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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
“DESVENDANDO O MUNDO DO AUTISTA, PARA UMA
EDUCAÇÃO VOLTADA A SUA EDUCABILIDADE”
Por: Carmen Lucia de Souza LIns
Orientador
Profa. Ms. Ana Cristina Guimarães
Rio de Janeiro
2006
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
“DESVENDANDO O MUNDO DO AUTISTA, PARA UMA
EDUCAÇÃO VOLTADA A SUA EDUCABILIDADE”
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como condição prévia para a conclusão do
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Orientação
Educacional.
Por: Carmen Lucia de Souza Lins
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar sempre ao nosso lado, com sua
força divina nos intuindo no que for necessário; a
minha mãe, grande amiga por compreender o meu
afastamento em momentos tão significantes de
nossas vidas; a professora Ana Cristina, que sem a
sua orientação não seria capaz de construir esta
monografia; a meu marido Sérgio, que sem seu
provimento e compreensão não estaria concluindo
esta trajetória e a meus filhos Rafael e Rodrigo pelo
entusiasmo e por entenderem o meu afastamento,
mesmo estando muito próxima a eles.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho de pesquisa a todos aqueles que
se empenham a fim de melhorar a qualidade de vida de
cada indivíduo portador da Síndrome de Autismo.
5
EPÍGRAFE
“A existência só é real quando é consciente para
alguém.” JUNG
6
RESUMO
Este trabalho versa sobre a necessidade educacional especial denominada
Síndrome de Autismo, sob o prisma da Educação Especial no Brasil.
Assim, além de uma pequena explanação seqüenciada sobre o
mencionados assuntos envolvidos, aludir aos seus conceitos, suas origens, e aos
programas e iniciativas que vêm sendo desencadeados pelo MEC com o propósito
de prestar o devido atendimento a tais necessidades.
Pode-se concluir que para se educar o aluno autista o profissional
envolvido, deverá procurar adaptar da melhor forma, as estratégias educacionais
utilizadas para esse aluno, que devem visar o crescimento cognitivo o mais natural
possível.
Neste contexto, falar um pouco sobre o importante trabalho das poucas
Associações de Amigos dos Autistas (AMAS) espalhadas pelo país, sobre os
métodos de abordagem aplicáveis na educação dessas pessoas, e por fim, sobre
a desassistência educacional em que ainda se encontram os portadores de
autismo, especialmente em âmbito público no Brasil, centrando a transcrição da
nossa pesquisa em toda a complexidade dessa tão pouco conhecida necessidade
especial, que chega a configurar-se como inimaginável para a grande maioria de
profissionais do ensino que nunca tiveram qualquer contato com alunos autistas.
Palavras – chave: autismo, educação especial, adaptação educacional.
7
METODOLOGIA
Para que essa monografia fosse realizada, utilizamos como metodologia a
investigação bibliográfica. A dificuldade que encontramos para a elaboração deste
trabalho reside no fato que a maioria da literatura encontrada se restringe ao
âmbito da neurologia ou psiquiatria e o que assumimos enfocar é a educabilidade
do autista.
Como base cientifica serão sitiados sobre o tema alguns autores
conceituados como: Gauderer (1992 e 1997); Batista e Bosa (2002); Peeters
(1998); Coll, Palácios e Marchesi (1995); Miranda (1998) e Schwartzman (2003),
como também a LDB, e outros instrumentos de pesquisa.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10
CAPÍTULO I - EDUCAÇÃO, EDUCADORES E NECESSIDADES ESPECIAIS 16
1.1– A educação Especial um breve histórico 16
1.2 - Qual é a expectativa da sociedade em relação ao papel do profissional de
educação? 20
1.3– Necessidades educacionais especiais construção do conceito 23
CAPÍTULO II – O AUTISMO 20
2.1 – Um breve histórico: definindo o campo de estudo sobre o autismo 29
2.2 – Conceituação do autismo 32
2.3 – Manifestações 33
2.4 – Espectro de manifestações autística 40
2.4.1 – Desvios qualitativos na socialização 41
2.4.2 – Desvios qualitativos da comunicação 42
2.4.3 – Desvios qualitativos na imaginação 43
CAPÍTULO III – A ESCOLA ESPECIAL E AS INTERVENÇOES
MULTIDICIPLINARES NO AUTISMO 45
3.1 - Avaliação diagnóstica e prognóstico do autismo 45
3.2 – O Autismo e a escola especial 48
3.3 – Métodos e perspectivas de integração e abordagem no acompanhamento
educacional do autista 52
CAPÍTULO IV – AS ADAPTAÇÕES ESCOLARES 58
4.1 – O que se há de entender por “adaptação da escola” 58
94.2 – Adaptar para integrar/incluir 60
4.3 – As adaptações curriculares para as escolas, segundo o MEC 63
CONCLUSÃO 67
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 69
FOLHA DE AVALIAÇÃO 74
10
INTRODUÇÃO
Muitas “diferenças” já são vistas com outros olhos e supor que a
discriminação em relação a determinadas síndromes e deficiências físicas ou
cerebrais é um pouco menor, talvez por serem essas “diferenças” mais comuns ou
mais fácil de serem identificadas. O que não ocorre com a Síndrome do autismo,
pois os portadores desta síndrome são relativamente raros na população. A
diversidade de características que o indivíduo autista apresenta, e por ter um
aparência totalmente “normal”, tanto física como fisionômica na maioria das vezes,
ainda causa estranheza a alguns profissionais, principalmente em alguns dos
profissionais da educação.
O portador da síndrome do autismo apresenta dificuldade em se relacionar
e comunicar, dando a impressão de indiferença, não entendendo o que se passa
na vida social, comportando-se como não existissem outras pessoas, não dirigindo
seu olhar a outra pessoa. Quando a palavra é dirigida à pessoa autista ou quando
chamada pelo nome, demonstra estar num mundo só seu, silencioso e as
respostas, muitas vezes, podem ser desastrosas e assustadoras e vão da
indiferença a auto-agressão, caso a criança autista não consiga se comunicar ou
seja contrariada. (GAUDERER, 1977)
Pretende-se aqui enfatizar, sob a ótica dos estudiosos da matéria, o que
comprovadamente vem sendo feito e o que mais poderia ou deveria ser
implementado, especialmente no âmbito das políticas públicas e da
conscientização geral, para que a integração dos autistas no mundo da educação
e também no contexto da sociabilidade e da autonomia pessoal, passe a ser uma
realidade fácil de perceber e de se encontrar, para as famílias que precisam
11encaminhar a vida e a educação de seus entes-queridos acometidos de tal
problemática.
Antes de se pensar nas práticas pedagógicas para esse atendimento,
acredita-se que o professor deva procurar tomar conhecimento de: quem são e
como tem sido descrito ao longo da história o chamado autista? Quem são os
profissionais que se ocuparam historicamente do seu desenvolvimento e com
quais propostas de intervenção? Como devem ser educados os alunos
identificados como autista? Há possibilidade da escola constituir-se em um
espaço de evolução e de desenvolvimento? Há algum espaço escolar (ensino
comum ou ensino especial) que pode atender ao aluno autista?
Responder tais questões representa um ponto de partida pelos quais se
deve pensar e agir diante do “diferente”, do “especial”. Por isso, nossa proposta de
trabalho é apresentar uma explanação teórica sobre o autismo, a educação, os
educadores, o conceito de necessidades especiais, a escola especial e as
adaptações escolares, visando possibilitar ao professor e afins conhecimentos
específicos que permitam conhecer a criança portadora de autismo.
Inicia-se o primeiro capitulo com algumas considerações preliminares, que
priorizam determinadas inerências da educação, dos educadores e das pessoas
com necessidades especiais.
Assim, começar com um breve histórico, falando da Educação Especial sob
o enfoque da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB e de
publicações de grande nomes da literatura especifica, aludindo rapidamente sobre
as necessidades de adaptação da escola e da inclusão de todos no âmbito
educacional, bem como relacionando cronologicamente algumas das principais
iniciativas governamentais para a estruturação da Educação Especial no Brasil.
12No tópico seguinte 1.2 falando sobre uma ética intrínseca dos profissionais
em geral e o quanto esta ética se dimensiona em relação ao profissional da
educação, que, na visão da coletividade, é talvez, o trabalhador mais
comprometido com a transformação do mundo para melhor e com a “construção”
e o encaminhamento dos semelhantes, rumo à conquista da dignidade e do
equilíbrio existencial, visando sua plena inserção na sociedade.
Enfatizar, em suma que o professor, tanto para nós, quanto para aqueles
que referenciam a nossa instrução e formação acadêmica, é um “fermentador” das
possibilidades humanas, um formador de opinião, que não se pode dar ao luxo de
disseminar o erro, a mentira ou a indolência, diante dos desafios existenciais
próprios e de seus semelhantes; um verdadeiro edificador de vidas; e é
exatamente por isso que se escolheu um tema tão difícil, árido e controverso.
Pretender assim, ajudar a abrir para esse digno profissional, uma fresta de visão
para a face mais complicada de uma necessidade especial da qual muito pouco se
fala no âmbito da educação e dos cursos superiores, e falar-lhe, através de nosso
texto e de nossa pesquisa, o quanto as pessoas autistas – eternas crianças –
necessitam da sensibilidade, da abnegação e do senso de profissionalismo que
são inerentes aos educadores atuantes na Educação Especial.
E no último tópico deste mesmo capítulo (1.3), tentamos evidenciar o que
especificamente convencionou-se chamar de “necessidades educacionais
especiais”, lembrando que o autismo também é uma delas, e que depreender, no
caminho da nossa pesquisa, que trabalhar com sujeitos autistas configura-se
como uma notável área do altruísmo e da visão construtivista daqueles que a
conceberam – os profissionais da educação.
O segundo capítulo é, o ponto do trabalho onde entramos especificamente
no enfoque do autismo, versando sobre a sua teorização, em que relatar sobre a
sua origem, a conceituação do termo e as definições usadas nos dias de hoje.
13Com isso procurar deixar claro, como e que são os profissionais que descreveram
historicamente o desenvolvimento da conceituação e definição da síndrome do
autismo, assim como as manifestações do autismo, até chegar as manifestações
que são caracterizadas por três características que Lorna Wing (in Gauderer,
1992), denominou de “tríade”. O que se espera é que, a partir deste capítulo o
profissional da educação, indiferente se irá trabalhar com educação especial ou
não, passe a ter conhecimento do que é autismo.
No capítulo terceiro, relatar como é feito o diagnostico do autismo, para isso
deve-se entender que esse diagnostico baseia-se em instrumentos que
classificam o autismo, e que foram criados visando a uniformização do
diagnóstico, o que facilita o iniciar precoce das intervenções. É nessas
intervenções multidisciplinar (3.2) que o professor esta incluído, por isso ele
deverá ter plena consciência da tarefa que assumiu, para que consiga
compartilhar com os outros profissionais no desenvolvimento da criança que esta
sendo atendia pela equipe do qual participa. Como também tratar das
intervenções educacionais propriamente ditas, pois a criança autista, como
qualquer outra, precisa aprender conceitos básicos para que se integrem da
melhor forma na sociedade, para isso descrever quais as intervenções são mais
utilizadas na prática educacional do autista.
No quarto capítulo, relatar sobre “o que se há de entender por adaptação da
escola”; o que congrega uma grande quantidade de medidas, observando-se que
elas podem ser práticas ou teóricas, e que o implemento destas torna-se, às
vezes, de suma importância para a efetivação daquelas, porque se destinam a
desfazer rótulos e a fomentar o senso de fraternidade e respeito para com os
“diferentes”. Afinal não haveria como se institucionalizar para um povo, aquilo que
a maioria dele não considerasse como válido e necessário, para cada um e para
todos.
14Falar ainda da necessidade de adaptar para integrar/incluir, e aí inserir,
como continuidade, outras considerações específicas sobre o autismo, seu ínfimo
nível de inserção da Educação Especial no Brasil e o tanto que ainda se há de
fazer no âmbito dessa tão complexa modalidade educacional. Traçar um quadro
da importante mobilização dos grupos de interesse em nosso país – pais de
autista e profissionais sensibilizados com a causa, na busca de soluções, desde a
década de 1980, quando se iniciou a proliferação das associações de amigos dos
autista, e procuramos também evidenciar qual o tipo de escola ou de adaptações
que essas pessoas necessitam para que se possam integrar efetivamente na
caminhada humana em busca da dignidade e da autonomia.
Chegar, em seguida, ao ponto onde se mostra as propostas do MEC em
relação às adaptações curriculares para as escolas, apresentando um sucinto
conceito de currículo e as medidas próprias de cada um dos dois grupos de
adaptações, segundo a classificação adotada por aquele órgão, ou seja: as
adaptações curriculares significativas e as não significativas.
Desta forma, esperar que esse trabalho sirva de reflexão para os
professores que pretendem ou que já trabalham com a educação especial, para
que tenham consciência da tarefa que estão assumindo, ao educar uma criança
com autismo, pois a finalidade dessa educação é trazer essa criança para o
“nosso mundo” que também é “encantador”. Para isso, é fundamenta que se tenha
consciência de que não se pode “curar” seus déficits cognitivos, pelo menos,
devemos manter-nos informados de práticas educacionais que tenham como
função vencer o desafio de dar assistência ao aluno desta síndrome tão singular
que é o autismo, e nisto repousamos humildemente o nosso “olhar” de Orientador
Educacional para considerar sobre a consolidada e majoritária opinião de que,
para educar os autistas, deve-se “elaborar uma programa educacional específico
15para cada caso, levando em consideração as possibilidades e limites” (...)1, onde
devem ser incluídas todas as atividade que possam promover uma maior
independência e autonomia do indivíduo.
1 LOPES, Eliana R.B, - educadora, mencionada na revista “Nova Escola”, edição de março de 2000, p.4
16
CAPÍTULO I
EDUCAÇÃO, EDUCADORES E NECESSIDADES
ESPECIAIS
1.1 – Educação Especial: um breve histórico.
Segundo a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB
(Lei n° 9394, de 20 de dezembro de 1996), “entende-se por educação especial (...)
a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular
de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”.
Uma evolução concreta dessa modalidade de educação ocorreu nos países
mais desenvolvidos, a partir das décadas de 40 e 50 do século XX. (COLL, et al
1995, p. 7).
Até então, reinava, mundo afora, em âmbito médico científico, o conceito de
que “as pessoas eram deficientes por causas fundamentalmente orgânicas”
(COLL, et al 1995, p.9), produzidas no início de seu desenvolvimento e dificilmente
modificáveis posteriormente. Esta concepção, de caráter determinista, ainda não
satisfazia à maioria dos pais, educadores e todos os demais inconformados com
qualquer tipo de exclusão sócio-educacional, e tal insatisfação motivou um grande
aperfeiçoamento dos testes de inteligência, culminando-se em uma delimitação
supostamente mais precisa dos diferentes níveis de atraso mental. Entretanto, os
mais significativos resultados dessa evolução deram-se a partir dos anos 60 e,
especialmente, na década de 70, quando se desencadeou um enorme e poderoso
movimento de estudo sobre as deficiências e a educação especial, contando com
a adesão de diferentes campos profissionais e áreas do conhecimento a essa
17proposta, daí emergindo profundas e significativas modificações, especialmente,
uma ampla conscientização e o maciço interesse dos meios pedagógicos em
relação à necessidade de uma “atenção educacional especial, distinta e separada
da organização regular de ensino. Surgiram assim as escolas específicas de
educação especial, que foram se ampliando e consolidando paralelamente ao
desenvolvimento do estado moderno”. (COOL, et. Al. 1995)
Mais recentemente, pela intensa pressão dos pais e associações de adultos
que reivindicavam seus direitos, bem como dos movimentos sociais mais amplos,
que defendiam os direitos civis daqueles que constituíam minorias étnicas,
lingüísticas ou genuinamente sociais, surgiu uma maior sensibilidade social ao
direito de todos a uma educação fundamentada sobre pressupostos integradores
e não segregadores, e uma significativa mudança de atitude, também em relação
aos deficientes. (COOL, et. al. 1995)
A constituição da República Federativa do Brasil, nossa Lei maior,
determina:
Art. 3° “Constituem objetivos fundamentais da república Federativa do Brasil:I - Construir uma sociedade livre, justa e solidária;II - (...);
III - (...);IV - Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. (BRASIL, 1988)
Alguém já disse que “a Educação Especial não é uma psicopedagogia sim
a prática pedagógica adaptada às diferenças individuais”. (SOUZA, 2001, p.1).
Sob este prisma, a Escola vem se comprometendo a integrar cada vez mais a
Educação Especial com o ensino regular, possibilitando um maior entrosamento
entre as exigências e metodologias escolares. Pois, sabe-se hoje, que todos são
capazes de aprender, desde que respeitadas as diferenças e implementadas as
necessárias adaptações da escola, visto que cada indivíduo conquista o
aprendizado também com base nos seus critérios de hereditariedade, modo, ritmo
18e tempo de reação própria – suas limitações de modo geral. È o que podemos
chamar de “diferenças individuais”, em razão das quais se instituiu a Educação
Especial. Observe-se que uma pessoa cega poderá “ver” pelo tato, com a
possibilidade de decodificar e grafar sinais de comunicação através do método
Braile. Isto, independentemente da forma de fazê-lo, chama-se para todos os
efeitos, “ler e escrever”, o surdo, que quase sempre também não fala, porque
jamais recebeu a referência dos sons das palavras, poderá detectar – sintonizar –
esses sons que não ouve e alfabetizar-se através das metodologias alternativas
especiais que hoje existem (leitura de sinais etc). E quanto aos deficientes físicos,
com quantos exímios profissionais e artistas já nos deparamos por aí, escrevendo,
pintando, desenhando e até tocando instrumentos musicais com os pés ou com a
boca?
É importante frisar que todos aqueles que trabalham com pessoas com
necessidades especiais não podem deixar de aguçar sua sensibilidade e de se
envolver em constante atualização e reflexão sobre a prática, porque precisam
ajudar o aluno especial a vencer as dificuldades que ele encontra para aprender,
afastando-lhe simultaneamente o medo e a insegurança, pois a inerência básica
que distingue a Educação Especial do ensino regular é justamente a
particularidade de exercitar em profunda escala o respeito às tais diferenças
individuais, promovendo o progresso das metodologias pedagógicas que visam
adaptar a Escola a essas diferenças.
Em termo de legislação e ações governamentais concretas, pode-se dizer
que a absurda demora de uma conscientização e da interferência estatal,
mediante políticas públicas, deve-se ao secular e já mencionado preconceito, que
fazia com que a efetiva integração das pessoas com necessidades especiais fosse
encarada como “caridade” e “assistencialismo” e não como um direito consolidado
pelo princípio da igualdade (Constituição da República Federativa do Brasil, Art.
5°). Por conta disso, o inicio da institucionalização da Educação Especial no Brasil
19data de 1961, quando este tópico foi inserido na primeira Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional – LDB (Lei N° 4.024, de 20 de dezembro de 1961), com a
orientação de que a educação dos “excepcionais” deveria, na medida do possível,
enquadrar-se no sistema geral de educação.
Logo em seguida, inicia-se na década de 70 um processo de centralização
administrativa, com a coordenação política a cargo do governo federal e, em 1971,
edita-se a Lei n° 5692/71, que prevê o tratamento especial para os alunos que
apresentam deficiências físicas ou mentais, bem como para os superdotados.
(SEESP-MEC, 1994)
Na década de 70 também é criado o CENESP, junto ao MEC, com o objetivo de centralizar e coordenar as ações da política educacional. Este órgão existiu até 1986. (...) Em 1986 é criada a CERDE (Coordenadoria para a integração da pessoa portadora de deficiência), junto à Presidência da República para coordenar assuntos, atividades e medidas referentes ao portador de deficiência. Extinto o CENESP, criou-se a Secretaria de Educação Especial do MEC ...
...Percebe-se, todavia, que a partir da década de 90, as discussões referentes à educação das pessoas com necessidades especiais tomam uma dimensão maior. (...) Mais recentemente podemos evidenciar a última LDB 9394/96, que em seu Capítulo V, aponta que a educação dos portadores de necessidades especiais deve-se dar preferencialmente na rede regular de ensino, o que significa uma nova forma de entender a educação de integração dessas pessoas” (SEESP-MEC, 1994)
Finalmente, como decorrência da Conferência Mundial sobre a “Educação
para todos”, ocorrida em Jomtien, na Tailância, em 1990, bem como da
“Declaração de Salamanca”, em 1994, na Espanha, o Brasil assumiu, perante a
comunidade internacional, o compromisso de combater a exclusão de qualquer
pessoa do sistema educacional, aderindo ao princípio da inclusão escolar, com o
devido respaldo das diretrizes nacionais, cujo objetivo teórico é garantir a escola
para todos, inclusive para os alunos com necessidades educacionais
especiais.(SEESP-MEC, 2002)
De acordo com a Secretaria de Educação Especial do Ministério da
Educação e Cultura – SEESP-MEC,
20“Modalidades de atendimento educacional são alternativas de procedimentos didáticos específicos e adequados às necessidades educativas do alunado de educação especial e que implicam espaços físicos, recursos humanos e materiais diferenciados”. E ainda: “No Brasil, as modalidades de atendimento em educação especial são: ‘escola especial’, ‘sala de estimulação essencial’, ‘classe especial’, ‘oficina pedagógica’, ‘classe comum’, ‘sala de recursos’, ‘ensino com professor itinerante’, ‘classe hospitalar’, ‘atendimento domiciliar’ e centro integrado de educação especial’ “.(SEESP-MEC, 2002)
A bem da verdade, é incontestável que algumas destas modalidades não
se encontram na prática com a mesma facilidade com que figuram na teoria.
Entretanto, apesar dos inegáveis avanços obtidos e da grande importância de tais
conquistas, não se pode deixar de ressaltar que, infelizmente, ainda há muito a ser
conquistado, pois, em relação à Síndrome de autismo, toda a garantia de “escola
para todos” e a integração que as leis e as autoridades brasileira preconizam de
várias formas, não passam de mera utopia, pois, os autistas no Brasil ainda se
encontram completamente alijado desse conceito de “todos” adotado pelo
governo.
1.2 – Qual é a expectativa da sociedade em relação ao papel do
profissional de educação?
Há que se tecer, nestes primeiros parágrafos, uma rápida
consideração sobre alguns aspectos que, à primeira vista, poderão parecer uma
descontextualização do tema principal, considerando-se tratar de uma monografia,
mas a simples continuidade da leitura provará o contrário. Serão apenas algumas
sucintas explicações necessárias ao acompanhamento e compreensão satisfatória
do trabalho ora apresentado.
Uma pessoa pode abraçar uma determinada profissão com base em
diversos motivos: pelo “status” que ela possa representar no meio social: pelo
exemplo, sugestão ou imposição de seus pais; pela perspectiva de – por meio
21dela, ganhar muito dinheiro, e até mesmo, por simples identificação com o tipo de
trabalho, por idealismo etc. Porém, há que se considerar que todo trabalho que o
indivíduo executa como meio de vida, em troca de salário, jamais interessa ou se
destina só a ele, mas sim e sempre, a uma coletividade, mesmo que esta
coletividade se restrinja a um grupo de interesse isolado.
E considerando-se, ainda, que qualquer profissão somente se consolida
ou de institucionaliza a partir de sua regulamentação, com a devida interferência
dos órgãos próprios e também o respaldo dos demais membros da sociedade,
compreenderemos que um povo inteiro não aceita ou recepciona como útil um
determinado segmento de trabalho com o objetivo de simplesmente adaptar-se
aos caprichos pessoais de quem o exerce. Não se admite a atividade do médico,
do professor ou do torneiro-mecânico por compactuar com o seu propósito de
agradar aos respectivos entes-queridos, ou para que enriqueçam com o produto
da profissão escolhida; tais atributos podem até advir por conseqüência, mas o
que verdadeiramente se espera é que esse indivíduo opere em função e beneficio
de todos os demais que porventura venham a necessitar do respectivo serviço.
Espera-se que qualquer profissão possa servir de suporte e credencial para
alguém que. Legitimamente, esteja apto e sempre pronto a cumprir e exercer a
sua obrigação intrínseca de socorres ajudar e servir – com ética - , tanto a
sociedade como um todo, quanto qualquer um de seus integrantes isoladamente,
através do oficio que escolheu e mediante a aplicação do seu fator laborativo
E observe-se, sete contexto, que quem regulamenta e autoriza, também
fiscaliza e pune. O senso geral entende, sem dúvida, que a formação profissional
de alguém deve significar um meio de vida, tanto para o próprio ser que a exerce,
quanto para os demais, e uma incontestável prova disto são as sanções, as
multas e até a perda de registro profissional previstos pelos órgãos de classe, ou a
própria responsabilidade civil e penal , previstas em lei e aplicáveis àqueles que
22erram por imperícia, imprudência, negligência, dolo ou omissão durante o
exercício de sues ofícios.
Por conseqüência, à luz da lei e de todas as normas vigentes, aos olhos
do povo e sob a égide da ética profissional, todos são responsáveis pelo
desenvolvimento humano e pela construção de um mundo melhor, visto que –
cada qual na sua área de atuação – todos devem tentar extrair e dar o melhor do
seu trabalho, e não só o que lhes seja mais conveniente, de tal forma que o
resultado de sua atuação possa traduzir-se em algo de benéfico para a
humanidade ou – no mínimo – para aquela gama de pessoas que integrem
diretamente o seu universo de convivência e trabalho ou façam parte do público
alvo da sua produção. De outra forma, não teríamos hoje o imprescindível domínio
da eletricidade, a tecnologia dos transplantes de órgãos, o computador e a
Internet, as vacinas que curam, ou mesmo uma modalidade de educação
chamada “Educação Especial”.
Sob este mesmo prisma também se traduz a expectativa geral em relação
ao profissional de educação. Porém, certamente, com uma ênfase muito mais
acentuada, porque este, em razão de ser um formador de opinião por excelência
e, genuinamente, um “edificador de pessoas”, tem em seus braços uma
responsabilidade bem maior em relação ao progresso humano em geral. E é
assim que, dentre o conjunto global dos professores, comportam-se e destacam-
se efetivamente aqueles mais altruístas, dinâmicos e responsáveis, que – notória
e felizmente, ainda constituem uma maioria; pois sob a égide da ética profissional,
conforme já dito, todos são responsáveis por um mundo melhor. Porém, é obvio:
alguns assumem tal responsabilidade, outros se isentam dela. Afinal, a forma com
que o médico, o alfaiate e o torneiro-mecânico encaram oi mundo, nem sempre
será parecida com a de um bom professor, ante a necessidade de suscitar o
senso de cidadania, erradicar a exclusão dos diferentes e “construir” a
capacidade, a sociabilidade e a autonomia pessoal nos semelhantes.
23
“ O professor deve assumir-se também como sujeito da produção do saber, convencendo-se definitivamente de que “ensinar não é só transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1997, p. 52)
1.3 – Necessidades Educacionais Especiais: construção do
conceito.
Em uma recente estatística veiculada pela Coordenação de Atenção a
Grupos Especiais, do Ministério da Saúde, salientou-se:
“A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que, em tempos de paz, 10% da população de países desenvolvidos são constituídos de pessoas com algum tipo de deficiência. Para os países em vias de desenvolvimento, estima-se de 12 a 15%. Destes, 20% seriam portadores de deficiência física.Considerando-se o total dos portadores de qualquer tipo de deficiência, apenas 2% deles recebem atendimento especializado, público ou privado”.
Para traçar uma panorama sobre a Educação Especial do Brasil, há que se
evidenciar o que especificamente convencionou-se chamar de “necessidades
especiais” . Isso porque, como ainda veremos mais detalhamente adiante, a
Educação Especial é o mais relevante aspecto ligado às “necessidades especiais”,
e o autismo, um de seus mais complexos elementos.
Para efeito de comparação que a “visão” e postura dos educadores diante
de determinadas limitações humanas, num certo aspecto, são mais amplas que as
do universo médico-cientifico, pois, enquanto a ciência médica se preocupa, via de
regra, em extirpar as dores físicas, restaurar a locomoção motora e encontrar a
“cura” sob um prisma mais material, o educador envolve-se, além disso, com as
inerências da alma, com a construção de um mínimo de harmonia íntima e com a
edificação do auto-respeito do indivíduo – fatores imprescindíveis, até para as
pessoas ditas “normais”, no que se refere à conquista da felicidade, do equilíbrio e
da motivação de vida.
24Os médico-cientistas, em um definição básica, dizem:
“A deficiência física refere-se ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema ósteo-articular, o sistema muscular e o sistema nervoso. As doenças ou lesões que afetam quaisquer desses sistema, isoladamente ou em conjunto, podem produzir quadros de limitações físicas de grau ou gravidade variáveis, segundo o(s) seguimento(s) corporais afetados e o tipo de lesão ocorrida”. (SEESP-MEC, 1994)
Porém, na ótica dos educadores, considera-se genericamente como
“pessoa com necessidades especiais” todo e qualquer ser humano acometido de
algum tipo de deficiência, e quando este se insere como alvo do trabalho
pedagógico, quando procura, almeja ou é encaminhado ao âmbito da escola ou da
educação, passa potencialmente a se situar com um “aluno com necessidades
educacionais especiais”. Ou seja, o indivíduo que, na ótica do senso comum,
classifica-se como “deficiente”, porque, em comparação com a maioria dos
demais, apresenta significativas diferenças físicas sensoriais, intelectuais ou
cognitivas de caráter permanente, oriundas de fatores inatos e/ou adquiridos,
gerando-lhe extrema dificuldade no que tange a sua interação com o meio físico e
social, configura-se, para o universo educacional, como uma pessoa com
necessidades especiais; isto é, tenta-se suavizar o “rótulo” do indivíduo imbuído
das características acima, incluindo-se ainda, aquele que apresente condutas
típicas ou altíssimas habilidades (acima da média), suficientes para desenquadrá-
lo dos métodos comuns e fazê-lo necessitar de recursos especializados para
superar ou minimizar suas dificuldades. Vê-se que a ênfase aqui não se restringe
à deficiência, mas abrange, valoriza e respeita a diferença. (SEESP-MEC, 1994)
Por fim, situar-se-à essa pessoa como um aluno com necessidades
educacionais especiais por entender-se que, em razão de suas dificuldades
maiores no domínio das aprendizagens curriculares próprias da sua faixa etária,
por qualquer que seja a causa, necessita ele de significativas adaptações
metodológicas ou da remoção das barreiras arquitetônicas da escola, para que
possa minimizar ou superar suas necessidades. (SEESP-MEC, 1994)
25Com relação a tudo que foi dito acima, cremos ser imprescindível salientar
que tanto para a pessoa portadora de alguma diferença, limitativa, quanto para
seus pais ou familiares, é muito mais duro ouvir do médico que “Trata-se de uma
tetraplegia que requer tratamento fisioterápico contínuo”, ou que “ O seu filho tem
Síndrome de autismo – um distúrbio comportamental grave, sem cura conhecida
ou causa estabelecida”, do que ouvir de um educador: “Seu filho tem
necessidades educacionais especiais e, em uma escola apropriada, poderá
certamente desenvolver inúmeras habilidades e até conquistar a possibilidade de
integração com o meio social”.
Como se pode perceber até aqui, o conceito de “necessidades
educacionais especiais”, que se consolidou a partir dos anos 60, é muito genérico.
Coll, Palácios, e Marchesi (1995, p. 11), em seu estudo denominado
“Desenvolvimento Psicológico e Educação” dizem que aluno com Necessidades
Educacionais Especiais é aquele que “apresenta algum problerna de
aprendizagem ao longo de sua escolarização, que exige uma atenção especifica e
maiores recursos educacionais do que os necessários para os colegas de sua
idade”. Sabe-se, entretanto, que tais “necessidades” traduzem-se, em toda uma
complexa diversidade de limitações físicas, mentais e relacionais de algumas
pessoas, advindas, na grande maioria das vezes, de uma incontável gama de
especificidades, dentre as quais se situa a Síndrome de autismo, além das
deficiências físicas e sensoriais em geral (cegueira, surdez etc), fatores que ao
longo dos tempos, sob o enfoque social, em razão da ignorância e do preconceito
da maioria “normal” da sociedade, sempre propiciaram a exclusão dessas pessoas
do âmbito escolar/educional; pois, ainda de acordo com os supramencionados
autores, em relação ao exposto, convencionou-se tratar tais desafios como
‘problemas de aprendizagem’ para evitar a terminologia da deficiência. (COLL et.
al. 1995, p. 11).
Certo é que, apesar de algumas reações contrárias e vários
posicionamentos críticos divergentes, com base nas diretrizes da “Declaração de
26Salamanca”, convencionou-se, muito apropriadamente, designar como
“necessidade educacional especial” toda e qualquer diferença individual capaz de
suscitar a exclusão ou a discriminação do ser humano dos meios escolares, posto
que, para um profissional da educação comprometido com a sua função social,
não importam muito os rótulos nem a maioria dos aspectos científicos das
doenças – isto é uma inerência médica – o que interessa, na verdade, é a
erradicação do preconceito e da exclusão escolar, bem como a adaptação de
métodos, programas e espaços para que se possam atender e educar também os
que se apresentam como “diferentes” daqueles que se costumam classificar como
“normais”.
Por conseqüência do empenho dos educadores e dos vários grupos sociais
comprometidos com a causa da Educação Especial, mediante conferências,
simpósios etc., a partir da segunda metade dos século XX, a escola veio
produzindo o milagre de sensibilizar e esclarecer, tanto as sociedades quanto os
governos em nível internacional, no sentido de visualizar-se que qualquer pessoa
imbuída de inteligência e algum equilíbrio emocional é capaz de aprender, mesmo
que possua algum tipo de deficiência, e, a partir desta mesma mentalidade,
adotou-se um posicionamento capaz de propiciar o surgimento das práticas e
condutas pedagógicas que conhecemos hoje, como por exemplo, a própria
“Educação Especial”. Ou seja, desmistificou-se errônea concepção de que os
portadores de deficiência física, mental ou sensorial eram incapazes de aprender,
de produzir ou de conquistar alguma independência pessoal, estabelecendo-se
afinal, que todos aprendem, mas nem sempre, da mesma forma, ou seja; mesmo
aqueles que são capazes de aprender tudo que os “normais” aprenderiam, apenas
não aprenderão do mesmo modo ou pelos mesmos “caminhos”. Aprenderão sim,
mas de forma diferente, porque o aprendizado e a percepção são características
individuais. (COLL, et. al. 1994)
27Neste contexto, tem-se hoje, como consolidada nos meios educacionais, a
permuta da “pesada” e depreciativa expressão “pessoas” ou “alunos deficientes” –
tão arraigada desde os primórdios no seio do senso comum – pela feliz
denominação “pessoas ou alunos com necessidades especiais”.
Logicamente, nenhum ideal conta com unanimidade de aceitação, então,
versam os autores de “Desenvolvimento Psicológico e Educação” (COLL, et. al.
1994), já referenciados, sobre alguns posicionamentos críticos a respeito:
“Apesar das indubitáveis vantagens, o conceito de necessidades educacionais especiais tem sido discutido e criticado, Um primeiro grupo de críticas procede daqueles que o consideram um termo excessivamente vago e que remete constantemente a novos conceitos para a sua compreensão adequada (...).
Um segundo bloco (...) refere-se à sua abrangência excessiva. A educação especial passou de 2% de alunos com deficiências permanentes a 20% de alunos com necessidades educacionais especiais (...) e que os alunos com um rendimento superior ao da média também teriam necessidades educacionais especiais, ainda que, neste caso, sua demanda estivesse relacionada a ritmos mais rápidos ou conteúdos mais profundos. Caso fosse assim, caberia perguntar qual é a utilidade da nova terminologia, se a maioria dos alunos encontram-se dentro dela.
Uma terceira linha (...) encontra-se naqueles que consideram que as necessidades especiais não fazem uma diferenciação entre os problemas que são de responsabilidade direta do sistema educacional e os outros que são produzidos em âmbitos de experiência diferentes (família, classe social, minoria étnica etc.), podendo ocorrer que muitas crianças tenham necessidades especiais sem que isso pressuponha que elas tenham necessariamente necessidades educacionais,
Finalmente, acusou-se este conceito de apresentar uma imagem excessivamente otimista da educação especial. Parecia que, ao suprimir-se a palavra ‘deficiência’, estas tornar-se-iam menos graves e que, ao centrar os problemas na escola e na provisão de recursos, seria possível garantir o pleno desenvolvimento de todos os alunos em condições normalizadoras...
Este conjunto de objeções faz com que seja necessário precisar e perfilar o conceito de necessidades educacionais. Não pode converter-se nem em um termo que mascare os problemas reais, nem em uma concepção que faça com que se esqueça o importante papel que os diferentes ambientes extra escolares desempenham, inclusive dentro da própria realidade escolar. No entanto, admitindo-se a importância de sua utilização especifica e cuidadosa, bem como a necessidade de sua concretização progressiva, é preciso reconhecer seu enorme valor histórico, que permitiu colocar a ênfase principal nas possibilidades da escola, abrir o caminho da reforma educacional para adequar-se a estas reavaliações e mostrar com maior clareza os objetivos da integração escolar”.
28
E comentam eles, ainda, sobre as importantes modificações ocorridas em
meados do século XX:
“Continuavam, certamente, tendo total vigência os dados quantitativos proporcionados pelos testes de inteligência... mas já se levava em conta as influências sociais e culturais que podiam determinar um funcionamento intelectual mais deficiente. Firmava-se a concepção de que a deficiência podia ser motivada pela ausência de estimulação adequada ou por processos de aprendizagem incorretos. Ao mesmo tempo, incluíam-se os conceitos de adaptação social e aprendizagem nas definições sobre o atraso intelectual”. (COLL, el. al. 1995, p. 13/14)
29
CAPÍTULO II
O AUTISMO
2.1 – Um breve histórico: definindo o campo de estudo sobre o
autismo
Historicamente, encontramos na literatura referências sobre o autismo
desde a Antiguidade, onde já existiam descrições de crianças ou adultos que
apresentavam comportamentos estranhos que podem ser relacionados ao
autismo.
A literatura relata casos mais concretos a partir dos séculos XVIII e XIX, que
estimulados pelos filósofos Locke e Rousseau e pelas idéias sobre o papel da
natureza, da educação e da cultura definidos pela Psicologia Humana, o interesse
de desvendar os casos de crianças com perturbações das capacidades de
interação e contato afetivo cresceu, e, em 1799 um farmacêutico inglês descreve
claramente um caso de autismo. E no final do século XVIII, Jean Itard precursor
da educação especial2 interessa-se pelo caso de Victor de Aveyron – uma criança
selvagem - encontrado no bosque de Bassim, no sul da França em que também
relatam descrições detalhadas de sua conduta como semelhante ao do autismo,
apesar das controvérsias de alguns estudiosos. (COLL, et. al. 1995)
No inicio do século XX, os psiquiatras adotaram diversos nomes para
designar casos semelhantes ao autismo, mas o termo autista só foi introduzido na
2 Itard pode ser considerado o fundador da educação especial, pois, a partir de seu trabalho com Victos de Aveyron, elaborou o primeiro programa sistemático de educação especial.
30literatura psiquiátrica em 1911, pelo então, psiquiatra Plouller3 para definir o
comportamento de seus pacientes esquizofrênicos a centralizarem-se em si
mesmo. (GAUDERER, 1993)
Leo Kranner (1943 in Gauderer, 1997), psiquiatra infantil, utilizou o termo
introduzido por Plouller, para intitular seu artigo “Autistic Disturbance of Affective
Contact”– Distúrbio Autistíco do Contato Afetivo – em que descreve onze casos de
crianças que chegaram até ele. Essas crianças apresentavam certas
características comuns e a mais aparente
era a incapacidade de se relacionar com pessoas. A partir daí, Krenner passou a
utilizar esse adjetivo para descrever a qualidade do relacionamento dessas
crianças, passando a adotar o termo “autismo infantil precoce”, por manifestar-se
no inicio da infância. (GAUDERER, 1997)
Hans Asperger, em 1944 escreveu um artigo em que descreve
comportamentos de crianças, semelhantes ao descrito por Kranner, que
denominou de “Psicopatologia Autística da Infância” (MELLO, 2003). Ao contrário
do artigo de Kranner o do Doutor Asperger levou alguns anos para ser
reconhecido, talvez por ter sido escrito originalmente em alemão e em razão da
Segunda Guerra Mundial as comunicações entre as comunidade científicas dos
EEUA e da Europa estavam prejudicadas, atrasando a divulgação do trabalho de
Asperger. (BAPTISTA E BOSA, 2002)
Ao final da década de 40 e início da década de 60, o autismo
continuou a ser estudado e observado por vários autores. Estes, para
descreverem os pacientes que apresentavam sintomas menos graves, passaram
a usar o termo “desenvolvimento atípico”. (GAUDERER, 1997)
3 Consultando o trabalho de Coll, et al, 1995, p. 274 encontramos o terno autismo como se registrado por Beutler, contendo a mesma data.
31A partir dos anos setenta, o autismo passou a ser caracterizado como um
quadro de deficiências importantes no desenvolvimento simbólico e imaginativo da
criança, que pode ser acompanhado de deficiência mental. Com isso a idéia de
Kranner, de que as crianças autistas eram inteligentes, é colocada em questão.
Essa idéia acabou instigando novos estudos, dando margem a trabalhos que
evidenciaram as mais diversas áreas como a cognição e a linguagem (GAUDER,
1993)
Sob essa nova visão, Ritvo, em 1976, publica um livro onde apresenta uma
síntese dos problemas típicos das crianças autistas. Este estudioso ressalta que
se deve considerar o somatório de situações que vão desde o desenvolvimento da
aprendizagem, ao comportamento, à comunicação, à percepção e às dificuldades
sensoriais, como também os problemas neurológicos – as convulsões. Deste
modo, Ritvo destaca a importância de uma abordagem global da criança, quando
se visa a sua socialização. O autor diz que reeducação dessa criança, deve levar
em conta técnicas pedagógicas especificas, além de auxílio psicoterapêutico
especificamente desenvolvido para atender as necessidades de cada criança.
(GAUDERER,1993)
Em 1980 o DSM-III e DSM-III-R (Manual Diagnostico e Estatística de
Transtornos Mentais) publicado pela Associação Psiquiátrica América (APA),
passa a classificar o autismo como distúrbio do desenvolvimento, com isso deixa
de considerar o autismo como sintoma inicial da esquizofrenia infantil,
apresentando uma proposta classificatória extremamente abrangente para o
diagnostico do autismo infantil. (GAUDERER, 1997).
O autismo hoje, segundo o DSM-IV e o CID-10, é considerado como uma
síndrome comportamental com etiologias múltiplas e curso de um distúrbio de
desenvolvimento, usualmente combinado com déficits de linguagem e alterações
de comportamento. (SCHWARZMAN, 2003)
32No Brasil, o autismo vem sendo estudado e pesquisado por profissionais
das áreas de saúde e educação desde a década de 40, e que devido ao
desconhecimento cientifico ou por insegurança profissional, acabou por criar
situações de polêmica causando desentendimento e até desrespeito profissional.
Mas por volta do final da década de 70 e inicio da década de 80 as
abordagens sobre o autismo ficaram mais abrangentes e multidisciplinares,
inclusive em áreas como a neurologia que passa a aceitar contribuições de outras
áreas como a fonoaudiólogia, psiquiatria, pedagogia. (GAUDERER, 1997)
2.2 – Conceituação de autismo: a evolução do termo
Kranner (1943 in Gauderer, 1992) em sua primeira idéia sobre o autismo,
tentou apresentar detalhadamente suas observações sobre os onze casos por ele
estudados e que os autistas apresentavam as seguintes características:
Inabilidade de se relacionar com outras pessoas;
Falha de desenvolver a fala, ou esta se apresentava anormal;
Respostas anormais a objetos conhecidos e situações do cotidiano;
Bom potencial cognitivo com excelente memória;
Fisicamente normais.
Essa conceituação de autismo era muito restrita; assim é que só eram
diagnosticadas como autistas as crianças que não apresentavam nenhuma
habilidade de socialização. Tais conceitos não facilitaram a diferenciação entre o
autismo e a esquizofrenia infantil.
Ritvo (1976 in Gauderer, 1997) diferentemente de Kranner, referia-se ao
autismo como um problema de desenvolvimento. Desta forma, Ritvo constatou
que a caracterização do autismo poderia ser feita a partir da idade do
33aparecimento, isto é, já no nascimento. São as seguintes características da
pessoa autista, segundo Ritvo (in GAUDERE, 1997)
Distúrbios de percepção;
Distúrbios de desenvolvimento;
Distúrbios de relacionamento social;
Distúrbios de fala e da linguagem;
Distúrbios da motilidade.
Os critérios desenvolvidos por Ritvo serviram de base para a revisão da
terceira edição do DSM-III-R, que coloca o autismo infantil dentro dos distúrbios
globais de desenvolvimento das habilidades de comunicação verbal e não verbal e
da atividade imaginativa (GAUDERER, 1997).
E da 10ª Classificação Internacional de Doenças Mentais CID-10, que
segue os mesmos padrões descritos acima e enquadra o autismo como
“problemas abrangentes de desenvolvimento” que se caracteriza por apresentar
déficits qualitativos na interação social recíproca e nos padrões de comunicação e
por repertório de atividade e interesses restritivos, repetitivos e estereotipados.
(MELLO, 2003)
A definição utilizada está na 10ª Classificação Internacional de Doenças
Mentais – CID-10, que enquadra o autismo na categoria “Transtornos Invasivos do
Desenvolvimento”, caracterizados por anormalidades qualitativas na interação
social recíproca e nos padrões de comunicação, e por repertório de interesses e
atividades restritas, repetitivas e estereotipadas (MELLO, AMA-SP, 2003)
2.3 – Manifestações mais comuns
O autismo é um transtorno do desenvolvimento causado por uma
disfunção neurológica. As pessoas autistas têm afetado a maneira que se
34alimentam, que se vestem, que usam seu tempo de lazer, dentre outros aspectos
e atividades de sua vida diária. Conseqüentemente produzem padrões de
comportamento característicos e previsíveis.
Segundo Gauderer (1997) o comportamento da pessoa autista é
caracterizado por dificuldades e anormalidades em várias áreas: habilidades de
comunicação, relacionamento social, funcionamento cognitivo, processamento
sensorial e comportamento, que podem ser notadas a partir das seguintes
manifestações:
Sinais e Sintomas na Relação
A criança autista reage de maneira inconstante: às vezes chorosa e apática,
outras vezes inquieta e desperta. Consta a ausência do sorriso e dos movimentos
antecipatórios, hipotonia, bloqueio do olhar, isto é, ao ser captado torna-se evasivo
e furtivo. Mostra-se indiferente às pessoas, revelando-se intolerante às
frustrações, que conjugam, sem motivo aparente, com comportamento
exuberantes de risos e agitação motora, crises de cólera e angústia mediadas por
auto e/ou hetero-agressividades.
Distúrbios Funcionais
De maneira muito precoce, a criança autista tem seu sono perturbado e de
padrão inconstante. Constata-se tanto insônia agitada, com excitação motora, ou
pelo contrário, insônia calma, na qual a criança permanece na cama, imóvel, com
os olhos abertos.
Os distúrbios alimentares também estão presentes. São caracterizados pela
sua precocidade, desde a ausência da procura do mamilo, quando lactente, até as
dificuldades (ou recusa) de ingestão de alimentos sólidos.
35A conduta esfincteriana, nas crianças autistas geralmente são
encopréticas4 e/ou enuréticas5, mostrando-se resistentes a submeterem-se à
aprendizagem relativa a higiene.
Perturbações do Comportamento
Nas crianças autistas, os distúrbios psicomotores se revelam com evidência.
Na ausência de qualquer lesão, neurológica, conservam determinados
comportamentos tônico-posturais como sendo um modo arcaico de comunicação.
Estas crianças apresentam estereotipias motoras, com movimentos de rodopio,
balanceamento do tronco, conduta de “farejamento” (ato de cheirar tanto os
objetos quanto as pessoas), de movimentos de toques bruscos nos objetos;
mantêm a cabeça inclinada, marcham sobre as pontas dos pés.
Perturbações da Imagem do Corpo
A maneira como a criança autista apreende o corpo e seus movimento,
parece não estabelecer a integração da psique com o resto do corpo. Ao corpo
não são atribuídos qualidades de comunicação, seja da criança consigo própria ou
com o ambiente. A imagem corporal parece não existir. A imagem refletida no
espelho pode significar algo que se movimenta, mas não assume gestos de
interação e de noção de individualidade para esses indivíduos. Diante do espelho,
a criança autista é indiferente à própria imagem, tal qual se o corpo fosse pensado
(percebido) como um espaço sensorial onde ela está aprisionada, mas que não
constitui-se como uma unidade.
4 Encoprética é a incontinência fecal funcional involuntária. O controle intestinal pode alcançar-se antes dos 5 anos de idade, mesmo que, nas crianças com incapacidade psíquica grave possa surgir mais tardiamente.5 Enurética é a emissão aparentemente involuntária de urina pelo adulto ou pela criança que já deveria ter superado o período de educação dos esfíncteres. A Enurese Noturna por crianças mais velhas, adultos ou adolescentes pode ser indício de algum transtorno emocional (ansiedade e/ou depressão), bem como de Disritmia Cerebral. A Enurese que surge em criança que já tinha superado essa fase pode indicar uma regressão psicológica importante, normalmente sugestiva de sério conflito emocional.
36 Perturbações da Linguagem
As perturbações da linguagem, em crianças autistas caracterizam-se por
anomalias específicas, apresentam gritos monocórdios e monótonos, não dirigidos
socialmente. A linguagem pode constituir-se num mutismo primário (intermitente
ou entrecortado) ou de mutismo secundário o que integra geralmente num
contexto de negativismo.
Quando a linguagem é existente, denota-se distúrbios em seus aspectos
léxicos e sintáticos. As crianças referem-se a si mesmas na terceira pessoa do
singular ou pelo nome próprio. Destaca-se, habitualmente, a ecolalia6. Em outros
casos, o discurso da criança parece incompreensível, caracterizado por alterações
de fonação (modulação e timbre), ritmo (fluência acelerada ou diminuída) e
entoação (através de inflexão melódica).
Perturbações Lúdicas
Ao lado do isolamento autistíco revela-se a necessidade de imutabilidade e
da obsessividade com os próprios movimentos e ruídos. Parecendo abandonar a
imaginação e a criatividade, essas crianças refugiam-se em jogos solitários,
monótonos e estereotipados, porém sem valor funcional e simbólico.
Perturbações dos Estímulos Sensoriais
No que diz respeito às experiência perceptivas, se evidenciam respostas
excessivas, diminuídas ou imprevisíveis aos estímulos sensoriais externos.
Algumas crianças manifestam hipersensibilidade, sendo demasiado sensíveis e
aguçados os sentidos do tato, paladar, audição e visão. Até mesmo os estímulos
considerados normais do ambiente provocam-lhes uma sobrecarga insuportável.
6 A ecolalia é um sintoma de linguagem descrito como "repetição em eco da fala do outro". Este sintoma diferencia-se de outros quadros imitativos exatamente por não apresentar "erro". O sintomático, nesse caso, está justamente no "acerto", na rigidez e literalidade da Ecolalia, que denunciam uma fala sem "autoria".O estudo dessas repetições em eco do outro diz respeito à equivalência entre "ecolalia" e "imitação". A repetição da fala do outro tem sido considerada como "porta de entrada" da criança na linguagem.
37Outras crianças, porém, apresentam uma sensibilidade, cujo sistema sensorial
mostra-se insuficiente para levar ao cérebro a quantidade necessária de
informação, ou seja, as crianças parecem receber uma carga insuficiente de
mensagens no cérebro.
A essas características soma-se à manifestação, de insensibilidade à dor, o
que pode nos fazer pensar sobre um processo de alienação de emoções e da
possibilidade de ausência de noção do interior do corpo; por outro lado, podemos
questionar sobre a possibilidade da inoperância do hemisfério direito cerebral.
(GAUDERER, 1997)
Alguns autores, entre eles Kranner (1947, in Gauderer, 1992) tentaram
estabelecer uma relação da frieza emocional das mães e dos pais com o
desenvolvimento autista, julgava que a atitude de comportamento dos pais
pudesse influir no aparecimento da Síndrome e chegou a chamar essas mães de
“mães geladeiras”.
A situação suposta acima não é suficiente para justificar o aparecimento do
autismo, pois este transtorno não parece ser adquirido,conforme nos apontam
vários estudos (Gauderer, 1997 Shuwartzman, 2003). Na verdade Kranner, por ser
um dos primeiros psiquiatras infantis de Nova York, examinava principalmente os
casos raros, sendo suas consultas médicas muito caras, o que fazia com que só
as pessoas de situação econômica mais alta o procurasse, fazendo com que
Kanner concluísse que o nível intelectual dos pais era determinante do autismo.
Desse modo, Kranner estabeleceu uma relação associada ao bom nível sócio-
econômico da criança e a frieza da mãe que, por ter boa situação financeira,
delegava a outras pessoas o cuidado do filho.(GAUDERE, 1993)
De um modo geral, segundo Gauderer (1997), hoje podemos afirmar, com
referência em vários estudiosos que “o autismo ocorre em famílias de todos os
38níveis sócio-econômico, ocupacionais, educacionais, intetectuais, religioso, raciais
ou étnicos”. (COLL, et. al. 1995; SHWARTZMAN, 2003; BAPTISTA E BOSA,
2002)
Apesar do autismo ser bem mais conhecido, ele ainda surpreende pela
diversidade de características que pode apresentar e pelo fato de, na maioria das
vezes, a criança autista ter uma aparência totalmente “normal” fisicamente.
Tais características estão presentes desde idade muito precoce,
tipicamente antes dos três anos de idade, apesar de alguns pais relatarem que a
criança passou por um período de normalidade anteriormente à manifestação dos
sintomas (principalmente quando o bebê é o primeiro filho) e descrevem seu filho
como um bebê “fácil”, pois raramente chorava, não necessitando de estimulação
nem de companhia, tornando-se rígido ou mole quando era segurado nos braços,
ou então, podendo as vezes, ser muito irritáveis e reagir exageradamente a todas
as formas de estimulação e toques. Outros pais descrevem, que seu filho se
desenvolveu normalmente até os dezoito ou vinte e quatro meses, quando
começam a notar os primeiros sintomas. É provável que os sinais clínicos não
tenha sido notados pelos pais anteriormente por serem muito moderados (Ornits
1983 in Gauderer, 1997)
De acordo com o que descrevemos, as manifestações autísticas estão
presente no desenvolvimento infantil desde o nascimento. Desta forma Ornitz
(1983 in Gauderer, 1997) organizou um quadro de evolução da sintomatologia
autística durante o desenvolvimento da criança:
1. O recém nascido
Parece diferente dos outros bebês;
Parece não precisar de sua mãe;
Raramente chora (“um bebê muito comportado”);
Torna-se rígido quando é segurado no colo;
Às vezes mostra-se muito reativo aos elementos irritáveis.
39
2. Os seis primeiros meses
Não pede nada; não nota sua mãe;
Sorriso, resmungos, respostas antecipadas são ausentes ou retardados;
Falta de interesse por jogos, muito reativo aos sons muito altos.
3. De seis a doze meses
Não afetuoso;
Não interessado por jogos sociais;
Quando é seguro no colo, é indiferente ou rígido;
Ausência de comunicação verbal ou não-verbal;
Hipo ou hiper-reativo aos estímulos
Aversão pela alimentação sólida;
Etapas do desenvolvimento motor irregulares ou retardadas.
4. O segundo e terceiro ano
Indiferente aos contatos sociais;
Comunica mexendo a mão do adulto;
O único interesse pelos brinquedos consiste em alinhá-los;
Intolerância à novidade nos jogos;
Procura estimulações sensoriais como ranger os dentes, esfregar e
arranhar superfícies, fitar fixamente detalhes visuais, olhar mãos em movimento
ou objetos com movimentos circulares;
Particularidades motoras: bate palmas, anda nas pontas dos pés, balança a
cabeça, gira em torno de si mesmo.
5. O quarto e quinto anos
Ausência de contato visual;
40
Jogos: ausência de fantasias, de imaginação, de jogos de representação;
Linguagem limitada ou ausente – ecolalia; inversão pronominal;
Anomalias do ritmo do discurso, do tom e das inflexões;
Resistência às mudanças no ambiente e nas rotinas.
Quando a criança com autismo cresce, desenvolve sua habilidade social
em extensão variada. Alguns permanecem indiferentes, não entendendo o que se
passa na vida social, comportando-se como se as outras pessoas não existissem;
olham através do outro como se não estivessem lá, não reagindo a alguém que
fale com ela ou as chame pelo nome. Suas faces mostram pouco de suas
emoções; exceto se estiverem encolerizadas ou agitadas, são indiferentes ou tem
medo de seus colegas, e usam as pessoas como meios para obter alguma coisa
que queiram (GAUDERER, 1997).
Nenhuma destas manifestações pode ser indicativa do autismo infantil
considerado de forma isolada e transitório, a sua persistência e a existência de um
certo número de sinais associados é que demonstrará, ou não, indícios da
síndrome.
2.4 – Espectro de manifestações autística:
Lorna Wing (1979 in Gauderer 1997) definiu o autismo como sendo uma
síndrome, que se caracteriza por apresentar “Alterações presentes desde idade
muito precoce, tipicamente antes dos três anos de idade, e que se caracteriza
sempre por desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no uso da
imaginação”. Estes três desvios ao aparecerem juntos caracterizam o autismo,
(Wing in Gauderer, 1993).
A seguir, passaremos a definir as alterações autística descritas por Wing:
412.4.1 – Desvios qualitativos na socialização
Esses desvios significam a dificuldade em que o autista tem em se
relacionar com os outros, a incapacidade de compartilhar sentimentos, gostos e
emoções e a dificuldade na discriminação entre diferentes pessoas. Essas
anormalidades podem ser observadas desde o inicio da vida, pois já aparecem
antes do final do primeiro ano de vida, em que a criança não demonstra satisfação
ao ser colocado no colo pelos seus pais, podendo resistir ao toque ou ao abraço.
Muitas vezes a criança autista aparenta ser muito afetiva por aproximar-se
das pessoas abraçando-as e mexendo em seu cabelo ou mesmo beijando-as,
quando na verdade ela adota indiscriminadamente essa postura, sem diferenciar
pessoas, lugares ou momento. Essa reação sugere que a falha básica nos autista
é a incapacidade de atribuir aos outros indivíduos sentimentos e pontos de vista
diferentes do seu próprio. Essa aproximação usualmente segue um padrão
repetitivo e não contém nenhum tipo de troca ou compartilhamento, tanto que as
pessoas, os animais e os objetos acabam sendo tratados de um mesmo modo,
visto que a criança não percebe a diferença entre um indivíduo que pensa e tem
desejos e um objeto inanimado. Desta forma, a criança autista não compreende
como se estabelecem as relações de amizades. Muitas delas não têm amigos e
outras acreditam que todas as crianças de sua sala de aula são seus amigos. A
indiferença em dividir atividade e interesses com outras pessoas também é um
sintoma marcante, o que acaba provocando dificuldades em manter um contato
social inicial, demonstrando problemas para sustentar esse contato, com
freqüência interrompido prematuramente.
A dificuldade de socialização, é responsável, em muitos casos, pela falta ou
diminuição da capacidade de imitar, que é uns dos pré-requisitos cruciais para o
aprendizado, e também pela dificuldade de se colocar no lugar do outro e de
compreender os fatos a partir da perspectiva do outro.
42Com o passar dos anos, as anormalidades de relacionamento social
tornam-se menos evidentes, principalmente se a criança é vista próxima de seus
familiares. A resistência em ser tocado ou abraçado tende a diminuir.
2.4.2 – Desvios qualitativos da comunicação
Caracterizam-se pela dificuldade em utilizar, com sentido, todos os
aspectos da comunicação verbal e não verbal, incluindo-se gestos, expressões
faciais, linguagem corporal, ritmo e modulação na linguagem verbal. Esses
desvios de comunicação é que muitas vezes fazem com que os pais percebam
que seus filhos são diferentes das outras crianças da mesma idade, fazendo com
que procurem ajuda médica para que haja uma investigação na falta da aquisição
da linguagem verbal.
Portanto, dentro de grande variação possível na severidade do autismo,
podemos encontrar crianças sem linguagem verbal, e com dificuldades na
comunicação por qualquer outra via. Isto inclui ausência de uso de gestos ou um
uso muito precário dos mesmos; ausência de expressão facial ou expressão facial
incompreensível para os outros e assim por diante, como podemos, igualmente
encontrar crianças que apresentam linguagem verbal, porém esta é repetitiva e
não comunicativa, desta forma a criança autista demonstra sérios problemas na
compreensão e utilização da mímica, gestualidade e fala. Os jogos de “faz de
conta” e de imitação social, amplamente observados nas crianças com
desenvolvimento normal, são falhos ou inexistente.
Caso a criança autista comece a falar as primeiras palavras normalmente,
repentinamente por volta do vigésimo quarto e o trigésimo mês deixam de falar
repentinamente. Os autistas que desenvolveram linguagem apresentam
dificuldades em iniciar ou sustentar diálogos, apesar de se utilizarem da fala, esta
não visa a comunicação, mas simplesmente repetir o que lhes foi dito (ecolalia
43imediata) ou repetem frases ouvidas há horas, ou até mesmo dias antes (ecolalia
tardia).
Outros aspectos da linguagem restrita que é notado na criança autista e a
inversão pronominal, a linguagem metafórica e a invariabilidade do ritmo e
tonalidade da linguagem verbal.
2.4.3 – Desvios qualitativos na imaginação
Esse desvio caracteriza-se por rigidez e inflexibilidade da imaginação e se
estende às várias áreas do pensamento, linguagem e comportamento, pode ser
exemplificado por comportamento obsessivos e ritualísticos, compreensão literal
da linguagem, falta de aceitação das mudanças e dificuldades em processos
criativos.
Esta dificuldade pode ser percebida em sua atividade lúdica, onde o autista
costuma focar seu interesse em apenas um determinado brinquedo ou
determinada maneira de brincar, apresentando insistência na “mesmice”, e se
caracterizando pelo seu comportamento inflexível e suas rotinas e rituais não
funcionais, que costumam se agravar na adolescência, o que acaba fazendo com
que fique caracterizado um diagnóstico de transtorno obsessivo-compulsivo7.
Freqüentemente, crianças autistas vinculam-se, de forma estranha a
determinados objetos ou partes de objetos, tais como pedras, fios, a roda de um
carrinho, apresentam uma atração por objetos brilhantes ou que giram. Os objetos
selecionados a partir de uma determinada característica (cor, textura),
permanecem com a criança durante horas ou dias e, de maneira geral, caso
alguém tente removê-lo a criança torna-se inquieta ou agressiva.
7 Idéias, imagens e impulsos que se repetem na mente do indivíduo de forma estereotipada., quase sempre angustiantes.
44A criança autista é refratária à mudanças de rotina, como mudança de casa,
dos móveis, ou até mesmo de percurso, tais situações costumam perturbar
bastante algumas destas crianças, provocando episodio de agitação psicomotora
e agressividade.
Nos autista o mais jovens e os que tem um funcionamento global mais
baixo8, é comum apresentarem movimentos corporais estereotipados sob a forma
de balanceio da cabeça, movimento com os dedos, saltos e rodopios. Esses
movimentos nos autistas costumam ser bem elaborados e intensos.
Em crianças autistas com inteligência mais desenvolvida, podemos
perceber a fixação em determinados assuntos, na maioria dos casos, incomuns
em crianças da mesma idade, o que é confundido muitas vezes, com nível de
inteligência superior.
Assim, esses três aspectos classificados como desvios, quais sejam
desvios qualitativos na socialização, da comunicação e na imaginação ao
aparecerem juntos é que caracteriza o autismo. (WING in Gauderer, 1993)
8 Testando-se o Q.I (quoeficiente de inteligência) de crianças autistas, vê-se que aproximadamente 60% apresentam desenvolvimento global baixo, isto é, mostram resultados abaixo de 50. (GAUDERER, 1997)
45
CAPÍTULO III
A ESCOLA ESPECIAL E AS INTERVENÇÕES
MULTICIPLINARES NO AUTISMO
3.1 – Avaliação diagnóstica e prognóstico do autismo
Para um diagnóstico médico preciso e claro do autismo, a criança deve ser
muito bem examinada, tanto fisicamente quanto psiconeurológicamente. Para que
se determine a estratégia de atenção nas áreas de educação, saúde e assistência
social. Estas atenções deverão oferecer recursos educativos, terapêuticos e
medicamentosos, conforme a necessidade dessa pessoa.
Essa avaliação do quadro clínico visa um diagnóstico clínico que se baseia,
no achado dos distúrbios, mais ou menos característicos nas áreas da relação
interpessoal, comunicação e comportamento.
No que se refere à investigação clínica e laboratorial que deverá ser
desenvolvida diante da criança com quadro de autismo, algumas considerações
devem ser feitas. Inicialmente, seria importante deixar claro que o autismo é uma
condição crônica, geralmente severa, que compromete de maneira significativa e
definitiva as áreas da interação interpessoal, comunicação e comportamento.
(MELLO, 2003)
O diagnóstico do autismo é feito basicamente através da avaliação do
quadro clínico, não existindo testes laboratoriais específicos para detecção do
autismo. Por isso, diz-se que o autismo não apresenta um marcador biológico.
(ibid)
46Existem vários sistemas diagnósticos utilizados para a classificação
do autismo. Os mais usados são o CID-10 e o DSM-IV, que inclui o autismo nos
Transtornos Invasivos do Desenvolvimento. Segundo esses documentos, os
transtornos se caracterizam por prejuízo severo e invasivo em diversas áreas do
desenvolvimento, tais como: nas habilidades da interação social, nas habilidades
de comunicação, nos comportamentos, nos interesses e atividades. Os prejuízos
qualitativos dessas condições é que definem o desvio em relação ao nível de
desenvolvimento ou idade mental do indivíduo, que apresente esses transtornos.
De maneira mais ou menos comum esses “desvios”, se manifestam nos primeiros
anos de vida e 50% dos autistas apresentam sinais de disfunção cerebral (Retardo
Mental). (CID-10, DSM-IV)
Segundo Schwartzman (2003) estima-se que 60-70% das crianças com
autismo tenham retardo mental variando entre leve e severo: 20-35% apresentam
inteligência limítrofe normal (QI9 entre 70-100) e menos de 5% tem QI superior a
100. Dessa forma, o exame psiconeurológico se faz bastante necessário, pois
autistas de alto rendimento10 (QI superior a 100) podem apresentar, através deste
exame, alterações da forma e conteúdo da fala; comportamento estereotipado e
hiperatividade e dificuldades psicomotoras. Também se deve observar como a
9 O termo QI refere-se ao Quociente de Inteligência. O psicólogo Francês Alfred Binet foi um dos precursores do estudo da inteligência humana e idealizou testes para medi-la e, com isso, tentar melhorar o desempenho escolar das crianças. A inteligência humana, como outras características físicas e psicológicas, tem grande variação dentro dos indivíduos. É natural, portanto, que existam pessoas mais, e menos, inteligentes. Conhecendo-se esta característica pode-se acompanhar melhor cada criança (as mais e as menos inteligentes) em sua vida acadêmica.
A idéia original do teste de QI de Binet seria comparar a idade cronológica com a idade intelectual. Por comodidade definiu-se que o QI médio sempre vale 100 pontos. Uma criança, digamos com 5 anos de idade, que apresentasse um QI de 120 teria, portanto, uma idade intelectual 20% acima da inteligência média (das crianças com 5 anos de idade), ou seja, esta criança teria uma idade intelectual média equivalente à de uma criança de 6 anos de idade.
No caso de adultos, entretanto, faz muito pouco sentido dizer que uma pessoa com idade de 40 anos tem a idade intelectual de um adulto de 48 anos. O número do QI, para adultos, passa a ser pouco significativo e, em geral, é melhor classificar a inteligência em termos de percentagem (ou porcentagem, ou percentil).
10 São aqueles autista que apresentam seus resultados no teste de QI superior a 100.
47criança estabelece contato com as pessoas e objetos, e principalmente que tipo
de relacionamento interpessoal a criança estabelece com seus pais.
Os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento – TID são observados
muitas vezes, juntamente com outras condições médicas gerais. Por esse motivo,
hoje alguns médicos sentem necessidade de exames bioquímicos genéticos e
cromossômicos, eletroencefalográficos de imagens celebrais anatômicas e
funcionais e outros exames que se fizerem necessários, para investigar condições
(possíveis doenças) que têm causas identificáveis e que podem apresentar um
quadro associado de autismo como, por exemplo: Esclerose Tuberosa11,
Síndrome do X frágil12, fenilcetonúria13 entre outras (SCHWARTZMAN, 2003).
Nesse panorama, a importância da anamnese é bastante notada, pois
poderá trazer dados que não apenas levantem suspeita do autismo, mas também
permitir a suposição da presença de alguma outra condição associada ao autismo.
A avaliação auditiva e visual deverá ser realizada sempre que
possível, pois existe a possibilidade da coexistência do autismo com deficiências
auditiva e visual . como explica Gauderer (1992).
Surdez e cegueira na primeira infância podem precipitar sérios problemas emocionais, principalmente se não forem reconhecidos. A combinação dessas deficiências sensoriais com os problemas emocionais decorrentes pode levar a um quadro clínico que se confunde com o autismo, pois este leva a uma falta ou atraso de linguagem nos primeiros anos de vida. É comum inicialmente se pensar em surdez. Fazer uma avaliação otológica é importante para detectar deficiências auditivas crônicas ou
11 É uma desordem genética, relacionada com o Autismo com certa freqüência. É uma condição caracterizada pela presença de tumores benignos e malformações de um ou de vários órgãos, podendo afetar, de forma particular, a pele, a retina, os rins e coração. (SCHWARTZMAN, 2003) 12 A Síndrome do X Frágil é uma condição genética herdada, produzida pela presença de uma alteração molecular ou mesmo de uma quebra na cadeia do cromossomo X, no ponto denominado q27.3 ou q28, condição esta associada a problemas de conduta e de aprendizagem, bem como a diversos graus de deficiência mental. (SCHWARTZMAN, 2003)13 É distúrbio metabólico de herança genética que consiste na deficiência da enzima fenilalanina-hidroxilase, enzima hepática que converte fenilalanina, evitando o acumulo de suas concentrações tóxicas e de seus metabólitos. Após o nascimento, a falta da referida enzima leva à elevação da fenilalanina e de seus metabólitos, com conseqüências sérias para vaios vistemas do organismo. (SCHWARTZMAN, 2003)
48intermitentes. Por outro lado uma criança autista pode ter uma deficiência auditiva.Inicialmente essas crianças são vistas em clinicas de otorrino, logopedia, foniatria ou fonoaudiologia. È importante pensar na possibilidade diagnóstica de autismo, pois estas crianças são muito difíceis de testa. O resultado é o de falsa surdez uma vez que não respondem a estímulos auditivos. Os profissionais devem observar os comportamentos globais destas crianças, que é bastante diferente de um paciente surdo ou surdo-mudo com comprometimento emocional. No exame audiológico a hiper ou hiporreatividade aos estímulos gerais ou sonoros aparece. A grande oscilação dos resultados (ou pouca congruência dos mesmos) é característica do autismo e não da deficiência auditiva
Os responsáveis pela criança avaliada deverão entender que os sintomas
do autismo variam bastante quanto à severidade. Porém mesmo nos casos com
maior comprometimento, não se consegue a “cura”, mas sim, minimizar as
manifestações do quadro clínico, a partir do planejamento do tratamento, após
cuidadosa avaliação Por isso o tratamento deverá visar é que o autista possa ter
seu desempenho levado aos limites de suas potencialidade, fazendo com que o
autista se torne o mais independente possível em toas as áreas que deseje atuar.
(GAUDERER, 1997).
3.2 - O Autismo e a escola especial
“O autismo encontra-se ainda hoje, envolto em profundo desconhecimento”
diz Amy, esclarecendo tratar-se de uma “doença que demanda a intervenção
conjudada de profissionais de distintas especialidade”. (YOSHIJUMA, Op.Cit. p.
17)
Quanto ao Brasil, com base na “aura” de sedução e encantamento
com que alguns filmes e livros importados tratam do assunto, o senso comum
ainda depreende, quase exclusivamente, que o autista é “simplesmente” um ser
dotado de extremas habilidades ocultas e inteligência privilegiada, as quais se
nega a revelar para os demais. Pensa-se, inclusive, que tais fatores lhe poderiam
49aflorar integralmente, como um passe de mágica, mediante um milagre de Deus
ou das terapias modernas. Veremos, adiante, que não é bem assim: quando se
trata de autismo, não há espaço para a semântica do termo “simplesmente”.
Diante de características e peculiaridades dos autistas, que ainda é quase
nada diante da complexidade do assunto, depreendemos que a escola especial de
que eles precisam para o seu desenvolvimento è aquela que apresenta, no
mínimo, as seguintes características, que melhor exporemos adiante, ou seja: tem
de ser uma escola específica – mais que isso, uma unidade ou núcleo de
atendimento só para eles -, dotada não só de professores especializados, mas de
um conjunto de profissionais de especialidades distintas, onde o profissional de
educação será apenas mais um para somar esforços. Amy nos revela que as
intervenções pedagógicas são de fundamental importância no tratamento do
autismo, isto significa dizer que, para os autistas, a educação e o tratamento
devem caminhar juntos, não se podendo conceber, nem a educação
isoladamente, nem o tratamento psicoterapêutico desta dissociado.
A maioria dos autistas – aqueles 60% da estatística que apresentamos, tem
que tomar, desde tenra idade, verdadeiros “coquetéis” de medicamentos, durante
toda a sua vida. É o meio que se dispõe até agora para amenizar-lhes
hiperatividade, a angústia profunda e a agressividade, e que viabiliza as iniciativas
de abordagem sócio-psico-educativa; e isso, obviamente, depende de constante
observação médica, porque cada organismo é único, e muitos dos remédios para
eles ministrados ainda se encontram em fase experimental, onde as possíveis
reações adversas precisam ser prontamente corrigidas com o uso de outras
drogas. Tal fato evidencia que a escola própria para os autistas tem que contar
com um médica, que faça pelo menos, visitas periódicas (semanais, de
preferência), atuando como clinico geral e neuro-psiquiatra, com experiência
comprovada em autismo, a fim de orientar as constates adaptações
medicamentosas dos tantos neurolépticos que esses paciente precisam usar, bem
50como para observar e tratar suas eventuais carências físico-orgânicas. Afinal, eles
não sabem (ou não podem, ou não querem) revelar seus problemas físicos a
ninguém, suas possíveis dores de dentes, de ouvidos, as infecções orgânicas etc,;
o que, em muitos casos, poderia oferecer a resposta para alguns apavorantes e
inexplicáveis gritos súbitos, as rotineiras cabeçadas em paredes de alguns deles e
a auto-agressão de forma geral; situações que somente um médico muito bem
capacitado seria capaz de identificar, salientando-se que os autistas também não
se deixam examinar com facilidade.
Um psicólogo e/ou um fonoaudiólogo, que também são profissionais
imprescindíveis em uma escola que se destine a autistas, podem precisar de
vários anos para fazer com que em algum deles se aflore um simples sorriso
direcionado14, um olhar nos olhos, significativo balbucio de uma única palavra ou
um mero abraço carregado de intencionalidade, bem como podem trabalhar
arduamente com ele, durante décadas, sem nada conseguir.
Um desses profissionais amplamente mencionado por nós no corpo deste
trabalho, revela: “Neste contexto tão paradoxal, é bastante comum que o desejo e
a fé do terapeuta vacilem. A esperança e decepção são parte permanentes de um
trabalho cujos resultados se medem ao microscópio”.(AMY, 2001, p 19)
Em contrapartida, um professor e/ou pedagogo pode “condicionar”15 muitas
dessas crianças a usar os talheres, a bacia sanitária, vestir roupas ou os sapatos,
lavar louças, guardar os objetos nas gavetas próprias, os alimentos na geladeira,
enfim...todo um conjunto de tarefas simples que eles podem assimilar; de forma
14 Os autistas costumam apresentar, em alternância, tanto o choro quanto o riso imotivado e alheatório.15 Um dos meios mais usados na ‘educação de autistas, principalmente por alguns pais, que – diante da inoperância profissional, assumem o lugar do terapeuta e do educador junto a seus filhos, ainda é o “condicionamento operante”, que consiste em ‘ensinar’ o paciente, pela insistência em determinados apelos e algum tipo de recompensa pela sua execução. Infelizmente, essa também é a maneira utilizada para treinar os animais que atuam em circos e espetáculos diversos. Marie Dominique Amy vê tais métodos como “pouco aptos a fazer emergir uma verdadeira comunicação fundade sobre uma reorganização profunda do potencial os psíquico” (p. 49).
51ritualizada16, sim, mas inegavelmente, conferindo-lhes algum grau de autonomia.
Essa apreensão de habilidades deve-se ao fato de que os autistas são geralmente
dotados de um incompreensível senso de organização. Isto se insere na
característica de imutabilidade do ambiente, constante no conjunto de definições
das quais falamos anteriormente neste trabalho.
Entretanto, tal comparação não desqualifica a importância de ambos os
profissionais mencionados para uma escola que se destine à educação de
autistas. “Educar vem do latim ‘educare’, que significa conduzir além de si, tornar o
mais autônomo possível, ensinar nossas crianças a serem independentes de nós”
(AMY, 2001, p.28). Assim, as especialidades se complementam, pois, enquanto a
ação do professor visa despertar na criança autista uma interatividade, a
autonomia e o interesse pelo convívio social, partindo principalmente das
atividades lúdicas, os psicoterapeutas buscam-lhe descobrir as razões da
introspecção, estimulando-lhe a manifestação e a partilha das emoções que
insistem em permanecer “trancafiadas”, insondáveis, inaceitáveis por nós que os
amamos ou que trabalhamos para estruturar ou reestruturar a essencialidade
humana.
Finalizando este tópico, consideramos imprescindível frisar que, o
orientador educacional especializado para trabalhar com autistas, ao qual já nos
referimos algumas vezes, não se pode furtar da constante atualização de sua
especialização, porque não serão apenas alguns cursinhos de poucas horas sobre
educação especial que lhe conferirão o talento, o preparo e a perseverança para
tal tarefa. Como já dissemos, a maioria das obras pertinentes emanam do âmbito
médico-cientifico, e não da esfera educacional, e este profissional precisa ramificar
seu aprendizado, também, através dessa literatura, entretanto, cotejando
16 O autista realiza tarefas com uma aparente ausência de emoção, mas isso não deixa de significar uma importante conquista de autonomia pessoal.
52exaustivamente tais obras, pelo fato de que “nem toda literatura consagrada ao
autismo parece-se concernir sempre a crianças autistas”. (AMY, 2001, p. 33/34)
E ainda, a conquista de uma capacidade crítica para esse discernimento
depende necessariamente de uma conjugação dessa lapidação teórica com a
prática da aproximação, com a observação e/ou o trabalho direto junto aos
portadores da mencionada “especialidade, pois, conforme já vimos, o advérbio
“simplesmente”, não se contextualiza com a Síndrome de autismo.
Outrossim, diante de tudo que já foi exposto, depreendemos que a escola
apropria para uma criança autista ainda é aquela que, incompreensivelmente, não
existe em âmbito público no Brasil: o trabalho educacional específico para autistas
em nossa terra, e que se situa nas características já apontadas, ainda é
desempenhado principalmente pelas poucas AMAS que funcionam, como é o
caso das AMAS de São Paulo (capital), Campinas, Ribeirão Preto etc, e estas,
apesar de constituídas e gerenciadas genuinamente por pais de autistas, em face
da complexidade da tarefa, ainda se situam fora do alcance das famílias de pouco
poder aquisitivo. É certo que nenhuma delas tem fins lucrativos, mas seu
funcionamento é muito oneroso, e os poderes públicos não lhes oferecem nada
em termos de apóio e subvenções.
3.3 – Métodos e perspectivas de integração e abordagem no
acompanhamento educacional do autista
Daqui a diante, não pretendemos apresentar novidade alguma, nem nos
posicionar em relação a este ou àquele modo de trabalhar com autistas. Os
métodos educacionais aplicáveis para essa especialidade são vários, existem
53efetivamente e estão disponíveis para quem os queira utilizar. Entretanto,
consideramos tanto inviável quanto desnecessário, explanar em profundidade
sobre tais métodos, sem antes despertar as intenções para pô-los em prática. A
nosso ver, pouco adianta continuar em sua divulgação teórica, quando somente os
cidadãos e os governos da França, da Espanha, da Bélgica, da Itália, dos Estados
Unidos... efetivam as leis, os programas e – principalmente, as adaptações do
sistema educacional para o seu implemento, em atenção às famílias de pessoas
autistas que não podem pagar atendimentos particulares. Por isso,
mencionaremos alguns métodos – os mais referendados – somente para enfatizar
importantes aspectos que lhe são comuns e imprescindíveis na educação das
crianças autistas, pois, em se tratando dessa síndrome, a educação que se
considera como ideal tem seu enfoque e progressão delimitada pelas extremas
dificuldades dessa especialidade. Por tudo que já se viu, a ciência ainda não
conferiu subsídios para esperar por evoluções muito acentuadas no
desenvolvimento educacional desses alunos.
Outrossim, não se pode entender a educação apenas pelos seus aspectos
mais convencionais, como a desenvoltura com as letras e as palavras, o
satisfatório desenvolvimento cognitivo, a plena apreensão de costumes e normas
sociais etc, etc. A educação proposta pelo Dr. Gary Mesibov17, significa “habilitar
as pessoas portadoras de autismo a se comportar, na comunidade, de forma tão
funcional e independente quanto possível”. Dessa forma, entendemos a educação
do autista, simplesmente como uma árdua e necessária busca da conquista de
autonomia.
Amy (2001), novamente, revela que, no autismo, “perturbações sensoriais,
cognitivas e afetivas manifestam-se de modos variados. Certos educadores têm a
sabedoria de buscar suas competências em diversas fontes e de trabalhar
17 O Dr. Gary Mesibov é Diretor da Divisão TEACCH, da Universidade da Carolina do Norte, Estados Unidos.
54segundo aquilo que percebem do potencial da criança”, complementando que eles
se apóiam em um ou outro dos métodos considerados mais eficientes – aqueles
que enfatizam o aspecto da percepção da imitação e da motricidade -, e que eles
– educadores, às vezes conjugam vários desses métodos para uma abordagem
mais eficiente e produtiva. (AMY, 2001, p. 50/51).
“Em algumas dessa crianças, essas barreiras, essa carapaça, são de tal que, que sua evolução será fraca. Mesmo nesses casos extremos, elas conseguirão, no entanto, através da terapia e de cuidados educativos, aprofundar suas identidades e manifestar certas capacidades de autonomia (...) Tudo deve ser feito para que essas crianças cheguem à idade adulta com um grau de autonomia que lhes permita possuir um repertório mínimo de habilidades e para que não venham a ser uma tabula rasa para um serviço de psiquiatria adulto.”
E ela fala, ainda, sobre a relevante contribuição de Maria Montessori, que
desde 1906, mostrou a importância da observação sob a perspectiva de uma
pedagogia muito individualizada, que se utilizava de avaliações que incidiam
“sobre o equilíbrio, o movimento, a linguagem, a audição, o humor, a capacidade
relacional, o ritmo, a alimentação e a resposta familiar às dificuldades da criança”,
e que mesmo em uma época anterior às descobertas de Kanner, suas abordagens
educativas configuram-se como um método atual e muito aplicável para o autismo.
(AMY, 2001, p. 50/51)
Há outro método aplicado e referenciado, especialmente na Europa Ocidental: o
TEACCH (Treatmente and Education of Autistic and Comunication Handicaped
Children)18, cuja eficiência situa-se na compreensão das técnicas operacionais,
posto que “Os códigos que usam imagens podem substituir, na comunicação, a
ausência de linguagem”. Seu objetivo é “levar a criança através de interações
sucessivas, a comportamentos cada vez melhor adaptados” e permitir-lhe
18 O Método TEACCH (Tratamento e Educação para Crianças Autistas e com Dificuldade de Comunicação), amplamente utilizado na Europa, com exceção da França, foi criado em 1972, na Universidade da Carolina do Norte, Estados Unidos, pelo Doutor em Filosofia Eric Schopler. No Brasil, foi divulgado por Viviane de Leon, que é terapeuta ocupacional e dirige a escola Novo Horizonte em Porto Alegre, onde utiliza o método TEACCH para educar seus alunos autistas, Viviane treinou com discípulos de Shopler, na Bélgica, e posteriormente com o próprio na Carolina do Norte, sendo atualmente provavelmente o profissional maiôs atualizado no tratamento do autista do ponto de vista pragmático, lançando mão do método TEACCH.
55compreender seu ambiente dando-lhe a capacidade de agir sobre ele. (AMY,
2001, p 53)
Há uma importante observação em relação à credibilidade do método
TEACCH, ele não difere dos demais no que diz respeito à manutenção de um
equilíbrio entre o desenvolvimento das potencialidades e a redução das
deficiências, mas enquanto os outros métodos se concentram inteiramente na
redução dessas deficiências, sua abordagem, também reconhecendo as
limitações, considera que a maioria dos autistas apresenta habilidades visuais e
de memória muito superiores às das pessoas ditas normais, e enfatiza que tais
inerências podem e devem ser usadas como um meio de promover-lhes o
sucesso e a adaptação social.19
Condicionamento: Este método, repudiado pela maioria das autoridade
em conhecimento autistíco, conforme dissemos, consiste na modificação do
comportamento, induzindo a pessoa a comportar-se de maneira mais apropriada,
através de recompensas (reforço) ou punições imediatas pelo seu desempenho.
“Surgiu quando o cientista russo Ivan Pavlov quis coletar saliva de cães para suas
experiências”, observando que os cães salivavam ao vê-lo, mesmo antes que ele
lhes mostrasse a carne (a recompensa). Assim, “descobriu que o cão poderia ser
treinado para reagir a qualquer sinal. Esse se tornou um processo clássico,
conhecido por qualquer estudante de psicologia”20.
Apesar do repúdio dos especialistas e do absurdo aspecto punitivo deste
método seu lado positivo reside na sua aplicabilidade no âmbito da educação
familiar, promovida pelos pais, que apesar de leigos em sua maioria, não podem
deixar de transferir para seus filhos autistas o máximo de habilidades que
puderem. Um profissional capaz e dedicado pode ajudar bastante nessas 19 Matéria de fontes diversas e autoria não identificada, divulgada em um comunicado por Pedro Paulo Rocha, Presidente da APARJ (Associação de Pais de Autistas do Rio de Janeiro).20 Ibidem.
56particularidades, mas é geralmente no lar, à custa de extrema paciência,
dedicação e sofrimento, que muitos autistas aprendem algumas práticas
essenciais e imediatas da vida.
Método Higashi: Consiste no engajamento das crianças autistas em
diversas atividades de marcha, dança, ginástica e música, entre outras,
justamente com crianças ditas normais, que se prestam ao papel de modelos
auxiliares daquelas.
Quando a isso, é bem verdade que “... a atividade liberta a enorme
ansiedade sentida pelas crianças autistas, que as leva ao pânico e à falta de
controle”. Porém, excetuando-se o rol de atividades apresentado, que são
realmente edificativas para qualquer criança, voltamos a salientar que a escola
para autistas deve ser específica e restrita. Seus possíveis referenciais humanos
ou modelos de imitação devem ser sempre profissionais ou adultos muito bem
orientados, capazes de absorver quaisquer eventuais atitudes indesejadas ou
incompatíveis coma compreensão de uma outra criança. Alguns autistas podem
morder, beliscar e puxar cabelos, de surpresa e com uma velocidade indefensável;
Podem subir em um parapeito para se equilibrar, atirar-se em um poço ou numa
piscina vazia ou adentrar obstinadamente na frente dos veículos que trafegam na
rua, sem a mínima noção de perigo.
“O holding é uma forma de intervenção intrusiva cujo objetivo é reduzir o isolamento social, aumentar a comunicabilidade e desenvolver laços de unição. O holding deve ser sempre parte de um pacote maior de terapias, mas parece ser uma eficiente forma de desenvolver as condições da maioria das crianças autistas e de remover comportamentos indesejáveis. Welch desenvolveu essa forma de terapia como parte de uma ampla abordagem” (www. autismo.med.br, 2004)
Como dissemos acima, nada de novo! Cremos que qualquer educador já
se encontra “cansado” de ouvir falar em TEACCH, Condicionamento, Holding,
Maria Montesori... mas quantos já terão visto uma criança autista de perto, por um
tempo maior que alguns minutos ou mesmo horas? E quantos já se terão
57perguntado: “como colocar produtivamente na prática com os autista, todas as
lições teóricas que vimos aprendendo? ... Pois conforme também falamos
anteriormente, é imprescindível que se promova em nosso país o “despertar” das
intenções para a causa do autismo. Cremos que as perspectivas de integração
ainda esperam para ser criadas, dependendo substancialmente da
conscientização geral, da divulgação do autismo, com sua desassitência e suas
necessidades, e da continuidade do inconformismo, da pressão dos grupos de
interesse sobre as autoridades em geral. Essa integração passa pelo implemento
das medidas específicas que devem ser desencadeadas pelos governos,
principalmente na esfera federal.
58
CAPÍTULO IV
AS ADAPTAÇÕES ESCOLARES
4.1 – O que se há de entender por “adaptação da escola”.
Entenda-se aqui a ESCOLA como instituição ou como uma eventual
unidade educacional isolada, de acordo com a sugestão do contexto, pois, apesar
das inúmeras alusões já feitas sobre o dever de adaptação da escola, é
necessário que se compreenda os diferentes aspectos dessa adaptação, posto
que também há inimagináveis tipos de diferenças entre os indivíduos, bem como
variadas necessidades especiais.
Sem adentrar no mérito das diferentes correntes doutrinárias que defendem
ou não a integração (inclusão) de alunos regulares com alunos especiais,
salientando que ‘adaptação’ da Escola não é sinônimo de ‘integração’ de alunos
especiais nas escolas regulares, vemos a ADAPTAÇÂO como um abrangente
conjunto de medidas, tanto práticas quanto teóricas, que visam estender o
atendimento educacional ao grande contingente de pessoas portadoras de
necessidades especiais, descortinando para eles a possibilidade de perseguir e
conquistar alguma parcela dos direitos e dos sonhos que são comuns e
disponíveis a todas as demais pessoas.
Dentre as medidas que integram a “adaptação da Escola”, algumas se
destinam a desfazer rótulos ou estigmas, e acabam por se tornar verdadeiros
lemas, mudando a mentalidade e a forma de se ver e considerar uma pessoa que
apresente diferenças substanciais. Uma destas é a orientação de que o educador
ou qualquer integrante do meio educacional jamais se refira ao aluno como
“deficiente”, mas sim como “especial”. Não se trata de negar a existência das
59necessidades ou das deficiências que as pessoas possuem, mas sim de amenizar
o peso semântico que algumas palavras transportam, com o poder de transferir
àquelas toda a depreciação que traduzem. Trata-se de respeitar as dificuldades de
um ser que, pela própria essencialidade da condição humana, precisa ser tratado
em pé de igualdade, como semelhante a todos os demais, porém, tendo suas
especificidades respeitadas.
Note-se que significativos seguimentos da sociedade, por essa questão do
respeito e da valorização do semelhante, já vêm desde há muito, trocando uma
série de expressões e conceitos depreciativos por designações ou mais altruístas
possível: as pessoas mais desassistidas, que dormem nas calçadas ou se
alimentam de sobras, outrora “mendigos” ou “vagabundos”, hoje se chamam, em
larga escala, “população de rua”, tem-se, no âmbito jurídico, a abominação das
palavras “pivete” ou “delinqüente”, visto que o termo considerado como correto e
respeitoso é “menores infratores”. Ora, porque então, no meio educacional,
chamar-se ia uma criança de “deficiente”, quando se lhe pode dar um adjetivo
mais digno, que contribua para enaltecer o seu ego?
A grande maioria das iniciativas próprias da adaptação dependem e
emanam mesmo é do Sistema Educacional como um todo. É que tais
empreendimentos, dadas as suas grandes dimensões e demanda de recursos
técnicos, gerenciais e financeiros. Após adotadas no topo da pirâmide
organizacional do Sistema, com o seu devido respaldo, ramificam-se pelos
diversos órgãos integrantes, até chegar à base, que é a escola-unidade, sendo
que esta, em contrapartida, de acordo com o corpo de direção que possua, pode
ainda funcionar de forma boa ou ruim, com as diretrizes que tenha recebido do
seu alto-comando.
Como vimos, algumas integração até pode ser empreendida por unidades
escolares isoladas, sendo que iniciativas de maior relevância dependem das
60diretrizes gerais. Por exemplo: o diretor de uma escola regular não adaptada pode
aceitar a matrícula de alunos dependentes de cadeiras de rodas, desde que,
altruisticamente, alguém os auxilie todos os dias na transposição dos possíveis
obstáculos arquitetônicos (escalas, meio-fios etc). Já, no que concerne á
adaptação, essa escola poderá, no máximo, promover a otimização de seu
material humano, mediante cursos, treinamento especializado etc., porque as
medidas que impliquem alteração da planta original de um prédio, adoção de
programas diferentes etc, etc21, dependem geralmente dos órgãos mais elevados.
Em suma, a integração é apenas uma das muitas nuances da adaptação.
4.2 – Adaptar para integrar/incluir
Com base na síntese que já apresentamos sobre as políticas relacionadas
à Educação Especial, parece que o Brasil anda caminhando a passos largos em
relação à integração de alunos especiais na escola regular. Muitos dos portadores
de algumas das mais simples ou contornáveis necessidades especiais contam
hoje com uma possível, benéfica e aceitável inserção em turmas ou em salas
específicas de unidades regulares de ensino, até mesmo, em alguns casos, sem
que a escola já se encontre física e humanamente adaptada para tal.
Entretanto, muito pouco ainda se faz por aqueles, dentre os especiais, que
dependem unicamente da adaptação traduzida por local apropriado e exclusivo,
porque não têm, devido à gravidade de suas especificidades, a menor
possibilidade de acompanhamento, terapia ou educação de forma integrada. Para
eles, faltam as escolas ou centros de atendimento específico.
21 Construção de rampas de acesso, salas especiais, mobiliário, bebedouros, banheiros adaptados etc.
61Em relação ao autismo, por exemplo, muito se fala, mas pouco se conhece
e se assiste, e este é, sem sombra de dúvida, uma necessidade especial muito
complexa e até discriminada pela maioria das escolas ou instituições. Veremos
melhor adiante que, no Brasil, em nível público, não há clinicas, hospitais ou
núcleos terapêuticos com pessoal especializado e adequações estruturais para
autistas; e, em nível educacional, não existem escolas específicas para eles, e as
poucas que operam com essa especialidade, em âmbito privado, destinam-se
exclusivamente às famílias de altíssimo poder aquisitivo, dados os elevados
valores cobrados para a aceitação desses alunos22.
A década de 1980 foi extremamente prolifera na divulgação de artigos que
versavam sobre o autismo, especialmente em São Paulo, onde pais e
profissionais já se mobilizavam, de forma pioneira em nosso país, para criar as
primeiras “AMAS” (Associações de Amigos dos Autistas). A AMA de São Paulo foi
criada em 1983, nascendo já com boas perspectivas de expansão, em razão da
expressão social e financeira de seus fundadores – pessoas influentes da
sociedade paulistana.
Na época, eram publicados em jornais e revistas artigos que embora
enfocassem bem mais as perspectivas de tratamento do que as necessidades
educacionais dos autistas, não deixavam de apresentar algumas importantes
conclusões e conjeturas nesse campo:
“Não é uma escola como as outras. Poucos móveis, algumas almofadas pelo chão, portas cuidadosamente fechadas e grades de proteção nas ligações externas. Para atender às 13 crianças matriculadas, de idade e comportamento totalmente diversos, uma equipe de onze especialistas trabalha exaustivamente, com infinita paciência, sem esperar por resultados imediatos. Mas no rosto das mães que chegam para buscar seus filhos, pode-se sentir a esperança:finalmente as crianças autistas tem um espaço próprio. Criado há duas semanas, o ‘NAAMA’ (Núcleo de aprendizagem da Associação dos Amigos dos Autistas) é a primeira conquista de uma longa luta que vem sendo travada pelas famílias que sofrem o drama comum de terem
22 YOSHIJIMA, Marta Midori, presidente da “Casa do Autista”, no prefácio que fez para a edição brasileira de “Enfrentando o Autismo”. P.08
62um filho portador dessa disfunção psíquica incomum e grave: o autismo”.23
Em 21/05/1984, uma semana após esta reportagem, o mesmo jornal
veiculava outra, sobre o mesmo assunto e da mesma autoria, onde, em entrevista,
a Sra. Dora Verardi, mãe de uma criança autista e presidente da AMA-SP, à
época, declarava: “Os autistas precisam de um espaço diferente, inclusive com um
local ao ar livre, onde pudessem entrar em contato com a terra...”24.
Note-se que, sob estes pontos de vista, a inclusão de crianças autistas no
âmbito da educação oficializada – aquela relacionada à escolaridade – depende
necessariamente de uma adaptação humana, adaptação de métodos etc, é
necessário que se implantem escolas específicas, pois, as características da
“escola diferente”, reveladas no artigo acima (grades, almofadas, portas
fechadas...) são requisitos essenciais para que se atenda educacionalmente um
tipo de aluno que não apresenta a mínima noção de perigo, que não compreende
que o pedestre pode ser morto pelo automóvel, aliás, que sequer demonstra a
consciência do que venha a ser morte; alguém que tem, na maioria dos casos,
uma profunda predisposição aos “repentes” de auto agressão (cabeçadas nas
paredes etc.), para o qual uma possível inadequação do mobiliária poderia
traduzir-se em graves acidentes com danos irreparáveis... e tantas outras
especificidade das quais ainda falaremos.
De outras terras, Isabel Boyanas25, quando de sua vinda para o 1º Encontro
de Amigos dos Autistas, ocorrido em São Paulo entre 23 e 25 de novembro de
1984, declarou à “Folha de São Paulo”: “A educação de um pequeno autista é a
mais difícil e dispendiosa”. E neste mesmo artigo se lia que, “para atender à
23 Reportagem de Marina Teixeira de Mello. ‘Folha da Tarde’. São Paulo, 30/04/8424 Idem,25 Maria Isabel Boyanas de Ibarra era, na década de 1980, presidente da Associação de Crianças Autistas da Espanha, bem como membro do Conselho Nacional de Representantes de Deficientes na Espanha e diretora da Associação Internacional de Autismo na Europa.
63educação multidisciplinar exigida para um pequeno autista, já existe em Madrid
uma escola especial que forma dez profissionais em autismo por ano”. E, ainda,
que Isabel, ciente do ínfimo interesse por tal problemática em nosso país,
pretendia convidar para aquele evento, tanto o Ministro, quanto os Secretários
Estaduais de Educação, para sugerir às autoridades brasileiras a criação de
equipes volantes que prestassem assistência educacional aos autistas em sua
própria casas. “É essencial – dizia ela – não separá-los da sociedade, mas mantê-
los integrados e amos em sua unidade familiar”.26
Na opinião de Coll, Palácios e Marchesi,
“O conceito de integração educacional não é algo rígido, com limites bem precisos e definidos. Pelo contrário, é um processo dinâmico e mutante, cujo objetivo central é encontrar a melhor situação para que um aluno se desenvolva o melhor possível, podendo assim variar, segundo as necessidades dos alunos, segundo os lugares e segundo a oferta educacional existente”. E mais: “O objetivo principal de toda essa dinâmica não é a integração, mas sim a educação dos alunos com necessidades educacionais especiais”.
4.4 – As adaptações curriculares para as escolas, segundo o
MEC.
O MEC preconiza: “A aprendizagem escolar está diretamente vinculada ao
currículo, organizado para orientar, dentre outros, os diversos níveis de ensino e
as ações dos docentes”.27
Neste aspecto, embora seja difícil estabelecer um conceito preciso de
currículo considerando-se-lhe os diversos ângulos envolvidos, ele é de suma
26 Ibidem27 Secretaria de Educação Especial – MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais. Adaptações curriculares. S/e. Brasília – DF, 1999, p. 31
64importância, visto que “associa-se à própria identidade da instituição escolar, à
sua organização e funcionamento e ao papel que exerce – ou deveria exercer – a
partir das aspirações e expectativa da sociedade e da cultura em que se insere”.
O currículo é, em resumo, a mola mestra de toda a operacionalização da
unidade escolar, pois, “é construído a partir do projeto pedagógico da escola e
viabiliza sua operacionalização, orientando as atividades educativas, as formas de
executá-las e definindo suas finalidades”.28
Assim, diante dos desafios da Educação Especial surge como um
imperativo a necessidade das adaptações curriculares.
“As manifestações de dificuldades de aprendizagem na escola apresentam-se como um contínuo, desde situações leves e transitórias que podem se resolver espontaneamente no curso do trabalho pedagógico até situações mais graves e persistentes que requerem o uso de recursos especiais para a sua solução. Atender a esse continuo de dificuldades requer respostas educacionais adequadas envolvendo graduais e progressisas adaptações do currículo.
As adaptações curriculares constituem, pois, possibilidades educacionais de atuar frente às dificuldades de aprendizagem dos alunos. Pressupõem que se realiza a adaptação do currículo regular, quando necessário, para torná-lo apropriado às peculiaridades dos alunos com necessidades especiais. Não um novo currículo, mas um currículo dinâmico, alterável, passível de ampliação, para que atenda realmente a todos os educandos. Nessas circunstâncias, as adaptações curriculares implicam a planificação pedagógica e as ações docentes fundamentadas que definem:- o que o aluno deve aprender;- como e quando aprender;- que formas de organização do ensino são mais eficientes para o processo de aprendizagem;- como e quando avaliar o aluno. (PCN, 1999, p.33)
Tais adaptações são adotadas pelo MEC sob uma classificação em dois
grupos distintos: 1 – Adaptações curriculares não significativas e 2 –
Adaptações curriculares significativas.
28 Idem
65Neste contexto, as adaptações não significativas seriam aquelas que se
configuram como medidas menores, ou seja: as que podem facilmente ser
“realizadas pelo professor no planejamento normal das atividades docentes”,
constituindo-se em “pequenos ajustes dentro do contexto normal da sala de aula”,
com a finalidade de propiciar ao aluno o aprendizado dos conteúdos curriculares
de uma forma mais ajustadas às suas condições individuais, o que lhe serviria de
estímulo para a continuidade da sua formação, afastando a possibilidade da sua
evasão da escola regular. (PCN, 1999, p.35)
Neste grupo centram-se as seguintes medidas de adaptações:
adaptações organizativas (organização de agrupamentos, didática e de espaço);
adaptações relativas aos objetivos e conteúdos (priorização de áreas ou
unidades de conteúdos de tipos destes e de objetivos, mais a seqüenciação e a e
eliminação de conteúdos secundários); adaptações avaliativas (adaptação e
modificação de técnicas e instrumentos); adaptações nos procedimentos
didáticos e nas atividades (modificação de procedimentos e introdução de
atividades alternativas e complementares à previstas, modificação do nível de
complexidade das atividades por meio da eliminação de componentes,
seqüenciamento de tarefas, facilitação dos planos de ação, bem como adaptação
e modificação da seleção e dos materiais previstos); adaptações na
temporalidade (modificação desta para objetivos e conteúdos previstos). (PCN,
1999, p.36)
Já as adaptações curriculares significativas são as mais complexas e
substanciais, exigidas para o atendimento de necessidades especiais mais
acentuadas dos alunos, que não seriam passíveis de solução através das medidas
menos significativas acima descritas.
“Constituem estratégias necessárias quando os alunos apresentam sérias dificuldades para aprender, como resultado, entre outros fatores, da defasagem entre a sua competência curricular e a de seus colegas; da discrepância entre as suas necessidades e as demandas das atividades e expectativas escolares; da crescente complexidade das atividades
66acadêmicas que vai se ampliando, na medida do avanço da escolarização.” (PCN, 1999, p. 37 e 38)
As adaptações curriculares significativas traduzem-se pelos seguintes
elementos curriculares e respectivas modalidades adaptativas:
Objetivos:Eliminação de objetivos básicos;Introdução de objetivos específicos, complementares e/ou alternativos.
Conteúdos:Introdução de conteúdos específicos, complementares ou alternativos;Eliminação de conteúdos básicos do currículo.
Metodologia e organização didática;Introdução de métodos e procedimentos complementares e ou alternativos de ensino e aprendizagem.
Organização:Introdução de recursos específicos de acesso ao currículo.
Avaliação:Introdução de critérios específicos de avaliação,Eliminação de critérios gerais de avaliação;Adaptações de critérios regulares de avaliação;Modificação dos critérios de promoção.
Temporalidade:Prolongamento de um ano ou mais de permanência do aluno na mesma série ou no ciclo (retenção)”. (PCN, 1999, p. 38 e 39)
67
CONCLUSÃO
O trabalho tem a pretensão de enfatizar, no âmbito da Educação Especial
no Brasil, essa específica “especialidade” humana que se chama autismo; isto
porque, vêem se percebendo como é difícil, solitário e desesperador, para
aqueles que têm uma criança autista na família, ver o tempo correr e - junto com
ele – esvair-se de suas mãos a fase propícia de educação e tratamento para seus
filhos, sem que uma esperança real apareça, sem que os governos se interessem
adequadamente, e sem que o preconceito geral – esse mais terrível “monstro” da
sociedade em que vivemos – permita-os viver e conviver como pessoas humanas
que são.
Durante o transcorrer deste trabalho, observou-se que a melhor forma de
ajudar a criança autista a se desenvolver é através da educação, por isso o
profissional que estiver envolvido nesta tarefa deverá ter plena consciência do que
assumiu. Para isto é necessária uma constante aprendizagem, pois a forma de
ensinar a esses alunos foge um alguns pontos aos métodos de ensino
convencional. Normalmente a prática educativa utilizada nos métodos de ensino
para alunos autista, em um primeiro momento preconiza que o professor deverá
se preocupar em estabelecer uma melhor forma de comunicação com este aluno,
para depois selecionar as estratégias educacionais a serem adotadas.
É mais ou menos dentro deste contexto que ensinar ao aluno autista se
torna um desafio para o professor, por isso será necessário uma adaptação das
intervenções, de sua pedagogia, da sua sensibilidade, da sua observação e
atenção, que desta forma contribuirá para a formação intersocial e desempenho
das estruturas cognitivas deste aluno.
Como também trazer o conhecimento do que seja o autismo, sua
conceituação, suas manifestações, desta forma poder juntos aos outros
68profissionais envolvidos no atendimento do autista, também colaborar na
transformação destes alunos autista, fazendo com que se consiga a melhor forma
de educação voltada para esse aluno.
Este trabalho foi concebido para buscar caminhos, revelar e sensibilizar um
pouco mais sobre a Síndrome de autismo e suas necessidades; e agora... tudo
que podemos esperar, para a consolidação positiva do nosso esforço, é que ele
possa, daqui a diante, somente “florescer”, contribuindo, mesmo que com uma
ínfina parcela, para a divulgação, o conhecimento e um conseqüente aumento de
interesse, principalmente das autoridades públicas do nosso país, para com essa
tão complicada e ignorada necessidade especial, o AUTISMO.
Enfim esperar que este trabalho contribua para a divulgação, o
conhecimento e o aumento de interesse dos profissionais da educação, que
estejam envolvidos na educação destas crianças, pois este trabalho foi elaborado
para buscar caminhos e sensibilizar um pouco mais sobre esta Síndrome tão
peculiar e da necessidade de se educar essas pessoas, para que num futuro
consigam sobreviver sem a necessidade da dependência de pessoas próximas.
69
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70
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71TERAPIAS no autismo. AUTISMO.BR. Disponível em:<www.autismo.br.com.br> .
Acesso em 09 mai. 2004.
72
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03DEDICATÓRIA 04
EPÍGRAFE 05
RESUMO 06
METODOLOGIA 07
SUMÁRIO 08
INTRODUÇÃO 10
CAPÍTULO I - EDUCAÇÃO, EDUCADORES E NECESSIDADES ESPECIAIS 16
1.4– A educação Especial um breve histórico 16
1.5 - Qual é a expectativa da sociedade em relação ao papel do profissional de
educação? 20
1.6– Necessidades educacionais especiais construção do conceito 23
CAPÍTULO II – O AUTISMO 29
2.1 – Um breve histórico: definindo o campo de estudo sobre o autismo 29
2.2 – Conceituação do autismo 32
2.3 – Manifestações 33
2.4 – Espectro de manifestações autística 40
2.4.1 – Desvios qualitativos na socialização 41
2.4.2 – Desvios qualitativos da comunicação 42
2.4.3 – Desvios qualitativos na imaginação 43
CAPÍTULO III – A ESCOLA ESPECIAL E AS INTERVENÇOES
MULTIDICIPLINARES NO AUTISMO 45
3.1 - Avaliação diagnóstica e prognóstico do autismo 45
3.2 – O Autismo e a escola especial 48
3.3 – Métodos e perspectivas de integração e abordagem no acompanhamento
educacional do autista 52
73CAPÍTULO IV – AS ADAPTAÇÕES ESCOLARES 58
4.1 – O que se há de entender por “adaptação da escola” 58
4.2 – Adaptar para integrar/incluir 60
4.3 – As adaptações curriculares para as escolas, segundo o MEC 63
CONCLUSÃO 67
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 69FOLHA DE AVALIAÇÃO 74
74
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes
Título da Monografia: “Desvendando o Mundo do Autista, para uma
Educação Voltada a sua Educabilidade”
Autor: Carmen Lucia de Souza Lins
Data da entrega: 21/01/2006
Avaliado por: Prof. Ms. Ana Cristina Guimarães Conceito: