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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “PSICOMOTRICIDADE” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS PARA O DESENVOLVIMENTO MOTOR, COGNITIVO E SÓCIO-AFETIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Por: Sabrina Pontes Costa Orientador Prof. Fabiane Muniz Niterói 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “PSICOMOTRICIDADE”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS PARA O

DESENVOLVIMENTO MOTOR, COGNITIVO E SÓCIO-AFETIVO NA

EDUCAÇÃO INFANTIL.

Por: Sabrina Pontes Costa

Orientador

Prof. Fabiane Muniz

Niterói

2007

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “PSICOMOTRICIDADE”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS PARA O

DESENVOLVIMENTO MOTOR, COGNITIVO E SÓCIO-AFETIVO NA

EDUCAÇÃO INFANTIL.

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicomotricidade.

Por: Sabrina Pontes Costa

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a DEUS, por ter me

presenteado e enfeitado meu caminho

com pessoas maravilhosas.

Ao corpo docente do departamento de

Psicomotricidade, pelos ensinamentos

e disponibilidade para auxiliar.

Enfim a todos os colegas, pelos

momentos bons que compartilhamos.

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu noivo

Rafael, meus pais Izabel e Leodomar,

como resultado dos momentos em que

estive ausente, pessoas estas que desejo

compartilhar esta conquista e dividir os

louros de mais uma vitória.

Aos meus familiares, amigos sinceros, e a

todos que contribuíram direta ou

indiretamente.

5

RESUMO

Há muito tempo discute-se a questão dos jogos e brincadeiras e sua

importância no desenvolvimento da criança. Atualmente, vários pesquisadores

mostram preocupação em compreender este fenômeno buscando,

principalmente, responder questões como: a função que estas atividades

exercem sobre o desenvolvimento infantil; motivos pelos quais a criança deve

brincar; o que a brincadeira proporciona à criança no que diz respeito à

aprendizagem etc. A fim de discutir estas e outras questões relacionadas ao

tema “brincadeira” e considerando que o brincar tem uma importância

característica para a criança, o presente projeto pretende apresentar uma

definição de brincadeira, relatar um breve histórico da brincadeira e sua

relevância na educação e, por fim, analisar as possíveis contribuições que a

brincadeira proporciona ao desenvolvimento infantil devendo ser valorizada e

privilegiada no contexto educacional.

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METODOLOGIA

Os métodos utilizados para a realização deste projeto foram leituras de livros,

artigos de revistas, textos e aulas acompanhadas durante o período desta pós-

graduação, buscando assim identificar, descrever e analisar a utilização do

lúdico no desenvolvimento psicomotor na educação infantil.

A fundamentação teórica está baseada em alguns autores, experiências,

pesquisas e estudos sobre brincadeiras, brinquedos e jogos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A importância dos jogos e brincadeiras na ed. infantil 10

CAPÍTULO II - Desenvolvimento motor, cognitivo e sócio-afetivo

através dos jogos e brincadeiras. 17

CAPÍTULO III – A ludicidade no desenvolvimento infantil. 26

CONCLUSÃO 31

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 33

ÍNDICE 35

FOLHA DE AVALIAÇÃO 36

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INTRODUÇÃO

Este trabalho traz uma ampla visão da importância dos jogos e brincadeiras no

processo ensino-aprendizagem e na formação da personalidade humana. A

conscientização desta importância cabe ao educador, que se torna

responsável pela aprendizagem e deve trabalhar a criança em sua múltipla

formação, nos aspectos biológicos, sociais, cognitivos e afetivo- emocionais.

Através dos jogos e brincadeiras, o educando encontra apoio para superar

suas dificuldades de aprendizagem, melhorando o seu relacionamento com o

mundo. Pela variedade de estímulos que oferecem, pela atmosfera de alegria

e encantamento que proporcionam e, principalmente, pela presença de certas

normas, o jogo e a brincadeira devem fazer parte do cotidiano escolar nas

diversas áreas do conhecimento. Dão ao aluno oportunidade para se

desenvolver e atendem às suas necessidades básicas no processo ensino-

aprendizagem. A criança precisa brincar, inventar e criar para crescer e manter

seu equilíbrio com o mundo. Nos jogos e brincadeiras infantis são

reconhecidos os mecanismos de identificação cultural e de formação

educativa.

Tão fundamentais ao ser humano como o alimento que o faz crescer são os

brinquedos e os jogos. Vão muito além do divertimento. Servem como suportes

para que a criança atinja níveis cada vez mais complexos no desenvolvimento

sócio-emocional e cognitivo. O presente artigo surgiu da preocupação com o

repensar do processo educacional, onde temos, em nossas mãos, alunos

ativos, inquietos e participantes. É preciso que haja mudanças na preparação

desses alunos para a vida e não apenas para o mero acúmulo de informações.

É preciso, também, conscientizar o trabalho pedagógico para a importância da

formação desses alunos como um todo, com sua afetividade, suas

percepções, sua expressão, seu sentido, sua crítica, sua criatividade, seu

interior... É possível orientar o aluno a ampliar seus referenciais de mundo e a

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trabalhar com todas as linguagens ( escrita, sonora, corporal, dramática,

artística, etc.), integrando-o e construindo sua própria visão do universo.

É importante conhecer as características do aprendiz para sabermos quais são

as potencialidades que estão sendo desenvolvidas e quais as esquecidas,

quais os transtornos que esse desequilíbrio pode causar no desenvolvimento

do indivíduo e como podemos estimular a criança para o processo ensino-

aprendizagem. A criança deve ser vista sob três dimensões: a corporal, a

afetiva e a cognitiva, que devem se desenvolver simultaneamente. Se uma

estiver sendo desenvolvida em detrimento da outra, certamente haverá um

desequilíbrio do indivíduo em sua dimensão global.

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CAPÍTULO I

A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NO

PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM.

Definir a brincadeira não é tarefa fácil. De acordo com Kishimoto (1997), uma

criança atirando com um arco e flecha pode ser uma brincadeira ou pode ser

uma criança que está se preparando para a arte da caça (como pode ocorrer

num contexto indígena). Como diferenciar? Vários autores têm caracterizado

a brincadeira como a atividade ou ação própria da criança, voluntária,

espontânea, delimitada no tempo e no espaço, prazerosa, constituída por

reforçadores positivos intrínsecos, com um fim em si mesma e tendo uma

relação íntima com a criança (Bomtempo, 1987; Brougère, 1997; De Rose e

Gil, 1998; Kishimoto, 1997; Piaget, 1978; Santos, 1998; Wajskop, 1995). A

partir destas informações, é importante ressaltar que o brincar faz parte da

infância, porém, em várias ocasiões, os adultos (pais ou professores) propõem

determinadas atividades para as crianças que parecem não cumprir os critérios

acima discutidos, mas que são chamadas de “brincadeiras” pelos próprios

adultos. Atenção! Se a atividade é imposta ou se parece desagradável para a

criança, tudo indica que não se trata de uma brincadeira, mas de qualquer

outra atividade. Uma mesma atividade pode ser considerada uma brincadeira

para uma criança mas não para outra, o que torna o trabalho do educador

ainda mais complexo. São várias as dificuldades que existem com relação à

definição e caracterização da brincadeira, entretanto, é certo que a brincadeira

assume um papel fundamental na infância; numa concepção sociocultural, a

brincadeira mostra como a criança interpreta e assimila o mundo, os objetos, a

cultura, as relações e os afetos das pessoas, sendo um espaço característico

da infância (Wajskop, 1995).

Mas desde quando a brincadeira foi alvo de discussão? Partindo-se de uma

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perspectiva histórica, desde a Antiguidade as crianças participavam de

diversas brincadeiras como forma de diversão e recreação (Wajskop, 1995).

Jogos de demolir e construir, rolar aros, cirandas, pular obstáculos são

exemplos de brincadeiras existentes desde a Antiguidade (Fundação Roberto

Marinho, 1992). Por outro lado, vale a pena ressaltar que apenas na era do

Romantismo que a brincadeira passou a ser vista como expressão da criança e

a infância a ser compreendida como um período de desenvolvimento

específico e com características próprias. Neste período as principais

brincadeiras eram: piões, cavalinhos de pau, bola etc. (Kishimoto, 1990). A

partir deste período, vários pesquisadores surgiram desenvolvendo propostas

pedagógicas com a utilização de brinquedos e jogos, como por exemplo:

Froebel (educação baseada no brincar), Decroly (que elaborou materiais para

educação de crianças deficientes com a finalidade de desenvolver a

percepção, motricidade e raciocínio) e Montessori (que desenvolveu uma

metodologia de forma a implementar a educação sensorial (Kishimoto, 1990).

Já no século XX, outros pesquisadores começaram a discutir a questão das

brincadeiras, entre eles, Piaget (1978), afirmando que a partir da brincadeira a

criança pode demonstrar o nível cognitivo que se encontra além de permitir a

construção de conhecimentos e Vygotsky, que compreendeu a brincadeira

(como qualquer outro comportamento humano) como resultado de influências

sociais que a criança recebe ao longo do tempo. Vale a pena ressaltar que o

brinquedo cria na criança uma zona de desenvolvimento proximal e através

dele que a criança obtém as suas maiores aquisições (Vygotski, 1984) As

diferentes abordagens pedagógicas baseadas no brincar bem como os

estudos de psicologia infantil direcionados ao lúdico, permitiram a constituição

da criança como um ser brincante (Wajskop, 1995) e a brincadeira deveria ser

utilizada como uma atividade essencial e significativa para a educação infantil.

Sem dúvida, foi necessário um longo período até se chegar nestas conclusões

e a brincadeira ser levada como algo “sério”. Hoje, esta importância e

seriedade em relação ao tema podem ser expressas através do advento das

brinquedotecas, dos congressos cujo tema central é a brincadeira infantil, do

crescente número de artigos e trabalhos científicos com base no estudo das

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brincadeiras etc. Na educação, não podemos deixar de nos referir ao

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) que ressalta a

importância da brincadeira quando afirma que educar significa “propiciar

situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas” (p.23).

Mas como a brincadeira permite o desenvolvimento e a aprendizagem? Vamos

neste momento discutir as inúmeras possibilidades que o brincar proporciona à

criança a partir de diferentes referenciais teóricos permitindo ao educador um

maior embasamento a respeito do tema.

Pense no desenvolvimento social. Como criar oportunidades lúdicas para a

criança incrementar o seu repertório social bem como desenvolver relações

inter-pessoais? Quando a criança brinca de faz de conta, por exemplo, ela

deve supor o que o outro pensa, tentar coordenar seu comportamento com o

de seu parceiro, procurar regular seu comportamento de acordo com regras

sociais e culturais. Além disso, para Vygotsky (1984), a criança, ao brincar de

faz de conta, cria uma situação imaginária podendo assumir diferentes papéis,

como o papel de um adulto. A criança passa a se comportar como se ela fosse

realmente mais velha, seguindo as regras que esta situação propõe. Nesse

sentido, a brincadeira pode ser considerada um recurso utilizado pela criança,

podendo favorecer tanto os processos que estão em formação ou que serão

completados.

Outros autores que estudam a ampliação das interações sociais a partir da

brincadeira afirmam que a criança, enquanto brinca, se constitui como

indivíduo diferente dos demais, entra em contato com diferentes papéis sociais

e evolui quanto à diferenciação eu - outro (Almeida, 1995; Carvalho, 1981;

Carvalho, 1989; Oliveira e Rossetti-Ferreira; 1993; Pedrosa e Carvalho, 1995).

Certamente não é apenas o desenvolvimento social que é enriquecido durante

uma brincadeira. Podemos pensar na criança envolvida numa atividade que

exige um certo raciocínio necessitando levantar hipóteses e solucionar

problemas; ou ainda numa brincadeira qualquer na qual ela tenha possibilidade

de construir conhecimentos e enriquecer o desenvolvimento intelectual (Piaget,

1978).Por fim, não podemos deixar de mencionar as situações que a criança

revive enquanto ela brinca; por exemplo: situações que lhe causaram alegria,

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ansiedade, medo e raiva podem ser revividas em forma de brincadeira o que

favorece uma maior compreensão de seus conflitos e emoções.

Diante destas informações, a brincadeira pode e deve ser privilegiada no

contexto educacional (não apenas na Educação Infantil mas no Ensino

Fundamental também). A escola, atenta aos inúmeros benefícios que a

brincadeira traz, bem como nas possibilidades que elas criam de se trabalhar

diferentes conteúdos em forma lúdica, deve “lutar” sempre pra que tais

atividades sejam privilegiadas e bem aceitas pelas crianças e pelos adultos

responsáveis.Vale lembrar que não são necessários espaços muito

estruturados ou objetos complexos para que ocorra uma brincadeira. Espaços

simples, com objetos fáceis de serem encontrados e manipulados podem se

transformar em grandes aliados do educador.

Pense um instante: o que as brincadeiras como esconde-esconde, pega-pega,

passa-anel, bingo, boliche, morto - vivo; queimada, pular corda, corre cutia

favorecem? Várias habilidades e conhecimentos, não é mesmo? Todas elas

propiciam cooperação, estabelecimento e cumprimento de regras,

aprendizagem de se colocar no lugar do outro etc.

Poderíamos citar várias, desde aquelas que podem ser realizadas com bebês

até aquelas que exigem certo nível de conhecimento. Alguns exemplos

incluem: brincadeiras com móbiles e fantoches (para a criança explorar),

bonecas e carrinhos (para a criança dramatizar), blocos de

construção(favorecendo a descoberta de conceitos como tamanho, forma,

quantidade, relações espaciais, seriação, noção de espaço e causalidade,

além da imaginação e criatividade), quebra-cabeça (para estimular o raciocínio,

a concentração e o desenvolvimento psicomotor além da cooperação e

socialização); brincadeiras na água e na areia (que permitem a exploração, o

exercício motor e a socialização);brincadeiras tradicionais (como amarelinha,

pião, pipa, as quais possibilitam a compreensão de elementos folclóricos e

remete a criança a determinados períodos históricos) e, por fim, as

brincadeiras de faz de conta, que, como já discutidas anteriormente, favorecem

a imaginação, imitação, possibilitam o desenvolvimento social, afetivo e os

processos de raciocínio (Bomtempo, 1987; Kishimoto, 1997; Fundação

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Roberto Marinho, 1992; Oliveira et al, 1992; Oliveira, 2000)Estas idéias servem

para ilustrar alguns exemplos de brincadeiras que podem ser utilizadas na

escola e o que elas proporcionam em termos de aprendizagem e

desenvolvimento mostrando a importância de cada uma delas. Sugere-se que,

a partir desta leitura, cada educador desenvolva e crie atividades adequadas

aos seus alunos potencializando o desenvolvimento de cada um deles. De

acordo com Brougère (1997), o brincar exige uma aprendizagem; sendo assim

o professor terá este papel fundamental de inserir a criança na brincadeira,

criando espaços, oportunidades e interagindo com ela.

O desenvolvimento infantil está em processo acelerado de mudanças, e as

crianças estão desenvolvendo suas potencialidades precocemente em relação

às teorias existentes. Diante dos avanços tecnológicos, a criança deste novo

milênio está evoluindo. O cuidado com o recém-nascido, e os estímulos que o

bebê hoje recebe são muito diferentes dos cuidados de algumas décadas

atrás. A mudança de hábitos e atitudes dos adultos para com o recém-nascido

ocasionou alterações em todo o desenvolvimento infantil. As diferentes áreas

do cérebro humano se desenvolvem por meio de estímulos que a criança

recebe ao longo dos sete primeiros anos de vida. Como os estímulos são

diferentes, as reações também são. Os padrões de comportamento para com

o bebê e para com a criança na primeira infância se modificaram, e as crianças

de hoje são mais espertas e mais inteligentes do que as crianças de algumas

décadas atrás, gerando situações inesperadas. Atualmente, pais trabalham

fora , as famílias são menos numerosas, e as crianças freqüentam, desde

cedo, berçários, creches e escolinhas maternais, onde recebem estímulos

diferentes dos que recebiam aquelas que eram criadas em casa pelos irmãos e

que só eram levadas para a escola aos sete anos. É, portanto, com essas

crianças que o educador tem que saber lidar, tem que reconhecer suas

necessidades e procurar atendê-las dentro do contexto educacional atual. A

criança, nos dias atuais, parece mais esperta e se desenvolve antes do tempo

previsto, pois algumas habilidades foram estimuladas. Já pode expressar suas

vontades, e seu intelecto é muito mais ativo. Porém, apresenta diferentes

formas de ansiedade, de medos e de insegurança com as quais o educador

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tem que estar preparado para lidar. Temos, hoje, educandos com

características próprias de uma era tecnologicamente desenvolvida; mas

temos, também, grande número de crianças imaturas e com dificuldades

motoras que necessitam suprir as defasagens para o desenvolvimento de suas

potencialidades como pessoa. O desenvolvimento infantil precisa acontecer,

ao mesmo tempo, nas diferentes áreas para que haja o equilíbrio necessário

entre elas e o indivíduo como um todo. Quando o desenvolvimento acontece

apenas numa área, certamente outras ficarão em atraso, e a criança ficará

desequilibrada de alguma forma. Muitas crianças passam a maior parte do seu

tempo na frente da televisão ou com jogos eletrônicos. As imagens

hiperestimulam a área cognitiva, mas a criança não está desenvolvendo as

áreas afetiva e motora. É importante conhecer as características do aprendiz

para sabermos quais são as potencialidades que estão sendo desenvolvidas e

quais as esquecidas, quais os transtornos que esse desequilíbrio pode causar

no desenvolvimento do indivíduo e como podemos estimular a criança para o

processo ensino-aprendizagem. A criança deve ser vista sob três dimensões: a

corporal, a afetiva e a cognitiva, que devem se desenvolver simultaneamente.

