UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · A descoberta da arte das cavernas, de há...

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU AVM FACULDADE INTEGRADA A IMPORTÂNCIA DAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS NO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS. WAGNER LUSTOSA Orientador: Prof.ª Fabiane Muniz TERESÓPOLIS 2015

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AVM FACULDADE INTEGRADA

A IMPORTÂNCIA DAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS NO

DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS.

WAGNER LUSTOSA

Orientador: Prof.ª Fabiane Muniz

TERESÓPOLIS 2015

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AVM FACULDADE INTEGRADA

A IMPORTÂNCIA DAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS NO

DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS.

Apresentação de monografia ao Instituto

A Vez do Mestre – Universidade

Candido Mendes como requisito parcial

para obtenção do grau de especialista

em Arte em Educação e Saúde.

Por: Wagner Lustosa

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AGRADECIMENTOS

A Deus por tudo que ele proporciona.

Aos meus pais pelo carinho e pelo amor.

Ao meu inesquecível avô Severino Lustosa que me ensinou (do seu jeito) a

lição mais importante da minha vida.

As minhas tias educadoras que sempre me mantiveram por perto para ajudar

nos seus afazeres escolares, fato que só me ajudou na escolha da minha

profissão.

Aos meus amigo Joel Machado e Flavinho Ribeiro que foram meu primeiros

alunos, me orgulho de dizer que os ensinei a desenhar.

A minha esposa Nívea pelo carinho e paciência e ao meu filho Théo Severino

Nóbrega Lustosa. Obrigada por estar ao meu lado e serem minha inspiração

para concretizar esse sonho.

Em especial, gostaria de agradecer a minha orientadora, Fabiane Muniz, pelo

apoio na execução deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente a Deus, por ter me enviado

anjos de luz, para me ajudar a conduzir minhas batalhas na vida, me ajudando

a me aproximar cada dia mais dos meus sonhos. Ao meu saudoso Avô que

com a permissão de Deus foi um desses anjos, aos meus familiares que

mesmo não podendo ajudar muito, fizeram tudo que puderam. Amo muito

vocês!

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“Todo mundo é um gênio. Mas, se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em uma árvore, ele vai gastar toda a sua vida acreditando que ele é estúpido.”

(Albert Einstein )

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RESUMO

Este trabalho teve por objetivo demonstrar a importância do ensino de Artes e suas múltiplas linguagens. Nesta pesquisa é analisada a atuação pedagógica no processo de construção do olhar artístico. O texto é dividido em três temas centrais. O primeiro aborda a História da Arte, de forma geral, e depois dá enfoque na Historia do ensino de Artes no Brasil. No segundo momento o texto apresenta como o ensino de Artes é visto pelos PCNs e pela LDB. Destacando também a formação dos profissionais da área, desde o reconhecimento das Artes como disciplina até os dias atuais, fundamentando-se nas ideias de teóricos como: Ana Mae Barbosa, Mirian Celeste Martins, Ferraz e Fusari, Paulo Freire, Ernest Gombrich, entre outros. A pesquisa se caracterizou como Estado da Arte, buscando mapear e debater produções acadêmicas sobre o tema, também fazendo uma incursão no campo empírico, através da entrevista com dois arte-educadores. O ensino de Arte traz consigo grandes possibilidades, no entanto, as condições disponibilizadas para o seu desenvolvimento, limitam a esta disciplina voos mais altos.

Palavras Chave: Arte, Arte-educação, currículo, práticas docentes.

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METODOLOGIA

O estudo é embasado em uma pesquisa conhecida pela

denominação “Estado da Arte”. Esse tipo de pesquisa é definida por Ferreira

(2002) como pesquisa bibliográfica, que tenta mapear e debater uma produção

acadêmica em diferentes áreas do conhecimento, em diferentes contextos

históricos. É uma metodologia que faz um inventário das pesquisas já

existentes, tentando responder às questões sobre o tema que busca investigar.

Como principais autores para ajudar nessa pesquisa escolhi Ana

Mae Barbosa, Ernst Gombrich, Norma Sandra de Almeida Ferreira, Mirian

Celeste Martins e Lindomar Goldschmidt.

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Sumário INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9

Capítulo 1 - Uma pincelada na história das Artes ............................................ 11

1.1 A Arte antes das Artes ........................................................................ 11

1.2 A Arte e a educação: uma longa jornada ............................................ 13

1.3 A Arte-Educação no Brasil .................................................................. 17

Capítulo 2 - As Artes no currículo .................................................................... 26

2.1 As contradições das Artes como disciplina ......................................... 27

2.2 A formação dos profissionais de ensino de Artes ............................... 29

2.3 A Arte-educação: Estudo ou diversão ................................................. 34

Capítulo 3 - Arte-educador o mediador do conhecimento: do saber ao apreciar Arte .................................................................................................................. 38

Conclusão ........................................................................................................ 48

Bibliografia: ...................................................................................................... 49

ANEXO ............................................................................................................ 52

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INTRODUÇÃO

Este trabalho teve por objetivo analisar e compreender a importância

das múltiplas linguagens da Arte nas escolas. Quais deveriam ser os

componentes curriculares de Artes a serem ensinados nas escolas. Fazendo

uma reflexão sobre a história e sobre o ensino de Arte, passaremos pelos

primórdios da Arte que vêm desde as pinturas rupestres de animais no tempo

as cavernas até os dias atuais.

Ao longo da história e em todos os níveis da educação básica, a

educação artística, ou Artes como já foi chamada vem sendo aplicada com

toda sua amplitude nas escolas? Qual a importância das linguagens artísticas

no ensino/aprendizagem de Artes? Esse trabalhos tentou responder essas

questões.

Desde o nosso nascimento temos preferências, predileções em

qualquer área de nossa vida, porque seria diferente nas Artes. Sabemos que

nas Artes temos varias linguagens. Sendo assim, o arte-educador não deveria

priorizar apenas uma linguagem artística. Se é possível gostar de todos os

estilos seja música, dança, artes plásticas ou literatura, por que nas escolas

eles não nos são apresentados? Temos professores de Artes formados em

música dando aula somente sobre música, professor formado em artes

plásticas que só fala de pinturas, e a literatura que é tratada como parte da

nossa aula de português. É viável um professor querer optar por aquilo que ele

tenha maior conhecimento, no entanto, e o aluno nesse processo? Não estou

dizendo que o aluno deva aprender somente o que ele gosta, mas diria que no

mínimo ele possa ter contato com outras linguagens das Artes.

Na educação a Arte contribui para o desenvolvimento da

coordenação motora, também colabora e estimula as capacidades de análise,

de crítica, de produção e de imaginação, o que integra o aluno com o meio em

que vive. Acredito que é importante para o aluno conhecer os artistas e os

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estilos de pintura que foram criados e modificados ao longo da historia.

Entretanto, não é crucial que ele decore quem é o autor de uma obra, em

especifico ou que técnica está utilizando. O importante é que ele perceba que

sua imaginação é uma formidável ferramenta, que lhe possibilita aprimorar

suas habilidades de se comunicar com as pessoas e com o mundo, adquirindo

cultura e conhecimento que lhe facilitarão no interpretar e vislumbrar das Artes.

Por intermédio da metodologia de pesquisa conhecida como “estado

da Arte”, que é o estudo de referências teóricas de diferentes épocas foi

possível fazer um acompanhamento da evolução das Artes nas escolas e na

sociedade.

No primeiro capítulo, Uma pincelada na história das Artes: a

educação artística e seu processo histórico são apresentados de uma forma

geral, em seguida é feito um paralelo entre as Artes e a história da educação

no Brasil.

O segundo capítulo apresenta reflexões sobre As Artes no

currículo: passamos pela “inserção” das Artes no currículo de educação

básica até sua obrigatoriedade, apresentando a situação atual do ensino e

aprendizagem da Arte, seus métodos de ensino, a formação dos arte-

educadores e a importância da Arte na vida do homem.

No terceiro capítulo, Arte-educador o mediador do

conhecimento: do saber ao apreciar Arte, são exibidas os métodos e os

caminhos para a pesquisa, os dados da entrevista, as conclusões e a

seriedade da Arte-Educação no desenvolvimento das pessoas.

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Capítulo 1 - Uma pincelada na história das Artes

“Ignoramos como a arte começou, tanto quanto desconhecemos como se iniciou a linguagem. Se aceitarmos o significado de arte em função de atividades tais como a edificação de templos e casas, realização de pinturas e esculturas, ou tessitura de padrões, nenhum povo existe no mundo sem arte.” Ernst Gombrich

O grande historiador de Artes Ernst Gombrich precisou de mais de

400 páginas para nos dar um resumo da história da Arte no mundo. Sendo

assim não existe a pretensão de neste capitulo conseguir relatar todos os fatos

que ocorreram na história da Arte. No entanto, um breve vislumbre dos

acontecimentos ajudará na pesquisa.

1.1 A Arte antes das Artes

A Arte se desenvolveu pela história junto com o homem a imagem

precedeu à escrita, os movimentos corporais precederam a dança e os sons

precederam a música. Nenhum deles tinha a intenção de ser artístico, no

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entanto com o desenvolvimento humano/cultural eles foram se tornando

maneiras de expressão artística.

A descoberta da arte das cavernas, de há 12 ou 15 mil anos, feita pelos arqueólogos, mostra de maneira inequívoca, esse impulso essencial que leva o homem a expressar através de uma forma (realista ou alegórica) suas experiências de vida. (COELHO, 1997, p.16)

A Arte começou a ter uma profunda relação com a educação, sendo

a serviço dela que a filosofia “...se interrogou pela primeira vez sobre a

natureza da arte” Goldschmidt (2004, p.17) .

E mesmo que não possamos identificar quando foi que a Arte

iniciou, podemos identificar quando ela começou a ser prestigiada. No século V

a.C. Platão apud GOLDSCHMIDT (2004) definiu as atividades artísticas

integrando-as às tarefas pedagógicas.

Platão apresenta como instrumento construtivo deste ideal de educação a música, no qual poderíamos ver uma representação global da própria Arte,(...). A música destinava-se ao aperfeiçoamento da alma (...). Quanto às artes plásticas, só foram introduzidas na educação posteriormente, através do desenho. (GOLDSCHMIDT, 2004, p.18)

No Egito, ficamos abismados pelas pirâmides, essas “montanhas de

pedra” são um marco que nos une a cinco mil anos atrás. Nos mostrando um

pouco de sua cultura e por;

(...) mais remotas e misteriosas que pareçam, elas contam-nos muito sobre a nossa própria história. Falam-nos de uma terra que estava tão completamente organizada que foi possível empilhar esses gigantescos morros tumulares durante a vida de um único rei; e falam-nos de reis que eram tão ricos e poderosos que puderam forçar milhares e milhares de trabalhadores ou escravos a labutarem por eles, ano após ano, a cortarem as pedras, a arrastarem-nas para o local da construção e a deslocarem-nas por meios sumamente primitivos até que o túmulo ficou pronto para receber o rei. (GOMBRICH, 1985, p.29)

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Podemos imaginar que a Arte surgiu do misticismo. Primeiro nas

cavernas a explicação mais verosímil é;

(...) a de que se trata das mais antigas relíquias dessa crença universal no poder da produção de imagens; por outras palavras, que o pensamento desses caçadores primitivos era que, se fizessem uma imagem de sua presa — e talvez a surrassem com suas lanças e machados de pedra — os animais verdadeiros também sucumbiriam ao poder deles. (GOMBRICH, 1985, p.22)

E depois no Egito, eles nutriam a;

(...) crença de que a preservação do corpo não era bastante. Se a fiel imagem do rei também fosse preservada, não havia dúvida alguma de que ele continuaria vivendo para sempre. Assim, ordenavam aos escultores que esculpissem a cabeça do rei em imperecível granito e a colocassem na tumba onde ninguém a via, para aí exercer sua magia e ajudar sua alma a manter-se viva na imagem e através desta. Uma expressão egípcia para designar o escultor era, realmente, "Aquele que mantém vivo".(GOMBRICH, 1985, p.30)

No entanto, seja por misticismo ou não é graças a essas culturas e

aos desejos humanos que a Arte começou.

1.2 A Arte e a educação: uma longa jornada

Na Idade Média, como destaca GOLDSCHMIDT(2004) acontece a

transição do paganismo para a civilização judaico-cristã, o que provoca

mudanças nos padrões morais e nos costumes. Fazendo com que a Arte

também sofra grandes mudanças, adquirindo um sentido religioso tornando-se

uma forma de expressar o sobrenatural. Onde os caracteres sexuais foram

praticamente extinguidos, e a diferenciação era feita apenas pelas vestes.

Como exemplo, podemos destacar as iluminuras medievais nas quais os caracteres sexuais foram praticamente

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eliminados, só se distinguindo o sexo das pessoas por meio das vestimentas, pois os corpos eram iguais, esguios, sem sinuosidades a fim de não despertar “maus pensamentos” ou “maus desejos”. (GOLDSCHMIDT, 2004, p.18)

Saímos da Idade Média e vamos para o Renascimento, que retorna

aos estudos clássicos.

AS NOVAS DESCOBERTAS que tinham sido feitas pelos artistas da Itália e Flandres no começo do século XV tinham produzido um frêmito de emoção em toda a Europa. Pintores e patrocinadores estavam igualmente fascinados pela idéia de que a arte pudesse ser usada não só para contar a História Sagrada de um modo comovente, mas servisse também para espelhar um fragmento do mundo real. Talvez o resultado mais imediato dessa grande revolução na arte foi os artistas começarem por toda parte a realizar experimentos e a buscar novos e surpreendentes efeitos. Esse espírito de aventura que se apossou da arte no século XV assinala a verdadeira ruptura com a Idade Média. (GOMBRICH, 1985, p.175)

Deixamos o conservadorismo e mergulhamos em uma nova visão de

mundo que segundo GOLDSCHMIDT (2004, p.19) “...exerce influência na Arte,

que é considerada, em sua essência, como um estudo da natureza” . O artista

passa a estudar com mais afinco tanto a natureza quanto o corpo humano, que

são retratados sem estereótipos. Esse período foi muito importante para as

ciências e para a educação em geral, foi um “grito da alma humana pelos

conhecimentos que eram negados pela igreja”.

Através de uma fusão entre arte, ciência e técnica, o conhecimento estético aliava-se ao conhecimento científico. A concepção estética do Renascimento iguala a artes, resgatando uma posição de equilíbrio entre as artes plásticas e a música. (...) O homem do Renascimento procura desenvolver-se em seus aspectos físicos, mentais, estéticos e espirituais, contribuindo para tornar o humanismo um dos movimentos mais significativos da história da educação, pela confiança que se deposita no homem. (GOLDSCHMIDT, 2004, p.19-20)

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Depois do Renascimento a Arte em resposta aos movimentos

sociais da época, passa por vários movimentos quase que simultaneamente,

entre eles o Barroco, o Rococó, o Neoclassicismo e o Romantismo:

...graças ao crescimento das cidades, o Estilo Internacional foi, talvez, o último estilo transnacional que a Europa viu, pelo menos até ao século XX. No século XV, a arte fragmentou-se numa série de "escolas" diferentes; quase todas as cidades grandes ou pequenas da Itália. Flandres e Alemanha tinham sua própria "escola de pintura". (GOMBRICH, 1985, p.176)

No fim do século XVIII, que Gombrich (1985), destaca que atingimos

a época moderna, com a Revolução Francesa de 1789. Do seu inicio no século

XV até sua transição para o Impressionismo e para a Arte moderna, aconteceu

um grande “desenvolvimento científico”, que colaborou de forma significativa

para a educação, a mudança de atitude, perante o conhecimento, exerceu

“forte influência no pensamento educacional. A necessidade de métodos para

desvendar a natureza conduz à sistematização de procedimentos didáticos.”

(GOLDSCHMIDT, 2004, p.21)

De acordo com Goldschmidt (2004), as revoluções burguesas e a

expansão do capitalismo industrial, foram responsáveis por mudanças nas

práticas sociais, influenciando os sistemas de educação. A escola deveria

contribuir para a instrução em massa dos trabalhadores, que se dividia em

duas classes; uma para os ricos, cujos cursos levavam ao ensino superior e

outra para os pobres, cujos estudos eram de caráter técnico-profissional, que

os limitavam a permanecer no trabalho mecânico. Trabalho mecânico esse que

começou a abalar o sentido da Arte, como nos aponta Gombrich;

...a ruptura na tradição, a qual marca o período da Grande Revolução na França, iria mudar toda a situação em que os artistas viviam e trabalhavam. Academias e exposições, críticos e entendidos, tinham-se empenhado ao máximo para introduzir uma distinção entre Arte com A maiúsculo e o mero exercício de um ofício, fosse ele o de pintor ou de construtor. Agora, os alicerces em que a arte assentara durante toda a sua existência estavam sendo abalados de outro lado. A Revolução Industrial começou a destruir as próprias tradições do sólido

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artesanato; o trabalho manual cedia lugar à produção mecânica, a oficina à fábrica. (GOMBRICH, 1985, p.365)

Gombrich (1985) ressalta que quando as pessoas argumentavam

sobre "Arte moderna" no final do século XIX, elas frequentemente pensavam

numa espécie de ruptura da Arte com as tradições do passado, o que a levaria

a fazer coisas que nenhum artista sequer sonharia realizar em épocas

anteriores. Outros gostavam da ideia de progresso, crendo que a Arte deveria

acompanhar a marcha do tempo. Mas, como foi dito anteriormente a Arte é

uma forma de expressar e provocar sentimentos, sendo assim, não precisa

romper com suas raízes para se tornar moderna. Ainda sobre esse assunto

Gombrich destaca que no;

...fim do século XIX foi um período de grande prosperidade e até complacência. Mas os artistas e escritores que se sentiam marginalizados estavam cada vez mais descontentes com as finalidades e os métodos da arte que agradava o público. (GOMBRICH, 1985, p.392)

Foi o homem que se tornou moderno, acompanhando o

desenvolvimento do mundo, mas isso não se faz estando atento ao que esta

acontecendo, mas sabendo o que já aconteceu, pois como nos diz Ana Mae

Barbosa “A história é importante instrumento de auto identificação”. (BARBOSA

apud AZEVEDO in BARBOSA, 2012, p.114)

No século XX, a preocupação dos pensadores com questões como;

subjetividade humana, insegurança do homem, e desejos da mente dá

segundo Goldschmidt (2004) lugar a psicanálise, retomando assim a tese das

possibilidades, finalidades e necessidades da Arte na vida do homem. A Arte

volta a ter o seus valores cognitivo, emocionais e de criticidade. Sendo a Arte

uma;

...função essencial ao homem, indispensável ao individuo e às sociedades, a que lhes impôs como uma necessidade desde as origens pré-históricas. A arte e o homem são indissociáveis. Por ela o homem exprime-se mais completamente e portanto,

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compreende-se e realiza-se melhor. (HUYGHE apud GOLDSCHMIDT, 2004, p.23)

A Arte e sua inclusão na educação vêm ganhado força através de

movimentos educacionais que davam ênfase aos sentimentos e as emoções,

“a questão da educação da sensibilidade é recuperada, principalmente na

Europa” (GOLDSCHMIDT, 2004, p.23), através do movimento conhecido como

Escola Nova, que dava ênfase aos interesses e necessidades do educando.

Com isso muitos autores pesquisaram sobre o tema, e assim a Arte foi incluída

como matéria em diversas escolas pelo mundo.

Sabemos, através de estudos que vêm sendo desenvolvidos em diversas partes do mundo, inclusive aqui no Brasil, que existem ações inteligentes, ações mentais, que só podem ser feitas a partir de determinados raciocínios em arte, assim como existem algumas que somente são feitas a partir de determinados raciocínios em história, em matemática etc. Portanto, temos diversas áreas de conhecimento presentes na escola porque as formas de pensar são diferentes e peculiares a cada área. (Congresso Nacional da Federação de Arte-Educadores do Brasil, 2005, p.166)

1.3 A Arte-Educação no Brasil

A Arte-Educação no Brasil só começa depois da educação, em

1519, com a chegada dos jesuítas, inicia-se o processo de sobreposição

cultural e religiosa. No ano de 1.559 os jesuítas foram expulsos, com a

Reforma Pombalina o sistema jesuítico é substituído por um sistema de aulas

com disciplinas isoladas, ministradas por frades franciscanos e carmelitas.

Nesta época as Artes não tinham quase nenhum destaque como nos aponta

Goldschmidt:

No que trata especificamente da Arte, somente algumas aulas avulsas de desenho ou pintura são ministradas por alguns artistas, geralmente ligados à Igreja. Destacam-se Frei Ricardo do Pilar e frei Agostinho de Jesus. (GOLDSCHMIDT, 2004, p.26)

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Com a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil, vieram também

novas ideias sobre o processo de educação. Com intuito de atender as

necessidades da elite, fazia-se necessário a formação de técnicos para suprir a

demanda social, assim por um decreto de 12 de agosto de 1816 é criada a:

...Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios logo em seguida transformada em real Academia de Pintura e Arquitetura Civil pelo decreto de 23 de novembro de 1820. Por este decreto, as aulas de pintura, gravura e escultura são consideradas “artes maiores” e como tal destinadas às elites e não ás camadas populares da sociedade. (GOLDSCHMIDT, 2004, p.26-27)

No século XIX as Artes não eram destinadas as camadas populares,

muito menos as crianças. Segundo Goldschmidt (2004) a Arte na educação

encontrava-se na Constituição Imperial de 1824, apenas para os universitários.

Seguindo os padrões estéticos:

...importados e oficialmente impostos, a Academia inicia suas atividades sufocando a espontaneidade e a criatividade dos alunos, uma vez que tornava obrigatória os cânones rígidos do neoclassicismo. (GOLDSCHMIDT, 2004, p.27-28)

De acordo com Goldschmidt (2004), nesta época os alunos

admiravam e idolatravam a cultura europeia.

...Um prêmio de viagem à Europa representava uma grande distinção. Assim como a viagem era muito importante, a inclusão de artistas estrangeiros como membros honorários da Academia constituía-se numa honra. (GOLDSCHMIDT, 2004, p. 28)

Na Constituição do Império(1824), prevalecia a orientação liberal,

esses princípios davam;

...(ênfase na liberdade e aptidões individuais) e do positivismo (valorização do racionalismo e exatidão científica), por um lado, e da experimentação psicológica, por outro, influenciando na educação escolar em geral (escolas “tradicional” e “nova”) e

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também na educação em arte, ao longo do século XX. (FERRAZ & FUSARI, 1993 p.28)

Os autores Ferraz & Fusari (1992) e Golschmidt (2004) destacam que

nessa época o ensino artístico tinha o comprometimento, através do desenho,

com a iniciação do trabalho operário. Em cumprimento a proposta liberal a

Academia de Belas Artes é novamente reformulada e:

...regulamentada pelo Decreto 805 de 23 de setembro de 1854, que determina a introdução de aulas de Desenho Geométrico, como linguagem técnica e linguagem da ciência. Posição que atendia à ideologia de ambos os senhores – liberais e positivistas. (GOLDSCHMIDT, 2004, p.28-29)

Das tentativas de introduzir o desenho técnico na educação,

podemos incluir as escolas de desenho técnico em Vila Rica (1817) e na Bahia

(1818). Entretanto, somente em 1856, quando foi criado o Liceu de Artes e

Ofícios de Bethencourt da Silva, é que se começou a “atender” melhor as

camadas populares, com a intenção da aplicação da Arte às indústrias.

Posteriormente Rui Barbosa, que foi um dos maiores representantes das ideias

liberais no Brasil, em um dos seus trabalhos1 afirmou a importância da Arte

para o desenvolvimento do operário, destacando como seria diferente se as

Artes fizessem parte do ensino primário;

O dia em que o desenho e a modelagem começarem a fazer parte obrigatória do plano de estudos na vida do ensino nacional, datará o começo da história da indústria e da arte no Brasil.(...)Semear o desenho imperativamente nas escolas primárias, abrir-lhe escolas especiais, fundar para os operários aulas noturnas dêsse gênero, assegurar-lhe vasto espaço no programa da escolas normais(...).(BARBOSA, 1950, p.257)

1 Annaes do Parlamento Brazileiro: Anais da Câmara dos Deputados de 1881-1882. A publicação da produção intelectual de seu patrono, organizada na coleção Obras Completas de Rui Barbosa, foi definida no Decreto-Lei nº 3.668, em 30 de setembro de 1941, que estabeleceu sua divisão em cinquenta volumes, cada um dos quais podendo desdobrar-se em mais de um tomo.

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Depois que instaurou-se a República no Brasil (1889), o país passou

por grandes reformas, e “em 1890, Benjamin Constant assina o decreto nº 983

de 8 de novembro, que determina a reforma acadêmica” (GOLDSCHMIDT,

2004, p.29). A Academia Imperial de Belas-Artes passa a se chamar Escola

Nacional de Belas Artes. No entanto, a proposta positivista que pretendia uma

reorganização completa dos métodos de ensino não conseguiu atingir o ensino

de Artes, que ainda ficou atrelado aos desenhos geométricos e a cópia de

modelos, influenciados pelo positivismo.

Podemos dizer que a Arte em nosso país começou a ter maior

importância e independência após a semana da Arte moderna de 19222. Os

modelos de educação técnica que era voltada para o trabalho com forte

identificação ao estudo do desenho clássico e desenho geométrico começaram

a ser contestados, ressaltados pelo desanimo dos docentes e dos discentes;

Em 1923 Anibal de Mattos defende o ensino de Desenho argumentando que o professor desta disciplina se encontra inferiorizado, e a disciplina desacreditada por criar um clima de brincadeiras, além de não reprovar os alunos. (GOLDSCHMIDT, 2004, p.30)

De acordo com Goldschmidt (2004) depois da semana de 22 as

ideias de originalidade, imaginação, criação, comunicação e expressão, são

incorporadas pela linguagem pedagógica a partir da década de trinta. As ideias

da corrente “humanista moderna”3, que defendiam que o homem deveria estar

centrado na vida, na existência e na atividade;

...A educação, priorizando o vital, determinada pelas diferenças individuais, admite mudanças comportamentais, com predominância do psicológico sobre o lógico. Pode-se incluir nessa concepção o movimento escolanovista, representado no Brasil por um grupo de educadores, cujas intenções inovadoras

2 A Semana de Arte Moderna ocorreu em São Paulo, entre 11 e 18 de fevereiro de 1922,quando foram realizadas exposições de pintura, escultura e arquitetura, além de conferências e festivais lítero-musicais. 3 Expressão usada por Saviani apud GOLDSCHMIDT, 2004, p.31

21

os torna conhecidos como os Pioneiros da Educação. (GOLDSCHMIDT, 2004, p.31-32)

Segundo Barbosa é nessa época que;

...temos as primeiras tentativas de escolas especializadas em arte para crianças e adolescentes, inaugurando o fenômeno da arte como atividade extracurricular. Em São Paulo, foi criada a Escola Brasileira de Arte dirigida por Theodoro Braga, onde crianças de 8 a 14 anos podiam gratuitamente estudar música, desenho e pintura. A orientação era vinculada à estilização da flora e fauna brasileiras. (BARBOSA, 2003, Revista digital).

E com o fortalecimento das tendências pedagógicas progressistas,

que Goldschmidt (2004) salienta que o ensino de Arte tenta resgatar o

movimento de educação pela Arte. Que toma como ponto de partida a

valorização da Arte no processo educativo, movimento esse que surgiu com as

primeiras conquistas da teoria da aprendizagem:

(...) a pratica das disciplinas artísticas no níveis iniciais de ensino, ligando-se aos princípios pedagógicos que iriam constituir os fundamentos da Escola Nova.(...) O movimento “educação pela arte” desenvolve o conceito de arte infantil, originado do deslocamento da concepção de arte(...) como expressão, ainda em decorrência das idéias de Rosseau sobre as características da personalidade infantil no que diz respeito às suas necessidades e à sua individualidade. (GOLDSCHMIDT, 2004, p.32-33)

Mas é justamente quando a Escola Nova estava no seu auge, que

de acordo com Barbosa (1985, p.14) o Estado Novo inicia “(...) a repressão no

campo educacional. Perseguindo os professores da Escola Nova, demitindo-os

ou provocando seus pedidos de demissão, sustou o progresso da educação”;

De 1937 a 1945 o estado político ditatorial implantado no Brasil, afastando das cúpulas diretivas educadores de ação renovadora, entravou o desenvolvimento da arte-educação e solidificou alguns procedimentos, como o desenho geométrico na escola secundária e na escola primária, o desenho pedagógico e a cópia de estampas usadas para as aulas de

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composição em língua portuguesa. (BARBOSA, 2003, Revista digital)

Após a queda de Vargas, o Brasil foi redemocratizado recuperando

alguns dos princípios da Escola Nova, que sofriam influencia do neo-

expressionismo;

(...)que grassava no pós-guerra tanto nos Estados Unidos como na Europa, no final da década de 1940, surge no Brasil um movimento de valorização da arte infantil, com o aparecimento de ateliês orientados por artistas voltados para a livre expressão da criança. Neste universo criativo e pulsante de locais de ensino de arte, Augusto Rodrigues funda a Escolinha de Arte do Brasil, no Rio de Janeiro, iniciativa ligada ao movimento de redemocratização da educação, liderado por Anísio Teixeira, Helena Antipoff e outros notáveis, na construção do processo educacional do nosso país. (Congresso Nacional da Federação de Arte-Educadores do Brasil, 2005, p.80)

Os cursos de formação de professores oferecidos pela Escolinha

facilitaram a disseminação das Escolinhas de Artes pelo Brasil, que

começaram a ser presentes nas escolas:

(...)primária e secundária por meio das classes experimentais criadas no Brasil depois de 1958. Convênios foram estabelecidos com instituições privadas para treinar professores, chegando mesmo as Escolinhas a serem uma espécie de consultores de arte-educação para o sistema escolar público. Até 1973 as Escolinhas eram a única instituição permanente para treinar o arte-educador.(BARBOSA, 1985, p.15)

Na década de 60, as eleições presidenciais elegeram Jânio

Quadros, que renunciou em 1961. Sendo sucedido por João Goulart que

governou até 1964.

