor de seu processo de aprendizagem.

Revisar os pressupostos da andragogia e os elementos de uma

didática para os acadêmicos como demonstrou Ludojoski (1986), é contemplar

um dos problemas mais antigos e mais atuais da humanidade, a educação

permanente do acadêmico.

Neste sentido, o objetivo desta monografia é demonstrar os aspectos

básicos que ocorrem no processo da aprendizagem continua do acadêmico

através da andragogia.

Para isto, no capítulo I foi abordada a evolução histórica da andragogia,

no capítulo II foram abordados os diversos conceitos de andragogia,

comparando-a com a pedagogia, no capítulo III descreve-se a psicologia e as

características da aprendizagem de adultos e, finalmente, no capítulo IV são

listadas algumas técnicas eficazes na aprendizagem de adultos.

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CAPÍTULO I

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

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EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Para Silva (2001), a educação de adultos é uma prática tão antiga

quanto a história da raça humana, ainda que só recentemente ela tem sido

objeto de pesquisa cientifica. A nossa herança cristã, por exemplo, com mais

de dois mil anos, apresenta no Livro Sagrado, farto exemplo de relacionamento

educacional adulto através dos patriarcas, sacerdotes e o próprio Jesus Cristo

que foi, por excelência, o maior educador de adultos de todos os tempos. Ele

foi tão efetivo que, mesmo com uma clientela tão mista de aprendizes -

analfabetos e doutores, conseguiu resultados que até hoje continuam

transformando pessoas no mundo inteiro com a sua mensagem.

Outros na antiguidade, como Confúcio e Lao Tse na China; Aristóteles,

Sócrates e Platão na Grécia antiga; Evelid e Quintallian na antiga Roma foram

também exclusivos educadores de adultos. A percepção desses grandes

pensadores quanto à aprendizagem, era de que ela é um processo de ativa

indagação e não de passiva recepção de conteúdos transmitidos. Por isso suas

técnicas educacionais desafiavam o aprendiz para a indagação.

Os gregos, por sua vez, inventaram o que se chama de Diálogo

Socrático, no qual o líder, ou algum outro membro do grupo apresenta seu

pensamento e experiência para, a partir daí, os liderados buscarem solução

para um determinado assunto. Os romanos, por outro lado, foram mais

confrontadores. Eles usavam desafios para forçarem os membros de um grupo

tomarem posição em defesa própria. Apesar dos referenciais de antiguidade

acima, a historia explícita da Andragogia tem suas raízes na pedagogia e por

isso temos que resgatar um pouco sua memória evolutiva.

No começo do século VII foram iniciadas, na Europa, escolas para o

ensino de crianças, cujo objetivo era preparar jovens rapazes para o serviço

religioso - eram as conhecidas Catedrais ou Escolas Monásticas. Os

professores dessas escolas tinham como missão a doutrinação dos jovens na

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crença, fé e rituais da Igreja. Eles reuniram uma série de pressupostos sobre

aprendizagem, ao que denominaram de “pedagogia” - a palavra, literalmente,

significa “a arte e ciência de ensinar crianças” (A etimologia da palavra é grega:

“paido”, que significa criança, e “agogus” que significa educar). Esse modelo de

educação monástico foi mantido através dos tempos até o século XX, por não

haver estudos aprofundados de sua inadequação para outras faixas etárias que

não a infantil. Infelizmente, ele veio a ser a base organizacional de todo o

nosso sistema educacional, incluindo e empresarial. Entretanto, logo após a

Primeira Guerra Mundial, começou a crescer nos Estrados Unidos e na Europa

um corpo de concepções diferenciadas sobre as características do aprendiz

adulto. Mais tarde, após o intervalo de duas décadas, essas concepções se

desenvolveram e assumiram o formato de teoria de aprendizagem, com o

suporte das idéias dos pensadores a seguir.

Para Lindeman (1926), “... a educação de adulto será através de

situações e não de disciplinas. Nosso sistema acadêmico cresce em ordem

inversa: disciplinas e professores constituem o centro educacional. Na

educação convencional é exigido do estudante ajustar-se ao currículo

estabelecido; na educação de adulto o currículo é construído em função da

necessidade do estudante. Todo adulto se vê envolvido com situações

especificas de trabalho, de lazer, de família, da comunidade, etc. - situações

essas que exigem ajustamentos. O adulto começa nesse ponto. As matérias

(disciplinas) só devem ser introduzidas quando necessárias. Textos e

professores têm um papel secundário nesse tipo de educação; eles devem dar

a máxima importância ao aprendiz”. Fonte de maior valor na educação de

adulto é a experiência do aprendiz. Se educação é vida, vida é educação.

Aprendizagem consiste na substituição da experiência e conhecimento da

pessoa. A psicologia nos ensina que ainda que aprendemos o que fazemos, a

genuína educação manterá o fazer e o pensar juntos. A experiência é o livro do

aprendiz adulto.

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Maslow (1972), enfatizou o papel da segurança no processo de

crescimento. A pessoa sadia interage, espontaneamente, com o ambiente,

através de pensamentos e interesses e se expressa independentemente do

nível de conhecimento que possui. Isto acontece se ela não for mutilada pelo

medo e na medida em que se sente segura o suficiente para a interação. A

argumentação de Knowles (1990) está centrada na caracterização das

habilidades de manejar situações de ensino aprendizagem com adultos, tendo

como pressupostos os diferenciais biológicos, psicológicos, econômicos,

jurídicos e sociais que integram a dinâmica própria dos adultos. Os adultos são

conscientes de suas decisões de vida, e esperam ser tratados pelos demais

como indivíduos capazes de se autogerir. Engajando o educando em todas as

etapas de sua formação, e utilizado as energias do grupo como tal. Sua

identidade se constrói a partir de sua experiência e são as pressões internas

que são seus maiores fatores de motivação.

Lévy (1994) descreve que a inteligência coletiva é uma utopia do

instável e do múltiplo, relativo, dinâmico e provisório; não adia a felicidade e

incita ao aumento da liberdade dos indivíduos e dos grupos, à organização de

jogos onde só existem vencedores, a colocar em sinergia, transversalmente,

conhecimentos e conhecedores. Cada nova escola é feita em um caminho

original e imprevisível de aprendizagem coletiva e de invenção de si próprio.

Compreender a mutação contemporânea de ter a chance de tornar-se ator

(agente) deste processo.

Já para Freire (1997), o homem e mulher são só únicos seres capazes

de aprender com alegria e esperança, na convicção de que a mudança é

possível. Aprender é uma descoberta criadora, com abertura ao risco e a

aventura do ser, pois ensinando se aprende e aprendendo se ensina. Assim,

educar é como viver: exige a consciência do inacabado porque a história em

que me faço com os outros é um tempo de possibilidades e não de

determinismo.

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É visível a identidade em sua concepção dialética de mundo, homens,

educação, refutando ideologias imobilizantes, e suas propostas de ação

contemplam singularidades e pluralidades que podem servir como bússola para

orientar nossa navegação pelos mares da educação do acadêmico. Ver a

riqueza de aspectos que permeiam o processo de educação do acadêmico em

diversidade de formas e conteúdos abrindo o leque espacial e temporal, no

paradoxo do longe/perto pela simultaneidade de aprendizagens e,

principalmente, pela liberdade interativa e criativa da Andragogia.

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CAPITULO II

CONCEITO DE ANDRAGOGIA

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CONCEITO DE ANDRAGOGIA

Segundo Felix Adam (apud Rosa, 2001), o conceito de andragogia está

fundamentado na etimologia, anner, homem, agogus, conduzir. Complementa

este conceito indo mais além, ou seja, operacionalizando e afirmando que a

andragogia busca:

- Manter, consolidar e enriquecer os interesses do adulto para abrir-lhe

novas perspectivas de vida profissional, cultural, social, política, familiar.

- Orientar o adulto na busca de novos rumos de caráter prospectivo, que

levem à idéia de aperfeiçoar e progredir.

- Atualizar o adulto, renovar seus conhecimentos para que siga

aprendendo, investigando, reformulando conceitos e enriquecendo suas vidas

culturais, científicas, tecnológicas.

- Projetar o conhecimento para a dimensão humana para que chegue a

interpretar-se em sua essência e reconhecer seu papel de participante

responsável pela vida no planeta.