Se uma estiver sendo desenvolvida em detrimento da outra, certamente

haverá um desequilíbrio do indivíduo em sua dimensão global. A criança utiliza,

de forma eficiente, os sentidos, e cabe a nós, educadores, vê-la como um ser

completo, porém inexperiente, que temos de trabalhar e a quem precisamos

propiciar oportunidade de pleno desenvolvimento. Se o educando mudou,

igualmente o educador precisa mudar. Os métodos tradicionais de ensino não

atraem mais a criança: ela quer participar, questionar e não consegue ficar

parada horas a fio, sentada, ouvindo uma aula expositiva. A criança da

atualidade é extremamente questionadora e não engole os conteúdos

despejados sobre ela sem saber o “porquê” ou “para quê”. Portanto, o

professor deve saber como a criança aprende e como ensinar. É muito mais

fácil e eficiente aprender por meio de jogos. E isso é válido para todas as

idades, desde o maternal até a fase adulta. O jogo em si possui componentes

do cotidiano, e o envolvimento desperta o interesse do aprendiz, que se torna

sujeito ativo do processo; a confecção dos próprios jogos é, ainda, muito mais

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emocionante do que apenas jogar. Muitos jogos ganham motivação especial

quando a criança os confecciona. As crianças devem iniciar o trabalho por

meio da escolha, o que é algo muito difícil para algumas. Aquelas crianças

muito tímidas, com baixa auto-estima, com sentimentos de inferioridade,

possuem grande dificuldade para escolher. Crianças que não conseguem

superar, nas séries iniciais, suas dificuldades de aprendizagem ou emocionais

vão, a cada ano, carregando um sentimento de frustração e, muitas vezes,

discriminadas pelos colegas e, às vezes, até pelos professores, tornam-se

crianças arredias e relaxadas com seu material, não se relacionam consigo

mesmas e nem com os demais, criando sérios problemas de indisciplina em

sala de aula. Para a criança, o jogo é o exercício, é a preparação para a vida

adulta. A criança aprende brincando através de jogos que a fazem desenvolver

suas potencialidades. O professor pode adaptar o conteúdo programático ao

jogo, onde estará trabalhando a motricidade, a área cognitiva e afetiva de seus

alunos. Ao inter-relacionar diversas áreas de conhecimento, o professor atende

às necessidades do educando de modo que o mesmo seja sujeito ativo do

processo ensino- aprendizagem.

17

CAPÍTULO II

DESENVOLVIMENTO MOTOR, COGNITIVO E SÓCIO-

AFETIVO ATRAVÉS DOS JOGOS E BRINCADEIRAS

“O nascimento e desenvolvimento do universo são o jogo de uma criança que move suas peças num

tabuleiro. O destino está numa criança que brinca”.

Heráclito Fragmento 52

Os jogos da criança pequena são fundamentais para o seu desenvolvimento e

para a aprendizagem, pois envolvem diversão e ao mesmo tempo uma postura

de seriedade. A brincadeira é para a criança um espaço de investigação e

construção de conhecimentos sobre si mesma e sobre o mundo. Brincar é uma

forma de a criança exercitar sua imaginação. A imaginação é uma forma que

permite às crianças relacionarem seus interesses e suas necessidades com a

realidade de um mundo que pouco conhecem. A brincadeira expressa a forma

como uma criança reflete, organiza, desorganiza, constrói,destrói e reconstrói o

seu mundo.

Bruno Bettelheim, fala que a brincadeira é uma ponte para a realidade e que

nós, adultos, através de uma brincadeira de criança, podemos compreender

como ela vê e constrói o mundo: quais são as suas preocupações, que

problemas ela sente, como ela gostaria que fosse a sua vida. Ela expressa o

que teria dificuldade de colocar em palavras. Ou seja, brincar é a sua

linguagem secreta que devemos respeitar mesmo que não a entendamos.

O brincar é um direito assegurado na Constituição Federal do Brasil. É uma

necessidade para as crianças, pois é fundamental para o seu desenvolvimento

psicomotor, afetivo e cognitivo, sendo uma ferramenta para a construção do

seu caráter.

O desenvolvimento psicomotor é a base de sua relação com o mundo, pois é

através de seu corpo que ela vai se relacionar consigo mesmo, com os outros,

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com os objetos, enfim, com o mundo ao seu redor. O jogo através do

desenvolvimento psicomotor contribui para as relações entre a psiquê e o

motor, promove a união entre a ação e o pensamento, assim é uma atividade

integradora do corpo como um todo, não segue o modelo cartesiano de divisão

corporal.

O fator afetivo inclui os relacionamentos intra e inter pessoais; ao brincar a

criança vai experimentar diversas situações, positivas (quando vence uma

brincadeira, alcança um objetivo, entra em acordo com os colegas, etc.) e

negativas (perde alguma atividade, não consegue realizar o esperado, entra

em conflitos com os colegas, etc.) e é através destas situações que a criança

aprenderá a conviver com os outros.

Por fim, o aspecto cognitivo se refere ao desenvolvimento do intelecto durante

as atividades lúdicas. As crianças aprendem brincando, aumentam seu

conhecimento através dos parceiros e podem vivenciar a aprendizagem.

Quando a criança busca superar situações desagradáveis. É como se ela

zombasse de suas próprias limitações e as enfraquecesse. Em cada momento

do seu processo de desenvolvimento, a criança utiliza-se de instrumentos

diferentes e sempre adequados às suas condições de pensamento. À medida

que ela cresce, as brincadeiras modificam-se, evoluem.

Existem diferentes tipos de jogos. Jogos de exercícios ou jogos funcionais.

Têm início aproximadamente aos quatro meses de idade, quando a criança

começa a ter uma melhor coordenação da visão e da apreensão. Os jogos de

exercício envolve ações mentais, isto é, o pensamento, como acontece nos

jogos de combinações de palavras. EX: “Hoje é domingo pede cachimbo...”, ou

“Um, dois, feijão com arroz...” Essas atividades lúdicas não necessitam de

qualquer técnica particular, são simples exercícios.

Os jogos de manipulação são praticados a partir do contato da criança com

diferentes materiais, movidos pelo prazer que a sensação tátil proporciona.

Os jogos de construção acontecem quando a criança faz ordenações sobre os

objetos. São responsáveis por aquisições para o desenvolvimento motor e

intelectual da criança, tais como classificação, a seriação, o equilíbrio, as

noções de quantidade, tamanho e peso, bem como a discriminação de formas

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e cores.

Os jogos simbólicos também chamados de “faz-de-conta”. Por meio deles, a

criança expressa a sua capacidade de representar dramaticamente. Entre 1

ano e meio e 3 anos de idade, a criança começa a imitar suas ações cotidianas

e passa a atribuir vida aos objetos.

No jogo de “faz-de-conta”, a criança experimenta diferentes papéis sociais,

funções sociais generalizadas a partir da observação do mundo dos adultos.

Dos 4 aos 7 anos, a busca pela aproximação ao real vai caracterizar os jogos

simbólicos. A criança desejará imitar de forma mais coerente.

