UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · sapateiros, ceramistas, pintores e escultores...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
ARTES PLÁSTICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por: Carla Vilella de Abreu
Orientador
Profa : Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
ARTES PLÁSTICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para a
obtenção do grau de especialista em Arteterapia em
Educação e Saúde.
Por: Carla Vilella de Abreu
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AGRADECIMENTOS
Aos professores do Instituto A Vez do Mestre pelo
carinho, dedicação e conhecimentos repassados e
aos singelos queridos amigos de turma pela
contribuição de criativos e verdadeiros momentos
artisticamente evolutivos.
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DEDICATÓRIA
Dedico essa conquista ao meu querido e
companheiro ‘DEUS’, a meus amados Pais que,
além de sempre me incentivarem a fazer o que
quero, vivenciaram/participaram emocionalmente de
meus trabalhos inventivos, aos meus irmãos e
amigos que - como eu - acreditam no se dar, no
compartilhar.
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RESUMO
O Objetivo deste estudo é analisar a contribuição e a evolução das artes
plásticas na Educação Infantil. Esta análise parte do princípio que todas as
crianças repassam suas potencialidades - artisticamente natas - de diversas
formas na vida, na escola. Nessas perspectivas, as crianças florescem
progressos educacionais construtivos, evolutivos, culturais, criativos e
imaginários, usando também suas próprias normas e meios de ação em suas
aprendizagens. O presente trabalho também faz louvor às emoções,
vivenciadas no criar da criança, através de diversas teorias e da aplicação de
variados materiais para trabalhos plásticos, visando aumentar as possibilidades
de expressão e comunicação das crianças e, inclusive, de todos os seres
humanos. O resultado foi uma reflexão sobre as artes visuais e a conseqüente
necessidade de serem percebidas não somente como manifestação artística,
mas como algo que tem transformado profundamente a comunicação no
mundo contemporâneo.
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METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, ex-post-facto, descritiva, de cunho
bibliográfico apoiada nos autores BARBOSA (1993 e 1996), CHRISTO E DA
SILVA (2008), DUARTE JÚNIOR (1981), FERRAZ E FUSARI (1985),
FERREIRA (2007), LOWENFELD (1976 e 1977), Osborne (1993), PCN/ARTE
(2000), READ (1981 E 1982), VYGOTSKY (2001), entre outros. Destaca-se o
apoio das pedagogas e dos colegas do curso de Arteterapia em Educação e
Saúde, efetuado no período de fevereiro de 2.009 a janeiro de 2.010, no
Instituto A Vez do Mestre – na Faculdade Cândido Mendes, pelos
conhecimentos a mim repassados e, principalmente, pelo carinho que tenho na
convivência com crianças.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................
CAPÍTULO I
1. ARTES PLÁSTICAS
1.1 - Definição
1.2 - A história da Educação Infantil
1.2 - A evolução das Artes Plásticas na Educação Infantil
1.2 - O conhecimento do simples e do belo artístico pela criança
CAPÍTULO II
2. A CRIANÇA E A ARTE
2.1 - Ensino da Arte : O Início
2.2 - O desenho da criança
2.3 - O desenvolvimento gráfico
2.4 - Desenho e Fantasia
CAPÍTULO III
3. - ARTE E CRIATIVIDADE
3.1 - Exercícios de Arte
3.2 - Pintando, desenhando, recortando, colando, dobrando ....
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CAPÍTULO IV
4. O DESENVOLVIMENTO DE DESCOBERTAS E DE CONHECIMENTOS
ARTÍSTICOS COMO REFLEXÃO.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS
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INTRODUÇÃO
A principal finalidade deste trabalho é descrever poetica e artisticamente
os tributos relacionados às transformações, às criações, aos sentimentos, às
formas expressivas da tributação das artes plásticas na Educação Infantil.
A contribuição das artes plásticas para o progresso cognitivo, cultural e
criativo da criança na Educação Infantil é identificada principalmente pelo
princípio básico de procurar proporcionar à criança o desenvolvimento da
autonomia, isto é, a capacidade de construir as suas próprias regras e meios
de ação, que sejam flexíveis e possam ser negociados com outras pessoas
(adultos ou crianças).
Na Educação Infantil, os trabalhos e as emoções – relativos a artes
plásticas – como desenhar, brincar, se encantar, manchar, riscar, construir,
sorrir, transformar pensamentos em formas, sentir, expressar, juntar, desfazer,
(re) inventar o mundo, registram modos singulares de sentimentos e
comportamentos das crianças, retratados artisticamente, os quais representam
os ‘faz de conta’ que se transformam em outras coisas, de forma imaginária e
simbolizada.
A partir destes conhecimentos e participações das crianças no mundo
das artes plásticas, tanto a utilização de materiais sobre diferentes superfícies,
como também o despertar do interesse pela obra de arte (regional, nacional.
internacional e a própria), visam ampliar as possibilidades de expressão e
comunicação das crianças.
Nas fases da vida, a criatividade se expõe como um processo de
mudanças, de evolução da vida subjetiva. Portanto, a importância da
manipulação de símbolos e/ou de objetos externos, vivenciada (s) pelas
crianças, retrata(m) o despertar e o interesse por seus pensamentos, por seus
sentimentos, por suas construções, por suas imaginações, pelos seus in-
teriores ... e também pelos dos outros.
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Espero que esta monografia possa entusiasmar os profissionais que
compartilham diversos momentos de criatividade, imaginação, subjetividade,
comunidade, dispersão ... com as crianças, podendo oferecer positivas
contribuições na Educação Infantil.
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CAPÍTULO I
1. ARTES PLÁSTICAS
“A arte é a idéia da obra, a idéia que existe sem matéria”. (Aristóteles)
“Realmente, eu não gosto da natureza humana a menos que esteja toda
temperada com arte”. (Virginia Woolf)
“Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a
vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança
e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por
fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas
porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da
mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um
romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem
narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem
que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso”.
(Fernando Pessoa)
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1.1 – Definição
A palavra arte (Latim Ars) significa técnica e/ou habilidade,
representando tudo aquilo que é belo. Em boa parte da história, os ferreiros,
sapateiros, ceramistas, pintores e escultores eram habilidosos artistas
plásticos. No intuito de se distinguir a arte dos pintores e escultores, aplicou-se
às pinturas e às esculturas a denominação de obras das Belas Artes.
A primeira característica da arte é o pragmatismo, ou seja, a arte
produzida possuía uma utilidade material, cotidiana ou mágico-religiosa -
ferramentas, armas ou figuras envolvendo situações específicas, como a caça.
A tese fundamental de C.S.Peirce, de W.James, de J.Dewey e de J.C.Schiller
sobre as doutrinas do pragmatismo consiste no fato de que estas sejam úteis e
propiciem alguma espécie de êxito ou satisfação.
As artes plásticas são as formações expressivas executadas com a
utilização de técnicas de produção que manipulam materiais para estruturar
formas e imagens que revelem uma concepção estética e poética em um dado
momento histórico. O aparecimento das artes plásticas está diretamente
relacionado com a evolução da espécie humana, em demonstrações
dinâmicas, diversificadas e criativas das sociedades - via análise dos objetos
artísticos produzidos e transportados por diferentes povos ao longo dos
tempos.
As referidas artes surgiram na pré-história. A primeira expressão
artística e gráfica documentada é a da arte rupestre, expressada no período
Paleolítico (25000 a.C. - 8000 a.C.). Neste período, foram elaboradas figuras
femininas mostrando genitálias e demais partes do corpo acentuadamente
desproporcionais, reforçando a teoria de mulher-mãe-natureza.
Uma das obras mais antigas é a Vênus de Lespugne ,descoberta em
1922 por R. e S. de Saint-Pérer na «Caverna das Cortinas», em Lespugue,
uma localidade do distrito de Saint-Gaudens, na Alta Garona (França) e tem
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entre 26.000 e 24.000 anos de antiguidade, e também a Vênus de Willendorf,
encontrada na Áustria há aproximadadamente 25000 a.C..
Vênus de Lespugne
Vênus de Willendorf
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Existem vários e mais conhecidos exemplos de conjuntos de pinturas
rupestres em cavernas habitadas por humanos, localizadas em Altamira, na
Espanha e datadas de 30000 a.C. a 12000 a.C .; e em Lascaux, na França de
15000 a.C. a 10000 a.C. , onde se encontram pinturas de animais pré-
históricos como: cavalos, bisões, rinocerontes, indicando rituais pré-históricos
ligados à caça. São demonstrações de naturalismos em formatadas imagens e
que evoluem da monocromia à policromia entre os anos de 15000 a.C. a 9000
a.C. Nesta época, as cores empregadas foram o preto e as tonalidades
avermelhadas, ocres e violáceas, que são as mais fáceis de se obter na
natureza.
"Bisão" / Font-de-Gaule,França
"Caçadores"/Valência
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Os seixos pintados, ou amuletos, com símbolos e cercaduras, entre
geométricas e abstratas, surgiram no período mesolítico (8000 a.C.). Porém,
no neolítico (5000 a.C. - 3000 a.C.), o homem já conhecia o fogo e se
especializou na combinação de materiais. Além das primeiras peças de
cerâmica decoradas, encontram-se verdadeiras cenas murais que documentam
a vida nesta época. Pelo estudo dos desenhos, pode-se deduzir que o homem
pré-histórico não só pintava com os dedos, mas também com pincéis e
espátulas.
Essencialmente nas exposições rupestres, cerca do ano 2000
a.C., em plena idade do bronze, produziu-se uma evolução cuja tendência era
voltada para a abstração. As figuras, signos e símbolos atingiram um nível
muito próximo ao da escrita.
No decorrer dos períodos até a atualidade, as artes plásticas cumpriram
diferentes funções, retratando formas, objetivos, culturas, egípcias, abstratas,
gregas, modernas, rupestres, pré-históricas, mesopotâmicas, bizantinas,
renascentistas, maneiristas, barrocas, com estilo rococó, neoclassicistas,
românticas, realistas, impressionistas, pós-impressionistas, minimalistas,
naturalistas, pós-impressionistas, expressionistas, cubistas, dadaístas,
surrealistas, pop artísticas, conceitualistas, simbolistas, neo-expressionistas,
pós-modernistas, surrealistas, conceitualistas, neo-expressionistas, pós-
modernistas, artesanais, futuristas e etc., tanto de forma mágica como
educativa, religiosa, social, política, natural e ‘Bela’.
Há bastante tempo, as artes plásticas não mais abrangem apenas a
pintura e a escultura. As diversas habilidades artísticas também são
expressadas com diversificadas técnicas de artes visuais, desenhos, gravuras,
fotografias, colagens, performances, vídeo-artes, cyberartes e muitas outras
representações.
Menciono a afirmação de Duchamp, relativa ao sentido da arte numa
visão atual : "A arte pode ser ruim, boa ou indiferente, mas qualquer que seja o
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adjetivo empregado, temos de chamá-la de arte. A arte ruim é arte, do mesmo
modo como uma emoção ruim é uma emoção".
No momento atual, a Arte é um ato de criar intencionalmente.
Frase do Dr. Edwin Herbert Land (May 7, 1909 – March 1, 1991) : “Um
aspecto essencial da criatividade é não ter medo de fracassar”. Somos todos
artistas.
“Improvisação 6” – Wassily Kandinsky, Stadtische Galerie
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1.2 – A História da Educação Infantil
Nos últimos tempos, houve muitas mudanças na Educação infantil. Os
Educadores passaram por diferentes e difíceis processos de ensino.
Entretanto, a diverença mais importante atualmente é que a criança é
considerada em todas as suas atuações específicas, tendo identidade pessoal
e histórica. Durante este processo surgiu uma nova concepção de criança,
totalmente diferente da visão tradicional, outrora vista como um ser sem
importância, quase invisível – por séculos.
A criança passou a ser um investimento futuro, a ser valorizada. Portanto, a
Educação Infantil transpôs uma perspectiva assistencialista para se transformar
em uma proposta pedagógica aliada ao cuidar, buscando ser de forma
complexa, respeitando suas especificidades tanto psicológicas como as
emocionais, cognitivas, físicas, etc.
Não havia clareza, na idade média, em relação ao período em que a
infância era caracterizada. Nessa época, muitas pessoas determinavam a
infância como o período do nascimento dos dentes até os sete anos de idade,
conforme citação da descrição feita por Le Grand Propriétaire (Ariès, 1978, p.6)
‘A primeira idade é a infância que planta os dentes, e essa idade começa
quando a criança nasce e dura até os sete anos, e nessa idade aquilo que
nasce é chamado de enfant (criança), que quer dizer não falante, pois nessa
idade a pessoa não pode falar bem nem tomar perfeitamente as palavras, pois
ainda não tem seus dentes bem ordenados nem firmes...’
A partir do século XVII, as crianças – principalmente as de família nobre ou
burguesa – não eram mais vestidas como adultos (Ariès, 1978, p.33).
Neste século, outras grandes mudanças sociais foram as reformas
religiosas católicas e protestantes, que conduziram um novo olhar sobre a
criança e sua aprendizagem.
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Outro relevante aspecto foi a afetividade, que ganhou mais importância
no seio da família, e que era demonstrada em conseqüência da valorização da
educação das crianças, a qual passou a ser efetuada reverencialmente nas
escolas no convívio com outras crianças. Logo, estes pequenos seres
humanos foram separados dos adultos e mantidos em escolas até estarem
“prontas” para a vida em sociedade (Ariès, 1978). Pena que isto só ocorreu,
conforme exposto acima, com as crianças burguesas e/ou nobres.
No século XVIII, além da educação, houve também um grande interesse da
família nas questões relacionadas à higiene e à saúde da criança, ocasionando
uma considerável redução nos índices de mortalidade.
Porém, isto ocorreu apenas com as crianças da burguesia, porque as
crianças do povo permaneceram sem a referida educação na escola e sem os
cuidados higiênicos e de saúde. As crianças pobres continuaram sendo
direcionadas ao trabalho.
Segundo Loureiro : ‘...nesse período começa a existir uma preocupação em
conhecer a mentalidade das crianças a fim de adaptar os métodos de
educação a elas, facilitando o processo de aprendizagem. Surge uma ênfase
na imagem da criança como um anjo, “testemunho da inocência batismal” e,
por isso, próximo de Cristo ( 2005. p.36 ).
Era estampado a percepção do caráter cristão, cuja educação das crianças
foi ancorada. Em decorrência do surgimento do interesse nas crianças, houve o
início da preocupação em ajudá-las a adquirir o princípio da razão e a fazer
delas adultos cristãos e racionais. Esse paradigma norteou a educação do
século XIX e XX.
Hoje, a criança é vista como um sujeito de direitos, situado historicamente e
que precisa ter as suas necessidades físicas, cognitivas, psicológicas,
emocionais e sociais supridas, caracterizando um atendimento integral e
integrado da criança. Ela deve ter todas as suas dimensões respeitadas.
Segundo Zabalza ao citar Fraboni:
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“A etapa histórica que estamos vivendo, fortemente marcada pela
“transformação” tecnológico-científica e pela mudança ético-social, cumpre
todos os requisitos para tornar efetiva a conquista do salto na educação da
criança, legitimando-a finalmente como figura social, como sujeito de direitos
enquanto sujeito social” (1998, p.68).
Após a primeira Guerra Mundial, no século XX, a idéia de respeito à
criança começa e cresce culminando no Movimento das Escolas Novas, com
o intuito de adotar o respeito à criança como um ser específico, portanto, em
direção de um trabalho de forma a corresponder as características do
pensamento infantil.
Na psicologia, na década de 20 e 30, Vygotsky defende a idéia de que a
criança é introduzida no mundo da cultura por parceiros mais experientes.
Wallon destaca a afetividade como fator determinante para o processo de
aprendizagem. Surgem as pesquisas de Piaget, que revolucionam a visão de
como as crianças aprendem a teoria dos estágios de desenvolvimento. As
teorias pedagógicas se apropiam gradativamente das concepções psicológicas,
especialmente na Educação Infantil, impulsionando o seu crescimento e
naturalmente evoluindo as comprovações prazerosas, espirituais, filo/
psicolgicamente ... retratadas e exaladas nas produções artísticas de cada
criança na educação infantil e na vida.
No pós-segunda Guerra Mundial, surge a preocupação com a situação
social da infância e a idéia da criança como portadora de direitos. A
ONUpromulga em 1959 a Declaração dos Direitos da Criança, em decorrência
da Declaração dos Direitos Humanos. Esse é um fator importante para a
concepção de infância que atravessa a contemporaneidade; a criança como
sujeito de direitos.
A educação dirigida à criança pequena só ganhou notoriedade quando
esta passou a ser valorizada pela sociedade. Somente com a mudança de
postura em relação à visão que se tinha da criança, a Educação Infantil não
teria mudado a sua forma de conduzir o trabalho docente e não teria surgido
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um novo perfil de educador para essa etapa de ensino. Não seria cobrado dele
especificidade no seu campo de atuação, e a criança permaneceria com um
atendimento voltado apenas para questões físicas, tendo suas outras
dimensões, como a cognitiva, a emocional e a social despercebidas.
A linguagem da arte na educação infantil tem um papel fundamental,
abrangendo os aspectos cognitivos, sensíveis e culturais. Até recentemente o
aspecto cognitivo não era considerado na educação infantil e esta não estava
inteirada na educação básica. No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação 9.394/96 veio garantir este espaço à educação infantil, bem como o
da arte neste contexto.
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1.3 - A Evolução das Artes Plásticas na Educação Infantil
Historicamente, a arte era ensinada na Europa através do sistema
‘Método Atelier’, onde os artistas - assumidos aprendizes – tornavam-se aptos
ao conhecimento da faculdade artística de seu comércio da mesma forma
como em qualquer associação, tais como as dos maçons (pedreiros, ourives e
etc). Conforme mencionado por Platão, as primeiras escolas de arte foram
criadas na Grécia - 400 a.C. Durante o período Renascentista, a educação
artística foi aplicada regularmente em estúdios de arte. Verdadeiramente, o
desenho teve alguma prioridade sobre as artes plásticas nas escolas de
Desenho, sendo fundadas em toda a Europa no século 18. Educação em arte
ocorre através do tempo de vida. Crianças, jovens e adultos aprendem sobre
arte na comunidade com as instituições e organizações, tais como museus,
agências locais de artes, centros recreativos, locais de culto, agências de
serviços sociais, e as prisões, entre muitos outros locais possíveis.
Atualmente, existe um elevado número de modelos de artes ou modelos
curriculares de educação para as artes, baseado em desenvolvimento
profissional dos professores que as escolas e organizações comunitárias
aplicam. No ensino ocidental, a prática do desenho é uma atividade empírica
que envolve ver, interpretar e descobrir as marcas necessárias para reproduzir
um fenômeno observado. Pode-se afirmar que as atividades de arte envolvem
interpretação imaginativa.
Modelos proeminentes incluem:
- Modelo com seis partes e dividido em componentes de ‘Produção
Criativa, Histórico-Cultural e Crítico-Responsivo - constituído no Canadá
- ‘Discipline Based Art Education’ (DBAE) – Instrução baseada na
Educação Artística - veio a favorecer nos Estados Unidos, durante os anos
1980 e 1990, e é focada em habilidades específicas, incluindo técnicas, crítica
de arte e história da arte.
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Hoje em dia, muitos educadores nas salas de aula mudaram a cultura
visual e modelos de diversidade nos Estados Unidos, afastando-se da DBAE,
mas muitos ainda usam esse modelo.
Ensino Artístico de Comportamento (TAB) é uma teoria que começou na
década de 1970 nos Estados Unidos. TAB sugere que os alunos devam ser os
artistas e assim guiados em seus próprios interesses artísticos através de aulas
de técnica e críticas, apesar de serem expostos à história da arte no que se
refere ao seu próprio trabalho.
- No Reino Unido, o currículo de arte é fixado pelo governo do Currículo
Nacional.
No Brasil, as artes plásticas na Pré-história (de 15000 a 3000 a.C.)
foram identificadas nas pinturas rupestres (em paredes de cavernas) mais
antigas do Brasil, localizadas na Serra da Capivara, no estado do Piauí. Na
época entre 5000 a.C e 1100 d.C., povos da Amazônia fabricaram objetos de
enfeites e de cerâmica. Destacam-se os vasos de cerâmica da ilha de Marajó e
do rio Tapajós. A arte plumária (com penas de pássaros) feitas por índios e a
pintura corporal, usando tintas derivadas da natureza, representam importantes
exemplos da arte indígena.
cerâmica da ilha de Marajó
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No início da Colonização do Brasil, os jesuítas trouxeram a arte e o
ensino de arte. A maioria dos primeiros artistas pertencia ao clero e eram
autodidatas. Sem qualquer preparo técnico adequado ou sem base cultural, os
trabalhos se apresentavam na forma de cópias de estampas européias de
gravuras religiosas.
As artes plásticas, neste período – séculos XV e XVI, junto com os
portugueses, chegaram ao país com influências artísticas renascentistas e do
começo da fase barroca. De 1630 a 1654, com a invasão holandesa no
nordeste brasileiro, muitos artistas retrataram a paisagem, os índios, os
animais, as flores e o cotidiano do Nordeste.
Da segunda metade do século XVI até o século XIX, a arte na colônia
era praticada por negros e mulatos e ensinada de pai para filho ou de mestre
para aprendiz.
A partir de 1800, com a “Aula Régia 5”, Manuel Dias de Oliveira (1764-
1837), pintor gravador e escultor, nomeado por Dom João VI (1767-1826),
torna-se o primeiro professor público brasileiro a ministrar aulas de nu com
modelo vivo.
Segundo Burke (1992, p.11), os fatos por serem dinâmicos e ilustres em
sua estrutura, inevitavelmente precisam ser investigados, revelados e
reconstruídos, pelo motivo de possuírem uma história, ou seja, “o que era
previamente considerado imutável é agora encarado como uma “construção
cultural”, sujeita a variações, tanto no tempo quanto no espaço”. Dessa forma,
basicamente tem sido essa provocação, indagação e curiosidade no que diz
respeito às Aulas Régias, espécie de unidade de ensino, sob a
responsabilidade de um único professor em cada disciplina.
Nossos artistas, todos de origem popular, mestiços em sua maioria,
eram vistos pelas camadas superiores como simples artesãos, mas não só
quebraram a uniformidade do barroco de importação,jesuítico,apresentado,
contribuição renovadora, como realizaram uma arte que já poderíamos
considerar como brasileira. (1994, p.19).
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Para o meio artístico brasileiro, Manuel Dias de Oliveira, representa uma
inovação, pois “Aula Régia 5” era a denominação para a aula pública de
desenho e figura, que funcionava como uma escola destinada a artífices e
pintores, porém, ainda muito distante da Academia Neoclássica. (Arte no Brasil,
v. 1. São Paulo: Abril Cultural, 1979).
Ana Maria de Moraes Belluzzo (O Brasil dos Viajantes. São Paulo :
Metalivros; Salvador: Fundação Emílio Odebrecht, 1994, v.1, p.90.) sinaliza o
término da época em que os artistas se educavam no interior de ateliês de
escultores e ourives. Logo, reconhecia-se o papel fundamental do desenho e
adotava-se a postura artística da tradição clássica européia.
Em 1816, a Missão Artística Francesa estabeleceu a substituição do
Barroco pelo Neoclássico. Barbosa esclarece: Aqui chegando, a Missão
Francesa já encontrou uma arte distinta dos originários modelos portugueses e
obras de artistas humildes. Enfim, uma arte de traços originais que podemos
designar como Barroco brasileiro. Nossos artistas, todos de origem popular,
mestiços em sua maioria, eram vistos pelas camadas superiores como simples
artesãos, mas não só quebraram a uniformidade do barroco de importação,
jesuítico, apresentado contribuição renovadora, como realizaram uma arte que
já poderíamos considerar como brasileira. (1994, p.19).
Em conseqüência, a concepção de arte popular é substituída pela arte
burguesa. Pela primeira vez tínhamos um estilo artístico em sintonia com o que
estava acontecendo na Europa.
Porém, o prestígio da academia era tão intenso que nossa pintura
ganhava na técnica, mas perdia em espontaneidade.
Neste período, a atividade artística não era incluída nas escolas públicas
elementares. O ensino de arte era exclusividade da Academia Imperial de
Belas Artes. A metodologia do ensino de arte tinha como alicerce primordial o
desenho, em princípio de partes do corpo humano e num estágio posterior a
observação de bustos de gesso para os exercícios de luz e sombra. A prática
com os pincéis acontecia numa etapa mais avançada, começando com a cópia
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de um detalhe de algum mestre da pintura e depois com os estudos
compositivos a tinta até a produção de uma pintura do início ao fim, em que se
retiravam todos os vestígios de imperfeição.
A Academia Imperial de Belas Artes formou vários de nossos artistas do
século XIX, como por exemplo: Pedro Américo (1843-1905), Vítor Meireles
(1832-1903), Almeida Júnior (1850-1899) e Belmiro de Almeida (1858-1935).
Desde 1870, caracterizou-se um período de grandes metamorfoses
culturais com a industrialização caminhando apressadamente. Surge então um
novo papel do ensino de arte: formar mão de obra.
Na República, a Academia passou a se chamar de Escola Nacional de
Belas Artes.
Com a queda da monarquia e a ascensão da República, no período de
1890 a 1930, a exploração do desenho técnico dá início a um conflito entre as
belas artes e as artes industriais. A escola carioca valorizava o lado artístico, a
expressão, a arte pela arte, o desejo, a idealização de uma sociedade
burguesa. Os paulistas privilegiavam o ensino técnico-científico, voltado para o
cotidiano e formação profissional.
Houve o ecletismo nas artes plásticas no período de 1870 a 1922,
marcado pela fusão de estilos artísticos europeus como, por exemplo, o
impressionismo, o simbolismo, o naturalismo e o romantismo.
De 1920 a 1947, no Brasil, desenhos e pinturas eram efetuados para
decorar cadernos e festas escolares. Trabalhos manuais com tricô, crochê e
bordado eram lecionados às mulheres. Nos liceus de artes e ofícios, o ensino
assumiu funções utilitárias.
Artísitca e terapeuticamente, foi revelado o trabalho do psiquiatra Osório
Cesar (1896 - 1980) - nos anos 20 no Brasil – com o desenvolvimento de
importantes estudos sobre a arte dos internos do Hospital Psiquiátrico do
Juqueri, em SP, tendo realizado inúmeras exposições dos trabalhos artísticos
26daqueles, e se destacado como o pioneiro na análise de sua expressão
psicopatológica.
Na década de 40, Nise da Silveira (1906 – 1999) – outra pioneira –
inaugurou no Centro Psiquiátrico do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro
uma nova utilização da arte, agora como instrumento facilitador da
comunicação entre terapeuta e paciente e, subseqüentemente, incorporando a
função de re-inclusão social do doente, através da pintura.
Em 1948, apareceu o movimento Escolinhas de Arte, influenciado pela
Escola Nova. Houve a imersão da liberdade de criação das crianças e dos
adolescentes. Qualquer orientação era considerada interferência na
criatividade.
Nas décadas de 50 e 60, surgiu o concretismo – movimento de arte
abstrata marcado pelo uso de figuras geométricas e pela elaboração baseada
no raciocínio. Esse movimento artístico foi criado pelo grupo paulista Ruptura,
formado pelos artistas Haroldo de Campos, Geraldo de Barros e Valdemar
Cordeiro.
No período de 1960, o projeto pedagógico de Anísio Teixeira e Darcy
Ribeiro na Universidade de Brasília estabeleceu o primeiro curso de formação
de professores na área. A proposta é baseada na interdisciplinaridade,
profundamente ligada ao trabalho nos ateliês de artes plásticas e às
experimentações no campo da música. Nesta fase, a arte abstrata passa a ser
marcada pelo iinformalismo lírico e gestual.
A Educação Artística passou a ser obrigatória em escolas primárias e
secundárias a partir de 1971, porém não tinha o status de disciplina: é
considerada atividade educativa. Aparentemente, era a única matéria que fazia
relações entre o trabalho criativo e as humanidades.
Em 1973, foram criados os cursos de arte-educação nas universidades
federais. O currículo é o mesmo para todo o país. No período de dois anos, os
professores eram formados para serem capazes de ensinar música, teatro,
artes visuais, dança e desenho geométrico da 1ª. a 8ª série e no 2º grau.
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Na década de oitenta, a arte retomou os meios artísticos tradicionais,
embora tenha havido, conjuntamente, o fortalecimento da arte conceitual e do
abstracionismo. Recursos tecnológicos apareceram como a novidade na
educação, tornando possível o surgimento da videoarte. Relações entre o
espaço público e a obra de arte possibilitaram uma intervenção urbana, dando
origem à arte pública.
As discussões sobre a história da arte e os conceitos artísticos
ganharam mérito e prestígio neste período. Uso de tecnologias, desconstrução
da arte, aproximações da arte e do mundo real, globalização da arte. Estes
foram os caminhos da arte na década de noventa.
Desde o ano de 2.000, o desenvolvimento de projetos em arte-educação
é promovido por associações, organizações não-governamentais e instituições
privadas e mistas, como o SESC, o SENAI, o SENAC e o SEBRAE.
Alguns estudos propagam que os programas de ensino de arte têm
demonstrado forte desempenho dos estudantes em outras áreas acadêmicas,,
devido às atividades de arte que exercitam os hemisférios direitos dos cérebros
e revelam seus pensamentos. Universalmente, o apoio ao ensino da arte, no
entanto, varia muito entre as comunidades e entre escolas de diferentes
culturas.
O domínio da arte-educação nos tempos atuais inclui uma gama mais
ampla de cultura visual e popular. As tendências atuais nos estudos empregam
abordagens culturais pós-modernas e visuais para o ensino da arte. Porém, a
perspectiva educacional em Artes Visuais ainda é emergente, pois não se
preocupa em estabelecer fronteiras disciplinares e metodológicas.
A cultura visual entende que as interpretações visuais têm uma cultura,
as quais afetam tanto o processo de produção como o de recepção.
28
29
1.4 – O Conhecimento do Simples e do Belo Artístico pela
Criança
O elevado préstimo da cultura gerada no decorrer dos tempos, adaptando
a arte como veículo de informação e transformação, mesclada ao social e ao
emocional, desde a educação infantil, vem ocupando amplos espaços nos
currículos escolares. Por este motivo, o ensino da arte tem importância ímpar
no espaço escolar, pois culturalmente expressa e impulsiona o
desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, modo
próprio de ordenar e dar sentido à existência humana. Retratando uma
linguagem, o processo criador proporciona ao aluno o desenvolvimento da
sensibilidade, percepção e imaginação de formas simples e belas, tanto ao
produzir, compreender e analisar os próprios trabalhos; quanto ao adquirir
conhecimentos, noções e habilidades em direção à apreciação estética e
análise crítica do patrimônio artístico-cultural de diferentes grupos. Por sua
pluralidade, a arte possibilita estabelecer uma relação criativa com outras
disciplinas.
Por dimensões artísticas serenas, expressivas, singelas, é necessário
se remeter à escola a responsabilidade de fomentar a compreensão do
desenvolvimento do processo criador como elemento primordial da produção
humana.
30
Em âmbitos gerais, nos dias atuais, em muitas escolas ainda há a
imposição de uma homogeneização de pensamentos e formas por meio de
modelos e métodos que ignoram a sensibilidade, o potencial criador e a
capacidade de reflexão da criança, sem considerar que a criança se encontra
imersa em uma determinada cultura, além de não lhe conceder a autoria dos
trabalhos que realiza.
"É como se estudar nada tivesse com vivenciar, como se conhecimento
nada tivesse a ver com vida. Como se a ciência, as artes e a cultura não
fossem resultado de uma vontade humana de se integrar e se entregar a ela"
(Tiriba, 1997, p.45).
Ao revelar a importância de se estabilizar um diálogo entre a escola e o
meio sociocultural das crianças, a arte é aportada freqüentemente como
mediatária e reveladora de outras realidades presentes na história da
humanidade.
Do mesmo modo como a linguagem oral, escrita e a lógica, há de se
atentar também para a arte como parte integrante e de igual expressão no
processo de construção do conhecimento. E por ser elemento de cultura,
possibilita diferentes leituras e sugere múltiplos códigos estéticos, frutos de
reflexão/ação do homem sobre seu meio.
Conforme relato de SRI SWAMI KRSNAPRIYANANDA SARASWATI, de
acordo com a classificação Ocidental - acadêmica atual -, o conhecimento
divide-se em pelo menos três tipos fundamentais, a saber: 1) Conhecimento
Ordinário ou da Simples Apreensão; 2) Conhecimento Filosófico ou da
Especulação Racional, e 3) Conhecimento Científico, também chamado de
empírico formal. O que diferencia um tipo de conhecimento do outro é o seu
método, quanto a sua existência, e quanto a sua formalidade.
No conhecimento da simples apreensão, onde se enquadra o homem
comum e suas artes, não há uma investigação pelas causas. Nem mesmo há
uma relação de causa e efeito, talvez nem mesmo seja pretendida uma relação
desta natureza, nos fenômenos observados.
31
A natural simplicidade e o belo conhecimento expressivo, pessoal e
social, relativos à Arte, conquistam o espaço escolar e promovem uma
uniformização de linguagens e ações, transformando a arte e suas técnicas
específicas em elementos de apoio para outras áreas do conhecimento, se
diferenciando da educação linear da sociedade de consumo
Nota-se que, aos poucos, a escola tenta quebrar essa linearidade da
sociedade de consumo e promove um novo olhar em relação à criança e sua
atividade criadora. A arte, então, é vista como produção, como vital para o
homem. Ostrower diz que:
"Nem na arte existiria criatividade se não pudéssemos encarar o fazer
artístico como trabalho, como um fazer intencional produtivo e necessário que
amplia em nós a capacidade de viver" (1983, p.31).
Vygotsky (1993-1999) concebe a arte como produto da atividade
humana. Mesmo que tenha como ingredientes fundamentais a cognição e a
emoção, a obra só passa a existir quando a emoção se torna apenas um
elemento a mais do processo, quando essa emoção é superada pelo próprio
ato de criação − combinação de aspectos cognitivos com os da linguagem
artística escolhida.
Para ele, a imaginação é a base de todo processo criador, seja no
campo científico, técnico ou artístico. Sempre originada de referências
anteriores, de elementos tomados da realidade. É uma reelaboração do antigo
com o novo.
Para Vygotsky, a arte tem como função primordial transformar a relação
com a realidade ao buscar elementos na emoção, na cognição e na
imaginação. A atividade criadora, antes uma experiência individual, se
socializa, passando a ser parte integrante da cultura.
Em relação à importância da criatividade para a arte e para a vida,na
Educação Infantil, observa-se a existência de espaços que devem garantir a to-
32
das as crianças acesso às manifestações culturais disponíveis que propiciam e
enriquecem o seu desenvolvimento e inserção social.
Essa promoção de integração da criança no grupo socialmente
construído deve perpassar pelas inúmeras possibilidades de expressão nas
quais o criar e o recriar sejam a essência do processo.
Nesse sentido, a percepção que a criança tem do "mundo dos adultos",
com papéis e regras estabelecidas, são representadas simbolicamente na
brincadeira. O desenhar, o retratar e o evoluir são, portanto, os momentos em
que a criança se apropria de elementos tomados da realidade e lhes atribui
novos significados. Há uma clara distinção entre a situação real e a linguagem
simbólica da imaginação.
Existem regras próprias que podem ser criadas e transformadas de
acordo com o desejo das crianças envolvidas. Mudando a estrutura da
percepção, muda também a relação com a realidade.
Nesses momentos, independente da intervenção dos adultos, a
imaginação infantil se tornará alicerce do brincar, combinando experiências já
vividas pelas crianças com novos interesses do grupo.
O fazer criativo, tratando as atividades nas quais a criança pinta, recorta,
cola, modela e desenha como ocupações com significações para seu
desenvolvimento, retrata prazerosamente as fases artísticas e terapêuticas
retratadas.
Os primordiais objetivos do trabalho com arte na Educação Infantil são: o
desenvolvimento da sensibilidade da criança e o conhecimento da linguagem
da arte. Com tal força, o simbolismo (o ato simbólico) deverá ser o norteador da
desenvolução artística e estética da criança, pois constituirá que os objetos
permaneçam existindo mesmo sem a sua presença física e imediata. Os
símbolos representam o próprio mundo e as relações que as crianças
33estabelecem com ele, a partir de si mesmas e do grupo, com a imaginação e
com a cultura. Vygostky diz que o conhecimento se dá à medida que o ser
cultural, histórico e social interage com o mundo cultural, histórico e social,
impregnado de significados, ideologias, história, cultura e, principalmente,
afetividade.
A arte tem como essência a imaginação, a fantasia.
No trabalho Criando Fazendo Arte, com exposições e atividades de
Renata S. Lanfermann, é reverenciado a frágil, inexperiente, ingênua criança
tendo suficiente autonomia e condições de formular alguma opinião significativa
a cerca da sua inserção na sociedade vigente.
A criança é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização
familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura,
em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio
social em que se desenvolve, mas também o marca.
Ressalto abaixo algumas habituais técnicas e materiais aplicadas às
crianças na educação familiar e também escolar, que propiciam o
desenvolvimento do pensamento artístico, que caracteriza um modo particular
de dar sentido às experiências das mesmas e de todas as pessoas (PCN DE
ARTE, vol.6, pag. 15).
A pintura - aquarela e guache : as aquarelas são pigmentos que se
dissolvem com facilidade na água e são fixados com goma-arábica ou resinas
34
plásticas. Esses materiais fornecem mais luminosidade às cores e
normalmente são usados para expressar espetáculos vivos pelos pequenos.
Já a tinta guache é feita à base de água, goma-arábica e um tipo de pó
colorido. A diferença da aquarela é que o guache tem em sua composição uma
espécie de tinta branca, o que o torna mais opaco. Assim, pode-se trabalhar
com cores escuras e tornar as pinturas mais claras aplicando o guache, um
processo impossível quando se usa aquarela.
35
36
O desenho - lápis: o primeiro lápis de madeira com grafite no meio,
parecido com os de hoje, só foi fabricado em 1662. O grafite duro que usamos
na escola surgiu por obra e graça do imperador da França, Napoleão
Bonaparte, no século 18. O Imperador pediu aos cientistas franceses que
dessem um jeito de substituir o produto grafite, pelo motivo de na época este
ser fornecido em grande quantidade pelos ingleses e devido a guerras - em
falta na época.
O químico Nicolas Conté então aqueceu a altas temperaturas uma
mistura com bastante argila, um pouquinho de grafite, massa e água. Estava
inventado o grafite duro, e até hoje os lápis são fabricados através deste
processo. Ceras e tintas foram incorporadas à mistura. Surgiu o lápis de cor!
38
39
A arte - o papel: o antepassado do papel é o papiro. Feito no antigo
Egito de longas folhas da planta do mesmo nome, constituía grandes rolos,
onde os egípcios escreviam, desenhavam e pintavam.
O papel foi inventado pelos chineses, e era feito a partir de uma pasta de
trapos triturados de plantas, como o arroz, o bambu e a amoreira. O papel,
como o conhecemos hoje, feito da celulose das árvores, foi inventado apenas
no século 19.
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41
42
Pinturas e desenhos – pastel: na língua italiana, pasta. Inventado no
século 15, o pastel é a mistura de pigmentos em pó misturados com goma-
arábica e cola. Existem dois tipos: pastel oleoso e pastel seco. O oleoso você
conhece bem, pois é o bom e velho giz de cera. Já o seco tem um efeito
diferente: quando a gente passa o dedo em cima do risco, ele vai
esfumaçando, fica parecendo uma nuvenzinha.
44
45
Pinturas e desenhos: os pigmentos - as cores das tintas são feitas de
coloridos pós, extraídos de plantas, animais e minerais. Esses pozinhos
mágicos são misturados a alguma outra substância que serve de "liga", como a
água (no guache e na aquarela), o óleo, a cera e até o ovo!
Algumas cores são extraídas dos lugares mais estranhos! As cores
sépia e púrpura vêm de moluscos, o carmim vem de um inseto esmagado,
chamado cochonilha, o azul-ultramar de uma pedra preciosa chamada lápis-
lazúli. Mas hoje em dia a maioria dos pigmentos é obtida por processos
químicos.
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Pinturas e desenhos – pena, tinta e nanquim: a tinta é usada para
desenhar, pintar e escrever há mais de 2.000 anos. Os antigos egípcios,
gregos e romanos usavam tinta em penas para escrever sobre pergaminho e
papiro. Já os europeus, a partir do século 12, utilizavam as plumas das aves
com tinta. Depois, as penas foram substituídas por objetos parecidos feitos em
metal, como prata ou aço, com as mais variadas pontas e tintas.
O nanquim foi inventado na China, muitos séculos antes de Cristo. Os
pintores chineses usavam a tinta em pincéis de madeira ou bambu e
desenhavam animais e paisagens em pedaços de seda.
Por muitos anos, o nanquim foi obtido a partir daquela tinta preta que os
polvos liberam quando se sentem ameaçados. Atualmente, ele é feito a partir
de uma mistura entre cânfora, gelatina e um pó escuro chamado pó-de-sapato.
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51
Criatividades - artes visuais – tinta a óleo: no século 15, o pintor
flamengo Van Eyck (1390-1441) descobriu o segredo da tinta a óleo!
Ela secava lentamente e dava ao pintor a oportunidade de retocar o quadro
antes de terminá-lo, além de conferir uma luminosidade maravilhosa às obras.
Foi uma verdadeira revolução! Antes dessa invenção, as tintas eram feitas com
cera ou ovo, e secavam muito depressa. Mas com a tinta a óleo, tudo mudou.
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Construções artísticas - colagem: é a composição feita a partir do uso de
matérias de diversas texturas, ou não, superpostas ou colocadas lado a lado,
na criação de um motivo ou imagem. É uma técnica não muito antiga, criativa e
bem divertida, que tem por procedimento juntar numa mesma imagem outras
imagens de origens diferentes.
A colagem já era conhecida antes do Século XX, mas era considerada
uma brincadeira de crianças, cujas construções até hoje são elaboradas de
forma pessoal, única e visando uma mistura de situações.
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55
Segundo Umberto Eco, em A Definição de Arte: “A arte diz-nos sempre
alguma coisa acerca do mundo em vivemos, mesmo que não fale de assuntos
históricos e sociológicos”
Na concepção de Jean Piaget, no Educar a Criança, o conhecimento
não provém, nem dos objetos, nem da criança, mas sim das interações entre
as crianças e os objetos.
A Arte das crianças – individual ou em grupo - ilustra emoções,
cuidados, carinhos, amizades, famílias, subjetividades, culturas e etc. – via
materiais como a massinha, folha impressa, cola colorida, recorte e colagem,
bolinha de papel crepom e milhares de outros objetos, de variáveis formas
belas e simples.
56
CAPÍTULO II
2. A CRIANÇA E A ARTE
“hda expressão livre ou espontânea da criança em que a personalidade pouco
a pouco se revela através de diversos meios expressivos, corporais e
instrumentais, até ao domínio da expressão “artística”, no limiar da
necessidade de comunicação com outrem, início do diálogo onde a arte já
aflora, criativamente."
Arquimedes Santos in
Mediações Artístico-Pedagógicas, Pág. 45
2.1 – Ensino da Arte : O Início
Um fato habitual a todas as culturas – desde as mais primitivas às mais
civilizadas, desde as mais antigas às mais atuais – é a arte. “A imaginação
primitiva, a produção de imagens mentais - foi o primeiro passo na criação não
só da arte, mas também da linguagem (LANGER, 1980, p.35)
A arte enquanto linguagem faz parte do desenvolvimento do homem,
pois é uma forma, pelo motivo de compreender o contexto ao seu redor e se
relacionar com ele. “Os desenhos das crianças são produto da sua
compreensão do mundo, afirmando que elas desenham a partir do que
conhecem de si e do mundo”. (Apud VITTA, 1999, p.2)
Se os símbolos lingüísticos não são capazes de nos apresentar
integralmente os sentimentos, a arte surge como tentativa de fazê-lo. “ A arte é
57
a criação de fórmulas perceptivas expressivas do sentimento humano”.
(LANGER, 1980, p.51)
Em todas as culturas, sempre houve a produção de arte, seja em suas
formas mais simples, como enfeitar o corpo com tinturas, seja nas formas mais
sofisticadas, como cinema em terceira dimensão, na nossa civilização. A arte
nos acompanha desde as cavernas.
O ensino de Arte no Brasil teve início com a fundação da Academia
Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro, motivada pela chegada de diversos
artistas franceses na cidade em 1816, ocorrência batizada posteriormente de
“missão francesa”.
O ensino de Arte no Brasil teve início com a fundação da Academia
Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro, motivada pela chegada de diversos
artistas franceses na cidade em 1816, ocorrência batizada posteriormente de
“missão francesa”.
Na academia, trabalhava-se fundamentalmente o ensino de pintura, que
tinha como objetivo a cópia de modelos dentro de padrões europeus,
neoclássicos. Posteriormente, a arte que foi ensinada nas escolas, voltadas
para a elite, acompanhava a mesma linha, focada primordialmente na questão
da técnica.
No final do século XIX, a preocupação com arte-educação no Brasil
começou com a era industrial. As modificações sucedidas no plano político-
58
social tornaram a preparação para o trabalho o objetivo fundamental dos
políticos e dos intelectuais que buscavam reformular e organizar a educação no
País. “A arte como livre-expressão somente alcançou a educação durante os
anos 30, quando outra crise político-social, mudança de oligarquia para
democracia, exigiu reformas educacionais.” (BARBOSA, 1991, p.13)
Uma seqüência de mudanças na pedagogia e na arte conduziu a
transformações profundas no ensino de arte nas escolas, nas primeiras
décadas do século XX. Barbosa (1991) exprime que, nas décadas de 50 e 60,
apareceu no Brasil, influenciado por Dewey e outros educadores, o movimento
Escola Nova, em uma tentativa de educação de época. Vários educadores e
líderes do movimento afirmavam a importância da arte na educação para o
desenvolvimento da imaginação, intuição e inteligência da criança,direcionando
o ensino da arte para a livre-expressão. O movimento Escola Nova
apresentava uma nova concepção de educação, focalizada na figura do aluno
e não mais no professor, e inaugurou um novo jeito de se pensar e ensinar arte
em sala de aula.
Quando o movimento estava no auge, o Estado Novo iniciou a repressão
no campo educacional. Depois da Queda de Vargas, os esforços pela
redemocratização e as atenções se voltaram novamente para a Educação.
O Movimento Escolinhas de Arte, fundado em 1948, foi o maior
exponente dessa tendência. As escolinhas, dispersadas por todo o País,
ofereciam cursos de arte para crianças e adolescentes e de formação para
docentes, trabalhando essa nova concepção no ensino de arte, baseada na
auto-expressão, onde o aluno podia desenhar e pintar livremente.
As Escolinhas de Arte iniciaram a consolidação de sua identificação com
idéias de Herbert Read (1982), que desenvolveu a teoria da educação pela
arte, cuja base deve residir na liberdade individual e na integração do indivíduo
na sociedade, de artistas da época e de educadores envolvidos no processo
educacional, como Anísio Teixeira e Helena Antipoff. Barbosa (1991, p.14)
59
completa: “As práticas das Escolinhas começaram a acontecer nas escolas
por meio das classes experimentais criadas no Brasil depois de 1958.
Sob a influência das idéias libertárias modernistas, houve nessa fase
uma dessacralização da obra de arte, cuja elaboração passou a não ser
compreendida como privilégio do artista e passou a existir como possibilidade
de todos, inclusive das crianças.
Desse modo, a expressão infantil passou a ser valorizada e estimulada.
Em seu livro "Teoria e Prática de Educação Artística" (1975), Ana Mae Barbosa
narra esse momento: "A idéia da livre-expressão, originada no expressionismo,
levou à idéia de que a Arte na educação tem como finalidade principal permitir
que a criança expresse seu sentimento e à idéia de que a Arte não é ensinada,
mas expressada. Esses novos conceitos, mais do que aos educadores,
entusiasmaram artistas e psicólogos, que foram os grandes divulgadores
dessas correntes e, talvez por isso, promover experiências terapêuticas passou
a ser considerada a maior missão da Arte na Educação".
Nos processos criativos, administrados e aplicados na educação infantil,
o saudável resgate dos valores pessoais e humanos são sempre expressos em
suas obras.
Devido a isso, o papel do educador foi reduzido, pois este passou a
interferir o mínimo possível no processo de criação dos alunos, excluindo-se
até mesmo o trabalho com imagens em sala de aula.
60
Duarte Jr. (1988, p.117) explicita as mudanças ocorridas: Na década de
60, especialmente após 1964, nossos dirigentes passaram a se valer dos
valores técnicos e pragmáticos da moderna tecnologia norte-americana. A
censura abateu-se especialmente sobre a produção artística nacional. O
sistema de poder que passou a dominar o país em 1964 se propôs a eliminar
ou controlar o espírito crítico, inerente a toda atividade intelectual.
Manifestações artísticas regionais e folclóricas foram gradativamente sendo
esvaziadas, já que o “moderno” e “civilizado” eram as mensagens estéticas
televisionadas. Quando a Lei Federal n.o 5.692, de 1971, tornou a arte
disciplina obrigatória na escola de primeiro Grau e com alguns cursos de Se-
gundo Grau, os professores de arte correram às Escolinhas em busca de
orientação. Organizada de maneira formal e burocrática, a estrutura da Lei n.o
5.692 relegou a arte a uma disciplina a mais dentro dos currículos tecnicistas,
com uma pequena carga horária semanal. A arte continuou sendo encarada,
como um mero lazer, uma distração entre as atividades “sérias” das demais
disciplinas. (1988, p.117)
61
BARBOSA (1991, pp 16-17) complementa a questão:
Somente em 1973 foram criados pelo Governo Federal os cursos
universitários para formação dos arte-educadores. O currículo, entretanto,
baseava-se na prática em ateliê, seguida de alguma informação teórica sobre
arte, principalmente sobre a história da arte. As disciplinas na área pedagógica
limitavam-se à Psicologia, à Didática e à Estrutura e ao Funcionamento do
Ensino, visando a uma abordagem relacionada a problemas do ensino da arte
ou ao desenvolvimento do aluno por meio da arte, não havendo preocupação
com uma teoria da arte-educação no currículo.
Nas últimas décadas, ocorreram algumas tentativas de melhoria do
ensino da arte. A partir dos anos 80, foi criado o movimento Arte-Educação. Os
professores se mobilizaram com o intuito de conscientizar e organizar os
profissionais da área de arte para a valorização da disciplina. Entidades públi-
62
cas e particulares se reuniram por todo o País por meio de encontros e eventos
com o objetivo de propor novos andamentos à ação educativa em arte.
Conforme os PCN/Arte (2000), a arte na educação começou a ser vista
não só como auto-expressão, mas também como conhecimento. Deve-se ter
um conhecimento pelo aluno do passado para compreender o presente,
estabelecendo a proposta de ensino da arte no fazer artístico, na leitura da
obra de arte e na contextualização da história. Esta proposta foi introduzida no
Brasil pela arte-educadora Ana Mae Barbosa. Denominada metodologia
triangular, foi proposta depois pelos Parâmetros Curriculares Nacionais como
abordagem triangular (a produção do aluno, a fruição das obras e a reflexão).
Em 1988, com a promulgação da Constituição, iniciaram-se as
discussões sobre a nova LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional - promovendo a mobilização dos professores de arte em uma luta
política, já iniciada no início dos anos 80, e a qual foi sancionada apenas em 20
de dezembro de 1996. Certos da importância do acesso escolar dos alunos de
ensino básico também à área da Arte.
A LDB instituída em 1996 significou uma vitória para arte-educação.
Mais do que certificar a permanência do ensino de arte na educação escolar, a
nova lei trouxe uma nova concepção de arte: como área do conhecimento. A
arte deve fazer parte da educação, enquanto construção social, histórica e
cultural, orientando-se pelas noções de interculturalidade e interdisclinidade.Es-
sa nova concepção para o ensino de arte é assim explicada pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais/Arte (2000, p.30):
Com a Lei n.o 9.394/96, revogam-se as disposições anteriores e Arte é
considerada obrigatória na educação básica: “O ensino da Arte constituirá
componente curricular obrigatório, nos diversos níveis de educação básica, de
forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos ”(art. 26, parágrafo
2o ).
63
A Lei n.o 9.394/96 (PCN/Arte, 2000, p.30) acrescenta: “São
características desse novo marco curricular as reivindicações de identificar a
área por Arte (e não mais por Educação Artística) e de incluí-la na estrutura
curricular como área, com conteúdos próprios ligados à cultura artística, e não
apenas como atividade”.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte (2000) objetivam,
outrossim, levar as artes visuais, a dança, a música e o teatro para serem
aprendidos na escola. Durante muito tempo, essas práticas foram consideradas
atividades importantes apenas para recreação, equilíbrio psíquico, expressão
criativa ou simplesmente treino de habilidades motoras. Nos PCN/Arte, no
entanto, a Arte é apresentada como área de conhecimento que requer espaço
e constância, como todas as áreas do currículo escolar.
64
“Segundo os PCN/Arte (2000), é de fundamental importância que, na
disciplina Arte, os educandos possam dar continuidade aos conhecimentos
práticos e teóricos sobre a arte, ampliando sua visão do mundo por meio do
saber sobre produção, apreciação e história, em música, artes visuais, dança,
teatro e também artes audiovisuais. Podem ainda incluir as novas tecnologias
em suas práticas artísticas. Isso tem como objetivo principal uma educação
transformadora, preocupada com a formação e a identidade do cidadão.”
65
“Os educandos, ao desenvolverem atividades por meio das linguagens
artísticas, podem aprender a desvelar uma pluralidade de significados, de
interferências culturais, econômicas e políticas. Podem também analisar as
relações de forma e conteúdos presentes na sua produção em linguagem
visual e audiovisual, fazendo trabalhos artísticos: desenhos, pinturas, gravuras,
modelagens, esculturas, fotografias, artes gráficas (folhetos, cartazes, capas de
discos, encartes, logotipos, dentre outros). Além destes, podem fazer trabalhos
artísticos em telas informáticas, vídeos, CD-ROM, home Page, integrando as
artes audiovisuais e aprofundando a compreensão e o conhecimento de suas
estéticas.”
É importante dar relevo ao trabalho pioneiro produzido pela arte-
educadora Ana Mae Barbosa que colaborou decisivamente para o status legal
alcançado pela arte dentro do ensino formal e pela instauração de uma nova
concepção da disciplina. Ana Mae atuou na sistematização de uma
metodologia para o ensino de arte em um museu (o Museu de Arte
Contemporânea, da Universidade de São Paulo), depois adotado nas escolas.
A chamada Proposta Triangular define como alicerces do ensino/aprendizagem
de arte a criação, leitura e contextualização da obra.
A proposta de um ensino que dá conta das diferentes dimensões da arte
se apresentou como um meio termo em relação às tendências anteriores.
"O desenvolvimento em arte não é espontâneo e natural, como se
acreditou na escola Renovada até os anos 80 do século 20 e,
tampouco, fruto de cópia de modelos de arte, como se praticou na
escola Tradicional. Com exceção feita aos poucos alunos
autodidatas, a arte requer experimentação e formação", destaca a
especialista Rosa Iavelberg, uma das autoras dos PCNs na área
de Arte.
66
67
2.2 – O Desenho da Criança
Os estudos primários sobre a produção gráfica das crianças datam do final
do século passado e estão fundados nas concepções psicológicas e estéticas
da época. É a psicologia genética, inspirada pelo evolucionismo e pelo princípio
do paralelismo da filogênese com a ontogênese que impõe o estudo científico
do desenvolvimento mental da criança (Rioux, 1951).
As concepções de arte que permearam os primeiros estudos estavam
pavimentadas em uma produção estética idealista e naturalista de
representação da realidade, sendo a habilidade técnica, por conseguinte, um
fator prioritário. Foram poucos os pesquisadores que se ocuparam dos
aspectos estéticos dos desenhos infantis.
Luquet (1927 - França) relata sobre os 'erros' e 'imperfeições' do
desenho da criança que atribui a 'inabilidade' e 'falta de atenção', além de
afirmar que existe uma tendência natural e voluntária da criança para o
realismo.
Entretanto, foram os psicólogos que, no final do século XIX, decifraram
a originalidade dos desenhos infantis e publicaram as primeiras 'notas' e
'observações' sobre o assunto. De certa forma eles transpuseram para o
domínio do grafismo a descoberta fundamental de Jean Jacques Rousseau
sobre a maneira própria de ver e de pensar da criança.
As concepções relativas à infância se transformaram progressivamente.
A revelação de leis próprias da psique infantil e a demonstração da
originalidade de seu desenvolvimento proporcionaram a admissão da
especificidade desse universo.
O modo de encarar o desenho infantil evoluiu paralelamente. O desenho
constitui uma língua que possui vocabulário e sua sintaxe expõe expressões da
própria criança. Evidencia-se que a criança faz uma relação próxima do
desenho e a percepção pelo adulto. Em conjunto com o prazer do gesto,
68
associa-se o prazer da inscrição, a satisfação de deixar a sua marca. Os
primeiros rabiscos são quase sempre efetuados sobre livros e folhas aparente-
mente estimados pelo adulto, possessão simbólica do universo adulto tão
estimado pela criança pequena.
Conforme consignações registradas na Série Idéias nr. 14, São Paulo:
FDE, 1992, pg. 53 a 61 :
"Toda criança desenha. Mesmo que não seja adequadamente
instrumentada para tal, a criança pequena quase sempre encontra uma
maneira de deixar, nas superfícies, o registro de seus gestos: se não tiver
papel, pode ser na terra, na areia, ou até mesmo na parede de casa; se não
tiver lápis, serve um pedaço de tijolo, uma pedra, ou uma lasca de carvão."
"O olhar que o professor dirige ao desenho da criança apóia-se nas
concepções que ele tem sobre o desenho enquanto linguagem, idéias
constituídas na sua própria história e experiência com a linguagem. Apóia-se
também em seus conhecimentos sobre as possibilidades do grafismo infantil,
noções adquiridas durante a sua formação e ao longo de sua experiência
profissional. Todo esse conhecimento traduz-se em expectativas com a
produção infantil, que definem o diálogo que o professor estabelece com a
criança sobre seus desenhos, interação que pode ser marcada pelo incentivo,
pela advertência, pela indiferença.”
"Percebemos que o desenho "perfeito" é também aquele que se
aproxima mais da estilização padronizada do real; é o que nos indica a
69
satisfação do professor diante da reprodução de modelos divulgados pelos ma-
nuais de 'desenho pedagógico', diante das clássicas estilizações infantis, como
o desenho da casinha e o da figura humana, e ainda ante o cumprimento de
procedimentos padronizados, como o preenchimento de áreas previamente
contornadas e a ocupação 'homogênea' da folha de papel.(...) Esta expectativa
desconsidera o fato de que são múltiplas as percepções que se pode ter de um
mesmo objeto, por diferentes pessoas, ou pela mesma pessoa em momentos
diferentes."
“É grande a responsabilidade do professor na construção de um
ambiente favorável ao desenvolvimento do desenho infantil. É certo que o
prazer encontrado pela criança no desenho deixará de existir se não forem
permitidas a exploração de sua função expressiva e a realização de seu
potencial criativo. Precisamos repensar as expectativas que temos do desenho
da criança, assim como o diálogo que estabelecemos com ela a respeito da
sua produção gráfica. Além disso, precisamos discutir as oportunidades
concretas para o fazer artístico na Pré-escola."
Os desenhos das crianças são produzidos via instrumentos que
registram uma marca, citados como exemplos a varinha na areia, a pedra na
terra, o caco de tijolo no cimento, o carvão nos muros e calçadas, o lápis, o
pincel com tinta no papel / na parede.
Desenhando, as crianças geram em torno de si um espaço de jogo,
silencioso e concentrado ou rumuroso, sempre em espaço de criação. A
criança brinca desenhando.
70
“Bem sabemos que a palavra desenho, tem originalmente um
compromisso com a palavra designo. Ambas se identificavam. Na medida em
que restabelecermos, efetivamente, os vínculos entre as duas palavras,
estaremos também recuperando a capacidade de influir no nosso viver. Assim,
o desenho se aproximará da noção de projeto (prós-jet), de uma espécie de
lançar-se para frente.” (FREIRE, P. – Aula inaugural da Semana da Arte e
Ensino, USP, 1980)
Outras determinações expostas na Série Idéias nr. 10, São Paulo: FDE,
1992, pg. 67 a 71 :
"Desenhar é fato tão inerente à nossa espécie que este fazer se
manifesta na infância como herança, configura a explicitação de pertinência à
espécie e afirmação de cada individualidade quando produz, reproduz, realiza,
cria..."
"A criança desenha com freqüência; o adolescente o faz raramente; e o
adulto, quando é artista. Para que se desenhe menos ou nada, entra em ação
uma estratégia de inibição da atividade expressiva que tem como personagens
a Escola, a família e as comunicações massificadas. Nosso campo de ação,
porém, é a Escola.(...) Faltam-lhe insumos e condições suficientes para que tal
potencial não se vá. O ensino de 1º e 2º graus não está apto para que este
potencial aflore, permaneça e se desenvolva.”
71
"Todos têm esta capacidade de expressar-se através das linguagens
artísticas e, particularmente, através do desenho; alguns, porém, pela persis-
tência aliada à vocação alcançarão a qualidade. Mas a arte que busco
estimular em meus alunos não é a dos milhões, galerias, museus e leilões.
Falo do homem, exercendo o que lhe é inerente: a possibilidade artística, e
particularmente a de figurar."
O princípio de que a criança desenha menos o que vê e mais o que sabe
de um objeto é um ponto de concordância entre diferentes concepções teóricas
sobre o desenvolvimento do desenho. O desenho, entre o jogo simbólico e a
imagem mental, subordina-se às leis da conceituação e da percepção
(PIAGET, 1973). A percepção do objeto corresponde à atribuição de sentido
dada pela criança, constituindo-se realidade conceituada, e não material
(VYGOTSKY, 1988).
O desenho passa a ser conceituado como tal a partir do reconhecimento
pela criança de um objeto no traçado que realizou. Nessa fase inicial,
predomina no desenho a assimilação, isto é, o objeto é modificado em função
da significação que lhe é atribuída, de forma semelhante ao que ocorre com o
brinquedo simbólico. Na continuidade do processo de desenvolvimento, o
movimento de acomodação vai prevalecendo, ou seja, vai havendo cada vez
mais aproximação ao real e preocupação com a semelhança ao objeto
representado, direção que pode ser vista também no jogo de regras (PIAGET,
1971).
72
Segundo Vygotsky, o desenho é o registro do gesto, constituindo
passagem do gesto à imagem. Essa característica e a referente à percepção
da possibilidade de representar graficamente configuram o desenho como
precursor da escrita. A percepção do objeto, no desenho, corresponde à
atribuição de sentido dada pela criança, constituindo-se realidade conceituada,
e não material. Inicialmente o objeto representado é reconhecido após a
realização do desenho, quando a criança expressa verbalmente o resultado da
ação gráfica, identificada ao objeto pela sua similaridade. Momento
fundamental de sua evolução se constitui na antecipação do ato gráfico,
manifestada pela verbalização, indicando a intenção prévia e o planejamento
da ação (VYGOTSKY, 1988).
Vygotsky explica a existência de “certo grau de abstração” na atitude da
criança que desenha, ao liberar conteúdos da sua memória. Identifica o papel
da fala nesse processo, afirmando que a linguagem verbal é a base da
linguagem gráfica constituída pelo desenho. Afirma: “...os esquemas que
caracterizam os primeiros desenhos infantis lembram conceitos verbais que
comunicam somente os aspectos essenciais dos objetos” (op. cit., p. 127).
Em relação ao desenvolvimento da linguagem escrita, o autor propõe
“...que o brinquedo de faz-de-conta, o desenho e a escrita devem ser vistos
como momentos diferentes de um processo essencialmente unificado...” (op.
cit., p.131), motivo para que “...brincar e desenhar deveriam ser estágios
preparatórios ao desenvolvimento da linguagem escrita.” (op. cit., 134).
Derdyk (1989) ressalta que o desenho, forma de pensamento, favorece
a visão de que o mundo interior se defronte com o exterior, a observação do
real se confronte com a imaginação e o desejo de significar. Desse modo,
memória, imaginação e observação se encontram, passado e futuro interagindo
com o registro da ação no presente. Como pensamento visual, o desenho é
estímulo para exploração do universo imaginário. É, também, instrumento de
generalização, de abstração e de classificação. A autora destaca ainda que o
73
desenhar envolve diferentes operações mentais, selecionar e relacionar
estímulos, simbolizar e representar, favorecendo a formação de conceitos.
Também pesquisando o papel do desenho na construção de
conhecimento, Pillar (1996, p. 51) afirma que “... ao desenhar, a criança está
inter-relacionando seu conhecimento objetivo e seu conhecimento imaginativo”.
E, simultaneamente, “...está aprimorando esse sistema de representação
gráfica” . (op. cit., p 214)
Como releva Ferreira (1998), a interpretação do desenho da criança
depende do olhar do intérprete. Afirma a autora que “o desenho da criança é o
‘lugar’ do provável, do indeterminado, das significações” (FERREIRA, S.
Imaginação e linguagem no desenho da criança. Campinas: Papirus, 2001, p.
105). Daí emerge a importância de se considerar o primeiro desses intérpre-
tes, a própria criança, para que se possa compreender o seu significado.
Renso, Castelbianco e Vichi (1997) destacam o ‘lugar’ do desenho,
configurando espaço fundamental do mundo infantil de múltiplas dimensões,
em artigo sobre o “pensamento gráfico”. Ressaltam os pesquisadores que o
desenho da criança deve ser considerado não apenas como uma modalidade
de expressão ou de representação da realidade, mas também como o
resultado de atividade intencional envolvendo aspectos cognitivos e emotivos
no seu ajuste à realidade com a qual convive. Para a compreensão do desenho
74
infantil, é necessário que se acompanhe o processo de sua produção (RENSO,
CASTELBIANCO E VICHI, 1997, p. 57):
O papel do desenho no processo de desenvolvimento da criança é
transparecido pela sua própria constituição, pois tem características
particulares que o distingue de outras formas de expressão. Relativamente à
linguagem verbal, cujo suporte básico é acústico, o desenho se caracteriza,
enquanto imagem visual, pela sua globalidade e possibilidade de percepção
imediata.
O signo visual é icônico e imediato, isto é, mantém relações de
semelhança com o objeto representado. Contrapõe-se, desta maneira, ao signo
verbal, que se caracteriza pela arbitrariedade em relação ao objeto referido
(KATZ; DORIA; LIMA, 1971).
Pelos múltiplos motivos acima, o desenho pode ser visto como uma
linguagem privilegiada, pois permite o exercício relativamente mais livre de
construção da forma, estabelecendo relação entre significado e significante de
modo mais elementar.
“Antes eu desenhava como Rafael, mas precisei de toda uma
existência para aprender a desenhar como as crianças”. (Picasso)
75
2.3 - O Desenvolvimento Gráfico
Grafismo é o resultado de uma tendência natural, expressiva. O
processo de desenvolvimento gráfico infantil está conectado ao
desenvolvimento físico, social, intelectual e afetivo-emocional da criança.
Para a pesquisadora norte-americana Rhoda Kellogg (1985), todas as
crianças garatujam de forma semelhante, dependendo da cultura de cada uma.
Dessa forma, todos os desenhos de uma pessoa serão reflexos dos desenhos
construídos na primeira infância. A pesquisadora constatou que, por meio de
mandalas, símbolos iniciais do tempo e espaço, a criança começa a ocupar os
espaços, a combinar os símbolos geométricos até formar os desenhos. O sol,
por exemplo, pode ser um bicho, um ser humano. Ela pode não ter a intenção
de representar o sol (Apud MARTINS; PICOSQUE; GUERRA, 1998)
Em cada etapa, a criança tem d efinida maneira de figurar os
elementos, não há uma relação entre a idade da criança e a fase a ser
alcançada, assim como a idade mental não é a mesma para com a mesma ida-
de cronológica. Referindo-se às teorias de Jean Piaget, Vasconcelos (2001, p.
76
24) comenta: Para Piaget, a forma de raciocinar e de aprender da criança
passa por estágios. Por volta dos dois anos, ela evolui do estágio sensório-
motor, em que a ação envolve os órgãos sensoriais e os reflexos neurológicos
básicos (como sugar a mamadeira) e o pensamento se dá somente sobre as
coisas presentes na ação que desenvolve, para o pré-operatório.
Dessa forma, a expressão gráfica da criança muda com a idade, o
meio, os estímulos e as vivências próprias. Características comuns surgem nas
representações gráficas de todas as crianças, dando origens a estágios do
grafismo infantil.
Lowenfield (1977) distingue o desenvolvimento gráfico da criança em
quatro estágios, conforme exposições abaixo :
- Estágio de rabiscação, no qual o desenho é um prolongamento do
gesto.
- Estágio de início de figuração, no qual surgem as primeiras formas
reconhecíveis.
- Estágio de figuração esquemática, no qual a criança desenha o que ela
sabe.
- Estágio de figuração realista, quando a criança se esforça em
representar o que vê.
77
Existe uma série de pesquisas relacionadas ao estudo das etapas do
desenho infantil, pois as diferenças individuais, a forma de desenvolvimento e
as transformações de cada criança são distintas, diversificando de criança para
criança.
Expondo esta questão, Martins; Picosque; Guerra (1988, p.94)
esclarecem: Compreender a trajetória expressiva da criança é tarefa instigante.
Os sistemas educacionais, as oportunidades oferecidas, os valores culturais,
as predisposições genéticas colorem de forma particular as produções,
percepções e concepções artísticas das crianças. Entretanto, os
pesquisadores desse desenvolvimento têm percebido que, mesmo em cenários
e épocas diferentes, certas similaridades indicam aspectos fundamentais
comuns.
O primeiro estágio do desenho infantil desenvolve uma fase de grande
importância para a formação da criança. É tarefa do educador conhecer etapas
do desenho gráfico e aos cursos de formação de professores a responsabilida-
de por esse aprendizado. Derdyk (2003, p.15) relata sobre este assunto o
seguinte: “Se o arte-educador da pré-escola não possuir uma vivência prática e
efetiva das linguagens expressivas, facilmente incorrerá em erros grosseiros na
avaliação daquelas garatujas e rabiscos aparentemente inúteis”.
78
Em descrição de Lownfeld (1977), o primeiro estágio compreende o
período de rabiscação ou garatujas, que corresponde à idade um ano e meio a
quatro anos, diversificando de criança para criança, sendo o momento em que
a criança segura um instrumento e traça, sem intenção de escrever ou
desenhar. São experiências cinestésicas, gestos instintivos que causam prazer
orgânico, onde a criança dá expansão às necessidades motoras. Na fase da
rabiscação desordenada, a criança, por meio do traçado, expressa ternura e
confiança ou dedo e agressividade.
Para Rhoda Kellogg (1985), todos os futuros desenhos de um indivíduo
serão construídos a partir dos movimentos iniciados na primeira infância e
registrados no papel ou na massinha. Segundo a pesquisadora : “ ...dos
rabiscos iniciais, nascem as formas circulares, triangulares, irregulares, a cruz
e o X, denominado por ela de diagramas básicos. A cruz e o X podem parecer
simples, mas a construção das duas perpendiculares, com horizontal/vertical
ou com linhas oblíquas, é uma ação importante.” (Apud MARTINS;
PICOSQUE; GUERRA. 1998, p.99)
Martins; Picosque; Guerra (1998, p.101) consideram:
“A criança não é uma produtora de símbolos, de
forma consciente. Mas, como está no mundo da
cultura, em um mundo essencialmente simbólico, já
é leitora de índices e ié imitadora de símbolos. É
assim que aprende a dar “até logo”, a assoprar
velinha de mentira, a bater palmas.”
Segundo Viktor Lowenfeld (1977), a criança passa depois para a
rabiscação longitudinal. Nessa etapa, o rabisco já é intencional, ou seja, a
criança tem relativa idéia do que está fazendo e, da mesma forma, então
estima a sua atividade. É um movimento renovado, repetido e controlado –
onde aparece a coordenação motora e visual, ela se interessa pela própria
atividade, observa e gosta do que está fazendo.
79
Com as formas enroladas ou celulares (as bolinhas), aparece a
capacidade de controle por meio de símbolos, que são: círculos, quadrados,
cruzes, entre outros, que representam: casas, pessoas, sol, animais. É o
começo do desenho. É importante relevar que, nessa fase, a criança ainda não
abandonou as garatujas, ela continua rabiscando.
Quanto a isso, Martins; Picosque; Guerra (1998, p.102) explicam: “É
importante lhe oferecer oportunidades de contatos sensoriais e perceptivos
com o mundo da natureza e da cultura humana”. As autoras continuam em
suas observações: “Infelizmente, há uma pressa para que a criança deixe logo
as garatujas e passe para os desenhos reconhecíveis. Para algumas pessoas,
só há desenho quando a criança faz o figurativo. Só há música quando existe
uma música definida. Antes disso, é só rabisco ou barulho, como se essas
manifestações não fossem sumamente importantes!”
A criança atinge agora a fase da rabiscação acompanhada da
fabulação. Ela nomeia os seus desenhos, decifra o aparecimento da linguagem
plástica pela utilização dos símbolos e exibe, em seus trabalhos artísticos,
sensações, vividas ou imaginadas.
Relativo a isso, Ferreira (1988, p.59) enuncia o seguinte: “Imaginando,
figurando, interpretando e falando, a criança compõe seu desenho e cria um
modo de comunicar seus pensamentos”.
80
A reprodução ainda é irreconhecível, porém é o momento em que a
criança, por meio de fabulação intensa, manifesta toda sua criatividade e
inventividade. A figura humana aparece repetidamente nessa fase, na qual é
reproduzida pela criança por meio de formas celulares, mais filamento retilíneo.
A criança fecha o círculo e desenha pernas e braços que saem da
cabeça (pernas, braços, cabelos em forma de filamentos retilíneos). Para a
criança, esses membros são importantes porque servem para pensar, ver,
andar e se movimentar. Vygotsky explica que “... esses esquemas usados
pelas crianças são indicadores de que elas acham essa representação
suficiente para significar o ser humano”. (Apud FERREIRA, 1998, p.30)
Alguns psicólogos e pedagogos retratam, em uma linguagem mais
coloquial, o desenvolvimento gráfico das crianças, utilizando as seguintes
referências:
• De 1 a 3 anos
É a idade das famosas garatujas: singelos riscos ainda privados de
controle motor, a criança ignora os limites do papel e move o corpo todo para
desenhar, avançando os traçados pelas paredes e chão. As primeiras garatujas
são linhas longitudinais que, com o passar do tempo, vão se tornando
circulares e, por fim, se fecham em formas independentes, que ficam soltas na
81
página. No término dessa fase, existe a possibilidade de aparecerem os
primeiros indícios de figuras humanas, como cabeças com olhos.
• De 3 a 4 anos
Os desenhos já conquistaram a forma e os mesmos representam
intencionalmente algo. A criança também respeita melhor os limites do papel.
Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível, com
pernas, braços, pescoço e tronco.
82
• De 4 a 5 anos
É uma fase de temas clássicos do desenho infantil, como paisagens,
casinhas, flores, super-heróis, veículos e animais, varia no uso das cores,
buscando um certo realismo. Suas figuras humanas já dispõem de novos deta-
lhes, como cabelos, pés e mãos, e a distribuição dos desenhos no papel
obedecem a uma certa lógica, do tipo céu no alto da folha. Surge ainda a
tendência à antropomorfização, ou seja, a emprestar características humanas a
elementos da natureza, como o famoso sol com olhos e boca. Esta tendência
geralmente se estende até 7 ou 8 anos.
83
• De 5 a 6 anos
Os desenhos usualmente se baseiam em roteiros com começo, meio e
fim. As figuras humanas aparecem vestidas e a criança dá grande atenção a
detalhes como as cores. Há mudanças de temas e o fato de não terem nada a
ver com a vida dela são um indício de desprendimento e capacidade de contar
histórias sobre o mundo.
84
• De 7 a 8 anos
O realismo é a marca desta fase, em que surge também a noção de
perspectiva. Ou seja, os desenhos da criança já dão uma impressão de
profundidade e distância. Extremamente exigentes, muitas deixam de dese-
nhar e acham que seus trabalhos não ficam bonitos.
Como podemos perceber a linha de evolução é similar mudando com
maior ênfase o enfoque em alguns aspectos. O importante é respeitar os ritmos
de cada criança e permitir que ela possa desenhar livremente, sem intervenção
direta, explorando diversos materiais, suportes e situações.
Por diversas vezes, para tentarmos entender melhor o universo infantil.
buscamos interpretar os seus desenhos. Entretanto, devemos lembrar que a
interpretação de um desenho, quando isolada do contexto em que foi
elaborado, não faz sentido.
Em concordância com as idéias de Piaget, Vasconcelos (2001)
comenta que, por volta dos sete anos, a criança passa para o estágio
operacional-concreto, onde consegue refletir sobre o inverso das coisas e dos
fenômenos.
Segundo Piaget, por volta dos doze anos, a criança chega ao estágio
operacional-formal : “O adolescente pode pensar em coisas completamente
abstratas sem necessitar da relação direta com o concreto. Ele compreende
conceitos como amor ou democracia.” (Apud VASCONCELOS, 2001, p.24)
85
Dessa forma, a expressão gráfica da criança muda com a idade, o
meio, os estímulos e as vivências próprias. Características comuns surgem nas
representações gráficas de todas as crianças, dando origens a estágios do
grafismo infantil.
É aconselhável, ao professor, que ofereça às crianças o contato com
diferentes tipos de desenhos e obras de artes, que El
as façam a leitura de suas produções e escutem a de outros e também
que sugira a criança desenhar a partir de observações diversas (cenas,
objetos, pessoas) para que possamos ajudá-la a nutrisse de informações e
enriquecer o seu grafismo. Assim elas poderão reformular suas idéias e
construir novos conhecimentos.
Os sentimentos estéticos devem merecer um destaque especial e,
Ferraz:; Fusari (1999, p.60) declara: “As representações mentais, advindas
desse mundo perceptivo, reorganizam-se, recombinam-se em outras formas
por meio do processo que é, sobretudo, imaginativo”.
Enfim, o desenho infantil é um universo cheio de mundos a serem
explorados.
86
2.4 – Desenho e Fantasia
A partir do reconhecimento pela criança de um objeto no
traçado que realizou, o desenho passa a ser conceituado como tal.
Nesta fase iniciativa, prevalece no desenho a assimilação, isto é, o
objeto é alterado em função da significação que lhe é concedida, de
forma parecida ao que ocorre com o brinquedo simbólico.
Continuamente, o processo de desenvolvimento, o
movimento de acomodação vai prevalecendo, ou seja, vai havendo
cada vez mais aproximação ao real e preocupação com a
semelhança ao objeto representado, direção que pode ser vista
também no jogo de regras (PIAGET, 1971; 1973).
Outras condições do desenho são destacadas por Vygotsky.
Uma delas é a relativa ao domínio do ato motor. O desenho é o
registro do gesto, constituindo passagem do gesto à imagem. A
percepção do objeto, no desenho, corresponde à atribuição de
sentido dada pela criança, constituindo-se realidade conceituada, e
não material.Inicialmente o objeto representado é reconhecido após
87
a realização do desenho, quando a criança expressa verbalmente o
resultado da ação gráfica, identificada ao objeto pela sua
similaridade. Momento fundamental de sua evolução se constitui na
antecipação do ato gráfico, manifestada pela verbalização,
indicando a intenção prévia e o planejamento da ação (VYGOTSKY,
1988).
Vygotsky comenta também a existência de “certo grau de
abstração” na atitude da criança que desenha, ao liberar conteúdos
da sua memória. Reconhece o papel da fala nesse processo,
afirmando que a linguagem verbal é a base da linguagem gráfica
constituída pelo desenho. Afirma: “...os esquemas que
caracterizam os primeiros desenhos infantis lembram conceitos
verbais que comunicam somente os aspectos essenciais dos
objetos” (op. cit., p. 127).
Em relação ao desenvolvimento da linguagem escrita, o
autor propõe “...que o brinquedo de faz-de-conta, o desenho e a
escrita devem ser vistos como momentos diferentes de um
processo essencialmente unificado...” (op. cit., p.131), motivo para
que “...brincar e desenhar deveriam ser estágios preparatórios ao
desenvolvimento da linguagem escrita.” (op. cit., 134).
Piaget e Vygotsky teoricamente se aproximam em relação à
importância do desenho no processo de desenvolvimento da
criança e à característica de que a criança desenha o que a
interessa, representando o que sabe de um objeto.
88
Essas básicas propostas são partilhadas por outros
pesquisadores interessados no desenho infantil. Entre esses,
pode-se destacar Read (1977) que, evidenciando o papel das
imagens visuais para o desenvolvimento do pensamento, identifica
no desenho elo entre a percepção e a imaginação, pois possibilita
sua integração em forma concreta, passível de sucessivas
modificações. Lowenfeld (1977) é outro autor que ressalta a impor-
tância do desenho para o desenvolvimento da criança, seja como
veículo de auto-expressão ou como de desenvolvimento da
capacidade criativa e da representativa. Derdyk (1989) salienta o
poder de evocação - e interpretação – da imagem visual. O
desenho, forma de pensamento, favorece oportunidade de que o
mundo interior se confronte com o exterior, a observação do real se
defronte com a imaginação e o desejo de significar. Assim,
memória, imaginação e observação se encontram, passado e futuro
convergindo para o registro da ação no presente. Como
pensamento visual, o desenho é estímulo para exploração do uni-
89
verso imaginário. É, também, instrumento de generalização, de
abstração e de classificação. A autora ressalta ainda que o
desenhar envolve diferentes operações mentais, selecionar e
relacionar estímulos, simbolizar e representar, favorecendo a
formação de conceitos.
90
Assim, a imaginação é compreendida como uma forma
especificamente humana de atividade consciente que, enquanto
base de toda atividade criadora, manifesta-se em todos os aspectos
da vida cultural, possibilitando a criação artística, científica e
técnica. O mundo da cultura é concebido como produto da
imaginação e da criação humana. Ao possibilitar a reordenação dos
elementos extraídos da realidade, organizando-os de maneiras
novas, a imaginação não se caracteriza como uma atividade oposta
àquela de domínio do mundo exterior, sendo ambas de natureza
fundamentalmente social.
Para Vygotsky, a atividade criadora é toda a criação humana
de algo novo. Isto é particularmente importante porque nós, seres
humanos, podemos reconhecer dois tipos básicos de
comportamento: um impulso e um jogador ou uma combinação
criativa.
91
A primeira, intimamente ligada à memória, retrata capacidade
do nosso cérebro para reter os traços das experiências. Mas o
cérebro, diz Vygotsky, também possui a capacidade para enfrentar
com sucesso e resolver problemas novos e diferentes para os já
conhecidos. É a capacidade de unir e criar algo novo, utilizando
elementos de situações adquiridas antes de aplicá-los a novos
problemas.
Qualquer atividade humana que não se limita a reproduzir
fatos vivenciados, mas que podem criar novas imagens, novas
ações, pertence a este segundo papel ou em combinação criativa.
O cérebro não é apenas um órgão capaz de reter ou desempenhar
as nossas experiências passadas, mas também um órgão
combinador, criador; capaz de reorganizar e criar elementos da
experiência anteriores com as novas normas e abordagens.
Nesta atividade criativa do cérebro humano, baseado na
combinação, a psicologia chama de imaginação ou fantasia, para
definir algo que não seja o adequado cientificamente. Neste sentido,
absolutamente tudo que nos rodeia e que foi criada pelo homem,
todo o mundo da cultura, ao contrário do mundo da natureza, é um
produto da imaginação e da criação humana, com base na fantasia.
Vygotsky nos explica outrossim que a imaginação ou fantasia
nutre-se de materiais tomados da experiência vivida pela pessoa.
Com isso entendemos que quanto mais rica for a experiência
humana, tanto maior será o material colocado à disposição da
imaginação.
92
As fantasias são reguladas e transformadas à medida que as
crianças vão sendo expostas a situações reais que podem coincidir
com conteúdos internos. Nesse sentido, frustrações prolongadas
destroem a fantasia de um objeto onipotentemente bom e reforçam
a existência e a força de um objeto mau. Assim, a fantasia funciona
tanto como um correspondente dos instintos, quanto função
defensiva, como reforça Segal (1982:70)
“Estamos todos familiarizados com o fantasiar como função
defensiva. Ele é uma fuga da realidade e uma defesa contra a
frustração. Isto parece estar em contradição com o conceito de
fantasia como expressão do instinto. A contradição, não obstante, é
mais aparente do que real: como a fantasia visa satisfazer os
anseios instintivos na ausência da satisfação real, esta função em si
mesma é uma defesa contra a realidade. Mas à medida que a vida
mental se torna mais complicada, a fantasia é chamada para servir
de defesa em várias situações de stress.”
Embora não haja regras fixas, há muito a ser observado no
desenho. O exemplo da casinha, tão comum na temática infantil,
por si só já é bastante rico. Casas feitas no ar, sem um chão, uma
base, podem representar essa falta de parâmetros ou de segurança
da criança. Janelas e portas muito pequenas podem significar sua
dificuldade de abertura e de contato com o mundo externo. Ou
podem ter conotação de tristeza ou timidez. Uma grande variação
de cores pode representar alegria e expansão. O telhado da casa
costuma ser muito importante, pois simboliza o conteúdo de sonhos
e fantasias.
93
O desenho registra imaginações externas e internas e aflora
a capacidade criativa de todo ser humano.
94
CAPÍTULO III
3. ARTE E CRIATIVIDADE
“Uma pintura é um poema sem palavras.”
Horacio
“A arte é cúmplice do amor. Tire o amor, e não existe mais arte”
Remy de Gourmont
“Criatividade é permitir a si mesmo cometer erros.
Arte é saber quais erros manter.”
Scott Adams
“A descoberta consiste em olhar para a mesma coisa
como todo mundo e pensar algo diferente.”
Albert Szent Gyorgi
“Um aspecto essencial da criatividade é não ter medo de fracassar.”
Dr. Edwin Land
“A função da arte não é a de passar por portas abertas, mas a de
abrir portas fechadas.”
Ernest Fischer
95
A arte na educação tem papel essencial para progredir na criança os
aspectos físicos, motor, emocional e perceptivo, desenvolvendo, com isso, os
processos criativos que a capacitará descobrir sua capacidade inventiva. Para
Ferreira (1988, p.45), “a constituição da criança não pode ser explicada apenas
pelos fatores biológicos. Os fatores culturais e sociais também constituem a
criança”. Outro alicerce da arte é a possibilidade de enriquecer culturalmente a
criança, assim como embelecer a sua vida, fator determinador para o
desenvolvimento da personalidade do indivíduo.
É de grande importância que a criança tenha a oportunidade de se
expressar de forma criativa, de acordo com as fases do desenvolvimento
infantil correspondente a cada etapa.
Diante disso, é de grande apreço que o educador esteja preparado para
atuar junto à criança de forma consciente e afetiva. Ela necessita receber
condições psicológicas, pedagógicas e materiais para que se expresse por
meio da linguagem plástica.
Vygostsky (1991) considera que o desenvolvimento da linguagem escrita
na criança está expressa no deslocamento do desenho de coisas para o
desenho de palavras. “Nesse processo de transição, está também a
importância decisiva para o desenvolvimento do simbolismo do desenho”.
(Apud Ferreira, 1998, p.72)
Derdyk (2003, p.107) comenta: “ é ensino inteligente. O aprendizado
que depende basicamente do desempenho eficiente da capacidade de copiar é
um ensino que considera a criança como um ser cognitivo”.
O importante é que a arte da criança seja valorizada e que os adultos
não permitam que as crianças atravessem etapas de desenvolvimento de
forma errada, trazendo conseqüências futuras.
96
A arte tem a função de favorecer a ação espontânea, facultar a livre
expressão e permitir a comunicação. Ela coopera para a formação intelectual
da criança.
Segundo enunciação de Sans (1995, p.37): “A criança é observadora por
natureza. Olha atentamente, examina, reflete e especula o que acontece ao
seu redor. Assimila e retém informações com facilidade”. É de grande
importância que o adulto estimule a criança a se expressar de forma criativa,
em concordância com cada etapa de seu desenvolvimento, evitando assim
uma futura perda de confiança da criança na capacidade de criar e se
expressar ou, até mesmo, de desenhar e/ou pintar.
Fayga Ostrower (1978, p.9) afirma: “O homem cria, não apenas porque
quer, ou porque gosta, e sim porque precisa; ele só pode crescer, enquanto ser
humano, coerentemente, ordenando, dando forma, criando”. Portanto, a
criatividade não pertence a alguns privilegiados e sim, a todos.
97
3.1 – Exercícios de Arte
“Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam
a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o
seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm
um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas
amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para
voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro
dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado”.
Rubem Alves
Em tempos anteriores e atuais, verificam-se progressivas, libertas e
acentuadas diferenças, relativas ao ensino da arte. Durante uma longa e
anterior época, o ensino era administrado de forma extremamente pragmática,
tecnicista e de “resultados”. Hoje, há outra concepção de ensino de arte na
educação infantil, onde as crianças vivenciam momentos de livre criação e são
solicitadas a criarem espontaneamente, sem desafios, no intuito da mobilização
de seus processos expressivos.
98
Brincar faz parte do universo infantil. Todas as atividades lúdicas têm
primordial importância para o desenvolvimento da criança. Tudo é motivo para
a criança brincar; ela pula, corre, salta, esconde-se.
Vygotsky acredita que a brincadeira é uma atividade social para a
criança e, por meio desta, ela adquire elementos básicos para a construção de
sua personalidade.
Dessa maneira, constatamos que as atividades lúdicas são importantes
para o desenvolvimento da imaginação e da criação. Por isto, essas atividades
necessitam ser mais consideradas, adquirir mais atenção, pois é por meio das
atividades lúdicas que se desenvolverão na criança a expressão, as relações
afetivas com o mundo, com as pessoas e com os objetos.
Enquanto a criança brinca, ela amplia sua capacidade corporal, sua
relação com o outro, a percepção de si mesma com um ser social. Por causa
disso, a aprendizagem acontece de maneira prazerosa. Vygotsky (1991, p.95)
afirma: “A aprendizagem e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde o
primeiro dia de vida da criança”.
Atualmente, muitos educadores – principalmente nas séries iniciais –
desenvolvem práticas educativas direcionadas para a arte e as brincadeiras.
Um exemplo muito praticado é a confecção de brinquedos - utilizando sucatas.
Cunha (1988, p.9) afirma: “Brincar é indispensável à saúde física,
emocional e intelectual da criança. É uma arte, um dom natural que, quando
bem cultivado, irá contribuir, no futuro, para a eficiência e o equilíbrio do
adulto”.
Em atividades artísticas, é utilizada uma gama de materiais como
papéis, tintas, lápis de cor, cola, tesoura, tecidos, sucatas, fios, madeira,
plástico, massas e tantos mais – e técnicas artísticas, musicais, teatrais –
desenho, pintura, colagem, modelagem, construções, personagens, danças
fotografia, escultura, literárias e etc.
99
É de grande importância termos a consciência de que existe toda uma
fundamentação teórica na escolha de cada atividade artística, devido ao
afloramento de momentos com conteúdos inconscientes, de contentos que já
surgiram previamente ou de surpreendentes desconhecidos e surpresos
momentos de vida.
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte (2000), as
artes visuais, além das formas tradicionais (pintura, escultura, desenho,
gravura, arquitetura, artefato, desenho industrial), incluem outras modalidades
que, resultam dos avanços tecnológicos e transformações estéticas a partir da
modernidade (fotografia, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação,
performance).
Os PCN também ressaltam que o mundo atual se caracteriza por uma
utilização da visualidade em quantidades inigualáveis na história, criando um
universo de exposição múltipla para os seres humanos, o que gera a
necessidade de uma educação para saber perceber e distinguir sentimentos,
sensações, idéias e qualidades. Por isso o estudo das visualidades pode ser
integrado nos projetos educacionais. Tal aprendizagem pode favorecer
compreensões mais amplas para que o aluno desenvolva sua sensibilidade,
afetividade e seus conceitos e se posicione criticamente.
A educação em artes visuais demanda trabalho constantemente
informado sobre os conteúdos e experiências relacionados aos materiais, às
técnicas e às formas visuais de diversos instantes da história, inclusive
contemporâneos. Para tanto, a escola deve cooperar para que os alunos
passem por um conjunto amplo de experiências de aprende e criar, articulando
percepção, imaginação, sensibilidade, conhecimento e produção artística
pessoal e grupal.
Criar e perceber formas visuais implica trabalhar constantemente com
as relações entre os elementos que as compõem, tais como ponto, linha, plano,
cor, luz, movimento e ritmo. Ao longo do processo de vida fora e dentro da
escola, a criança participa cultural e criativamente em exercícios de arte, os
100
quais são criados individualmente e em grupo, utilizando e se expressando via
diversos materiais e com a utilização de uma série de técnicas.
As orientações no PCN/Arte (2000), relativas aos blocos de conteúdos
de Artes Visuais para o primeiro e o segundo ciclos são:
EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO NA PRÁTICA
DOS ALUNOS EM ARTES VISUAIS
101
- As artes visuais no fazer dos alunos: desenhos, pintura, colagem,
escultura, gravura, modelagem, instalação, vídeo, fotografia, histórias
em quadrinhos, produções informatizadas.
- Criação e construção de formas plásticas e visuais em espaços diversos
(bidimensional e tridimensional).
- Observações e análise das formas que produz e do processo pessoal
nas suas correlações com as produções dos colegas.
- Consideração dos elementos básicos da linguagem visual em suas
articulações nas imagens produzidas (relações entre ponto, linha, plano,
cor, textura, forma, volume, luz, ritmo, movimento, equilíbrio).
- Reconhecimento e utilização dos elementos da linguagem visual
representando, expressando e comunicando por imagens: desenho,
pintura, gravura, modelagem, escultura, colagem, construção, fotografia,
cinema, vídeo, televisão, informática, eletrografia.
- Contato e reconhecimento das propriedades expressivas e construtivas
dos materiais, suportes, instrumentos, procedimentos e técnicas na
produção de formas visuais.
- Experimentação, utilização e pesquisa de materiais e técnicas artísitcas
(pincéis, lápis, giz de cera, papéis, tintas, argila, goivas) e outros meios
(máquinas fotográficas, vídeos, aparelhos de computação e de
reprografia).
- Seleção e tomada de decisões com relação a materiais, técnicas,
instrumentos na construção das formas visuais.
102
AS ARTES VISUAIS COMO OBJETO DE
APRECIAÇÃO SIGNIFICATIVA
- Convivência com produções visuais (originais e reproduzidas) e suas
concepções estéticas nas diferentes culturas (regional, nacional e
internacional).
- Identificação dos significados expressivos e comunicativos das formas
visuais.
- Contato sensível, reconhecimento e análise de formas visuais presentes
na natureza e nas diversas culturas.
- Reconhecimento e experimentação de leituras dos elementos básicos da
linguagem visual, em suas articulações nas imagens apresentadas pelas
103
diferentes culturas (relações entre ponto, linha, plano, cor, textura,
forma, volume, luz, ritmo, movimento, equilíbrio).
- Contato sensível, reconhecimento, observação e experimentação de
leitura das formas visuais em diversos meios de comunicação da
imagem: fotografia, cartaz, televisão, vídeo, história em quadrinhos, telas
de computador, publicações, publicidade, desenho industrial, desenho
animado.
- Identificação e reconhecimento de algumas técnicas e procedimentos
artísticos presentes nas obras visuais.
- Fala, escrita e outros registros (gráfico, áudio-gráfico, pictórico, sonoro,
dramático, vídeo-gráfico) sobre as questões trabalhadas na apreciação
da imagem.
104
AS ARTES VISUAIS COMO PRODUTO
CULTURAL E HISTÓRICO
- Observação, estudo e compreensão de diferentes obras de artes visuais,
artistas e movimentos artísticos produzidos em diversas culturas
(regional, nacional e internacional) e em diferentes tempos da história.
- Reconhecimento da importância das artes visuais na sociedade e na
vida dos indivíduos.
- Identificação de produtores em artes visuais como agentes sociais de
diferentes épocas e culturas: aspectos das vidas e alguns produtos
artísticos.
- Pesquisa e freqüência junto das fontes vivas (artistas) e obras para
reconhecimento e reflexão sobre a arte presente no entorno.
- Contato freqüente, leitura e discussão de textos simples, imagens e
informações orais sobre artistas, suas biografias e suas produções.
- Reconhecimento e valorização social da organização de sistemas para
documentação, preservação e divulgação de bens culturais.
105
- Freqüência e utilização das fontes de informação e comunicação
artística presentes nas culturas (museus, mostras, exposições, galerias,
ateliês, oficinas).
- Elaboração de registros pessoais para sistematização e assimilação das
experiências com formas visuais, informantes, narradores e fontes de
informação.
Educacional e terapeuticamente, são importantíssimos os exercícios e
as orientações Artísticas – aplicados em casa, na escola e na vida de cada
criança - serem transmitidos livremente, visando levar à criança a entender seu
mundo e o mundo que a rodeia, não importando se ela é boa ou não em
desenho, em pintura, música, dança, teatro. O que importa é que a criança crie
conexões entre saberes e vivências e que possa revelá-las através de
diferentes linguagens artísticas, jamais importando com resultados estéticos e
sim, expressivos – criativos – culturais e etc.
106
Outras importantes expressões artísticas são a dança, a música e o
teatro, os quais são retratados com muita freqüência em exercícios na arte da
vida.
“Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho azul do papel...
Num instante imagino
Uma linda gaivota a voar no céu...”
Vinícius e Toquinho
107
3.2 – Pintando, desenhando, recortando, colando,
dobrando...
“A arte é um caminho para conhecer
aquilo em que cremos de verdade”.
Pat B. Allen
Há diversas possibilidades que o ser humano tem para exercitar sua
expressão criativa. A mente tem sido privilegiada que data de longo tempo,
porém é importante ressaltar que trabalhar com as mãos, com o corpo, com a
voz são atividades equilibradoras, principalmente para os indivíduos que se
encontram imersos em uma sociedade tão mental e, ao mesmo tempo, tão
superficial.
O prazer nas descobertas artísticas das pessoas retrata
diversificadamente um mundo pessoal e surpreendente. A seguir, serão
relacionados alguns exemplos de materiais e técnicas, relativos a operações de
terapias da arte que podem ser direcionadas por educadores a diferentes
faixas etárias de seres humanos, conforme sugestões expostas no livro
Criatividade em Arteterapia – Pintando & Desenhando Recortando, Colando &
Dobrando – de Edna Chagas Christo e Graça Maria Dias da Silva (2005, p. 19
a 103) :
PINTURA
ÁGUA SANITÁRIA NA ANILINA
Material:
Papel 40 kg branco
Cotonetes ou palitos com algodão na ponta
108
Água sanitária
Anilina
Procedimentos:
1) Pintar a folha com anilina, escolhendo uma ou várias cores, diluída
em pouca água;
2) Deixar secar;
3) Desenhar sobre o papel pintado – via cotonete molhado na água
sanitária.
COM ROLO DE ESPUMA
Material:
Papel 40 kg branco
Rolo de pintura (de espuma)
Espuma em tiras
Barbante, fitas
Tinta guache
109
Procedimentos:
1) Encaracolar materiais diferentes no rolo, firmando-os com o
barbante;
2) Passar o rolo no guache e aplicar sobre a superfície escolhida.
SOPRADA
Material:
Papel 40 kg branco
Canudos de vários comprimentos e expessuras
Guache ou nanquim e água
Procedimentos:
1) Salpicar gotas de guache aguada ou nanquim sobre o papel;
2) Soprá-las com um canudo em diferentes direções;
3) Refazer esse procedimento quantas vezes quiser, variando as
cores, as espessuras e comprimentos dos canudos (ou não).
110
A ÓLEO
Material:
Papel grosso ou papelão, como suporte
Tinta a óleo
Pincéis variados
Paleta
Procedimentos:
1) Escolher uma forma específica para o suporte e procurar explorar
ao máximo as possibilidades expressivas desse material. Se
precisar diluir a tinta, desfrute da terebentina.
111
COM BARBANTE
Material:
Papel pardo
Barbante
Guache bem espesso
Procedimentos:
1) Cortar pedaços de barbante de aproximadamente 50 cm. , um paa
cada cor que se desejar usar.
2) Mergulhar o pedaço de barbante dobrado em guache espesso.
3) Dar batidas com o barbante molhado sobre o papel, conforme o que
se desejar.
AQUARELA
Material:
Papel Canson
Aquarela (em bisnagas ou pastilhas)
Pincéis diversos
Potes para água
112
Procedimentos:
1) Dilua ou dissolva em água a tinta aquarela na cor desejada. Com
muita água a tinta fica mais clara; com pouca água ela fica mais
próxima da cor que se vê no tubo ou na pastilha;ç
2) Aplique sobre o papel Canson. Depois de seca a água, a cor adere
ao papel e não apaga mais;
3) Pode-se ir, continuamente, aplicando novas aguadas, aproveitando-
se da transparência oferecida pelo material, como também da
interpenetração entre as cores (enquanto molhadas) ou da criação
de desenhos figurativos sem contornos muito delimitados.
COM PENEIRA
Material:
Papel 40 kg. branco
Guache
Peneira reta
Escova de dentes velha
Cartolina para mascarar o desenho
113
Procedimentos:
1) Recortar, em cartolina, formas para cobrir ou delinear o desenho
(máscaras);
2) Prender essas máscaras no papel suporte;
3) Espalhar a tinta com uma escova de dentes velha bem molhada na
tinta, raspando-a sobre a peneira, a uma pequena distância, em
cima do papel.
COM PIGMENTOS
Material:
Cartolina
Pó xadrez e água
Pincéis e cotonetes
Procedimentos:
1) Diluir o pó xadrez na água e pintar com essa mistura;
2) Outra alternativa: pintar o papel com a água pura e depois salpicar o
pó xadrez, criando efeitos com o cotonete.
114
LAVADA
Material:
Papel 40 kg. branco
Guache bem grosso
Nanquim preto (ou de uma cor)
Pincéis
Procedimentos:
1) Pintar, sobre o papel, com guache branco ou colorido o motivo que
desejar;
2) Deixar secar;
3) Pincelar com o nanquim, ‘vestindo’ todo o trabalho;
4) Lavar embaixo da bica, esfregando levemente a mão.
115
A pintura se refere geralmente à técnica de aplicar pigmento em forma
líquida a uma superfície, a fim de colorí-la, atribuindo-lhe matizes, tons e
texturas.
Em uma forma mais específica, é a arte de pintar uma superfície, tais
como papel, tela ou até mesmo uma parede (pintura mural ou de afrescos).
Diferencia-se do desenho pelo uso dos pigmentos líquidos e do uso
constante da cor, enquanto aquele apropria-se principalmente de materiais
secos.
Entretanto, há controvérsias sobre essa definição de pintura. Com a
variedade de experiências entre diferentes meios e o uso da tecnologia digital,
a idéia de que pintura não precisa se limitar à aplicação do "pigmento em forma
líquida". Atualmente o conceito de pintura pode ser ampliado para a
representação visual através das cores.
DESENHO
LÁPIS CERA E REMOVEDOR
Material:
Cartolina
Lápis cera
Removedor
Algodão
Procedimentos:
1) Escolher três ou mais cores claras de lápis cera e sobre o papel
branco, desenhar à vontade com bastante força;
2) Com um algodão umedecido no removedor, espalhar e misturar
levemente as cores;
116
3) Opcionalmente, pode-se aguardar secar e adicionar alguns detalhes
com o lápis cera preto.
Obs.: Esta técnica também pode ser usada com pastel oleoso.
LÁPIS CERA NA LIXA
Material:
Lápis cera
Lixa (de várias espessuras)
Procedimentos:
1) Desenhar livremente sobre a lixa, tendo cuidado para não se
machucar na aspereza da lixa;
2) Geralmente, existem lixas de cor preta e de cor terra. Essa variação
vai permitir a exploração tanto de aspectos de claro/escuro, quanto
de possibilidades cromáticas.
117
BICO DE PENA SOBRE PAPEL ÚMIDO
Material:
Cartolina
Água
Nanquim preto
Bico de pena
Procedimentos:
1) Molhar o papel com água;
2) Salpicar gotas de nanquim;
3) Fazer o desenho, com o bico de pena, aproveitando as borradelas
que o nanquim deixa.
118
A CEGO
Material:
Papel 40 kg. branco
Lápis de cor
Procedimentos:
1) Movimentar, desprendidamente o dedo no ar sobre o papel, como
preparação;
2) Cobrir com venda os olhos;
3) Desenhar com o lápis sobre o papel, de olhos vendados;
4) Retirar a venda e olhar o desenho criado, procurando identificar
uma forma;
5) Destacar essa forma, usando outras cores.
119
COM CARVÃO FUSAIN
Material:
Papel Ingres
Carvão fusain
Esfuminho ou miolo de pão
Fixador
Procedimentos:
1) Criar seu desenho explorando os efeitos de claro/escuro;
2) Usar o esfuminho ou o miolo do pão para dar unidade a esses
efeitos;
3) Após o término do desenho, aplicar o fixador.
EM PAPEL ALUMÍNIO
Material:
Papel alumínio
Papel Chamex
Caneta esferográfica (já gasta)
120
Procedimentos:
1) Por o papel alumínio sobre algumas folhas do papel Chamex
acumuladas;
2) Fazer baixos-relevos, forçando o alumínio com a ponta da caneta.
COM PENTE NO CARBONO
Material:
Papel Chamex
Papel carbono
Pentes de tamanhos diversos
Procedimentos:
1) Por o carbono entre duas folhas de papel;
2) Desenhar, fazendo movimentos bem diversos com os dentes do
pente, na folha que está sobre as costas do carbono.
121
LÁPIS DE COR NO PAPEL CAMURÇA
Material:
Papel camurça
Lápis de cor
Procedimentos:
1) Com o lápis de cor sobre o papel camurça, desenhar
espontaneamente, c de cor sobre o papel camurça, desenhar
espontaneamente, criando a cena desejada;
2) Diversificar a pressão exercida sobre o lápis para obter diferentes
efeitos na intensidade dos tons.
122
PASTEL OLEOSO
Material:
Papel 40 kg. branco
Pastel oleoso
Procedimentos:
1) Criar, livremente, seu desenho com o pastel oleoso de diversas
cores;
2) Para cobrir áreas maiores, pode-se usar o pastel na posição
horizontal;
3) Para produzir efeitos diferentes, você pode usar o esfuminho ou
cotonete ou algodão em algumas partes do desenho.
123
O desenho é um suporte artístico ligado à produção de obras
bidimensionais, divergindo, contudo, da pintura e da gravura. Portanto, o
desenho é visto tanto como processo quanto como resultado artístico. No
primeiro caso, refere-se ao processo pelo qual uma superície é marcada
aplicando-se sobre ela a pressão de uma ferramenta (em geral, um lápis,
caneta ou pincel) e movendo-a, de forma a despontarem pontos, linhas e
formas planas. O resultado deste processo (a imagem obtida) também pode
ser chamada de desenho. Desta forma, um desenho manifesta-se
essencialmente como uma composição bidimensional formada por linhas,
pontos e formas.
O desenho abrange uma atitude do desenhista (o que poderia ser
chamado de desígnio) em relação à realidade: o desenhista pode desejar imitar
a sua realidade sensível, transformá-la ou criar uma nova.
RECORTANDO, COLANDO & DOBRANDO
MONTAGEM DE IMAGENS E FOTOS
Material:
Revistas para recortar
Cola, tesoura
Papel 40 kg. ou cartolina
Lápis de cor
Procedimentos:
1) Selecionar figuras nas revistas que possam representar parte de um
cenário ou personagem que se queira criar;
2) Recortar a figura selecionada e colar no papel 40 kg., na posição
adequada;
124
3) Completar a cena, desenhando com o lápis de cor conforme
imaginado.
Obs.: Uma alternativa interessante é montar personagens com partes
do corpo vindas de diferentes figuras.
RELEVOS COM PAPEL CREPON
Material:
Papel Chamex
Papel crepom colorido
Cola
Lápis
125
Procedimentos:
1) Efetuar um desenho simples com o lápis em uma folha de papel
Chamex;
2) Fazer pequenas bolinhas de papel crepom de várias cores;
3) Em alguns pontos do desenho, ou cobrindo toda sua superfície,
colar as bolinhas do papel crepom.
CARA DE PERSONAGEM
Material:
Papel glacê
Tesoura
Cola
Lápis de cor
Papel A4
Procedimentos:
1) Dobrar um quadrado de papel glacê ao meio. Recortar nele uma
forma, preservando intacto o lado que está dobrado. Quando o
papel for aberto, terá nascido nele uma forma simétrica. Cole essa
forma em um papel A4 e crie, a seguir, complementos ao desenho
que formem uma máscara: olhos, boca, orelhas e todos os detalhes
que você desejar.
126
MONTAGEM COM FLORES
Material:
Pétalas de flores e folhas naturais
Cola
Cartolina colorida
Procedimentos:
1) Colar as pétalas e folhas sobre um pedaço de cartolina colorida, a
seu escolher, compondo ou não uma mandala. Explorar o contraste
da cor da cartolina com as cores dos elementos que comporão a
forma;
2) Fazer uma Xerox colorida do trabalho no mesmo dia ou,
maximamente, até o dia posterior à execução do trabalho, uma vez
que os elementos naturais irão murchar.
MONTAGEM EM TECIDO
Material:
Um pedaço de pano liso para a base
Cola para tecido
127
Tinta relevo
Tesoura
Retalhos coloridos e estampados diversos
Procedimentos:
1) Cortar várias formas nos retalhos coloridos e estampados, visando
obter imagens figurativas ou não;
2) Colar estes retalhos sobre o tecido de base com a cola para tecido,
atentando para que não fiquem pontas sem cola;
3) Passar a tinta relevo da cor desejada como arremate para as
bordas dos pequenos retalhos.
MONTAGEM COM BARBANTE
Material:
Barbante (de algodão)
Cola
Tesoura
Cartolina colorida
128
Procedimentos:
1) Se tiver vontade, tingir o barbante antecipadamente com diferentes
cores de anilina ou de tinta guache. Outra opção é utilizar o
barbante em sua cor crua;
2) Diretamente com o bico da cola sobre o papel, efetuar um desenho
de forma livre;
3) Colocar o barbante, desfiado ou não, sobre o fio de cola, deixando
que ele se fixe sobre a cartolina colorida.
TIRAS EM RELEVO
Material:
Régua
Cola
Tesoura
Papel Chamex
Cartolina colorida
129
Procedimentos:
1) Recortar, no papel Chamex, dois retângulos, um com o dobro do
tamanho do outro;
2) Recortar o triângulo maior em diversas tiras de igual largura ou não,
de acordo com o desejado;
3) Colar as tiras em um dos lados do retângulo menor, uma ao lado da
outra, com um espaçamento de um milímetro;
4) Criar movimentos diversos para cada uma das tiras, criando
ondulações ou dobras que demonstrem ações surpreendentes ao
trabalho.
RENDA DE PAPEL
Material:
Papel de seda
Tesoura
Cola
Cartolina colorida
130
Procedimentos:
1) Dobrar um pedaço quadrado de papel de seda ao meio e também
em diagonal;
2) Cortar pequenas formas (gotas, corações, losangos, quadrados,
etc.);
3) Ao desdobrar o papel, aparecerá uma forma rendada surpresa.
Obs.: Esta forma pode ser usada para criar um efeito vitral, colando-se
papel celofane colorido por trás.
CÍRCULO VICIOSO
Material:
Papel craft ou pardo
Tesoura
131Cola
Procedimentos:
1) Cortar uma tira comprida do papel craft de sete centímetros;
2) Colar as extremidades do papel, cuidando para inverter as faces
(por exemplo: a frente de uma ponta com a parte de trás da outra
ponta);
3) A partir do meio do papel, por a ponta da tesoura e iniciar a cortar
em linha reta, deslocando-se para a direita ou a esquerda quando
retornar ao ponto do início.
132
A colagem de recortes e dobraduras é a composição feita a partir do uso
de matérias de diversas texturas, ou não, superpostas ou colocadas lado a
lado, na criação de um motivo ou imagem. Ela é uma técnica não muito antiga,
criativa e bem divertida, que tem por procedimento juntar numa mesma
imagem outras imagens de origens diferentes.
O cubismo foi o primeiro movimento artístico a utilizar colagem. Os
cubistas colavam pedaços de jornal ou impressos em suas pinturas.
133
CAPÍTULO IV
4. O DESENVOLVIMENTO DE DESCOBERTAS E DE
CONHECIMENTOS ARTÍSTICOS COMO REFLEXÃO.
Existem diversas e importantes reflexões na área de estudos sobre o
Lazer, a respeito de seu duplo aspecto educativo: "Educação para o Lazer", ou
melhor, o lazer como objeto da educação, que trata da importância de se
vivenciar esse direito social de maneira crítica e criativa; e "Educação pelo
Lazer", polêmica que considera as possibilidades desse como um veículo de
educação, com potencialidades para a desenvolução pessoal e social dos
indivíduos.
Dentro da discussão da educação para o lazer, tem se estudado a
educação estética, ou seja, a educação das sensibilidades para compreensão
e fruição de diferentes valores, estímulos do que já se está acostumado.
O contato com as diferentes modalidades artísticas é de grande
relevância para o ser humano desde a infância. Através da produção artística,
compartilhamos a história universal, a cultura produzida pela humanidade
através dos tempos.
A riqueza do mundo das artes visuais é, nos dias de hoje, usualmente
representada em longa trajetória de descobertas, ressignificação da vida,
despertar de sensibilidade, através de novos olhares.
Os diversificados conhecimentos das crianças, desenvolvidos pela
criatividade e em expressividades pessoais e grupais no ensino infantil, são
adquiridos através da observação e releitura de artes visuais; da estimulação
da sensibilização estética no ensino infantil, de trabalhos de diferentes técnicas
de desenho e pintura; de aprendizagem sobre alguns períodos e termos
específicos da História da Arte; registrando sempre uma “Educação para e
pelo Lazer”.
134
"Acreditamos que o envolvimento da criança com as artes, por meio dos
textos e das imagens, não é tão-somente um recurso para ela perceber o modo
como as pessoas e as épocas são retratadas, ou para tomar conhecimento das
várias manifestações artísticas, é também examinar a arte como uma
oportunidade para que a criança possa desenvolver ainda mais suas
habilidades criativas a partir de estímulos visuais e pela sua recriação.
(Zimmermann in Sousa. 2001, p.62).
Considerando que a escola, mais que mera transmissora de
informações, deve ser um centro de cultura, de formação do ser humano
integral, e nesse aspecto, a educação para o lazer deveria ser preocupação de
todos educadores, que mais do que racionalidade também partilha suas
experiências, sentimentos, conhecimentos; a arte configura-se como uma das
linguagens primordiais para o trabalho da sensibilização.
Morin (2000) comenta que a educação do futuro deve enxergar adiante
do paradigma cartesiano que reinou na modernidade e no século XX, e
considerar outros saberes que não apenas os lógico-racionais. A proximidade
com as artes, com a dimensão subjetiva do ser humano, cada vez mais deve
ser observada, sem ignorar o raciocínio lógico, mas considerando o ser como
um todo. Segundo ele:
"(...) o ser humano não só vive de racionalidade e de técnica; ele se
desgasta, se entrega, se dedica a danças, transes, mitos, magias, ritos; crê nas
virtudes do sacrifício, viveu freqüentemente para preparar sua outra vida além
da morte. Por toda parte, uma atividade técnica, prática, intelectual testemunha
a inteligência empírico-racional; em toda parte, festas, cerimônias, cultos com
suas possessões, exaltações, desperdícios, "consumismos", testemunham o
Homo ludens, poeticus, consumans, imaginarius, demens. As atividades de
jogo, de festa, de ritos não são apenas pausas antes de retomar a vida prática
ou ao trabalho; as crenças nos deuses e nas idéias não podem ser reduzidas
a ilusões, superstições: possuem raízes que mergulham nas profundezas
antropológicas; referem-se ao ser humano em sua natureza. Há relação mani-
135
festa ou subterrânea entre o psiquismo, a afetividade, a magia, o mito, a
religião. Existem ao mesmo tempo unidade e dualidade entre Homo faber,
Homo ludens, Homo sapiens e Homo demens. E, no ser humano, o
desenvolvimento do conhecimento racional-empírico-técnico jamais anulou o
conhecimento simbólico, mítico, mágico ou poético. (p.58/59).
Dando como verdadeiro que mais do que moldar a razão, a escola tem
um papel mais profundo, envolvendo olhares e sensibilidades de cada
indivíduo, trabalhando todas as dimensões humanas sem hierarquizá-las, a
educação estética é de grande importância, e deve estar presente desde à
educação infantil. Entendendo aqui a Estética :
"(...) como o estudo de um modo específico de apropriação da realidade,
modo em que se destacam as questões ligadas à sensibilidade, ainda que
vinculadas a outras formas de apropriação da realidade e às condições
históricas, sociais e culturais do momento em foco". (Alves Jr. e Melo, 2003, p.,
65).
A principal atribuição da educação, visando buscar a formação de
indivíduos participantes da sociedade e conscientes no seu exercício de
cidadania, é oferecer condições para que o aluno desenvolva seu olhar, de
modo que ele possa se apropriar desde cedo da produção da cultura na qual
está inserido, dando-lhe subsídios para analisar criticamente a realidade que o
cerca.
Conforme explica Debortoli (2002, p.82), "A ludicidade, como dimensão
humana, é essa humana capacidade de brincar com a realidade: atribuímos
permanente significado às coisas". Para o autor, a ludicidade é uma das dimen-
sões da linguagem humana, expressão do sujeito criativo capaz de ressignificar
sua existência, repensa a realidade, é capaz de mudar o mundo. Por ser
capaz de estimular o diálogo a reflexão, a construção coletiva, o lúdico pode
colaborar com a educação empenhada em promover pessoas emancipa-das.
Uma educação lúdica, segundo Pinto (2004) deve ser entendida como
"Experiência plural significativa" ação com sentidos atribuídos pelos seus prati-
136
cantes, suas subjetividades, características individuais; "Experiência
compartilhada" confiança no outro para superação de desafios, construção
compartilhada de significados; "Exercício da autonomia" a experiência lúdica é
mais profunda quando todos tem direito de ser decidir e agir como indivíduo e
como sujeito coletivo, entende-se que a verdadeira liberdade é a "autonomia
construída na interação com o outro".
“A arte é um esquivar-se a agir, ou a viver. A arte é a expressão intelectual da
emoção, distinta da vida, que é a expressão volitiva da emoção. O que não
temos, ou não ousamos, ou não conseguimos, podemos possuí-lo em sonho, e
é com esse sonho que fazemos arte. Outras vezes a emoção é a tal ponto forte
que, embora reduzida à acção, a acção, a que se reduziu, não a satisfaz; com
a emoção que sobra, que ficou inexpressa na vida, se forma a obra de arte. As-
sim, há dois tipos de artista: o que exprime o que não tem e o que exprime o
que sobrou do que teve”.
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego. São
Paulo: Cia das Letras, 2006. p.234.
137
O ensino da arte é essencial para o desenvolvimento da criança, pois
arte é conhecimento e envolve o pensamento, o sentimento estético e a
formação intelectual do aluno. Para Lowenfeld (1977), a arte desempenha um
papel potencialmente vital na educação das crianças. Desenhar, pintar ou
construir constituem um complexo em que a criança reúne diversos elementos
de sua experiência, para formar um novo e significativo todo.
A arte sempre esteve presente em todas as formações culturais, desde o
início da história da humanidade. Ao desenhar um bisão numa caverna, na Pré-
história, o homem teve que aprender seu ofício. Depois, ensinou para alguém
As atividades artísticas podem contribuir imensamente para o
desenvolvimento da criança, pois é na interação da criança com seu meio que
se principia a aprendizagem. Essa arte tem inicio quando os sentidos da
criança estabelecem o primeiro contato com o ambiente, e ela reage a essas
experiências sensoriais. Tocar, cheirar, ver, manipular, saborear, escutar,
enfim, qualquer método de perceber o meio e reagir contra ele é, de fato, a
base essencial para a produção de formas artísticas.
De acordo com Sans, em seu livro A criança e o Artista (1995), os
estudos sobre o desenho infantil se intensificaram no decorrer deste século,
distanciando-se aos poucos do preconceito de ser visto como um “realismo
fracassado” ou um “realismo fortuito”, na suposição de que a criança carece
atenção ao desenhar. Percebeu-se o rico universo, repleto de particularidades
autênticas e originais que a criança oferece por intermédio de suas criações
plásticas. Embora haja peculiaridades, os desenhos e as pinturas infantis
tendem a uma configuração básica, contendo semelhanças que independem
de uma configuração básica e do país ou período histórico em que foram
produzidas.
A disciplina Arte (Educação Artística) é um valioso recurso de reflexão,
compreensão e exercício da cidadania e um trajeto a ser percorrido para o
pensar e o agir, como descoberta de regras de vida. Principalmente para as
crianças, a Arte constitui, primordialmente, um meio de expressão – via cores,
138
traços, fantasias, etc., pois elas colocam em suas atividades e em suas
descobertas artísticas parte de si próprias: como pensam, como sentem e
como vêem. A Arte é uma cultura de amplas interações e de diversificados
conhecimentos.
No PCN/Arte (2000, p.43 a 45), é ressaltado, em síntese, que o
conhecimento de arte envolve :
- a experiência de fazer formas artísticas e tudo que entra em jogo nessa
ação criadora: recursos pessoais, habilidades, pesquisa de materiais e
técnicas, a relação entre perceber, imaginar e realizar um trabalho de
arte;
- a experiência de fruir formas artísticas, utilizando informações e
qualidades perceptivas e imaginativas para estabelecer um contato, uma
139
conversa em que as formas signifiquem coisas diferentes para cada
pessoa;
- a experiência de refletir sobre a arte como objeto de conhecimento, onde
importam dados sobre a cultura em que o trabalho artístico foi realizado,
a história da arte e os elementos e princípios formais que constituem a
produção artística, tanto de artistas quanto dos próprios alunos.
Desse modo, no quadro das referências acima, estabelece-se a Arte
dentro dos Parâmetros Curriculares Nacionais como um modelo de
conhecimento que abrange tanto a experiência de apropriação de produtos
artísticos (que incluem as obras originais e as produções relativas à arte, tais
como textos, reproduções, vídeos, gravações, entre outros) assim como o
desenvolvimento da competência de conformar significações por meio da
realização de forma artísticas. É importante que os alunos compreendam o
sentido do fazer artístico; que suas experiências de desenhar, cantar, dançar
ou dramatizar não são atividades que visam distraí-los da “seriedade” das
outras disciplinas. Ao fazer e conhecer arte o aluno percorre trajetos de
aprendizagem que propiciam conhecimentos específicos sobre sua relação
com o mundo. Além disso, desenvolvem potencialidades (como percepção,
observação, imaginação e sensibilidade) que podem alicerçar a consciência do
seu lugar no mundo e também contribuem inegavelmente para sua apreensão
significativa dos conteúdos das outras disciplinas do currículo.
- Através do convívio com o universo da arte, os alunos podem conhecer:
- o fazer artístico como experiência poética (a técnica e o fazer como
articulação de significados e experimentação de materiais e suportes
variados);
- o fazer artístico como desenvolvimento de potencialidades: percepção,
reflexão, sensibilidade, imaginação, intuição, curiosidade e flexibilidade;
- o fazer artístico como experiência de interação (celebração e
simbolização de histórias grupais);
140
- o objeto artístico como forma (sua estrutura ou leis internas de
formatividade);
- o objeto artístico como produção cultural (documento do imaginário
humano, sua historicidade e sua diversidade).
A aprendizagem artística abrange um conjunto de diferentes tipos de
conhecimentos, que objetiva a criação de significações, exercendo
essencialmente a incessante possibilidade de transformação do ser humano.
Encarar a arte como produção de significações que se transformam no tempo e
no espaço admite contextualizar a época que se vive na relação com as
demais.
Segundo os PCN/Arte (2000), a arte é um modo privilegiado de
conhecimento e aproximação entre indivíduos de culturas distintas, pois
favorece o reconhecimento de semelhanças e diferenças expressas nos
produtos artísticos e concepções estéticas, num plano que vai além do discurso
verbal.
141
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A arte revela o modo do homem estar no mundo, sua reflexão sobre o
que o rodeia. Assim, desde a pré-história, mesmo sem o uso da escrita, a
comunicação dos primeiros dados culturais (pinturas rupestres, objetos de
pedra e ferro) já se assinalava a capacidade de abstração do homem primitivo.
Além do mais, a expressão artística não precisa de intermediários nem
de tradutores. Por suas múltiplas manifestações ao longo dos tempos, desde o
papel mágico da arte primitiva até o de instrumento de reconhecimento e
transformação da realidade social, é inegável verificar que a obra permite
diferentes leituras, releituras, ressignificações e provoca inquietação.
Justamente como linguagem, a arte possibilita infinitas formas de
expressão e de leitura que, pelos símbolos e signos próprios de cada época,
representa a relação estabelecida entre autor, obra e interlocutor. Isso permite
que o contexto social e cultural implícito no olhar do autor seja entendido
universalmente.
As inúmeras artes vivenciadas pelas crianças e artistas - espelhando
transformações de rabiscos, objetos, fragmentos, pensamentos, fantasias em
paisagens reais – percorrem caminhos educacionais e sociais repletos de
descobertas e de conhecimentos novos e, em muitas vezes, compartilhados.
Tanto as crianças, quanto àqueles adultos que persistem em deslocar a
ordem estabelecida do mundo, compartilham de um pensamento parecido, em
consciência de que ambos oferecem simulacros ou fingem que uma coisa é
outra coisa.
Artistas e crianças percebem o mundo e dão sentido a ele através de
formas singulares. Utilizam seus sentidos de forma mais aguçada do que a
maioria dos adultos que deixaram para trás esta capacidade humana de ver,
imaginar e simbolizar.
142
O fazer artístico das crianças e seus trabalhos revelam o local e a época
histórica em que vivem, assim como a oportunidade de aprendizagem que têm
acesso, suas idéias e representações.
Em cada sociedade e em cada época, as obras artísticas são também
sínteses que dependem das trajetórias pessoais de quem as fez e de suas
concepções sobre o ser humano, o gosto, os valores etc.
As crianças têm suas próprias impressões, idéias e interpretações sobre
a produção de arte e o fazer artístico. Tais construções são elaboradas a partir
de suas experiências no percurso da vida, que abrangem a relação com a
produção de arte, com o mundo dos objetos e com seu próprio fazer. As
crianças exploram, sentem, agem, refletem e elaboram sentidos de suas
experiências. A começar daí, constroem significações sobre como se faz, o que
é, para que serve e sobre diferentes conhecimentos a respeito da arte.
Observa-se que, nesse processo de aprendizagem pela arte, a criança traça o
seu percurso de criação e construção individual que envolve escolhas,
experiências pessoais, relação com a natureza e motivação. O seu criar
representa o mundo a partir das relações que estabelece consigo mesma, com
as outras pessoas, com a imaginação e com a cultura.
O ensino das artes plásticas dá à criança a oportunidade de aprender a
agir com novas situações, estimula a curiosidade, propicia iniciativa e
autoconfiança, atua no desenvolvimento da expressão e da concentração,
releva o pensar, transfere conhecimentos da disciplina e brota artisticamente o
respeito ao próximo.
A arte deve ser vista como um recurso pedagógico que auxilia o
professor em sua prática educativa. As aulas de arte são atrativas e seduzem
as crianças a participarem. Nessa perspectiva, as distintas artes plásticas, no
ambiente escolar e na vida, trazem muitos benefícios ao processo ensino-
aprendizagem por terem o poder de funcionar como grande motivadora e
reveladora de muitas descobertas pessoais e artísticas. É um espaço em que a
criança se sente motivada e é muito mais fácil transmitir o conhecimento.
143
As artes plásticas também são capazes de desenvolver o cognitivo e as
habilidades como coordenação motora e concentração.
Atualmente, verificamos as inúmeras aplicações artísticas que estão
sendo utilizadas no contexto escolar, visando também enriquecer as atividades
do professor.
A aplicação das artes plásticas nas atividades escolares tem um elevado
número de resultados positivos abrangendo também a saúde mental e o amor-
próprio dos indivíduos, pois as referidas artes têm o poder de transmitir suas
propostas de modo muito mais cativante, com empolgação e vontade de estar
envolvido com a situação, sendo capaz de transformar toda uma rotina -
libertando e gerando vínculos afetivos com o saber.
O desejo da criança é essencial para que ocorra uma boa aprendizagem
Portanto, é excelente que na educação infantil existam métodos que se
baseiem em desenvolvimentos para estimular esse desejo, ensinando as
crianças a socializarem seus conteúdos e a buscarem um saber.
É através de nossa cultura e da arte que aprendemos a organizar e a
construir o mundo, concedendo-lhe significações. As culturas e as artes exalam
humanidade.
144
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