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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO”
PROJETO VEZ DO MESTRE
UM CAMINHO TURÍSTICO PELAS HISTÓRIAS, ESTÓRIAS E
LENDAS DO RIO DE JANEIRO.
(A EDUCAÇÃO COMO APRIMORAMENTO PARA O GUIA DE
TURISMO)
Por Jorge Mitidieri
Orientador
Professor Antonio Fernando Vieira Ney
Rio de Janeiro
2004
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
UM CAMINHO TURÍSTICO PELAS HISTÓRIAS, ESTÓRIAS E
LENDAS DO RIO DE JANEIRO.
(A EDUCACÃO COMO APRIMORAMENTO PARA O GUIA DE
TURISMO)
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
em Docência do Ensino Superior.
Por JORGE MITIDIERI.
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus professores que souberam
mexer com minhas estruturas,
conseguindo definir novas posições.
4
DEDICATÓRIA
De todo o coração a minha mulher
e filhos que estavam ao meu
lado nos momentos de
desespero e de depressão em
minha vida profissional, e por
tudo o que me ensinaram nessa
nossa vida em comum.
5
“PASSAR NO EXAME JUNTO AOS POBRES,
SÓ DEPOIS DE TER SENTADO NO BANCO
DOS HUMILDES É QUE SE TEM
CONDIÇÕES DE ENTRAR NA ESCOLA DOS
DOUTORES”.
”Leonardo Boff”
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RESUMO
O Turismo tem hoje uma responsabilidade maior do que um simples vocábulo
em um dicionário, que significa somente lazer e divertimento. Hoje, podemos
dizer, que ele tem uma grande importância no desenvolvimento da economia,
do indivíduo e do ambiente social.
A formação de Guia de Turismo passou a ser encarada seriamente, uma vez
que ele deixou de ser um mero apontador de atrativos, para ser um contador
de histórias e estórias, exigindo assim um melhor aprimoramento, e uma maior
aplicação na profissão.
Nesta Monografia procuramos desvendar um mundo, que por vezes não estão
nos livros didáticos, mas são instrumentos que facilitam ao Guia uma condição
de apresentar um trabalho mais profundo e alegre “O riso alegre de uma
cidade”.
Ao longo do tempo, esse conjunto maravilhoso de Sol, Montanha, Azul e
Verde, e seu Povo, que nessa miscigenação traz a alegria de viver, da
descontração no vestir e no se apresentar – “Prazer, apareça lá em casa ( é
para não aparecer)” – seduz a todos e faz com que se tenha vontade de
sempre aqui voltar.
Em História, Estórias e Lendas do Rio de Janeiro, são Histórias que se
transformam em Estórias e que chegam até a Lendas e que de tão bonitas,
passam a dar o que de mais importante podemos contar de nossa cidade. É a
educação, como aprimoramento para um Guia de Turismo.
7
Metodologia
A Monografia se desenvolveu a partir do Curso de Formação de Guias de
Turismo, patrocinado pela Embratur, no qual venho desenvolvendo um trabalho
de orientador – professor.
Nas aulas e no desenvolvendo do Curso, procuramos mostrar os Atrativos do
Rio de Janeiro, diretamente com a participação dos alunos, o que nos traz uma
grande troca de informações, e onde a necessidade de procurar material para
os trabalhos práticos, como visitas, aulas laboratório e seminários, contribuíram
para muito acrescentar essas narrativas.
As pesquisas foram feitas através de bibliografias específicas, como também
visitas aos principais Centros Históricos de nossa cidade. Outros pontos
importantes foram as visitas dirigidas aos atrativos específicos como, Museus,
Igrejas, Fortalezas e Bibliotecas. A Monografia está diretamente ligada à
necessidade que o estudante de Turismo tem ao se preparar para ser Guia de
Turismo, na procura de informações de nossa história, que é escrita, por vezes
só se preocupando em contar um fato, esquecendo que, por trás existem belas
informações, que são omitidas.
A preparação do nosso trabalho se deveu, principalmente, a participação do
aluno nas aulas e no curso, o que possibilitou uma interação, não só na
pesquisa, mas no desenvolvimento da monografia.
8
Objetivos
A história do Rio de Janeiro se perde no tempo, pois pouco se fala com a
pressa de se chegar aos períodos posteriores de sua descoberta. Nela pouco
se detém a atenção, pois sempre se esquecem de que o Rio foi e é a porta de
entrada do Brasil. Aqui, durante muito tempo, desperta a cobiça dos piratas e
corsários e invasões atrás do Pau Brasil. Aqui onde se desenvolveram os
engenhos de açúcar que lhe deram a primeira riqueza e que possibilitaram as
divisões em glebas, o ouro, riqueza que encontrou como porta de saída às
margens de nossos mares, foi aqui que a cultura forçou sua passagem. É a
cidade que na ânsia de crescimento, que derruba os limites de um simples
morro, o Castelo, e descendo as Várzeas, pelos vales apertados entre o mar e
as montanhas, vencendo as lagoas e charcos, firmando suas diretrizes de
crescimento urbano, se tornou uma das mais belas do mundo.
De início, ergueram-se Templos e Igrejas, muito antes de serem construídos os
Palácios, mostrando o valor do espiritual em um povo que lutava pelo seu
crescimento.
Ao longo dos limites dos mares, das praias, plantaram-se antigos trapiches,
que se transformaram em portas para um comércio que rapidamente cresceu.
No século XVIII o Rio de Janeiro, transformou-se em um grande depositário de
ouro, que se serviu de seus portos para sair rumo a Lisboa.
Na historia do Rio de Janeiro, a agitação da vida, os acontecimentos, as
transformações administrativas, a Corte, tudo nos leva para emprestar ao Brasil
a irradiação do desenvolvimento. Nossa história, cheia de lendas e estórias,
nos apresenta um vasto capitulo de temas sedutores.
Quantos já exaltaram as belezas de nossa Cidade? Quantos Poetas, Artistas,
Músicos, Cientistas, Viajantes, Turistas que são ilustres desconhecidos, e o
próprio povo, o quanto a exaltaram?
.
9É nesta cidade de sonhos, nos seus belos contrastes, na cidade de grandes
negócios e do seu bem viver, e é no fazer, no estar vivendo no Rio, e no seu
despojamento o que nos obriga a própria natureza e suas belezas.
A busca do ar livre em uma cidade quente, com temperaturas que chegam aos
40º e 42º, e que não intimida o povo que sabe viver, melhor do que ninguém,
um viver saudável e alegre.
O seu Centro Histórico e Cultural, aos poucos sendo descoberto, a Zona Sul
com seus bairros integrados apesar de suas diferenças, a Zona Norte e Zona
Oeste sendo valorizadas, não pressupõem cidades diferentes e sim a união de
um povo “Carioca”, que nada mais é do que UM ESTADO DE ESPÍRITO.
O objetivo precípuo é mostrar aos alunos muito do que nossa história tem sem
que venha a aparecer em livros didáticos.
10
PROLOGO
A descoberta deste seio de mar, “Guanabara” (iguaá-mbará) que significa
“SEIO” ou “NASCEDOURO” do mar, pois se acreditava que aqui nascia o mar,
e pelo outro lado chamavam de NITEROY (y-i-teroi) significando Água
Escondida Suja ou Mar Morto com as terras do outro lado, a cidade do Rio de
Janeiro está, até hoje, envolta em Histórias, Estórias e Lendas, por
controvérsias e até por mistérios.
Quando D. Manoel recebeu a notícia de que Pedro Álvares Cabral havia
chegado a uma terra desconhecida, pródiga em fauna e flora e riquezas,
mandou uma frota comandada por André Gonçalves, mas a história mostra
muitos erros, uma vez que aparecem muitos nomes como Gaspar de Lemos,
D. Nunes Manoel, Fernão de Noronha, como Comandantes dessa expedição,
que veio com a finalidade de reconhecimento e demarcação de nossas terras.
O nome de Américo Vespúcio aparece como uma pessoa importante
mostrando ao mundo a grande descoberta, ainda que tudo se tem dúvidas
como original, aparecendo versões em diversas línguas, mas por vezes
aparecendo deturpadas. O certo é que Vespúcio, muito “senhor de si”, nesses
escritos, exalta muito a sua pessoa por vezes fugindo a verdade e que por isso
são analisadas, criticadas, esmiuçadas, e são colocadas em dúvida, pois nelas
aparecem muitas contradições, como dizem os historiadores. Um fato contam,
vem contribuindo para mostrar sua vaidade, ele que roubou em seus escritos a
Colombo, a glória do nome América – Américo Vespúcio (?).
Para a nossa história, o mais certo é que essa expedição chegou as nossas
terras de Vera Cruz, e como era o dia de São Roque, deu o nome do Santo ao
primeiro cabo avistado, e daí para diante é fácil seguirmos o caminho da
expedição pelo calendário eclesiástico que serviu de denominação aos locais
que iam chegando: Cabo de São Agostinho, 28 de agosto - Rio São Francisco,
114 de outubro - Baía de Todos os Santos, 1ª de setembro - Cabo de São Tomé,
21 de dezembro -.
No dia 1ª se janeiro de 1502, chegaram a uma grande extensão de água, que
pensaram estar em um estuário de um grande rio ao qual deram o nome de Rio
de Janeiro, de acordo com a maneira como estavam definindo as descobertas.
Quanto ao fato de estarem entrando no estuário de um grande rio, existem
controvérsias uma vez que os portugueses, grandes navegadores, não
poderiam incorrer nesse erro, mas as histórias são contadas e as lendas as
deturpam e passam a ser verdadeiras e por vezes se tornando muito mais
interessantes.
Tendo em vista as notícias enviadas à Lisboa, outra expedição, mais
aparelhada, foi organizada sob o comando de Gonçalo Coelho, com uma frota
de seis navios, sendo que o Comandante de um deles era o próprio Américo
Vepúcio. Tudo indica que a expedição teria que percorrer toda a costa do
Brasil, de norte a sul, permitindo atingir novos caminhos que dessem condições
para novas descobertas. No caminho aconteceu o naufrágio da nau capitania,
fazendo com que o comandante passasse para o outro navio. Aconteceram
sérias divergências entre Gonçalo Coelho e Américo Vespúcio, este querendo
aparecer e dirigir as operações. Separou-se Vepúcio com dois navios e foi
direto para a Baia de Todos os Santos, de onde seguiu viagem até Cabo Frio,
onde fundou uma feitoria, daí retornando à Portugal com um grande
carregamento de Pau Brasil, e lá anunciou que Gonçalo da Costa se perdera e
provavelmente afundara.
Três anos após, Gonçalo Coelho retorna à Lisboa com os navios restantes da
expedição. A ele é atribuída a construção da famosa “Casa de Pedra” que
associaram ao nome Carioca, Casa de Branco.
Muitos por aqui passaram sem que ficassem marcados vestígios. Sabe-se que
muitas expedições passavam, abasteciam-se de água ás beira do Rio Carioca
na Aguada dos Marinheiros (Flamengo), para depois seguir viagem para outras
paragens e nada deixaram de interessante em nossas terras.
12Para Portugal, absorvido com as riquezas das Índias, o Rio de Janeiro lhes
pareceu pobre e aos poucos foi sendo abandonado. Portugal deu por contrato
a exploração do Pau Brasil, o Pau Tinta, que parecia ser o único produto de
valor aqui existente.
Em terras abandonadas e sem dono, muitos contrabandistas, piratas, e
corsários, vinham buscar o Pau Brasil. Os franceses foram alguns dos que
percorriam de Pernambuco ao Rio de Janeiro, e onde faziam muitas paragens.
Continuou a ser uma região abandonada pelos portugueses, e em assim sendo
continuou a ser terra de ninguém. Alguns franceses aqui ficaram, despertados
pelas belezas da natureza, pela acolhida do povo, os índios, que habitavam a
região. Na época, Anchieta assim descrevia esse tipo de viajantes: “A vida dos
franceses que estão neste Rio é já não somente apartada da Igreja Católica,
mas também feita selvagem, vivem conforme os índios, comendo, bebendo,
bailando e cantando com eles, pintando-se com suas tintas pretas e vermelhas,
adornando-se com as penas de pássaros, andando nus, e por vezes com
calções, e finalmente matando inimigos conforme o rito indígena, a até
tomando nomes como eles, de maneira que lhes falta mais que comer carne
humana, que no mais sua vida é corruptissima”.
Como se vê, o Rio de Janeiro, sem um povoado, no abandono, nada para
marcar a presença de Portugal nas nossas terras, despertou a cobiça dos
navegantes franceses. Começaram a freqüentar com mais assiduidade, em
viagens constantes ao longo da costa desde o Rio Grande do Norte até o Rio
de Janeiro, praticando com os índios – Tupinanbaux et Tabajares - o escambo
de miçangas e quinquilharias, armas e utensílios na troca por Pau Brasil, e por
vezes levando também exemplares de índios.
E assim foi nossa terra se desenvolvendo, crescendo, e se transformando no
ponto inicial de nossa colonização.
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ÍNDICE DE ASSUNTOS
• AGRADECIMENTOS
• DEDICATÓRIA
• UMA FRASE
• RESUMO
• METODOLOGIA
• INTRODUÇÃO
• PROLOGO
• CAPÍTULO I
• TUDO ERA O INÍCIO.
• QUEM FOI QUE CHEGOU PRIMEIRO.
• A DESCOBERTA.
• SÉCULO XVI.
• UM PEDAÇO DA FRANÇA.
• A FRANÇA ANTÁRTICA.
• PORTUGAL REAGE PELOS SEUS DIREITOS.
• A REAÇÃO DE PORTUGAL.
• MARCO DA FUNDAÇÃO DO RIO DE JANEIRO.
• CAPÍTULO II
• EM TERRA SEM DONO...
• E TODOS QUERIAM UM PEDAÇO.
• JEAN FRANCOIS DUCLERC –SEREMBRO DE 1710.
• PRIMEIRO SEQUESTRO QUE DEU CERTO.
• DUGUAY TROUIN – SETEMBRO 1711.
14
• CAPÍTULO III
• O RIO SE TRANSFORMA.
• E TUDO CRESCEU.
• O MORRO QUE DESAPARECEU.
• O MORRO DO CASTELO.
• O RIO VAI CRESCENDO.
• CRESCE O CAMINHO DO POVO.
• A CIDADE SE ESPALHA.
• NO INÍCIO TUDO ERA CHARCO.
• AS LAGOAS.
• CAPÍTULO IV
• O PODER DA IGREJA
• AS ORDENS RELIGIÓSAS.
• E O TESOURO ESCONDIDO DOS JESUÍTAS.
• OS BENEDITINOS.
• OS CARMELITAS.
• OS FRANCISCANOS.
• CAPÍTULO V
• CHEGAM O PODER E DONOS DA TERRA.
• CHEGADA DA CORTE REAL DE PORTUGAL.
• VALE TRAZER TUDO PARA O CONSUMO.
• ABERTURA DOS PORTOS.
• CARTA RÉGIA – ABERTURA DOS PORTOS BRASILEIROSAS
NAÇÕES AMIGAS.
• CAPÍTULO VI
15
• IDAS E VINDAS DA CATEDRAL.
• UM CAMINHO DA CATEDRAL.
• CAPÍTULO VII
• ALGUMAS HISTÓRIAS DE UMA ÉPOCA.
• FALTA DO PRECIOSO LÍQUIDO.
• ABASTECIMENTO DE ÁGUA DO RIO DE JANEIRO.
• FISCALIZAR É PRECISO.
• ILHA FISCAL.
• IGREJA DOS OLHOS AZUIS.
• IGREJA DE SANTA LUZIA.
• ERA UMA LAGOA POLUÍDA E SUJA.
• O AMOR DE UM HOMEM TRANSFORMOU NO PASSEIO
PÚBLICO.
• RUA DAS BELAS NOITES.
• RUA DO PASSEIO.
• SENTINELA DO SILÊNCIO.
• IGREJA DO OUTEIRO DA GLÓRIA.
• A DEVOÇÃO DO POVO PARA QUEBRAR A MONOTONIA.
• AS PEQUENAS ERMIDAS.
• A ALEGRIA DAS FREIRAS DO SILÊNCIO.
• CONVENTO DA AJUDA.
• CONFEITARIA DE LOURENZO FALLAS.
• CAPÍTULO VIII
• CARIOCA – A CASA BRANCA E OUTRAS LENDAS.
• O MORRO DA VIUVA E PRAIA DO FLAMENGO.
• E FICOU UM LUGAR DE PASSAGEM.
• PRAIA DE BOTAFOGO.
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• SUA HISTÓRIA SE CONFUNDE COM O RIO DE JANEIRO.
• URCA E PRAIA DA SAUDADE.
• UM SÍMBOLO DE NOSSA TERRA.
• O PÃO DE AÇÚCAR, PRAIA VERMELHAO CRISTO
REDENTOR.
• FLORESTA DA TIJUCA.
• O CRISTO NO PÃO DE AÇÚCARI.
• O CRISTO REDENTOR.
• CAPÍTULO IX
• E PASSAMOS OS TÚNEIS.
• UM PASSEIO PELA ORLA DO RIO.
• E NASCE A PRINCESINHA DO MAR.
• KIJUPAC KAUANA – COPACABANA.
• E PORQUE NÃO FALARMOS DE MÉRE LOUISE?
• VAMOS DESCANÇAR QUE NINGUÉM É DE FERRO.
• A CASA “HOTEL” DE MÉRE LOUISE.
• O CAMINHO DOS PRETOS QUEBRA BOLOS.
• O BAIRRO DO LEME.
• ÁGUA RUIM PARA BANHO E PESCA.
• PRAIA DE IPANEMA.
• VAMOS VER AS BALEIAS.
• PRAIA DO ARPOADOR.
• CHARLES LEBLON.
• A QUEM DEVEMOS O LEBLON.
• UM FILME QUE DEU O NOME AO JARDIM DE ALAH.
• HORTO REAL.
• REAL JARDIM BOTÂNICO.
• JARDIM BOTÂNICO.
• SACOPENAPÃ – PRAIA BATIDA PELOS SOCOS.
17
• LAGOA RODRIGO DE FREITAS.
• E LÁ EXISTE UMA FONTE DE ÁGUA CRISTALINA.
• FONTE DA SAUDADE.
• CAPÍTULO X
• CAMINHO DO CÉU.
• AVENIDA NIEMEYER.
• SÃO CONRADO.
• PONTA DOS ANCHÓIS.
• CHEGAMOS AO JOÁ.
• BARRA DA TIJUCA.
• RECREIO DOS BANDEIRANTES.
• JACAREPAGUÁ – UACARÉ UPA-GUA.
• CONCLUSÃO.
18
A HISTÓRIA E SEUS CAPÍTULOS.
CAPÍTULO I.
TUDO ERA O INÍCIO.
QUEM FOI QUE CHEGOU PRIMEIRO?
A DESCOBERTA.
SÉCULO XVI.
O lugar onde o Rio de Janeiro nasceu foi revelado ao mundo quase ao mesmo
tempo em que o Brasil foi avistado por Pedro Álvares Cabral, uma vez que um
ano após já era enviada uma expedição para tomar posse dar nomes e
conhecer as terras. Conforme já contamos, uma primeira expedição
comandada por André Gonçalves era enviada ao Brasil, e em 1502, os
portugueses iniciaram um trabalho de reconhecimento, daí começando toda
nossa história. Na bela dança de nomes dados pelos índios, as histórias de
19nomes, apareceram outros que deram o colorido a nossa vida, como “Banda
Carioca” (Praia do Flamengo) região “ribeirinha” interna da cidade, onde os
navios que seguiam viagem para o sul, paravam para tomar água do Rio
Carioca.
Os Tamoios, diferentes dos outros índios que aqui viviam, eram bem mais
“civilizados”, pois receberam os visitantes com gentileza, entretanto não foram
bem tratados uma vez que os Lusitanos queriam era explorar o Pau Brasil e
precisavam de braços escravos para o trabalho.
O Rio de Janeiro permaneceu por muito tempo como uma terra abandonada,
uma terra de ninguém. Nessa história toda “Terra de Ninguém”, muitos
aproveitadores, e principalmente os franceses, apareciam e aqui ficavam por
um bom período de tempo, pois mantinham um bom convívio com os índios,
assimilando seus hábitos, mantendo um intercâmbio cordial, vestindo-se de
calções, ou por vezes até nus, mantendo relações amorosas com as belas e
bronzeadas índias, aqui viviam no bem bom de uma vida agradável. Essa
situação de convívio com as índias, em principio, para os Lusos parecia uma
barbaria, com o tempo foram atraídos pelas belas morenas, e acabaram
sucumbindo, e foram responsáveis pela bela miscigenação de nossa raça.
Com essa hostilidade inicial e cada vez maior, os portugueses abandonaram
esta região por muito tempo. Muitas histórias sobre o Rio de Janeiro estão para
serem descobertas e contadas. Vale lembrar uma regra de prudência que
definiu a localização de muitas cidades quando descobertas e fundadas: “Diz
João Ribeiro (História do Brasil pg.81) –” As primeiras cidades do Brasil,
começaram o seu desenvolvimento pelos morros e só mais tarde desceram ás
planícies e nunca se formando á borda do mar ou mesmo de um rio,
procurando lugares aonde não chegavam os navios de longo curso, e também
saindo dos alagados e charcos de nossas terras – é essa a prudência dos
fundadores no século XVI e no seguinte, que formou a luta pela posse da
terra“.
201.1 UM PEDAÇO DA FRANÇA.
A FRANÇA ANTÁRTICA.
Em 1555, o comandante francês Villegagnion, vendo o bom relacionamento
que existia entre seus comandados e os habitantes da terra, e como o local era
abandonado por quem se dizia seu descobridor, resolveu aqui fundar a
FRANÇA ANTÁRTICA.
Aqui chegaram, de início, dois navios sendo um de guerra e outro de
mantimentos, trazendo oitenta colonos, e em 1557 chegaram mais de 800
colonos nas terras Cariocas.
Para tanto, procurou um bom lugar e lá se instalou, em princípio na ilha de
Lages, com seus navios, mas sentiu que o local era pequeno e resolveu
transferir-se para local melhor estrategicamente situado em posição de defesa
em caso de necessidade contra os donos das terras. Como era um militar de
princípios rígidos, e acreditava na disciplina, procurou separar os homens das
apetitosas índias, colocando entre eles uma faixa de água longe da terra.
Apareceu um grande problema uma vez que vieram poucas mulheres nos
navios, cinco ao todo, foi difícil segurar a tropa, e talvez por isso nasceu o
ditado “a ver navios”. Muitos de seus homens, não se sabe se em botes ou a
nado, debandaram para viver com as índias, no bem bom com a população
local, e quem sabe, daí nascia à vocação turística da Cidade Maravilhosa.
Villegagneon mandou construir três fortificações em posições estratégicas, mas
tem-se dúvida se foi por razões de controle e entrada de navios inimigos na
baia, ou se foi para tentar manter os soldados amorosos trancados dentro
delas.
1.2 PORTUGAL REAGE PELO SEU DIREITO.
A REAÇÃO DE PORTUGAL.
Sentindo-se ameaçado pela presença constante dos inimigos os franceses os
dirigentes de outras Capitanias solicitaram à Corte que algo deveria ser feito.
Mem de Sá, Governador Geral da Bahia, partiu para o Rio de Janeiro, já que
dele dependia atacar os inimigos, veio com ajuda de reforços das Capitanias
de São Vicente e Espírito Santo.
21Como haviam poucas provisões na ilha, os franceses foram dominados em
poucas horas, na base da fome e da sede, uma vez que Villegagnon tinha
retornado à Europa e a maioria dos soldados estava em seu delicioso
congraçamento no continente. A vitória foi de pequena monta tendo em vista
que os portugueses tiveram dificuldades em enfrentar o grande número de
Tamoios que se encontravam no Continente e que já estavam acostumados ao
convívio com os franceses. Esse ataque não foi definitivo, o Rio continuou
abandonado com o retorno dos portugueses, e os franceses voltaram e se
alojaram com mais forças. Em 1565, Mem de Sá, com ajuda de um bom
contingente de forças, e juntamente com seu sobrinho Estácio de Sá
conseguiram efetuar nova investida contra os franceses e os Tamoios.
Estrategicamente aportaram em um local entre os Morros Cara de Cão e Pão
de Açúcar, perto da Praia Vermelha, um local em mar aberto e de difícil
alcance dos canhões inimigos que se encontravam dentro da Baia de
Guanabara. Era assim fundada a cidade do Rio de Janeiro em 1ª de março de
1565, em local denominado Capoinhas (Praia dos Remeiros), local esse que só
podia ter acesso através de barcos, pois era protegido por dois Morros na
entrada da barra.
Mem de Sá tratou de edificar uma fortificação para garantir sua base de
operações. Usou de um artifício para garantir a posse, mandou retornar para
alto mar todos os navios para que os soldados, assim, não ficassem tentados a
voltar, ou recuar, quando do primeiro fracasso.- era “Vitória ou Morte”. Prova
que a sua posição era boa, pois os militares até hoje lá se encontram no Forte
São João na Urca.
Pouco a pouco o lugarejo cresceu apesar das constantes chuvas de flechas
dos Tamoios, que eram instigados pelos franceses e que visavam barrar as
investidas dos portugueses. Mem de Sá sentiu o problema da falta de mão de
obra para o desenvolvimento do local, e, para tanto, encaminhou a solução do
problema por meio de importação de escravos negros, implantando dessa
maneira a utilização de mão de obra escrava. Dois anos após, Mem de Sá vem
em auxílio de seu sobrinho com uma grande armada, mais poderosa, formada
por forças de outras Capitanias, principalmente vindas do Espírito Santo e,
ainda, com ajuda de Arariboia, detonaram uma grande ofensiva. (Arariboia se
22juntara às tropas portuguesas desde que tinha sido expulso pelos Tamoios de
suas terras na Ilha de Governador).
No dia 20 de janeiro de 1567, enfim, dia de São Sebastião, em uma batalha
memorável, os portugueses conseguiram a vitória, mas nesse combate Mem
de Sá veio a falecer, pouco tempo depois, devido a infecção numa ferida em
seu rosto provocada por uma flecha. Hoje temos um monumento a Estácio de
Sá no Aterro do Flamengo, em frente ao Morro da Viúva projeto do Arquiteto
Lúcio Costa, em sua homenagem.
1.3 MARCO DA FUNDAÇÃO DO RIO DE JANEIRO
O lançamento do Marco da fundação do Rio de Janeiro ocorreu em 20 de
janeiro de 1915, na Fortaleza de São João, conforme o abaixo descrito:
“Aos 20 dias do mês de janeiro de mil novecentos e quinze
compareceram na esplanada e encosta no morro chamado Cara de Cão, onde
está a Fortaleza de São João, na capital da República dos Estados Unidos do
Brasil, as pessoas no final assinadas, quais as componentes do Primeiro
Congresso de História Nacional, reunidos de sete a dezesseis de setembro de
mil novecentos e quatorze, e que declararam tal qualidade para cumprir a
resolução unanimente aprovada pelo dito Congresso, que ergue-se naquele
ponto um marco destinado a comemorar a fundação da Cidade do Rio de
Janeiro por Estácio de Sá em mil quinhentos e setenta e cinco. Tendo
previamente examinado o referido local, a mencionada delegação do Primeiro
Congresso Nacional adotou o único voto do senhor doutor Morales de Los
Rios, que pretende ter sido a fortaleza da cidade edificada sobre o Outeiro
Cara de Cão, o parecer do senhor doutor José Vieira Fazenda, que opinou se
levantasse o marco comemorativo na várzea compreendida de um lado pelo
mencionado Cara de Cão e do outro pelo penedo do morro da Urca e do Pão
de Assucar, portanto não restando vestígios das edificações ali plantadas no
século dezesseis, mas sabendo-se que estas, quer pela lição dos antigos
cronistas e dos documentos existentes no arquivo Municipal Carioca, quer
pelas mais verossímeis e legítimas presunções, deviam ter sido erigidas na
várzea e nas fraldas de mais fácil acesso compreendido entre o Pão de
23Assucar, e o morro Cara de Cão e as praias de além e aquém barra aquela
solução era a mais consentânea com elementos históricos e lógicos do
problema, uma vez que se torna impossível de marcar, com rigorosa precisão
científica, o ponto em que se fincou a primeira estaca da primeira casa
fabricada por ordem de Estácio de Sá, em mil quinhentos e sessenta e cinco.
Determinando assim, consoante o alvitre vencedor, o local em que se devia
cantar o mencionado padrão, e escolhido para semelhante fim o dia de hoje,
não só por ser o do padroeiro da cidade, como também por ser data em que
em mil quinhentos e sessenta e sete, se realizou a Victória das forças
portuguesas no ataque ao forte Ybyraguaçú-Mirim, foi solenemente inaugurado
o referido marco, feito de granito nacional, em que foi pregada uma placa de
bronze, dando face para a praia de fora”.
Esse marco, hoje se encontra na Igreja de São Sebastião na rua Hadock Lobo
na Tijuca.
24
CAPÍTULO II
EM TERRA SEM DONO...
E TODOS QUERIAM UM PEDAÇO.
E nossa terra continuou abandonada por muito tempo, sempre despertando a
cobiça dos exploradores, uma vez que a terra era pródiga em riquezas
naturais. Muitas expedições vieram para cá sempre a procura de nossas
riquezas. A primeira riqueza explorada pelos europeus em terras brasileiras foi
o Pau Brasil, abundante pelas costas brasileiras. Dela se extraia uma
substância corante, comumente utilizada para tingirem tecidos, e é interessante
observar que as roupas antigas tinham uma coloração avermelhada, tintura
que provinha do Pau Brasil, mas que não permitia a lavagem da roupa, pois
perdia sua coloração, aliado a isso, a falta de banho, costume peculiar dos
europeus na época, proporcionava um bom cheiro de corpo...
Antes da conquista das América, a indústria da Europa de tintas comprava o
Pau Brasil trazido do Oriente pelos mercadores que atuavam nas rotas das
índias. A partir da descoberta do Brasil, tornou-se mais lucrativo vir apanhar o
precioso material em nossas costas abandonadas, principalmente no Rio de
Janeiro. A participação do índio na extração do Pau Brasil foi básica, pois os
marinheiros dos navios não tinham condições físicas para corte, na árdua
tarefa de cortar árvores de grande porte, que alcança um metro de diâmetro na
base do tronco.
Duas invasões de franceses marcaram o Rio de Janeiro e é importante
contarmos:
2.1 JEAN FRANÇOIS DUCLERC – SETEMBRO DE 1710.
Em setembro de 1710, o corsário francês Jean François Duclerc, que já tentara
por diversas vezes chegar ao Rio de Janeiro, mais uma vez não conseguiu,
prejudicado por um forte nevoeiro e atacado pelas Fortalezas que protegiam a
entrada da baia de Guanabara. Duclerc para evitar o ataque das Fortalezas,
25velejou para a Ilha Grande e voltou para a ponta de Guaratiba onde
desembarcou com uma tropa de 1.000 homens, e a pé, vieram até a praia da
Gávea. Passaram por Camorim, Jacarepaguá e Engenho Velho. Na travessia.
Após uma extenuante caminhada, eles entraram no Rio de Janeiro pela rua do
Riachuelo (rua Mata Cavalo – Lagoa da Sentinela, onde hoje é o Mangue) e
Santa Teresa (morro do Desterro), e sem o apoio da artilharia naval, os
corsários foram fustigados pelo próprio povo Carioca, se renderam e foram
derrotados. Os franceses foram presos e Duclerc foi executado. Contam que
ele foi assassinado na cadeia. Mas uma lição ficou, demonstrou a inépcia das
milícias que tomavam conta do Rio de Janeiro, já que nessa época elas haviam
se deslocado para as minas com o intuito de vigiarem o transporte do ouro, e
assim deixando o Rio completamente desguarnecido. Nesse ataque dos
franceses foi à própria população que rechaçou.
2.2. PRIMEIRO SEQUESTRO QUE DEU CERTO
DUGUAY TROUIN – SETEMBRO DE 1711.
Quando ao ataque de 1711, convém esclarecer que Duguay Trouin não era um
pirata e sim um Corsário, o que significava uma grande diferença, isto é,
saqueava como pirata mais tinha todo o apoio da Monarquia. O Rei Luiz XIV
lhe concedeu uma carta de Corso, documento que dava o direito e atribuições
oficiais para roubar e pilhar o inimigo.
Duguay Trouin era um verdadeiro conhecedor de saques. Zarpou com uma
frota de 18 navios, 6.200 homens, 730 bocas de fogo e 18 vasos de guerra,
rumo ao Brasil com a finalidade de se apoderar do Rio de Janeiro. Fez escala
no Arquipélago de Cabo Verde, e veio o mais rápido possível a uma velocidade
média de 18,5 nós, ou seja, 27,7 quilômetros por hora. Quando chegou ao
litoral do Brasil, é avistado e o Rio de Janeiro é avisado, mas os portugueses
que deveriam estar prontos para recebê-los, estavam mais preocupados em
protegerem o transporte do ouro das minas. Assim, em uma campanha
fulminante, Duguay Trouin consegue entrar na baia de Guanabara e toma, de
assalto a cidade toda. Nessas escaramuças muitas riquezas nossas são
destruídas e roubadas, e para se retirarem exigiram um bom resgate.
26
• Total do resgate pedido:
602 quilos de ouro
610 cruzados
100 caixas de açúcar
200 bois
e um grande carregamento de Pau Brasil.
A custa de muita negociação o resgate foi definido, os franceses receberam e
se retiraram. Muito desse resgate se perdeu em virtude dos navios estarem
muito carregados e afundaram no meio da viagem – “Olho maior do que a
barriga-“.
O reforço que fora solicitado à Capitania de Minas, chegou tarde demais e
como conseqüência, muitas obras de arte como Igrejas, Conventos e Palácios
sofreram bombardeios e foram destruídos. Para evitar um novo massacre,
começou-se a construção de uma grande muralha na rua da Vala – rua
Uruguaiana-, para dividir a cidade e protegê-la, mas não foi para diante, sendo
o projeto abandonado. Daí para frente, o próprio povo se organizou para que
isso não mais acontecesse, como diz Frei Vicente Salvador: “É porque a cidade
estava sem gente e não havia mais nela do que os moços estudantes e alguns
poucos velhos que não podiam acompanhar os soldados portugueses no seu
trabalho de transporte de ouro. Destes se fez uma companhia e Dona Inês de
Souza mulher de Salvado Correia de Sá, fez com outras mulheres com seus
chapéus na cabeça, arcos e flechas nas mãos, e mandaram tocar fogo em
diversas fogueiras na praia o que fez os franceses imaginarem que existia
muita gente para defender a cidade, e assim ao cabo de dez ou doze dias,
após apanharem o resgate, levantaram âncora e se foram”.
Além do resgate, a expedição rendeu bom dinheiro para os participantes -“A
expedição rendeu uma percentagem elevada de lucro aos acionistas. Para
juntar capital para a expedição de vinda para o Rio de Janeiro, foi criada uma
empresa comercial, com acionistas da iniciativa privada. A Marinha Real da
França entrou com navios e homens. Entre outros valores os invasores
levaram 602 quilos de ouro, o que foi pouco se levarmos em consideração que
a maior parte do precioso metal ainda não tinha chegado ao Rio vindo de
27Minas Gerais. A média enviada a Portugal era de 5 a 8 toneladas anuais, cerca
de dez vezes mais do que o que levaram os franceses. O total arrecadado foi
dividido entre capital e trabalho, e cada um dos 6.000 homens da expedição
recebeu uma parte, como um Capitão recebeu, pelo menos doze partes; um
tenente recebia seis a nove partes, um soldado ou artilheiro recebeu uma e
meia parte, e um marinheiro levou uma ou duas partes.” ( Ricardo Bonalume
Neto).
28
CAPITULO III
O RIO SE TRANSFORMA.
Tendo em vista a fragilidade da posição entre o Morro Cara de Cão e o Pão de
Açúcar, e expulsos os invasores, procuraram os portugueses novo local para
se estabelecerem. Deslocaram-se da Vila Velha, para um local mais apropriado
e que tinha melhores condições, e que possibilitava tomarem conta das
entradas da Baia de Guanabara, prevenindo assim os futuros ataques uma vez
que as perdas tinham sido muito grandes, e escolheram o morro do Castelo
(Morro do Descanso). A corte de Portugal incentivou a vinda de colonos
oferecendo vantagens de terras, assim começaram a chegar reforços civis,
para a tão esperada colonização na nossa província. Vieram imigrantes com
suas famílias, como também muitos aventureiros atraídos pelas facilidades
oferecidas. Conta-se que algumas frutas com dinheiro dentro eram mostradas
e era dito que no Rio até moeda nascia nas árvores; existe nos jardins do
Palácio Imperial (Museu em Petrópolis, uma árvore com umas frutas,
parecendo romã, que eram levadas para Portugal), essa árvore se chamava
Pataca.
3.1. E TUDO CRESCEU.
O MORRO QUE DESAPARECEU.
O MORRO DO CASTELO.
No fim do século XVI a população do Rio de Janeiro era de 3.850 almas, em
grande maioria de índios, sendo apenas de 750 os portugueses. A importância
do Morro do Castelo é muito grande, pois foi nele que praticamente foi fundada
a nossa cidade. Por razões estratégicas, apresentava qualidades importantes
para a defesa, e não era muito íngreme o que facilitava o seu acesso, altura
máxima de 63 metros, e permitindo uma boa visão da entrada da Baia de
Guanabara.
29Suas principais construções históricas, que foram determinadas por Mem de
Sá e que contribuíram para a denominação do morro, foram a Ladeira do
Descanso, depois Misericórdia, a Igreja de São Sebastião ou da Sé, o Colégio
dos Jesuítas e o forte de São Januário. O Morro teve diversos nomes como
Morro do Descanso (após a subida as pessoas podiam dar uma parada para
descanso), Morro de São Sebastião do Alto da Cidade, ou do Alto da Sé e de
São Januário O acesso ao Morro era feito por três ladeiras: a da Misericórdia
(que hoje ainda lá permanece em um pequeno pedaço ao lado da Igreja de
N.S. de Bonsucesso), a do Passo da Porteira ou do Seminário ou Ladeira da
Ajuda, próximo onde hoje está a Biblioteca Nacional, e a da Ladeira do
Cotovelo ou do Carmo, próxima à atual rua São José.
Muitas muralhas foram construídas em cima do Morro para proteção contra os
inimigos. Existia um grande problema, e que era crucial, o Morro não dispunha
de água nascente, e toda a água como também viveres tinha que ser
carregado em lombo de burros, e mais tarde, por um plano inclinado projetado
e construído pelos Jesuítas, para levar material necessário para a construção
do Convento e Igreja da Sé.
O desmonte do Morro foi realizado entre 1922/1930. A idéia do seu desmonte
já havia surgido no século XIX, em virtude das grandes chuvas ocorridas em
1811, que provocaram o desmoronamento de uma de suas encostas, como
também pelo excesso de lixo que era jogado pelas encostas, pois não se tinha
condições de limpeza e recolhimento desse lixo. Sua destruição se deveu
também a idéia de melhorar a aeração e circulação do Centro, isso é verdade,
pois que com o desmonte, a região chegou a sofrer uma redução de quatro
graus em sua temperatura ambiente. Os cinco milhões de metros cúbicos de
terra serviram para aterro de diversos locais do Rio e como também o aterro de
alguns charcos.
Um artigo de Ricardo Cravo Albin – O MORRO DO CASTELO E O RIO -
publicado em O GLOBO – Rio 18 / IX / 2000, nos conta que: “O arrasamento
do Morro do Castelo arrolou algumas argumentos ridículos – restos jamais
comprovados – como o de melhor aeração para o Centro da Cidade,
especialmente para a ainda nova Avenida Central – Rio Branco, cuja
construção já custara ao velho morro uma de suas ladeiras, onde hoje se
30encontra a Biblioteca Nacional. A principal razão para o bota-abaixo, contudo,
foi uma reles politicagem. Carlos Sampaio cujo mandato expiraria em
novembro de 1922, queria entregar a grande obra do seu governo no dia sete
de setembro de 1922, quando se inauguraria a Exposição Mundial do
Centenário da Independência, cujos pavilhões começaram a ser construídos
nas fraldas do Morro do Castelo. Um prato cheio, já se vê, para encobrir
negociatas e malversações de dinheiro público. O Prefeito tratou de rescindir a
obra com a firma brasileira, e contratou – pela soma fabulosa de 12 milhões de
dólares – uma firma americana, intervencionada por banqueiros internacionais
(Dillon and Read) que emprestaram um dinheirama ao Governo Municipal.
Com isso os custos ultrapassaram todas as expectativas anteriores. Os
americanos, por seu turno, substituíram a escavação manual do morro pelo uso
intensivo de força hidráulica, cujas mangueiras gigantes aceleraram
dramaticamente o ritmo do desmonte, triplicando a velocidade com que a
montanha ia desaparecendo aos olhos estupefatos dos cariocas”.
3.2 O RIO VAI CRESCENDO.
Com o desmonte, o local foi aproveitado para fazer a grande comemoração
pelo Centenário da Independência do Brasil – Exposição Universal – com a
participação de diversos países, e no dia 7 de setembro de 1922, inaugurou-se
com pavilhões da Inglaterra, França, Estados Unidos, Japão e outros países.
Hoje ainda se encontram alguns prédios como Academia Brasileira de Letras –
Pavilhão da França – e Museu da Imagem e do Som.
O desmonte gerou grande entulho que serviu para aterro das Praias da Lapa,
de Santa Luzia, da Ponta do Calabouço, avançando para o mar até a ilha de
Villegagnon – Aeroporto Santos Dumont.
Do morro do Castelo a rua da Ajuda levava para o interior e para as
propriedades agrícolas passando pelo Convento da Ajuda na Cinelândia, praia
da Lapa e o Catete. A rua da Misericórdia era resultado da expansão pela
várzea da cidade e nela morava a aristocracia da época. A rua Direita, primeira
e única paralela ao litoral, não era senão uma comunicação mais direta entre o
Castelo (Jesuítas) e o Mosteiro de São Bento (Beneditinos). As diferentes ruas
31tinham certas importâncias, determinados por fatores econômicos em que vivia
a cidade no momento, como por exemplo: a lavoura dos Jesuítas no Engenho
Velho, as fazendas agrícolas de Rodrigo de Freitas, Catumbi e Mata-Cavalo de
um lado e o porto das mercadorias ou Porto dos Padres, hoje rua Dom Manuel.
A cidade praticamente passou a ser propriedade dos chamados
“conquistadores”, isto é, os auxiliares e amigos diretos de Mem de Sá e Estácio
de Sá, que foram presenteados com importantes doações. Antonio Marins
obteve Sesmarias em Niterói e em Magé; Ary Fernandes obteve terras em
Magé e na rua da Misericórdia; Jorge Ferreira na Rua Direita; Crispim da
Cunha na rua São José.
“Outras partes foram distribuídas a preços módicos como, no Campo de São
Domingos, (vide Memórias da Cidade do Rio de Janeiro de Vivaldo Coaracy)
planície alagadiça que compreendia toda a vasta área desde o mar às
encostas do Morro do Desterro (Santa Teresa), vasta extensão de terras
estava aforada ao Dr. João Mendes, desde as atuais Ruas Visconde do Rio
Branco e da Constituição e estendiam-se até o Campo de Sant’Ana,
desdobrando-se ainda ao longo da atual Gonçalves Ledo (Igreja de São Jorge),
onde fazia divisa com terras que foram de Gonçalo Nunes, indo terminar na
Rua Senhor dos Passos, e por essa área pagava o foro de dez tostões
anualmente. As terras de Gonçalo Nunes tinham seus limites entre as Ruas
Gonçalves Ledo, Rua Senhor dos Passos até a Rua dos Andrades,
atravessando o Largo de São Francisco. Vale por curiosidade pegarmos uma
planta do Rio de Janeiro e examinar a extensão desses latifúndios”.
3.3 CRESCE O CAMINHO DO POVO.
A CIDADE SE ESPALHA.
Pouco a pouco a cidade vai descendo o morro e ocupando a várzea.
Primeiramente o caminho natural da praia, depois foi se encaminhando para a
Rua Direita, a Rua da Misericórdia, a Rua São José, a da Ajuda e a Várzea
(Praça XV). Como havia pouco espaço de terra firme, pois entre o morro e o
mar havia o charco e lagoas, assim sujeitas a inundações freqüentes, as
construções das casas procuravam as beiradas dos morros, e formavam um
32aglomerado de casas, residência urbana, sem espaço entre elas, com
fachadas pequenas, residências térreas, de porta e janela, construções
alongadas que não recebem ar e luz senão pelas extremidades, com as salas
na frente e a parte de serviço nos fundos, os quartos (chamados Alcovas),
davam para a parte interna das casas, quase sem ventilação, era o setor íntimo
da casa, com aberturas para o interior nas salas ou cozinhas.
3.4 NO INÍCIO TUDO ERA CHARCO.
AS LAGOAS.
Esse trecho de terra poderia ser chamado de um grande Arquipélago, e dentre
as maiores Lagoas podemos citar a do Boqueirão, situada onde hoje é a Lapa
(Passeio Público), aterrada que foi pelo desmonte do Morro da Mangueira, a de
Santo Antônio, na atual Cinelândia e Largo da Carioca.
A Lagoa de Santo Antônio era a preferida pelos Índios para a pesca e banho
uma vez que era profunda e muito limpa. Essa limpeza não perdurou por muito
tempo, pois em suas margens se instalou um Matadouro e seu Curtume, e
todos os resíduos de pele, ossos, entranhas e sangue de animais eram ali
lavados ou descartados. Assim essa Lagoa veio a se tornar fedida e
conseqüentemente um grande foco de mosquitos. Abriu-se uma grande vala
até a praia (Praça Mauá-Prainha), na tentativa de se escoarem as águas
contaminadas da Lagoa, nascendo assim a Rua da Vala (Uruguaiana). Essa
vala, a céu aberto, acabou se tornando um grande vazadouro de lixo e fezes
despejadas pelos moradores. Posteriormente essa vala foi coberta por Lages.
Contam as más línguas, que certo oficial-de-sala, favorito na corte, se havia
metido em uma aventura amorosa clandestina com uma mulher casada. Em
uma dessas suas fugas foi surpreendido por quem de direito, e viu-se obrigado
a pular de qualquer maneira e em sair em desabalada carreira no meio da noite
escura e mal iluminada. Na correria da fuga, com as roupas nas mãos foi cair
direto, em trambolhões, na vala mal cheirosa e fedida. Quando conseguiu sair,
bem se pode imaginar o estado do galante amante, nu, coberto de detritos e
com as roupas nas mãos. Em face desse desastre, houve por bem o Vice-Rei
mandar tapar a vala com Lages especiais, extirpando a cidade dessa nodoa.
33Como o problema da Lagoa não tinha sido sanado, construiu-se uma outra
canalização afim de escoá-la, o que deu origem a Rua do Cano, atual Sete de
Setembro. Esse caminho foi depois utilizado para levar um cano de água do
Chafariz da Carioca para o Chafariz da Praça Quinze. O problema só foi
resolvido com o aterramento da paradisíaca lagoa. Quando da construção do
Teatro Municipal encontraram-se canoas de índios e até uma caravela
soterrada nas escavações de suas fundações.
A maior dessas Lagoas, chamada de Sentinela, nome esse devido a que
sempre teve uma patrulha de observação para evitar ataques de Índios que
poderiam vir por suas margens, como também para preservar de invasões,
ficava nos limites da cidade e no começo dos mangues (Canal do Mangue),
onde é hoje a Praça da República, Campo de Santana.
No começo do século XIX, essa região foi aterrada, e canalizada suas águas
(hoje Cidade Nova). O Canal do Mangue foi navegável, quando D. João foi
morar na Quinta da Boa Vista em São Cristóvão, e para tanto era iluminada por
tochas, para ser percorrida a noite –Canal das Lanternas.
34
CAPÍTULO IV.
O PODER DA IGREJA.
Portugal quando veio para cá, viajaram em nome de Deus e do Rei, e assim ao
iniciar-se a colonização no Brasil, a expansão da fé católica se transformou em
grande cruzada contra o paganismo dos índios e posteriormente dos escravos.
No século XVI, a religião ocupava grande importância na vida dos portugueses.
Com a colonização, esse poder da Igreja atravessou o período colonial, reinado
de Pedro I e Pedro II, e só após a Republica (1889), foi estabelecida a
separação entre Igreja e Estado. Compreende-se, assim, a grande quantidade
de Igrejas, Capelas, Ermidas, Oratórios e Conventos. Acrescente-se a isso que
as cerimônias litúrgicas e cultos eram as únicas amenidades que quebravam a
monotonia que existia na cidade, que viviam com uma existência de trabalho
sem nenhum conforto e comodidade. Essas cerimônias litúrgicas eram a única
oportunidade que tinham as Senhoras de saírem de suas casas, pois viviam
enclausuradas.
4.1 AS ORDENS RELIGIÓSAS.
No Rio de Janeiro, os Jesuítas acompanharam a própria fundação da cidade.
As outras Ordens apresentam sua presença no final do século XVI e início do
XVII.
Sob a responsabilidade dos Jesuítas, alguns aldeamentos foram criados no
Estado do Rio de Janeiro como: São Lourenço de Niterói (1627), São Barnabé
(hoje município de Itaboraí), São Francisco Xavier de Itaguaí (início do século
XVIII), São Pedro da Aldeia (Igreja e Residência dos Jesuítas 1723). Possuíam
prósperas fazendas em Campos, Cabo Frio, Macaé e nas cercanias do Rio de
Janeiro, Engenho Velho, Engenho Novo, São Cristóvão, Santa Cruz (Ponte dos
Jesuítas, séculos XVI e XVII), Conventos em Angra dos Reis, Itaboraí. No Rio
de Janeiro se estabeleceram no Morro do Castelo em duas Igrejas, Santo
Inácio de Loiola e São Sebastião, que foi nossa primeira Catedral.
35No governo do General Gomes Freire de Andrade, o Marquês de Pombal se
tornou inimigo dos Jesuítas, pela perseguição tenaz chegando á expulsão dos
Jesuítas em 1759. Nenhuma instituição particular na colônia possuía tão
grande riqueza, em terras e outros haveres materiais como os padres da
Companhia. Constituía-se um verdadeiro feudo e eles eram os senhores
absolutos em sítios e chácaras imensas. O Marquês de Pombal ordena que se
fizesse o seqüestro dos bens dos Jesuítas, e das terras, e avisou a população
proibindo terminantemente qualquer comunicação dos moradores da cidade
com os proscritos. A 25 de agosto de 1761, era assinada a lei que “mandava
incorporar ao fisco e a câmara real todos os bens seculares que a Companhia
de Jesus possuía e administrava, como também todo o seu domínio, com os
padres”.
4.2 E O TESOURO ESCONDIDO DOS JESUÍTAS?
Era patente o desenvolvimento que as ordens religiosas faziam, em terras e
propriedades. Os Jesuítas trabalhavam para a educação do povo, ensinavam
as artes e as letras e tinham um grande poder adquirido com a aquisição de
terras nas regiões colonizadas. Tinha-se criado a lenda que no prédio do Morro
do Castelo havia um tesouro, e uma execução rápida facilitaria a posse dessa
riqueza. O Morro e o Colégio foram cercados e os padres ficaram sitiados, os
seus bens foram inventariados, mas nada de proveitoso foi encontrado, nem
tão pouco o famoso tesouro. Conta-se que em 1621 que: “Eram os índios
sujeitos a muitos vexames quando nas perambulações a que eram arrastados
pelo seu temperamento de muito andarem, penetravam nas propriedades
rurais que cercavam a cidade. Ao mesmo tempo, queixavam-se os moradores
de que os Jesuítas, abusando das prerrogativas da jurisdição de que gozavam
sobre os gentios, procuravam seduzir e levá-los para seus estabelecimentos os
índios escravos ou agregados dos habitantes leigos da cidade, o que era
motivo constante de conflitos” (Vivaldo Coaracy)
364.3 OS BENEDITINOS.
Em 1589 chegaram ao Rio de Janeiro, Frades da Ordem dos Beneditinos,
segunda Ordem a se estabelecer no Rio, que foram se estabelecer no Morro
chamado Manuel de Brito e posteriormente São Bento. Nesse outeiro existia
uma Capela consagrada a N.S. da Conceição. Não se sabe o porque foi
abandonado o nome do Morro, e posteriormente lá foi erguida Igreja
consagrada à N. S. de Monserrate, Santa da devoção dos Beneditinos.
Seu templo e o Mosteiro são os edifícios mais antigos de nossa cidade (1755),
uma vez que as edificações construídas no Morro do Castelo foram demolidas,
com o seu desmonte. Viveram períodos de intensa agitação, conforme conta
Brasil Gersom no seu livro “Histórias do Rio de Janeiro”, e quase sempre em
virtude de atividades não religiosas. Foram acusados de contrabandistas de
ouro, em sociedade com tripulantes das frotas portuguesas. Por diversas vezes
foram ameaçados por nacionalistas exaltados, por causa de pendências em
que se envolveram com o governo, devido à incorporação ao seu patrimônio de
terrenos da União, deixados por heranças. Outra situação importante foi que no
Mosteiro de São Bento no dia 22 de setembro de 1822 se elegeram os
primeiros deputados Cariocas e Fluminenses. Outro fato importante na história
dos Beneditinos é que eles estiveram ligados diretamente à Abolição, pois
foram os primeiros a alforriar seus escravos para que eles pudessem participar
e se alistar nos Voluntários da Pátria na guerra do Paraguai.
A Ordem dos Beneditinos mantém, junto as suas construções históricas, um
prédio que serve como Centro de Conferências, alojamento para visitantes e
um Colégio muito conceituado, sua existência remonta de 1610, data das
primeiras notícias de existência de pupilos junto aos religiosos. Os Monges
Beneditinos gozam da fama de grandes educadores. A comunidade mantém
um ginásio, fundado em 1857, que naquela época era para educar e instruir
gratuitamente.
Em 1711 quando aqui chegou a frota francesa, comandada por Duguay-Trouin,
o Mosteiro foi de grande importância na defesa do Rio de Janeiro. Nessa
ocasião o Mosteiro sofreu com o bombardeio, uma vez que devido a sua
posição, em frente a ilha das Cobras em poder dos franceses, tornou-se alvo
37fácil. Vários petardos causaram considerável estrago, e até hoje, alguns deles,
que não prejudicaram, encontram-se no Convento como lembrança.
O Governo Imperial, que houve por bem perseguir as instituições religiosas, em
1855 comunicou que o noviciado no Brasil estava proibido, com isso tentavam
reverter todos os bens das Ordens para o poder da Corte. Golpe bem pensado,
pois que com a não renovação dos padres nas Ordens, com o tempo, os frades
desaparecendo por morte, os bens passariam ao poder da Corte. Os frades,
muito sabiamente, já que não poderiam preparar padres para as sua
congregações, solicitaram a vinda de padres do estrangeiro, mas a Corte,
percebendo o ardil, proibiu a vinda desses padres formados no outro lado do
mundo.
4.4 OS CARMELITAS
A Ermida do Ó, hoje Igreja do Carmo (na Praça XV), que tinha alojado os
Beneditinos quando aqui chegaram, mas logo abandonada, não ficou muito
tempo desocupada, e no mesmo ano em que os Beneditinos de lá saíram, os
do Carmo vieram para aqui e lá se estabeleceram. Antes tinha sido oferecido
para eles o local na Lagoa da Carioca (Lagoa de Santo Antônio). Os frades não
gostaram do local, pois acharam que estavam muito longe do Centro (Praça
XV), e que era um morro de difícil acesso, perto de uma lagoa suja e mal
cheirosa, como também era uma Ermida pequena e pobre. Preferiram ficar
mais perto do Centro, junto ao mar, em local povoado e alegre com o
movimento do povo. Além da Ermida do Ó, com todas suas dependências,
receberam da Câmara, todo o terreno em frente (Praça XV), ficando assim com
grande extensão de terra, com a Ermida, toda à frente da Praça, a travessa
que hoje separa a Igreja do Carmo até a esquina a atual Rua da Assembléia,
onde construíram o seu Convento. O mar foi aos poucos recuando e eles cada
vez mais donos de terras. Muitas brigas aconteceram tendo em vista essa
vasta extensão de terras. A Câmara comprou essa área para nela construírem
uma Praça, mas passado algum tempo quiseram vender os terrenos em lotes
para amigos e parentes. Os do Carmo prevendo que assim iriam perder a vista
para o mar e seriam privados dos ventos suaves da brisa do mar, protestaram
38contra a situação e apelaram para a Coroa, e como a Corte jamais quisera
brigar com a Igreja, assim ficou determinado que nenhuma construção poderia
ser feita na praça fronteiriça. Aos do Carmo, portanto, devemos ter hoje a
Praça XV com toda sua beleza. Os Carmelitas eram os chamados Padres
truculentos, devido às diversas confusões que arranjaram. Inúmeras histórias
(estórias) são contadas quanto aos “pacíficos” do Carmo. A índole agitada, os
desordeiros e até indisciplinados, provocaram, muitas vezes, a intervenção da
Corte e do poder Eclesiástico, para contê-los. Conta-se que a irmandade da
Misericórdia, desde aquele tempo, tinha o privilégio de enterrar seus mortos
sempre acompanhados por grande número de irmãos, e como os préstitos
tinham que passar pela frente do Convento do Carmo, assim, todos os enterros
que se aproximavam eram recebidos pelos do Carmo com porretes e paus
para dissolvê-lo, e nisso, muitas vezes o defunto era esquecido no meio da rua,
no meio da batalha campal que acontecia, pois eram porretes, velas,
estandartes e tudo como armas. De outra feita, quando pelo Rio passou uma
frota de navios franceses que pediram abrigo no Convento, foram recebidos a
pauladas. Brigaram também com os da Ordem Terceira quando quiseram
erguer sua Igreja, ao lado, mas ficaram tranqüilos quando receberam polpuda
quantia em dinheiro. De tal ordem eram suas confusões que o Vice-Rei apelou
à D. Maria I, para que desse fim ao estado de coisas. Para tal fim, ela mandou
que o Núncio Apóstolo de Lisboa desse fim à situação. Foi nomeado o Bispo
do Rio de Janeiro para intervir, e até ele sofreu as conseqüências dos
truculentos do Carmo, pois os frades impediram a entrada do Prelado no
Convento. Foi necessária a intervenção das forças regulares para que se
fizesse cumprir o determinado.
4.5 OS FRANCISCANOS.
As várias Ordens, como eram tempos de intensa vida religiosa,
acompanhavam a expansão de nossa cidade, nas suas ações e posses de
terras, contribuindo para o desenvolvimento de nossa colonização. Os Jesuítas
aqui se encontravam desde a fundação da cidade, e como os primeiros,
obtiveram a posse de muitas terras e imensas sesmarias. Os Franciscanos
39foram a última Ordem a chegar no Brasil. Em 1592, vindos do Espírito Santo,
chegou um pequeno número de Franciscanos para aqui erguerem o seu
Convento. Primeiramente ficaram por quinze anos na Ermida de Santa Luzia,
com tudo o que havia em torno, como casas e boa extensão de terras. Em
1607, procuraram construir o seu Convento, e não se sabe o porque não
gostaram do local onde se encontravam. Foi-lhes oferecido o morro onde os
Carmelitas tinham se alojado inicialmente, à beira da Lagoa da Carioca.
Construíram o seu convento no alto da Colina a qual passou a se chamar de
Santo Antônio. Foi muito importante a posse dessa colina, pois contribuiu muito
para o desenvolvimento da região. Conseguiram desbastar o mato que existia
por toda várzea da Lagoa, e rasgaram uma reta, pra colocá-los em
comunicação com o mar, daí nascendo a Rua São José.
Devido ao mau cheiro do alagado as suas portas, solicitaram e conseguiram
que fosse aberta uma vala seguindo o sangradouro natural que escoava as
águas para a Prainha (Praça Mauá). Essa vala, chamada Rua da Vala (hoje
Uruguaiana), determinou uma nova via ligando Santo Antônio aos Beneditinos
e o Morro da Conceição. Essa vala foi durante muito tempo o limite da cidade
(Praça XV), e os Campos da Cidade (Largo do São Francisco), história já
contada em outro capítulo. A História do hoje Largo da Carioca está
intimamente ligado a vida dos Franciscanos, onde se destaca uma das mais
belas imagens do Centro Histórico do Rio de Janeiro que é o conjunto
arquitetônico colonial do Morro de Santo Antônio, com a Igreja e Convento de
Santo Antônio e a Igreja de São Francisco da Penitência. O Largo da Carioca é
um ponto de convergência de 11 ruas (uma estrela de 11 pontas), tornando-se
um centro movimentado tradicional de encontro de artistas populares e
artesãos.
Algumas histórias são contadas com relação às imagens de Santo Antônio
como a de que foi solicitado a um religioso que esculpisse uma imagem do
Santo Padroeiro, e tendo fabricado o corpo, não conseguia esculpir a cabeça
nas devidas proporções. O desespero do religioso era muito grande, mas um
fato curioso aconteceu, assim registrado no Livro do Tombo: “Em 1621
colocou-se a imagem de Santo Antônio, o corpo feito por um religioso e a
cabeça por um que pediu uma esmola para jantar, como se vê no Cartório do
40Convento”. Outra história conta que, quando o francês Duclerc no assalto ao
Rio de Janeiro em 1710 chegou nas cercanias do Convento, os de São
Francisco vendo a iminente derrota e, por conseguinte a possibilidade de
dilapidação de suas relíquias, colocaram a imagem debruçada na mureta, e fez
com que os franceses pensassem que o Convento estava bem guardado, e
recuaram. Isso fez com que a imagem ganhasse promoção a um posto na
hierarquia militar, na qual fez carreira, fazendo jus ao pagamento de seu soldo.
Chegou até o posto de tenente-coronel. Na entrada do Convento existe uma
pequena imagem de Santo Antônio, que é uma das últimas que existem de
Oratórios do Rio, é chamado de Santo Antônio do Relento.
Os devotos de Santo Antônio consagram-lhe um dia da semana, a terça feira.
Sua festa é celebrada a 13 de junho, dia em que morreu. É um grande perito
em arranjar casamentos.
Com relação a devoção de Santo Antônio como casamenteiro, muitas histórias
são contadas, uma delas conta que uma devota de Santo Antônio, solteirona,
tinha uma imagem do Santo em sua janela, e de cabeça para baixo. Certo dia
chegando a janela esbarrou na imagem e ela caiu de uma certa altura na
cabeça de um rapaz que passava por lá, ela desesperada desceu e prestou os
primeiros socorros. Assim conheceu o seu futuro marido, que lhe ficou muito
agradecido pelo socorro prestado, e ela deixou de ser solteirona. A instituição
do “Pão dos Pobres”, existente na Igreja, prende-se ao fato de que Santo
Antônio, grande amigo dos necessitados, e os seus devotos, no intuito de
conseguirem as graças pedidas, prometem ao Santo fornecer determinada
quantidade de pão para seus pobres, em troca do benefício desejado. Hoje
ainda se distribui pães para os pobres, com o Frade que fica na portaria para
atender a todos, é o Frade Porteiro.
41
CAPITULO V
CHEGAM O PODER E DONOS DAS TERRAS.
CHEGADA DA CORTE REAL DE PORTUGAL.
Com a expansão do poder de Napoleão na Europa, Portugal fica em condições
difíceis. D. João não tendo condições militares para deter esse avanço,
resolveu partir para o Brasil, transferindo a sede do reino; essa atitude foi muito
incentivada pelo governo da Inglaterra, pois Portugal era um dos melhores
mercados dos ingleses. D. João, nessa fuga, transportou tudo o que foi
possível, como documentos, riquezas, para que isso não se perdesse nas
mãos dos possíveis invasores. A comitiva da fuga, além de sua família, tinha
uma enorme comitiva de 15 mil pessoas que partiu de Portugal no dia 29 de
novembro de 1807, escoltados por uma divisão naval inglesa. Em 22 de janeiro
de 1808, chega a Família Real ao Brasil. Após pouco tempo em Salvador, vem
a Família Real se instalar no Rio de Janeiro, cidade que já apresentava um
certo desenvolvimento e que de simples cidade colonial passa à condição de
Capital do Reino de Portugal Brasil e Algarves.
O primeiro decreto assinado por D. João VI foi a “Abertura dos Portos as
Nações Amigas”, uma vez que todo o comércio do Brasil era feito através da
metrópole cidade de Lisboa, e em troca o Brasil ofereceria ouro, pedras
preciosas, açúcar e outros gêneros alimentícios, couros e matérias primas, e o
Brasil receberia em troca tudo o que Portugal não precisava, valia tudo. Com a
abertura dos portos, os produtos passaram a entrar livremente pagando taxas
alfandegárias, subindo assim em muito a arrecadação, e liberou-se também a
imigração.
Nessa vinda da Família Real para o Rio, ocorreu uma carência de moradias,
pois que em uma cidade que tinha poucos habitantes e logicamente poucas
moradias, com a chegada do grande número de cortesãos, que não estavam
acostumados a viver mal acomodados, a situação ficou complicada. Nessa
época a população do Rio era de aproximadamente 50.000 pessoas, sendo
que 15.000 eram moradias decentes, a restante era precária, e para abrigar
42essas tantas pessoas, muitas casas foram confiscadas com o famoso P.R.,
significando Príncipe Regente, sigla que era colocada nas portas das casas
requisitadas para servirem aos novos moradores, daí essa sigla ficou
conhecida como “Ponha-se na Rua” ou “Prédio Roubado”.
A Família Real ficou morando na Praça XV, (Paço Imperial e Convento do
Carmo) até 1809. Um comerciante Elias Antônio Lopes, ofereceu sua casa de
campo (na época) para D. João VI, a então chácara do Elias – hoje Quinta da
Boa Vista-, pois era a melhor moradia que existia na época e digna de servir de
moradia aos monarcas. Com esse golpe, o Sr. Elias caiu nas boas graças do
Monarca, e passou a merecer grandes favores exercendo importantes funções
na Corte Provisória. O prédio recebeu diversos melhoramentos e sucessivas
reformas de adaptações e embelezamento, que passou a ser considerada a
“Versailles Tropical”, hoje lá funciona o Museu de História Natural, um dos
maiores da América do Sul.
O caminho criado com o Palácio em São Cristóvão modificou completamente a
vida da cidade. O trajeto mais curto era o Caminho das Lanternas, como
passou a ser chamado o canal do Mangue atual, devido às lanternas que foram
colocadas em apoios de pedras, para sinalizar as precárias passagens que
existiam, atravessando estreito aterro, e atravessar o charco (riacho de S.
Diogo – Lagoa da Sentinela)
5.1 VALE TRAZER TUDO PARA O CONSUMO.
ABERTURA DOS PORTOS.
O Rio de Janeiro, e principalmente o porto na Praça XV passou a receber naus
de todos os cantos, bandeiras e tamanhos, onde só atracavam pequenas naus
somente lusitanas, o que transformou a cidade.. A comercialização passou a
ser muito maior. A abertura dos portos trouxe para o Brasil grande número de
comerciantes, cientistas, e pessoas curiosas de várias partes do mundo. Entre
os costumes que mais chocaram os visitantes, em geral europeus, foi a
reclusão das mulheres das famílias ricas, que permaneciam atrás das janelas,
sempre escondidas e mal podendo ser vistas pelas pessoas. As ruas e praças
eram ocupadas, quase que exclusivamente, por homens, brancos e negros. A
43mulher, apenas saia para ir a missa ou seguir procissões, mas mesmo assim,
mantinham seu rosto oculto por um xale.
Sem saber o tipo de necessidade que se tinha, eram trazidas pelos
exportadores europeus, coisas bem curiosas, como por exemplo, um navio
inglês trazendo grande suprimento de cobertores de lã, tachos de cobre para
fazer escalda pé, muito usado em clima frio, patins de gelo e lareiras de ferro, e
sem ter como voltar com as mercadorias, pois não serviam para nada, elas
eram rapidamente vendidas por preços baixos, uma vez que se tinha pouca
coisa que se comprar na cidade. Já na época a boa criatividade do Carioca
soube transformar os cobertores na filtragem de ouro de aluviões nos rios, as
lareiras fizeram a alegria dos ferreiros que as transformaram em ferramentas
para a lavoura, e os patins viraram fechaduras e facas.
Com a grande necessidade de importarem seus excedentes, os ingleses
passaram a trazer tudo o que dispunham, mesmo sem utilidade aparente,
verdadeiro estoque encalhado. Os franceses passaram a trazer produtos mais
finos que eram absorvidos pela sociedade da Corte.
Os portugueses trabalhavam duro querendo ficar ricos o mais rápido possível,
mas o trabalho mais pesado era executado pelos negros e escravos. Com a
riqueza aparecendo, muitas famílias mandavam seus filhos estudar na Europa,
onde se destacavam, pois tinham horror ao trabalho pesado. Era o início da
força dos mais abastados.
Ruas do Rio foram sendo ocupadas pelos franceses, como a Rua do Ouvidor –
Rua das Flores – Travessa do Ouvidor, com restaurantes, confeitarias, cafés,
casas de artigos de vestuário fino, modistas, decoradores, barbeiros e
cabeleireiros. A força do comércio dos franceses foi tão grande, que o cais da
Praça XV acabou em suas mãos. Pharoux, um rico comerciante francês, que já
tinha um grande hotel, recebeu a concessão para modernizar e explorar o cais.
Como os navios tinham que fundear ao largo, pois o cais não tinha condições
de receber qualquer tipo de navio, os passageiros tinham que vir em menores
embarcações do navio até o cais, e podiam gozar de maior conforto indo
diretamente para o Hotel Pharoux. Foi uma época de grande expansão da
Praça XV.
445.2 CARTA RÉGIA.
ABERTURA DOS PÓRTOS BRASILEIROS
ÀS NAÇÕES AMIGAS.
“Conde da Ponte, do meu Conselho, Governador General da Capitania da
Bahia. Amigo. Eu Príncipe Regente vos envio muito saudar, como aquele que
Amo. Atendendo a representação, que fizeste subir a Minha Real Presença,
sobre o achar interrompido o comércio desta Capitania, com grave prejuízo dos
Meus Vassalos e da Minha Real Fazenda, em razão das críticas e públicas
circunstancias da Europa, e querendo dar sobre este importante objeto alguma
providencia pronta e capaz de melhorar o progresso de taes danos: Sou
Servido ordenar interina e provisoriamente enquanto não consolida hum
sistema geral que efetivamente regule semelhantes matérias, o seguinte: Que
sejão admissíveis na Alfândegas do Brazil todos e quaisquer Gêneros,
Fazendas, e Mercadorias transportadas, ou em Navios Estrangeiros, das
Potencias, que se conservarão em Paz e Harmonia com a Minha Real Coroa,
ou em navios dos Meus vassalos, pagando por entrada vinte e quatro por
cento, a saber: Vinte de Direitos grossos do Donativos já estabelecido,
regulando-se à cobrança destes Direitos ou Pautas ou Aforamentos, porque
athe o prezente se regulão cada huma das ditas Alfândegas, ficando ao
Vinhos, Águas ardentes e Azeites doces, que denominarão Molhados, pagando
o dobro dos Direitos, que athe agora nellas satisfazião. Segundo: Que não só
os meus Vassalos, mas, também os sobreditos Estrangeiros, possão exportar
para os Portos, o que lhes parecer a beneficio do Comércio e Agricultura, que
tanto desejo promover, todos e quaisquer Gêneros Produçois Coloniais e
Agricultura, a excepção do Pau Brasil, os outros notoriamente estancados,
pagando por saída os mesmos Direitos já estabelecidos nas respectivas
Capitanias, ficando entretanto como em suspenso e sem vigor todas as Leis,
Cartas Régias, ou outras ordens que athe aqui prohibião neste Estado do Brasil
o recíproco commercio e Navegação entre os Meos Vassalos e Estrangeiros. O
que tudo assim farei executar com zello e actividade que de Voz Espero”.
Escrita na Bahia aos 28 de janeiro de 1808.
Príncipe para o Conde da Ponte.
45
È interessante observarmos que essa carta foi escrita quatro dias após a
chegada da Família Real ao Brasil.
Existe hoje um Monumento Comemorativo ao Centenário da Abertura dos
Portos, na Praia do Flamengo em frente ao Hotel Glória.
46
CAPITULO VI
IDAS E VINDAS DA CATEDRAL.
UM CAMINHO DA CATEDRAL
Existe uma história quanto a Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro, quando
foi criado o Bispado do Rio de Janeiro, datada de 21 de novembro de 1676, por
Bula do Papa Inocêncio IX. Naquela ocasião a Igreja de São Sebastião, situada
no Morro do Castelo, foi elevada à categoria de Catedral, e lá permaneceu até
1734, como se encontrava em péssimas condições mudou-se para a Igreja de
São José, e logo depois para a Igreja de Santa Cruz dos Militares. Sua demora
nesse templo foi breve, pois no ano de 1737, transferiu-se para a Igreja do
Rosário, na Rua da Vala (Uruguaiana), onde esteve até 1808. Nesse meio
tempo foi escolhido um novo local para a construção da Sé. Ficou assentado
que o templo seria construído no Largo situado no fim da Rua do Ouvidor,
denominado Largo da Sé (Largo de São Francisco de Paula), e o terreno é
aquele onde se encontra a UFRJ. (antiga Escola Politécnica).
A primeira pedra fundamental da futura Catedral foi lançada em 20 de janeiro
de 1749 (dia de São Sebastião). Nessa inauguração (Pedra Fundamental)
esteve presente o Bispo, membros da Câmara, da Nobreza, do Clero,
Irmandades Religiosas e o povo que compareceu para assistir ao evento. As
obras de edificação do Templo, que seria suntuoso, prosseguiram até 1752,
quando pararam por falta de verba. Por fim, foi determinada a paralisação da
obra da Capela Mor em 1797 e até as torres já estavam iniciadas.
Com a vinda da Família Real em 1808 e se alojando no Palácio dos
Governadores (Paço Imperial), o Palácio dos Governadores apesar de bastante
amplo, foi pequeno para conter tanta gente, o que fez com que a Família Real
fosse ocupar o Convento do Carmo que obrigou aos Carmelitas saírem para
dar lugar a morada de D. Maria (a louca) mãe de D. João. Ao lado (Rua Sete
de Setembro) havia uma pequena Capela de N.S. do Carmo que passou a ser
a Capela Real por ser muito próxima da residência Real, e por isso mais
cômoda para a presença nas “Celebrações dos Ofícios Reais”. Era uma
47pequena Capela, tosca e rústica, baixa, toda branca e cuja fachada
apresentava apenas uma porta de entrada, ladeada por dois nichos, à frente
tinha um átrio cercado com ripas de madeira, não havia sinos e os religiosos se
serviam do campanário do Convento, para indicar a hora dos serviços
religiosos.
Essa pequena Igreja, após nova construção, foi transformada em Capela Real
em 13 de junho de 1808 e elevada a condição de Catedral. Foi feito um
passadiço sobre a rua, ligando a Igreja ao Convento do Carmo, para que a
Família Real pudesse, livremente entrar na Igreja sem passar junto ao povo.
Com o desmonte do Morro de Santo Antônio, houve a doação de um terreno
para a nova Catedral da Cidade, que a muito se pensava em construí-la em
definitivo. Em 20 de janeiro de 1964, foi lançada a pedra fundamental para a
construção e inaugurada em 1976. Como se observa, foi um belo passeio até
se fixar em local definitivo. O curioso é que se pensou em construir o Catedral
no Aterro do Flamengo, o que não foi levado a diante.
O caminho de nossa Catedral foi longo: Morro do Castelo, Igreja de São José,
por pouco tempo, Santa Cruz dos Militares, Igreja do Santíssimo Sacramento,
Igreja do Rosário, e Igreja do Carmo, e finalmente nossa Catedral está em um
belíssimo templo, que dentro nos transporta para um ambiente de sonho e de
prece. Na Catedral temos hoje o Museu Sacro, que pode ser visitado, e possui
obras e relíquias raras.
48
CAPÍTULO VII
ALGUMAS HISTÓRIAS DE UMA ÉPOCA.
7.1 FALTA DO PRECIOSO LÍQUIDO. A ÁGUA.
• ABASTECIMENTO DE ÁGUA DO RIO DE JANEIRO.
Com o crescimento da cidade e sua população, o Rio começou a sofrer com o
problema de abastecimento de água. O Rio Carioca, com suas nascentes no
maciço da Tijuca, no seu trajeto até a Praia do Flamengo, foi o local onde dele
se aproveitavam para se abastecer, dentro do possível as populações, os
índios, os navios que se abasteciam para poderem continuar viagem (Aguada
dos Marinheiros). Foi o principal abastecedor de água potável da população
durante muito tempo.
O contínuo crescimento urbano em uma cidade que era alagada em quase sua
totalidade foi sempre um problema muito grande sem que aparecessem
soluções satisfatórias.
Para o abastecimento da cidade, somente em 1700 foi construída uma
canaleta precária, de telhas, que iam do Morro do Desterro (Santa Teresa),
despejando-se num grande tanque, ao pé do morro onde a população se
abastecia. Para a população que tinha que se deslocar para apanhar água, que
vinha de longe era um problema. Tornava-se difícil o abastecimento. Em 1723
foram construídos os Arcos da Lapa para levar água até o centro da cidade. Os
300 metros de viaduto serviam para levar o precioso líquido por cima do
alagadiço existente na região, entre o Morro de Santa Teresa e o Morro de
Santo Antônio. Tempos depois da sua inauguração, os arcos estavam
arruinados, e foram reconstruídos e reinaugurados em 1750. O abastecimento
de água foi levado para o primeiro chafariz da cidade no hoje Largo da Carioca,
feito em Lisboa, em pedra aparelhada que veio para o Rio e aqui foi montado.
As dezesseis bicas de onde jorrava uma água abundante, tornou-se um centro
de muito movimento. A Praça transformou-se em um grande lamaçal, pelo
desperdício de água, com as lavadeiras que lá lavavam as suas roupas. O
49aqueduto como era uma obra precária, como ficou demonstrado, foi destruído,
e em seu lugar, com um novo projeto e nova localização em seu traçado, o
velho foi substituído por um novo, solidamente construído, com um traçado
mais racional, ligando o Morro do Desterro ao de Santo Antônio. Assim surgiu a
obra majestosa, o “Aqueduto dos Arcos da Lapa”. Hoje ele é utilizado pelos
bondes que ligam o centro da cidade até Santa Teresa, e é um dos símbolos
de nossa cidade.
7.2 FISCALIZAR É PRECISO.
• ILHA FISCAL.
Era uma pedra alta, a uma certa distância do Cais Pharoux (Praça XV), que foi
desbastada para lá abrigar a Alfândega, em um Castelo de estilo Gótico que
ficou conhecido como Ilha Fiscal. O povo, por muito tempo, chamou-a de Ilha
dos Ratos, por causa da grande quantidade de ratos que lá existia. Durante a
construção de seu Castelinho, o arquiteto encontro no cais Pharoux alguns
cocos já geminados e os levou para plantar na ilha, o que se transformou em
deleite para a Corte que ia lá visitar. Perto da Ilha Fiscal fica a Ilha das Cobras,
com o Forte São José, que possuía terríveis calabouços, onde penaram
Tiradentes e seus amigos. No Castelo foi oferecida pelo governo Imperial, na
noite de 9 de novembro de 1889, suntuoso baile à oficiais da esquadra chilena
que visitavam o Brasil. Essa festa passou a história como o último baile da
Monarquia, pois que, durante ele os conjurados que articulavam a queda do
regime, fixaram a data para a Proclamação da República.
A Ilha Fiscal foi incorporada á Ilha das Cobras através de um sistema de diques
e passou ao serviço da Armada (Marinha).
7.3 IGREJA DOS OLHOS AZUIS.
• IGREJA DE SANTA LUZIA.
Rua de Santa Luzia, antes chamado o Caminho da Praia de Santa Luzia,
Caminho do Vintém. O local era um matadouro que assim possuía todas as
mazelas e sujeiras. Conta-se que D. João VI mandou alargar a rua para dar
50condições de chegar com a sua comitiva até a Igreja, uma vez que havia
prometido lá ir em cumprimento a uma promessa feita , quando o infante Dom
Sebastião, seu neto, se curou de uma doença dos olhos. O matadouro que lá
existia foi transferido para o Largo do Matadouro, hoje Praça da Bandeira, onde
nós temos até hoje o portal desse matadouro.
A Igreja ficava a beira do mar, e ali existia uma pequena praia junto a um
balneário (“Balneário de Santa Luzia”) para banhos. Existia uma situação
interessante, pois as cabines, lá existentes, eram de madeira e serviam para
serem alugadas para troca de roupas, existia uma placa afixada com os
seguintes dizeres “É proibido fazer buracos de puas ou verruma” – alguns
Cariocas, com sua malicia especial, queriam ver as damas trocando de roupa,
antes de colocarem aquelas roupas de banho que tudo cobriam, e tapavam
praticamente o corpo todo.
Em 1920, tanto o Balneário como a própria praia, a Ponta do Calabouço, a
Praia da Lapa, foram aterradas e desapareceram com a terra do desmonte do
Morro do Castelo.
Santa Luzia é a protetora dos olhos, por isso sua Igreja é pintada de azul, cor
dos olhos da Santa.
7.4 ERA UMA LAGOA POLUÍDA E SUJA.
• O AMOR DE UM HOMEM A TRANSFORMOU NO PASSEIO
PÚBLICO.
Era uma lagoa (Lagoa do Boqueirão), meio pântano, meio água podre, um
lugar sujo e com muitos problemas de saúde, que se situava entre os Morros
do Castelo o de Santo Antônio e o da Mangueira, limitada pelo mar.
Conta á lenda que, logo que assumiu o governo, o Vice-Rei Luiz de
Vasconcelos e Souza, que gostava muito de passear pela beira mar, era visto
com um mulato conhecido como Mestre Valentim. Numa dessas caminhadas
veio a conhecer e se apaixonar perdidamente por uma moradora do local. Uma
moça humilde que morava em uma casa modesta junto a um coqueiro, e
costumava comentar e lamentar-se da pobreza e da sujeira do lugar. Suzana
era esse o nome da bela rapariga, em um desses lamentos foi ouvido pelo
51apaixonado. Mais que depressa o Vice-Rei mandou aterrar toda a lagoa e
mandou seu ilustre auxiliar projetar um belo jardim em frente à casa de sua
amada. Se é verdade ou mentira, ficamos com uma lenda, mas o que é certo é
que foi o primeiro jardim público da cidade, desenhado e decorado pelo Mestre
Valentim, seguindo o estilo francês, muito em moda na época. Ao fundo o
jardim era limitado por um terraço (varanda), que avançava para o mar, aonde
a população ia para observar as baleias que passavam pelo mar. Dotou ainda
o Mestre Valentim, no jardim de diversas obras de arte, entre elas a Fonte dos
Amores, em homenagem ao Vice-Rei, fundida pelo próprio Mestre na Casa do
Trem (Museu Histórico), com dois jacarés de bronze entrelaçados. Nessa fonte,
ainda existia um coqueiro de ferro, que reproduzia o coqueiro existente na
frente da casa da Suzana. Essa história romântica não é confirmada, mas que
é de um grande poder romântico ninguém lhe nega. O coqueiro caiu, as garças
ali existentes foram roubadas, o original do menino talhado em mármore
branco e que segurava uma tartaruga, da qual saia um jato de água para um
barril de pedra, com os dizeres escritos “Sou útil embora brincando”, também
foi roubado, e substituído por um de chumbo (1841).
Hoje esse parque é uma área verde cercada de pesado trânsito de carros e
ônibus, mas ainda guarda a sua graça primitiva. Lá se encontram três
quiosques, usados antigamente, na cidade para venda de flores. E o pórtico de
entrada do parque é obra original do Mestre Valentim, e quem quiser conhecê-
lo, seu busto se encontra na entrada do parque, mas não tem nada que o
identifique, e também foi roubado.
7.5 RUA DAS BELAS NOITES.
• RUA DO PASSEIO.
Em frente aquele belo chafariz no Passeio Público, que jorrava água pelos
bicos de cinco aves de bronze, existia uma rua que de início tinha o nome de
Rua Das Belas Noites, mas que acabou batizada de Marrecas, pois o povo
imaginou que aquelas aves eram marrecas. Essa rua teve diversos nomes
como Rua André Rebouças, mas com o advento da República, esse fiel
engenheiro de D. Pedro II, teve seu nome tirado, e passou a se chamar Barão
52de Ladário. Chamada de início de Ilharga da Ajuda originou-se de um caminho
que levava do Campo da Ajuda, margeando a Lagoa do Boqueirão. Mesmo
quando em 1948 passou a se chamar de Juan Pablo Duarte, fundador da
República Dominicana, o povo manteve o nome de Marrecas.
Bela rua, na época Rua das Belas Noites, assim chamada, pois que ali
existiram “pensões de francesas”, as chamadas Polacas (polonesas de origem)
que eram judias fugitivas de seu país, e que viviam nas garras de uma
organização internacional de exploração de escravas brancas chamada Zwig
Migdal. Essas polacas eram submissas ao poder dos valentões, e outro grupo
chamado de “Grupo de Capoeira” por vezes invadia a rua, perturbando a paz e
desenvolvendo arruaças. Quando isso acontecia, as “moças” fugiam, e para os
clientes diziam que estavam com “EIN KRANKE” que quer dizer uma dor na
língua delas. A palavra acabou, em bom carioca, de nossa gíria – ENCRENCA-
Coisas curiosas aconteceram nessa rua, como quando a Família Real aqui
chegou, muitas famílias foram desalojadas de suas residências para que essas
casas fossem ocupadas pela corte conforme já contado em outro local, e o
carioca já ensaiava a malandragem, e uma senhora moradora na Rua dos
Barbones (Evaristo da Veiga), Dona Maria Isabel, estava com sua casa em
obras e com a fachada inacabada. Muito espertamente a conservou do mesmo
modo e assim fugiu a obrigação de entregar a casa.
A Rua do Passeio é marcada por inúmeras histórias e fatos interessantes. Ali
foi instalada a Imprensa Régia, que deu ao Brasil a abertura para a palavra
impressa, proibida quando a Metrópole era em Portugal. A impressora foi
instalada em uma casa onde, por muito tempo, funcionou o Cinema Metro
Passeio. Lá foi impresso o primeiro jornal: a Gazeta do Rio de Janeiro. Outro
prédio, o de número 64, ficava o Pedagogium, onde se ministrava o curso
suplementar para professores, e que acolheu a Academia Brasileira de Letras.
Onde hoje funciona o Automóvel Clube do Brasil, foi residência nobre que
pertenceu ao Barão de Barbacena, e, posteriormente ocupada pela Sociedade
de Baile Assembléia Fluminense, passando mais tarde a ser ocupado pela
Sociedade Cassino Fluminense, um clube aristocrático.
537.6 SENTINELA DO SILÊNCIO.
• IGREJA DO OUTEIRO DA GLÓRIA.
Desde 1770 existia uma pequena Ermida, no topo do morro do hoje Outeiro da
Glória. Construída por Antônio Caminha, era avistada pelos navegantes que
chegavam ao Rio de Janeiro, pela baia de Guanabara, servindo de referência
para o perfil da cidade. Essa pequena Capela branca foi substituída por uma
Igreja em terreno doado por Cláudio Gurgel do Amaral –1714/1739. Nela foram
batizados os filhos de D. Pedro, D. Maria da Glória e Pedro que viria a ser
Pedro II.
Olhar para essa Capela é flutuar a noite numa relíquia histórica.
Existe uma lenda, a qual José de Alencar conta no seu livro “O Ermitão da
Glória”: Um aventureiro, em uma de suas viagens pelo mundo a procura de
riquezas, seu navio sofreu uma tempestade e afundou e ele foi jogado ao mar
juntamente com uma senhora com uma criança ao colo, a senhora se
machucou e pediu a ele que tomasse conta da criança pois ela iria morrer. Ela
morreu, e ele tomou conta da criança, e em chegando ao Rio de Janeiro, como
ele era um aventureiro, entregou a menina, a qual deu o nome de Maria da
Glória para um casal amigo tomar conta e saiu outra vez pelo mundo. Todas as
vezes que ele voltava ia visitar a menina, e com o tempo percebeu que ela se
tornara uma moça, uma mulher muito bonita. Em uma dessas viagens em que
ele fez, a menina conheceu um rapaz, e quando ele voltou, percebeu e se
tornou cheio de ciúmes, e a partir daí passou a tomar muito mais conta dela.
Tolhida de sua liberdade, ela ficou muito doente, o que o levou a fazer uma
promessa de que se ela ficasse boa ele passaria um ano sem estar com ela.
Não adiantou e ela morreu, e ele ficou muito triste, e aí que a lenda se mistura
com a história. Esse homem era Antônio Caminha, que se recolheu para cima
do Outeiro, e lá esculpiu uma imagem em madeira que ele chamou de N. S. da
Glória (em homenagem a Maria da Glória), e passou a admirá-la. O tempo
passou e ele resolveu mandar essa imagem de presente para D. João em
Portugal. Na sua ida, o navio que a transportava sofreu uma tempestade e
afundou, mas a imagem conseguiu, boiando, chegar às costas de Portugal, e
no local onde ela foi achada construíram uma Capela. D. João teve a
54oportunidade de conhecer a Capela, e quando veio para o Brasil, no Rio de
Janeiro, visitou a Capela no Outeiro da Glória e passou a ser assíduo
freqüentador dessa Igreja, tanto que lá mandou batizar seus filhos e netos,
entre eles Pedro I e Pedro II.
No dia 15 de agosto, acontecem as festividades da Igreja, e nessa época a
Igreja toda iluminada parece flutuar no alto do outeiro.
7.7 A DEVOÇÃO DO POVO PARA QUEBRAR A MONOTONIA.
• AS PEQUENAS ERMIDAS.
A grande devoção do povo que veio colonizar o Rio de Janeiro, juntamente
com as várias devoções, invocações, testemunhas de fé, disseminou inúmeras
Ermidas pela cidade, que eram pequenas Capelas toscas e que alojavam as
imagens trazidas por eles. Aliado a isso, as cerimônias litúrgicas e os próprios
atos do culto, eram as únicas maneiras de se quebrar a monotonia existente
em virtude do trabalho árduo, a falta de conforto e de comodidades em uma
cidade que nada tinha a oferecer. Os atos religiosos passaram a exercer e
assumir aspectos de diversões e que possibilitava o encontro do povo. Essa
devoção fez multiplicar o número de Ermidas, Capelas e Igrejas, como também
fez os fiéis se congregarem em Congregações, Ordens Terceiras e outras
agremiações, possibilitando o povo a ter como quebrar a monotonia da cidade
pequena.
A maioria da população, vinda de Portugal, trazia consigo pequenas imagens,
principalmente para ao enfrentarem as grandes viagens terem condições de
realizarem suas devoções. De início, aqui chegando, as colocavam dentro de
casa para uso de suas famílias, mas com a vinda dos parentes, amigos,
vizinhos, esses pequenos altares ficaram pequenos, Com a passar dos
tempos, o número de fiéis cresceu, as imagens foram levadas para fora das
casas e colocadas em Capelas e posteriormente em Igrejas. A primeira Ermida
foi erguida em frente ao mar na Praça XV, e o foi a de N. S. do Ó, no local onde
temos hoje a Igreja do Carmo. Como diz Viveldo Coaracy, em seu livro
“Memórias do Rio de Janeiro”, - “E finalmente é preciso insistir sobre o papel,
que desempenhavam as cerimônias religiosas na vida dos moradores. A
55existência cotidiana corria monótono, sombria e árdua. Diversões profanas
eram raríssimas e muitas delas, como os espetáculos teatrais, não escapavam
perante certos julgamentos da suspeita de pecaminosas. A cerimônia religiosa,
com grande pompa litúrgica, musica sacra, o concurso do povo, a exaltação
espiritual que excitavam, o aparato de que se cercavam, quebravam a
mesmice da rotina diária. Num deserto de emoções, eram genuínos oásis,
proporcionando ensejo de expansão. Representavam as principais, e para
muita gente, as únicas distrações a aliviar o peso da monotonia das
obrigações, e as procissões umas e outras realizadas ao ar livre, fora do
recinto sombrio e solene dos templos favoreciam momentos de liberdade e
desafogo que a rigorosa disciplina da vida familiar negava no recesso
doméstico”.
Importante falarmos dos Oratórios, e principalmente do que se vê sobre o
portão da passagem entre as duas Igrejas, na Rua do Carmo 38. Muita gente
passa por ali e nem observa sua existência, ocupados que estão em andar
pelas ruas somente olhando para frente. É uma das mais belas relíquias de
nossa cidade. Consagrada a N.S. da Boa Esperança, é o último dos
numerosos Oratórios que tínhamos pela cidade e que iluminados a noite
serviam para iluminar as ruas, e congregar os fiéis em oração em certas horas.
Hoje somente resta um, o que está na Rua do Carmo. A bela imagem original
se encontra na Igreja do Monte do Carmo, Praça XV, protegida por uma
redoma na sacristia da Igreja.
7.8 A ALEGRIA DAS FREIRAS DO SILÊNCIO.
• CONVENTO DA AJUDA.
O Convento da Ajuda ocupava todo o quarteirão da Cinelândia. Considerado
um dos mais suntuosos Templos do Rio de Janeiro. Sob a guarda das Monjas,
estavam os restos mortais de Soberanos e Príncipes, como os sarcófagos da
Infanta D. Mariana, tia de D. João VI, a Rainha Dona Maria I, da Imperatriz D.
Leopoldina, da irmã de Pedro II a Princesa D. Paula Mariana, do Príncipe D.
Pedro Carlos, e da primogênita da Princesa Isabel. No pátio do Convento
existia um chafariz, mandado construir pelo Conde de Resende, com um cano
56direto de água da Carioca (Arcos). Esse Chafariz das Saracuras se encontra
hoje na Praça General Osório em Ipanema.
Contam que existiu uma passagem desse Convento para o Convento do
Carmo na Rua Evaristo da Veiga, que facilitou a fuga de pessoas dos ataques
de franceses, que vinham pelo mar em frente a Cinelândia e passagem de
Freiras e Padres, em suas confraternizações. As Freiras eram muito alegres
apesar da Clausura em que viviam, e conta-se também que elas atiravam,
pelas janelas, muitos rebuçados e doces para as pessoas que passavam pela
rua, e às vezes bilhetes com versos e orações, e que assim passavam suas
horas de lazer.
O Convento foi derrubado e substituído por um grupo de edifícios – a
Cinelândia - com seus diversos cinemas que trouxeram muita alegria para a
cidade.
Hoje as freiras estão instaladas na Praça Sete em Vila Isabel, em um belíssimo
Convento.
7.9 CONFEITARIA DE LOURENÇO FALLAS.
• O NOSSO PRIMEIRO SORVETE.
Muitos bares surgiram na Rua Direita (Primeiro de Março). Na esquina do Paço
existia uma Confeitaria que iniciou a venda de sorvetes para os Cariocas,
sorvete esse fabricado graças ao gelo trazido pelo navio americano
Madagascar, que ficou enterrado por quatro meses em um buraco recoberto de
serragem. Essa Confeitaria passou a ter muito sucesso, e lá iam o Imperador
Pedro II e a Imperatriz, tomar seu sorvete preferencial de Pitanga. Com isso os
“Negros de Ganho” (mascates) e depois as baianas das favelas, invadiram o
Largo do Paço com sua algazarra e suas vendas ambulantes. Junto ao mar,
Debret provou o “alua”, e os Cariocas invadiram a Rua Direita para tomarem o
saboroso sorvete.
O Jornal do Comércio, de 23 de agosto de 1834, publicou o seguinte anúncio:
“... um Barco Americano acaba de chegar carregado desse precioso gênero,
para que possamos suavizar com o seu uso os ardores do excessivo verão; e
para que os senhores Professores de Filólogos o tenham a sua disposição,
57para podê-lo mandar aplicar em tantos casos de moléstias das quais é
milagroso específico. Desejoso Lorenço Fallas de satisfazer os desejos
manifestados pelos senhores concorrentes que o honram, tem-se animado a
fazer a compra desse carregamento e, conseqüentemente todas as tardes
haverá no seu estabelecimento, no Largo do Paço,gelados de diferentes
qualidades, tanto simples quanto amanteigados e peças fortes: executará
qualquer encomenda que lhe venha a ser feita para banquetes ou chás para
fora de cãs; e terá a toda hora gelo para vender aos que precisarem comprar
por libras, tanto no seu estabelecimento como na conhecida Confeitaria do Sr,
Deroche, Rua do Ouvidor nº 175 – NB. – Principiará a venda de gelados, hoje
das 4 horas em diante” .
58
CAPITULO VIII.
CARI-OCA – A CASA BRANCA E OUTRAS LENDAS.
O MORRO DA VIUVA E PRAIA DO FLAMENGO.
Conta a História que a Praia do Flamengo deve esse nome a que, lá pelos idos
do século XVII, houve um motim em um navio holandês que passava ao largo
da Baia de Guanabara, quando a tripulação se amotinou contra os tratos que o
comando exercia sobre todos, e fugiu fazendo-se ao mar. Uma vez em terra, e
como não podiam retornar a sua terra natal, resolveram fixar-se, ainda mais
que tiveram boa acolhida entre os índios. Estavam em uma parte deserta e
uma bela praia na Banda da Carioca, e a partir daí o povo da cidade passou a
chamar esse local de Praia dos Flamengos. O nome Flamengo tem diversas
outras origens como, devido ao bando de aves pernaltas vermelhas de bico
forte, chamados de flamingos, que vinham de regiões do Mediterrâneo e que
freqüentavam aquelas paragens. Também chamada Praia do Sapateiro,
porque lá morou um sapateiro famoso e muito procurado. Praia da Carioca,
pois lá desaguava o Rio Carioca. Aguada dos Marinheiros que era o local onde
os navios se abasteciam de água para continuarem viagem e o próprio povo lá
iam para se abastecer de água antes de ter o Chafariz da Carioca.
Entre as duas praias, Botafogo e Flamengo, existe uma elevação (hoje
escondida pelos prédios), divisão natural entre as duas praias, que era um bom
ponto de observação da entrada da barra da baia de Guanabara. Esse morro
passou a se chamar de Morro da Viúva, pois era de propriedade da viúva do
Sr. Joaquim Barros, antigo proprietário do morro. Como era um bom ponto de
apoio, imaginou-se construir uma fortaleza, mas não foi levada adiante uma
vez que era um ponto de alvo fácil para os canhões inimigos. Como não se
podia perder o que lá fora construído, construiu-se um reservatório de água
destinado a auxiliar a região. Esse morro serviu de pedreira para a construção
do mosteiro de São Bento.
Gonçalo Coelho, quando aqui chegou, construiu uma casa branca, que os
índios passaram a chamá-la de Cari (branca) Oca (casa) – Carioca- Casa
59Branca-. Outras histórias são contadas a respeito do nome Carioca, uma delas
fala de que no rio que lá desembocava, existiam peixes que se escondiam
durante o dia e saiam somente á noite, em tocas para se protegerem, eram os
Acarás que se escondiam em buracos, Ocas, daí o nome Carioca.
8.1 E FICOU UM LUGAR DE PASSAGEM.
PRAIA DE BOTAFOGO.
Com o deslocamento do poder para o Morro do Castelo, a região de Botafogo
passou a ser somente de passagem para quem vinha do Forte no Cara de Cão
para o Centro, e é interessante observarmos que até hoje temos no bairro a
Ruas da Passagem. Com a chegada da Corte em 1808, o bairro passou a ser
de elite. Dona Carlota mandou construir uma casa na praia e El Rei D. João
apesar de não gostar de tomar banho, de vez em quando lá ia para visitá-la e
isso fez com que o bairro se tornasse famoso. Passou a ser de grandes terras,
com chácaras que alimentavam de verdura a cidade, e apareceram as grandes
mansões. O Marques de Abrantes adquiriu a mansão que era de D. Carlota,
quando da morte de D. Pedro I, na rua hoje de Marques de Abrantes, que se
chamava na época Caminho Novo de Botafogo, paralela ao Caminho Velho da
Pedreira, Senador Vergueiro.
Outra história conta que o bairro passou a se chamar de Botafogo, uma vez
que um dos seus primeiros moradores, José Pereira de Souza Botafogo, lá
tinha uma pequena produção de verduras que alimentava a população.
As águas da praia eram plácidas, calmas e límpidas (acredite).
8.2 SUA HISTÓRIA SE CONFUNDE COM A DO RIO.
URCA E PRAIA DA SAUDADE.
Como prolongamento da Praia de Botafogo, em direção ao grande paredão de
pedra que é o Pão de Açúcar, existia a Praia da Saudade que era o caminho
natural para a Praia Vermelha (nome devido a cor avermelhada da areia da
praia, e com grãos maiores). O trecho da Praia da Saudade foi aterrado, sendo
60usado o espaço para a Exposição Internacional de 1908, e serviu para a
construção de amplo ancoradouro público, que hoje abriga o Iate Clube.
Em um recanto isolado, encravado entre um paredão de pedra e outro morro,
mais baixo, lá existiu o Forte de São João que tomava conta da entrada da baia
contra as invasões de inimigos. Tudo que era necessário para a manutenção
do Forte, como víveres e munições, tinha que ser transportado por mar, o que
prejudicava em muito a manutenção da Fortaleza. Era necessário ter-se um
caminho mais fácil, e isso foi conseguido através de um empresário português,
que tirou proveito disso e desbastou o paredão (hoje se observa o rasgo na
pedreira), tirando paralelepípedos que calçaram grande parte das ruas da
cidade, com as sobras, aproveitou para aterrar uma boa parte. O espaço
conseguido despertou o interesse, e assim foi formada a empresa denominada
Urbanizadora Carioca (URCA), que completou o aterramento, loteou, e o bairro
passou a se chamar Urca, tendo como rua principal do bairro a Avenida
Portugal, por motivos óbvios.
Outro nome com relação ao nome Urca, dizem que esse nome provém da
semelhança desse morro com a proa de navios flamengos, chamados Urcas,
que freqüentemente entravam na baia. Mas o mais certo é que o bairro nasceu
da vontade de um português Domingos Pinto, que morava na Praia de
Botafogo e admirando aquela pequena faixa de terra, onde somente existia
uma choupana de pescadores e um coqueiro, planejou transformar aquele local
em um pedaço da cidade com prédios elegantes e artísticos.
8.3 UM SÍMBOLO DE NOSSA TERRA.
O PÃO DE AÇÚCAR. PRAIA VERMELHA.
Pão de Açúcar, esse marco do Rio de Janeiro, vigilante na entrada da Baia de
Guanabara, entre o Morro Cara de Cão e o Morro da Urca, foi o local onde
Estácio de Sá, ao desembarcar em 1º de março de 1565 lançou a base de
nossa cidade. Registros históricos informam que o penedo de 395 metros de
altura é conhecido desde 1º de março de 1502, quando o navegador português
André Gonçalves, quando aqui chegou, teve como referência o Pão de Açúcar,
61e que daí em diante passou a ser referência para todos os navegantes que
aqui chegavam.
A origem do nome Pão de Açúcar prende-se ao fato de que sua forma se
assemelha a fôrma para a fabricação do pão de açúcar produzido na Ilha da
Madeira, com açúcar de consistência pastosa e que era despejado em
recipientes cônicos de barro que eram colocados de cabeça para baixo (a boca
para baixo) para secar, e eram depois vendidos para o consumo. (existem
fôrmas desse tipo no Museu Histórico Nacional).
Cronologicamente o Penedo teve os seguintes nomes: “Pau-nh-açuquã”, na
língua Tupi dado pelos Tamoios, que significa “morro alto isolado e pontudo”,
“Pot du Beure”, dado pelos franceses invasores da primeira leva de nossas
terras. “Pão de Sucar”, dado pelos primeiros colonizadores portugueses, e
“Pot de Sucre”, invasores franceses da segunda leva.
O Pão de Açúcar tem uma altura de 395 metros, e é servido por um caminho
aéreo (Bondinho), que foi inaugurado em 1913.
Inicialmente existia um projeto de se colocar lá em cima um monumento a
Cristóvão Colombo, iniciativa do Ministro Argentino no Brasil Henrique Moreno,
que não vingou. Esse Bondinho, hoje, transporta cerca de um milhão de
turistas por ano, atraídos pelas belezas que de lá se descortina.
Em 1908, em comemoração ao centenário da Abertura dos Portos, a Praia
Vermelha foi escolhida para sediar uma Exposição Internacional. Essa área foi
transformada em local onde se localizaram diversas Universidades do Brasil, e
que foram cenários de grandes revoltas estudantis em épocas de repressão de
ditaduras.
O Pão de Açúcar tem uma lenda belíssima. Baseia-se na mitologia egípcia,
concebida vários séculos antes de Cristo, na qual a imagem da humanidade é
representada por um gigante deitado, com os pés acorrentados “a IBIS”, um
pássaro sagrado do Egito, pois que em sua revoada, que se dá na vazante do
Rio Nilo, como a proclamar em sua vazante a fertilidade de suas margens. Na
mitologia, quando IBIS conseguir se desprender livre, e projetar-se no espaço,
a humanidade também se libertará e erguida, caminhara no rumo certo da
fertilidade.
62O relevo Carioca visto do oceano, apresenta a silhueta montanhosa de um
gigante deitado em que o queixo é a Pedra da Gávea, o tronco é o Maciço da
Tijuca, e o pé o Pão de Açúcar, em cuja face norte voltada para a Baia de
Guanabara, ás 11/12 horas, em dias de sol, uma sombra de cerca de 120
metros de altura, projeta tal qual a silhueta de um pássaro semelhante ao Íbis
do Egito. Daí a versão, não comprovada, mas encantadora, que os egípcios
teriam estado no Rio de Janeiro, muito antes de Cristo, e se inspirado no
gigante deitado das montanhas cariocas para conceberem a sua imagem
Mitológica. Neste caso, foram os egípcios os primeiros turistas a visitarem o
Rio de janeiro. E, contam, as más línguas, que quando esse Íbis levantar vôo, o
nosso gigante deitado eternamente se libertara.
Um mapa do século XVII, elaborado para Villegagnon, apresenta o Pão de
Açúcar como uma ilha, pois onde está a Praia Vermelha o mar ligava até a
Baia, e nessa época não existia a Urca.
8.4 A FLORESTA DA TIJUCA
O CRISTO NO PÃO DE AÇÚCAR?
O CRISTO REDENTOR.
A história daquela região, a Floresta da Tijuca, ocorreu em meados do século
XIX. Nessa região se desenvolveu uma ocupação desenfreada de suas terras.
Era uma região ocupada por índios das tribos Tupi e Tamoio que viviam em
harmonia e não provocavam alterações na paisagem. Com a chegada dos
colonizadores que vieram da Europa no século XVI, além de eles procurarem
madeira (Pau-Brasil) o uso da terra para plantações de cana de açúcar e
posteriormente o café, acabaram por dizimar os mananciais de água da região.
Durante o ciclo da cana de açúcar, engenhos de cana proliferaram e deixaram
muitas marcas em nomes como Engenho Velho, Engenho Novo, e usina da
Tijuca. A ocupação do morro nas encostas do Corcovado se mistura com a
ocupação da Floresta da Tijuca, quando alguns nobres lá se estabeleceram.
Com a decisão de Pedro II, preocupado com a situação que mandou proceder
ao reflorestamento da região (cerca de 100.000 árvores foram lá plantadas) a
Floresta da Tijuca passou a ser a maior floresta urbana do mundo. D.Pedro II,
63que por diversas vezes foi até o topo da montanha, atraído que era pelas
belezas que de lá se descortinava, autorizou a construção da Estrada de Ferro
Corcovado (1884).
Conta a tradição (ou são estórias), que um Capelão, Imperial Boss, já naquela
época, imaginou implantar uma estátua de Cristo no topo do Corcovado, mas
suas pretensões foram esquecidas. Muito tempo se passou e, como estávamos
perto do centenário da Independência (1922) voltou a idéia de se levantar o
monumento a Cristo no Rio de Janeiro em homenagem a um povo muito
católico. Para tanto foi realizado um grande concurso de maquetes, que foi
vencida pelo Dr. Heitor da Silva Costa. Viajou, o vencedor para a França a fim
de contratar um escultor para execução da obra. O escultor francês Paul
Landowsky esculpiu as mãos e a cabeça. A previsão de inauguração do Cristo,
que estava programado para a comemoração do 1º Centenário da
Independência atrasou, e só foi possível inaugurar, nessa época, somente os
alicerces da grandiosa obra. Afinal, tempos depois, chegou a maquinaria para
elevá-la a 704 metros de altura. Construída em concreto armado, revestido de
pequenos pedaços triangulares de pedra sabão foi afinal inaugurada em 1931,
e está sobre um pedestal de 8 metros de altura, onde se encontra uma Capela
para 150 pessoas, a estátua mede 30 metros de altura, com uma distância
entre as pontas dos dedos das mãos de 28 metros e seu peso total é de 1.145
toneladas. Conta-se que quando da viagem do Dr. Silva Costa a Europa. Por
aqui ficou uma Comissão Organizadora que tentou mudar o local da estatua do
Cristo Redentor e levá-la para o Pão de Açúcar. A reação não se fez esperar e
um movimento a favor do Corcovado, recolheu milhares de assinaturas, como
também consideráveis donativos para a obra. A empresa Light e Power, sendo
proprietária da linha férrea do trem que levava ao alto, foi contra a obra, mas
houve alguns acertos e a idéia acabou vingando, e assim a obra foi levada
adiante. Como se vê, por pouco não temos o Cristo no alto do Pão de Açúcar.
64
CAPITULO IX.
E PASSAMOS OS TÚNEIS.
UM PASSEIO PELA ORLA DO RIO.
E NASCE A PRINCESINHA DO MAR.
KJOPAC KAUANA – COPACABANA
Bela faixa entre o mar e a montanha, fazendo parte da própria história do Rio, a
“Princesinha do Mar”, cantada em musica e em verso, assumiu uma identidade
na cidade e no mundo, conhecida pelos turistas, e um tradicional cartão postal
da cidade, consegue manter o mito que a fez conhecida como centro
cosmopolita, sem preconceitos, centro cultural e da moda, das inovações, da
boemia, é afinal, o retrato do povo Carioca.
No início, com o desenvolvimento da cidade no interior da baia de Guanabara,
Copacabana era pouco conhecida uma vez que para se chegar lá, muitas
dificuldades tinham que ser vencidas, pois os caminhos eram complicados.
Para chegar era necessário vir pelo caminho da Real Grandeza, por cima do
morro, chegando a Ladeira dos Tabajaras, e era um caminho difícil para ser
vencido e chegar a Praia de Copacabana.
Neste grande areal, viviam poucos e pobres pescadores que dificilmente iam
ao Centro do Rio; era um local de vegetação rasteira, com alguns cajueiros e
pitangueiras. A tranqüilidade era somente quebrada pelo barulho do mar, e a
calma era absoluta. Em um extremo da Praia, existia um Promontório que
abrigou uma pequena Igrejinha, com histórias que se misturam com as lendas
da cidade, com curiosas estórias, a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana.
Da história dessa Santa, contam que seu culto vem da Bolívia, com o culto de
uma Deusa Inca, em uma ilha sagrada do Lago Titicaca, que se chamava
Kjopac Kahuana, que significa Mirante do Azul. Não se sabe bem, como os
devotos dessa Santa, no século XVII construíram a primeira Ermida no
promontório. Eis que, em meados de 1700, um Bispo Católico ao retornar de
Angola, Bispo D. Antônio do Desterro foi surpreendido, em seu navio por uma
65tormenta e quase naufragou, avistou um promontório com as ruínas da Capela
e, então, prometeu que se viesse a se salvar, mandaria reconstruí-la, e assim o
fez uma vez que veio a se salvar e sobreviveu. Mas a praia era longe de tudo e
a Capela foi se deteriorando e caiu no abandono novamente. Em meados de
1800, ocorreu um boato de que haviam encalhado, nessas paragens, duas
enormes baleias e isso atraiu uma multidão de curiosos, o que fez com que o
local passasse a ser conhecido, e assim a Capela foi reconstruída e ampliada.
Nesse “faz-e-desfaz” a curiosa história, não parou por aí, pois conta-se que no
século XVII, a antiga Igreja da Misericórdia, hoje N.S. de Bonsucesso, uma
imagem de N.S. de Copacabana encontrava-se em destaque no altar principal
dessa Igreja, e não se sabe porque e por quem e quando ela foi desalojada,
mas o fato é que a Ermida em Copacabana, surgiu para abrigar a imagem que
tinha sido desalojada, talvez por ser estrangeira (preconceito), e não ter
Irmandade para defendê-la. Hoje essa imagem se encontra na Igreja de N.S.
de Copacabana na Praça Serzedelo Correia, “Praça dos Paraíbas”, na Siqueira
Campos.
De cima do promontório da Igreja, na época, tinha-se uma belíssima vista da
praia até o Leme, e com a descoberta do povo se transformou em um local
paradisíaco. Acontece que a população cansada da poluição das praias do
centro da cidade (já naquela época), como as praias do Retiro Saudoso, Caju,
São Cristóvão, Santo Cristo, Saco do Alferes, Gamboa, Saúde, como também
as que tinham perdido que tinham sido aterradas como as de Santa Luzia,
Lapa, e Glória, começou a procurar a praia de Copacabana. O bairro começou
a se desenvolver a partir de 1892, quando se abriu o Túnel Velho, foi facilitada
a entrada de bondes da Companhia Jardim Botânico, e por essa via o tráfego
de bondes com tração animal facilitou o desenvolvimento do bairro. O bairro
viveu um explosivo desenvolvimento em 1923 com a construção do Hotel
Copacabana Palace, e com seu refinamento e glamour se tornou a marca
registrada da Praia de Copacabana, e que passou a ser o local de encontro de
artistas, políticos e intelectuais.
“No espaço em torno, e o vento me chamando,
Me convidando a voar...(Ah, muitas mortes
66Morri entre essas máquinas erguidas
Contra o tempo) Ou também o desespero
De andar, como um metrônomo, para lá
E para cá, marcando o passo do impossível
A espera do segredo, do milagre
Da poesia...
Tu, Copacabana
Mais do que nenhuma outra foste a arena
Onde o poeta lutou contra o impossível
E onde encontrou enfim sua poesia
Talvez pequena, mas suficiente
Para justificar uma existência
Que sem ela seria impossível.
Vinícius de Morais – Rio 1958.
9.1 E PORQUE NÃO FALARMOS DE MÈRE LOUISE?
VAMOS DESCANÇAR QUE NINGUEM É DE FERRO.
A CASA – “HOTEL” – DE MÈRE LOUISE.
No início, no Rio de Janeiro, não se tinha atividades de recreação, a não ser a
de procriar, dormir, e ir a Igreja ou as Procissões, devido ao medo do
desconhecido e da escuridão da noite.Quando as linhas de bondes, puxados a
burros, começaram a chegar até a Igrejinha de N.S. de Copacabana (Posto 6),
muitas pessoas passaram a ir a praia longe do centro das poluídas do centro
da cidade, como também, muitos casais iam assistir a missa na pequena
Ermida. Em 1894 o bonde chegava à igrejinha lá no posto 6, onde a
Companhia de Bondes construíra uma estação. Em 1902, o jornalista Edmundo
Bittencourt, que era dono do jornal “Correio da Manhã”, e que era morador do
local, comprou a estação e alugou-a à francesa Mme. Louise Chabas, que
instalou um restaurante no local. Após um bom banho de mar, ou após ficarem
de bem com Deus, iam descansar, comer e beber no já famoso Mère Louise.
Depois de um bom programa nada mais do que parar a vida e pensar em
67outras coisas, pois o trajeto de volta era longo e valia até um cochilo tranqüilo
em um dos pequenos quartos que ficavam estrategicamente colocados no
fundo do estabelecimento, isso dando a tranqüilidade e escondido dos olhos
curiosos, ainda mais que funcionava por 24 horas por dia. Mas o que seria do
mundo se não existissem as más línguas, lá eram mantidas discretas
senhoritas logicamente francesas, para distrair os cavalheiros
desacompanhados e cansados. O hotel-restaurante-cabaré continuou
animando as noites de Copacabana que atraia muita gente para os seu deleite.
O Mère Louise sobreviveu por muitos anos, mas seu toque parisiense se
perdeu quando o local foi vendido para a Brahma, e entrou em decadência e foi
fechado como “Hotel Suspeito”; em seu lugar, em 1934 Alberto Bianchi
construiu o Cassino Atlântico que tinha como slogan – “Paris na praia de
Copacabana” -. Tudo isso, vigiado pelo promontório da Ermida de N.S. de
Copacabana que de cujo alto se descortinava um lindo panorama em uma
direção de 360 graus.
9.2 O CAMINHO DOS PRETOS QUEBRA-BOLOS.
O BAIRRO DO LEME.
Enquanto Copacabana se desenvolvia, beirando a encosta e tendo a sua frente
uma faixa arenosa de praia, existia um caminho que ia da Pedra do Inhangá,
ao lado do Copacabana Palace, até a Praia do Leme. De onde vem esse nome
Leme? Talvez por se ter uma visão total da praia com se ela fosse um grande
navio, essa ponta recebeu o nome de Leme que é um dispositivo nas
embarcações e que serve para dar a direção de uma Nau.
A Pedra do Inhangá, praticamente dividia a extensa praia em duas partes.
Quando da maré cheia, as duas praias ficavam separadas e se molhavam os
pés para se cruzar de um lado para outro. Nesse recanto, o Leme, começaram
a aparecer as belas residências daqueles que procuravam o sossego e um
pouco de privacidade. O local era um provável Quilombo, Caminho dos Pretos
Quebra-Bolos, ou seja, pretos que tinham quebrado as palmatórias ou “bolo”
com o que eram castigados pelos Senhores de Engenho. Essa tranqüilidade
permaneceu até 1905, uma vez que Copacabana se desenvolvia, o Leme
68permanecia sem nenhum apoio de condução, quando foi construído o Túnel do
Leme que passou a ser a principal via de acesso à Copacabana. A Companhia
Ferro Carril estendeu seus trilhos até o Leme, e lá construiu um belo e grande
restaurante balneário com um belo terraço dando vista para o mar, tendo como
anexo a estação dos bondes. Esse restaurante balneário teve papel destacado
na boêmia do Rio de janeiro – “O Bar do Leme”. Qual dos Cariocas da geração
passada que não teve o privilégio de pelo menos dar um pulo e desfrutar desse
belo recanto?
9.3 ÁGUA RUIM PARA BANHO E PESCA.
PRAIA DE IPANEMA.
Vindo de Botafogo pela Lagoa Rodrigo de Freitas (Sacopenapã), chegava-se a
restinga de Ipanema que ficou conhecida, por muito tempo pelo nome “Água
ruim para banho e pesca”, talvez pela violência das águas. Por isso
permaneceu por muito tempo deserta. No começo do século, Ipanema tinha um
estabelecimento espelhado no sucesso do Mère Louise de Copacabana,
começou a tomar impulso, principalmente em 1904 quando se abriram as
Avenidas Vieira Souto, as Praças Nossa Senhora da Paz, antiga Praça
Marechal Floriano Peixoto, e General Osório, antiga Coronel Valadares. O
canal que fazia a ligação com a Lagoa e separava Ipanema do Leblon, foi
retificado, e foi construída uma ponte ligando as duas praias, ponte essa que
diminuiu o fluxo de água do mar para a Lagoa.
Na Praça General Osório, podemos admirar uma bela peça rara o Chafariz das
Saracuras – uma primorosa peça de cantaria, atribuída ao Mestre Valentim da
Fonseca e Silva, mandada construir em 1799 para as freiras do Convento de
Nossa Senhora da Ajuda, prédio esse, na Cinelândia e que foi destruído
(conforme já falamos em outro local).
A definição de “água ruim” foi ignorada, tanto pelos moradores como pelos
freqüentadores de sua praia, na década 1960, quando tudo passou a ser
disputado por artistas, intelectuais e pessoas de alto poder aquisitivo,
convivendo em perfeita harmonia, o que tornou o bairro como um dos locais
mais animados de nossa cidade.
69E por falarmos nesses dias passados, podemos contar que em 1903, em suas
belas areias, Pinheiro Machado se bateu em duelo com Edmundo Bitencourt,
que foi ferido, de raspão, por um tiro de pistola. Em 1935, se tramou o levante
comunista de 1935 (Carlos Prestes).
Quem diria que as “Águas ruins para nadar e pescar se transformaria na
mundialmente famosa praia da Garota de Ipanema, e imaginem que ela lá
tomava banho de mar”.
9.4 VAMOS VER AS BALEIAS.
PEDRA DO ARPOADOR
O Arpoador é o início da Praia de Ipanema que a separa da de Copacabana, e
tem aproximadamente 550 metros de extensão em sua praia. Local em que as
baleias vinham se aquecer, vindas da Antártica à procura de águas mais
quentes para procriação. A praia é muito concorrida, principalmente pelos
surfistas que lá encontram condições ideais para a prática do esporte. Do alto
da pedra batida pelo mar, com o vento soprando suave e envolvendo no corpo
um abraço, podemos assistir a um belo pôr do Sol, e os olhos se enchem de
cores e formas, tendo ao lado esquerdo a Praia do Diabo, a direita a longa
curva da Praia de Ipanema e Leblon, e a frente no mar revolto as ilhas Rasa,
Redonda e Comprida.
A Praça Garota de Ipanema, para deleite da garotada e dos namorados, foi
construída em terreno do Forte de Copacabana. O Circo Voador foi ali
instalado, e revelou muitos grupos da música jovem, lá esteve por cinco anos
até que foi transferido para a rua dos Arcos da Lapa.
9.5 CHARLES LEBLON
A QUEM DEVEMOS O NOME “LEBLON”
Diversos Quilombos existiam na Cidade o Rio de Janeiro, e acolhiam escravos
que fugiam de seus donos, e dos maus tratos a que eram sujeitos, em Santa
Teresa, Laranjeiras, Corcovado, Penha, Vila Isabel e Engenho Novo. Um dos
mais famosos foi o do Leblon, que havia em terras de José Magalhães Seixas.
70Eram terras que de 1845 até 1857, pertenciam ao francês Charles Leblon.
Essas terras foram, durante muito tempo, refugio de escravos, e também serviu
de local de encontro de Abolicionistas, como o Deputado Joaquim Nabuco, o
Vereador João Clapp, o Jornalista José do Patrocínio, e outros que se
aproveitavam do sossego, e da distância do centro de decisões do Rio para
tramarem a Abolição. Quando a Princesa Isabel assinou a lei de 13 de maio de
1888, extinguido a escravidão, os negros do “Quilombo do Seixas” saíram de
seus esconderijos, e foram em procissão levando braçadas de flores, e foram
oferecê-las Princesa.
A expansão do Leblon se deu juntamente com Ipanema, principalmente após a
construção da ponte que separa as duas praias. Em 1970, foi a vez do Leblon
transformar-se em centro de agitação noturna da cidade. Os restaurantes
passaram a ser ponto de encontro de artistas e intelectuais, como de uma nova
geração de contestadores.
A vida ao ar livre, a agitação de seus bares, suas atividades esportivas e seu
sofisticado comércio, fazem do Leblon um bairro procurado, e ainda hoje os
jovens gravitam pelas suas ruas e praia, sonhando com um lugar ao Sol, a
procura de seu lugar.
9.6 UM FILME QUE DEU O NOME.
JARDIM DE ALAH.
O Jardim de Alah formado por três praças, Praça Grécia, Paul Claudel e
Saldanha da Gama. O nome Jardim de Alah tem esse apelido devido ao fato
de que na época de sua inauguração (1938) no Canal da Lagoa, Marlene
Dietrich, em um filme épico e de muito sucesso, partia para o Saara em busca
de paz e encontra o amor de um monge, Charles Boyer e era o filme “The
Garden of Allah”. Foi um filme de muito sucesso, e a área recém criada com
uma bela urbanização, passou a ser chamada de Jardim de Alah, nome até
hoje conhecido apesar de seu nome oficial ser Praça Saldanha da Gama.
719.7 HORTO REAL.
REAL JARDIM BOTÂNICO.
JARDIM BOTÂNICO.
Um oásis de paz e silêncio em meio à agitação da cidade grande está
localizado o Jardim Botânico, junto a uma das maiores vias, com grande
movimento, na Zona Sul da Cidade.
Possuí uma área 1.370.000 m2 (137ha), e sua origem remonta do século XIX,
quando da chegada da família Real (1808) de Portugal. Naquela época o
Príncipe Regente D. João mandou construir, conforme já falado quando
comentamos sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas, a Fabrica de Pólvora.
Preocupado com as longas viagens quando transportavam especiarias da
Índia, D. João resolveu, no Rio de Janeiro, criar um Parque que pudesse
receber esses espécimes, para replantio e reprodução. Assim, em 13 de junho
de 1808, foi criado o Jardim da Aclimatação, e recebeu o nome de Horto Real,
uma área próxima a fabrica de Pólvora, e que passou a receber grande
quantidade de sementes vindas de outras partes do mundo. Nessa época uma
fragata portuguesa naufragou, a Princesa do Brasil, nas costas de Goa, e os
náufragos foram aprisionados e ficaram na colônia francesa de nome “Jardim
Gabrielle”, local famoso pelas suas inúmeras plantas de grande valor
econômico. Um dos náufragos conseguiu fugir e trouxe para o Brasil várias
mudas de plantas que as presenteou ao Rei D. João. Durante algum tempo o
Horto recebeu grande coleção de plantas exóticas. Quando D. João foi coroado
Monarca do Reino Unido de Portugal e do Brasil, mudou o nome para Real
Jardim Botânico, anexado ao Museu Real. D. João visitou o Jardim Botânico,
pela primeira vez em janeiro de 1809, chegando de canoa pela Lagoa,
condução que apanhou no Morro da Saudade, uma vez que tinha muito medo
de ir por terra devido alguns acidentes geográficos que havia pelo caminho.
Para homenagear o Jardim, quando visitava freqüentemente com grande
satisfação, D. João VI, plantou com suas próprias mãos, em 1809, uma
Palmeira. Essa Palmeira foi, portanto, a mãe de todas as que hoje vicejam por
todo o país, por isso chamada de “PALMA MATER”. Hoje ela já não existe, pois
foi atingida por um raio em 1972, causando sua morte.
72Conta-se que os amigos mais chegados da corte, e que recebiam beneplácidas
do Monarca, recebiam uma muda dessa Palmeira, e as plantavam em seus
jardins na frente de suas casa, para que todos soubessem que eles eram
amigos íntimos do Rei. Muitos que não tinham recebido esse mimo
aproveitavam-se das noites e mandavam seus escravos roubarem uma muda
para poder plantar em seu jardim em frente as suas residências, e assim
mostrarem que eram amigos do Rei.
Vários foram os administradores que procuraram, com o tempo, valorizar o
Jardim Botânico, como o aumento de sua coleção de plantas, uma biblioteca
com mais de 32.000 volumes com parte da coleção de botânica de D. Pedro II.
Os prédios antigos também foram preservados como a sede do Engenho de
N.S, da Conceição da Lagoa, o Portal da antiga Fábrica de Pólvora, a Casa
dos Pilões, e o Pórtico da Real Academia de Belas Artes um dos poucos
projetos remanescentes do arquiteto Grandjean de Montigny, que foi demolido
para que a Av. Passos fosse ampliada.
9.8 SACOPENAPÃ – PRAIA BATIDA PELOS SOCOS.
A LAGOA RODRIGO DE FREITAS.
Entre o Leblon e Ipanema nasce a Lagoa Rodrigo de Freitas, entre as encostas
da bela montanha, um local privilegiado onde o verde ainda é preservado pelo
Jardim Botânico, e pela Floresta da Tijuca. Lá existiam terras de engenho que
serviam de pastagens e lavouras, onde a cana de açúcar era a principal
cultura, terras essas com uma área 4,4 milhões de braça quadrada,
estendendo-se desde o antigo Forte de São Clemente, passando pelas
vertentes do Morro do Corcovado, indo até o mar entre os morros do Arpoador
e Dois Irmãos, local de pesca abundante e teve diversos proprietários.
Em um mapa francês, antigo, indicava que até 1575 existiam cinco aldeias de
índios Tamoios em volta da Lagoa. Elas ocupavam essa região, pelo menos,
desde o Século VI. Uma era onde está o bairro do Leblon, uma outra
“Jaboracyá” era na base do Corcovado, e outras três, “Pepim”, “Earumirí” e
Pana-Ucú”(Água Parada em Tupi), ou “Sacopenapan” (Caminho onde andam
os Socós) que eram pequenas aves pernaltas, da família das garças que se
73alimentavam de peixe podre, quando havia mortandade na Lagoa (já naquela
época).
No século XVII, seu proprietário passou a ser Rodrigo de Freitas Melo e
Castro, que recebeu a área como herança, ficando o local conhecido como
Engenho de Rodrigo de Freitas. Por decreto de D. João VI, em 13 de junho de
1808, essa área foi desapropriada e ficou incorporada à Coroa, que lá instalou
a Fábrica de Pólvora e uma oficina para fundição de peças de artilharia e canos
de espingardas, passando a se chamar Real Fazenda da Lagoa Rodrigo de
Freitas.
Apesar de ter o nome de Lagoa, é na realidade uma Laguna por estar próxima
à costa e ter ligação com o oceano. A partir do século XIX, os areais existentes
foram sendo ocupados, e onde havia inúmeras pitangueiras e de cujo fruto era
feito o melhor sorvete da época, nasceu o bairro da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Somente no século XX foi que se fez a ligação de Ipanema e Leblon. E nesse
enorme contraste entre o encanto da natureza que floresce e o concreto dos
prédios, convivem os bairros da Gávea, Jardim Botânico, Ipanema e Leblon, e
as ligações com Copacabana e Botafogo, e que no final são prolongamentos
um do outro.
Estórias são contadas, como que muitos Engenhos de Açúcar foram
construídos, tendo como principal intenção acabar com as aldeias dos índios
que lá ocupavam as terras por muitos séculos. Os Tamoios que lá habitavam,
foram atacados de maneira peculiar: o Governador Antônio Salema mandou
jogar roupas e colchões de pessoas que tinham sido atacadas de varíola, no
mato próximo onde eles tinham suas tabas, chamado de Piraguá (Água
Parada). Os Tamoios, vendo essas roupas, resolveram vesti-las e assim
ficavam contaminados com a doença e aos poucos foram morrendo, pois não
dispunham de tratamento. Deste modo, tirando proveito da situação, tomou
conta das terras e lá mandou construir seu Engenho.
749.9 E LÁ EXISTIA UMA FONTE DE ÁGUA CRISTALINA.
FONTE DA SAUDADE
Quem viesse do Caminho do Piabuçú (Rua São Clemente), entrando pela
esquerda da Lagoa, tinha que parar para beber um pouco de água, dar de
beber aos animais, de uma bica saindo de um pedestal pintado de branco,
onde se lia em alto relevo “Fonte da Saudade”. Diziam os pescadores da região
que quem bebesse daquela água, ficaria com tanta saúde que ali sempre
voltaria, Esses caminhos, ou trilhas, traziam os caminhantes para Copacabana
para apreciarem suas paisagens e desfrutarem do seu sossego e belas águas
de banho. O caminho para Copacabana, pela estrada que margeava a Lagoa,
se deparava com um pequeno monte de pedra que dificultava a passagem e
obrigava a uma escalada. Esse montículo (Calombo) em uma curva foi cortado
para facilitar a passagem em 1912; essa terra serviu para retificar a rua, daí
nascendo a Avenida Epitácio Pessoa, e a famosa Curva do Calombo de muitos
perigos e desastres de automóveis. Na outra margem, aos pés do Corcovado,
existia uma reta aberta (Rua Jardim Botânico), que serviu para receber a linha
de bondes, puxados por burros que vinha de Botafogo chegando até a Gávea.
Esse local, perto da Lagoa, era um grande charco que dificultava muito o
transporte. Avançando pelas margens da Lagoa, onde havia sido a sede de
uma antiga fazenda de café, havia uma construção que devido a facilidade de
comunicação, com o Centro da Cidade, que se tinha com o transporte de
Bondes, que foi o primeiro “Bondeia” da cidade ( Bordéis ou Motéis), e do
outro lado da rua notava-se um restaurante campestre, menos pela fama de
seus petiscos, mas pelo discreto retiro longe de olhares bisbilhoteiros, mal se
ouvindo o sussurro do arvoredo que a aragem balançava. Não demorou muito
e inaugurou-se o novo “Bonde Expresso da Gávea”, que vinha direto da cidade,
à toda velocidade (imaginem!) parando apenas no Largo do Machado, e depois
no Largo dos Leões para se trocar aparelha de burros, muito cansados, uma
vez que vinham direto e não recolhiam passageiros no caminho e davam aos
seu ocupantes a tranqüilidade necessária (é possível que ali tenha sido o
nascimento do famoso Bar 20).
75
CAPÍTULO X
O CAMINHO DO CÉU.
AVENIDA NIEMEYER.
“Caminho do Céu”, assim se denominava uma subida, no fim das terras do
Senhor Le Blum, o qual ziguezagueava perigosamente pela encosta do Morro
dos Dois Irmãos, chegando até a praia do Vidigal.
Em 1891, uma empresa projetou a construção de uma linha férrea, que
partindo de Botafogo e passando pelo Leblon, São Conrado, Barra da Tijuca,
Santa Cruz, chegando em Angra dos Reis (193 km); chegaram a cortar a rocha
pelo lado do mar, para os primeiros assentamentos dos trilhos, mas devido às
pressões da Companhia de Bondes, que se sentiu prejudicada, o projeto foi
abandonado.
Em 1911 o Colégio Anglo Brasileiro, mudou-se de Niterói para a Chácara do
Vidigal, e continuo com o acesso, ainda que precário, pela encosta do mar e
completou aquela parte da obra. Dois anos mais tarde o Colégio melhorou a
passagem e completou aquela parte da obra.
O Comendador Conrado Niemeyer, dono de grandes terras no local, mandou
alongar a estrada até a praia da Gávea, como também mandou construir uma
Capela em homenagem ao santo seu padroeiro e homônimo, Capela de São
Conrado, e do mesmo modo a estrada passou a ser conhecida como Avenida
Niemeyer, e o bairro de São Conrado.
Cinco anos mais tarde, a Prefeitura embelezando a cidade para a visita do Rei
Alberto da Bélgica, mandou alargar a avenida e aplicou uma camada de
macadame, espécie de asfalto rudimentar.
10.1 SÃO CONRADO.
CONRADO NIEMEYER.
O nome do bairro tem sua origem na Igrejinha de São Conrado, construída no
início do século XX, pelo Comendador Conrado Niemeyer, proprietário de
76terras da redondeza. O nome foi dado como padroeiro por ser o nome Conrado
uma constante em sua família, conforme já foi dito.
O pequeno bairro, entre o mar e a montanha da exuberante Floresta da Tijuca,
é local de passagem para as novas áreas da Barra da Tijuca. Sua larga faixa
de praia, de mar bravio, com o nome de Praia da Gávea, é muito mais
conhecida como Praia de São Conrado. Sua extremidade chamada de Praia do
Pepino tem suas areias servindo de campo de pouso para as asas delta, que
saltam do alto da Pedra da Gávea (510 metros). O nome desse bloco
montanhoso de 842 metros de altura se deve a sua semelhança, na parte
superior, com uma gávea de navio – ponto de observação mais alto nos navios
antigos. Muitos vêem nessa rocha o rosto de um homem, obra de civilizações
antigas. Outro ponto interessante é que, para quem vem do mar a observação
das montanhas do Rio parecem um gigante deitado, onde a cabeça está na
Pedra da Gávea, o corpo na Floresta da Tijuca e os pés no Pão de Açúcar -
(Deitado eternamente em berço esplendido).
Conta-se, também, que a Praia do Pepino recebeu esse nome porque lá
morou, por muito tempo, um pequeno lavrador de nome José, Pepe para os
amigos, Pepino. Na época Colonial esse local foi, por muito tempo, um porto
clandestino de desembarque de escravos que eram levados para a Floresta da
Tijuca.
Em São Conrado se encontra a maior favela urbana do mundo, a Favela da
Rocinha. O surpreendente cenário da Favela mistura-se a exuberante
vegetação que cobre as montanhas e que envolvem a praia e seus prédios em
uma área das mais caras do Rio de Janeiro. São Conrado é uma bela mistura
de espaço urbano-social, com o mar e montanha, favela e apartamentos de
luxo, homem e natureza, numa mistura que por vezes se torna poética.
10.2 PONTA DOS “ANCHOIS”.
CHEGAMOS AO JOÁ.
Da Igrejinha construída por Conrado Niemeyer e do seu 0uteiro (pequena
elevação), via-se a praia ainda selvagem e a pequena ponte sobre um pequeno
riacho de águas claras, tendo ao seu lado, como sua guardiã, a imponente
77Pedra da Gávea com seus mistérios e lendas. Ao fundo via-se a Ponta dos
Mariscos, onde hoje temos o Clube Costa Brava. Esse local foi um porto (?)
clandestino de desembarque de escravos para as fazendas no Alto da Tijuca.
Para se chegar a São Conrado tinha-se que fazer uma bela viagem, pois
passava-se pelo Jardim Botânico, subia-se a estrada de Dona Castorina
passando pela Vista Chinesa que era o local onde viviam os chineses trazidos
por D. João VI na tentativa de aclimatar a cultura do chá no Brasil; seguindo,
cruzava-se pela Mesa do Imperador, que com sua mobília de pedra e bela
vista, era parada obrigatória para D. Pedro II que lá costumava fazer uma
pausa em suas caminhadas, para uma ligeira refeição e repouso;um pouco
mais, subindo, chegava-se a um pequeno caminho que descia até a Praia da
Gávea, hoje São Conrado. Era uma verdadeira aventura seguir essa viagem
por cima dos morros e chegava-se a Garganta e a Ponta de Anchois,
propriedade de um francês chamado Laurence Anchois, que lá vivia isolado do
mundo. Na linguagem dos pescadores seu nome virou Ponta do Chuá, depois
Ponta do Joá.
10.3 BARRA DA TIJUCA.
RECREIO DOS BANDEIRANTES
A região conhecida como Recreio dos Bandeirantes, local inicialmente de difícil
acesso, somente sendo possível através de barcos, pois não existiam as
pontes sobre a Lagoa da Tijuca que somente foi construída por particulares em
1939, – Loteamento da Restinga – Imobiliário Jardim Oceânico e Tijucana.
Por que Recreio dos Bandeirantes? Conta-se que as terras que constituíam a
gleba B, seu proprietários costumava promover visitas e piqueniques de fim de
semana para levar compradores dos lotes de sua gleba (1.430 milhões de
metros quadrados). Nesses grupos iam muitos paulistas que compraram
muitas terras no local, a beira mar, fazendo suas fazendas e casas de
descanso e de recreio, daí o nome Recreio dos Bandeirantes.
Antes da construção das pontes, só havia três opções, para quem viesse da
Zona Sul, o caminho era pela Avenida Niemeyer e estrada do Joá, pelas
estradas de Furnas e da Barra da Tijuca, para quem viesse da zona Norte o
78caminho era por Cascadura e estrada de Jacarepaguá. Na outra extremidade o
acesso era feito pela estrada dos Bandeirantes, antiga estrada de Guaratiba
que atingia o Pontal de Sermambetiba. O caminho era difícil, pois que para
quem vinha da Zona Sul só existiam dois caminhos, o primeiro para quem
viesse pela Av. Niemeyer até São Conrado, passaria pela sinuosa estrada do
Joá, e o segundo era pela Marquês de São Vicente, e depois pela íngreme
estrada da Gávea, com as famosas “Curvas do S”, famosas na época das
corridas de Baratinhas (fórmula 1), hoje tomada pela Rocinha. A partir da Zona
Norte, também existiam duas opões, a Estrada do Alto da Boa Vista e a
Estrada de Jacarepaguá até o final da Estrada de Três Rios.
Ao lado da ponte sobre a Lagoa da Tijuca, encontrávamos uma ponte em
precárias condições e maltratada, local com poucas casas, a Itatupã, hoje
Olegário Maciel, que em linha reta conduzia até a praia deserta. Vencidas as
dificuldades e distâncias, bem em frente a ponte e na encosta do Morro
Focinho de Cavalo, situava-se o primeiro hotel construído na região, o Hotel e
Bar Chafariz, sem grandes atrativos arquitetônicos mas de longe via-se o mar.
Outros bares como o Dina Bar, Boate Corsário, o Flamingo, eram atrações da
região. No início, situavam-se os precursores dos atuais Motéis “suspeitos”,
como por exemplo, o Seventy Seven, o Praia Linda hoje um prédio de três
pavimentos, um hotel simplesmente comportado o Luar das Rosa que acabou,
o Dunas que ainda existe na Avenida das Américas, e o Gravatá na Praça José
Bernardino. Hoje na chamada Barrinha existem diversos Motéis famosos.
A grande área, chamada de “Planície dos Onze Engenhos”, era usada para
plantio de cana de açúcar, mas com o fim da escravatura as terras foram
negociadas para os grandes empreendedores de terras para loteamento. O
desenvolvimento da região foi lento após o fim da cana de açúcar. Passou a ter
uma atividade apreciável de Anil, pelos Padres, devido a abundância de
Anileira Verdadeira na região (vide Largo do Anil), que macerada e imersa em
água fermentava, e depois de sofrer oxidação produzia o índigo, pigmento azul
usado para fabricar tintas azuis e colorir tecidos.
Interessante é observarmos que os tecidos da época colonial tinham todos uma
coloração avermelhado, devido á obtenção de tintas através do Pau Brasil (Pau
Tinta), e que não podiam ser lavados, pois perdiam a cor, daí o cheiro
79proveniente da falta de lavagem, com a fabricação do Anil, tudo mudou, pois os
tecidos podiam ser lavados sem problemas.
Aos poucos a região foi sendo ocupada, e a população, ainda pequena, vivia
dos fortes recursos naturais, e da pesca do peixe e do jacaré (jacaré Tinguá -
vide Jacarepaguá). O peixe passou a ser comercializado na vizinhança como
Irajá e Engenho Novo, para onde eram conduzidos por Pompeiros vendedores
ambulantes de peixes e aves que os conduziam em lombo de burros, os
carvões que serviu por algum tempo, na época da guerra, para os automóveis
de gasogênio, e os tamancos que na época foram o que hoje são as sandálias.
Algumas das ruas antigas, assim como boa parte dos acidentes geográfica,
tem seus nomes originários de idioma indígena, como por exemplo:
TIJUCA corruptela de tey yue, vereda, caminho da estrada que os Tamoios
usavam para atravessarem a montanha em busca do litoral, ou ty yui, água
podre, brejo.
JOATINGA, yuá, limosa, tinga, esbranquiçada.
SERNAMBETIBA: cururiamby semambis, sítio de peixes.
CAMORI ( a Lagoa), parece derivada de mury,pequena mosca ou mosquito
encontrado no local de águas paradas, faz sentido, pois hoje o local é infestado
de mosquitos.
MARAPENDI: mbara pendy, lagoa carcomida, daí lagoa de margens
carcomidas, cheia de manguezais.
JACAREPAGUÁ; uacaré upa guá, vale dos jacarés.
Algumas curiosidades:
• Até 1933, a grande atração era o Circuito da Gávea, uma prova de rua,
onde era impossível a cobrança de ingressos. O custo da vinda de
pilotos era muito alto, o que acabou por inviabilizar o evento. O circuito
se desenvolvia através da avenida do Canal (Avenida Visconde de
Albuquerque), Marques de São Vicente, Estrada da Gávea (Curvas do
S), e desciam pela Avenida Niemeyer. Em 1957, foi tentada a
ressurreição da prova, nas alamedas da Quinta da Boa Vista, mas
mesmo assim foi difícil a burla pelo pagamento de ingressos. O
Automóvel Clube tempo reviver as corridas nas ruas da Barra, no trecho,
recém asfaltado, na época, compreendido nas atuais Avenidas Olegário
80Maciel, Armando Lombardi, Rua Rodolfo Amoedo, Praça São Perpetuo
(Praça do Ó), e Avenida Sernambetiba.
• Lá pelos idos de 1950, a Barra ainda era um local deserto, tão ermo que
uma das grandes empresas de Hollywood, veio ambientar na imensidão
quase abandonada da Baixada de Jacarepaguá um filme de Tarzan, que
tinha entre outros protagonistas, José Lewgoy.
• Em 1952, a revista O Cruzeiro, dava conta, inclusive com fotos, da
presença de um Disco Voador sobre os céus da Barra.
• Na década de 60, a área foi cogitada para reforma agrária.
• Tentando equilibrar a expansão da cidade, foi organizado o Plano Piloto
da barra de autoria de Lúcio Costa, que, apesar de não estar todo
definido, conseguia determinar um padrão para a região.
10. 4 JACAREPAGUÁ
UACARÉ UPA-GUÁ.
O cenário natural da região é marcado pela Baixada de Jacarepaguá,
abrangendo o bairro de Jacarepaguá. Já houve tempo em que toda essa
baixada era parte de uma enseada de mar, onde os morros do Amorim,
Rangel, Urubu e Pedra do Itaúna, alem do Pontal de Sernambetiba, eram ilhas
oceânicas. A Baixada de Jacarepaguá é formada pelos depósitos do mar e
pelo material trazido das montanhas pelos rios e enxurradas. Os últimos
vestígios do mar estão nas inúmeras lagoas que recebem os inúmeros rios e
canais provenientes das serras.
A colonização da região no início do século XVII se deve ao fato de que duas
sesmarias, abrangendo essas terras foram doadas á família dos Correas de
Sá. Em 1661, foi criada a paróquia de Nossa Senhora do Loreto, que se
transformou na freguesia, nome que passou a ser conhecida a região. No
século XVIII já se registravam muitos engenhos de açúcar e aguardente,
plantações de mandioca e banana. No século XIX, o café também marcou sua
presença em Jacarepaguá, o que deu a oportunidade do aparecimento de um
grande proprietário o Barão de Taquara No bairro sobrevivem os antigos
templos, a Capela de São Gonçalo do Amarante (1625), pertencente ao
81Engenho do Camorim, de Gonçalo Correa de Sá, a Igreja de N.S. da Pena, a
Igrejinha de N.S. do Monserrate, a casa-grande e a capela das Fazendas da
Taquara, Camorim, Curicica, Vargem Pequena e Vargem Grande. Alguns
nomes ainda perduram como a atual Praça Seca corruptela de Asseca, o nome
Tanque, local onde os antigos tropeiros paravam para dar água para os
animais.
10.5 CONCLUSÃO.
“Após a expulsão dos franceses em 1567, a vila fortificada, situada entre os
morros Cara de Cão e Pão de Açúcar, foi transferida para o Morro do Castelo,
tendo em vista as excepcionais condições de defesa oferecidas pelo local,
ilhadas por lagoas e pântanos e dominando a Baia de Guanabara.
Ultrapassada a fase militar de ocupação. O local se tornou inadequado, com
um acesso penoso e área disponível para o desenvolvimento reduzida. Ainda
no século XVII, a cidade expandiu-se pelas encostas do Morro do Castelo e
pela” várzea “, a atual Praça Quinze de Novembro. A partir daí os alagados ao
redor do Morro foram sendo ocupados, o que determinou o traçado estreito das
ruas, com as vias principais contornando sinuosamente as elevações
existentes. Para evitar os alagados, diversos outros morros foram sendo
ocupados, particularmente pelas ordens religiosas, destacando os Beneditinos
(morro de São Bento), e os Franciscanos (morro de Santo Antônio). Assim o
desenvolvimento do Rio se fez entre quatro Morros, o do Castelo, São Bento,
Santo Antônio e morro da Conceição. O mar atingia as regiões da Candelária,
Rua Primeiro de Março, Igreja de Santa Luzia e Passeio Público.
A primeira artéria do núcleo nascente, a chamada cidade baixa, foi a Praia
Manuel Brito, que ia do Morro do Castelo até o Morro de São Bento, e que
depois tomou o nome de Rua Direita, e hoje Rua Primeiro de Março.
Ainda no século XVI, a expansão do cultivo da cana de açúcar nas terras do
interior, fez a função portuária do Rio de Janeiro, tornar-se mais importante do
que a defensiva (invasões). Levando ao rápido deslocamento do centro
econômico do morro para a praia, onde se embarcavam as mercadorias, o que
fez o centro administrativo e o religioso se desenvolverem para fazer face ao
82crescimento, tendo em vista a exportação e importação. A Rua Direita (Rua
Primeiro de Março) surgiu assim, como o grande eixo do centro urbano,
posição que ocupou até o início do século XX.
No século XVIII, começou a surgir uma nova cidade, com os Vice-Reis, o
abastecimento de água foi resolvido com a água do Rio Carioca pelo Aqueduto
da Lapa, a construção do Palácio dos Governadores (Paço Imperial), o aterro
da Lagoa do Boqueirão (Passeio Público). Com a vinda da Família Real em
1808, para o Rio de Janeiro, a atmosfera colonial da cidade se transforma sob
a influência da Missão Artística Francesa (1816), fato que desenvolveu um
surto de modernização para a cidade.O estilo colonial, representado pelos
casarios baixos, com paredes espessas, varandas com treliças, gradis e ruelas
estreitas, começou a ser, lentamente substituída pela atmosfera francesa, onde
apareceram as construções monumentais com pé direito mais alto, fachadas
decoradas, ruas mais largas, processo esse que se estendeu até o início do
século XX. Com a ida da Família Real para São Cristóvão, os Campos da
Cidade (Largo de S. Francisco - Praça Tiradentes), começaram a se
desenvolver, e a divisória da cidade que era a Rua Uruguaiana desapareceu, e
a cidade começou a se desenvolver para a Zona Sul e Norte “. (Rio de Janeiro
– Cidade Estado- Guia Turismo – Michelin)”.
E aos poucos a cidade procurou seus caminhos e foi se desenvolvendo, o que
acabou formando a bela história calcada em diversos atos como Vinda da
Família Real, Abertura dos Portos as Nações Amigas, o Dia do Fico,
Independência, Abolição da Escravatura, e Proclamação da República. Daí
para frente, com as reformas impostas por Pereira Passos, como a Avenida
Central, a Avenida Beira Mar, a ocupação de Botafogo, a Urca, e a
necessidade de abertura de Túneis, o Rio foi se expandindo, e a poluição das
praias do centro fizeram a procura por “Novos Mares”, e presenciamos o
desenvolvimento de Copacabana, Ipanema, Leblon, São Conrado, Barra da
Tijuca, Recreio dos Bandeirantes até chegarmos a outra ponta, Jacarepaguá. E
assim formamos nossa História, nossas Estórias e Lendas.
83
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MUSEUS E BIBLIOTECAS.
Museu de Arte Moderna. MAM. Rj. Av. Infante Dom Henrique 85. Parque do
Flamengo. RJ.
Museu Botânico. Rua Jardim Botânico 1,008. RJ.
Museu Histórico e Diplomático. Palácio Itamaraty. Av. Marechal Floriano 196.
RJ.
Museu Histórico Nacional. Praça Marechal âncora s/nº. Centro. RJ.
Museu da Imagem e do Som. Praça Rui Barbosa 1. Centro, RJ.
Museu da Irmandade de N.S. da Glória do Outeiro. Praça N.S. da Glória 135.
Glória. Rj.
Museu Nacional. Quinta da Boa Vista s/nº. São Cristóvão. RJ.
Museu Nacional de Belas Artes. Av. Rio Branco 199. Centro. RJ.
Museu da República. Rua do Catete 153. Catete. RJ.
Biblioteca Nacional. Av. Rio Branco 219. Centro. RJ.
Biblioteca Popular de Copacabana. AV. N.S. de Copacabana 817/10º.
Copacabana. RJ.
Biblioteca do Centro Cultural do Banco do Brasil. Rua Primeiro de Março 66/5º.
Centro. RJ.
Real Gabinete Português de Leitura; Rua Luiz de Camões 30. Centro. RJ.
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ÍNDICE
• Resumo.
• Metodologia.
• Objetivos.
• Prologo
• Índice de assuntos.
A História e seus Capítulos.
Capítulo I.
• Tudo era o início.Quem foi que chegou primeiro? A
descoberta. Século XVI.
1.1 Um pedaço da França. A França Antártica.
1.2 Portugal reage pelo seu direito. A reação de Portugal.
1.3 Marco da fundação do Rio de Janeiro.
Capitulo II
Em terra sem dono... E todos queriam um pedaço.
2.1 Jean François Duclerc – Setembro de 1710.
2.2 Primeiro seqüestro que deu certo. Duguay Trauin – Setembro
de 1711.
Capitulo III
• O Rio se transforma.
3.1 E tudo cresceu. O Morro que desapareceu. O Morro do
Castelo.
3.2 O Rio vai crescendo.
3.3 Cresce o caminho do povo. A Cidade se espalha.
3.4 No início tudo era charco. As Lagoas.
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Capitulo V.
• O poder da Igreja.
4.1 As Ordens Religiosas.
4.2 E o tesouro escondido dos Jesuítas?
4.3 Os Beneditinos.
4.4 Os Carmelitas.
4.5 Os Franciscanos.
Capitulo V
• Chegam o poder e os donos das terras. Chegada da Corte
Real de Portugal.
5.1 Vale trazer tudo para o consumo. A abertura dos Portos.
5.2 Carta Régia. Abertura dos Portos brasileiros ás Nações
amigas.
Capitulo VI
• Idas e vindas da Catedral. Um caminho da Catedral.
Capitulo VII
• Algumas histórias de uma época.
7.1 Falta do precioso líquido. Água. Abastecimento de água do
Rio de Janeiro.
7.2 Fiscalizar é preciso. Ilha Fiscal.
7.3 Igreja dos olhos azuis. Igreja de Santa Luzia.
7.4 Era uma Lagoa poluída e suja. O amor de um homem a
transformou no Passeio Público.
7.5 Rua das Belas Noites. Rua do Passeio.
7.6 Sentinela do Silêncio. Igreja do Outeiro da Glória.
7.7 A devoção do povo para quebrar a monotonia. As pequenas
Ermidas.
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897.8 A alegria das Freiras do Silêncio. Convento da Ajuda.
7.9 Confeitaria de Lourenço Fallas. O nosso primeiro sorvete.
Capitulo VIII
• Cari – Oca – A casa do branco e outras lendas. O Morro da
Viúva e Praia do Flamengo.
8.1 E ficou um lugar de passagem. Praia de Botafogo.
8.2 Sua história se confunde com a do Rio. Urca e Praia da
Saudade.
8.3 Um símbolo de nossa terra. O Pão de Aguçar. Praia
Vermelha.
8.4 A Floresta da Tijuca. O Cristo no Pão de Açúcar? O Cristo
Redentor.
Capitulo IX
• E passamos os túneis - Um passeio pela Orla do Rio. E
nasce a Princesinha do Mar. Kjopack Kauana –
Copacabana
9.1 E porque não falarmos de Mère Louise? Vamos descansar
que ninguém é de ferro. A Casa – “Hotel” – de Mère Louise.
9.2 O caminho dos “Pretos Quebra – Bolos”. O Bairro do Leme.
9.3 Água ruim para banho e pesca. Praia de Ipanema.
9.4 Vamos ver as baleias. Pedra do Arpoador.
9.5 Charles Leblon. A quem devemos o nome “Leblon”.
9.6 Um filme que deu o nome. Jardim de Alah.
9.7 Horto Real. Real Jardim Botânico. Jardim Botânico.
9.8 Sacopenapã – Praia Batida pelos Socós. A Lagoa Rodrigo de
Freitas.
9.9 E lá existia uma fonte de água cristalina. Fonte da Saudade.
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90Capitulo X.
• O Caminho do Céu. Avenida Niemeyer.
10.1 São Conrado. Conrado Niemeyer.
10.2 Ponta dos Anchois. Chegamos ao Joá.
10.3 Barra da Tijuca. Recreio dos Bandeirantes.
10.4 Jacarepaguá. Uacaré Upa – Guá.
10.5 Conclusão.
• Referências Bibliográficas.
• Museus e Bibliotecas.
• Índice
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JORGE MITIDIERI
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes
Pós Graduação “Lato Senso” Projeto Vez do Mestre.
Título da Monografia: Um Caminho Turístico pelas Histórias, Estórias e
lendas do Rio de Janeiro.
(A educação como aprimoramento para o Guia de Turismo).
Autor: Jorge Mitidieri
Data da entrega: 04 de março de 2004.
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Conceito Final: