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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NA CONSTRUÇÃO DO LEITOR - AUTOR Por: Vivian de Farias Bernardo Orientador Professora: Mary Sue Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NA CONSTRUÇÃO

DO LEITOR - AUTOR

Por: Vivian de Farias Bernardo

Orientador

Professora: Mary Sue

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NA CONSTRUÇÃO

DO LEITOR - AUTOR

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Educação

Infantil e Desenvolvimento.

Por: Vivian de Farias Bernardo.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me dar força e me

sustentar em momentos tão difíceis,

sem Ele eu não teia chegado a lugar

algum... Ao meu marido Alexandre

Bernardo, que foi paciente em minhas

ausências e me apoiou quando pensei

em desistir, a minha família amada, as

minhas crianças, que são a minha

inspiração, aos companheiros de

trabalho da Creche Fiocruz, a amiga

Cristina Cruz, as colaboradoras diretas:

Alessandra, Eneida, Nilza Carla, a toda

turma de Educação Infantil T 059 e ao

Drº Bruno Castro....

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“Quem não lê é cego. Só vê o que os olhos vêem. Quem lê, ao contrário, tem muitos milhares de olhos:

todos os olhos daqueles que escreveram.”

Rubem Alves

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DEDICATÓRIA

Dedico a minha família, a que tenho:

Soares Farias e a que hei de construir:

Bernardo...

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RESUMO

Todo estudo sobre educação e infância traz consigo uma enorme

complexidade. Debater sobre o tema “Formação do leitor-autor”, não poderia

ser diferente. Como gosto de desafios e, principalmente do tema, resolvi

embarcar nessa aventura.

O objetivo principal dessa pesquisa é mostrar a importância da

Literatura Infantil para o desenvolvimento do imaginário e da linguagem.

Inicio com um breve histórico da Literatura Infantil, incluindo a literatura

infantil brasileira, mergulha no universo da rodinha, como espaço de diálogo e

leitura. Discutimos também a importância de ler para crianças desde muito

pequenas, pois só assim formaremos sujeitos-leitores, capazes de explorar sua

criatividade, imaginação e suas emoções.

Através dos relatos de experiências observaremos o quanto é

importante a consciência dos educadores no desenvolvimento de práticas

facilitadoras de leitura e escrita, traçando estratégias para desenvolver a

paixão pela leitura.

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METODOLOGIA

Para este estudo foi feito um levantamento bibliográfico, de acordo com o tema previamente escolhido. Em seguida, li as obras desconhecidas e revisitei as que já faziam parte do meu cotidiano. Realizei um cruzamento de informações para assim iniciar a redação monográfica, distribuindo os capítulos de acordo com o assunto abordado. Por fim selecionei algumas das experiências de sucesso para reafirmar minhas afirmações.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I -

Resgatando a história da Literatura Infantil 12

CAPÍTULO II - Rodinha: Um espaço de leitura 22

CAPÍTULO III - Formando crianças leitoras 30

CAPÍTULO IV – Experiências de Sucesso 36 CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 40

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INTRODUÇÃO

Cada professor possui um jeito próprio e um truque para prender o seu aluno durante uma contação de história. Posso afirmar com toda certeza que você sabe melhor do que qualquer um teórico o que faz seu pequeno mergulhar no fantástico mundo do faz-de-conta. Um recurso indiscutível é a Rodinha de Leitura, nela as crianças não só ouvem, mas também contam e recontam histórias.

A RODINHA DE LEITURA

Seguindo as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998: 55) voltadas para o Ensino Infantil que incentiva as práticas de leitura nas salas de aula da pré-escola, a rodinha de leitura caracteriza-se como um espaço lúdico no qual as crianças ainda não alfabetizadas travam contato com a literatura. A participação destas crianças no evento dependerá muito da forma como o/a professor (a) irá conduzi-lo. Segundo Carvalho (2002) agindo como o par mais competente, cabe ao educador envolver as crianças através da organização do contexto de leitura, sendo responsável pela interação estabelecida entre os alunos durante a discussão do texto.

“Os prazeres da leitura são múltiplos. Lemos para saber, para compreender, para refletir. Lemos também pela beleza da linguagem, para nossa emoção, para nossa perturbação. Lemos para compartilhar. Lemos para sonhar (há várias maneiras de

sonhar...). A melhor maneira de começar a sonhar é através dos livros...” José de Morais (livro a Arte de ler)

A literatura infantil contribui para o crescimento emocional, cognitivo e

para a identificação pessoal da criança, o que irá propiciar a percepção de diferentes resoluções de problemas, despertando a criatividade, a autonomia. As situações de interação, contato e manuseio de diferentes materiais escritos são importantes para a aprendizagem da leitura e da escrita. Acredito que não podemos separar as crianças dos livros, um cantinho de leitura deve ter ao alcance do grupo os diversos livros que temos disponíveis. As rodinhas de leitura devem ser proporcionadas em um ambiente aconchegante e acolhedor.

Quando penso em construção do aluno-leitor, logo imagino como será o professor ideal para que essa relação com a Literatura seja um sucesso. Na verdade não existe uma receita, porém um educador que não gosta de ler não pode incentivar o que carinhosamente chamamos de “paixão pela leitura”.

“O livro é aquele brinquedo, por incrível que pareça. Que, entre um mistério e um segredo,

Põe idéias na cabeça.” (Maria Dinorah)

Na maioria das vezes lemos por mera obrigação, para entregar um trabalho na faculdade ou um projeto na creche. O lado positivo de nossa

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profissão é esse, devemos estar constantemente buscando respostas, fazendo pesquisas, enfim mergulhado no universo literário.

Desde pequena as crianças ouvem histórias contadas por seus familiares e educadores, é ouvindo que sentimos diferentes emoções: amor, raiva, tristeza, alegria. Quem nunca se apaixonou por um príncipe dos Contos de fadas, ou sentiu raiva da Madrasta da Cinderela. Ainda há aqueles que tenham chorado com a morte da Branca de Neve, e com certeza todos nós ficamos alegres com os desfechos felizes de todos eles.

Diante disso, a escola busca conhecer e desenvolver na criança as

competências da leitura e da escrita e como a literatura infantil pode influenciar

de maneira positiva neste processo. Assim, Bakhtin (1992) expressa sobre a

literatura infantil abordando que por ser um instrumento motivador e

desafiador, ela é capaz de transformar o indivíduo em um sujeito ativo,

responsável pela sua aprendizagem, que sabe compreender o contexto em

que vive e modificá-lo de acordo com a sua necessidade.

Como ressalta Bruno Bettelheim, as histórias ajudam a criança leitora a explorar os perigos do mundo num nível simbólico, não oferecendo regras simples ou enigmáticas, mas encorajando-a a confiar e a desenvolver seu sistema natural de proteção, seus próprios instintos, suas emoções. Através das emoções, formamo-nos como seres pensantes, capazes de estabelecer pontes entre o possível e o imaginário. Proporcionando um conhecimento sobre os nossos problemas interiores e nos tornando capazes de estabelecer relações entre nossos sentimentos. No decorrer desses meus 11 anos de prática com Educação Infantil aprendi muitas coisas, entre elas a jamais subestimar as crianças com as quais trabalhamos. Isso significa, oferecer diversos tipos de materiais impressos possíveis: Poesias, Jornal, revistas, histórias em quadrinhos, pinturas de grandes artistas e tudo mais que a nossa imaginação criativa de Professor de Educação Infantil nos permitir.

Existem dois fatores que contribuem para que a criança desperte o

gosto pela leitura: curiosidade e exemplo. Neste sentido, o livro deveria ter a

importância de uma televisão dentro do lar. Os pais deveriam ler mais para os

filhos e para si próprios. No entanto, de acordo com a UNESCO (2005)

somente 14% da população tem o hábito de ler, portanto, pode-se afirmar que

a sociedade brasileira não é leitora. Nesta perspectiva, cabe aos profissionais

de educação desenvolver na criança o hábito de ler por prazer, não por

obrigação.

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Para encerrar:

Daniel Pennac, em seu livro Como Um Romance, revela-nos os dez direitos imprescritíveis de um leitor:

01. O direito de não ler. 02. O direito de pular páginas. 03. O direito de não terminar um livro. 04. O direito de reler. 05. O direito de ler qualquer coisa. 06. O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível). 07. O direito de ler em qualquer lugar. 08. O direito de ler uma frase aqui e outra ali. 09. O direito de ler em voz alta. 10. O direito de calar.

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CAPÍTULO I

RESGATANDO A HISTÓRIA DA LITERATURA INFANTIL

A literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a

viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde

proveio. Os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos de outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo social.

(COUTINHO, 2000, p. 52)

Encanta-me o fato das crianças gostarem tanto das fábulas e dos clássicos como: Chapeuzinho vermelho, Os Três Porquinhos, pois toda vez que íamos começar a contar a história, as crianças queriam sempre os clássicos. Resolvi então pesquisar mais sobre o assunto, para compreender o que fascinava tanto as crianças. Sendo assim, contarei um pouco dessa minha busca, na história da Literatura Infantil.

A literatura infantil é, antes de tudo, literatura ou arte, fenômeno de criatividade que representa a vida, o mundo, a realidade. Ela enriquece a imaginação da criança, oferece-lhe condição de criar, ensinado-lhe a libertar-se pelo espírito, levando-a a usar o raciocínio e a cultivar a liberdade.

A literatura é uma das produções humanas mais importantes para a formação do indivíduo, pois sua matéria é a palavra, o pensamento e as idéias, exatamente aquilo que define a especificidade do ser humano. A criança deve ter acesso à literatura, associando e harmonizando a fantasia e a realidade, a fim de satisfazer suas exigências internas e desejos imaginários. A proposta da literatura infantil é que seja desenvolvida a emoção, a sensibilidade, a imaginação e a fantasia da criança.

A existência de uma literatura infantil é bem recente. Foi uma necessidade criada com a ascensão da família burguesa em contrapartida do enfraquecimento das grandes propriedades e da aristocracia fundiária, a conseqüente transformação na forma tradicional de encarar a infância e da reorganização da escola, que se torna obrigatória e aberta para todas as classes sociais. Durante muitos séculos a criança foi vista como um adulto em miniatura, participando de vários aspectos da vida adulta, de uma forma que nossos contemporâneos classificariam de “imoral”. Não existia a diferenciação de coisas adultas/coisas infantis, não havia sequer, segundo ROSEMBERG (1989), uma palavra para designar o que hoje chamamos de infância. Com o tempo, e o declínio do feudalismo, foram surgindo posições inovadoras neste aspecto, geradas por pedagogos e moralistas, e aos poucos foi se formando o conceito de infância, baseado na ideia cristã de inocência e numa nova perspectiva de valorização da mulher como mãe, pois, até então, não havia

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laços afetivos, a criança era pouco considerada e a figura materna não se fazia presente nos primeiros dois anos de vida. Cria-se, então, uma alteridade adulto/criança e a necessidade de separação de dois universos diferentes, visto que o que é apropriado para um, não o é para o outro. A criança vista pelos olhos dos adultos é o outro, não um ser em si, é um vir-a-ser-adulto que, para atualizar esta sua potencialidade, precisa da educação. É então neste ínterim que surge a literatura infantil, que tem por missão integrar a criança ao mundo, é o instrumento pedagógico por excelência.

Com o ensino obrigatório e gratuito na Europa, as crianças são retiradas do mercado de trabalho. Criam-se condições tanto para o rico quanto para o pobre, oportunizando-se assim, o acesso à literatura.

Os primeiros livros infantis surgem na França de Luís XIV, na segunda metade do século XVII, por sua influência e manifesta preocupação com a educação de jovens e crianças. É no clima de valorização da antiguidade clássica que as narrativas estarão imersas. Logo, a literatura infantil que floresceu nessa época traz consigo estes altos objetivos. As fábulas de La Fontaine dão prova disso. Seus argumentos se baseiam em autores gregos, latinos, franceses, medievais, parábolas bíblicas, contos populares, narrativas renascentistas e medievais. Contudo, a riqueza dos escritos literários desse autor, como de tantos outros, acabou por se perder nas várias traduções e, principalmente, pelas adaptações. A linguagem poética, bem como o argumento ou a moral, se encontram adulteradas. O que permanece são os dilemas humanos reinterpretados de acordo com o pensamento de cada época, totalmente distinto das possíveis intenções do autor. Segundo Coelho, a verdade é que as traduções e adaptações torcem a seu bel-prazer a ‘moral’ dessas fábulas, a ponto de as tornarem o oposto do que pretendia o autor, originalmente.”(1991, p. 107)”.

Durante a disciplina Literatura Infantil, no curso de Formação de Professores, fiz a leitura do livro: “O Grande Massacre de Gatos”, de Robert Darnton, pude fazer descobertas sobre a origem das Histórias e o seu significado. Pude compreender o porquê dos horrores presentes em muitas histórias infantis como: João e Maria, que foram abandonados na floresta, pois os pais eram tão pobres que não tinham como alimentá-los. Essa história foi fruto de um momento histórico em que a França estava vivendo: guerra, miséria, período em que a peste e a fome dizimavam a população do norte da França (séc. XVII e XVIII).

Segundo Cademartori (1994), La Fontaine também em suas fábulas, configuram-se em textos cifrados que denunciam as misérias e as injustiças sociais vividas em seu tempo. Da mesma forma que La Fontaine, os contos de Perrault também estão repletos de questões morais. O envolvimento de Perrault com a causa feminista traduz-se em sua temática, em que praticamente todas as suas obras estão relacionadas com adversidades vividas por personagens femininos. Suas obras mais conhecidas são: O Pequeno Polegar, A Bela Adormecida, O Gato de Botas, Chapeuzinho Vermelho, O Barba Azul, As Fadas, A Gata Borralheira ou Cinderela e Henrique, o Topetudo. Nestes textos são mais perceptíveis as preocupações pedagógicas com a educação de crianças, que durante esse século encontrariam seu apogeu nas obras de Fénelon, que aos 24 anos tornou-se

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padre, dedicando-se profundamente às coisas do espírito e do intelecto. Seus textos eram redigidos com a intenção de formar o caráter do educando de maneira indireta, através de uma literatura interessante e instigante. A partir da experiência como preceptor das filhas do rei, privilegia em seus escritos a educação de meninas, que deveriam ser preparadas para serem esposas e mães. Dessa forma, a formação se compunha de exercícios físicos, educação artística (poesia, música e pintura) e educação intelectual (gramática, noções de cálculo, noções de Direito, História Grega e Romana e História da França). Estes manuais são um marco na gênese e no desenvolvimento da literatura infantil, pois admite o seu formal entrelaçamento com a formação dos educandos.

Durante o século XVIII, a literatura infantil será marcada pela transição do período clássico para o romantismo, culminando com o aparecimento da infância no século XIX. Ela se caracterizará pelos livros de aventura, primeiramente escritos para os adultos e posteriormente adaptados para o universo infanto-juvenil. Estes livros têm como principal argumento a exaltação da liberdade individual, a valorização do progresso e da técnica, a busca de satisfação pessoal. A juventude e sua inquietação e a busca de crescimento interior são a “energia vital” que impulsiona a vontade humana e os romances. Aparece a figura do herói, um homem, sobretudo culto e habituado a ler os clássicos, que via no saber e no conhecimento a emancipação daqueles (burgueses) que não tiveram o mesmo privilégio dos poderosos (aristocratas).

Os livros infantis continuam a seguir o mesmo padrão das obras de Fénelon, isto é, dos livros que "instruem divertindo". É durante o século XIX que acontece o apogeu do romantismo. Mescla do popular e do culto, os romances foram a maior fonte de entretenimento para o grande público dessa época. Eles retratam a consolidação dos valores aristocráticos, próprios do classicismo, e dos valores emergentes do individualismo popular/burguês. É nesse contexto que surge o conceito de criança.

Dentro desse processo renovador, a criança é descoberta como um ser que precisava de cuidados específicos para a sua formação humanística, cívica,

espiritual, ética e intelectual. E os novos conceitos de Vida, Educação e Cultura abrem caminho para os novos e ainda tateantes procedimentos na área pedagógica e na literária. Pode-se dizer que é nesse momento que a

criança entra como um valor a ser levado em consideração no processo social e no contexto humano. (...) Nos rastros dessa descoberta da criança, surge também a preocupação com a literatura que lhe serviria para leitura,

isto é, para a sua informação sobre os mais diferentes conhecimentos e para a formação de sua mente e personalidade (segundo os objetivos pedagógicos

do momento). (COELHO, 1991, p. 139)

Os escritores infantis mais notáveis dessa época foram Jacob e Wilhelm Grimm, na Alemanha, e Hans Christian Andersen, na Dinamarca, precursores das narrativas fantástico-maravilhosas.

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Considera-se como maravilhoso todas as situações que ocorrem fora do nosso entendimento da dicotonomia espaço/tempo ou realizada em local vago ou indeterminado na Terra. Tais fenômenos não obedecem as leis

naturais que regem o planeta. (OLIVEIRA, 2005)

É perceptível durante o transcurso da literatura no século XIX que há um desenvolvimento da literatura romântica para crianças, partindo das narrativas para as novelas - gênero que dominaria praticamente todo o século XIX - e destas para as narrativas do realismo humanitário. Com os Grimm, teremos uma literatura que registra, através das antigas narrativas populares, a história do povo germânico. Os títulos mais conhecidos desses autores são: Os Sete Anões e a Branca de Neve, Joãozinho e Maria, entre outros. Em Andersen encontraremos uma preocupação com valores éticos, sociais, políticos, culturais e cristãos demarcados pela sociedade liberal burguesa em ascensão. Suas obras mais conhecidas são O Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo, entre outros. Já as novelas demonstram a influência do individualismo burguês, focalizando a importância da ação humana na transformação do mundo e de suas capacidades para auto-realização.

A literatura para crianças do século XIX tinha como objetivo instruir os pequenos através de histórias que granjeassem sua atenção. Era uma literatura utilizada para o ensino da leitura nas escolas baseada em uma pedagogia de caráter maternal.

1.1 - A literatura infantil brasileira

A literatura infantil brasileira apareceu tardiamente, pouco antes da virada para o século XX, permanecendo por muito tempo sob o domínio cultural europeu. Foram décadas de traduções e produções tímidas quase que exclusivamente baseadas nas produções européias.

Somente no início do século XX que autores consagrados na “literatura adulta” como Olavo Bilac e José de Alencar, passam a se dedicar à literatura infantil. Porém, a revolução na literatura infantil brasileira acontece com Monteiro Lobato, que introduz uma série de novos elementos tanto formais como em conteúdo.

Segundo COELHO (1995), a divisão histórico-literária da literatura infantil brasileira, em seus vários períodos, tem em Monteiro Lobato um marco divisor de épocas: - precursora: período pré-lobatiano (1808-1919) - moderna: período lobatiano (anos 20/70) - pós-moderna: período pós-lobatiano (anos 70/...).

Foi em pleno período de confronto entre o tradicional (formas já desgatadas do Romantismo/Realismo) e o moderno (representado pelo Modernismo de

22) que Monteiro Lobato inicia a invenção literária que cria o verdadeiro espaço da literatura infantil no Brasil. (COELHO 1995, p. 57)

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Monteiro Lobato é o precursor de uma literatura infantil crítica: preocupa-se em debater temas públicos, normalmente circunscritos ao mundo adulto, de forma a serem facilmente apreendidos pelas crianças. Monteiro Lobato inova ao se utilizar do humor para desmistificar uma série de pseudo-verdades; do folclore brasileiro e o trabalho relacionado à fantasia/realidade; e não podemos esquecer do uso de uma linguagem coloquial bem característica da infância (invenção de palavras). A intenção central de sua obra é formar futuros “modificadores da realidade”, por isso é repleta de uma ideologia “subversiva”. É possível perceber, por sua obra, que Lobato era extremamente nacionalista, inimigo de idéias, crenças e valores que favorecessem a manutenção do status quo, vago defensor, em teoria de idéias socializantes contra o obscurantismo autoritário do poder. Mas que, por outro lado, possuía idéias um tanto quanto liberais, como a crença no desenvolvimento econômico capitalista para a resolução dos problemas brasileiros, na democracia etc. Segundo ZILBERMAN (1994), a literatura infantil até Lobato não apresentava uma temática nacional, reproduzindo os padrões vindos da Europa. Ele consegue romper esse círculo, aproveitando nossas tradições folclóricas e seu êxito se deve aos seguintes fatores: - personagens que se repetem em todas as narrativas; - emprego de crianças como heróis, promovendo imediata identificação com o leitor; - ausência de autoritarismo e de imagens adultas repressoras; - a opinião das crianças personagens é respeitada; - a curiosidade e a criatividade são estimuladas. Na minha infância tive uma professora que me estimulou a ler, talvez ela soubesse que pra mim seria uma válvula de escape, pois meu pai havia falecido e eu vivia com meus avós. Lobato sempre foi um grande companheiro, por isso sempre que posso trago ele para o meu cotidiano educativo. Por causa da demanda escolar, nos anos 70, a produção literária vai se expandir instaurando-se o mercado consumidor de livros infantis, utilizados principalmente como um auxiliar didático do professor. A literatura dessa década apresenta muitos aspectos herdados de Lobato: a preocupação com a reflexão crítica, a linguagem inovadora, o humor como instrumento desmistificador etc. Temos como exemplos de autores que continuam produzindo até os dias de hoje com a mesma preocupação: Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Lygia Bonjunga, dentre outros. Nos anos 80, o gênero literário infantil brasileiro já havia se firmado em razão do crescimento do mercado consumidor, sendo que começaram a surgir livrarias especializadas em livros infantis. Para PELLEGRINI (2004) a história da literatura no Brasil das três últimas décadas vem marcada por este processo de mercantilização que hoje a torna totalmente prisioneira do marketing, processo que se constitui de estratégias de divulgação, promoção e vendas do objeto-livro.

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Por esse motivo, a literatura infantil é uma das áreas editoriais que mais tem se desenvolvido nas últimas décadas. Estamos vivendo num período em que a literatura vem ganhando cada vez mais espaço na área acadêmica, nas escolas de Educação Básica, na imprensa e na preocupação dos pais em torno do gosto pela leitura. Atualmente, os livros infantis são adaptados às necessidades sociais representadas pelo sistema educativo, independente de ser realista, fantasista ou mesmo híbrida, a literatura infantil procura remeter a criança ao seu cotidiano, buscando preparar as crianças para enfrentar a realidade da vida. Mesmo nos tempos atuais, em que a imagem e a comunicação são instantâneas, a palavra literária escrita poderá trazer muita bagagem cultural e uma forma ideal de se fazer uma leitura de mundo. Percebe-se que os trabalhos a serem desenvolvidos com a literatura infantil são diversos e produtivos, mas o que mais nos preocupa é como direcionar este trabalho para conseguir fazer da criança não apenas um "ledor", que lê para cumprir uma tarefa, mas um "leitor", que vai além, que lê por prazer e por necessidade de buscar mais conhecimentos e conseqüentemente entender melhor o mundo ao seu redor.

1.2 - As modalidades de texto da Literatura Infantil Fábulas (do latim-fari - falar e do grego - Phao - contar algo)

Narrativa alegórica de uma situação vivida por animais, que referencia uma situação humana e tem por objetivo transmitir moralidade. A exemplaridade desses textos espelha a moralidade social da época e o caráter pedagógico que encerram. É oferecido, então, um modelo de comportamento maniqueísta; em que o "certo" deve ser copiado e o "errado", evitado. A importância dada à moralidade era tanta que os copistas da Idade Média escreviam as lições finais das fábulas com letras vermelhas ou douradas para destacar.

A presença dos animais deve-se, sobretudo, ao convívio mais efetivo entre homens e animais naquela época. O uso constante da natureza e dos animais para a alegorização da existência humana aproxima o público das "moralidades". Assim apresentam similaridade com a proposta das parábolas bíblicas.

Algumas associações entre animais e características humanas, feitas pelas fábulas, mantiveram-se fixas em várias histórias e permanecem até os dias de hoje.

• Leão - poder real

• Lobo - dominação do mais forte

• Raposa - astúcia e esperteza

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• Cordeiro - ingenuidade

A proposta principal da fábula é a fusão de dois elementos: o lúdico e o pedagógico. As histórias, ao mesmo tempo em que distraem o leitor, apresentam as virtudes e os defeitos humanos através de animais. Acreditavam que a moral, para ser assimilada, precisava da alegria e distração contida na história dos animais que possuem características humanas. Desta maneira, a aparência de entretenimento camufla a proposta didática presente.

A fabulação ou afabulação é a lição moral apresentada através da narrativa. O epitímio constitui o texto que explicita a moral da fábula, sendo o cerne da transmissão dos valores ideológicos sociais.

Acredita-se que esse tipo de texto tenha nascido no século XVIII a.C., na Suméria. Há registros de fábulas egípcias e hindus, mas atribui-se à Grécia a criação efetiva desse gênero narrativo. Nascido no Oriente, vai ser reinventado no Ocidente por Esopo (Séc. V a.C.) e aperfeiçoado, séculos mais tarde, pelo escravo romano Fedro (Séc. I a.C.) que o enriqueceu estilisticamente. Entretanto, somente no século X, começaram a ser conhecidas as fábulas latinas de Fedro.

Ao francês Jean La Fontaine (1621/1692) coube o mérito de dar a forma definitiva a uma das espécies literárias mais resistentes ao desgaste dos tempos: a fábula, introduzindo-a definitivamente na literatura ocidental. Embora tenha escrito originalmente para adultos, La Fontaine tem sido leitura obrigatória para crianças de todo mundo.

Podem-se citar algumas fábulas imortalizadas por La Fontaine: "O lobo e o cordeiro", "A raposa e o esquilo", "Animais enfermos da peste", "A corte do leão", "O leão e o rato", "O pastor e o rei", "O leão, o lobo e a raposa", "A cigarra e a formiga", "O leão doente e a raposa", "A corte e o leão", "Os funerais da leoa", "A leiteira e o pote de leite".

O brasileiro Monteiro Lobato dedica um volume de sua produção literária para crianças às fábulas, muitas delas adaptadas de Fontaine. Dessa coletânea, destacam-se os seguintes textos: "A cigarra e a formiga", "A coruja e a águia", "O lobo e o cordeiro", "A galinha dos ovos de ouro" e "A raposa e as uvas".

