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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
AS CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA NA
PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA COM ALUNOS E PACIENTES
COM SÍNDROME DE ASPERGER
Por: Elenice Ribas de Alencar Aquino
Orientadora
Marta Pires Relvas
Rio de Janeiro
2012
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
AS CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA NA
PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA COM ALUNOS E PACIENTES
COM SÍNDROME DE ASPERGER
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Neurociência Pedagógica
Por: Elenice Ribas de Alencar Aquino
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AGRADECIMENTOS
À minha Mestra, Dayse Serra. pela
sabedoria, dedicação, e simplicidade.
Com sua amorosidade, conquista os
corações daqueles que desejam aprender.
Acolhe, cuida, orienta e estimula o
aprendente a caminhar com passos
seguros nos novos caminhos.
Luta pelo o sucesso das pessoas, no
desejo de que todas possam brilhar em
sua trajetória de vida.
Contribui para a busca da felicidade do
homem, e na construção de um Mundo
Melhor, mais feliz, mais justo.
À minha Mestra Marta Relvas, por seu
brilhantismo. Com afeto e compromisso
com a Educação, transmite com sabedoria
e maestria seus conhecimentos sobre a
Neurociência Pedagógica. Valoriza o ser
humano integralmente, despertando nele,
a investigação científica e potencializando
seu desenvolvimento.
À meu filho, Bruno Aquino Nicolino, pelo
incentivo que carinhosamente oferece a
cada dia, para o meu aperfeiçoamento
acadêmico e espiritual.
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DEDICATÓRIA
Aos meus alunos, pacientes e familiares.
À.todos os educadores e profissionais da
área da Saúde.
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RESUMO
Sabe-se que a escola é um grande norteador do sucesso acadêmico e
social do aluno e que é um processo gradativo e constante. O diálogo
verdadeiro, claro e seguro entre pais, filhos e escola durante a vida acadêmica,
contribui para o crescimento integral da criança com Síndrome de Asperger. É
de grande importância para a instituição de ensino, ter uma equipe pedagógica
e de professores com conhecimento dos estudos atuais da neurociência
pedagógica. Educadores engajados com os especialistas da criança com
Síndrome de Asperger, como neurologistas, psicólogos, psicopedagogos e
fonodiólogos, permite a criação de uma rede de conexões sociais que podem
ser determinantes no desenvolvimento do ajustamento emocional, cognitivo e
social da criança. As crianças com Síndrome de Asperger são inteligentes, com
boa memória, porém com dificuldade na comunicação, interação social e
imaginação, ou seja, a mesma tríade do autismo. Aprendem a ler e escrever
precocemente e se dedicam intensamente a determinados assuntos pouco
usual para a idade. A fala muitas vezes é pedante, com frases rebuscadas,
repetidas de forma estereotipadas. Geralmente apresentam dificuldade na
compreensão de palavras simples do uso diário. Essas crianças têm bom
prognóstico e costumam receber diagnósticos errôneos de distúrbios de
conduta, dificuldade de socialização, desordem da atenção, como
hiperatividade e desatenção, entre outros. Esse estudo orienta em linhas
gerais, aos pais e educadores na compreensão do comportamento da criança
com Síndrome de Asperger, identificando como a criança se manifesta diante
das situações diárias na sociedade, como reagem com suas emoções positivas
e negativas, no lar, na escola, nos eventos sociais. O ambiente escolar
promove a integração do aluno com síndrome de Asperger, pois é uma fonte
de estímulos para o desenvolvimento de aprendizagem. A educação
comportamental tem papel primordial na busca da inibição dos
comportamentos inadequados, como as estereopatias, a hiperatividade e a
auto-agressão. O quadro do espectro do autismo impõe que toda a avaliação
psicopedagógica seja uma ação e uma pesquisa sobre o indivíduo, com
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pertinência na sua história biológica, familiar e social; seu amor, seu desejos,
suas necessidades, psicopedagogos institucionais e clínicos, utilizam os
instrumentos teóricos e práticos, da neurociência pedagógica, onde a
observação e interpretação do comportamento da criança é a bussola na
condição de todo o processo. Os pesquisadores sobre essa síndrome
constataram que o portador da síndrome de Asperger pode aprender e evoluir
no universo acadêmico e social para que no futuro possam ter além de um
distúrbio neurobiológico, um grande potencial para uma vida bem sucedida e
feliz
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METODOLOGIA
Esta monografia foi desenvolvida com o estudo de cunho bibliográfico
em que por meio desta metodologia, pude compreender a importância da
neurociência pedagógica para a formação dos professores, psicopedagogos,
fonodiólogos e profissionais da área da educação e saúde.
Esse estudo apresenta as principais áreas do cérebro associadas à
aprendizagem, a emoção, ao comportamento humano do portador da
Síndrome de Asperger.
O estudo sobre a anatomia e fisiologia do Sistema Nervoso é fascinante,
pois está intimamente ligado a emoção e razão do homem. Aprender sobre as
áreas cerebrais com um enfoque neuropedagógico, e psicopedagógico,
permite ao educador um conhecimento mais profundo das patologias
neurológicas e psiquiátricas, permitindo uma intervenção mais precoce,
precisa e consequentemente uma atuação mais adequada para uma evolução
cognitiva, emocional e social.
As pesquisas em neurociências estão cada vez mais profundas e
detalhadas, possibilitando o conhecimento de vários distúrbios debilitantes e
ainda incuráveis como a Síndrome de Asperger. A Neurociência pedagógica
de grande valor para os professores e psicopedagogos, pois suas descobertas
contribuem consideravelmente para o aperfeiçoamento da prática pedagógica.
Para o referencial teórico transcorresse de forma positiva e que o
desafio proposto transformasse em aprendizagem, realizei pesquisas em livros,
fiz fichamentos com anotações de livros, textos e artigos. Marta Pires Relvas,
Dayse Carla Gênero Serra, Lou de Oliver, Susan Thompson Moore, Chris
Williams, Barry Wright, Eugênio da Cunha, Robert Lent,, Hellen Bee.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
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CAPÍTULO I – Síndrome de Asperger
13
CAPÍTULO II – Neurociência Pedagógica
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CAPÍTULO III – Os enlaces entre neurociência e a Síndrome de
Asperger
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CONCLUSÃO
55
ANEXOS
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
69
ÍNDICE
71
FOLHA DE AVALIAÇÃO
72
9
INTRODUÇÃO
As instituições escolares possuem várias responsabilidades sendo que a
mais conhecida delas é a de estimular a criança tornando-se o agente
facilitador do desenvolvimento de suas capacidades cognitivas e de todo seu
potencial, tendo como objetivo mister a formação de futuros cidadãos
pensantes, capazes de governarem suas próprias vidas dentro das leis, direitos
e deveres familiares e sociais no que ele está inserido.
Sabe-se o quanto é difícil educar uma criança com Síndrome de
Asperger. Cada vez mais, os pais exigem resultados, de seus filhos no que
tange à assimilação dos conteúdos pedagógicos, e também sua educação bio-
psico-social.
E é exatamente neste ponto que deve-se trabalhar com os educadores
e com as famílias, sob a ótica da neurociência pedagógica, ou seja considerar
os aspectos neurológicos e por conseguintes emocionais, cognitivos e sociais.
Fazê-los sentirem-se respeitados e, com isso, despertar neles a admiração e
respeito, não somente da criança, mas também pelas famílias, educadores e
escola.
A tarefa de educar deve ser construída em equipe, ou seja, realizando
ações que tragam profissionais habilitados na construção da aprendizagem da
criança. A parceria com a família, pais e escola, é também fundamental para o
desenvolvimento da criança com Síndrome de Asperger. A escola deve permitir
o diálogo entre os pais e educadores da instituição, incentivando-os no
compartilhamento e divisão desta tão delicada missão de educar crianças com
Síndrome de Asperger, um espectro do autismo.
Aparecendo nos primeiros anos de vida, proveniente de causas
genéticas ou por uma síndrome ocorrida durante o período de desenvolvimento
10
da criança, o autismo possui no seu espectro as incertezas que dificultam, na
maioria dos casos, um diagnóstico precoce. Ele tem demandado estudos e
indagações, permanecendo ainda desconhecido de grande parte dos
educadores. Não há padrão fixo para a fora de como ele se manifesta, e os
sintomas variam grandemente.
O termo autismo origina-se do grego autos, que significa “de si mesmo”.
Foi empregado pela primeira vez pelo psquiatra suíço E. Bleuler, em 1911, que
buscava descrever a fuga da realidade e o retraimento interior do paciente
acometido de esquizofrenia. O autismo compreende a observação de um
conjunto de comportamentos agrupados em uma tríade principal:
comprometimentos na comunicação, dificuldade de interação social e
atividades restrito-repetitivas. O DSM-IV-TR, 2000 (Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais), publicado pela American Psychiatric
Association, e CID 10 (Classificação Internacional de Doenças), e da
Organização Mundial da Saúde, são consoantes ao descreverem o autismo.
Leo Kanner, psiquiatra austríaco, naturalizado americano, publicou as
primeiras pesquisas relacionadas ao autismo em 1943. Ele constatou uma
nova síndrome na psiquiatria infantil denominada, a princípio, de distúrbio
autístico do contato afetivo. A denominação de kanner deve-se à observação
clínica de crianças que não se enquadram em nenhuma das classificações
existentes na Psiquiatria Infantil.
Kanner observou crianças com uma inabilidade no relacionamento
interpessoal que a diferenciava de outras patologias, bem como atrasos na
aquisição da fala e dificuldades motoras. Ele definiu o autismo como uma
patologia nos três primeiros anos de vida, o que ocasionou o interesse da
Psicanálise nas relações mãe com o bebê.
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O CID 10 classifica o autismo como um dos Transtornos Invasivos do
Desenvolvimento. O manual aponta também outros distúrbios com quadro
autísticos: Síndrome de Asperger, Autismo Atípico, Transtorno de Rett,
Transtorno Desintegrativo da Infância.
Síndrome de Asperg, diferente do autismo clássico, principalmente por
não ocorrer retardo mental, atraso cognitivo e considerável prejuízo na
linguagem. Apesar de não haver o retraimento peculiar autístico, a criança,
entretanto torna-se muito solitária. Desenvolve interesses específicos, modos
de pensamentos complexos, rígidos e impermeáveis a novas idéias. O
transtorno de Asperger é frequentemente considerado uma forma leve de
transtorno autistico. Os critérios diagnósticos para ele são altamente
semelhantes aos para transtorno autista (DSM-IV-TR, 2000)
Autismo Atípico, termo utilizado quando existe um comprometimento
grave e global de desenvolvimento da interação social, da comunicação verbal
e não verbal e a presença de estereotipias de comportamento, interesses e
atividades, não satisfazendo os critérios para classificação de Transtorno
Autista, em vista da idade tardia de seu início.
Transtorno de Rett, proveniente de causas desconhecidas e com severo
retardo mental. O transtorno de Rett é relatado até o momento em apenas
crianças do sexo feminino. Ocorre pelo desenvolvimento progressivo de
múltiplos deficts específicos após período de funcionamento norma durante os
primeiros meses de vida. Possui severo prejuízo no desenvolvimento da
linguagem expressiva e receptiva, aliado a um grave retardo mental e
psicomotor, além de probabilidade da incidência de convulsões.
Transtorno Desintegrativo da Infância é muito mais raro que o autismo,
com sintomas semelhantes ao de Rett, mas incide predominantemente nos
meninos e, geralmente é acompanhado de retardo mental. “É uma regressão
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pronunciada em múltiplas áreas do funcionamento, após o período de pelo
menos dois anos e (até antes de dez) de desenvolvimento aparentemente
normal”. (Baptista & Bosa, 2002, p.46). No período que antecede a doença, a
criança pode se tornar irrequieta, irritável, ansiosa e hiperativa. Ocorre o
empobrecimento e a perda da fala e da linguagem, e é acompanhado por
desintegração do comportamento.
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CAPÍTULO I
SINDROME DE ASPERGER
As características hoje conhecidas com Síndrome de Asperger
foram identificadas pela primeira vez em 1944, pelo pediatra Hans Asperg,em
Viena, Austria. Em 1990, a comunidade médica internacional começou a
reconhecer e aceitar a Síndrome de Asperger, como um transtorno de
desenvolvimento incluído no espectro austístico que resulta em uma série de
dificuldades, entre os quais se incluem problemas de comunicação e
socialização.
1.1– O que é Síndrome de Asperger?
Em 1943, Leo Kramer chamou a atenção pela primeira vez para um
grupo de crianças que apresentava isolamento social, alteração da fala e
necessidade extrema de manutenção da rotina. A este conjunto de sintomas
Kramer denominou autismo.
Nas décadas seguintes, o autismo se fortaleceu como entidade
diagnóstica e passou a ser estudado por muitos pesquisadores. Com o passar
dos anos o conceito de autismo foi se ampliando, e admite-se hoje que existam
diferentes graus de autismo.
