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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA INDISCIPLINA: UMA REALIDADE DO COTIDIANO ESCOLAR Por: Janaína Ximenes Alves Orientador Profª. Mary Sue Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

INDISCIPLINA: UMA REALIDADE DO COTIDIANO ESCOLAR

Por: Janaína Ximenes Alves

Orientador

Profª. Mary Sue

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

INDISCIPLINA: UMA REALIDADE DO COTIDIANO ESCOLAR

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Supervisão e Administração

Escolar

Por: Janaína Ximenes Alves.

Rio de Janeiro 2012

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela

sabedoria, saúde e determinação

concedida para a conclusão desta etapa.

A minha família e amigos, por serem

presentes em minha vida, me estimulando

em todos os momentos.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu esposo, por

todo apoio, carinho e compreensão.

A minha saudosa avó, que sempre foi

meu exemplo de vida.

A minha tia Solange, pelo afeto e ajuda

nos momentos difíceis.

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RESUMO

Conceituar o comportamento indisciplinado do aluno no ambiente

escolar não é tarefa das mais fáceis, levando-se em conta as diversas causas

que podem provocar tal comportamento.

.

Por isso, a escolha desse tema teve como objetivo principal

apontar as possíveis causas do comportamento indisciplinado que o aluno

apresenta no ambiente escolar. Para isso, recorremos a uma pequena, mas

excelente bibliografia; utilizamos a internet como ferramenta indispensável,

além de inserirmos vivências pessoais que achamos plausíveis de serem

apontadas.

Assim, verificamos que a indisciplina se constitui como um dos

grandes desafios, tanto para pais como para professores e gestores

educacionais. Seus sintomas sinalizam que algo – do ponto de vista

pedagógico e especificamente da sala de aula – não está atendendo às

expectativas dos envolvidos. E mais: que a instituição escolar pode não estar

acompanhando as constantes e velozes mudanças que estão acontecendo nos

últimos trinta anos no país. Mudanças que demonstram claramente o

rompimento com os padrões morais que norteavam as relações sociais até

bem próximo do final do século 20. .

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METODOLOGIA

Através deste trabalho monográfico explanaremos uma reflexão

sobre a indisciplina no contexto escolar, com o intuito de colaborar com

gestores, professores e educandos na discussão das possíveis causas e na

importância dos limites na educação. Para tal adotamos como metodologia a

obtenção de dados formais através de textos jornalísticos, livros e artigos

científicos. A pesquisa será realizada por bibliografia.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Problemas Psicológicos e Sociais 11

CAPÍTULO II

A Permissividade da Família 19

CAPÍTULO III

O Desinteresse Pela Escola 27

CONCLUSÃO 34

ANEXOS 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 58

WEBGRAFIA 59

ÍNDICE 61

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INTRODUÇÃO

Um olhar franco e despido de conceitos ou pré-conceitos,

certamente vem causando perplexidade no contexto da sociedade

contemporânea, já que a mesma vive um momento singular, onde as

mudanças, além de expressivas, acontecem o tempo todo e muito

rapidamente. Tais mudanças que estão acontecendo mundo a fora – velozes e

constantes – impõem a todos nós um repensar de posicionamentos e posturas

com a mesma e alucinante freqüência.

Assim, o que era aceito como normal e regular ontem, hoje não vale

mais. Estamos sem parâmetros para abalizar, por exemplo, qual a melhor

estratégia para lidar com os problemas de indisciplina que a todo momento

aparecem nos bancos escolares.

Não à toa a letra da música “Como uma Onda”, composta por Lulu

Santos em 1983 (“Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia(...)

Tudo muda o tempo todo no mundo”), foi facilmente assimilada pelos jovens

daquela época, uma vez que era patente tais mudanças no contexto das

atividades humanas.

Se, a cada dia surgem novas tecnologias que influenciam nosso

ritmo de vida e alteram as relações interpessoais é natural que nos vejamos

diante de novos e surpreendentes desafios. Assim como é natural apontar

como crítica a fase em que nos encontramos desde o início do século 21, cujos

sintomas podem ser sentidos a partir de meados do século 20 com o advento

da contracultura e com a mulher rompendo com um papel que até então era

aceito como o padrão feminino de conduta.

Se crise quer dizer, entre outras coisas, perda, fase de substituições

rápidas, é correto a afirmação de que, sim!. Estamos vivendo uma crise plena:

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de moralidade; de valores; na família; na educação; na economia e em tantos

outros setores onde a vida humana se expressa.

A inserção irreversível da mulher no mercado de trabalho tem

provocado sensíveis transformações no modelo familiar e, com isso, diferentes

instituições educacionais são criadas para atender e/ou cuidar das crianças

que chegam cada vez mais cedo nas escolas.

Segundo o doutor em Psicologia Escolar pela USP/SP, Mário Sérgio

Vasconcelos (A Disciplina e a Indisciplina como Fatores Fundamentais de

Formação do Aluno Crítico no Mundo Atual), “As mudanças são tantas e nos

mais variados setores, que podemos dizer que hoje vivemos não uma época de

mudanças, mas uma mudança de época”. Por conta de tais mudanças,

Vasconcelos assevera que as “pessoas sentem-se inseguras quanto ao seu

futuro e ao das crianças, não sabendo em quem e no que acreditar. Pais não

têm certeza de como educar. Consideram ultrapassados os valores

transmitidos pela tradição e se vêem indecisos em saber qual o melhor

caminho a seguir. As crianças e adolescentes resistem em respeitar os limites

que visam a assegurar uma convivência verdadeiramente democrática e, em

alguns casos, reina uma falta de compromisso com tudo e com todos”.

Especificamente dentro do contexto escolar, professores admitem

ter dúvidas sobre quais caminhos seguir, quais fatores disciplinares aplicar.

Pesquisa realizada por Vasconcelos aponta que os professores ouvidos por ele

teceram várias explicações para a origem e motivos da indisciplina. O doutor

em Psicologia Escolar colheu dados que merecem um olhar atento para a

problemática da violência em sala de aula. A pesquisa concluiu que a maioria

dos professores (83,4%), atribui as causas da indisciplina a fatores externos à

escola. Disseram, por exemplo, que o comportamento indisciplinado dos alunos

vem da família que não soube educar; que é conseqüência da violência

transmitida pelos meios de comunicação; ou ainda, que vem da condição de

pobreza dos alunos e do uso de drogas. Já uma parcela bem menor de

educadores atribui a indisciplina em sala de aula a fatores internos ao contexto

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escolar, como, por exemplo, problemas da própria escola e falta de preparo do

professor.

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CAPÍTULO I

PROBLEMAS PSICOLÓGICOS E SOCIAIS “Os valores são normas sociais – são pessoais, emocionais, subjetivos e discutíveis”

Buscando identificar fatores determinantes que favorecem a

indisciplina no ambiente escolar – já que não há como negar que os constantes

atos de indisciplina observados nas escolas brasileiras, tanto públicas como

particulares, de educação infantil, de 1º ou 2º grau atingem diretamente a

aprendizagem dos alunos envolvidos com esta problemática – procuramos

mapear as possíveis causas dos constantes atos de indisciplina presente no

ambiente escolar, propósito central deste estudo.

1.1 – Fatores de ordem psicológica e social como causa

possível da indisciplina

Partindo da premissa de que fatores de ordem psicológica e social

envolvendo a crianças, o jovem e seus respectivos familiares são uma das

principais causas de comportamentos indisciplinados observados pelos

profissionais da educação, teceremos argumentos para embasar tal afirmativa.

Da mesma forma, procuraremos buscar pontos de vistas desses

mesmos profissionais para lançar um olhar mais profundo sobre a questão da

indisciplina em sala de aula. A tentativa é angariar subsídios que justifiquem

condutas que, em vez de serem entendidas como indisciplinadas, seriam vistas

como virtudes.

Mas o fato é que um dos questionamentos mais inquietantes por

parte dos educadores refere-se ao comportamento indisciplinado dos alunos

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em sala de aula. Afinal, por que eles não obedecem, nem a seus pais, muito

menos aos professores? Se caíram por terra a maioria dos limites morais de

respeito, educação e obediência que permeavam as relações familiares e

sociais, qual ferramenta o educador teria disponível no atual momento?

A palavra “limite”, com toda sua significação, parece ter

desaparecido do convívio social. Assim, as crianças e adolescentes de hoje

não aceitariam limites, os pais não os imporiam, a escola não os ensinaria, a

sociedade não os exigiria e a televisão os sabotaria.

Isso sem falar nas variadas tribos sociais nas quais adentram uma

parcela significativa de pessoas recém saídas da infância. Tais tribos – emo,

funk, rapper, surfe, etc – exigem de seus integrantes comportamento próprio,

tornando irrelevante um comportamento social (traduzido como “padrão

normal”) imposto pela sociedade vigente. Comportamento esse que,

invariavelmente passa por valores morais – ou a falta deles – que norteavam a

sociedade do tempo de nossos avós.

Diante de tal impasse, não apenas professores, diretores e

orientadores, mas também pais e os próprios alunos, com o tempo, acabaram

tornando-se reféns do emaranhado de significados e valores que a indisciplina

escolar comporta.

Por isso, e muito mais, é pertinente a pergunta feita e discutida por

vários autores: “Como entendê-la (a indisciplina), enfim, para além da

naturalidade com que é processada no dia-a-dia?”

Tal questionamento levantado por nos induz a outro questionamento

não menos importante: afinal, quais valores morais tem mais valia nesses

tempos de constantes rupturas? Tempos esses que, pela velocidade e

volatilidade, não promovem a ambiência necessária para o enraizamento de

novos valores nem permitem o retorno daqueles que estabeleciam as relações

entre professor e aluno até meados do século 20.

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Também é fato que a indisciplina, que cotidianamente se apresenta

nas salas de aula de escolas de todo o país, tem sido tema que mobiliza um

crescente número de professores, técnicos e pais. Mas para a pedagoga e

professora da UNESP, Teresa Cristina R. Rego, o assunto vem sendo debatido

de forma superficial, tanto por parte dos profissionais que atuam no meio

educacional, como pelos pais dos alunos.

Rego é autora do livro “Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural

da educação” (Vozes, 1995). Também atuou como professora, coordenadora e

diretora pedagógica em escolas de educação infantil, de primeiro e segundo

graus, além de atuar como professora da UNESP. Justamente por atuar no

meio educacional ela fala com propriedade sobre o assunto no artigo “A

indisciplina e o processo educativo: uma análise na perspectiva vigotskiana”,

contido no livro “Indisciplina na Escola”, organizado por Aquino.

Certa altura do texto ela afirma:

Além da falta de clareza e consenso a respeito do significado do termo indisciplina ou disciplina, a maior parte das análises parece expressar as marcas de um discurso fortemente impregnado pelos dogmas e mitos do senso comum (nem sempre de bom senso). Isto se agrava na medida em que os estudos e pesquisas sobre a indisciplina, além de parciais, ainda são relativamente escassos. (REGO, 1996, p. 83).

