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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO (RE) VISITANDO O PAPEL DO GESTOR ESCOLAR DE ESCOLAS DO ENSINO MÉDIO: O SUJEITO EM TEMPOS DE INCERTEZAS. Projeto de pesquisa apresentado como exigência parcial para o programa de Mestrado em Educação junto a Universidade Cidade de São Paulo UNICID sob a orientação do Prof. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto. São Paulo 2015

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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

(RE) VISITANDO O PAPEL DO GESTOR ESCOLAR DE ESCOLAS DO ENSINO

MÉDIO: O SUJEITO EM TEMPOS DE INCERTEZAS.

Projeto de pesquisa apresentado como

exigência parcial para o programa de

Mestrado em Educação junto a

Universidade Cidade de São Paulo –

UNICID – sob a orientação do Prof.

Dra. Ecleide Cunico Furlanetto.

São Paulo

2015

ANDRÉIA CRISTINA NAGATA

(RE) VISITANDO O PAPEL DO GESTOR ESCOLAR DE ESCOLAS DO ENSINO

MÉDIO: O SUJEITO EM TEMPOS DE INCERTEZAS.

Projeto de pesquisa apresentado como

exigência parcial para o programa de

Mestrado em Educação junto a

Universidade Cidade de São Paulo –

UNICID – sob a orientação do Prof.

Dra. Ecleide Cunico Furlanetto.

São Paulo

2015

Ficha elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza. UNICID

N147r

Nagata, Andréia Cristina.

(RE) Visitando o papel do gestor escolar de escolas

do ensino médio: o sujeito em tempos de incertezas /

Andréia Cristina Nagata -- São Paulo, 2015.

81 p.; Anexos

Bibliografia

Dissertação (Mestrado) - Universidade Cidade de

São Paulo. Orientadora Profa. Dra. Ecleide Cunico

Furlanetto.

1. Administração da educação escolar. 2. Escola. 3.

Sociedade. I. Furlanetto, Ecleide Cunico, orient. II.

Título.

CDD 371.2

ANDRÉIA CRISTINA NAGATA

(RE) VISITANDO O PAPEL DO GESTOR ESCOLAR DE ESCOLAS DO ENSINO

MÉDIO: O SUJEITO EM TEMPOS DE INCERTEZAS.

Dissertação apresentada ao Programa

de Mestrado em Educação da

Universidade Cidade de São Paulo,

como requisito exigido para obtenção

do título de Mestre.

Área de concentração: Educação

Data de defesa:

Banca examinadora:

Profa. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto: ______________________________

Universidade Cidade de São Paulo

Profa. Dra. Angela Martins: _______________________________________

Universidade Cidade de São Paulo

Profa. Dra. Magali Silvestre: _______________________________________

Universidade Federal de São Paulo

RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi investigar os desafios enfrentados por gestores de ensino médio

ao exercerem sua função e os recursos que eles dispõem para enfrentá-los. Foram

estabelecidos diálogos teóricos, entre outros autores, com Lück (2000), Alarcão (2001),

Canário (2006), Paro (2015), Nóvoa (2009), Bauman (2009) que discutem o lugar da escola

na contemporaneidade e o papel do diretor de escola diante dos desafios da sociedade atual,

Para alcançar os objetivos propostos, a pesquisa utilizou como procedimento de coleta e

análise de dados a entrevista narrativa (BAUER, 2013) que possibilita a geração de histórias

as quais expressam as experiências, os saberes e as crenças dos entrevistados. Os sujeitos de

pesquisa foram quatro diretoras que atuam em escolas do Ensino Médio da Rede Pública

Estadual, localizadas na Zona Leste da Cidade de São Paulo. Os resultados da pesquisa

mostram que os gestores enfrentam desafios, preferencialmente, com professores, alunos,

famílias e com outros profissionais que atuam na escola. Ficou claro que as tensões e

contradições presentes na sociedade contemporânea estão presentes na escola, provocando

conflitos entre os diferentes atores sociais que dela participam.

Palavras- chave: Gestão Escolar. Sociedade Contemporânea. Escola.