Os conceitos inerentes ao modelo andragógico têm, subjacente, uma

definição de adulto que implica a capacidade de este ser responsável por si

próprio nos diferentes contextos de vida. Assim, o acadêmico surge como

responsável pela sua própria vida. Lindeman (1926) identificou, pelo menos,

cinco conceitos para a educação do acadêmico e que mais tarde

transformaram-se em suporte de pesquisas. Hoje eles fazem parte dos

fundamentos da moderna teoria de aprendizagem de adulto, a saber:

- Acadêmicos são motivados a aprender à medida que experimentam

que suas necessidades e interesses serão satisfeitos. Por isto estes são os

pontos mais apropriados para se iniciar a organização das atividades de

aprendizagem do adulto.

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- A orientação de aprendizagem do adulto está centrada na vida; por

isto as unidades apropriadas para se organizar seu programa de aprendizagem

são as situações de vida e não disciplinas.

- A experiência é a mais rica fonte para o adulto aprender; por isto, o

centro da metodologia da educação do adulto é a análise das experiências.

- Adultos têm uma profunda necessidade de serem autodirigidos; por

isto, o papel do professor é engajar-se no processo de mútua investigação com

os alunos e não apenas transmitir-lhes seu conhecimento e depois avaliá-los.

Para Márquez (1998), “é a disciplina educativa que trata de

compreender o adulto, desde todos os componentes humanos, psicológicos,

biológicos e sociais”.

Alcalá (1999), sustenta que a “Andragogia é a ciência e arte que, sendo

parte da antropologia e estando imersa na educação permanente, se

desenvolve através de uma prática fundamentada nos princípios de

Participação e Horizontalidade; cujo processo, ao ser orientado com

características energéticas pelo Facilitador da aprendizagem, permite

incrementar o pensamento, a autogestão, a qualidade de vida e a criatividade

do Participante adulto, com o propósito de proporcionar uma oportunidade para

que alcance sua autorealização”.

Para o mesmo autor, no ano de 2000, a prática andragógica é “um

conjunto de ações, atividades e tarefas que devem ser administradas aplicando

princípios e estratégias andragógicas adequadas, visando a possível facilitação

do processo de aprendizagem do adulto”.

Já Knowles (1980) relata os seguintes conceitos:

- Conceito de aprendente surge como alternativa do acadêmico. O

aprendiz é autodirigido; isto significa que é responsável pela sua aprendizagem

e estabelece e delimita o seu percurso educacional;

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- Experiência do aprendente. Este modelo assume que os adultos

entram num processo educativo com diferentes quantidades e qualidades de

experiências. Esta diversidade deve ser aceita, servir de base à formação e ser

considerada uma importante fonte de recursos a partilhar e valorizar;

- Disponibilidade para aprender. O modelo Andragógico assume que o

acadêmico começa a estar disponível para aprender quando sente a

necessidade de conhecer ou quando pretende melhorar a sua performance em

determinado aspecto da sua vida. Chama a atenção para a possibilidade de

induzir essa necessidade através da exposição a modelos mais eficazes, do

planejamento da carreira, etc.;

- Orientação para aprender. O acadêmico entra numa atividade

educativa centrada na vida, na tarefa ou no problema concreto a resolver; tem

uma orientação pragmática. Então, importa organizar as experiências de

aprendizagem (currículo) de acordo com unidades temáticas que tenham

sentido e sejam adequadas às tarefas a realizar nos seus diversos contextos

de vida;

- Motivação para aprender. Este modelo tem em conta as motivações

externas - melhor trabalho, aumento salarial, mas valoriza, particularmente, as

motivações internas - auto-estima, reconhecimento, melhor qualidade de vida,

autoconfiança, atualização das potencialidades pessoais.

Knowles (1984) fornece outros conceitos de aplicação dos princípios da

andragogia para o modelo de treinamento em acadêmicos, conforme segue:

- Para o acadêmico as instruções precisam ser orientadas para o

trabalho, em vez de ser direcionada para a memorização - a atividade de

aprendizado deve estar no contexto de tarefas comuns a serem realizadas.

- As instruções devem considerar a grande faixa de diferentes

backgrounds dos aprendizes; os materiais e as atividades de aprendizado

devem levar em conta os diferentes níveis/tipos de experiência anterior.

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- Como acadêmicos são autodirecionados, as instruções devem permitir

que aprendizes descubram as coisas por si sós, fornecendo orientação e ajuda

quando erros são cometidos.

- Acadêmicos precisam estar envolvidos no planejamento e avaliação

de suas instruções.

