UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · Essas diferenças são determinantes para...

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU AVM FACULDADE INTEGRADA COMO A GESTÃO AMBIENTAL PODE AJUDAR A ENFRENTAR OS DESAFIOS DA COLETA DE LIXO EM COMUNIDADES PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO? Por: Tiago Gomes de Arruda Orientador Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AVM FACULDADE INTEGRADA

COMO A GESTÃO AMBIENTAL PODE AJUDAR A ENFRENTAR

OS DESAFIOS DA COLETA DE LIXO EM COMUNIDADES

PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO?

Por: Tiago Gomes de Arruda

Orientador

Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AVM FACULDADE INTEGRADA

COMO A GESTÃO AMBIENTAL PODE AJUDAR A ENFRENTAR

OS DESAFIOS DA COLETA DE LIXO EM COMUNIDADES

PERIFÉRICAS DO RIO DE JANEIRO?

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Gestão Ambiental

Por: Tiago Gomes de Arruda.

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AGRADECIMENTOS

... a Deus por estar presente em cada

momento da minha vida, minha esposa

Wânia, meus pais, amigos de curso e

ao amigo e orientador profº. Vilson.

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DEDICATÓRIA

...dedico este trabalho a minha querida e

amada esposa Wânia, que é uma pessoa

muito especial.

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RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso expõem um estudo realizado na

Comunidade do Morro do Juramento, onde a Gestão Ambiental, oferece

instrumentos que podem solucionar a questão da má disposição do lixo dentro

de uma comunidade e levam mudanças de comportamento pessoal e atitudes

e valores que podem ter fortes consequências sociais, que podem melhorar a

qualidade de vida de toda comunidade, e que somente através de uma

consciência crítica e um compromisso com a cidadania, é possível viver em um

ambiente saudável.

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METODOLOGIA

Busca-se, identificar, por meio de visita de campo, cito a Comunidade

do Morro de Juramento, as principais barreiras que impedem uma coleta de

lixo eficaz. Para tanto usaremos como embasamento teórico para a pesquisa

obras do autor, José Carlos Barbieri, e teremos a Gestão Ambiental, como

ferramenta na busca de entendermos os problemas da coleta de lixo na

comunidade.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Educação Ambiental 09

1.1 - Educação como elemento para a transformação de uma consciência Ambiental 12

1.2 - Educação Ambiental e Cidadania 15

CAPÍTULO II – Gestão Ambiental 2.1 – Coleta Seletiva 24 2.2 – Reduzir, Reutilizar e Reciclar 27 2.3 – Sustentabilidade, Movimentos Sociais e educação Ambiental 29 CAPÍTULO III – O juramento 35

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

BIBLIOGRAFIA CITADA 43

ÍNDICE 44

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INTRODUÇÃO

A medida que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na

natureza para a satisfação de necessidades e desejos crescentes, surgem

tensões e conflitos quanto ao uso do espaço e recursos. Nos últimos séculos,

um novo modelo de civilização se impôs, trazendo a industrialização, como

forma de organização do trabalho, além da mecanização da agricultura, que

inclui o uso de agrotóxicos, e a urbanização, como um processo de

concentração populacional nas cidades.

A tecnologia empregada evolui rapidamente com consequências que

se agravam com igual rapidez. A exploração dos recursos naturais passou a

ser feita de forma demasiadamente intensa. De onde se retirava uma árvore,

agora se retiram centenas. Onde moravam algumas famílias, consumindo

alguma água e produzindo poucos detritos, agora moram milhões de famílias,

exigindo imensos mananciais e gerando milhares de toneladas de lixo por dia.

Essas diferenças são determinantes para a degradação do meio onde se

insere o homem.

È nesse contexto que, surge a necessidade do uso de ferramentas,

como, a Gestão Ambiental, aliada a outras frentes sociais, como educação,

saúde, educação ambiental e cultura, a fim de desenvolver não só em

comunidades periféricas, mas na sociedade como um todo, uma consciência

crítica e o compromisso com o meio ambiente e a cidadania.

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CAPÍTULO I

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A Educação Ambiental constitui um importante instrumento de

mobilização da comunidade para mudança de hábitos e comportamentos,

especialmente em projetos relacionados à coleta seletiva. Entre seus objetivos,

princípios e finalidades expressos na Conferência de Tbilisi, de acordo com

Dias (1994) e Guimarães (1995),

• Ser um processo contínuo e permanente, iniciando em nível pré-escolar

e estendendo-se por todas as etapas da educação formal e informal,

adotando a perspectiva interdisciplinar e utilizando as especificidades de

cada matéria de modo a analisar os problemas ambientais através de

uma ótica global e equilibrada

• Examinar as principais questões relativas ao ambiente tanto do ponto de

vista local como nacional, regional e internacional, para que os

envolvidos tomem conhecimento das condições ambientais de outras

regiões;

• Inter-relacionar os processos de sensibilização, aquisição de

conhecimentos, habilidades para resolver problemas e especificações

dos valores relativos ao ambiente em todas as idades, enfatizando,

sobretudo a sensibilidade dos indivíduos em relação ao meio ambiente de

sua própria comunidade;

• Levar em conta a totalidade do ambiente, ou seja, considerar os

aspectos naturais e construídos pelo homem, tecnológicos e sociais,

econômicos, políticos, histórico-culturais, estéticos.

Da mesma forma, Ab’Saber (1991), considera que a Educação Ambiental

constitui “um processo que envolve um vigoroso esforço de recuperação de

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realidades, nada simples. Uma ação, entre missionária e utópica, destinada a

reformular comportamentos humanos e recriar valores perdidos ou jamais

alcançados. Um esforço permanente na reflexão sobre o destino do homem –

de todos os homens – face à harmonia das condições naturais e o futuro do

planeta ‘vivente’, por excelência. Um processo de Educação que garante um

compromisso com o futuro. Envolvendo uma nova filosofia de vida. E, um novo

ideário comportamental, tanto em âmbito individual, quanto na escala coletiva”.

De acordo com Leff (2001), “o custo social da destruição e da degradação

ambiental gerada pela maximização do lucro e dos excedentes econômicos em

curto prazo deram, pois impulso à emergência de novos atores sociais

mobilizados por valores, direitos e demandas que orientam a construção de

uma racionalidade ambiental”. Nesta perspectiva, e considerando que toda a

questão do lixo passa por um aspecto básico, qual seja a educação para uma

nova consciência ambiental, seja da criança, do trabalhador em geral, do

cidadão, acreditamos que a educação será efetiva através de ações concretas

que apresentem resultados visíveis a toda sociedade, a exemplo da coleta

seletiva e da organização de catadores.

Analisando todo o processo que o resíduo perfaz (geração ao destino final),

temos como instrumento fundamental para o trabalho educativo a promoção

da Educação Ambiental, já que constitui um processo que integra

conhecimentos, valores e participação social, objetivando a promoção da

conscientização das pessoas a respeito da crise ambiental e do papel que

cada um desempenha enquanto co-responsável pelos problemas e a respeito

das possibilidades de cada um participar das alternativas de solução,

procurando despertar um comprometimento do cidadão, já que a crise

ambiental e a crise social se confundem e são frutos de uma crise mais

profunda e mais geral desse momento da história da humanidade. Torna-se

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obrigatório, portanto, criar mecanismos para a diminuição da geração

exacerbada de resíduo, pois, se reciclar é um ato ecológico e sensato, evitar a

geração de lixo é mais inteligente e consciente. Segundo Ortigoza (2001),

possibilidades de minimização dos impactos gerados pelos resíduos sólidos.

A essência do Consumo Sustentável é criar nos consumidores uma

consciência ecologicamente seletiva, desenvolvendo dentro do cotidiano novos

hábitos de consumo mais responsáveis com menor volume de desperdício.

Deve-se educar primeiramente para a redução, afinal nem tudo que

consumimos é realmente uma necessidade. Devemos passar a observar

nossas necessidades “reais” e as “criadas” pela mídia. Posteriormente, deve-

se educar para a reutilização, uma vez que muito dos produtos que

consumimos podem servir para novos usos.

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1.1 - A educação como elemento para a transformação de uma

consciência ambiental

Uma das principais conclusões e preposições assumidas

internacionalmente é a recomendação de se investir numa mudança de

mentalidade, conscientizando os grupos humanos para a necessidade de se

adotarem novos pontos de vista e novas posturas diante dos dilemas

ambientais constatados nos últimos tempos.

Todas as recomendações, decisões e tratados internacionais sobre o

tema evidenciam a importância atribuída por lideranças de todo o mundo para

a Educação Ambiental como meio indispensável para se conseguir criar e

aplicar formas cada vez mais sustentáveis de interação sociedade-natureza e

soluções para os problemas ambientais. Evidentemente, a educação sozinha

não é suficiente para mudar os rumos do planeta, mas certamente é a

condição necessária para tanto. A conferência Intergovernamental de

Educação Ambiental realizada em Tbilisi, Geórgia, estabeleceu princípios que

constam deste documento, no item “Orientação didática geral”.

O Brasil, além de ser um dos maiores países do mundo em extensão,

possui inúmeros recursos naturais de fundamental importância para o planeta:

desde ecossistemas importantes como as suas florestas tropicais, o pantanal,

o cerrado, o mangue e as restingas, até uma grande parte da água doce

disponível para o consumo humano. Dono de uma das maiores

biodiversidades do mundo, tem ainda uma riqueza cultural vinda da interação

dos diversos grupos étnicos – americanos, africanos, europeus e asiáticos – o

que traz contribuições para toda a comunidade. Parte desse patrimônio cultural

consiste no conhecimento, mais ainda pouco divulgado, dos ecossistemas

locais: seu funcionamento, sua dinâmica seus recursos.

É preocupante, no entanto, a forma como os recursos naturais e

culturais brasileiros vêm sendo tratados. Poucos produtores conhecem ou dão

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valor ao conhecimento do ambiente específico que atuam. Muitas vezes, para

extrair um recurso natural, perde-se um de maior valor, como tem sido o caso

da formação de pastos na Amazônia. Com frequência, também a extração de

um bem (minérios, por exemplo) traz lucros somente para um pequeno grupo

de pessoas, que muitas das vezes nem são habitantes da região e levam a

riqueza para longe e até para fora do país, deixando em seu lugar uma

devastação que custará caro a saúde da população e dos cofres públicos.

Além disso, a degradação dos ambientes intensamente urbanizados nos

quais se insere a maior parte da população brasileira também é razão de ser

deste tema. A fome, a miséria, a injustiça social, a violência e a baixa

qualidade de vida de grande parte da população brasileira são fatores que

estão fortemente relacionados ao modelo de desenvolvimento e suas

implicações sócio-ambientais.

Nesse contexto, fica evidente a importância de se educar os futuros

cidadãos brasileiros para que, como empreendedores, venham a agir de modo

responsável e com sensibilidade, conservando o ambiente saudável no

presente e para o futuro; como participantes do governo ou da sociedade civil,

saiba cumprir suas obrigações, exigir e respeitar os próprios direitos e os de

toda a comunidade, tanto local como internacional: e, como pessoas,

encontram acolhida para ampliar a qualidade de suas relações intra e

interpessoais com o ambiente tanto físico quanto social.

A preocupação em relacionar a educação ambiental com a vida dom

aluno, seu meio, sua comunidade não é novidade. Ela vinha crescendo

especialmente desde a década de 60 no Brasil. Exemplo disso são as

atividades como os “estudos do meio”. Porém, a partir da década de 70, com o

crescimento dos movimentos ambientalistas, passou-se a adotar

explicitamente a expressão “Educação Ambiental” para qualificar iniciativas de

universidades, escolas, instituições governamentais e não – governamentais

pelas quais se busca conscientizar setores da sociedade para questões

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ambientais. Um importante passo foi a constituição de 1988, quando a

Educação Ambiental se tornou exigência constitucional a ser garantida pelos

governos, federal, estaduais e municipais.

Hoje, de acordo com o depoimento de vários especialistas que vem

participando de encontros nacionais e internacionais, o Brasil é considerado

um dos países com maior possibilidade de experiências em educação

ambiental, com iniciativas originais que, muitas vezes, associam a intervenções

na realidade local. Portanto, qualquer política nacional, regional ou local que se

estabeleça deve levar em consideração essa riqueza de experiências, investir

nela, e não inibi-la ou descaracterizar sua diversidade.

É necessário ainda ressaltar que, embora recomendada por todas as

conferências, exigida pela constituição e declarada como prioritária por todas

as instâncias de poder, a Educação Ambiental está longe de ser uma atividade

aceita e desenvolvida, porque ela implica mudanças profundas e inócuas. Ao

contrário, quando bem realizada, a Educação Ambiental leva a mudanças de

comportamento pessoal e a atitude e valores de cidadania que pode ter fortes

consequências sociais.