ABSTRACT

The aim of this study was to investigate the challenges faced by directors in the educational

period of High School as well as their resources. For this, theoretical dialogs were established

with authors, as Lück (2000), Alarcão (2001), Canário (2006), Paro (2015), Nóvoa (2009),

Bauman (2009), among others, who discuss the place of the school in modern times and the

role of the principal who face challenges in a contemporary society. To reach the proposed

objectives, this study has used as its procedures data collect and analysis of a narrative

interview (BAUER, 2013) which makes it possible to create histories in which experiences

can be shown, as well as the knowledge and the beliefs of the interviewed. This research’s

people were four different public school principals who deal with High School education, in

the East Zone of São Paulo City. Its results have shown that the directors face challenges,

mainly with teachers, students, families and with other professionals who act in the school. It

was clear that the pressure and the contradictions, which are in society today, are present at

schools, proving conflicts among the different social actors in it.

Keywords: School Management. Contemporary Society. School.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................9

OBJETIVO DA PESQUISA........................................................................... 13

CAPÍTULO 1– DAS ESCOLAS TRANSBORDANTES ÀS ESCOLAS

CENTRADAS....................................................................................................14

CAPÍTULO 2– GESTÃO DA ESCOLA NA CONTEMPORANEIDADE:

TEMPOS DE CRISE....................................................................................... 20

2.1 - Gestão Escolar................................................................................................21

CAPÍTULO 3- O TRAÇADO METODOLÓGICO.......................................25

3.1 - Contexto da pesquisa...................................................................................................29

3.2 - Os sujeitos da pesquisa....................................................................................31

CAPÍTULO 4 - ANÁLISE DOS DADOS.......................................................35

4.1 - Desafios enfrentados com os professores...........................................................36

4.2 - Desafios enfrentados com os alunos..................................................................40

4.3 - Desafios enfrentados com as famílias ...............................................................43

4.4 - Desafios enfrentados com a administração da escola...........................................45

CONSIDERAÇÕES POSSÍVEIS....................................................................51

REFERÊNCIAS................................................................................................54

ANEXO I ...........................................................................................................57

ANEXO II..........................................................................................................64

AGRADECIMENTOS

O agradecimento, nesse momento, é um ato de que o nosso objetivo foi atingido.

Agradeço a Deus, nosso Mestre Maior, por ter me guiado nos momentos que precisei de uma

força divina para não fraquejar.

Agradeço, a Profª Ecleide, minha orientadora, que confiou no meu trabalho e desempenho

acadêmico. A sua sabedoria, experiência e cordialidade fizeram a diferença nos nossos

encontros onde discutíamos o projeto de escrita. Profª Ecleide você é fonte de inspiração

profissional!

Agradeço, também, às minhas filhas Gabriela, Marina e Rafaela, que são continuidade de

minha história, pelo apoio incondicional e respeito às minhas ausências durante o mestrado.

Deixo um agradecimento especial ao Prof. Renato Padovese pelo apoio e confiança em meu

trabalho e por ter me concedido a possibilidade de continuar os meus estudos.

E por fim, a todos que estiveram comigo na caminhada do Mestrado!

A verdade dividida

A porta da verdade estava aberta

mas só deixava passar

meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,

porque a meia pessoa que entrava

só conseguia o perfil de meia verdade.

E sua segunda metade

voltava igualmente com meio perfil.

E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.

Chegaram ao lugar luminoso

onde a verdade esplendia os seus fogos.

Era dividida em duas metades

diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.

Nenhuma das duas era perfeitamente bela.

E era preciso optar. Cada um optou

conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

(Carlos Drummond de Andrade)

9

INTRODUÇÃO

“Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o

caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a

caminhar”

(Paulo Freire)1

O Mestrado fazia parte de meus objetivos profissionais. O início de minha vida

profissional na área educacional se deu em meados de 1.990 quando trabalhei, durante cinco

anos, na Superintendência Regional de Ensino, de Campo Belo, Minas Gerais, cidade em que

morava. Era um trabalho burocrático e meramente administrativo, juntamente com uma

equipe de profissionais, montava processos de aposentadoria dos professores. Sentia que

faltava algo mais vivo e mais dinâmico na minha vida profissional. Sentia-me prisioneira do

serviço.