Antes de continuar tecendo argumentos que justifiquem o tema

central deste estudo – a indisciplina – vejamos então, o significado da palavra

disciplina, contido no Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio

Buarque de Holanda Ferreira (Nova Fronteira-2ª edição 1998):

Regime de ordem imposta ou livremente consentida; ordem que convém ao funcionamento regular duma organização (militar, escolar, etc); relações de subordinação do aluno ao

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mestre ou ao instrutor; observância de preceitos e normas; submissão a um regulamento.

No mesmo dicionário, para o termo indisciplina, a definição é:

“procedimento, ato ou dito contrário à disciplina; desobediência; desordem;

rebelião”. Já para o significado de disciplinável, Aurélio diz ser “aquele que

pode ser disciplinado”. Desta forma, indisciplinado seria aquele aluno que “se

insurge contra a disciplina”.

Em seu artigo, a professora da UNESP aponta algumas

interpretações para a significância desses três termos. Ela entende que tais

definições podem ser interpretadas de diversas formas:

Disciplinável é aquele que se deixa submeter, que se sujeita, de modo passivo, ao conjunto de prescrições normativas geralmente estabelecidas por outrem ou relacionadas a necessidades externas a este. Disciplinado é, portanto, aquele que obedece, que cede, sem questionar, às regras e preceitos vigentes em determinada organização. Disciplinador é, nesta perspectiva, aquele que molda, modela, leva o indivíduo ou o conjunto de indivíduos à submissão, à obediência e à acomodação. Já o indisciplinado é o que se rebela, que não acata e não se submete, nem tampouco se acomoda, e, agindo assim, provoca rupturas e questionamentos.(REGO, 1996, p. 85).

Em seu estudo, Rego (1996) destaca duas tendências presentes no

meio educacional. Uma diz respeito à compreensão de que a indisciplina

presente no ato de um aluno ou um grupo de alunos é vista como um

“comportamento inadequado, um sinal de rebeldia, intransigência, desacato,

traduzida na falta de educação ou de respeito pelas autoridades, na bagunça

ou agitação motora”. Neste caso, fica patente “a incapacidade do aluno em se

ajustar às normas e padrões de comportamento esperados.” A pedagoga

afirma que, sob esta ótica,

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(...) a disciplina parece ser vista como obediência cega a um conjunto de prescrições e, principalmente, como um pré-requisito para o bom aproveitamento do que é oferecido na escola. (REGO, 1996, p. 87).

Ela observa que, sob esta perspectiva, “qualquer manifestação de

inquietação, questionamento, discordância, conversa ou desatenção por parte

dos alunos é entendida como indisciplina”, por parte daqueles que atuam no

meio educacional.

Contrariamente a esta visão, há outra tendência no meio

educacional destacada pela pedagoga, que justamente se opõe a anterior. Tal

visão defende a seguinte tese:

Qualquer tentativa de elaboração de parâmetros ou definição de diretrizes é vista como prática autoritária, deformadora ou restritiva, que ameaça o espírito democrático e cerceia a liberdade e espontaneidade das crianças e jovens. (REGO, 1996, p. 86).

Neste aspecto, a disciplina assume uma conotação de prática

opressiva e de enquadramento e, sendo assim, toda e qualquer regra ou norma

existente no meio escolar deve ser abolida.

Para os educadores que defendem este ponto de vista, condutas

vista como indisciplinadas são, na realidade, entendidas como uma virtude, já

que “pressupõe coragem de ousar, de desafiar os padrões vigentes, de se opor

à tirania muitas vezes presente no cotidiano escolar.”

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1.2 – O complexo universo do comportamento indisciplinado

A complexidade de fatores que envolvem o comportamento

indisciplinado do aluno em sala de aula levou Yves de La Taille (mestre e

doutor em Psicologia Escolar pelo Instituto de Psicologia da USP) destacar

que, se entendermos por disciplina comportamento regido por um conjunto de

normas, a indisciplina poderá se apresentar como revolta contra estas normas

e o desconhecimento delas. La Taille (1996) afirma que no primeiro caso, a

indisciplina traduz-se por uma forma de desobediência insolente e no segundo,

pelo caos dos comportamentos, pela desorganização das relações.

Para La Taille (1996) toda moral pede disciplina, mas toda disciplina

não é moral. O doutor em Psicologia Escolar vai mais fundo e pergunta: “o que

há de moral em permanecer em silêncio horas a fio, ou em fazer fila?” E ele

mesmo responde: “nada, evidentemente”.

Em seu artigo, ao abordar a questão da disciplina pela dimensão da

moralidade, ele diz não pensar que “toda indisciplina seja condenável

moralmente falando, nem que o aluno que segue as normas escolares de

comportamento seja necessariamente um amante das virtudes.”

La Taille defende que certos atos de indisciplina podem ter caráter

genuinamente moral.

Por exemplo, quando um aluno é humilhado, injustiçado e se revolta contra as autoridades que o vitimizam. Portanto, tenhamos cuidado em condenar a indisciplina sem ter examinado a razão de ser das normas impostas e dos comportamentos esperados (e sem também termos pensado na idade dos alunos: não se pode exigir as mesmas condutas e compreensão de crianças de 8 anos e de adolescentes de 13 ou 14) (LA TAILLE, 1996, p. 20).

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Para ele fica evidente o vínculo entre disciplina em sala de aula e

moral.

Primeiramente, porque tanto disciplina como moral colocam o problema da relação do indivíduo com um conjunto de normas. E segundo, porque vários atos de indisciplina traduzem-se pelo desrespeito, seja do colega, seja do professor, seja ainda da própria instituição escolar (depredação das instalações, por exemplo). É certamente este aspecto desrespeitoso de certos comportamentos discentes que preocupa no mais alto grau os educadores. Muitos tem medo de entrar em sala de aula, não apenas por temerem não ter êxito na tarefa de ensinar, mas sobretudo por não saberem se receberão tratamento digno por parte de seus alunos. A indisciplina é frequentemente sentida como humilhante. (LA TAILLE, 1996, p. 20).

Fazendo um cotejamento entre disciplina e vergonha, recorremos ao

filósofo francês Jean-Paul Sartre (O ser e o nada), cuja definição mais rigorosa

de vergonha é a seguinte (1943): “A vergonha pura não é o sentimento de ser

tal ou tal objeto repreensível, mas em geral, de ser um objeto, isto é, de me

reconhecer neste ser decaído, dependente e imóvel que sou para outrem”.

Portanto, o sentimento de vergonha se origina no fato da pessoa se

saber objeto do olhar do outro. Comumente este olhar está sujeito a uma

análise associada ao juízo de valor que temos de nós mesmos, somado ao

julgamento (negativo ou não) que os outros exercem sobre nós.

Assim, qualquer situação pode ser causa de vergonha: vergonha de

ser feio, de pertencer a uma camada econômica menos privilegiada ou a uma

determinada raça; vergonha de tirar nota ruim ou perder a disputa de um jogo,

etc. Por isso, para La Taille (1996), é evidente o vínculo entre disciplina em

sala de aula e moral. Tanto que “a indisciplina é frequentemente sentida como

humilhante.”

Ele aprofunda sua reflexão ao analisar o enfraquecimento da

relação entre vergonha e moral, causa explicável de certos comportamentos

indisciplinados relacionados a valores morais.

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Pensemos de forma extrema: se o essencial da imagem que os alunos tem de si (e querem que os outros tenham deles) inclui poucos valores morais, se seu “orgulho” alimenta-se de outras características, é de se esperar que sejam poucos inclinados a ver no respeito pela dignidade alheia um valor a ser reverenciado, e nem a considerar seus atos de desobediência como correspondentes a uma imagem positiva de si (afirmação da própria dignidade, como no caso da revolta contra a autoridade). Não sentirão nem vergonha, nem orgulho de suas balbúrdias. Não sentirão nada. O olhar reprovador do professor não terá efeito: seus cenários são outros, suas plateias são outras. (LA TAILLE, 1996, p 21).

Levando em conta o que foi exposto até aqui, fica patente o quanto é

complexo o universo onde se desenrola o teatro das relações sociais, tendo a

escola como um dos principais palcos desse grande teatro. Isto posto, a

indisciplina em sala de aula, como afirma La Taille (1996), “não se deve

essencialmente a falhas pedagógicas, pois está em jogo o lugar que a escola

ocupa hoje na sociedade, o lugar que a criança e o jovem ocupam, o lugar que

a moral ocupa.”

Para ele, e para nós também, se hoje vivemos (graças a Deus), sob

a égide da democracia, resta à escola lembrar a seus alunos e à sociedade

que “sua finalidade principal é a preparação para o exercício da cidadania.” E,

certamente para aqueles que querem ter acesso a esta formação, a escola

sempre será o espaço adequado onde se poderá encontrar aquilo que se

busca.

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CAPÍTULO II

A PERMISSIVIDADE DA FAMÍLIA

Levando-se em conta que escola e pais têm funções

complementares, não se pode exigir que a instituição educacional dê à criança

e ao adolescente a parte essencial que eles deveriam ter recebido em casa.

Aliás, existem muitos pais que perderam suas referências educativas e desta

forma, delegam à escola a responsabilidade de educar os seus filhos.

Mesmo assim, ela (escola) procura suprir minimamente a educação

que, por ventura, eles deixaram de trazer do ambiente familiar, colocando

regras e normas de conduta capazes de manter a ambiência escolar o mais

longe possível do caos e da barbárie.

Autoridade em psicopedagogia, o psiquiatra Içami Tiba afirma:

Há pais que, por manter seus filhos na escola, acham que esta é responsável pela educação dos mesmos. Quando a escola reclama de maus comportamentos ou das indisciplinas dos alunos, os pais jogam a responsabilidade sobre a escola. (TIBA, 1996, p 169).

A ausência de limites, muitas vezes presente na educação familiar

contemporânea, mostra uma conduta demasiadamente tolerante por parte dos

pais, podendo resultar em comportamentos indisciplinados, agressivos,

insolentes e rebeldes de crianças e jovens que frequentam as escolas de todo

o país.

Acontece que a interiorização das boas condutas não acontece por

si só. Ao contrário, exige dos pais a autoridade equilibrada de dizer sim e não

nos momentos apropriados, em função da firmeza, do bom senso e da

integridade.

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Uma pergunta clássica e, ao mesmo tempo intrigante, tem estado

presente no pensamento da maioria dos educadores: os pais estão realmente

preparados para exercer sobre os filhos uma autoridade equilibrada?

Não se pode negar que muitos pais estão longe de dominar a arte

de educar seus filhos com equilíbrio e bom senso. Afinal, eles mesmos talvez

não tenham recebido uma educação dessa ordem e, portanto, não possuem

condições de passar adiante aquilo que não receberam. Por isso, muitos atuam

de maneira confusa e equivocada quando se trata de colocar limites aos filhos.

Para Tiba (1996), os pais perderam a referência da educação de

seus filhos e passaram só a prover, ficando desprovidos de autoridade. Ainda

segundo entrevista concedida ao jornal O Diário do Norte do Paraná, o

psicopedagogo afirma: “Os filhos não ouvem os pais, fazem o que tem vontade

e os pais acabam aceitando para não contrariar, achando que se o filho fizer o

que tem vontade será um líder. Aí que está todo o engano de posição na vida.”

