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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
ÁLCOOLISMO NA EMPRESA: O ALCOOLISMO COMO FATOR MOTIVACIONAL PARA OS ACIDENTES DE TRABALHO
CLÁUDIA BARRETO COSTA
AGOSTO/2002
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
ALCOOLISMO NA EMPRESA: O ALCOOLISMO COMO FATOR MOTIVACIONAL PARA OS ACIDENTES DE TRABALHO
Monografia apresentada como parte do requisito para obtenção do Grau de Especialista em Reengenharia e Gestão de Recursos Humanos
ORIENTADORA: PROFESSORA YASMIN MARIA
RIO DE JANEIRO, AGOSTO DE 2002.
Regras da vida: nunca abandone
suas três grandes e inabaláveis
amigas: a intuição, a inocência e a
fé. (Gurdji eff - pensador russo)
RESUMO
Este trabalho se propõe a fazer um estudo cuja temática central é identificar
no âmbito da empresa Estaleiro Ilha S/A quais os fatores que levam os
trabalhadores a abusar do álcool e suas conseqüências como o alto índice de
acidentes de trabalho.
O trabalho foi desenvolvido através de analise de pesquisa documental que
buscou captar o universo das questões centrais que estão presentes neste
segmento.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO 2 CAPÍTULO 1 - Alcoolismo e Empresa
1.1 - O Alcoolismo como doença 4
1.2 - A História da Indústria Naval no Brasil 9
1.3 - Estaleiro Ilha S/A 11 CAPÍTULO 2 - A Saúde do trabalhador em questão e as implicações do abuso álcool
2.1 - Segurança e Saúde do Trabalhador 14
2.2 - A relação entre acidentes do trabalho com o abuso do álcool 21
CAPÍTULO 3 - Soluções e sugestões para tratar o problema
3.1 - As iniciativas para lidar com a questão 26 CONCLUSÃO 28 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 30 ANEXOS
INTRODUÇÃO
O alcoolismo é hoje uma questão de saúde pública, o seu crescimento nos
diferentes segmentos da sociedade vem preocupando não só as autoridades
sanitárias, mas também os empresários, sendo um fator motivacional para as
causas de acidentes de trabalho.
“As pesquisas vêm demonstrando que 10 a 15% da população brasileira
sofrem dessa enfermidade”.(Nova News, 2000; 05).
Esses índices alarmantes rebatem na esfera produtiva, provocando não somente a
baixa produtividade, mas um número elevado de acidentes de trabalho e
afastamentos por licenças para tratamento de saúde.
Esta evidência, também, como em outras empresas, está na de construção
naval, como é o caso do Estaleiro Ilha, que se preocupa com o crescimento do
problema no seu quadro de trabalhadores.
Meu estágio curricular de Serviço Social realizado, na empresa, e
posteriormente como Assistente Social, viabilizou a construção da questão como
objeto de pesquisa e com o qual se faz ao presente estudo de caso.
Como procedimento inicial da coleta de dados, recorrendo às fontes
documentais primárias como: relatórios de acompanhamento social, registros de
acidentes de trabalho, bibliografia específica e ao contato direto com trabalhadores
no acompanhamento de caso social e com os profissionais de saúde ocupacional da
empresa.
Percebi que existem alguns fatores que contribuem para o agravamento do
abuso do álcool dentro do Estaleiro Ilha S/A, como: a instabilidade decorrente da
crise na construção naval, a falta de perspectiva no futuro e a proximidade de trailers
com a venda de bebidas alcoólicas, contribuem para o agravamento da questão do
abuso do álcool.
Utilizei dados qualitativos, que foram relevantes, e que serão o diferencial na
análise realizada na pesquisa documental, foi realizado o levantamento dos
acidentes de trabalho, junto ao Serviço Médico da empresa no período de um ano,
entre 2000 a 2001, e que o maior número de acidentes de trabalho acontece após as
12:30 h, término do almoço.
O presente trabalho foi assim estruturado: introdução, três capítulos,
conclusão e anexos.
No primeiro capítulo, apresento um histórico sobre o alcoolismo na empresa e
a historia da industria naval.
No segundo capítulo a saúde do trabalhador e a relação dos acidentes de
trabalho com o abuso do álcool.
No terceiro capítulo apresento soluções as iniciativas da empresa para lidar
com a questão.
E em anexos encontra-se formulários referente ao curso.
A intenção, com este estudo foi examinar um tema que vem inquietando as
autoridades sanitários, empresários e representações de trabalhadores. Espero ter
contribuído, a partir desse trabalho, para a realização de novos estudos.
1- ALCOOLISMO E EMPRESA
1.1 - O ALCOOLISMO COMO DOENÇA
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o alcoolismo se destaca
em três instâncias: primeira, a psicose alcoólica; segundo, a síndrome de
dependência do álcool e terceiro, o abuso de álcool sem dependência. O álcool é
uma droga psico-ativa, que com o uso inadequado, pode trazer graves
conseqüências, tanto para o nível orgânico, como psicológico e social. No nível
orgânico, o alcoolismo vai se desenvolver ou não dependendo de características
biológicas inatas. No nível psicológico, coexiste com a teoria da vulnerabilidade
biológica. E no social está relacionada ao consumo do álcool, a idade sexo, grupos
étnicos e religiosos.
“O alcoolismo é reconhecido como doença desde 1825, sintetizando um
conjunto de manifestações somato-psíquicas, provocadas pelo uso prolongado do
álcool, conforme estudos do médico sueco Magnus Huss” (Nova News, 2000:01).
O alcoolismo é uma doença social, por se tratar de uma enfermidade onde a
pessoa tem dificuldade de se relacionar consigo mesma, por nutrir ideais de
culpabilidade, sentimentos de auto-acusação e autodepreciação. O dependente de
álcool tem um conflito inconsciente.
“No alcoolismo existe uma forte relação com a depressão e uma baixa na
auto-estima, onde existe uma tendência a mascarar os sintomas depressivos através
do abuso do álcool”.(Nova News, 2000:06).
O alcoolismo deve ser considerado problema de saúde pública, por sua
disseminação pela sociedade e por provocar transtornos de ordem individual e
social. Atualmente o processo coletivo de alcoolismo passou a ser mais bem
compreendido, e começa por uma etapa chamada de alcoolismo sintomático, o
individuo bebe para evitar ou aliviar um sofrimento de inferioridade ou insegurança.
Todas as formas de embriaguez começam pelo alcoolismo sintomático, o
qual, em certas condições, pode prolongar-se por muito tempo. O uso abusivo de
álcool tanto de forma aguda como crônica, é acompanhado de alterações
neurológicas, o sistema nervoso central é afetado pelo álcool, em todos os seus
níveis, por ser uma droga depressora do mesmo.
Na classificação Internacional de Doenças (CID), o alcoolismo é chamado de
Síndrome de Dependência do Álcool, portanto alcoolismo e síndrome da
dependência do álcool são considerados como doenças psiquiátricas.O alcoolismo
apresenta manifestações de alteração no nível do psiquismo e também
complicações de ordem física como: hepáticas, neurológicos, cardiovasculares,
gastrintestinais, endocrinológicos, respiratórias, dermatológicas, genito-úrinario e
neoplásicas.
O alcoolismo é uma enfermidade de fácil diagnóstico e tratável. Existem
diversas formas de abordagem terapêuticas e grupos de mútua-ajuda.
“O médico, Enfermeiro, Assistente Social, Psicólogo ou Líder religioso podem
organizar um confronto com o paciente para que os mecanismos de defesa sejam
rompidos e ele seja encaminhado para tratamento”.(Ramos, 1987:109).
O tratamento inclui a desintoxicação do paciente em regime ambulatorial ou,
em casos mais graves, a hospitalização para tratamento medicamentoso. Outra
opção de tratamento é a terapia que é realizada sistematicamente com o paciente e
a família.
Entre os grupos de mútua-ajuda, os mais populares, mundialmente, são os
Alcoólicos Anônimos (AA) e o Clube dos ex-alcoólicos.
“No Brasil existe apenas o AA.” (Ramos, 1997:130). Os alcoólicos anônimos
são uma irmandade mundial de mais de 500.000 homens e mulheres alcoólatras,
unidos com o objetivo de resolver seus problemas comuns através dos “doze
passos”, apresentando uma visão clara dos princípios através dos quais os membros
do AA se recuperam. “Os doze passos se constituem de princípios espirituais em
sua natureza, que se praticados como um modo de vida, podem expulsar a
obsessão pela bebida e permitir que o sofredor se torne íntegro, feliz e útil”.(AA,
1972:09).
A atividade dos Alcoólicos Anônimos teve inicio em 1935 em Akron - Ohio,
como conseqüência de um encontro entre um cirurgião, Dr° Bob e um corretor de
Nova York, Bill W. Ambos, com casos graves de alcoolismo, tornaram-se co-
fundadores da irmandade do AA.
Bill insistia ao Dr. Bob que o alcoolismo era uma doença da mente, das
emoções e do corpo. Esse importante fato foi citado pelo Dr. Willian Silwort, do
Hospital Tows de Nova York, instituição em que Bill fora internado várias vezes.
Em 1935, foi formado um primeiro grupo em Nova York e iniciou-se outro em
1939 em Cleveland, juntando um grupo de cem alcoólicos e neste mesmo ano
resolveu-se registrar tal experiência num livro que chegou ao público em abril, com o
título de “Alcoólicos Anônimos” e dele a irmandade recebeu o seu nome. Neste livro
foi descrita a experiência de alcoólatras, no qual também eram codificados os doze
passos, iniciando-se assim uma prodigiosa reação em cadeia no mundo inteiro.Em
1950, havia no mundo cerca de cem mil alcoólicos em recuperação pelo AA,
tornando-se uma irmandade mundial, superando barreiras de raça, credo e
idioma.Hoje estes princípios se constituem na base de orientação terapêutica.
O tratamento centralmente se apóia conforme a descrição abaixo:
Os Doze Passos de Alcoólicos Anônimos
1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o
domínio sobre nossas vidas.
2. Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia devolver-nos à
sanidade.
3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma
em que O concebíamos.
4. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.
5. Admitimos perante Deus, perante nos mesmos e perante outro ser humano, a
natureza exata de nossas falhas.
6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos
de caráter.
7. Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.
8. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos
dispusemos a reparar os danos a elas causados.
9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que
possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.
10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o
admitíamos prontamente.
11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato cons
ciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o
conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa
vontade.
12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes Passos,
procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em
todas as nossas atividades.
“Muitas pessoas não alcoólatras dizem que como resultado da prática dos
Doze Passos do AA, conseguiram enfrentar outras dificuldades na vida. Consideram
que os Doze Passos podem significar mais do que a sobriedade para o bebedor-
problema. Vêem neles um caminho para uma vida feliz e afetiva para muitos
alcoólatras ou não”.(AA, 1997:05).
1.2 - A HISTÓRIA DA INDÚSTRIA NAVAL NO BRASIL
O surgimento da industria naval no Brasil é anterior ao modelo inicial de
organização do trabalho, implantado no governo Vargas.
A indústria naval remota ao período colonial, em 1773, foi fundada o Arsenal
de Marinha do Rio de janeiro, depois chamado de Arsenal de Marinha de corte, que
se tomou o principal pólo de desenvolvimento e absorção de tecnologia na área
naval durante o século XIX.A independência do Brasil, a expansão dos seus
domínios e as acomodações geopolíticas na América do Sul, levou a sucessivas
guerras, estimulando as demandas por embarcações.Para atender a essa demanda,
foi importante a participação da iniciativa privada no setor, através da fundação dos
estaleiros Mauá e Caneco em 1846 e 1886 respectivamente.
Em fins do século XIX, apenas o Arsenal de Marinha de Corte se mantinha
em atividade, pois a estabilidade da política externa e a existência de uma política
governamental, dirigida à indústria naval conduziram os estaleiros privados a uma
situação de insolvência e decadência. A década de 50 pode ser considerada como
um novo marco da construção naval no Brasil. O plano de metas do Governo
Kubischeck (1956-1960), previa a criação de dois estaleiros adequados a produção
de grandes unidades e o aparelhamento dos já existentes. A implementação desta
meta ficou a cargo do GEICOM - Grupo Executivo da Indústria Naval, incluindo as
industrias complementares, criados pelo decreto n° 43.899/58. O GEICOM, como os
demais grupos executivos instituídos neste período, era uma entidade administrativa
composta de organismos estatais encarregados de formular uma política unificada
para a Industria Naval. A este órgão coube a analise dos projetos de expansão ou
implantação de estaleiros.
No Brasil, os estaleiros passaram a depender do Fundo de Marinha Mercante
-FMM, uma cota especial alimentada pelo Adicional de Frente para Renovação da
Marinha Mercante (AFRMM) que é cobrado sobre a carga marítima e administrada
pela Comissão da Marinha Mercante -CMM.
A década de 70 corresponde no Brasil ao I Plano de Construção Naval
(1970/1974) que permitiu a viabilização econômica da exploração do transporte
marítimo sob bandeira brasileira e a renovação de frotas correspondentes às
empresas de navegação com o objetivo de aumentar a participação da bandeira
brasileira no comercio exterior.
Em 1984, o Banco Nacional de Desenvolvimento Social-BNDS, assumiu a
função no setor naval, atribuindo-se ao banco o papel de gerir os novos projetos e os
antigos da SUNAMAM-Superintendência Nacional de Marinha Mercante. As
mudanças foram fundamentais, alteram-se os esquemas de subsidio, prazos,
participações e garantias.
Nos anos 90, houve um declínio da atividade da construção naval,
caracterizada pelo fechamento de estaleiros e pela diminuição dos postos de
trabalho.A crise no setor naval se acentuou no final da década passada tem entre
suas causas a diminuição de encomendas tanto por parte dos armadores
estrangeiros, quanto pelos clientes nacionais que com a recessão dos pais,
diminuíram seus investimentos e ao invés de contratar novos navios aos estaleiros
nacionais, os armadores optaram por outros países.
Entretanto, há uns três anos começou a se falar numa recuperação do setor.
A revisão é baseada em dois fatores: um é a renovação da frota internacional,
sobretudo dos navios de grande porte, construídos durante o “boom” do setor nos
anos 70, já que a vida útil das embarcações gira em torno de 20 a 25 anos. O outro
fator é a determinação da OMI (Organização Marítima Internacional), que há dois
anos, obrigaria os navios petroleiros a serem construídos com casco duplo, medida
esta que visa evitar a ocorrência de desastres ecológicos, provenientes do
derramamento de óleo no mar.
Com o objetivo de diminuir os custos de produção e conseqüentemente os
preços dos navios, os estaleiros nacionais dão continuidade ao programa de
reformulação que inclui o aumento da produtividade, o corte de pessoal e a
diminuição dos gastos com benefícios.
1.3 - O ESTALEIRO ILHA S/A
O Estaleiro Ilha S/A foi fundado em 18 de dezembro de 1944 como EMAQ -
Engenharia e Máquinas S/A, tendo como objetivo comercializar e importar máquinas
e equipamentos. Só em 1949, inicia suas atividades como estaleiro, com a
construção de pequenas Chatas e Dragas. Operava numa área na Praia de Ramos,
próximo à Av. Brasil, sendo que em 1961 pela necessidade de expandir-se, foi
transferido para o local onde se encontra hoje na Ilha do Governador, com uma área
total de 43.000 m2 e uma carreira para lançamento de navios de até 10.000 tpb
(tonelada porte bruto), desenvolvendo e consolidando toda uma experiência da
construção naval.
Além da construção de navios, a empresa atua em outras áreas de
engenharia, como, na elaboração de projetos e na construção de locomotivas e
motores a diesel numa planta instalada na rodovia Rio-Teresópolis.
Nos anos 80, a EMAQ esteve entre as primeiras cinco empresas do ramo da
construção naval em termos de capital investido, e o número de encomendas.
Já a partir de 1983, o quadro mudou significativamente, passando a ocorrer
atrasos freqüentes nos pagamentos, cortes de serviços prestados e demissões. E
durante o período de 1984 e 1985, os trabalhadores do estaleiro realizaram várias
greves em função do atraso nos pagamentos e do não depósito do FGTS, ao
mesmo tempo em que bancos e empresas protestavam títulos da EMAQ, e ainda em
1985 é decretada a falência da empresa.
Em 1986, a EMAQ teve a falência decretada por dívidas junto ao banco
Banerj e devido a forte pressão dos trabalhadores articulados com o sindicato dos
metalúrgicos, e o estaleiro ficou aberto sob a administração do Governo do Estado.
Em 1988, a empresa EMAQ foi vendida ao mesmo empresário que comprou
os estaleiros Verolme e Ishibrás, formando o grupo IVI(Indústria Verolme Ishibrás). A
decadência da construção naval, entre o final dos anos 80 e anos 90, trouxe um
novo episódio de dificuldades para a empresa.
Em março de 1995, foi anunciado aos empregados do EMAQ o “Programa de
demissão incentivada”, o trabalhador que pedisse demissão receberia seus direitos e
mais seis meses de cobertura de plano de saúde e cestas básicas do SESI.
Aproximadamente 1200 empregados pediram demissão.
Em maio de 1995 o Estaleiro EMAQ foi comprado por empresários brasileiros
passando a se chamar Estaleiro Ilha S/A. A nova gestão da empresa adotou uma
nova filosofia para administrar o estaleiro, baseada na terceirização e implantação
de cooperativas, existindo atualmente um número cada vez menor de empregados
efetivos.
Atualmente, em termos de recursos humanos, o quadro de funcionários
celetistas é de aproximadamente 100 empregados, um número reduzido se
comparado aos 4000/5000 que o estaleiro EMAQ teve no auge da indústria naval e
cerca de 800 cooperativados.O reduzido quadro de pessoal é um indicativo das
dificuldades financeiras, que não se restringe a um determinado estaleiro, mas é o
reflexo do descaso que a indústria naval sofreu durante muito tempo por parte do
governo.
Vive-se atualmente numa expectativa muito grande de melhora na construção
naval. O Estaleiro Ilha S/A encontra-se em fase de negociação com grupos
estrangeiros para que não aconteça uma nova falência. A empresa sobrevive com
poucas obras como: reforma de navios, construção de carretéis e navios para corte.
O Estaleiro Ilha S/A é uma empresa privada de capital aberto, seus acionistas
compõem o CA-Conselho de Administração.A estrutura administrativa da empresa
esta definida pela Norma Administrativa aprovada pelo CA, nela são descritas as
atribuições de cada órgão.
Nessa estrutura o Serviço Social esta subordinada ao Departamento de
Relações Industriais.
O Serviço Social desenvolve atividades que indicam um modelo de prática
tradicional, voltado para o atendimento das questões individuais dos trabalhadores.
Que tem como atribuições:
-Acompanhamento dos trabalhadores efetivos e cooperativados, afastados por
auxílio-doença e acidente de trabalho;
-Encaminhamento aos órgãos públicos ou da comunidade, para tratamento de
saúde, pelo fato da empresa não dispor de plano de assistência médico-
odontológica;
-Visitas domiciliares e hospitalares;
-Orientação nos casos de óbito, utilização de convênios para auxilio funeral ou em
alguns casos providenciar o funeral;
-Acompanhamento dos processos de diferentes benefícios, junto a Previdência
Social, por ser o Assistente Social o representante legal da empresa nesse órgão
previdenciário;
-Administração de um fundo assistencial de caráter monetário, bem como cesta
básica destinada ao atendimento das situações emergenciais;
-Realização de campanhas educativas, de prevenção ao uso de drogas, álcool e
Doenças Sexualmente Transmissíveis.
A demanda do Serviço Social atende especialmente os trabalhadores lotados
nos setores de produção que constitui o chamado “chão de fabrica”, esses
trabalhadores constitui a clientela majoritária independente da quantidade de
funcionários.
2 - A SAÚDE DO TRABALHADOR EM QUESTÃO E AS IMPLICAÇÕES DO ABUSO ÁLCOOL
2.1 - Segurança e Saúde do Trabalhador
A OMS Organização Mundial de Saúde, define saúde como: O completo
estado de bem-estar físico, psíquico e social.
A segurança e saúde do trabalhador começaram a ser alvo das atenções a
partir da Revolução Industrial, em contrapartida ao avanço tecnológico que
aumentou também o índice de ocorrências de acidentes.
A OIT Organização Internacional do Trabalho, foi fundada em 1919 com sede
na Genebra-Suiça, com o objetivo de buscar soluções para diminuir os acidentes de
trabalho.Criando em 1923, comitês de Segurança nas empresas. No Brasil foi
determinado que todas as empresas deveriam organizar a CIPA-Comissão Interna
de Prevenção de Acidentes visando manter a promoção da saúde do trabalhador.
“Art.163. Será obrigatória a constituição de Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes-CIPA, de conformidade com instruções expedidas pelo Ministério do
Trabalho e Emprego, nos estabelecimentos ou locais de obra nelas
especificadas”.(CLT, 2000:207).
A CIPA é regulamentada pela NR5 - Norma Regulamentadora n° 5, da
portaria do Ministério do Trabalho, da portaria n°3214/78 dos artigos 162 a 165 do
capitulo V da seção II da CLT-Consolidaçao das Leis de Trabalho.
“A CIPA tem como objetivo observar e relatar condições de risco no ambiente
de trabalho e solicitar medidas para reduzir até eliminar os riscos existentes e/ou
neutralizar os mesmos, discutir os acidentes ocorridos, encaminhando ao SESMET-
Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho, e ao empregador o
resultado da discussão, solicitando medidas que previnam acidentes semelhantes e,
ainda orientar os demais trabalhadores quanto à prevenção de acidentes”.(CIPA,
1996:04).
A CIPA é composta por representantes do empregador e dos empregados,
obedecendo a critérios que permitam estar representada na maior parte dos setores
da empresa. Os representantes deveram ser registrados no órgão regional do
Ministério do Trabalho.
Dentre algumas atribuições da CIPA estão:
-discutir os acidentes ocorridos;
-sugerir medidas de prevenção de acidentes julgadas necessárias, por iniciativa
própria ou sugestão de outros empregados, encaminhando-as ao Serviço
Especializado em Engenharia e Segurança do Trabalho e ao empregador;
-Promover a divulgação e zelar pela observância das normas de Segurança e
Medicina do Trabalho ou de regulamentos e instrumentos de serviço, emitido pelo
empregador;
-despertar o interesse dos empregados pela prevenção de acidentes e de doenças
ocupacionais, e estimula-los permanentemente a adotar comportamento preventivo
durante o trabalho;
-Orientar os trabalhadores da obrigatoriedade do uso do EPI - Equipamentos de
Proteção Individual, cuja finalidade é proteger o trabalhador;
-promover em conjunto com o Serviço Especializado em Segurança e Medicina do
Trabalho -SESMET a SIPAT- Semana Interna de Prevenção de Acidente de
Trabalho;
-participar da campanha permanente da prevenção de acidente promovida pela
empresa;
-investigar ou participar junto com SESMET, da investigação de causas,
circunstancia e conseqüências dos acidentes e doenças ocupacionais,
acompanhando-a execução das medidas corretivas;
-realizar quando houver denúncia de risco ou por iniciativa própria ou mediante
prévio aviso ao empregador e ao SESMET, inspeção nas dependências da empresa,
dando conhecimento dos riscos encontrados;
-surgir à realização de cursos, treinamento e campanhas para melhorar o
desempenho dos empregados quanto à medicina e saúde do trabalho;
-preencher ficha de informação que será encaminhada ao Ministério do Trabalho e
ficha de análise de acidentes para manter arquivados de maneira que permita
acesso a qualquer momento;
-enviar trimestralmente cópia da ficha de informação para o empregador.
Quanto à saúde individual o trabalhador tem amparo por lei através do
PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional) que visa atender a
NR7 - Norma Regulamentadora n° 7 da portaria n°3.214 de 1978, alterada em 29 de
dezembro de 1994 através da portaria n° 24, O PCMSO – tem disposto nos artigos
168 e 169 do capitulo V da seção II da CLT-Consolidaçao das Leis do Trabalho.
O Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional tem caráter preventivo
trazendo benefícios para a empresa e para o empregado. Tendo como benefícios: a
manutenção da saúde física e mental dos funcionários da empresa; proteção contra
os acidentes de trabalho; prevenção de doenças ocupacionais; promove a sensação
de segurança e satisfação no trabalho; diminuição do absenteísmo por doenças
ocupacionais ou não; redução de gastos com seguros e indenizações; participação
das medidas de proteção conta acidentes e fazer cumprir a legislação vigente
evitando problemas futuros; realização de exames periódicos de acordo com a
função do trabalhador.
“Art.168. Será obrigatório exame médico, por conta do empregador, nas condições
estabelecidas neste artigo e nas instruções complementares a serem expedidas pelo
Ministério do Trabalho e Emprego: I-na admissão; II-na demissão; III-
periodicamente”.(CLT, 2000:208).
O exame médico admissional deverá ser realizado antes que o trabalhador
assuma suas atividades.
O exame periódico deverá ser realizado dentro dos prazos estipulados de
acordo com a função e a avaliação do medico coordenador. Tem intervalos mínimos
de tempo, como: para trabalhadores expostos a riscos ou situações de trabalho que
impliquem no desencadeamento ou agravamento de doença ocupacional, ou, ainda
para aqueles que sejam portadores de doenças crônicas, os exames deverão ser
repetidos a cada ano ou intervalos menores.
O exame médico de retorno ao trabalho devera ser realizado obrigatoriamente
no primeiro dia de retorno após ausência de 30 dias ou mais por motivo de doença,
parto, acidente de natureza ocupacional ou não.Será realizado um exame clinico
com o propósito de atualização de prontuário, podendo ser solicitado exames
complementares.
O exame de mudança de função é obrigatório antes da mudança de função
ocorrendo qualquer alteração de atividade, posto de trabalho ou setor, que
impliquem na exposição do trabalhador a riscos diferentes daqueles a que estava
exposto antes da mudança e os exames a serem solicitados será especifico para a
nova função.
O exame médico demissional devera ser realizado até a data da homologação
do contrato de trabalho.
O Programa de Prevenção de Riscos Ambientais-PPRA está inserida na NR9
- Norma Regulamentadora n° 9 que estabelece a obrigatoriedade da elaboração e
implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam
trabalhadores como efetivos da empresa, visando a preservação da saúde e da
integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e
conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes que venham a
existir no ambiente de trabalho, tendo como meta a proteção do meio ambiente e
dos recursos naturais.
As ações do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais são
desenvolvidas no âmbito da empresa, sob a responsabilidade do empregador e com
a participação dos trabalhadores devendo estar articulado o disposto nas demais
Normas Regulamentadora, em especial com o Programa de Controle Médico de
Saúde Ocupacional-PCMSO previsto na NR-7.
O PPRA considera como riscos ambientais os agentes físicos, químicos e
biológicos existentes no ambiente de trabalho que em função da sua natureza,
concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à
saúde.
Os agentes físicos são as diversas formas de energia, tais como: ruído,
vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, infra-
som e ultra-som.
Os agentes químicos são substancias, compostas ou produtos que possam
penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, nevoas,
neblinas, gases vapores ou pela natureza da atividade possam ter contato e ser
absorvido pelo organismo através da pele ou ingestão.
Os agentes biológicos são considerados as bactérias, fungos, bacilos,
parasitas protozoários e vírus.
Quanto á estrutura o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais devera
conter: um planejamento anual com estabelecimento de metas prioridades e
avaliação e controle; metodologia de avaliação; medidas de controle; medidas de
caráter administrativo e avaliação.
O estabelecimento de prioridades e metas de avaliação e controle tem como
base às informações obtidas no reconhecimento de riscos, e quando necessário são
realizadas avaliações ambientais quantitativas para comprovar o controle da
exposição ou a inexistência dos riscos identificados na etapa de reconhecimento.
A avaliação ambiental quantitativa fornecerá, em caso de comprovação da
exposição dos trabalhadores acima dos valores limites legais previstos, subsídios
para o equacionamento das medidas de controle.
Esta fase é representada no formulário “Planejamento Anual. Cronograma de
Ações”, onde são descritos os tipos de avaliações a serem elaboradas, quando
aplicável, e os meses em que devem ocorrer e também os responsáveis para a
execução dos laudos técnicos.
A Metodologia de avaliação é utilizada para cada agente identificado, quando
aplicável é elaborado um laudo técnico, no qual consta a metodologia utilizada para
a realização da avaliação ambiental, o instrumental utilizado, e as normas inerentes
ao assunto, assim como os dados obtidos, conclusões e as recomendações de
controle.
As Medidas de controle serão adotadas nas empresas, avaliando o tipo
proteção coletiva, de caráter administrativo ou EPI (Equipamento de Proteção
Individual), suficientes para eliminar, minimizar ou controlar os riscos ambientais
encontrados nas diversas etapas.
O estudo, o desenvolvimento e a implantação das medidas de proteção
coletivas deverão ser elaborados de acordo com as medidas que eliminam ou
reduzam a utilização ou a formação de agentes prejudiciais à saúde tais como: as
medidas que previnam a liberação ou disseminação desses agentes no ambiente de
trabalho e as que reduzam os níveis ou a concentração desses agentes no ambiente
de trabalho.
Todas as medidas de controle coletivo deverão ser aprovadas pelo
departamento de produção e segurança e, caso necessário, em conjunto com o
departamento de projetos, sendo em seguida encaminhadas ao departamento
financeiro para aprovação da Diretoria, que pode incluir a eliminação de produtos
químicos insalubres, enclausuramento de máquinas com alto nível de ruído,
exaustão local, ventilação em geral, automação de processo e isolamento de uma
determinada área.
Para assegurar a eficiência das medidas de controle de caráter coletivo todos
os funcionários envolvidos deverão ser treinados em relação aos procedimentos e
eventuais limitações de proteção, conforme o planejamento anual das ações do
programa.
As medidas de caráter administrativo envolvem atividades de treinamento,
organização, limpeza, sinalização, estocagem e identificação apropriada, higiene
pessoal, controle médico periódico e elaboração de normas de procedimento e
instruções necessárias para o trabalho com segurança na aquisição, manuseio,
estocagem, transporte, emergência e disposição de substâncias químicas.
E os EPI - Equipamentos de Proteção Individual, deverão se utilizados
conforme Norma de Procedimento que fixa os procedimentos para o fornecimento,
uso, guarda, conservação, manutenção e reposição, visando garantir as condições
de proteção no ambiente de trabalho para os funcionários e prestadores de serviço,
incluindo todas as atividades que necessitarem dentro da empresa.
A Avaliação do desenvolvimento do PPRA-Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais é realizada anualmente para que se faça uma análise global do
planejamento anual e da eficácia das medidas de controle estipuladas no mesmo,
em conjunto com o Departamento médico já que a comprovação da eficiência se
fará através do PCMSO-Programa de Controle Medico de Saúde Ocupacional,
visando à realização dos ajustes necessários e/ou estabelecimento de novas metas
e/ou prioridades.
Quanto ao nível de ação preventiva será de forma que possa minimizar a
probabilidade das exposições dos agentes ambientais que ultrapassem os limites de
exposição e um mecanismo para garantir esse ponto, é efetuado primeiro um
monitoramento das características das substâncias químicas e físicas presentes no
local de trabalho.
A empresa tem o registro de dados estruturado, de forma que possa constituir
um histórico técnico e administrativo do desenvolvimento do Programa de Prevenção
de Riscos Ambientais, conforme documento do Sistema da Qualidade-SI.
As divulgações dos dados ficam disponíveis para as autoridades competentes
e os funcionários, e são formalmente informados através de treinamento, registrados
conforme DSQ-(Documento do Sistema da Qualidade), comunicações por escrito ou
em reuniões da CIPA registradas em livro próprio.
2.2 - A RELAÇÃO ENTRE ACIDENTES DO TRABALHO COM O ABUSO DO ÁLCOOL
Tem conceito Legal pelo - Decreto n°611, de 21/07/92 e Regulamenta a Lei
8213, de 24/07/91, que dispõe sobre o plano de Benefícios da Previdência Social.
Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da
empresa, ou ainda pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando
lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução da
capacidade para o trabalho permanente ou temporária.
Considera-se como acidente do trabalho: doença profissional, produzida ou
desencadeada pelo exercício de trabalho peculiar a determinada atividade e
constante da relação das doenças profissionais ou do trabalho e as doenças,
adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é
realizado.
Não se pode considerar como doença do trabalho: as doenças degenerativas;
as relacionadas ao grupo etário; as que não produzam incapacidade laborativa e as
doenças endêmicas que sejam adquiridas por segurados habitantes de região em
que ela desenvolva, salvo as que forem comprovadas desde que tenham sido
resultados de exposição ou contato diretos determinados pela natureza do trabalho.
Equipara-se também a acidente do trabalho como os sofridos pelo segurado
no local e no horário do trabalho e que tenha como conseqüência o ato de agressão,
sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho como
ofensa física intencional por motivo relacionada com o trabalho; ato de imprudência,
de negligencia ou de imperícia de terceiro, ou de companheiro de trabalho; ato de
pessoa privada do uso da razão e também de ocorrências tais como: desabamento,
inundação, incêndio e outros casos fortuitos decorrentes de força maior.
Quanto à classificação dos acidentes de trabalho ser determinado em função
de suas lesões em acidentes sem afastamento e acidentes com afastamento.
O acidente sem afastamento é o que possibilita ao acidentado voltar à sua
ocupação habitual no mesmo dia, ou então no dia imediato ao do acidente, no
horário regulamentar, resultando incapacidade temporária parcial.
O acidente com afastamento vai impossibilitar ao acidentado retomar ao
trabalho até o dia imediato ao do acidente, no horário regulamentar, e podendo dele
resultar morte, incapacidade permanente total ou parcial e incapacidade temporária
total.
A incapacidade temporária parcial é a perda de parte da capacidade para o
trabalho por um determinado período.
A incapacidade temporária total é a perda total da capacidade para o trabalho
por um período que varia do início da jornada do dia subseqüente ao do acidente até
360 dias após o mesmo tendo como conseqüência à morte, a incapacidade
permanente parcial e total.
A incapacidade permanente parcial se faz pela redução de parte da
capacidade para o trabalho, impossibilitando assim a execução de algumas tarefas
ou exigindo maior esforço para a sua realização, acontece nos casos que sejam
decorrentes da perda de qualquer membro ou parte do corpo, perda total do uso
desse membro ou parte do corpo. A incapacidade permanente total é considerada
como a perda total da capacidade de trabalho, em caráter permanente, inclusive a
morte.
Observa-se que esta incapacidade corresponde à lesão que, impossibilita o
acidentado, de permanentemente exercer a ocupação remunerada, decorrente da
perda das funções de órgãos como, por exemplo: os olhos; mãos ou pés.
Se o acidentado permanecer afastado de sua atividade por mais de um ano, a
incapacidade temporária será automaticamente considerada como permanente,
computando um tempo de 360 dias para fins estatísticos.
As Causas diretas e indiretas dos acidentes são consideradas como de
atitudes humanas ou de situações materiais inseguras que, combinadas ou não, que
propiciam a ocorrência de acidentes.
De acordo com as causas dos acidentes elas podem ser classificadas em
duas categorias: diretas e imediatas que são as causas presentes na eclosão dos
acidentes, formados por atos inseguros, condições inseguras e imprevistos.
Atos inseguros é, a maneira de como as pessoas se expõem consciente ou
inconscientemente aos riscos de acidentes.Como por exemplo: deixar de tomar
precauções; trabalhar em ritmo perigoso (muito lento ou muito depressa); trabalhar
sem que os dispositivos de segurança estejam funcionando; trabalhar com
ferramenta defeituosa; não usar equipamento de proteção individual; distrair-se,
brincar, brigar no local de trabalho; limpar máquinas em movimento; realizar
movimentos que acarretem fadiga desnecessária como, (levantamento de peso
excessivo); ficar em lugar incorreto (embaixo da carga de um guindaste); fumar em
local proibido e correr nas escadas ou no recinto de trabalho.
Já as condições inseguras, são consideradas como as falhas ou
irregularidades do meio ambiente ou meio de trabalho que comprometam a
segurança.Como exemplo: as máquinas com dispositivos de segurança defeituosos
ou desprovidas deles; as ferramentas defeituosas; a falta de limpeza no ambiente de
trabalho; o armazenamento descuidado; a iluminação imprópria ou inadequada; a
ventilação imprópria ou inadequada; o piso defeituoso ou impróprio; a falta de
equipamento de proteção individual; o equipamento de proteção individual utilizado
de forma inadequada e o extintor descarregado ou com carga vencida.
As condições inseguras podem ser consideradas como os fatores
administrativos de origem técnica, econômica, conceitual ou cultural da empresa ou
dirigentes que levam à criação ou à manutenção de condições inseguras.Como por
exemplo: as ferramentas e materiais inadequados, equipamentos defeituosos ou
sem manutenção, Equipamento de Proteção Individual inexistente ou fora de
conformidade.
É importante observar que: sempre há uma ou mais causas indiretas como
antecedentes de causas diretas de um acidente.No grupo das causas diretas estão
os atos inseguros e condições inseguras e no grupo das causas indiretas estão os
fatores pessoais e fatores administrativos, em outras palavras, as que antecedem e
geram as causas diretas. Alguns fatores pessoais influem na criação ou manutenção
de fatores administrativos.
As conseqüências dos acidentes trazem uma série de transtornos e
sofrimentos para muitas pessoas além do acidentado, sem falar nos prejuízos que
acarreta, com reflexos negativos na economia de uma nação e seu povo.Que afeta o
trabalhador acidentado que pode morrer, ficar mutilado e sentir dores,
conseqüentemente, a família sofre com a mutilação ou perda do ente querido, além
de ficar desamparada.
E para o empregador que perde mão-de-obra e, em muitos casos, é de difícil
uma substituição, perde-se um tempo precioso com a paralisação de máquinas e
pessoal, sofre danos materiais (máquinas, ferramentas, equipamentos e matéria-
prima), tem baixa do ritmo de produção, comprometendo a qualidade e até mesmo o
preço do produto, perde-se a matéria-prima que, em alguns casos, é de difícil
aquisição e além de adquirir uma imagem ruim da empresa junto aos órgãos do
governo.
No Estaleiro Ilha S/A a realidade em relação aos acidentes de trabalho se
reflete através dos levantamentos feitos nos prontuários do Serviço Médico da
Empresa aonde são atendidos diariamente os trabalhadores.
Fiz um levantamento de caso a caso dos prontuários no período de um ano
de trabalhadores vitimas de acidentes de trabalho e licença médica entre 2000 e
2001, podendo ser constatada a amplitude e gravidade do problema.
No levantamento de acidentes de trabalho, totalizou 238 atendimentos sendo
62 funcionários celetista e 176 cooperativados ficando 80 dos atendimentos antes
das 11:30h e 158 após as 12:30h.Uma observação é que alguns tipos de acidentes
acontecem com mais freqüência e de pouca gravidade como: contusão com ferida,
ferida com corte e queimadura.
Um outro aspecto importante observado é que o maior número de acidentes
acontece após o almoço.Como se encontra no demonstrativo dos atendimentos
antes das 11:30h, 34%, e após as 12:30h, 66%. Um fator que desencadeia este
problema e a proximidade de trailers junto à empresa e a saída livre no horário do
almoço que facilitam os trabalhadores a consumir álcool.
Encontra-se num segundo demonstrativo de atendimento de acidente de
trabalho no serviço médico referente ao contrato de trabalho, sendo 26%
funcionários celetista e 74% de cooperativados, aonde se constata uma
precarização da mão de obra, associando-se o abuso do álcool com a
reestruturação do trabalho, com subcontratações dos serviços e conseqüentemente
a instabilidade ocupacional e emocional.
26%
74%
Funcionários
Cooperativados
34%
66%
Antes das 11:30 h
Após as 12:30 h
Demonstrativo de atendimento médico por tipo de contrato de trabalho
Demonstrativo de acidentes de trabalho
3 - SOLUÇÕES E SUGESTÕES PARA TRATAR O PROBLEMA
3.1 - AS INICIATIVAS PARA LIDAR COM A QUESTÃO
A empresa tem consciência que o alcoolismo é um problema que atinge
grande número de seus funcionários e também das conseqüências como: do
absenteísmo, queda da produção de bens de serviço, desagregação familiar,
marginalização social e um alto número de acidentes de trabalho.
Estudos realizados sobre o problema do alcoolismo nas organizações
demonstram que: “Há um alto índice de acidentes no inicio da tarde que esta
relacionada com a alta da alcoolemia”.(Ramos, 1987:143). O que quer dizer que o
intervalo para o almoço é utilizado para a ingestão de bebida alcoólica.
Os Assistentes Sociais e médicos do trabalho são os principais coadjuvantes
para diagnosticar um funcionário com o problema do alcoolismo, porém sendo
indispensável à participação de todos.(Ramos, 1987:146), apresenta o PAE que é o
Programa de alcoolismo em Empresas que visa o diagnostico precoce e
encaminhamento do trabalhador para tratamento. E o interesse tem surgido por
parte das empresas, no intuito de atender a situação do alcoolismo.
O PAE é uma forma sofisticada de abordagem feita por profissionais
treinados, em geral da área de Recursos Humanos.Primeiro os trabalhadores são
identificados pelas chefias com baixa na produtividade, mas os principais
indicadores são: o absenteísmo, a não realização de tarefas não determinadas,
lentidão, perda de horas em outros setores, falta por motivo de doença (atestado),
atrasos freqüentes ao trabalho perda de material, excessos de horas gastas para a
mesma produção, trabalhos com defeitos e no relacionamento com os colegas e
chefias: brigas, empréstimos, irritabilidade, agressividade e insubordinação.
Identificado o problema, o chefe deve documentar e fazer encaminhamento
do trabalhador à coordenação do programa, onde será confirmado o diagnostico e
elaborar um plano adequado para as necessidades do individuo.Preferencialmente
que o tratamento seja feito fora da empresa, para que se evite tais problemas tais
como: medo do paciente em expor seus problemas, a interferência de interesses da
diretoria, quebra de sigilo e manipulação dos resultados.
E as empresas estimulam a abstinência do empregado de forma que ele se
torne novamente apto para desempenhar as atividades profissionais.
De um modo geral percebe-se que a problemática do abuso do álcool dentro
do Estaleiro Ilha S/A é um problema grave e os profissionais de saúde ocupacional
encontram dificuldades para o enfrentamento da questão, apesar de levantarem
algumas soluções para o problema, encontram como barreira, a falta de apoio das
chefias operacionais e de departamentos, por considerarem a questão limitada como
problema do Serviço Medico e Serviço Social.
Como sugestão para a solução do problema seria sensibilizar os
trabalhadores e chefias através de campanhas sistemáticas com programa de
educação e saúde relacionadas à prevenção do álcool e drogas com apoio continuo
dos profissionais de saúde ocupacional e Alcoólico anônimos.
CONCLUSÃO
O desenvolvimento do capitalismo na década de 80 resultou num grande salto
tecnológico e houve um avanço da robótica e da microeletrônica, mostrando
profundas mudanças ocorridas na esfera da produção. Este processo acontece no
quadro de uma economia que se reestrutura e se internacionaliza e de um mercado
que se globaliza.
Compreender a dinâmica das inovações organizacionais e de gestão da força
de trabalho incluídas na reestruturação produtiva e sua relação com o uso abusivo
do álcool no Estaleiro Ilha S/A foi uma das discussões dessa monografia.
Observou-se que o índice de acidentes de trabalho do Estaleiro Ilha S/A
acontece após as 12:30 h e tem relação com o acesso dos trabalhadores em sua
hora de almoço aos trailers, onde são vendidas, livremente, bebidas alcoólicas.
Também a instabilidade profissional e o regime de contratação temporária,
não são os únicos fatores que levam estes funcionários a usarem álcool. A
problemática começa com uma situação anterior num contexto em que o uso do
álcool é visto como normal.
Percebe-se também que há uma preocupação da empresa em ter uma
política de enfrentamento do problema, que precisa ser revista, pois as atividades
até então desenvolvidas não são extensivas aos chefes, além do que o seu
conteúdo precisa ser enriquecido.
Algumas propostas foram apresentadas como um projeto onde busco dar um
novo direcionamento com uma proposta sócio-educativa a estes usuários. No
levantamento realizado dos acidentes de trabalho no período de 2000 a 2001,
percebe-se que os acidentes embora de pouca gravidade, provoca o afastamento do
trabalho. E a maioria dos trabalhadores atendida (74%) é cooperativados e (26%)
são efetivos, tendo uma correspondência com o tipo de contratação adotado pela
empresa.
As questões identificadas e analisadas não esgotam a temática e o presente
trabalho que pretendeu contribuir, ainda que de forma preliminar, para o estudo do
alcoolismo na empresa a percepção dos usuários e dos profissionais de saúde
ocupacional do Estaleiro Ilha S/A.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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CIPA, Comissão de Acidentes de Trabalho para componentes, Senai, Rio de
Janeiro, 1996.
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Revistas dos Tribunais, São Paulo 2000.
Dejous, Cristophe.A loucura do Trabalho-Estudo de psicopatologia do
trabalho.Editora Cortez, São Paulo, 3° edição.1998.
MELAMED, Clarisse.A Industria Naval no Rio de Janeiro. Editora Fase, 1992.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa Social-Teoria Método e
Criatividade.Editoras Vozes, Petrópolis, 19°edição. 2001.
NOVA NEWS, Revista.Laboratório Sigma Pharma-SCG Consultoria
MARKETING, LTDA. Editorial Gráfico, Junho de 2000.
RAMOS, Sergio de Paula. Alcoolismo hoje.Editora Arte Médica, Rio de Janeiro.
1987.
ANEXOS