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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE EM USUÁRIOS DE SAÚDE MENTAL MARGLEIDE MACHADO COSTA PROF. MARCO ANTONIO CHAVES Rio de Janeiro, RJ, fevereiro 2002

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE EM USUÁRIOS DE SAÚDE

MENTAL

MARGLEIDE MACHADO COSTA

PROF. MARCO ANTONIO CHAVES

Rio de Janeiro, RJ, fevereiro 2002

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE EM USUÁRIOS DE SAÚDE

MENTAL

MARGLEIDE MACHADO COSTA

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Especialista em Psicomotricidade.

Rio de Janeiro, RJ, fevereiro 2002

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Aos usuários de saúde mental que muito ensinaram e proporcionaram a transformação.

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“Os verdadeiros muros dos hospitais são internos, são os que existem entre o

pessoal e os pacientes, e esses muros são como escudos arraigados na própria carne,

que dilaceram quando racham”.

(Gentis, 1971)

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“Não importa o que fizeram de ti e sim o que você vai fazer com isso"

Sartre

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................ 06 1. BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE MENTAL.................................................... 09 2. COMO SE PROCESSA: RECORTE HISTÓRICO DAS INSTITUIÇÕES FRENTE AO LAPSO DO APRAGMATISMO DO USUÁRIO SAÚDE MENTAL..................................................................................................................

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3. PROPOSIÇÕES INTERVENÇÃO...................................................................... 16 CONCLUSÃO.......................................................................................................... 20 ANEXOS.................................................................................................................. 21 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 31

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INTRODUÇÃO

A proposta do nosso trabalho é de investigar a importância do recurso

terapêutico, a Psicomotricidade, na intervenção terapêutica ocupacional, com usuário do

sistema de saúde mental.

Numa experiência em uma instituição privada, intitulada de clínica de

repouso, situada na zona Oeste do Rio de Janeiro, podemos observar o trabalho

encaminhado, assentava-se dentro do modelo positivista, caráter conservadorista, onde a

excelência de intervenção clínica é outorgada ao médico, tecendo para os demais

profissionais, o lugar de apoio, ou seja, uma mera contribuição para desenvolvimento

do referido usuário.

Entendemos o homem como um ser total, e portanto, uma intervenção não

poderia desprezar a contribuição interdisciplinar que juntas poderão saciar a necessidade

do nosso usuário em questão.

A visão do terapeuta ocupacional é uma visão ampliada, a sua práxis pode

ser entendida como um conjunto de atividades livres e criativas, que estimulam a ação

do usuário sobre o mundo externo, transformando-o e a si, também com emancipação,

vontade e futuro desde que se entenda um fazer terapeuta. Tanto pelo profissional,

quanto pelo usuário, como sendo um modo crítico laborativo das relações humanas.

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Não se trata de entrar o poder curativo na atividade, tornando o processo

terapêutico semelhante à prescrição de medicamentos, nem tão pouco na relação

terapêutica-paciente, reduzindo a atividade exclusivamente a um meio de acesso à

interioridade do paciente, a um silenciador de sintomas, higienizador de ambientes ou

frente de recursos financeiros. A possibilidade de cura reside na relação paciente-

atividade-terapêutica, onde o primeiro representa a singularidade de um homem, os

materiais, todo o mundo; e o terapeuta todos os homens do no mundo, mundo a

comunidade humana.

Fazer, no sitting terapêutico ocupacional é realizar no mundo externo, um

ideal; aquilo é inerente ao homem: ser livre, empreendendo a liberdade não como uma

rebeldia sem causa, mas como rebeldia contra os limites que a natureza impõe.

É afirmação do paradoxo que nos diferencia da natureza; a possibilidade de

reconhecer a necessidade de se escolher viver dentro de determinados limites; de nossa

capacidade de dar razão; de fazer perguntas e procurar sempre meras respostas nesse

processo “fazer se ser”.

Rui Chamone, a terapia ocupacional é um mero crítico-laborativo das

relações humanas, quando, do permitir à idéia manifestar-se livre e concretamente sobre

o mundo exterior, o que se oferece ao usuário é a oportunidade de conciliar o externo

com o interno, o infinito com o infinito, o ser com ter, o fazer com saber, fazer o

mundo, saber-se no mundo.

A livre vontade, a que é submetido o paciente, diz respeito a uma atitude

consciente de escolha dos materiais e das atividades, dentro do universo de

possibilidades da instituição e do terapeuta. Visa, acima de tudo, ao registro do próprio

nome indivíduo no trabalho.