Tiba (1996) é categórico ao afirmar que a indisciplina é o maior mal

da educação moderna. Dessa forma, a falta de limites da criança e do

adolescente seria o resultado imediato da permissividade dos pais que, por sua

vez, muitas vezes acaba colocando obstáculos para o professor em sala de

aula.

Por experiência própria ouso afirmar que há um percentual

significativo de famílias que nem sempre ajudam o trabalho do professor em

sala de aula, já que suas crianças seriam frutos da desestruturação, do

despreparo e, em muitos casos, do abandono.

Por conta disso, infelizmente, há professores que, dependendo da

escola onde atuam, acabam tornando-se quase reféns de crianças e jovens

tirânicos, ou "sem educação", para usar um termo mais moderado. Ou pior:

assumem uma postura indiferente e sem comprometimento com o ato de

educar.

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Na tentativa de amenizar este triste quadro, mais uma vez

recorremos ao mestre e doutor em Psicologia Escolar, Júlio Groppa Aquino

para embasar a distinção de função da família e da escola. Diz ele em seu

artigo “A indisciplina e a escola atual”, publicado na Revista da Faculdade de

Educação:

Família e escola não são a mesma coisa, e uma não é a continuidade natural da outra; porque se assim o fosse, também o inverso da equação acima deveria ser igualmente plausível. Ou seja: aluno indisciplinado na escola converter-se-ia em filho mal-educado em casa. (AQUINO, 1998, p. 32).

2.1 – A estruturação escolar no passado

Lançando nosso olhar para os padrões disciplinares vigentes nas

escolas até o final dos anos 70/80, temos uma visível percepção das mudanças

operadas, tanto na sociedade quanto dentro das instituições de ensino.

Embora acreditemos que mudanças são bem vindas, algumas delas

preocupam, principalmente as que se referem aos comportamentos

indisciplinados ocorridos dentro das instituições educacionais.

Recorremos a Aquino novamente para trazer uma hipótese que

explicaria o comportamento indisciplinado da criança e do jovem em sala de

aula. Hipótese esta embasada no entendimento de que o estudante de agora é

menos respeitador do que o aluno de antigamente, por conta de que a escola

da atualidade tornou-se permissiva demais, se comparada ao rigor empregado

nas escolas do século 20.

Acontece que as escolas do passado seguiam um sistema de

educação tradicional, exigindo dos alunos um comportamento quase

equivalente ao comportamento militar. Tanto que, quando atitudes de

indisciplina eram constatadas, os castigos eram aplicados. Alguns até físicos.

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Embora seja mais comum do que parece, muitos pais (e até

professores) andam na contramão da história, voltando seus olhares para a

escola de suas infâncias, num misto de nostalgia, reverência e – pasmem! –

admiração.

Sobre aquela escola, Aquino diz em seu trabalho publicado na

Revista da Faculdade de Educação:

(...) elas eram fundamentalmente militarizadas no seu funcionamento cotidiano. E o que isso significa? Se buscarmos exemplos em nossa memória, veremos isso com clareza: as filas, o pátio, o uniforme, os cânticos, e particularmente a relação de medo e coação que tínhamos com as figuras escolares (que descuidadamente nomeamos hoje como "de respeito"). (AQUINO, 1998, p 32).

Ainda segundo Aquino, a relação escola-professor-aluno daqueles

tempos revelava:

(...) um espírito fortemente hierarquizado/hierarquizante da época, desenhando os contornos das relações institucionais. É possível afirmar, então, que essa suposta escola de excelência de antigamente funcionava, na maioria das vezes, na base da ameaça e do castigo – traços nítidos de uma cultura militarizada impregnada no cotidiano escolar daquela época sombria da história brasileira. Estamos nos referindo, é claro, à ditadura militar. (AQUINO, 1998, p. 32).

Para o professor da Faculdade de Educação da USP (e para nós

também), é evidente que se faz necessária uma relação de respeito entre as

partes envolvidas no cotidiano escolar, em nome do bom desenvolvimento do

trabalho pedagógico aplicado em sala de aula.

Mas esse respeito não pode (e nem deve) ser respaldado por uma

relação de temor ou medo, como ocorria antigamente, quando o respeito que o

aluno tinha pelo professor era “fruto de uma espécie de submissão e

obediência cegas a um ‘superior’ na hierarquia escolar”.

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Aquino (1998) destaca que pode-se respeitar alguém ou por medo

ou por admiração.

Convenhamos, há uma grande diferença entre esses dois tipos de

"respeito". O primeiro funda-se nas noções de hierarquia e superioridade, o

segundo, nas de assimetria e diferença.

Hoje, o respeito ao professor não mais pode advir do medo da

punição – assim como nos quartéis – mas da autoridade inerente ao papel do

“profissional” docente. Trata-se, assim, de uma transformação histórica radical

do lugar social das práticas escolares.

Findo o período da ditadura militar e com o advento da abertura

democrática, constatamos que, nem o aluno, nem o professor deste início do

século 21 viveu aqueles tempos históricos obscuros vividos por nossos pais e

avós. Ao contrário, ambos são frutos de outras coordenadas históricas.

Essa transformação histórica mudou o lugar social das práticas

escolares. Hoje, “o professor não é mais um encarregado de distribuir e fazer

cumprir ordens disciplinares, mas um profissional cujas tarefas nem sequer se

aproximam dessa função disciplinadora, apassivadora, silenciadora, de antes”.

Assim, constatamos que fica clara a necessidade de se estabelecer outro tipo

de relação civil em sala de aula, embora tal relação não seja o tema ao qual

nos propomos dissertar neste trabalho.

2.2 – A Contracultura e a ruptura dos padrões de

comportamento

Embora pareça que o desejo de rompimento dos valores e regras

vigentes – até pouco tempo depois do fim da ditadura militar – tenha sido mais

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marcante do que propriamente revolucionário, não há como negar as

mudanças operadas no padrão de comportamento daqueles que ontem eram

os filhos e hoje são os pais ou avós.

E são exatamente estes os pais que hoje se encontram perdidos,

não se sentido confortáveis no papel de educador “careta”, tendo que impor

aos filhos e netos, regras que eles mesmos, um dia – de forma consciente ou

não – se opuseram.

Assim como as escolas de hoje – no que diz respeito aos conteúdos

pedagógicos e disciplinares – não são as mesmas dos anos 60/70, é pertinente

ressaltar que muitos destes pais vistos como permissivos, confusos ou

equivocados são oriundos daquelas décadas. E foi justamente este o momento

em que observou-se uma retumbante ruptura dos padrões de comportamento,

tanto político como econômico e, principalmente social.

Por conta de tais mudanças, arriscamos apontar um acontecimento

histórico-cultural que talvez, em tese, justifique a quebra dos padrões de

comportamento presente até então na relação familiar e dos membros desta

família (crianças e jovens) com a escola.

Trata-se da Contracultura 1, movimento desencadeado por jovens

dos anos 60/70 que desejavam romper com os valores e regras impostos por

uma sociedade consumista e opressora.

O movimento – cujo ápice acontece durante o Festival de

Woodstock2 , em 1969 – pregava, entre outras coisas, o uso de drogas,

protestos antiguerra e anticapitalismo, conceito de amor livre, vida em

comunidade e a libertação da mulher.

1 Anexo

2 Anexo

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A ação revolucionária daqueles jovens, que embora tenham agido

de forma local, acabou propagando-se mundialmente nas consciências

daqueles que, mesmo não participando ativamente do movimento, repercutiram

seus efeitos, tomados que foram pela ressonância mórfica3 que o movimento

causou naquela geração.

A hipótese dos "campos mórficos", proposta pelo biólogo e cientista

inglês Rupert Sheldrake, doutor em biologia pela tradicional Universidade de

Cambridge, sugere que esses “campos mórficos são estruturas que se

estendem no espaço-tempo e moldam a forma e o comportamento de todos os

sistemas do mundo material”. Se for definitivamente aceito que os conteúdos

mentais se transmitem imperceptivelmente de pessoa a pessoa, essa

propriedade terá aplicações óbvias no domínio da educação.

O cientista faz uma interessante colocação que pode – esperamos

em tempo breve – lançar um grande holofote no pensar educacional: "Métodos

educacionais que realcem o processo de ressonância mórfica podem levar a

uma notável aceleração do aprendizado”, afirma. Tal possibilidade está sendo

testada na Ross School, uma escola experimental de Nova York dirigida pelo

matemático e filósofo Ralph Abraham.

Por isso, acreditamos que talvez resida na teoria de Sheldrake

argumentos suficientes que justifiquem as constantes mudanças que estamos

presenciando a partir do final da década de 80. Tanto é que, depois da

liberação de costumes, a criança passou a ser educada solta demais, sem

regras nem parâmetros que desse a ela o entendimento necessário para

estabelecer um comportamento razoavelmente disciplinado.

Afinal, os pais e avós delas são os mesmos (pelo menos em tese)

que se rebelaram contra os costumes que até então vinham sendo

estabelecidos pela sociedade. Se aqueles pais passaram a recusar antigas

3 Anexo

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regras e imposições, como poderiam eles próprios impor tais regras a seus

filhos?

Como a sociedade não estava pronta para essa ruptura de valores,

a geração de pais dessas duas últimas décadas tornou-se confusa diante de tal

impasse. Só agora uma luz no fim do túnel começa a ser vista por cientistas

sociais e educadores modernos. Eles entenderam que houve uma quebra de

paradigma e começaram a investigar outras possibilidades de convivência

social.

Desse modo, Aquino afirma:

Não se pode sustentar, nem na teoria nem na prática, que as crianças padeçam de falta generalizada de regra e de limite, embora esta ideia esteja muito disseminada no meio escolar. Ao contrário, a inquietação e a curiosidade infantis ou do jovem, que antes eram simplesmente reprimidas, apagadas do cotidiano escolar, podem hoje ser encaradas como excelentes ingredientes para o trabalho de sala de aula. Só depende do manejo delas... (AQUINO, 1998, p. 33).

Ainda assim, não se pode negligenciar o fato de que

comportamentos indisciplinados – alguns até descambando para a

agressividade contra o professor e os próprios colegas – podem indicar o total

desinteresse do aluno pelo professor e pela escola. Principalmente se este

professor ou instituição educacional, de uma maneira ou outra, insiste em

manter um padrão educacional não condizente com as transformações

ocorridas na sociedade nas últimas três décadas.

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CAPÍTULO 3

O DESINTERESSE PELA ESCOLA

Alguns comportamentos indisciplinados observados em sala de aula

(e no ambiente escolar como um todo), podem estar estreitamente ligados ao

enfraquecimento de valores morais, que atualmente já não tem tanta

importância para o homem contemporâneo.

Sendo observado que a ideia de valores morais parte de cada ser

em sua interpretação, ou seja, o que para um constitui como valor, para o outro

pode ser indiferente. Não tendo nenhum significado. O mesmo deve estar

ocorrendo com a importância do estudo.

É de Pascal Bruckner, a melhor colocação que encontramos para

ratificar tal observação. Diz ele em “A tentação da inocência”:

Nossa época cessou de reverenciar o estudo e a instrução. Seus ídolos estão em outros lugares (...) e não existe quase mais nada da vergonha que assolava, há pouco tempo, o mau aluno, o ignorante. Pelo contrário, ei-los que reinam na mídia, novos reis preguiçosos, que, longe de enrubescerem de não saber nada, se orgulham disto (...) Não satisfeitos em ridicularizar a escola e a universidade, pretendem suplantá-la e provar que o sucesso e o dinheiro não passam mais por esses templos do conhecimento. (BRUCKNER, 1995, p. 90).

Para situar o aluno desinteressado naquilo que lhe é oferecido em

sala de aula é importante considerar que hoje este aluno não é o mesmo de

algumas décadas atrás. Aqueles ouviam atenta e obedientemente o que lhes

era transmitido pelos professores. Já os alunos de agora, exigem uma

motivação maior para a aplicação da grade curricular a que está sujeito o

aprendizado.

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Nesse caso, teríamos então, três categorias de aluno: – aquele que

se submete, sem questionar, às regras e normas impostas pela instituição

escolar; – o que, ao contrário do primeiro, não aceita tais regras e

normas, desenvolvendo, por exemplo, comportamento indisciplinado como

forma de desafio, protesto e oposição; – e o aluno desinteressado, que também

pode apresentar comportamento indisciplinado, causado principalmente pelo

desinteresse em permanecer na escola, aliado à recusa em aceitar o

aprendizado de forma convencional.

Para esta terceira categoria de aluno, a escola, como parte

integrante da sociedade, não lhe desperta interesse, embora (enquanto criança

e jovem) ele a frequente por imposição dos pais. Sejam estes pais conscientes

da importância da instituição educacional, ou aqueles dependentes de

programas sociais do governo, como o Bolsa Família, por exemplo.

Enfim, o fato é que para alunos desinteressados, a escola adquire

contorno de algo maçante e sem propósito, provocando neles comportamento

ou apático ou indisciplinado.

Tanto é que, do ponto de vista do aluno indisciplinado o sistema

escolar recebe muitas críticas e reclamações. Algumas foram brilhantemente

citadas por Rego:

Reclamam não somente do autoritarismo ainda tão presente nas relações escolares, mas também da qualidade das aulas, da maneira que os horários e os espaços são organizados, do pouco tempo de recreio, da quantidade de matérias incompreensíveis, pouco significativas e desinteressantes, da aspereza de determinado professor, do espontaneísmo de outro, da falta de clareza dos educadores, das aulas monótonas, da obrigação de permanecerem horas sentados, da escassez de materiais e propostas desafiadoras, da ausência de regras claras, etc. (REGO, 1996, p.90).

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3.1 – A influencia dos meios de comunicação no cotidiano dos

alunos

Se não se pode negligenciar – como dissemos no final do capítulo

anterior – o fato de que comportamentos indisciplinados podem indicar o

desinteresse do aluno pelo professor ou pela escola ou por ambos, também

não podemos deixar de observar que tal desinteresse pode indicar a

insistência, por parte de algumas instituições educacionais, em manter um

padrão educacional não condizente com as transformações ocorridas na

sociedade nas últimas três décadas.

Afinal, cada vez mais, a TV, a Internet e os atrativos jogos de

computador ocupam um espaço cada vez maior no cotidiano de crianças e

jovens. Estes atrativos acabam atraindo mais a atenção deles do que “a chata”

da escola.

Como diz Aquino:

Talvez a indisciplina escolar esteja nos indicando que se trata de uma recusa desse novo sujeito histórico a práticas fortemente arraigadas no cotidiano escolar, assim como uma tentativa de apropriação da escola de outra maneira, mais aberta, mais fluida, mais democrática. Trata-se do clamor de um novo tipo de relação civil, confrontativa na maioria das vezes, pedindo passagem a qualquer custo. Nesse sentido, a indisciplina estaria indicando também uma necessidade legítima de transformações no interior das relações escolares e, em particular, na relação professor-aluno. (AQUINO, 1998, p. 64).

Por isso, é grande o número de professores que levantam a hipótese

de que, para um percentual significativo de alunos, a sala de aula não é tão

atrativa quanto outros meios de comunicação, particularmente a televisão e a

internet, residindo aí a falta de interesse e a apatia do aluno em relação à

escola. Ao ponto de Aquino afirmar:

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Muitas vezes, entretanto, temos a impressão de que os alunos não têm interesse algum naquilo que temos para lhes ofertar. Ou então, que os conteúdos escolares seriam, na verdade, alheios aos interesses imediatos, pontuais da criança e do jovem contemporâneos. (AQUINO, 1998, p. 65).

Corroborando com esse pensamento, destacamos dois exemplos.

Um deles nos chegou via internet em outubro de 2011, decorrente da prática

usual da disseminação de mensagens e textos tão frequentes nesta via de

comunicação. Trata-se do texto “Papo cabeça na internet”, do escritor e

roteirista, José Roberto Torero, que pode ser lido na íntegra no anexo 4.

O texto retrata a grande lacuna existente na história recente do país

em relação à difusão do golpe militar ocorrido em março de 1964. E

impressiona pelo distanciamento que o jovem contemporâneo tem daquele

importante momento atravessado pelo país. Muitos até, simplesmente o

desconhece.

Olhando a História no seu sentido amplo, nem faz tanto tempo

assim. Mas o desconhecimento de que o país viveu 20 anos de ditadura militar

por parte daqueles nascidos da década de 90 em diante e que nunca ouviram

falar em tal fato, nem na escola nem em casa, pode parecer absurdo, mas é

uma das desconcertantes verdades que presenciamos no atual contexto

histórico-social.

Exageros à parte que o escritor tenha pontuado, o texto deixa muito

claro o distanciamento que há em relação à história recente do país e o

interesse que o aluno atual possa ter em relação a esta mesma história.

Quando constatamos que nosso aluno de hoje não viveu esses tempos históricos obscuros, que ele é fruto de outras coordenadas históricas - e agora estamos nos referindo à abertura democrática -, fica claro que precisamos estabelecer outro tipo de relação civil em sala de aula. (AQUINO, 1998, p. 71).

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O outro exemplo também pôde ser vivenciado recentemente,

quando entrou em cartaz o filme “As Aventuras de Agamenon, o Repórter”,

dirigido por Victor Lopes, com roteiro de Marcelo Madureira e Hubert Aranha,

humoristas do recém-extinto programa da TV Globo, Casseta & Planeta.

Embora o cinema estivesse lotado de adolescentes, pouquíssimas pessoas –

todas com idade superior a 35 anos – riram das sátiras presentes no filme,

muitas exatamente referentes à época da ditadura militar.

Uma crítica lida recentemente, destaca bem o distanciamento, e

conseqüente o desinteresse, do jovem com a História. Que dizer, então, com a

Geografia, o Português, a Matemática e outras matérias que fazem parte do

ensino como um todo?

Vejamos o comentário postado no blog Cinéfila por Natureza

O tipo de comédia que os Cassetas fazem é muito ultrapassado – para não dizer sem graça. Sim, eles são excelentes na sátira política, mas falta a eles um tipo de linguagem mais moderna, que tenha um apelo não só entre o público jovem, como também com o público em geral. Essa falha de comunicação está muito bem notada no filme. (http://cinefilapornatureza.wordpress.com). Acesso em:

25/01/12.

Claro está, então, que uma linguagem moderna e conteúdo

pedagógico atraente são os desafios da escola atual para manter o aluno

interessado em lá permanecer.

Em recente artigo (O desinteresse do aluno)4 publicado por

Edmilson Castro, professor de história, ele afirma (2011):

Cabe à escola, sem dúvida, oferecer um espaço aprazível para a aprendizagem, se possível uma mistura de hotel, clube e parque de diversões, mas para que a satisfação seja plena por

4 http://territoriosnaeducacao.wordpress.com

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parte dos alunos e de suas famílias, e a “motivação” desperte do sono interior da petizada, o professor será convocado para o centro do espetáculo. (...) A escola é, ainda, um espaço de enclausuramento de corpos e ninguém enclausurado, poderá ser mantido, todo o tempo, motivado, concentrado e alegre.

Um fato inegável observado pelas instituições educacionais diz

respeito à significativa porcentagem de estudantes que exige motivação cada

vez maior para irem à escola. A respeito dessa exigência, La Taille (1996)

destaca:

Uma das belas descobertas da psicologia foi o papel das motivações (conscientes e inconscientes) nas condutas humanas. Infelizmente, várias vezes tal descoberta acabou por legitimar um novo despotismo: o despotismo do desejo. Nas escolas e nas universidades, este fato é marcante. Os alunos acham perfeitamente normal desertar aulas por eles consideradas “maçantes”, e isto a despeito da qualidade intelectual da matéria dada e do professor. Portanto, não é mais em nome de uma norma que se pode exigir certos comportamentos dos alunos, mas sim pela procura (no fundo impossível) de contemplar suas motivações mais recônditas. (LA TAILLE, 1996, p. 42).

Assim, vemos reflexões que justificariam a pouca vontade que o

aluno desinteressado tem em permanecer na escola. E com isso, as

constantes buscas das instituições educacionais no sentido de se adequarem

aos novos padrões de interesse da população estudantil.

Por isso, não à toa temos verificado nesta última década, a grande

proliferação de instituições que oferecem ensino à distância. E o grande

número de estudantes que estão migrando para este novo padrão de ensino.

Para ratificar nosso entendimento a respeito do universo onde se

apresenta a indisciplina no ambiente escolar, gerada pelas inúmeras causas já

abordadas (inclusive a do aluno desinteressado), recorremos ao que diz a

pedagoga e mestre em educação pela Unicamp, Laurizete Ferragut Passos:

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O ponto a ser refletido é sobre qual disciplina estamos falando e sobre como ela pode adquirir um significado de ousadia, de criatividade, de inconformismo e de resistência. Percebam que não estou negando a necessidade da disciplina, mas quero colocá-la num plano secundário, para fortalecer aquilo que se coloca num plano anterior a ela, que é a aprendizagem e a relação que ela pode gerar com o saber. Nesse sentido, entendo que o ato pedagógico, enquanto momento de construção de conhecimento, não precisa ser um ato silenciado, que reduz o professor à única condição “daquele que ensina” e faz o aluno não extrapolar sua condição de “sujeito que aprende”. Ao contrário, o ato pedagógico é o momento do emergir das falas, do movimento, da rebeldia, da oposição, da ânsia de descobrir e construir juntos, professores e alunos. (PASSOS, 1996, p. 92).

Não podemos nos esquecer que a “indisciplina é um evento escolar

que estaria sinalizando, a quem interessar, que algo, do ponto de vista

pedagógico, e mais especificamente da sala de aula, não está se desdobrando

de acordo com as expectativas dos envolvidos.

Dessa forma, cabe aos envolvidos – professores, pais e gestores

educacionais – pensarem o ensino de maneira ampla, abrangente e despida de

conceitos e padrões que não se justificam mais e nem se aplicam ao momento

contemporâneo que ora vivenciamos.

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CONCLUSÃO

Com este trabalho pudemos apurar, através das diversas pesquisas,

que a indisciplina – tão cotidianamente presente na esfera escolar – faz parte

de algo mais amplo e está inserida no contexto do homem contemporâneo,

cujo padrão moral e seus valores íntimos, somado à seus interesses pessoais

de informação, já não são os mesmos de trinta anos atrás.