- Experiência (inclusive erros) fornece a base para as atividades de

aprendizado.

- Acadêmicos são mais interessados em aprender matérias que têm

relevância imediata para seu trabalho ou vida pessoal.

- O aprendizado acadêmico é centralizado no problema, em vez de ser

orientado para o conteúdo.

Partindo destes princípios assumidos por Knowles, inúmeras pesquisas

foram realizadas sobre o assunto. Em 1980, Brundage e MacKeracher

estudaram exaustivamente a aprendizagem em adultos e identificaram trinta e

seis princípios de aprendizagem, bem como as estratégias para planejar e

facilitar o ensino. Wilson e Burket (1989) revisaram vários trabalhos sobre

teorias de ensino e identificaram inúmeros conceitos que dão suporte aos

princípios da Andragogia. Também Robinson (1992), em pesquisa por ele

realizada entre estudantes secundários, comprovou vários dos princípios da

Andragogia, principalmente o uso das experiências de vida e a motivação

intrínseca em muitos estudantes.

Comparando-se o aprendizado de crianças (pedagogia) e de adultos

(andragogia), se destacam as seguintes diferenças:

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Características da

Aprendizagem

Pedagogia Andragogia

Relação

Professor/Aluno

Professor é o centro das

ações, decide o que

ensinar, como ensinar e

avalia a aprendizagem.

A aprendizagem adquire

uma característica mais

centrada no aluno, na

independência e na auto-

gestão da aprendizagem

Razões da

Aprendizagem

Crianças (ou adultos)

devem aprender o que a

sociedade espera que

saibam (seguindo um

currículo padronizado)

Pessoas aprendem o que

realmente precisam

sabem (aprendizagem

para a aplicação prática

na vida diária)

Experiência do

Aluno

O ensino é didático,

padronizado e a

experiência do aluno tem

pouco valor

A experiência é rica fonte

de aprendizagem, através

da discussão e da

solução de problemas em

grupo.

Orientação da

Aprendizagem

Aprendizagem por

assunto ou matéria

A aprendizagem baseada

em problemas, exigindo,

ampla gama de

conhecimentos para se

chegar à solução

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CAPÍTULO III

PSICOLOGIA E APRENDIZAGEM DO ADULTO

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PSICOLOGIA E APRENDIZAGEM DO ADULTO

3.1 – Psicologia do adulto

Ferreira (1986), define adulto como “o indivíduo que atingiu o completo

desenvolvimento e chegou à idade vigorosa”.

Díaz (2000), considera adulto “a pessoa maior de

18 anos, cujas condições de vida necessitam de processos educativos em

diferentes níveis em seu desenvolvimento individual e social”

Papalia e Olds (apud, Alcalá, 1999), “consideram que a idade dos

adultos se estende a partir dos vinte anos e estabelecem três tipos de

maioridade: (a) Idade Adulta Inicial (entre 20 e 40 anos), (b) Idade Adulta

Intermediária (entre 40 aos 65 anos) e (c) Idade Adulta Final (depois dos 65

anos), sendo está a última fase da vida de uma pessoa” .

Como se vê, até o presente não há acordo entre os investigadores

quando existe a necessidade de definir o adulto e nomear as idades

correspondentes e suas diferentes etapas vitais.

As características especiais da aprendizagem no adulto dependem em

grande parte da característica de psicologia desta idade evolutiva. Por tanto,

examinaremos previamente algumas destas peculiaridades da condição adulta,

tomando as perspectivas de três autores diferentes:

Adolfo Alcalá afirma que:

“Etimologicamente a palavra adulto, do latim adultus,

significa crescer. O crescimento da espécie humana a

diferencia das demais, se manifesta de maneira

ininterrupta e permanente do ponto de vista psico-social e

não do ponto de vista biológico, que finaliza em um dado

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momento em alcançar o desenvolvimento máximo de sua

filosofia e morfologia orgânica. Pode-se definir como a

plenitude vital o qual levanta os seres vivos em um dado

momento de sua existência, sendo variável segundo as

espécies biológicas. Em muitos, este estado é iniciado

cedo e, em outras, mais tarde. O período de crescimento

e desenvolvimento se prolonga consideravelmente na

espécie humana e, diferente das demais, se desenvolvem

em etapas sucessivas, de forma relativa até alcançar

progressivamente a maioridade” (ALCALÁ, 1999).

