UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter...

42
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS- GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE LÚDICO E PSICOMOTRICIDADE A CONSTRUÇÃO PRAZEROSA DO CONHECIMENTO Por: Ana Florentina Valentim Silva Costa Orientador Profª. Maria Esther de Araujo Co-orientadora Fátima Alves Niterói 2006

Transcript of UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter...

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

LÚDICO E PSICOMOTRICIDADE – A CONSTRUÇÃO

PRAZEROSA DO CONHECIMENTO

Por: Ana Florentina Valentim Silva Costa

Orientador

Profª. Maria Esther de Araujo

Co-orientadora

Fátima Alves

Niterói

2006

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

LÚDICO E PSICOMOTRICIDADE – A CONSTRUÇÃO

PRAZEROSA DO CONHECIMENTO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de pós-graduação “Lato Sensu”

em psicomotricidade.

Por: . Ana Florentina V. S. Costa

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

3

AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus por haver criado este momento e me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista.

A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo incentivo, e também, por se mostrarem compreensivos, nos vários momentos em que tive de me ausentar, a fim de caminhar em direção a realização de mais um sonho.

Sinceros reconhecimentos a meus pais, que pela graça de Deus me colocaram no mundo, oportunizando-me este momento.

Aos educadores que contribuíram de forma tão prestimosa para o aperfeiçoamento do meu conhecimento.

Sinto imensa necessidade de agradecer a Fátima Alves e Maria Nazareth, que criaram lacunas em seus relógios para a leitura deste trabalho.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

4

DEDICATÓRIA

A meus filhos, que são a alegria do meu lar, e meus maiores incentivadores.

A Maria Nazareth, minha irmã e grande amiga, pela dedicação, encorajamento e sua enriquecedora contribuição.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

5

RESUMO

Apresentaremos neste trabalho monográfico, alguns recursos que contribuem de maneira dinâmica e prazerosa para a aquisição e construção do conhecimento da criança. Mediante esses recursos, música, jogo, brincadeira e atividades psicomotoras, podemos perceber como a criança desenvolve seus conceitos e relações com o grupo no qual está inserida e o mundo que a cerca. Essa proposta revela-se de grande utilidade como instrumento de mediação entre o conhecimento e a aprendizagem significativa, facilitando a compreensão dos conceitos, elevando a auto-estima da criança quando esta tem autonomia à frente de uma atividade que para ela era julgada de caráter dificultoso. Já foi provado por filósofos, psicólogos, e profissionais de outras áreas, que o lúdico e a psicomotricidade proporcionam uma educação integral para o ser humano. Dentro de um embasamento teórico, é que relatamos a importância desses instrumentos para o desenvolvimento da criança.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada no desenvolvimento deste trabalho, foi baseada em

bibliográficas exploratórias, associadas à pesquisa de campo em escolas que

atuam com turmas de alunos do pré-escolar (crianças de 3 a 6 anos), CD’s

Room e depoimentos.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPITULO 1 – A MÚSICA, OS JOGOS E AS BRINCADEIRAS COMO

RECURSOS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO 09

1.1 – Breve Incursão Sobre a Música 09

1.2 – Os Jogos e as Brincadeiras 13

1.3 – A Música, os Jogos e as Brincadeiras como Potencializadores do

Desenvolvimento Cognitivo 15

1.3.1 – Música, a Arte de Combinar e Construir Conhecimentos 17

1.3.2 – A Escola e o Brincar 18

CAPITULO 2 – EDUCAÇÃO PSICOMOTORA 23

2.1 – Educação Psicomotora sob a Ótica de Le Boulch e Fátima Alves 26

CAPÍTULO 3 – O LÚDICO E A PSICOMOTRICIDADE NA ESTRUTURAÇÃO

PRAZEROSA DO CONHECIMENTO 30

3.1 – Técnica e Artes Contribuindo para a Reeducação 31

CAPÍTULO 4 – ALGUNS EXEMPLOS DE PRÁTICAS PRAZEROSAS. 34

CONCLUSÃO 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 40

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

8

INTRODUÇÃO

No Lúdico, brincadeira e música, possibilitam a criança, condições de

evocar lembranças, e com estas, os sentimentos, as emoções. Sua realidade

vai sendo pouco a pouco construída, sua capacidade criativa vai sendo

ampliada, e seu mundo interior cada vez mais enriquecido. No lúdico, a criança

encontra maior facilidade para a aquisição de novos conhecimentos,

desenvolve habilidades e condições para lidar com situações cada vez mais

elaboradas. O lúdico mexe com a imaginação, a emoção, o corpo; desperta a

curiosidade, o interesse; diminui ansiedade, potencializa a construção

cognitiva, e de forma prazerosa conduz a criança a uma total autonomia.

O desenvolvimento intelectual, assim como o desenvolvimento físico,

podem ser estimulados, e essa estimulação deve ocorrer de forma agradável,

preservando o prazer pela descoberta e a alegria contida nas atividades

propostas, levando em consideração que cada criança tem o seu ritmo próprio

de desenvolvimento, e que ela é um ser global em seus aspectos cognitivo,

afetivo e motor, e que esses, encontram-se entrelaçados, levando-na a

interagir físico/social, construindo e reconstruindo suposições sobre o mundo

que a cerca. Para tanto, o profissional (professor) deve por sua vez, cumprir o

papel de mediador do processo das novas descobertas, não priorizando

apenas uma área do conhecimento, mas sim, sua totalidade.

A proposta deste trabalho é demonstrar que a música, os jogos e as

brincadeiras associados a psicomotricidade podem contribuir de forma positiva

para a construção do conhecimento. Com certeza o cotidiano pedagógico se

torna mais rico quando a criança vivencia as experiências, sendo elas

conhecidas ou novas. Experienciando a ludicidade, podemos soltar a

imaginação, enfrentar desafios, ter iniciativas, criar e modificar regras, etc.

Desta forma, a troca, os significados, as idéias, são construídos e partilhados

levando a criança a uma aprendizagem significativa.

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

9

CAPITULO I

A MÚSICA, OS JOGOS E AS BRINCADEIRAS COMO

RECURSOS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

“O que a gente pode afirmar, com força de certeza, é que os elementos da música, o som e o ritmo, são tão velhos como o homem. Este os possui em si mesmo porque os movimentos do coração o ato de respirar já são elementos rítmicos, o passo já organiza um ritmo, as mãos podem determinar todos os elementos do ritmo. E a voz produz o som.” (Mário de Andrade, Pequena História da Música, Apud. Proposta Metodológica, 1978, p.49).

1.1 – Breve Incursão Sobre a Música

Segundo Alicia Maria Almeida Loureiro, 2003, a história da música data

desde antes da Idade Média, podendo ser dito que vem desde a pré-história.

Porém, apesar de seu importante papel ao longo da história no

desenvolvimento humano, iremos nos ater apenas a alguns pontos

fundamentais nas mudanças de sua aplicação nas redes de ensino.

No Brasil, com a chegada dos Jesuítas, tivemos a implantação das

primeiras escolas. Os Jesuítas tinham como objetivo catequizar os indígenas

que aqui viviam ensinando-lhes principalmente, os preceitos da igreja católica.

Os nativos eram dados a práticas pagãs, andavam nus e realizavam

cultos em louvor a seus deuses por cada dádiva alcançada. Durante os rituais,

dançavam e entoavam cânticos em total harmonia com a natureza, eram

músicos natos.

Observando as práticas indígenas, os jesuítas perceberam que

poderiam utilizar a música como recurso na evangelização dos mesmos. Assim

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

10

sendo, segundo Beyer (1994, p. 102), ‘Os jesuítas introduziram no elemento

indígena, um repertório vigente naquela época na Europa. Ou seja, os jesuítas

educaram os indígenas musicalmente para o desempenho musical destes nas

missas.’

Em 1759, ocorre a expulsão dos jesuítas e com ela as primeiras

mudanças no sistema educacional brasileiro. Porém, apesar das novas escolas

incorporarem outras disciplinas, permaneceram as marcas da tradição jesuítica

onde a música continuava tendo uma conotação religiosa.

As mudanças mais significativas e inovadoras do ensino de música nas

escolas Européias, se deram a partir de um movimento provocado por músicos

e pedagogos como Edgar Willems (1890 – 1978), na Bélgica, Jacques

Dalcroze (1865 – 1950), na França, Carl Orff (1895 – 1982), na Alemanha,

Maurice Martenot (1898 – 1980), na França, Zóltan Kodály (1882 – 1967), na

Hungria, Violeta Gainza, na Argentina. Este movimento chamado Movimento

Escolanovista, tinha como uma de suas propostas principais, a escolarização

de crianças vindas de classe sociais carentes.

O Brasil passava por intensa mudança política, social e econômica que

acabou culminando com a Revolução de 30, quando este movimento aqui

chegou. O movimento ganhou força e firmou-se nos princípios da Escola Nova,

onde era afirmada a importância da arte na educação para o desenvolvimento

da sensibilidade, percepção, inteligência da criança e, a arte da criança passou

a ser reconhecida como expressão espontânea.

Nessa época foi realizado um movimento em São Paulo, cujo objetivo

era o de infundir uma nova orientação ao ensino da música nas escolas

públicas, liderado por João Gomes Júnior. Esse trabalho foi restrito ao estado

de São Paulo, porém, o governo brasileiro acatou as idéias, percebendo que o

canto era um importante recurso para a formação da cidadania e a

nacionalidade.

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

11

A Semana da Arte Moderna, em 1922, foi marco na vida artística

cultural brasileira, e trouxe novas formas no entendimento do fazer artístico.

Segundo a proposta geral dos PCNS, ‘Arte tem uma função tão importante

quanto à dos outros conhecimentos no processo de ensino e aprendizagem. A

área de Arte está relacionada com as demais áreas e tem sua especificidade.’

Observa-se então, que o fazer artístico está relacionado a toda

atividade criativa da criança e até mesmo na aquisição do conhecimento. Ao

dar ênfase a esta área, o educador está colaborando para o desenvolvimento

do pensar, do apreciar, conhecer, produzir e acima de tudo, a respeitar as

diferentes culturas.

Ainda falando de Arte Moderna, nesse período, Mário de Andrade

destacou-se nesse movimento exercendo influências sobre vários músicos,

pois segundo ele, a música deveria ter uma função social.

A figura de Heitor Villa-Lobos, não poderia ser esquecida, sua

colaboração musical, difundia as idéias coletivas e cívicas do momento político

com o Canto Orfeônico. O projeto Villa-Lobos encontrou obstáculos junto à

prática na orientação de professores, e transformou-se em aula de música

teórica, no entanto, o objetivo era estudar a música nos seus aspectos

técnicos, sociais e artísticos, e acima de tudo, preservar os valores culturais do

povo.

Passando algum tempo, em todo o Brasil, o Canto Orfeônico foi

substituído pela Educação Musical, criada pela Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Brasileira de 1961.

Além da Educação Musical, reuniram-se nas escolas os novos

métodos que estavam sendo propagados na Europa1, em oposição ao Canto

1 São as influências do húngaro Zoltan Kodály, do alemão Kal Orff, do belga Edgard Willems, dos brasileiros Antonio de Sá Pereira, Liddy Chiafarelli Mignome, Gazzy de Sá e do alemão naturalizado brasileiro H.J. Koelheutter.

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

12

Orfeônico. O ensino da música passa a ser visto com outra visão, a música

pode ser sentida, em diversas maneiras, ou seja, fundiam-se as diversas

linguagens artísticas num todo.

Em 1971, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),

incluía a arte no currículo escolar como Educação Artística, considerada como

atividade educativa e não disciplina. A Educação Artística enfrentou

dificuldades em sua teoria e prática dentro do sistema educacional,

principalmente pelo fato de contar com professores não habilitados e sem

domínio afim de melhor compreender as várias linguagens que eram atribuídas

a essa disciplina. O educador artístico, segundo Hentschke (1995b, p, 32),

passa a ser ‘reconhecido como um profissional inviável, polivalente, incapaz de

deter um domínio médio dos três discursos artísticos – plástico, teatral e

musical’.

Como reza na lei nº 9. 394 / 96 (art. 26, d 2º), anulam-se as disposições

anteriores e Arte passa a ser considerada obrigatória na educação básica, que

inclui a educação infantil, o ensino fundamental (antigo 1º grau) e o ensino

médio (antigo 2º grau).

O MEC, no uso de suas atribuições, organizou os PCNs, submetendo-

os ao Conselho Nacional de Educação. Os PCNs trazem orientações para

cada área do conhecimento e, apesar de não serem obrigatórios, segundo

Souza (1998), têm vista ‘ estabelecer uma política de ensino para o país e

favorecer reestruturações de propostas educacionais que preservem as

especificidades locais e a autonomia das diferentes estâncias do governo’.

Mesmo sendo obrigatória, muitas escolas não valorizam o lado

comum, a não ser no ensino infantil em que se cantam para inserir conceitos

como higiene, entrada, saída ¼

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

13

1.2 – Os Jogos e as Brincadeiras

“A imaginação é um processo psicológico novo para a criança; representa uma forma especificamente humana de atividade consciente que não está presente na consciência das crianças muito pequenas e está ausente nos animais. Ela surge primeiro em forma de jogo, que é a imaginação em ação.” (Vygotsky, Apud, Kishimoto, Tizuko Morchida. org. 1999, p.51)

A palavra jogo, segundo Silveira Bueno, pode ser definida como

“brinquedo, folguedo, divertimento” e, brinquedo, como “qualquer objeto com

que se entretêm as crianças”.

A palavra brinquedo surgiu no século XIX, porém, os jogos e as

brincadeiras são muito anteriores a este período. Eles, assim como a música,

são tão antigos quanto a civilização.

Nas ruínas do Egito, da Babilônia, China e civilização asteca, foram

encontrados vários tipos de brinquedos. Encontraram-se, também esculpidos

nos túmulos egípcios, desenhos de jogos de tabuleiros, estes datam de 2.500

a.C.. Na Grécia, as olimpíadas já existiam desde 776 a.C. em honra ao deus

Zeus. A história nos relata que vários jogos e brincadeiras eram praticados por

criança desde a antiguidade, podemos citar como alguns exemplos, o pião,

jogo de argola, a cabra-cega, cabo de guerra, pula corda, amarelinha ...

Somente a partir do século XIX os locais de jogos passaram a ser

destinados as crianças e, logo depois, surgiram os primeiros parques infantis.

Observando-se as crianças nestes locais, percebeu-se então, o quão

importante eram as atividades ali realizadas por elas. Estas não só contribuíam

para o desenvolvimento físico como também, propiciavam o relacionamento

social, intelectual, cultural, além de contribuir para a saúde e sociabilidade das

crianças.