Homem esse que, não podendo romper ainda com os padrões de

aprendizado convencional – ou não sabendo como fazê-lo de forma definitiva –

permanece atrelado ao ensino formal. E como tentativa de se desvencilhar da

exigência de ter que receber um calhamaço de informação acadêmica (para

muitos nem sempre necessária) e ter de estar presente dentro da escola horas

a fio, ele, aluno, apresenta inúmeras maneiras de demonstrar seu

descontentamento, apresentando comportamento indisciplinado, como se

dissesse o tempo todo para a escola “eu não quero mais isso!”

Dessa forma, este fenômeno não pode ser pensado de maneira

isolada, uma vez que suas causas são diversas, fazendo parte de uma

discussão que está longe de ser encerrada. Pelo contrário, está apenas no

começo.

Nossa pesquisa pôde apurar também que, nas suas diversas

causas, a indisciplina em sala de aula advém de três principais fatores que

procuramos levantar neste trabalho: problemas sociais e psicológicos; a

permissividade da família e o desinteresse pela escola. Todos eles fazendo

parte do conjunto de causas que levam o aluno a apresentar comportamento

indisciplinado.

Este desafio precisa contar com um trabalho permanente e coletivo

dentro dos ambientes educacionais, que envolva família, professores,

funcionários, gestores e alunos. De forma democrática, não como mera

presença de responsáveis e alunos em alguns momentos, mas como um

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processo gestor verdadeiramente em conjunto com todos os atores envolvidos,

não só nas etapas de execução, como também nas decisões fundamentais ao

bom andamento de todo processo educacional da escola.

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ANEXO 1

INTERNET

CONTRACULTURA

As manifestações que vão contra os valores vigentes de uma época

Por Rainer Gonçalves Sousa – Mestre em História

http://www.mundoeducacao.com.br/sociologia/contracultura.htm

Acessado em 26/12/2011

Nas sociedades capitalistas, a organização da sociedade e das

instituições promoveu a observância de um interessante processo de

homogeneização da população como um todo. Diversos teóricos apontaram

uma reprodutibilidade em alta escala de formas de pensar, agir e sentir que

estariam sendo levadas a todos os indivíduos com o objetivo de propagar uma

mesma compreensão do mundo. Nas Ciências Humanas, os conceitos de

“cultura de massa” e “indústria cultural” surgiram justamente para consolidar tal

ideia.

Em muitos estudos, alguns pesquisadores tiveram a intenção de

mostrar como determinadas ideologias ganham alcance na sociedade e, a

partir de sua propagação, passam a sedimentar um costume compreendido

como natural. Apesar da relevância incontestável desse tipo de trabalho, outros

importantes pensadores da cultura estabeleceram um questionamento sobre

essa ideia de “cultura dominante” ao mostrarem outra possibilidade de resposta

para o tema.

Partindo para o campo das práticas culturais, também podemos

notar que o desenvolvimento de costumes vão justamente contra os

pressupostos comungados pela maioria. Foi nesse momento em que passou a

se trabalhar com o conceito de “contracultura”, definidor de todas as práticas e

manifestações que visam criticar, debater e questionar tudo aquilo que é visto

como vigente em um determinado contexto sócio-histórico.

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Um dos mais reconhecidos tipos de manifestação contracultural

aconteceu nas décadas de 1950 e 1960, nos Estados Unidos. Após a saída

deste país da Segunda Guerra Mundial, um verdadeiro “baby-boom” foi

responsável pelo surgimento de uma nova geração que viveria todo o conforto

de um país que se enriqueceu rapidamente. Contudo, ao contrário do que se

podia esperar, essa geração desempenhou o papel de apontar os limites e

problemas gerados pela sociedade capitalista.

Rejeitando o elogio cego à nação, o trabalho e a rápida ascensão

social, esses jovens buscaram um refúgio contra as instituições e valores que

defendiam o consumismo e o cumprimento das obrigações. A partir daí foi

dado o aparecimento do movimento hippie, que incitou milhares de jovens a

cultuarem o amor livre, o desprendimento às convenções e o desenvolvimento

de todo um mundo que fosse alternativo ao que fosse oferecido pelo sempre

tão criticado “sistema”.

No Brasil, essa ideia de contracultura pode ser observada com o

desenvolvimento do movimento hip hop. Embalados pela “beat” eletrônico e

letras com rimas ácidas, diversos jovens da periferia dos grandes centros

urbanos absorveram um gênero musical estrangeiro para retratar a miséria e

violência que se alastravam em várias cidades do país. Atualmente, essa

manifestação se diversificou e protagoniza a realização de diversos projetos

sociais que divulgam cultura e educação.

Com respeito ao conceito de contracultura, não podemos

simplesmente pensar que ele vá simplesmente definir a existência de uma

cultura única e original. Pelo contrário, as manifestações de traço contracultural

têm a importante função de revisar os valores absorvidos em nosso cotidiano e,

dessa forma, indicar novos caminhos pelo qual o homem trilha suas opções.

Assim, é necessário sempre afirmar que contracultura também é cultura!

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ANEXO 2

INTERNET

O QUE É CONTRACULTURA?

Carlos Alberto Messeder

Pereirahttp://www.contracultura.org/web/Contracultura/Home/Home.html

Postado em 20/06/2005.

Acessado em 26/12/2011

"Vi as melhores cabeças da minha geração destruídas pela

loucura."

Este é o primeiro verso do poema "Howl" (berro, uivo), publicado em

1956, e alvo de um processo por obscenidade em São Francisco; seu autor

Allen Ginsberg , junto com William Burroughs , Jack Kerouac , Carl Solomon ,

eram os principais representantes dos chamados "Beatniks", haviam surgido na

década de 50, eram uma espécie de rebeldes e marginais, poetas e escritores

que viajavam por toda a América e usavam os fatos que aconteciam em seus

livros. São a origem do movimento hippie; vivendo na América do pós-guerra,

assistiram toda a efervescência do mercado de consumo norte-americano, mas

rejeitaram o consumismo e o proclamado "American Way of Life", refugiaram-

se nos bairros boêmios, se apoiavam em crenças como a da necessidade do

"desengajamento em massa" ou da "inércia grupal". Assim como os hippies

foram depois, os beats já eram bastante atraídos pelo orientalismo,

principalmente o Zen Budismo; rejeitaram o intelectualismo, preferindo uma

vida sensorial e desprezando a segurança de uma carreira ou uma posição

social.

Na mesma época dos beats também havia um outro grupo

descontente com o tipo de vida da sociedade de consumo, eram os "Hipsters",

que se opunham aos "Squares", ou seja, quadrados, caretas, os quais os

hipsters desprezavam por serem conformados e adaptados ao sistema.

Um romancista americano profundamente ligado à todo o clima de

contestação que já vinha se afirmando desde o início dos anos 50, chamado

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Norman Mailer , foi quem chamou a atenção para os hipsters, mas quem havia

lançado o termo foi Ginsberg no poema "Howl". Norman consagrou o termo em

1958 no artigo: "The White Negro: Superficial Reflections on the Hipster". O

hipster é aquele que mantém uma posicão de rebelião contra a situação e

valores estabelecidos pela sociedade de consumo, por isso Mailer usou o

termo "white negro", porque os negros sempre discriminados e marginalizados

tinham que também manter sempre a atitude de revolta.

Apesar do valor que Mailer percebe na atitude beat de "busca da

sensação" e da "satisfação orgástica", não aceita aquilo que ele vê como sua

passividade ou falta de afirmatividade. Assim, acima do beatnik, ele colocaria o

hipster, cuja consciência dos extremos terrores da vida assemelha-se e é

derivada da que têm o negro, "pois nenhum negro pode andar pela rua seguro

de que a violência não irá encontrá-lo em seu passeio". O que Mailer admirava

no hipster era a sua coragem de aceitar o desejo "de se desligar da sociedade,

de existir sem raízes, de empreender essa viagem sem rumo pelos rebeldes

imperativos do ego. Em suma, seja ou não uma vida criminosa, a decisão está

em encorajar o psicopata que existe dentro de si mesmo, de explorar aqueles

domínios de experiência em que a segurança é tédio e portanto doença (...)"

É assim, neste sentido, que aquela forma de "delinqüência juvenil"

atualizada pela atitude hipster estava "desafiando o desconhecido".

Em seguida a isso, no início da década de 60, já começavam a se

aglomerar na Califórnia, jovens vindos de todos os cantos do país, geralmente

cabeludos, com roupas coloridas e enfeitadas, que procuravam um novo estilo

de vida, assim como os beats, baseado no prazer, doutrinas orientais, tudo

regado a vários tipos de drogas, principalmente os alucinógenos.

Não se sabia ao certo o que estava acontecendo, alguns falavam em

uma nova era, uma nova consciência etc. Se era uma revolução ou mais um

modismo não se sabia, mas já começou a circular na imprensa o termo

"Contracultura". Até este momento, o movimento ainda era conhecido apenas

pelos aspectos visuais como roupas, cortes (ou a falta destes) de cabelos,etc.

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Descendentes diretos dos Beatniks, os hippies começaram a se

afirmar pela metade da década de 60; inicialmente, concentravam-se em São

Francisco, L.A., principalmente na região das ruas Haight-Ashbury.

Em geral, eram jovens brancos, de classe média, com idade entre

17 e 25 anos, instruídos, bem nutridos e bem criados, mas que também

repudiavam a sociedade industrial e o sistema capitalista, detestavam a ordem,

o poder e as autoridades.

Jamais canalizaram a sua energia para as formas de luta política até

então conhecidas, fazendo manifestações que podem ser consideradas no

mínimo muito estranhas, como por exemplo em 1967, quando centenas de

hippies se reuniram em volta do Pentágono (central militar norte-americana) em

protesto contra a guerra, e ameaçavam fazer o pentágono "flutuar" com a força

da mente, ainda neste ano foi realizado o "enterro" dos hippies, onde

proclamaram: "Os hippies morreram, Viva os homens livres". Ainda em 67, foi

criado o "Youth International Party" (Partido Internacional da Juventude), este

lançou a figura do "yippie", que era uma espécie de hippie mais politizado.

Em 1968, era estimado que existiam em média 10.000 em Haight-

Ashbury, e 300.000 nos E.U.A. e no resto do mundo, mas este número

aumentou muito nos anos seguintes. A intenção era a de criar uma nova

sociedade, um mundo pleno de satisfação e prazer. Queriam se livrar da

opressão, do patriarcalismo, e principalmente se livrar de um governo que

consideravam já obsoleto, e que preferia (e ainda prefere) gastar imensas

fortunas em guerras, do que usar esse dinheiro para cuidar de seus

deserdados. Este é um dos pontos de partida do movimento, que era a luta

contra a Guerra do Vietnã.

Muitos hippies, a bem da verdade só buscaram a satisfação do seu

hedonismo, no abuso de drogas e do sexo livre, estes, eram insaciáveis,

bebiam, fumavam, buscavam qualquer tipo de prazer a qualquer custo, e

segundo eles: "sentem-se bem e não prejudicam ninguém."