O mesmo autor aceita como características de adultos, dentre outras, as

seguintes: é uma pessoa capaz de procriar, de assumir com inteira

responsabilidade certos assuntos inerentes à vida social e tomar decisões com

plena liberdade.

Segundo Felix Adam

“A maioridade, como etapa da integração biológica,

psicológica, social e ergológica é o momento de alcançar

a plenitude vital, pois na maioridade temos a capacidade

de procriar, de participar em um trabalho produtivo e

assumir responsabilidades inerentes à vida social, para

atuar com independência e tomar nossos próprias

decisões com inteira liberdade. As características mais

ressaltantes dos adultos são:

– Vida autônoma sob o ponto de vista

sócio-econômico.

– Possui um conceito de si mesmo como capaz de

tomar decisões e autodirigir-se.

– Joga um papel social, que agüenta

responsabilidades do ponto de visto econômico e cívico.

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– Faz parte de uma população economicamente ativa

e cumpre uma função produtiva.

– Atua independentemente em múltiplas

manifestações da vida.

– A inteligência substitui a instintividade.” (ADAM,

1971).

Adam afirma ainda que além destas características mais universais, o

adulto jovem de hoje é apresentado como altamente polêmico e conflitante

questionador da sociedade, da ciência e da tecnologia, rejeitam as atitudes

paternalísticas, dinâmicas, o pesquisador de uma qualidade de vida humana

com demandas fortes que respeite a possibilidade dele para crescer como a

pessoa e aceite-o como crítico, racional e criativo. O estudante universitário,

pelo fato de ser maduro, rejeita a rigidez e inflexibilidade pedagógica com que é

tratado pelos professores que freiam indiretamente o processo autorelação,

aspiração natural e característica da mocidade e dos adultos em geral.

Segundo Beatriz Fainholc:

“As experiências sexuais e sociais do adulto e as

responsabilidades são de tal magnitude que o separa

substancialmente do mundo do menino (...): os adultos

têm mais experiências; os adultos têm experiências de

tipos diferentes; e as experiências dos adultos são

organizadas em forma diferente. Para entender o

estudante maduro que vem à procura de conhecimento é

preciso conhecer a ampla gama de experiências que

integram a sua vida.” (FAINHOLC, 1999)

Vemos assim que estes autores destacam como características

centrais da idade madura o crescimento, a integração e plenitude vital, e a

existência de experiências novas. É interessante destacar que o adulto também

está crescendo, contra certos mitos populares do tipo “o menino está

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crescendo, mas o adulto já cresceu”. Estes e outras características serão

necessárias ter em conta para entender como a aprendizagem está na

maioridade.

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3.2 - Aprendizagem do adulto

A qualquer idade, a aprendizagem é um processo pessoal porque

ninguém aprende por nada, e implica uma mudança de conhecimento, de

comportamentos ou de experiências sócio-afetivas como resultado de uma

necessidade interna ou de uma demanda do ambiente. Há aprendizagens que

requerem de professor e outros que não.

Prevost (1947) diz: “aprender é incorporar em si mesmo os fatos,

verdades e sensações que antes eram externas e até desconhecidos.

Aprender é transformar em substância intelectual ou sensível própria que

previamente não pertenceu a ela. Aprender é aumentar a vida e é o meio

essencial do crescimento interior”.

Segundo Díaz (2000), a aprendizagem acontece quando a pessoa está

preparada a aprender, porque o conhecimento é construído a partir do que a

pessoa já sabe e depende tanto do propósito e do interesse do indivíduo, a

partir do grau de desenvolvimento das capacidades intelectuais inerentes para

a pessoa. Deste modo, a aprendizagem começa quando na mente do indivíduo

surge um problema, uma resposta inconclusa ou um estado de confusão e

incerteza; também começa quando a pessoa aceita o desafio do desconhecido

e ele se apressa para procurar soluções.

Neste contexto, Díaz ainda afirma que:

- Aprender a conhecer: Desenvolver habilidades, destrezas, hábitos,

atitudes e valores que permitem o adulto adquirir as ferramentas da

compreensão como meio para entender o mundo que o cerca, viver com

dignidade, comunicar-se com o outro, e estimar a generosidade do

conhecimento e a investigação.

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- Aprender a aprender: Desenvolver habilidades, destrezas, hábitos,

atitudes e valores que permitem o adulto adquirir ou criar métodos,

procedimentos e técnica de estudo e de aprendizagem de forma que possa

selecionar e processar informação eficientemente, entender a estrutura e o

significado do conhecimento de forma que isto possa discutir, negociar e

aplicar. Aprender a aprender constitui uma ferramenta que permite o adulto

continuar aprendendo toda vida.

- Aprender a fazer: Desenvolver a capacidade para inovar, criar

estratégias, meios e ferramentas que lhe permitem combinar o conhecimento

teórico e o prático com o comportamento socio-cultural, desenvolver a aptidão

para trabalhar em equipe, a capacidade de iniciativa e de assumir riscos.

- Aprender a ser: Desenvolver as integridades físicas, intelectuais,

sociais, afetivas e as éticas da pessoa na qualidade de adulto, de trabalhador,

de sócio familiar, de estudante, de cidadão.

Vejamos, então, outras características especiais da aprendizagem nos

adultos:

- Conhecimento útil:

Fainholc (1999) indica que o adulto quer respostas que se relacionem

diretamente com sua vida; as probabilidades residem em que ele as adapte

para as experiências da sua vida, por meio de estimativas qualitativas e

experiências vitais que lhe permitem fazer considerações novas. Se for visto

nas atividades da educação do adulto que se pode obter conhecimento

aplicável, participará delas. Caso contrário, desistirá. O fato que o estudante

adulto seja diferente permite entender o que Havighurst (1999) chama “o

momento favorável para ensinar”. Este momento chega quando uma pessoa

precisa de um conhecimento ou técnica que lhe ajude a resolver algum

problema vital e profissional.

- A experiência

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Os adultos são motivados a aprender à medida que essa

aprendizagem satisfaça as suas necessidades de experiência e interesses

(Knowles, 1990). A orientação adulta para a aprendizagem está centrada na

vida; por outro lado às unidades apropriadas para a aprendizagem adulta são

situações reais. De já, todos os adultos não acumularam as mesmas

experiências. De fato, segundo Knowles (1990) as diferenças individuais de

pessoas são aumentadas com a idade. A experiência é o recurso mais rico na

aprendizagem adulta. Os adultos têm necessidade de autodireção, cabendo ao

professor proporcionar um processo mútuo de investigação, em vez de

transmitir seu conhecimento e avaliar de acordo com isto.

- Operação Psicológica

O adulto não aprende como a criança. Tight (1983) afirma que o adulto

tem um funcionamento psicológico diferenciado que repercute em suas formas

de aprender e também na metodologia didática que devemos empregar.

Dell’ordine (2000) cita algumas das condições da aprendizagem de

adultos encontradas com mais freqüência:

– Formam grupos heterogêneos em: idade, interesses, motivação,

experiência e aspiração.

– O papel de estudante é marginal ou provisional.

– O interesse gira ao redor do bem-estar, a ascensão social ou a

auto-estima.

– Os objetivos estão claros e concretos, elegido e valorizado.

– As realizações e sucessos serão desejados intensamente ou com

ansiedade.

– Existe preocupação com o fracasso.

– Possível suscetibilidade e insegurança ante as críticas.

– Freqüentemente traz o peso de experiências de aprendizagem

frustrantes que lhe convence que não pode adquirir conhecimento

novo.

– Fontes heterogêneas de conhecimento, às vezes contraditória.

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– Maior concentração em classe, a qual favorece o aproveitamento

do tempo em classe.

– Possui mecanismos de compensação para superar as

deficiências e os recursos da experiência.

– Precisa de alternância e variabilidade, para a capacidade relativa

de um esforço “intelectual prolongado”.

Assim sendo, os professores devem considerar que as

características da aprendizagem dos adultos são, entre outras:

- O adulto tem muitas bagagens históricas, culturais e sociais como

conseqüência de pertencer completamente a um certo ambiente.

Encontra-se integrado em umas formas de vida determinadas.

- O adulto participa na aprendizagem. Conta com um elevado sentido

prático da vida e com ampla experiência.

- O participante constrói seu próprio conhecimento com ajuda do

mediador.

Por isso, é necessário que o professor seja um incentivador da

aprendizagem. Necessita saber como aprende o adulto para poder estabelecer

a orientação apropriada do conhecimento e metodologias da aprendizagem.

Finalmente, Porto (1997) cita outras características psicológicas que

incidem no modo de aprender do adulto: “trabalham, não têm tempo; cansam-

se mais rapidamente; estão mais motivados; não têm hábitos de tomar notas

nenhuma de estudo; são mais responsáveis; estão exigindo mais; querem

profissionalismo; e gostam de participar”.

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CAPITULO IV

QUANTO MAIS VELHO MAIS SE APRENDE

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QUANTO MAIS VELHO MAIS SE APRENDE

Quanto mais velho menos se aprende. Segundo Néri (2003), esta é uma

grande mentira sustentada por frases pseudocientíficas, que não passam pelo

mais simples crivo científico.

Ideologicamente foi cômodo até hoje dizer que as pessoas mais velhas

não têm bom desempenho nos treinamentos formais oferecidos pelas

empresas. É só isso que se pode dizer e nada mais.

Tecnicamente está provado que se trocarmos a metodologia de ensino e

a adaptarmos às características das pessoas maduras elas terão o

desempenho esperado. O erro estava no método e não na idade dos

aprendizes.

Em outras palavras, basta substituir a PEDAGOGIA pela

ANDRAGOGIA. Andragogia é a abordagem adequada para educar e treinar

pessoas maduras e pessoas velhas. Pedagogia é uma abordagem mais

adequada ao ensino infantil e juvenil.

Vejamos alguns exemplos:

- Luis Fernando Veríssimo, escritor. Escreveu a

primeira crônica aos 33 anos. Tímido e arredio, era

responsável pela seção de horóscopo de um jornal.

Depois dos 30 anos, ficou mais sociável e confiante.

(VEJA, 17 de setembro de 2003, pág. 90)

- Paul Gauguin, pintor. O francês passou a se

dedicar à pintura em tempo integral depois de completar

33 anos. Antes foi marinheiro e bancário. (VEJA, 17 de

setembro de 2003, pág 91)

- Harrison Ford, ator. Apesar de ter estudo para ser

ator e de algumas aparições esporádicas em filmes, Ford

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deixou de trabalhar como carpinteiro só depois dos 30

anos (VEJA, 17 de setembro de 2003, pág 91).

- José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura. O

português admitiu para si próprio que era um escritor aos

58 anos, com o romance Levantando do Chão. (VEJA, 17

de setembro de 2003, pág. 92).

- Raymond Kroc, empresário. Representante

comercial de um fabricante de máquinas de

milk-shake, tinha 53 anos quando começou a criar o

McDonald’s e fazer dele uma das marcas mais

conhecidas do planeta. (VEJA, 17 de setembro de 2003,

pág. 92)

- Adolf Hitler, ditador alemão. Era um completo

fracasso até os 30 anos de idade, ascendeu até se tornar

um homem com poder para matar milhões de pessoas e

deixar a Europa em ruínas. (REVISTA

SUPERINTERESSANTE, novembro de 2003, pág. 64)

Segundo Néri (2003), deve-se aplicar a técnica certa para a idade certa.

Vejamos algumas das características principais das técnicas andragógicas

para a educação de adultos, citadas por Neri:

1. Motivação para o treinamento e educação

O Adulto precisa ver a relação entre o que vai ser ensinado e a sua vida

real e imediata. Ele não aprende por aprender mas para melhorar a sua

contribuição para a empresa e para a sociedade. Em outras palavras, para

melhorar a suas qualidade pessoal, a sua competência e ser respeitado pelos

demais.O medo do fracasso e do erro normalmente é compensado pela

necessidade do que tem que ser aprendido.

2. Conteúdo relevante do treinamento

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O material do treinamento deve conter informações úteis e operacionais

para o dia a dia do adulto aprendiz. Os progressos devem ser muito claros e o

reconhecimento deve ser mais constante do que o apontar erros. Quanto mais

parecido com o trabalho e com a experiência do treinando, melhor.

3. Familiaridade

Mesmo o treinamento de novas atitudes e habilidades deve estabelecer

transições entre o que a pessoa já sabe e o que ela precisa aprender. Nada

existe solto no espaço e as pessoas que já têm uma história profissional de

sucesso não gostam de simplesmente renegar o que sabem para substituir por

algo "novo". É preferível a transição do que a substituição.