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

14

Como foi percebido no século XIX e podemos observar de modo muito

claro em Jean Piaget,

“Obrigada a adaptar-se sem cessar a um mundo social dos mais velhos, cujos interesses e cujas regras lhe permanecem exteriores, e a um mundo físico, que ela ainda mal compreende, a criança para seu equilíbrio afetivo e intelectual precisa dispor de um setor de atividade cuja motivação não seja a adaptação ao real senão, pelo contrário, a assimilação do real ao eu sem coações nem sanções: tal é o jogo, que transforma o real por assimilação mais ou menos pura às necessidades do eu, ao passo que a imitação é acomodação mais ou menos pura aos modelos exteriores e a inteligência é o equilíbrio entre assimilação e acomodação.” (Piaget, Apud, Kishimoto, Tizuko Morchida. org. 1999, p.51)

existem fatores importantes que interferem de forma marcante no

desenvolvimento cognitivo da criança, e um deles é a brincadeira. Na

brincadeira podemos inteirar o jogo e o brincar em si, pois a criança consegue

comunicar-se com outras e com os adultos.

O brincar2 é necessário para incentivar a criança a fazer uso dos jogos

e brincadeiras como instrumentos para a construção do conhecimento de forma

prazerosa.

Ao brincar a criança vivencia momentos alegres relacionados à vida

cotidiana, que a leva a construir sua identidade e perceber-se no meio em que

se encontra inserida. É no decurso desse brincar que a criança prepara-se para

a aprendizagem significativa, aprende conceitos e informações novas, além de

tornar-se um adulto estabilizado físico e mentalmente, superando com maior

facilidade os problemas que poderão surgir no dia-a-dia.

2 Refere-se a jogos, músicas e brincadeiras.

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

15

O brincar permite a formação da criança em etapas de sua vida, além

disso, desenvolve capacidades como concentração, atenção e algumas

habilidades psicomotoras, nas regras impostas na realização da brincadeira.

A criança nunca deve ser privada de brincar, pois ele faz parte da

vivência, não vivendo esse momento, pode se tornar um adulto reprimido, não

conseguindo expor suas idéias com clareza e criticidade. Ao brincar o

pensamento está em constante funcionamento obtendo informações que será

cultivado e desenvolvido ao longo do tempo. As crianças por si só são criativas,

imaginárias e inteligentes. O brincar pode ser dito como uma das fases

importantes para o aprendizado.

1.3 – A Música, os jogos e as brincadeiras como

potencializadores do desenvolvimento cognitivo

“[¼]ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos, jogos de mãos, etc., são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical, além de atenderem a necessidade de expressão que passam pela esfera afetiva, estética e cognitiva.” Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, Apud, Centurion, Marilia, 2002, p.73

Ouvir música, utilizar jogos e brincadeiras nas séries iniciais, são

práticas comuns nas escolas, mas, se ao invés de usar esses recursos como

entretenimento, o educador utilizá-los como meio facilitador na transmissão de

informações, não só nas séries iniciais, mas também nas seguintes, tornará as

aulas agradáveis e dinâmicas.

Salientaremos nesta dissertação, o efeito positivo destes recursos no

desenvolvimento cognitivo da criança, quando utilizado, objetivando esse fim.

Com certeza o cotidiano pedagógico se tornará mais rico quando a criança

vivenciar as experiências, sendo elas conhecidas ou novas.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

16

Experenciando a ludicidade, podemos soltar a imaginação, enfrentar

desafios, ter iniciativas, criar e modificar regras, etc. Desta forma, a troca, os

significados, as idéias, são construídos e partilhados levando a criança a uma

aprendizagem significativa.

Os profissionais da educação deveriam levar em conta, que tanto a

música como os jogos e brincadeiras estão presentes no cotidiano do ser

humano desde muito cedo. Vejamos:

· Música - estudos científicos comprovam que quando o feto ainda

está em formação, ele percebe o som a sua volta através de

vibrações que atravessam o liquido amniótico, sons estes,

provocados pelas batidas do coração de sua mãe, de seu próprio

coração e outros. Ao nascer a criança é inserida num mundo

musicalizado, ela acorda ouvindo a música que vem do meio tanto

através do som de vozes quanto de aparelhos eletrônicos, até

mesmo quando vai dormir, a música também se faz presente na

voz da mãe que o embala com canções de ninar. A música tem o

poder de atrair a criança, acalmar, deixá-la mais atenta, torná-la

mais sensível e mais sociável.

· Jogos e brincadeiras - quando a criança nasce, ela não tem

consciência do seu próprio corpo, sua evolução, ou seja, seu

desenvolvimento se dá a partir da conscientização cada vez mais

aprofundada que ela, a criança, vai tendo do seu próprio “EU”. A

passagem de uma postura somente horizontal para uma vertical,

postura esta mais elaborada, se dá a partir de seu amadurecimento

neurológico, e este vai ocorrendo a partir da estruturação da

imagem que ela tem de si em relação ao que está a sua volta, e

para que isto ocorra, ela precisa dos múltiplos estímulos que vem

do meio, estes estímulos levam-na a perceber a existência de um

mundo muito maior ao que está habituada, e provoca nela o desejo

de dominar, de interagir, não apenas com o que está ao seu

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

17

alcance, mas também com aquilo que faz parte do mundo do

adulto. Ela sente a necessidade de dominar objetos e agir sobre

estes, tal qual o faz um adulto.

Entretanto, a fim de que o profissional possa fazer uso tanto da música

quanto dos jogos e brincadeiras, deverão dominar a atividade proposta, ou

seja, ao fazer uso da música como recurso, o profissional deverá ampliar seu

repertório escutando variados tipos de música, conhecendo suas letras e seus

ritmos. No caso de jogos e brincadeiras, conhecer suas propostas, a que se

destinam e seus objetivos. Para a utilização desses recursos, deverão ser

avaliados à idade a que se destinam e adequá-los a realidade do aluno.

1.3.1 – Música, a arte de combinar e construir conhecimentos

Falar de música é falar em arte como já foi mencionado, pois a mesma

não deixa de ser uma arte relacionada às tradições culturais de cada época. A

música é expressa por meio de sons, associando a música à rotina do

professor, podemos dizer que este utiliza o som da sua voz para transmitir

informações que ajudarão os alunos na construção do seu conhecimento,

nesse ato, o ser humano, comunica-se verbalmente.

As canções populares, são de grande valia no processo de

alfabetização, já que estas constituem uma expressão lingüística viva de um

povo. É de suma importância a interpretação das letras das músicas que estão

sendo utilizadas como instrumento pedagógico, assim os alunos desenvolverão

a capacidade de criação e entenderão o sentido da música, podendo fazer uma

contextualização com suas vivências.

Percebe-se então que para se trabalhar com a música na sala de aula,

o professor necessita ouvir muitas músicas, das mais variadas, deixar o

preconceito de lado e saber selecionar aquela que seja mais útil e adequada

para o aprendizado dos alunos. Portanto, não é meramente colocar uma

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

18

canção para tocar e utilizar-se desse recurso para preencher o tempo. O

professor deve usar a música para ensinar, ou seja, auxiliar na construção do

conhecimento.