Os hippies eram adeptos da não-violência, do gôzo, do misticismo,

do altruísmo, da vida em comunidade e voltada ao contato com a natureza, daí

a criação de várias comunidades rurais alternativas em vários lugares do

mundo. Se tornaram um grupo indefinível, pois vários outros grupos já haviam

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se agregado, e disso surgiram novos grupos; por isso pode-se dizer, que muito

se deve ao movimento hippie, pois dele que foram criados, ou ao menos

fortalecidos, grupos ecológicos, feministas, pelos direitos civis, dos negros,

pacifistas, etc.

Não havia uma organização ou liderança central, o movimento

expandiu-se espontâneamente, como resposta à vida cada vez mais

mecanizada da sociedade tecnocrata. Manifestos como este abaixo, deixam

mais ou menos claro o que eles queriam, este foi afixado na entrada da

Sorbonne em 1968.

A revolução que está começando questionará não só a sociedade

capitalista como também a sociedade industrial. A sociedade de consumo tem

de morrer de morte violenta. A sociedade da alienação tem de desaparecer da

História. Estamos inventando um mundo novo e original. A imaginação está no

poder.

Os fundamentos, ou princípios básicos, eram três:

Deves fazer tua própria obra, qualquer que seja e quando quiseres.

Separa-te da sociedade em que até agora tens vivido, deixa-a em

definitivo.

Sacode a mente de cada indivíduo digno que possas vir a encontrar,

mostra-lhe o caminho das drogas, se não podes franquear-lhe a beleza, o

amor, a honra, o prazer.

Arnold Toynbee, historiador, define-os como "uma luz vermelha de

advertência à forma de vida norte-americana", e um sociólogo os descrevia

como "expatriados que vivem junto de nós, mas muito além de nossa

sociedade."

A maior parte da filosofia, estética, música, é derivada do uso dos

alucinógenos, principalmente o LSD; essas drogas, chamadas de

"psicodélicas", propiciam um estado mental de deslumbramento, visões

incríveis, percepção e sentidos aguçados e sublimados; esses efeitos são

muito variados de pessoa para pessoa, e motivo de grandes controvérsias

entre médicos e especialistas; muitos indivíduos experimentaram o que se

chama de "bad trip", ou seja, má viagem, que é exatamente o contrário da

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sensação de bem-venturança que a maioria das pessoas sente, visões

horríveis, gritos e angústia, são alguns dos sintomas que a pessoa que toma

pode sentir.

Pode-se entender também por experiência psicodélica, um estado

mental de grande calma, percepção sensorial agradável, êxtase estético e

ímpeto criativo. Pode-se dizer que a filosofia psicodélica consiste na "crença

desapaixonada na revelação do próprio eu" e na "expansão das forças

mentais".

Como praticamente todos os outros movimentos que questionaram a

sociedade, seu início foi espontâneo, genuíno, mas conforme foi se

espalhando, foi sendo deturpado, incorporado ao mercado de consumo, e

infelizmente, pode-se até dizer que é só mais uma entre tantas estórias do

século XX.

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ANEXO 3

INTERNET

Woodstock: 42 anos de Paz e Amor

Katia Dutra

15/08/2011

http://redes.moderna.com.br/?tag=woodstock

Acessado em 10/01/2012

Boa tarde, pessoal.

Quem gosta de música ou se interessa pela cultura musical do

mundo, com certeza, já ouviu o nome da pequena cidade de Woodstock. Não

pela cidade em si, mas pelo movimento musical que levou o seu nome e

aconteceu entre os dias 15 e 18 de agosto de 1969.

O festival contou com a apresentação de 32 dos maiores nomes da

música da época e tornou-se lendário para a era hippie e a contracultura do

final dos anos 1960 e começo de 70. Sexo, drogas e rock’n roll. Esse era o

slogan do festival que reuniu cerca de 500 mil pessoas na fazenda de 600

acres de Max Yasgur, em Bethel.

Sim, apesar de se chamar Woodstock, o festival aconteceu em

Bethel, uma cidadezinha a uma hora e meia de distância. O motivo? A

insatisfação dos moradores de Woodstock, receosos com a contracultura que o

festival prometia.

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A verdade é única e universal. Nunca mais um feito musical como

aquele será repetido. Mesmo os problemas com comida, limpeza,

estacionamento e água, o Festival de Woodstock foi inesquecível aos que

participaram e conferiram nomes como Janis Joplin, Jimi Hendrix, The Who,

Creedence Clearwater, Santana e outros tantos.

A “era aquariana” e a contracultura norte-americana

De acordo com a astrologia, Aquário é o signo da amizade. Por este

motivo, a era aquariana é considerada o período de fraternidade e união entre

os povos. Este seria um dos motes do evento. Isso aliado a contracultura

instaurada no final dos anos 60 que defendia ideais como o amor livre,

protestos anti-guerra e anti-capitalismo, valorização das mulheres no mercado

de trabalho, a vida em comunidade, o anarquismo e o uso de drogas.

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Aqui, é importante lembrar

que dentro deste contexto histórico estão as corridas armamentistas e

espaciais entre Estados Unidos e União Soviética que incentivavam a

bipolarização do mundo e a Guerra Fria. Um dos eventos que dividiu os norte-

americanos foi a Guerra do Vietnã. Desta forma, parte do povo utilizava

adesivos favoráveis ao conflito (“Ame-o ou deixe-o”) e outra parte seguia a

filosofia hippie da paz e do amor.

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ANEXO 4

INTERNET

Ciência e Cultura Print ISSN 0009-6725

Cienc. Cult. vol.61 no.4 São Paulo 2009

http://cienciaecultura.bvs.br

Acessado em 10/01/2012

WOODSTOCK

40 ANOS DO FESTIVAL QUE MARCOU A MÚSICA E AS GERAÇÕES Patrícia Mariuzzo

Eles não queriam causar grande sensação, preferiam morrer antes de ficarem velhos. De cabelos compridos e vestindo calças jeans, eles ouviam rock e a música, mais do que entretenimento, era um instrumento de contestação, de mudança social e política. E mudou. Uma das principais manifestações desse movimento aconteceu no Woodstock Music & Art Fair ou, simplesmente Festival de Woodstock, que aconteceu há 40 anos, no verão de 1969, na pequena e até então desconhecida cidade de Bethel, estado de Nova York. Era para ser um encontro para afirmar a cultura hippie, celebrar a paz e o amor e protestar contra a Guerra do Vietnã (1959-1975), mas se tornou um dos marcos culturais do século XX. Realizado com boa dose de improviso, inclusive no nome, o plano era que o encontro ocorresse na cidade de Woodstock, que durasse só três dias, que não chovesse torrencialmente, que os músicos seguissem o programa estabelecido, ao invés de tocarem noite adentro, mas apesar disso, ou por causa disso, o festival causou, sim, muita sensação.

Para Emiliano Rivello, sociólogo e pesquisador da Universidade de Brasília, o festival representou um marco cultural e simbólico para as gerações

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posteriores. Revolucionou não somente a forma do artista cantar e compor, sua performance no palco, mas também os hábitos culturais da sociedade norte-americana. Woodstock deve ser compreendido dentro de um contexto histórico específico em que os Estados Unidos se defrontavam com a segregação social e racial, com a revolução feminista e com uma guerra para a qual milhares de seus jovens iam, para não mais voltar. "O festival é a base de um processo sociocultural que se desenrola por anos nessa sociedade de maneira conflituosa e se materializa ou tem seu desfecho metaforicamente na presença de um público ávido por mudanças estruturais", diz ele. "O rock'n roll adquire um grau de legitimidade que acaba por catalisar os ideais da contracultura, por meio de uma mensagem musical engajada e contestatória", continua.

INDÚSTRIA CULTURAL Nos anos 1960, mais do que música, o rock era uma atitude, um modo de ver o mundo. Na década seguinte, no entanto, na euforia de vendas da indústria fonográfica, o rock foi, pouco a pouco, tornando-se mais produto comercializável do que mensagem ideológica de protesto. "Pode-se dizer que a indústria cultural obliterou, em certos aspectos, os ritmos ideológicos que embalavam o movimento rock'n roll, caracterizado pelo protesto e pela crítica à cultura, substituindo-os por novos elementos como, por exemplo, a fragmentação dos estilos (rock progressivo, heavy metal, new wave), para serem explorados comercialmente", afirma Rivello. Os anos 1980 assistiram a definitiva conversão do rock à cena da indústria cultural. "Isso não significa que, vez por outra, os próprios jovens consumidores não façam uso criativo e inesperado do pop-rock ofertado pela indústria cultural, ou mesmo que criem circuitos alternativos de música independente como as tendências do punk e do heavy metal", acredita Luís Antonio Groppo, professor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo e pesquisador de movimentos estudantis.

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NOVAS CONQUISTAS Para ele a cultura hip-hop, no qual se inclui o rap, tem suas origens ligada à autenticidade perdida pelo rock, como expressão de jovens negros urbanos: seus problemas, seus desejos, suas críticas sociopolíticas. "Parte da cena hip-hop, hoje, tem algo dessa autenticidade; parte importante, entretanto, em especial aquela levada adiante pelos principais setores da indústria cultural, trocaram a politização pela ode ao consumo, as imagens de denúncia pelas imagens sensuais. Não consigo entrever, no momento, alguma tendência de música juvenil, com maior expressão, com elementos contestadores e revolucionários; mesmo que haja, entretanto, só iremos conhecê-la, provavelmente, quando ele se tornar grande por demais, e não puder ser ignorado pelo que pensa e faz a indústria cultural. Conhecemos e pensamos o que passa pela indústria cultural, e hoje por lá não passa aquele tipo de contestação e revolução que um dia Woodstock anunciou e vendeu", afirma Groppo.

"Penso que a geração de 1960 lutou por seus ideais com base na matriz cultural daquela época. A geração de hoje se defronta com outra realidade", aponta Emiliano Rivello. Para ele, no contexto atual, a juventude não tem como propósito a luta por direitos. No entanto, alguns locais, momentos e bandas podem propiciar a interiorização de valores e sentimentos políticos. "Em grandes espetáculos musicais como os do U2 ou da Madonna, o bom senso é aproveitar porque, como diria um dos grandes críticos da indústria cultural, o filósofo frankfurtiano Theodor Adorno: 'A música não deve olhar a sociedade com um horror desesperado'", finaliza.

OUTROS VALORES O Festival de Woodstock foi reeditado em 1994 e em 1999, porém sem a repercussão da primeira edição, em 1969. O motivo disso é que a matriz cultural que estruturava o movimento hippie, o punk ou o rock'n roll havia se modificado. Na verdade a percepção sociocultural da sociedade norte-americana seria composta por novos ideais. "É a cultura que estrutura a sociedade, e não o contrário", pontua Rivello. "Não se pode transpor

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acontecimentos culturais, políticos ou religiosos de uma época específica para outra", diz. Um exemplo, segundo ele, seria a música de Geraldo Vandré, Para não dizer que não falei das flores, vista como canção engajada nos anos da ditadura e hoje esquecida pela indústria do disco e pelo público. "No caso das versões posteriores de Woodstock, os elementos fundantes do festival original ganharam uma nova interpretação: a guerra é vista hoje como parte de uma política expansionista necessária e benéfica; as mulheres ocupam cargos de prestígio; os conflitos raciais encontram terreno específico para debate", conclui.

INDÚSTRIA CULTURAL FICOU DE FORA DE WOODSTOCK Woodstock surpreendeu porque esperava reunir bem menos pessoas. Foram vendidos cerca de 180 mil ingressos, mas diante do intenso fluxo de pessoas chegando à fazenda onde o evento estava acontecendo, os organizadores decidiram torná-lo gratuito. A multidão fez sua própria música, experimentou sexo, drogas, compartilhou comida, convivendo por três dias com sujeira, lama e falta de estrutura. "Woodstock foi pensado como um evento lucrativo. Era a irresistível comunhão entre pop-rock e a indústria cultural. Mas a multidão, em sua criatividade e ilusões, fez parecer que 1969 era o ano zero de uma nova civilização", conta Luís Antonio Groppo. "Transformado em filme, o festival recuperou facilmente os lucros perdidos com a derrubada das cercas. A indústria cultural não deixou de vencer e absorver, pouco a pouco, a criatividade juvenil expressa na música pop-rock do final dos anos 1970", finaliza.

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ANEXO 5

INTERNET

Ressonância mórfica: a teoria do centésimo macaco Por José Tadeu Arantes - Revista Galileu nº 91 http://galileu.globo.com/edic/91/conhecimento1.htm Acessado em 13/01/2011 Na biologia, surge uma nova hipótese que promete revolucionar toda a ciência. Era uma vez duas ilhas tropicais, habitadas pela mesma espécie de macaco, mas sem qualquer contato perceptível entre si. Depois de várias tentativas e erros, um esperto símio da ilha "A" descobre uma maneira engenhosa de quebrar cocos, que lhe permite aproveitar melhor a água e a polpa. Ninguém jamais havia quebrado cocos dessa forma. Por imitação, o procedimento rapidamente se difunde entre os seus companheiros e logo uma população crítica de 99 macacos domina a nova metodologia. Quando o centésimo símio da ilha "A" aprende a técnica recém-descoberta, os macacos da ilha "B" começam espontaneamente a quebrar cocos da mesma maneira. Não houve nenhuma comunicação convencional entre as duas populações: o conhecimento simplesmente se incorporou aos hábitos da espécie. Este é uma história fictícia, não um relato verdadeiro. Numa versão alternativa, em vez de quebrarem cocos, os macacos aprendem a lavar raízes antes de comê-las. De um modo ou de outro, porém, ela ilustra uma das mais ousadas e instigantes idéias científicas da atualidade: a hipótese dos "campos mórficos", proposta pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake. Segundo o cientista, os campos mórficos são estruturas que se estendem no espaço-tempo e moldam a forma e o comportamento de todos os sistemas do mundo material. Átomos, moléculas, cristais, organelas, células, tecidos, órgãos, organismos, sociedades, ecossistemas, sistemas planetários, sistemas solares, galáxias: cada uma dessas entidades estaria associada a um campo mórfico específico. São eles que fazem com que um sistema seja um sistema, isto é, uma totalidade articulada e não um mero ajuntamento de partes. Sua atuação é semelhante à dos campos magnéticos, da física. Quando colocamos uma folha de papel sobre um ímã e espalhamos pó de ferro em cima dela, os grânulos metálicos distribuem-se ao longo de linhas geometricamente precisas. Isso acontece porque o campo magnético do ímã afeta toda a região à sua volta. Não podemos percebê-lo diretamente, mas somos capazes de detectar sua presença por meio do efeito que ele produz, direcionando as partículas de ferro. De modo parecido, os campos mórficos distribuem-se imperceptivelmente pelo espaço-tempo, conectando todos os sistemas individuais que a eles estão associados.

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A analogia termina aqui, porém. Porque, ao contrário dos campos físicos, os campos mórficos de Sheldrake não envolvem transmissão de energia. Por isso, sua intensidade não decai com o quadrado da distância, como ocorre, por exemplo, com os campos gravitacional e eletromagnético. O que se transmite através deles é pura informação. É isso que nos mostra o exemplo dos macacos. Nele, o conhecimento adquirido por um conjunto de indivíduos agrega-se ao patrimônio coletivo, provocando um acréscimo de consciência que passa a ser compartilhado por toda a espécie. Até os cristais Oprocesso responsável por essa coletivização da informação foi batizado por Sheldrake com o nome de "ressonância mórfica". Por meio dela, as informações se propagam no interior do campo mórfico, alimentando uma espécie de memória coletiva. Em nosso exemplo, a ressonância mórfica entre macacos da mesma espécie teria feito com que a nova técnica de quebrar cocos chegasse à ilha "B", sem que para isso fosse utilizado qualquer meio usual de transmissão de informações. Parece telepatia. Mas não é. Porque, tal como a conhecemos, a telepatia é uma atividade mental superior, focalizada e intencional que relaciona dois ou mais indivíduos da espécie humana. A ressonância mórfica, ao contrário, é um processo básico, difuso e não-intencional que articula coletividades de qualquer tipo. Sheldrake apresenta um exemplo desconcer- tante dessa propriedade. Quando uma nova substância química é sintetizada em laboratório - diz ele -, não existe nenhum precedente que determine a maneira exata de como ela deverá cristalizar-se. Dependendo das características da molécula, várias formas de cristalização são possíveis. Por acaso ou pela intervenção de fatores puramente circunstanciais, uma dessas possibilidades se efetiva e a substância segue um padrão determinado de cristalização. Uma vez que isso ocorra, porém, um novo campo mórfico passa a existir. A partir de então, a ressonância mórfica gerada pelos primeiros cristais faz com que a ocorrência do mesmo padrão de cristalização se torne mais provável em qualquer laboratório do mundo. E quanto mais vezes ele se efetivar, maior será a probabilidade de que aconteça novamente em experimentos futuros. Com afirmações como essa, não espanta que a hipótese de Sheldrake tenha causado tanta polêmica. Em 1981, quando ele publicou seu primeiro livro, A New Science of Life (Uma nova ciência da vida), a obra foi recebida de maneira diametralmente oposta pelas duas principais revistas científicas da Inglaterra. Enquanto a New Scientist elogiava o trabalho como "uma importante pesquisa científica", a Nature o considerava "o melhor candidato à fogueira em muitos anos". Doutor em biologia pela tradicional Universidade de Cambridge e dono de uma larga experiência de vida, Sheldrake já era, então, suficientemente seguro de si para não se deixar destruir pelas críticas. Ele sabia muito bem que suas idéias heterodoxas não seriam aceitas com facilidade pela comunidade científica. Anos antes, havia experimentado uma pequena amostra disso, quando, na condição de pesquisador da Universidade de Cambridge e da Royal Society, lhe ocorreu pela primeira vez a hipótese dos campos mórficos. A idéia foi assimilada com entusiasmo por filósofos de mente aberta, mas Sheldrake virou motivo de gozação entre seus colegas biólogos. Cada vez que dizia alguma

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coisa do tipo "eu preciso telefonar", eles retrucavam com um "telefonar para quê? Comunique-se por ressonância mórfica". Era uma brincadeira amistosa, mas traduzia o desconforto da comunidade científica diante de uma hipótese que trombava de frente com a visão de mundo dominante. Afinal, a corrente majoritária da biologia vangloriava-se de reduzir a atividade dos organismos vivos à mera interação físico-química entre moléculas e fazia do DNA uma resposta para todos os mistérios da vida. A realidade, porém, é exuberante demais para caber na saia justa do figurino reducionista. Exemplo disso é o processo de diferenciação e especialização celular que caracteriza o desenvolvimento embrionário. Como explicar que um aglomerado de células absolutamente iguais, dotadas do mesmo patrimônio genético, dê origem a um organismo complexo, no qual órgãos diferentes e especializados se formam, com precisão milimétrica, no lugar certo e no momento adequado? A biologia reducionista diz que isso se deve à ativação ou inativação de genes específicos e que tal fato depende das interações de cada célula com sua vizinhança (entendendo-se por vizinhança as outras células do aglomerado e o meio ambiente). É preciso estar completamente entorpecido por um sistema de crenças para engolir uma "explicação" dessas. Como é que interações entre partes vizinhas, sujeitas a tantos fatores casuais ou acidentais, podem produzir um resultado de conjunto tão exato e previsível? Com todos os defeitos que possa ter, a hipótese dos campos mórficos é bem mais plausível. Uma estrutura espaço-temporal desse tipo direcionaria a diferenciação celular, fornecendo uma espécie de roteiro básico ou matriz para a ativação ou inativação dos genes. Ação modesta Abiologia reducionista transformou o DNA numa cartola de mágico, da qual é possível tirar qualquer coisa. Na vida real, porém, a atuação do DNA é bem mais modesta. O código genético nele inscrito coordena a síntese das proteínas, determinando a seqüência exata dos aminoácidos na construção dessas macromoléculas. Os genes ditam essa estrutura primária e ponto. "A maneira como as proteínas se distribuem dentro das células, as células nos tecidos, os tecidos nos órgãos e os órgãos nos organismos não estão programadas no código genético", afirma Sheldrake. "Dados os genes corretos, e portanto as proteínas adequadas, supõe-se que o organismo, de alguma maneira, se monte automaticamente. Isso é mais ou menos o mesmo que enviar, na ocasião certa, os materiais corretos para um local de construção e esperar que a casa se construa espontaneamente." A morfogênese, isto é, a modelagem formal de sistemas biológicos como as células, os tecidos, os órgãos e os organismos seria ditada por um tipo particular de campo mórfico: os chamados "campos morfogenéticos". Se as proteínas correspondem ao material de construção, os "campos morfogenéticos" desempenham um papel semelhante ao da planta do edifício. Devemos ter claras, porém, as limitações dessa analogia. Porque a planta é um conjunto estático de informações, que só pode ser implementado pela força de trabalho dos operários envolvidos na construção. Os campos morfogenéticos, ao contrário, estão eles mesmos em permanente interação com os sistemas vivos e se transformam o tempo todo graças ao processo de ressonância mórfica.