Estava sendo implantada uma nova escola na cidade de Campo Belo, administrada por

uma professora que me convidou a assumir uma sala de aula. Exonerei de meu cargo do

estado e fui ser “professora” da 3ª série e 4ª série desse colégio. A nova oportunidade

apresentava-se como uma possibilidade de liberdade. A escola estava iniciando as atividades

na cidade e por isso tinha poucos alunos. Foi uma experiência interessante no campo

profissional e pessoal também. A sala de aula proporcionou momentos mágicos. Para tecer a

minha prática necessitei rever a teoria que tinha adquirido na universidade, dessa forma teoria

e prática se articularam na busca de descobrir melhores formas de ensinar e aprender. Dessa

forma, o espaço escolar pode se tornar um laboratório vivo e instigante que nos assegura a

experiência e o crescimento profissional.

As experiências compartilhadas com os alunos e suas famílias, bem como a rotina

escolar alicerçaram a construção de minha identidade docente. Para Furlanetto, as

1 Paulo Reglus Neves Freire foi um educador, pedagogista e filósofo brasileiro. É considerado um dos pensadores mais

notáveis na história da Pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.

10

experiências participam da construção das matrizes pedagógicas dos docentes, mas para isso

elas necessitam ser revisitadas e nomeadas.

[...] uma experiência não nomeada, não conceitualizada, não possibilita a

apropriação. A aprendizagem, por sua vez, está profundamente relacionada

ao crescimento, não existe possibilidade de crescer sem aprender. Para

aprender não basta só olhar, mas ver; não basta só ouvir, mas, escutar (2007,

p. 22).

A escola encerrou as atividades escolares devido à administração desorganizada e

novamente frente a um novo desafio. Fui convidada a assumir a coordenação pedagógica do

Colégio Dom Cabral, escola de referência na cidade de Campo Belo, em Minas Gerais. O

tempo que trabalhei na coordenação pedagógica nessa instituição foi fundamental para a

aquisição e aprendizagem de conhecimentos (administrativo-pedagógico) antes

desconhecidos. O contato direto com as famílias, a condução da equipe de professores, o

cuidar pedagógico oportunizaram-me adquirir e desenvolver competências e habilidades

necessárias à função que eu ocupava.

Os anos se passaram e percebi que devia dar continuidade a minha trajetória pessoal e

profissional em outra cidade. E assim aconteceu. Eu e minhas filhas nos mudamos para

Lavras, uma cidade universitária do interior do sul de Minas Gerais. Foi um período difícil no

qual a vida fez inúmeras provocações, foi necessário mais do que nunca trabalhar para

sobreviver... Dividia-me entre três instituições de ensino, mas tinha a certeza de que a

mudança que aconteceu em minha vida e na vida de minhas filhas seria para melhor. Nessa

ocasião fui obrigada a refletir sobre organizar minha vida profissional de forma a não ser

obrigada a trabalhar tanto. Concluí que o Mestrado poderia melhorar minha condição

profissional e financeira e dessa forma ele tornou-se um objetivo de vida. Estudava quando o

tempo permitia e aguardava ansiosa, a abertura do processo seletivo de Mestrado da

Universidade Federal de Lavras. Acreditava que minha oportunidade havia chegado por estar

tão próxima de uma universidade, praticamente dentro dela, pois uma das instituições em que

eu trabalhava era vinculada a essa universidade.

A vida profissional consumia-me, sufocando a vida de estudante. O cansaço concorria

com o estudo e com vontade de continuar a caminhada acadêmica. Passei no concurso da

prefeitura municipal da cidade para o cargo de especialista em educação. Essa conquista

11

elevou minha autoestima profissional. Fui designada para uma escola pública municipal onde

vivenciei uma prática escolar até então desconhecida. Muito organizada e comprometida, a

escola era inserida na comunidade por meio de projetos pedagógicos e eventos escolares.

Participei de um projeto de escrita, no qual a professora do 3º ano do Ensino Fundamental

visitava as famílias de seus alunos a fim de registrar momentos da vida das crianças com seus

familiares. As narrativas transformaram-se em uma Colcha de Retalhos, costurada pelos

alunos, seus familiares e pela professora. As histórias narradas refletiam a vida e como ela era

repleta de emoções. Os projetos pedagógicos eram realizados com muito empenho, a adesão

dos professores era garantida pela intensidade das histórias contadas e vividas, pelas

dificuldades enfrentadas e pelo envolvimento das famílias. A experiência que vivi nesta

escola reascendeu a crença no poder estruturante da educação. Proporcionou-me um

entusiasmo profissional que era transposto, diariamente, para o trabalho exercido na função de

supervisora pedagógica.

No entanto, um novo sonho começou a surgir e com ele novas inquietações. Comecei

pensar na possibilidade de trabalhar em uma instituição maior que possibilitasse novas

experiências profissionais. Dessa forma, enviei meu currículo para várias instituições

educacionais. Participei de concursos estaduais e federais, entre eles participei de um processo

seletivo para direção do Colégio Cruzeiro do Sul, na cidade de São Paulo. Novamente me vi

frente ao desafio de mudar de cidade e reconstruir minha vida. Furllan explicita o processo

pelo qual passei: “[...] quando a mudança se inicia, ela implica ansiedade e incerteza, bem

como o desenvolvimento de novas competências, percepções, convicções e significados”

(FURLLAM, 1985, p.404).

Um dos motivos que me impulsionou a deixar uma história em Minas Gerais, onde

morei durante 30 anos e construí a base de minha família, foi a possibilidade de retomar a

minha formação. Fazendo parte de uma instituição, referência em educação, meu objetivo

profissional, ingressar no Mestrado, estaria próximo de realizar.

No final de 2010, assumi a direção do Colégio Cruzeiro do Sul, uma instituição de

quase meio século com tradição no Ensino Básico. No início, meus sentimentos eram ora de

alegria, ora de medo. A oportunidade, acrescida da responsabilidade de dar continuidade a

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escrita da história do Colégio impulsionava-me, ao mesmo tempo em que a ansiedade me

consumia.

Durante o primeiro ano, a escuta e a observação foram condições básicas de

sobrevivência. Participar da construção do Projeto Pedagógico que alinhasse a missão

institucional e os princípios contemporâneos de educação constitui-se em um importante

exercício profissional. Acompanhei o processo escolar bem próxima de meus novos pares, a

equipe de professores e funcionários. Na sala dos professores, o ambiente era compartilhado

entre os que estavam chegando e os que já estavam no Colégio há mais de 30 anos. No espaço

de convivência dos alunos, os novos misturavam-se aos que estudavam no Colégio desde o

início da vida escolar e a cada dia surgiam diferentes desafios.

É importante destacar que na sala dos professores ouviam-se queixas dos

coordenadores e professores sobre as dificuldades de exercerem a docência, principalmente,

no Ensino Médio. Por outro lado, ao ouvir os alunos, desse segmento, também surgiam

questionamentos quanto à forma de organização do trabalho pedagógico, bem como, do

relacionamento com os diferentes profissionais da educação. Diante desse cenário, observei,

no convívio com professores e alunos, que as dificuldades e enfrentamentos eram constantes

no cotidiano da escola, sendo que no Ensino Médio os conflitos se intensificavam.

O encontro da nova geração de alunos com a geração de professores foi o primeiro

desafio que enfrentei. O primeiro ano de trabalho foi desgastante. O alinhamento dos

objetivos da escola com as perspectivas do professor e do aluno e com as expectativas da

comunidade escolar apresentou-se como uma tarefa complexa que exigia cuidado na sua

condução e provocava muita ansiedade.

Houve uma movimentação do solo pedagógico do Colégio, no que se referia à (re)

estruturação do processo escolar, o encontro de professores e alunos, novos e antigos,

provocou a tensão entre as relações antes estabelecidas e fez com que algumas questões

fossem emergindo em relação à gestão escolar em tempos de mudanças, entre elas: como o

gestor escolar poderia mediar os conflitos entre professores e alunos? Como poderia mediar o

encontro entre a cultura escolar e as demandas da sociedade contemporânea?

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Essas e outras questões possibilitaram o delineamento de uma pesquisa cujo objetivo

principal é:

Investigar desafios enfrentados por gestores de ensino médio ao exercerem sua

função e os recursos que eles dispõem para enfrentá-los;

Como objetivos específicos, a pesquisa se propõe a:

Estabelecer um diálogo teórico com os autores que investigam o papel do gestor

escolar na sociedade contemporânea;

Realizar entrevistas narrativas com gestores de escola de Ensino Médio, da rede

estadual de ensino, da região da Zona Leste.

Analisar as narrativas dos gestores com vistas a ampliar a compreensão a respeito

dos desafios enfrentados pelos gestores.

Este trabalho está estruturado em quatro capítulos. O primeiro capítulo busca situar o

desenrolar da vida na escola, a escola transbordante e a escola centrada. Na sequência, o

segundo capítulo aborda a gestão da escola contemporânea, destacando o papel do gestor em

tempos de crise. O terceiro capítulo descreve o traçado metodológico e, finalmente, o quarto

capítulo descreve a análise dos dados da pesquisa. Os dados de pesquisa possibilitaram

elencar os seguintes eixos de análise: os desafios enfrentados com os professores, os desafios

enfrentados com os alunos, os desafios enfrentados com as famílias, os desafios enfrentados

com a administração da escola que permitiram ampliar a compreensão a respeito dos desafios

enfrentados pelos gestores.

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CAPÍTULO 1– Das escolas transbordantes às escolas centradas...

“A escola não é de modo algum o mundo, nem deve ser tomada

como tal; é antes a instituição que se interpõe entre o mundo e o

domínio privado do lar”.

(Hannah Arendt)2

A sociedade contemporânea encontra-se frente a mudanças de diferentes ordens as

quais refletem no modo de vida daqueles que dela participam. Para Bauman (2009) vivemos

em uma Sociedade Líquida que se transforma cada vez com maior rapidez de forma a não

permitir que os que dela fazem parte se apossem de rotinas, como também de maneiras de agir

e de pensar que possam ser úteis por muito tempo. Quase nada do que acontece em qualquer

parte do planeta, passa despercebido, pois logo é capturado e transformado em imagens que

percorrem velozmente as autoestradas virtuais que ligam os mais longínquos lugares do

mundo. O processo de transformação pelo qual a sociedade está atravessando assumiu

proporções globais. Vive-se a era da globalização de conhecimentos, a mercantilização de

informações que vem moldando as novas gerações e deixando rastros em todos os espaços

habitáveis. Carlson e Apple percebem os tempos de mudança como tempos com novas formas

de organização das comunidades:

[...] alguns tempos são mais incertos do que outros - tempos em que os

acordos sociais estabelecidos e os modos estabelecidos de ver as questões

sociais e educacionais começam a desgastar-se, e não são capazes de prover

respostas ou de fazer frente às forças da crise e do desmantelamento social.

[...] caracterizados pelo colapso das comunidades, pela fragmentação da

cultura, e pela mais completa instrumentalização do eu dentro de uma lógica

de mercado. (2003, p. 11).

Para os autores acima citados, é um tempo que não tem respostas. Para os

enfrentamentos sociais que obrigam cruzar fronteiras e rever o modo pelo qual as instituições

estão organizadas e os interesses e propósitos aos quais elas servem.

2 Hannah Arendt (1906-1975) foi uma das principais pensadoras da política no século 20, mas sua obra inspira estudos em

outras áreas, entre elas a educação.

15

As consequências são irremediáveis, atingem todos os ambientes em que há presença

do homem; mudam-se os meios de representações sociais, culturais e de sobrevivência;

encurtam-se os espaços e tempos e interconectam-se um volume maior de informações.

Hypolito e Gandin (2003) alertam que em meio a incerteza, surge o movimento:

Tempos incertos. Tempos de incertezas. Não só as certezas e as utopias estão

sendo colocadas em dúvida, mas também - e talvez principalmente – a forma

como a crise é vista e entendida. Novas visões são discutidas, certas análises

são questionadas, novos paradigmas surgem, outros são reafirmados, enfim,

há um intenso movimento em nossos tempos (2003, p. 07).

Dessa forma, as diferentes instituições sociais são impactadas pelas mudanças e se

veem obrigadas a pensar em novas maneiras de se localizar na sociedade. As transformações

estão presentes na política, na economia, na cultura, no meio social e, também na escola.