Contos de Fadas

Quem lê "Cinderela" não imagina que há registros de que essa história já era contada na China, durante o século IX d.C. E, assim como tantas outras, tem-se perpetuado há milênios, atravessando toda a força e a perenidade do folclore dos povos, sobretudo, através da tradição oral.

Pode-se dizer que os contos de fadas, na versão literária, atualizam ou reinterpretam, em suas variantes questões universais, como os conflitos do poder e a formação dos valores, misturando realidade e fantasia, no clima do "Era uma vez...".

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Por lidarem com conteúdos da sabedoria popular, com conteúdos essenciais da condição humana, é que esses contos de fadas são importantes, perpetuando-se até hoje. Neles encontramos o amor, os medos, as dificuldades de ser criança, as carências (materiais e afetivas), as autodescobertas, as perdas, as buscas, a solidão e o encontro.

Os contos de fadas caracterizam-se pela presença do elemento "fada". Etimologicamente, a palavra fada vem do latim fatum (destino, fatalidade, oráculo).

Tornaram-se conhecidas como seres fantásticos ou imaginários, de grande beleza, que se apresentavam sob forma de mulher. Dotadas de virtudes e poderes sobrenaturais, interferem na vida dos homens, para auxiliá-los em situações-limite, quando já nenhuma solução natural seria possível.

Podem, ainda, encarnar o Mal e apresentarem-se como o avesso da imagem anterior, isto é, como bruxas. Vulgarmente, se diz que fada e bruxa são formas simbólicas da eterna dualidade da mulher, ou da condição feminina.

O enredo básico dos contos de fadas expressa os obstáculos, ou provas, que precisam ser vencidas, como um verdadeiro ritual iniciático, para que o herói alcance sua auto-realização existencial, seja pelo encontro de seu verdadeiro "eu", seja pelo encontro da princesa, que encarna o ideal a ser alcançado.

Estrutura básica dos contos de fadas

• Início - nele aparece o herói (ou heroína) e sua dificuldade ou restrição. Problemas vinculados à realidade, como estados de carência, penúria, conflitos, etc., que desequilibram a tranqüilidade inicial;

• Ruptura - é quando o herói se desliga de sua vida concreta, sai da proteção e mergulha no completo desconhecido;

• Confronto e superação de obstáculos e perigos - busca de soluções no plano da fantasia com a introdução de elementos imaginários;

• Restauração - início do processo de descobrir o novo, possibilidades, potencialidades e polaridades opostas;

• Desfecho - volta à realidade. União dos opostos, germinação, florescimento, colheita e transcendência.

Lendas (do latim legenda/legen - ler)

Nas primeiras idades do mundo, os seres humanos não escreviam, mas conservavam suas lembranças na tradição oral. Onde a memória falhava, entrava a imaginação para suprir-lhe a falta. Assim, esse tipo de texto constitui o resumo do assombro e do temor dos seres humanos diante do mundo e uma explicação necessária das coisas da vida.

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A lenda é uma narrativa baseada na tradição oral e de caráter maravilhoso, cujo argumento é tirado da tradição de um dado lugar. Sendo assim, relata os acontecimentos numa mistura entre referenciais históricos e imaginários. Um sistema de lendas que tratem de um mesmo tema central constituem um mito (mais abrangente geograficamente e sem fixação no tempo e no espaço).

A respeito das lendas, registra o folclorista brasileiro Câmara Cascudo no livro Literatura Oral no Brasil:

Iguais em várias partes do mundo, semelhantes há dezenas de séculos, diferem em pormenores, e essa diferenciação caracteriza, sinalando o típico, imobilizando-a num

ponto certo da terra. Sem que o documento histórico garanta veracidade, o povo ressuscita o passado, indicando as passagens, mostrando, como referências

indiscutíveis para a verificação racionalista, os lugares onde o fato ocorreu.

CASCUDO, 1978, p. 51.

A lenda tem caráter anônimo e, geralmente, está marcada por um profundo sentimento de fatalidade. Tal sentimento é importante, porque fixa a presença do Destino, aquilo contra o que não se pode lutar e demonstra o pensamento humano dominado pela força do desconhecido.

O folclore brasileiro é rico em lendas regionais. Destacam-se entre as lendas brasileiras os seguintes títulos: "Boitatá", "Boto cor-de-rosa", "Caipora ou Curupira", "Iara", "Lobisomem", "Mula-sem-cabeça", "Negrinho do Pastoreio", "Saci Pererê" e "Vitória Régia".

Nas primeiras idades do mundo, os homens não escreviam. Conservavam suas lembranças na tradição oral. Onde a memória falhava, entrava a imaginação para supri-la e a imaginação era o que povoava de seres o seu mundo.

Todas as formas expressivas nasceram, certamente, a partir do momento em que o homem sentiu necessidade de procurar uma explicação qualquer para os fatos que aconteciam a seu redor: os sucessos de sua luta contra a natureza, os animais e as inclemências do meio ambiente, uma espécie de exorcismo para espantar os espíritos do mal e trazer para sua vida os atos dos espíritos do bem.

A lenda, em especial as mitológicas, constitui o resumo do assombro e do temor do homem diante do mundo e uma explicação necessária das coisas. A lenda, assim, não é mais do que o pensamento infantil da humanidade, em sua primeira etapa, refletindo o drama humano ante o outro, em que atuam os astros e meteoros, forças desencadeadas e ocultas.

A lenda é uma forma de narrativa antiqüíssima, cujo argumento é tirado da tradição. Relato de acontecimentos, onde o maravilhoso e o imaginário superam o histórico e o verdadeiro.

Geralmente, a lenda está marcada por um profundo sentimento de fatalidade. Este sentimento é importante, porque fixa a presença do Destino,

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aquilo contra o que não se pode lutar e demonstra, irrecusavelmente, o pensamento do homem dominado pela força do desconhecido.

De origem muitas vezes anônima, a lenda é transmitida e conservada pela tradição oral.

Poesia

O gênero poético tem uma configuração distinta dos demais gêneros literários. Sua brevidade, aliada ao potencial simbólico apresentado, transforma a poesia em uma atraente e lúdica forma de contato com o texto literário.

Há poetas que quase brincam com as palavras, de modo a cativar as crianças que ouvem, ou lêem esse tipo de texto. Lidam com toda uma ludicidade verbal, sonora e musical, no jeito como vão juntando as palavras e acabam por tornar a leitura algo muito divertido.

Como recursos para despertar o interesse do pequeno leitor, os autores utilizam-se de rimas bem simples e que usem palavras do cotidiano infantil; um ritmo que apresente certa musicalidade ao texto; repetição, para fixação da idéias, e melhor compreensão dentre outros.

Pode-se refletir, acerca da receptividade das crianças à poesia, lendo as considerações de Jesualdo:

(...) a criança tem uma alma poética. E é essencialmente criadora. Assim, as palavras do poeta, as que procuraram chegar até ela pelos caminhos mais naturais, mesmo

sendo os mais profundos em sua síntese, não importa, nunca serão melhor recebidas em lugar algum do que em sua alma, por ser mais nova, mais virgem (...)

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CAPÍTULO II Rodinha: Um espaço de Leitura

Não dá para pensar em Educação Infantil com crianças sentadas em cadeira enfileiradas fazendo exercícios em cartilhas compradas em livrarias. Pelo menos não é assim que acredito que deve ser uma escola de Educação Infantil. Ao pensar em uma sala de crianças de zero à seis, imagino um espaço dividido em cantinhos e um lugar privilegiado para a rodinha. Nesse espaço acontece situações de interação e desenvolvimento da linguagem. Confesso que após introduzir esse capítulo na monografia fiquei pensando sobre a minha experiência no assunto. Quando iniciei meu trabalho em Educação Infantil (1998), o ano letivo já estava acabando era setembro, e eu cheguei para substituir uma auxiliar que saiu de licença. Uma loucura!!! A turma tinha 21 crianças, uma professora, que não parava em sala e eu, crua em educação, a rodinha servia para acalmar as crianças quando estavam agitadas demais. Que erro...Com o passar dos anos procurei aliar a prática à teoria, então resolvi estudar, foi assim que descobri o valo da RODINHA. A Rodinha é um espaço democrático, no qual as crianças interagem, contam suas histórias, ouvem as dos amigos e criam situações que envolvem o diálogo. Encontraremos em Bakhtin e Vygotsky a fundamentação teórica para analisarmos a importância da rodinha na interação discursiva das crianças. Em Vygotsky (1996), a construção da linguagem se dá no social e é apropriada pelo sujeito através das interações, constituindo-se estas enquanto espaço privilegiado de trocas. O autor afirma que, desde as primeiras interações do bebê, a linguagem já é concebida enquanto social, ou seja, os primeiros balbucios já buscam o outro para trocas, e expressam desejos, incômodos, satisfação etc. O autor diz ainda que a linguagem é permeada pela emoção (afetivo-volitiva) e reconhecida enquanto linguagem social, ou seja, mesmo de forma rudimentar, a criança já convida o outro à interação e já manifesta sentimentos. Para o autor (1996), o pensamento está intimamente vinculado à linguagem, desenvolve-se a partir de instrumentos lingüísticos e pela experiência sócio-cultural da criança “à medida que o pensamento se torna mais diferenciado, a criança perde a capacidade de expressá-lo em uma única palavra, passando a formar um todo composto”. (Vygotsky, 1996: 109) A concepção de linguagem de Bakhtin indica que a linguagem é condição fundante do processo de conhecimento do mundo e, ainda, que a constituição dos sujeitos se dá nas interações sociais, em que sujeito e linguagem constituem-se mutuamente Bakhtin (2002) traz uma diferenciação entre significado e sentido no discurso afirmando que o significado tem um caráter mais estável e está ligado ao conceito. O sentido é fortemente marcado pela situação de enunciação, isto é, pelas condições de produção do discurso, em que as palavras são apropriadas e produzidas. Para Bakhtin, a forma como

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a palavra é entendida está intimamente ligada à maneira como cada um a compreende, está ligada às histórias de vida, aos modos como as palavras foram e são utilizadas no passado e no presente. Bakhtin, ao considerar a palavra enquanto fenômeno ideológico por excelência (Bakhtin, 2002), afirma que é através dela que as diferenças e valores sociais se apresentam, nela expõem-se as contradições. Enquanto o signo permanece inseparável de uma função ideológica, já a palavra é o seu inverso, tem um caráter neutro, e “pode preencher qualquer espécie de função ideológica: estética, científica, moral, religiosa”. (Bakhtin, 2002: 37). Citamos o pensamento de Bakhtin e Vygotsky para exemplificar as situações vivenciadas pelas crianças na rodinha, ao contar sobre o fim de semana ou sobre a novidade trazida, a criança organiza o pensamento e se predispõe a ouvir a opinião dos amigos. É nesta perspectiva, que penso na rodinha como espaço indispensável de criação e imaginação, por isso ela é enriquecedora quando falamos em Literatura infantil.

... esses raciocínios tão dedutivos e perfeitos, a ponto de suscitarem a admiração dos .não entendidos.,

freqüentemente são o resultado de atividades desconhecidas e afloram através de caminhos insondáveis; e

então urge que se estude o pensamento criativo nas suas profundezas... Mário Zingales

2. 1- As Histórias Infantis como forma de consciência de mundo Em nossa cultura, não temos o hábito de dialogar com a criança sobre as suas emoções, podemos proporcionar através das histórias momentos mágicos para que a criança reflita sobre sentimentos como a raiva, a alegria, a tristeza, o prazer, enfim faça comparações com a sua vida e torne consciente alguns comportamentos, pois podem espelhar-se no comportamento do personagem. É no encontro com qualquer forma de Literatura que os homens têm a oportunidade de ampliar, transformar ou enriquecer sua própria experiência de vida. Nesse sentido, a Literatura apresenta-se não só como veículo de manifestação de cultura, mas também de ideologias. A Literatura Infantil, por iniciar o homem no mundo literário, deve ser utilizada como instrumento para a sensibilização da consciência, para a expansão da capacidade e interesse de analisar o mundo. Sendo fundamental mostrar que a literatura deve ser encarada, sempre, de modo global e complexo em sua ambigüidade e pluralidade. O caminho para a redescoberta da Literatura Infantil, em nosso século, foi aberto pela Psicologia Experimental que, revelando a Inteligência como um

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elemento estruturador do universo que cada indivíduo constrói dentro de si, chama a atenção para os diferentes estágios de seu desenvolvimento (da infância à adolescência) e sua importância fundamental para a evolução e formação da personalidade do futuro adulto. A sucessão das fases evolutivas da inteligência (ou estruturas mentais) é constante e igual para todos. As idades correspondentes a cada uma delas podem mudar, dependendo da criança, ou do meio em que ela vive. Fases normais no desenvolvimento da criança Primeira Infância: Movimento X Atividade (15/17 meses aos 3 anos) . Maturação, início do desenvolvimento mental; . Fase da invenção da mão – reconhecimento da realidade pelo tato; . Descoberta de si mesmo e dos outros; . Necessidade grande de contatos afetivos; . Explora o mundo dos sentidos; . Descoberta das formas concretas e dos seres; . Conquista da linguagem; . Nomeação de objetos e coisas – atribui vida aos objetos; . Começa a formar sua auto-imagem, de acordo com o que o adulto diz que ela é, assimilando, sem questionamento, o que lhe é dito; . Egocentrismo, jogo simbólico; . Reconhece e nomeia partes do corpo; . Forma frases completas; . Nomeia o que desenha e constrói; . Imita, principalmente, o adulto. Segunda Infância: Fantasia e Imaginação (dos 3 aos 6 anos) . Fase lúdica e predomínio do pensamento mágico; . Aumenta, rapidamente, seu vocabulário; . Faz muitas perguntas. Quer saber “como”e “por quê?”; . Egocentrismo – narcisismo; . Não diferenciação entre a realidade externa e os produtos da fantasia infantil; . Desenvolvimento do sentido do “eu”; .Tem mais noção de limites (meu/teu/nosso/certo/errado); .Tempo não tem significação – não há passado nem futuro, a vida é o momento presente; . Muitas imagens ainda completando, ou sugerindo os textos; . Textos curtos e elucidativos; . Consolidação da linguagem, onde as palavras devem corresponder às figuras;

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. Para Piaget, etapa animista, pois todas as coisas são dotadas de vida e vontade; . O elemento maravilhoso começa a despertar interesse na criança.

2. 2- A Importância da Literatura Infantil Estamos vivendo em uma sociedade capitalista em que a tecnologia e a mídia bombardeiam as mentes das crianças, levando-as ao consumismo desenfreado. A literatura, pelo contrário, pode oferecer à criança momentos que chamam a sua atenção levando-as a aprender a ouvir, a prestar atenção, fugindo um pouco de recursos visuais imediatistas, oferecidos pela TV. A literatura infantil demarca um conjunto de produções literárias a toda e qualquer manifestação do sentimento ou pensamento por meio de palavras. Define-se não apenas pelo texto resultante dessa manifestação, mas também por se destinar a um público específico, o qual tem características determinantes: pertence a uma faixa etária, uma estimulação familiar, uma relação com o mundo da escola e um convívio com a sociedade, ou seja, trata-se de uma criança que ainda não ultrapassou uma situação que, se é temporária e transitória, não deixa de se mostrar importante. Até bem pouco tempo, em nosso século, a literatura infantil era considerada como um gênero secundário, e vista pelo adulto como algo pueril (nivelada ao brinquedo) ou útil (forma de entretenimento). A valorização da literatura infantil, como formadora de consciência dentro da vida cultural das sociedades, é bem recente. Uma maneira de compreender o mundo é através da literatura infantil, sua função é exatamente fazer com que a criança tenha uma visão mais ampla de tudo que a rodeia, tornando-a mais reflexiva e crítica, frente à realidade social em que vive e atua, desenvolvendo seu pensamento organizado. A literatura infantil tem o poder de suscitar o imaginário, de responder as dúvidas em relação a tantas perguntas, de encontrar novas idéias para solucionar questões e instigar a curiosidade do pequeno leitor. De acordo com ABRAMOVICH, “é uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos”.(1991, p. 17). Nesse processo, ouvir histórias tem uma importância que vai muito além do prazer proporcionado, ela serve para a efetiva iniciação das crianças na construção da linguagem, idéias, valores e sentimentos, contribuindo para ampliar, transformar ou enriquecer os conhecimentos que possuem e auxiliando na formação como pessoas.

...lidas ou contadas as histórias constituem-se em generoso processo

educativo, pois ensinam recreando, dando à criança os estímulos e motivações apropriadas para satisfazer suas tendências, seus interesses, suas

necessidades, seus desejos, sua sensibilidade. (MALAMUT, 1990, p. 06).

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A criança que desde muito cedo entra em contato com a obra literária escrita terá uma compreensão maior de si e do outro. Terá a oportunidade de desenvolver seu potencial criativo e ampliar os horizontes da cultura e do conhecimento, percebendo o mundo e a realidade que a cerca. Minha prática me mostrou, que jamais podemos subestimar as crianças e seu interesse pela leitura, trabalhei com turmas de 4 anos que adoravam poesias, e naquele ano instituímos o dia da poesia. Toda Segunda-feira líamos uma Poesia para iniciarmos nosso dia. A partir daí exploramos o universo encantado de Cecília Meireles, Olavo Bilac, Vinicius de Moraes, entre outros. Minha grande alegria foi perceber que quando eu esquecia, eles pediam. De vez em quando eu os pegava rimando algumas palavras. Com os bebês adquirimos livros de variados tamanhos e texturas e também construímos alguns com eles, imprimimos com tinta seus pés e mãos e ele adoraram. O gosto pela leitura vem de um processo que se inicia no lar. Mesmo antes da aprendizagem da leitura, a criança aprecia o valor sonoro das palavras. Aprende a gostar do livro pelo afeto, quando a mãe canta ao embalar o berço, ou narra velhas histórias aprendidas pelos avós. Sobre esse ponto observa SILVA (1994, p. 12): “...é tão importante o papel de quem convive com a criança, pois é, sobretudo, através do afeto que a criança se desenvolve e aprende”. Lembro-me que antes da Professora Alexandra me incentivar a ler, minha avó Quitéria nos contava muitas histórias, tinha de tudo: aventura, romance e as minha preferidas, terror. Depois de ouvir ficava deitada na cama com ela, pois morria de medo. Segundo Rego:

...uma mãe que lê textos interessantes e de boa qualidade diariamente para seu filho transmite informalmente para ele uma série de informações, sobre a

língua escrita e sobre o mundo.... (REGO, 1995, p. 51),

Observando-se o comportamento da criança, fica evidente a sua capacidade de inventar histórias, por isso a necessidade do professor oportunizar a expressão de suas ideias.

“a professora agirá como um elemento facilitador e incentivador do Interesse da criança pela leitura à medida que não se comportar apenas como leitora, mas também como espectadora das ‘leituras’ reproduzidas

pelas crianças.” (REGO, 1995, p. 56) Nesse contexto o papel do educador, é de assumir o compromisso com o aluno, tendo o hábito de contar histórias, despertando a curiosidade pelos misteriosos signos da escrita, desafiando-os, encorajando-os, solicitando-os, provocando-os, para que ela crie suas hipóteses, abrindo as portas para o universo da leitura, em que a criança irá livremente penetrar guiada por suas preferências.

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Uma história traz consigo inúmeras possibilidades de aprendizagem. Entre elas estão os valores apontados no texto, os quais poderão ser objeto de diálogo com as crianças, possibilitando a troca de opiniões e o desenvolvimento de sua capacidade de expressão. O estabelecimento de relações entre os comportamentos dos personagens da história e os comportamentos das próprias crianças em nossa sociedade possibilita ao professor desenvolver os múltiplos aspectos educativos da literatura infantil. Experiências felizes com a literatura infantil em sala de aula são aquelas em que a criança interage com os diversos textos trabalhados de tal forma que possibilite o entendimento do mundo em que vivem e que construam, aos poucos, seu próprio conhecimento. Considero uma experiência feliz, quando coloco vários livros expostos na lousa e deixo que cada um escolha um, façam a leitura visual, depois vou questionando porque escolheu esse livro, as crianças vão respondendo: por causa do desenho, algumas crianças conhecem a gravura e falam o título do livro, então pergunto o que acham que trata a história, leio a história e questiono se gostaram do final, se acham legal o que o personagem fez, vocês fariam isso, por que. Os livros de animais fazem muito sucesso nessa fase, pois toda criança conhece um cachorro, um gato, um macaco e gostam de fazer relações com a sua realidade. Contam que foram ao zoológico com os pais, que viram um animal igual ao do livro, ou que tem em casa, ou que gostariam de ter. Para alcançarmos um ensino de qualidade, se faz necessário que descubramos critérios e que saibamos selecionar as obras literárias a serem trabalhadas com as crianças. Precisamos desenvolver recursos pedagógicos capazes de intensificar a relação da criança com o livro e com seus próprios colegas.

(...) para que uma estória realmente prenda a atenção da criança, deve

entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar

claras suas emoções; estar harmonizada com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir

soluções para os problemas que a perturbam (...) (BETTELHEIM, 1996, p. 13).

Ao trazer a literatura infantil para a sala de aula, o professor estabelece uma relação dialógica com o aluno, o livro, sua cultura e a própria realidade. Além de contar ou ler a história, ele cria condições em que a criança trabalhe com a história a partir de seu ponto de vista, trocando opiniões sobre ela, assumindo posições frente aos fatos narrados, defendendo atitudes e personagens, criando novas situações através das quais as próprias crianças vão construindo uma nova história. Uma história que retratará alguma vivência da criança, ou seja, sua própria história.

(...) ler histórias para crianças, sempre, sempre ... É poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas personagens, com a idéia do conto ou com o jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um pouco cúmplice

desse momento de humor, de brincadeira, de divertimento ... É também

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suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras idéias para solucionar questões (como as

personagens fizeram ...). ABRAMOVICH (1995, p.17). É nessa perspectiva que procuro fundamentar a minha prática. Gosto de contar histórias todos os dias. É um momento que as crianças acabam esperando com entusiasmo e acham que o tempo é pouco, sempre querem que eu conte mais uma. É gostoso de ver os olhos delas brilhando e acompanhando o desfecho da história, às vezes até abrindo a boca, parecendo entrar na história e incorporar a personagem, sentindo medo, alegria e várias outras emoções transmitidas durante a leitura.

É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos - dum jeito ou de outro - através dos problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou

não), resolvidos (ou não) pelas personagens de cada história (cada uma a seu modo) ... É a cada vez ir se identificando com outra personagem (cada

qual no momento que corresponde àquele que está sendo vivido pela criança) ... e, assim, esclarecer melhor as próprias dificuldades ou encontrar

um caminho para a resolução delas ... ( ABRAMOVICH, 1995, p.17)

Para confirmar isso Rego diz que:

“...um contato diário com atividades de leitura e de escrita, a alfabetização será transformada num processo ameno e descontraído, evitando-se as atuais rupturas

existentes, na prática pedagógica entre a preparação para a alfabetização e a alfabetização propriamente dita”

REGO (1988, p. 60)

A presença de livros na sala de aula é fundamental para as crianças, por isso a necessidade do professor em organizar um espaço em sua sala onde os livros fiquem à disposição das crianças, para que elas possam manuseá-los sempre que o desejarem tendo contato desde cedo com o mundo letrado. Portanto, a conquista do pequeno leitor se dá através da relação prazerosa com o livro infantil, onde sonho, fantasia e imaginação se misturam numa realidade única, e o levam a vivenciar as emoções em parceria com os personagens da história,introduzindo assim situações da realidade.

(...) é ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e

viver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouve - com toda a amplitude, significância e verdade que cada uma delas fez (ou não) brotar ... Pois é ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário!

(ABRAMOVICH, 1995, p. 17).

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A literatura enquanto universo ficcional é um elemento importante na autoconstrução do indivíduo, percebemos naturalmente que faz parte de um universo que oferece as coisas prazerosas de forma material e pronta para usá-las, vinculadas a estímulos e incentivos externos, conhece e compreende apenas aquilo que é muitas vezes castrada e limitada sem condições para desenvolver a percepção, a sensibilidade, a fantasia e a criatividade. Em nossa cultura, não temos o hábito de dialogar com a criança sobre as suas emoções, podemos proporcionar através das histórias momentos mágicos para que a criança reflita sobre sentimentos como a raiva, a alegria, a tristeza, o prazer, enfim faça comparações com a sua vida e torne consciente alguns comportamentos, pois podem espelhar-se no comportamento do personagem.

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CAPÍTULO III Formando Crianças leitoras

Ler é ir além da simples decifração de códigos, é tornar a oportunidade de nos tornarmos críticos para conquistar a chance de ser cidadãos comprometidos com nossa realidade social. Ler é tão necessário quanto o ar que respiramos, pois é atividade presente no nosso dia-a-dia, nos dá acesso aos bens culturais e a conquista da autonomia dentro da sociedade.

“Não é no silencio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. Paulo Freire.

Ler é um processo dinâmico no qual o leitor e autor interagem mediados pelo texto. Quando alguém lê, tem a possibilidade de inferir dados e situações, refletindo após o ato de ler.

Através da leitura, o leitor pode entrar no texto, colocando-se no lugar do personagem, identificando-se com ele. À medida que a leitura acontece, o leitor pode analisar o que é provável e deixar de lado aquilo que é improvável, favorecendo desta maneira a compreensão do texto.

É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica...É ficar

sabendo história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc. sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula (ABRAMOVICH,

1997, p.17) Neste sentido, quanto mais cedo a criança tiver contato com os livros e

perceber o prazer que a leitura produz, maior será a probabilidade dela tornar-

se um adulto leitor. Da mesma forma através da leitura a criança adquire uma

postura crítico-reflexiva, extremamente relevante à sua formação cognitiva.

Quando a criança ouve ou lê uma história e é capaz de comentar,

indagar, duvidar ou discutir sobre ela realiza uma interação verbal, que neste

caso, vem ao encontro das noções de linguagem de Bakhtin (1992). Para ele,

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o confrontamento de ideias, de pensamentos em relação aos textos, tem

sempre um caráter coletivo, social.

A criança lê do seu jeito muito antes da alfabetização folhando e

olhando figuras, ainda que não decodifique palavras e frases escritas. Ela

aprende observando o gesto de leitura dos outros – Professores, pais ou

outras crianças.

O processo de aprendizagem começa com a percepção da existência de

coisas que servem para ser lidas e de Sinais gráficos. É o convívio da criança

desde muito pequena com a literatura, o livro, a revista, com a pratica de leitura

e de escrita. Nas basta ter acesso aos materiais, as crianças devem ser

envolvidas em praticas para aprender à usá-los, rosa de leitura de livros,

sistema de malas de leitura, de casinhas, de cantinhos, mostras literárias

brincadeiras com livros.

A compreensão e sentido daquilo que o cerca inicia-se quando bebê,

nos primeiros contatos com o mundo. Os sons, os odores, o toque, o paladar,

de acordo com Martins (1994) são os primeiros passos para aprender a ler.

Ler, no entanto é uma atividade que implica não somente a

decodificação de símbolos, ela envolve uma série de estratégias que permite o

indivíduo compreender o que lê. Neste sentido, relata os PCN’s (2001, p.54.):

Um leitor competente é alguém que, por iniciativa própria, é

capaz de selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma necessidade

sua. Que consegue utilizar estratégias de leitura adequada para abordá-los de forma a atender a essa necessidade.

3. 1- Letramento

Letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa “literacy” que pode ser traduzida como a condição de ser letrado. Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado. Alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; letrado é aquele que sabe ler e escrever, mas que responde adequadamente às demandas sociais da leitura e

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da escrita. Alfabetizar letrando é ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, assim o educando deve ser alfabetizado e letrado. A linguagem é um fenômeno social, estruturada de forma ativa e grupal do ponto de vista cultural e social. A palavra letramento é utilizada no processo de inserção numa cultura letrada.

Nos Estados Unidos e na Inglaterra, embora a palavra literacy já constasse do dicionário desde o final do século XIX, foi nos anos 80, que o fato tornou-se foco de atenção e de estudos nas áreas da educação e da linguagem. No Brasil os conceitos de alfabetização e letramento se mesclam e se confundem. A discussão do letramento surge sempre envolvida no conceito de alfabetização, o que tem levado, a uma inadequada e imprópria síntese dos dois procedimentos, com prevalência do conceito de letramento sobre o de alfabetização. Não podemos separar os dois processos, pois a princípio o estudo do aluno no universo da escrita se dá concomitantemente por meio desses dois processos: a alfabetização, e pelo desenvolvimento de habilidades da leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, o letramento.

O conhecimento das letras é apenas um meio para o letramento, que é o uso social da leitura e da escrita. Para formar cidadãos atuantes e interacionistas, é preciso conhecer a importância da informação sobre letramento e não de alfabetização. Letrar significa colocar a criança no mundo letrado, trabalhando com os distintos usos de escrita na sociedade. Essa inclusão começa muito antes da alfabetização, quando a criança começa a interagir socialmente com as práticas de letramento no seu mundo social. O letramento é cultural, por isso muitas crianças já vão para a escola com o conhecimento alcançado de maneira informal absorvido no cotidiano. Ao conhecer a importância do letramento, deixamos de exercitar o aprendizado automático e repetitivo, baseado na descontextualização. As crianças querem ouvir histórias desde muito pequenas, mas essas histórias, segundo Magda Soares “tem de ser adequadas, com tamanho adequado, contadas ou lidas da maneira adequada à idade” para gostarem da atividade.

Mais do que expor a oposição entre os conceitos de “alfabetização” e “letramento”, Soares valoriza o impacto qualitativo que este conjunto de práticas sociais representa para o sujeito, extrapolando a dimensão técnica e instrumental do puro domínio do sistema de escrita:

Alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita. Ao exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita denomina-se Letramento que implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos (In Ribeiro, 2003, p. 91).

Ao permitir que as pessoas cultivem os hábitos de leitura e escrita e respondam aos apelos da cultura grafocêntric, podendo inserir-se criticamente na sociedade, a aprendizagem da língua escrita deixa de ser uma questão estritamente pedagógica para alçar-se à esfera política, evidentemente pelo que representa o investimento na formação humana. Nas palavras de Emilia Ferreiro,

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A escrita é importante na escola, porque é importante fora dela e não o contrário. (2001)

Retomando a tese defendida por Paulo Freire, os estudos sobre o letramento reconfiguraram a conotação política de uma conquista – a alfabetização - que não necessariamente se coloca a serviço da libertação humana. Muito pelo contrário, a história do ensino no Brasil, a despeito de eventuais boas intenções e das “ilhas de excelência”, tem deixado rastros de um índice sempre inaceitável de analfabetismo agravado pelo quadro nacional de baixo letramento.

“Na educação infantil, devem estar presentes tanto atividades de introdução da criança ao sistema alfabético e suas convenções − alfabetização − quanto as práticas

de uso social da leitura e da escrita − letramento”. Magda Soares

3 . 2- Práticas incentivadoras

“ Saber não ler não é o suficiente para transformar uma nação.

É preciso ler mais.

E leitores são formados, basicamente com literatura.

Isso porque a literatura é a palavra expressa em arte, alimento essencial do imaginário.”

Elizabeth Serra

Voltarei para minha experiência de vida, para justificar a minha opinião. Se eu não tivesse ouvido tantas histórias quando criança, elas não teriam povoado o meu imaginário e o incentivo da minha querida Professora Alexandra teria sido em vão. Atualmente sinto um enorme prazer ao ler um bom livro e mesmo quando tenho que ler algo por obrigação, tento fazê-lo da melhor forma. Confesso que muitas vezes na minha infância, li para fugir da minha triste realidade, mas percebo que essa fuga me ajudou a entender e transformar as situações vivenciadas.

O ato de ler não visa só a formação acadêmica da criança, mas a sua formação como cidadã e foi assim que a leitura transformou a minha vida.

Quando falo de formação do leitor-autor, passo inevitavelmente pela leitura de livros, revistas, imagens e dos impressos como um todo, pois estamos inseridos em um mundo repleto de informações escritas. A criança lê do seu jeito muito antes da alfabetização. Folheando revistas, visualizando figuras, manipulando livros. Elas são capazes de criar histórias com uma

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simples figura diversas vezes, sem contar as novas versões que fazem para uma história já conhecida por elas.

“É preciso desmanchar essa ideia do livro como objeto sagrado;

é sagrado sim, mas para estar nas mãos das pessoas , ser manipulado pelas crianças.”

Magda Soares

O processo de aprendizado da leitura começa com a percepção da existência de coisas que servem para ser lidas. Para Magda Soares esse aprendizado chama-se letramento, como expliquei no subcapítulo anterior. “É o convívio da criança desde muito pequena com a literatura, o livro, a revista, com práticas de leitura e escrita.”

Sempre falo com profissionais de educação e aos pais dos meus alunos, que não podemos incentivar o que não gostamos de fazer. Acredito que se educa pelo exemplo e não dá para falarmos de formação de leitor sem gostar de ler. O cantinho da leitura deve ser um lugar de fácil acesso. Para Magda, “o papel da professora é intermediar o contato do aluno com a leitura e a escrita, colocar o livro disponível e orientá-la no seu uso, no convívio com o material escrito.”

...uma mãe que lê textos interessantes e de boa qualidade diariamente para seu filho transmite informalmente para ele uma série de informações, sobre a

língua escrita e sobre o mundo.... (REGO, 1995, p. 51),

Na creche onde trabalho, desde muito pequena as crianças têm contato com os livros. As salas são organizadas em cantinhos e o “cantinho da leitura” sempre foi o meu preferido, merecendo um lugar de estaque na hora da arrumação. Como já trabalhei em todas as turmas, do berçário ao jardim, procuro levar para todas as faixas etárias a minha paixão pela literatura, busco adequar os livros de acordo com a idade da turma que estou atuando. É gostoso quando levamos livros para espaços diferenciados, pois lá na creche temos um espaço ao ar livre privilegiado, para embarcar no mundo da imaginação não deve ter hora nem lugar.

As crianças aprendem a escrever escrevendo e, para isso lançam mão de vários esquemas: Perguntam, imitam, inventam, combinam”... As crianças

aprendem um modo de ser leitoras e escritoras porque experimentam a escrita nos seus contextos de utilização (...) Elas usam. Praticam a leitura e a escrita. (Smolka,

1989:110).

Os contos de fadas, as fábulas, as anedotas, os poemas e as histórias inventadas carregam o poder de encantar e deslumbrar a todos. Não podemos

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esquecer de valorizar as produções das crianças, incentivando-os durante as atividades de criações. Lembro-me de um projeto do professor de teatro Luiz Fernando ano passado (2009). Ele passou para as crianças algumas animações do Anima Mundi e depois eles inventavam uma nova versão, que é claro foi escrita pelo professor e nós propomos ao grupo que também fizessem a ilustração, e foi assim que surgiu o “Livro das histórias inventadas” criadas pelo Maternal II Turma 2.

“a professora agirá como um elemento facilitador e incentivador do interesse da criança pela leitura à medida que não se comportar apenas

como leitora, mas também como espectadora das ‘leituras’ reproduzidas pelas crianças.”

(REGO, 1995, p. 56)

Seguindo o pensamento de Paulo Freire, a leitura de mundo precede a leitura da palavra. Então, levo esse pensamento a minha prática cotidiana, pois acredito que a criança ao expressar sua opinião, seus desejos e suas emoções, estará pronta para decodificar os signos lingüísticos, e assim iniciar a leitura e a escrita.

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CAPÍTULO IV EXPERIÊNCIAS DE SUCESSO

PROJETO ERA UMA VEZ...

Professora: Eneida Karla dos Santos Aguiar

Faixa etária: de 2 à 3 anos (Maternal I )

No segundo semestre de 2008 percebi o interesse da turma pelos

momentos de contação de histórias, tais momentos eram propostos ao longo

do dia, os clássicos infantis eram dramatizados com o auxílio de máscaras e

roupas e muita criatividade. A história da Chapeuzinho vermelho então, era

necessário recontá-la varias vezes, e embora eles tivessem decorado as falas

e as passagens, mostravam-se sempre concentrados e atentos a cada

apresentação. Imbuída neste interesse pela literatura, resolvi estimular a

criação de suas próprias histórias, e para tal, não lhes faltou criatividade.

Bastava realizar uma atividade como colagem, pintura, desenho livre,

dobradura, folhear revistas ou até mesmo manipular massa de modelar, para

criarmos uma nova história. A partir da proposta de escrever, relatar e ilustrar

nossas produções abordamos várias temáticas interessantes e importantes

para a educação infantil.

Oportunizamos com esse projeto, a ampliação do vocabulário,, a

possibilidade de interação entre o grupo, uma vez que todas as crianças

participavam de todas as etapas do processo de criação. É fato, que algumas

crianças se destacam mais por se expressarem com clareza e possuírem um

vocabulário mais amplo, porém os mais tímidos também utilizavam-se do corpo

e das expressões faciais para demonstrar alegria, surpresa, espanto e

descontentamento. Enfim, esse foi um projeto que deixou aflorar as emoções

do grupo, enriquecendo o vocabulário e incentivando o gosto pela leitura.

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Tema: Literatura para bebês Nilza Carla de S. Pinto. Ano: 2002 Ao desenvolver um trabalho com criança na faixa etária de três meses a um ano e seis meses, perde contatar e presenciar através de fatos e filmagens a importância da Literatura Infantil. A pesquisa fez com que percebesse, que através da Literatura Infantil, pode-se trabalhar a informação, a imaginação, a socialização, mas também o desenvolvimento geral (cognitivo, motor, verbal e etc...), pois, o bebê é capaz de perceber, sentir e se emocionar. Acredito, que o gestor, professor, educador, deva investir mais, pois, é a personalidade. E assim ele contribuirá também pra um mundo melhor com grandes leitores e verdadeiros cidadãos. Na realidade a Literatura Infantil, abre um leque de possibilidades. E nos reportamos ao teor da pesquisa, reafirmamos a Literatura Infantil e a poesia deve ser tratada como uma atividade vital que precisa ser desde cedo, plena de significações.

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De: Alessandra Gaute Silva e Sousa Ano: 2008 Faixa etária: 2 á 3 anos.

Estávamos trabalhando com o projeto “ você tem a sua historia eu tenho a minha... Então que tal compartilharmos as nossas historias???” com o objetivo de focar na historia de vida de cada criança, partindo da realidade de cada criança, partindo de cada realidade de cada um; incluindo as famílias nestas construções. Pensando nisso, tivemos a idéia de confeccionar um livro com o corpo de um boneco com cabelo, braços, pernas, cabeça, olhos, boca e nariz, onde além da contribuição da família eles pudessem cuidar desta figura, trabalhando também com o objetivo de cuidar, já que era a nosso propósito neste projeto. O corpo deste boneco era um livro e iniciamos este contexto sobre o tema a ir trabalhado, pedindo para dar continuidade todos juntos, criança, pai, mãe e os demais familiares que convivem na casa. O texto era mais ou menos assim: “ eu sou um boneco que tem um corpo e que precisa de um nome e uma historia de vida e só vocês podem me ajudar...” Daí então, cada família após sorteio na sala com as crianças levaria para sua casa e daria a sua contribuição. O trabalho realizado foi de grande sucesso e cada família mostrou-se empenhada, criando texto, desenhos, pinturas e ampliando também com a participação de parentes como tios, avos, etc... Após confecção de cada família x crianças, finalizamos esta abordagem com contagem de historias criadas por todo o grupo. Enfim, a idéia foi muito interessante, a pratica foi levada a serio e houve o comportamento de crianças e familiares. E foi desta forma, que conseguimos alcançar e realizar todos os objetivos propostos interagindo família x creche dentro do nosso trabalho. Obs.: todo projeto nasce de uma observação da turma, acrescentando objetivos do currículo na incrementação das atividades diárias.

Como tudo começou?

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CONCLUSÃO

Através do curso de Especialização em Educação Infantil e Desenvolvimento tive a oportunidade de repensar a educação e, principalmente sobre a minha prática. Aliar a teoria ao que vivencio cotidianamente sempre foi o meu principal objetivo. Com as pesquisas feitas sobre a infância e literatura infantil, posso afirmar, que ela trabalhada adequadamente leva a criança a questionar, levantar hipóteses, argumentar, comparar o conteúdo das histórias com os de sua vivência, ajudando assim na construção de um indivíduo autônomo e confiante. A Literatura infantil contribui para a formação de um sujeito autônomo, ampliando o seu vocabulário, favorecendo a sua comunicação e interação com o outro. Desenvolver o interesse pela leitura é um processo constante, que se inicia em casa e necessita fundamentalmente de um professor compromissado e capacitado para dar continuidade ao trabalho no espaço de educação, que deve ser um espaço privilegiador de leitura. Professores que oferecem doses diárias de leitura agradável, sem forçar e sem obrigatoriedade poderão desenvolver nos educandos o gosto pela leitura, que os acompanharão vida a fora. A Literatura Infantil no Brasil merece um incentivo maior no âmbito político e social, pois os livros são caros e nem sempre conseguem chegar as mãos das pessoas menos favorecidas. Essa é uma verdade que deve mudar, porque só através da educação poderemos ter um país melhor, e não é só utopia, pois como disse anteriormente, a leitura é capaz de libertar, nos tornar sujeitos questionadores, mudando assim a realidade atual em que se vive. Ao mergulhar no universo da criança e respeitá-lo, a Literatura Infantil colabora para a formação do sujeito leitor-autor, que defendo neste trabalho monográfico. Lembrando que a leitura não é mera decodificação, mas, acima de tudo, interpretação. A leitura é de suma importância na conquista da cidadania e para que o homem se “construa” dentro da sociedade, precisa ele de conhecimento – uma forma de poder e uma fonte de sobrevivência. Atualmente a dimensão de literatura infantil é muito mais ampla e importante. Ela proporciona à criança um desenvolvimento emocional, social e cognitivo indiscutíveis.

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BIBLIOGRAFIA ABRAMOVICH, F. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 5ª ed. São Paulo: Scipione, 1995. AGUIAR, V.T. & BORDINI, M.G. Literatura: a formação do leitor: alternativas metodológicas. 2ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. E.G.G. Pereira. São Paulo, Martins Fontes, 1992. BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito da leitura. 7.ed. São Paulo:

Ática, 2000.

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental.

Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. 3.ed. Brasília: A

secretaria, 2001.

BETTELHEIM, B. A psicanálise dos contos de fadas. 11ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. CADEMARTORI, L. O que é literatura infantil? 6ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. COELHO, Nelly Novaes. Panorama Histórico da Literatura Infantil. São Paulo: Ática, 1991. JOLIBERT, J. Formando crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. v.1 ___________ Formando crianças produtoras de textos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. v.2 LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6.ed. São

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SMOLKA, A.L.B. A criança na fase inicial da escrita: a alfabetização como processo discursivo. São Paulo, Cortez, 1993.

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VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. Trad. Jeferson Luiz Camargo. São Paulo, Martins Fontes, 1987.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 5

RESUMO 6

METODOLOGIA 7

SUMÁRIO 8

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

Resgatando a história da Literatura Infantil 12

1.1 – A Literatura Infantil Brasileira 15

1.2 – As modalidades de textos da Literatura Infantil 17

CAPÍTULO II

Rodinha: Um espaço de leitura 25

2.1 – As histórias infantis como consciência de mundo 23

2.2 – A importância da Literatura Infantil 25

CAPÍTULO III

Formando crianças leitoras 30

3.1 – Letramento 31

3.2 – práticas incentivadoras 33

CAPÍTULO IV

Experiências de sucesso 36

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 40

ÍNDICE 42

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito:

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