Nos jogos de regras é necessário que haja cooperação entre os jogadores e

isso exige, certamente, um nível de relações sociais mais elevados. As

brincadeiras e os jogos são espaços privilegiados para o desenvolvimento

infantil e para a sua aprendizagem.

Cientes da importância dos jogos e das brincadeiras na Educação Infantil, o

professor deve elaborar propostas de trabalho que incorporem as atividades

lúdicas. Deve também, propor jogos e brincadeiras. Não há necessidade de o

jogo ser espontâneo, idealizado pela criança. “O que faz do jogo um jogo é a

liberdade de ação física e mental da criança nessa atividade”. (BRASIL, 1995b,

p.103).

Para que um professor introduza jogos no dia-a-dia de sua classe ou planeje

atividades lúdicas, é preciso, que ele acredite que brincar é essencial na

aquisição de conhecimentos, no desenvolvimento da sociabilidade e na

construção da identidade.

Existem funções diferenciadas que podem ser assumidas pelo professor,

conforme o desenrolar da brincadeira, a função de observador, na qual o

professor procura intervir o mínimo possível, de maneira a garantir a segurança

e o direito à livre manifestação de todos, a função de catalisador (perceber),

procurando, através da observação, descobrir as necessidades e os desejos

implícitos na brincadeira, para poder enriquecer o desenrolar de tal atividade e

a função de participante ativo nas brincadeiras, quando como um mediador

das relações que se estabelecem e das situações surgidas.

A comunicação corporal é carregada de valores e componentes emocionais,

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isto é, a expressão do imaginário consciente e inconsciente. O gesto, o olhar, o

tônus muscular falam de sentimentos, medos, desejos e conflitos. A

Psicomotricidade, como a própria palavra denota, tenta romper a dialética

cartesiana corpo x mente.

Segundo Le Boulch, a educação do movimento com atuação sobre o intelecto,

numa relação entre pensamento e ação, que engloba funções neurofisiológicas

e psíquicas. Assegura o desenvolvimento funcional, tendo em conta as

possibilidades da criança e ajuda a sua afetividade a se expandir e equilibrar-

se, através do intercâmbio com o ambiente humano.

O corpo e a aprendizagem caminham juntos. “É através do corpo que o

indivíduo entra em contato com o conhecimento”. (Vieira, 2003) É uma

ferramenta eficaz no processo de desenvolvimento psicomotor, afetivo,

cognitivo e social do ser humano. Não possui objetivos pedagógicos diretos,

mas interfere de forma clara sobre as dificuldades social e escolar, na medida

em que visa proporcionar o equilíbrio e ajustamento global, através do corpo

psicossomático.

O desenvolvimento psicomotor engloba em si, a inter-relação do

desenvolvimento motor, do psiquismo e da inteligência. O ato motor isolado

não tem significado. Este desenvolvimento é adquirido numa seqüência de

etapas que começa com a aquisição do esquema corporal. Através dessa

noção, a criança vai desenvolvendo a consciência do próprio corpo e das

possibilidades de expressar-se por meio dele.

Conforme Ajuriaguerra: “A criança é o seu corpo, pois é através dele que ela

elabora as suas experiências vitais e organiza sua personalidade”.

A organização do esquema corporal se dá através das sensações e

percepções oriundas do próprio corpo e na troca de relação com o corpo do

outro.

Na etapa seguinte, a criança adquire noções de lateralidade, que consiste na

consciência perceptiva de que os membros não reagem da mesma forma, e

que existe um lado dominante, ou seja, que na realização das atividades

utilizamos um lado do corpo (direito ou esquerdo) com maior proficiência que o

outro. A criança deverá ser levada a perceber o seu lado dominante, e que se

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utiliza do lado direito e esquerdo do corpo simultaneamente, mas que o lado

não dominante, somente ajuda o trabalho do outro lado.

A seguir observamos a aquisição da estruturação espacial, que “é a

orientação, a estruturação do mundo exterior, referindo-se primeiro ao eu

referencial, depois a outros objetos ou pessoas em posição estática ou em

movimento”. (J. M. Tasset).

Dizemos que a tomada de consciência da situação de seu próprio corpo em

um meio ambiente, isto é do lugar e da orientação que pode ter em relação às

pessoas e coisas, e também da consciência da situação das coisas entre si. É

a possibilidade, para o sujeito, de organizar-se perante o mundo que o cerca.

Organizar as coisas entre si, colocá-las em um lugar, movimentá-las. Perceber

diversas formas, grandezas, quantidades (enfileirar de forma crescente ou

decrescente). Nessa etapa, insere-se também as noções de frente, atrás, em

cima, embaixo etc.; bem como de direção gráfica ( situar um objeto segundo a

colocação ordinal).

A orientação temporal é uma noção mais elaborada e exige da criança um

desenvolvimento mais avançado, pois é necessário uma conscientização e

conhecimento cada vez mais profundo do seu corpo.

Ainda nesta etapa destacamos o ritmo, que abrange a noção de ordem, de

sucessão, de duração, de alternância. O trabalho desta etapa inicia-se pela

percepção do ritmo interno, de ritmos externos e, por último, a percepção e

reprodução de estruturas rítmicas.

O último procedimento consiste na aquisição do desenho e do grafismo.

Através do desenho e do grafismo a criança tem a oportunidade de expressar

sua visão de mundo, a passagem do sonho para a realidade.

Consiste ainda numa aprendizagem real da manipulação do lápis (motricidade

fina). Seu domínio progressivo prepara a criança para a escrita.

Entraves na aquisição destas etapas podem ocasionar dificuldades

relacionadas ao desempenho motor, afetivo, cognitivo e social; e são

detectadas principalmente durante a escolaridade.

Estas atividades são desenvolvidas através de trabalhos práticos, utilizando-se

sempre da ludicidade, a qual permeia toda infância. O brinquedo é a essência

22

da infância; é o veículo do crescimento. É um meio natural que possibilita a

criança explorar o mundo, descobrir-se, entender-se, conhecer os seus

sentimentos, as suas idéias e a sua forma de reagir.

Através da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos, seleciona

idéias, estabelece relações lógicas, integra percepções, faz estimativas

compatíveis com o seu crescimento físico e o seu desenvolvimento global.

O jogo e a brincadeira exigem movimentação física, envolvimento emocional e

provoca desafio mental. Neste contexto, a criança só ou com companheiros

integra-se ou socializa-se. O movimento resulta da expressão interna de um

organismo que, vivo, se expressa.