Cabe também ao professor, traçar quais objetivos pretende alcançar

para não se perder no conteúdo e não deixar as aulas monótonas. Nunca

esquecer que a música é uma forma de linguagem e trabalhar com a música,

significa expressar-se através desta linguagem. Contudo, deve-se deixar claro

que as músicas não são elaboradas para uma proposta pré-determinada, e

sim, a proposta é que faz uso da música como recurso pedagógico.

Levando em consideração que a música na educação infantil estimula

áreas do cérebro da criança que vão beneficiar o desenvolvimento de outras

linguagens enriquecendo o trabalho cotidiano de sala de aula, temos que estar

sempre levantando questões para serem refletidas dentro de um contexto

escolar sério, e que dê prioridade ao desenvolvimento do ciclo escolar da

criança para que a mesma seja capaz de lidar com as imposições e as

frustrações que o mundo oferece.

A música além de possuir um valor educativo, se tratada nesse

âmbito, contribui para o desenvolvimento harmonioso facilitando a educação

psicomotora, levando a criança a tomar consciência do seu próprio corpo.

Quando esta, experimenta, pratica as atividades, individualmente ou em grupo,

essa relação com o outro, a orienta a se descobrir e formar aos poucos o seu

conhecimento. É através da música que o homem independente da idade, faz

colocações de suas emoções, percepções, sensações em relação ao mundo e

a si mesmo.

1.3.2 – A escola e o brincar

Atualmente o brincar nas escolas não está tão integrado, ficando

ausente nas propostas pedagógicas com a não valorização da ludicidade. O

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

19

mesmo é importante para o desenvolvimento da criança. A brincadeira está

sendo vista como recurso didático, e em alguns momentos como proibições.

Entretanto, algumas escolas já valorizam o lúdico, incluindo músicas,

jogos e brincadeiras nas salas de aula. Música, jogos e brincadeiras tornam-se

importantes para o aprendizado prazeroso, e o professor deve aliar-se aos

mesmos, oportunizando-os de forma educativa, inovando com freqüência para

que as aulas tornem-se dinâmicas e alegres, respeitando sempre a descoberta

da criança.

O professor deve ser aberto a ludicidade dando espaço específico a

esta na educação, possibilitando a criança interação com objetos e pessoas.

Quando a criança entra em contato com o novo, ela vivencia experiência nunca

vivida, levando-a a um conflito em relação ao que já conhece. Surge então, um

problema a ser solucionado, para tanto, a criança sistematiza e organiza de

forma coerente para conseguir interpretar, ou seja, apreender as informações

adquiridas do objeto.

De acordo com Piaget, para que a criança consiga solucionar o

“problema” surgido, ela passa por algumas etapas, a qual podemos dizer que,

o que ocorre no cérebro é uma alteração de um “esquema” já organizado. Para

reorganizar o mesmo, a criança passa por momentos em que observa o objeto

retirando informações necessárias para interpretação do que lhe interessa,

ocorre então a assimilação. Após, a criança acondiciona as informações novas

na sua estrutura mental. A mesma é capaz de modificar para dar conta das

singularidades e conhecer o novo. Ao modificar acontece a acomodação. Após

assimilar e acomodar, o cérebro funciona no processo de adaptação, onde o

equilíbrio é progressivo entre as duas primeiras etapas. Sendo assim, o

cognitivo entra em estado de equilibração porque a criança já conseguiu

acomodar e modificar o objeto para conhecê-lo.

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

20

Podemos dizer que a partir desse momento houve uma abstração,

ocorreu um aprendizado. Diante disto, verificamos que a criança deve estar em

constante contato com objeto para ter condições de relacionar e interar-se com

o meio levando-a a construir seu conhecimento, porém o estado de

equilibração não permanece, porque a cada momento algo novo aparece

surgindo novos conflitos, e o ser humano por natureza está em constante

busca.

O brincar compreende o brinquedo e o jogo. O brinquedo, entende-se

como um dos recursos que leva a uma aprendizagem e uma educação

prazerosa. O brinquedo pode ser materializado nos jogos de encaixe, quebra-

cabeça, bonecas e outros. Na utilização dos brinquedos surgem as

brincadeiras com intuito do desenvolvimento integral da criança.

Já com jogo podemos observar várias representações segundo a

criança. O jogo contribui para o desenvolvimento da aprendizagem complexa,

quando que para concretização do jogo, precisamos criar e seguir regras,

regras essas que podem ser trabalhadas intencionalmente os conceitos de

atitudes, procedimentos, ¼

O jogo por si é construtivo, porque leva o ser humano a pressupor a

sua práxi sobre o real, mesmo que essa ação seja simbólica, dá possibilidade

para que se crie novas ações.

Ainda sobre jogo, Piaget dedicou em estudá-lo e a estabelecer

classificações de acordo com o avanço cognitivo:

· 0 a 2 anos – sensório-motor (jogos de exploração ou exercício) é

utilizado o corpo e o espaço para que aconteça o desenvolvimento,

como exemplo podemos citar o engatinhar, rolar, pular, ... Ao

mesmo tempo em que a criança experimenta, ela explora as

possibilidades desse ambiente.

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

21

· 2 a 7 anos – pré-operatório (jogos simbólicos) é a fase da

criatividade, da imaginação e fantasia. É nesse estágio que a

criança assimila da realidade ao EU. Também ocorrem

modificações no jogo simbólico à medida que a criança progride.

· A partir dos 7 anos – operações concretas (jogos de regras) até

então para a criança as regras eram algo imposto e não poderiam

ser mudadas, a partir do momento que percebe que as regras são

produzidas pelo homem, toma consciência de que elas podem ser

burladas, porém, para isso, precisa de autonomia.

Tomamos consciência que os jogos de regras são necessários ao

desenvolvimento da criança para que haja ajustes sociais e os valores culturais

a serem transmitidos.

Na concepção de Vygotsky, a criança não tem que necessariamente

passar por fases amarradas como Piaget afirma. Quanto mais rica for a

experiência, maiores são as possibilidades que a criança tem em desempenhar

uma atividade sem a ajuda de um adulto, independentemente de barreiras para

se chegar ao conhecimento.

As brincadeiras podem e devem estar presentes no cotidiano infantil, e

porque não falar que também no do adulto, já que o atributo dado à mesma, é

o de viver a criatividade. É o momento da troca entre o ‘eu’ e o ‘outro’ quando

a brincadeira é coletiva, caso seja individual, a criança usa o imaginário, a

fantasia, isso não quer dizer que em grupo não os use. Porém sozinha, a troca

é partilhada com o objeto que esteja utilizando. A criança atribui vida ao

brinquedo para realizar a brincadeira.

Se observarmos, podemos perceber que a criança nesse momento de

transição com o objeto, dá significado ao mesmo, comportando-se de maneira

peculiar, envolvendo-se na brincadeira e agindo de modo real. Nesta ação, é

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

22

notório em que está inserida, mediada pelo símbolo, explicitando a construção

de um novo conceito e/ou conhecimento adquirido quando esta internaliza.

Ao internalizar, a criança é capaz de criar símbolos aumentando a sua

qualidade de satisfação nas brincadeiras, agora a criança não só brinca, ela

tem o propósito, o desejo de brincar.

Quando a criança é tolhida de brincar, pode encontrar grandes

dificuldades quando adulta em suas relações com o mundo e em particular com

o “outro”. Conseqüências trazidas da infância marcada por frustrações e más

recordações.

Uma infância bem vivida por brincadeiras, histórias, faz-de-conta leva a

criança a tornar-se um adulto que valoriza a brincadeira, pois teve a

oportunidade de vivenciá-la, não sendo aquele adulto “sem graça” que

desaprende a ser criança, a brincar, porque cresceu.

Brincar é um ato criativo, e o professor que não gosta, acha perda de

tempo ao perceber que a atividade proposta não teve tanta ênfase, o único

motivo é que a criança na sua sensibilidade percebe que o professor não gosta

de brincar. Com isso o professor entende a desmotivação do aluno, como

sendo falta de interesse e que então não há necessidade de realizar

brincadeiras.

Entretanto, é imprescindível que o profissional vença seus medos, sua

timidez, e se desprenda de quaisquer lembranças negativas e assim trilhe um

novo caminho junto a esta proposta, que só vem para que sua prática seja um

marco e faça a diferença.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

23

CAPITULO II

EDUCAÇÃO PSICOMOTORA

“O gesto não é somente comunicação, ele é também a realização e a este nível já se pode definir praxias. O homem vive em um mundo de significados e os gestos podem dizer alguma coisa. O corpo tem um sentido que se pode sempre interpretar, traduzir e servir de pistas às nossas intenções...” Bruno Castets, A psicomotricidade otimizando as relações humanas, Apud, Arte e Ciência, 2002, p.14

Não se pode falar em Psicomotricidade ou Educação Psicomotora, sem

que se fale, mesmo que de modo sucinto, acerca do estudo e da simbologia

do corpo ao longo da história das civilizações.

Estudos sobre o corpo, têm seu registro histórico, anterior ao estudo

das crianças com dificuldades de aprendizagem. Se olharmos por alguns

instantes, para os muitos registros realizados ao longo da história, poderemos

observar as varias definições ou conceitos que eram aferidos ao corpo.

Também, poderemos constatar inúmeras mudanças de percepção na

simbologia deste. Passando pelos grandes pensadores, filósofos, desde

Aristóteles, que afirmava que o homem era constituído de corpo e alma, porém,

que esta alma deveria comandar, e para tanto, analisou a função da ginástica,

pois esta, na sua concepção, serviria para “dar graça, vigor e educar o corpo” a

fim de propiciar um melhor desenvolvimento do espírito, visto que este deveria

comandar. Transpassando a era cristã, constatamos que o corpo era visto

como tendo um papel secundário, sendo assim, era negligenciado, enquanto

que ao espírito e a espiritualidade eram atribuídos valor relevante.

Os estudos do corpo, como parte fundamental para se chegar ao

entendimento, tanto das estruturas neurológicas quanto de fatores patológicos,

só começaram a ser realizados a partir do século XIX, primeiro por

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

24

neurologistas, e posteriormente, por psiquiatras e neuropsiquiatras. Eles,

conferiram ao corpo, significações psicológicas superiores, tanto no estudo da

organização práxica, quanto na gnósica.

A noção de psicomotricidade surge somente no início do século XX,

logo após a Primeira Guerra Mundial, sendo os franceses, grandes

influenciadores das principais pesquisas. Estes, ao trabalharem com crianças

que apresentavam não apenas dificuldades de aprendizagem, especificamente

na leitura, na escrita e no cálculo matemático, constataram que muitas destas

crianças apresentavam desvios de conduta e de comportamento ocasionados

por algum tipo de Síndrome, Disfunção Cerebral Mínima ou Paralisia Cerebral,

então, passaram a empregar métodos pedagógicos, cujo destaque encontrava-

se no domínio das noções corporais, era a chamada Reeducação Psicomotora.

Ao empregarem estes métodos, verificaram que à medida que a criança

adquiria domínio sobre o próprio corpo, seu ganho em aprendizagem cognitiva

era potencializado.

O termo Psicomotricidade surge no campo patológico através dos

estudos de Ernest Dupré (séc. XX), especialista de patologia nervosa e

professor de clínicas das doenças mentais, desde 1909 chamava a atenção de

seus alunos para o desequilíbrio motor, e descreveu o quadro ‘síndrome’ de

“debilidade motora”. E. Dupré entende este termo como: “a insuficiência e a

imperfeição das funções motoras consideradas em sua adaptação aos atos

comuns da vida.” 3 Ele verificou que existia uma relação muito próxima entre as

anomalias psicológicas e as anomalias motrizes, e assim, formulou o termo

psicomotricidade.

A psicomotricidade vista como campo científico, teve como precursor,

Henri Wallon (1925/1934). Formado em medicina, psicólogo e pedagogo,

salienta a importância do aspecto afetivo como anterior a qualquer outro

3 E. Dupré, Apud, “Debilité et déséquilibration motrice”, Paris-Médicine, nº 14,1913.

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

25

comportamento. Duas de suas obras4 ao serem lançadas, tornam-se um marco

no campo do desenvolvimento psicológico da criança: na primeira afirma “o

movimento é a única expressão e o primeiro instrumento do psiquismo”, na

segunda “o desenvolvimento psicológico da criança é o resultado da oposição

e substituição de atividades que precedem umas às outras”, nestas obras, ele

procura demonstrar, que funções motoras e funções mentais, estão sempre

presentes e atuantes no decorrer de todo o processo de desenvolvimento e

maturação da criança. Wallon enfatiza o papel da motricidade no

desenvolvimento da inteligência, e frisa a interação constante entre motricidade

e afetividade na construção da personalidade.

H. Wallon, impulsionou as primeiras tentativas de estudos da

reeducação psicomotora. Durante anos suas obras influenciaram estudos

sobre crianças, instáveis, impulsivas, emotivas, obsessivas, apáticas,

delinqüentes, e outros.

No Brasil, a necessidade de serem encontradas respostas para o

problema das crianças com dificuldades escolares, fez com que buscássemos

ajuda nos estudos realizados pelos franceses. Os estudos realizados por

Dupré, Charcot, Zazzo, Ajuriaguerra, Soubiram e Wallon, principais

percussores da psicomoticidade, vêm influenciando de modo significativo os

estudos de muitos pesquisadores brasileiros, e suas contribuições, têm sido de

grande valor nos trabalhos aqui realizados, pois, objetivam uma pedagogia que

visa a criança como um ser global, potencializando seus aspectos: motor,

cognitivo e afetivo.

4 H. Wallon, 1925, publica “L’Enfant Turbulent” e, em 1934, “Les Origines du Caractèr Chez l’Enfant”.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

26

2.1 – Educação Psicomotora sob a Ótica de Le Boulch e Fátima

Alves

Em suas pesquisas a cerca do desenvolvimento cognitivo do homem,

Jean Le Boulch, concluiu que este desenvolvimento se dá a partir da

construção de imagem do seu corpo, núcleo central da sua personalidade.

O movimentar-se e interagir por parte da criança, permite a esta, criar

sua própria imagem de corpo, seu esquema corporal. Através do movimento,

de seu corpo, de suas percepções e sensações, o indivíduo se relaciona com o

mundo, obtém deste, informações e experiências. Estas informações e

experiências irão influenciar tanto na evolução da personalidade quanto na vida

escolar. Le Boulch, observando a evolução, desenvolvimento global, do

indivíduo a partir do movimento, formulou uma teoria geral do movimento a

‘psicocinética’. A partir da psicocinética, propõe meios práticos para utilizar o

movimento como uma das bases fundamentais da educação global da criança,

visando contribuições as fases do desenvolvimento psicomotor. Observando

que o indivíduo passa por várias etapas, fases evolutivas, dividiu o estudo do

corpo em:

1. Corpo sentido – vivido (0 a 3 anos) – Corresponde à fase da

inteligência sensório motora de Jean Piaget. A criança não tem

consciência do “eu” e se confunde com o espaço em que vive. À

medida que cresce, o amadurecimento de seu SNC vai ampliar

suas experiências e aos poucos vai se diferenciando do meio.