Nesse sentido, as atividades desenvolvidas não são direcionadas a um

sintoma específico, mas do desenvolvimento da consciência de que algo existe.

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É num sentido de transformação que se desenvolve em todo o processo

terapêutico ocupacional.

Para entendermos melhor essa população faz-se: é necessário debruçarmos

sobre a questão em si, ou seja, entender o que é saúde mental? E como se processa, sua

representação social e as proposições de uma instituição.

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CAPÍTULO I

BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE MENTAL

No começo da era clássica, a loucura deixou de ser a manifestação de um

outro mundo e tornou-se uma forma de erro ou de ilusão. A consciência da loucura

pressupunha a experiência possível da verdade e portanto, do pensamento. Grosso

modo , a loucura é uma desordem que se manifesta pelas maneiras de agir, e sentir pela

vontade e liberdade do homem.

Agora, não se diz de um homem louco que ele perdeu a verdade, mas sua

verdade. Isto significa que é atribuído à loucura um valor psicológico. Ela se torna um

efeito psicológico de uma falsa moral.

A loucura não é ruptura com a humanidade, mas algo cuja verdade se

esconde no interior da subjetividade humana.

Nesse sentido a loucura deixa de se referir ao não-ser e passa a designar o

ser homem. E através desse redisionamento problema, a reflexão sobre a loucura, torna-

se uma reflexão sobre o homem.

Ao crermos em muitos pensadores contemporâneos, a loucura não é um

fenômeno fundamentalmente oposto ao da chamada racionalidade ou normalidade.

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A loucura é interior à razão eis uma proposição notável muitas vezes posta

sob suspeita, tão espantosa que se resiste a aceitar.

Se a loucura é algo com que convivemos, paradoxalmente é algo difícil de

se falar na primeira pessoa. Fácil é falar do outro, da loucura alheia.

Essa aparência da loucura é a visão que se tem do louco, visão em sentido

de máscaras.

Duas são as principais tendências conceituais reconhecíveis nessas

acepções. Por um lado, temos a loucura concebida e particularizada como uma

experiência corajosa de desvelamento do real de desmontagem e recusa do mundo

instituído: a loucura é saber se o outro lado (e esta é a tendência mais forte), temos a

loucura discreta como falha da forma pessoal, consciente, normal, equilibrada e sadia

de ser, um desvio do grupo social: o louco é perigoso para os outros, senão para si

mesmo.

Com efeito, crer numa loucura localizada no indivíduo e emprestar ao louco

uma vestimenta que o desfigure em monstro, não só tende a retirar-lhe o estatuto de

humanidade, como também a nos fazer esquecer que algo se diz através da loucura. Isto

é, algo cujo sentido denuncia o contexto no qual ela emerge.

Assim, quer se conceba o louco como doente, a loucura como a

dequerescência do ser humano e, portanto, como ausência de lucidez (ou

conhecimento), quer se encare a loucura como a forma de conhecimento da verdade e o

louco como aquele que sabe "olhar o mundo com os olhos da realidade; tanto num

caso, como no outro, o louco se encontra excluído do universo comum dos mortais".

Dede modo bastante esquemático, pode-se dizer que, tradicionalmente

concebida por analogia com as demais doenças orgânicas, a “doença mental”, assume a

feição de uma entidade natural manifestada por sintomas “por exemplo”: alterações do

pensamento, da linguagem, da motricidade, da emotividade, apragmatismo etc. Estas

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são agrupadas pela medicina, num conjunto coerente cuja análise busca revelar a

essência da doença.

Ao lado, portanto, da constituição de uma sintomafologia, é elaborada uma

monografia na qual as formas específicas da doença, suas fases e variações são

classificadas e descritas. Inúmeros são os quadros classificatórios e os termos

empregados por exemplo: “histeria” e “obsessões” , “ mania”, “ depressão” , “

paranóia” , “ heberfrenia”, “catatonia”, etc.. Mas independentemente do que possa

significar cada um desses termos, por exemplo, as três últimas designações de formas

mórbidas, i e, patológicas, foram munidas por E. Bleuler (1911) sob o termo

esquizofrenia, para caracterizar certos fenômenos como a fragmentação do fluxo do

pensamento e a ruptura do contato-ativo ou com o ambiente.

Em o normal e o patológico, o filósofo Georges Canquilhem observa que é

próprio à doença orgânica ou psíquica, vir interromper o curso de algo, isto é, ser

crítica; nesse sentido, mesmo quando ela se torna crônica após ter sido crítica, “era

sempre um passado do qual o usuário ou aqueles que o cercam guardam certa

nostalgia”. Portando o indivíduo é doente sempre em relação: em relação aos outros,

em relação a si mesmo. Isto significa que o próprio da loucura como “doença mental”,

conforme a expressão médica, é ser rebelde a uma definição positivista. Em outras

palavras, é teoricamente muito difícil, senão impossível, definir a loucura em si mesma,

como um fato isolado.

Com efeito, os termos segundo os quais se procura dar uma definição da

loucura ação, explicita o implicitamente, sempre relacionais. Isto é, designa louco o

indivíduo cuja maneira de ser é relativa a uma outra maneira de ser. E esta visão é uma

maneira normal de ser.

Portanto, será sempre em relação a uma ordem de “normalidade”,

“racionalidade” ou “saúde” que a loucura é concebida nos quadros da “anormalidade” e

“irracionalidade” ou “doença”.

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A palavra "normais" quer dizer “aquilo que não se inclina nem para a direita

nem para a esquerda”, ou seja, “que é perpendicular”, que “se mantém num justo meio-

termo” portanto “uma norma, uma regra, é aquilo que serve para retificar, pôr de pé,

endireitar”. Nesse sentido, normalizar em impor uma exigência a uma existência que

possui um caráter diversificado, irregular. Porém, é preciso notar que

uma norma, uma regra, se propõe como um modo possível de eliminar uma diferença. E

ao se propor desse modo a própria norma cria possibilidade da sua negação lógica.

Em suma: se o normal se define mediante a execução de um projeto

normativo, este, ao mesmo tempo que engendrar o anormal (o anormal é condição do

normal). Normal e anormal são portanto termos inseparáveis. E é por isso que é tão

difícil definir a loucura em si mesma.

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CAPÍTULO II

COMO SE PROCESSA: RECORDE HISTÓRICO DAS INSTITUIÇÕES

FRENTE AO LAPSO DO APRAGMATISMO DO USUÁRIO SAÚDE MENTAL

Na era clássica das instituições adotava-se o modelo Asilar, onde o louco

ficava restrito e sem nenhum contato com a sociedade, ficando enclausurado sem

nenhum contato com o exterior.

Essa concepção asilar foi contestada por Dasageia, Trust - Itália que

desenvolveu uma linha interventiva com um aporte humanista democrático de forma a

enxergar o sistema manicomial e suas distorções.

O usuário passou a ser protagonista do novo modelo, possibilitando mais

autonomia de si mesmo.

Segundo Golffaman, uma instituição total pode ser definida, como um local

de residência e trabalho: onde há um grande número de indivíduos com situação

semelhante, separados da sociedade, mais amplo por considerável período de tempo,

levam uma vida fechada e formalmente administrada.

A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, surgem também variadas

experiências de reforma psiquiátricas, dentre as quais destacam-se as comunidades

terapêuticas, de psicoterapia institucional de psiquiatria de setor, de psiquiatria

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preventiva e comunitária de antipsiquiatria, de psiquiatria democrática, para ficarem

apenas mais importantes.

Numa característica comum do todas as experiências no Brasil é a sua

marginalidade. São experiência locais, referidas a um ou outro serviço, a um ou outro

grupo.

Tão à margem das propostas e dos investimentos públicos efetivos, que suas

memórias são difíceis, senão de impossíveis resgate.

Muito desde insucesso deve-se à forte oposição exercida pelo setor privado

que, em franca expansão passa o aparelho de Estado também no campo da saúde.

A privatização da psiquiatria, na década de 60, com a unificação dos

instituídos de aposentadoria e pensão, é criado o Instituto Nacional de Previdência

Social (INPS).

O Estado passa a comprar serviços psiquiátricos do setor privado e ao ser

privatizada grande parte da economia, o Estado o concilia no setor saúde mental

pressões sociais com o interesse de lucro por parte dos empresários.

A doença mental, torna-se definitivamente, objeto de lucro, uma

mercadoria. Ocorre, assim um enorme aumento do número de vagas e de internações

em hospitais psiquiátricos e privados principalmente nos grandes centros urbanos.

Chega-se a ponto da Previdência Social destinar 97% do total de recursos

da saúde mental para as instituições na rede hospitalar.

A desinstitucionalização, em 1987 o movimento dos trabalhadores em

saúde mental assume-se enquanto o movimento social e não apenas de técnicos e

administradores, que lançam o lema “por uma sociedade sem manicômios”.

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O lema estratégico remete para a sociedade a discussão sobre a loucura, a

doença mental, a psiquiatria e seus manicômios.

No campo prático, passa-se a privilegiar a discussão e a adoção de

experiências de desinstitucionalização. Esta implica não apenas num processo de

desospitalização, mas de invenção de práticas assistenciais territoriais, num processo

prático de desconstrução dos conceitos e das práticas psiquiátricas.

Neste contexto, surge o projeto da lei 365/89 (180) que, ao propor a

extinção progressiva dos hospitais psiquiátricos e sua substituição por outras

modalidades e práticas assistenciais, desencadeia um amplo debate nacional, realmente

inédito, quando jamais a psiquiatria esteve tão permanente e conseqüentemente

discutida por amplos setores sociais.

Em muitas cidades e estados, acontece um processo muito rico de

experiências marcadoras em psiquiatria, de criação de associações de psiquiatrizados e

de familiares, e de aprovação do projeto de lei 180 (Paulo Delgado) de reforma

psiquiátrica.

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CAPÍTULO III

PROPOSIÇÕES INTERVENÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo promover uma análise da atividade a

ser desenvolvida com a clientela institucionalizada.

É fruto da várias reflexões e, além disso, o trabalho abre perspectivas

promissoras, para a compreensão real do apragmatismo dessa clientela.

Com isso foi utilizado como recurso terapêutico a psicomotricidade, foi

criado o ”grupo corpo”, com objetivo de trabalhar não só a questão da motricidade,

como também afetividade e utilizando também objetos relacionais para serem o

facilitador na socialização, já que esta clientela, apresenta resistência em realizar trocas

e contatos físicos.

A psicomotricidade tem um papel muito importante nesta clientela. que está

fragmentada e que não suporta encarar seus sentimentos; através do lúdico a

psicomotricidade, consegue resgatar dentro das possibilidades de cada usuário, a auto-

estima, socialização e o resgate do esquema corporal, que no momento da crise se

fragmenta.

Então a psicomotricidade consiste na unidade dinâmica das atividades dos

gestos, das atitudes e posturas, enquanto o sistema expressivo, realizador e

representativo do “ser- em-ação" e da coexistência com outrem (Jacques Chazand).

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A psicomotricidade, proporciona ao indivíduo, através do lúdico a se

reorganizar de forma prazerosa, não regredindo, mas transformando em suas ações e

possibilidades e limitações. Cabe ao profissional a disponibilidade, em atuar junto, e

entender o fenômeno que envolve o desejar e querer.

O movimento, assim como os exercícios são de fundamental importância no

desenvolvimento físico, intelectual e emocional não só da criança, mas também do

adulto.

Os primeiros anos de vida têm uma importância capital: o desenvolvimento

da inteligência, da afetividade, das relações sociais é tão rápido que sua realização

determinará em grande parte as capacidades futuras.

Qualquer perturbação poderá também se não for detectada a tempo e tratada

de maneira adequada, diminuir consideravelmente as capacidades futuras.

As fases do desenvolvimento psicomotor não devem ser consideradas,

apenas segundo um quadro de maturação neurológica, mas como resultado de um

processo reacional e relacionam complexo, leva em conta as reações do ser ao

ambiente que o cerca e é relação com os demais.

Portanto o esquema corporal é o elemento básico para a formação da

personalidade da criança e do futuro adulto e se desenvolverá graças a uma progressiva

tomada de consciência de seu corpo e de suas possibilidades, na relação com o meio em

que vive.

É através do corpo ao que a criança vai descobrir o mundo , experimenta

sensações e situações, expressar-se, perceber-se e perceber as coisas que a cercam.

O corpo é, portanto “o ponto de referência que o ser humano possui para

conhecer e interagir com o mundo”. Ele servirá de base para o desenvolvimento

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cognitiva para aquisição de conceitos referentes ao espaço e ao tempo, para um maior

domínio de seus gestos e harmonia de movimentos.

Diante da realidade observada, criou-se um grupo de convivência intitulado

“grupo corpo”, clientela mista com o objetivo de estimular, através de atividades

psicomotoras, com o objetivo de resgatar auto-estima, esquema corporal, através de

vivências corporais. Utilizando: objetos relacionados para serem facilitadores, no

resgate da corporiedade:

No início, por ser uma proposta nova de trabalho, houve entraves devido ao

medo do novo.

Aos poucos foram se adaptando com a nova proposta e passaram a interagir

melhor entre si e consigo mesmo. Utilizávamos como recursos terapêuticos materiais

plásticos e objetos relacionais, como facilitadores desta vivencia.

Estimulávamos através de atividades delateralidade, esquema corporal,

imagens corporais, expressões livres, etc.

É essencial, portanto, para nós, facilitar, favorecer a regressão simbólica

neste nível, de modo a “reviver” ao nível do corpo essa etapa essencial que condiciona

todo o futuro do ser.

A descoberta desse “poder agir” associada ao “poder sentir” vai travar uma

nova dimensão ao prazer primitivo do movimento. É o prazer de ação, o prazer de pegar

o objeto, de dar-lhe movimento, de deslocá-lo, de lançá-lo ou, de modificar a sua forma,

de fazer barulho com ele. É, após a vivência do “fraco” e do “lento” dos primeiros

meses, a descoberta do “forte” e do “rápido” que são símbolos de poder, de auto-

afirmação. E também a origem do jogo com os objetos e numa dialética permanente

entre o eu e o mundo que a criança/adulto descobre seu corpo que é meio de ação

intermediário e obrigatório entre eles e o mundo.

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O grupo desenvolvia em três etapas:

1. aquecimento

2. vivências psicomotoras

3. Fechamento do grupo

Materiais utilizados:

- bolas

- músicas

- bamboles

- bolas e texturas diferentes

- vivências corporais

- material humano

Clientela Objetivo - Grupo aberto/misto, com objetivo de desenvolver atividades

psicomotoras.

Avaliação:

O grupo atingiu o objetivo a curto prazo, conseguindo vivenciar dentro de

sua singularidade e possibilidade a proposta terapêutica estabelecida.

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CONCLUSÃO

Enquanto profissional da área de saúde, onde prevalece a disponibilidade

para estar com outro é de suma importância, estar aberto para o novo, acreditar na

potencialidade do indivíduo e investir dentro de suas possibilidades e limitações que

levam a transformação do fazer em ação.

Já mais, cronificar junto a qualquer instituição, lutar contra os preconceitos

e estigmas que ainda prevalecem em nossa prática terapeuta ocupacional.

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ANEXOS

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Curso de Especialização em Saúde Mental para Terapeutas Ocupacionais

Supervisão de Estágios

Aluna: Margleide Machado Costa

Apresentação

A Clínica de Repouso Corcovado, fica situada na descida da serra de

Jacarepaguá, é local aprazível, numa área de 8.000 m; bastante arborizado e distante

cerca de 30 minutos do centro da cidade.

A equipe é multiprofissional tendo um Clínico Geral 24 horas por dia,

Terapeutas Ocupacionais, Psicólogas, Psiquiatras, Auxiliar de Enfermagem, Chefe de

Enfermagem e Nutricionista.

É uma instituição particular, onde atende vários transtornos como:

• Esquizofrenias

• Transtorno de Humor

• Dependência Química em menor escala

Setor da Terapia Ocupacional

O espaço da terapia ocupacional é amplo, arejado e dividido em dois

ambientes:

• Leitura – jornal, livros e escutar música.

• Atividades Livres e expressivas – onde o usuário poderá utilizar este espaço para a

pintura, modelagem e atividades afins.

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O Setor atualmente funciona com dois terapeutas ocupacionais, no horário

de 8:00 às 17:00 de segunda a sexta-feira e de 8:00 às 12:00 aos sábados.

Atividades Desenvolvidas:

• Atividades líderes

• Grupo corpo

• Sessão pipoca

• Grupo informativo para D.Q (Dependente Químico)

• Grupo mulher

• Grupo de estudo em parceria com a psicologia

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Grupo Corpo

Sabendo-se que a crise fragmenta o corpo, é importante ter uma atividade

que possa dar um suporte para a resignificação corporal. Pensando nisso, foi criado este

grupo. Os usuários têm este espaço para expressar seus sentimentos, utilizando como

recurso terapêutico a Psicomotricidade que trabalha não só a motricidade como também

a afetividade. Utilizamos objetos relacionais para serem facilitadores para os usuários

que apresentam resistência na relação interpessoal.

Estas fotos em anexo têm a permissão dos usuários que participam desta

oficina.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Educação.

AJUNAGUERRA , J. de. Manuel de Psyquiatria de L'enfant, Masson e C, 1971.

AMARANTE, Paulo (org.) Psiquiatria Social e Reforma Psiquiátrica. Ed. Fiocruz: Rio

de Janeiro,1994.

__________. Xerox de textos – Asilos, alienados e atienistas – Pequena História da

Psiquiatria no Brasil.

CADERNOS DE TERAPIA OCUPACIONAL. Ges-to Ano VII nº 1. Outubro/95

PEREIRA FRAYZE – Pereira. O que é Loucura. Ed. Brasiliense. 10ª ed.

RENAND, Claude Pujade. Linguagem do Silêncio. Expressão Corporal.