Segundo Kishimoto (1996), “... os jogos colaboram para a emergência do papel

comunicativo da linguagem, a aprendizagem das convenções sociais e a

aquisição das habilidades sociais.”

A evolução da brincadeira está intimamente relacionada com a aquisição da

linguagem, a maneira como a criança brinca pode ser importante modo de

avaliação do desempenho infantil. “As brincadeiras podem ser o elemento

chave para a estimulação linguística.” (Kishimoto, 1994).

Os jogos e as brincadeiras, apresentam uma evolução que acompanha o

desenvolvimento físico, emocional e cognitivo da criança.

Para Goldfeld (2004), Fonoaudióloga e Doutora em Distúrbios da

Comunicação Humana, a evolução dos jogos e brincadeiras segue uma

cronologia que inicia-se com brincadeiras do tipo motora e de construção, os

quais seguem a motivação de estímulos externos.

Segue-se então, as brincadeiras plásticas, que consistem na manipulação de

plasticina, pintura, argila etc., na tentativa de representar os objetos do mundo

adulto.

Após, inicia-se o período de brincadeiras projetivas ou “jogos de enredo”, nos

quais as regras sociais estão presentes. A criança tenta imitar situações

vivenciadas no seu dia a dia, utilizando para tal suas lembranças. Através de

objetos em miniatura utilizados no cotidiano, ela brinca de “casinha”, “mãe e

filha” e etc. Nesta fase, ela brinca com mediação, sozinha ou ao lado de outra

criança sem, no entanto, interagir com a mesma.

23

Num segundo momento, ela se utiliza do “faz-de-conta”, que para Vygotsky e

Kishimoto, são de maior importância e tipicamente infantis. A presença da

situação imaginária é o que distingue a brincadeira de outra atividade.

Outra característica desta brincadeira é a dissociação do significado do objeto.

A criança sente a necessidade de representar o mundo adulto em suas

brincadeiras, mas na impossibilidade de manipular os objetos pertencentes a

este mundo, ela utiliza artefatos substitutos para representar os do mundo

adulto (como por exemplo, a utilização de uma caixa de fósforos no lugar de

um barbeador). É importante ressaltar que os artefatos substitutos permitam a

realização dos mesmos gestos dos objetos reais.

Esta é a fase do egocentrismo, do uso da fala e de histórias. A criança brinca

com mediação, sozinha ou junto aos colegas.

Num terceiro momento, fase descrita como devaneio, não há fala social e nem

a presença do objeto. A linguagem interior é marcante.

“O conhecimento deixa de estar preso ao aqui e agora, aos limites da mão, da

boca e do olho e o mundo inteiro pode estar presente dentro do pensamento,

uma vez que é possível ‘imaginá-lo’, representá-lo com gesto no ar, no papel,

nos materiais, com os sons, com palavras.” Dias, in Kishimoto (1996).

Numa etapa posterior, a criança entra na fase dos jogos com regras, os quais

as regras são arbitrárias, e não mais sociais. A criança que brinca de pique-

esconde, precisará conhecer todas as normas para participar do jogo, e isto só

é possível em torno dos cinco/seis anos, pois a criança menor infringe as

regras.

“Dominar as regras, significa dominar seu próprio comportamento, aprendendo

a controlá-lo, aprendendo a subordiná-lo a um propósito definido.” Leontiev

(1988).

Segundo Vygotsky, a última categoria são os jogos limítrofes, ou seja, o teatro,

os esportes e os jogos didáticos.

É inquestionável o papel da linguagem na evolução do brinquedo. A linguagem

é altamente propícia para evocar e criar situações. Linguagem e brinquedo se

desenvolvem ao mesmo tempo e se influenciam mutuamente. A situação de

brinquedo abre espaço para a linguagem fluir, como que solicitando todos os

24

recursos representativos. Por outro lado, a linguagem reforça o simbolismo do

brinquedo, na medida em que o sustenta e o dirige.

O jogo é importante para o indivíduo dando a possibilidade de se expressar

graças à prática lúdica. A brincadeira infantil possibilita com que a criança lide

com a fantasia, com o medo, com a imaginação e com o faz-de-conta. Junto

com o processo de formação da personalidade constrói a sua identidade.

Os jogos, as brincadeiras, a dança e as práticas esportivas revelam, por seu

lado, a cultura corporal de cada grupo social, constituindo-se em atividades

privilegiadas nas quais o movimento é aprendido e tem um significado.

CAMARGO (2002) afirma que o brincar, a diversão e o lúdico são traços de

todas as sociedades conhecidas, em todas as épocas da História, e podem

acontecer com qualquer momento do cotidiano dos indivíduos, estejam eles

trabalhando ou estudando.

As crianças passam por um período que é caracterizado por aumentos lentos,

porém estáveis, na altura e no peso, e por um progresso em direção à maior

organização dos sistemas sensorial e motor. Esse lento período de

crescimento permite à criança acostumar-se ao seu corpo, fator importante na

melhoria da coordenação e no controle motor durante a infância.

Se não tiverem oportunidade para prática, instrução e encorajamento, nesse

período, muitos indivíduos não vão poder adquirir as informações motoras e

perceptivas necessárias para desempenhar eficientemente atividades motoras.

A criança, cognitiva e fisicamente normal, progride de um estágio a outro, de

maneira seqüencial, influenciada tanto pela maturação quanto pela

experiência.

Condições ambientais incluindo oportunidades para a prática, o encorajamento

e instrução são cruciais para o desenvolvimento de padrões amadurecidos de

movimentos fundamentais.

FREITAS e FREITAS (2002) consideram o movimento como um elemento

essencial na aprendizagem, visto que é através dele que o ser humano explora

o ambiente. Disso se poderá facilmente concluir que quanto mais experiências

motoras tiver uma criança, melhor e mais sólido será o seu desenvolvimento.

25

Segundo GOMES et al. (2001), é de grande importância que a criança tenha o

maior número de experiências e de formas diversificadas de movimento.