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1.2 - Educação Ambiental e Cidadania

A principal função do tema meio ambiente é contribuir para a formação

de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade sócio-

ambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem estar de cada

um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que, mais do

informações e conceitos, haja uma proposta de se trabalhar com atitudes, com

formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e

procedimentos.

Esse é um grande desafio para a educação. Comportamentos

“ambientalmente corretos”, serão aprendidos no dia a dia na escola: gestos de

solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos diversos ambientais ,

participando em pequenas negociações pode ser exemplo disso.

Há outros componentes que vêm se juntar a escola nessa tarefa: a

sociedade é responsável pelo processo como um todo, mas os padrões de

comportamento da família e as informações veiculadas pela mídia exercem

especial influência sobre as crianças.

No que se refere a área ambiental, há muitas informações, valores e

procedimentos que são transmitidos a criança pelo que se faz em casa. Esse

conhecimento deverá ser trazido e incluído nos trabalhos da escola, para que

se estabeleçam a relação entre esses dois universos no reconhecimento dos

valores que se expressam por meio de comportamentos, técnicas,

manifestações artísticas e culturais.

O rádio, e a TV e a imprensa, por outro lado, constituem a grande fonte

de informações a maioria da sociedade possui sobre o ambiente. Embora

muitas vezes aborde o assunto de forma superficial ou equivocada, a mídia

vem tratando de questões ambientais. Notícias de TV e de rádio, de jornais e

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revistas, programas especiais tratando de questões relacionadas ao meio

ambiente tem sido cada vez mais frequentes.

Paralelamente, existe o discurso pelos mesmos meios de comunicação

que propõe uma ideia de respeito ao meio ambiente. São propostos e

estimulados valores insustentáveis de consumismo, desperdício, violência,

egoísmo, desrespeito, preconceito, irresponsabilidade e tantos outros.

É importante que o tema meio ambiente seja trabalhado nas escolas,

com objetivo de desenvolver, nos alunos, uma postura crítica da realidade, de

informações e valores veiculados pela mídia e daqueles trazidos de casa.

Como diz Sauvé:

“Mais do que uma educação a respeito do, para o, no, pelo ou em prol

do meio ambiente, o objetivo da Educação ambiental é de fato,

fundamentalmente, nossa relação com o meio ambiente”.

Para que o educador possa intervir de modo apropriado, continua a

autora, ele deve considerar as múltiplas facetas dessa relação que

correspondem a modos diversos e complementares de apreender o meio

ambiente.

O autor identifica as seguintes concepções dominantes do meio

ambiente:

Meio Ambiente – Natureza: atribui a origem dos atuais problemas

socioambientais a uma lacuna fundamental entre o ser humano e a natureza, e

decorre esse fato a necessidade de reconstruir nos humanos o sentimento de

pertencer a natureza. A Educação Ambiental baseada nessa concepção

explora os vínculos entre identidade, cultura e natureza, e entende que por

meio da natureza, e entende que por meio da natureza os humanos

reencontram a sua identidade humana, a identidade de ser vivo entre os

demais seres vivos.

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Meio Ambiente – Recurso: enfatiza que não há vida sem os ciclos de

recursos de matéria e energia, de modo que a Educação Ambiental se volta

para a conservação de recursos, para o consumo responsável e para

repartição equitativa dos recursos dentro das sociedades e entre elas.

Meio Ambiente – Problema: entende que os problemas estão

essencialmente associados aos jogos de interesses, de poder e de escolha de

valores, de modo que a Educação Ambiental deve estimular a habilidade de

investigação crítica da realidade do meio e de diagnósticos dos problemas com

vistas à prevenção e à resolução de problemas socioambientais.

Meio Ambiente – Sistema: manifesta pela análise dos componentes e

das relações do meio ambiente entendido como eco-socio-sistema com vistas

a alcançar uma compreensão de conjunto das realidades ambientais e com

isso dispor de informações para uma tomada de decisão criteriosa. Essa

concepção leva à realidade de conhecer os vínculos entre o passado e o

presente, o local e o global, entre as esferas política, econômica, e ambiental,

entre modos de vida, saúde, meio ambiente, etc.

Meio Ambiente – Lugar em que se vive: essa concepção enfatiza a vida

cotidiana na escola, em casa, no trabalho, e em outros lugares, sendo que a

Educação Ambiental procura explorar e redescobrir os lugares nos quais as

pessoas vivem, o aqui e o agora da vida das pessoas, com um olhar

renovado, apreciativo e crítico ao mesmo tempo, que visa redefinir como

pessoa e membro ao mesmo tempo, que visa redefinir-se como pessoa e

membro de grupos sociais com respeito as relações que mantém com o lugar

em que vive.

Meio Ambiente – Biosfera: essa concepção considera a

interdependência das realidades socioambientais em nível global, baseada na

ideia de um micro-organismo (Gaia) um reequilíbrio constante, como proposto

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por James Lovelock. Essa concepção enfatiza a solidariedade internacional

que leva a refletir sobre os modos de desenvolvimento da sociedade humana.

Meio Ambiente – Projeto Comunitário: pelo qual o meio ambiente é

objeto compartilhado, essencialmente complexo e lugar de cooperação e

parceria para realizar as mudanças sociais. O indivíduo reconhece a

necessidade de aprender a viver e trabalhar em comunidades, aprender a

discutir, escutar, argumentar, enfim, comunicar-se de modo eficaz por meio de

um diálogo entre saberes diversos (científicos, tradicionais etc.). Aspectos

políticos sobre a realidade socioambiental são partes essenciais dessa

concepção.

Sauvé reconhece que tal mapeamento de concepções dominantes não

é completo e cita outras, como o meio ambiente - o território entre os povos

indígenas (onde a relação de identidade com o meio ambiente é

particularmente importante), e o meio ambiente – paisagem dos geógrafos.

Ainda conforme o autor, uma Educação Ambiental limitada a uma dessas

concepções dominantes de meio ambiente, por exemplo, meio ambiente como

objeto de estudo, como objeto de valores e como polo de interação e que são

apresentadas na medida em que descreeve as 15 correntes de Educação

Ambiental. Vale lembrar que tais concepções de meio ambiente se baseiam

em estudos norte-americanos e europeus, mais como muito do que se pensa e

se pratica no Brasil sobre Educação Ambiental bebe dessas fontes, é razoável

considerar a sua ocorrência também por aqui.

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CAPÍTULO II

GESTÃO AMBIENTAL

A gestão ambiental é um assunto de relevância mundial. Estamos

observando o nosso planeta se transformar num monte de entulho e o que

estamos fazendo para estagnar esta transformação? Percebemos o problema

e cobramos da gestão pública as suas obrigações e responsabilidades, mas

pouco fazemos para alterar nosso consumo desenfreado, nossos rejeitos

abundantes, nossas atitudes descabidas com relação ao nosso ambiente. A

nossa capacidade de destruição, não se limita mais as guerras que

inventamos, mas envolve o montão de lixo em que estamos transformando o

mundo.

A produção de lixo doméstico passou de 200kg por habitante/ano em

1960 para 540kg em 2000, o que representa 1,5kg por dia, quantidade

modesta se comparada aos 5kg diários produzido pelos norte-americanos,

campeões mundiais de consumismo. Quando multiplicadas pelo número de

habitantes, tais quantidades se tornam assustadoras. Os quase sete bilhões de

indivíduos no mundo produzem 30 bilhões de toneladas de lixo por ano, os 300

milhões de americanos são os que mais consomem e mais poluem. A

quantidade de lixo produzida diariamente por um brasileiro é estimada em

aproximadamente 1kg. É fruto do homem em seu consumo desenfreado por

matérias-primas ou industrializado que, sem uma destinação final adequada,

investe profundamente contra o meio ambiente e degrada a própria natureza

humana. (EQUIPE PLANETA, 2006)

A última Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – PNSB (2000),

realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, avaliou que

63,6 % dos municípios brasileiros utilizavam lixões e 32,2 % aterros

adequados, sendo que 5% não informaram o destino de seus resíduos. Dez

anos antes, a pesquisa mostrava que o percentual de municípios que

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destinavam seus resíduos de forma adequada era de apenas 10,7 %. A

pesquisa também avaliou que a quantidade coletada de lixo diariamente nas

cidades com até 200.000 habitantes gira em torno de 450 a 700 gramas por

habitante. Já as cidades com mais de 200 mil habitantes a quantidade

aumenta para a faixa entre 800 e 1.200 gramas por habitante. A pesquisa

informa que em 2000 eram coletadas diariamente 125.281 toneladas de lixo

domiciliar em todos os municípios brasileiros. A figura 1 demonstra o

percentual do volume de lixo coletado, por tipo de destino final, de acordo com

os estratos populacionais dos municípios brasileiros.

Atingir o objetivo de uma cidade sustentável, conforme Dias, citando

Sirkis (2003), não é uma meta utópica, ela depende de uma série de ações

perfeitamente alcançáveis, mesmo que algumas difíceis por fortes

determinações culturais, políticas e econômicas. Conforme Rezende e Merlin

(2003), a conservação da biodiversidade é, decisivamente, um dos maiores

desafios da humanidade, especialmente quando considerarmos a crescente e

implacável demanda por recursos naturais pelo ser humano.

De acordo com Dias (2003), a manutenção e a elevação da qualidade

ambiental das cidades são uma responsabilidade de vários órgãos

governamentais de ação federal, estadual e municipal; das instituições

privadas, ao cumprir a legislação ambiental; e da comunidade, ao acionar os

instrumentos legais de participação comunitária, para a observação dos seus

direitos constitucionais. A população deve se manter atenta à qualidade do ar

que respira, da água que ingere, dos alimentos que come, das áreas de lazer

que frequenta, enfim, à preservação do seu patrimônio ambiental.

Segundo Jacobi (2000), o desenvolvimento sustentável apoia-se no tripé que

combina: eficiência econômica, justiça social e prudência ecológica, como

premissas da contração de uma sociedade solidária e justa. As dimensões

apontadas pelo conceito de desenvolvimento sustentável contemplam o

cálculo econômico, o aspecto biofísico e o comportamento sociopolítico,

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enquanto referenciais, para interpretação do mundo e para possibilitar

interferências na lógica predatória prevalecente. Com o alto grau de

urbanização e, especialmente pela forma como ela ocorre, a

qualidade ambiental nas cidades brasileiras vem sofrendo um desgaste cada

vez maior. As cidades estão ficando cada vez menos bonitas. Mal percebemos

a degradação, pela lentidão como ela se dá, o fato é que ela vem

incessantemente tomando conta de nosso habitat.

São muitas as atividades humanas responsáveis pelas causas mais

diretas dos problemas ambientais: o desmatamento, as atividades industriais, o

uso indevido do solo e sua contaminação por lixo, assim como a contaminação

das águas e do ar. Estas atividades são muito variáveis no tempo e no espaço

e encontram-se muito influenciadas por aspectos sócio-econômicos, políticos e

culturais. Tudo isto é muito evidente e torna urgente que toda a sociedade

comece a agir para a melhoria da qualidade de vida. Não de forma

equivocada, confundindo isso com o aumento do padrão de vida de alguns de

seus segmentos, como vem sendo feito até agora, mas sim se evidenciando

situações sócio-econômicas governáveis, legítimas e igualitárias.

Chamamos de lixo tudo aquilo que não nos serve mais e jogamos fora.

Os dicionários de língua portuguesa definem a palavra como sendo: coisas

inúteis, imprestáveis, velhas, sem valor; aquilo que se varre para tornar limpa

uma casa ou uma cidade; entulho; qualquer material produzido pelo homem

que perde a utilidade e é descartado. Já, de acordo com a Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), lixo é definido como os restos das

atividades humanas, consideradas pelos geradores como inúteis, indesejáveis

ou descartáveis. O tempo de decomposição de cada material que vai para o

lixo está diretamente relacionado a estes problemas.

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TIPO DE MATERIAL / TEMPO DE DECOMPOSIÇÃO:

Papel - 4 semanas.

Garrafa de vidro - indeterminado.

Cigarro - 1 a 2 anos.

Lata de alumínio - 200 a 500 anos.

Lata comum - 100 anos.

Chiclete - 500 anos.

Plástico - indeterminado.

Pneu - 6 meses.

Corda – indeterminado.

O lixo pode ser classificado quanto ao seu estado físico (sólido, líquido e

gasoso) e quanto à sua origem (doméstico, comercial, industrial, hospitalar,

espacial, etc.).

Carburantes, produtos inflamáveis, irritantes, alérgicos, cancerígenos,

corrosivos, tóxicos, infecciosos, perturbadores dos processos reprodutivos:

esta é apenas uma lista incompleta dos males que eles podem causar. Apesar

desses perigos comprovados, sua produção não para de crescer como um

subproduto da industrialização e da urbanização.

Outros problemas sanitários ligados ao destino inadequado do lixo são:

a poluição dos mananciais (chorume); a contaminação do ar (dioxinas e

visibilidade aérea); os assoreamentos (depósito em rios e córregos); a

presença de vetores (moscas, baratas, ratos, pulgas, escorpiões e os temidos

mosquitos); a presença de aves (colisão com aviões a jato); os problemas

estéticos e de odor; e os problemas sociais (catadores em lixões), (PEREIRA,

1991).

Uma coleta seletiva, simplificada, que eduque a população a separar o lixo, na

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origem, em pelo menos dois grupos, o orgânico e o reciclável, é algo

indispensável que a gestão urbana não pode mais adiar.

A situação do lixo nos bairros e nas periferias das cidades é uma

questão de importância vital, pois é nestas áreas que encontramos as maiores

deficiências de coleta e a maior presença de resíduos sólidos como fator de

inundação, desabamentos, proliferação de vetores e doenças. Mas, de acordo

com Reinfeld, (1994) é também nessas áreas que se pode estruturar toda uma

economia voltada para esses resíduos, valendo a pena subsidiar durante um

bom período os mutirões remunerados de catação. As usinas locais de

reciclagem existem hoje em algumas comunidades enquanto projetos piloto

precisam tornar-se uma presença regular.

24

2.1 – Coleta Seletiva

A coleta seletiva vem sendo considerada uma solução no problema do

Lixo, pois através da Coleta Seletiva podemos separar os materiais recicláveis

dos não recicláveis. Isso quer dizer que uma parte do lixo pode ser

reaproveitada, deixando de se tornar uma fonte de degradação para o meio

ambiente e tornando-se uma solução econômica e social, passando a gerar

empregos e lucro.

São muitas as vantagens da reciclagem do lixo. Como:

• A diminuição do consumo de matérias primas virgens (muitas delas não

são renováveis e podem apresentar ainda exploração dispendiosa);

• Contribui para diminuir a poluição do solo, água e ar; Melhora a limpeza

da cidade e a qualidade de vida da população;

• Prolonga a vida útil de aterros sanitários;

• Melhora a produção de compostos orgânicos;

• Gera empregos para a população não qualificada e receita para os

pequeno e micro empresários;

• Gera receita com a comercialização dos recicláveis;

• Estimula a concorrência, uma vez que os produtos gerados a partir dos

reciclados são comercializados em paralelo àqueles gerados a partir de

matérias-primas virgens;

• Contribui para a valorização da limpeza pública e para formar uma

consciência ecológica.

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Em geral, é possível reciclar papéis, vidros, plásticos e metais. Não se

recicla: O Lixo Orgânico, ou seja, restos de comida, cascas de legumes, frutas,

cascas de ovos, etc. Os chamados Rejeitos, que seriam lenços, papel

higiênico, absorventes e guardanapos de papel sujos, fotografias, bem como

espuma, acrílico, espelhos, cerâmicas, porcelanas, tijolos, etc. Resíduos

específicos, ou seja, pilhas e baterias. Resíduos hospitalares, algodão,

seringas, agulhas, gazes, ataduras, etc. Lixo químico ou tóxico, como por

exemplo, embalagens de agrotóxicos, latas de verniz, solventes, inseticidas,

etc.

Para se implantar a coleta seletiva de lixo, o primeiro passo é gerar

conscientização. Elaborar um plano para conscientizar os moradores das

vantagens da coleta seletiva. Isso pode ser feito através de palestras, cartazes

informativos, manuais de coleta seletiva. O importante é mostrar que a coleta

seletiva, atualmente, é algo fácil, além de vantajoso. Basta o desejo e a boa

vontade de todos. O próximo passo será elaborar um projeto de reciclagem,

onde será considerada a logística da cidade e a forma como o lixo será

coletado. Feito isso, a administração publica estará apta a adquirir os coletores

específicos para o cada caso, e fazer com que sejam devidamente

sinalizados.Depois de feita a coleta seletiva, existem várias maneiras de se dar

destino ao Lixo Reciclável:

• Caminhões de Serviço de Limpeza: Algumas prefeituras já

disponibilizam caminhões que recolhem o lixo reciclável em dias

específicos. Consulte, junto ao serviço de limpeza pública, os dias em

que esses caminhões passam no seu bairro.

• Entrega Voluntária: deverão existem vários postos de entrega voluntária

na cidade, que arrecadarão o lixo reciclado. Esses postos ficam em

supermercados, escolas, parques, praças, etc.

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• Empresas especializadas em recolhimento de recicláveis: São

empresas que coletam o lixo e o encaminham para as usinas de

reciclagem. Isso é feito através de uma solicitação sua, e da realização

de um contrato. Em geral isso é feito quando a quantidade de lixo á

maior.

Novos hábitos começam a fazer parte do nosso cotidiano. É a única saída

viável e inteligente que o ser humano pode tomar neste momento preocupante

para a qualidade de vida e preservação do nosso mundo, já que as fontes

naturais não se recuperam tão rapidamente. O grande problema a ser

resolvido é: o que fazer com o lixo que produzimos? As alternativas que

predominam hoje estão longe de ser a melhor opção.

Os lixões são locais separados para jogar o lixo normalmente fora dos

núcleos residenciais. Esses locais são verdadeiros focos de contaminação e

proliferação de doenças, e desequilibram o ecossistema do local, pois são

áreas condenadas à morte, pois não poderão ser reutilizadas. Isso sem contar

com as pessoas que sobrevivem à base dos descartes, resultado da miséria e

do descaso.

27

2.2 - Reduzir, Reutilizar, Reciclar

A corrida desenfreada na produção de bens de consumo pelo ser

humano associada a escassez de recursos não-renováveis e contaminação do

meio ambiente, leva a ser o maior predador do universo.

Este problema tem despertado o ser humano a pensar mais

profundamente sobre a reciclagem e reutilização de produtos que

simplesmente seriam considerados lixo. A reciclagem e a reutilização estão

sendo vistas como duas importantes alternativas para a redução de quantidade

de lixo no futuro, economizando assim, matéria –prima e energia, além de

reduzir o volume de lixo e aumentar a vida dos aterros sanitários.

REDUZIR O NECESSÁRIO.

REUTILIZAR O MÁXIMO POSSÍVEL.

ESTIMULAR A RECICLAGEM.

BENEFÍCIOS:

Diminuir a quantidade de lixo.

Preserva os recursos naturais.

Economia de energia.

Redução da poluição do ar, das águas e do solo.

Geração de empregos.

Reduzir consiste em diminuir a quantidade de lixo produzido,

desperdiçar menos, consumir só o necessário, sem exageros.

Reutilizar é dar nova utilidade a materiais que na maioria das vezes,

consideramos inúteis e jogamos no lixo. Existem inúmeras formas de reutilizar

os materiais, como exemplo, o caso das embalagens de comestíveis, que após

28

vazias passam a servir de recipientes para fins diversos; até mesmo uma

parcela do comércio formal já contribui para essa prática, na medida que os

“sebos”, trabalham basicamente com livros usados, assim como os “brechós”,

comercializam desde roupas até móveis usados; doar para instituições

carentes e programas de mobilização.

Reciclar entrega voluntária dos materiais a cooperativa de catadores,

para estes serem destinados, às indústrias recicladoras e a posterior

transformação em novos materiais. Reciclar é dar ”nova vida” a materiais

partindo da reutilização de sua matéria-prima para fabricar novos produtos,

seja ela industrial, agrícola ou artesanal.

29

2.3 - Sustentabilidade, Movimentos Sociais e Educação

Ambiental

Talvez uma das características mais importantes do movimento

ambientalista seja a sua diversidade. Esse amplo espectro de práticas e atores

confere-lhe caráter multissetorial que congrega inúmeras tendências e

propostas orientado de suas ações, considerando valores como eqüidade,

justiça, cidadania, democracia e conservação ambiental. Nesse amplo universo

de ONGs, algumas fazem trabalho de base, outras são mais voltadas para a

militância, outras têm um caráter mais político e outras implementam projetos

demonstrativos.

Embora ocorra uma certa queda na capacidade mobilizatória dos

movimentos ambientalistas, observa-se tambémum grau de amadurecimento

das práticas e a consolidação de um perfil de atuação de instituições numa

perspectiva proativa e propositiva, dentro de moldes de sustentabilidade. O

que representa a marca da atuação das ONGs? Seus pontos fortes estão na

sua credibilidade e capital ético; na sua eficiência quanto à intervenção na

microrrealidade social (grupos e comunidades), o que lhes permite formular

aspirações e propor estratégias para atendê-las; na maior eficiência quanto à

aplicação de recursos e agilidade na implementação de projetos que têm a

marca da inovação e da articulação da sustentabilidade com a eqüidade social.

O ambientalismo ingressa nos anos 90 constituindo-se como um ator

relevante que, embora carregue consigo as marcas do seu processo de

afirmação, assume um caráter ampliado, baseado num esforço cada vez mais

claramente planejado de diálogo com outros atores sociais.

As questões que o ambientalismo suscita estão hoje muito associadas às

necessidades de constituição de uma cidadania para os desiguais, à ênfase

dos direitos sociais, ao impacto da degradação das condições de vida

decorrentes da degradação socioambiental, notadamente nos grandes centros

30

urbanos, e à necessidade de ampliar a assimilação, pela sociedade, do reforço

a práticas centradas na sustentabilidade por meio da educação ambiental.

O salto de qualidade do ambientalismo ocorre na medida em que se cria

uma identidade crescente entre o significado e dimensões das práticas, com

forte ênfase na relação entre degradação ambiental e desigualdade social,

reforçando a necessidade de alianças e interlocuções coletivas.

Apesar de a maior parte das entidades ser baseada na militância voluntária

não remunerada, observa-se, nos últimos anos, um crescente esforço de

profissionalização,ainda que isso ocorra em um número muito restrito de

entidades. Um aspecto bastante polêmico está relacionado com a

representatividade de entidades nos diversos tipos de conselhos e comissões.

O que se nota é a existência de organizações que praticamente

concentram suas atividades associadas à participação em espaços de

representação. Trata-se de uma lógica bastante perversa, gerada pela

dinâmica de institucionalização de entidades centradas em poucas pessoas,

que têm muita capacidade de ocupar espaços e que, mesmo sem trabalho de

base e inclusive pouca legitimidade no próprio movimento ambiental, articulam

a manutenção de sua presença.

As coalizões na sociedade civil vêm-se fortalecendo, explicitando

escolha de temas e questões a serem enfrentadas em nome da busca de

objetivos comuns, de modo a configurar a inflexão de uma dinâmica reativa

para uma dinâmica propositiva, 202 Cadernos de Pesquisa, n. 118, março/

2003 que aproxima as ONGs e movimentos da mídia e que centra a atuação

na coleta, sistematização e disseminação de informações.

Nessa direção, as articulações têm possibilitado o crescente

fortalecimento de um polo político interno que integra as ONGs no centro do

31

processo de pressão e gestão, representando, portanto, uma inflexão

importante numa agenda até recentemente trazida de fora para dentro.

Apesar do pequeno reconhecimento do papel das ONGs, do que

decorre reduzido interesse da sociedade brasileira em financiar de forma

voluntária suas organizações da sociedade civil, observa-se um aumento da

sua legitimidade e da sua institucionalidade.

O ambientalismo do século XXI tem uma complexa agenda pela frente.

De um lado, o desafio de uma participação cada vez mais ativa na

governabilidade dos problemas socioambientais e na busca de respostas

articuladas e sustentadas em arranjos institucionais inovadores, que

possibilitem uma “ambientalização dos processos sociais”, dando sentido à

formulação e implementação de uma Agenda 21 no nível nacional e

subnacional. De outro, a necessidade de ampliar o escopo de sua atuação,

mediante redes, consórcios institucionais, parcerias estratégicas e outras

engenharias institucionais que ampliem seu reconhecimento na sociedade e

estimulem o envolvimento de novos atores.

Se o contexto no qual se configuram as questões ambientais é marcado

pelo conflito de interesses e uma polarização entre visões de mundo, as

respostas precisam conter cada vez mais um componente de cooperação e de

definição de uma agenda que acelere prioridades para a sustentabilidade

como um novo paradigma de desenvolvimento. Não se devem esquecer, no

caso, das determinações estruturais decorrentes de um sistema globalizado,

de um padrão de consumo que promove o desperdício naquelas sociedades e

segmentos que dele fazem parte, bem como a dualidade entre os que “têm” e

os que “não têm”.

32

O desafio que está colocado é o de não só reconhecer, mas estimular

práticas que reforcem a autonomia e a legitimidade de atores sociais que

atuam articuladamente numa perspectiva de cooperação, como é o caso de

comunidades locais e ONGs. Isto representa a possibilidade de mudar as

práticas prevalecentes, rompendo com as lógicas da tutela e da regulação,

definindo novas relações baseadas na negociação, na contratualidade e na

gestão conjunta de programas e atividades, o que introduz um novo significado

nos processos de formulação e implementação de políticas ambientais.

Trata-se, portanto, de repensar o público por meio da sociedade e de

verificar as dimensões da oferta institucional e a criação de canais

institucionais para Cadernos de Pesquisa, n. 118, março/ 2003 203 viabilizar

novas formas de cooperação social. Os desafios para ampliar a participação

estão intrinsecamente vinculados à predisposição dos governos locais de criar

espaços públicos e plurais de articulação e participação, nos quais os conflitos

se tornam visíveis e as diferenças se confrontam como base constitutiva da

legitimidade dos diversos interesses em jogo, ampliando as possibilidades de a

população participar mais intensamente dos processos decisórios como um

meio de fortalecer a sua co-responsabilidade na fiscalização e controle dos

agentes responsáveis pela degradação socioambiental.

O momento atual exige que a sociedade esteja mais motivada e

mobilizada para assumir um caráter mais propositivo, assim como para poder

questionar de forma concreta a falta de iniciativa dos governos para

implementar políticas pautadas pelo binômio sustentabilidade e

desenvolvimento num contexto de crescentes dificuldades para promover a

inclusão social. Para tanto é importante o fortalecimento das organizações

sociais e comunitárias, a redistribuição de recursos mediante parcerias, de

informação e capacitação para participar crescentemente dos espaços

33

públicos de decisão e para a construção de instituições pautadas por uma

lógica de sustentabilidade.

Diversas experiências, principalmente das administrações municipais,

mostram que, havendo vontade política, é possível viabilizar ações

governamentais pautadas pela adoção dos princípios de sustentabilidade

ambiental conjugada a resultados na esfera do desenvolvimento econômico e

social.

Nessa direção, a educação para a cidadania representa a possibilidade

de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de

participação em potenciais fatores de dinamização da sociedade e de

ampliação do controle social da coisa pública, inclusive pelos setores menos

mobilizados. Trata-se de criar as condições para a ruptura com a cultura

política dominante e para uma nova proposta de sociabilidade baseada na

educação para a participação. Esta se concretizará principalmente pela

presença crescente de uma pluralidade de atores que, pela ativação do seu

potencial de participação, terão cada vez mais condições de intervir

consistentemente e sem tutela nos processos decisórios de interesse público,

legitimando e consolidando propostas de gestão baseadas na garantia do

acesso à informação e na consolidação de canais abertos para a participação,

que, por sua vez, são precondições básicas para a institucionalização do

controle social.

Concluímos, afirmando que o desafio político da sustentabilidade,

apoiado no potencial transformador das relações sociais que representam o

processo da Agenda 21, encontra-se estreitamente vinculado ao processo de

fortalecimento da democracia e da construção da cidadania. A sustentabilidade

traz uma visão de 204 Cadernos de Pesquisa, n. 118, março/ 2003

34

desenvolvimento que busca superar o reducionismo e estimula um pensar e

fazer sobre o meio ambiente diretamente vinculado ao diálogo entre saberes, à

participação, aos valores éticos como valores fundamentais para fortalecer a

complexa interação entre sociedade e natureza. Nesse sentido, o papel dos

professores(as) é essencial para impulsionar as transformações de uma

educação que assume um compromisso com a formação de valores de

sustentabilidade, como parte de um processo coletivo.

A necessidade de uma crescente internalização da problemática

ambiental, um saber ainda em construção, demanda empenho para fortalecer

visões integradoras que, centradas no desenvolvimento, estimulem uma

reflexão sobre a diversidade e a construção de sentidos em torno das relações

indivíduos-natureza, dos riscos ambientais globais e locais e das relações

ambiente-desenvolvimento. A educação ambiental, nas suas diversas

possibilidades, abre um estimulante espaço para repensar práticas sociais e o

papel dos professores como mediadores e transmissores de um conhecimento

necessário para que os alunos adquiram uma base adequada de compreensão

essencial do meio ambiente global e local, da interdependência dos problemas

e soluções e da importância da responsabilidade de cada um para construir

uma sociedade planetária mais eqüitativa e ambientalmente sustentável.

35

CAPÍTULO III

O JURAMENTO

A Comunidade do Morro do Juramento está inserida no bairro de

Vicente de Carvalho, Zona Norte do Rio de Janeiro. Devido à carência de

moradias para as classes sociais mais desfavorecidas, bem como a ausência

de políticas públicas no campo da habitação, podemos constatar o degradante

processo de favelização no Rio de Janeiro. (vide foto 1).

36

A ocupação de terras devolutas em áreas urbanas dotadas de

equipamentos de infraestrutura e situadas próximas a locais de trabalho

constitui a principal estratégia de apropriação e posse e pelos movimentos

sociais que atuam no urbano.

Parte da população instala-se em terrenos inadequados,

morfologicamente, à ocupação, por serem íngremes ou estarem situadas sobre

rochas formadas por ação vulcânica e compostas por granitos que aparecem

na forma de “matacões”. Este é o caso da Comunidade do Morro do

Juramento.

A comunidade que não possui, nenhum tipo de infraestrutura

relacionada à coleta de lixo. O lugar passou por obras do Projeto Favela-

Bairro, obras estas executadas pela Prefeitura do Rio de Janeiro. As supostas

melhorias que o projeto traria a comunidade só dificultaram a coleta de lixo,

pelo fato de escadarias terem sido construídas pela comunidade. (vide foto 2).

37

Não há coleta de lixo na porta das casas e são são próprios moradores

que tem que levar o lixo até a base da comunidade, num posto de coleta da

Comlurb. Muitos moradores descartam o lixo de maneira incorreta, pois faltam

informações acerca do destino correto a ser dado e também por possuir uma

infraestrutura adequada.

Jogam o lixo em terrenos baldios ou então fazem a queima do lixo em

áreas próximas as suas casas. Essas práticas transformam-se em ameaças a

saúde coletiva da população local, pelo fato de que o acúmulo de lixo pode

ocasionar a proliferação de múltiplos vetores, bem como a sua queima e as

cinzas dela resultantes podem trazer uma série de problemas respiratórios.

(vide foto 3).

38

No decorrer da visita pela comunidade pudemos perceber que as

canaletas que servem para escoar a água da chuva encontravam-se com

muito lixo e entupidas, algumas áreas baldias da comunidade pareciam

depósitos de lixo e destinadas à criação de animais domésticos, constituindo

assim um foco de proliferação de doenças e um risco a saúde dessa

população.

No Brasil mais de 80% da população reside nos centros urbanos (IBGE

2001), sendo que este contingente, resultante da crescente e desordena

urbanização do país logo após a década de 50 que foi marcada pelas

transformações econômicas da industrialização. Segundo o censo do IBGE de

1995, quase 20% de toda a população urbana do município do Rio de Janeiro

39

mora em favelas, o que revela que as periferias são importantes locais de

sobrevivência social de grande massa de despossuídos do nosso país.

Os principais impactos ambientais promovidos nessas áreas urbanas, foi

à alteração da paisagem natural, pela substituição da vegetação nativa pelas

casas, edifícios e ruas, o problema do lixo e todos os impactos diretos sobre os

recursos hidrológicos, hidrogeológicos e biogeográficos. Atualmente é comum

nas áreas de favela, a contaminação dos cursos d’água, as queimadas, entre

outras formas de agressão ambiental.

A necessidade de projetos de educação Ambiental é de extremamente

necessária em áreas periféricas, para que a população local tenha o mínimo

possível de dignidade e uma melhor qualidade de vida. Daí a necessidade do

apoio do poder público com uma gestão de qualidade garantindo a população

local o direito a cidadania, aos serviços públicos com qualidade, os

movimentos sociais e as ONGs, também surgem como importantes agentes

para levar a população dessas comunidades carentes formas de uma melhor

maneira de descarte do lixo e conservação do meio ambiente.

O Rio+Limpo, por exemplo, é uma iniciativa do RJTV e da Globo Rio,

em parceria com a sociedade civil, a Comlurb, os fuzileiros navais, o

Movimento Rio Eu Amo Eu Cuido, a Central Única das Favelas (Cufa) e

Prefeitura do Rio de Janeiro. Que organizam mutirões de limpeza em

comunidades degradadas pelo acúmulo de lixo, onde há o envolvimento da

própria população local, juntamente com o Poder Público e os movimentos

sociais na recuperação desse locais.

A iniciativa tem se mostrado satisfatória, uma vez que, moradores de

todas as idades e voluntários do Brasil e até estrangeiros se mobilizaram para

coletarem o lixo em pontos considerados críticos dentro da comunidade,

além de locais nos arredores da favela.

40

Algumas comunidades na cidade do Rio de Janeiro, já receberam o

mutirão Rio +Limpo, são os casos, do Morro de São Carlos, Morro dos

Macacos e outros. È necessário a expansão e manutenção desses projetos

para que eles possam chegar a outras comunidades, beneficiando toda a

população carente que sofre com coleta insuficiente, doenças oriundas de um

mal funcionamento na coleta do lixo.

41

CONCLUSÃO

O estudo realizado nesse trabalho teve como objetivo identificar as

barreiras que impedem uma coleta de lixo eficiente dentro de uma comunidade

periférica, que pode ser observado através de uma visita de campo na

Comunidade do Morro do Juramento. Através de políticas públicas eficientes e

do uso de ferramentas como a gestão ambiental, educação ambiental, como

forma abrangente de educação pode-se mudar o comportamento não só de

uma comunidade, mas todos os cidadãos levando-os a uma consciência crítica

sobre a problemática ambiental que pode ser mudada, a partir de novas

práticas que mantenham o meio ambiente livre da degradação.

Os projetos realizados pelos órgãos públicos competentes tem

desenvolvido um fundamental papel e mostra a importância do Estado atuando

principalmente nessas áreas de maior carência de serviços e informações.

No entanto devemos entender de forma contrária à Educação

Tradicional a Educação Ambiental Crítica como uma ferramenta da Gestão

Ambiental, volta para uma ação reflexiva de intervenção em uma realidade

complexa; é coletiva: seu conteúdo está para além dos livros e das ações

públicas pouco eficientes. Deve existir a necessidade de uma educação

política voltada para a transformação da sociedade em busca da

sustentabilidade. Assim, como nos disse Paulo Freire, essa é uma “Pedagogia

da Esperança”, capaz de construir utopias, como um “inédito viável”, por

aqueles que tem firmeza da renúncia e a coragem de inovar. Pois eão

justamente esses que têm a possibilidade de contribuir para um mundo melhor.

42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BARBIERI, José Carlos. Educação Ambiental na formação do Administrador.

São Paulo: Cengage Learning, 2011.

BARBIERI, José Carlos. Gestão Ambiental Empresarial. 2º edição. São Paulo:

Saraiva, 2007.

GUERRA, Antônio José Teixeira. Dilemas Ambientais. Rio de Janeiro: Bertrand

Brasil, 2007.

JANET, M. THOMAS; SCOTT J. CALLAN. Economia Ambiental: fundamentos

políticos e aplicações. São Paulo: 2010.

MAY, H. PETER. Economia Ecológica – Aplicações no Brasil. Rio de Janeiro:

Editora Campus, 1994.

MEC/SEF, Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e Quarto Ciclos:

apresentação dos temas transversais / Secretaria de Educação Fundamental.

Brasília: 1998.

NASCIMENTO. L. F; LEMOS. A. D; MELO, M. C. A. Gestão Sócio-Ambiental

Estratégica. Porto Alegre: Bookmam, 2008.

43

BIBLIOGRAFIA CITADA

1 - SAUVÉ, L. “ Educação Ambiental: posibilidades e limitações”. Educação e

Pesquisa. V.31, n.2, p. 317 – 322, mai. – ago. Tradução de Artigo

Publicado na Revista de Educação Científica, Tecnológica e Ambiental da

UNESCO: 2005.

44

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - Educação Ambiental 9

1.1 - Educação como elemento para a transformação de uma consciência Ambiental 12

1.2 - Educação Ambiental e Cidadania 15

CAPÍTULO II – Gestão Ambiental 2.1 – Coleta Seletiva 24 2.2 – Reduzir, Reutilizar e Reciclar 27 2.3 – Sustentabilidade, Movimentos Sociais e educação Ambiental 29 CAPÍTULO III – O juramento 35

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

BIBLIOGRAFIA CITADA 43

ÍNDICE 44