(...) Nos anos 60 houve um breve, porém vivo movimento em busca da construção e adoção de modelos autóctones de educação e de arte-educação que podemos exemplificar se nos reportamos às teorias e métodos de Paulo Freire e às

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atividades da Universidade de Brasília.(BARBOSA, 1985, p. 42).

Neste Período o país enfrentou diversas crises, que culminaram no

movimento militar que depôs João Goulart. Dando início a Ditadura Militar, que

mais uma vez fez a Arte-educação andar para traz;

(...)a caça às bruxas forçou ao exílio os mais importantes educadores brasileiros de tendências brasileiras.(...) Podemos concluir que a evolução do ensino de arte no Brasil foi um esforço de recuperação de um modelo nacional destruído no século XIX por imposição estrangeira (Missão Francesa) até chegar-se a um esboço autóctone, novamente destruído. Esta evolução inclui a cópia internacional de modelos estrangeiros declarada com orgulho (1870-1927) e caminha em direção à importação de modelos estrangeiros, porém com adaptações nacionais (1927-1958), culminando na busca da criação de um modelo nacional (1958-1963) (BARBOSA, 1985, p. 42-43).

O ensino de Artes regrediu ao estado que era antes da semana de

22, que visava à profissionalização para atender as indústrias. O ensino de

Artes no fundamental passou a ser direcionado para ornamentação das

escolas e como meio para a animação das celebrações cívicas ou familiares

naquele ambiente. Enquanto que no secundário manteve-se o ensino do

desenho geométrico.

Barbosa (2002) destaca em seu livro Arte-Educação no Brasil que a

disciplina Educação Artística, nunca conseguiu afirmar-se como uma disciplina

plena. Mesmo quando foi estabelecido em 1971como parte do currículo;

... o século XIX, especialmente a década de 70, foi o perído da história da Educação Brasileira em que a preocupação com o ensino da Arte (concebida como desenho) se nos apresenta como mais extensa e mais profunda. Um dos pressupostos difundidos na época, a idéia de identificação do ensino da Arte com o ensino do Desenho Geométrico, compatível com as concepções liberais e positivas dominantes naquele período(1880) ainda encontra eco cem anos depois em nossas salas de aula e na maioria dos compêndios de Educação Artística, editados mesmo depois da Reforma Educacional de 1971. (BARBOSA,1978, p. 11 e 12)

24

Barbosa (1989) destaca que foi nesta época que Governo Federal

decidiu criar um novo curso universitário para preparar novos professores para

a disciplina Educação Artística, criada pela nova Lei (5692/71). Os cursos de

Arte-Educação nas universidades foram criados em 1973, compreendendo um

currículo básico que poderia ser aplicado em todo o país as artes eram:

(...)a única matéria que poderia mostrar alguma abertura em relação às humanidades e ao trabalho criativo, porque mesmo filosofia e história haviam sido eliminadas do currículo. (...)O currículo de Licenciatura em Educação Artística na universidade pretende preparar um professor de arte em apenas dois anos, que seja capaz de lecionar música, teatro, artes visuais, desenho, dança e desenho geométrico, tudo ao mesmo tempo, da 1ª à 8ª séries e, em alguns casos, até o 2º grau. (BARBOSA, 1989, p.170-171)

Os professores preparados nas escolinhas não podiam lecionar nas

escolas, por que para lecionar a partir da 5ª série era necessário grau

universitário, e os professores que podiam não tinham preparo adequado.

(Barbosa,1989). Esse fato juntamente com os cursos de curta duração em

Artes formaram docentes que segundo Ferraz e Fusari tendem à uma prática

em que “as aulas de Educação Artística mostram-se dicotomizadas,

superficiais, enfatizando ora um saber ‘construir’ artístico, ora um saber

‘exprimir-se’, mas necessitando de aprofundamento teórico metodológico.”

(FERRAZ & FUSARI, 1992, p.39)

Em 1980 Ana Mae Barbosa (1989) nos mostra que a Semana de

Arte e Ensino (15-19 de setembro) reuniu 2.700 arte-educadores de todo o

País. E esse encontro, enfatizou aspectos políticos através dos debates de

pequenos grupos ao redor de problemas pré-estabelecidos como a

imobilização e isolamento do ensino da Arte. Este encontro teve grandes

repercussões nos anos seguintes. O que culminou na Constituição da Nova

República de 1988, que na Seção sobre educação, artigo 206, parágrafo 2º,

determina "O ensino tomará lugar sobre os seguintes princípios (...). II —

25

liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e disseminar pensamento, Arte e

conhecimento".

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96, foi

promulgada em 1988, onde foi iniciado a discussão do projeto “Jorge Hage” na

Câmara que se estendeu até 1992, quando Darcy Ribeiro, apoiado pelo

presidente à época, Fernando Collor de Mello, apresenta outro projeto. Os dois

projetos então são discutidos ao mesmo tempo no congresso Nacional até

1993, quando o projeto de Jorge Hage é aprovado na Câmara e vai para o

Senado. Porém em 1995 o projeto é considerado inconstitucional e Darcy

Ribeiro reapresenta seu antigo projeto de Lei, que é aprovado em dezembro de

1996. O que gerou a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais de

Arte pela Secretaria de Ensino Fundamental do MEC em 1997/98 e o

referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, em 1998.

Dentre os grandes nomes da Arte-Educação o que mais é citado até

pelos próprios arte-educadores é Ana Mae Barbosa e é graças a ela e aos

“grandes” da Arte que as mudanças e vitórias foram alcançadas na Arte-

Educação. A mais recente delas veio através do Parecer nº 22/2005,

homologado em 23 de dezembro de 2005 que foi uma solicitação de retificação

do termo “Educação Artística” pela designação : “Arte, com base na formação

específica plena em uma das linguagens: Artes Visuais, Dança, Música e

Teatros”. Esta nova denominação tem por objetivo fortificar:

(...)a proposta que vê o ensino da arte como uma área específica do saber humano, partindo do raciocínio de que a importância da arte está na arte em si mesma e no que ela pode oferecer, e não porque serviria para atingir outros fins.(BRASIL, Parecer nº 22/2005, 2006, p.2)

No próximo capítulo serão abordados o ensino da Arte e o currículo

e Arte e suas possibilidades. Será abordado como a Arte foi “incluída” no

currículo, como é a formação dos professores de Arte e as formas de lecionar

Arte.

26

Capítulo 2 - As Artes no currículo

No Brasil, o currículo é direcionado através dos PCNs (Parâmetros

Curriculares Nacionais), que segundo o site do INEP “foram elaborados para

difundir os princípios da reforma curricular e orientar os professores na busca

de novas abordagens e metodologias”. Tendo a função de garantir a:

(...)criança ou jovem brasileiro, mesmo de locais com pouca infra-estrutura e condições socioeconômicas desfavoráveis, (...) acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como necessários para o exercício da cidadania para deles poder usufruir. Se existem diferenças socioculturais marcantes, que determinam diferentes necessidades de aprendizagem, existe também aquilo que é comum a todos, que um aluno de qualquer lugar do Brasil, do interior ou do litoral, de uma grande cidade ou da zona rural, deve ter o direito de aprender e esse direito deve ser garantido pelo Estado.(BRASIL, PCNI4, 1997, p.28)

Os PCNs de Artes organizam o currículo de forma a garantir:

(...) a natureza e a abrangência da educação de arte e as práticas educativas e estéticas que vêm ocorrendo principalmente na escola brasileira.(...) compreensão da arte como manifestação humana.(...) A proposição sobre aprender

4 PCNI o termo retrata os Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais.

27

e ensinar arte tem por finalidade apresentar ao professor uma visão global dos objetivos, critérios de seleção e organização dos conteúdos e orientações didáticas e de avaliação da aprendizagem de arte para todo o ensino fundamental. (BRASIL, PCN-Ensino fundamental, 1998, p.15)

2.1 As contradições das Artes como disciplina

Na década de 70, o Governo Federal criou através da Lei (Lei de

Diretrizes e Base 5692/71) um novo curso universitário para preparar novos

professores, para a disciplina Educação Artística. Esses cursos precisariam

preparar os professores para aplicar um currículo básico em todo o país. Com

duração de dois anos, deveriam capacitar os docentes para ensinar música,

teatro, artes visuais, desenho, dança e desenho geométrico, tudo ao mesmo

tempo. Mas, a obrigatoriedade do ensino da “Educação Artística” na década de

70, não foi suficiente para efetivá-la como matéria, pois ela sempre ficou

atrelada a outras matérias, não tendo seu real reconhecimento. Esse fato pode

ser identificado no Parecer nº 540/77, de 10 de fevereiro de 1977, do CFE que

estabelece o tratamento da Arte, nos componentes curriculares previstos no

art. 7º da Lei 5.692/71: “... não é uma matéria, mas uma área bastante

generosa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das tendências e dos

interesses”. A Arte passa por essa confusa fase onde era exigida, mas não é

tratada como matéria básica do ensino, Barbosa vê isso como uma:

...contradição! Arte não é básico na educação mas é exigida. O que aconteceu de 1986 para cá é que a grande maioria das escolas particulares eliminaram as artes. Menos um professor para pagar! Estas escolas estão protegidas pela ambigüidade de texto regido e aprovado pelo CFE, órgão dominado pela empresa privada de ensino. Não é básico mas se exige. A importância da arte na escola foi dissolvida por esta ambiguidade.(BARBOSA, 2005,p.1)

E mesmo quando parecia que ela estava ganhando alguma

autonomia, seu ensino-aprendizagem se restringia apenas as artes plásticas.

28

Embora haja exceções, muitos dos adolescentes, jovens e adultos, estudantes do Ensino Médio em nosso País, não puderam, nas escolas, conhecer mais sobre música, artes visuais, dança e teatro, principalmente como linguagens artísticas e códigos correspondentes. (BRASIL, PCN- Ensino Médio, 2000, p.46)

A interdisciplinaridade com as Artes tem sido enfatizada nos PCNs,

pois na proposta geral desses Parâmetros:

(...) Arte tem uma função tão importante quanto a dos outros conhecimentos no processo de ensino e aprendizagem. A área de Arte está relacionada com as demais áreas e tem suas especificidades.(...)Esta área também favorece ao aluno relacionar-se criadoramente com as outras disciplinas do currículo. Por exemplo, o aluno que conhece arte pode estabelecer relações mais amplas quando estuda um determinado período histórico. Um aluno que exercita continuamente sua imaginação estará mais habilitado a construir um texto, a desenvolver estratégias pessoais para resolver um problema matemático (BRASIL,MEC,1997, p. 19).

Embora a Arte tenha essa grande relevância no

ensino/aprendizagem das outras disciplinas ela não pode ficar presa a essa

função de auxiliar as outras disciplinas. Ana Amália Barbosa afirma que “Arte

tem conteúdo, assim como todas as outras disciplinas, e esse conteúdo deve

ser respeitado e estimulado tanto quanto os outros.” (BARBOSA A. A. in

BARBOSA , 2012,p.122)

Implementada a LDB Nº. 9.394/96 o ensino de Artes passou a ser

obrigatório no currículo escolar, no entanto a lei não estipula a carga horaria

que deve existir para o seu ensino:

A aprendizagem da Arte é obrigatória pela LDB no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Contudo, algumas escolas estão incluindo a Arte apenas numa das séries de cada um desses níveis porque a LDB não explicou que esse ensino é obrigatório em todas as séries.(BARBOSA, 2012,p.13)

A presença das “Artes” como é chamada atualmente, em apenas

uma das series torna seu ensino algo falho na vida das pessoas, pois não

29

basta conhecer produções artísticas de qualidade é necessario ter uma

capacidade mínima de entendimento desta produção. Pois a “Arte é qualidade

e exercita nossa habilidade de julgar e de formula significados que excedem

nossa capacidade de dizer em palavras. E o limite da nossa consciência

excede o limite das palavras.” (BARBOSA, 2005, p.1)

2.2 A formação dos profissionais de ensino de Artes

Para iniciar a fala sobre a formação dos docentes de Artes

retomaremos mais uma vez a Lei 5.692/71, pois é a partir dela que o professor

de Artes começa mesmo que de forma errônea a ser formado em

Universidades. Essa forma errada e apressada como é feita a instrução desses

educadores é retratado por Barbosa como um:

...absurdo epistemológico ter a intenção de transformar um jovem estudante (a média de idade de um estudante ingressante na universidade no Brasil é de 18 anos) com um curso de apenas dois anos, num professor de tantas disciplinas artísticas. (BARBOSA, 1978, p.171).

Pois apesar dos cursos proporem a formação de professores

capazes de ensinar as várias linguagens artísticas, eles só conseguiam

lecionar os desenhos geométricos, que eram estimulados pelos livros didáticos

que eram modernizados na aparência, mas que ainda possuíam o conteúdo

dos livros utilizados nas décadas de 40 e 50. Não existia espaço para

apreciação artística ou histórica de Arte. Não havia a apreciação de imagens

de qualidade, o máximo que se conseguia apreciar eram as imagens

produzidas pelas próprias crianças. “Eles lecionam arte sem oferecer a

possibilidade de ver. É como ensinar a ler sem livros na sala de aula”.

(BARBOSA, 1978, p.172)

Se por um lado os professores de 5ª a 8ª e ensino médio eram

preparados e motivados a lecionar Arte como desenho geométrico, os

30

docentes dos cursos profissionalizantes (2º grau), habilitados para o

Magistério, eram direcionados a ensinar Arte como artifício para a

ornamentação da escola em datas comemorativas.

O divertimento, a sensibilidade, a participação em festas e rituais, o relaxamento e outros desejos e necessidades do dia a dia são parte daqueles que trabalham no “mundo da Arte”, para usar uma expressão de Howard Becker(1982). (TOURINHO in BARBOSA, 2012,p.33)

E apesar desses argumentos carregarem, como afirma Tourinho (in

BARBOSA, 2012, p.33), uma “possibilidade ‘educativa’ que sabemos ser

própria da Arte”, não podemos considerá-los argumentos válidos para a defesa

dessa disciplina nas escolas da nossa época:

Arte não é apenas básico, mas fundamental na educação de um país que se desenvolve. Arte não é enfeite. Arte é cognição, é profissão. É uma forma diferente da palavra para interpretar o mundo, a realidade, o imaginário, e é conteúdo. Como conteúdo, representa o melhor do ser humano. (BARBOSA, 2005,p.4)

Os professores eram orientados a dar desenhos já ilustrados para

serem coloridos pelos discentes. E mesmo que esse processo pudesse de

alguma forma ser feito de modo artístico, com a opinião do aluno, eles eram

sempre orientados pelo professor, fazendo com que todos os trabalhos

ficassem iguais em termos de cores, sendo o nome do “autor” a única coisa

que os diferenciava. O que não respeitava o artigo 29 da Lei Nº 5.692/71 que

dizia:

A formação de professores e especialistas para o ensino de 1º e 2º graus será feita em níveis que se elevem progressivamente, ajustando-se às diferenças culturais de cada região do País, e com orientação que atenda aos objetivos específicos de cada grau, às características das disciplinas, áreas de estudo ou atividades e às fases de desenvolvimento dos educandos.(BRASIL, LDB 5.692/71, p.6)

31

Da lei acima menciona até a atual legislação educacional, a Lei Nº.

9.394/96, apesar dos avanços, não se pode afirmar como solução de modo

satisfatório aos problemas da formação do docente, que até os dias atuais

ainda tentam unir a teoria à prática. Teoria essa que diz, no artigo 26 § 2º da

LDB 9394/96, que o ensino de Arte constitui: “componente curricular

obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o

desenvolvimento cultural dos alunos”. No entanto nesse final do século XX, não

houve como já foi mencionado mudanças na maneira de aprender/ensinar Arte.

Um dos pontos que Ana Mae Barbosa (1989) cobrava dos educadores de 70 e

80, posso dizer, por experiência própria que foi parcialmente atendido, era a

“história da Arte”. Os professores ensinavam muito sobre os estilos de época e,

de certa forma, falavam sobre os movimentos artísticos europeus e seus

principais artistas. Mas apesar de ensinarem a historia da Arte, eles faziam isso

de forma errônea, pois se concentravam apenas nas Artes plásticas e nos

artistas.

É significativo para o aluno conhecer os artistas e os estilos de

pintura, arquitetura, as músicas, as obras literárias que se tornaram peças de

teatro e filmes, que foram criados e modificados ao longo da história. No

entanto, não é crucial que ele decore quem é o artista que desenvolveu a obra,

em específico, ou que técnica ele utilizou. A esse respeito Mirian Martins

destaca:

O objetivo maior, então, não é simplesmente propiciar que os aprendizes conheçam apenas artistas como Monet, Picasso ou Volpi, mas que os alunos possam perceber e conhecer como o homem e a mulher, em tempos e lugares diferentes puderam falar de seus sonhos e de seus desejos, de sua cultura, de sua realidade e de suas esperanças e desesperanças, de seu modo singular de pesquisar a materialidade por intermédio da linguagem da Arte. (MARTINS in BARBOSA , 2012,p.61)

Sabemos que a Arte-Educação vai muito, além disso, pois, o

indivíduo deve ser instigado a buscar, entender e criar, tendo acesso a todos

os tipos de manifestações artísticas: livros, poesias, pinturas, esculturas,

construções, músicas, filmes, desenhos, etc. Infelizmente, essa não foi a

32

realidade do século passado, o ensino de Arte deixa claro sua relevância para

o desenvolvimento da criança, mas a sua prática acaba não se concretizando

devido a fatores como: falta de capacitação dos professores para o ensino da

Arte-Educação, a imposição do currículo, o qual é constantemente alterado no

decorrer da história das Artes, e a cada mudança ocorre uma readaptação, a

qual não consegue atender o que esta estipulado tanto nos PCNs quanto na

reformulada LDB.

Fora das salas de aula, professores e professoras são avaliados, cobrados e “medidos” pela capacidade de satisfazer expectativas que pouco têm a ver com as condições internas de seu trabalho. Nas salas, professores sobrevivem com o que têm e podem fazer, enfrentando a ausência de condições mínimas que lhes dariam prazer e engajamento para realizar sua parte na formação educacional dos alunos e, neste caso, na sua formação cultural e artística. Sob a orientação dos professores e numa situação coletiva, é no espaço das salas de aula que o conhecimento selecionado pela escola pode vir a expandir e a restringir a experiência dos alunos. (TOURINHO in BARBOSA, 2012,p.30-31)

Na década de 1980, a professora Noêmia Varela, percursora dos

primeiros cursos de formação inicial e continuada para Arte-Educação no

Brasil, já fazia sua indagações quanto a formação dos arte-educadores:

Mas, que devemos pensar da formação do arte-educador? Quais as relações da arte com a educação que poderão melhor delimitar o lugar e a natureza do processo de formação do arte-educador? O que dá mais a pensar sobre esta questão e que ainda não foi pensado? Que é necessário desaprender para encontrar o caminho mais sábio que nos leve à elaboração mais rica do processo de formação do arte-educador? (VARELA in BARBOSA, 1985, p. 12).

Não acredito que essas perguntas foram respondidas, porém,

acredito que houve um grande progresso na maneira de ensinar/aprender não

só a Arte, mas todas as disciplinas. Sendo assim, os docentes deveriam unir a

teoria à prática, sempre procurando formas de atualizar seus métodos, ficando

mais cientes de seus papéis na sociedade. Pois como Paulo Freire diz:

33

...ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina, ensina alguma coisa a alguém. (FREIRE, 1996, p.12)

Pensando nessas palavras de Freire somos impelidos a pensar a

formação continuada desses professores e a esse respeito Rejane Coutinho (in

BARBOSA, 2012) destaca que apesar das instituições responsáveis pela

educação estarem desenvolvendo programas de formação contínua, os

professores nem sempre são o foco desses programas, que acabam se

tornando espaços para divulgação de novas proposta ou orientações:

Do professor exigem um posicionamento ou adesão perante esses novos programas políticos/educacionais. A estas exigências somam-se outras tantas de caráter burocráticos que reforçam as pressões institucionais sobre os docentes.(...) a resistência a este esquema tem sido a resposta imediata do profissional que não sentindo-se amparado em suas reais necessidades não se deixa impregnar pelas propostas. (COUTINHO in BARBOSA , 2012, p.177)

Ainda sob o olhar de Coutinho (in BARBOSA, 2012), o professor

melhora sua formação na medida em que confronta as situações cotidianas de

ensino/aprendizagem. E se o governo não consegue garantir que o professor

tenha uma boa formação continuada através dos seus cursos, deveria, ao

menos, garantir a interação do arte-educador e seus alunos com espaços como

museus, bibliotecas, cinemas e outras instituições que produzam esses bens

culturais.

É preciso que o trabalho do professor de Arte não fique isolado entre as paredes da escola. A escola precisa com urgência abrir suas portas e acolher a produção cultural de sua comunidade e de outros lugares e épocas. A comunidade precisa também apoiar a escola, facilitando a construção e

34

circulação dos conhecimentos ali produzidos. (COUTINHO in BARBOSA , 2012, p.178)

2.3 A Arte-educação: Estudo ou diversão

Imaginar o ensino de Artes como transmissão de conteúdos, sem

emoção é praticamente inviável, já que vários escritores a defendem como:

• “...uma forma de aprofundamento da consciência” (ANDRADE apud

FRANGE in BARBOSA, 2012,p.39)

• “ ... a educação do sentimento, e uma sociedade que descuida dela se

entrega à emoção informe. A Arte ruim é a corrupção do sentimento.” (

LANGER apud FRANGE in BARBOSA, 2012,p.40)

• “...modo de ver o mundo(...) dando forma e colorido ao que, até então,

se encontra no domínio da imaginação, da percepção ...” (PILLAR in

BARBOSA, 2012,p.78)

• “... união do subjetivo com o objetivo, de natureza e razão, do

inconsciente com o consciente. Portanto o mais alto meio de

conhecimento.” (SCHELLING apud GOLDSCHMIDT, 2004, p.120)

• “... linguagem de força estranha que ousa, se aventura a falar de tudo,

do desconhecido, daquilo que é percebido pelos sentidos,

materializando os sentimentos humanos ou os diferentes olhares que o

ser humano pousa sobre as coisas.”(MARTINS & PICOSQUE, 2012,

p.115)

Tendo este fato em vista, como podemos separar o divertimento de

algo que é tão prazeroso quanto sentir Arte. Também não devemos afirmar que

a Arte não tem seu lado de conteúdos e conhecimentos a serem estudados ou

até “decorados”, no entanto, como diz Irene Tourinho (in BARBOSA, 2012),

não precisamos separar a mágica “das emoções” da transmissão dos

“conhecimentos”;

35

(...)ficamos,(...) impelidos a escolher entre um dos dois elementos do mundo do ensino da Arte ( expressividade X técnica?; tradição X inovação?; diversão X aprendizagem?; mito X profanidade?; mágica X estrutura?....) como se, na Arte, um fosse asséptico ao outro, como se não existissem equilíbrios insustentáveis ou apenas um desses elementos fosse potencialmente ‘educativo’.). (TOURINHO in BARBOSA, 2012,p.34)

Utilizando a expressão de Paulo Freire (1996), o “professor

formador” de qualquer disciplina tem que perceber que assim como ele mesmo,

o aluno tem necessidades psicológicas e emocionais, e que se estas forem de

alguma forma alimentadas seu aprendizado se dará de forma mais fácil e

natural. “Como ser educador, se não desenvolvo em mim a indispensável

amorosidade aos educandos com quem me comprometo e ao próprio processo

formador de que sou parte?” (FREIRE, 1996, p.40). Como ensinar ao aluno que

todas as expressões artísticas são válidas, que seu corpo e movimentos são

formas de expressar Arte? Como ensiná-lo que suas curiosidades e

inquietações são interessantes ao processo artístico? Como ensinar que existe

Arte em tudo? Como ensinar esses conceitos se quando leciona, o professor

lhe anula o corpo, lhe pede o silêncio, lhe pede que copie uma obra já feita,

não se interessa por suas experiências e por sua cultura? Não podemos

generalizar os alunos “como um grupo coeso que está com um educador; trata-

se, sim de pessoas com experiências diversas, com histórias singulares de vida

e de outros encontros com a cultura.” (MARTINS, 2012, p.48)

Não tem como ensinar Arte sem conhecer as emoções, sem saber

respeitar opiniões. A Arte é o ensino que permite a diversão, deve permitir o

movimento e a crítica;

O ensino das artes, em suas várias linguagens, assume papel estratégico, na medida em que representa uma dimensão relevante da eqüidade de oferta de oportunidades de educação com qualidade. Esta abordagem permite uma melhoria dos processos de ensino-aprendizagem, tendo no ensino das artes um instrumento de ampliação da visão e compreensão do mundo, o que inclui necessariamente, como um de seus resultados, a melhoria do rendimento escolar. (Congresso

36

Nacional da Federação de Arte-Educadores do Brasil, 2005, p.26)

Dar ao discente a oportunidade de vislumbrar os vários estilos de

Artes é o mesmo que oferecer acesso a estilos e linguagens diversificadas em

múltiplos aspectos estéticos. O que lhe dará meios para que perceba que sua

imaginação é uma formidável ferramenta, que lhe possibilita aprimorar suas

habilidades de se comunicar com as pessoas e com o mundo.

O Papel da Arte na educação está relacionado aos aspectos artísticos e estéticos do conhecimento. Expressar o modo de ver o mundo nas linguagens artísticas, dando forma e colorido ao que, até então, se encontrava no domínio da imaginação, da percepção, é uma das funções da Arte na escola. (PILLAR in BARBOSA, 2012,p.78)

A educação embasada em contextos artísticos proporciona ao aluno,

um ambiente favorável para viver novas experiências e novos processos, que

desenvolverão a criatividade, a imaginação e a capacidade de reflexão crítica.

(Moreira, 2008)

Na educação a Arte além de contribuir para o desenvolvimento da

coordenação motora fina e ampla, deve também colaborar e estimular com as

capacidades de análise, de crítica e de produção e de imaginação, com vista a

uma participação e integração do aluno com o meio em que vive. Afinal, Arte

não é apenas os desenhos e pinturas conhecidos mundialmente, existem

diversas formas de expressão artística. A música, a dança, o teatro, o cinema,

a literatura assim como todas as manifestações artísticas, são instrumentos

para a interação e desenvolvimento da atividade motora, psíquica, emocional e

social. Que permitem que o corpo “trance uma rede complexa de relações

sensíveis e perceptivas sobre o que vê, escuta, toca, vivenciando

sensibilidades gestadas na sensação”(MARTINS & PICOSQUE, 2012, p.36).

Sendo assim é importante que existam no currículo escolar.

Sem a ambição de encerrar esse assunto, chego a “conclusão” de

que Arte é estudo e diversão, é conhecimento especifico e subjetivo, é teórico e

37

empírico. E da mesma forma que não podemos separar corpo e mente, não é

possível separar Arte e diversão.

No próximo capítulo serão apresentados os dados da pesquisa, a

entrevista, a metodologia que foi usada para a construção do trabalho e as

conclusões.

38

Capítulo 3 - Arte-educador o mediador do conhecimento: do saber ao apreciar Arte

Neste capitulo, veremos algumas conclusões sobre essa relação

professor/aluno, ensinar/aprender. Mas afinal, qual é o papel do professor? Já

podemos perceber que o aluno não é uma caixa vazia para ser preenchida com

o conteúdo que apenas o professor possui. Ao chegarmos ao mundo começa

nossa aprendizagem. Aprendemos que chorando recebemos o que

precisamos, depois aprendemos a rolar, nossa curiosidade nos leva a

engatinhar e andar, a necessidade maior de sermos entendidos nos leva a

falar. Nesse caminho os pais, nossos primeiros professores, fazem a mediação

do aprendizado, não desestimulamos nossos filhos a pararem de andar por

mais que caiam. Não mandamos que se calem quando falam errado. O papel

do professor deveria ser esse, o de mediador. Mediar o conhecimento segundo

Mirian Celeste Martins (2012) é criar situações onde ocorram o encontro com o

conhecimento, de forma que este amplie a leitura e a compreensão do mundo

e da cultura.

No caminho do aprendizado, um começo ruim pode prejudicar tanto

aluno quanto professor. Segundo, Paulo Freire (1996, p.12) ensinar não é

apenas “transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um

39

sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado”.

Não tem como o professor ensinar se o aluno não tiver interesse em aprender:

Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina, ensina alguma coisa a alguém. (FREIRE, 1996, p.12)

Mas por que o aluno não tem interesse em aprender Artes? Dá

para constatar, que a Arte além de ser ensinada como história, com datas e

conteúdos a serem decorados, também é limitada a uma única linguagem. A

linguagem que o educador tiver estudado na sua formação. Que normalmente

é Artes plásticas, assim em sua infância o educando pensa que Arte é só

desenho ou pintura. Esses conceitos são:

...tão fortemente construídos em nossa infância que passam a determinar perspectivas que só poderão ser reavaliadas se ocorrerem outras oportunidades para que sejam ressignificadas. Há de se romper com o habitus cristalizado, há de se transformá-lo. É preciso percebê-lo para poder olhar através de outra perspectiva, mais ampla, mais aberta, mais profunda. (MARTINS, 2012, p.16)

Os alunos já entram em sala, desestimulados, pois já sabem o que

será ensinado, não há novidade, consequentemente não há interesse, o que

acaba criando um circulo vicioso. No qual o aluno não quer aprender e o

professor se sente desestimulado a lecionar.

A Arte tem uma importância que transcende seu pequeno nome.

Juntamente com suas múltiplas linguagens, ela é a expressividade de todas as

culturas que já passaram nesse planeta. É a manifestação de vários ritos

culturais e religiosos. Sendo assim, não pode se restringir apenas ao que os

europeus criaram:

Uma das formas de percebermos a existência do homem no mundo é por meio da arte. A arte está presente no mundo

40

desde que o homem se fez homem. (...) A arte como parte essencial da experiência humana nos mostra como o ser humano, mediante a imaginação, visão de homem, de mundo, de experiências, sentimentos, conhecimento, dá forma às suas idéias e produz, cria cultura, cria arte. (Congresso Nacional da Federação de Arte-Educadores do Brasil, 2005, p.110)

Segundo a teoria5 de Piaget(1983) as pessoas passam por

diferentes estágios desde seus nascimentos até a fase adulta. Esses estágios

são afetados de acordo com as estruturas cognitivas de cada pessoa e pela

variedade de estímulos disponíveis. Ou seja, uma criança irá se socializar

melhor com diferentes culturas se for estimulada para que isso aconteça,

desde seu nascimento até a idade adulta. Segundo Ana Mae:

... a interação entre diferentes culturas. Esse deveria ser o objetivo da Arte-Educação interessada no desenvolvimento cultural. Para alcançar tal objetivo, é necessário que a escola forneça um conhecimento sobre a cultura local, a cultura de vários grupos que caracterizam a nação e a cultura de outras nações.” (BARBOSA, 2012,p.20-21)

A escola deve fornecer acesso e valorização da Arte local, deve

ensinar um olhar que se aproxime do aluno caso contrário o aluno ira crescer

pensando que a Arte é feita por homens, brancos, europeus ou norte-

americanos. E que tudo que é produzido por nossa cultura ou por culturas

consideradas atrasadas não passa de uma forma inferior de Arte. (RICHTER in

BARBOSA (org.), 2012).

Depois de ver e entender nossa própria cultura, que na verdade é

um misto de varias culturas, poderemos entender melhor as culturas de outros

lugares do mundo.

Arte é cognição, interalteridades e interculturalidades. As idéias só têm valor e sentido para o ser humano quando podem ser compreensíveis e possibilitam uma interatividade com o mundo da natureza e o mundo das culturas. O conhecimento em arte é, para mim, fundamentalmente uma questão de visibilidades,

5 Teoria do desenvolvimento cognitivo: pressupõe que os seres humanos passam por uma série de etapas e mudanças.

41

além das visualidades. A arte não representa o visível, a arte torna visível, conforme afirma Paul Klee. (Congresso Nacional da Federação de Arte-Educadores do Brasil, 2005, p.153).

Arte-Educação como já foi dito é muito importante no

desenvolvimento da criança, a exemplo do desenvolvimento emocional, social,

intelectual e perceptual. Trazendo consigo uma importância sociocultural única,

pois através dela podemos ver como as culturas e sociedades se

desenvolveram e se desenvolvem através dos tempos. Não é o saber a história

ou ler como ela aconteceu, mas sentir como ela aconteceu e acontece, é ser

“transportado” para aquela época.

A função desempenhada pela arte está implícita na análise crítica da educação, tendo em conta o papel social que desempenha na formação sujeito. Insere-se, portanto, no contexto da transição paradigmática vivenciada pela educação e pela escola. Em outras palavras: a arte-educação está comprometida com outra visão de mundo e de homem, que não aquela consubstanciada pelo modelo newtonianocartesiano, presa ao realismo materialista para o qual a realidade é constituída de objetos independentes dos sujeitos que os produzem e o conhecem. A função social da arte está além da visão racionalista, dualista e mecanicista do mundo. A proposta educativa do ensino de arte está implicada com o ser humano, inacabado, inconcluso, em construção nas relações com outros seres humanos; social, político, histórico; que dá sentido ao mundo e as experiências que vivencia; que constrói seu modo de ser pelo aprendizado; um ser composto de matéria, razão, emoção e alma. (Congresso Nacional da Federação de Arte-Educadores do Brasil, 2005, p.212)

Podemos, então, compreender a Arte como esse processo de

conhecimento humano que além de envolver atenção, percepção, memória,

raciocínio, juízo, pensamento e linguagem envolvem também as emoções e

estimulam a imaginação. E o que seria da raça humana se não fosse a

imaginação? A imaginação que é uma formidável ferramenta, que possibilita

aprimorar as habilidades de se comunicar com as pessoas, com os objetos e

com o mundo.

Para compreender melhor como a Arte é aplicada nas escolas foi

realizado um questionário com alguns professores de Artes. A entrevista foi

42

realizada através do correio eletrônico, contendo oito perguntas, que

comtemplavam as indagações da minha pesquisa.

Com as primeiras perguntas, tive a intenção de conhecer a formação

dos professores entrevistados, que em consenso as minhas pesquisas, pude

constatar que não difere da dos outros profissionais da área. E apesar de ter

procurado um universo maior de sujeitos, obtive a participação apenas de dois

professores, um do ensino publico e outro do privado, que serão chamados de

P1 (professor da escola publica) e P2 (professora da escola particular). Quando

questionados sobre a obrigatoriedade da disciplina Artes em todas as séries do

ensino fundamental e médio os docentes responderam respectivamente:

“Mesmo sabendo que esse pensamento ainda não está

concretizado na grade escolar, acredito que o ensino da arte deveria ser

trabalhado em todos os períodos da educação básica (Educação Infantil e

Ensino Fundamental e Médio). Da mesma forma que as outras disciplinas

como português e matemática consideradas elementares, a arte tem o seu

peso e sua importância no que diz respeito a formação da consciência cultural

do indivíduo.”

“...ela deve ser obrigatória, pois é uma disciplina com a mesma

importância de todas as outras, ainda mais porque pode proporcionar a

integração de todas as outras no currículo”

Essas falas demonstram que o P1 mostra algum avanço no

posicionamento de sua matéria, enquanto que P2 ainda carrega um forte

discurso de submissão às outras disciplinas, e como já foi visto nos capítulos

anteriores, apesar da Arte possuir esse potencial não é esse o seu real

objetivo.

Com as entrevistas pude constatar também que o ensino de Artes

vai depender da formação do professor, ou seja, se ele tiver formação em Artes

visuais ele só irá abordar essa temática, se ele for formado em música focará

esta área, e assim por diante entre as áreas da Arte.

A despeito da lei, através do Parecer nº 22/2005, preconizar esta

forma de ensino, embasado em considerações de Paulo Freire(1996), pergunto

“e o aluno nesse processo?”. Seria certo ensinar o aluno(1) com aptidão

43

musical apenas a interpretar quadros de vários artistas, da mesma forma que

seria certo ensinar um aluno(2) com aptidão para o desenho apenas a

interpretar e sentir as várias sinfonias reconhecidas mundialmente. O que não

me parece correto é querer avaliar o aluno um por um desenho que ele não

quer fazer, ou o aluno dois por uma música que ele não sabe cantar. Ou seja, o

ideal para o aluno seria ele poder expressar sua forma de Arte, afinal, Arte não

é apenas uma área de conhecimento é uma linguagem e é expressa de formas

diferentes pelas pessoas, mesmo quando o estilo é o mesmo temos diferentes

traços, diferentes vozes.

Mas, a Arte entrou mesmo na escola? Ou seria melhor perguntar: que Arte entrou na escola? Ou ainda, qual o olhar sobre a Arte que está na escola? Miró, Van Gogh, Picasso, Monet, Tarsila e Volpi? Pensariam os alunos que Arte é apenas pintura e que todos os artistas já estão mortos?(MARTINS in BARBOSA, 2012,p.57)

O P1 teve um aprendizado voltado para as “Artes Visuais”, e leciona

de acordo. Já a P2 teve uma formação voltada para “história da Arte e o uso da

Tecnologia para trabalhar com a Arte” e é claro aplica suas aulas voltadas para

sua formação. Voltamos a destacar que esta forma de lecionar não é justa,

mesmo sabendo que não é cômodo para professor ensinar algo para o qual

não estudou. O discente também deve ter a oportunidade de vislumbrar todas

as dimensões da Arte, e deve fazer isso de acordo com sua perspectiva

individual.

Levada a fundo, a perspectiva relacional e contextual do ensino de Arte poderia reativar uma teorização sobre a importância das diferenças individuais, fator que a escola pública não comporta. (TOURINHO in BARBOSA, 2012,p.36)

O interessante sobre os educadores é que ambos (P1 e P2)

conseguem segundo seus relatos lecionar de forma eficiente à metodologia

que Ana Mae Barbosa sistematizou no Brasil no fim de 1980 chamada de

Proposta Triangular do Ensino da Arte. Segundo Rizzi (2002):

44

[...] elaborado a partir das três ações básicas que executamos quando nos relacionamos com a Arte: ler obras de arte, fazer arte e contextualizar. [...] Ler obras de Arte: [...] envolve o questionamento, a busca, a descoberta e o despertar da capacidade crítica dos alunos... [...] Fazer Arte: [...] na releitura há transformação, interpretação e criação com base em um referencial: o texto visual que pode estar explícito ou implícito no trabalho final do aluno [...] Contextualizar: [...] estamos operando no domínio da História da Arte e outras áreas de conhecimento necessários para determinado programa de ensino. (RIZZI in BARBOSA, 2012, p.73-76).

Ainda sobre as práticas dos docentes, posso destacar que no

colégio publico o professor se organiza da maneira que pode e segundo ele:

“...ainda há necessidade de melhorias como espaço físico, que nesta

escola não disponho, que é um fator negativo que influencia um melhor

desempenho da minha ação e dos alunos.”

Já no caso da escola particular a postura da educadora não poderia

ser julgada de modo individual, pois na escola onde ela trabalha existe o ensino

de outras áreas do conhecimento de Artes.

Finalizando a analise da entrevista posso destacar as últimas

perguntas que se referem aos locais onde se aprende Artes, que colaborações

podemos dar para o ensino de Artes e como podemos avaliar o aprendizado

dos discentes. Sobre os assuntos a P2 respondeu respectivamente:

“Todos,(...) acredito que se pode estudar a Arte em qualquer

espaço”

“(...)união da tecnologia e Arte, (...)a tecnologia favorece e motiva

esse aprendizado.”

“Avalio através da prática cotidiana. Participação em aulas e visitas.

Através de relatórios de visitas ás exposições ou museus e através de

atividades prática...”

Já o P1 respondeu:

“...seja aquele que melhor possibilita uma aula prazerosa que

motive os alunos a aderirem à proposta. Um ambiente descontraído, mas

45

ordenado. ... onde alunos e professor consigam dialogar e manter uma relação

mais estreita e adequada ao que Arte proporciona.”

“Aprofundamento teórico é algo indispensável, (...), reciclar a mente

e os conhecimentos adquiridos são pontos importantíssimos. Mas não posso

esquecer que estar em contato direto com a produção de variados artistas

visitando exposições é vital para o professor da área.”

“A avaliação dos meus alunos pode ser dada como boa, ótima,

regular ou péssima de acordo com o meu desempenho. (...). A avaliação é bem

subjetiva no ensino da arte. Sou contra a “prova”, que em minha opinião é uma

tortura particular. O aluno é julgado por cinqüenta minutos de uma avaliação,

que pode ser mentirosa naquele dia, pois talvez o aluno naquele dia pode não

ter acordado muito bem, (...).Dificultando sua performance. Portanto, avalio

pela adesão a proposta, pelo interesse e pela colaboração. Na minha avaliação

não há certo e errado, mas comprometimento ou não com o proposto.”

Para a primeira resposta acho pertinente destacar que ambos

expressam muito bem onde aprender. Como se as respostas de certa forma se

completassem. Pois, qualquer lugar pode nos propiciar a Arte, que está a

nossa volta, em nós, na nossa cultura, na nossa vida cotidiana, sendo assim

ele pode ser estudada e apreciada em qualquer lugar, basta o aluno estar

preparado para utilizar esses instrumentos de produção artística, “ficando bem

claro que esse conhecimento não deve ser fim em si mesmo, mas um meio

para que se consiga ver, significar e produzir Arte”. (PIMENTEL in BARBOSA ,

2012,p.128)

Passando para as colaborações dos docentes, sinto mais uma vez

que as respostas se completam. Pois atualmente é indispensável ter

aprofundamento teórico e a união da tecnologia e Arte faz parte desse

aprofundamento. Afinal nos dias de hoje, os vários museus online são a melhor

forma de alguns alunos terem contato com obras de renome internacional, ou

até mesmo ter contato com algumas que só são conhecidas por especialistas.

Sendo a Arte a expressão das culturas e da sociedade através dos tempos,

podemos notar que ela acompanha sempre as inovações tecnológicas.

Segundo Pimentel:

46

O uso de tecnologia em Arte não acontece somente em nossos dias. A arte, em todos os tempos, sempre se valeu das inovações tecnológicas para seus propósitos. Até mesmo porque seu ideal de transcendência ao comum necessita do que está disponível, para que algo seja criado. .(PIMENTEL in BARBOSA , 2012,p.128)

As matérias acadêmicas englobam as inovações, as descobertas e

as constatações, agora basta à escola e os professores fazerem o mesmo.

Afinal de contas, o “uso de novas tecnologias na escola se faz,

tradicionalmente, com alguma defasagem em relação ao seu aparecimento”

(PIMENTEL in BARBOSA , 2012,p.129).

Analisando a ultima pergunta, precisei me inteirar do conceito de

avaliação. Para Vasconcellos (1998) a avaliação:

...é um processo abrangente da existência humana que implica reflexão sobre a prática, no sentido de diagnosticar seus avanços e dificuldades e, a partir dos resultados, planejar tomadas de decisão sobre as atividades didáticas posteriores. Nesse contexto, a avaliação deveria acompanhar o aluno em seu processo de crescimento, contribuindo como instrumento facilitador da aprendizagem. (VASCONCELLOS apud CAVALCANTI NETO, 2009, p.227)

Depois da minha pesquisa pude constatar que os docentes, avaliam

de uma forma bem condizente com a definição de Vasconcellos, só restando

saber se o fazem de forma a contribuir para a sensibilização do aluno com o

mundo da Arte.

Iniciei a pesquisa bibliográfica, me aprofundando na historia da Arte

para elaboração do primeiro capítulo, para isso fiz uma leitura mais

aprofundada dos livros de Ernest Gombrich e Lindomar Goldschmidt. Que

tratavam respectivamente da história da Arte no mundo e da história da Arte no

Brasil.

Em seguida passei para a situação do ensino de Artes no decorrer

do último século. Para auxiliar nesse estudo contei coma ajuda de grandes

autores como Ana Mae Barbosa, Mirian Celeste Martins, Nelly Novaes Coelho,

47

Ferraz e Fusari, Norma Sandra Ferreira, Janine Moreira, entre outros autores.

Pesquisei também a evolução das leis sobre a forma de lecionar Arte.

Dos textos lidos sobrou a constatação que a Arte apesar de ser uma

matéria com grande importância, não é vista e tratada como tal. Seu ensino

ainda é muito dicotomizado em conhecimentos históricos, focando nos grandes

artistas plásticos internacionais ou como “puro” desenho para entretenimento,

que não desenvolvem nenhum saber ou apreciação artísticos. As leis

asseguram sua presença na escola, mas não garante uma estrutura nem

material didático de qualidade, impossibilitando a ensino/aprendizagem dessa

matéria.

48

Conclusão

Após o trabalho de pesquisa bibliográfica e da entrevista com os

arte-educadores, penso que essa discussão deve prolongar-se enquanto não

atinge a legitimação daquilo que já é previsto na lei. O ensino de Arte traz

consigo grandes possibilidades, no entanto, as condições disponibilizadas para

o seu desenvolvimento, limitam a esta disciplina voos mais altos.

Outro ponto que parece pertinente destacar é a forma como os arte-

educadores, com raras exceções, lecionam Arte. Cada docente, ou melhor,

cada pessoa se identifica mais com uma das áreas da Arte- música, dança,

teatro, Artes visuais. No entanto, isso é uma questão particular e assim como

outras questões particulares não podem ser priorizadas no momento em que

se está lecionando. É compreensível que o professor de Arte prefira ficar na

sua zona de “conforto” e abordar o tema que tenha maior entendimento, ou que

vá ao encontro da sua formação. Mas não é justo, nem profissional, querer que

todos os alunos dominem o mesmo tipo de linguagem artística, é como diz

Einstein, querer julgar um peixe por sua capacidade de subir em árvores. O

professor deve ser o mediador entre o conhecer e o apreciar a Arte, e esse

caminho às vezes deve passar pelas outras linguagens da Arte, o que com

certeza ira facilitar a chegada ao conhecimento.

Na falta de cursos que deem ao docente de Artes a formação

continuada que ele necessita, é o próprio professor que deve ser o agente

integrador de sua mente com os conhecimentos atuais. Não quero dizer com

isso que os arte-educadores devam parar de lutar pelos direitos e deveres da

Arte na educação, mas também não podemos prejudicar o discente nesse

processo de efetivação da Arte e suas “quatro” áreas como disciplina. A Arte

não é pra ser vista apenas nas escolas e museus, da mesma forma que p

aprendizado não é algo que termine, quando nos formamos.

Das pesquisas realizadas para esse trabalho, o que ficou pouco

esclarecido e para o qual ainda se tem poucas pesquisas a respeito é a forma

de avaliar o fazer artístico dos alunos. Se Arte é a expressão do sentimento,

como podemos avaliar o sentimento?

49

Bibliografia:

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50

______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC, 2000. ______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : arte / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília : MEC / SEF, 1998. ______. Parecer CNE/CEB nº 22/2005 - Ministério da Educação. Brasília : CNE/CNB, 2006. ______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997. CAVALCANTI NETO, Ana Lúcia Gomes, AQUINO, Josefa de Lima Fernandes. A avaliação da aprendizagem como um ato amoroso: o que o professor pratica?. Educ. rev. [online]. 2009, vol.25, n.2, pp. 223-240. ISSN 0102-4698. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-46982009000200010. COELHO, Nelly Novaes. A literatura infantil: abertura para a formação de uma nova mentalidade. in COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil-teoria-análise. Ed. didática. São Paulo: Ática,1997.p.14-32. CONGRESSO NACIONAL DA FEDERAÇÃO DE ARTE-EDUCADORES DO BRASIL (15.: 2004 : Rio de Janeiro, RJ) XV CONFAEB, 2004 : trajetória e políticas do ensino de artes no Brasil. – Rio de Janeiro : FUNARTE : Brasília : FAEB, 2005. FERRAZ, M.H.C.T.; FUSARI, M.F.R.. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1992. _____ Metodologia do Ensino da Arte. São Paulo: Editora Cortez, 1993. FERREIRA, Norma Sandra de Almeida. As pesquisas denominadas "estado da arte". Educ. Soc. [online]. 2002, vol.23, n.79, pp. 257-272. ISSN 0101-7330. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73302002000300013. acesso em: 09/06/2013. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia, Saberes Necessários à Prática Educativa. 36ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Disponível em : http://www.letras.ufmg.br/espanhol/pdf%5Cpedagogia_da_autonomia_-_paulofreire .pdf acesso em: 15/04/2013. GOLDSCHMIDT, Lindomar. Sonhar, pensar e criar: a educação como experiência estética. Rio de Janeiro: Editora Wak, 2004.

51

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ANEXO

Questões para a Pesquisa empírica

1. A Arte deve ou não - e porque- ser disciplina obrigatória em todas

as séries do ensino fundamental e médio?

2. Quais valores em relação ao Ensino da Arte você recebeu em sua

formação?

3. Qual a sua opinião a respeito da sua formação em Artes?

4. Como professora, que postura de Ensino da Arte você adota? Por

quê?

5. Como está o ensino de Arte na sua escola?

6. Que ambiente é ideal para ensino de Artes?

7. Que colaboração você teria para transformação para melhor da

sua prática pedagógica em artes?

8. Como arte-educadora como você avalia seus alunos?