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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL INSTITUTO A VEZ DO MESTRE RECICLAGEM, UM CAMINHO NECESSÁRIO Por: Elizabeth Ribeiro de Carvalho Orientador Prof. Francisco Carrera Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

RECICLAGEM, UM CAMINHO NECESSÁRIO

Por: Elizabeth Ribeiro de Carvalho

Orientador

Prof. Francisco Carrera

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

RECICLAGEM, UM CAMINHO NECESSÁRIO

Apresentação de monografia á Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de Especialista em Educação

Ambiental.

Por: Elizabeth Ribeiro de Carvalho

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EPÍGRAFE

Debulhar o trigo

Recolher cada bago do trigo

Forjar no trigo o milagre do pão

E se fartar de pão

Decepar a cana

Recolher a garapa da cana

Roubar da cana a doçura do mel

Se lambuzar de mel

Afagar a terra

Conhecer os desejos da terra

Cio da terra, a propícia estação

E fecundar o chão

Milton Nascimento / Chico Buarque

( Cio da Terra )

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus pelo dom da minha

vida e a meus pais que nunca mediram esforços

para me ensinar a importância do saber.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família e, em especial, aos meus

sobrinhos que, a cada dia, me fazem ver que a vida precisa

sempre ter um recomeço.

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RESUMO

Este trabalho tem como tema a reciclagem de resíduos sólidos urbanos. A

análise aqui empregada discorre sobre a problemática do lixo urbano desde a

Revolução Industrial ( século XVIII ) até os dias de hoje. O homem saiu de uma

sociedade com hábitos “simples” para uma sociedade extremamente

consumista que, muitas vezes, não tem consciência da problemática do lixo

gerado por ela nem da logística necessária para que esse lixo desapareça

“magicamente” do seu microcosmo. É necessário conhecer o assunto e tomar

consciência de que o problema do lixo é muito maior e mais sério do que se

supõe. Ele, na verdade, requer uma mudança de postura, de atitude e de

hábitos. E uma possível solução para esse problema passa, necessariamente,

por três grupos da sociedade, que precisam cumprir corretamente o seu papel:

o cidadão, o poder público e a indústria. É preciso uma união de esforços para

atingir objetivos propostos. A reciclagem é uma alternativa e, certamente, um

caminho necessário.

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METODOLOGIA

Identificada a problemática, foi feita uma criteriosa pesquisa sobre os diversos

autores que abordaram a questão da reciclagem do lixo urbano.

A fim de atingir os objetivos deste trabalho foi realizada uma investigação

teórica do assunto, servindo de embasamento para confrontar com a realidade

em estudo. Foram pesquisados autores consagrados no tema, teses, artigos

científicos, dissertações de mestrado e doutorado, bem como as revistas

técnicas e científicas, artigos de jornais, sites de empresas governamentais e

não-governamentais e outros periódicos.

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SUMÁRIO

RESUMO 6

METODOLOGIA 7

SUMÁRIO 8

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

O HOMEM E A CRISE AMBIENTAL 11

1.1 - A crise ambiental urbana 13 1.2 - O lixo urbano e a sociedade 15 1.3 - O lixo e sua classificação 16 1.4 - O destino do lixo 18

CAPÍTULO II

A RECICLAGEM 21

2.1- A reciclagem e sua importância 23 2.2 - A coleta seletiva 25 2.2.1 - A coleta seletiva e os catadores do lixo 27 2.3 - A política dos três “Rs” 28 2.4 - O consumo consciente 30

CAPÍTULO III

A PRODUÇÃO, O CONSUMO E A RECICLAGEM DO PET 33

3.1 - Os tipos de reciclagem 35 3.2 - O PET e os três “Rs” 36 3.3 - Atitudes positivas 37 3.3.1 - Projeto “Reciclou Ganhou” da Coca-Cola 38 3.3.2 - Projeto Extra 10, do Grupo Pão de Açúcar 39

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA 43

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INTRODUÇÃO

Segundo Eeingenheer ( 1999 ) é sabido que, no Brasil, as enchentes de verão,

época das grandes chuvas, têm relação quase que diretamente com o lixo não

coletado e inadequadamente destinado pela população. Esses resíduos, em

especial os plásticos ( sacolas, PET ), invariavelmente são os responsáveis

pela obstrução de galerias, canais e bueiros, causando, assim, incalculáveis

prejuízos materiais, ambientais e humanos.

Além disso, a produção de produtos descartáveis ( em aumento progressivo

nos últimos anos ) modificou as características das mercadorias produzidas e,

consequentemente, do lixo urbano. Essa alteração da característica do lixo em

razão de sua maior durabilidade ( maior tempo necessário para a sua

decomposição ), maior toxidade e maior volume contribuiu para o agravamento

da problemática da falta de espaços ( aterros sanitários para o despejo do lixo

urbano ).

Tal lixo é, inúmeras vezes, depositado em imensos terrenos baldios (

chamados de lixões ) quando não são despejados nas ruas, embaixo de

viadutos, praças e dentro das redes de esgoto sanitário, agravando a situação

ambiental urbana das grandes cidades.

Buscando desenvolver gradativamente esta temática, este trabalho foi dividido

em três capítulos.

No primeiro capítulo, será tratada a crise ambiental urbana com seus

desdobramentos e seu principal problema: o lixo, na sua classificação e

destino.

No segundo capítulo, é apresentada a reciclagem com seus conceitos,

importância e estrutura, desde os seus insumos, a coleta seletiva e os

catadores, até a complexa problemática do consumo.

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Por fim, no terceiro capítulo, apresenta-se a produção, consumo e reciclagem

de PET e alguns de seus exemplos positivos.

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CAPÍTULO I

O HOMEM E A CRISE AMBIENTAL

“A Terra pode oferecer o suficiente para satisfazer

as necessidades de todos os homens, mas não a

ganância de todos os homens” (Mahatma Gandhi)

Por muito tempo, o homem se viu como um ser situado acima ou fora da

natureza. Com esse pensamento, ele passou a interferir e a alterar a natureza

em favor de sua subsistência (agricultura, pecuária), de sua proteção (casas) e

de seu conforto (indústria, transporte, comunicação). (Branco, 1994)

Desde o surgimento do homem na Terra, a frequência e os tipos de impactos

ambientais têm aumentado e diversificado bastante.

Para Branco (1994):

o primeiro tipo de impacto causado pelo homem

provavelmente derivou-se do domínio do fogo. À

medida que a espécie humana foi desenvolvendo

novas tecnologias e ampliando seu domínio sobre

os elementos e a natureza em geral, os impactos

ambientais foram se ampliando em intensidade e

extensão. (Branco, 1994, p.18)

Desde o começo da industrialização, no século XVIII, a população mundial

cresceu 8 vezes, consumindo mais e mais recursos naturais; somente a

produção baseada na exploração de natureza, cresceu mais de cem vezes

(Boff, 1999)

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O desenvolvimento passou a ser sinônimo de desequilíbrio. Nos últimos

tempos, a sociedade capitalista tem poluído a natureza pelo consumo

exagerado de produtos industrializados e tóxicos que, ao serem descartados,

acumulam-se no ambiente, causando danos ao planeta e à própria existência.

A produção de resíduos em larga escala – entende-se não só no sentido de

resíduos sólidos, mas também no sentido social: miséria, fome e exclusão –

caracteriza a sociedade de consumo que vem do século passado e avança

neste início de terceiro milênio.

Sá & Zanetti (2006) afirmam que a apropriação privada dos recursos naturais,

guiada pela lógica capitalista do lucro, com seus ritmos produtivos artificiais

lineares e em aceleração crescente, é o fator responsável pela crise ambiental

e pela grande quantidade de lixo gerado na produção e no consumo.

Assim, a crescente ameaça de colapso ambiental e de esgotamento de

recursos, e a necessidade de encontrar soluções, explicam um movimento

também crescente na revisão de paradigmas, no sentido de pensar as

condições de operacionalização social política e tecnológica do

desenvolvimento sustentável.

Para Capra (1996) o novo paradigma pode ser chamado de uma visão de

mundo holística, que concebe o mundo como um todo integrado, e não como

uma coleção de partes dissociadas. Pode, também, ser denominada visão

ecológica, se o termo “ecológica” for empregado num sentido mais amplo e

mais profundo do que o usual.

Segundo Capra (1996) “a percepção ecológica profunda reconhece a

interdependência fundamental de todos os fenômenos e o fato de que,

enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos

cíclicos da natureza (e, em última análise, somos dependentes desses

processos)”. (Capra,1996, p.25)

Na visão de Boff (1999) somos uma sociedade que degenera e destrói sua

base de recursos naturais não renováveis, não se tratando somente de impor

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“limites de crescimento” (título da primeira solução apresentada em 1972 pelo

Clube de Roma) mas de mudar o tipo de desenvolvimento. Diz-se que o novo

desenvolvimento deve ser sustentável. Ora, não existe desenvolvimento em si,

mas, sim, uma sociedade que opta pelo desenvolvimento que quer e precisa.

Dever-se-ia falar de sociedade sustentável ou de um planeta sustentável como

pré-condições indispensáveis para um desenvolvimento verdadeiramente

integral.

Boff (1999) expõe que:

Sustentável é a sociedade ou o planeta

que produz o suficiente para si e para os seres dos

ecossistemas onde ela se situa, que toma da

natureza somente o que ela pode repor; que mostra

um sentido de solidariedade generacional, ao

preservar para as sociedades futuras os recursos

naturais de que elas precisarão. Na prática a

sociedade deve mostrar-se capaz de assumir novos

hábitos e de projetar um tipo de desenvolvimento

que cultive o cuidado com os equilíbrios ecológicos e

funcione dentro dos limites impostos pela natureza.

Não significa voltar ao passado, mas oferecer um

novo enfoque para o futuro comum. Não se trata

simplesmente de não consumir, mas de consumir

responsavelmente.”

(Boff, 1999, p.137)

1.1 A crise ambiental urbana

A questão do lixo vem sendo apontada pelos ambientalistas como um dos mais

graves problemas ambientais urbanos da atualidade.

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Porém, desde a pré-história o lixo tem sido um problema. Muitas comunidades,

quando incomodadas por causa dele, migravam para outros locais. Os restos

deixados para trás constituem atualmente valiosa fonte de informações sobre

culturas pré-históricas.

Com o surgimentos das cidades, o problema do lixo foi ficando cada vez maior.

Desde a antiguidade até meados do século XIX, as ruas urbanas acumulavam

não só restos de alimentos e pequenos objetos, como também excrementos de

animais e de humanos. Certamente as grandes epidemias e pestes da Idade

Média tiveram aí a sua origem.

Os depósitos de lixo surgiram em Atenas, na Grécia, e, embora existissem leis

proibindo jogar lixo nas ruas, as pessoas não se importavam, deixando as

cidades muito sujas. Na Índia, eram construídas edificações especiais para

armazenar o lixo que tanto incomodava.

Com o desenvolvimento dos processos sanitários no século XIX, reconheceu-

se que o lixo e os animais a ele associados (ratos, baratas, moscas, etc.) eram

transmissores de doenças e de possíveis epidemias. Assim, foram tomadas as

primeiras providências para que o lixo tivesse outro destino que não as ruas e

terrenos baldios. Com o tempo passou a ser coberto com terra numa técnica

parecida com os dos aterros sanitários atuais.

Até a metade do século XX, a maior parte do lixo era formada por materiais

orgânicos, com restos de frutas e verduras, assim como de animais, todos

degradáveis pela ação da natureza. O lixo era menor e facilmente transformado

pelo próprio meio ambiente em nutrientes para o solo. O que sobrava era

recolhido e a natureza fazia sua parte. Entretanto, com o passar dos anos o

modo de vida dos habitantes do planeta foi mudando. A maioria mudou-se das

áreas rurais para as cidades. Consequentemente as grandes cidades se

transformaram em enormes aglomerações humanas. Surge uma nova

sociedade que no modelo econômico atual está cada vez mais consumista,

contribuindo para um aumento quantitativo do lixo no planeta.

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“O acúmulo de lixo é um fenômeno exclusivo das sociedades humanas. Em um

sistema natural não há lixo: o que não serve mais para um ser vivo é absorvido

por outros, de maneira contínua. No entanto, nosso modo de vida produz,

diariamente, uma quantidade e variedade de lixo muito grande, ocasionando a

poluição do solo, das águas e do ar com resíduos tóxicos, além de propiciar a

proliferação de vetores de doenças”. (Hess,2002)

1.2 O lixo urbano e a sociedade

“Não é necessário mais do que um ato

mínimo de discernimento para perceber

que, num mundo finito, o crescimento

infinito do consumo material é algo

impossível”.

(Schumacker apud Capra, 1996)

A palavra lixo derivada do termo latim “lix”, significa “cinza”. No dicionário,

ela é definida como sujeira, imundice, coisa ou coisas inúteis, velhas, sem

valor. Lixo, na linguagem técnica, é sinônimo de resíduos sólidos e é

representado por materiais descartados pelas atividades humanas. Desde

os tempos mais remotos até meados do século XVIII, quando surgiram as

primeiras indústrias na Europa, o lixo era produzido em pequena

quantidade e constituído essencialmente de sobras de alimentos.

A partir da Revolução Industrial, as fábricas começaram a produzir objetos

de consumo em larga escala e a introduzir novas embalagens no mercado,

aumentando consideravelmente o volume e a diversidade de resíduos

gerados nas áreas urbanas. O homem passou a viver então a era dos

descartáveis em que a maior parte dos produtos – desde guardanapos de

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papel e latas de refrigerantes, até computadores – são inutilizados e

jogados fora com enorme rapidez. Concomitantemente, o crescimento

acelerado das metrópoles fez com que as áreas disponíveis para colocar o

lixo se tornassem escassas. A sujeira acumulada no ambiente aumentou a

poluição do solo, das águas e piorou a saúde das populações em todo o

mundo especialmente nas regiões menos desenvolvidas. Até hoje, no

Brasil, a maior parte dos resíduos recolhidos nos centros urbanos é,

simplesmente, jogada sem qualquer cuidado em depósitos existentes nas

periferias das cidades, chamados aterros sanitários.

1.3 O lixo e sua classificação

De acordo com o Instituto Akatu (2009), para determinar a melhor tecnologia

para tratamento, aproveitamento ou destinação final do lixo é necessário

conhecer a sua classificação.

Lixo atômico.

Produto resultante da queima do combustível nuclear, composto de urânio

enriquecido com isótopo atômico 235. A elevada radioatividade constitui um

grave perigo à saúde da população, por isso deve ser enterrado em local

próprio, inacessível.

Lixo Espacial

Restos provenientes dos objetos lançados pelo homem no espaço; que

circulam ao redor da Terra com a velocidade de cerca de 28 mil quilômetros

por hora. São estágios completos de foguetes, satélites desativados, tanques

de combustível e fragmentos de aparelhos que explodiram normalmente por

acidente ou foram destruídos pela ação das armas anti-satélites.

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Lixo Radioativo

Resíduo tóxico e venenoso formado por substâncias radioativas resultantes do

funcionamento de reatores nucleares.

Como não há um lugar seguro para armazenar esse lixo radioativo, a

alternativa recomendada pelos cientistas foi colocá-lo em tambores ou

recipientes de concreto impermeáveis e à prova de radiação; e enterrados em

terrenos estáveis, no subsolo.

Lixo Urbano

Formado por resíduos sólidos em áreas urbanas, inclua-se aos resíduos

sólidos domésticos, os efluentes industriais domiciliares (pequenas indústrias

de fundo de quintal) e resíduos comerciais.

Lixo Domiciliar

Formado pelos resíduos sólidos de atividades residenciais, contém muita

quantidade de matéria orgânica, plástico, lata e vidro.

Lixo Comercial

Formado pelos resíduos sólidos das áreas comerciais, composto por matéria

orgânica, papéis, plástico de vários grupos.

Lixo Público

Formado por resíduos sólidos, produto de limpeza pública (areia, papéis,

folhagem, poda de árvores).

Lixo Especial

Formado por resíduos geralmente industriais, merece tratamento, manipulação

e transporte especial; são eles: pilhas, baterias, embalagens de agrotóxicos,

embalagens de combustíveis, de remédios ou venenos.

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Lixo Industrial

Nem todos os resíduos produzidos por indústria podem ser designados como

lixo industrial. Algumas indústrias no meio urbano produzem resíduos

semelhantes ao doméstico,exemplo disto são as padarias; os demais poderão

ser enquadrados em especial e ter o mesmo destino.

Lixo de serviço de saúde

Os serviços hospitalares, ambulatoriais, farmácias são geradores dos mais

variados tipos de resíduos sépticos, resultados de curativos, aplicação de

medicamentos que em contato com o meio ambiente ou misturado ao lixo

doméstico poderão ser patogênicos ou vetores de doenças, devem ser

destinados à incineração.

1.4 O destino do lixo

O lixo é sempre um problema na vida do cidadão, principalmente, nos grandes

centros urbanos, as cidades. Porém, esse incômodo, essa preocupação

parecem só ser, realmente, percebidos quando há, por algum motivo, a

interrupção da coleta do lixo, ou seja, os lixeiros deixam de passar e recolher o

lixo na porta. Sacos e mais sacos amontoam-se nas calçadas, exalando mau

cheiro, sujando tudo, atraindo, também, insetos e outros animais; e onde

existem caçambas de depósito de lixo há uma sobrecarga, ficam superlotadas,

transbordando, invadindo o espaço urbano. Em resumo: o lixo está poluindo e

sujando a porta das casas, algo visível, diante dos olhos de todos. Entretanto o

problema do lixo é bem maior do que isso. O lixo não desaparece porque ele é

recolhido pelos lixeiros, apenas é levado para outro lugar. Houve apenas a

transferência do problema. O lixo que é retirado pelos caminhões coletores da

porta de nossas casas vai para algum lugar. Muitas vezes esse lugar é

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impróprio para recebê-lo. No Brasil, a forma mais utilizada para o destino do

lixo ainda são os depósitos clandestinos, lixões ou aterros (sanitários ou

controlados).

Os lixões são depósitos de lixo, sem nenhum tratamento, diferem dos

depósitos clandestinos apenas porque são institucionalizados, isto é,

autorizados pelas prefeituras.

No Brasil, esse problema é gravíssimo, pois 64% dos municípios deposita seu

lixo em lixões, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do

IBGE de 2008. Esses depósitos causam poluição do solo, da água que

bebemos e do ar, pois as queimas espontâneas são constantes.

Muita gente pensa que, se o lixão está longe de sua casa, ele não está lhe

causando problemas. Isso é um grave engano. A poluição causada por um

lixão atinge muitos e muitos quilômetros em volta, ou até mais, já que a água e

o ar movimentam-se. O lixão traz ainda mais um problema: atrai a população

mais carente e desempregada, que passa a se alimentar dos restos

encontrados no lixo e a sobreviver dos materiais que podem ser vendidos, não

pensando nos sérios problemas de saúde que isso pode acarretar. A

necessidade de sobrevivência acha no lixo um caminho, mesmo sendo inviável

para a saúde.

Os aterros sanitários são ainda a melhor solução para o lixo que não pode ser

reaproveitado ou reciclado. Trata-se de áreas de terreno preparados para

receber o lixo, com o tratamento para os gases e líquidos resultantes da

composição dos materiais, de maneira a proteger o solo, a água e o ar da

poluição.

Os incineradores são também uma alternativa, são grandes fornos onde o lixo

sofre uma queima controlada, com filtros para evitar que gases formados na

combustão dos materiais atinja e polua a atmosfera. Os incineradores têm alto

custo de implantação, manutenção e operação. Entretanto, são a forma mais

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indicada de tratamento para alguns tipos de lixo, como os resíduos hospitalares

e resíduos tóxicos industriais.

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CAPÍTULO II

A RECICLAGEM

A reciclagem é um processo industrial que converte o lixo descartado (matéria

–prima secundária) em produto semelhante ao inicial ou outro. Reciclar é

economizar energia, poupar recursos naturais e trazer de volta ao ciclo

produtivo o que é jogado fora. A palavra reciclagem foi introduzida ao

vocabulário internacional no final de 80, quando foi constatado que as fontes de

petróleo e outras matérias-primas não renováveis estavam e estão se

esgotando. Reciclar significa = Re (repetir) + Cycle (ciclo).

Para compreendermos a reciclagem, é importante “reciclarmos” o conceito que

temos de lixo, deixando de enxergá-lo como coisa suja e inútil em totalidade. O

primeiro passo é perceber que o lixo é fonte de riqueza e que para ser

reciclado deve ser separado. Ele pode ser separado de diversas maneiras,

sendo a mais simples separar o lixo orgânico do inorgânico (lixo molhado / lixo

seco).

Na natureza nada se perde. Seres vivos chamados decompositores “comem”

material sem vida ou em decomposição. Eles dividem a matéria para que ela

possa ser reciclada e usada de novo. Esse é o chamado material

biodegradável.

A reciclagem de material é o processo que usa resíduos como insumos. Este

processo se comparado com o processo tradicional, que utiliza o insumo

virgem, requer um menor consumo energético. Isto engendra a conservação de

energia, quando a análise de ciclo de vida de produto é considerada.

Segundo Oliveira; Henrique & Pereira (2004) a atividade de coleta seletiva

existe no Brasil pelos menos desde a década de 1950, quando se difundiu

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através dos “garrafeiros” e “papeleiros”, comerciantes que recolhiam pela

cidade materiais para serem reciclados

Um dos fatores da vida moderna que mais gera discussões entre

ambientalistas, governos e população geral é o problema do lixo. De acordo

com os dados mais freqüentes utilizados, no Brasil, cada pessoa gera, em

média, um quilo de lixo por dia. Por ano são produzidos 55 trilhões de quilos. O

lixo brasileiro é tido como um dos mais ricos do mundo. Porém, não está sendo

dada a devida importância às questões relativas ao saneamento ambiental, em

especial à coleta e destinação adequada dos resíduos. (Fórum Nacional Lixo e

Cidadania – Unicef – 2008)

Cerca de 30% de todo o lixo produzido é composto de materiais recicláveis

como papel, vidro, plástico e metais. De acordo com experiências em

andamento em vários países e também no Brasil, a reciclagem é uma das

formas ideais de lidar com uma parte do problema, o lixo inorgânico. (Instituto

Akatu, 2009)

No Brasil, a maior parte do lixo vai parar nos aterros (88%), enquanto apenas

2% dos objetos são reciclados, e cerca de 4% vai para as usinas de

compostagem. O pouco fôlego da reciclagem no Brasil se deve ao fato de que

o processo é quase 15 vezes mais caro do que apenas alterar o lixo. (Portal da

Reciclagem e do Meio Ambiente,2009)

Além disso, a maior parte das cidades brasileiras ainda não dispõe de políticas

de incentivo à reciclagem ou tão pouco adotam a coleta seletiva. Portanto,

reciclar é uma atitude individual, que aos poucos está chegando à população

em geral, cada vez mais zelosa do planeta no qual vive.

O Brasil joga fora por ano cerca de 8 bilhões de reais porque não recicla seu

lixo urbano. Nesse valor estão incluídos todos os gastos com o tratamento de

detritos nos chamados lixões e custo de produção de novos materiais. Dos

cerca de 5.500 municípios, pouco mais de 3% tem algum programa de coleta

seletiva de lixo, ou seja, operam a separação dos quatro tipos de objetos não-

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orgânicos (papel, vidro, plástico e metal). Comparando com os Estados Unidos

(que não assinaram o tratado de Kyoto), mais de 10.000 condados (cerca de

9%) praticam a coleta seletiva. Sabe-se que na Austrália e no Japão o índice é

de 100%. No chamado primeiro mundo, o lixo orgânico – composto de restos

de comida – é transformado em adubo por um processo químico chamado

compostagem. Só agora o processo começa timidamente a ser praticado no

Brasil. O Brasil, por sua extensão territorial, pode se dar ao luxo de dispor de

aterros sanitários como fazem Estados Unidos e Rússia. O mesmo não

acontece com os países da Europa, em que a alternativa é uma só: reciclar.

(Jornal dos Amigos, 2009)

Mafra (2006) nos sugere que a procura de um modelo de gestão ambiental e

urbana encontra-se diretamente relacionada com as transformações que

caracterizam o mundo, em especial às diversas organizações produtivas, cada

vez mais necessitadas da conscientização ambiental nas intensas relações do

ser humano com o meio ambiente.

Do ponto de vista ecológico, a reciclagem é o processo mais eficiente e

ecologicamente responsável no trato de plástico, vidro, metal, papel e papelão.

Ao reciclar, poupa-se a produção de materiais que demandariam uma grande

extração de matérias-primas da natureza, além de evitar-se a necessidade de

aterros e lixões. Há também grande economia de energia e água, que seriam

usados na produção de novos produtos. Quem, também, ganha é a sociedade,

já que o processo é um forte gerador de empregos, movimenta uma economia

considerável, combinando responsabilidade social e ecológica.

2.1 A reciclagem e sua importância

Hoje vivemos numa sociedade consumista, por isso, a necessidade de nos preocuparmos com o aumento da quantidade de lixo que produzimos. Os recursos naturais que nos rodeiam devem ser usados de uma forma consciente para que não devolvamos, ao meio ambiente, toneladas de materiais que irão

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contaminá-lo e prejudicá-lo. Devemos tentar amenizar a poluição dos rios, parques, do ar e diminuir as áreas de aterros sanitários.

O maior exemplo de reciclagem vem da própria natureza, como lembra Capra (1996):

Todos os organismos de um ecossistema produzem resíduos, mas o que é resíduo para uma espécie é alimento para outra, de modo que os resíduos são continuamente reciclados e o ecossistema como um todo, geralmente, permanece isento de resíduos. (Capra, 1996, p.147)

Em nossa sociedade tudo se torna descartável, ou seja, usamos e jogamos

fora. E aí está o nosso maior problema: o que fazer com esse lixo? Uma das

saídas encontradas é a reciclagem.

A reciclagem é uma mudança fundamental no tratamento que dispensamos ao

lixo. Precisamos coletar, separar, processar e comercializar os materiais

considerados “lixos”, amenizando, assim, esse grave problema do planeta. A

participação de cada um e da comunidade é a base para a solução. Separar o

lixo não é uma tarefa difícil, querer apenas mudança de hábito e um pouco de

boa vontade. Temos que nos transformar em cidadãos conscientes e

preocupados com o meio ambiente.

Resumindo, a reciclagem é importante porque:

- Diminui a exploração de recursos naturais e o consumo de energia;

- Melhora a limpeza da cidade e a qualidade de vida da população;

- Contribui para diminuir a poluição do solo, da água, e do ar;

- Prolonga a vida útil dos aterros sanitários e melhora a produção de composto

orgânico;

- Gera empregos para a população não qualificada;

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- Gera receita pela comercialização dos recicláveis;

- Contribui para formar uma consciência ecológica e para valorizar a limpeza

urbana;

- Ameniza o efeito estufa, poluição da água, destruição da camada de ozônio,

erosão do solo, chuva ácida entre outros;

- Diminui o excesso de lixo;

- É lucrativa;

- Remove o lixo, transformando-o em produtos úteis;

- Os recursos são finitos.

2.2 A coleta seletiva

A reciclagem começou a ganhar impulso mais notável com a implantação de

programas de Coleta Seletiva.

Segundo Calderoni (1997), a Itália, no ano de 1941, oficialmente iniciou a

coleta seletiva, em grande parte como decorrência das dificuldades

acarretadas pela Segunda Guerra Mundial. No Brasil, na cidade de Niterói,

especificamente no bairro de São Francisco, foi implantada a primeira

experiência sistemática de Coleta Seletiva de lixo.

A Coleta Seletiva serve para organizar, de forma diferenciada, os resíduos

sólidos que podem ser reciclados. Esta coleta pode ser feita por caminhões

que passam semanalmente nas residências ou nos pontos de entrega

voluntária, espalhados pela cidade. Nesses pontos existem coletores com

diferentes divisões, ou containers coloridos para cada tipo de material de

embalagem ( vidro, plástico, papel e metal). Normalmente, esses containers

são fixados em praças onde a população possa deixar seu material reciclável.

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Para Oliveira, Henrique & Pereira (2004) um dos entraves à coleta seletiva

reside em seu custo operacional superior ao da coleta tradicional.

Entretanto, segundo Oliveira (2000 apud Oliveira, Henrique & Pereira, 2004)

para efeito de comparação entre esses dois tipos de coleta, não poderiam ser

desprezados os custos externos associados à poluição do ar, da água e do

solo causados pela disposição dos resíduos em aterros e “lixões”, entre outros,

que tornariam significativamente mais elevado o custo da coleta convencional.

Sendo assim,, a internalização destes custos poderia evidenciar uma

significativa vantagem de Coleta Seletiva em relação à coleta convencional.

Ainda comparando os tipos de coleta, Trigueiro (2005) ressalta que não é difícil

encontrar dentro das companhias de limpeza quem considere a separação de

materiais recicláveis perda de tempo e, principalmente, de dinheiro. Isso se

deve simplesmente porque para se instituir a coleta seletiva será necessário

estabelecer uma nova rotina com uma frota diferenciada de caminhões,

funcionários treinados e mais espaço para recolher e separar os recicláveis.

Esta nova rotina custa dinheiro, mas pode ser entendida como despesa. Na

verdade, é um investimento que dá retorno a médio e/ou a longo prazo, quando

se contabiliza os seguintes resultados: geração de emprego e renda para os

que trabalham no setor da reciclagem; redução do volume de lixo transportado

par os aterros, uma vez que os recicláveis representam aproximadamente

40% de todos os resíduos sólidos urbanos, aumento da vida útil dos aterros,

que passarão a receber predominantemente matéria orgânica e materiais não

recicláveis; economia de matéria-prima e energia com o retorno dos recicláveis

à cadeia produtiva.

Podemos dizer que é uma questão extremamente complexa, repleta de

posições antagônicas, tanto do ponto de vista técnico e econômico quanto do

ponto de vista político.

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Apesar da polêmica, de acordo com material publicado pelo CEMPRE (2009)

(Compromisso Empresarial para Reciclagem) a Coleta Seletiva vem sendo

implantada gradativamente nos municípios brasileiros.

Polêmicas à parte, a Coleta Seletiva é uma alternativa ecologicamente correta

que desvia do destino em aterros sanitários ou lixões, resíduos sólidos que

podem ser reciclados. Com isso, dois objetivos importantes são alcançados.

Por um lado, a vida útil dos aterros sanitários é prolongada e o meio ambiente

é menos contaminado. Por outro lado, o uso de matéria-prima reciclável diminui

a extração dos nossos tesouros naturais.

2.2.1 A Coleta Seletiva e os catadores de lixo

O lixo é, sem dúvida, um causador de grave desequilíbrio ambiental. Mas não é

a única questão. O lixo traz à tona os problemas sociais existentes no país (de

norte a sul), ou seja, em conseqüência do alto índice de desemprego e da

pobreza, muitas pessoas, inclusive famílias inteiras, são levadas a buscar nos

lixões e nas ruas, materiais para comercialização e também para apropria

alimentação. Remexem sacos de lixo depositados por residências mais ricas

da cidade e também dos supermercados e mercearias à procura de produtos

com prazo de validade vencidos, descartados diariamente.

Há um programa da Unicef: Lixo e Cidadania, que preconiza a necessidade de

uma intervenção social voltada ao resgate da Cidadania dos trabalhadores que

vivem em condições de absoluta pobreza, “sobrevivendo das sobras e dos

desperdícios dos mais afortunados”. Como alternativa à catação nos lixões, o

programa procura incentivar a coleta seletiva, com a participação das famílias

dos catadores, propiciando a geração de postos de trabalho e renda para as

mesmas.

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Segundo Trigueiro (2005):

Existem hoje 500mil catadores no

Brasil. Invariavelmente, são pessoas com

idade de 30 anos, baixa escolaridade e muitas

dificuldades de encontrar vagas no mercado

de trabalho formal. Esses são os verdadeiros

excluídos. Estimular a Coleta seletiva

significa abrir novas frentes de trabalho para

esse segmento da população. (Trigueiro,

2005, p.45)

A Coleta Seletiva seria, portanto, uma das alternativas no combate ao

problema, pois poderia promover a organização das famílias catadoras de lixo

em associações e cooperativas, possibilitando, assim, a geração de postos de

trabalho, de aumento de renda familiar e uma significativa melhora nas

condições de vida (alimentação, moradia, saúde, educação entre outros)

elevando, inclusive, a auto-estima dos mesmos.

2.3 A política dos três “Rs”

Falar, atualmente, em resíduos sólidos domiciliares, reporta-nos à Coleta

Seletiva e à política dos três Rs que se baseia em três regras básicas que

devem ser hierarquicamente seguidas: Reduzir o consumo, Reutilizar e

Reciclar os resíduos.

Carvalho (1991), ao analisar o discurso ambientalista governamental brasileiro,

aponta a existência de duas matizes discursivas sobre a questão ambiental: um

discurso ecológico oficial, enunciado pelo ambientalismo governamental com

uma ideologia encarregada de manter os valores culturais instituídos na

sociedade; e um discurso ecológico alternativo, proferido pelo ambientalismo

strictu sensu, coorporificado pelo movimento social organizado com valores

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subversivos à ordem social e econômica constituída. Estes dois discursos vão

preconizar a Pedagogia dos três Rs de maneiras diferentes. Para o ecológico

oficial esta Pedagogia torna-se uma prática comportamentista, em vez de

reflexiva e é reduzida à Pedagogia da Reciclagem, que reduz o lixo a uma

ordem técnica (consumo insustentável e não consumismo) e não cultural. Para

o ecológico alternativo a questão do lixo é um problema de ordem cultural e,

assim, situa a cultura do consumismo como um dos alvos da crítica à

sociedade moderna. Martell (1994) chega a afirmar que o consumismo é o item

mais expressivo da crítica da sociedade sustentável.

Há, então, dois modos de ação derivados das possibilidades de compreensão

da Política dos três Rs: o primeiro prioriza a redução e reutilização e articula-se

com o projeto político- ideológico progressista; o outro prioriza a reciclagem e

articula-se com o projeto liberal.

Na visão de Mattar (2004 apud Trigueiro, 2005), na verdade, são quatro os Rs,

e o primeiro deles é o Repensar. Esta reflexão sobre o ato de consumo leva

naturalmente a reduzir, porque você não precisa de tudo o que está

consumindo; a reutilizar, porque algumas das coisas que você compra podem

ser utilizadas continuamente, sem precisar comprar de novo; e reciclar, dado

os enormes impactos que a reciclagem tem sobre a sociedade e o meio

ambiente.

A reciclagem deve ser precedida por um sério programa de reavaliação dos

comportamentos de consumo, de maneira que a comunidade envolvida

perceba cada vez mais claramente o impacto de cada uma das suas escolhas

individuais e, também, o impacto de suas ações quanto às sobras de consumo.

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(Abreu (2001) relata que:

No mundo inteiro, a nova ordem é

minimizar o lixo. No Brasil, essa questão foi

mais difundida com a Agenda 21, documento

elaborado por mais de 170 países que

participaram da ECO-92 no Rio de Janeiro.

Nesse documento, foi estabelecido o princípio

dos 3 Rs: Reduzir o consumo de produtos e o

desperdício de materiais; Reutilizar e Reciclar

os materiais. Implantar o primeiro “R” é um

grande desafio, porque significa interferir na

sensação de liberdade e de felicidade das

pessoas ou mesmo do poder pessoal que

advém com o direito de consumir quanto

quiser. (Abreu,2001, p. 27)

Este questionamento serve principalmente para destacar que, apesar de ser

divulgado que é necessário reduzir, reutilizar, reciclar (3 Rs), na prática, vê-se

que a importância maior e quase que única está sendo dada para o ato de

reciclar.

2.4 O consumo consciente

Em seu manual de “Consumo Sustentável”, o Instituto Brasileiro de Defesa do

Consumidor preconiza que os produtos que consumimos nem sempre são de

boa qualidade. Muitos deles são fabricados de modo que tenham curta duração

e não permitam consertos ou reutilização. Assim, vão rapidamente parar nos

lixões, onde geram mais contaminação. Se mantivermos este estilo de vida não

sustentável, exercendo excessiva pressão sobre o meio ambiente, dentro de

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algum tempo poderemos levar o planeta a um colapso. Antes que isto ocorra,

precisamos reagir contra o consumismo desenfreado preconizado pelas

mensagens publicitárias. Para isso, em primeiro lugar, é preciso desenvolver

nossa capacidade crítica em relação à publicidade para evitar a manipulação

da nossa liberdade de escolha. É preciso, também, estar atento para os

aspectos de elaboração do produto, antes , durante e depois da fabricação.

Temos que adotar o hábito de avaliar etiquetas e embalagens, verificar a

natureza do produto, sua qualidade, sua real utilidade, se seu preço

corresponde ou não à qualidade e qual pode ser seu impacto ambiental e

social. Na hora de comprar, é importante levar em consideração todos esses

fatores, mas, talvez, o mais difícil e o mais importante seja não perder jamais

de vista as nossas reais necessidades, evitar os exageros criados por uma

cultura consumista. (IDEC, 2009)

“Nós estamos consumindo 20% a mais

do que a Terra consegue sustentar. E mais do

que isso: se toda a população do mundo

consumisse como os norte-americanos e

europeus, que têm o padrão mais alto de

consumo, hoje, nós precisaríamos de quatro

planetas Terra”. (Mattar, 2004 apud Trigueiro,

2005, p. 27)

O Brasil produz uma quantidade enorme de resíduos sólidos e ela começa já

na forma de como se compra. Você pode comprar com mais embalagem ou

com menos embalagem. Por exemplo, não é preciso saco plástico. Não é

preciso ter verdura embalada. Pode-se comprar in natura. Um terço do lixo

brasileiro corresponde a embalagem.

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De acordo com Trigueiro (2005) a plasticomania vem tomada conta do planeta

desde que o inglês Alexander Parkers inventou o primeiro plástico, em 1862. O

novo material sintético reduziu os custos dos comerciantes e aumentou a “fúria”

consumista da civilização moderna. Mas o estrago causado pelo derrame

indiscriminado de plástico na natureza tornou o consumidor um colaborador

passivo de um desastre ambiental de grandes proporções. Feitos de resina

sintética originada do petróleo, esses sacos não são biodegradáveis e levam

séculos para se decompor na natureza. Na Europa, uma pessoa sai às

compras com a própria sacola, ela não vem para casa cheio de sacos

plásticos.

Na Alemanha, por exemplo, a plasticomania deu lugar a sacolamania. Quem

não anda com sua própria sacola a tiracolo para levar as compras é obrigado a

pagar uma taxa extra pelo uso de sacos plásticos. O preço é salgado. O

equivalente a sessenta centavos por unidade.

“Não há desculpas para nós brasileiros

não estarmos igualmente preocupados com a

multiplicação indiscriminada de sacos

plásticos na natureza. O país que sediou a

Rio-92 (Conferência Mundial da ONU sobre

desenvolvimento e Meio Ambiente) e que tem

uma das legislações mais avançadas do

planeta ainda não acordou para o problema

do descarte de embalagens em geral e dos

sacos plásticos em particular” (Trigueiro,

2005, p. 49)

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CAPÍTULO III

A PRODUÇÃO, O CONSUMO E A RECICLAGEM DE PET

Na descrição de Rolim e Nascimento (2000) o PET (polietileno tereflalato) é um

tipo de plástico que foi desenvolvido em 1941, por químicos ingleses, para a

confecção de fibra têxteis. Mas somente no final da década de 60, o PET

começou a ser desenvolvido para aplicações em embalagem. Suas

características de leveza, transparência, brilho, boas propriedades mecânicas e

de barreira do dióxido de carbono (CO2), fazem dele um material adequado

para a fabricação de garrafas de bebidas carbonatas (refrigerantes).

A introdução de PET no Brasil, em 1988, além de trazer as indiscutíveis

vantagens ao consumidor, trouxe, também, o desafio de sua reciclagem, que

nos fez despertar para a questão do tratamento das toneladas de lixo

descartadas diariamente em todo Brasil. (Ambiente Brasil, 2009)

No Brasil, assim que foram lançadas no mercado, as embalagens de PET

conquistaram diversos segmentos e transformaram-se num sucesso., graças

aos benefícios para o consumidor como moldalidade – embalagens de vários

tipos, tamanhos e formatos são possíveis, favorecendo a ergonomia;

transparência – o conteúdo fica à mostra, atestando a pureza e a qualidade do

produto; economia – a possibilidade de retampamento evita desperdício do

produto; resistência – inquebrantável, proporciona muita segurança, mesmo

quando manipulada por crianças e evita desperdício de produto no caso de

acidentes e é ecologicamente correta – não agride o meio ambiente, sendo

100% reciclável.

Não é PET todos os plásticos que tenham sido fabricados através de outro

processo que não o de sopro. Os mais comuns são: balde, bacias, copos,

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cabides, réguas, apontadores, pentes, mangueiras, sacos, sacolas, potes de

margarina, filmes de PVC, entre outros.

O polímero de PET é um poliéster, um dos plásticos mais reciclados em todo o

mundo devido a sua extensa gama de aplicações:

- Na indústria automotiva e de transportes: tecidos internos (estofamentos),

carpetes, peças de barco;

- Pisos: carpetes, capachos para área de serviços e banheiros;

- Artigos para residências: enchimento para sofás e cadeiras, travesseiros, cobertores, tapetes, cortinas, lonas para toldos e barracas;

- Artigos industriais: rolos para pintura, cordas, filtros, ferramentas de mão, mantas de impermeabilização;

- Embalagens: garrafas, embalagens, bandejas, fitas;

- Enfeites: têxteis, roupas esportivas, calçados, malas, mochilas, vestuário em geral;

- Uso químico: resinas alquídicas, adesivos.

A embalagem do PET quando reciclada tem inúmeras vantagens sobre outras

embalagens do ponto de vista da energia consumida, consumo de água,

impacto ambiental, benefícios sociais, entre outros.

Segundo Imbelloni (2004) a reciclagem de PET é das que mais cresce no

Brasil, cerca de 18% ao ano, gerando trabalho, renda e um benefício ecológico

ainda maior, pois, para produzir a resina reciclada, o gasto com energia é

quase 97% menor. Isso sem contar com o volume de material que deixa de

ser indevidamente enterrado em aterros e lixões.

Segundo o atual presidente da Associação Brasileira da Indústria do PET

(ABIPET), Auri Marçon, a indústria vem trabalhando há mais de 15 anos para

encontrar alternativas inovadoras para as embalagens de PET recolhidas. O

Brasil é o líder mundial nessas inovações e existem aplicações que não são

encontradas em qualquer outra parte do mundo. Isso levou o País a atingir um

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dos índices de reciclagem de PET mais altos do mundo, de 54%. Porém, há

falta de PET para abastecer a indústria recicladora, principalmente, a indústria

têxtil, que precisa desse material reciclado para competir com produtos

asiáticos. (ABIPET, 2009)

3.1 Os tipos de reciclagem

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de PET (ABIPET), o PET pode

ser reciclado de três maneiras diferentes:

Reciclagem Química - Utilizada também para outros plásticos, separa os

componentes do PET, fornecendo matéria-prima para solventes e resinas,

entre outros produtos.

Reciclagem Energética - O calor gerado com a queima do produto pode ser

aproveitado na geração de energia elétrica (usinas termelétricas), alimentação

de caldeiras e altos-fornos. O PET tem alto poder calorífico e não exala

substâncias tóxicas quando queimado. Outros materiais combustíveis também

podem ser utilizados.

Reciclagem Mecânica - Praticamente todo o PET reciclado no Brasil passa

pelo processo mecânico, que pode ser dividido em:

- RECUPERAÇÃO - Nesta fase, as embalagens que seriam atiradas no lixo

comum ganham o status de matéria-prima, o que de fato são. As embalagens

recuperadas serão separadas por cor e prensadas. A separação por cor é

necessária para que os produtos que resultarão do processo tenham

uniformidade de cor, facilitando, assim, sua aplicação no mercado. A

prensagem, por outro lado, é importante para que o transporte das embalagens

seja viabilizado, uma vez que o PET é muito leve.

- REVALORIZAÇÃO - As garrafas são moídas, ganhando valor no mercado.

O produto que resulta desta fase é o floco de garrafa. Pode ser produzido de

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maneiras diferentes, e os flocos mais refinados podem ser utilizados

diretamente como matéria-prima para a fabricação dos diversos produtos que o

PET reciclado dá origem na etapa da transformação. No entanto, há

possibilidade de valorizar ainda mais o produto, produzindo os grãos de PET

reciclado. Desta forma, fica muito mais condensado, otimizando o transporte e

o desempenho na transformação.

- TRANSFORMAÇÃO - Fase em que os flocos ou o granulado será

transformado num novo produto, fechando o ciclo. Os transformadores utilizam

o PET reciclado para fabricação de diversos produtos, inclusive novas garrafas

para produtos não alimentícios.

3.2 O PET e os três Rs

Segundo Rolim e Nascimento (2000) é possível supor que o aumento de

consumo de produtos plásticos, consequentemente, terá um aumento na

geração de resíduos deste material, e, logo, um agravamento no problema da

destinação do lixo urbano. Dentre todos os resíduos sólidos, os resíduos

plásticos chamam mais atenção devido a total descartabilidade das

embalagens, a resistência à degradação e a sua leveza, fazendo-os flutuarem

em lagos e cursos de água. O destino dos resíduos sólidos pode se dar através

da reciclagem, da incineração, ou da disposição (nesta ordem, de acordo com

as prioridades atuais de gerenciamento de resíduos sólidos). Cabe salientar,

que antes da preocupação do destino dos resíduos, a prioridade deve ser a

eliminação e minimização da geração desses resíduos.

Para Rolim e Nascimento (2000), a disposição de resíduos sólidos em lixões ou

aterros (sanitários ou controlados) é uma forma inadequada de destinação,

embora seja a mais utilizada. A disposição apresenta como problemas a

saturação das atuais áreas de disposição e a dificuldade para encontrar novas

áreas. Além disso, o plástico quando é disposto em lixões ou aterros gera

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problemas adicionais aos já mencionados nesta monografia em relação ao lixo

urbano de uma forma geral, pois leva mais de 400 anos para ser decomposto.

Segundo Pinto (1995, apud Rolim e Nascimento, 20004) quando os resíduos

plásticos são depositados em lixões, os problemas principais são a queima

indevida e sem controle. Quando são depositados em aterros, eles dificultam a

compactação do lixo e prejudicam a decomposição dos materiais

biologicamente degradáveis, através da criação de camadas impermeáveis que

afetam as trocas de líquidos e gases gerados no processo de biodegradação

da matéria orgânica.

As embalagens PET são 100% recicláveis, e a sua composição química não

libera nenhum produto tóxico e podem ser recicladas várias vezes, mas

tornam-se nocivas ao meio ambiente se atiradas ao lixo comum.

Segundo Aguiar e Philippi Jr. (1999, apud Rolim e Nascimento, 2000) o PET é

um caso à parte na reciclagem do resíduos plásticos pós-consumo. Os

resíduos reciclados são garrafas de refrigerantes e são muito disputados pelas

recicladoras. O PET está em primeiro lugar no ranking dos plásticos recicláveis,

posição garantida pelas suas propriedades e pelo aumento de sua demanda. O

PET tem alta resistência mecânica (impacto) e química, além de ter excelente

barreira para gases e odores, e, praticamente, não perde suas propriedades

depois de ser reciclado.

Atualmente, o PET está presente nos mais diversos produtos.

3.3 Atitudes positivas

“Na natureza nada se perde, tudo se transforma.”

(Lavoisier)

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3.3.1 Projeto da Coca-cola Brasil: “Reciclou Ganhou”

Este é um projeto integrador das ações da empresa Coca-cola Brasil voltado

para o meio ambiente. Criado em 1996, seguindo uma tendência mundial que

aponta para a economia de recursos naturais por indivíduo e instituições, a

empresa assume o compromisso de proteger, preservar e melhorar o meio

ambiente. Desde então o projeto promove a coleta e a reciclagem de

embalagens de garrafas PET e latas de alumínio, através de projetos

educacionais de conscientização ambiental e parcerias com escolas públicas e

privadas, hospitais, entidades filantrópicas, estabelecimentos comerciais,

associações de moradores, cooperativas de reciclagem e catadores

autônomos. Apoia mais de 37 cooperativas em 24 estados, dando equipamento

(uniformes, caminhões, prensas) e, também, beneficia mais de 4,5 mil

entidades (escolas, asilos, associações de moradores) que trocam os

comprovantes de coleta de material por prêmios de seu interesse, tais como

computadores, veículos, livros. O material reciclado e recolhido é encaminhado

para uma nova indústria que surge, a indústria da reciclagem.

Seguindo essa linha do projeto, no Carnaval de 2006, numa parceria entre

Coca-cola Brasil, Comlurb, Liesa e Riotur foram instaladas, pela primeira vez,

no Sambódromo, lixeiras sinalizadoras para coleta seletiva. Foram recolhidas

6,8 toneladas de material reciclável durante o Carnaval.

Os objetivos desta parceria foram promover a educação ambiental entre foliões

e torcedores, coletar material reciclável e gerar renda para os catadores

cadastrados pelas cooperativas. A Coca-cola Brasil estava presente na avenida

com a campanha “ Reciclar sempre dá samba” que divulga as ações da

empresa na área de reciclagem de materiais.

Estes projetos mostram a preocupação crescente com os recursos finitos da

natureza bem como forte comprometimento no processo de reciclagem.

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3.3.2 Projeto Extra 10, do Grupo Pão de Açúcar

O projeto além de garantir o destino de materiais que servem para reciclagem,

gera benefícios para os clientes dos hipermercados. Por meios de máquinas

especiais de coleta distribuídas em lojas da rede nas cidades de São Paulo,

Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte, os consumidores podem devolver

garrafas plásticas (PET) e latas de bebidas e receber em troca cupons de

descontos nas compras.

O projeto inclui outras iniciativas. E o caso, por exemplo, das ações de

incentivo ao comércio solidário, a utilização de sacolas retornáveis e as

estações de reciclagem.

Em 2009, a empresa investiu cerca de 60 milhões em iniciativas para

promoção do consumo consciente, gestão ambiental e programas sociais

voltados para a qualidade de vida.

O consumidor tem se mostrado cada vez mais engajado nas ações realizadas

pela empresa para diminuição e uso consciente das sacolas plásticas. Só em

sacolas retornáveis, o Grupo comercializou mais de 1.000.000 de unidades.

O destaque entre as redes fica com o CompreBem, focado para o consumidor

de classe média, que registrou a venda de 540mil unidades de ecobags em

2009. A bandeira Pão de Açúcar contou com a campanha de estímulo ao uso

de ecobags do Programa Mais, pontuando clientes que utilizam as sacolas

retornáveis. Só com essa ação, 1,8 milhões de sacolas plásticas deixaram de

ser descartadas no meio ambiente. A iniciativa já se estende as 145 lojas da

rede.

Em 2009, também, surgiu outro projeto consciente das embalagens -

Programa Contra o Desperdício de Sacolas Plásticas - que alcançou 40% de

redução no uso de embalagens plásticas pelos clientes, ou seja, o

correspondente a 80 milhões de economia em sacolinhas plásticas.

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Na área da reciclagem, o programa realizado arrecadou em 2009, trinta e duas

mil toneladas de lixo seco (papelão, plástico, metal e vidro) e 184 litros de óleo

de cozinha. O Grupo Pão de Açúcar é responsável por 20% dos resíduos

arrecadados na cidade de São Paulo. Somando todas as redes, o Grupo

oferece 197 postos de arrecadação de material reciclável em 31 municípios

brasileiros; e cada loja, em média, recebe cerca de 600 toneladas de resíduos /

mês contra 4 toneladas / mês do ano do início do projeto em 2001.

Além da reciclagem pós-consumo, tem o programa de reciclagem pré-

consumo: o Caixa Verde, e já funciona em 25 lojas do Grupo. O programa é

bem aceito pelos consumidores que passam a depositar as embalagens (papel,

plástico, latas de alumínio e vidros) em urnas instaladas nos check-outs das

lojas.

Com uma política estruturada de responsabilidade socioambiental, o Grupo

Pão de Açúcar tem como objetivo atuar em três grandes causas: Somar

Qualidade de Vida, Dividir com a Comunidade e Multiplicar a Consciência no

Consumo.

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CONCLUSÃO

De acordo com o artigo 225 da Constituição da República Federativa do Brasil

de 1998: “Todos têm direito ao ambiente ecologicamente equilibrado, bem de

uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao

Poder Público e à Coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e

futuras gerações.”

O direito ao meio ambiente sadio é, portanto, uma questão de cidadania.

Perante as questões ambientais, só há duas possibilidades: ação-omissão que

determina a devastação e a extinção, ou a ação-transformação que

proporciona o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida.

Sabemos que o nosso meio ambiente está doente e só há um remédio para

poder colocá-lo de novo em condições favoráveis para a nossa sobrevivência

naTerra: a reciclsgem.

O Brasil hoje é líder em reciclagem de alumínio reciclando cerca de 96% das

latas colocadas no mercado. O País ostenta, também, um dos mais altos

índices mundiais de reciclagem de embalagem de PET, atualmente em torno

de 54,8%. Com os novos usos e a valorização da resina reciclada, somados ao

incentivo à coleta seletiva e à maior conscientização entre os consumidores, a

tendência de aumento da reciclagem do PET deve se manter no futuro, porque

reciclar é um caminho necessário.

Os exemplos apresentados no final do terceiro capítulo, são pequenas

amostras concretas de ação-transformação diante da problemática. Essas

sementes somente se perpetuarão através da educação ambiental,e,

principalmente, através da conscientização de que cada cidadão (e a

sociedade como um todo) necessita inserir-se nesse processo e sentir-se parte

do meio ambiente.

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O homem e o meio ambiente se completam.

“Somente uma transição rápida a atitudes

fundamentalmente novas, atitudes de respeito

e integração ecológica, poderá ainda evitar o

desastre. Encontramo-nos num divisor de

eras. Nossa época entrará na historia, se

dermos chance à história, como limiar de uma

nova idade. A qualidade de vida nesta nova

idade dependerá de nosso comportamento

atual e das atitudes que soubermos inculcar

na juventude.”

( José Lutzemberger )

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