Esta fase é marcada por muitas descobertas oriundas de

experiências da criança ao explorar o meio. Aos poucos ela vai

aprendendo a lidar com o mesmo, ‘as urgências das adaptações no

mundo exterior têm sido resolvidas de forma global, graças ao jogo

de ajustamentos e, chega ao fim o reconhecimento do seu corpo

como objeto’.

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

27

2. Corpo percebido – descoberto (3 a 7 anos) – Corresponde à

organização pela criança identificando o corpo que possui como

sendo o seu próprio “eu” , ou seja, é a organização do esquema

corporal. Aqui ocorre a descoberta da própria identidade e o

primeiro núcleo de organização do ego. A partir daqui ocorre a

maturação da ‘função de interiorização’. A interiorização permite a

passagem do ajustamento espontâneo existente na 1ª fase, para

um ajustamento cada vez mais controlado, que por sua vez propicia

um maior domínio sobre o seu corpo, e culmina numa dissociação

dos movimentos voluntários. Ocorre assim, o aperfeiçoamento e

refinamento dos movimentos levando a uma maior coordenação

espacial e temporal.

Neste período ocorre também, a descoberta da dominância lateral

e com ela seu eixo corporal, ou seja, a partir de agora a criança

passa a ver seu corpo como um ponto de referência pra se situar e

situar os objetos em seu espaço e tempo. A criança passa a

estabelecer uma relação com a realidade, com a consciência, com

a aceitação e o entendimento de regras, possibilitando então, a

evolução da criança para chegar a imagem do corpo.

3. Corpo representado (10 a 12 anos) – Esta fase corresponde à

estruturação do esquema corporal, o indivíduo já tem conhecimento

tanto de seu corpo como um todo, como de suas partes.

No início desta fase, a criança ainda precisa de um objeto, espaço,

um referencial, ele ainda trabalha com ajuda de uma imagem

reprodutora, associada pela relação visual e sinestésica, mas, aos

poucos, vai ocorrendo a evolução cognitiva e, essa criança evoluirá

dessa imagem reprodutora para uma antecipadora. Sua

motricidade será ajustada ao ambiente, ou seja, antes de executar

uma ação, programará seus movimentos. Nesta etapa a criança já

dispõe de uma imagem do “corpo operatório”, ela já é capaz de

exercer funções do seu corpo sobre o mundo e sobre si mesma.

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

28

Le Boulche, estabelece uma relação entre a imagem que o indivíduo

possui de si próprio, seu aspecto afetivo e relações, e seu aspecto funcional,

ações e reações. Segundo ele, aspecto funcional e afetivo, estão intimamente

ligados, caminham juntos. Podemos entender por aspecto afetivo, a relação

que a criança estabelece com o meio físico, os adultos e outras criança de sua

convivência; já o aspecto funcional, é a forma como o indivíduo reage e se

modifica a partir dos estímulos oferecidos pelo meio.

Fátima Alves, Fonoaudióloga, Especialista em Psicomotricidade, vem

desenvolvendo um amplo trabalho tanto no campo da pesquisa quanto da

prática em educação e reabilitação psicomotora.

Afirma que ‘Psicomotricidade envolve toda a ação realizada pelo

indivíduo, que represente suas necessidades e permitem sua relação com os

demais’ (2003. p,15). Estudiosa das relações, vê o indivíduo como um ser

global, dotado de recursos internos que o leva a um movimento, ação, fator

imprescindível para que a criança explore o mundo exterior, obtendo deste,

experiências, a princípio concretas, tomando assim, consciência de seu próprio

“eu”, requisito fundamental para o desenvolvimento de sua personalidade.

Assemelha-se a Jean Piaget e mais ainda a Vygotsky ao afirmar que

todas as crianças passam por estágios “esquemas” de desenvolvimento,

porém, estes não se encontram amarrados, e sendo assim, podem ocorrer de

maneira diferente ou em momentos diferentes em cada indivíduo.

A riqueza ou a falta destas, nas experiências vivenciadas pela criança,

interferem de forma direta sobre o seu desenvolvimento físico, emocional e

cognitivo, ou melhor, o meio social no qual a criança encontra-se inserida, pode

privilegiar a umas mais do que a outras. Quanto mais ricas forem as

experiências, relações com mais qualidades, ambientes mais propícios a

explorações e ainda aspectos intrínsecos “caráter” ao próprio indivíduo, melhor

será seu desempenho motor, intelectual e afetivo. Fátima acrescenta ainda ‘o

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

29

meio e o ambiente familiar explicam que com a mesma idade crianças

perfeitamente “normais” possam comportar-se de maneiras diferentes’. Como

podemos observar, e com muita propriedade, nos afirma: ‘o esquema do

desenvolvimento é comum a todas as crianças’, todas têm a mesma

possibilidade de desenvolvimento, porém, vários são os fatores que podem

interferir na evolução de uma criança. Ao concluir esta idéia, Fátima, declara

que apesar de em alguns momentos algumas criança parecerem mais

“atrasadas” que outras, aquelas podem em certo momento diminuir o ritmo e

serem alcançados, intelectualmente, por estas.

Fátima, acredita que questões afetivas, emocionais e ambientais, são

estimulantes necessários ao pronto progresso evolutivo da criança, ou seja,

através de suas interações com o meio o sujeito vai se construindo.

Para ela, não se deve fazer julgamentos precipitados ao se avaliar o

desenvolvimento de uma criança, pois como vimos anteriormente, este

encontra-se atrelado a fatores que podem interferir em ‘certas etapas de

elaboração de seu Ego corporal’. A fim de que possamos caracterizar uma

criança como sendo inadaptada, e estabelecermos procedimentos educativos

que facilitem sua adaptação, é necessário que se conheça o estágio do

desenvolvimento em que se encontra. Sugere que seja realizada uma

avaliação, levando-se em conta o desenvolvimento motor; o desenho, em

especial o da figura humana e o comportamento social.

Fátima afirma ainda, que a psicomotricidade está presente em cada

gesto do indivíduo, e portanto, ‘é fator essencial e indispensável ao

desenvolvimento global e uniforme da criança. A Estrutura Psicomotora é a

base fundamental para o processo intelectivo e de aprendizagem da criança’.

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

30

CAPÍTULO III

O LÚDICO E A PSICOMOTRICIDADE NA

ESTRUTURAÇÃO PRAZEROSA DO CONHECIMENTO

“A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento.” Santos, Santa Marli Pires dos (Org.), O lúdico na formação do educador, 2000, p. 12.

Lúdico e psicomotricidade são artes e técnicas, que externalizam

sentimentos, liberam a imaginação, tornam as pessoas mais criativas, críticas,

propiciam a aquisição de regras, e como fazem parte do universo humano, são

identificadas pelas crianças como sendo algo natural, podendo assim, serem

incorporadas a educação infantil. Ao serem incorporados a educação infantil,

estes recursos ajudarão a criança, de forma prazerosa, na construção do seu

conhecimento.

O professor-educador ao fazer uso de tais recursos como estratégias

de ensino, tanto no caso de educação quanto de reeducação, deverá conhecer

o universo de seus alunos, a realidade do grupo com que está lidando.

Apresentar materiais diversificados, deixá-los livre para explorarem o ambiente

e os materiais apresentados, respeitar seus gostos, oportunizar a que

expressem o conhecimento, informação que trazem consigo, aquisições

anteriores. Após, deverá selecionar os materiais que mais se adequam a

estratégia que utilizará, tomando cuidado para não se afastar dos objetivos

formulados. Desse modo, conseguirá atenção de seus alunos, e juntos

construirão um conhecimento significativo e prazeroso.

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

31

3.1 – Técnica e Artes Contribuindo para a Reeducação

Em sua teoria, Le Boulch defende que a psicomotricidade ou educação

psicomotora, devido a sua grande importância e significância na ação funcional

ou afetiva, e tanto em sua ação educativa como reeducativa deva ser inserida

na prática pedagógica. Para tanto, apresentou na França a seguinte proposta,

objetivando a educação psicomotora, visando uma renovação pedagógica:

“A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora, deve ser praticada desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite prevenir inadaptações difíceis de corrigir quando já estruturadas...” (Le Boulch. 2001. p. 24).

Le Boulch ao apresentar a proposta acima, afirma que a educação

psicomotora ‘deve ser uma formação de base indispensável a toda criança’. Ao

nascer, toda criança possui potencialidades que não dependem somente da

maturação orgânica para se desenvolver, ela, é puro movimento e, é através

destes que se expressa e se faz entender pelo mundo que a cerca. O seu

corpo, é seu elo de comunicação com o mundo exterior. Ao interagir, se

relacionar, com este mundo exterior, obterá respostas que chegarão a ela em

forma de qualidade afetiva e emocional. A qualidade existente nas relações,

acaba por influenciar tanto no temperamento, quanto na personalidade e

individualidade que vai sendo construída aos poucos, ou seja, estas relações

incidem diretamente no desenvolvimento funcional desta criança.

Fátima Alves afirma ainda, que os primeiros anos de vida de uma

criança são de suma importância em seu desenvolvimento como um todo. O

ambiente social e a qualidade existente nas relações familiares, deverão

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

32

favorecer uma “maturação normal” e contribuir para que sua inteligência seja

desenvolvida, ou seja, mesmo quando em uma criança for detectado um

distúrbio de desenvolvimento, ‘devido a condições de sua vida, antes ou após

seu nascimento’, ao receber os mesmos estímulos afetivos que uma criança

“normal”, terá as mesmas oportunidades que estas.

A criança ao ingressar em uma classe escolar, o faz impregnada de

sentimentos, emoções e vivencias experiênciadas por ela no seu dia-a-dia. O

professor-educador ao recebê-la, deverá demonstrar carinho e aceitação

integral, condições primordiais para que possa penetrar no universo da criança

e, desta forma, proporcionar a que esta criança adquira não apenas

autoconfiança, mais também consiga expandir-se mais e equilibrar-se melhor.

È importante que o professor ao iniciar um trabalho, seja ele de

reeducação ou mesmo de educação, elabore um projeto de aquisição e

organize uma linha de trabalho. Deverá conhecer bem o método que será

utilizado, o assunto que será abordado e o material que apresentará ao grupo.

Ao iniciar o trabalho, irá dirigir o grupo e obterá deste respostas, neste

momento não poderá individualizar seu trabalho, pois o grupo poderá se

ressentir, gerando tensões e/ou dispersões. Ao interagir com o grupo deverá

estar atento a cada momento da evolução do trabalho, levando em conta tudo

que ocorre, especialmente as atitudes e posturas psicológicas. O período de

aula é um período de ação e, terá que se mostrar seguro. Fora dali poderá se

questionar, confrontar suas abordagens.

O professor-educador deve ter conhecimento do desenvolvimento do

aluno, e proporcionar a que este, tenha acesso a materiais variados, para que

a partir de manipulações adequadas e constantes, possa ser estimulado e

obter assim, suas próprias experiências chegando a um desenvolvimento

integral de suas áreas psicomotoras, cognitivas, afetiva e de linguagem.

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

33

Como foi observado anteriormente, lúdico e psicomotricidade estão

presentes no cotidiano do ser humano desde sua concepção estendendo-se

por toda a sua vida. Por tudo isso, estes, são recursos imprescindíveis ao

professor que deseja criar oportunidades para que sua prática, se torne não

apenas prazerosa, mas, facilitadora no processo de aprendizagem.

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

34

CAPÍTULO IV

ALGUNS EXEMPLOS DE PRÁTICAS PRAZEROSAS

Diante do que foi exposto na apresentação acima sobre música, jogos

e brincadeiras relacionados a psicomotricidade, apresentaremos a seguir,

algumas práticas as quais podemos chamar de prazerosas, e que poderão

ajudar na educação e/ou reeducação não só psicomotora como também

cognitiva.

Exemplos de Práticas com o auxílio da Música:

1ª - “Cabeça, ombro, joelho e pé”

Onde encontrar: CD – Xuxa

Desenvolvimento: O jogo é uma cantiga de roda. A medida em que as partes

do corpo forem sendo citadas, as crianças deverão apontá-las.

Área motora trabalhada: esquema corporal – reconhecimento e nomeação das

partes do corpo.

Área pedagógica alcançada: Ciência; Língua Portuguesa; Matemática.

2ª - “Escravos de Jô”

Onde encontrar: CDs com cantigas de roda.

Desenvolvimento: Crianças em círculo, cada uma tendo na mão direita um

bastão. A medida em que a música vai sendo executada, procurando

acompanhar o ritmo, a criança passará o bastão para o amigo que se encontra

a sua direita. Nas palavras “fazem zigue, zigue, zá”, a criança faz o movimento

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

35

com a mão, porém, permanece com o bastão. A música será repetida até que o

bastão volte a mão da criança que lhe tocou primeiro.

Área motora trabalhada: Lateralidade; Estruturação Espacial; Orientação

Espacial; Atenção e Concentração.

Área pedagógica alcançada: História; Geografia; Língua Portuguesa; Literatura;

Matemática.

3ª - “A Linda Rosa Juvenil.”

Onde encontrar: CDs com cantigas de roda.

Desenvolvimento: As crianças irão interpretar,em forma de teatro ou musical,

cada uma representará uma personagem da música, respeitando o tempo e o

ritmo. O professor junto com as crianças poderá confeccionar as fantasias

utilizando TNT, EVA e principalmente, materiais recicláveis.

Área motora trabalhada: Todas – Coordenação motora (fina e ampla);

Lateralidade; Estruturação espacial; Estruturação temporal; Estruturação do

ritmo; Percepção visual e Percepção auditiva.

Área pedagógica alcançada: Artes; Língua Portuguesa; Literatura; Ciências;

História; Geografia; Matemática.

Exemplos de Práticas com o auxílio de Jogos e Brincadeiras:

1º - “Dança do jornal”.

Material: folhas de jornal, aparelho de som, CD ou fita.

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

36

Desenvolvimento: crianças dispostas em pares sobre uma folha de jornal. Ao

sinal do professor deverão dançar e realizar outros comandos sem rasgar a

folha. Os pares que saírem ou rasgarem a folha, deixarão a brincadeira.

Área motora trabalhada: Estruturação espacial; Estruturação temporal;

Coordenação motora ’expressão corporal’; Sociabilização.

Área pedagógica alcançada: quase todas ou todas, dependendo da letra da

música que for escolhida.

2º - “Bobeou, perdeu o lugar.”

Material: giz.

Desenvolvimento: O professor desenhará figuras geométricas no chão em

quantidade menor que a de alunos. Os alunos espalhados pela sala passearão

livremente enquanto a música toca, assim que esta parar, correrão para ocupar

uma figura. O aluno que ficar de fora ajudará a apagar uma das figuras e,

tentará evitar que um outro consiga chegar a uma das figuras na seqüência da

brincadeira. O procedimento se repetirá até que não sobre mais figuras.

Área motora trabalhada: Estruturação espaço-temporal; Motricidade ampla;

Destreza; Percepção visual e auditiva; Atenção e pronta reação.

Área pedagógica alcançada: Matemática, linguagem, e outras áreas afins.

3º - “Batata quente”

Material: caixa e tampinhas coloridas.

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

37

Desenvolvimento: crianças em círculo, ao som de uma música. Quando a

música parar, a criança deverá tirar de dentro da caixa uma tampinha, e nesta

estará colada uma tarefa, a qual a criança executará no centro da roda.

Área motora trabalhada: equilíbrio; coordenação óculo manual; ritmo, atenção e

concentração; motricidade fina e ampla.

Área pedagógica alcançada: Leitura; Matemática, e dependendo dos

comandos afixados as tampinhas, várias outras áreas.

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

38

CONCLUSÃO

Ao observarmos os relatos acima mencionados, podemos constatar

que tanto o lúdico, música, jogos e brincadeiras, quanto Psicomotricidade,

sempre estiveram presentes no cotidiano do ser humano contribuindo de forma

decisiva para seu desenvolvimento motor, intelectual, emocional e sócio-

afetivo. Podemos inclusive afirmar que ‘lúdico’ e ‘psicomotricidade’ são fatores

intrínsecos a estruturação da personalidade do homem.

A música ‘sons’ pode ser encontrada por todas as partes, tendo formas

‘melodias e harmonias’, ‘tempos’ e ‘ritmos’ muito variados. Ela faz parte do

universo do ser humano, antes mesmo de seu nascimento: encontra-se

presente no momento da fecundação, nas vibrações vindas do exterior de seu

espaço uterino e permanece após seu nascimento. Ao nascer, o som se faz

presente como sendo a primeira experiência musical percebida e vivenciada

pelo bebê. É na sonoridade da voz, que sente conforto e reconhece a figura

materna, seu primeiro elo de ligação com o mundo exterior. A partir daí, outros

sons passam a ser apreciados e incorporados.

Os jogos e brincadeiras por sua vez, podem ser observados nos

primeiros movimentos da criança: ao chupar o dedo ou mexer no pezinho ainda

no útero materno; ao brincar com as mãozinhas nos primeiros reconhecimentos

que faz de seu próprio corpo; em frente ao espelho na exploração do corpo,

que a princípio estranho, vai se tornando conhecido e ganhando identidade.

Agora, a partir do reconhecimento desse corpo como sendo seu, poderá

construir seu conhecimento, ampliar suas competências e potencialidades,

interagindo de forma cada vez mais apropriada com o mundo exterior. Já que

passa a reconhecer não só seu corpo, mas do outro também.

Nas observações acima, podemos concluir que a psicomotricidade,

encontra-se presente em cada uma das experiências vivenciadas pela criança.

Seja na forma de música ou de jogos e brincadeiras, o lúdico propicia o

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

39

movimento, ação. Lúdico e psicomotricidade encontram-se presentes na

sonoridade do riso de uma criança ao brincar; em seu andar, correr ou saltar.

Com o movimento a criança toma cada vez mais conhecimento de seu “eu”,

organiza seu esquema corporal, toma conhecimento de seu corpo e, aprende a

expressar-se através desse corpo.

Apreciando todo este contexto, música, som, ritmo, ludicidade e

motricidade, a criança passa a relacionar-se consigo mesma e com o mundo

externo da maneira mais prazerosa, facilitando um bom desenvolvimento nas

áreas cognitiva e motora, já que o afeto está sendo integrado através desta

contextualização acima mencionada.

Posso afirmar que devemos recorrer a estes instrumentos tão

significativos na vida da criança, e que perduram por toda a vida.

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Fátima (org.). Como aplicar a Psicomotricidade. Rio de Janeiro, Walk

editora, 2004.

ALVES, Fátima. Psicomotricidade - corpo, ação e emoção. 2ª edição, RJ, ed.

Walk, 2003.

BUENO, Silveira. Minidicionário da Língua portuguesa. ed. FTD, SP, 2000.

COSTALLAT, Dalila M. M. de (org). A psicomotricidade otimizando as relações

humanas. ed. Arte e Ciências. SP, 2002.

FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. SP, Contexto, 2002.

FERREIRA,Moacyr Costa. O brinquedo através da história. 2ª edição, 1990,

ed. Edicon.

FONSECA, Vitor da. Manual de Observação Psicomotora, significação

psiconeurológica dos fatores psicomotores. ed. Artes Médicas, Porto Alegre,

1995.

GUILLARM, J. J. Educação e Reeducação Psicomotora. ed. Artes Médicas.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a

educação. 3ª edição, São Paulo, Cortez, 1999.

LE BOULCH, J. Educação Psicomotora, a psicocinética na idade escolar. 2ª

0edição, ed. Artmed, Porto Alegre, 1988.

____________. O Desenvolvimento Psicomotor do nascimento até os 6 anos –

a psicocinética na idade pré-escolar. 7ª edição, ed. Artmed, Porto Alegre, 2001.

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

41

LOUREIRO, Alicia Maria Almeida. O ensino da música na escola fundamental.

São Paulo, Papirus, 2003.

MALUF, Ângela Cristina Munhoz. Brincar prazer e aprendizado. 3ª edição,

Petrópolis, Vozes, 2004.

_______________. Brincadeiras para sala de aula. 2ª edição, Petrópolis,

Vozes, 2004.

MEUR, A. DE., STAES, L. Psicomotricidade, educação e reeducação. ed.

Manole Ltda., SP, 1991.

NEGRINE, Airton. Educação Psicomotora, a lateralidade e a orientação

espacial. Porto Alegre, Pallotti, 1986.

OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade, educação e reeducação

num enfoque psicopedagógico. 7ª edição, ed. Vozes, Petrópolis. 2002.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizagem e desenvolvimento um

processo sócio-histórico.

PCN. Vol. 6

PIAGET. Jean. Os pensadores. São Paulo, Abril Cultural, Victor Civita, 1978.

SANTOS, Santa Marli Pires dos (org.). O lúdico na formação do educador. 4ª

edição, ed. Vozes, Petrópolis, 2000.

Secretaria de Estado de Educação e Cultura. Proposta Metodológica. 1º grau,

4ª série, RJ, 1978

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … FLORENTINA VALENTIM SILVA COSTA.pdf · me ter proporcionado a alegria de mais uma conquista. A meus filhos, Jansen e Fernanda, pelo

42

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Titulo da monografia: Lúdico e Psicomotricidade – A Construção Prazerosa do

Conhecimento

Data da Entrega: ___________________________________

Auto Avaliação:

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

Avaliado por: _______________________________ Grau________________

____________________, ________ de ____________ de 200___