UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Simon Baron-Cohen, Matthias Riepe,...
Transcript of UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Simon Baron-Cohen, Matthias Riepe,...
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA PARA A ANÁLISE
DAS MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS
Por: Ana Monique Barra Chupin
Orientador
Prof. CAROLINE SIANLIAN KWEE
Rio de Janeiro
2011
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA PARA A ANÁLISE
DAS MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em
Psicopedagogia
Por: . Ana Monique Barra Chupin
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus queridos pais,
ao professor Jorge e a
todos os outros que direta
ou indiretamente me
auxiliaram na realização
deste trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos
meus pais, que com seus
conselhos auxiliaram na
minha caminhada e aos
professores que me deram
base para a realização do
mesmo.
5
RESUMO
Devido as mudanças que estão a cada dia ocorrendo no mundo, a educação exerce um papel fundamental no desenvolvimento dos indivíduos. Dessa forma, a psicopedagogia pode contribuir de forma significativa para a análise das múltiplas inteligência nos alunos, de forma a desenvolver suas potencialidades de forma plena e mostrar que todos possuem inteligência, sendo que algumas pessoas têm mais habilidades ou tendências para algumas atividades e menos para outras. Este estudo, baseado nos estudos de pesquisadores como Daniel Goleman, Celso Antunes, Butcher, Gardner, Luiz Machado, Hawkins, Piaget, entre outros, tendo como público-alvo, alunos da educação infantil (0 a 6 anos) e dos anos iniciais do ensino fundamental, entre 7 e 10 anos (1º ao 5º ano), pretende refletir sobre a inteligência humana, bem com verificar a importância das múltiplas inteligências e do papel das emoções no desenvolvimento e no processo de aprendizagem do indivíduo, além de identificar como o psicopedagogo pode atuar a fim de proporcionar o desenvolvimento global do aluno. No primeiro capítulo, a partir da leitura crítica e cuidadosa de teóricos como Hawkins (2005), Antunes (1999), Gardner (1994), Piaget (1961) e Goleman (1995), citados no decorrer do trabalho, estão relacionados os vários conceitos de inteligência, bem como a análise da inteligência sob a ótica de homens e mulheres, presente nas pesquisas de Simon Baron-Cohen, Matthias Riepe, Renato Sabbatini e John Gabrielli (2003), e também a verificação do papel das emoções e do conceito de inteligência emocional na vida dos indivíduos, baseado nos estudos de Daniel Goleman (1995). O segundo capítulo, baseado principalmente nas pesquisas de Gardner (1994), Piaget (1961), Goleman (1995), trata das múltiplas inteligências, caracterizando cada uma delas, bem como realizando a análise das mesmas com relação às dificuldades de aprendizagem e o contexto escolar como um todo. Por fim, o terceiro capítulo aborda a questão da contribuição da psicopedagogia para a análise das múltiplas inteligências nos alunos e as maneiras de desenvolvê-las na escola. Palavras-chave: Múltiplas Inteligências, psicopedagogia, educação, aprendizagem.
6
METODOLOGIA
O presente estudo tem a intenção de refletir sobre a importância das
múltiplas inteligências e do papel das emoções no desenvolvimento e no
processo de aprendizagem do indivíduo, bem como analisar a atuação do
psicopedagogo a fim de proporcionar o desenvolvimento global do aluno.
A presente pesquisa foi feita a partir do levantamento bibliográfico sobre
o assunto pesquisado. Também foram utilizados vários artigos de revistas e
periódicos, bem como consultas a sites na Internet sobre educação, psicologia
e relacionamento. Esta coleta foi primeiramente registrada em fichas
bibliográficas com nome da obra e local onde puderam ser, posteriormente
encontradas as informações, além de palavras-chave relacionadas ao tema em
questão.
Em seguida foi feita a leitura analítica desse material, através da qual se
destacaram os aspectos importantes do texto e do tema a ser abordado, bem
como a interpretação do mesmo e, por fim, foi redigido o texto final.
7
“A maior contribuição que a educação
pode dar ao desenvolvimento de uma criança é ajudá-la a escolher uma profissão onde
possa melhor utilizar seus talentos, onde ela será feliz e competente”.
Goleman
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................09
CAPÍTULO I - ESTUDANDO A INTELIGÊNCIA HUMANA..............................16
1.1. O conceito de inteligência...............................................................16
1.2. A inteligência masculina e feminina................................................24 1.3. A inteligência emocional..................................................................29 CAPÍTULO II - AS MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS......................................36
2.1. Caracterização das múltiplas inteligências...................................38
2.2. As dificuldades de aprendizagem e as múltiplas inteligências.....50
2.3. As múltiplas inteligências no contexto escolar de aprendizagem.54
CAPÍTULO III - CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA PARA
A ANÁLISE DAS MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS............................................56
3.1. Desenvolvendo as múltiplas inteligências na escola.................58
CONCLUSÃO...................................................................................................69
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .....................................................................77
ÍNDICE..............................................................................................................81
9
INTRODUÇÃO
Os últimos tempos têm sido marcados por inúmeras transformações.
Em meio a essas mudanças está a escola e, através dela, a educação, que
inserida nesse processo, deve colaborar para a transformação do mundo.
Como o mundo se transforma, as pessoas também vão adquirindo novos
interesses e a escola deve adequar-se às necessidades de sua clientela. É
este o desafio que a educação deve vencer nesse início de século
Diante dessas exigências, a escola precisa oferecer serviços de qualidade e um produto de qualidade, de modo que os alunos que passem por ela ganhem melhores e mais efetivas condições de exercício da liberdade política e intelectual.1(LIBÂNEO, 2001, p.23)
De acordo com Libâneo (2001), o maior objetivo da escola sempre foi o
ensino dos conteúdos, pois acreditava-se que a aprendizagem estava
totalmente ligada a acumulação de informações e conhecimentos. Hoje em dia
a escola mudou de foco, ou seja, atualmente o seu objetivo maior é fazer com
que os alunos desejem aprender e, para isso, ela precisa lançar mão de
informações interessantes que representem soluções para problemas
cotidianos. Cabe ao educador do século XXI buscar e conseguir proporcionar
uma aprendizagem realmente efetiva através da coordenação dos conceitos
ensinados com o que é realmente interessante para os alunos.
1. 1 LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? : novas exigências
educacionais e profissão docente. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001, p. 23.
10
Há mais de cem anos muitos pesquisadores, entre eles: Piaget,
Gardner, Goleman, Hawkins, Luiz Machado, estudam a inteligência humana.
Criam testes para medi-la, tentam descobrir a capacidade intelectual dos seres
humanos e levantam, a cada dia, diversas questões polêmicas sobre o
assunto.
À princípio acreditava-se que a inteligência estava ligada apenas ao
intelecto, podendo ser medida, quantificada através de testes específicos. Com
o tempo, os psicólogos foram descobrindo que apenas um alto quoeficiente
intelectual não bastava para que um indivíduo obtivesse sucesso na vida. Era
preciso também saber lidar com as emoções.
Atualmente, novas pesquisas lideradas por Gardner, já apontam para
outro caminho: o das inteligências múltiplas. Segundo esse autor, a inteligência
é encarada como um conceito geral, algo que todos têm. Sendo que algumas
pessoas têm mais habilidades ou tendências para algumas atividades e
menos para outras.
Baseado nesse pressuposto, podemos afirmar que o professor do
mundo moderno deve “esquecer” a sua especialidade e ser um professor de
inteligência, visando sempre o desenvolvimento da criatividade e da
percepção.
Através da disciplina que o professor leciona, ele deve criar condições
e orientar o aluno para que este aprenda de forma significativa e
individualizada, sabendo utilizar os conhecimentos adquiridos em sua vida
prática e futura.
11
O objetivo geral deste estudo é analisar a importância do
psicopedagogo e suas contribuições para a análise das múltiplas inteligências
no processo de aprendizagem e para o desenvolvimento global do aluno.
Além disso esta pesquisa também pretende refletir sobre a inteligência
humana, bem com verificar a importância das múltiplas inteligências e do papel
das emoções no desenvolvimento e no processo de aprendizagem do
indivíduo, além de identificar como o psicopedagogo pode atuar a fim de
proporcionar o desenvolvimento global do aluno.
Para alcançar os objetivos pretendidos foi necessário investigar sobre
como deve ser a atuação da psicopedagogia para a análise das múltiplas
inteligências e como essas podem interferir positivamente no desenvolvimento
global do indivíduo.
A hipótese levantada que serviu de base para os questionamentos
levantados é a de que a psicopedagogia pode atuar na análise e das múltiplas
inteligências, bem como estimulá-las a fim de que estas possam interferir
positivamente no desenvolvimento global do indivíduo.
O público-alvo escolhido para dar suporte a esta pesquisa, que se
baseou nos estudos de Daniel Goleman, Celso Antunes, Butcher, Gardner,
Luiz Machado, Hawkins, Piaget, entre outros, foram alunos da educação
infantil (0 a 6 anos) e dos anos iniciais do ensino fundamental, entre 7 e 10
anos (1º ao 5º ano).
Conhecer cada criança em particular para que se possa estimular seus
diferentes tipos de inteligência, é a proposta de muitos estudiosos que
revolucionaram os conceitos sobre aprendizagem e educação, sobretudo
12
Piaget (1961). Na década de 80, a teoria das inteligências múltiplas começou
a ser elaborada, tendo como principal representante, o Psicólogo norte-
americano Howard Gardner. Seu trabalho examina habilidades e estilos
reconhecendo diferentes aspectos da inteligência, discordando principalmente
da utilização de testes padronizados para medir a inteligência, e enfatizando a
existência dos diversos aspectos da capacidade humana para a resolução de
problemas.
Outros autores como Goleman (1995) e Antunes (1998), baseando-se
nas pesquisas de Gardner (1994) , também estudam o tema, sobre as diversas
capacidades humanas, sendo que Goleman, observa diretamente a maneira
de cada pessoa lidar com os seus sentimentos, conflitos, com os outros, e a
influência que isto poderá ter na vida pessoal e profissional de cada indivíduo.
O trabalho de Piaget (1961), revela também a grande importância do estudo da
inteligência e suas conseqüências para a educação.
Sobre o Quociente de Inteligência (Q. I.), Goleman (1995), um jornalista
e psicólogo norte-americano, duvidando de um alto Q. I. de um indivíduo, fez o
caminho mais seguro para o seu sucesso profissional, pois revelou que a
maioria das pessoas bem sucedidas têm como característica seu equilíbrio
emocional e não um Q. I. muito alto. Segundo Goleman, o controle das
emoções é fator essencial para o desenvolvimento da inteligência do indivíduo,
pois não há uma loteria genética para definir vitoriosos e fracassados no jogo
da vida. O autor procura provar que, embora haja pontos que determinam o
temperamento, muitos dos circuitos cerebrais da mente humana são maleáveis
e podem ser trabalhados. Estudando o conjunto de aptidões que contribuem
13
para esse equilíbrio, Goleman desenvolveu o conceito de Inteligência
Emocional, que vem pôr em questão certas visões estreitas que até hoje
dominam o conhecimento humano. Ele afirma que as aptidões emocionais
podem e devem ser desenvolvidas no ambiente familiar e na escola, e que, a
base genética que determina nossas características emocionais se consolida
ao longo da infância, cujo desenvolvimento positivo nessa fase se refletirá em
todos os aspectos de nossa vida futura.
Pesquisadores da universidade norte-americana de Harvard, liderados
por Gardner (1994), elaboraram a Teoria das Inteligências Múltiplas, divulgada
em 1986. Este autor, professor norte-americano residente em Cambridge, no
subúrbio de Boston, formado em psicologia, doutor pela Universidade de
Harvard, tem suas atividades atuais centralizadas nessa mesma instituição de
ensino, incluindo um estudo sobre se as pessoas podem ser criativas e
também responsáveis.
Gardner cresceu e aprendeu num país onde o uso da computação é
muito mais avançado que em outros países. Estudou neurologia numa
universidade de ponta e seu desenvolvimento intelectual processou-se onde a
investigação sobre a atuação dos neurônios e do sistema nervoso central
passou a representar o foco de investimentos de saúde no país. Nesse
contexto, pôde estudar a fundo a visão do cérebro em funcionamento,
possibilitada por uma metodologia computadorizada inovadora, capaz de obter
imagens vivas desse órgão.
Até pouco tempo atrás, o cérebro humano constituía uma “caixa de
mistérios” e perguntas sobre como ocorriam os fenômenos da aprendizagem, o
14
processamento da emoção, os estados de atenção e as competências
inerentes às várias inteligências poderiam ser especuladas e suas reações
observadas. Muitas perguntas foram respondidas, mas outras ainda continuam
aguardando definições. Atuando através dos resultados de estudos mais
recentes, já é possível saber quando e por que aprendemos, que elementos
podem influir num maior ou menor domínio sobre a atenção, e que áreas
cerebrais são movimentadas quando se dispara uma reação. A ciência tem
ótimas novidades para quem quer saber por que existem pessoas que
“parecem” mais inteligentes que outras e, principalmente, se é possível e como
é possível estimular a inteligência.
O estudo em questão está dividido em três capítulos. No primeiro
capítulo, a partir da leitura crítica e cuidadosa de teóricos como Hawkins
(2005), Antunes (1999), Gardner (1994), Piaget (1961) e Goleman (1995),
citados no decorrer do trabalho, estão relacionados os vários conceitos de
inteligência, bem como a análise da inteligência sob a ótica de homens e
mulheres, presente nas pesquisas de Simon Baron-Cohen, Matthias Riepe,
Renato Sabbatini e John Gabrielli (2003), e também a verificação do papel das
emoções e do conceito de inteligência emocional na vida dos indivíduos,
baseado nos estudos de Daniel Goleman (1995).
O segundo capítulo, baseado principalmente nas pesquisas de Gardner
(1994), Piaget (1961), Goleman (1995), trata das múltiplas inteligências,
caracterizando cada uma delas, bem como realizando a análise das mesmas
com relação às dificuldades de aprendizagem e o contexto escolar como um
todo.
15
Por fim, o terceiro capítulo aborda a questão da contribuição da
psicopedagogia para a análise das múltiplas inteligências nos alunos e as
maneiras de desenvolvê-las na escola.
16
CAPÍTULO I
ESTUDANDO A INTELIGÊNCIA HUMANA
1.1. O conceito de inteligência
De acordo com a Britannica Concise Encyclopedia2, a inteligência pode
ser definida na educação, como a capacidade de aprender, compreender ou
lidar com situações novas ou desafiadoras. Em psicologia, a inteligência pode
ser medida por critérios objetivos (como através dos testes de Q.I.), estando o
termo ligado mais especificamente a capacidade de aplicar o conhecimento
para modificar o seu ambiente ou a capacidade de pensar abstratamente.
Nessa visão, a inteligência é analisada como resultante de uma combinação
de características herdadas e de fatores ambientais (de desenvolvimento e
social). O assunto continua muito debatido, e muitos pesquisadores têm
tentado mostrar que quer a biologia (especialmente os genes) ou o ambiente
(em especial condições refletindo classe sócio-econômica) são mais ou menos
responsáveis pela produção de diferenças entre os seres humanos.
Hawkins (2005) estudou o cérebro para o desenvolvimento da
inteligência artificial, mais especificamente para a criação de computadores
cada vez mais eficientes. Ele acredita que nossos cérebros funcionam com um
princípio completamente diferente do que computadores. Isso não significa que
2 "Inteligência humana". Encyclopædia Britannica. Encyclopædia Britannica Online. Encyclopædia Britannica,
2011. Web. 28 de Maio. 2011.
<http://www.britannica.com/EBchecked/topic/289766/human-intelligence >.
17
você não pode copiar um cérebro em um computador, mas você tem que
entender o que o cérebro irá fazer em primeiro lugar.
Segundo esse autor, inteligência é simplesmente a capacidade de
formar um modelo interno do mundo e usá-lo para fazer previsões. Porém,
essa idéia tem implicações profundas, tais como: Não há diferença
fundamental entre a inteligência humana e a inteligência animal. Ou seja, um
gato do mundo, por exemplo, possui uma inteligência que lhe permite
conseguir habilmente prever onde buscar seu alimento e como consegui-lo. De
fato, os animais inferiores também possuem poderes rudimentares de memória
de previsão, já que até mesmo uma criatura unicelular tem uma reivindicação à
inteligência, uma vez que vasculha seu micromundo em busca de nutrientes.
Conforme a definição que se tome, pode ser considerado um dos
aspectos da personalidade. Existem duas definições de inteligência que podem
ser consideradas. A primeira, de Intelligence: Knowns and Unknowns, um
relatório de uma equipe congregada pela Associação Americana de Psicologia,
em 1995:
"Os indivíduos diferem na habilidade de entender ideias complexas, de se adaptarem com eficácia ao ambiente, de aprenderem com a experiência, de se engajarem nas várias formas de raciocínio, de superarem obstáculos mediante o pensamento. Embora tais diferenças individuais possam ser substanciais, nunca são completamente consistentes: o desempenho intelectual de uma dada pessoa vai variar em ocasiões distintas, em domínios distintos, a se julgar por critérios distintos. Os conceitos de 'inteligência' são tentativas de aclarar e organizar esse conjunto complexo de fenômenos."
18
Uma segunda definição de inteligência vem de Mainstream Science on
Intelligence, que foi assinada por cinquenta e dois pesquisadores em
inteligência, em 1994:
"uma capacidade mental bastante geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender ideias complexas, aprender rápido e aprender com a experiência. Não é uma mera aprendizagem literária, uma habilidade estritamente acadêmica ou um talento para sair-se bem em provas. Ao contrário disso, o conceito refere-se a uma capacidade mais ampla e mais profunda de compreensão do mundo à sua volta - 'pegar no ar', 'pegar' o sentido das coisas ou 'perceber' uma coisa."
Hawkins afirma que a inteligência pode ser definida “como a capacidade
mental de raciocinar, planejar, resolver problemas, abstrair ideias,
compreender ideias e linguagens e aprender”. (2005, p.68). Os leigos
geralmente percebem o conceito de inteligência sob um âmbito maior, mas
para a Psicologia, o estudo da inteligência geralmente entende que este
conceito não compreende a criatividade, o caráter ou a sabedoria.
A palavra inteligência é resumida pelo Pequeno Dicionário ilustrado
brasileiro da língua portuguesa como “a faculdade de compreender”.
Antunes (1999) declara sobre esse assunto que:
“A palavra inteligência tem sua origem da junção de outras duas palavras latinas, a palavra inter (entre) mais a palavra eligere (eleger ou escolher). Adaptando-se a origem desse termo ao conceitual atual de inteligência chega-se a idéia de que a inteligência é a escolha (melhor) entre duas ou mais situações”. (ANTUNES, 1998, p. 16 e 17)
19
Dessa maneira, o autor defende a idéia de que é inteligente que escolhe
a melhor saída ou a melhor resposta em qualquer situação do cotidiano,
indicando a capacidade de que dispomos para, através da seleção
penetrarmos na compreensão das coisas.
Muitas vezes ouvimos alguém dizer que fulano é inteligente porque tira
notas boas na escola ou porque passou num concurso, Porém, esse é um
assunto que permeia, influencia o sistema educacional e que foi e ainda é alvo
de pleno interesse de vários psicólogos, principalmente de Howard Gardner,
conduzindo proposições que prostam antigos padrões de uma visão tradicional
sobre a inteligência.
São várias as maneiras de avaliar as capacidades mentais de crianças e
adultos no qual podemos citar os testes padronizados com itens capazes de
explorar os numerosos aspectos do pensamento humano tais como:
problemas de aritmética, provas de vocabulário, conhecimentos gerais,
raciocínio verbal (importante na comunicação e expressão), relações espaciais
(fator primordial na percepção entre objetos e conjuntos). Gardner critica estes
conceitos que simplificam a inteligencia em propriedade única da mente e
também instrumentos chamados testes de inteligência que pretendem medir a
inteligência de modo definitivo.
Para Gardner (1994) os métodos de avaliação adotados para medir a
inteligência são insuficientes para verificar se uma criança é ou não inteligente,
e ainda, os testes de QI predizem apenas o desempenho escolar, mas não
20
predizem se futuramente, quando concluída sua formação acadêmica, se o
indivíduo terá sucesso em sua vida profissional, pois é necessário que se faça
uma abordagem de forma contínua e sistemática que permita maximizar três
habilidades: Habilidade criativa (geram novas idéias) e habilidade prática (para
por suas idéias em prática e persuadir os outros de seu valor).
O mais importante a entender é que a inteligência não é algo com a
qual você nasce: você a desenvolve. Isso implica que a inteligência pode
aumentar, depende do meio em que a criança está inserida, pois seu
desenvolvimento se dá através de estímulos, incentivos, ensinamentos do
cotidiano. Pais e professores contribuem com uma parcela considerável pra o
desenvolvimento da inteligência da criança.
Logo, podemos concluir que a inteligência se dá através de procesos
rígidos por estímulos capazes de proporcionar à criança as individuais formas
adequadas à resolução de um problema, estabelecendo conexões entre as
diversas possibilidades norteadas pela mente.
Na década de 1950, quando ainda estudante, após ter conquistado uma
elevada reputação como biologista e zoologista, Jean Piaget (1961),
desenvolveu testes de inteligência cujo interesse não estava voltado para as
diferenças individuais, mas para os modos de funcionamento. Inicialmente, ao
observar, do ponto de vista biológico, os processos de pensamento das
crianças, o autor descobriu muitas diferenças entre os conceitos das crianças
em vários estágios de desenvolvimento, e entre os conceitos de crianças e os
de adultos. Quase todas as suas observações referiam-se aos seus três filhos,
21
criando então, métodos experimentais para verificar se suas interpretações
estavam corretas. Estas observações foram formalizadas pelo psicólogo
quando instituiu que todas as crianças passam sucessivamente por certos
estágios, e que muitos conceitos básicos, essenciais para o pensamento
adulto formal, só se tornam disponíveis es estágios posteriores.
O trabalho de Piaget tem grande importância para o estudo da
inteligência e tem também importantes conseqüências para a educação.
Segundo o autor, a natureza e o funcionamento da inteligência mudam
radicalmente de uma idade para outra. A inteligência formal, tal como é
apresentada e utilizada pelo adulto, trabalha de maneira diferente e usa
conceitos de um tipo do empregado pela inteligência concreta, e é ainda mais
diferente da inteligência sensorio-motora, que é tudo de que dispõe a criança
ainda quando bebê.
“O ato de inteligência pressupõe, pois, uma regulação energética interna (interesse, esforço, facilidade, etc.) e externa. Regulações são de natureza afetiva e comparáveis a todas as demais regulações dessa ordem.' (PIAGET, 1961, p.16)
Dessa forma, reciprocamente, os elementos perceptivos ou intelectuais,
que deparamos em todas as manifestações intelectuais emocionais interessam
à vida cognitiva como qualquer reação perceptiva ou inteligente. O que o senso
comum chama de sentimentos e inteligência, considerando-os como duas
faculdades opostas entre si, são simplesmente as condutas relativas às
pessoas e as que se referem idéias ou coisas: mas em cada uma dessas
condutas intervém os mesmos aspectos afetivos e cognitivos da ação,
22
aspectos sempre reunidos de fato e que portanto não caracterizam de modo
algum faculdades independentes.
A inteligência, para Piaget, não consiste numa categoria isolada e
descontínua entre as demais: é a forma de equilíbrio a que tendem todas as
estruturas cuja formação se deve procurar desde a percepção, o hábito e os
mecanismos sensório-motores.
Através de seus experimentos, Piaget mostrou que cada estágio
incorpora o anterior, em vez de substituí-lo, e que neste sentido, o
desenvolvimento cognitivo é hierárquico, podendo assim, observar
consideráveis diferenças entre crianças, mas que nos termos de Piaget,
atingiram o mesmo estágio de inteligência. Segundo o autor,
“a inteligência constitui o estado de equilíbrio no sentido a que tendem todas as adaptações sucessivas de ordem sensório-motora e cognitiva, assim como todas as trocas assimiladoras e acomodadoras entre o organismo e o meio”. (PIAGET, 1961, p.21)
Piaget durante sua carreira, se interessou muito pelos erros que as
crianças cometiam quando tentavam resolver itens de um teste de inteligência,
afirmando que o importante não é a precisão da resposta da criança, mas as
linhas de raciocínio que ela percorreu. O próprio Piaget jamais incumbiu-se de
criticar o movimento de testagem de inteligência, mas ao analisar as
estratégias científicas que realizou sobre algumas inadequações do programa
Binet, citado em seu livro. Segundo Piaget, o movimento de Q.I.(Quociente de
Inteligência) é cegamente empírico, fundamenta-se simplesmente em testes
com algum poder predativo sobre o sucesso escolar e, apenas marginalmente,
numa teoria de como a mente funciona. Não existe nenhuma visão de
23
processo, de como se procede, há simplesmente a questão de a pessoa
chegar a resposta certa. Além disso, as tarefas apresentadas nos testes de
Q.I., são distantes da vida cotidiana.
Inicialmente, segundo Piaget (1961), o bebê entende o mundo
principalmente através dos seus reflexos, suas percepções sensoriais e suas
ações físicas sobre o mundo. Após um ano ou dois, ele chega a um
conhecimento prático ou sensório-motor do mundo dos objetos. Equipado com
este conhecimento ele pode orientar-se em seu meio e reconhecer que um
objeto continua a existir no espaço e no tempo mesmo quando encontra-se
fora de vista. A seguir, a criança começa a desenvolver “ações interiorizadas”
ou “operações mentais”, são ações que podem ser desempenhadas sobre o
mundo dos objetos e apenas cerebralmente, dentro da cabeça, através da
fantasia. Ao mesmo tempo, a criança também torna-se capaz de utilizar
símbolos, para significar objetos da vida real no mundo e pode tornar-se hábil
em entender diversos sistemas simbólicos, como a linguagem ou desenho.
Estas capacidades de “interiorização” e “simbolização” em desenvolvimento
atingem um ponto elevado por volta dos sete ou oito anos, quando a criança
torna-se capaz de realizar “operações concretas”. A criança mostra-se agora
capaz de raciocinar sistematicamente sobre o mundo dos objetos, números,
tempo, espaço, etc.
Certamente, o autor diz que um estágio final de desenvolvimento entra
em existência no início da adolescência. Agora capaz de “operações formais”,
o jovem pode raciocinar sobre o mundo não apenas através de ações ou de
24
símbolos isolados, mas calculando as implicações de um conjunto de
proposições relacionadas.
1.2. A inteligência masculina e feminina
Homens e mulheres são visualmente diferentes tanto em sua estrutura
corporal quanto nas estruturas cerebrais. De acordo coma reportagem de
Carin Homonnay Petti, de Londres, para a Revista Galileu, em 2003, cada um
dos sexos tende a utilizar o cérebro de modo diferente no seu dia a dia.
A jornalista, baseando-se nos estudos de pesquisadores como o
psicólogo Simon Baron-Cohen, da Universidade de Cambridge, no Reino
Unido e o neurologista Matthias Riepe, da Universidade de Ulm, Alemanha,
afirma que as diferenças exitentes entre o cérebro masculino e feminino são
responsáveis por aptidões que caracterizam cada um dos sexos, além, é claro,
dos fatores culturais, que também geram algum tipo de influência.3
Para os pesquisadores britânicos, o cérebro feminino tende a ser mais
organizado, já que as mulheres costumam se sair melhor em atividades que
exigem fluência verbal, coordenação motora fina, percepção visual e
associações de idéias . Já o cérebro masculino apresenta mais precisão nas
atividades de acertar alvos, além de facilidade para atividades de orientação
espacial, bem como visualização de objetos em rotação, identificação de
3 In: PETTI, Carin Homonnay . Você pensa como homem ou como mulher? Revista Galileu, Edição.144, de Julho/2003. São Paulo: Ed. Globo.
25
figuras geométricas escondidas num desenho mais amplo, além do cálculo de
distâncias e velocidades.
É importante resaltar que, mesmo apresentando algumas diferenças,
não se pode dizer que alguém é mais ou menos inteligente que outro. Nos
testes de QI (Quoeficiente de Inteligência), homens costumam ir melhor nas
questões relacionadas à inteligência não-verbal; e mulheres, nas de
inteligência verbal. Na média, porém, o Q.I. feminino e o masculino são os
mesmos.
Muitos são os estudos que apontam diferenças entre os cérebros
masculino e feminino, para Baron-Cohen, há uma diferença básica entre a
média dos homens e das mulheres. Pelo seu raciocínio, homens tendem a ter
mais habilidade na sistematização. Ou seja, têm o cérebro mais bem
estruturado para entender sistemas baseados em regras rígidas de causa e
conseqüência. Daí a maior habilidade masculina nas ciências exatas e na
orientação espacial. Já as mulheres apresentam mais empatia. Mulheres
tendem a ter mais facilidade em identificar emoções alheias e em responder de
forma apropriada. Para Baron-Cohen, a empatia é estreitamente associada à
habilidade verbal. Um fator é ao mesmo tempo causa e conseqüência do outro.
Mas Baron-Cohen, pesquisador citado na repostagem da revista
Galileu4 acredita haver também o cérebro misto, que tem na mesma
quantidade, habilidade para empatia e para a sistematização. Entretanto,
4 Você pensa como homem ou como mulher? Revista Galileu, Edição.144, de Julho/2003. São Paulo: Ed. Globo.
26
outros pesquisadores como o psiquiatra Luiz Cuschnir, coordenador do Gender
Group do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e do Centro de
Estudos de Identidade do Homem e da Mulher, e o neurofisiologista Renato
Sabbatini, diretor do Núcleo de Informática Médica da Unicamp, contestam as
ideias dos pesquisadores britânicos alegando que a cultura também é um fator
importante no que se refere a habilidade cerebral e que os testes criados para
diagnosticar as diferenças entre homens e mulheres são muito generalizados e
ultrapassados e não testam a verdadeira contribuição do cérebro em adultos,
uma vez que a influência ambiental é fundamental. Para eles a conciliação
entre sistematização e empatia é regra, não exceção.
Cohen (2003), até acredita que a cultura seja importante, porém, os
aspectos biológicos devem ser mais considerados. Para o pesquisador
britânico um dos principais responsáveis pelas diferenças entre os dois sexos é
o hormônio masculino testosterona. Segundo algumas teorias, quanto maior o
nível de testosterona nos fetos, maior o desenvolvimento do lado direito do
cérebro, tradicionalmente relacionado à inteligência espacial.
Para Baron-Cohen (2003), uma das explicações para os homens
usarem apenas o lado esquerdo para funções lingüísticas poderia ser que, no
sexo masculino, o lado direito estaria ocupado com tarefas relacionadas à
inteligência espacial e à sistematização. Já as mulheres teriam mais espaço
disponível no hemisfério direito para processar também informações
lingüísticas.
27
A origem das diferenças biológicas entre os cérebros de cada sexo,
segundo Cohen está na evolução da espécie, já que os nossos ancestrais
tinham papéis bem definidos na comunidade, que exigia habilidades
específicas. Para os homens, quanto maior a orientação espacial e habilidade
para produzir armas – fatores associados à sistematização -, maiores as
chances de sucesso na caçada. Também a maior dose de agressividade e
menor grau de empatia, muitas vezes eram necessários para derrotar os
adversários. Tolerância à solidão era outro fator favorável às longas
empreitadas masculinas. Bons caçadores aumentavam a chance de
sobrevivência e de ascensão social. Quanto maior sua posição no grupo, maior
seu acesso às mulheres e mais descendentes para espalhar seus genes. Em
relação as mulheres, a maior empatia e habilidade para comunicação
ajudavam não só a cuidar dos filhos como a conseguir ajuda no grupo para
tomar conta das crianças, fatores essenciais para a sobrevivência da prole.
Entretanto, para o psicólogo John Gabrieli, da Universidade Stanford,
nos EUA, as diferenças cerebrais não estão relacionadas necessariamente a
fatores genéticos, para ele o cérebro é capaz de se adaptar para dar conta de
suas tarefas.
A inteligência humana em relação a possíveis diferenças entre os
cérebros masculinos e femininos ainda é um tema polêmico e delicado. É fato
que existe um consenso geral de que há grandes diferenças entre a
sensibilidade feminina e a masculina. Dessa forma, é aceitável que os
conjuntos de funções que estão relacionadas basicamente aos cérebros
28
feminino e masculino e que suportam estas sensibilidades também serão
diferentes.
Se dermos a homens e mulheres testes de inteligência que privilegiem
em maior grau a sensibilidade feminina seria de se esperar que as mulheres
obtivessem melhores resultados e vice versa. Porém, o que se percebe, é que
todos, em alguma medida memorizamos uma representação dos outros em
que incluímos além da sua imagem algumas características; obviamente, a
partir do nosso ponto de vista. Entre eles estará uma estimativa intuitiva da sua
inteligência. Como essa aproximação se realizará com uma escala pessoal da
inteligência humana, não é de estranhar que muitas mulheres digam,
totalmente convencidas, que são mais inteligentes que os homens e vice-
versa. De fato, todas e todos têm razão desde o seu ponto de vista ou escala
de referência.
Como não é possível se chegar a uma escala absoluta, a solução seria,
segundo os estudiosos do assunto, utilizarem uma escala neutra em relação
ao gênero. Ou seja, devem ser usados diferentes grupos de formulários ou
perguntas que consigam, através da ponderação, um resultado global neutro
com relação ao gênero.
Em alguns casos, como no TCI, teste baseado em séries de domínios,
os valores corrigem-se diretamente com escala diferente em função do gênero,
masculino ou feminino. Em outros casos, corrigem-se os resultados em função
da idade. Para idades superiores aos 30 anos vai-se premiando o resultado
29
por considerar que existe uma queda no rendimento ainda que não no
potencial.
1.3. A inteligência emocional
Em meados dos anos de 1990 surgiu uma expressão bastante utilizada
atualmente no que se refere às capacidades cerebrais que é a do conceito de
inteligência emocional. Isso se deu devido a publicação do livro de Daniel
Goleman, em 1995, que analisa a inteligência a partir de diferentes
perspectivas.
A Inteligência Emocional está relacionada a habilidades tais como
motivar a si mesmo e persistir mediante frustações; controlar impulsos,
canalizando emoções para situações apropriadas; praticar gratificação
prorrogada; motivar pessoas, ajudando-as a liberarem seus melhores talentos,
e conseguir seu engajamento a objetivos de interesses comuns. Podemos
dividir a inteligência emocional em dois tipos: inter-pessoal e intra-pessoal.
A inteligência Inter-pessoal é a habilidade de entender outras pessoas: o
que as motiva, como trabalham, como trabalhar cooperativamente com elas.
Engloba: a Organização de Grupos, uma habilidade essencial da liderança,
que envolve iniciativa e coordenação de esforços de um grupo, habilidade de
obter do grupo o reconhecimento da liderança, a cooperação espontânea; a
30
Negociação de Soluções, cujo papel do mediador torna-se fundamental,
prevenindo e resolvendo conflitos; a Empatia ou Sintonia Pessoal, que é a
capacidade de, identificando e entendendo os desejos e sentimentos das
pessoas, responder (reagir) de forma apropriada de forma a canalizá-los ao
interesse comum; e a Sensibilidade Social, que pode ser entendida como a
capacidade de detectar e identificar sentimentos e motivos das pessoas.
Já a Inteligência Intra-Pessoal, é a mesma habilidade descrita
anteriormente, só que voltada para si mesmo. É a capacidade de formar um
modelo verdadeiro e preciso de si mesmo e usá-lo de forma efetiva e
construtiva.
Goleman (1995) mapeia a inteligência emocional em cinco áreas de
habilidades: 1. Auto-Conhecimento Emocional – que é a capacidade de
reconhecer um sentimento enquanto ele ocorre. 2. Controle Emocional – que
consiste na habilidade de lidar com seus próprios sentimentos, adequando-os
para a situação. 3. Auto-Motivação - que significa dirigir emoções a serviço de
um objetivo é essencial para manter-se caminhando sempre em busca. 4.
Reconhecimento de emoções em outras pessoas. e 5. Habilidade em
relacionamentos inter-pessoais.
As três primeiras áreas acima referem-se Inteligência Intra-Pessoal. As
duas últimas, a Inteligência Inter-Pessoal.
31
De modo geral, o conceito de inteligência emocional é bastante difuso,
uma vez que acrescenta o adjetivo emocional sendo, pelo menos,
parcialmente contraditório com o conceito de inteligência pura e simples.
Sempre houve tentativas de se retirar a importância ou a relevância à
característica da inteligência pessoal. É feita uma distinção em termos
conceituais sobre o que é ser inteligente e o que é ser esperto. No conceito ou
definição de inteligência emocional intervêm palavras de difuso ou muito
variado significado como: inteligência, controle, emoções, sentimentos, êxito
social, bem-estar pessoal, etc.
Esse tema é por si só bastante complexo. A Teoria Cognitiva Global5
dedica uma parte sobre às emoções no livro sobre a vontade. Em primeiro
lugar separam-se as emoções dos sentimentos, relegando estes para um
plano espiritual. As emoções configuram-se como reações automáticas do
corpo tanto de caráter cognitivo como puramente fisiológico ou não cognitivo.
Neste sentido, as emoções são como programas de atuação imediata que
foram sendo criadas ao longo da vida e formam parte do caráter de uma
pessoa.
Socialmente o conceito de inteligência emocional é adequado para
fomentar o espírito de superação e de trabalho dos cidadãos. Também não
estaria muito bem do ponto de vista político assinalar as possíveis diferenças
de caráter genético das habilidades cerebrais. Pela mesma razão, os meios de
comunicação geral e revistas de cérebro, bem como os diversos profissionais
32
concordarão com o conceito moderno de inteligência emocional devido a
possibilidade de auto-melhoria. A grande vantagem da inteligência emocional é
que ela permite que qualquer pessoa consiga ser inteligente, e que a pessoa
se tornará melhor ainda se for inteligente emocional. Além disso, esta
perspectiva aumenta a auto-estima pessoal ao pensar que inclusive os muitos
inteligentes, em sentido estrito, não conseguem ser inteligentes emocionais. É
de se esperar que quanto menos inteligente em sentido estrito for uma pessoa
maior tendência tenha a aceitar o novo conceito.
É importante ressaltar que tal conceito não se refere ao que ocorre com
os computadores. A programação existente neles que permite que os mesmos
repitam e executem instruções previamente gravadas, de forma automatizada,
necessita da existência de um programa e da sua incorporação em memória.
Já o cérebro humano é muito mais potente que qualquer computador atual
mas tambén necessita da existência de programas previamente desenvolvidos
e da sua incorporação na memória operativa ou imediata para poder atuar. De
certa forma são semelhantes aos preconceitos, mas de caráter funcional e,
normalmente, serão programas ou funções pequenas ou conjunto dos
mesmos. Podemos tomar como exemplo a condução de um carro. Quando
dirigimos um carro, um conjunto de conhecimentos e experiências sobre como
se dirige estão gravados no nosso cérebro mas não se encontram ativos. Ao
entrarmos no carro essas experiências se ativam e tornam-se mais
conscientes, incorporando-se na memória operativa. Esse processo será muito
mais intenso se formos nós mesmos os condutores.
5 Teoria Evolutiva Global, disponível em www. , 05/07/2011.
33
Também podemos exemplificar a questão da programação e da
memória no que se refere ao ensino de uma língua estrangeira. Quando se
fala uma língua estrangeira percebe-se que, quando não há prática, perde-se
em termos de compreensão e fluência, porém, ao mesmo tempo, isso é
recuperado rapidamente logo que se pratique a língua novamente. Esse efeito
é muito mais acentuado quando se fala mais de uma língua estrangeira porque
tendem a substituir-se dada a capacidade limitada da mente, que não pode
manter ativos tantos conceitos e estruturas gramaticais diferentes.
É como se o cérebro diariamente fosse carregado com os programas ou
dados que serão necessários ao longo do dia. Seguindo essa mesma lógica, é
possível salientar que o conjunto de palavras que habitualmente utilizamos
estará em relação direta com o nosso potencial médio. Ou seja, na medida em
que nosso cérebro vai se desenvolvendo, o número de palavras de uma língua
também aumenta.
Mas qual o lugar das emoções na nossa vida e em nosso cérebro? Há
no cérebro, num local denominado Tálamo, programas de reação urgente que
são rapidamente reconhecidos e que controlam as emoções. Podemos
entender por emoções as reações bioquímicas diante de certos estímulos
independentemente dos sentimentos que as possam acompanhar.
Para Goleman (1995) é possível desenvolver a nossa inteligência
emocional através de três passos simples: 1) Ampliando a autoconsciência; 2)
Controlando as emoções, e 3) Aprendendo a se automotivar.
34
A autoconsciência é a capacidade que desenvolvemos de nos conhecer,
de saber nossas capacidades e limites, baseada em nossos valores; ter um
controle emocional é imprescindível para manter um bom relacionamento com
as pessoas, caso contrário, estaremos entrando no universo da solidão, da
exclusão social e das doenças físicas provocadas por elas. Automotivar-se,
com base na fé, na crença de que existe algo muito maior que o “eu”, que dita
as leis da natureza humana; com base na família ou no grupo social ao qual
pertenço, desde que não gere um conflito com meus valores; através de uma
pessoa que me apóie, oriente e ajude a trilhar um caminho; e do meu
ambiente, seja ele meu lar, meu trabalho, minha escola, que deve ser
aconchegante, acolhedor e favorável ao meu desenvolvimento – iluminado,
arejado e organizado. Evoluindo nestes três pontos, pode-se avançar em
relação ao desenvolvimento da capacidade intelectual e da flexibilidade mental
– dos estudos e do aprendizado, da determinação e da elaboração de metas e
objetivos de longo prazo – especulando o que fazer após o ensino médio ou a
universidade, e atingindo o equilíbrio emocional – controle sobre as emoções –
de forma a estar em harmonia consigo e com as pessoas em geral. Para isso é
muito importante saber que:
1- Cada um é um ser único e tem seu próprio modo de ser, de interpretar os
fatos e de armazenar suas experiências de vida. Ninguém é igual a ninguém,
e, por isso, é possível imitar determinadas atitudes das pessoas, mas nunca
vamos ser iguais a elas;
2- Aquilo que é bom para mim, não necessariamente pode ser bom para o
outro e, mesmo assim, é perfeitamente possível manter um relacionamento
35
produtivo e adequado, respeitando a vontade das outras pessoas, mesmo
quando forem contrárias às minhas.
3- É necessário validar o ponto de vista do outro, mesmo que seja totalmente
diferente do meu.
4- Meu poder está no momento presente. Ontem não me pertence, já acabou,
e amanhã, não sei o que será. Meu passado é inalterável, e o futuro incerto,
mas o planejamento e as atitudes de hoje, refletem muito além do que posso
esperar para o dia seguinte.
5- As experiências passadas devem ser aproveitadas e delas tiradas um
aprendizado, tendo sido boas ou inadequadas. A natureza pode ser usada
como exemplo, já que é sábia e ensina a superar as dificuldades transformado-
as em oportunidades.
6- Devemos assumir a responsabilidade sobre aquilo que não deu certo, ou
mesmo com relação àquilo que me incomodou. É uma atitude comum do ser
humano jogar a responsabilidade de seus erros em outras pessoas, e quando
não é possível, busca todas as justificativas possíveis para não assumir essa
responsabilidade. Cada pessoa também deve ser responsável pela maneira
como é tratada, pois são elas que permitem o tratamento recebido.
7- Colocar-se no lugar da outra pessoa no relacionamento, é uma chave que
abre muitas portas. Dessa forma podemos perceber como cada um é visto
realmente. Isso é um risco, pois nem sempre as pessoas são capazes de
reconhecer suas falhas de personalidade e caráter.
É muito importante saber que, quando guardamos mágoas ou
ressentimentos estamos abrindo caminho para a solidão e provocando o
36
bloqueio do crescimento pessoal. Preciamos ser amáveis, amigos,
companheiros, compreensivos e felizes. Acima de tudo, precisamos saber ser
seres humano, pois o que os diferencia dos animais é a capacidade de
controlar seus sentimentos e emoções. Isso é o que os torna racionais.
CAPÍTULO 2
AS MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS
O criador da Teoria das Inteligências Múltiplas, Gardner (1994), é
reconhecido mundialmente por ter causado uma revolução nos conceitos sobre
conhecimento humano, aprendizado e educação. O autor propõe a existência
de sete tipos de inteligência, a partir das origens biológicas da capacidade
humana de resolver problemas.
Para ele as inteligências podem ser classificadas em:
a inteligência musical, a inteligência corporal-cinestésica, a inteligência lógico-matemática, a inteligência lingüística, a inteligência interpessoal e a inteligência intrapessoal”. (GARDNER, 1994, p.22)
Em estudos mais recentes, o psicólogo trata também da inteligência
naturalista e Antunes (1999), da inteligência pictórica.
“Apenas quando expandimos e reformulamos nossa concepção do que conta como intelecto humano seremos capazes de projetar meios mais
37
adequados para avaliá-los e meios eficazes para educá-lo”. (GARDER, 1994, p. 10)
É importante ressaltar que, para abranger adequadamente o campo da
cognição humana é necessário incluir um conjunto muito mais amplo e mais
universal de competências do que comumente se considera. É necessário
permanecer sempre aberto à possibilidade de que muitas dessas
competências não se prestam a medições e métodos verbais padronizados.
“Uma inteligência é a capacidade de resolver problemas ou de criar produtos
que sejam valorizados dentro de um ou mais cenários culturais”. (GARDNER,
1994, p. 10)
O envolvimento com materiais atraentes e com meios ricos em
estímulos é ideal para mostrar sinais de talento precocemente, e que é
possível desenvolver mais do que uma faculdade mental ao longo da vida.
Dessa forma, cabe a quem é responsável pelo ensino (pedagogos,
professores, psicopedagogos) a decisão dos melhores meios para ajudar neste
desenvolvimento. Atualmente a escola está centrada no aluno, proporcionando
oportunidades que podem ativar o conjunto de inteligências através de um
ambiente de sala de aula repleto de materiais destinados a estimular as
inteligências.
Assim sendo, passou-se a questionar mais a avaliação escolar, cujos
critérios não incluem a análise de capacidades, concluindo que as formas
convencionais de avaliação apenas traduzem a concepção de inteligência
vigente na escola, limitada à valorização da competência lógico-matemática e
lingüística. Porém, as demais faculdades também são produto de processos
38
mentais e não há motivo para diferenciá-las do que geralmente se considera
inteligência. Assim, vários critérios foram estabelecidos para que uma
inteligência seja considerada como tal, desde sua possível manifestação em
todos os grupos culturais até a localização de sua área no cérebro. Dessa
forma foi possível identificar sete inteligências, as quais não podemos
considerar como sendo um número definitivo.
Estas capacidades universais na espécie humana, todos as possuímos
potencialmente, mas acabamos desenvolvendo mais uma ou outra, de acordo
com nossas heranças genéticas e estímulos familiares e culturais. Dessa
forma, cada criança deve ser conhecida em particular de modo a ser
estimulada a desenvolver os diversos tipos de inteligência, aproveitando
aquelas que se encontram originalmente mais desenvolvidas, inclusive para
compensar áreas cognitivas de menor capacidade.
A Teoria das Múltiplas Inteligências requer algum conhecimento de
como as pessoas, de modos diferentes, aprendem, representam e utilizam o
conhecimento de muitos modos diferentes. Tais diferenças desafiam um
sistema educacional que supõe que todos podem aprender as mesmas
matérias da mesma forma, e que uma medida uniforme e universal basta para
testar a aprendizagem estudantil.
As pessoas aprendem de modos que são identificavelmente distintos e
o amplo espectro de estudantes, e talvez da sociedade como um todo, estaria
melhor servida se as disciplinas pudessem ser apresentadas de diversos
modos e a aprendizagem pudesse ser abordada através de meios variados.
39
2.1. Caracterização das múltiplas inteligências
Segundo Gardner (1994), as inteligências podem ser caracterizadas da
seguinte maneira:
1- Inteligência lingüística; é a inteligência que parece mais ampla e
democraticamente compartilhada na espécie humana. As raízes da língua
falada podem ser encontradas no balbucio da criança nos primeiros meses de
vida, e por volta do início do segundo ano, a atividade lingüística é diferente,
pois envolve o pronunciamento de palavras únicas e depois de um bom tempo,
começa a formar pequenas frases. A criança com três anos já pronuncia
seqüências mais complexas e por volta da idade de quatro ou cinco anos já é
capaz de falar com fluência. Sendo assim, a inteligência lingüística começa a
se abrir aos dois anos de idade e é a que nos leva a resolver problemas a
partir do uso de palavras, que são apresentadas através de símbolos
conhecidos.
Existem quatro aspectos do conhecimento lingüístico que provaram ser
de notável importância na sociedade humana. O primeiro é a capacidade de
usar a linguagem para convencer outros indivíduos a respeito de um curso de
ação, como a que líderes políticos e especialistas em direito desenvolveram. O
segundo é a capacidade de usar a linguagem para ajudar a lembrar de
informações, variando de listas de mercado às regras de um jogo, de
instruções para orientar-se, e para operar novas máquinas.
Um terceiro aspecto da linguagem é seu papel na explicação, pois
grande parte do ensino e da aprendizagem ocorre através da linguagem, em
40
algumas épocas, principalmente através de instruções orais, o emprego do
verso, explicações simples, e agora, cada vez mais, através da palavra em sua
forma escrita. A linguagem permanece sendo o meio ideal para transmitir os
conceitos básicos em livros textos e por fim, a capacidade de usar a linguagem
para refletir sobre a linguagem (metalingüística).
Esta inteligência manifesta-se na habilidade para lidar criativamente com
as palavras nos diferentes níveis da linguagem, tanto na forma oral como na
escrita, no caso de sociedades letradas. Particularmente notável nos poetas e
escritores, é desenvolvida também por oradores, jornalistas, publicitários e
vendedores. No poeta vê-se em funcionamento com clareza, uma
sensibilidade ao significado das palavras, a capacidade de seguir regras
gramaticais, a habilidade que torna belo o que ouvimos, e tem o potencial para
entusiasmar, convencer, estimular, transmitir informações ou simplesmente
agradar. O romancista baiano Jorge Amado, é dotado de excepcional
inteligência lingüística. Cria textos de valor artístico universal e é o mais
traduzido dos escritores brasileiros.
2- Inteligência musical: é a inteligência na qual aparecem todos os
talentos com os quais os indivíduos podem ser dotados, o que surge mais
cedo. Quando são bebês, as crianças normais cantam e balbuciam imitando
sons individuais. Na metade do segundo ano de vida as crianças começam,
por conta própria, a emitir uma série de sons, inventam músicas espontâneas,
mas por volta da idade de três anos ou quatro, as melodias da cultura
dominante vencem e a produção de músicas espontâneas e brincadeiras de
sons desaparece.
41
Muito mais perceptível do que a linguagem, encontra-se diferenças
individuais notáveis em crianças novas quando elas aprendem a cantar,
algumas conseguem acompanhar uma canção com acerto, enquanto outras só
conseguem emitir aproximações de tons da canção.
Bamberger, uma musicista e psicóloga desenvolvimental, buscou
analisar o desenvolvimento musical ao longo das linhas dos estudos do
pensamento lógico de Piaget, e diz que o pensamento musical envolve suas
próprias regras e restrições e não pode simplesmente ser assimilado ao
pensamento lingüístico ou lógico-matemático. Ela demonstrou formas de
conversação que existem no domínio da música, como por exemplo: uma
criança não confundirá um som com um sino específico com o qual ele é
produzido e não reconhecerá que muitos sinos podem produzir o mesmo som
ou que um sino seja movimentado manterá seu som.
A inteligência musical é a que permite a alguém organizar sons de
maneira criativa, a partir da discriminação de elementos como tons, timbres e
temas. As pessoas dotadas desse tipo de inteligência geralmente não
precisam de aprendizado formal para exercê-la, como é o caso de muitos
músicos famosos da música popular brasileira. Um deles é Rita Lee, um
exemplo fértil de inteligência musical; além de cantora e compositora, toca
guitarra, flauta, harpa e aos dezoito anos formou um conjunto só de garotas.
Pouco depois, integrou-se a um grupo e a partir dos anos 70, lançou-se com
grande sucesso na carreira solo.
3- Inteligência lógico-matemática: Essa inteligência contrasta com as
inteligências lingüística e musical, pois não se origina na esfera auditivo oral,
42
ao contrário, esta forma de pensamento pode ser traçada de um confronto com
o mundo dos objetos, pois é confrontando-os, ordenando-os, reordenando-os e
avaliando sua quantidade, que a criança pequena adquire seu conhecimento
inicial e mais fundamental sobre o domínio lógico-matemático.
Na concepção de Piaget (1961), “todo o conhecimento e em particular o
lógico-matemático, deriva das nossas ações sobre o mundo”. O bebê explora
todo o tipo de objetos, chupetas, chocalhos, brinquedos, bichos de pelúcia e
em seguida, forma expectativas sobre como estes objetos se comportarão sob
diversas circunstâncias. Durante muitos meses o conhecimento da criança em
relação a estes objetos está ligado à sua experiência momento-a-momento
com eles, e quando desaparecem de vista, não mais ocupam sua consciência.
Apenas após dezoito meses a criança chega a reconhecer que os objetos
continuarão a existir mesmo quando foram retirados de sua vista. Sendo
assim, uma vez que a criança reconheça a permanência dos objetos ela pode
pensar neles e referir-se a eles até mesmo em sua ausência. Ela também
torna-se capaz de reconhecer similaridades em determinados objetos e em
questão de meses a criança consegue produzir agrupamentos. A capacidade
de agrupar objetos é uma manifestação do conhecimento emergente da
criança de que determinados objetos possuem propriedades específicas em
comum.
Por volta dos seis ou sete anos, a criança confrontada por dois
conjuntos pode contar o número de objetos de cada um, comparar e
determinar qual contém a maior quantidade. Uma vez que estas ações de
comparações tenham sido dominadas, a criança consegue fazer operações
43
adicionais e também subtrair quantidades. É importante que todas as ações
sejam desempenhadas fisicamente sobre o mundo material, ou seja, a criança
realmente manipula os objetos, sendo assim, a base para todas as formas
lógico-matemáticas de inteligência depende inicialmente do manuseio de
objetos.
A inteligência lógico-matemática é a que determina a habilidade para o
raciocínio dedutivo, para a compreensão de cadeias de raciocínio, além da
capacidade para solucionar problemas envolvendo números e demais
elementos matemáticos. É a competência mais diretamente associada ao
pensamento científico e no nosso dia a dia pode ser vista em mestre-de-obras
que sabem visualizar no espaço a planta da casa que olham no papel, em
economistas, engenheiros, matemáticos e muitos outros. Um grande exemplo
vivo dessa inteligência é o inglês Stephen Hawking, um gênio do tipo lógico-
matemático, doutor em cosmologia, ocupa a cadeira de Isaac Newton como
professor de matemática e é considerado o mais brilhante astrofísico desde
Albert Einstein.
4- Inteligência espacial: Nesta inteligência estão as capacidades de
perceber o mundo visual com precisão, efetuar transformações e modificações
sobre as percepções iniciais e ser capaz de recriar aspectos da experiência
visual, mesmo na ausência de estímulos físicos relevantes. Embora a
centralidade da inteligência espacial com sujeitos adultos, relativamente pouco
foi determinado sobre o desenvolvimento de conjunto de capacidades em
crianças.
44
A operação mais elementar sobre a qual aspectos da inteligência
espacial se baseiam é a capacidade de perceber uma forma ou um objeto,
podendo testar esta capacidade com questões de múltipla escolha ou
solicitando a um indivíduo que copie uma forma.
As capacidades espaciais podem produzir-se em alguns campos
diferentes. Elas são importantes para a nossa orientação em várias
localidades, para o reconhecimento de objetos e cenas e também utilizadas
quando trabalhamos com representações gráficas.
Piaget (1961) viu o conhecimento espacial como parte do crescimento
lógico e mencionou duas capacidades centrais no período sensório-motor do
espaço que emerge na primeira infância: a apreciação inicial das trajetórias
observadas em objetos e a eventual capacidade de orientar-se entre várias
localidades. No final do estágio sensório-motor da primeira infância, as
crianças tornam-se capazes de formular a imagem mental, onde está muito
ligada à criatividade e aos amigos-secretos ou invisíveis. O uso de operações
concretas no início da escola marca um ponto importante de virada no
desenvolvimento mental da criança, pois nesse momento ela torna-se capaz
de manipulação muito mais ativa de imagens e objetos no domínio espacial e
apenas durante a fase operacional formal, o jovem consegue lidar com a idéia
de espaços abstratos.
Sendo assim, esta inteligência é a capacidade que um indivíduo possui
de formar um modelo mental preciso de uma situação espacial e utilizar esse
modelo para orientar-se entre objetos ou transformar as características de um
determinado espaço. Um exemplo desta inteligência é o arquiteto Oscar
45
Niemeyer que projetou Brasília, onde nada havia, ele imaginou construções
com formas e volumes variados, definindo uma nova percepção do espaço
urbano. Sua inteligência espacial tornou-o capaz de prever e solucionar
problemas, liberando seu potencial criativo.
5- Inteligência corporal-cinestésica: As características dessa inteligência
são a capacidade de usar o próprio corpo de maneiras altamente diferenciadas
e hábeis, e a capacidade de trabalhar com objetos, tanto os que envolvem
movimentos motores finos dos dedos e mãos quanto os que exploram
movimentos motores grosseiros do corpo.
O uso do corpo pode ser diferenciado numa variedade de formas,
podendo-se usar o corpo inteiro para representar um determinado tipo de
atividade como correr, saltar, rolar, cair, dançar, principalmente para
finalidades expressivas e também podendo-se fazer a elaboração de
movimentos motores finos, a capacidade de usar nossas mãos e dedos,
desempenhando movimentos delicados envolvendo controle preciso.
As origens da inteligência corporal e seu relacionamento com a
linguagem e com as outras funções cognitivas podem ser incertas, mas o
desenvolvimento destas habilidades nos seres humanos de hoje é um assunto
estudado cientificamente. Embora o próprio Piaget não tivesse concebido sua
pesquisa em relação à inteligência corporal, sua descrição do desenvolvimento
da inteligência sensório-motora esclarece a evolução inicial, pois pode-se ver
como os indivíduos progridem dos mais simples reflexos, como o ato de sugar
e olhar, até atos comportamentais.
46
Alguns estudiosos do desenvolvimento infantil, adotaram a idéia de que
o desenvolvimento de habilidades poderia ser concebido, não somente em
relação a atividades corporais do bebê, mas em relação a todos os tipos de
operações cognitivas, porque interpretam o desenvolvimento como uma
construção de habilidades mais elaboradas e crescentemente flexíveis. Assim,
por exemplo, a criança primeiro alia esticar-se em direção e olhar com agarrar;
o agarrar de objetos únicos evolui para a passagem de objetos de uma mão
para outra; o uso de conjunto de objetos para tarefas diárias é transformado na
construção de estruturas simples, estas estruturas simples tornam-se aliadas
em demonstrações mais elaboradas, e assim por diante.
Pode-se concluir que a inteligência corporal-cinestésica se revela como
uma especial habilidade para utilizar o próprio corpo de maneiras diversas,
envolvendo tanto o autocontrole corporal quanto a destreza para manipular
objetos. Os atletas, dançarinos, malabaristas e mímicos têm essa inteligência
altamente desenvolvida e algumas personalidades são exemplos fáceis, como
a Paula do Basquete, Ronaldinho do Futebol e Ana Botafogo do Ballet.
Várias formas de inteligência pessoal surgem claramente da ligação
entre o bebê e de quem o cuida. Durante o primeiro ano de vida a criança vem
a formar uma forte ligação com a mãe e junto aos sentimentos que
acompanham, é que as origens do conhecimento pessoal podem ser
encontradas. Gradualmente a ligação torna-se mais frouxa e flexível a medida
que a criança aventura-se adiante a partir da base familiar, e se por algum
motivo não se permite que o vínculo se forme adequadamente ou se é
interrompido abruptamente e não reparado logo, profundas dificuldades são
47
sinalizadas pela criança, especialmente dificuldades para a eventual
capacidade de um indivíduo de conhecer outras pessoas, criar filhos, e basear-
se neste conhecimento quando vem a conhecer a si mesmo. Assim, a ligação
inicial entre bebê e quem o cuida pode ser considerada como esforço da
natureza para assegurar que as inteligências pessoais serão adequadamente
lançadas.
De um lado há o desenvolvimento dos aspectos internos de uma
pessoa, onde a capacidade central é o acesso à nossa própria vida
sentimental, a capacidade de efetuar instantaneamente discriminações entre
sentimentos e basear-se nelas como um meio de entender e orientar nosso
comportamento.
6- Inteligência intrapessoal: É a inteligência que permite que detectemos
conjuntos de sentimentos altamente complexos e diferenciados. É a
competência de uma pessoa para conhecer-se e estar bem consigo mesma,
administrando seus sentimentos e emoções a favor de seus projetos, ou seja,
é a capacidade de formar um modelo real de si e utiliza-lo para se conduzir
proveitosamente na vida, características dos indivíduos “bem resolvidos”.
Nelson Mandela, é exemplo de como o equilíbrio pessoal pode determinar uma
trajetória de vida.
A outra inteligência pessoal volta-se para fora, para outros indivíduos.
Aqui, a capacidade central é de observar e fazer distinções entre outros
indivíduos, entre seus humores, temperamentos, motivações, preferências e
intenções.
48
7- Inteligência interpessoal: É aquela que acarreta a capacidade da
criança pequena de discriminar entre indivíduos ao seu redor e detectar seus
vários humores. É a capacidade de uma pessoa dar-se bem com as demais,
compreendendo-as, percebendo suas motivações ou inibições e sabendo
como satisfazer suas expectativas emocionais. Esse tipo de inteligência é
ressaltada nos indivíduos de fácil relacionamento pessoal, como líderes de
grupo, políticos, terapeutas, professores e animadores. Um exemplo atual de
inteligência interpessoal é a apresentadora Hebe Camargo, que tem um
enorme talento para se relacionar com seu público, mantendo uma platéia
cativa, fascinada pela sua simpatia.
Para Goleman (1995), “existem cinco habilidades que caracterizam a
trajetória de pessoas consideradas emocionalmente inteligentes”: a
autoconsciência, que é a capacidade de saber o que se está sentindo, pois as
próprias emoções parecem óbvias para as pessoas, mas não é rara a
confusão de sentimentos diferentes, e a noção precisa dos sentimentos
permite a tomada correta de decisões; saber lidar com emoções, que é
administrar o que se sente e esse autocontrole não significa negar as
emoções, mas dar a elas sua devida dimensão, procurando uma maneira
positiva de superá-las ou de conviver com elas; a automotivação, a faculdade
de colocar as emoções a serviço de uma meta e quando conseguimos
estabelecer um objetivo, fica mais fácil conter a ansiedade e controlar impulsos
que poderiam colocá-lo em risco; a empatia, uma sensibilidade para perceber
as emoções do outro e colocar-se no lugar dele, deixando claro o quanto é
doloroso ser injustiçado ou agredido, assim, as pessoas compreendem que os
49
outros têm sentimentos semelhantes aos seus e se esforçam para não
cometer injustiças ou agressões; e a capacidade de se relacionar, uma
habilidade de lidar com as emoções dos outros de maneira adequada, pois em
qualquer relacionamento, as pessoas enviam sinais verbais e não verbais que
afetam os demais, e o controle adequado dessa sinalização permite elevar o
grau de bem-estar que se causa aos outros.
Com o avanço dos estudos, Goleman (1994) passou a considerar
também outros tipos de inteligência, como a naturalista e a pictória.
8- Inteligência naturalista: Essa inteligência se refere a habilidade
humana de reconhecer objetos da natureza, trata-se da capacidade de
distinguir plantas, animais, rochas e é fácil perceber que isso é indispensável
para a sobrevivência no ambiente natural. Botânicos e pessoas que trabalham
no campo, por exemplo, precisam explorar a inteligência naturalista para dar
conta de suas atividades. Esta inteligência naturalista é vital para as
sociedades que ainda hoje dependem exclusivamente da natureza, como
alguns índios da floresta Amazônica.
9- Inteligência pictórica: É a inteligência que proporciona a capacidade
de produzir, pelo desenho, objetos e situações reais ou mentais, e também de
organizar elementos visuais de forma harmônica, estabelecendo relações
estéticas com eles. Essa inteligência determina a capacidade de desenhar e o
desenho é uma importante forma de expressão da criança. Trata-se de uma
inteligência que se destaca em pintores, artistas plásticos, desenhistas,
ilustradores e chargistas. O cartunista Ziraldo Alves, autor de personagens
consagrados como o Pererê e o Menino Maluquinho, faz muito mais do que
50
coordenar traços bem feitos. Dono de uma brilhante inteligência pictórica, ele
consegue sintetizar idéias completas até em detalhes do desenho.
Desta forma, ao se observar a descrição das inteligências podemos
afirmar que uma jogadora como a Paula não seria bem sucedida se, além de
fisicamente capaz, não dominasse os espaços da quadra e da cesta. Do
mesmo modo, o sorriso de Hebe Camargo talvez não bastasse para atrair o
público se ela fosse lingüisticamente fraca, não sabendo se comunicar com as
pessoas. Sempre envolvemos mais de uma habilidade na solução de
problemas, embora existam predominâncias.
Nessas relações entre as inteligências é que está a possibilidade de se
explorar uma em favor da outra, é o uso da chamada rota secundária para se
alcançar a rota principal de uma determinada inteligência. Excetuados os
casos de lesões, todos nascem com o potencial das várias inteligências. A
partir das relações com o ambiente, incluindo os estímulos culturais,
desenvolvemos mais algumas e deixamos de aprimorar outras e isso dá a
cada pessoa um perfil particular de inteligências.
2.2. As dificuldades de aprendizagem e as múltiplas inteligências
Estudos revelam que apesar do tema envolver muitas discussões, nas
mais diversas áreas, um consenso que parece existir entre os autores é o de
que a Dificuldade de Aprendizagem (DA) pode gerar ou mesmo agravar
problemas relacionados à adaptação social, convivência e auto-estima do
estudante.
51
Ao realizar um estudo, Osti (2004) observa que 90% dos professores
definem as Dificuldades de Aprendizagem como sendo uma lentidão ou
incapacidade do aluno para assimilar informações, sendo revelada quando o
aluno não atinge o mínimo esperado. Apenas 10% dos professores envolvidos
na pesquisa apontam as dificuldades de aprendizagem como sendo a soma de
fatores de ordem social, cultural, psicológica e neurológica. Esses resultados
revelam que a percepção do professor em relação a elas está diretamente
ligada ao aluno, sendo considerada uma característica intrínseca, ou seja, é o
seu rendimento, o seu desempenho que irão determinar suas habilidades de
aprender.
Nesta ótica, as práticas pedagógicas e a articulação de inúmeras
variáveis que interferem no processo de aprender não são consideradas, o
aluno passa a ser diagnosticado como "capacitado ou incapacitado para
aprendizagem" a partir da assimilação de informações.
Ao abordarem o tema, alguns autores como Gardner, Armstrong (2001);
Feldman (2001); Neira (2003); Weisz e Sanchez (2003); Wadsworth (2003) e
Zylberberg (2007) esclarecem que as crianças que possuem potenciais que se
expressam em dimensões físicas e artísticas, como as artes plásticas, a
música, os movimentos corporais, freqüentemente, são as que enfrentam
maiores dificuldades no sistema escolar, pois apresentam incompatibilidade
com os valores expressos pela escola, nos quais os professores, na maioria
das vezes, validam apenas conhecimentos em algumas áreas, sem considerar
as diferenças individuais.
52
Wadsworth (2003) relata que todos os indivíduos apresentam
dificuldades de aprendizagem. Por muitas razões as facilidades e dificuldades
do aprendizado estão relacionadas com o fato de algumas pessoas serem
extremamente talentosas em determinadas áreas, como também fracos em
outras. O autor esclarece que se o critério para excelência de uma pessoa
fosse a capacidade musical, e não o conjunto de notas escolares, certamente
outro grupo de alunos seriam rotulados como incapazes para aprender.
O sistema educacional responsabiliza o indivíduo que não aprende
como único responsável pela sua incapacidade. Essas ações desvinculam
completamente a aprendizagem como possibilidade de desenvolvimento
cognitivo do aluno. Sendo que o interesse do sistema consiste nos percentuais
de reprovação ou aprovação, por conseguinte, as ações pedagógicas
escolares estão inseridas numa pedagogia de exame que sobrepuja todo o
processo ensino aprendizagem (Machado, 1997; Patto, 1988; Gardner, 1998;
Luckesi, 1999).
Embora os professores defendam teoricamente a inclusão dos alunos
com dificuldades em relação à aprendizagem, na prática ainda preconizam que
as crianças devem se submeter ao ensino homogêneo, com habilidades e
competências comparáveis, aprendendo em um contexto em que o professor
sempre ensina de uma mesma maneira traduzindo na formalidade dos
conteúdos (Macedo, 2005; Smole, 2006).
Dessa forma, as crianças são excluídas, silenciosamente, do sistema
escolar e da sociedade. Os estudantes permanecem no sistema escolar,
53
porém não desfrutam de uma pedagogia apropriada que contemple suas reais
necessidades educacionais (Neira, 2003; Amaro, 2006). Fernández (1991)
declara que não se pode entender o processo somente a partir do aprendiz,
tornando-se necessário recorrer ao professor e à instituição escolar para
diagnosticar um problema de aprendizagem.
As ações pedagógicas devem ser refletidas e associadas a uma prática
educativa coerente com o contexto educacional, as quais visam igualdade de
oportunidades e de acesso ao conhecimento, mesmo para alunos menos
favorecidos e considerados limitados por uma fraqueza que não lhes pertence.
Nessa perspectiva, não existem crianças com dificuldades de
aprendizagem, o que ocorre no sistema de ensino é a privação de situações de
aprendizagem que contemplem a forma de aprender dessas crianças. Pode
ser que as reais potencialidades do aluno com dificuldades de aprendizagem
não sejam validadas no contexto escolar. Se a criança estiver inserida em
situações de aprendizagem que se adaptem à sua forma natural de aprender,
certamente seus potenciais serão desenvolvidos.
O aluno pode apropriar-se do conhecimento por meio das situações de
aprendizagem presentes no contexto escolar, em que a pluralidade não pode
ser considerada limitação, mas constituir-se nas mais variadas possibilidades.
Ao assumir o ensino numa concepção em que todos apresentam as várias
inteligências, pode ser necessário uma alteração na forma como se concebe a
DA, e principalmente, as práticas pedagógicas que estão inseridas neste
contexto.
54
Diante disso, professor e estudante podem reconhecer que todas as
pessoas têm sua própria forma de aprender, sendo que isso se constitui numa
característica humana. E, principalmente, admitir que a criança rotulada como
"incapaz para a aprendizagem" pode possuir inteligências que, se forem
devidamente reconhecidas e estimuladas, contribuirão para o seu
desenvolvimento global.
Ao considerar a pluralidade intelectual da criança com dificuldades de
aprendizagem, Gardner (1994; 2000), por meio de suas pesquisas, apresenta
a Teoria das Inteligências Múltiplas.
As definições de inteligência dependem não somente dos indivíduos,
mas também de seus valores e crenças associadas às necessidades pessoais
e propósitos culturais. Dessa forma, indícios múltiplos e convergentes levaram
o pesquisador a propor uma maneira de conceber a inteligência que abrange a
pluralidade do intelecto.
2.3. As múltiplas inteligências no contexto escolar de aprendizagem
Ao considerar a diversidade que apresenta o contexto escolar, assim
como as muitas variáveis que interferem no processo de aprendizagem, os
métodos de ensino podem considerar a concepção de uma educação
vinculada à Teoria das Inteligências Múltiplas.
55
Ao conceber as práticas pedagógicas sob a visão das Inteligências
Múltiplas os conteúdos podem ser ensinados nas mais diversas abordagens
pedagógicas. Porém, ao planejar uma educação realmente eficaz, os métodos
devem ser suscetíveis às estimulações do potencial, e conseqüentemente, à
compreensão dos estudantes.
Quando as ações pedagógicas permitem a influência da Teoria das
Inteligências Múltiplas, certamente poderá introduzir inovações interessantes
em suas práticas, oferecendo mais oportunidades para que cada aluno
encontre seu próprio percurso de aprendizagem.
Além disso, para Nista-Piccolo e colaboradores (2004) ao abranger o ser
humano com múltiplos potenciais ocorre o favorecimento de uma concepção
de ensino centrado nos potenciais individuais do aprendiz, desencadeando o
desenvolvimento de todos os tipos de inteligências, característicos de seus
potenciais.
Nessa perspectiva, pode-se conceber uma combinação própria de
inteligências para cada ser humano, que pode fornecer indícios no seu
percurso de aprendizagem, como também nas dificuldades encontradas nesse
percurso.
Em suas propostas, Macedo (2005), Feldman (2001), Gardner (2000),
Smole (2006) e Zylberberg (2007) defendem a escola como parte integrante de
uma sociedade complexa, a qual deveria oferecer às crianças uma
aprendizagem a partir da singularidade e diversidade, praticando a reflexão e
56
ao mesmo tempo refletindo sobre a prática. Para esses autores, reconhecer
essa diversidade no contexto escolar é uma necessidade e uma excelente
perspectiva para focar reformas educacionais.
Os autores propõem uma reflexão sobre diferenças, permitindo talvez
que essa compreensão gere uma crítica ao que está sendo proposto, e o que
está sendo realizado para possibilitar um ensino realmente acessível a todos.
57
CAPÍTULO III
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA PARA A
ANÁLISE DAS MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS
A psicopedagogia surgiu da necessidade de compreender o processo de
aprendizagem. Para Kiguel, op. cit Bossa (1994)
“historicamente a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir das necessidades de atendimento de crianças com distúrbios de aprendizagem” (KIGUEL, 1994, p. 7)
Essas crianças eram consideradas inaptas dentro do sistema
educacional convencional. Nesse sentido, a Psicopedagogia não pode ser
considerada uma “Pedagogia melhorada, e sim a Pedagogia transformada,
recriada. É uma nova área que se delineia como alternativa inovadora e
profissional. Utilizando-se de recursos das variadas áreas do conhecimento, a
proposta da psicopedagogia é a compreensão do ato de conhecer, de
aprender e, consequentemente, de ensinar” (MALUF 2005, p. 2).
A psicopedagogia ocupa-se da aprendizagem humana e está
estruturando-se e situando-se para contribuir como recurso em diversas
situações. A psicopedagogia está embasada em diversas teorias já que seu
objeto de estudo é complexo. Assim, por exemplo, seu objeto de estudo
abarca conhecimentos provenientes da psicanálise, da psicologia social, da
epistemologia, da psicologia genética e da linguística, que incidem sobre o seu
objeto de estudo.
58
Como a psicopedagogia contempla noções de patologia e de etiologia
dos problemas de aprendizagem, é possível que este ramo da ciência possa
contribuir para a compreensão e esclarecimento dos sintomas relatados pelas
professoras do Ensino Fundamental. Desse modo, vem ganhando espaço nas
instituições escolares e expandindo seus benefícios no trabalho em clínicas
particulares.
Bossa (1994) afirma que cabe ao psicopedagogo saber como o sujeito
que aprende transforma-se em suas várias etapas da vida, quais os recursos
de conhecimento de que dispõe, como produz conhecimento e como aprende.
Essas informações contribuem para suscitar o progresso e o sucesso dos
alunos que apresentam sintomas da não aprendizagem.
Ainda segundo Bossa (1994), a psicopedagogia permite que se estude:
[...] as características da aprendizagem humana, como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las.” (BOSSA,1994, p. 11)
A atuação psicopedagógica relaciona-se, portanto, com o problema
escolar e de aprendizagem, interferindo de forma individual ou grupal,
conforme se apresenta o problema. Tratar e prevenir esses problemas de
aprendizagem em classes de alfabetização pode amenizar um fato bastante
comum ao final do primeiro ano, quando algumas crianças finalizam o ano
letivo com um nível insuficiente de aprendizagem e, posteriormente, sempre
repetem algum ano no Ensino Fundamental.
59
Sisto (1996) também amplia a área de atuação da psicopedagogia
quando afirma que ela nos oferece, ao tratar dos problemas de aprendizagem,
“[...] a possibilidade de analisar este processo do ponto de vista do sujeito que
aprende e da instituição que ensina”.(SISTO, 1996, p. 9).
A psicopedagogia é uma área de estudo diretamente relacionada à da
aprendizagem escolar, tanto no que tange a seu decurso normal quanto às
dificuldades que possa apresentar. É preciso que todos os envolvidos com o
processo de aprendizagem analisem a situação, e não somente o aluno, que é
uma das parcelas de um todo do conhecimento em construção uma vez que às
vezes poder ser apresentar mais fácil ou mais difícil para quem ensina ou
aprende.
Refletir psicopedagogicamente sobre os problemas de aprendizagem e
sobre como utilizar as múltiplas inteligências em favor do aluno, consiste em
procurar compreender a forma como o aluno está utilizando os elementos do
seu sistema cognitivo e emocional para aprender. Significa refletir também com
as relações que se estabelecem entre aluno e conhecimento, as quais são
interpostas pelo professor e pela escola.
3.1. Desenvolvendo as múltiplas inteligências na escola
A criança, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz
parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com
uma determinada cultura que é marcada pelo meio social em que vive, como
60
também o modifica. As crianças possuem características como seres que
sentem e pensam o mundo de um jeito próprio.
As crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que
vivem, através das interações que estabelecem com as pessoas que lhes são
próximas e com o meio que as circunda. No processo de construção do
conhecimento, as crianças se utilizam das mais diferentes linguagens e
exercem a capacidade que possuem para formarem idéias e hipóteses sobre
aquilo que pesquisam e buscam descobrir, construindo o conhecimento a partir
dessas interações. Por conta dessas características, a escola deve ser
acessível a todas as crianças cumprindo seu papel socializador e propiciando o
desenvolvimento da identidade por meio de aprendizagens diversificadas e
significativas.
Tanto a Educação Infantil, que atende crianças dos três aos seis anos,
quanto o Ensino Fundamental, cuja faixa etária fica em tornos dos 6 a 14 anos,
são considerados etapas essenciais do desenvolvimento do aluno. Como fase
inicial dentro de uma dimensão de permanente suporte em todas as etapas da
vida do homem, a educação infantil torna-se muito importante para o
desenvolvimento coordenado no plano físico, cognitivo e social da criança.
O potencial que a criança traz ao nascer, num processo interativo com
as condições oferecidas pelo meio ambiente, irão encaminhar o grau de
desenvolvimento, sua maneira de pensar e agir. Sem saúde, alimentação,
atenção e estímulos, a criança ou morre, ou fica atrasada em seu
desenvolvimento.
61
Em geral, a criança aprende a falar, a andar e a refletir antes de
completar o seu terceiro ano de vida. Esse aprendizado é fundamento da
existência humana, e essas três atividades só podem ser aprendidas em
contato com outros seres humanos. Aos três anos, a criança já tem formada a
sua estrutura básica de linguagem; aos quatro anos, alcança praticamente
70% de seu desenvolvimento intelectual e aos seis anos, terá formada as
bases de sua personalidade. Seu sucesso na escola, seu comportamento na
adolescência e na vida adulta vão depender de sua formação até essa idade.
A escola como um todo deve sempre oportunizar situações para que a
criança amplie seus conhecimentos, desenvolva a experiência e a consciência
da própria capacidade de aprender, o gosto pela investigação e pela
descoberta, a capacidade de escolha, o espírito crítico, o pensamento, a
expressão pessoal e grupal através das mais variadas formas, registrando-se
inclusive sua introdução no processo de descoberta e utilização da linguagem
escrita.
A escola, mais especificamente a Educação Infantil, se constitui no lugar
onde a criança tem oportunidade de desenvolver certas operações mentais,
expandir a sensibilidade e a criatividade, desenvolver habilidades psicomotoras
específicas, ampliar seu vocabulário, ampliar o seu relacionamento social e
conviver com a diversidade existente na vida de hoje, aprendendo a respeitar o
próximo.
Souza, afirma que:
“É preciso que a pré-escola tenha como função instrumentalizar a criança, para ter acesso a conhecimentos e habilidades que lhe darão condições para atuar numa sociedade desigual e competitiva, de maneira crítica e transformadora.
62
Isso significa contextualizar o processo educativo, para que, partindo da realidade de vida da criança e da valorização dos conhecimentos que ela possui, o educador possa favorecer a aquisição de novos conhecimentos, de maneira viva, ativa e que tenha significado para a vida da criança.” (SOUZA, 1991, p. 15)
A educação infantil, de modo especial, tem uma função pedagógica, no
que diz respeito a um trabalho que toma a realidade e os conhecimentos
infantis como ponto de partida, e os amplia através de atividades que têm um
significado concreto para a vida das crianças e que asseguram a aquisição de
novos conhecimentos.
O trabalho psicopedagógico na escola tem como base a realidade
sóciocultural das crianças, as áreas do desenvolvimento cognitivo, afetivo e
psicomotor, as áreas do conhecimento e seus objetos de estudos.
A criança é o centro do processo educativo, mas o professor exerce um
papel essencial como definidor da intencionalidade educativa e da
caracterização da atividade pedagógica, portanto, o professor deve ter o
conhecimento da realidade social em que vivem as crianças, dos fatores de
desenvolvimento infantil, da teoria educacional e das técnicas mais
adequadas, deve também ter hábitos e atitudes positivos de segurança,
confiança, cooperação e qualidades pessoais para o seu trabalho. Esse
profissional deve estar atento às diversidades dos seus alunos, e
principalmente, aos potenciais de cada criança, pois todos nós temos
potenciais diferentes, mas todos nascemos com capacidade para desenvolver
todas as inteligências. A inteligência lingüística, por exemplo, é estimulada
quando conversamos com outras pessoas; a inteligência musical, se cantamos
63
e/ou ouvimos músicas todos os dias. Estando atento, o professor poderá
propiciar atividades que auxiliem ao desenvolvimento das múltiplas
inteligências nas crianças do pré-escolar.
A música é linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de
expressar e comunicar sensações, sentimentos, pensamentos, e está presente
em todas as culturas, nas mais diversas situações. No contexto da educação
vem atendendo a vários objetivos, tem sido de forma errada, apenas suporte
para atender a vários propósitos, como a formação de hábitos, atitudes e
comportamentos, como lavar as mãos antes do lanche, escovar os dentes,
arrumar a sala de aula, comemorar as datas festivas do calendário escolar.
Essas canções costumam ser acompanhadas por gestos corporais, imitados
pelas crianças de forma mecânica e estereotipada, sem nenhum valor musical.
Muitas escolas encontram dificuldade para integrar a linguagem musical
ao contexto educacional, pois muitas das vezes, a música é tratada como se
fosse um produto pronto, que se aprende a reproduzir, e não uma linguagem
que se constrói.
O ambiente sonoro, assim como a presença da música em diferentes e
variadas situações do cotidiano fazem com que a criança iniciem seu processo
de musicalização de forma intuitiva. A escuta de diferentes sons, produzidos
por diferentes objetos, também é fonte de observação e descoberta. O fazer
musical é uma forma de comunicação e expressão que acontece por meio da
improvisação, da composição e da interpretação, e nessa faixa etária, a
improvisação constitui-se numa das formas de atividade criativa.
64
Os primeiros anos de aprendizagem são propícios para que a criança
comece a entender o que é a linguagem musical, aprenda a ouvir sons e a
reconhecer diferenças entre eles. Todo o trabalho a ser desenvolvido deve
buscar a brincadeira musical, aproveitando que existe uma identificação natural
da criança com a música, assim, dessa maneira as crianças estarão
desenvolvendo a criatividade e também a sua inteligência musical
O trabalho com a linguagem oral e escrita é um dos elementos
importantes para as crianças ampliarem suas possibilidades de inserção e de
participação nas diversas práticas sociais e também desenvolve a inteligência
lingüística. Se constitui um dos eixos básicos na escola, dada sua importância
para a formação do sujeito, para a interação com outras pessoas, na
orientação das ações das crianças, na construção de muitos conhecimentos e
no desenvolvimento do pensamento.
Nas escolas, a linguagem oral, tem se restringido a algumas atividades,
entre elas as rodas de conversa. Apesar de serem organizadas com a intenção
de desenvolver a conversa, em geral, muitos profissionais fazem desse
momento um monólogo, esquecendo por sua vez, a importância de deixar as
crianças falarem suas novidades, seus anseios e suas expectativas,
proporcionando, assim, assim, um desenvolvimento da linguagem.
A construção da linguagem oral não é linear e ocorre em um processo
de aproximações sucessivas com a fala do outro. As crianças têm ritmos
próprios e a conquista de suas capacidades lingüísticas se dá em tempos
diferenciados, sendo que a condição de falar com fluência, de produzir frases
completas e inteiras provém da participação em atos de linguagem.
65
Nas sociedades letradas, as crianças estão em permanente contato com
a linguagem escrita, e é por meio desse contato diversificado em seu
ambiente, que as crianças descobrem o aspecto funcional da comunicação
escrita, desenvolvendo interesse e curiosidade por essa linguagem, e é por
esse motivo que o professor deve a todo momento proporcionar um ambiente
alfabetizador para que as crianças percebam a verdadeira importância da
linguagem escrita. É papel do professor criar novas situações que gerem
espontaneidade, naturalidade e estimulem a criatividade e a inteligência
lingüística das crianças, nas atividades propostas ao grupo.
As crianças refletem e, gradativamente, tomam consciência do mundo
de diferentes maneiras em cada etapa do seu desenvolvimento. As
transformações que ocorrem em seu pensamento se dão simultaneamente ao
desenvolvimento da linguagem e de suas capacidades de expressão. À
medida em que crescem, se deparam com fenômenos, fatos e objetos do
mundo, perguntam, reúnem informações, organizam explicações e arriscam
respostas. Ao lado de diversas conquistas, as crianças iniciam o
reconhecimento de certos fenômenos sociais e naturais, observam em uns
momentos, fazem experiências em outros, e movidas pelo interesse e pela
curiosidade, as crianças podem conhecer o mundo por meio da atividade
física, afetiva e mental, construindo explicações individuais para os diferentes
fenômenos da natureza. Quando surge esse imenso interesse naturalista, o
professor deve levar os alunos a refletirem sobre as questões da natureza e a
se conscientizarem para que cuidem e ensinem a cuidar, pois dessa maneira,
estará estimulando, também, a inteligência naturalista.
66
Na escola, a matemática deve ser vista como uma atividade do
pensamento, a qual pode ser considerada uma linguagem simbólica que
expressa relações espaciais e de quantidade. Sendo uma atividade do
pensamento, caracteriza-se pela aquisição das operações e das estruturas
lógicas elementares, próprias do período em que a criança se encontra.
As crianças, de um modo geral aprendem no seu dia-a-dia, brincadeiras,
jogos, histórias, músicas, etc. De uma forma natural, estão sendo
desenvolvidas noções de representações matemáticas. Essas primeiras
noções expressam a existência de um vocabulário matemático, a princípio oral,
mas envolto por tentativas de escrita e de representações simbólicas. As
figuras, os risquinhos e os dedos usados como instrumentos de contagem, são
alguns dos exemplos de representação simbólica.
Visando à aquisição do conhecimento lógico-matemático, as situações
presentes no cotidiano da escola poderão ser exploradas sempre que possível,
como por exemplo: a distribuição do lanche ou de materiais, as atividades de
modelagem e de construções de jogos, nas quais a criança poderá comparar
quantidades, estabelecer critérios para classificar, ordenar e parear elementos,
fazer a correspondência entre os elementos, buscar soluções, etc.
As noções de classificação, seriação e conservação de quantidades
fazem parte da construção do número e devem ser trabalhadas
simultaneamente.
A criança desde pequena, agrupa objetos segundo critérios próprios,
não se limitando à classe a que eles pertencem. Se for questionada, ela pode
se referir ao seu uso ou dizer que são objetos de que ela mais gosta.
67
Agrupar segundo critérios pré-determinados é um procedimento
necessário para iniciar todo tipo de conhecimento ou investigação da
realidade.
A classificação é uma operação lógico-matemática realizada tendo em
vista as semelhanças existentes entre os elementos. Significa reunir objetos de
acordo com determinados atributos, e deve ser vista como base para a
construção do número.
Estimular essa forma de pensamento lógico é um trabalho que deve ser
iniciado muito cedo com as crianças, uma vez que é um pressuposto básico
para a estruturação do mundo interior e exterior.
Na pareamento, o critério de relação entre os objetos é a semelhança,
enquanto na seriação e ordenação, é a diferença que existe entre eles. É
importante ressaltar que, durante o trabalho de seriação dos objetos, a criança
deverá justificar a sua ordenação, para que o professor perceba a operação
lógico-matemática que a criança está realizando.
Uma vez que a criança tenha adquirido a noção de ordem do seu
mundo físico, ela pode começar a perceber a ordem dos números, que cada
elemento da série numérica tem um antecessor e um sucessor.
A noção de conservação de quantidade pode ser trabalhada com
crianças pequenas de uma forma bem simples: com objetos, palitos,
tampinhas, líquidos e massas. Posteriormente, a criança terá um domínio
maior sobre a questão da conservação, quando for capaz de perceber a
reversibilidade.
68
É muito importante que o professor perceba os diferentes significados
que pode ter a atividade motora para as crianças. Isso poderá contribuir para
que ele possa ajudá-las a ter uma percepção adequada de seus recursos
corporais, de suas possibilidades e limitações sempre em transformação,
dando-lhes condições de se expressarem com liberdade e de aperfeiçoarem
suas competências motoras.
A organização do ambiente, dos materiais e do tempo visam a auxiliar
que as manifestações motoras das crianças estejam integradas nas diversas
atividades da rotina. Para isso, os espaços externos e internos devem ser
amplos e suficientes para acolher as manifestações da motricidade infantil. Os
objetos, brinquedos e materiais devem auxiliar as atividades expressivas e
instrumentais do movimento.
As inteligências múltiplas não devem ser o objetivo de uma escola. O
papel delas é de funcionar como instrumentos para alcançar objetivos
educacionais. Se alguém quiser educar crianças que saibam, por exemplo, se
relacionar bem, precisa desenvolver as inteligências pessoais dessas crianças.
Se alguém quiser ensinar conteúdos de determinadas disciplinas, como
matemática e português, então deve utilizar as várias inteligências que todas
as crianças têm e fazer delas instrumentos para que essas crianças aprendam
os conteúdos desejados de maneira eficiente.
Por não ser o objetivo principal de uma escola, as inteligências múltiplas
também não devem determinar o que se ensina. O currículo de uma escola,
precisa refletir os seus objetivos, e de forma mais ampla, os da sociedade. Em
geral, o currículo trata de um número muito grande de temas, e o ideal seria
69
trabalhar com um número pequeno de assuntos e conseqüentemente com
mais profundidade. Segundo Gardner (1997), quando se focalizam poucos
temas de estudo, fica mais fácil de usar as inteligências múltiplas e ajudar os
estudantes a entender melhor o que está sendo tratado. Nesse sentido o
psicopedagogo pode exercer um papel fundamental auxiliando a criança,
através de atividades didáticas selecionadas, a descobrirem e explorarem
suas próprias potencialidades.
70
CONCLUSÃO
A educação escolar no mundo inteiro tem passado, ao longo dos anos,
por reformas com o intuito de melhorar o desempenho dos alunos no processo
ensino-aprendizagem. Infelizmente a maioria delas se resume em abordar de
forma diferente metodologias antigas. Provavelmente nenhuma teoria seria
capaz de incorporar todos os fatores que devem ser observados em se
tratando de processo de aprendizagem. “No presente, os que mais falam neste
debate pedem escolas uniformes” Gardner (1995, p.63), ou seja, os que
desejam as mudanças acreditam que a escola deve oferecer oportunidades
iguais para todos, porém, traduzidas na oferta de um mesmo currículo para
todos os alunos, transmitido pelos mesmos métodos de ensino e avaliados por
testes padronizados.
Para satisfazer tal mudança nos processos educativos vigentes de
forma a garantir a formação de um homem completo, preparado para viver no
mundo atual, Gardner sugere uma educação baseada na Teoria das
Inteligências Múltiplas. Antunes também defende esta idéia e diz que o que se
pretende com um programa educacional que desenvolva as Inteligências
Múltiplas é o aproveitamento da diversidade que se apresenta em todas as
comunidades por suas culturas e transformar a diversidade em métodos e
estratégias e “leva-los aos alunos convencionais em escolas
institucionalizadas...” (Antunes, 1998, p. 135).
Infelizmente o que se observa tanto na teoria quanto na prática, é que
escolas e consequentemente seus professores ainda não reconhecem a
71
grande ferramenta de trabalho e as possibilidades contidas na Teoria das
Inteligências múltiplas e assim não a utilizam no contexto escolar.
Partindo desse pressuposto, o psicopedagogo pode ter uma importância
fundamental no desenvolvimento das múltiplas inteligências, enquanto o
professor tem a tarefa de individualizar as situações de aprendizagem
oferecidas às crianças, considerando suas capacidades afetivas, emocionais,
sociais e cognitivas assim como os conhecimentos que possuem dos mais
diferentes assuntos e suas origens socioculturais diversas. Isso significa que o
professor deve planejar e oferecer uma gama variada de experiências que
respondam, simultaneamente, às demandas do grupo e às individualidades de
cada criança.
Individualizar na escola, ao contrário do que se poderia supor, não é
marcar e estigmatizar as crianças pelo que diferem, mas levar em conta suas
singularidades, respeitando-as e valorizando-as como fator de enriquecimento
pessoal e cultural. É necessário considerar que as crianças são diferentes
entre si, e isso implica propiciar uma educação baseada em condições de
aprendizagem que respeitem suas necessidades e ritmos individuais, visando
a ampliar e a enriquecer as diversas capacidades de cada criança,
considerando-as como pessoas simples e com características próprias. O
professor da pré-escola deve estar muito atento às diversidades, pois além de
propiciar atividades de acordo com o interesse de cada criança estará também
desenvolvendo suas múltiplas inteligências.
Não deve existir interesse do professor em avaliar as crianças a partir da
teoria das inteligências múltiplas. É importante, porém, definir o que se deseja
72
que as crianças saibam fazer, pois definindo os objetivos, o professor observa
o desempenho infantil das tarefas determinadas, sendo fundamental explicar
às crianças de que forma elas podem melhorar sua atenção, pois
freqüentemente elas não usam apenas uma, mas várias inteligências para
realizar tais trabalhos.
A escola, de maneira geral, ainda está engatinhando no uso das
múltiplas inteligências, pois existe uma distância muito grande entre teoria e
prática na sala de aula. Nesse aspecto, cabe aos psicopedagogos auxiliarem
os professores, ajudando-os a criar estratégias de ensino e a trlhar os
caminhos para a aprendizagem e o desenvolvimento de competências.
Para Gardner, cada domínio se caracteriza pelo desenvolvimento de
culturas especificas e, em suas pesquisas verificou as habilidades e diferentes
formas inteligências em diversos tipos de pessoas, segundo a teoria cada ser
humano possui, pelo menos, 7 inteligências: lingüística, lógico-matemática,
musical, espacial, cinestésica, interpessoal e intrapessoal. Os seres humanos
dispõem de graus variados de cada uma das inteligências e maneiras
diferentes de combinação, organização e como são utilizadas cada uma
dessas capacidades intelectuais.
O desenvolvimento da inteligência se dá quando o individuo questiona e
procura respostas usando todas as inteligências, onde os estágios mais
sofisticados dependem de maior trabalho ou aprendizado.
A teoria de Gardner apresenta alternativas para algumas práticas
educacionais atuais, onde Gardner chama a atenção para o fato que, as
escolas se limitam as avaliações de raciocínios verbais e lógicos, não
73
preparando o individuo para a vida, propondo assim que as escolas favoreçam
o conhecimento de diversa disciplina e que encorajem seus alunos a utilizar
seus conhecimentos para resolver problemas e efetuar tarefas relacionadas
com a vida favorecendo o desenvolvimento de combinações intelectuais
individuais a partir da avaliação do potencial de cada um.
Então, cada pessoa pode expressar inteligência variada e em níveis
diferentes de uma ou de um conjunto de inteligências, não podendo de
maneira alguma ser definida ou medida em um modelo de teste com lápis e
papel. E que as escolas, os psicopedagogos e os educadores, de modo geral,
devem incentivar o aprendizado e o desenvolvimento das habilidades de cada
um fazendo com que este sinta o desejo de buscar mais conhecimento
mudando assim a forma de como enxergar o aluno e o próprio educador.
A partir da fundamentação da Teoria das Inteligências Múltiplas, o
processo de aprendizagem é único para cada indivíduo, assim como o
princípio pedagógico se constitui no respeito às individualidades e
principalmente às várias formas de expressividade do ser humano.
Porém, cabe ressaltar que para uma prática pedagógica nessa
perspectiva, não se trata simplesmente de relatar que todos nós somos
diferentes, mas para que ocorra a aprendizagem, a sociedade e a escola
precisam transcender o discurso da diversidade humana, da pluralidade
intelectual e realmente desenvolverem ações sociais, políticas e pedagógicas
comprometidas com a complexidade do ser humano.
Com base nos dados desse estudo sobre as contribuições da
psicopedagogia para a análise das múltiplas inteligências, podemos concluir
74
que Antunes faz uma crítica ao descaso com que a maior parte das escola
deixa de aproveitar a experiência existencial que a criança chega na escola em
seu primeiro dia de aula.
Segundo ele:
“... Essa criança, sobretudo a proveniente de meio pouco favorecido, entra na escola com acentuada inteligência espacial, imensa abertura verbal, curiosa percepção lógico-matemática, aguda vivência naturalista e curiosidade pictórica infinita...” (Antunes, 1998, p. 106).
Ou seja, a criança chega com todas as possibilidades de receber
estímulos a todas as inteligências e a escola simplesmente descarta esta
possibilidade e direciona seu trabalho para a transmissão do conhecimento
que o professor detém.
Para mudar esse quadro e adequar as escolas às concepções da Teoria
das Inteligências Múltiplas, Gardner apresenta alguns requisitos básicos que
escola deverá observar. Primeiro é preciso que haja um sentimento de querer
dos envolvidos, que eles tenham um desejo de deixar de lado suas
concepções a cerca da inteligência pois, segundo Gardner, na medida em que
nossas necessidades de formar o homem num todo e que assumirmos a
mudança para uma nova educação centrada no indivíduo, estaremos, sem
dúvida, fazendo progressos. Também é preciso que se tenha um plano em que
sejam definidos objetivos e em que se relacionem recursos disponíveis,
pessoal envolvido, cronogramas, fontes de pesquisa e orientação, estratégias,
políticas de interação com os pais e a comunidade, noções temporais,
sistêmicas e outros pressupostos em direção às metas propostas. Gardner
apresenta quatro fatores importantes no planejamento de um programa
75
educacional baseado na Teoria das Inteligências Múltiplas: Avaliação,
Currículo, Educação e Desenvolvimento Profissional do professor e
Participação da Comunidade. Nessa mesma linha de pensamento Antunes
defende a necessidade de “arregaçar as mangas, buscar ferramentas para
transformar o sonho em realidade” (1998, p. ).
O ato de generalizar, fragmentar e homogeneizar seres aprendizes
propicia a exclusão de valores, e das possibilidades de aprendizagem e
desenvolvimento, reduzindo, e até mesmo anulando, capacidades ilimitadas.
Uma educação que prioriza a criança suscita e exige da escola uma pedagogia
comprometida com intervenções sociais e globais. Assim, o grande desafio da
escola pode se constituir em representar as individualidades, considerando a
diversidade existente no seu contexto.
A educação deve tratar o ser humano em toda sua dimensão, tendo
como foco o indivíduo, rompendo com uma visão reducionista de
Aprendizagem, dificuldade de aprendizagem e Inteligência. Além disso, não se
pode ter uma visão que enfatiza a responsabilidade do sucesso da
aprendizagem sobre a criança, ou sobre o professor. Pode ser que a
responsabilidade do insucesso da aprendizagem seja de todo um sistema
educacional e nessa dura realidade, o professor torna-se o grande vilão da
aprendizagem, e o papel de vítima é do aluno.
Mas, apesar da evidência de que a responsabilidade pedagógica não é
somente do professor, a partir do momento em que o professor olhar para
todas as crianças, como alunos que possuem várias inteligências, pode ser o
76
início da mudança de histórias de fracassos tanto de alunos, como de
professores.
Os resultados desse estudo revelam a possibilidade do psicopedagogo,
atuando junto com a escola, realizar intervenções pedagógicas baseadas na
pluralidade intelectual. Entretanto, é preciso considerar todas as variáveis do
contexto escolar, assim como a articulação dessas variáveis. Além disso,
conceber a Teoria das Inteligências Múltiplas no ensino tanto público quanto
privado, não se constitui em uma prática simples, mas se apresenta como um
enorme desafio para todos os envolvidos na educação.
Para aplicar uma metodologia baseada nessa teoria, as estratégias
pedagógicas devem conceber que não existem incapacidades para
aprendizagem. Para tanto, na escola, torna-se imprescindível um engajamento
dos professores, dos pais, dos alunos, da equipe administrativa, enfim de
todos os envolvidos no sistema escolar, juntamente com a ruptura de alguns
paradigmas educacionais.
Além disso, cabe atentar que no ensino, os alunos, os professores, os
diretores, os pais enfrentam uma dura realidade, sendo que os descasos
prevalecem, e muitas vezes estão além do contexto escolar, pois estão
inseridas na história de vida da criança e na sociedade. Diante dessa realidade
do contexto escolar, as propostas pedagógicas que envolvem equipe
administrativa, os docentes e os discentes, na educação estão pautadas num
enorme desafio.
Gardner acredita na importância de uma educação centrada no
indivíduo, que possibilite o desenvolvimento das diversas potencialidades que
77
a criança traz consigo para a escola. Só dessa forma ela será capaz de
aprender de forma plena interagindo com o mundo e aplicando seus
conhecimentos às atividades do dia a dia.
78
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AMARO, Deigles J. Educação Inclusiva e o Cotidiano Escolar. São
Paulo: Casa do psicólogo. 2006.
ANTUNES, Celso. Alfabetização emocional. 5ª ed. Rio de Janeiro:
Vozes, 1999.
________________ A inteligência emocional na construção do novo
eu. 4ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.
ARMSTRONG, Thomaz. Inteligências Múltiplas na Sala de Aula.
Porto Alegre: Artmed. 2001.
BOSSA, N. A. Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da
prática. Porto Alegre: Artes Médicas. 1994.
BUTCHER, H.J. - A Inteligência Humana , São Paulo: Ed. Perspectiva
S.A. , 1968.
FELDMAN, David H. Como o Spectrum começou. In J.-Q. Chen; M.
Krechevsky; J. Viens (Orgs.), Projecto Spectrum: Utilizando as competências
das crianças. Porto Alegre: Ática. 2001.
FERNÁNDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada: abordagem
psicopedagógica clinica e sua família. Porto Alegre: Artes Médicas.1991.
GARDNER, Howard; KORNHABER, Mindy L.; WAKE, Warren.
Inteligência: múltiplas perspectivas. Porto Alegre: Artmed. 1998.
GARDNER, Howard. A criança pré-escolar: como pensa e como a
escola pode ensiná-la. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
79
__________________ - Estruturas da Mente - Teoria das inteligências
múltiplas, Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
GOLEMAN, Daniel - Inteligência Emocional: a teoria revolucionária
que define o que é ser inteligente. São Paulo: Objetiva, 1996.
HAWKINS, Jeff. BLAKESLEE, Sandra. On Intelligence, St. Martin's
Griffin; First Edition edition, 2005.
LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora?: novas
exigências educacionais e profissão docente. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
LUCKESI, Cipriano C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez..
1999.
MACEDO, Lino de. Ensaios Pedagógicos: como construir uma
escola para todos? Porto Alegre: Artmed. 2005.
MACHADO, Adriana M. A queixa no alvo do diagnóstico. Série ideias,
n. 28. São Paulo: FDE, pp. 141- 156. 1997.
MACHADO, Luiz - Cérebro do Cérebro , Porto Alegre: Artes Médicas ,
1994
MACHADO, Luiz - Toda criança nasce gênio , Porto Alegre: Artes
Médicas , 1992.
MALUF, M. I. Artigo: Preguiça Escolar ou Dificuldades de
Aprendizagem? Jornal da Educação. Ano XVII. N. 184. 2005
MOLINA, Maria José T. Teoria Cognitiva Global. Tradução: Suzana
Morais. Livro on line, disponível em:
http://www.molwick.com/pt/livros/psicologia.html. 2002. Acesso em 18/06/2011.
80
NEIRA, Marcos G. Educação Física: desenvolvendo competências.
São Paulo, Phorte. 2003.
NISTA-PICCOLO,Vilma L.; PRODÓCIMO, Elaine; SOUZA, Mauricio T.;
BRANDL, Carmen E. H.; ZYLBERBERG, Tatiane P.; FARIAS, Luciene.
Manifestações da inteligência corporal cinestésica em situação de jogo
na educação física escolar. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 12, n
4, pp. 01-126. 2004.
OSTI, Andréa. As dificuldades de aprendizagem na concepção do
professor. Dissertação de Mestrado em Educação. Faculdade de Educação,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas.2004.
PATTO, Maria H. S. O fracasso escolar como objeto de estudo:
anotações sobre as características de um discurso. Cadernos de Pesquisa,
n.65, pp.72-77, maio. 1998.
PETTI, Carin Homonnay . Você pensa como homem ou como
mulher?
Revista Galileu, Edição.144, de Julho/2003. São Paulo: Ed. Globo.
PIAGET, Jean. Psicologia da inteligência. Rio de Janeiro: Zahar,
1961.
SISTO, F. F. Contribuições do Construtivismo à Psicopedagogia. In:
SISTO, Fermino Fernandes; 1996.
SOUZA, Solange Jobim. Educação ou tutela? – a criança de 0 a 6
anos. São Paulo: Loyola, 1991.
WADSWORTH, Barry J. Inteligência e Afetividade da Criança na
Teoria de Piaget. São Paulo: Pioneira. 2003
81
WEISZ, Telma; SANCHEZ, Ana. O Diálogo entre Ensino e
Aprendizagem. São Paulo: Ática. 2003.
ZYLBERBERG, Tatiane P.. Possibilidades corporais como
expressão da inteligência humana no processo ensino-aprendizagem.
Tese de Doutorado em Educação Física. Faculdade de Educação Física,
Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP- Campinas. 2007
82
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
EPÍGRAFE 7
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
ESTUDANDO A INTELIGÊNCIA HUMANA 16
1.1 - O conceito de inteligência 16
1.2 – A inteligência masculina e feminina 24
1.3.- A inteligência emocional 29
CAPÍTULO II
AS MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS 36
2.1 - Caracterização das múltiplas inteligências 38
2.2 – As dificuldades de aprendizagem e as múltiplas inteligências 50
2.3. - As múltiplas inteligências no contexto escolar de aprendizagem 54
CAPÍTULO III
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA PARA A ANÁLISE DAS
MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS 56
3.1 - Desenvolvendo as múltiplas inteligências na escola 58
CONCLUSÃO 69
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 77
ÍNDICE 81
83