A relação entre cada ser e o exterior se materializa com base em

manifestações motoras. GOMES et al. (2001), enfatiza que os jogos e

brincadeiras têm um caráter de diversão e espontaneidade, sendo incentivado

o brincar das crianças, tarefa essencial do educador. As brincadeiras

estimulam a imaginação, geram um sentimento de felicidade e auto- estima. A

afetividade, a interação social e o processo cognitivo será considerados no

decorrer das aulas. Uma das metas fundamentais expostas é promover a

autonomia dos alunos e valorizar o universo da cultura lúdica.

26

CAPÍTULO III

A LÚDICIDADE NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

As experiências lúdicas de uma criança, desde bebê, vão lhe sofisticando as

representações do seu universo social. Pelo brinquedo acontecem as

adaptações, os acertos e erros, as soluções de problemas é que vão tornar-

lhe sujeito autônomo.

A natureza da criança é lúdica, de movimento, de curiosidade, de

espontaneidade. Negar esta natureza é negar a própria criança.

Ao se observar uma criança brincando, verifica-se o quanto se concentra no

que está fazendo. Naquele momento, ela incorpora as suas fantasias e

reproduz cenas do seu cotidiano, que tanto pode ser violento, tenso e cheio de

privações, quanto alegre, terno e prazeroso.

Através do “faz-de-conta” a criança pode liberar sonhos ou medos partindo em

busca de um lugar de pertinência familiar e social, pela construção do seu

próprio ego.

Uma criança com possibilidades lúdicas variadas terá mais riqueza de

criatividade, relacionamentos, capacidade crítica e de opinião. O contato, a

exploração do meio a ambiente, brinquedos, expressão musical, artes, dança,

teatro e vivências corporais ampliam sua visão de mundo na medida que com

ele interage. Assim sendo, ela própria vai instituindo seus limites, desafios e

criando novos brinquedos.

Muitos autores contemporâneos definem o lúdico como um estado de prazer,

com razão própria de ser, contendo em si mesmo o seu objetivo. As crianças

brincam por brincar, seu interesse vem de uma motivação interna de

curiosidade e experimentação, podem se sujeitar às regras externas, mas

jamais vão brincar sem desejo.

27

Santo Agostinho em “Confissões”, já referenciava o lúdico como

eminentemente educativo no sentido em que constituí a força impulsora de

nossa curiosidade a respeito do mundo e da vida, princípio de toda a

descoberta e de toda a criação (Correio da UNESCO, 1991).

A visão de lúdico e a importância do ato de brincar já eram valorizadas na

Antigüidade, ultrapassou os tempos, permanece nas culturas, mantendo-se os

jogos e as brincadeiras de caráter universais. Existem referências do século I

dC. de utilização de jogos e brinquedos como cavalo de pau, par ou impar,

cara ou coroa, carrinhos de madeira, montagem de casinhas (Medeiros, 1975).

Na França, 1601, já eram relatadas as brincadeiras que Luis XIII utilizava na

primeira infância: o cata-vento, o pião, as cartas, o xadrez, miniaturas de

madeira e jogos de bola.

As crianças do oriente ou ocidente brincam dos mesmos brinquedos. A pipa,

as rodas cantadas, o cabo de guerra, as sapatas ou amarelinhas. Existem

algumas brincadeiras mais regionais pelas características do clima, relevo e

cultura.

Com a modernidade e a era da informática os brinquedos virtuais aparecem,

tomando conta de quase que todo o tempo livre das crianças. Não cabe negá-

los, mas não deixar de possibilitar vivências lúdicas corporais em vários

ambientes e espaços, com materiais e equipamentos múltiplos, que vão

efetivamente, contribuir no desenvolvimento infantil.

O que diferencia o homem das outras espécies é a sua imaturidade

neurológica e funcional, uma vez que nasce despreparado até para respirar.

Diferentemente dos outros animais, ele precisa amadurecer dos atos reflexos

aos conscientes e dirigidos. Nas relações sociais, ele sai da simbiose materna

para individualidade e vida em grupo. Mas o fantástico da vulnerabilidade de

maturação do homem, nos primeiros anos de vida, é que esta vai permitir-lhe

possibilidades imensas de adaptações, criações, associações, resoluções de

problemas e interferências no seu cotidiano.

A evolução da criança tem duas origens: filogenética - a da espécie humana, e

ontogenética - maturação biológica (neuropsicomotora). Para ao

desenvolvimento pleno, necessita de mediatização adequada do adulto e da

28

cultura social. Assim sendo, a interação dinâmica e perpétua entre maturação

biológica (natura) e relação com o meio, com os objetos e com o outro

(cultura), que, na primeira infância, é praticamente por via lúdica, é que vai

propiciar seu o desenvolvimento total.

De acordo com Bousquet,(1991) impulso lúdico -também chamado de impulso

de curiosidade ou de exploração- dá à espécie e ao indivíduo, evidente

vantagem de seleção natural; afirma também, que a capacidade e o hábito de

explorar, ao acaso, o meio ambiente resultam em situações de instrução e

enfrentamento de imprevistos.

Uma criança ao entrar no universo do brinquedo estará vivenciando e lidando

com a sua própria estruturação e desenvolvimento da inteligência.

No primeiro período de vida, que vai do nascimento até o surgimento da

linguagem, é chamado por Piaget, do ponto de vista da inteligência, de

sensório-motor. Nele podem ser distinguidos três estágios: o dos reflexos, o da

organização das percepções e hábitos, e o da inteligência propriamente dita.

Cronologicamente, esse período é sucedido por outro que engloba as idades

entre um e dois anos de idade aproximadamente que é chamado de latência, a

fase de “fazer”, nela o brinquedo serve para manipular, explorar, imitar,

centrado na própria criança.

A partir da aquisição da fala, que normalmente ocorre por volta de um ano e

seis meses a dois anos, a criança ingressa no período simbólico, também

chamado de primeira infância, período pré-operatório ou intuitivo.

É nesse momento que, segundo Le Boulch, surge à função de interiorização

permitindo à criança conscientizar-se de aspectos de seu corpo e exprimi-los,

verbalmente, através da função simbólica. O indivíduo começa a representar

as ações que vive no mundo. Nessa fase em que não consegue resolver

problemas mentalmente, vai fazê-lo corporalmente.

Na primeira infância a criança vai se desenvolvendo em termos qualitativos, de

elaboração do pensamento, pelo processo simbólico, sendo que o brinquedo e

o faz-de-conta vão auxiliar na estrutura da compreensão de realidade, de

tempo, de objeto, do espaço, e da causalidade. Aos poucos vai substituindo o

concreto pelo abstrato, podendo usar suas representações mentais para

29

interagir no mundo de relações e lhe dar suporte para maturação mental,

afetiva e social. É o tempo de fazer e compreender.

Por volta dos a seis aos sete anos a criança começa a fase de cooperação e

raciocínio lógico, que é denominado operatório-concreto. Ela é capaz de

resolver problemas e relacionar-se com o outro, embora ainda esteja ligada

aos limites da prática e do concreto.

O brinquedo passa a ser mais elaborado, sendo o indivíduo capaz de aprender

e criar estratégias e regras dos jogos, explorar situações e desafios, usar o

corpo com destreza, representar situações do cotidiano ou de fantasia.

Quando a criança atinge a faixa etária entre dez e doze anos inicia a fase da

adolescência caracterizada pela introdução do indivíduo no período operatório-

formal ou hipotético-dedutivo, sendo mundo dos sistemas e teorias. Nessa

ocasião ele rompe as barreiras da realidade concreta e da prática atual,

passando a e interessar-se por problemas hipotéticos.

O brinquedo na adolescência esta mais voltado para jogos desportivos,

competições, desafios, testes de habilidades físicas e intelectuais.

Nas primeiras fases de maturação da criança e jogo servem como um dos

principais suportes de formação da inteligência, personalidade, coordenação

psicomotora e auxiliam nas relações com o meio, com os objetos e o outro.

Quando toda a criança indiscriminadamente puder brincar em espaços

alternativos, com equipamentos diversificados, jogar com outras crianças de

várias faixas etárias, descobrir o novo, manipular e construir brinquedos,

desafiar seus limites, constituir regras, ser intuitiva e espontânea

transformando-se em bruxa, Super-homem, batman, rainha...-estará se

atingido o principal objetivo que é o de fazer com que ela incorpore a sua

essência e constitua-se num sujeito mais inteligente e social.

Cabe às famílias, escolas e instituições que atuam na fase da infância

responsabilizar-se pela disponibilização de espaços que darão oportunidades

para o desenvolvimento de projetos e programas lúdicos para o mundo infantil

que, por natureza, é infinitamente rico, criativo, curioso e investigatório de

conhecimento, possibilitando crianças mais felizes integradas na sociedade.

30

O lúdico é um importante componente na aprendizagem. É pelo lúdico e com o

lúdico que o sujeito vai se construindo e se apropriando da realidade, tecendo

suas relações sociais e exercitando-se de corpo inteiro. Na vivência lúdica

experimenta situações novas, desafios, aventuras. No espaço lúdico ele

também vai formando seus conhecimentos, vai somando aquisições de

valores, aprendendo limites, trabalhando a auto-estima, além de superar seus

medos e adquirir autoconfiança.

31

CONCLUSÃO

O jogo é a mais importante das atividades da infância, pois a criança

necessita brincar, jogar , criar e inventar para manter seu equilíbrio com o

mundo. Convivemos dentro das escolas com certos preconceitos, entre eles o

de que jogar e brincar são atividades reservadas somente para o horário do

recreio; em sala de aula é necessário ter seriedade. Mas há professores que

afirmam serem o jogo e a brincadeira “enrolação de tempo”. Porém, mal

sabem eles que todos os jogos, por sua própria essência, são educativos e

contribuem para o desenvolvimento infantil. Jogar é uma função indispensável

à criança. Jogar com ela, deixá-la jogar com seus parceiros e em grupos é um

compromisso que todo educador deveria ter, uma vez que o jogo favorece o

seu desenvolvimento motor, cognitivo e sócio-afetivo. O jogo, como proposta

pedagógica em sala de aula, proporciona a relação e a interação entre os

parceiros. Durante a brincadeira, a criança estabelece decisões, resolve seus

conflitos, vence desafios, descobre novas alternativas e cria novas

possibilidades de invenções.O jogo passa a ter mais significado quando o

professor proporciona um trabalho coletivo de cooperação e socialização. Isso

dá oportunidade às crianças de construírem os jogos, de decidirem regras, de

mostrarem como se joga, de perceberem seus limites através dos direitos e

deveres e de aprenderem a conviver e a participar, mantendo sua

individualidade e respeitando o outro. Em outras palavras, através do jogo a

criança desenvolverá a capacidade de perceber suas atitudes de cooperação,

oferecendo a ela própria, que está em formação, oportunidades de descobrir

seus próprios recursos e testar suas próprias habilidades, além de aprender a

conviver com os colegas nessa interação. É, também, na atividade lúdica que

pode conviver com os diferentes sentimentos que fazem parte de sua realidade

interior. Na brincadeira, a criança aprende a se conhecer melhor e a aceitar a

existência do outro, organizando, assim, suas relações emocionais e

estabelecendo relações sociais. Educadores e pais necessitam ter clareza

quanto aos brinquedos, brincadeiras e/ou jogos que são necessários para a

criança: precisam saber que trazem enormes contribuições ao

32

desenvolvimento da habilidade de aprender a pensar. No jogo, ela está livre

para explorar, brincar e/ou jogar com seus próprios ritmos para auto controlar

suas atividades. A importância da inserção e utilização dos brinquedos, jogos e

brincadeiras na prática pedagógica pré-escolar é uma realidade que se impõe

ao professor. Brinquedos não devem ser explorados só como lazer, mas

também como elementos bastante enriquecedores para promover a

aprendizagem.

Os professores precisam estar cientes de que a brincadeira é necessária e que

traz enormes contribuições para o desenvolvimento da habilidade de aprender

a pensar, para o desenvolvimento motor e sócio-afetivo.

33

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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WAJSKOP, G. O Brincar na Educação Infantil. Cadernos de Pesquisa, 92, 62-69, 1995

35

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

(A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NA

ED. INFANTIL). 10

CAPÍTULO II

(DESENVOLVIMENTO MOTOR, COGNITIVO E

SÓCIO-AFETIVO) 17

CAPÍTULO III

( A LUDICIDADE NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL) 26

CONCLUSÃO 31

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 33

ÍNDICE 35

36

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: A importância dos jogos e brincadeiras para o

desenvolvimento motor, cognitivo e sócio-afetivo na educação infantil.

Autor: Sabrina Pontes Costa

Data da entrega: 28/07/07

Avaliado por: Conceito: