UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · perguntas e respostas para elucidar algumas...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ALFABETIZAÇÃO FINANCEIRA NA FORMAÇÃO
EDUCACIONAL
Por: Carolina Silva Cardoso Souza
Orientador
Prof. Ana Claudia Morrissy
Rio de Janeiro
2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ALFABETIZAÇÃO FINANCEIRA NA FORMAÇÃO
EDUCACIONAL
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Gestão em Instituição
Financeira.
Por: Carolina Silva Cardoso Souza
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, o princípio de tudo,
e ao meu filho Antônio, razão da minha
luta.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho especialmente aos
professores que se formaram comigo, e
que ainda lutam pelos seus alunos, ao
meu marido grande companheiro e à
minha irmã de coração Adriana que
sempre me incentivou.
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RESUMO
Todos fomos educados para conviver com outras pessoas em
sociedade, seja em casa ou no trabalho. Todos recebemos, de uma forma ou
de outra, uma educação formal na escola, que muito nos ajuda a compreender
o mundo em que vivemos. Todos nós, enfim, possuímos uma formação cultural
e profissional, mas que nem sempre envolve a educação financeira.
Essa carência na nossa educação tem consequências sérias porque os
cidadãos brasileiros não fazem o planejamento orçamentário e não tem
consciência dos seus limites, principalmente quando se depende do salário
para viver.
O currículo escolar tem ou deveria ter como objetivo preparar cidadãos
para a vida e a educação financeira nas escolas é essencial para que o
cidadão cresça com menos preocupações geradas pela falta de reservas
financeiras, para que ele tenha maior autonomia nas decisões, para que possa
planejar o futuro e de seus filhos e ainda promover a riqueza do Brasil.
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METODOLOGIA
Esta pesquisa baseou-se em métodos bibliográficos como leitura de
livros, revistas, jornais, internet e teve grande embasamento em opiniões de
economistas renomados e profissionais da educação, por se tratar de um tema
que a mídia tem dado grande atenção, já que famílias brasileiras estão
buscando cada vez mais entender de assuntos como investimentos, ações,
imóveis, enfim, independência financeira ou alfabetização financeira.
A pesquisa de campo realizada neste trabalho consistiu em entrar em
contato com diversas instituições educacionais de níveis diferentes e de
diferentes regiões do Brasil, focando principalmente o Rio de Janeiro. Foram
feitos contatos pessoais e outros via e-mail, algumas instituições não se
pronunciaram sobre as perguntas propostas.
Enfim, neste trabalho o leitor encontrará um grande estímulo para
divulgar o poder que o conhecimento de finanças pessoais pode ter se for
ensinada desde o nível escolar mais básico.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 8
CAPÍTULO I – A ORIGEM DO PROBLEMA ....................................................... 9
1.1 - Por que os cidadãos brasileiros não fazem o planejamento orçamentário? ................................................................................................ 11
CAPÍTULO II - PROBLEMATIZAÇÃO DO ENSINO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA ................................................................................................... 13
2.1 – Mobilização e iniciativas reais sobre o ensino de educação financeira nas escolas ................................................................................................... 14
CAPÍTULO III – PESQUISA DE CAMPO ......................................................... 18
CAPÍTULO IV – PROJETOS DIDÁTICOS ....................................................... 20
4.1 – Plano de aula para Educação Infantil ................................................... 21
4.2 – Plano de aula para 8° e 9° anos – Ensino Fundamental ...................... 24
4.3 – Adultos mais preparados – Ensino Médio ............................................. 34
CAPÍTULO V – ANALFABESTIMO FUNCIONAL X ANALFABETISMO FINANCEIRO ................................................................................................... 39
CONCLUSÃO .................................................................................................. 41
ANEXOS .......................................................................................................... 42
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 54
ÍNDICE ............................................................................................................. 56
8
INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa demonstrar a importância do ensino de
educação financeira, desde os níveis mais elementares ao acadêmico, como
ferramenta para a formação de adultos mais preparados.
Tal propósito baseia-se na utilidade que o planejamento orçamentário
apresenta na vida financeira e como um meio fundamental diante de decisões
sobre dinheiro. Montar o orçamento doméstico, fazer previsão de gastos ou de
quanto se pode economizar e saber como investir o que se poupa são
conhecimentos financeiros essenciais para melhorar a qualidade de vida e que
não se aprende na escola ou faculdade.
Nesse trabalho serão apresentados alguns dados, tendo o apoio de
diversos autores, que confirmarão que a educação financeira pode e deve ser
apresentado ao aluno desde o seu aprendizado mais elementar e como está
esse processo nas escolas brasileiras.
Assim, serão sugeridos projetos didáticos para o ensino de finanças nas
escolas a partir da alfabetização das crianças. Assim como existe o
analfabetismo funcional e estudos sobre como formar leitores e escritores
plenos, existe também o analfabetismo financeiro, o motivo deste estudo.
Pretende-se com este trabalho apresentar a relevância da alfabetização
financeira e como o aprendizado sobre finanças desde a infância certamente
poderá não só ajudar futuros cidadãos a entender e manejar melhor o que
possui ou deseja possuir, como também mudar o futuro do Brasil.
9
CAPÍTULO I
A ORIGEM DO PROBLEMA
Por que a educação financeira ainda não faz parte do currículo escolar
básico das escolas brasileiras? Segundo o especialista em educação financeira
Álvaro Modernell, o principal motivo é o histórico do governo brasileiro,
especificamente o período inflacionário.
A realidade de uma economia estável é novidade na cultura brasileira. O
professor, como todo brasileiro adulto, não recebeu formação financeira na
infância, viveram uma economia que não se compara à de hoje.
No Brasil, historicamente a inflação era incontrolável. Foram várias
tentativas para tentar erradicá-la. O Plano Cruzado e a criação de uma nova
moeda, o Cruzado, no governo José Sarney. O Plano Bresser do Ministro da
Fazenda Luiz Carlos Bresser e o Plano Verão, feito em 1989.
Em 1990, o Plano Collor instituído pelo governo Fernando Collor de
Melo, criou outra moeda, o Cruzeiro. Este Plano, como os anteriores, não foi
um sucesso e ainda confiscou os recursos monetários depositados nas contas
bancárias e adotou a desindexação dos salários e preços. No ano seguinte, foi
instituído o Plano Collor II, mas os preços continuaram elevados e a sociedade
brasileira cada vez mais transtornada.
Enfim, em 1994, o governo Itamar Franco e seu Ministro da Fazenda,
Fernando Henrique Cardoso, criaram o Plano Real e uma nova moeda, o Real.
Só a partir daí que a inflação passou a ser finalmente controlada e a memória
inflacionária dos brasileiros aos poucos apagada.
Gustavo Cerbaci, consultor financeiro, confirma Álvaro Modernell e
explica porque os adultos de hoje não sabem lidar com o dinheiro:
10
“... Seus pais, avós de seus filhos, não tinham condições
de lhe ensinar muita coisa sobre planejamento financeiro,
pois viveram a maior parte da vida em uma realidade bem
diferente da de hoje. Antes da década de 1980, o forte
crescimento das cidades brasileiras fazia da aquisição de
imóveis uma regra universal para enriquecer. Após esse
período, a sociedade brasileira mergulhou num ambiente
de inflação fora de controle, época em que um trabalhador
não tinha como prever qual seria o seu salário no mês
seguinte. Seus pais não podiam ensiná-lo a confiar em
bancos, pois o sistema brasileiro era muito mais frágil até
1999, quando foram instituídas regras rígidas para limitar
o risco daquelas instituições.” (Pais Inteligentes
Enriquecem Seus Filhos, 2011, p.19).
As regras rígidas que Gustavo Cerbaci se refere são as metas anuais
para a inflação. No Brasil, o Banco Central é o responsável pelo cumprimento
desta meta e o índice de preços oficial, para o acompanhamento é o IPCA da
FIBGE.
Sendo assim, como era possível fazer planejamento financeiro numa
época tão conturbada da economia brasileira? Os adultos de hoje cresceram
num ambiente inflacionário e não foram preparados para lidar com o dinheiro.
Foram aprendendo através de escolhas, certas ou erradas, durante o curso da
vida.
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1.1 – Por que os cidadãos brasileiros não fazem o planejamento
orçamentário?
Assim como se concluiu no parágrafo acima que era impossível fazer
planejamento financeiro num ambiente inflacionário, as escolas por sua vez
não tinham estímulo para inserir a educação financeira em seus currículos.
Muitos engenheiros, advogados, professores e médicos nunca tiveram a
oportunidade de conhecer sequer matemática financeira. Esses profissionais,
embora sejam muito bem capacitados profissionalmente, acabam errando
bastante em escolhas de consumo, de financiamentos ou de investimentos.
A realidade é que um currículo escolar deveria ter como objetivo
preparar futuros cidadãos para a vida. Deveria porque na prática isso não
acontece. Um profissional que cresceu numa economia instável precisa saber
tanto sobre os planos mentirosos dos juros de um financiamento de automóvel,
por exemplo, quanto sobre os métodos para resolver uma equação com
logaritmos.
Atualmente a realidade é outra, a economia é estável e os brasileiros
estão começando a aprender os benefícios do planejamento orçamentário.
Sem ele, não é possível antecipar-se aos problemas e sem tempo hábil fica
difícil tomar decisões corretas.
Assim, complementando a pergunta deste tópico, será feito um jogo de
perguntas e respostas para elucidar algumas dúvidas.
Pergunta-se:
I. Qual a importância do ensino de educação financeira na escola?
12
Ensinada desde os níveis de ensino mais elementares, ela desenvolve
no aluno o interesse em gerenciar seus próprios recursos prometendo um
futuro avanço do Brasil na economia.
II. Como ensiná-la na escola?
Há várias maneiras de implantá-la na escola, mas basicamente pode-se
começar pela importância de traçar um objetivo de uso das economias de
mesada, cofrinho e até mesmo presentes de aniversário que são dados em
espécie.
III. Há alguma problemática no ensino de educação financeira?
Sim. E para complementar tal resposta a partir de agora será mostrado
que tipo de problema é este, como solucioná-lo e quais os tipos de ferramentas
poderão ser usadas para o ensino de educação financeira.
13
CAPÍTULO II
PROBLEMATIZAÇÃO DO ENSINO DE EDUCAÇÃO
FINANCEIRA
O problema verificado no ensino de educação financeira é simplesmente
o não se ensinar educação financeira nas escolas, agregado a este problema
estão os professores que desconhecem tal formação, e a importância de seu
ensino para o futuro das crianças, poucos livros didáticos que abordam tal
assunto e outros que abordam de maneira ineficiente.
Em entrevista à Você S.A, o professor Lawrence Harrison, diretor da
Escola de Relações Internacionais da Tufts University, em Massachusetts, fala
do hábito brasileiro de reclamar da falta de dinheiro e aponta a carência da
educação no nosso país, na íntegra no anexo 2:
“... Em democracias avançadas, 70% a 90% dos adultos
têm pelo menos o Ensino Médio completo. Na América
Latina, esse número só passa de 50% no Chile. No Brasil,
em 2010, esse número era de 20%.” (Você S.A, 2012,
p.79).
Entretanto, não faltam iniciativas reais para o desenvolvimento
econômico do Brasil através da educação financeira, que pode pôr fim ao
analfabetismo financeiro e como Gustavo Cerbasi diz: “Uma notável
transformação na realidade de consumo dos brasileiros está prestes a
acontecer”.
14
2.1 – Mobilização e iniciativas reais sobre o ensino de educação
financeira nas escolas
O economista e professor Luis Carlos Ewald defende que o ensino de
educação financeira seja feito desde cedo e que a “semente” já está plantada
no Brasil. Em entrevista à Revista Impressão Pedagógica, veja na íntegra no
anexo 2, ele diz:
“... Eu dei um porquinho, desses de guardar moedas,
para a minha neta quando ela tinha quase 4 anos. Cada
vez que ela encontrava alguém da família, pedia uma
moeda de R$1,00. Ao final de um período, ela conseguiu
guardar R$110,00 e comprou a bicicleta que queria. A
partir de 4 ou 5 anos, a criança já consegue entender a
recompensa que virá depois.
Já existem iniciativas muito interessantes, até mesmo em
escolas públicas, que dividem a educação financeira
principalmente entre as disciplinas de História, Geografia
e Matemática. Assim o ensino não fica maçante e tedioso.
Em cada uma delas, o aluno aprende aspectos diferentes,
como o uso do dinheiro, o comportamento social e o
consumo. Algumas universidades já estão colocando na
grade letiva palestras sobre planejamento financeiro,
renda variável, investimento e mercado de ações. Mas
tudo ainda é muito embrionário.” (Impressão Pedagógica,
2011, p.05).
O governo, consciente da evolução econômica do Brasil, visou a
importância da população acompanhar esse processo evolutivo e em
dezembro de 2010 instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira
(ENEF), através do Decreto nº 7.397 (vide anexo 3).
15
“... Consciente da necessidade de fomentar a cultura
financeira no país, o governo brasileiro constituiu, em
novembro de 2007, um grupo de trabalho com
representantes do Banco Central do Brasil, da Comissão
de Valores Mobiliários (CVM), coordenadora do GT, da
Secretaria de Previdência Complementar (SPC) e da
Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), para
desenvolver uma proposição de Estratégia Nacional de
Educação Financeira, prevendo a promoção de um
inventário nacional de ações e de projetos de Educação
Financeira no país, além de uma pesquisa que mapeie o
grau de conhecimento financeiro da população brasileira.”
(www.vidaedinheiro.gov.br/enef)
Em 2011 foi finalizado o estudo-piloto da Estratégia Nacional de
Educação Financeira que foi uma ação promovida com alunos de cerca de 900
escolas brasileiras para levar a educação financeira às salas de aula, e
concluiu que o ensino da disciplina Educação Financeira é transformador na
vida dos alunos e de suas famílias, conforme dados da reportagem de Marcelo
Almeida, do Folha.com em 11/06/2012, presentes na Figura 1 a seguir:
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Figura 1 Evolução dos Alunos em Competências Básicas
Podemos notar que, em dezembro de 2011, 51% dos alunos que não
tiveram aula (grupo controle) disseram ter intenção de poupar. Esse mesmo
percentual chegou a 53% entre os jovens escolhidos para o projeto (grupo
tratado).
Já o percentual de alunos que poupa, segundo o quadro acima, subiu de
58% em agosto de 2010 para 59% em dezembro de 2011.
Arianna Legovine, diretora do Banco Mundial e responsável pela
coordenação da pesquisa, em matéria do Globo Online conclui:
17
“... Para quem não acompanha de perto este tema, o
percentual de crescimento depois das aulas pode parecer
pequeno, mas o volume é maior que qualquer outro lugar
do continente sul-americano. (...) Em um país no qual a
poupança é equivalente a 18% do PIB (Produto Interno
Bruto), se 1% a mais da população poupasse, o
incremento seria muito bom, muito grande.”
(O Globo Online,11/06/2012).
E assim, a disciplina Educação Financeira passará a ser incluída em
todas as escolas públicas, do 2° ao 9° ano, de forma não obrigatória no
currículo básico e com material e programa de qualificação de professores. Um
bom começo para o futuro do brasileiro.
18
CAPÍTULO III
PESQUISA DE CAMPO
A problematização do ensino de educação financeira mencionada neste
trabalho é originada a partir de uma pesquisa de campo que consistiu em
entrar em contato com diversas instituições educacionais de níveis diferentes e
de diferentes regiões do Brasil. Foram feitos contatos pessoais e outros via e-
mail, algumas instituições não se pronunciaram sobre as perguntas propostas
que basicamente se dividiam em duas, são elas:
I. Ministra-se educação financeira?
II. Em caso de resposta afirmativa se usa livro didático para tal.
Abaixo o quadro que ilustra a pesquisa:
CIDADE INTITUIÇÃO EDUCACIONAL ENSINA
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
USA LIVRO
DIDÁTICO
NITERÓI INSTITUTO CASTANHEIRA N N
NITERÓI COLÉGIO PEDRO II (ENS. MÉDIO) S N
JUIZ DE FORA E.E. CEL. MANUEL CARNEIRO S N
SÃO PAULO E.E. CANUTO DO VAL S N
SÃO PAULO COLÉGIO ENCANTO JUVENIL S N
RIO DE JANEIRO COLÉGIO MAX NORDAU S N
BRASÍLIA COLÉGIO CIMAN S N
RIO DE JANEIRO C.C. LEMOS CUNHA N N
RIO DE JANEIRO SEME N N
MARICÁ SANTA MÔNICA C.E. N N
BELO HORIZONTE CABH S N
NITERÓI COLÉGIO SÃO VICENTE N N
NITERÓI COLÉGIO SININHO DE OURO N N
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Basicamente, a pesquisa mostra que seis das treze instituições não
ensinam educação financeira e que sete ensinam, e também que nenhuma das
que ensinam usam qualquer tipo de livro didático.
Desta forma, tal pesquisa ratifica que o problema de se ensinar
educação financeira está começando entrar na realidade das escolas
brasileiras, principalmente nas escolas públicas devido a iniciativas como a
ENEF vista no capítulo anterior.
Colégios como o Instituto Castanheira e Sininho de Ouro, em Niterói,
que não ensinam educação financeira, mostraram-se interessadas em
implantar em sala de aula este tema no currículo de seus alunos. Métodos da
cientista política Cássia D’Aquino Filocre, por exemplo, que veremos no
capítulo a seguir, foram muito bem aceitos nessas duas instituições de ensino.
Se todas as escolas se interessassem em adotar a educação financeira como
parte de seus currículos, os pais certamente se estimulariam a tocar nesse
assunto em casa, principalmente com as crianças menores, e esse tipo de
conhecimento se disseminaria facilmente para outras instituições e entre pais e
filhos.
20
CAPÍTULO IV
PROJETOS DIDÁTICOS
Foram selecionados três projetos didáticos que visam instrumentalizar o
professor no ensino de educação financeira, da educação infantil ao ensino
médio. Os três projetos são planos de aula apresentados pela Revista Nova
Escola.
Podemos apontar nesses três projetos dois importantes pontos em
comum. A interdisciplinaridade que o trabalho com a educação financeira pode
proporcionar numa sala de aula, já que através desses planos de aula a
educação financeira pode ser trabalhada por outras disciplinas em conjunto
com a disciplina de Matemática. Além do mesmo objetivo de levar para casa os
conceitos sobre o mundo das finanças, já que através de famílias hipotéticas,
os alunos aprendem a lidar com situações cotidianas.
21
4.1 – Plano de aula para a Educação Infantil
Em Pai rico, pai pobre, Robert Kiyosaki e Sharon Lechter confirmam o
tema deste trabalho porque afirmam que os jovens saem da escola
completamente analfabetos financeiros, despreparados para enfrentar um
mundo que dá mais importância à despesa do que à poupança.
Os autores apontam que as boas escolhas financeiras feitas quando
adultos só são possíveis quando se ensina a construir sólidos alicerces ainda
crianças.
“Agora vejamos, a contabilidade é possivelmente um dos
assuntos mais áridos do mundo. E pode também ser o
mais confuso. Mas se você quiser ser rico, pode ser o
assunto mais importante. A questão é, como pegar um
tema entediante e confuso e ensiná-lo a crianças? A
resposta é: simplifique. Comece por ensiná-lo por meio de
figuras.”
(Pai Rico, pai pobre: o que os ricos ensinam a seus filhos
sobre dinheiro, 2000, p.62).
É exatamente o que se faz em duas escolas de São Paulo, Pacaembu,
escola particular paulistana e Dr. João Franco de Godoy, escola municipal,
segundo matéria publicada na Revista Nova Escola, por Adriana Vera e Silva,
em setembro de 1999. Veremos a seguir exemplos de trabalhos realizados por
duas profissionais em busca do mesmo fim: educação financeira para as
crianças.
Na Pacaembu a educação financeira faz parte do currículo dos alunos
de 2 a 10 anos. A cientista política Cássia D’Aquino Filocre inventou um
programa com dezenas de atividades didáticas que são aplicadas nesta escola
particular. Um deles é um jogo em que os alunos do segundo ao quarto ano
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opinam sobre situações que envolvem ética com o objetivo de ensinar a lidar
com o dinheiro considerando a dignidade e o respeito aos outros.
Os professores utilizam cartões coloridos com questões baseadas em
situações hipotéticas e cada aluno dá a sua opinião, oralmente ou por escrito.
Algumas questões do jogo:
I. Um parque de diversões está dando desconto para crianças com até
8 anos. Você tem 10 anos, mas fácil, fácil passa por 8. Você finge ter
8 ou não?
II. Brincando com sua bicicleta você risca o carro do vizinho, mas
ninguém vê. O que você faz?
III. Você vê um amigo seu pegando dinheiro na mochila de outro amigo.
Você não sabe se ele está roubando. O que você faz?
IV. Você empresta 5 reais a um amigo. Ele promete pagar na semana
seguinte. Como ele não devolve seu dinheiro nessa data, você
pergunta quando ele pretende pagá-lo. Seu amigo fica muito
nervoso e diz que só vai pagar quando quiser e que, se você
perguntar de novo, ele não paga mais. O que você faz?
No pátio desta mesma escola há cartazes esclarecedores sobre os
conceitos de querer e precisar a fim de combater o consumismo. Ao lado da
palavra precisar, encontramos figuras como arroz, feijão, creme dental, papel
higiênico entre outros itens básicos. Já no outro lado, com a palavra querer, há
figuras de produtos como doces e refrigerantes.
Já na escola municipal Dr. João Franco de Godoy, a responsável em
implantar educação financeira para os alunos do segundo ano é a professora
Maria Inês Alves Módolo.
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Seus alunos querem fazer um passeio e planejam ir a uma lanchonete
que vende batatas recheadas. Como a turma de Maria Inês é formada em sua
maioria por crianças pobres, diferentemente dos alunos da escola Pacaembu, a
professora colocou na classe um cofrinho de papelão para que a turma realize
esta meta do passeio, já que não recebem mesada, e assim aprendem a
planejar um gasto a longo prazo.
O consultor financeiro Gustavo Cerbasi incentiva o uso de cofrinhos por
crianças, quando elas já conseguem associar que o ato de compra depende do
dinheiro, e não da boa vontade dos pais:
“Presentear os filhos com um cofrinho, nessa época, é tão
oportuno e excitante quanto presenteá-los com um álbum
de figurinhas. As crianças entretêm-se intensamente com
a emoção de enchê-lo um pouquinho a cada dia. Melhor
ainda se for transparente- um pote de vidro, por exemplo.
Esgotar a capacidade de um cofrinho pode ser uma
experiência marcante para infância de seus filhos.”
(Pais Inteligentes Enriquecem Seus Filhos, 2011, p.101).
Outra forma que a professora Maria Inês encontrou de ensinar sobre a
existência do dinheiro foi na aula de geografia. Montou um cartaz com uma lista
de países e o nome da moeda utilizada em cada um deles. Com um globo, a
professora mostrou a posição de cada país citado. Depois, organizou uma
exposição de notas de diferentes lugares. Os alunos cobraram ingressos de
mentirinha para que seus colegas de outras classes visitassem a exposição.
Foi estabelecida uma tabela de preços: 0,40 centavos para meninas e 0,50
para meninos. A professora distribuiu entre as crianças moedas feita de papel
com diferentes valores (de 0,10 e 0,50 e de 1 real). Alguns alunos ficaram
encarregados da cobrança. Todos os visitantes tinham que compor o valor de
seu ingresso com as moedas de papel e também precisavam conferir o troco.
24
4.2 – Plano de aula para 8° e 9° anos- Ensino fundamental
A proposta que a revista Nova Escola traz é o que já está sendo feito no
Colégio Ciman, em Brasília. São apresentados aos adolescentes temas da vida
real, como o orçamento familiar e problemas que envolvem porcentagem e
juros. Além disso, o Colégio Ciman conta com um professor do 9° ano que
trabalha em sala de aula debates sobre resoluções de questões levantadas
sobre a administração das finanças de uma família hipotética.
Veremos primeiramente exemplos de problemas que envolvem
porcentagem e juros, situações típicas do dia a dia do brasileiro e por último
algumas situações problemas na administração do orçamento de uma família
fictícia para a compreensão do funcionamento das finanças. Ambas propostas
didáticas retiradas da Revista Nova Escola, a primeira da edição de julho de
2012, p. 58 a 60 e a segunda da Revista Nova Escola on line:
I. Depois de um aumento de 15%, um televisor passou a custar R$
460. Qual era o preço do aparelho antes do aumento?
RESOLUÇÃO:
Para calcular o valor anterior do televisor, é possível usar a notação decimal.
Basta multiplicar o preço original por 1,15, como a seguir:
p + 15% de p = 460
p + 0,15p = 460
1,15p = 460
p = 400
Erro comum: Calcular 15% de 460 e subtrair o valor. A porcentagem precisa
ser determinada com base no valor desconhecido, antes do aumento.
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II. Em um ano, o preço de uma mercadoria triplicou. Qual a
porcentagem de aumento?
RESOLUÇÃO:
Uma possibilidade é usar o fator de correção. Se o preço da mercadoria é y e i
é a porcentagem de aumento, temos:
( 1+ i ) • y = 3y
y + iy = 3y
iy = 2y
i = 2, ou seja, 200%
Erro comum: Responder 300%. Quando calculamos 300% de determinado
valor, estamos, de fato, triplicando, como em 300% de 5 = (300/100) • 5 = 3 • 5
= 15. A pergunta, no entanto, refere-se ao aumento. Retomando o exemplo, ao
triplicarmos 5 e atingirmos 15, verificamos o aumento de 10, que corresponde a
200% de 5.
III. Um aparelho de telefone celular foi anunciado nas lojas A, B e C
pelo preço de R$200, diante de diferentes opções de pagamento,
conforme dispõe a tabela abaixo. Negociando, consegui um
desconto de 10% na loja A, para pagamento à vista. Se eu
considerar o valor para pagamento à vista, que me foi concedido
pela loja A, como minha referência de preço do telefone celular,
quais serão as taxas de juros (mensais) adotadas pelas lojas B e C,
no caso de alguém optar pelo pagamento em 30 dias?
Loja A Loja B Loja C
R$ 200 à vista R$ 200 à vista ou R$ 216 em 30 dias
R$ 200 à vista ou em 30 dias
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RESOLUÇÃO
Para obter o preço à vista na loja A, com o desconto, deve-se multiplicar
o valor inicial pela notação decimal do desconto de 10%.
200 • 0,9 (notação decimal referente ao desconto de 10%) = 180
Em seguida, deve-se calcular a taxa de juros praticada pelas demais
lojas, seguindo o mesmo raciocínio: multiplicar o valor oferecido pela loja A e o
fator de correção, usando como valor final o preço oferecido nos outros
estabelecimentos, na sequência:
Loja B:
180 • (1+ i) = 216
1 + i = 216 / 180
1 + i = 1,2
i = 0,2
i = 20%
Loja C
180 • (1+ i) = 200
1+ i = 200 / 180
1 + i = 1,111
i = 0,111
i = 11,11%
Assim, chega-se aos juros da loja B e da loja C.
Erro comum: Considerar que a taxa de juros da loja B é 8%, após ter feito o
cálculo sobre a referência de R$ 200.
200 • (1+ i) = 216
1 + i = 216 / 200
1 + i = 1,08
i = 0,08
i = 8%
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IV. Em uma liquidação, determinado produto teve seu preço original
reduzido em 10%. Nas compras com cheque, porém, o vendedor
decidiu aumentar o preço do produto em 10%. Comparativamente ao
preço original do produto, o que podemos afirmar sobre o último
preço dele?
RESOLUÇÃO
Se o preço original do produto é x, o preço da liquidação é (0,9) • x
(notação decimal referente ao desconto de 10%). Após o aumento de 10%
sobre o preço da liquidação, multiplica-se por 1,1 (notação decimal do
aumento).
O valor torna-se:
(1,1) • (0,9) • x = 0,99
Isso significa que o preço do produto torna-se 99% do preço original. Se
ele custasse R$100, o valor com desconto seria R$90. Um acréscimo de 10%
sobre esse preço resultaria em R$99.
(0,1 • 90) + 90 = 99
Erro comum: Entender que o preço retornou ao valor original por terem sido
dados, consecutivamente, um desconto e um acréscimo de 10%. O desconto e
o acréscimo são frações calculadas sobre valores diferentes.
V. Beto depositou R$800 na poupança, à taxa de 10% ao ano. Depois
de um ano, depositou mais R$1.120. Após mais um ano, recebeu o
montante de R$ 2.240. Qual a taxa do último período de aplicação?
RESOLUÇÃO
É possível utilizar o eixo de setas para sinalizar os diversos
depósitos ao longo do período de tempo.
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800 880 + 1 • 120=2000 2240
10% ?
Após o primeiro ano, o capital é a soma do depósito inicial com juros e
do depósito de R$1120, como descrito abaixo:
800 • 1,1 (taxa de 10% ao ano) = 880
880 + 1120 = 2000
O cálculo da taxa do último período de aplicação é obtido com a
multiplicação entre o capital resultante no primeiro ano e o fator de correção.
Veja abaixo:
2000.(1 + i) = 2240
1 + i = 2240/2000
1 + i = 1,12
i = 1,12 - 1
i = 0,12 ou seja, 12%
Erro comum: Desconsiderar o rendimento do primeiro ano, somando R$800 e
R$1120 e, em seguida, calcular os juros sobre o último valor.
Abaixo seguem situações-problemas no gerenciamento do orçamento
familiar para a compreensão dos alunos sobre o funcionamento das finanças.
Lembrando que são casos hipotéticos sugeridos pela Revista Nova Escola.
DESENVOLVIMENTO
Primeira Etapa
O desenvolvimento da capacidade de fazer escolhas fundamentadas e
informadas compreende a análise e julgamento com base em informações e
decisões efetivas. Isso é ainda mais evidente quando o assunto versa sobre o
uso e gerenciamento do dinheiro.
29
Para mobilizar os alunos promova uma discussão com a turma baseada
nas seguintes questões: "Você sabe o que é renda familiar?", "E qual a
diferença entre salário bruto e salário líquido?", "Você considera importante que
uma família planeje suas despesas?".
No momento em que os alunos expuserem suas opiniões é importante
instigá-los a justificá-las. Nessa discussão, espera-se que os estudantes
identifiquem renda familiar como a somatória dos valores recebidos pelos
membros da família e que reconheçam que uma das vantagens do
planejamento das despesas é o controle tanto do orçamento (não gastar mais
do que se ganha), quanto das emoções (não comprar tudo o que vê),
permitindo o conhecimento das reais condições financeiras para melhor
administrá-las.
Caso não seja do conhecimento da turma, explique que salário líquido é
o salário do qual já foram descontadas as contribuições obrigatórias, como a do
INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) e do IRPF (Imposto sobre a
Renda da Pessoa Física), por exemplo.
Segunda Etapa
Com os alunos mobilizados, proponha que resolvam, em duplas, a
seguinte questão:
O Senhor Gauss tem um salário líquido de R$ 1 857,32 e sua esposa,
Dona Márcia, recebe R$ 1 563,28 por mês. O Sr. Gauss e D. Márcia têm dois
filhos: Leibniz e Sofia.
Qual a renda familiar do Sr. Gauss?
30
Sabendo-se que renda familiar per capita é aquela proveniente de todos
os familiares residentes na mesma casa, dividida pela quantidade desses
componentes, determine a renda familiar per capita da família do Sr. Gauss.
Sofia concluiu o terceiro ano do Ensino Médio em uma escola pública e
almeja ingressar em uma universidade. Pesquisando na internet Sofia
encontrou a informação de que poderia requerer uma bolsa de estudos pelo
ProUni, caso ingresse em uma instituição particular de ensino superior. Se a
renda familiar per capita for de até um salário mínimo e meio ela poderá
requerer bolsa integral. Se a renda familiar per capita for de até três salários
mínimos ela poderá requerer bolsa parcial. Caso Sofia seja aprovada na
instituição de ensino superior em questão a qual das bolsas ela poderá
concorrer? Justifique sua resposta.
O Sr. Gauss está almejando uma promoção. Se isso acontecer ele terá
12% de aumento salarial. Com base nessa informação determine se haverá
alguma mudança na resposta da questão do item anterior justificando-a.
Enquanto as duplas resolvem as questões propostas, circule pela sala
tanto para acompanhar as discussões nos grupos, quanto para realizar
intervenções. Observe os registros que estão sendo realizados e verifique se
aparecem diferentes estratégias de resolução para serem compartilhadas na
discussão com todo o grupo. Por exemplo, na questão proposta no item iv há
alunos que calculam, primeiramente, o valor do aumento no salário do Sr.
Gauss e depois somam o salário antigo com esse aumento enquanto outros
alunos podem realizar um único cálculo multiplicando o salário antigo por 1,12.
Assim que os grupos concluírem, abra para o debate não só das
respostas, mas dos caminhos que os alunos utilizaram para chegar a elas.
31
Terceira Etapa
Com os alunos novamente reunidos em duplas proponha uma nova
situação. Veja, na tabela abaixo, o controle de gastos mensal da família Gauss.
Aluguel 350,00
Alimentação 900,00
Transporte coletivo/combustível 280,00
Plano de saúde familiar 432,00
Telefone fixo e celular 104,00
Internet 84,00
Aulas de Inglês do Leibniz 98,00
Água e luz 152,00
Consórcio automóvel 550,00
A sobra de salário da família é utilizada para fazer passeios culturais em
alguns finais de semana ou para algum gasto imprevisto, como o que
aconteceu no final deste mês: a geladeira da família Gauss estragou e não tem
conserto. Com isso eles tiveram que providenciar a compra de uma nova
geladeira. O produto escolhido foi pesquisado em diferentes lojas:
Loja 1: R$ 1499,00 em 12 parcelas fixas ou com 10% de desconto à
vista.
32
Loja 2: R$ 1499,00 em 12 parcelas fixas ou R$ 14,49 de desconto no
pagamento à vista.
Loja 3: R$ 1349,00 em 12 parcelas fixas ou R$ 1.254,57 no pagamento
à vista.
Após escolherem o produto a família Gauss deve optar por uma forma
de pagamento considerando suas condições financeiras. Vejam as opções
disponíveis para serem analisadas:
A - Comprar o produto a prazo.
B - Comprar o produto à vista. Nesse caso, o Sr. Gauss pegará
emprestado R$ 1000,00 do seu colega de trabalho (usando, assim a sobra do
orçamento do mês para completar o valor da geladeira). A taxa de juro
combinada foi de 2% ao mês. Ficou acertado na proposta que o juro seria
calculado sobre o saldo devedor e que o Sr. Gauss abateria da dívida R$
400,00 todo mês.
C - Comprar o produto à vista, mas nesse caso o Sr. Gauss pegará
emprestado R$ 1000,00 do Banco pagando seis parcelas fixas de R$ 182,66
que serão abatidas diretamente na sua conta corrente a cada 30 dias a partir
da contratação do empréstimo.
Considerando o exposto acima qual das opções disponíveis seu grupo
considera mais vantajoso? Não se esqueçam de justificar a escolha feita.
Enquanto os alunos estiverem realizando a atividade, circule pela sala
realizando observações e orientando as duplas quando necessário. Na
finalização dessa etapa proponha que as duplas exponham para a turma as
suas considerações em relação à justificativa escolhida. O mais importante é
promover um debate acerca das justificativas apresentadas tendo em mente
33
que administrar um orçamento familiar é fazer escolhas confrontando custos x
benefícios. Por exemplo, uma dupla pode ter escolhido como mais vantajoso
optar pela compra a prazo justificando que as prestações não serão
reajustadas, o prazo para efetuar esse pagamento é de 12 meses em
comparação com as outras opções e que a prestação assumida não
compromete consideravelmente o orçamento familiar, visto que outros
imprevistos podem ocorrer e a margem de sobra será muito pequena ao optar
por “B” ou “C”. Outro grupo poderá optar por “A” justificando ser a opção mais
vantajosa economicamente.
AVALIAÇÃO
Para analisar o que os alunos aprenderam proponha outros desafios.
Dona Márcia quer comprar um novo liquidificador. Ela tem os R$ 80,00,
mas tem que decidir entre duas opções:
A - Comprá-lo parcelado, pois assim ela paga a entrada, coloca o
restante na caderneta de poupança por um mês (considerando um rendimento
de 0,5% no mês) e depois resgata o dinheiro para pagar a outra prestação.
B - Pagar à vista.
Qual das opções é financeiramente mais viável para D. Márcia? Por
quê?
Acompanhe as duplas durante a realização de cada etapa. Observe se
os alunos participam ativamente das atividades, discutem e propõem soluções.
Verifique também se os alunos calculam o rendimento da poupança sobre R$
39,00 ao invés de R$ 80,00 como muitos alunos podem pensar. Na finalização
da atividade é esperado que os alunos reconheçam que pagar à vista o produto
é mais viável financeiramente.
34
4.3 Adultos mais preparados- Ensino Médio
A proposta que a revista Nova Escola traz é bem parecida com a
proposta do Ensino Fundamental, apresentar aos alunos conceitos de
matemática financeira por meio de situações problema que aproximam o tema
da realidade dos alunos. Será necessário uma cópia da reportagem “Por que
tudo tem um preço”, (Veja, edição 2228, 03 de agosto de 2011) para cada
aluno, vide anexo 1.
DESENVOLVIMENTO:
Primeira Aula
Comece perguntando aos alunos se eles estão familiarizados com os
termos juros, precificação e bolsa de valores e anote os comentários no
quadro. Conte a eles que as próximas três aulas serão dedicadas a uma parte
da Matemática que utiliza uma série de conceitos para analisar alternativas de
investimentos, financiamentos e empréstimos.
Uma boa estratégia é sempre preparar aula com os conceitos principais
e explorá-los fazendo relações com as vivências dos alunos. A matemática
financeira é um assunto que pode interessar muito aos jovens se relacionada
ao cotidiano dos estudantes.
Explique aos alunos que os conceitos da matemática financeira estão
bastante presentes no cotidiano das pessoas e que conhecê-los possibilita
escolher as melhores opções de financiamento de um carro ou de uma casa,
por exemplo. Ela também oferece ferramentas que permitem analisar se é mais
vantajoso pegar um empréstimo, abrir um crediário ou ainda pagar compras no
cartão de crédito.
35
É importante dizer à turma que todas essas movimentações são
baseadas na estipulação das taxas de juros - valor referente ao atraso no
pagamento de uma prestação ou à quantia paga pelo empréstimo de um
capital. Conte aos alunos que existem dois tipos de juros: o simples e o
composto. Os juros simples incidem sobre o valor principal do dinheiro e são
gerados em cada período sem incidir novos juros. Os juros compostos são
aqueles calculados, a cada período, sobre o montante referente ao período
anterior.
Para exercitar os conceitos apresentados e com base nas situações
discutidas em sala, proponha aos alunos algumas situações problema que
deverão ser resolvidas em dupla. É importante que o aluno conheça as
fórmulas e aprenda como aplicá-las, conforme os exemplos abaixo:
Juros Simples:
a) Qual o juros simples de R$ 30.000,00, aplicados a taxa de 45% a.a.
durante 145 dias?
Usando a fórmula J = P • i • n, onde J = juros, P = capital, i = taxa de
juros e n= período de tempo (em meses), obtemos:
45% a.a = 0,45 / 360 dias = 0,00125 a.d.
J = 30.000,00 • 0,00125 • 145 = 5437,50
Juros Compostos:
b) Qual é o e o montante de um capital de R$ 6.000,00, aplicado a juros
compostos, durante 1 ano, à taxa de 3,5% ao mês?
(log 1,035 = 0,0149 e log 1,509 = 0,1788)
P = R$ 6.000,00
t = 1 ano = 12 meses
i = 3,5 % a.m. = 0,035
M = ?
36
Usando a fórmula M = P( 1+ i ) n, onde M = Montante, P = Capital,
i = taxa de juros e n = período de tempo (em meses), obtemos:
M = 6000 (1+ 0,035 ) 12 = 6000 (1,035 ) 12
Fazendo x = 1,03512 e aplicando logaritmos, encontramos:
log x = log 1,03512
log x = 12 log 1,035
log x = 0,1788
x = 1,509
M = 6000.1,509 = 9054.
Portanto, o montante é R$9.054,00.
Depois de corrigir os exercícios propostos, peça aos alunos que criem
uma situação problema (de compras e investimentos em longo prazo) usando
os conceitos aprendidos. A seguir, diga para eles entregarem a folha para a
dupla mais próxima, que vai resolver o problema. Para finalizar, corrija os
problemas elaborados pela turma no quadro para que todos compartilhem as
situações propostas.
Segunda Aula
Distribua as cópias da reportagem de Veja e leia com os alunos.
Explique que o texto trata de outro assunto da matemática financeira: a
precificação, muito utilizada pelas empresas para calcular o valor que deve ser
cobrado por um produto ou serviço. Conte que os preços são calculados com
base nos custos de matéria-prima e de mão de obra e que o valor que a
empresa ganha além dessa conta se chama margem de lucro. Proponha uma
discussão com base nas perguntas "por que tudo tem um preço?" e "quais
fatores influenciam a alta dos preços?" - como a relação entre oferta e
demanda.
37
Explique que os preços podem sofrer variações conforme o aumento ou
a diminuição dessas variáveis. Quanto maior a oferta de um produto, menor o
seu preço e quanto maior for sua demanda, maior será o preço. Use os
exemplos citados na reportagem para ilustrar essa relação. O caso da máquina
de refrigerantes gelados cujo preço aumentava até quatro vezes no verão, por
exemplo, trata-se de um típico caso de aumento da demanda que gera
aumento de preços.
Para finalizar, diga aos alunos que a próxima aula será sobre o mercado
financeiro e encomende, como lição de casa, uma pesquisa sobre o que é e
como funciona uma bolsa de valores.
Terceira Aula
Comece a aula perguntando aos alunos o que eles descobriram em
suas pesquisas. Conte a eles que a bolsa de valores é um mercado organizado
onde são vendidas ações de empresas que tem capital aberto, ou seja, que
colocam seus papéis a venda no mercado financeiro. A principal instituição
brasileira que realiza essas transações é a BMF&Bovespa, a Bolsa de Valores
e Mercados Futuros de São Paulo. As bolsas têm o dever de repassar aos
investidores (por meio de boletins e meios eletrônicos) informações sobre seus
negócios diários, comunicados relevantes de empresas abertas, dados de
mercado e tudo o mais que contribua para a transparência das operações. No
Brasil, a atividade das bolsas é fiscalizada pela Comissão de Valores
Mobiliários (CVM).
Se a escola estiver localizada em São Paulo, é interessante
agendar uma visita monitorada à BM&FBovespa para que os alunos conheçam
melhor sua dinâmica de funcionamento. Caso contrário, é possível mostrar à
classe materiais em vídeo sobre o funcionamento da bolsa, disponíveis no site
oficial (http://www.tvbvmf.com.br/Home.aspx).
38
AVALIAÇÃO
Observe a participação dos alunos ao longo das aulas e as estratégias
que utilizaram para resolver e criar situações problema, verificando se
conseguiram entender os principais conceitos apresentados (taxa de juros,
precificação, oferta e demanda). Ao final desse bloco especial de aulas sobre
matemática financeira, peça aos alunos que contem em que situações a
matemática financeira faz parte de seu dia a dia e como passarão a usar os
conceitos aprendidos.
39
CAPÍTULO V
ANALFABETISMO FUNCIONAL X ANALFABETISMO
FINANCEIRO
Vimos no capítulo anterior sugestões de projetos pedagógicos e
iniciativas reais de alfabetização financeira a partir da alfabetização das
crianças. Mas infelizmente a realidade da educação no Brasil ainda deixa muito
a desejar, não só na educação financeira em si, como também na qualidade da
educação como um todo.
Mesmo cidadãos que sabem ler e escrever têm dificuldades para
compreender textos curtos ou localizar informações, mesmo as explícitas.
Consequentemente eles perdem as manhas necessárias para satisfazer as
demandas do dia a dia e se desenvolver pessoal e profissionalmente.
Essa realidade penosa faz parte de 27% da população brasileira que é
considerada analfabeta funcional, segundo o Indicador de Alfabetismo
Funcional (INAF), pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro em
parceria com a ONG Ação Educativa divulgada em julho de 2011.
O INAF avalia por meio de uma prova as habilidades de leitura, escrita e
matemática da população de 15 a 24 anos. Os resultados são divididos em
analfabeto e alfabetismo rudimentar, básico e pleno. São considerados
analfabetos funcionais aqueles que ficam nesses dois primeiros níveis.
Quando esse levantamento foi feito pela primeira vez em 2001, 39 % da
população eram analfabetos funcionais e podemos concluir que depois de uma
década ainda é grave a situação da educação no Brasil.
40
Não muito diferente é a educação financeira no nosso país como vimos
no decorrer do trabalho. O assunto dinheiro não é ensinado nem em casa nem
na escola. Muitos alunos aprendem sobre o dinheiro na prática, quando
recebem o primeiro salário e junto com ele um mundo de oportunidades, como,
por exemplo, cartão de crédito, crédito imobiliário, financiamento facilitado de
automóvel entre outros. Já em casa o pai diz para tirar ótimas notas para
ganhar muito dinheiro, algo um pouco desconexo enquanto o analfabetismo
financeiro existir.
Logo, se as escolas não se concentrarem nas habilidades financeiras e
continuarem focando apenas nas habilidades acadêmicas e profissionais, os
brasileiros continuarão endividados por não conhecerem simplesmente os juros
que lhe são cobrados.
A Serasa Experian divulgou que as dívidas em atraso cresceram 19% no
primeiro semestre de 2012 em relação aos primeiros seis meses de 2011. Os
juros altos aumentam a inadimplência no Brasil e acaba virando um círculo
vicioso porque a inadimplência cresce e pressiona os juros, os juros sobem e
aumentam a inadimplência.
Podemos concluir que assim como o analfabeto funcional que consegue
ler apenas números familiares, como números de telefone, preços ou realizar
operações simples, o analfabeto financeiro não consegue identificar o crédito
disfarçado e perde o controle das contas.
41
CONCLUSÃO
Como alcançar o sujeito financeiramente bem sucedido negando-lhe
conhecimentos na sua formação fundamental? Se o dinheiro é fundamental em
praticamente tudo o que fazemos, por que desconsiderá-lo nas primeiras fases
do aprendizado? A resposta mostra uma realidade muito longe ainda do ideal
para que o investimento na educação integre realmente o homem ao seu meio
e o transforme em ator consciente para as superações imprescindíveis. Mas
vimos que iniciativas reais sobre o tema já começaram.
Todos os fatos aqui apresentados sobre a educação financeira na
formação educacional não deveriam impedir a sua introdução no mais
elementar aprendizado. Ao se chegar ao ensino médio ou à faculdade, deveria
o aluno antes percorrer todo o processo que se inicia, intuitivamente, na
interação do indivíduo com o seu mundo, nas suas relações diárias. Mas para
que isso aconteça é preciso deixar de considerar o aluno como uma tabula
rasa.
Dessa forma, a educação financeira não deveria estar a serviço das
estatísticas oficiais que subvertem o seu verdadeiro sentido. Soma-se ao
preconceito do educador que desconsidera o conhecimento de mundo do seu
aluno. Perde-se, por um lado, a oportunidade de apresentá-lo a uma noção que
transcende a de resolver probleminhas ou cálculos que não chegam a lugar
algum. Por outro lado, deixa-se a lacuna do ensino prazeroso de finanças
associado a conhecimentos reais do próprio aluno.
Se o objetivo a ser alcançado é o de elevar o nível educacional, a
sugestão desse trabalho ao apresentar a educação financeira é a de ressaltar a
importância do seu conhecimento o mais cedo possível e como matéria
obrigatória nas escolas. Como resultado teremos o comportamento de
42
consumo, de uso do crédito e de investimentos dos brasileiros mudando
significativamente nos próximos anos, e para melhor.
43
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 – Conteúdo de Revistas Especializadas
Anexo 2 – Entrevista
Anexo 3 - Internet
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ANEXO 1
Revista VEJA
Edição 2228 - 3 de agosto de 2011 Índice
Livros Por que tudo tem um preço
Um jornalista de economia explica a melhor solução possível para administrar um mundo de recursos limitados
Giuliano Guandalini
O preço foi uma das mais revolucionárias criações de todos os tempos. Invenção sem dono. O melhor seria chamá-la de uma evolução darwinista, resultado de milhares de anos de adaptação do ser humano à vida em sociedade: sobreviveu a maneira mais eficiente que o homem encontrou para alocar recursos escassos, no enunciado da definição clássica da ciência econômica. Diariamente tomamos decisões (comprar uma gravata, vender um apartamento, demitir um funcionário, poupar para uma viagem, ter um filho, derrubar ou plantar uma árvore) ponderando custos e benefícios. É a soma dessas ações, feitas no âmbito pessoal, que regula o custo e a disponibilidade de gravatas, apartamentos, funcionários, viagens, filhos ou mesmo árvores. Como diz o jornalista americano Eduardo Porter em O Preço de Todas as Coisas (tradução de Cássio de Arantes Leite; Objetiva; 288 páginas; 39,90 reais), “toda escolha que fazemos é moldada pelos preços das opções que se apresentam diante de nós, pesadas em relação a seus benefícios”. As consequências dessa atitude, mostra Porter, nem sempre são óbvias. Até as formas femininas estão submetidas a uma virtual bolsa de valores, e o que se apresenta como grátis também tem seu preço — sem falar que a dinâmica de fixação de preços pode falhar miseravelmente, como comprovam as bolhas financeiras.
O livro passa longe da chateação do economês e segue com talento a fórmula de best-sellers do gênero econômico-divertido, como Freakonomics, de Steven Levitt e Stephen Dubner. Porter investe boa parte de seu repertório de anedotas para desafiar o senso comum. Por exemplo, conta como a tinta de impressora facilmente chega a ser mais cara que um refinado champanhe francês. Uma pesquisa feita pela revista americana PC World revelou que o preço médio da tinta de cartuchos novos é de aproximadamente 1 000 dólares o litro; o cartucho individual só parece barato porque o comprador não considera que está pagando por apenas ínfimos mililitros de tinta. As empresas, claro, usam essa estratégia para iludir os consumidores.
Uma das histórias contadas no livro traz VEJA como protagonista. Nos anos 90, a Coca-Cola desenvolveu uma máquina de venda de refrigerantes na qual os preços variavam de acordo com a temperatura ambiente. Em um dia quente, aumenta a demanda por bebidas. Se a procura cresce, o preço deve subir, pela mais básica das leis econômicas. A ideia se tornou conhecida em uma entrevista com o então presidente da
45
Coca, Douglas Ivester, publicada nas Páginas Amarelas de VEJA. A enxurrada de protestos contra a “máquina de extorsão automática”, nas palavras do jornal San Francisco Chronicle, fez a Coca desistir do projeto. Por mais que Ivester, do ponto de vista estritamente econômico, estivesse coberto de razão.
Porter investiga também o custo do (aparentemente) gratuito. Tome-se o caso dos spams, aquelas infernais e indesejadas mensagens que entopem as caixas de e-mail. Uma universidade alemã calculou que seus funcionários gastavam vinte horas por ano detectando e deletando spams — considerando o salário médio dos 8 000 empregados, essas mensagens custavam à universidade cerca de 3,2 milhões de euros anuais. A internet, aliás, é fértil na promessa ilusória de conteúdo gratuito, e a indústria da música é uma das que mais sentiram isso na pele: as vendas de CDs desabaram, e as grandes lojas estão fechando as portas. Sites desafiam ainda a sobrevivência de jornais impressos. Porter especula que, dentro de uma lógica capitalista, não faz sentido produzir algo que não seja remunerado de alguma maneira. “Isso violaria uma lei férrea do universo conhecida como ‘não existe almoço grátis’”, diz. Afinal, pop star nenhum produzirá canções se não for para ganhar dinheiro. Paul McCartney deixou isso claro numa declaração famosa, citada por Porter: “John e eu sentávamos para compor e dizíamos: ‘Bom, vamos escrever uma piscina’”. É a versão contemporânea do pensamento do iluminista escocês Adam Smith, segundo o qual “não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu autointeresse”. Tudo, afinal, tem um preço.
46
ANEXO 2
ENTREVISTA
Entrevista: o economista Luis Carlos Ewald, o Senhor Dinheiro, fala sobre alfabetização financeira Revista Impressão Pedagógica ANO XX - Nº 47 - 2011 Economista e engenheiro, pós-graduado em Mercado de Capitais pela Fundação Getúlio Vargas, onde leciona a disciplina de Finanças nos cursos de MBA, Luis Carlos Ewald ficou conhecido como Senhor Dinheiro ao participar do Fantástico em um quadro de orientações e dicas sobre economia doméstica e orçamento familiar. Com voz firme e cativante, Ewald encanta por sua maneira descontraída e prática de tratar um tema considerado maçante – educação financeira. No início de abril, centenas de pessoas se reuniram na 6a Expo Money, em Curitiba (PR), para ouvir os conselhos do Senhor Dinheiro. Apesar das brincadeiras, o Senhor Dinheiro leva o tema a sério. “Problemas financeiros atrapalham a vida pessoal e profissional. Quem consegue trabalhar pensando nas dívidas?” Por isso, segundo ele, o importante é começar a educação financeira desde cedo. É a alfabetização financeira. A Revista Impressão Pedagógica conversou sobre esse tema, com exclusividade, com o economista e professor. IP – Quem é o principal responsável pela educação financeira de uma criança: a família ou a escola? Luís Carlos Ewald – Essa é uma boa pergunta! Eu acho que todo tipo de educação deve sempre começar em casa, principalmente em relação à parte financeira, em que a principal lição é o exemplo. Com uma mãe consumista e um pai gastador, será muito difícil que uma criança compreenda os ensinamentos de educação financeira da escola. IP – Como as instituições de ensino devem iniciar a alfabetização financeira? LCE – As escolas podem e devem criar projetos de educação financeira. Mas um dos primeiros passos é reunir os pais, apresentar o objetivo do programa e mostrar que o exemplo vem de casa. São os pais que devem estabelecer limites para os filhos, esclarecendo o que podem ou não podem comprar em função do orçamento doméstico. Eles devem falar claramente: “Não está na hora”, “Eu não tenho dinheiro”, ou “Você não está na idade de ter isso”. Recentemente, por exemplo, queriam dar um laptop para minha neta, de 6 anos, e eu me revoltei. Não aceito de jeito nenhum. Já avisei à família que está proibido.
47
IP – A pressão de consumo das crianças é um problema real para as famílias, e acaba gerando uma situação de comparação social entre os alunos dentro da escola. Como lidar com isso? LCE – Eu sou absolutamente contra criança com computador, laptop, celular etc. Sou contra. Não podemos queimar etapas. Independente dos pais terem ou não dinheiro para comprar, a escola deve deixar claro que não é aconselhável. Existem alguns rituais de passagem que precisam ser seguidos. É claro que jogar e brincar de quebra-cabeça com uma criança dá trabalho, por isso muitos pais preferem deixá-la brincando sozinha no computador. Eu digo sempre que quem não quer ter o trabalho de cuidar do filho que não tenha filhos. É inclusive muito mais barato (risos). Criar um filho custa um milhão de reais no nosso atual padrão econômico. IP – De que maneira a escola pode inserir a educação financeira na grade curricular? Dentro da disciplina de Matemática ou de maneira transversal, em diversas disciplinas? LCE – Já existem iniciativas muito interessantes, até mesmo em escolas públicas, que dividem a educação financeira principalmente entre as disciplinas de História, Geografia e Matemática. Assim o ensino não fica maçante e tedioso. Em cada uma delas, o aluno aprende aspectos diferentes, como o uso do dinheiro, o comportamento social e o consumo. Algumas universidades já estão colocando na grade letiva palestras sobre planejamento financeiro, renda variável, investimento e mercado de ações. Mas tudo ainda é muito embrionário. IP – Qual é a idade apropriada para começar a educação financeira de crianças? LCE – Eu dei um porquinho, desses de guardar moedas, para minha neta quando ela tinha quase 4 anos. Cada vez que ela encontrava alguém da família, pedia uma moeda de R$1,00. Ao final de um período, ela conseguiu guardar R$110,00 e comprou a bicicleta que queria. A partir de 4 ou 5 anos, a criança já consegue entender a recompensa que virá depois. IP – Muitos pais oferecem compensações financeiras aos filhos em troca do desempenho escolar. É uma atitude aceitável? LCE – Isso é um critério individual. Na minha opinião, não é ruim. Eu mesmo costumava passar por isso com meu pai. Quando eu queria ganhar uma revista ou um gibi, ele me dizia “vamos ver seu boletim”. Aquilo funcionava como um estímulo, um incentivo. IP – Mas não existe o risco de a criança aprender a barganhar notas por dinheiro? LCE – Eu não vejo por esse ângulo. Premiar uma boa nota não quer dizer que a criança está sendo comprada, mas estimulada. É claro que crianças devem ser tratadas como crianças, sem que o fator dinheiro seja sempre o mais importante, mas nós, adultos, funcionamos da mesma maneira na vida profissional. Quem não quer ser recompensado?
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Você S/A / Organize suas finanças / Edição 168 / Entrevista | Muito fatalismo, pouca educação e confiança
Entrevista | Muito fatalismo, pouca educação e confiança
Lawrence Harrison, diretor da Escola de Relações Internacionais da Tufts University, em Massachusetts, fala da culpa que o brasileiro carrega no trato com o dinheiro
([email protected]) 10/06/2012
O hábito brasileiro de esconder os ganhos e reclamar sempre de falta de dinheiro pode ter um fundamento bastante científico. o coorganizador do aclamado A Cultura Importa (ed. record), Lawrence Harrison, diretor da escola de relações internacionais da Tufts University, em Massachusetts, nos Estados Unidos, é um dos principais estudiosos do tema. Em entrevista à Você S/A, ele explica um pouco mais sobre a influência da cultura na prosperidade dos países e dos indivíduos.
Qual a principal característica do latino-americano quando se fala do dia a dia na construção de sua riqueza?
Na América Latina, o rico é muito mais visto como alguém beneficiado por ganhos ilícitos, por exemplo, por meio de conexões duvidosas ou atividades ilegais. Além disso, também há uma preferência católica pelos mais pobres. Há uma passagem em Mateus 19:24 que diz: “e, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de deus”. Em contraste, como Max Weber ressaltou em sua obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, o protestantismo celebra a riqueza. Ironicamente, países de maioria protestante têm uma população menos pobre do que os países de maioria católica. A diferença entre a América Latina e o sul europeu é menos relevante, assim como não vejo diferença de comportamento entre o Brasil e os pares latino-americanos. Para o latino-americano todas as coisas boas da vida — riqueza principalmente — são limitadas, então a vida vira uma corrida em que o campeão é aquele que capturar o máximo dos benefícios disponíveis. Para a população canadense e norte- americana, por exemplo, a riqueza não é uma disputa, mas passível de multiplicação.
Quais são as características culturais que geram esse comportamento?
Um grande autor argentino chamado Mariano Grondona arquitetou uma vez uma lista de fatores fundamentais na diferenciação das populações. Entre esses 25 fatores que ele elenca, eu destacaria três. O primeiro é o fatalismo. Na cultura latino-americana, as pessoas acreditam profundamente na atuação de forças superiores no controle de seu destino. Outro fator importante é a relevância da educação. Em democracias avançadas, 70% a 90% dos adultos têm pelo menos o ensino médio completo. Na América Latina, esse número só passa de 50% no Chile. No Brasil, em 2010, esse número era de 20%. Por fim, um importante ingrediente do desenvolvimento econômico é a confiança interpessoal. O Brasil foi o campeão mundial de “desconfiança” na sequência de pesquisas do World values survey association de 2000, que perguntou para um número significativo de pessoas em 67 países “se a maior parte das pessoas era confiável”. Entre os brasileiros, apenas 3% responderam “sim”. Em contraste, nos países nórdicos, a proporção de respostas positivas variou de 41%, na Islândia, a 67%, na Dinamarca.
49
Há no Brasil uma espécie de culpa relacionada com a riqueza e com a acumulação de capital. Isso seria também um fator sob influência religiosa?
Claro! Mas a maioria católica brasileira está caindo rapidamente com o surgimento do Protestantismo Pentecostal. O censo de 2010 mostra que 30% da população brasileira está nesse novo caminho, e o crescimento é tão rápido que a expectativa é que em 2020 o brasil tenha maioria protestante. O Brasil é o laboratório mais importante para a tese de Max Weber.
50
ANEXO 3
INTERNET
D.O.U. DE 23/12/2010, P. 7
DECRETO Nº 7.397, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2010.
Institui a Estratégia Nacional de Educação Financeira - ENEF, dispõe sobre a sua gestão e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o
art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição,
DECRETA:
Art. 1o Fica instituída a Estratégia Nacional de Educação Financeira -
ENEF com a finalidade de promover a educação financeira e previdenciária e
contribuir para o fortalecimento da cidadania, a eficiência e solidez do sistema
financeiro nacional e a tomada de decisões conscientes por parte dos
consumidores.
Art. 2o A ENEF será implementada em conformidade com as seguintes
diretrizes:
I - atuação permanente e em âmbito nacional;
II - gratuidade das ações de educação financeira;
III - prevalência do interesse público;
IV - atuação por meio de informação, formação e orientação;
V - centralização da gestão e descentralização da execução das
atividades;
VI - formação de parcerias com órgãos e entidades públicas e instituições
privadas; e
VII - avaliação e revisão periódicas e permanentes.
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Art. 3o Com o objetivo de definir planos, programas, ações e coordenar a
execução da ENEF, é instituído, no âmbito do Ministério da Fazenda, o Comitê
Nacional de Educação Financeira - CONEF, cuja composição compreenderá:
I - um Diretor do Banco Central do Brasil;
II - o Presidente da Comissão de Valores Mobiliários;
III - o Diretor-Superintendente da Superintendência Nacional de Previdência
Complementar;
IV - o Superintendente da Superintendência de Seguros Privados;
V - o Secretário-Executivo do Ministério da Fazenda;
VI - o Secretário-Executivo do Ministério da Educação;
VII - o Secretário-Executivo do Ministério da Previdência Social;
VIII - o Secretário-Executivo do Ministério da Justiça; e
IX - quatro representantes da sociedade civil, na forma do § 2o.
§ 1o Os representantes de que tratam os incisos I a VIII, bem como seus
suplentes, serão indicados pelos seus respectivos órgãos e entidades, no
prazo de quinze dias contados da publicação deste Decreto.
§ 2o Os representantes de que trata o inciso IX, bem como seus
suplentes, serão indicados nos termos estabelecidos pelo regimento interno do
CONEF.
§ 3o Os representantes indicados na forma dos §§ 1o e 2o serão
designados em ato do Ministro de Estado da Fazenda.
§ 4o O CONEF será presidido, a cada período de seis meses, em regime
de rodízio e na ordem a seguir, pelo representante do Banco Central do Brasil,
da Comissão de Valores Mobiliários, da Superintendência Nacional de
Previdência Complementar, da Superintendência de Seguros Privados e do
Ministério da Fazenda.
§ 5o O Banco Central do Brasil exercerá a secretaria-executiva do
CONEF, prestando o apoio administrativo e os meios necessários à execução
dos objetivos do Comitê.
§ 6o O CONEF poderá criar grupos de trabalho, por prazo determinado,
destinados ao exame de assuntos específicos, bem como comissões
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permanentes, de atividades especializadas, para dar-lhe suporte técnico,
integrados por representantes dos órgãos e entidades que dele participam.
§ 7o O CONEF poderá convidar representantes de outros órgãos e
entidades públicas e de organizações da sociedade civil para participar e
colaborar com a consecução de seus objetivos, na forma do seu regimento
interno.
Art. 4o Ao CONEF compete:
I - promover a ENEF, observada a finalidade estabelecida no art. 1o, por
meio da elaboração de planos, programas e ações; e
II - estabelecer metas para o planejamento, financiamento, execução,
avaliação e revisão da ENEF.
Parágrafo único. Caberá aos membros do CONEF elencados nos incisos I
a VIII do art. 3o aprovar, por maioria simples, seu regimento interno.
Art. 5o Para assessorar o CONEF quanto aos aspectos pedagógicos
relacionados com a educação financeira e previdenciária, é instituído, no âmbito
do Ministério da Fazenda, o Grupo de Apoio Pedagógico - GAP, que terá em sua
composição um representante de cada um dos seguintes órgãos e entidades:
I - Ministério da Educação, que o presidirá;
II - Banco Central do Brasil;
III - Comissão de Valores Mobiliários;
IV - Ministério da Fazenda;
V - Superintendência de Seguros Privados;
VI - Superintendência Nacional de Previdência Complementar;
VII - Conselho Nacional de Educação; e
VIII - instituições federais de ensino indicadas pelo Ministério da
Educação, até o limite de cinco, no máximo de uma por região geográfica do
País.
§ 1o O Conselho Nacional de Secretários de Educação e a União Nacional
dos Dirigentes Municipais de Educação serão convidados a integrar o GAP.
§ 2o O Ministério da Educação exercerá a secretaria-executiva do GAP,
ao qual prestará o apoio administrativo necessário.
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§ 3o Os órgãos e entidades representados no GAP deverão, em até
quinze dias após a designação dos membros do CONEF, indicar os seus
representantes e respectivos suplentes ao presidente do Comitê, a quem
competirá designá-los.
§ 4o O GAP poderá convidar representantes de outros órgãos e entidades
públicas e de organizações da sociedade civil para participar de suas reuniões,
na forma do seu regimento interno.
§ 5o A primeira reunião do GAP será convocada pelo presidente do
CONEF.
§ 6o O GAP aprovará o seu regimento interno por maioria simples,
presentes pelo menos metade mais um dos seus membros.
Art. 6o A participação no CONEF e no GAP é considerada serviço público
relevante e não enseja remuneração.
Art. 7o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 22 de dezembro de 2010; 189o da Independência e 122o da República.
54
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TIBA, Içami. Pais e educadores de alta performance. São Paulo: Integrare
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO ............................................................................................ 2
AGRADECIMENTOS .......................................................................................... 3
DEDICATÓRIA .................................................................................................... 4
RESUMO ............................................................................................................ 5
METODOLOGIA ................................................................................................. 6
SUMÁRIO ........................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 8
CAPÍTULO I – A ORIGEM DO PROBLEMA ....................................................... 9
1.1 - Por que os cidadãos brasileiros não fazem o planejamento orçamentário? ................................................................................................ 11
CAPÍTULO II - PROBLEMATIZAÇÃO DO ENSINO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA ................................................................................................... 13
2.1 – Mobilização e iniciativas reais sobre o ensino de educação financeira nas escolas ................................................................................................... 14
CAPÍTULO III – PESQUISA DE CAMPO ......................................................... 18
CAPÍTULO IV – PROJETOS DIDÁTICOS ....................................................... 20
4.1 – Plano de aula para Educação Infantil ................................................... 21
4.2 – Plano de aula para 8° e 9° anos – Ensino Fundamental ...................... 24
4.3 – Adultos mais preparados – Ensino Médio ............................................. 33
CAPÍTULO V – ANALFABESTIMO FUNCIONAL X ANALFABETISMO FINANCEIRO ................................................................................................... 38
CONCLUSÃO .................................................................................................. 41
ANEXOS .......................................................................................................... 42
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 54
ÍNDICE ............................................................................................................. 56