UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · A visão do Orientador Educacional será...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
DO ORIENTADOR EDUCACIONAL: CONTRIBUIÇÕES NA DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM.
Por: Samantha Simões Pinto Conde
Orientador Profª. Monica Melo
RIO DE JANEIRO 2011
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
DO ORIENTADOR EDUCACIONAL: CONTRIBUIÇÕES NA DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM.
Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Orientação Educacional e Pedagógica. Por: Samantha Simões Pinto Conde
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela inspiração. À minha família pela compreensão e apoio.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu marido Luiz Gustavo e aos meus alunos queridos.
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo discutir algumas abordagens sobre as
dificuldades de aprendizagem na leitura e na escrita. São apresentados alguns
temas que de encontro à pesquisa, darão ênfase a como acontece o processo de
aquisição da linguagem e seu desenvolvimento. Cabe ao orientados educacional
exercer sua função com competência e acima de tudo um compromisso real com a
educação. Através deste trabalho, os distúrbios e transtornos mais comuns serão
identificados, a fim de orientar pais, educadores e responsáveis para o melhor
desenvolvimento da criança ou adolescente, encontrando ações mais eficazes para
a condução dos mesmos.
Palavras-chave: Dificuldades de Aprendizagem; Desenvolvimento; orientação educacional
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METODOLOGIA
Este estudo foi desenvolvido com base em pesquisas bibliográficas com
diversas abordagens sobre o tema proposto, não tendo a intenção de obter uma
conclusão e sim uma reflexão sobre o papel da Orientação Educacional frente
às dificuldades de aprendizagem no âmbito escolar, promovendo intervenções,
junto aos professores e toda comunidade escolar, na busca do sucesso escolar.
Dentre os autores pesquisados, merecem destaque Porto (2009), Grinspun (2008) e
Guerra (2002), que nos trazem a discussão e análise sobre a orientação educacional
na sua origem, nos seus aspectos legais, na sua história e nas próprias relações que
ela mantém dentro da escola. Os aspectos sociais, políticos, culturais, o advento
das novas tecnologias, inserem os indivíduos dentro de um novo cenário em que
suas ações, fruto desta nova realidade, precisam ser pensadas, analisadas à luz de
uma reflexão sobre esse novo contexto.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8
CAPÍTULO I – DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA . 10
CAPÍTULO II – PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET, WALLON E VYGOSTKY .......................................................................................... 18
CAPÍTULO III - A ATUAÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL ......................... 44
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 52
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 55
ÍNDICE ...................................................................................................................... 57
8
INTRODUÇÃO
Com o tema Dificuldade de Aprendizagem, este trabalho com intuito de
analisar os transtornos que acontecem no âmbito escolar e os desafios que
Orientadores Educacionais precisam enfrentar para sanar tais dificuldades. Através
deste trabalho, alguns distúrbios de aprendizagem e transtornos de comportamento
são identificados e diferenciados, com o objetivo de oferecer a estas crianças e suas
famílias, orientação, encaminhamento e tratamento adequados dentro e fora da
escola.
A visão do Orientador Educacional será discutida diante de mais este desafio
que, geralmente é classificado por professores e até pela família apenas como
incapacidade de aprender, indisciplina, preguiça ou demais conceitos que se
colocam no aluno que não consegue se adaptar ao ambiente escolar, não segue o
ritmo de aprendizagem de sua sala de aula. Na sociedade em que vivemos,
mesmo com seus valores mutilados pelos avanços do tempo e da tecnologia, a
família sempre será a base do indivíduo. A parceria família-escola, mesmo em
tempos de guerras, desamores, ainda é sinônimo de educação de qualidade, pois
esses pilares foram e sempre serão os guias que conduzirão o homem pelo sinuoso
caminho da realização pessoal e profissional. Então, o segundo grande elemento de
formação do indivíduo é a escola. A criança vem para ela com um enorme potencial
de aprendizagem intelectual e convivência social. Sabemos que dois elementos
básicos contribuem para a formação do indivíduo: herança genética e ambiente. Os
avanços da neurociência que possibilitaram o maior conhecimento do funcionamento
do cérebro, mostram a importância do ambiente nos primeiros anos de vida. Até
os três anos de idade é que se estrutura a base da nossa personalidade e nossa
forma de interagir com o mundo.
Este estudo não tem a pretensão e apontar soluções, mas procurará
contribuir para o conhecimento das possíveis causas que levam nossas crianças a
passar por dificuldades, distúrbios de aprendizagem.
O objetivo deste trabalho é esclarecer pais, familiares, professores e
educadores, acerca da linha tênue que existe entre o que pode ser considerado
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normal, uma dificuldade ou transtorno. É importante estar alerta para saber
identificar os sintomas apresentados pela criança, família e escola, pois estes podem
estar intimamente ligados ou relacionados.
Espera-se que este trabalho contribua para que todos envolvidos no processo
educativo possam ter um respaldo legal sobre o tema abordado na pesquisa.
Acredita-se que o estudo venha ajudar para a melhoria das ações de orientadores
educacionais, para que os mesmos possam compreender as dificuldades de
aprendizagem de forma mais abrangente, e que possam de alguma maneira
proporcionar ao educando uma estrutura sólida para um melhor aprendizado.
No primeiro capítulo apresento algumas das dificuldades de aprendizagem
mais reconhecidas. Neste contexto destacam-se as dificuldades na leitura e na
escrita.
No segundo capítulo abordo questões sobre a aquisição e desenvolvimento
da linguagem e como a mesma desenvolve-se na criança, sem deixar de mencionar
as dificuldades no decorrer da mesma. Neste mesmo capítulo, cito alguns autores
como Piaget, Vygotsky e Wallon, e o que os mesmos esclarecem sobre a linguagem
do educando, como também a importância da intervenção precoce.
No terceiro capítulo discorro sobre o papel e importância do Orientador
Educacional no processo de aprendizagem e seu trabalho em conjunto com a escola
compreendendo os comportamentos dos alunos e adotando uma metodologia para
melhor atendê-los e assim melhor desenvolver o aluno de forma integrada. Neste
capítulo, são citados alguns autores como Guerra (2002), Grinspun (2008) e Porto
(2009).
As informações e conhecimentos aqui apresentados de forma organizada e
didática, podem oferecer suporte a professores e também sugerem estudos futuros
na área de dificuldade de aprendizagem, especialmente dificuldade de
aprendizagem na língua escrita e falada.
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CAPÍTULO I – DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA
As dificuldades de aprendizagem mais reconhecidas são as relacionadas ao
desempenho escolar e são representadas pelas dificuldades de aquisição das
habilidades de leitura, escrita e matemática. Tais transtornos são diagnosticados
quando os resultados do indivíduo em testes de leitura, matemática e expressão
escrita estão abaixo do esperado para sua idade, escolarização e nível de
inteligência. Segundo SMITH (2001), as:
“Dificuldades de aprendizagem refere-se não a um único distúrbio, mas a
uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do
desempenho acadêmico. Raramente, elas podem ser atribuídas a uma
única causa: muitos aspectos diferentes podem prejudicar o funcionamento
cerebral, e os problemas psicológicos destas crianças freqüentemente são
complicados, até certo ponto por seus ambientes domésticos e escolares”
(p. 15).
Os transtornos de aprendizagem devem ser diferenciados das dificuldades
escolares devido a :
• Falta de oportunidade, ensino fraco ou fatores culturais.
• Um prejuízo visual ou auditivo pode afetar a capacidade de
aprendizagem e deve ser investigado.
• Retardo mental, quando as dificuldades de aprendizagem são
proporcionais ao nível de funcionamento intelectual.
Autores, professores, terapeutas e pais costumam considerar como
portadores de dificuldades de aprendizagem aquelas crianças que apresentam
dificuldades em adquirir as habilidades de leitura-escrita (mais comuns) e de
matemática (menos apontadas). Podemos compreender esse fato, pois a dificuldade
para adquirir a leitura e escrita ocasionam barreiras para aprendizagem escolar e
desempenho em atividades diárias de uma criança. Essas dificuldades de
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aprendizagem para adquirir os processos simbólicos de leitura-escrita e matemática
são consideradas dificuldades de aprendizagem verbal.
O relacionamento dos símbolos gráficos com os sons que eles representam,
ou seja, a criança precisa perceber que cada símbolo gráfico representa um
determinado som. A compreensão e análise crítica do que foi lido: o indivíduo
percebe os símbolos gráficos, compreende seu significado e assimila os fatos de
acordo com a sua vivência.
A leitura é um processo de compreensão abrangente que engloba aspectos
sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, bem como culturais,
econômicos e políticos. Tanto quanto a fala, a leitura não é um comportamento
natural, mas sim um processo adquirido em longo prazo.
A criança passa, portanto, da aquisição do significado através da observação
e experimentação dos objetos que a rodeiam para a compreensão da palavra falada.
Mesmo na ausência do objeto, será capaz de evocar a sua imagem na memória, o
que caracteriza uma recepção visual e falada do objeto. A seguir a criança passa
para uma fase de expressão da palavra falada, na qual, imitando o adulto, emite
som semelhante a palavra usada por ele para nomear os objetos. Para VILELLA
(1997):
“A criança só começa a dominar o mecanismo da linguagem quando
constrói frases conscientemente e não, quando apenas repete,
automaticamente. A aprendizagem da linguagem baseia-se na associação
da palavra sonora com uma atividade ou situação, adquirindo o som um
significado real”. (p. 15)
1.1 – DISLEXIA
Segundo AQUINO (2006), a Dislexia é um tipo de distúrbio de leitura que
colocamos como causa porque provoca uma dificuldade específica na aprendizagem
da identificação de símbolos gráficos, mesmo que a criança apresente uma
inteligência normal, integridade sensorial e receba estímulo e ensinos adequados.
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Para GARCIA (1998 apud GUERRA 2002), a dislexia deve ser entendida
como um transtorno específico que algumas pessoas possuem para processar a
informação procedente da linguagem escrita como conseqüência de certos déficits
neuropsicológicos dos sistemas funcionais que são responsáveis por esse processo,
apesar de possuírem uma inteligência normal de um potencial de aprendizagem
adequado às suas idades cronológicas.
A Dislexia, segundo GARCIA (1997 apud GUERRA 2002), é definida devido à
presença de um déficit no desenvolvimento do raciocínio do reconhecimento e
compreensão dos textos escritos. Este transtorno não tem relação com o retardo
mental, com uma defasada escolarização, com um déficit visual ou auditivo, nem tão
pouco a um problema neurológico.
A Dislexia caracteriza-se por uma leitura oral lenta, com omissões, distorções
e substituições de palavras, com paradas, correções e bloqueios, ocorrendo também
um transtorno na compreensão da leitura. A dislexia pode se manifestar de vários
modos a saber:
a) Dislexia da linguagem interior – A criança percebe os grafemas e
decodifica para os equivalentes auditivos, lendo alto, simplesmente. A função
significadora não é atingida (a criança só repete as palavras). Esta é a forma mais
severa das dislexias.
b) Dislexia auditiva – Afeta o processo cognitivo que relaciona os fonemas
com os grafemas na formação das palavras. A visualização pressupõe a
auditorização dos grafemas, isto é, a capacidade de simbolizar e codificar a
informação.
c) Dislexia visual – Dificuldade de discriminação visual inerente às
características das letras: tamanho, forma, linhas retas ou curvas, ângulos,
orientação vertical e horizontal. Quando as letras não são reconhecidas como letras,
temos uma dislexia visual.
A criança disléxica faz confusão de letras e/ou fonemas semelhantes. Além
de discriminar mal os sons, pode também confundir os sinais gráficos,
principalmente por não distinguir a posição deles no espaço. Confunde D com T, D
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com B, V com N ou M, F com V etc. Esta confusão de símbolos torna a leitura lenta,
incompressível com voz baixa e monótona. Pode saltar palavras, tentar adivinhar o
que está escrito; pode omitir ou agregar sons ou palavras, dizer palavras sem
sentido, repetir palavras ou sílabas.
A dislexia divide-se em dois tipos distintos: dislexia com alterações viso-
espaciais e motrizes e dislexia com alterações verbais e de ritmo.
A escrita espelhada, confusões e inversões na escrita, problema motor e
disgrafias seriam viso-espaciais e motrizes. Os transtornos de linguagem, dislalias,
inversões, pobreza de expressões, pouca fluência verbal, compreensão baixa de
regras sintáticas, dificuldades para relatar fatos, etc, seriam características da
dislexia com alterações verbais e de ritmo. “A dislexia é uma dificuldade de
aprendizagem na qual a capacidade de uma criança para ler ou escrever está por
baixo de seu nível de inteligência”. (FONSECA; 1995, pg. 68)
Segundo AQUINO (2006), a escrita é uma das formas superiores de
linguagem e requer que a pessoa seja capaz de conservar a idéia que tem em
mente e passar para o papel. Escrever significa relacionar os signos verbais, que já
é um significado, a um signo gráfico, ou seja, planejar e esquematizar a colocação
correta de palavras ou idéias no papel.
Na escrita estabelece-se uma relação entre a audição (palavra falada), o
significado (vivência da criança) e a palavra escrita. Quando a criança interioriza o
significado do objeto, seu processo de escrita fica mais fácil. Ao copiar uma palavra
à criança deverá ser capaz de :
• Fazer descriminação visual de cada detalhe de palavra;
• Relacionar os símbolos impressos aos sons e aos movimentos
fonoarticulatórios;
• Observar o traçado gráfico de cada letra da palavra;
• Ter em sua vivência o significado da palavra copiada;
• Reproduzir graficamente a palavra no papel;
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Segundo AQUINO (2006), como existe relação entre a palavra impressa e o
som, é preciso primeiro que a criança aprender a ler, para depois escrever.
A escrita é uma representação da linguagem oral, contudo, a mesma passa
por diferentes estágios de desenvolvimento. A evolução da escrita na criança é
umas tendências naturais, expressivas e representativas, que expõe seu mundo
próprio. Há aspectos importantes que devem ser considerados no desenvolvimento
gráfico:
• Desenvolvimento da linguagem oral: ao escrever, a criança
precisa falar corretamente os sons das palavras.
• Desenvolvimento das habilidades de orientação espacial e
temporal: ao escrever, a criança deve respeitar a sequência dos sons e da
estruturação no espaço.
• Desenvolvimento da coordenação visomotora: a criança deve ter
movimentos coordenados dos olhos, braços, mão e também uma pegada
perfeita no lápis.
• Memória visual e auditiva: problemas de discriminação auditiva
podem ter reflexos tanto na escrita quanto na leitura e na fala; as crianças que
tem dificuldades na aprendizagem visual enfrentam um problema ainda maior
para adquirir a palavra escrita.
• Motivação para aprender: a criança precisa ter um bom
relacionamento com os pais, professores e colegas, para que se sinta
estimulada a escrever.
Encontra-se três tipos básicos de dificuldades na escrita: as disgrafias, as
disortografias e os erros de formulação e sintaxe.
1.2 - DISGRAFIA
A disgrafia é a dificuldade de passar para a escrita o estímulo visual da
palavra impressa, caracterizando um traçado lento das letras, que em geral são
ilegíveis.
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A criança com disgrafia, não é portadora de deficiência visual nem motora,
nem tampouco de qualquer comprometimento intelectual ou neurológico, mesmo
assim não consegue idealizar no plano motor o que captou no plano visual.
Existem vários níveis de disgrafia, desde a incapacidade de segurar um lápis
ou de traçar uma linha, até mesmo aquelas crianças que conseguem fazer desenhos
simples, porém, não são capazes de copiar figuras ou palavras mais complexas. As
crianças mais velhas conseguem reproduzir legivelmente uma palavra, mas
distorcem a seqüência dos movimentos quando escrevem.
Segundo AQUINO (2006), os principais tipos de erros da criança disgráfica
são:
• apresentação desordenada do texto;
• margens malfeitas ou inexistentes;
• espaço irregular entre as palavras, linhas e entrelinhas;
• traçado de má qualidade:tamanho pequeno ou grande, pressão
leve ou forte, letras irregulares e retocadas;
• distorção da forma das letras o e a;
• substituição de curvas por ângulos;
• movimentos contrários aos da escrita convencional;
• separação inadequada das letras;
• ligações defeituosas de letras na palavra;
• irregularidade no espaçamento das letras na palavra;
• direção da escrita oscilando para cima e para baixo;
• dificuldades na escrita e no alinhamento dos números na página.
A disgrafia é representada pelas dificuldades de escrita que se referem à
grafia. A escrita envolve somente um problema de motricidade fina, de coordenação
viso-motora e compreende a fase de execução ou fase gráfica.
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1.3 - DISORTOGRAFIA
A disortografia refere-se à incapacidade de transcrever corretamente a
linguagem oral, ocorrendo trocas ortográficas e confusão de letras. Essas trocas são
normais durante o 2º e 3º ano do Ensino Fundamental, porque as crianças ainda não
fazem relação entre a palavra impressa e o som.
Esse tipo de dificuldade na escrita, não influencia na qualidade do traçado das
letras, porém o professor precisa estar atento, avaliando os transtornos ortográficos
apresentados por seus alunos, principalmente aqueles que apresentam troca de
letras ou sílabas de palavras que já foram conhecidas e trabalhadas em sala de
aula.
De acordo com Aquino (op. cit), os principais tipos de erros que a criança com
disortografia geralmente apresentam são:
• Confusão de letras (trocas auditivas): consoantes surdas por
sonoras: f/v; p/b; ch/j; vogais nasais por orais: na/a; em/e; in/i; on/o; um/u.
• Confusão de sílabas com tonicidade semelhante:
cantaram/cantarão.
• Confusão de letras (trocas visuais): simétricas: b/d; p/q;
semelhantes: e/a; b/h; f/t.
• Confusão de palavras com configurações semelhantes:
pato/pelo.
• Uso de palavras com o mesmo som para várias letras:
casa/caza; asar/azar ; exame/ezame.
Além dessas trocas podem surgir outras dificuldades em recordar a seqüência
dos sons das palavras que são elaboradas mentalmente. Surgem então:
• omissões;
• adições;
• inversões;
• fragmentações;
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• junções.
Segundo AQUINO (2006), podemos observar que as dificuldades na
aquisição da leitura estão relacionadas às dificuldades de aquisição da escrita, ou
seja, a dislexia está relacionada a disortografia.
1.4 - ERROS DE FORMULAÇÃO E SINTAXE
Segundo AQUINO (op.cit), esse tipo de transtorno refere-se a casos em que a
criança consegue ler com fluência e apresenta uma linguagem oral perfeita,
assimilando e copiando as palavras, porém não consegue sintetizar, ou seja, não
consegue escrever cartas, histórias e nem dar respostas a perguntas em provas.
Quando escreve apresenta erros que não comete na forma falada. Além disso, não
consegue passar para a escrita, os conhecimentos que adquiriu na linguagem oral.
A criança que apresenta esse tipo de transtorno sente-se capaz de
acompanhar seus colegas de classe, em atividades escolares até o momento em
que é solicitada a transferência do que foi conhecido oralmente para a escrita, o que
se torna frustrante para o aluno. Apesar da complexidade do problema, é possível
atingir um progresso desejável, desde que a criança seja encaminhada para um
tratamento adequado.
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CAPÍTULO II – PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET, WALLON E VYGOSTKY
2.1 - PIAGET: UMA VISÃO PSICOGENÉTICA DA APRENDIZAGEM
O texto apresenta, inicialmente uma visão geral das idéias de Jean Piaget,
seguida da abordagem de alguns aspectos de sua obra relacionados à construção
do conhecimento através de estádios e dos fatores que os influenciam, concluindo
com uma discussão da definição e diferenciação dos conceitos piagetianos de
desenvolvimento, aprendizagem e conhecimento.
Para PIAGET (1974) a aprendizagem refere-se à aquisição de uma resposta
particular, aprendida em função da experiência, seja ela obtida de forma sistemática
ou não. O desenvolvimento seria uma aprendizagem no sentido lato e ele é o
responsável pela formação dos conhecimentos. Sendo assim, Piaget interessou-se
muito mais em descrever e analisar o desenvolvimento da criança e não suas
aprendizagens. PIAGET (2003) confirma que conhecer á atuar diante da realidade
que nos envolve. O sujeito conhece na medida em que modifica a realidade através
das suas ações. E isso serve tanto para o bebê que faz soar um chocalho como para
uma criança que coloca, um ao lado de outro, objetos que se parecem, ou para um
jovem que experimenta a flexibilidade de uma série de varetas.
De acordo com SALVADOR (2000) o ponto essencial do construtivismo
piagetiano é o sujeito construir espontaneamente os seus conhecimentos por meio
da interação com a realidade que o envolve. Isso não significa que os
conhecimentos já existem e que ele os assimile com as suas ações. O mais
importante é que a interação constante entre o sujeito e a realidade permite ao
mesmo tempo, construir novos esquemas e permite, ao sujeito atribuir à realidade
significados diferentes.
Na teoria piagetiana, o “ser social” de mais alto nível é justamente aquele que
consegue relacionar-se com seus semelhantes da forma equilibrada. A maneira de
ser social de um adolescente é uma, e a maneira de ser social de uma criança de
cinco anos é outra, justamente porque ainda não é capaz de participar de relações
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sociais que expressam um equilíbrio de trocas intelectuais. E segundo LA TAILLE
(1992) “as principais etapas do desenvolvimento das operações lógicas, correspondem, de
maneira relativamente simples, estágios correlativos do desenvolvimento social” (p. 14).
PIAGET (2003) considera abusivo falar em real socialização da inteligência.
Porque a criança não tem a capacidade de aderir a uma escala comum de
referência, condição necessária ao verdadeiro diálogo; não conserva
necessariamente, durante uma conversa, as definições que ela mesma deu e as
afirmações que ela mesma fez; tem extrema dificuldade em se colocar no ponto de
vista de outro, fato que a impede de estabelecer relações de reciprocidade. Essas
três características juntas representam o que Piaget chamou de pensamento
egocêntrico. Tal pensamento está centrado no “eu” que na verdade, significa
também que a criança ainda não tem domínio de seu “eu” e que, longe de ser
autônoma, ainda é heterônoma nos seus modos de pensar e agir. E as noções do
“eu” e do “outro” são construídas conjuntamente, num longo processo de
diferenciação. É justamente esta relativa indiferenciação que determina o tipo de ser
social que uma criança ainda é no estágio pré-operatório. A qualidade de suas
trocas intelectuais define-se num grau de socialização precário, em que ela se
encontra isolada dos outros, não por estar plenamente consciente de si e fechada
em si mesma por alguma decisão autônoma, mas por não conseguir usufruir da
troca intelectual. E só no estágio operatório que essas trocas começarão a se
efetuar e, concomitantemente, a personalidade que:
“Em oposição ao egocentrismo inicial, o qual consiste em tomar o ponto de
vista próprio como absurdo, por falta de poder perceber seu caráter
particular, a personalidade consiste em tomar consciência desta
relatividade da perspectiva individual e a colocá-la em relação com o
conjunto das outras perspectivas possíveis: a personalidade é, pois, uma
coordenação da individualidade com o universal (PIAGET, 1977 apud LA
TAILLE, 1992. p. 16-17)”.
PIAGET (2003) distingue quatro períodos gerais de desenvolvimento
cognitivo:
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a) Período sensório-motor: Este estágio vai do nascimento até cerca de dois
anos de idade. A criança, neste estágio, não diferencie o seu eu do meio que a
rodeia: ela é o centro e os objetos existem em função dela. Suas ações não são
coordenadas, cada uma delas é ainda algo isolado e a única referência comum e
constante é o próprio corpo da criança, decorrendo daí um egocentrismo
praticamente total. Até que no fim do período sensório-motor, a criança pode
manipular objetos em seu meio para satisfazer suas necessidades (AQUINO, 2008).
O período sensório-motor caracteriza-se pela construção de esquemas de ação que
possibilitam à criança assimilar objetos e pessoas. PIAGET (1994) caracteriza o
referido estágio pela construção prática das noções de objeto, espaço, causalidade
e tempo, necessárias à acomodação (ajustamento) destes esquemas aos objetos e
pessoas com os quais interage. O período sensório-motor caracteriza-se por uma
inteligência prática, que coordena no plano da ação os esquemas que a criança
utiliza. É a fase caracterizada por um contato direto, isto é, sem representação,
pensamento ou linguagem, da criança com objetos ou pessoas. Construindo seus
esquemas de ação e as categorias da realidade, graças à composição de uma
estrutura de grupo de deslocamentos, a criança vai pouco a pouco diferenciar e
integrar os esquemas de ação entre si, ao mesmo tempo em que se separa,
enquanto sujeito, dos objetos, podendo, por isso mesmo, interagir de forma mais
complexa com eles. O acabamento do período sensório-motor coincide com uma
novidade extremamente importante para o desenvolvimento da criança, que é sua
nova capacidade de substituir um objeto ou acontecimento por uma representação.
A função simbólica, para Piaget, é o que possibilita esta substituição e ela significa
que, agora, a criança é capaz de duplicar objetos ou acontecimentos por uma
palavra, por um gesto, por uma lembrança, ou seja, é capaz de evocá-los em sua
ausência. Trata-se de uma novidade importante porque a interação direta, e por isso
limitada, ainda que intensa, do período sensório-motor dá lugar à interação mediada
por imagens, lembranças, imitações diferidas, jogos simbólicos, evocações verbais,
desenhos, dramatizações. Esta é a novidade específica do período pré-operatório:
poder representar, ter que substituir objetos ou acontecimentos por seus
equivalentes simbólicos, agir agora "como se", ou seja, por simulação (PIAGET,
1974).
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b) Período pré-operacional: De acordo com PIAGET (1994) o período
seguinte é o pré-operacional, que vai dos dois aos seis ou sete anos. Com o uso da
linguagem, dos símbolos e imagens mentais, inicia-se uma nova etapa do
desenvolvimento mental da criança. Sua atenção volta-se para os aspectos mais
atraentes dos acontecimentos e suas conclusões são também as mais atraentes
perceptualmente. Podendo cair, facilmente, em contradições. A criança continua em
uma perspectiva egocêntrica e suas explicações são dadas em função de suas
experiências, podendo, ou não, ser coerentes com a realidade.
c) Período operacional-concreto: A idade de 7 a 8 anos assinala, em geral,
início do período operacional-concreto, que se estende até 11 ou 12 anos. Nesse
período, verifica-se uma descentralização progressiva em relação à perspectiva
egocêntrica que caracterizava a criança até então. O pensamento da criança, agora
mais organizado, possui características de uma lógica de operações reversíveis.
Durante esse período, a criança ganha precisão no contraste e comparação de
objetos reais e torna-se capaz, de predizer qual o recipiente que contém mais água,
por exemplo. Ela ainda tem dificuldade de operar com hipóteses, com as quais
poderia raciocinar independentemente, de saber se são falsas ou verdadeiras. A
criança recorre a objetos e acontecimentos concretos presentes no momento.
d) Período operacional concreto: PIAGET (1974) afirma que por volta dos
onze ou doze anos, inicia-se o quarto e último período de desenvolvimento mental
que passa pela adolescência e prolonga-se até a idade adulta: é o período das
operações formais. A principal característica deste período é a capacidade de
raciocinar com hipóteses verbais e não apenas com objetos concretos. O ponto de
partida é a operação concreta, porém o adolescente transcende este estágio:
formula os resultados das operações concretas sob a forma de proposições e
continua a operar mentalmente com eles. O adolescente torna-se capaz de fazer
raciocínios hipotético-dedutivos. A dedução lógica é um de seus novos instrumentos,
ele passa a buscar hipóteses gerais que possam explicar fatos observáveis que
tenham ocorrido.
Ocorre que a teoria de Piaget não é propriamente uma teoria de
aprendizagem e sim uma teoria de desenvolvimento mental. Piaget não enfatiza o
conceito de aprendizagem, talvez por não concordar com a definição usual de
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“modificação do comportamento resultante da experiência”. Esta definição traz
consigo uma idéia de dependência passiva do meio ambiente, enquanto que,
segundo PIAGET (1994), na assimilação, o organismo se impõe ao meio (na
acomodação, a mente se reestrutura para adaptar-se ao meio). Piaget prefere,
então, falar em “aumento do conhecimento”, analisando como isto ocorre: só há
aprendizagem (aumento de conhecimento) quando o esquema de assimilação sofre
acomodação (AQUINO, 2008).
Para LA TAILLE (1992) estes esquemas tendem a incorporar os elementos
que lhes são exteriores e compatíveis com sua natureza. O esquema de
classificação, por exemplo, tende a classificar tudo o que é classificável; as teorias
explicativas são também esquemas de assimilação da realidade. Tais esquemas, no
entanto, tendem a assimilar-se mutuamente em estruturas cada vez mais amplas,
móveis e estáveis, até alcançarem o poder de “manipular” todos os “possíveis”.
Quando um esquema se reestrutura e adota um modelo mais eficiente de ação, diz-
se que houve acomodação do esquema. A “estrutura cognitiva” de um indivíduo é,
pois, um complexo de esquemas de assimilação que, segundo Piaget, tendem a
organizar-se segundo os modelos matemáticos de grupo e rede.
PIAGET (2003) considera as ações humanas, e não as sensações, como a
base do comportamento humano. Tudo no comportamento parte da ação. Até
mesmo a percepção é, para ele, uma atividade e a imagem mental é uma imitação
interior do objeto. O comportamento motor, verbal e mental é, simplesmente, a
estruturação dos movimentos do organismo em esquemas que evoluem para os
modelos matemáticos de grupo ou de rede. Pode-se falar em ação sensório-motora,
ação verbal e ação mental. O pensamento é, simplesmente, a interiorização da
ação.
Piaget distingue aprendizagem de maturação, destacando que a maturação é
baseada exclusivamente em processos fisiológicos e distingue aprendizagem de
conhecimento, pois, para ele, o conhecimento se define pela soma de coordenações
que, tendo passado por um lento processo de desenvolvimento, encontram-se
disponíveis para o organismo em determinado estágio. Já o conceito de
aprendizagem, em sentido estrito, está diretamente vinculado às aquisições que
decorrem, fundamentalmente, das contribuições provenientes do meio externo.
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Desta forma, Piaget diferencia, também, a aprendizagem do processo de
equilibração que regula o desenvolvimento dos esquemas operativos de acordo com
as contribuições internas ao organismo. Toda aprendizagem pressupõe a utilização
de mecanismos não aprendidos, ou seja, pressupõe a utilização de um sistema
lógico (ou pré-lógico) capaz de organizar as novas informações. Este sistema
encontra-se, justamente, no terreno da equilibração (PALANGANA, 2001).
Toda situação de aprendizagem implica uma discordância entre um esquema
reacional e a realidade – um objeto ou situação. Quando isto acontece, se
estabelece certo equilíbrio entre a assimilação e acomodação. A assimilação
designa o fato de que iniciativa na interação do sujeito com o objeto é do organismo.
Segundo PIAGET (2003), o indivíduo constrói esquemas de assimilação mentais
para abordar a realidade. Obviamente, muitas vezes os esquemas de ação da
criança, ou mesmo de um adulto, não conseguem assimilar determinada situação.
Neste caso, o organismo (mente) desiste ou se modifica. No caso de modificação,
ocorre o que o Piaget chama de “acomodação”. E através das acomodações que se
dá o desenvolvimento cognitivo. Se o meio não apresenta problemas, dificuldades, a
atividade da mente é, apenas, de assimilação, porem, diante deles, ela se
reestrutura (acomodação) e se desenvolve. Não há acomodação sem assimilação,
pois acomodação é reestruturação da assimilação. O equilíbrio entre assimilação e
acomodação é a adaptação à situação. Experiências acomodadas dão origem,
posteriormente, a novos esquemas de assimilação e um novo estado de equilíbrio é
atingido. Novas experiências, não assimiláveis, levarão a novas acomodações e a
novos equilíbrios (adaptações) cognitivos. Este processo de equilibração prossegue
até o período das operações formais e continua, na idade adulta, em algumas áreas
de experiência do indivíduo (AQUINO, 2008).
Os esquemas de assimilação representam a forma de agir do organismo
frente à realidade. A partir destes conceitos é desenvolvida a ideia de “estrutura
cognitiva”, dentro da teoria piagetiana, que AQUINO (2008), afirma que:
“A mente é um conjunto de esquemas que se aplicam à realidade. Estes
esquemas caracterizam o desenvolvimento intelectual como constituído de
períodos, que podem ser substituídos em estágios, isto é, a criança
constrói esquemas de assimilação com os quais aborda a realidade, porém
24
estes esquemas vão evoluindo à medida que a criança de desenvolve
mentalmente” (p 63).
Na teoria piagetiana, só há aprendizagem quando há acomodação, que é
uma reestruturação do esquema de assimilação existente na ‘estrutura cognitiva’ do
indivíduo, resultando em novos esquemas de assimilação. Contudo, quando o
equilíbrio é rompido por experiências que não foram devidamente assimiladas, o
organismo, nesse caso, a mente, se reestrutura, a fim de construir novos esquemas
de assimilação e atingir novo equilíbrio. Este processo é chamado por Piaget, de
processo de equilibração majorante, e é nele que o comportamento humano é
totalmente construído em interação com o meio físico e sócio-cultural (PIAGET,
1974).
PALANGANA (2001) confirma que o sistema de equilibração na teoria
piagetiana, cuja natureza não é nem hereditária nem adquirida, trata-se de um
mecanismo de ordem mais geral, que se estrutura graças às condições oferecidas
pela conjugação da maturação com a ação da criança. A equilibração se explica
pelo fato de que, nas etapas sucessivas, as formas pelas quais os esquemas
operam apresentam sempre uma probabilidade crescente em complexidade e
plasticidade, tendo em vista os resultados obtidos nas etapas antecedentes. O
sistema de equilibração coloca-se como elo entre o desenvolvimento e
aprendizagem, combinando os fatores de ação externa com os fatores de
organização interna, inerentes à estrutura cognitiva.
Piaget identifica dois tipos de aprendizagem: num sentido estrito e num
sentido amplo. No sentido estrito, a aprendizagem refere-se aos conteúdos
adquiridos em função da experiência. Já a aprendizagem em sentido amplo
compreende as aquisições que não devidas, diretamente, à experiência, mas
construídas por processos dedutivos. PALANGANA, (2001) finaliza o raciocínio com
a colocação a seguir:
“Como todo conteúdo só pode ser atingido pela mediação de uma forma,
não é difícil perceber que, na concepção de Piaget, o processo de
aprendizagem é subjugado ao processo de desenvolvimento, sendo por
este condicionado. Ora, admitir que o processo de desenvolvimento
25
antecede a aprendizagem significa priorizar a atividade do sujeito em
detrimento das contribuições provenientes do objeto de conhecimento (do
meio social)” (p.77).
Piaget considera as reações cognitivas e emocionais como interdependentes
em seu funcionamento, como duas caras da mesma moeda. Ambas acham-se
indissociavelmente unidas no funcionamento da personalidade, não significando que
a afetividade seja determinada pela atividade intelectual ou vice-versa. Tanto na vida
afetiva quanto a cognitiva são uma adaptação, implicando ambas uma constante
assimilação e acomodação que, no caso da afetividade, adquire esquemas afetivos
ou modos relativamente estáveis de sentir e reagir em sua realidade (CAMPOS,
2001).
PIAGET (2003) assegura que quanto mais uma teoria de aprendizagem se
distancia das necessidades do sujeito mais ela terá que apelar para fatores
motivacionais externos, a fim de explicar o desencadeamento do processo de
aprendizagem. Quando ocorre este privilégio da motivação em detrimento das
necessidades, o aspecto cognitivo da aprendizagem aparece como não contendo
nenhuma contribuição efetiva por parte do sujeito. Isto equivale a dizer que os
conhecimentos adquiridos graças à ação das crianças são vistos como sendo
fundamentalmente determinados pela natureza dos objetos aos quais ela se dirige,
reduzindo as contribuições do sujeito aos interesses que ativam tais aquisições.
Opondo-se a essa postura, PIAGET (1994) entende que a necessidade e a
estrutura cognitiva são dois aspectos indissociáveis da conduta humana: o
aparecimento da necessidade é sempre solidário a um determinado nível de orga-
nização estrutural, sem o que os desequilíbrios não poderiam ocorrer. A
necessidade é uma das manifestações da dinâmica afetivo-cognitiva da estrutura
mental que exprime uma tensão momentânea ou desequilíbrio. E justamente este
sistema de organização estrutural que determina a possibilidade de essa
necessidade ter sido constituída. Assim, de acordo com o raciocínio piagetiano, é
pertinente acreditar que as situações de aprendizagem devem ter em conta a
necessidade da criança ao invés de se ocupar com as motivações provenientes do
meio físico ou social (PALANGANA, 2001).
26
Quando PIAGET (1994) fala em aprendizagem no sentido geral, ele está se
reportando ao processo de desenvolvimento. Na verdade, aprendizagem
propriamente dita equivale tão-somente à aquisição de novos conteúdos. Como todo
conteúdo só pode ser atingido pela mediação de uma forma, não é difícil perceber
que, na concepção de Piaget, o processo de aprendizagem é subjugado ao
processo de desenvolvimento, sendo por este condicionado. Ora, admitir que o
processo de desenvolvimento antecede a aprendizagem significa priorizar a
atividade do sujeito em detrimento das contribuições provenientes do objeto de
conhecimento (do meio social). A aprendizagem tem mais chance de ser efetiva
quando pautada sobre as necessidades da criança. Primeiro, porque o interesse
parte da própria criança, revelando que seu nível de organização mental está apto a
realizar tal aquisição, já que a necessidade traz implícitas as formas ou estruturas
cognitivas das quais a criança dispõe. Segundo, porque a aprendizagem passa a ser
o meio através do qual a necessidade pode ser satisfeita, a aprendizagem passa a
ser necessária.
Os princípios piagetianos que orientam esta análise em torno da origem dos
estímulos para a ação, se provenientes da motivação externa ou da necessidade
interna, se encontram, também, na base do exame crítico que Piaget desenvolve
sobre a significação do reforço. PIAGET (1994) distingue os reforços externos, que
se devem a uma influência dos objetos sobre o sujeito, dos reforços internos, que
derivam de um prazer funcional consequente da atividade do sujeito. A primeira
forma de reforçamento - reforço externo - só apresenta resultado satisfatório e,
portanto, só se justifica quando a situação de aprendizagem caracteriza-se como
sendo uma experiência essencialmente física, empírica, pois, neste caso, a criança
não experiência uma real necessidade. Ao contrário, ela simplesmente pressente um
estado. Segundo Piaget, o reforço externo exprime, apenas, a influência do objeto
ou do meio externo sobre o sujeito na aquisição de um modo de conhecimento
(CAMPOS, 2001).
Através de suas pesquisas, PIAGET (2003) confirma que o desenvolvimento
do pensamento só se verifica no processo de interação. No entanto, nessa dinâmica
interativa, o sujeito do conhecimento adquire primazia sobre o objeto a ser
conhecido, uma vez que ele detém as condições básicas para que tal
27
desenvolvimento ocorra, quais sejam: a maturação biológica e os mecanismos de
adaptação e organização. Sobretudo, é principalmente através da ação do sujeito
individual, e não do meio sobre ele, que o conhecimento se estrutura (PALANGANA,
2001).
As implicações da teoria piagetiana são óbvias e de grande importância:
educar significa, pois, provocar o desequilíbrio no organismo e da mente da criança
para que ela, procurando o reequilíbrio, se reestruture cognitivamente e aprenda. O
mecanismo de aprender da criança é sua capacidade de reestruturar-se
mentalmente buscando um novo equilíbrio, criando novos esquemas de assimilação
para adaptar-se à nova situação. (AQUINO, 2008).
2.2 - WALLON: A AFETIVIDADE E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
WALLON (2007) propunha a construção do conhecimento como um processo
elaborado conjuntamente, a partir das relações com as pessoas, tendo em vista a
criança em seu âmbito, cognitivo, afetivo e motor. Para melhor entendimento da
relação existente entre esses domínios, Wallon recorre ao universo infantil para que,
por meio de suas manifestações e atitudes, seja possível ingressar na origem dos
processos psíquicos. Sendo assim, concebe a infância como fonte para
compreensão da evolução psíquica do homem, além de ser uma fase que apresenta
inúmeras transformações, considerando ainda o ambiente e seus recursos como
fundamentais para o aprimoramento da criança. Destacando ser indispensável a
mediação e a estimulação do ambiente externo, a fim de propiciarem interações e
vivências, cooperando para o alargamento de suas possibilidades de formação do
ser humano. Dessa forma, durante todo processo de desenvolvimento ocorre
alternância ou predominância dos campos funcionais, os quais se manifestam nas
diferentes estágios da vida humana. Esses estágios são: impulsivo-emocional,
sensório-motor e projetivo, personalismo, categorial e adolescência. Os estágios
citados têm suas particularidades que se alternam de pessoa para pessoa, devido à
influência de fatores culturais e ambientais no espaço em que a criança vive
(GALVÃO, 2008).
28
WALLON (2007) assegura que os estágios aparecem como estruturas de
relações, que resultam do equilíbrio entre as possibilidades funcionais que permitem
a maturação em cada idade e as circunstâncias do meio que lhes correspondem. Em
toda sua teoria, Henri Wallon demonstra a importância de orientar cada fase do
desenvolvimento infantil, ao adotar como eixo temático: a emoção, a cognição, a
motricidade e a personalidade com intuito de questionar as práticas pedagógicas e
desse modo, gerar discussões que possam nortear novas possibilidades de um
aprendizado pleno que considera movimento, emoção e cognição. Os elementos
físicos do espaço, as pessoas próximas, a linguagem, os signos e os próprios
conhecimentos são aspectos que fomentam o desenvolvimento e possibilitam
inúmeras formas de atuação, conduta, valores e movimentos. Tal processo ocorre
paulatinamente e a criança vai evoluindo e interagindo com o meio ambiente, dele
extraindo seus recursos e desenvolvendo-se a cada fase.
GALVÃO (2008) confirma que as atividades lúdicas, quando presentes
durante a infância, promovem o conhecimento dos elementos cristalizados pela
cultura, pois são um espaço de vivências, maneiras de atuar na vida real, conhecer
objetos e iniciar a busca pela sua própria identidade.
A infância como período único, com inúmeras transformações e
peculiaridades, tem nos jogos e nas brincadeiras uma fonte privilegiada para o
conhecimento, a expressão de sentimentos, alegria, tristeza, criatividade, saberes e
movimentos. Segundo WALLON (2007), os jogos são atividades próprias da
criança, as atividades lúdicas não são realizadas como meio para alcançar
determinado objetivo ou coisa.
De acordo com GALVÃO (2008) o estudo da criança contextualizada
possibilita que se perceba que, entre os seus recursos e os de seu meio, instala-se
uma dinâmica de determinações recíprocas: a cada idade estabelece-se um tipo
particular de interações entre o sujeito e seu ambiente. Os aspectos físicos do
espaço, as pessoas próximas, a linguagem e os conhecimentos próprios a cada
cultura formam o contexto do desenvolvimento. Conforme as disponibilidades da
idade, a criança interage mais fortemente com um ou outro aspecto de seu contexto,
retirando dele os recursos para o seu desenvolvimento. Com base nas suas
competências e necessidades, a criança tem sempre a escolha do campo sobre o
29
qual aplicar suas condutas. O meio não é uma entidade estática e homogênea, mas
transforma-se juntamente com a criança.
A partir de seus estudos MAHONEY (2008) assegura que os fatores
orgânicos são os responsáveis pela sequência fixa que se verifica entre os estágios
do desenvolvimento, contudo não garantem uma homogeneidade no seu tempo de
duração. Podem ter seus efeitos amplamente transformados pelo meio social, o qual
se insere cada existência individual e mesmo por deliberações voluntárias do sujeito.
Por isso a duração de cada estágio e as idades a que correspondem são referências
relativas e variáveis, em dependência de características individuais e das condições
de existência. O ritmo pelo qual se sucedem as etapas é descontínuo, marcado por
rupturas, retrocessos e reviravoltas. Cada etapa traz uma profunda mudança nas
formas de atividade do estágio anterior. Ao mesmo tempo, condutas típicas de
etapas anteriores podem sobreviver nas seguintes, configurando encavalamentos e
sobreposições. A psicogenética walloniana (LA TAILLE, 1992) contrapõe-se às
concepções que vêem no desenvolvimento uma linearidade e o encaram como
simples adição de sistemas progressivamente mais complexos, que resultariam da
reorganização de elementos presentes desde o início. Para WALLON (2007), a
passagem de um a outro estágio não é uma simples ampliação, mas uma
reformulação. Com frequência, instala-se, nos momentos de passagem, uma crise
que pode afetar visivelmente a conduta da criança.
Segundo a perspectiva walloniana (GALVÃO, 2008) o desenvolvimento
infantil é um processo pontuado por conflitos. Conflitos de origem exógena, quando
resultantes dos desencontros entre as ações da criança e o ambiente exterior,
estruturado pelos adultos e pela cultura. De natureza endógena, quando gerados
pelos efeitos da maturação nervosa. Até que se integrem aos centros responsáveis
por seu controle, as funções recentes ficam sujeitas a aparecimentos intermitentes e
entregues a exercícios de si mesmas, em atividades desajustadas das
circunstâncias exteriores. WALLON (2007) vê o desenvolvimento da pessoa como
uma construção progressiva em que se sucedem fases com predominância
alternadamente afetiva e cognitiva. Cada fase tem um colorido próprio, uma unidade
solidária, que é dada pelo predomínio de um tipo de atividade. As atividades
30
predominantes correspondem aos recursos que a criança dispõe, no momento, para
interagir com o ambiente.
a) Estágio impulsivo-emocional: Neste estágio, abrange o primeiro ano de
vida, o colorido peculiar é dado pela emoção, instrumento privilegiado de interação
da criança com o meio. Resposta ao seu estado de imperícia, a predominância da
afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas, as quais intermediam
sua relação com o mundo físico; a exuberância de suas manifestações afetivas é
diretamente proporcional a sua inaptidão para agir diretamente sobre a realidade
exterior (GALVÃO, 2008).
b) Estágio sensório-motor: Até o terceiro ano, o estágio sensório-motor e
projetivo é presente e o interesse da criança se volta para a exploração sensório-
motora do mundo físico. A aquisição da marcha e da preensão possibilitam-lhe maior
autonomia na manipulação de objetos e na exploração de espaços. Outro marco
fundamental deste estágio é o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem.
O termo "projetivo" empregado para nomear o estágio deve-se à característica do
funcionamento mental neste período: ainda nascente, o pensamento precisa do
auxílio dos gestos para se exteriorizar, o ato mental "projeta-se" em atos motores.
Ao contrário do estágio anterior, neste predominam as relações cognitivas com o
meio (MAHONEY, 2008).
c) Personalismo: Este estágio cobre a faixa dos três aos seis anos, e a
tarefa central é o processo de formação da personalidade. A construção da
consciência de si, que se dá por meio das interações sociais, reorienta o interesse
da criança para as pessoas, definindo o retomo da predominância das relações
afetivas (op. cit.)
d) Categorial: Por volta dos seis anos, inicia-se o estágio categorial, que,
graças à consolidação da função simbólica e à diferenciação da personalidade
realizadas no estágio anterior, traz importantes avanços no plano da inteligência. Os
progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para as coisas, para o
conhecimento e conquista do mundo exterior, imprimindo às suas relações com o
meio a preponderância do aspecto cognitivo (GALVÃO, 2008).
31
e) Adolescência: Neste estágio, a crise pubertária rompe a "tranquilidade"
afetiva que caracterizou o estágio categorial e impõe a necessidade de uma nova
definição dos contornos da personalidade, desestruturados devido às modificações
corporais resultantes da ação hormonal. Este processo traz à tona questões
pessoais, morais e existenciais, numa retomada da predominância da afetividade
(MAHONEY, 2008).
Na sucessão dos estágios há uma alternância entre as formas de atividade
que assumem a preponderância em cada fase. Cada nova fase inverte a orientação
da atividade e do interesse da criança: do eu para o mundo, das pessoas para as
coisas. Trata-se do princípio da alternância funcional. Apesar de alternarem a
dominância, afetividade e cognição não se mantém como funções exteriores uma à
outra. Cada uma, ao reaparecer como atividade predominante num dado estágio,
incorpora as conquistas realizadas pela outra, no estágio anterior, construindo-se
reciprocamente, num permanente processo de integração e diferenciação. Assim, no
primeiro estágio da psicogênese, apresenta-se uma afetividade impulsiva,
emocional, que se nutre pelo olhar, pelo contato físico e se expressa em gestos,
mímica e posturas. A afetividade do personalismo já é diferente, pois incorpora os
recursos intelectuais (notadamente a linguagem) desenvolvidos ao longo do estágio
sensório-motor e projetivo. É uma afetividade simbólica, que se exprime por palavras
e ideias e que por esta via pode ser nutrida. A troca afetiva, a partir desta integração
pode se dar à distância, deixa de ser indispensável a presença física das pessoas
(MAHONEY, 2008).
Ao buscar enfocar o ser humano por uma perspectiva global, a psicogenética
walloniana, GALVÃO (2008) identifica a existência de alguns campos que agrupam a
diversidade das funções psíquicas. A afetividade, o ato motor, a inteligência, são
campos funcionais entre os quais se distribui a atividade infantil. Aparecem pouco
diferenciados no início do desenvolvimento e só aos poucos vão adquirindo
independência um do outro, constituindo-se como domínios distintos de atividade. A
pessoa é o todo que integra esses vários campos e é, ela própria, um outro campo
funcional.
Segundo WALLON (2007) o estado inicial da consciência pode ser
comparado a uma nebulosa, uma massa difusa, na qual confundem-se o próprio
32
sujeito e a realidade exterior. O recém-nascido não se percebe como indivíduo
diferenciado. Num estado de simbiose afetiva com o meio, parece misturar-se à
sensibilidade ambiente e, a todo instante, repercutir em suas reações, as de seu
meio. A distinção entre o eu e o outro só se adquire progressivamente, num
processo que se faz nas e pelas interações sociais. Até que a criança saiba
identificar sua personalidade e a dos outros, correspondendo a primeira ao eu e a
segunda à categoria do não-eu, encontra-se num estado de dispersão e
indiferenciação, percebendo-se como que fundida ao outro e aderida às situações e
circunstâncias. Portanto, o sentido do processo de socialização é de crescente
individuação. Esta concepção quanto ao sentido do processo de socialização opõe-
se à concepção piagetiana, a qual, segundo Wallon, identifica como direção do
desenvolvimento o alargamento gradual do campo em que podem desenvolver-se
as atividades e os interesses da criança, com a passagem de uma consciência
estritamente individual (egocêntrica) a uma consciência social, aberta à
representação do outro e capaz de relações de reciprocidade. Para GALVÃO,
(2008):
“É pela interação com os objetos e com o seu próprio corpo - em atitudes
como colocar o dedo nas orelhas, pegar os pés, segurar uma mão com a
outra – que a criança estabelece relações entre seus movimentos e suas
sensações e experimenta, sistematicamente, a diferença de sensibilidade
existente entre o que pertence ao mundo exterior e o que pertence a seu
próprio corpo. Por essas experiências torna-se capaz de reconhecer, no
plano das sensações, os limites de seu corpo, isto é, constrói-se o recorte
corporal. Esta diferenciação entre o espaço objetivo e o subjetivo ocorre no
primeiro ano de vida e é uma etapa da formação do eu corporal” (p. 35).
A segunda etapa corresponde à integração do corpo das sensações ao corpo
visual, isto é, à junção do corpo tal como sentido pelo próprio sujeito à sua imagem
tal como vista pelos outros. O desenrolar deste processo pode ser acompanhado
pelas reações da criança frente ao espelho: leva um tempo até que reconheça como
sua a imagem refletida. Este processo de integração ocorre ao longo do estágio
sensório-motor e projetivo, beneficiado pelo desenvolvimento das condutas
instrumentais e da função simbólica (MAHONEY, 2008).
33
GALVÃO (2008) confirma que a construção do eu corporal é condição para a
construção do eu psíquico, tarefa central do estágio personalista. No período
anterior à apropriação da consciência de si, a criança encontra-se num estado de
sociabilidade sincrética. O adjetivo sincrético é utilizado para designar as misturas e
confusões a que está submetida a personalidade infantil. Indiferenciada, a criança
percebe-se como que fundida nos objetos ou nas situações familiares, mistura a sua
personalidade à dos outros, e a destes entre si.
O terceiro ano de vida dá início a uma reviravolta nas condutas da criança e
nas suas relações com o meio. Torna-se mais frequente o emprego do pronome "eu"
e tendem a desaparecer os diálogos consigo mesma, anuncia-se uma fase de
afirmação do eu. Em geral, esta etapa tem o aspecto de uma verdadeira crise, como
bem podem testemunhar os educadores da faixa pré-escolar, na qual são
extremamente frequentes os conflitos interpessoais. A criança opõe-se
sistematicamente ao que distingue como sendo diferente dela, o não-eu: combate
qualquer ordem, convite ou sugestão que venha do outro, buscando, com o
confronto, testar a independência de sua personalidade recém-desdobrada, expulsar
do eu o não-eu (MAHONEY, 2008).
A criança esforça-se por ter papel de destaque e status de vencedor,
utilizando todas as circunstâncias favoráveis e usando recursos cada vez mais
elaborados: manifestações de ciúme, trapaças, "acessos" de tirania, dissimulação.
Nesta busca de superioridade pessoal tem atitudes que podem ser interpretadas
como agressivas, como o ato de quebrar o brinquedo de um parceiro que sabe jogar
melhor que ela, ou de tentar sabotar um parceiro no qual identifica uma
superioridade qualquer. Um dos conteúdos que a atitude de oposição adquire é o
desejo de propriedade das coisas. Confundindo o meu com o eu a criança busca,
com a posse do objeto, assegurar a posse de sua própria personalidade. Por isso,
nas situações de disputa por um mesmo objeto, é comum que o desejo de
propriedade conte mais do que o próprio objeto: a criança é capaz de abandonar um
brinquedo tão logo o obtenha na disputa com um colega (WALLON, 2007).
O exercício da oposição somado aos progressos da função simbólica fazem
com que a criança deixe de confundir sua existência com tudo o que dela participa,
isto é, reduzem o sincretismo da personalidade, a qual ganha autonomia e deixa de
34
ser tão facilmente modificada pelas circunstâncias. Ainda no estágio personalista,
quando este primeiro salto na formação do eu está de certa forma garantido, a crise
de oposição dá lugar a uma fase de personalismo mais positivo, a qual se apresenta
em dois momentos. O primeiro é uma etapa de sedução, a "idade da graça".
Caracteriza-se pela exuberância e harmonia dos movimentos da criança e por seu
empenho em obter a admiração dos outros, da qual tem necessidade para admirar a
si própria. Esta aprovação de que ela tem necessidade é o resíduo da participação
que antes lhe misturava no outro. No momento seguinte predomina a atividade de
imitação. A criança imita as pessoas que lhe atraem, incorporando suas atitudes e
também o seu papel social, num movimento de reaproximação ao outro que tinha
sido negado. É um processo necessário ao enriquecimento do eu e ao alargamento
de suas possibilidades (GALVÃO, 2008).
Segundo MAHONEY (2008) na sucessão de conflitos interpessoais que
marca o estágio personalista, expulsão e incorporação do outro são movimentos
complementares e alternantes no processo de formação do eu. O conflito eu-outro
não é uma vivência exclusiva do estágio personalista. Na adolescência, fase em que
se faz necessária a reconstrução da personalidade, instala-se uma nova crise de
oposição. Com a mesma função da crise personalista, a oposição da adolescência
apresenta-se, todavia, mais sofisticada do ponto de vista intelectual, já que a
conduta do sujeito incorpora as conquistas cognitivas realizadas durante o estágio
categorial. Diferente da criança pequena, que é mais emocional na vivência de seus
conflitos, o adolescente procura apoiar suas oposições em sólidos argumentos
intelectuais. Manifestando-se de forma concentrada no estágio personalista e na
adolescência, a oposição se mantém como um importante recurso para a
diferenciação do eu.
Mesmo na vida adulta, os indivíduos se vêem às voltas com a definição das
fronteiras entre o eu e o outro, as quais podem desfazer-se devido a situações
específicas, como de dificuldade ou cansaço. Situação típica em que esses limites
se desfazem é a de enamoramento. Na paixão, o enamorado não distingue entre o
seu desejo e o do de seu parceiro, é quase total a mistura do eu ao outro
(MAHONEY, 2008).
35
Segundo LA TAILLE (1992), a afetividade, nesta perspectiva, não é apenas
uma das dimensões da pessoa: ela é também uma fase do desenvolvimento. O ser
humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica, um ser afetivo, Da
afetividade diferenciou-se, lentamente, a vida racional. Portanto, no início da vida,
afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas, com o predomínio da
primeira.
A partir daí, a história da construção da pessoa será constituída por uma
sucessão pendular de momentos dominantemente afetivos ou dominantemente
cognitivos, não paralelos, mas integrados. Cada novo momento terá incorporado as
aquisições feitas no nível anterior, ou seja, na outra dimensão. Isto significa que a
afetividade depende, para evoluir, de conquistas realizadas no plano da inteligência,
e vice-versa. No seu momento inicial, a afetividade reduz-se praticamente às suas
manifestações somáticas, vale dizer, é pura emoção. Até aí, as duas expressões são
intercambiáveis: trata-se de uma afetividade somática, epidêmica, onde as trocas
afetivas dependem inteiramente da presença concreta dos parceiros (GALVÃO,
2008).
Depois que a inteligência adquire a função simbólica, a comunicação se
beneficia, alargando o seu raio de ação. Ela incorpora a linguagem em sua
dimensão semântica, primeiro oral, depois escrita. A possibilidade de nutrição afetiva
por estas vias passa a se acrescentar às anteriores, que se reduziam à comunicação
tônica: o toque e a entonação da voz. Instala-se o que WALLON (2007) denomina
de forma cognitiva de vinculação afetiva. Pensar nesta direção leva a admitir que o
ajuste fino da demanda às competências, em educação, pode ser pensado como
uma forma muito requintada de comunicação afetiva.
Para WALLON (2007), nos momentos dominantemente afetivos do
desenvolvimento o que está em primeiro plano é a construção do sujeito, que se faz
pela interação com os outros sujeitos; naqueles de maior peso cognitivo, é o objeto,
a realidade externa, que se modela, à custa da aquisição das técnicas elaboradas
pela cultura. Ambos os processos são, por conseguinte, sociais, embora em sentidos
diferentes: no primeiro, social é sinônimo de interpessoal; no segundo, é o
equivalente de cultural.
36
LA TAILLE (1992) conclui que a construção do sujeito e a do objeto
alimentam-se mutuamente, e a autora afirma que a elaboração do conhecimento
depende da construção do sujeito nos quadros do desenvolvimento humano
concreto.
2.3 - VYGOTSKY: TEORIA SOCIOCULTURAL DA APRENDIZAGEM E DO ENSINO
As concepções de VYGOTSKY (2006) sobre o funcionamento do cérebro
humano fundamentam-se em sua ideia de que as funções psicológicas superiores
são construídas ao longo da historia social do ser humano. É na sua relação com o
mundo, mediada pelos instrumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente, que o
ser humano cria suas formas de ação e é isso que o diferencia de outros animais.
Vygotsky rejeitou a ideia de funções mentais fixas e imitáveis. Ele trabalha com a
ideia do cérebro como um sistema aberto, de grande plasticidade, em que sua
estrutura é moldada ao longo da história.
AQUINO (2008) confirma que diferentemente de Piaget, que supõe a
equilibração como um princípio básico para explicar o desenvolvimento cognitivo,
Lev Vygotsky parte da ideia que esse desenvolvimento é referente ao contexto
social e cultural no qual ele ocorre. Vygotsky caracteriza os mecanismos por meio
dos quais se dá o desenvolvimento cognitivo como não produtos do tipo estágios do
desenvolvimento como propõem Piaget e Bruner. Para Vygotsky, tais mecanismos
são de origem e natureza sociais, e peculiares do ser humano. De acordo com
Aquino, (op. cit.), diferentemente de outros teóricos cognitivistas como, Piaget e
Ausubel, que focalizam o individuo como unidade de analise, Vygostsky enfoca a
interação social; sua unidade de analise não é nem o individuo nem o contexto, mas
a interação entre eles.
VYGOTSKY (1998) procura analisar a função mediadora presente nos
instrumentos elaborados para a realização da atividade humana. O instrumento é
provocador de mudanças externas pois amplia a possibilidade de intervenção na
natureza. Diferentemente de outras espécies animais, os homens não só produzem
seus instrumentos para a realização de tarefas específicas, como também são
37
capazes de conservá-los para uso posterior, de preservar e transmitir sua função
aos membros de seu grupo, de aperfeiçoar antigos instrumentos e de criar novos
(REGO, 2001)
VYGOTSKY (2006) faz uma interessante comparação entre a criação e a
utilização de instrumentos como auxílio nas ações concretas e os signos, que ele
chama de “instrumentos psicológicos”, que tem a função de auxiliar o indivíduo nas
suas atividades psíquicas, portanto:
“A invenção e o uso de signos auxiliares para solucionar um dado
problema psicológico (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher) é
análoga à invenção e uso de instrumentos, só que agora no campo
psicológico. O signo age como um instrumento da atividade psicológica de
maneira análoga ao papel de um instrumento no trabalho” (p 59).
REGO (2001), através de seus estudos confirma que a passagem das
funções psicológicas elementares para as superiores ocorre, portanto, pela
mediação proporcionada pela linguagem que, na abordagem vygotskiana, intervém
no processo de desenvolvimento intelectual da criança desde o momento de seu
nascimento; por si só, a criança não se apropria qualitativa e quantitativamente dos
conhecimentos desejáveis que alcança por meio de interações profícuas com os
elementos mais experientes do seu grupo social.
A linguagem do meio ambiente, que reflete uma forma de perceber o real num
dado tempo e espaço, aponta o modo pelo qual a criança apreende as
circunstâncias em que vive, cumprindo uma dupla função: de um lado, permite a
comunicação, organiza e media a conduta; de outro, expressa o pensamento e
ressalta a importância reguladora dos fatores culturais existentes nas relações
sociais (VYGOTSKY, 1998).
O confronto das concepções iniciais de mundo da criança com aquelas
apresentadas pelos parceiros de seu ambiente torna-se fundamental para a
apropriação de significados diferenciados que, dialogicamente, constituirão sentidos
38
a serem negociados. Vygotsky estabelece uma importante distinção entre significado
e sentido: aquilo que é convencionalmente estabelecido pelo social é o significado
do signo linguístico; já o sentido é o signo interpretado pelo sujeito histórico, dentro
de seu tempo, espaço e contexto de vida pessoal e social (VYGOTSKY, 2006).
Segundo VYGOSTKY (1998) a fala, uma das formas de linguagem através da
qual os significados sociais são compreendidos e acordados, encontra-se permeada
por expressões afetivas que se tornam igualmente alvo das interações: preferências,
antagonismos, concordâncias, simpatias e antipatias. A ação e a fala unem-se na
coordenação de várias habilidades, entre elas o pensamento discursivo.
A objetivação dos sentidos, os quais dão aos signos um caráter mais pessoal
e valorativo, permitem ao sujeito articulações internas que requerem negociações
para alcançar significados. Assim, VYGOTSKY (1984) faz do significado das
palavras a unidade de análise de suas pesquisas sobre atividade instrumental, onde
o principal instrumento simbólico é a linguagem.
Para ele, a palavra, sendo um microcosmo da consciência, contém em seu
significado a possibilidade de analisar as relações entre pensamento e linguagem. A
unidade mínima do pensamento e da linguagem é o significado da palavra, ou seja,
é no significado que o pensamento e a fala se unem, criando condições para o
desenvolvimento do pensamento linguístico e da fala intelectual (REGO, 2001).
Para VYGOTSKY (2006) o pensamento e a palavra não são ligados por um
elo primário, mas, ao longo da evolução do pensamento e da fala, tem início uma
conexão entre ambos, que se modifica e se desenvolve. Segundo ele o fato mais
importante revelado pelo estudo genético do pensamento e da fala é que a reação
entre ambos passa por várias mudanças. O progresso da fala não é paralelo ao
progresso do pensamento. As curvas de crescimentos de ambos cruzam-se muitas
vezes; podem atingir o mesmo ponto e correr lado a lado e até mesmo fundir-se por
algum tempo, mas acabam se separando novamente.
No processo de desenvolvimento, a criança começa usando as mesmas
formas de comportamento que outras pessoas inicialmente usaram em relação a ela.
Isto ocorre porque, desde os primeiros dias de vida, as atividades da criança
39
adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social, refratadas
através de seu ambiente humano, que a auxilia a atender seus objetivos
(VYGOTSKY, 1998).
Para a autora, PALANGANA (2001), o domínio da fala, que é um atributo do
ser humano, permite à criança: a utilização de instrumentos auxiliares; o
planejamento da ação; o controle de seu próprio comportamento e ainda possibilita-
lhe o acesso a uma forma de contato social privilegiada. Para Vygotsky, a história da
socialização da inteligência é definida pela história do processo de internalização.
Para PALANGANA (2001):
“Concebendo o desenvolvimento das formas superiores de comportamento
estreitamente vinculado ao desenvolvimento sócio-histórico do homem.
Vygotsky opera a objetivação dos processos psicológicos, analisando-os a
partir de condições reais de vida do sujeito, ou seja, a partir de uma base
material. Seus pressupostos elucidam os caminhos através dos quais a
natureza do comportamento se transforma de biológica em sócio-histórica.
Nessa perspectiva, o pensamento está sujeito às leis que orientam a
evolução da cultura humana e, neste sentido, sofrerá tantas
transformações quantas se registram na história das relações sociais entre
os homens” (p.106).
LA TAILLE (1992) confirma que a linguagem humana, sistema simbólico
fundamental na mediação entre sujeito e objeto de conhecimento tem, para
Vygotsky, duas funções básicas: a de intercâmbio social e a de pensamento
generalizante. Ao utilizar a linguagem para nomear determinados objetos, o
individuo classifica este objeto numa categoria, numa classe de objetos que têm em
comum certos atributos. Sendo assim, a utilização da linguagem favorece processos
de abstração e generalização. Entretanto, o pensamento verbal não é uma forma de
comportamento natural e inata, mas é determinado por um processo histórico-
cultural e tem propriedades e leis específicas que não podem ser encontradas nas
formas naturais de pensamento (VYGOTSKY, 1989, apud LA TAILLE, 1992, p 28).
40
Além de indicar um objeto do mundo externo, a palavra também especifica as
principais características deste objeto, generalizando-as para, em seguida,
relacioná-las em categorias. Daí a importância da linguagem, segundo PALANGANA
(2001), para o desenvolvimento do pensamento, ela sistematiza a experiência direta
da criança e serve para orientar seu comportamento, propiciando-lhe condições de
ser tanto sujeito como objeto do conhecimento.
Segundo VYGOTSKY (1984), o aprendizado humano pressupõe uma
natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na
vida intelectual dos que a cercam. Isto se daria através da demonstração ou de
pistas usadas por um parceiro mais experiente, ou seja, pela internalização das
prescrições adultas apresentadas na interação. Inicialmente, portanto, a criança
dispõe apenas de sua atividade motora, do ato, para agir sobre o mundo, sem ter
consciência da ação e dos processos nela envolvidos.
Gradativamente, através da interação com indivíduos mais experientes, ela
vai desenvolvendo uma capacidade simbólica e reunindo-a à sua atividade prática,
tornando-se mais consciente de sua própria experiência. Isto dá origem às formas
puramente humanas de inteligência prática e abstrata. As interações da criança com
as pessoas de seu ambiente desenvolvem-lhe, pois, a fala interior, o pensamento
reflexivo e o comportamento voluntário (VYGOTSKY, 1984). Segundo OLIVEIRA
(1997):
“Na concepção que Vygotsky tem do ser humano, portanto, a inserção do
individuo num determinado ambiente cultural é parte essencial de sua
própria constituição enquanto pessoa. É impossível pensar o ser humano
privado do contato com um grupo cultural, que lhe fornecerá os
instrumentos e signos que possibilitarão o desenvolvimento das atividades
psicológicas mediadas, tipicamente humanas. O aprendizado, nesta
concepção, é o processo fundamental para a construção do ser humano”
(p. 79).
A construção do real parte do social, da interação com outros, quando a
criança imita o adulto e é orientada por ele, e, paulatinamente, é internalizada pela
41
criança. Assim, no pensamento silencioso, a criança executa mentalmente o que
originalmente era uma operação baseada em sinal, presente no diálogo entre duas
pessoas. Esta internalização da fala, assim como dos papéis de falante e de
respondente, ocorre, aproximadamente, dos três aos sete anos. Tal diálogo interno
libera a criança de raciocinar, a partir das exigências da situação social imediata, e
permite-lhe controlar seu próprio pensamento (VYGOTSKY, 1998).
VYGOTSKY (1984) confirma que a criação de uma situação imaginária
constitui, assim, a primeira manifestação da criança em relação às restrições
situacionais. Ela possibilita que a criança opere com um significado alienado numa
situação real e que renuncie aos seus impulsos imediatos, subordinando-se a
determinadas regras. O atributo essencial na brincadeira é que uma regra torna-se
um desejo, ou seja, satisfazer as regras torna-se uma fonte de prazer, o que, no
futuro, constituirá o nível básico de ação real e moralidade do indivíduo.
O desenvolvimento da imaginação da criança associa-se diretamente à
aquisição da fala, que facilita a formação de representações sobre objetos e permite
à criança imaginar um objeto que ela nunca viu antes. Por outro lado, do mesmo
modo que há um desenvolvimento da relação significado/objeto, há um
desenvolvimento na relação significado/ação, ou seja, a criança aprende a separar-
se de uma ação real através de outra ação, desenvolvendo a vontade, a capacidade
de fazer escolhas conscientes, assim como operar com as coisas, a leva ao
pensamento abstrato (VYGOTSKY, 1984).
A criança começa com uma situação imaginária, que é uma reprodução da
situação real, sendo a brincadeira muito mais a lembrança de alguma coisa que
realmente aconteceu, do que uma situação imaginária nova. À medida que a
brincadeira se desenvolve, observamos um movimento em direção à realização
consciente do seu propósito. Discutindo como a brincadeira se relaciona com o
desenvolvimento, VYGOTSKY (1998) coloca que o comportamento da criança nas
situações do dia-a-dia é, quanto a seus fundamentos, o oposto daquele apresentado
nas situações de brincadeira. Esta cria uma zona de desenvolvimento proximal da
criança, que nela se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além
de seu comportamento diário. A brincadeira fornece, pois, ampla estrutura básica
para mudanças da necessidade e da consciência, criando um novo tipo de atitude
42
em relação ao real. Nela aparecem a ação na esfera imaginativa numa situação de
faz-de-conta, a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos da vida
real e das motivações volitivas, constituindo-se, assim, no mais alto nível de
desenvolvimento pré-escolar (VYGOTSKY, 1984).
Segundo OLIVEIRA (1997) quando alguém refere-se ao desenvolvimento de
uma criança, o que busca-se compreender é “até onde a criança já chegou”, em
termos de um percurso que será percorrido por ela. Assim, seu desempenho é
observado em diferentes tarefas e atividades. VYGOTSKY (1984 apud OLIVEIRA,
1997) denomina essa capacidade de realizar tarefas de forma independente de
“nível de desenvolvimento real”. Para Vygotsky, o nível de desenvolvimento real da
criança refere-se às etapas já alcançadas e conquistadas. As funções psicológicas
que fazem parte do nível de desenvolvimento real da criança, em determinado
momento de sua vida, são aquelas já bem estabelecidas naquele momento. São
resultados de processos de desenvolvimento já completados, já consolidados.
VYGOTSKY (1984) chama a atenção para o fato de que para compreender
adequadamente o desenvolvimento real da criança é necessário considerar o seu
“nível de desenvolvimento potencial”, que é a capacidade de desempenho da
criança em tarefas com ajuda de adultos ou de companheiros mais capazes. Essa
possibilidade de alteração no desempenho de uma pessoa pela interferência de
outras é fundamental na teoria de Vygotsky, porque a capacidade de se beneficiar
de uma colaboração de outra pessoa vai ocorrer num certo nível de
desenvolvimento, mas não antes. Em segundo lugar essa ideia é fundamental na
teoria de VYGOTSKY (2007), porque ele atribui importância extrema à interação
social no processo de construção das funções psicológicas humanas. O
desenvolvimento individual se dá num ambiente social determinado e a relação com
o outro, nas diversas esferas e níveis da atividade humana, é essencial para o
processo de construção do ser psicológico individual.
Para VYGOTSKY (1998) o processo de aprendizagem deve ser olhado por
uma ótica prospectiva, ou seja, não se deve focalizar o que a criança aprendeu, mas
sim o que ela está aprendendo. Na prática pedagógica, procura-se prever em que tal
ou qual aprendizado poderá ser útil àquela criança, não somente no momento em
que é ministrado, mas para além dele. É um processo de transformação constante
43
na trajetória das crianças. As implicações desta relação entre ensino e
aprendizagem para o ensino escolar estão no fato de que este ensino deve se
concentrar no que a criança está aprendendo, e não no que já aprendeu. Vygostky
confirma esta hipótese no seu conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP).
De acordo com OLIVEIRA (1997) é a partir da união da existência desses
dois níveis de desenvolvimento, que Vygotsky define “zona de desenvolvimento
proximal” como a “distancia ou percurso entre o nível de desenvolvimento real, que
se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de
desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a
orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes”. É
um domínio psicológico em constante transformação: aquilo que uma criança é
capaz de fazer com a ajuda de alguém hoje, ela conseguirá fazer sozinha amanhã.
Segundo REGO (2001) como na escola o aprendizado é um resultado
desejável, é o próprio objetivo do processo escolar, a intervenção é uma processo
pedagógico privilegiado. O professor tem o papel explícito de interferir na zona de
desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam
espontaneamente. A intervenção de outras pessoas – que, no caso específico da
escola, são o professor e as demais crianças – é fundamental para a promoção do
desenvolvimento do indivíduo. O desenvolvimento do ser humano está baseado no
aprendizado que, para Vygotsky, sempre envolve a interferência, direta ou indireta,
de outros indivíduos e a reconstrução pessoal da experiência e dos significados.
44
CAPÍTULO III - A ATUAÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL
3.1 – A HISTÓRIA DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NO BRASIL
O papel do Orientador Educacional ao longo de sua trajetória tem tido
diferentes significados. Aquele que muitas vezes era visto como o que resolveria
todos os problemas da escola; que conhecia todos os alunos problemas, agora
veste uma nova roupagem, voltando-se à construção do cidadão além dos espaços
educativos, efetivando sua prática na realidade.
O Brasil foi o primeiro país no mundo a ter a Orientação Educacional
proclamada obrigatória, utilizando-se de um documento legal; a lei 9394/96,
proporcionando a conscientização profissional, possibilitando ao orientador a obter
um espaço próprio junto aos demais protagonistas da escola. De acordo com
GRINSPUN (2008),
“A trajetória histórica desta Orientação, no nosso país que teve inicio num
enfoque mais psicológico, que ressaltava o ajustamento do aluno à escola,
à família e a sociedade para se firmar, hoje, numa dimensão mais
pedagógica com ênfase num conhecimento que promova / possibilite
a transformação do sujeito, da escola, e da própria sociedade.” (p. 69)
Oportunizando a este profissional (O.E) desenvolver junto à escola um
trabalho pedagógico integrado, superando os desafios existentes, compreendendo
criticam ente as relações que se estabelecem no processo educacional.
No passado o trabalho do orientador educacional era concebido como um
terapeuta, e estava voltado mais para a orientação profissional, permanecendo o
mesmo restrito aos demais trabalhos desempenhados pela instituição. De acordo
com GRINSPUN (2008),
45
“A Orientação começa a aparecer no cenário educacional brasileiro
timidamente associada à orientação profissional, com ênfase nos
trabalhos de seleção e escolha profissional”. (p. 17)
A Orientação Educacional passou por vários períodos que foram de suma
importância para sua transformação e aperfeiçoamento, tais como:
• O período implementar (1920 a 1941): Voltado para orientação profissional,
ficando ele responsável em adaptar o educando à escola, à família e à sociedade
de acordo com as regras escolhidas por essas instituições;
• O período institucional (1942 a 1960): Passou a ser obrigatório a orientação nas
escolas, de posse a documentos legais;
• O período transformador (1961 a 1970): voltado para o indivíduo e chegando a
uma Orientação coletiva, participativa e contextualizada.
• O período disciplinador (1971 a 1980): A orientação passou por uma nova
estrutura, estando sujeita à obrigatoriedade da Lei nº 5692/71, que tinha
por objetivo sustentar um ensino profissionalizante, obrigatório partindo da
orientação vocacional;
• O período questionador (1980): Começa-se a levantar questões sobre a
Orientação Educacional, relação à formação de seus profissionais e as práticas
realizadas por eles. Ocorreram grandes, em que os orientadores educacionais
pretendiam participar e interagir de forma mais eficaz, tornando-se também um
protagonista do processo educacional;
• O período orientador (a partir de 1990): Ocorreu uma tentativa de unificação dos
trabalhadores de educação, buscando o fortalecimento adequado a sua classe e
profissão.
Como pode-se perceber, a orientação passou por uma série de
transformações, possibilitando ao orientador desenvolver um papel mais
significativo junto aos demais protagonistas da escola. Segundo GRINSPUN (2008),
“A Orientação, hoje, caracteriza-se por um trabalho muito mais abrangente,
no sentido de sua dimensão pedagógica. Possui um caráter mediador junto
aos demais educadores, atuando com todos os protagonistas da escola
46
no resgate de uma ação mais efetiva e de uma educação de qualidades
nas escolas”. (p. 31)
3.2 – O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A COMUNIDADE ESCOLAR
É necessário ressaltar a importância do apoio de quem está em sua volta,
porque a partir do momento em que a criança recebe atenção, compreensão e
ajuda, a mesma sente-se valorizada e reconhecida, o que faz com que a melhora
comece a surgir de forma satisfatória.
Segundo GUERRA (2002), a criança com dificuldades de aprendizagem
necessita receber suporte escolar por parte de seus pais, abrangendo o interesse e
demonstrado pelos mesmos com relação às atividades desenvolvidas pela criança
na escola e as solicitações que a escola, lhe faz como:
• Presença em reuniões escolares, individuais e de grupo.
• Contato permanente e troca de informações com a escola.
• Valorização das atividades feitas pela criança na escola.
• Verificação diária da agenda escolar.
• Horário em que as tarefas escolares devem ser realizadas.
• Acompanhamento da criança em suas tarefas escolares.
• Verificação do material escolar usado diariamente.
BEAN (1995, apud GUERRA 2002), apresenta algumas idéias sobre como os
pais podem ajudar seus filhos a ter um bom aproveitamento escolar. Dentre elas
destaca-se:
• A responsabilidade é chave para o sucesso.
• O bom aproveitamento escolar exige habilidades que podem ser
aprendidas e reforçadas em casa com persistência e autodisciplina.
• A importância dos pais desenvolverem o hábito de leitura e sentirem
prazer em fazê-lo.
47
Compreende-se que o orientador está comprometido com a construção de
um novo cidadão, tendo o aluno como o sujeito de sua própria história, resgatando
os valores e buscando conhecer a realidade e transformá-la, de modo a contribuir
para um bom desenvolvimento da educação.
3.3 – O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL
Em uma perspectiva contextualizada pode-se conhecer e identificar o papel
desenvolvido pelo orientador dentro da instituição escola e um deles é:
“Ajudar o aluno na formação de uma cidadania crítica, e a escola, na
organização e realização de projetos pedagógico. Isso significa ajudar o
nosso aluno “por inteiro”: com utopia, desejos e paixões.” (GRINSPUN,
2008: P.33)
O papel do Orientador Educacional é trabalhar em conjunto com os
professores para assim compreenderem os comportamentos dos alunos e adotar
uma metodologia para melhor atende-los e desenvolver o pedagógico de forma
integrada. Articulando a sua proposta de trabalho com a realidade, reformulando as
mesmas junto aos demais educadores para que atenda as necessidades de seus
alunos, buscando conhecer a realidade e transformá-la para que seja mais justa e
humana.
Atuando como um mediador contribuindo para formação do educando, e na
relação pedagógica da instituição, oferecendo subsídios parar que professores e
alunos se efetivem possibilitando também formas de relacionamento favoráveis
entre aluno X professor, família X escola de modo a promover uma boa integração
e uma aprendizagem eficaz e duradoura.
Desenvolvendo um trabalho participativo, onde o currículo deve ser
construído por todos, buscando uma indisciplinariedade, para uma melhor
compreensão do processo pedagógico da escola.
Cabe a instituição, o orientador e os professores terem a clareza que essas
dificuldades de aprendizagem não estão isoladas e que é necessário identificar-se
quais as estruturas está possibilitando a disfunção da inteligência e como isso
48
acontece para que detectemos o problema e encaminhemos o aluno para um
profissional qualificado o mais rápido possível.
O Orientador através de um trabalho de mediação poderá auxiliar o docente a
desenvolver uma metodologia que envolva diversificadas formas de se aprender,
buscando a compreensão o porquê das dificuldades de aprendizagem.
O trabalho do Orientador Educacional em relação às áreas de Orientação
familiar e escolar tem por objetivos
• Colaborar com a família no desenvolvimento e educação do educando;
• contribuir para o processo de integração escola – família - comunidade,
atuando como um mediador e comunicador entre todos;
• desenvolver atitudes favoráveis à efetiva participação dos pais na tarefa
educativa;
• identificar possíveis influências do ambiente familiar que possam estar
prejudicando o desempenho do aluno na escola e atuar sobre elas;
• colaborar na analise dos indicadores de aproveitamento escolar, evasão;
• desenvolver uma ação integrada com o corpo docente e a coordenação
pedagógica, visando a melhoria do rendimento escolar;
• identificar e assistir alunos que apresente dificuldades de ajustamento à
escola, problemas de rendimento escolar e dificuldades escolares.
Acredita-se que através desses objetivos o orientador possa desenvolver um
excelente trabalho junto à comunidade a escolar, atuando como um alicerce nesta
construção de conhecimento, com prometendo-se com as transformações sociais
desse novo tempo em que vivemos, buscando fortalecer a educação e a formação
do cidadão, trazendo a família para dentro da escola para que juntos destruam os
obstáculos que aparecem ou irão aparecer impedido o crescimento de seus
filhos. Pois só através de uma orientação contextualizada poderemos identificar,
conhecer e compreender os conflitos de paradigmas existentes na educação, e
desenvolver, desempenhar alternativas para essas escolas, “no sentido de
favorecer, promover, os meios necessários que para se efetive um educação de
qualidade”. (GRINSPUN, 2008: P. 10).
49
O que se pode observar na prática é que o educando ocupava posição
secundária no processo educacional. O sucesso era produto da eficiência do
professor, enquanto o fracasso ocorria por conta da falta de aplicação do aluno.
Todo crédito no ensino era aberto ao professor e todo débito, ao educando.
(NÉRICI, 1974, apud PORTO, 2009). Somente no início do século XX, é que a vida
social do educando começou a ser olhada como um aspecto importante para o
sucesso do processo educativo. Desde então passou a ter-se um olhar também
diferenciado para o professor, sendo percebido como um ser falível. O aluno passa a
ser visto como aquele que tem diferenças individuais e que pode apresentar
carências e dificuldades, necessitando de compreensão e orientação. (PORTO,
2009).
O Orientador Educacional exerce o papel de mediador e articulador de
diferentes campos do conhecimento, buscando ajudar a Instituição através da
interdisciplinaridade, numa perspectiva de colaboração na construção dos valores
e identificando a questão ética como necessárias ao desenvolvimento do indivíduo
GRINSPUN (2008,) destaca ainda que
“O Orientador Educacional (OE) assume muitos papéis diante das
perspectivas da nova escola: papel integrador, mediador e principalmente
um papel de interdisciplinaridade entre o saber e o fazer, entre o ter e o
ser, entre o querer e o poder.” (p.93-95)
Percebemos que a Orientação Educacional se mostra necessária no contexto
atual, pois no momento que parte do cotidiano local levando-nos a refletir e analisar
este contexto e desta forma, compreendendo o que está ao nosso redor e assim,
partindo para análise de um contexto global. Entendemos, então, que seu papel vai
muito além da sua dimensão pedagógica, e sim um caráter que leva a construir junto
com o coletivo que tem a intuição de buscar uma educação de qualidade efetiva.
Assim, o que anteriormente, tínhamos a ênfase na individualização do
atendimento, partimos para uma atuação em conjunto sem perder de vista que este
é formado por pessoas que são únicas e que percebem cada momento de forma
individual. Desta forma, poderemos buscar o conhecimento da realidade que nos
cerca e transformá-la para uma sociedade mais igualitária. Para GRINSPUN (2008):
50
“A orientação hoje, tem que se desenvolver através de um trabalho
participativo, onde o currículo deve ser construído por todos , e onde a
interdisciplinaridade deve ser buscada, para uma melhor compreensão do
processo pedagógico da escola” (p.31-32).
Entendemos, então, que o trabalho é em conjunto na busca de conhecer o
que está a nossa volta com o intuito de se buscar resultados dos objetivos
estabelecidos participativamente para a conquista de uma educação de qualidade
efetiva e que consequentemente levará a transformação da realidade.
Por isso, não podemos mais conceber uma escola onde se coloca como
dona da “verdade” científica, pois ela está configurada em um contexto onde os
valores apresentam-se com novos significados e isto à leva a ter que aprender a
lidar com o real e se comprometer com a formação do aluno.
Atualmente, o papel do orientador educacional está também voltado para o
reconhecimento da realidade do aluno, e assim compreendê-la para trazê-la para
dentro da escola juntamente com o aluno, para a partir do diálogo levá-lo a
promoção do seu desenvolvimento, respeitando sua individualidade para que se
construa um homem mais crítico e participativo na sociedade, porém consciente
dos seus direitos e deveres.
Então, como aponta GRINSPUN (2008), o trabalho do Orientador Educacional
deve ser pautado pela Interdisciplinaridade, a intersubjetividade, o diálogo. O aluno,
nosso centro de atenção, responsável maior pelo nosso trabalho, merece que
tenhamos uma prática realmente comprometida com sua formação de cidadão.
Para isso, é importante dar voz aos nossos alunos, para que eles participem
ativamente, como sujeitos e não como coisas, no seu processo de formação.
Diferentemente de seu enfoque de origem, a Orientação atual, não tem mais
como prioridade sua preocupação voltada para os alunos problemas e sim a
ajudar na solução dos problemas existentes destes alunos e de toda comunidade
escolar numa perspectiva de melhor compreensão do sujeito e de suas relações
dentro e fora da escola.
51
Percebemos então, durante a construção deste projeto que o O. E . deve ter
seu trabalho voltado para a construção do crescimento da escola como um todo, na
leitura da realidade, tendo em seu papel como eixo principal um mediador e
articulador do processo educacional. GRINSPUN (2008), aponta que:
“O papel da Orientação na escola será de argumentar, discutir e refletir
sobre as problemáticas existentes de forma a tornar o aluno,
principalmente, mais crítico e consciente da sociedade evidenciando os
conceitos de parceria, coletividade, solidariedade, entre outros , para
um país que se quer mais justo, mais humano e mais solidário”
(p.90).
Desta forma, a atuação da O. E. deve ser a busca pelo trabalho integrado
com os demais agentes da escola com vistas de promover uma educação de
qualidade para todos. Assim, a construção do processo educativo deve buscar uma
unidade, não pode estar dividido, em que de um lado se encontram os
especialistas da educação e do outro os professores, diretores, que se
enfrentam num cabo de guerra e que no fim, com certeza, só teremos
perdedores e o maior deles serão os alunos.
Assim, precisamos de Orientadores Educacionais competentes, capazes de
realizar trabalhos em prol das mudanças sociais e comprometidos com a história do
seu tempo. Pois ele poderá se tornar o elo entre a escola, a família e a com unidade
contribuindo para um melhor entendimento entre eles em prol de uma educação
eficaz e comprometida com as mudanças sociais.
Entendemos que todas as ações do O. E. devem estar em consonância com
o Projeto Político Pedagógico da escola, pois seu trabalho não está desvinculado
do cotidiano escolar que reflete as ações cotidianas da comunidade que está a
sua volta e de toda a sociedade mundial. Isto é, precisa estar comprometida com a
realidade do aluno, buscando respeitar as diferenças, para só assim , estarmos
cada vez mais próximos de uma educação de qualidade para todos e de uma
sociedade cada vez mais justa e humana.
52
CONCLUSÃO
A aquisição da Leitura e da Escrita são processos complexos e as
dificuldades de aprendizagem poderão ocorrer de maneiras diversas, precisamos
ressaltar que a linguagem falada e escrita são fatores fundamentais para a
assimilação dos conhecimentos futuros, como também para interagir socialmente.
Uma criança que não tenha solidificado tais questões poderá tornar-se
frustrada diante da educação formal, tendo um processo evolutivo de aprendizagem
deficitário, como também baixo rendimento escolar, resultando numa queda na auto-
estima que se manifestará em seu comportamento diante da sociedade.
É preciso que se tenha uma atitude preventiva diante de tais implicações que
comprometem o universo da aprendizagem. Uma avaliação precoce possibilitará o
diagnóstico e tratamento adequados, evitando futuros transtornos acumulativos que
decorrerão destas deficiências já constatadas.
A observação e o acompanhamento da criança deverão ser feitos em trabalho
conjunto entre a família, professor e o profissional especializado favorecendo a
identificação, acompanhamento e superação dessas dificuldades da leitura e da
escrita, sem deixar de mencionar o respeito à criança e o tempo próprio de aprender
da mesma.
Diante de tudo o que foi exposto ao longo deste trabalho, podemos considerar
que família, escola, médicos e demais profissionais envolvidos na educação de
crianças e jovens, têm pela frente uma variedade de desafios a serem superados.
Com os avanços das tecnologias e movimentos acelerados do mundo atual, cada
vez mais chegam até nossas mãos (pais e educadores) crianças com distúrbios de
aprendizagem e transtornos do comportamento.
É papel do orientador educacional e pedagógico facilitar o processo de
inclusão destes alunos. Incluir não é necessariamente e simplesmente colocar o
aluno na escola. Incluir é atender às necessidades educativas do mesmo e ir além
das dificuldades, distúrbios ou transtornos. É trabalhar com o preconceito, principal
53
desafio à inclusão. Infelizmente, o preconceito é uma das piores doenças da
humanidade.
Como pode observar anteriormente, identificar as causas das dificuldades de
aprendizagem não é uma tarefa muito simples, pois existem vários fatores que pode
levar a essas dificuldades, porém, na maioria das vezes, não existe uma causa para
justificar os problemas de dificuldade de aprendizagem, mas sim um conjunto de
fatores envolvendo não só a criança, mas o seu contexto e a sua realidade
psicossocial.
Através da mediação do Orientador Educacional, pode-se proporcionar
soluções que possam contribuir positivamente para melhorar o desenvolvimento do
educando em seu cotidiano escolar, diminuindo e até mesmo acabando com os
números excessivos de alunos com dificuldades de aprendizagem.
O Orientador torna-se um protagonista do processo educacional, trabalhando
na criação de um novo cidadão, articulando na construção do conhecimento. Suas
atitudes, práticas, desempenhos favorecem a um impacto significativo no educando,
pois elas proporcionam para o discente uma visão positiva em relação à escola, ao
processo educativo, e de como eles se vêem dentro da mesma, e, é claro, em
aspectos particulares de sua aprendizagem.
Portanto, toda atenção deve ser dada ao desenvolvimento do aluno, pois ele
é o sujeito de sua própria história e as contribuições muito significativas que o
Orientador tem para oferecer a escola, objetivando uma educação de qualidade e
um bom desenvolvimento de todos os protagonistas da instituição escolar.
O que se pode observar na prática é que o educando ocupava posição
secundária no processo educacional. O sucesso era produto da eficiência do
professor, enquanto o fracasso ocorria por conta da falta de aplicação do aluno.
Todo crédito no ensino era aberto ao professor e todo débito, ao educando.
Somente no início do século XX, é que a vida social do educando começou a ser
olhada como um aspecto importante para o sucesso do processo educativo. Desde
então passou a ter-se um olhar também diferenciado para o professor, sendo
percebido como um ser falível. O aluno passa a ser visto como aquele que tem
54
diferenças individuais e que pode apresentar carências e dificuldades, necessitando
de compreensão e orientação.
Não é tarefa fácil, expressar o conceito de dificuldades de aprendizagem, mas
conceituar o papel da Orientação educacional neste processo fica melhor
compreendido quando o vemos, como aquele que em parceria com escola- família-
comunidade realiza planos adequados ajustando o aluno ao meio escolar e a vida
social. GRISPUN (2008), enfatiza que a Orientação educacional está cada vez mais
comprometida com educação, no sentido de favorecer, promover, os meios
necessários para que se efetive uma educação de qualidade, em todos os níveis e
modalidades de ensino.
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BIBLIOGRAFIA
AQUINO, M. Dificuldades de Aprendizagem. Rio de Janeiro: FGD, 2006. __________. Psicologia da Aprendizagem. Rio de Janeiro: Editora FGD, 2008. CAMPOS, D. M de S. Psicologia da Aprendizagem. 31 ed. Petrópolis: Vozes, 2001. FONSECA, V. da Introdução às Dificuldades de aprendizagem, Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 1995. GALVÃO, I. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 18 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. GARCIA,J.N. Manual de dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes médicas, 1998. GRISPUN, Mirian P. S. Z. Supervisão e orientação educacional: perspectivas de integração na escola. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2008. __________. Orientação educacional: conflitos de paradigmas e alternativas para a escola. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2006. GREGÓIRE, Jacques. Avaliação dos Problemas da Leitura: os novos modelos teóricos e suas implicações diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. GUERRA,L.N. A Criança com dificuldades de aprendizagem. Rio de Janeiro: Enelivros, 2002. LA TAILLE, Y de. [et. al.] – Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão / Yves de La Taille, Marta Kohl de Oliveira, Heloysa Dantas. São Paulo: Summus, 1992. MAHONEY, A. A., [et. al.] Henri Wallon – Psicologia e Educação. 8 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2008. OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1997. PALANGANA, I. C; Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vygotsky: a relevância do social – 3. ed. São Paulo: Summus, 2001. PIAGET, J. Seis estudos de psicologia; tradução Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sergio Lima Silva. 24 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. __________, J. O juízo moral da criança. São Paulo: Summus, 1994. __________, J. A construção do real na criança. 2 ed. Rio de Janeiro, Zahar, 1974.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO ....................................................................................................2
AGRADECIMENTO ....................................................................................................3
DEDICATÓRIA ...........................................................................................................4
RESUMO.....................................................................................................................5
METODOLOGIA..........................................................................................................6
SUMÁRIO....................................................................................................................7
INTRODUÇÃO.............................................................................................................8
CAPÍTULO I – DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA 10
1.1 – DISLEXIA ......................................................................................................11
1.2 – DISGRAFIA ...................................................................................................14
1.3 - DISORTOGRAFIA: ........................................................................................16
1.4 - ERROS DE FORMULAÇÃO E SINTAXE.......................................................17
CAPÍTULO II – PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET, WALLON E VYGOSTKY...........................................................................................18
2.1 - PIAGET: UMA VISÃO PSICOGENÉTICA DA APRENDIZAGEM..................18
2.2 - WALLON: A AFETIVIDADE E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO.....27
2.3 - VYGOTSKY: TEORIA SOCIOCULTURAL DA APRENDIZAGEM E DO ENSINO..................................................................................................................36
CAPÍTULO III - A ATUAÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL.........................44
3.1 – A HISTÓRIA DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NO BRASIL....................44
3.2 – O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A COMUNIDADE ESCOLAR.............46
3.3 – O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL.. ..........................................47
CONCLUSÃO............................................................................................................52
BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................55
ÍNDICE...................................................................................................................... 57
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
Título da Monografia: DO ORIENTADOR EDUCACIONAL CONTRIBUIÇÕES NA
DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM
Autor: SAMANTHA SIMÕES PINTO CONDE
Data da entrega:
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