4. Desafio

As atividades de treinamento devem conter desafios a serem vencidos

pelos aprendizes. Isto motiva o trainee adulto. Desafiar os aprendizes para

resolver novos problemas, usar de forma diferente os conteúdos aprendidos e

principalmente interagir com a realidade a partir dos novos instrumentos se

adapta às características do aprendiz adulto.

5. Aprendizagem vicariante

O adulto aprende o tempo todo, ouvindo, vendo, experimentando e

associando. Muitas vezes de forma não programada. É por isto que ao invés de

um professor falando eles prefiram visitas, benchmarking, reuniões ou outras

formas de aprender no dia a dia.

6. Ritmo Variado

É importante avaliar o ritmo de aprendizagem e vida dos aprendizes.

Quando o tempo é adequado às características individuais o adulto aprende

igualmente aos mais jovens.

7. Autocontrole

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Esta é uma das mais importantes diferenças entre a Pedagogia e a

Andragogia. O aprendiz adulto gosta de interferir e tomar decisões sobre o

conteúdo e o desenrolar do treinamento/curso. Ele não faz um curso por fazer

como se estivesse seguindo umas trilha já aberta. Ele prefere abrir os seus

atalhos.

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CONCLUSÃO

Os adultos têm experiências de vida mais numerosas e mais

diversificadas que as crianças. Isto significa que, quando formam grupos, estes

são mais heterogêneos em conhecimentos, necessidades, interesses e

objetivos. Entretanto, ainda utilizamos técnicas infantis para alfabetizar adultos,

tratamos estudantes universitários como se estivessem na 1a. fase do ensino

fundamental, mantendo-os dependentes de professores e currículos

estabelecidos. As iniciativas não encontram apoio, nem são estimuladas. A

instituição e o professor decidem o que, quando e como os alunos devem

aprender cada assunto ou habilidade.

É preciso reconhecer estas diferenças e soprar novos ventos no ensino

dos adultos, seja na Educação de Jovens e Adultos (EJA), na Educação à

Distância (EAD) ou na Educação Universitária. As características de

aprendizagem dos adultos devem ser exploradoras através de abordagens e

métodos apropriados, produzindo uma maior eficiência das atividades

educativas.

Embora utilizada intuitivamente há mais de dois mil anos, a andragogia

surge, neste contexto, como a “pedagogia dos adultos”.

Trata-se de uma ciência fundamentada nos princípios da horizontalidade e da

participação, cujo processo deve ser orientado pelo facilitador da

aprendizagem, viabilizando o incremento do pensamento, a autogestão e a

criatividade do participante adulto.

Desta forma, o professor precisa se transformar num tutor eficiente de

atividades de grupos devendo demonstrar a importância prática do assunto a

ser estudado, deve transmitir entusiasmo pelo aprendizado, a sensação de que

aquele conhecimento fará diferença na vida dos alunos, ele deve transmitir

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força e esperança, a sensação de que aquela atividade está mudando a vida

de todos e não simplesmente preenchendo espaços em seus cérebros.

Por outro lado, o estímulo ao autodidatismo, aliado ao desenvolvimento

da capacidade de autoavaliação e do trabalho em equipes trará bons

resultados no ensino de adultos. É preciso enfatizar a responsabilidade pessoal

pelo próprio aprendizado e a necessidade de capacitação para a aprendizagem

continuada ao longo da vida. É preciso estimular a responsabilidade social,

formando profissionais competentes, com auto-estima, seguros de suas

habilidades profissionais e comprometidos com a sociedade à qual deverão

servir.

Esqueçamos então, a história de que quanto mais velho, menos se

aprende. Utilizemos as técnicas certas, com as pessoas certas e vejamos os

resultados.

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ATIVIDADES CULTURAIS

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

EVOLUÇÃO HISTÓRICA 10

CAPÍTULO II

CONCEITO DE ANDRAGOGIA 15

CAPÍTULO III

PSICOLOGIA E APRENDIZAGEM DO ADULTO 21

3.1 – Psicologia do adulto 22

3.2 – Aprendizagem do adulto 26

CAPÍTULO IV

QUANTO MAIS VELHO MAIS SE APRENDE 30

CONCLUSÃO 35

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37

ATIVIDADES CULTURAIS 40

ÍNDICE 41