UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS GRADUAÇÃO “LATO … · 2017-05-25 · universidade candido...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PSICOMOTRICIDADE: O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E AS
DIFICULDADES EMOCIONAIS NO PROCESSO DE ENSINO /
APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS COM IDADES DE 05 A 07 ANOS
MAYANI SOUSA DAMASCENO
Orientadora: Prof.ª. Fabiane Muniz
BRASÍLIA
2017
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PSICOMOTRICIDADE: O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR E AS
DIFICULDADES EMOCIONAIS NO PROCESSO DE ENSINO /
APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS COM IDADES DE 05 A 07 ANOS
MAYANI SOUSA DAMASCENO
Monografia apresentada a banca examinadora da Faculdade Candido Mendes, como condição prévia para conclusão do curso de Pós-graduação “Lato Sensu” em Psicomotricidade. Orientadora: Prof.ª. Fabiane Muniz
BRASÍLIA 2017
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que me incentivaram e
incentivam a continuar estudando,
acreditando sempre no meu esforço.
DEDICATÓRIA
Dedico aos seres humanos mais que
especiais que atendo, por me
incentivarem na busca pelo
conhecimento e assim poder ajudá-los
da melhor forma possível.
EPÍGRAFE
“Escolha quem te olha por dentro. O
corpo tem prazo de validade, a alma
não”. (Abner Santos).
RESUMO
A psicomotricidade é uma ciência dedicada ao estudo do desenvolvimento humano em que seu parâmetro está na relação entre o pensamento e a ação, envolvendo a emoção, assim definido por Rocha (2003). É uma ciência que pelo desenvolvimento motor da criança concluiu-se que a aprendizagem deve ser compreendida como algo que acontece envolvendo a capacidade da criança de descobrir-se como corpo que se move no espaço-tempo que tem no equilíbrio físico e psíquico, pela coordenação muscular em suas tonicidades, amparo para estabelecer intelectual, afetiva e fisicamente sua relação para consigo e com o mundo. A criança, entre 05 e 07 anos, ao buscar na escola as opções que essa se dispõe a oferecer, conduzidas por docentes conhecedores das teorias e práticas acumuladas pela psicomotricidade, poderá prosseguir rumo a aprendizagem global.
Palavras Chaves: psicomotor, aprendizagem, criança, desenvolvimento.
METODOLOGIA
Este estudo se apoia em pesquisa qualitativa utilizando de fontes bibliográficas
como livros, artigos (na internet) na área da psicomotricidade, referindo sempre ao
período de desenvolvimento psicomotor de crianças, entre 05 e 07 anos, durante
educação escolar. A extensa pesquisa bibliográfica fundamentará a problemática aqui
levantada fornecendo os subsídios teóricos para o desenvolvimento de uma pesquisa
acadêmica.
Quanto aos livros utilizados como bibliografia básica, destacam-se “A
Psicomotricidade na educação infantil: uma prática preventiva e educativa” dos autores
Sánchez, Martinez e Peñalver; e “Psicomotricidade, educação física, jogos infantis” por
Mello que auxiliam muito no desenvolvimento e entendimento do assunto.
Os trabalhos acadêmicos realizados durante o curso de pós-graduação
“Psicomotricidade” serão importantes na aplicação de conceitos quanto a importância
da psicomotricidade no desenvolvimento motor, com descrição das ferramentas e sua
aplicabilidade.
A proposta é que no final da leitura os interessados possam visualizar e entender
os fatores que poderão auxiliar o desenvolvimento psicomotor de crianças entre 05 e 07
anos.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 9
1. BREVE HISTÓRIA DA PSICOMOTRICIDADE ............................................... 11
1.1 O surgimento da ciência do homem em movimento ............................................ 12
1.2 A chegada da psicomotricidade no Brasil ............................................................ 15
1.3 Psicomotricidade na atualidade: Conceitos e Práticas ......................................... 16
2. A AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO MOTOR ....... 19
2.1 A psicomotricidade na educação dos movimentos .............................................. 20
2.1.1. As áreas de atuação da Psicomotricidade ..................................................... 21
2.1.2. A Psicomotricidade na terapia psicomotora ................................................. 22
2.1.3. A educação psicomotora .............................................................................. 23
2.2 A Psicomotricidade na educação escolar ............................................................. 24
2.2.1. A aprendizagem de crianças entre 05 e 07 anos no texto da LDB ............... 25
3. A PSICOMOTRICIDADE E A APRENDIZAGEM ........................................... 28
3.1. A psicomotricidade no aprendizado escolar ....................................................... 30
3.2. As dificuldades emocionais e a psicomotricidade .............................................. 35
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 38
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 40
INTRODUÇÃO
Referindo-se aos discursos contemporâneos relacionados ao desenvolvimento
escolar, incluindo dificuldades emocionais, esses afetam o processo de aprendizagem de
modo geral. Crianças com idade entre 5 e 7 anos passam por processos físicos,
psíquicos e sociais de grandes mudanças. Deve-se pensar no pressuposto de que o aluno
é ser complexo, cujo desenvolvimento depende de estímulo de forma integrada nas
dimensões cognitivas, sócio afetiva e psicomotora.
Durante esse momento, no que se refere à maturidade física e psíquica, os
contatos entre indivíduos são de grande diferença. Exige grande esforço para
acompanhar as ações dos que o cercam. Ressalta-se o papel desempenhado pelo
psicomotricista, pois seu trabalho é de extrema importância no sentido de prevenir,
minimizar e solucionar dificuldades nesse processo de aprendizagem. Nesse panorama
cabe refletir, entre outras coisas, sobre a relação entre os processos de aprendizagem
escolar e a motricidade, como mais uma possibilidade de avanço em direção à
superação das dificuldades de aprendizagem.
Geralmente, quando uma criança encontra ambientes onde as exigências quanto
ao processo de ensino/aprendizagem ganha contornos de maiores cobranças e o
ambiente social, por meio de suas intensas formas de interação física e psíquica, passam
a desafiá-las, ressalta-se a psicomotricidade como um instrumento riquíssimo que a
auxilia em preventivos e intervenções, proporcionando resultados satisfatórios em
situações de dificuldades nesse processo.
Durante o processo de aprendizagem os elementos básicos da psicomotricidade
são utilizados com frequência. O desenvolvimento do Esquema Corporal, Lateralidade,
Estruturação Espacial, Orientação Temporal e Pré - Escrita são fundamentais na
aprendizagem; um problema em um destes elementos associado à dificuldade
emocional irá prejudicar uma boa aprendizagem.
Diante desse contexto observa-se que mesmo as escolas utilizando em seus
currículos muitos conceitos para colaborar com a criança nas adaptações com ambientes
escolares (jogos e brincadeiras/lúdico) e nos processos de educação física, muitos
profissionais não têm informações da importância que o conhecimento oferecido pela
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psicomotricidade, como ciências, podem proporcionar. Sendo assim, este estudo
encontra-se em seus objetivos, ou seja, o de tratar a importância da Psicomotricidade
como fonte de conhecimento para dar à aprendizagem mais ludicidade, qualidade e
eficiência.
Focando na importância de valorizar a Psicomotricidade, esse estudo tem como
objetivo reforçar o papel do psicomotricista frente às dificuldades emocionais que
podem acompanhar o processo de ensino/aprendizagem, considerando os diversos
contextos sociais do indivíduo aprendiz.
E com vistas a alcançar os objetivos propostos, são apresentados três capítulos
dedicando o primeiro capítulo a uma descrição da trajetória da psicomotricidade, dando
ênfase aos pesquisadores que contribuíram para o seu desenvolvimento, entre eles
Dupré, Ajuriaguerra, Piaget, Wallon, entre outros.
No capítulo segundo o tema foi a psicomotricidade, conceito de
desenvolvimento motor a partir da descoberta de novos atores capazes de incentivar o
desenvolvimento embasado nas interações e uma série de motivação interna e externa
ao ser humano.
O terceiro capítulo é dedicado a psicomotricidade como ciência, preocupada
com as questões relativas à aprendizagem e as dificuldades emocionais que podem
interferir nesse processo. Por fim, pretende-se realizar uma reflexão geral e algumas
conclusões sobre os assuntos tratados ao longo da elaboração das pesquisas que
fundamentam esse trabalho. Pois, a justificativa para que as aulas de psicomotricidade
pudessem ser incluídas nas escolas era de que a criança tome consciência de seu corpo,
da lateralidade, a situação do espaço, a dominação de seus gestos e movimentos.
Valorizando ainda o processo de aprendizagem e não um gesto técnico isolado.
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1. BREVE HISTÓRIA DA PSICOMOTRICIDADE
Desde os Romanos a concepção dos primeiros séculos da Era Cristã, “mens sana
in corpore sano”. Embora sem embasamento científico eles já entendessem, era preciso
cuidar da mente para que se tivesse um corpo saudável.
Na Idade Média o fortalecimento da dualidade entre o corpo e suas estruturas
internas ainda era concebida em caráter estritamente religioso. No entanto, nota-se a
supremacia da alma sobre o corpo quando os pensadores daquela época condicionavam
a qualidade humana à pureza ou santidade da alma.
No Renascimento observa-se que o corpo passa a ser um objeto da ciência, cria-
se uma consciência secularizada que se afasta do componente religioso, fazendo com
que as noções de corpo e alma ganhem um novo estudo. Com Descarte tem-se o
surgimento do corpo-máquina, feixe de músculos, nervos e funções numa estrutura
mecânica.
No século XVIII, ainda com Descarte, temos o surgimento desse conceito do
corpo-máquina, feixe de músculos, nervos e funções numa estrutura mecânica. Descarte
estabelecia os “princípios fundamentais” para que o corpo deixasse a sacralidade e
tornasse objeto da ciência, principalmente reconhecendo a sua possível existência.
A história da psicomotricidade é solidária à história do corpo que se estabelece
como práticas independentes. Ao longo desta história foram registradas perguntas de
como explicar as emoções, as sensações do corpo e qual a relação entre corpo e alma;
por que diferenciá-los? (BARTHES apud LEVIN, 2003, p.22). Recebendo definições
referentes a uma motricidade em relação ao olhar profissional não estar mais voltado
apenas ao plano motor, mas direcionado a um corpo em movimento, acrescentando ao
percurso histórico o olhar para um sujeito cheio de desejos, auxiliando o alcance de
adultos sadios e felizes e com estrutura equilibrada da sua personalidade.
Diferentes autores, na década de 70, definiram a psicomotricidade como uma
motricidade de relações, delimitando diferenças entre uma postura reeducativa e uma
terapêutica, deixando de preocupar-se apenas com técnicas instrumentalistas e passando
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a ocupar-se com o corpo do sujeito dando maior importância às relações, à afetividade e
ao emocional, focando na interação com o mundo externo e nas ações com o outro. A
mãe por exemplo.
1.1 O surgimento da ciência do homem em movimento
A ciência alcança no século XX grandes avanços em todos os seus níveis. Nesse
contexto os estudos de algumas disfunções gestuais, por exemplo, desperta a atenção
para o entendimento de suas causas dando ênfase a neurologia, enfatizando a descoberta
das diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado, ou sem que a lesão
esteja localizada claramente.
Esse fato marca um momento importante para o estudo científico das questões
relacionadas, principalmente, ao movimento do ser humano, uma vez que não se pode
mais relacionar um distúrbio motor ou psicomotor, apenas se considerando danos
“esquema estático anátomo-clínico” que determinava para cada sintoma sua
correspondente lesão focal. Isto, segundo Barreto, 2009 (apud LEVIN, 2003) a
produção de pesquisas que procuram para além da patologia, as causas de alguns
fenômenos.
Com o psiquiatra Dupré muito se evoluiu na perspectiva de que, cientificamente,
alguns problemas que apresentavam seus sintomas no sistema motor pudessem ser
estudados e tratados levando em consideração a relação existente entre movimento e
processos cerebrais, isto estabelece o que se dominou paralelismo psicomotor, ou seja:
Ele rompeu com os pressupostos da correspondência biunívoca ente a localização neurológica e perturbações motoras da infância e formulou a noção de psicomotricidade através de uma linha filosófica neurológica, evidenciando o paralelismo psicomotor, ou seja, a associação estreita entre o desenvolvimento da psicomotricidade, inteligência e afetividade (Falcão & Barreto, 2009, p. 86) (LEVIN, 2003, p. 24).
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Evidencia-se a partir dos estudos de Dupré que existe o entrelaçamento entre
nossos movimentos e nossos processos de elaboração do pensamento. Assim sendo,
alguns fenômenos que refletiam em sintomas como, por exemplo,, a incapacidade para
relaxar a musculatura de forma voluntária não estando relacionada, obrigatoriamente, a
anomalia das vias nervosas periféricas ou a alteração muscular ou óssea.
Com Henry Wallon (1879-1962), outro importante colaborador para a
solidificação da psicomotricidade, estabelece-se que o movimento (ação), o pensamento
e a linguagem são unidades segundo ele, inseparáveis. Estudando o comportamento e o
desenvolvimento da criança, Wallon observa e elabora informações mostrando que o
movimento é o pensamento em ato e os pensamentos são os movimentos sem ato.
Esse período foi muito importante para a consolidação da psicomotricidade
como uma ciência capaz de a partir das teorias embasadas anteriormente, atuar na
prática, no trabalho de reeducação psicomotora, baseados em exercícios que
propiciavam o condicionamento da atividade tônica, na harmonia das atividades físicas,
psíquicas que influenciavam no controle motor. Essa primeira aproximação “prática”
entre a conduta psicomotora e o caráter da criança foi utilizada, posteriormente, como
modelo para diferentes reeducadores pedagógicos.
Com a psicologia psicogenética de Piaget procurou-se emprestar à
psicomotricidade a capacidade humana de envolver movimentos fazendo uso de
atividade psíquica, onde estão presentes processos socioafetivos e cognitivos.
Piaget (1980-1986) é citado como aquele que na história da psicomotricidade
deu a inter-relação entre a psicomotricidade e a percepção, da capacidade,
principalmente da criança, de procurar a aprendizagem e o desenvolvimento pelas
interações que ela faz com o meio, usando para isto os movimentos.
Entre 1947-1948 Ajuriaguerra e Datkine (apud FONSECA, 1988) provocaram
uma mudança na história da psicomotricidade que delimita com clareza os transtornos
psicomotores “que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico”. Os estudos de
Ajuriaguerra estabelecem importante rede de informações, não apenas na relação do
indivíduo para com o meio ambiente, mas também na importância para se entender o
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movimento humano a partir da capacidade da criança em organizar sua consciência de
si mesmo, na relação do estabelecer conceitos sobre seu próprio corpo.
As contribuições de Ajuriaguerra, por volta de 1960, somadas às de Wallon e
Piaget, bem como alguns pressupostos psicanalíticos relativos ao campo da afetividade,
influenciaram outros pesquisadores formando uma soma de informações que permitiram
a psicomotricidade assumir corpo de ciência e assim redefinir os seus objetivos de
estudo dando ênfase especial à relação, às emoções e aos movimentos.
Nesta oscilação que situa os transtornos propriamente psicomotores, surgem
então outros nomes importantes como o do professor Jean Le Boulch, que entre outros,
nos anos 60 do século XX, buscou o reconhecimento dos valores da educação
psicomotora. Os estudos de Le Boulch causaram grande influência na decisão
ministerial de incluir a psicomotricidade nos cursos primários das escolas da França.
Segundo Assunção & Coelho (1997, p.108) podemos entender a
psicomotricidade como um instrumento valioso para se trabalhar a educação dos
movimentos e por mover ações educativas, principalmente sobre funções neurológicas e
psíquicas. Além disso, possui uma dupla finalidade: “assegurar o desenvolvimento
funcional tendo em conta as possibilidades da criança e ajudar sua afetividade a se
expandir e equilibrar-se, através do intercâmbio com o ambiente humano”.
Vaz de Lima (2011) acrescenta às colocações de Assunção & Coelho a
importância dada pela psicomotricidade aos processos de desenvolvimento da unidade
da educação dos movimentos, ao mesmo tempo em que colocam em jogo as funções
intelectuais. As primeiras evidências de um desenvolvimento mental considerado
normal são manifestações puramente motoras.
Como já é aceito por todos que reconhecem que o ser humano é um todo, e
assim, a aprendizagem física e intelectual levam o indivíduo ao verdadeiro
desenvolvimento. Entre eles Borges (2002), lembrando que alguns componentes do
desenvolvimento psicomotor são as funções psicomotoras que, agindo de forma
integrada, permitem a atuação harmônica da criança no mundo. Para esse contexto de
perspectiva a psicomotricidade integra várias técnicas com as quais se pode trabalhar o
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corpo em todas as suas partes, relacionando-o com a afetividade, o pensamento e o nível
de inteligência (ASSUNÇÃO & COELHO, 1997, P. 108).
1.2 A chegada da psicomotricidade no Brasil
A psicomotricidade no Brasil foi norteada pela escola francesa, chegando
definitivamente no momento em que a ela já havia passado do estágio baseado no
discurso médico do século XIX, mais precisamente o neurológico. Durante as primeiras
décadas do século XX, sofreu influência também da primeira guerra mundial.
Segundo Alves (2007 p. 4) surgiram os primeiros trabalhos embasados às
terapias, considerando os estudos sobre as ações terapêuticas centradas nos movimentos
dos anos de 1905 em Porto Alegre, quando é fundado o serviço de Educação Especial
dentro da Secretaria de Educação do Estado.
A partir da década de 60 com o retorno de profissionais que iam ao exterior
participar de cursos e eventos, começam a surgir as técnicas reeducativas em que a
Educação Especial foi o elo entre o surgimento da psicomotricidade na Europa e no
Brasil. As influências vinham de escolas diferentes e métodos variados para a utilização
da ação psicomotora (ALVES, 2007, p.5).
Em 1980 com a fundação da Sociedade Brasileira de Terapia Psicomotora
(SBTP), tivemos o marco inicial da aceitação da Psicomotricidade como uma área
científica, importante no trabalho para as questões que envolvem o sistema motor dentro
de uma visão envolvendo corpo – espaço – tempo.
Alves (2007) descreve como passo importante para o desenvolvimento da
psicomotricidade no Brasil, o ano de 1980 quando ocorreu o 1º Congresso Brasileiro de
Psicomotricidade. Isto porque, segundo o autor:
(...) contribui para que a psicomotricidade passasse a ser uma ciência das mais respeitadas por diversas áreas e segmentos, incorporada a vários cursos superiores, como um curso de graduação no IBMR – RJ, e com inúmeros
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cursos de Pós-graduação. Perdeu-se o “T” da SBTP, pela mudança na história e no paradigma da área, mas cada vez mais a identidade desse profissional se estabelece e discute com a sociedade os caminhos de um sujeito em construção. Disponível em: http: www.psicomotricidade.com/PSICOMOTRICIDADE.pdf
Atualmente a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade está presente em vários
estados promovendo cursos, pós-graduação, seminários e pesquisas, com bons trabalhos
científicos, interagindo em vários congressos nacionais, com repercussões
internacionais.
1.3 Psicomotricidade na atualidade: Conceitos e práticas
Talvez por ser uma ciência ainda nova, os conceitos elaborados para se designar
a Psicomotricidade, assim como ocorreu com a história de sua fundamentação teórica,
vem sendo construída aos poucos e cada vez mais recebendo aditivos com relação às
áreas que ela vem penetrando.
Rocha (2001, p.13) chama atenção para a grande variedade de conceitos pelos
quais os autores vêm dando à Psicomotricidade. Isto se dá segundo essa autora, porque
cada um que a define acrescenta um detalhe que lhe é singular e acredita que esse fato
também ocorra por estar a psicomotricidade da atualidade a serviço de vários setores
que se dedicam ao estudo e cuidados para o desenvolvimento harmonioso da vida
humana.
Dentre os vários conceitos, Rocha cita aquele dado por Mello (1987, p. 31) que
diz: “Psicomotricidade é uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem, através
do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo”.
Observa-se que em Mello (1987) a Psicomotricidade é uma ciência que traz no
seu próprio conceito a relação direta com seu objetivo, ou seja, o do ser humano quanto
suas relações com seu corpo, tendo como ponto de partida os sistemas internos e
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externos que influenciam tanto no processo de concepção que se tem de si mesmo,
quanto no seu relacionamento para com seu mundo.
Rocha (2003) aprofunda um pouco mais no entendimento do que se pode definir
como a psicomotricidade, quando estabelece uma relação da mesma com os processos
em que envolve o pensamento, a ação e a emoção. Nesse contexto a Psicomotricidade
atual entende o ser humano em seu conjunto, em suas interações entre o físico, sua
capacidade cognitiva, inclusive suas subjetividades.
A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade como uma das autoridades sobre o
tema em território brasileiro conceitua a Psicomotricidade com as seguintes palavras:
É a ciência que tem como objetivo de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de manutenção, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. (S.B.P, 1999).
Para a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade a psicomotricidade é a ciência
que se dedica ao estudo do homem por meio do seu movimento e suas diversas relações
estabelecidas por meio desses, para com seu mundo externo e interno. Assim, o estudo e
atuação prática da Psicomotricidade buscam a realização do ser humano, atuando nas
peculiaridades que pontuam o indivíduo a partir da articulação movimento – corpo –
relação. Acredita-se que é no somatório de forças que atuam no corpo que desde criança
se constituirá como pessoa.
Atualmente o estudo ultrapassa os problemas motores. Há pesquisas sobre as
ligações com a lateralidade, com o esquema corporal, com a estruturação espacial e com
a orientação temporal de um lado e de outro, sobre as dificuldades escolares de crianças
em seu desenvolvimento.
Para Nicola (2004, p. 5) um conceito atual de psicomotricidade é que esta
ciência nova vê o homem como objeto de estudo, observa-o em suas interações com o
seu corpo em movimento, encontra sua aplicação prática e suas formas de atuação no
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que configuram uma nova especialidade estudando o homem na sua unidade como
pessoa.
Uma maneira mais fácil de explicar o verdadeiro significado da
psicomotricidade e usando as definições por De Fontaine, é descrevê-la como sendo
uma ciência que procura por meio da triangulação corpo – espaço – tempo e do
entendimento do psico como o que temos de sensitivo, da motricidade como movimento
para assumir-se como “ciência da Saúde e da Educação”, pois indiferente das diversas
escolas psicológicas, conteudistas, evolucionistas, genéticas, etc. ela visa a
representação e a expressão motora através da utilização psíquica e mental do indivíduo
(AJURIAGUERRA apud ISPE-GAE, 2007).
A partir dessas definições de diversos autores e instituições para o conceito de
psicomotricidade não há definição única. Existem olhares plurais sem ser divergentes,
com discursos pautados em pressupostos comuns da psicomotricidade.
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2. A AMPLIAÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO MOTOR
Sabe-se que por muitos séculos o homem era visto como uma máquina, nesse
sentido o desenvolvimento do sistema motor nada mais era que a evolução do conjunto
de terminações nervosas e os músculos. No entanto a evolução científica foi capaz de
mostrar mais além, principalmente por meio dos estudos de Vygotsky, Piaget e de
Dupré.
Assim como a percepção que o indivíduo tem do mundo depende das suas
atividades motoras, o desenvolvimento do sistema motor se processa a partir da busca,
principalmente na infância, das relações sócio afetiva e cognitiva que a criança vai
estabelecendo para com o mundo e os objetos.
Desde o nascimento passamos por processos de maturação do conjunto de
elementos que se somam, psíquico + motricidade, para que assim o psíquico/motor
possa estabelecer o desenvolvimento do ser como um todo. Falar em desenvolvimento
motor tendo como parâmetros a psicomotricidade é falar em desenvolvimento
psicológico, biológico e social da criança, tudo dentro de um mesmo processo de
amadurecimento do sistema nervoso.
O sistema motor biológico enquanto meio humano de estabelecer o movimento
é, sem dúvida, mais desenvolvido quando se leva em conta a condição humana de obter
cognitivamente e interativamente com o meio em que está inserido subsídios para
evoluir. Assim sendo, desvincular o desenvolvimento motor do psíquico seria
desconsiderar que ao usar os gestos e movimentos como forma de estabelecer
cognitivamente a compreensão de tempo-espaço, objetivo e de orientação quanto aos
corpos espaciais, etc. Envolvendo percepção, memória, projeção, afetividade, emoção,
raciocínio que se evidencia em diferentes formas de expressão – gestual, verbal, cênica,
plástica, etc.
A motricidade humana configura-se como processo, envolvendo a construção do
movimento intencional a partir do reflexo, da reação mediada por representações a
partir da reação imediata, das ações planejadas a partir das simples respostas a estímulos
externos, da criação de novas formas de interação a partir das reproduções de padrões
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aprendido, da ação contextualizada na história – relacionada ao passado vivido e ao
futuro projetado. Isto é, o sistema motor é essencial do ser humano, inserindo-se na
totalidade da construção do humano, na relação recíproca entre as heranças biológicas e
sócio-históricas. Kolyniak (2002) considera que ainda há outras situações sociais
capazes de influenciar a formação individual que podem ser avaliadas quanto a
complexidade da motricidade.
2.1 A Psicomotricidade na educação dos movimentos
Vanessa Lopes (2010) citada no livro Fundamentos da Educação Psicomotora,
colabora por mostrar que na atualidade a psicomotricidade vem sendo respeitada e
elevada a nível de ciência, o que muito tem colaborado para estudos e práticas junto a
crianças tanto na fase da pré-escola, quanto a indivíduos em fases posteriores. Lopes
(2010, p.14) enumera as três principais formas de abordagem da psicomotricidade,
descrito a seguir.
Para alguns importantes autores dessa área como Wallon, Kramer, Lá Pierre,
Fonseca, Ajuriaguerra, a primeira (0-03 anos) e segunda infância (03-07 anos)
representam períodos determinantes para o processo formativo da criança. Organiza
estruturas emocionais, cognitivas e motoras. Deste modo determina a relação com a sua
realidade externa e interna.
Dentre as importantes intervenções científicas possíveis, cabe ressaltar a
educação psicomotora no que tange as crianças em fase pré-escolar. Portanto vale
lembrar que é nesse período da vida que se pode estruturar física e psicologicamente o
indivíduo, não só para a sua produtiva aprendizagem escolar, mas também para todas as
atividades que transcorrerão durante a vida adulta. E que quanto mais recursos
adequados e necessários forem empregados na transmissão de uma informação, melhor
será fixada na memória a longo prazo. E assim, contar com importantes implicações
pedagógicas para a estimulação da aprendizagem dentro e fora da escola.
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2.1.1 As áreas de atuação da Psicomotricidade
O ser humano encontrou na psicomotricidade uma ciência que procura atuar em
todos os espaços que o indivíduo, em movimento, exerce suas atividades. Centrada em
clínicas ela procura, junto a outras disciplinas, diagnosticar, propor terapias ou atuar por
meio de um arsenal de cuidados cientificamente elaborados para restabelecer a
harmonia física/psíquica e afetiva de seu cliente.
A psicomotricidade atual também interage na assessoria estimulando
implantações de programas preventivos, seja em ambiente escolar ou empresarial, no
sentido de permitir o pleno rendimento humano profissional na vida cotidiana.
Nas escolas a psicomotricidade abrange o desenvolvimento da criança, sua
aprendizagem e o cuidado com aquelas que por algum motivo especial precisam ser
estimuladas em seu aparelho motor para corrigir dificuldades de um desenvolvimento
normal.
Na terceira idade a psicomotricidade procura restabelecer a relação do homem
com seus processos psicomotores, tendo como parâmetros os limites impostos pela
cronologia.
E como ciência a psicomotricidade continua atualizando os conhecimentos sobre
o ser humano e suas relações biológicas, psíquica e social, tendo como norte seus
movimentos não se esquecendo do apoio emocional.
Citadas várias vezes ao longo desse estudo, a Psicomotricidade tem ampliado em
muito suas atuações. Podemos encontrar essa ciência envolvida na Estimulação,
Educação, Reeducação e Terapia psicomotora (ROCHA 2011, p.23).
Quando se dedica a Estimulação Psicomotora, a Psicomotricidade atua a partir
dos primeiros anos de vida da criança. Assim procura despertar o corpo à afetividade
para que ao longo da vida os processos de maturação do indivíduo sigam um curso
normal. Nesse caso Rocha (2011) lembra que as estimulações, por meio dos exercícios,
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massagens e carícias, podem propiciar à criança um bom desenvolvimento no que tange
a motricidade e o psiquismo.
Na Educação está associada a uma atividade de prevenção atuando para o
desenvolvimento das capacidades básicas, sensoriais, perceptivas e motoras, sendo
direcionada, basicamente, às crianças ditas “normais”, pretendendo favorecer, ao
máximo, o desenvolvimento psicomotor.
Enquanto que na Reeducação, o trabalho está voltado para o alívio do problema,
a redução do sintoma e a adaptação ao problema, através de jogos e exercícios
psicomotores. Resumindo sua prática de forma diretiva ou não, as técnicas específicas,
exercícios psicomotores, jogos e trabalho direto com o sintoma observado em exames
psicomotores e a partir da fala do sujeito.
2.1.2 A Psicomotricidade na terapia psicomotora
A Terapia Psicomotora é considerada uma nova área científica transdisciplinar.
Tendo como base os conhecimentos adquiridos de várias áreas disciplinares como a
Neurologia, a Psicologia, a Psiquiatria, a Anatomia e a Fisiologia, a Biomecânica, a
Sociologia. A Terapia Psicomotora é indicada no trabalho às crianças com perturbações
acentuadas advindas de desordens patológicas.
Baseada na inter-relação entre os processos psíquicos e motores a Terapia
Psicomotora procura atuar no sentido de estimular a criança, por meio de materiais
pedagógicos, e reestruturar suas áreas psíquicas, seus movimentos para que possa
emergir novos caminhos para a aprendizagem, com melhor controle dos movimentos
corporais, psicomotores, etc.
A Terapia Psicomotora é indicada para aperfeiçoar, reabilitar ou reeducar as
funções cognitivas, sócio emocionais, simbólicas, psicolinguísticas e motoras,
contribuindo para uma melhor adaptação psicossocial da criança e do jovem.
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Rocha (2011) apud Rocha (2003) ensina que a psicomotricidade procura por meio do
lúdico estabelecer um trabalho que promova a relação positiva entre corpo e
pensamento. Nesse contexto a criança brinca não por recreação ou socialização, mas
para que na relação com os objetos ela reencontre, progressivamente, sua estabilidade e
segurança emocional.
2.1.3 A Educação psicomotora
Le Boulch, já nos anos 60 enfatiza a importância da psicomotricidade para as
crianças em início de vida e também no que diz respeito à escola. Em defesa da
psicomotricidade no contexto educacional, Rocha (2011) cita que Le Boulch reconhecia
a necessidade da família e dos educadores, desde cedo procurasse estimular a criança
adquirir o correto relacionamento com a coordenação dos gestos e movimentos, a
consciência do próprio corpo, lateralidade e espaço-tempo.
A Educação psicomotora leva a criança a praticar uma série de atividades por
meio de jogos e exercícios para promover o desenvolvimento global. A
psicomotricidade procura estimular as áreas físicas, mentais, sociais e afetivas da
criança, no sentido de desenvolver o sistema psicomotor.
Isto porque, em seus procedimentos, o psicomotricista ou o próprio membro da
família da criança, segundo Rocha (2011, p.26) é capaz de prevenir dificuldades,
defasagens, inadequações, distúrbios motores, afetivos e cognitivos. Deve ser iniciada
pela família se estendendo pela escola e meio social.
Indo além dessa estimulação inicial, a educação psicomotora bem realizada pode
detectar possíveis dificuldades futuras, como problemas na concentração, na
coordenação e dificuldade de aprendizagem; pode até corrigi-los sem desenvolver
consequências mais sérias. Assim as habilidades das crianças bem desenvolvidas
possibilitam que essas possam aprender melhor deixando de ter um corpo limitado
passando a ser mais perceptivo ao meio ambiente.
24
A psicomotricidade ajuda na formação da personalidade da criança e a falta de
motivação, a desatenção, que pode corresponder a problemas de organização dessa
personalidade, a afetividade de caráter. Sem dúvida contribui no avanço escolar
podendo alterar os princípios individuais da criança tornando-a mais ativa dentro de
suas habilidades motoras e facilitando sua exploração corporal.
2.2 A Psicomotricidade na Educação Escolar
Para entrar no mérito da educação deve-se fazer algumas considerações
referentes à Educação Infantil no âmbito da psicomotricidade no desenvolvimento das
crianças com faixa etária de 05 a 07 anos, pois a mesma está presente em todas as
atividades de desenvolvimento da motricidade como para o equilíbrio no domínio do
próprio corpo, além de ser um fator indispensável ao desenvolvimento global e
uniforme, base fundamental para o processo de aprendizagem.
Com isso pensasse no processo escolar pressupondo que a aprendizagem de
diversas habilidades motoras, com ou sem a mediação de um agente cultural (pais,
irmãos, amigos, professores, livros, imagens, etc.) pode-se afirmar que a
psicomotricidade é produzida por um processo de aprendizagem produzindo também
novas possibilidades, como o controle do corpo sendo um mero suporte da mente e/ou
da alma.
Aliás, o desenvolvimento psicomotor que foi mal constituído poderá apresentar
problemas na escrita, na leitura, na direção gráfica, na ordenação de sílabas, na distinção
de letras, no pensamento abstrato e lógico como na análise gramatical, dentre outros.
Por isso ressalva-se a importância do papel da escola nesse período inicial valorizando o
meio lúdico pedagógico.
Nessa vertente a ligação entre a psicomotricidade e a pedagogia teve origem nos
tempos de Le Boulch e nesse contexto está ligada a aprendizagem da criança e,
principalmente, a educação escolar. Rocha (2011, p.25), repercutindo as palavras de Le
Boulch (1992, p.24-25) assim descreve:
25
A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na escolar primária. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite prevenir inadaptações difíceis de corrigir quando já estruturados (...).
Le Boulch esclarece que a educação psicomotora é formadora de uma base
indispensável a toda criança, pois objetiva assegurar o desenvolvimento funcional.
Segundo Vayer (1984) a criança reconhece o mundo em que vive através de seu
corpo e para isso é importante que ela tenha consciência e controle de seu próprio corpo.
Pois é através da coordenação de seus movimentos e capacidade de deslocamento do Eu
que a criança se coloca para explorar o mundo e estabelecer seus conhecimentos.
Atualmente a educação psicomotora ganha espaço se destacando em diversas
instituições escolares e pré-escolares, clubes, espaços de recreação, etc. É utilizada
como estratégia de aperfeiçoamento nos trabalhos voltados para a promoção da noção
de infância, valorização da ação livre de brincar da criança proporcionando maior
independência dentro das relações.
2.2.1 A aprendizagem de crianças entre 05 e 07 anos no texto da LDB
As novas concepções sobre as maneiras, ritmos e conjunto de fatores físicos e
psicológicos que nos levam a aprendizagem evoluíram muito ao longo do século. Isto
em parte se deve às ciências e entre elas personagens como Claparéde, Montessori,
Shilder, Gessel, Piaget, Henry Wallon (1879-1962), Dupré, Jean Le Boulch e muitos
outros que contribuíram para que ciências como a pedagogia, a psicologia e a
psicomotricidade tivessem mais conhecimento sobre o desenvolvimento da criança.
Como reflexo nos trabalhos dos pesquisadores citados, os legisladores
brasileiros, por meio das leis educacionais, entre elas a LDB (Lei de Diretrizes e Base)
26
versão atualizada em 2004, apresentam enfoques para a aprendizagem de crianças que
iniciam o ensino Fundamental:
Após conceber a educação como um processo amplo, a LDB4 estabelece, no art. 2º, que aquele processo visa ao pleno desenvolvimento do educando. Este, entretanto, desde o início de sua vida, apresenta ritmo e maneiras diferentes para realizar toda e qualquer aprendizagem – andar, falar, brincar, comer com autonomia, ler, escrever etc., como apontam as contribuições das ciências humanas. (BRASIL, 2004, P.13)
Como a psicomotricidade está presente dentro dessa nova concepção de
aprendizagem da criança? A resposta a esta pergunta passa pela compreensão de todos
os pressupostos que ao longo da história da psicomotricidade vem sendo afirmados e
reafirmados pelos seus desenvolvedores ao dizer que o desenvolvimento da criança
objetivado pela escola deve ser pleno desde o início da sua vida. E que essa concepção
corrobora com os da psicomotricidade como ciência, no que tange aos problemas da
aprendizagem e suas relações com questões ligadas à motricidade, a mente e a
afetividade.
Rocha (2001, p.15 apud Meur e Staer, 1991) em concordância com os
parâmetros com que é definida a aprendizagem escolar vendo a criança como um todo,
de forma global, cita que é objetivo perseguido pela Psicomotricidade propiciar a
aprendizagem da criança como um todo, uma vez que a função motora, o
desenvolvimento intelectual e afetivo estão intimamente ligados.
É a Proposta Pedagógica do Ensino Fundamental que incorporará as crianças de
seis anos até então pertencentes ao segmento da Educação Infantil. Entre eles destacam-
se:
Ao reconhecer as crianças como seres íntegros que aprendem a ser e a conviver consigo mesma, com os demais e com o meio ambiente de maneira articulada e gradual (...). Dessa maneira, os conhecimentos sobre espaço, tempo, comunicação, expressão, natureza e as pessoas devem estar articulados com os cuidados e a educação para a saúde, a sexualidade, a vida familiar e social, o meio ambiente, a cultura, as linguagens, o trabalho, o lazer, a ciência e a tecnologia.
27
Como podemos observar a partir dos entendimentos legisladores quanto a
caracterização das crianças e dos objetivos relativos aos trabalhados pelos docentes e a
escola, a educação psicomotora ao ser colocada entre seus conceitos e temas como
espaço-especial, equilíbrio e coordenação motora estão inseridos no contexto da LDB,
pois ao ser incorporada, a pedagogia escolar dá a educação um importante instrumento
no trabalho para com a criança.
A psicomotricidade é um instrumento facilitador e importante nesse processo de
aprendizagem, uma vez que por meio de atividades corporais trabalha-se a consciência
corporal, a afetividade, maturação e cognição, sabendo que a criança aprende através do
movimento e que é por meio desse movimento global que se vai adquirindo o
movimento fino, mais preciso e concreto.
Assim os exercícios motores praticados desde a primeira infância estimulam a
organização funcional dos neurônios, de modo a gerar novos outros circuitos permitindo
a assimilação de aprendizagens cada vez mais complexas.
28
3. A PSICOMOTRICIDADE E A APRENDIZAGEM
A aprendizagem é algo que está presente por toda a vida do ser humano. No
entanto, se analisado as teorias sobre o processo pelo qual o homem vai construindo o
conjunto de competência física, psíquicas e afetivas encontra-se em suas bases a
importância do sistema psicomotor.
Pode-se encontrar na literatura várias concepções e conceitos para a
aprendizagem, no entanto o aprofundamento sobre os processos exigidos para que ela
aconteça, passa geralmente pela capacidade e pelo meio que procede ao sistema
psicomotor humano. Andrade et al (2006) em seu interessante artigo sobre “O
desenvolvimento motor, a maturação das áreas corticais e a atenção na aprendizagem
motora” escreve:
A aprendizagem resulta da recepção e da troca de informações entre o meio
ambiente e os diferentes centros nervosos (Romanelli, 2007). Desta forma a
aprendizagem inicia com o estímulo de natureza físico-química advindo do ambiente
que é transformado em impulso nervoso pelos órgãos dos sentidos.
O contexto que envolve o desenvolvimento humano que na verdade vai se
construindo em maturações e aprendizagens, inicia a partir dos primeiros dias de vida
até que o indivíduo seja capaz de dominar a linguagem verbal e a comunicação gestual.
Gestos esses que nada mais são que emissão de movimento ligado às emoções. Então
pelos movimentos que de forma inicial, mais internamente equilibrada, faz contato com
o mundo e com as demais características inerentes da condição humana.
Pereira e Calsa (2009) apud Fávero (2004) consideram a organização motora
como fundamental para o desenvolvimento das funções cognitivas, das percepções e dos
esquemas sensório-motores da criança, porque é essa organização que permite a criança
alcançar de forma satisfatória a sua maturidade nervosa. Assim, somados aos estímulos
do meio que a rodeiam como indivíduos elas vão alcançando novas capacidades de
aprendizagem.
29
Pereira e Calsa (2009) apud Tomazinho (2002) acrescentam e confirmam a
versão de que os estímulos propiciados pela psicomotricidade contribuem para o
desenvolvimento humano como um todo por considerarem que:
[...] o desenvolvimento corporal é possível graças a ações, experiências, linguagens, movimentos, percepções, expressões e brincadeiras corporais dos indivíduos. As experiências e brincadeiras corporais assumem um papel fundamental no desenvolvimento infantil, pois enfatizam a valorização do corpo na constituição do sujeito e da aprendizagem, assim a “[...] pré-escola necessita prioriza, não só atividades intelectuais e pedagógicas, mas também, atividades que propiciem seu desenvolvimento pleno. ”
Há muito, já ultrapassado o entendimento de que a criança aprenda apenas pela
acumulação de conteúdo ou que sua aprendizagem esteja prejudicada em função de sua
falta de aptidão. Hoje os problemas ligados as dificuldades da criança nos processos de
aquisição de novos conhecimentos, apontam as relações entre as formas como os
sujeitos vão se constituindo, enquanto seu “eu” suas capacidades expressivas por
movimento, linguagem e interação para com seu meio ambiente. Esse contexto,
segundo Cunha (1990) só reforçam a importância do desenvolvimento psicomotor e
cognitivo. Além disso, a autora constatou que as crianças com nível mais alto de
desenvolvimento psicomotor e conceitual, são as que apresentam os melhores resultados
escolar.
Dentro de uma linguagem mais científica, as relações entre aprendizagem e o
sistema motor podem ser entendidas pelas palavras de Andrade Et al (2006), quando o
mesmo observa que a linguagem e a memória tornam possível uma série de outros
aprendizados, sendo que começam juntas, se desenvolvem juntas e uma sempre apoiará
a outra. Isto porque segundo esse pesquisador, é por meio da linguagem que se fixa a
aprendizagem (não motora) e por meio da memória que não só se armazena, mas traz à
tona os conteúdos a serem expressos pela fala e movimento gestuais. Esse conjunto de
procedimentos passa:
A primeira zona responsável pelo desenvolvimento da linguagem é a área de compreensão da fala, ou área de Wernicke, localizada no lobo temporal (área de audição). Ligada a esta área está à área motora da fala (localizada no lobo frontal esquerdo) ou área de Broca. Está área está relacionada a capacidade de
30
emitir sons cada vez mais próximos daqueles percebidos (ANDRADE ET AL 2006, APUD ROMANELLI, 2003; GOLDBERG, 2002).
Mediante a esse processo de ensino-aprendizagem é muito importante que os
Educadores, principalmente de Educação Infantil, contenham o conhecimento sobre o
desenvolvimento infantil para que os conteúdos acadêmicos a serem trabalhados
estejam de acordo com as necessidades psicomotoras da faixa etária em questão.
3.1 A psicomotricidade no aprendizado escolar
Mencionado a importância da escola, destaca-se o universo onde as
aprendizagens são diretamente postas como objetivo. Para as crianças, principalmente
entre os 05 e 07 anos, as transformações no que tange as relações sociais, físicas
motoras, afetivas e intelectuais começam a atingir novos patamares. Nesse momento,
para Furtado (1988) os estímulos ao potencial psicomotor podem desencadear a abertura
de canais para diversas aprendizagens.
Rocha (2011) apud BPCS (1987) lembra que é pela escola, o instrumento
cultural que irá ajudar a criança a entender e aperfeiçoar seu universo pessoal e de
relacionamentos. São as experiências vividas pelas aprendizagens oferecidas pela escola
que a criança organizará suas emoções crescentes e as imagens intelectuais que lhes são
associadas.
A importância de que a criança tenha por meio da escola, desde sempre, mas
principalmente no ensino pré-escolar, oferecidas atividades motoras direcionadas para o
fortalecimento e consolidação das funções psicomotoras são segundo Nina (1999),
fundamental para o êxito das atividades do bom aprendizado da leitura e escrita.
Em consonância com Nina (ibid), Furtado (1998), evidencia que ao estimular o
aumento do potencial psicomotor da criança, amplia também muitos dos aspectos
psicomotores que influenciam na prontidão para ler e escrever.
31
Rocha (2011, p.89) faz colocações no sentido de nos mostrar que ao longo do
desenvolvimento da criança, a maturação e o intelectual está sempre entrelaçado com o
desenvolvimento psicomotor. Nesse processo a criança passa não só por aprendizagem
que lhe dá conhecimento de si mesma quanto o conhecimento do seu corpo, como
também das relações que ela estabelece para com o outro.
Colello (1995) identificou por meio de seus estudos que muitas escolas ainda
deixam em segundo plano a prática psicomotora, pois pensam no ato de escrever como
sendo um ato motor que repetido várias vezes por movimentos mecânicos e sem
sentido, possa ser fixado. Portanto a grande preocupação dos educadores durante o
processo de aprendizagem limita-se ao treinamento das letras.
Rocha (2011, p.89) ao lembrar que no processo de aprendizagem envolve a
capacitação para o exercício de uma série de tarefas, onde seu desenvolvimento será
estabelecido pela capacidade de aprender, criar, atingir, alcançar.
Diante de todo esse contexto não há dúvidas que o desenvolvimento psicomotor
de crianças entre 05 e 07 anos (passagem da pré-escola para o Ensino Fundamental)
deve ser estimulando e facilitando a aprendizagem.
Para alcance da aprendizagem as escolas devem adotar metodologias que visam
o desenvolvimento motor através de uma série de exercícios psicomotores, jogos e
brincadeiras. E para adoção desses exercícios Negrine (1995, p.25) faz algumas
observações sobre a metodologia dos professores destacando que independente da
atividade proposta, o educador deverá levar em consideração as funções psicomotoras
como o esquema corporal, a lateralidade, o equilíbrio, entre outros. E que uma função
psicomotora sempre se encontra associado a outras, sendo consciente o que almeja,
onde pretende chegar.
As estimulações psicomotoras são de suma importância para a evolução da
criança e estas são bem desenvolvidas no processo de aprendizagem. Dentre as áreas a
serem estimuladas estão estimulação de ritmo, coordenação, equilíbrio, postura, tônus,
lateralidade, estruturação espaço-temporal.
32
• Estimulação de Ritmo:
Rocha (2011, p. 51) observa que o ritmo não pode ser confundido com o movimento em
psicomotricidade, o ritmo é um meio de expressão. Em consonância com essa definição
Souza et AL (2011) acrescenta que “o tempo rítmico é aquele que demarca o compasso
de tudo o que se faz, como acontece com o ritmo do batimento cardíaco, da respiração
etc. Na orientação temporal também há noção de tempo cronológico que diz respeito às
ideias temporais como ontem, hoje, amanhã...” (SOUSA ET AL, 2011, p. 3).
No contexto escolar Rocha (2011) apud Coelho (1993, p. 80) lembra que os problemas
relativos ao ritmo levam a criança a perder a percepção dos sons causando:
[...] leitura lenta, silabada, com pontuação e entonação inadequadas. Na parte
gráfica, as dificuldades de ritmo contribuem para que a criança escreva duas ou
mais palavras unidades, adicionem letras nas palavras ou omita letras e/ou
sílabas.
Para o docente que está iniciando o processo de alfabetização nas primeiras
séries do ensino fundamental, as estimulações psicomotoras das crianças podem, sem
dúvida, garantir à criança um início de aprendizagem sem prejuízo em um dos pontos
principais da vida escolar, ou seja, a aquisição da escrita e da leitura.
• Coordenação
Conforme Santos (2006) é básica no processo de alfabetização, onde a mão
assume papel fundamental no que tange a aprendizagem da escrita, uma vez que ela
coordena o movimento entre olhos e mãos. A coordenação óculo pedal ao coordenar os
movimentos dos olhos e dos pés se estimulado, colabora para o desenvolvimento
também da prática da pintura, desenho e movimentos como o de comer, escovar os
dentes.
33
• Equilíbrio
Rocha (2011, p. 38) descreve o equilíbrio como sendo a capacidade de assumir e
manter uma posição corporal seja de pé, sentada ou de joelhos. É definido também
como a capacidade do organismo de manter posturas, posições e atitudes, compensando
e anulando todas as forças que agem sobre o corpo (CAETANO, 2005, p.2).
A criança em idade entre 05 e 07 anos usa das brincadeiras de correr e parar,
movimentos que fazem parte da forma postural ligadas ao equilíbrio estático e equilíbrio
dinâmico. Assim o equilíbrio é importante não somente para que a criança tenha o
controle sobre seu próprio corpo, mas também para participar com desenvoltura da
ludicidade proporcionada pelas brincadeiras que requerem movimentação.
• Tônus
Rocha (2011) apud Oliveira ao exemplificar a função da tonicidade na prática da
aprendizagem da criança, diz que aquelas crianças que tem alguma anomalia de
tonicidade escrevem tão forte que chegam a rasgar a folha ou são hipotônicas que quase
não se consegue ler. Isto ocorre por que:
A função tônica é aquela que mantém certa tensão no músculo e sustenta seu
esforço, ou seja, é a atividade que mantém em todos os momentos os músculos
em forma, na posição que tomaram e que lhes dá um grau variável de
consciência. Essa função, ao se exercer sobre os músculos, regula
constantemente suas diferentes atitudes ou maneiras de sustentar o corpo
(WALLON, p. 47, 1979 apud SÁNCHEZ MARTINEZ e PEÑALVER, p. 35,
2003).
34
A atenção para com os problemas relativos a tônus se justifica pelo papel
importante desse no desenvolvimento motor psicológico, uma vez que Rocha (2011)
apud Bueno (1998), classifica tônus (Tônus Muscular) ao movimento executado; o
Tônus Afetivo ligado ao estado de espírito; e Tônus Mental que é aquele ligado a
capacidade de atenção no momento da aplicação dos movimentos.
• Lateralidade
“A lateralidade é a capacidade de movimentar, controlar os dois lados do corpo
conjuntamente ou separado” (ROCHA 2011, p. 45). Souza (2011) acrescenta que “é a
partir da lateralidade que será determinado o tônus muscular de cada parte do corpo. O
lado que mais se exercita apresentará uma tonicidade mais desenvolvida”. A grande
revelação sobre a importância da lateralidade para as crianças entre 05 e 07 anos, é que
a partir dos 06 anos o docente deve estimular a escolha da mão que a criança escolherá
para praticar a escrita e a leitura.
• Estruturação espaço – temporal
É a organização das sensações relativas ao próprio corpo que o indivíduo
interioriza através dos estímulos que recebe do meio ambiente. Assim, mapeia o seu
corpo e torna-se capaz de identificar e localizar as diferentes partes do corpo, suas
posturas e atitudes em relação ao mundo exterior.
Por meio da estrutura espacial que a criança estabelece a relação das partes de
seu corpo, as distâncias entre ele e os objetos que lhe cercam, orientando-se. Já a
estrutura temporal é um conceito que envolve situações mais complexas. Inicialmente
podemos dizer que a estrutura temporal é aprendida pela criança a medida que se torna
capaz de ter consciência de uma existência realizada por ocupar um espaço. Em função
disso, o tempo, passado, presente e futuro são percebidos internamente.
35
Caso a criança não seja capaz de se situar no espaço-tempo, ela pode ter
dificuldade de identificar a sucessão de acontecimentos (antes, durante, depois). No que
se refere a deslocamento pode não conseguir organizá-los, levando em consideração as
cadências (rápida, lenta, etc.).
3.2 Dificuldades emocionais e a psicomotricidade
Na psicomotricidade deve-se ressaltar que durante todo processo de
aprendizagem existem dificuldades que interferem no desenvolvimento. Inúmeros
estudos são feitos no campo da Psicologia e da Psiquiatria buscando a melhor forma de
classificar os distúrbios que prejudicam a aprendizagem, bem como determinar suas
causas. Trata-se de um assunto complexo, que envolve conhecimentos que nem sempre
o pedagogo tem oportunidade de aprofundar na sua formação profissional como, por
exemplo: defeitos genéticos, distúrbios de personalidade, de conduta, defeitos
congênitos, disfunções cerebrais e outros.
Para melhor compreensão Drouet, R. (2002) diz ser necessária uma classificação
das principais causas, considerando que muitos deles têm mais de uma causa e em todos
há interferência de mais de um fator, seja ele somático ou psíquico. Pois o ser humano é
constituído por um todo organizado de sistemas com profunda vinculação entre si.
As causas podem ser dividas em diferentes categorias. São elas: físicas –
representadas pelas perturbações somáticas transitórias ou permanentes (febre, dor de
cabeça, dor de ouvido, cólicas intestinais, anemia, asma, verminoses e todos os males
que atinjam o físico); sensoriais – distúrbios que atingem os órgãos dos sentidos
responsáveis pela captação, percepção do meio exterior (visão, audição, olfato, tato,
equilíbrio, reflexos posturais, etc.); neurológicas – perturbações do sistema nervoso
central (todas as ações físicas e mentais consistindo com maior ou menor grau de acordo
com a área lesada); emocionais – distúrbios psicológicos ligados às emoções e aos
sentidos (o que não aparecem sozinhos, pois estão associados a problemas de outras
áreas como motora, sensorial, etc.); intelectuais ou cognitivas – aquelas que dizem
respeito à inteligência, sua capacidade de conhecer e compreender o mundo em que
36
vive; educacionais – o tipo de educação da infância que condicionará distúrbios que
prejudicarão na adolescência e na idade adulta (repercussões futuras); e,
socioeconômica – são problemas que se originam no meio social e econômico não
dependendo do educando (podendo ser favorável ou desfavorável ao indivíduo).
(DROUET, 2002).
Com relação às causas emocionais podemos ressaltar que há crianças que não
apresentam desenvolvimentos emocionais compatíveis como esperado para sua faixa
etária. Enquanto outras são sensíveis emocionalmente: choram ou riem muito sem um
motivo que justifique. Há casos também de crianças com tiques nervosos como
gagueira, podendo aumentar esses tiques nos períodos de provas (FERREIRA;
MATURATO, 2002).
Em um processo de ensino/aprendizagem, devem-se levar em conta as diferentes
formas de relacionamento humano. Isto é, deve-se observar, e muitas vezes transformar,
a maneira com que o professor trabalha com aluno, por exemplo, para o alcance dos
melhores resultados. Pois, independentemente da existência ou não de necessidades
educacionais especiais, cada aluno deve ser acompanhado de forma diferenciada para o
seu melhor desenvolvimento escolar.
Para Carvalho, M. (2010) na educação é grande a variedade de ambientes
colaborativos voltados ao ensino/aprendizagem, tornando-se necessário estudo sobre os
grupos sociais que o aluno com dificuldades está inserido. Isto inclui estudo das equipes
da instituição escolar, compreensão das funções e as estruturas de cada grupo para poder
utilizar o ambiente da maneira mais adequada e suprir seus objetivos, mesmo porque
cada grupo tem característica individual. E assim, para a Secretaria de Educação
Especial (BRASIL, 2005) agir de forma a se obter melhores resultados nos processos de
ensino/aprendizagem sem precisar rotular “alunos problemas” e sim, conhecendo e
respeitando as características do seu processo de aprendizagem.
Entre as circunstâncias adversas ao processo de aprendizagem encontram-se as
práticas parentais agressivas e punitivas, bem como os conflitos familiares que se
configuram como variáveis que podem contribuir para o surgimento e persistência dos
problemas da fase escolar. Embora comportamentos antissociais sejam influenciados
37
por seus relacionados, a cadeia de eventos começa no lar que incluem práticas
educativas coercitivas, punitiva ou de comparações entre irmãos (BOSSA, N, 2002).
Santos e Graminha (2011) corroboram a ideia anterior ao propor que as
dificuldades comportamentais e emocionais influenciam problemas acadêmicos motores
e que estes afetam os sentimentos e os comportamentos das crianças. Essas dificuldades
podem se expressar de forma internalizada por meio de ansiedade, depressão,
retraimento e sentimento de inferioridade quando exteriorizada por meio de
comportamentos e atitudes que geram conflitos com o ambiente.
De modo geral os problemas de aprendizagem têm sido frequentemente
associados à diferentes situações que envolvem tanto características pessoais da criança
com dificuldade, quanto condições do seu ambiente familiar e de ambientes mais
amplos (FARRAN; COOPER 1986, apud SANTOS; GRAMINHA, 2011).
Neste contexto de fatores de riscos que interferem no problema de aprendizagem
Speakman (2003, apud SANTOS; GRAMINHA, 2011) aponta temperamento difícil,
déficit de atenção, baixa tolerância à frustração e relacionamentos sociais pobres.
Ressalta ainda que crianças com problemas de aprendizagem apresentam modos de
enfrentamentos inadequados frente a situações cotidianas e as relações interpessoais,
sendo muitas vezes descritas como desobedientes, impacientes, agitadas e inseguras.
Assim, vale ressaltar a importância de um olhar diferenciado a cada criança e seu
processo de aprendizagem e atividades psicomotoras, prevalecendo suas capacidades e
potencialidades.
38
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo dos estudos sobre psicomotricidade foi evidenciado que embora seja
uma ciência jovem em comparações às outras, é uma ciência que ao ter como objetivo o
estudo do homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo
interno e externo tem muito a colaborar com o ser humano ao longo de sua vida.
Assim como o desenvolvimento humano é um processo em constante estágio de
maturação onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas, a
psicomotricidade é também ciência que em seu conhecimento básico interfere no
movimento, no intelecto e no afeto.
A psicomotricidade traz em suas fundamentações, pesquisadores como Piaget,
Wallon, Dupré, Jean Le Boulch, Montessori, Ajuriaguerra e muitos outros que se
dedicaram a estudar o desenvolvimento da criança, meios pelos quais ela alcança sua
maturação física afetiva, intelectual e social. Podem oferecer a criança que inicia na
escola a possibilidade de ter uma aprendizagem sob uma concepção de que o ser
humano é um todo e que por meio de seu sistema psicomotor, busca a aprendizagem de
forma global.
Ao levar para a criança, entre 05 e 07 anos, a psicomotricidade, pode-se estar
oportunizando a aprendizagem por meio do lúdico que lhe é peculiar pela idade, nas
formas de correr, pular, descobrir seu corpo, dominar os gestos da escrita, das sincronias
entre movimentos rítmicos e espaço-temporal. Estimula a capacidade criativa e as
interações sociais por meio das formas verbal e corporal de se expressar.
A importância da psicomotricidade já identificada por pesquisadores, continua a
ser um campo onde novas informações, técnicas e práticas prosseguem em
desenvolvimento. Portanto, mais que uma ciência recente é uma realidade a disposição
daqueles que entendem ser a aprendizagem algo que se realiza com o corpo em
movimento interno e externo, por aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas.
O modo pelo qual o indivíduo conhece o mundo, sua maior ou menor
capacidade de estabelecer relações, de criar coisas novas, de inventar, de construir e de
39
buscar soluções diferentes para um mesmo problema, vão depender muito de suas
estruturas mentais, suas estimulações positivas e de sua capacidade intelectual.
O aluno que apresenta dificuldade de aprendizagem a partir da sua
psicomotricidade tem a necessidade de um procedimento de avaliação psicomotor com
o objetivo de realizar um diagnóstico amplo, que ajude nas intervenções a serem
realizadas na minimização de suas dificuldades. O objetivo da interação com o
profissional da área é que a criança forneça dados que possibilitem identificar, entre
outras coisas do seu aspecto de desenvolvimento e aprendizagem, preferências,
aversões, reações para evitar níveis de independência emocional e cognitivo, linguagem
e conhecimento adquirido.
Vale ressaltar que o tempo escolar é algo dinâmico e delimitado em que os dias
são preenchidos por atividades e objetivos a serem atingidos pelos alunos. Com isso,
frente às dificuldades surgidas, seja pelo aprendiz ou pelo seu contexto, deve-se levar
em consideração a necessidade de se avaliar todos os envolvidos nesse processo como
os aspectos pedagógicos, cognitivos, emocional, social, orgânico e motores que podem
estar os influenciando.
Deve-se levar em conta também que todos os distúrbios – fala, audição,
emocional, comportamento, etc. – têm sua origem em causas diversas, sendo que todos
eles podem se constituir em obstáculos à aprendizagem.
O processo de formação da psicomotricidade evoluiu, sobretudo em relação a
compreensão do indivíduo como um ser em totalidade, embora alguns teóricos da
prática funcional centrava sua aplicabilidade puramente aos aspectos motores. No
entanto, a transição para a prática vivenciada possibilitou a percepção de que o corpo do
indivíduo é muito mais que um simples ato motor. O movimento é traduzido por
intermédio das emoções, dos sentimentos, das expressões e da aprendizagem por meio
das relações com o outro, permitindo novas possibilidades.
40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2007.
- ASSUNÇÃO, E.; COELHO, J. M. T. Problemas de Aprendizagem. São Paulo:
Ática, 1997.
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2002.
- BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Secretaria de Educação
Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a educação infantil. Brasília:
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