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Tanto quanto a diferenciação celular, a regeneração de organismos simples é um outro fenômeno que desafia a biologia reducionista e conspira a favor da hipótese dos campos morfogenéticos. Ela ocorre em espécies como a dos platelmintos, por exemplo. Se um animal desses for cortado em pedaços, cada parte se transforma num organismo completo. Forma original Como mostra a ilustração da página ao lado, o sucesso da operação independe da forma como o pequeno verme é seccionado. O paradigma científico mecanicista, herdado do filósofo francês René Descartes (1596-1650), capota desastrosamente diante de um caso assim. Porque Descartes concebia os animais como autômatos e uma máquina perde a integridade e deixa de funcionar se algumas de suas peças forem retiradas. Um organismo como o platelminto, ao contrário, parece estar associado a uma matriz invisível, que lhe permite regenerar sua forma original mesmo que partes importantes sejam removidas. A hipótese dos campos morfogenéticos é bem anterior a Sheldrake, tendo surgido nas cabeças de vários biólogos durante a década de 20. O que Sheldrake fez foi generalizar essa idéia, elaborando o conceito mais amplo de campos mórficos, aplicável a todos os sistemas naturais e não apenas aos entes biológicos. Propôs também a existência do processo de ressonância mórfica, como princípio capaz de explicar o surgimento e a transformação dos campos mórficos. Não é difícil perceber os impactos que tal processo teria na vida humana. "Experimentos em psicologia mostram que é mais fácil aprender o que outras pessoas já aprenderam", informa Sheldrake. Ele mesmo vem fazendo interessantes experimentos nessa área. Um deles mostrou que uma figura oculta numa ilustração em alto constraste torna-se mais fácil de perceber depois de ter sido percebida por várias pessoas (veja o quadro na página ao lado). Isso foi verificado numa pesquisa realizada entre populações da Europa, das Américas e da África em 1983. Em duas ocasiões, os pesquisadores mostraram as ilustrações 1 e 2 a pessoas que não conheciam suas respectivas "soluções". Entre uma enquete e outra, a figura 2 e sua "resposta" foram transmitidas pela TV. Verificou-se que o índice de acerto na segunda mostra subiu 76% para a ilustração 2, contra apenas 9% para a 1. Aprendizado Se for definitivamente comprovado que os conteúdos mentais se transmitem imperceptivelmente de pessoa a pessoa, essa propriedade terá aplicações óbvias no domínio da educação. "Métodos educacionais que realcem o processo de ressonância mórfica podem levar a uma notável aceleração do aprendizado", conjectura Sheldrake. E essa possibilidade vem sendo testada na Ross School, uma escola experimental de Nova York dirigida pelo matemático e filósofo Ralph Abraham. Outra conseqüência ocorreria no campo da psicologia. Teorias psicológicas como as de Carl Gustav Jung e Stanislav Grof, que enfatizam as dimensões coletivas ou transpessoais da psique, receberiam um notável reforço, em contraposição ao modelo reducionista de Sigmund Freud (leia o artigo "Nas fronteiras da consciência", em Globo Ciência nº 32).

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Sem excluir outros fatores, o processo de ressonância mórfica forneceria um novo e importante ingrediente para a compreensão de patologias coletivas, como o sadomasoquismo e os cultos da morbidez e da violência, que assumiram proporções epidêmicas no mundo contemporâneo, e poderia propiciar a criação de métodos mais efetivos de terapia. "A ressonância mórfica tende a reforçar qualquer padrão repetitivo, seja ele bom ou mal", afirmou Sheldrake a Galileu. "Por isso, cada um de nós é mais responsável do que imagina. Pois nossas ações podem influenciar os outros e serem repetidas". De todas as aplicações da ressonância mórfica, porém, as mais fantásticas insinuam-se no domínio da tecnologia. Computadores quânticos, cujo funcionamento comporta uma grande margem de indeterminação, seriam conectados por ressonância mórfica, produzindo sistemas em permanente transformação. "Isso poderia tornar-se uma das tecnologias dominantes do novo milênio", entusiasma-se Sheldrake.

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ANEXO 6

INTERNET

Papo cabeça na internet Por José Roberto Torero Recebido via email em outubro de 2011 José Roberto Torero é escritor, roteirista de cinema e TV (Pequeno Dicionário Amoroso, Retrato Falado), colunista de Esporte na Folha de S.Paulo e blogueiro. http://blogdotorero.blogosfera.uol.com.br http://jr.torero.vilabol.uol.com.br/ Fê: E aí? Dado: Firmeza. E aí? Fê: Show de bola. Fez o homework? Dado: Que homework? Fê: O que a profe pediu. Dado: Putz, caraca! A de história, né? Fê: Só. Dado: Que saco, esqueci! Qual que era a bagaça mesmo? Fê: Espera que eu vou ver. ... Dado: Achou? Fê: Espera, pô! Ah, tá aqui: diga por que o dia 31 de março mudou a história do nosso país. Dado: Tem idéia? Fê: Nadica. Dado: Então a gente se fala tipo daqui a pouco. Bj. Fê: Bj. (Meia hora depois.) Fê: E aí, foi no Google?

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Dado: Fui. E vc? Fê: Total. Dado: Matou a charada? Fê: Matei. Dado: Então fala aí, gata, por que o 31 de março mudou a história do nosso país? Fê: Se liga: no dia 31 de março de 1889 a Torre Eiffel foi dedicada à cidade de Paris. Dado: Bizarro. Mas o que isso tem a ver tipo com o Brasil? Fê: Ah, sei lá! Antes não tinha a torre, entendeu? Aí os brasileiros não entravam numas de ir pra fora, conhecer o mundo. Fez a torre, aí abriu pra ir, visitar e os caras começaram a viajar. Por isso que tem tanto brazuca lá fora, tá ligado? Dado: Louco. Fê: Você achou algum treco? Dado: Uma pá de coisa! Fê: Fala uma. Dado: Tipo, eu achei que nesse dia, em 1492, uns reis lá expulsaram os judeus da Espanha. Fê: E aí? Onde que o Brasil entra nessa? Dado: É que aí os judeus tiveram que ir pra Alemanha, o Hitler caiu em cima dos caras e eles vieram pra cá. Fê: Pra Higienópolis? Dado: Tudo a ver. Fê: Sabe, cara, tô achando que pode ser outra coisa. Dado: Tipo o quê? Fê: É que eu também achei isso, ó: no dia 31 de março de 1900 saiu o primeiro anúncio de carro da história. Era uma firma da Filadélfia, meu, e eles publicaram o anúncio num jornal que chamava Saturday Evening Post. Vai ver é isso, porque aí os brasileiros acharam o anúncio o maior chique, começaram a comprar carro e acabou dando esses congestionamentos. Dado: Sei não, nada a ver... Eu estou numa de que é uma coisa mais... sabe?, um troço mais zoado.

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Fê: Mas,meu!, o quê? Dado: Sei lá, um treco tipo guerra, entende? Fê: Nadica. Dado: Eu li num lugar aí que teve uma revolução aqui. Fê: Aqui? No bairro? Xi, agora só vou sair na rua de capacete. Dado: Pô, gata, é sério! Fê: rsrsrsrs. Dado: Olha só: parece que teve uma revolução mesmo, tipo um negócio com general. Fê: Se liga, vc acha que teve guerra aqui? Dado: Pô, de repente teve, sei lá... Fê: Com esse negócio de espião, granada, metralhadora? Você pirou! Daqui a pouco vc vai dizer que torturaram neguinho no Brasil. Dado: Pode ser. Que nem fizeram no Iraque. Eu vi no YouTube. Fê: Ai, meu, sei lá... pra mim isso é viagem sua. Dado: Pô, a gente fica com o que, então? Fê: Paris, meu. Relaxa que é aquele lance da Torre Eiffel. Dado: Tá bom, vou na sua. Me atacha a sua pesquisa que eu colo no arquivo. Fê: Tá indo... Tá indo... Foi. Dado: Valeu. Agora eu vou jogar umas duas horas de Mortal Annihilation. Fê: E eu vou dar um rolê no Shopping. Blz? Dado: Blz.

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BIBLIOGRAFIA

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DE LA TAILLES, Yves. A Indisciplina e o sentimento de vergonha. In: AQUINO

Julio Groppa (org). Indisciplina na Escola – Alternativas teóricas e práticas.

São Paulo: Summus, 1996.

REGO, Teresa Cristina R. A Indisciplina e o processo educativo: uma análise

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Escola – Alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.

TIBA, Içami. Disciplina: o limite na medida certa. 25ª ed. São Paulo: Editora

Gente, 1996.

SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada. 13ª edição. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. BUCKNER, Étienne Pascal. A Tentação da Inocência. Paris: Editora Grasset,

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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua

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PASSOS, Laurizete Ferragut. A indisciplina e o cotidiano escolar: novas

abordagens, novos significados. São Paulo: Summus, 1996.

MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São

Paulo: Cortez, 2001.

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ZAGURY, Tânia. O Professor Refém. São Paulo: Record, 2006.

WEBGRAFIA

O QUE É CONTRACULTURA?

Carlos Alberto Messeder Pereira

http://www.contracultura.org/web/Contracultura/Home/Home.html

Postado em 20/06/2005

Acessado em 26/12/2011

CONTRACULTURA - As manifestações que vão contra os valores vigentes de

uma época

Rainer Gonçalves Sousa, mestre em História

http://www.mundoeducacao.com.br/sociologia/contracultura.htm

Acessado em 26/12/2011

RESSONÂNCIA MÓRFICA: A TEORIA DO CENTÉSIMO MACACO

Por José Tadeu Arantes

Revista Galileu nº 91

http://galileu.globo.com/edic/91/conhecimento1.htm

Acessado em 13/01/2011

PAPO CABEÇA NA INTERNET

Por José Roberto Torero

Recebido via email em outubro de 2011

José Roberto Torero é escritor, roteirista de cinema e TV (Pequeno Dicionário

Amoroso, Retrato Falado), colunista de Esporte na Folha de S.Paulo eblogueiro

http://blogdotorero.blogosfera.uol.com.br

http://jr.torero.vilabol.uol.com.br/

O DESINTERESSE DOS ALUNOS

Por Edmilson Castro

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http://territoriosnaeducacao.wordpress.com

Publicado em 18/01/2011

Acessado em 28/01/12

A EDUCAÇÃO

Por Içami Tiba

http://estrategiaempresarial.wordpress.com

Postado em: 16/04/2088

Acessado em: 10/01/2012

A DISCIPLINA E A INDISCIPLINA COMO FATORES FUNDAMENTAIS DE

FORMAÇÃO DO ALUNO CRÍTICO NO MUNDO ATUAL

Por Mário Sérgio Vasconcelos

http://odesenvolvimentoinfantil.blogspot.com/

Postado em 06/04/2008

Acessado em 13/01/2012

AS AVENTURAS DE AGAMENON, O REPÓRTER

http://cinefilapornatureza.wordpress.com

Crítica postada em 25/01/12

Acessada em 29/01/2012.

WOODSTOCK: 42 ANOS DE PAZ E AMOR

Katia Dutra

15/08/2011

http://redes.moderna.com.br/?tag=woodstock

Acessado em 10/01/2012

WOODSTOCK 40 ANOS DO FESTIVAL QUE MARCOU A MÚSICA E AS GERAÇÕES Patrícia Mariuzzo Cienc. Cult. vol.61 no.4 São Paulo 2009 http://cienciaecultura.bvs.br Acessado em 10/01/2012

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

PROBLEMAS PSICOLÓGICOS E SOCIAIS 11

1.1Fatores de ordem psicológica e social como causa possível da

indisciplina 11

1.2 O complexo universo do comportamento indisciplinado 16

CAPÍTULO II

A PERMISSIVIDADE DA FAMÍLIA 19

2.1 A estruturação escolar no passado 21

2.2 A contracultura e a ruptura dos padrões de comportamento 23

CAPÍTULO III

O DESINTERESSE PELA ESCOLA 27

3.1 A influência dos meios de comunicação no cotidiano dos alunos 29

CONCLUSÃO 34

ANEXOS 36

BIBLIOGRAFIA 58

WEBGRAFIA 59

ÍNDICE 61

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