Nas primeiras décadas após a descrição inicial de Kamer,
consideravam-se autistas somente indivíduos com grave comprometimento
para a vida diária. Pouco divulgado na ocasião, o autismo se tornou
relativamente mais conhecido em 1979, com o filme “Meu filho, meu mundo”.
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Desde a descrição original até o dia de hoje, o conceito de autismo
sofreu grande modificação. Não se entende mais o autismo como uma doença
específica, e sim como um conjunto de sintomas e dificuldades que causam
prejuízo qualitativo na interação social, dificuldade na comunicação verbal e
repertório restrito de interesses e atividades
Os sintomas classificados em três grandes grupos por Wing (1979)
formam o tripé dos sintomas autísticos e são eles: falha na interação social
recíproca, comprometimento da imaginação (comportamentos e interesses
repetitivos) e dificuldade na comunicação verbal e não verbal.
Para que a criança receba o diagnóstico de autismo é necessário haver
comprometimento dos três pés do tripé, e que os sintomas tenham tido início
antes dos três anos de idade. Não é necessário que o comprometimento seja
de igual intensidade para cada grupo, isto é, para uma determinada criança
pode haver um comprometimento mais intenso da comunicação do que da
socialização. Se considerar cada um dos pés do tripé, separadamente, é
possível visualizar os diferentes graus de acometimento possíveis.
É, portanto fundamental entender que o autismo hoje é considerado uma
síndrome comportamental na qual apresenta um leque de gravidade para o
conjunto dos sintomas. Esta é à base do conceito de espectro austístico, no
qual os quadros severos (autismo não verbal) e no outro extremo os quadros
leves (como a desordem de Aspeger ou Transtorno Invasivo não especificado).
Entre esses dois extremos são encontrados os graus intermediários de
autismo.
Em termos de nomenclatura, autismo é considerado pelo DSM-IV
(Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorder, da Associação de
Psiquatria) como transtorno invasivo do desenvolvimento – TID (ou, em inglês,
Pervasise Development Disorder – PDD). Essa categoria pressupõe a
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presença de um desvio no desenvolvimento típico (e não só um atraso), sendo
necessário apresentar sintomas dos três pés do tripé. Na prática, é possível
utilizar Transtorno Invasivo do Desenvolvimento e Espectro Autístico como
sinônimos. Sabe-se que o primeiro é o nome que faz parte da classificação
oficial atualmente.
O termo autismo deve ser reservado para as situações nas quais exista
atraso na aquisição da fala, além do restante do tripé. Quando não existir
atraso na aquisição da fala, com o restante do tripé presente, devemos falar em
desordem de Asperger.
Síndrome de Asperger é uma desordem neurobiológica que pode ter
causas genéticas, ser provocada por doenças ou traumas cerebrais (Fritz,
1991). Classifica-se como um dos “transtornos globais ou invasivos do
desenvolvimento” (Pervasive Developmental Disorder), junto com autismo,
Transtorno de Rett, Desordem Desintegrativa da Infância e Transtorno de
Desenvolvimento sem outra especificação (PDD-NOS, segundo a Associação
Americana de Psiquiatria, 2000).
Os profissionais médicos utilizam um conjunto de testes com critérios
específicos para diagnosticar a Síndrome de Asperger. Nesses testes estão
incluídos a dificuldade de interação social, comunicação e flexibilidade de
pensamento.
Indivíduos com Síndrome de Asperger podem apresentar dificuldade
com a integração sensorial, desenvolvimento da linguagem e funcionamento
motor. Algumas crianças apresentam pouco ou nenhuma dessas
características, manifestando-as somente em situação de estresse.
Bee afirma que devido suas habilidades de linguagem e cognitivas
normais, a maioria das crianças com Síndrome de Asperger não se diferencia
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de seus pares até seu segundo ou terceiro aniversário, quando outras crianças
começam a se envolver em brincadeira cooperativa. Entretanto crianças
normais dessa idade variam amplamente, portanto frequentemente presume-se
que crianças com Síndrome de Asperger têm “desenvolvimento tardio” ou
estão “passando por uma fase”.
Diagnosticar a síndrome é ainda difícil, pois o comportamento de um
indivíduo com Síndrome de Asperger é muito parecido com as características
dos autistas. Há um número grande de crianças que apresentam
rotineiramente comportamentos estereotipados, ansiedade, alheamento,
dificuldades sociais e problema de comunicação.
A Síndrome de Asperger afeta diferentemente cada indivíduo, por isso o
profissional necessitará de avaliações do comportamento, das interações
sociais e do funcionamento cognitivo na escola e em casa.
Crianças com Síndrome de Asperger não compreendem os códigos
sociais de conduta como esperar sua vez, respeitar o espaço pessoal,
adequar-se a um assunto, isso porque carecem das habilidades para
estabelecer parcerias e amizades. Por causa dessas poucas ou nenhumas
habilidades, a criança pode se tornar passiva demais ou extremamente
agressiva.
Crianças portadoras da Síndrome de Asperger, frequentemente carecem
de percepção social e demonstram emoções limitadas mais intensas.
Normalmente apresentam dificuldades de linguagem que afeta de maneira
adversa seu sucesso na interação social, podendo levar a isolamento,
agressividade, depressão e/ou ansiedade. Necessitam de supervisão e ajuda
constantes durante todos os tipos de interação social, desde as primeiras
brincadeiras em parquinhos e praças.
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Como resultado de seus déficits sociais e de linguagem, as crianças com
Síndrome de Asperger têm dificuldade de começar e manter um diálogo. Elas
não sabem envolver um interlocutor e tampouco sabem como ser um bom
ouvinte. O contato visual pode ser nenhum, intenso ou pouco natural, dando a
impressão de desinteresse e discordância. Quanto mais se concentram no que
está sendo falado, mais elas olham para longe do rosto do interlocutor, porque
muitas vezes é mais fácil captar uma informação quando não precisam
processar simultaneamente informações visuais e auditivas. Apresentam
também déficit na Teoria da Mente, ou seja, quando estão falando com outros,
falham em levar em consideração o que seu ouvinte ou interlocutores possam
estar pensando. Muitas vezes monopoliza a conversa falando somente sobre
assuntos de seu interesse, o que prejudica o desenvolvimento do diálogo e
consequentemente o relacionamento interpessoal. A falta dessa habilidade de
interagir com o outro provoca na criança com Síndrome de Asperger,
sentimentos de solidão, ostracismo e baixa estima, pois ele não entende as
pistas sociais e a linguagem corporal e denunciam que ele está aborrecendo o
ouvinte, não dando oportunidade de manifestar sua opinião.
1.2- As crianças com Síndrome de Asperger.
Segundo Myles & Andreon, 2001, para aprender a entender as regras
de contato social, as crianças com a Síndrome de Asperger muitas vezes
necessitam de orientação, apoio e treinamento para compensar carência de
habilidades sociais.
Os interpretes ajudam na compreensão da linguagem não verbal (direta
ou específica), como braços cruzados, não no quadris, caretas e tradução de
frases e gírias diversas.
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Myles & Southwick, afirmam, que um fato inesperado ou não
compreendido pode levar a criança portadora dessa síndrome a apresentar seu
“ciclo de raiva”(rage cicle), levando-a a auto-agressão.
“Indivíduos com Sindrome de Asperger, podem perceber
e reagir ao seu ambiente de maneira diferente de seus
colegas neurotípicos, por causa de suas deficiências
neurológicas. Muitas exibem sentimentos de ansiedade e
medo através de comportamentos estereotipados como
fazer perguntas repetitivas, mascar as mãos ou a roupa,
hiperatividade, balançar o corpo ou ter rompantes
verbais.” Fritz,1991
Nas interações sociais, tais como brincar no parque, ou ter uma
conversa no almoço, ocorre frequentemente e eventos ou mudanças
inesperadas, as quais as crianças neurotípicas se ajustam facilmente. No
entanto, essas mudanças ou eventos causam problemas para as crianças com
Síndrome de Asperger.
Estudantes com Síndrome de Asperger tem dificuldade em se ajustar
ao ambiente de classe, onde as mudanças são inevitáveis, podem necessitar
de um recanto individual de estudo ou um tempo fora da classe, em um
ambiente menor, ou de uma área privada durante parte do dia.
Muitas crianças com Síndrome de Asperger têm problemas com a
integração sensorial, ou seja, seus sentidos são ultra ou pouco reativo.
Qualquer sentido pode ser afetado e suas reações podem ser interpretadas
como imaturidade, desafiadoras e agressivas. (Myles, Cook, Miller, Rinner&
Robbins, 2000)
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Devido aos problemas neurológicos, os indivíduos podem ter tanto o
funcionamento motor fina como o grosso afetado. As crianças podem ter
dificuldade de imitar e executar tarefas motoras, o que por sua vez afeta a
coordenação, ritmo e destreza. As dificuldades que as crianças enfrentam
devido ao seu desajeitamento motor podem causar-lhes muitos problemas
diários. Parecem desajeitados e desastrados e frequentemente vítimas de troça
e ostracismo, sentem-se humilhados, embaraçados e deprimidos.
Segundo Bee (2011), muitas dessas crianças exibem comportamentos
bizarros, repetitivos, tais como abanar as mãos. Algumas desenvolvem
ligações com objetos e tornam-se extremamente ansiosas ou mesmo
enraivecidas, quando separados deles. Outras apresentam comportamentos
autoprejudiciais como bater a cabeça na mesa ou na parede.
O grau e o tipo de deficiência em processamento cognitivo variam muito
entre indivíduos com Síndrome de Asperger. O grau de inteligência varia muito
entre esses indivíduos, variando de abaixo da média e muito superior.
Dependendo do interesse sobre o assunto a ser aprendido, o aluno pode
mergulhar profundamente sobre o tema, adquirindo mais conhecimento do fato
e descobrindo situações e arranjos novos. Essa é mais uma característica
marcante da Síndrome do Asperger– interesse restrito ou muito intenso por
determinado assunto.
Segundo Attwood, 1998, essas crianças, apresentam pensamentos
rígidos e muitas vezes são difíceis conseguir com que pensem atém dês suas
próprias crenças ou percepções A flexibilidade é uma das habilidades mais
importantes que devem aprender. As crianças devem aprender a se ajustar às
mudanças inesperadas. Se as mudanças forem introduzidas na rotina de
maneira planejada e sistemática será mais prazerosa sua vida escolar e social.
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Controlar a impulsividade das crianças é outra tarefa para os pais e
educadores. A maioria dos indivíduos aprende a controlar seus impulsos. A
impulsividade pode ser muito prejudicial e adotar regras de comportamento por
escrito, ajudará amenizar uma situação inesperada.
Alguns indivíduos com Síndrome de Asperger têm uma memória
excelente para decorar, mas têm dificuldade com a memória significativa. Eles
precisam de assistência para guardar a informação na memória e para acessar
essas informações, pois seu cérebro não processa a mensagem. Estudantes
com Síndrome de Asperger podem necessitar de tempo extra e recursos
visuais para processar as informações pertinentes dada em um trabalho, pois
têm dificuldade em aplicar a situações de vida real habilidades recentemente
aprendidas.
Como qualquer grupo de crianças, os estudantes com esta síndrome
apresentam um espectro de habilidades. Alguns têm além patologia,
dificuldades de aprendizado, outros são brilhantes em algumas áreas e têm
deficiências de aprendizado em outra. Como resultado, essa crianças não
somente precisam de adaptações para seus problemas com a síndrome, como
também precisam de estratégias para ajudá-las a compensar suas
necessidades de aprendizado.
Para atender as necessidades das crianças, é importante determinar
cuidadosamente as causas de seus problemas acadêmicos. O que pode
parecer uma deficiência de aprendizado às vezes se deve a síndrome e vive-
versa. Isso pode incluir desordem de leitura, como dislexia ou hiperlexia,
dificuldade em operações matemáticas, ou desordem na linguagem expressiva
e/ou receptiva.
Algumas crianças com a Síndrome de Asperger podem apresentar
talentos ou habilidades superiores em algumas áreas e por isso precisam ser
21
desafiadas de forma apropriada nas áreas em que são bem-dotadas. Muitas
invenções e descobertas e obras de artes têm sido realizadas por pessoas com
esta síndrome.
1.3 – As crianças com Síndrome de Asperger e a Escola
Devido às dificuldades de linguagem, sociais, sensoriais motoras e
cognitivas, os estudantes com Síndrome de Asperger precisam de
acomodações planejadas para atender suas necessidades específicas. Estas
podem incluir organização do ambiente de estudo, maneiras de agrupar e
manejar os estudantes durante trabalhos cooperativos, criação e uso de apoios
visuais, antecipação (Wild, Koegel & Koegel – 1992), uso de tecnologia de
apoio, ensino de técnicas de anotação da matéria, desenvolvimento de agenda
de tarefas e rotinas de lições de casa e modificação das avaliações. Essas
estratégias oferecem estrutura e previsibilidade para o estudante com
Síndrome de Asperger, ajudando-os a tornarem-se capazes de desenvolver
uma rotina, manter-se organizados e atingir expectativas dos professores.
A previsibilidade e a familiaridade do estudante com o meio que o cerca
traz conforto e segurança. Preparar um ambiente de ensino eficiente requer
preparo e planejamentos específicos.
A sala de aula deve ser organizada e acolhedora. Mudanças e
bagunças podem resultar em ansiedade, problemas de comportamento,
perguntas repetitivas / retraimento. No começo do ano letivo, a equipe
pedagógica deve fornecer ao estudante com Síndrome de Asperger um mapa
da escola e da classe ajudando-o a orientar-se.
Crianças com Síndrome de Asperger frequentemente tem dificuldade
com equilíbrio, coordenação e percepção visuoespacial. Uma organização
simples da sala de aula facilita a aprendizagem. A decoração deve ser
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apresentada de forma adequada, não poluindo os murais com muitas
informações e/ou trabalhos.
Regras de Condutas devem ficar claras para todos os alunos da classe,
principalmente para os que apresentam a Síndrome. Se necessário, utilizar
símbolos e códigos com cores para organizar o material escolar e o ambiente.
É importante lembrar ao estudante que as o planejamento pode ser alterado,
para isso deve-se preparar um cartão para o estudante comunicando: “As
coisas mudam.” O que parece um ajuste mínimo para a professora e outros
alunos, pode ser fonte de raiva e frustração para alunos com Síndrome de
Asperger.
Na maioria das salas de aula, a organização das carteiras varia
dependendo da atividade ou da rotina do dia. Alguns alunos com Síndrome de
Asperger devem ter permissão de sentarem sozinhos, pois ficar muito próximo
de outra pessoa pode gerar ansiedade ou distração, podendo dificultar a
aprendizagem. Outros ainda não têm habilidades sociais necessárias para
permanecer em grupo. Providenciar oportunidades para interações com os
colegas é positivo, entretanto deve ser um movimento gradativo e natural. É
importante aceitar e respeitar o espaço pessoal quando os aluno com
Síndrome de Asperger se distanciar dos outros colegas, ou do professor.
Normalmente essa atitude do aluno é apenas uma estratégia para lidar com
uma situação nova e não uma demonstração de desafio ou desinteresse. O
vinculo com o professor e/a classe é um forte aliado para gerar confiança e
proporcionar a todos os alunos novas conquistas e saberes.
Desenvolver projetos e trabalhos em pequenos grupos permite não só a
troca de ideias dos alunos sobre o tema, como favorece oportunidade de todos
deslustrarem suas habilidades. Os grupos podem ser formados baseando-se
em um interesse especial do estudante com a síndrome. Interesses especiais
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são grandes motivadores para encorajar a participação e desenvolver auto-
estima.
A divulgação da rotina diária é benéfica para todos os aluno e essencial
para as crianças com Síndrome de Asperger. A familiaridade e previsibilidade
que a rotina diária proporciona o estudante com a síndrome, a adquirir mais
segurança e autonomia, reduzindo a ansiedade e aceitando as mudanças com
mais flexibilidade. Mudanças e surpresas podem resultar em comportamento
inadequado, alta ansiedade e acessos de raiva. Inevitavelmente, haverá
momentos em que o professor não poderá avisar previamente os alunos sobre
as mudanças; mas sempre que possível avise e converse com o estudante
com a síndrome.
É bom criar listas de checagem, pois elas auxiliam o aluno com
síndrome de Asperger a se manter mais focado para executar as tarefas e os
trabalhos. As listas devem ser elaboradas de acordo com o grau de
compreensão do estudante podendo ser feita com gravuras, fotos, cores,
palavras ou textos. Pode-se também organizar por cores e símbolos. À medida
que o aluno vai adquirindo autonomia, as fichas vão automaticamente
diminuindo. Toda conquista do aluno deve ser valorizado com elogios e
reforços positivos, estimulando-o a desenvolver cada vez mais sua cognição.
A maioria dos professores e dos alunos não se incomoda com o barulho
de ventiladores, lápis caindo, cadeiras sendo arrastadas pelo chão, entretanto
o aluno com a síndrome pode ficar muito irritado, pois muitas vezes apresenta
sensibilidade exagerada a sons e estímulos visuais. Essa situação pode
provocar ansiedade e deixá-lo nervoso, desconcentrado e agressivo. As listas
possibilitam uma maior organização para executar as tarefas e proporcionam a
estabilidade emocional, pois eles ficam mais focados na realização das tarefas.
24
Construir um Plano de Atividade é mais uma maneira eficaz de adquirir
independência e autoconfiança. O Plano de Atividade lista o que é necessário
para iniciar uma atividade.
1.4 - Parceria Família & Escola
“O ser humano só se construi a partir do “outro”, e este
“grande outro” que nos servirá de modelo identificatório
para toda a construção do nosso ser.”
Freud
A partir do momento em que a criança nasce à mãe cuida e alimenta seu
bebê com carinho e ternura, posteriormente a partir da “fala” desta mãe, ocorre
a entrada do pai para instalar-se na construção da família - a tríade: bebê, mãe
e pai.
M. Klein defende em suas teorias a importância de prevalecerem no ser
humano a predominância dos registros mnênicos* relacionados ao “seio bom”,
ou seja, os sentimentos positivos de afeto, proteção e segurança através da
mãe com o seu bebê.
Portanto, fica claro que uma criança quando é matriculada na escola já
possui vários registros e “marcas” nela produzidas por sua família nuclear que,
por sua vez possui registros particulares por conta de seus progenitores e as
influências que sofreram no ambiente social em que viveram e se constituíram
como sujeitos. O que percebe-se, empiricamente, é que os pais desconhecem
esse processo e esperam que a escola eduque seus filhos de acordo com
seus desejos manifestos e latentes.
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A teoria de K.Horney defende a idéia de que “O ambiente que os pais
proporcionam à criança e a maneira como esta reage a ele formam a estrutura
de sua personalidade.”
Educar um filho é uma das tarefas mais difíceis, pois os pais aprendem
no processo, no decorrer do desenvolvimento dos filhos, o diálogo com outros
pais que estejam vivenciando a mesma situação pode ajudar a encontrar
soluções para diversos problemas e até mesmo a descoberta que existem pais
na mesma condição de dúvida, de conflito
Para Rapparport (1982), o desenvolvimento cognitivo da criança
depende da estimulação propiciada pelo ambiente. A criança precisa ser
exposta a um grande número de situações para desenvolver seus esquemas
conceituais, e o ambiente familiar é indispensável a esse desenvolvimento. A
escola pode ajudar a família a ter essa consciência e a promover um ambiente
estimulador.
Segundo Serra (2009), a escola é sem dúvida, um espaço de múltiplas
aprendizagens. Com uma proposta inicial de promover aprendizagens
sistemáticas e transmissão de cultura, transmite também valores e forma o
individuo do ponto de vista afetivo e social. No aspecto social encontra-se um
“conteúdo” de muita importância, que é a construção da moralidade do sujeito.
É certo que não só a escola possui essa tarefa, pois a criança recebe muitas
influências da família, da comunidade em que vive, enfim, o contexto social
possui peso significativo na apreensão de valores e regras.
1.5– Desenvolvimento das Habilidades Sociais
A Neurociência Pedagógica, a Psicopedagogia, assim como nas outras
áreas de desenvolvimento, a capacidade para desenvolver habilidade social
depende de diferentes variáveis. . É importante compreender que dentro de
26
uma população normal existem diferentes graus de habilidade social. O
professor deve entender a habilidade social como algo que varia dentro de um
espectro, existindo na população geral crianças com muita facilidade, crianças
medianas e crianças com muita dificuldade em habilidade social. Ginovate
afirma que não existe comportamento adequado ou inadequado por si, tudo
depende do contexto.
Para compreender qualquer aspecto de desenvolvimento, deve-se
pensar em duas variáveis que interagem profundamente: o biológico e o meio
ambiente. Esta interação se dá de forma dinâmica e contínua, não existe a
possibilidade de visualizá-las separadamente.
As habilidades desenvolvem-se com a maturação do cérebro e
consequentemente com a aprendizagem. Na visão neuropsicológica, o
comportamento, seja ele típico de uma faixa etária ou não, é a manifestação da
interação da estrutura cerebral do sujeito com o seu meio ambiente. A
citoarquitetura cerebral do sujeito, ou seja, sua conformação neuromolecular,
estrutura das camadas do tecido cerebral, sinapses, neurotransmissores, redes
neurais e outros aspectos que digam respeito ao funcionamento neurológico,
serão qualificados e modificados pelas relações com o ambiente físico, social e
cultural. A mão inversa, também é verdadeira, isto é este sujeito, com sua
estrutura neurológica, atua e modifica o seu ambiente. O desenvolvimento se
efetiva na inter-relação do sujeito e do objeto, como teorizam Piaget e Vygosty.
Sabe-se hoje que o complexo processo de aprendizagem se realiza no
Sistema Nervoso Central e envolve principalmente, as funções cognitivas e o
afeto.
Considerando a escola como lugar das diversidades e,
consequentemente, das diferenças, o professor deve considerar e valorizar
cada sujeito nas características que o constituem, suas capacidades e
27
limitações. O reconhecimento das diferenças pelo profissional da educação
aponta para a importância de haver condições diferenciadas no processo
ensino-aprendizagem do indivíduo, naquilo que se faz necessário pelas suas
condições atuais, sejam elas temporárias ou permanentes.
É necessário considerar que a infância é um período de intensas e
importantes modificações no desenvolvimento humano, tanto nos aspectos
fisiológicos como nos aspectos afetivos e sociais.
Pré-escolas e jardins de infância concentram-se no brincar como meio
de desenvolver habilidades. Crianças neurotópicas desenvolvem-se nesses
ambientes e aprendem de maneira relativamente rápida habilidades sociais e
de comunicação como negociar, persuadir, adaptar e alterar. Crianças com
Síndrome de Asperger não adquirem habilidades sociais da mesma maneira ou
ao mesmo tempo em que seus colegas coetâneos. Quando estão cursando a
Educação Infantil elas frenquentemente evitam interações sociais, atrapalham
as brincadeiras e ou apresentam comportamentos inadequados.
“Brincar representa uma maneira universal para ajudar
crianças a desenvolver habilidades sociais, explorar seu
ambiente, fazer descobertas sobre o mundo e adquirir
linguagem.” Wolfberg, 1999
Quando a criança entra na escola, o educador deve avaliar a
competência linguística, o nível de desenvolvimento das atividades lúdicas, o
nível das interações. Uma avaliação informal do brincar pode ser usada para
oferecer informações gerais sobre o aluno com Síndrome de Asperger antes de
estabelecer metas de habilidades sociais.
Fazer o diagnóstico de qualquer transtorno psiquiátrico na infância é
tarefa difícil e delicada. No entanto, é possível para o professor a observação e
28
o registro da manifestação precoce de sintomas. As observações realizadas
pelos professores no ambiente escolar estão dentre os principais recursos para
que um neuropediatra ou um psiquiatra infantil possa avaliar estes sintomas
precocemente. O reconhecimento das primeiras manifestações de condições
que afetam o comportamento poderá permitir o diagnóstico precoce,
possibilitando intervenções também precoces com a criança, orientação
psicoeducativa aos pais, indicações para o manejo escolar e maior clareza de
prognósticos.
Os instrumentos para diagnóstico podem ser The Developmental Play
Assessment Instrument (Lifter, 2000), The play Task Analysis, Play Interest
Survey (Quill,2000) ou Play Evalution Guide (Wolfberg,2002)
Baseado nos resultados da avaliação do brincar determina-se a
quantidade e os tipos de intervenções e apoio que a criança vai precisar. É
fundamental que toda a equipe de educadores, apoio e os pais estejam cientes
da importância de rever as avaliações da criança para definição dos
procedimentos e criação de Invidualized Education Play, IEP que atendam às
necessidades da criança nessa área.
Algumas habilidades-alvo serão ensinadas ao aprendente com
Síndrome de Asperger. Uma equipe de profissionais habilitados
desempenhará tarefas, como: implementar o programa, monitorar o progresso
do aluno e determinar a frequência das avaliações do progresso.
O Programa de habilidades sociais Friends for me – “Fazendo amigos”,
(Moore,2002) é um instrumento que ensina para as criança com Síndrome de
Asperger como conquistar amigos. É um programa motivador que inclui
atividades para desenvolver na criança as habilidades sociais de forma
simples, sistemática e objetiva. Normalmente o programa é aplicado por uma
profissional facilitador em um programa de treinamento de habilidades.
29
O Social Skills Training for Studant with Asperger Syndrome é um
excelente recurso para ensinar habilidades sociais para crianças com
Síndrome de Asperger, pois fornecem objetivos passo a passo e um modelo
para ensino de habilidades sociais.
30
CAPÍTULO II
NEUROCIÊNCIA PEDAGÓGICA
2.1-– Conceito de Neurociência Pedagógica.
““Os neurocientistas estudam cientificamente o cérebro,
considerando-o sede própria do aprendizado, formam um
grupo seleto e empregam alta e dispendiosa tecnologia,
enquanto que os educadores exercem sua função
enfrentando, além de uma grande complexidade social,
educando que nem sempre partilham dos seus objetivos e
em sua grande maioria não possuem aparatos ou
ferramentas adequadas para realizar seu mister, o qual
seja ensinar.”
Marta Relvas
As primeiras observações do cérebro foram realizadas pelos
gregos, quando o reconheceram como centro das sensações humanas.
Durante muitos séculos esse tão vital órgão foi observado e estudado
anatomicamente. Por volta do século XIX foi à hipótese de Gall sobre a
localização cerebral e os estudos de Broca e Wernicke, sobre as funções mais
elaboradas do cérebro que nos fizeram chegar ao século XX com
conhecimentos que permitiram estabelecer uma conexão entre esse órgão e a
aprendizagem, sendo hoje a base da Neuropsicologia. Porém, para
compreender o complexo humano, nenhuma Ciência basta por si só, surgindo
a tão essencial e importante interdisciplinaridade com as Neurociências,ou
Neurociências Cognitivas.
31
As Neurociências Cognitivas abordam temas relacionados à
normalidade e alterações na: memória, atenção, linguagem, emoção,
motivação, consciência, plasticidade cerebral, cognição entre outros.
Assim atualmente diante dessa unificação das Ciências com as
disciplinas como a Física, a Filosofia, a Matemática, entre outras, a Educação e
a Psicopedagogia aproximaram-se desses estudos, trazendo-nos um novo
campo de pesquisa e atuação frente às dificuldades de aprendizagem: a
Neuropedagogia.
A Neuropedagogia confirma a importância do papel do professor
no processo de ensino/aprendizagem. Os estudos da área, sobre a memória e
o sistema límbico (hipófise, amígdala e hipotálamo), apontam à motivação
como um dos fatores essenciais no aprender, uma vez que para isso é
necessário armazenar conhecimentos e as experiências na memória. E essas
são formadas inicialmente no hipocampo por meio de experiências com a carga
emocional.
Naturalmente que não é suficiente o professor apresentar uma
aula motivadora a seu aluno para que ele aprenda, existem outros processos e
estratégias de ensino que aliadas favorecem o contexto, como a apresentação
de conteúdos significativos, a relevância dos conhecimentos prévios desse
aprendiz, a participação e vivência nas atividades e a oportunidade de rever
conceitos ensinados de maneiras diferenciadas.
Segundo Fonseca (2007) a Educação Formal precisa ser revista e
sair do mecanicismo. É preciso “ensinar o indivíduo a aprender a aprender, a
aprender a pensar, a aprender a estudar, a aprender a se comunicar e não
apenas reproduzir e memorizar informações, mas sim, desenvolver
competências de resoluções de problemas”. Seguindo no mesmo pensamento,
Taciano (2009) ressalta a importância do ensino da lógica e do conhecimento
32
de técnicas apropriadas de acordo com o funcionamento cerebral para tornar a
aprendizagem mais eficaz.
2.2– Cérebro e Aprendizagem.
““ Para aprender é necessário que exista uma relação
integrada entre o indivíduo e o seu meio, pois o produto
aprendizagem é fruto de uma relação de condições
externas e condições internas, por meio de um processo
sensório-neuropsicológico.”
Fonseca, 1995
A Neurociência vem promovendo um estudo mais criterioso do cérebro,
permitindo a compreensão do mecanismo da aprendizagem. Para entender
como o cérebro aprende, é preciso saber sobre a fisiologia do Sistema Nervoso
Central, o organizador do comportamento humano. Cada tipo de habilidade ou
comportamento pode ser bem relacionado a certas áreas do cérebro em
particular. Há áreas habilitadas a interpretar estímulos que levam à percepção
visual e auditiva, à compreensão e à capacidade linguística, à cognição, ao
planejamento de futuras ações, inclusive o movimento.
Muitas crianças com Síndrome de Asperg têm problemas de integração
sensorial. Seus sentidos são ultra(hiper) ou pouco (hipo) reativos. Qualquer
sentido pode ser afetado. Elas podem ser sensíveis a sons altos ou certas
freqüências, luz solar ou fluorescentes
O encéfalo encontra-se localizado no interior do crânio protegido por um
conjunto de três membranas, que são as meninges. É constituído por um
conjunto de estruturas específicas que funcionam de forma integrada para
assegurar a unidade do comportamento humano. É formado por Bulbo
33
raquidiano, Hipotálamo, Corpo caloso, Córtex cerebral, Tálamo, Formação
reticular, Cerebelo e Hipófise.
No processo evolutivo, as divisões do encéfalo apresentam-se em três
unidades: Razão, emoção e instinto.
O cérebro primitivo é a unidade cerebral responsável pela
autopreservação e agressão. É formado pelas estruturas do tronco encefálico e
cerebelo, pelo mais antigo núcleo da base, o globo pálido e pelos bulbos
olfatórios. Corresponde ao cérebro dos répteis, também denominado
complexo-R ou formação reticular, é uma estrutura cerebral relacionada aos
instintos primitivos e agressivos do comportamento humano, por isso precisa
ser educado, pois do contrário, esse comportamento prevalecerá.
O cérebro intermediário é a unidade responsável pelas emoções dos
mamíferos, é formado pelas estruturas do sistema límbico e corresponde ao
cérebro dos mamíferos inferiores. Esse cérebro é responsável pelas relações
afetivas.
Indivíduos com Síndrome de Asperg têm sentimentos, mas as maneiras
pelas quais eles os demonstram, muitas vezes são diferentes da maioria das
pessoas. Crianças com Síndrome de Aspererg podem exibir pouco afeto ou
resposta emocional pequena, a não ser que estejam amedrontadas. Algumas
simplesmente ficam paralisadas, se fecham e se retraem, enquanto outras
reagem de maneira mais severa, mostrando ansiedade, medo ou raiva com
grande intensidade! Uma criança passiva e dócil pode transforma-se em um
“vulcão em erupção” em menos de trinta segundos se estiver sentindo-se
ameaçada, confusa, sobrecarregada ou hiperestimulada. Ela pode chorar,
gritar, entrar em pânico, ter um ataque de fúria ou passar a ter um
comportamento destrutivo ou de auto-agressão.
34
Segundo Relvas (2009) as conexões dos diversos componentes do
Sistema Límbico são extremamente complexas. A neurocientista pedagógica,
afirma a existência de um circuito fechado, o Circuito de Papez, que une as
seguintes estruturas límbicas, enumeradas na sequência que, segundo se
admite, representa a direção predominantemente dos impulsos nervosos: giro
do cíngulo, giro-hipocampal, hipocampo, fórnix, corpo mamilar, fascículo
mamilatônico, núcleos anteriores do Tálamo, cápsula interna e giro do cíngulo
novamente.
Estudos eletrofisiológicos mostram que o sistema límbico recebe
informações sensoriais, somáticas e visccerais de praticamente todos os
órgãos sensoriais que chegam por vias nem sempre bem conhecidas.
O cérebro superior ou cérebro racional é a unidade responsável pelas
tarefas intelectuais dos novos mamíferos e compreende a maior parte dos
hemisférios cerebrais (formado por um tipo de córtex mais recente,
denominado Neocórtex e alguns grupos neurais, subcorticais. É o cérebro dos
mamíferos superiores, incluindo os primatas e, consequentemente, o homem
moderno, Homo sapiens sapiens sapiens. Essas três estruturas foram
aparecendo, uma após a outra, durante o desenvolvimento embrionário.
Habilidades de planejamento, priorização e organização, também
conhecidas como funções executivas, são afetadas em muitos indivíduos com
Síndrome de Asperger. Na escola, as dificuldades de função executivas
tornam-se evidentes quando se espera que os estudantes tomem conta de
seus pertences, lidem com tarefas de etapas múltiplas ou façam tarefas em um
tempo determinado. Estudantes com Síndrome de Asperger frequentemente
perdem seu material, tem a carteira bagunçada ou desenvolvem tarefas
atrasadas ou incompletas. Apesar de grande necessidade de ordem e controle,
não são capazes de adquirir essas habilidades por conta própria.
35
Em uma visão neurobiológica da aprendizagem, pode-se afirmar que,
quando ocorre a ativação de uma área cortical, determinada por um estímulo,
provoca alterações em outras áreas, pois o cérebro não funciona como regiões
isoladas. Isto ocorre em virtude da existência de um grande número de vias de
associações, precisamente organizadas, atuando nas duas direções. Estas
vias podem ser muito curtas, ligando a áreas vizinhas que trafegam de um lado
para outro sem sair da substância branca para conectar um giro a outro de um
lobo a outro, dentro do mesmo hemisfério cerebral. São as conexões intra-
hemisféricas. Existem também, os feixes comensurais que conduzem a
atividade de um hemisfério para o outro, sendo o corpo caloso o mais
importante deles.
As associações recíprocas entre as diversas áreas corticais asseguram
a coordenação entre a chegada de impulsos sensitivos, sua decodificação e
associação, até a atividade motora de resposta. Essas associações os
neurocientistas denominam de funções nervosas superiores, desempenhadas
pelo córtex cerebral.
O cérebro humano é composto de duas semiesferas: o hemisfério direito
e o hemisfério esquerdo, os quais mantêm as conexões recíprocas para troca
de informações. A assimetria dos hemisférios cerebrais é uma das respostas
para o entendimento das diferenças biológicas, cognitivas e comportamentais
entre os gêneros.
Segundo Relvas, há necessidade de que o professor estude o cérebro
para compreender e melhorar suas práticas pedagógicas em sala de aula.
O cérebro é constituído de uma camada externa chamada córtex que é
extremamente enrugado de circunvoluções e lhe oferece uma área bastante
extensa. O crânio protege o cérebro contra contusões e garante seu tamanho,
não permitindo sua expansão a cada aprendizagem. Os seres humanos é
36
formado por 88 bilhões de neurônios e de 10 milhões de novas conexões
neurais e, dessa forma garantimos a evolução de nossas inteligências.
Ensinar a uma pessoa uma nova habilidade implica maximizar o
potencial de funcionamento de seu cérebro, isso porque aprender exige
necessariamente planejar novas maneiras de solucionar desafios, atividades
que estimulem diferentes áreas cerebrais a trabalhar com máxima capacidade
de eficiência.
As diferenças comportamentais do indivíduo ou do grupo são medidas
pelo cérebro, e os hormônios ganham uma importância nesses aspectos tanto
nos gêneros quanto no sexo, desde o desenvolvimento embrionário até a fase
adulta. A diferença biológica é um ponto de partida para a construção social do
que é ser homem ou mulher. O importante é que tanto homens como mulheres
aprendem na complexa e na dinâmica das relações humanas.
Os estímulos que a criança recebe na família e na escola são mais
importantes que as habilidades que ela herda em virtude do sexo.
Identificar a zona do cérebro responsável por cada função da mente tem
sido uma força motriz das Neurociências desde o seu nascimento. Alguns
neurocientistas associam essa data à frenologia de Gall, e outros à localização
da linguagem por Broca. A diferença não é grande, pois a principal
contribuição deste foi confirmar uma previsão do primeiro: a localização da fala
numa pequena região do cérebro.
O Sistema Nervoso é composto por neurônios sensoriais, motores e de
associação. As informações provenientes dos receptores sensoriais aferem ao
Sistema Nervoso Central, onde são integradas (Codificação – comparação –
armazenagem - decisão) por neurônios de associação ou interneurônios, e
enviam uma resposta que chega ao órgão receptor (músculo, glândula...).
37
Segundo Lent (2002), o hemisfério esquerdo controla a fala mais de 95%
nos seres humanos, mas isso não quer dizer que o hemisfério direito não
trabalhe, ao contrário, é a prosódia do hemisfério direito que confere à fala
nuances afetivas essenciais para a comunicação interpessoal. O hemisfério
esquerdo é também responsável pela realização mental dos cálculos
matemáticos, pelo comando da escrita e pela compreensão da leitura.
O desenvolvimento da linguagem pode ser afetado pela Síndrome de
Asperger em múltiplos níveis: fonêmico, semântico, sintático e pragmático.
A maioria das pessoas não reconhece as peculiaridades da linguagem
com a Síndrome de Asperger como um problema, porque essas crianças
muitas vezes parecem ser eficientes comunicadores. Muitos estudantes com a
síndrome têm vasto vocabulário, pronunciam facilmente palavras polissilábicas
e usam estas palavras de forma aparentemente apropriada. No entanto, muitas
têm problemas de linguagem fonêmica: Algumas crianças pronunciam cada
letra e sílaba de maneira precisa, exagerada, pedante. Um fonodiólogo pode
ajudar a remediar esse problema, mostrando a criança como soletrar de forma
correta. Crianças com autismo começam a adquirir linguagem somente em
função das suas necessidades, e não como maneira de interagir com os outros
(Koegel & Koegel,1995), como acontece tipicamente no desenvolvimento de
linguagem. O desenvolvimento de linguagem em crianças com Síndrome de
Asperger frequentemente começa da mesma maneira. Elas usam a linguagem
para conseguir o que querem e não para interagir. Por não usar a linguagem
como atos sociais não adquirem a competência comunicativa que seus colegas
neurotípicos aprendem nas interações sociais. Essas crianças também têm
dificuldade em usar as palavras espontaneamente e combiná-las
apropriadamente. (Michel Thompson & Blih,2000) Com instruções, práticas e
ensaios, as crianças com Síndrome de Asperg podem aprender a usar a
linguagem apropriadamente. Além dos problemas semânticos, muitas crianças
com Síndrome de Asperg têm dificuldade com a gramática. Usam palavras em
38
ordem incorretas, causando confusão para outras pessoas, assim como podem
ter dificuldade para usar de forma apropriada as preposições, pois para elas as
preposições são abstratas e o uso de algumas delas dependem da perspectiva
– conceito difícil para pessoas com Síndrome de Asperger .Nesse caso
também a prática e o ensaio com um adulto é a melhor maneira de ensinar um
estudante a prestar atenção ao sentido da mensagem e não na sua estrutura
gramatical.Pragmática é a área da linguagem na qual as crianças com
Síndrome de Aperger têm maiores dificuldades. Sob o ponto de vista da
pragmática, um interlocutor imprime sentido à sua fala através de técnicas
como inflexão da voz, volume, linguagem corporal e currículo oculto (Myles &
Southick,1999). Indivíduos com Síndrome de Asperger frequentemente são
cegos e surdos a esses meios de comunicação e, portanto, estão em grande
desvantagem quando o significado de uma fala precisa ser obtido pelo tom da
voz uso de ironias e gestos.
Indivíduos com Síndrome de Asperger pensam em preto e branco, certo
ou errado, do jeito que a regra manda. Por isso uma terminologia vaga ou
imprecisa evoca confusão e ansiedade. É melhor evitar expressões como “mais
tarde, “em poucos minutos”, “talvez”, a impressão pode induzir as crianças
com a síndrome a perguntar repetidamente, monologar, ou até entrar em
crises. Para eles, as frases devem ter sentido, por isso passam por momentos
muito difíceis quando não conseguem compreender o que a pessoa esta
dizendo.
Outro problema de linguagem pelos quais os estudantes com Síndrome
de Asperger passam é que tendem a interpretar a linguagem literalmente, o
que algumas vezes leva a raiva e confusão. Eles têm dificuldade em expressar,
pois sua linguagem expressiva é pobre porque usam palavras e frases de
maneira estranha, não conseguem usar linguagem corporal ou usam de
maneira não apropriada, falam demais ou muito pouco, os aspetos qualitativos
da voz também são poucos usuais.
39
As crianças com Síndrome de Asperger podem ser estimuladas a seguir
regras específicas para se comunicar.
O hemisfério direito é melhor na percepção de sons musicais e no
reconhecimento das faces. O hemisfério esquerdo participa também do
reconhecimento de faces, mas sua especialidade é descobrir precisamente
quem é o dono da face.
Algumas crianças com Síndrome de Asperger apresentam talentos ou
habilidades superiores em algumas áreas e por isso precisam ser desfiadas de
forma apropriada nas áreas que são bem dotadas. Muitas invenções,
descobertas e obras de arte têm sido feita por pessoas com a síndrome ou por
pessoas que manifestam a Síndrome de Asperger. Estes cientistas e artistas
são pensadores originais, com interesses e habilidades únicas: um cientista
que mudou o mundo com suas descobertas, um músico que escreveu obras-
primas e um professor que publicou numerosos artigos e livros sobre a cultura
de um país.
Muitos educadores e psicólogos identificaram uma série de
comportamentos de pessoas com altas habilidades que agora estão sendo
identificadas como características de indivíduos com Síndrome de Asperger.
Winner 1996 descreve crianças com altas habilidades com características
como: Manter a atenção por longo tempo, grande vocabulário e grande
capacidade de armazenar conhecimento verbal, reações de intensidade
anormal a barulho, dor, frustração, questionamento persistente, alto nível de
energia, interesses obsessivos, memória prodigiosa, entre outras.
O movimento voluntário é controlado por complexo circuito neural no
cérebro interconectado os sistemas sensoriais e motor (...) o sistema
motivacional. As respostas desencadeadas pelo Sistema Nervoso são tão mais
40
complexas quanto mais exigentes forem os estímulos ambientais (aferentes).
Marta, 2009
Segundo Serra, 2009, o movimento esteriopitado dos portadores da
Síndrome de Asperger é um prejuízo qualitativo e não há nenhuma
comprovação fisiológica ou estrutural.
Todo o córtex é organizado em áreas funcionais que assumem tarefas
receptivas, integrativas ou motoras no comportamento. São responsáveis por
todos os nossos atos conscientes, nossos pensamentos e pela capacidade de
respondermos a qualquer estímulo ambiental de forma voluntária. Existe um
verdadeiro mapa cortical com divisões precisas em nível anatomofuncional,
porém todo ele está sempre mais ou menos ativado, dependendo da atividade
que o cérebro desempenha, visto que há interdependência e a necessidade de
integração constante de suas informações diante dos mais simples
comportamentos. O Lobo Frontal é responsável pela elaboração do
pensamento, planejamento, programação de necessidades individuais e
emoção. O Lobo Parietal, pela sensação de dor, tato, gustação, temperatura,
pressão. Estimulação de certas regiões deste lobo em pacientes conscientes
produz sensações gustativas. Serra (2000) afirma que crianças portadoras da
Síndrome de Asperger, sentem absolutamente tudo que um indivíduo
neurotípico, mas não conseguem expressar em função da dificuldade de
comunicação e linguagem. Esse lobo também está relacionado com a lógica
matemática. Alguns estudantes com a Síndrome de Asperger têm dificuldade
em aprender Matemática ou demonstrar capacidade ou domínio nas
habilidades e conceitos matemáticos devido a disgrafia, coordenação
visuomotora pobre, problemas de inferências, impulsividade, ansiedade e
dificuldade para resgatar dados da memória. Algumas crianças e adolescentes
com Síndrome de Asperger são excelentes alunos em matemática, capazes de
performances superiores à sua série, apesar das dificuldades impostas pela
síndrome. Para estudantes que têm dificuldade em Matemática, existem
estratégias para superá-las, como Estratégias organizadoras, material sensorial
41
e estratégias de resolução de problemas. O Lobo Temporal é relacionado
primariamente com o sentido da audição possibilitando o reconhecimento de
sons específicos e intensidade do som.
O Lobo Occipital é responsável pelo processamento visual e o Lobo
Límbico está envolvido com o processamento da memória e os aspectos de
emoção e sexual.
Segundo Relvas, a memória é a base de todo o saber e, também de
toda a existência humana, desde o nascimento. O cérebro dos seres humanos
funciona por meio da memória. Esta determina a individualidade das pessoas e
dos povos. O cérebro secreta um ou outro neurotransmissor ou hormônio,
quando o indivíduo está alegre ou triste, quando sente medo ou prazer.
Acontecimentos com maior carga emocional são relembrados com mais nitidez,
e os neuroquímicos são estimulados, garantindo sua memorização. A memória
é uma das funções mais importantes do cérebro, está ligada ao aprendizado e
à capacidade de repetir acertos e evitar erros.
“A memória é a reprodução mental das experiências
captadas pelo corpo por meio dos sentidos. Essas
representações são evocadas na hora de executar
atividades, tomar decisões e resolver problemas, na
escola e na vida.”
Elvira lima
A sinapse é um local de comunicação entre os neurônios e a unidade
elementar da memória e onde ocorrem síntese de proteínas, trocas elétricas e
ativação de genes que resultam no armazenamento da informação. Quanto
mais conexões, mais memória
42
A memória é também a capacidade de planejamento, abstração,
julgamento crítico e atenção. Ao vivenciar uma experiência, o sujeito recebe
informações de todo tipo. Em determinadas situações, os sentidos visuais e
auditivos podem estar sendo mais exigidos.
Os neurônios são ativados de forma consistente e simultânea, e a “força
sináptica” dessas conexões é potencializada. A capacidade de processamento
de informações do sistema nervoso provém da integração entre milhares de
sinapses existentes em cada neurônio. Se o sujeito aprendeu um novo
conteúdo, é porque encontrou uma referência, um significado. Para construir a
memória, o cérebro passa por um processo de assimilação. È por meio desse
processo que a enviam-se as informações para a memória de curta ou longa
duração. Nesse momento o hipocampo é ativado. O hipocampo ajuda a
selecionar onde os aspectos importantes para os fatos serão armazenados. Ele
também filtra os dados, usa e joga fora informações de curto prazo e se
encarrega de enviar outras para diferentes partes do córtex cerebral.
O Lobo Frontal funciona com um “coordenador geral” de todas as
memórias é e responsável pela guarda e classificação das memórias. Nesta
área, as diferentes memórias se completam dando origem ao raciocínio.
Alguns indivíduos com a Síndrome de Asperger têm uma memória
incrível para decorar, mas tem dificuldade com a memória significativa. São
capazes de numerar todos os itens descobertos no fundo do oceano no local
onde acharam o navio Titanic afundado, mas não conseguem lembrar como o
desastre afetou o mundo, como estava explicado no artigo que leu no seu livro
de Estudo Sociais. Eles precisam de assistência para guardar informação na
memória e para acessar essas informações.
O cérebro da criança com Síndrome de Asperger não processa a
informação a não ser que o conteúdo seja apresentado no formato de lista; e,
43
similarmente, a memória não pode ser recuperada somente no formato de
lista. Crianças com Síndrome de Asperger podem necessitar de tempo extra e
recursos visuais para processar informações pertinentes dadas em um trabalho
de leitura. Apresentar a informação em várias etapas curtas, por vários dias,
com revisões frequentes pode funcionar mais do que se ela for apresentada de
uma vez.
As crianças com Síndrome de Asperger têm dificuldade em aplicar a
situações de vida real, habilidades recentemente aprendidas e aprender como
praticar regras sociais que outras crianças adquirem rapidamente e com
facilidade e ensinadas individualmente. O psicopedagogo deve ensinar
individualmente as regras de conduta passo a passo, utilizando práticas
repetidas e frequentes das habilidades e comportamentos recentemente
aprendidos, para ajudar a criança a transferir as mensagens, conteúdos para a
memória significativa e de longo prazo.
44
CAPÍTULO III
OS ENLACES ENTRE NEUROCIÊNCIAS,
PSICOPEDAGOGIA E SINDROME DE ASPERGER
3.1- Conceituando Psicopedagogia.
A Psicopedagogia é uma área de estudo bastante recente, existindo há
aproximadamente 30 anos no Brasil, e tem como objetivo estudar,
compreender e intervir na aprendizagem humana.
Segundo Serra (2009), a Psicopedagogia não se restringe ao estudo das
dificuldades e dos distúrbios de aprendizagem, mas à aprendizagem de um
modo geral, seja no seu estado normal ou patológico. Além disso, todos os
seres humanos, inclusive os portadores da Síndrome de Asperg em qualquer
idade pode fazer uso da Psicopedgogia para aprender de forma mais eficaz ou
compreender o seu próprio processo de aprendizagem, Entretanto, cabe
ressaltar que no caso da Síndrome de Asperger assim como em outras
síndromes, o diagnostico dos profissionais da área da saúde, neurologista e
psiquiatra é indispensável. Quanto mais cedo o psicopedagogo, o fonodiólogo,
o psicomotricista tiver em mãos o diagnóstico médico, mas precocemente o
profissional especializado poderá atuar, garantindo maior eficácia no
tratamento.
O ser humano está suscetível ao ato de aprender desde o nascimento
até ao final de sua vida, portanto a Psicopedagogia não tem um limite de
atuação. Ela está presente onde a aprendizagem acontece, ou seja, em todos
os momentos.
45
A Psicopedagogia vem evoluindo e crescendo bastante ao longo dos
anos. Hoje temos a Psicologia Clínica, de caráter predominantemente curativo,
onde o espaço de trabalho é o consultório e o atendimento individualizado é a
forma mais comum. A Psicopedagogia Institucional possui caráter
predominantemente preventivo, e normalmente a atuação ocorre com
pequenos grupos de alunos, trabalhadores, pessoas em geral. A área
institucional divide-se em três formas de atuação. A escola, a empresarial e a
hospitalar.
A Psicopedagogia Institucional surge na escola a partir das novas
demandas da humanidade e das transformações históricas e sociais dos
alunos, que a evolução da sociedade tem trazido a todas as pessoas.
A inclusão se faz hoje uma realidade presente na maioria das escola se,
preparadas ou não, esses professores estão recebendo cada vez mais alunos
especiais, como a Síndrome de Asperger.
Durante muito tempo, o aluno portador de necessidade especial, ficou
fora da escola recebendo uma educação segregada. Os professores, por sua
vez, não recebiam, em seus cursos de formação, uma qualificação adequada
para trabalhar com os portadores de necessidades especiais. A escola precisa
sair do modelo de integração, para o modelo de inclusão, pois enquanto a
integração significa a abertura de vaga para portador de necessidades
especiais, a inclusão possibilita ao aluno experimentar situações de
aprendizagem e socialização. A socialização simplesmente, não garante a
inclusão.
Para promover a inclusão, é necessário, trabalhar junto à escola a
família e ao próprio sujeito.
46
A família funciona como co-autora da inclusão, pois além de prestar
informações importantíssimas para os profissionais que cuidam e atendam seu
filho.
A formação continuada do professor, em cursos especializados em
Neurociência Pedagógica, Psicopedagogia, Psicomotricidade, Arteterapia,
prepara o educador para uma compreensão maior dos caminhos da
aprendizagem de seu aluno especial.
3.2- Aprendizagem na visão psicopedagógica.
“Cabe ao professor com sua visão psicopedagógica ser
um investigador dos processos de aprendizagem de seus
alunos.”
Serra, 2009
O objeto de estudo da Psicopedagogia e certamente, o principal objetivo
dos educadores é a aprendizagem. Sabe-se que a psicopedagogia busca o
aperfeiçoamento das relações com a aprendizagem bem como a melhor
qualidade possível na construção da aprendizagem de alunos e educadores
(Weiss,2000).
Segundo Alicia Fernandez, todo o sujeito tem sua modalidade de
aprendizagem e seus meios para construir o próprio conhecimento, e isso
significa uma maneira muito pessoal para se dirigir e construir o saber.
Fernandes afirma que o processo da construção do saber inicia-se desde o
nascimento e constitui-se em molde ou esquema, sendo fruto do inconsciente
simbólico do sujeito. O desejo de aprender reside do inconsciente ( Bossa,
2000 )e ele, é fruto da história de cada sujeito e das relações que ele consegue
estabelecer como conhecimento ao longo da vida.
47
Para Sara Pain, a aprendizagem é o resultado da articulação de fatores
internos e externos do próprio sujeito, do organismo (substrato biológico), do
desejo de aprender, das estruturas cognitivas e do comportamento em geral.
Todos esses aspectos convergem para um mesmo objetivo que é o ato de
aprender. Segundo Pain, a aprendizagem possui algumas funções
contraditórias: A função socializadora, a função repressora e a função
transformadora. A função socializadora,, muito importante para o portador da
síndrome de Asperger,para que ele aprenda como se comportar na sociedade,
pois essa função leva o sujeito a experimentar a vida em comunidade e faz
ensaios de participação social no ambiente escolar. A escola trabalha dentro de
um projeto social de homem e atua para que ele seja o mais integrado possível
no seu ambiente. Para viver em sociedade, é necessário que o homem faça
uso do conhecimento produzido pela sua cultura. A função repressiva é aquela
em que a aprendizagem possui essa função, já que o professor trabalhar com
limites claros e a escola é um espaço permeado de limites, como o uso de
uniforme, horários, programação de tarefas pedagógicas... Na escola, não há
espaço para a expressão plena do desejo de aprender porque, na maioria das
vezes, as atividades são coletivas. A função repressiva, permite aos alunos
com Síndrome de Asperger, a possibilidade de desenvolver sua autonomia,
primeiramente, respeitando as normas do estabelecimento de ensino e
futuramente as da sociedade. Para a autora a função transformadora é um
elemento de dicotomia das funções da aprendizagem, pois ao mesmo tempo
em que ela possui função da manutenção da cultura (função socializadora e de
delimitar o sujeito (função repressora), a aprendizagem tem a função de libertar
o homem a partir do conhecimento e, por conseqüência, transformar a
sociedade.
Conforme preleciona a autora, o não-aprender pode representar um
sintoma, e não um, problema, pois por meio dele, o professor pode ter contato
com a modalidade de aprendizagem do aluno.
48
Segundo Jorge Visca, a aprendizagem representa uma construção intra-
específica, considerando os componentes genéricos e as diferenças nascidas
da evolução da espécie, resultantes das pré-condições biológicas, das
condições energético-estruturais (condições afetivas) e das circunstâncias do
meio. É a compreensão da aprendizagem por meio da epistemologia
convergente, ou seja, todos os aspectos do ser humano convergindo para um
único ponto, que é a aprendizagem. Visca, afirma que desde o nascimento da
criança, ocorre um processo de aparecimento estabilização de condutas que
permitem definir quatro níveis consecutivos de aprendizagem. Proto-
aprendizagem, Deuteoroaprendizagem, Aprendizagem Assistemática e
Aprendizagem Sistemática. A Proto-aprendizagem representa as primeiras
aprendizagens que acontecem nas relações afetivas da criança com a mãe. O
mundo externo da criança se reduz à mãe ou ao adulto que a substitui. A
deuteroaprendizagem trata-se da concepção de mundo e de vida que adquire
por meio da convivência com a família. A aprendizagem assistemática se dá
pela interação da criança com uma comunidade maior que a família. A
aprendizagem sistemática é aquela que ocorre pela interação com as
instituições educativas que transmitem conhecimento, atitudes e habilidades
que a sociedade estima.
Para Visca, a participação do substrato biológico é fundamental para a
aprendizagem, assim como as interações da criança,com a mãe e a
comunidade. Os aspectos estruturais e energético (afetivos)s têm considerável
implicação no processo de aprender.
Se a criança tem possui um bom vínculo com o objeto de aprendizagem,
o investimento pode ser maior e o resultado muito favorável.
“O conhecimento não é cópia nem apropriação de algo
que está fora de nós, mas uma construção.”
Solé,1998
49
Para Fonseca (1995), a aprendizagem é o comportamento mais
importante dos animais superiores e significa uma resposta modificada,
estável, durável, interiorizada e consolidada no cérebro do indivíduo. A visão
psicopedagógica concebe o conteúdo como instrumento para construir
conhecimento,, entretanto o conteúdo não pode ter fim em si mesmo,
principalmente porque ele é mutante. O aluno deve se apropriar dos conteúdo
para construir estruturas mentais cada vez mais sofisticadas e aprender a lidar
e buscar novos conhecimentos.
Segundo o mestre, a aprendizagem envolve complexos processos
neurológicos, reações químicas, atividades bioelétricas, arranjos moleculares
das células nervosas, eficiências sinápticas, redes interneurais, metabolismo
protéico.
3.3– Intervenção Psicopedagógica.
Aconselha-se a adoção de uma programação individualizada, em duplas
ou em pequenos grupos, dependendo da habilidade do educador em controlar
situações inesperadas e do grau de relacionamento estabelecido entre as
crianças a serem atendidas, objetivando aproveitar, pedagogicamente,o
máximo de atendimento.
É importante estabelecer metas psicopedagógicas, objetivos a médio e
longo prazo e metodologia especiais direcionadas ao ao aluno com Síndrome
de Asperger.
Sabe-se que o processo de crescimento e funcionamento do cérebro é
decisivo no desempenho das funções psicológicas e que as sinapses e a
arborização dendrítica tem início na gestação.
50
Os estudos de Peter Huttenlocher demonstram que após o nascimento,
o cérebro constrói inúmeras conexões ou sinapses, mais do que este irá
necessitar. O excesso de conexões garante ao recém-nascido receber as
informações de qualquer meio ambiente. Nos primeiros três anos de vida,
ocorre a explosão de sinapses, e atinge seu auge aos seis anos, quando o
cérebro começa a eliminar aquela não usada.
Aos treze anos, as conexões não utilizadas são eliminadas e o circuito
cerebral está mais ou menos completo. O cérebro deve utilizar as experiências
externas para torná-lo um órgão operativo. As experiências e as práticas de
exercícios mentais auxiliam as redes neurais para a linguagem, raciocínio e
para outras capacidades.
A precariedade dos saberes sobre o funcionamento básico cerebral,
bem como a falta de utilização de seus vastos recursos na educação (oficinas,
testes, tarefas, jogos educativos...) faz com que seja premente a inclusão deste
tema interdisciplinar na formação científica do professor, buscando a relação
entre a neuroplasticidade e os processos de aprendizado.
O cérebro humano é um órgão complexo, suas atividades geram um
mundo interno que se adapta e se modifica à medida que interagem com o
meio ambiente, sendo que os sentidos humanos, constituem o elo de
comunicação.
Lesões no lóbulo frontal alteram a capacidade de organizar ações para
se adaptar às mudanças do ambiente, são responsáveis por restrições de
afetos,ausência de empatia, comprometimento do controle de atenção. Esta
complexa rede de formação do sistema nervoso se justapõe desde o
nascimento a vários níveis de funcionamento passíveis de interrupções,
distorções, estagnação temporária e retrocessos em evolução e maturação,
comprometendo o desenvolvimento normal do ser humano.
51
A indicação de um planejamento pedagógico individual para o portador
da síndrome de Asperger se propõe exatamente pela individualidade dos
casos. Estudando o contexto familiar, econômicos e culturais, que interferem
na aprendizagem. Essas interferências diferem de criança para criança no que
concerne ao estágio de desenvolvimento, grau de comprometimento da
Síndrome de Asperger e a idade no período do tratamento.
A importância do trabalho individualizado refere-se ao entendimento
citado por Fernandes (2004): “... atingir o nível real de desenvolvimento da
criança e seu perfil de habilidades e dificuldades”. Da complexidade dos
sujeitos, resultam implicações que interferem nos resultados de um único
tratamento, daí a sugestão da interdisciplinaridade de abordagens terapêuticas,
respeitando a fase de desenvolvimento e a intensidade dos comprometimentos.
Os transtornos do Espectro Autístico apresentam diferenças baseadas
na análise das variáveis, como etiologia, idade da manifestação das alterações
comportamentais, características específicas dos desvio de desenvolvimento
de cada transtorno do espectro avaliado, diagnóstico, funcionamento
intelectual, perfil neuropsicológico e prognóstico. O conhecimento dessas
variáveis ajuda na possibilidade de combinar diferentes princípios de
abordagens terapêuticas e educacionais, uma vez que não existe um
tratamento específico indicado para influir em todas as áreas afetadas.
A compreensão em nível de tratamento é heterogênea. Diferentes
crianças com Síndrome de Asperger podem beneficiar-se com um
determinado atendimento orientado da Psicoterapia, enquanto outras crianças
podem desenvolver-se a partir de atendimentos norteados por uma abordagem
comportamental.
52
A psicopedagogia se propõe atender as crianças com Síndrome de
Asperger viabilizando a redução dos comprometimentos no sentido das
relações sociais, da aprendizagem e da escolarização, motivando
permanentemente a expansão e possível maturação da capacidade das áreas
cerebrais, a fim de obter resultados mais funcionais na perspectiva de um
desenvolvimento pessoal, por meio de oportunidades pedagógicas que
impulsionem a desenvolver e concretizar trabalhos que sejam úteis para
atender às necessidades do cotidiano.
Ensiná-los a lavar as mãos, tomar banho, vestir suas roupas, calçar os
sapatos, desempenhar tarefas simples de organização do mobiliário do quarto,
na cozinha, acompanhá-los guardando talheres, pratos, deixar que arruem a
mesa antes das refeições, enfim tornando-os autônomos e independentes no
trato das habilidades pessoais, são exercícios de valorização das experiências
compartilhadas de contato social, da interação com o mundo externo e do
sentimento de auto-realização.
3.4- Plasticidade Cerebral
A evolução, experiência e sobrevivência humanas são determinadas
pelas constantes trocas de mensagens e respostas, remodelando ambos pra
fins de adaptação, posto que a pluralidade cultural desencadeia mudanças no
cérebro. A cada nova vivência, novas conexões neurais são acrescentadas.
O conceito de plasticidade cerebral pode ser aplicado à educação,
considerando a tendência do sistema nervoso em ajustar-se frente às
influências ambiental durante o desenvolvimento infantil, ou na fase adulta,
restabelecendo e restaurando funções desorganizadoras por condições
patológicas, influências externas ou na perspectiva mais concreta da
existência e expressão funcional do sistema nervoso, como a motricidade,
percepção e linguagem.
53
Os estudos da neurociência podem ser enriquecidos com a teoria a
partir de Vygostsky e seus seguidores, provocando uma dialética produtiva se
houver uma aliança interdisciplinar entre a educação e a ciência neurológica,
destacando-se a contribuição do conceito de zona de desenvolvimento
proximal, onde é fundamental a inter-relação de indivíduos diferenciados.
O conceito de zona de desenvolvimento proximal, talvez seja o conceito
mais específico de Vygostsky mais reconhecido como típico de seu
pensamento, está estreitamente ligado à postulação de que o desenvolvimento
deve ser olhado prospectivamente: A zona de desenvolvimento proximal é, o
domínio psicológico da constante transformação. O professor tem papel
explicito de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos,
provocando avanço que não ocorreriam espontaneamente. Vygostsky afirma o
bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento (Oliveira, 1995,)
O papel da escola deverá ser muito mais que preparar o aluno para o
trabalho, retirar o mesmo de seu estado primário biológico, redimensionando-o
no social, estimulando-o e promovendo simultaneamente a interação social e a
sensibilidade da consciência.
A escola é um lugar social em que o contato com o sistema de escrita e
com a ciência como modalidade de construção de conhecimento de
conhecimento se dá de forma sistemática e intensa potencializando os efeitos
de outras conquistas culturais sobre os modos de pensamento.
A experiência da responsabilidade prática de treinar pessoas jovens ou
adultas revela a importância fundamental da motivação, da autoconfiança e do
bom exemplo de sucesso. Com estas, o aprendizado raramente fracassa.
54
Discutir as conexões neurais com o processo de aprendizagem é uma
exigência do momento presente, em que se abrem espaços para pesquisas
interdisciplinares, sobre as razões pelas quais os professores do ensino
fundamental não utilizam instrumentos e subsídios que ajudem no incremento
de novas conexões neurais potencializando ritmos de aprendizado das
crianças em idade de iniciação na escola.
É de fundamental importância o inter-relacionamento de todos os seres
humanos e a interdisciplinaridade entre saberes.
O funcionamento psicológico dos indivíduos da espécie humana através
de seus postulados, os quais denominam-se como “planos genéticos de
desenvolvimento”. O primeiro, denominado filogênese trata da história da
espécie humana, definindo limites e possibilidades para o funcionamento
psicológico. O segundo plano, ontogênese, diz respeito do desenvolvimento,
natural e biológico da espécie humana e o terceiro, a sociogênese, refere-se às
diferentes formas culturais que interferem no funcionamento psicológico,
servindo como alargador das potencialidades humanas.
E, por fim, a microgênese, relacionada à historia particular de cada
fenômeno psicológico, destacando-se nesta fase a singularidade e
heterogeneidade de cada indivíduo. Tanto o terceiro quanto o quarto plano, são
influenciados pelo determinismo social.
Os neurocientistas estudam cientificamente o cérebro, considerando-o,
sedes próprias do aprendizado formam um grupo pequeno e seleto e
empregam alta e dispendiosa tecnologia, enquanto que os educadores
exercem sua função, entretanto, além de uma grande complexidade social,
educando que nem sempre partilham dos seus objetivos e em sua grande
maioria não possuem aparatos ou ferramentas adequadas para realizar seu
mister, o qual seja ensinar.
55
CONCLUSÃO
Refletir sobre a relação entre a neuroplasticidade e os processos do
aprendizado, instigando os professores do ensino fundamental a compreender
e utilizar as conexões neurais e a plasticidade cerebral como ferramenta para a
formação de seus alunos, através de subsídios advindos na
interdisciplinaridade entre médicos, psicólogos, pedagogos e professores,
promovendo assim o compartilhamento a ente a ciência e a educação no que
tange ao aprendizado de sala de aula e a função cerebral.
As crianças com a Síndrome de Asperger têm dificuldade de fazer e
manter amigos. Muitas vezes inconscientes dos seus comportamentos
inadequados, reações, emoções e impactos das suas ações sobre os outros,
elas se perguntam por que tem dificuldade para fazer amigos. Para ajudar as
crianças com essa patologia, a intervenção consistente, sistemática e
encorajadora dos pais e educadores é imperativa.
A escola é um excelente lugar para iniciar um treino de habilidades
sociais e emocionais, pois oferece atividades diversas e principalmente grupo
de crianças da mesma faixa etária. A medida que a criança começa a
compreender a linguagem social e as regras sociais, sua autoconfiança
aumenta e fica apto para começar a aprender o conceito de amizade.
Uma professora não familiarizada com os problemas inerentes à
síndrome de Asperger pode achar difícil entender porque um aluno inteligente e
comunicativo não é capaz de manter a ordem na escola e pode repreender o
estudante em vez de estabelecer um sistema de apoio. Escrever listas de
expectativas e de compromissos, além de checagens frequentes com o aluno
para ajudá-lo a reorganizar e monitorar seu progresso podem ser eficazes.
56
Faz-e necessário que o educador, auxilie seu aluno com estratégias
apropriadas como planejar, priorizar e organizar suas tarefas e atividades. O
estudando pode conseguir uma boa performance escolar e adquirir
conhecimento para uma futura autonomia.
Reconhecer e cultivar os talentos dos estudantes com Síndrome de
Asperger e fornece-lhes intervenções e apoio, poderão favorecer a
aprendizagem significativa dos conteúdos e possibilitarão o desenvolvimento
de seus potencial para fazer aquisições surpreendentes. Tosos têm potencial
para encontrar a realização e a felicidade ao longo da vida.
Com dedicação, afeto e comprometimento os pais e professores podem
obter um grande sucesso com crianças que são diagnosticadas com Síndrome
de Asperger. Podem também, oferecer aos médicos, através de suas
observações e registros periódicos, dicas comportamentais manifestadas no
ambiente escolar e/ou em seus lares. Psicólogos, professores e
psicopedagogos, fonodiólogos devem procurar trabalhar juntos e colaborar com
informações preciosas para o diagnóstico do neurologista/psiquiatra.
Numa visão geral, algumas dificuldades e talentos acompanham a
Síndrome de Asperger, entretanto uma criança diagnosticada com esse
distúrbio neurológico pode ou não apresentar todos os comportamentos e
dificuldades. Qualquer combinação desses comportamentos e dificuldades
afetará a sua aprendizagem, sua habilidade de se relacionar com os colegas e
professores e de comunicar-se efetivamente com os outros. O grau com que
esses problemas afetam a criança na escola é individual e depende da
situação.
O professor deve procurar promover o respeito à diversidade e
preocupar-se em propor aprendizagens significativas para todos os alunos, a
fim de adquiram o gosto pela aprendizagem e aprendam a aprender. Além
57
disso, é importante que a escola seja uma instituição dinâmica voltada para a
aprendizagem funcional, que tenha utilização prática no cotidiano, voltada para
as tarefas que lhe foram atribuídas pela sociedade.
A neurociência poderá se desvencilhar das amarras dos procedimentos
técnicos, produzindo também, uma visão crítica nas múltiplas relações que
norteiam o projeto educacional de orientação sócio- histórica. . A neurociência
busca seu espaço, na cooperação entre educadores, psicólogos e
fonodiólogos; uma forma dinâmica de construção do conhecimento.
Conclui-se que a Neurociência Pedagógica vem contribuir e colaborar
com a educação, possibilitando potencializar as dimensões que ser humano
possui na teia complexa da vida, que é o aprendizado.
58
ANEXOS
Índice de anexos
.
Anexo 1 >> Revista Mente e Cérebro - Cérebro de Autista é maior
Anexo 2 >> Valorizar experiências pessoais dos alunos aumenta
aprendizado
Anexo 3 >> Internet - O Cérebro no Autismo
59
ANEXO 1
Revista Mente & Cérebro – Nº 228 – Jan/2012
Cérebro de autistas é maior
Descoberta aponta novos caminhos para estudar a
origem do transtorno
Qualquer pessoa que
passa alguns momentos com
uma criança autista logo percebe
os principais traços de seu
comportamento: ausência de
contato visual, dificuldade de
compreender emoções alheias e
expressar os próprios
sentimentos. O transtorno atinge
em média 1 em cada 150 recém-nascidos e, segundo a hipótese atual,
combina causas genéticas e ambientais, não totalmente esclarecidas. Agora,
pesquisadores da Universidade da Califórnia identificaram dois marcadores
biológicos do distúrbio que podem apontar um novo caminho para estudar sua
origem: autistas têm cérebro mais pesado e com maior número de neurônios
na região pré-frontal, relacionada às habilidades cognitivas, comunicativas e de
interação social. A descoberta é resultado preliminar de um estudo conduzido
pelo neurocientista Eric Courchersne, publicado no Journal of The American
Medical Association em novembro de 2011. Sua equipe analisou tecidos do
córtex pré-frontal de 13 meninos e adolescentes que morreram entre 2 e 16
anos de idade – 7 deles diagnosticado com autismo. Os pesquisadores
60
descobriram que eles tinham 67% mais neurônios que o grupo de controle.
Essa proporção foi observada apenas em relação a esse tipo de célula, pois a
contagem de outras estruturas neurais, como as células glias, foi idêntica à do
grupo de controle. Além disso, o cérebro dos autistas revelou-se 17,6% mais
pesado e 7% maior que a média. “Futuros estudos com uma amostra maior de
tecidos poderão revelar relações importantes entre a contagem de neurônios e
a severidade dos sintomas”, afirma Courchersne em seu artigo.
Revist
Valorizar expe
Educadores de
maneira única em ca
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Não basta entend
aprende é preciso d
melhor forma de e
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Pedagogias Neurocien
afirmam alguns pes
pode ser compreendida
evolução e do funcion
biológico, neurológico,
equação complexa, pro
propiciando aquisições
de comportamento. Na
ANEXO 2
evista Mente & Cérebro – Nº 225 – Outubro
experiências pessoais dos alunos aumenta
res devem considerar que o cérebro human
em cada estudante; aproximar pedagogia e
e significar melhoria da qualidade de ensin
por G
entender como se
iso descobrir a
de ensinar. Há
ogia, amparada
difunde que
o que se sente
egido é desafiado
orrem mudanças
em seu cérebro,
acolhimento a
informações. As
rocientifica, como
pesquisadores,
endida com um estudo da estrutura, do dese
uncionamento do Sistema Nervoso, com o
ógico, psicológico, matemático, físico e fi
a, processos químicos e interações ambientai
ições de informações, resoluções de problem
to. Na prática, a aproximação entre as neu
© Marish/Shutter
61
tubro/2011
menta aprendizado
umano funciona de
gia e neurociência
ensino
or Gláucia Leal
desenvolvimento da
m o enfoque plural:
e filosófico Nessa
ientais se aproximam
oblemas e mudanças
s neurociências e a
terstock
62
pedagogia pode reverter em melhoria da qualidade de ensino para milhares de
estudantes. Os benefícios são bem-vindos – é necessário. Afinal a realidade é
preocupante. Levantamento do Ministério da Educação revela que 20% dos
brasileiros entre 15 e 19 anos são analfabetos, o que representa 12% da
população brasileira. Segundo relatório da Organização das Nações Unidas
para a educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Brasil tem o sétimo maior
contingente de analfabetos do planeta. Mais que mapear o cérebro, desvendar
meandros de seu funcionamento, compreender fluxos e refluxos de
neurotransmissores, acompanhar dinâmicas complexas e transportar passos
da resolução de um problema matemático, observar e diagnosticar,
pesquisadores de diferentes segmentos estão interessados nas implicações
sociais da aquisição de conhecimentos que possibilitem a inclusão de milhares
de crianças, adolescentes e adultos – e não apenas no que diz respeito à
quantidade de pessoas com acesso à escola, mas também levando em conta a
qualidade da educação oferecida. O cérebro humano, porém, não possui
nenhum módulo automático que permita o domínio de práticas como a leitura, a
escrita, ou o cálculo. O aprendizado é sempre um processo único, que envolve
afeto. Por isso, conhecer a história do aluno e tratá-lo como sujeito único pode
mudar o rumo de sua vida. É fundamental valorizar suas experiências.
.
63
ANEXO 3
INTERNET
O cérebro no autismo
Alterações no córtex temporal podem causar prejuízo na percepção de
informações importantes para a interação social
Ricardo Zorzetto
Edição Impressa 184 - Junho 2011
© MARIE HIPPENMEYER | FOTOS DA SÉRIE PRETO E
BRANCO, 2002-2007
Mamãe, mamãe, descobri
que o Capitão Gancho é bonzinho.
Ele falou: - Eu vou cuidar bem de
você.”, anunciou o garoto durante
a consulta, interrompendo a
conversa da mãe com o médico. E
repetiu mais duas ou três vezes a
descoberta que fizera ao assistir o
filme sobre Peter Pan, para em
seguida retornar o silêncio habitual
e voltar a agitar as mãos para
cima e para baixo como se
quisesse desprendê-las dos braços. Diferentemente de crianças da sua idade,
o menino de 7 anos atendido pelo psiquiatra infantil Marcos Tomanik
Mercadante não conseguia perceber a ironia da fala do vilão, determinada por
uma marcante alteração no tom da voz. Os sinais que Mercadante observou no
64
garoto são característicos de um grupo de distúrbios com prevalência ainda
pouco conhecida no país e que apenas nos últimos anos começaram a ser
mais bem compreendidos – em parte,consequência de trabalho de
pesquisadores brasileiros trabalhando no país e no exterior. Classificados com
transtornos do espectro autista ou transtornos globais do desenvolvimento,
esses problemas de origem neuropsicológicas as manisfestam na infância e,
com maior ou menor intensidade, prejudicam por toda a vida a capacidade de
seus portadores se comunicarem e se relacionarem com outras pessoas.
Incluem quadros variados como autista clássico, marcado por dificuldades
severas de linguagem e de interação social, a síndrome de Asperger, na qual a
inteligência é normal ou superior à média e a aquisição da linguagem se dá
sem problemas, mas em que são comuns os gestos repetitivos e a falta de
controle em movimentos delicados, ou ainda a síndrome de savant em que
apesar do retardo mental, a memória ou as habilidades matemáticas ou
artisticas são extraordinárias. Levantamentos feitos nos últimos anos registram
um aumento importante no número de casos desses transtornos. Há pouco
mais de uma década se acreditava que o autismo e suas variações fossem
bastante raros. Com base em pesquisas feitas nos Estados Unidos e na
Europa, calculava-se que uma em cada 2,5 mil crianças – ou 0,04% da
população infantil – apresentasse algum distúrbio do espectro autista. Hoje
essa proporção é 20 vezes maior. Quase 1% das crianças norte-americanas e
inglesas sofrem de algum desses transtornos de desenvolvimento, segundo
dados recentes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados
Unidos e de pesquisas de universidades da Inglaterra. E a taxa pode ainda ser
mais elevada. Trabalho publicado em maio no American Journal of Psychiatry
indica a prevalência de distúrbios autistas é de 2,5 % na Coreia do Sul. O mais
provável é que não haja uma epidemia de autismo. Em relatório apresentado
em 2010 à Organização Mundial de Saúde (OMS), especialistas brasileiros e
estrangeiros indicaram, após analisar quase 600 estudos sobre o assunto, que
o aumento na taxa desses transtornos parece decorrer do uso de estratégias
mais abrangentes de diagnóstico e da maior vigilância de profissionais da
saúde – embora não se possa excluir completamente uma elevação real no
65
número de casos. No Brasil, porém os dados sobre o problema são
praticamente desconhecidos. Por falta de estudos populacionais, não se sabe
com segurança quantas são nem onde estão as crianças com o transtorno do
espectro autista. Muito menos se recebem o mínimo de atenção do sistema de
saúde e de educação para que consigam levar uma vida o mais próximo do
normal possível.
O maior e mais recente levantamento realizado no país – um dos únicos feitos
na América do Sul – sugere que o autismo e suas variações afetam uma em
cada 370 crianças ou 0,3% dessa população. Coordenado por Mercadante, da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Cristiane Silvestre de Paula,
psicóloga e epidemologista da
Universidade Prebiteriana
Mackenzie, o estudo avaliou mais
sinais de autismo em 1470
crianças com idade entre 7 e 12
anos, uma amostra considerada
bastante razoável. Mas o trabalho,
publicado em fevereiro no Journal
of Autism and Developmental
Disorders, ainda é um estudo
piloto. Sua principal limitação é que
foi realizado em apenas um município brasileiro: Atibaia, cidade de 126 mil
habitantes a 60 quilômetros de São Paulo. “Fizemos esse estudo, financiado
pelo Mackenzie, com pouco dinheiro”. Conta Mercadante que pretende fazer
um estudo populacional sobre o autismo com amostra representativa de um
município inteiro. Em Atibaia, a psicóloga Sabrina Ribeiro identificou todas as
escolas e as unidade de saúde da região estudada e treinou professores,
médicos e profissionais do programa de saúde da famíla para identificar sinais
de autismo. Das 1470 que viviam na área, 94 foram encaminhadas para testes
clínicos mais detalhados e 4 receberam diagnóstico de autismo. Se o índice
observado ali puder ser extrapolado para o resto do país – inclusive para os
adultos, uma vez que estudo recente na Inglaterra mostrou prevalência de
66
autismo semelhante em adultos e crianças – é de se esperar que existam 570
mil brasileiros com alguma forma de autismo. ‘Alguns trabalhos indicam que a
prevalência de autismo talvez seja mais baixa entre os latinos, comenta
Mercadante”. O fato de nossa cultura exigir mais o desenvolvimento das
habilidades sociais do que as de muitos países do hemisfério norte, onde
costumam ser feitos os estudos epidemiológicos, pode ajudar as pessoas com
casos mais leves a levar uma vida com certa independência e a não serem
identificadas com autistas. Essa seria uma estimativa favorável. É possível que
os números daqui e os de outros países estejam substimados, suspeitam que
os pesquisadores ingleses que realizaram o primeiro estudo de prevalência de
autismo em adultos, publicado em maio nos Archives of General Psychiatry..
No trabalho, eles avaliaram sianis de autismo em 7461 adultos e confirmaram
que 618 tinham alguma forma do distúrbio. “Em nenhum dos casos
identificados nesse levantamento as pessoas sabiam que eram autistas nem
tinham recebido diagnóstico oficial anteriormente.” Disse Traolach brugha,
pesquisador da Universidade de Leicester, na Inglaterra, e autor do estudo, em
comunicado à imprensa. Embora a maioria dos casos fosse de pouca
gravidade, a constatação acende um sinal amarelo: mesmo em países com
sistemas de saúde bem estruturados muitos casos nem chegam a ser
conhecidos. Caso as taxas no Brasil sejam elevadas como a dos Estados
Unidos, pode haver até 1,9 milhões de brasileiros com autismo. “Seria uma
bomba para os cofres públicos.” Diz Cristiane “Mostraria que é preciso
aumentar muito a capacidade de atender o problema.””O autismo demanda
tratamento contínuo e dispendioso.” Conta Maria Cecilia mello, mãe de Nicolas,
um jovem de 19 anos que há apenas três anos recebeu o diagnástico de
síndrome de Asperger. “Eles também precisam de acompanhamento
especializado para alavancar suas habilidades específicas e desenvolver
aquelas em que apresentam dificuldades’, diz a juiza federal, fundadora, ao
lado de Mercadante e de outros pais e pesquisadores, da organizzação não
gorvernamental Autismo & Realidade em 2010 com a meta de divulgar
informações sobre o distúrbio e arrecadar recursos para financiar pequisas na
área. Nos estados Unidos, onde há estatisticas para quase tudo, anos atrás
67
Michael Ganz, da Univerdidade Harvard, calculou em US$ 3,2 milhões o custo
para manter um autista ao longo da vida, levando em conta despesas médicas,
de educação e perda de produtividade no trabalho. No sistema público de
saúde brasileiro, os casos suspeitos de autismo deveriam, em princípio, ser
identificados pelos pediatras nas unidades básicas de saúde e encaminhados
para cuidadeo especializado em um dos 128 centros de atenção psicossocial
infantil (CAPSi). Mas esses centros estão concentrados no Sudeste e no
Nordeste. Cinco estados brasileiros não têm CAPSi e outros sete dispõem de
apenas um, de acordo com o relatório recente do Minstério da Saúde. Na
cidade de São Paulo, a mais bem servida do país, há apenas 13 CAPSi. Com a
prevalência de autismo de 0,3% da população, seriam necessários cerca de 70
desses centros para atender apenas os autista da capital paulista, segundo
Cristiane. Ante esse quadro, como mercadante, a maioria dos casos é atendida
por associações de pais e amigos das crianças com defici~encia intelectual, as
AMAs e APAEs. Em São Paulo, uma decisão de 2001 da Justiça determinou
que a secretaria de Estado da Saúde pague tratamento, assistência e
educação especializados. Sem um levantamento mais amplo como o que ele e
Cristiane planejam, vive-se um círculo vicioso. “Como não há estudos de
prevalência abrangebtes no pais, não se consegue mostrar que o problema
existe. E, sem provas, fica difícil exigir atendimento”, afirma a epidemiologista,
que participa de um levantamento de problemas de saúde mental em crianças
de conco capitais brasileiras projeto do Instituto Nacional de Psiquiatria do
Desenvolvimento para Crianças e Adolescente, apoiado pela FAPESP e pelo
governo federal. Atendimento médico precoce e de qualidade é fundamental
para influenciar a evolução do autismo. Tanto que, no mundo todo,
pesquisadores buscam estratégias para identificar com segurança o autismo já
no primeiro ano de vida. “ quanto mais cedo se identificar os sinais melhores as
chances de intervir para tentar recuperar a capacidade de a criança se
relacionar com os outros e buscar a construção da linguagem significatica”,
afirma a psicóloga e psicanalista Maria Cristina Kupfer, do Instituto de
Psicologia da Univerdidade de São Paulo (USP), fundadora do Lugar de Vida,
entidae que há 20 anos atende casos de autismo.” A intervenção precoce
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permite ainda ouvir os pais, que sofrem por não receber de volta dos filhos a
atenção que lhes dão.”Desde que o autismo foi descrito nos anos 1940, o
diagnóstico continua clínico. Em geral um neurologista ou psiquiatra examina a
criança e avalia sua história de vida à procura de indícios de atraso no
desenvolvimento da capacidade de interagir socialmente e se comunicar e de
defasagem no desenvolvimento motor, descritos no Manual diagnóstico e
estatístico de transtornos mentais, da Associação Psiquiatra Americana, e na
Classificação Internacional de Doenças, da OMS. Ainda que alguns sintomas
surjam muito cedo, nos primeiros meses de vida, os casos só costumam ser
confirmados por volta dos 3 anos de idade, quando o cérebro já atravessou
uma das fases de crescimento mais intenso. E isso na melhor das hipóteses.
Mercadante acredita que no brasil a identificação só ocorra aos 5 ou 6 anos,
quando já se perdeu uma fase fundamental do desenvolvimento infantil. No
estudo de Atibais, por exemplo, só um dos quatro casos de autismo havia sido
idemtificado anteriormente e recebia aompanhamento especializado.
“Precisamos melhorar a capacitação dos pediatras para que iindentifiquem os
sinais o mais cedo possível.”, afirma cristianie.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CUNHA, Eugênio. Autismo e Inclusão Psicopedagogia e Práticas Educativas
na escola e na família 3ª Ed. – Rio de Janeiro 2011
LENT, Robert. Cem bilhões de neurônios? : conceitos fundamentais de
neurociência. 2ª Ed. – São Paulo: Editora Atheneu. 2010
MOORE, Susan Thompson. Síndrome de Asperger e a Escola Fundamental:
Soluções práticas para dificuldades acadêmicas e sociais. Tradução de Inês de Souza
Dias – São Paulo: Associação Mais 1, 2005
OLIVER, Lou. Distúrbios de aprendizagem e de comportamento. Rio de
Janeiro.Wal Ed., 2011
RELVAS, Marta Pires. Fundamentos Biológicos da Educação: despertando
inteligências no processo de aprendizagem. 4ªed.Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009.
RELVAS, Marta Pires. Neurociência e transtornos de aprendizagem: as
múltiplas eficiências para uma educaçãoinclusiva.4ªed. Rio de Janeiro: Wak Ed.,
2010.
RELVAS, Marta Pires. Neurociência e educação; potencialidades dos gêneros
humanosna sala de aula. 2ªed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2010.
REVISTA SIMPRO-RIO /Sindicato dos Professores do Município do Rio de
Janeiro e Região – nº5 (maio 2010) – Rio de Janeiro, 2010.
RODRIGUES, Janine Marta Coelho –SPENCER, Eric. A Criança Autista – Um
estudo psicopedagógico.. Rio de Janeiro Wak Ed.2010
70
SERRA, Dayse Carla Gênero. / Teoria e Práticas da Psicopedagogia
Institucional. / Curitiba: IESDE Brasil S. A., 2009
WILLINS, Chris. Convivendo com Autismo e Síndrome de Asperg; estratégias Práticas
para Pais e Profissionais / Chris Williams e Barry Wright;; ilustrações de Oliver
Young.São Paulo. M. Books do Brasil Editora Ltda.2008
71
ÍNDICE
INTRODUÇÂO 09
CAPÍTULO I – Síndrome de Asperger 13
1.1 – O que é Síndrome de Asperger? 13
1.2 – As Crianças com Síndrome de Asperger 17
1.3 – As Crianças com Síndrome de Asperger e a Escola 21
1.4 – Parceria Família & Escola 24
1.5 - Desenvolvimento das Habilidades Sociais 25
CAPÍTULO II – Neurociências e Aprendizagem 30
2.1 – Conceito de Neurociência Pedagógica 30
2.2 – O Cérebro e a Aprendizagem 32
CAPÍTULO III – Os enlaces entre neurociências e a
Síndrome de Aperger
44
3.1 – Conceituando Psicopedagogia 44
3.2 - Aprendizagem na visão Psicopedagógica 46
3.3 – Intervenção Psicopedagógica 49
3.4- Plasticidade Cerebral e Aprendizagem 52
CONCLUSÃO 55
ANEXOS 58
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 69
ÍNDICE 71
72
FOLHA DE AVALIAÇÃO