Destaque-se que a escola foi gestada pela modernidade e foi um dos pilares que deu

sustentação ao seu projeto e responsável pelo seu triunfo (SARMENTO, 2009). O modelo

escolar moderno ganhou uma configuração mais precisa no final do século XIX, quando o

processo de universalização da escola teve seu início e se espalhou, paulatinamente, por

diferentes partes do mundo ocidental (REZENDE, 2015). Atualmente a escola se vê frente a

novos desafios, não os enfrentados pela modernidade, mas os propostos pelo mundo atual.

Ela precisa se desvencilhar de seu passado para avançar, o que implica rever seu modelo

pedagógico.

Olhando para ela se percebe que o solo pedagógico se constitui em espaço de

interação de histórias vividas por educadores, estudantes e por todos que participam, direta e

indiretamente, do processo escolar. Aqueles que ocupam esse espaço, palco da educação,

tentam dialogar com a comunidade, com a sociedade e com a cultura. Percebe-se também que

a evolução científica e tecnológica está entrando na escola e provocando tensões antes

desconhecidas. O aluno traz para a escola experiências múltiplas no campo digital; ele

navega com tranquilidade nas redes sociais se utilizando delas para buscar informações e se

comunicar, e dessa forma confronta o professor que se apoia para ensinar no quadro negro ou

no máximo no power point e questiona as rotinas escolares desprovidas, a seu ver, de sentido.

A convivência entre alunos, professores e funcionários torna-se conflituosa e tem que ser

acompanhada diariamente pelo gestor.

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Nessa perspectiva, a escola, cujo presente, ainda está amarrado às velhas

representações de ensinar e aprender sente-se, muitas vezes, incapaz de receber os jovens

inseridos nesses novos cenários o que faz com que o papel da escola seja tão questionado nos

dias de hoje. Na concepção de Canário (2006) a escola atual não corresponde à mesma

instituição que marcou a primeira metade do século XX. Para o autor, durante este século a

sociedade conheceu três escolas,

A escola das certezas corresponde à escola da primeira metade do século

que, a partir de um conjunto de valores intrínsecos e estáveis, funcionava

como uma fábrica de cidadãos [...] a escola funcionava em um registro elitista

que permitia a alguns a ascensão social, permanecendo isenta de

responsabilidades na produção das desigualdades sociais. O período posterior

à Segunda Guerra Mundial marca a passagem de uma escola elitista para uma

escola de massas e a correspondente transição de uma escola de certezas para

uma de promessas. [...] A escola das incertezas emerge no contexto dos

efeitos cruzados do acréscimo de qualificações, acréscimo de desigualdades,

desemprego estrutural de massas, precariedade do trabalho e desvalorização

dos diplomas escolares (2006, p.16-17).

Libâneo, já no início dos anos 2000 tecia críticas a uma escola e propunha

modificações considerando que a escola não estava cumprindo seu papel:

A escola hoje não pode limitar-se a passar informação sobre as matérias, a

transmitir o conhecimento do livro didático. Ela é uma síntese entre a cultura

experienciada que acontece na cidade, na rua, nas praças, nos pontos de

encontro, nos meios de comunicação, na família, no trabalho etc., e a cultura

formal que é o domínio dos conhecimentos, das habilidades de pensamento.

Nela, os alunos aprendem a atribuir significados às mensagens e informações

recebidas de fora, dos meios de comunicação, da vida cotidiana, das formas

de educação proporcionada pela cidade, pela comunidade. O professor tem aí

seu lugar, com o papel insubstituível de provimento das condições cognitivas

e afetivas que ajudarão o aluno a atribuir significados às mensagens e

informações recebidas das mídias, das multimídias e formas diversas de

intervenção educativa urbana. O valor da aprendizagem escolar, com a ajuda

pedagógica do professor, está justamente na sua capacidade de introduzir os

alunos nos significados da cultura e da ciência por meios de mediações

cognitivas e interacionais. (2001, p. 40-41)

Já se passaram quase 15 anos desde que essa afirmação foi feita e a escola continua

buscando sua identidade. Entretanto, mesmo sabendo que é necessário rever a sua atuação, a

escola parece não dispor de um repertório para fazer as transformações necessárias à sua

sobrevivência na contemporaneidade. Questiona-se sobre o papel da Educação que produz

17

discursos que pouco parecem afetar o que se faz na escola: “Sentimos a necessidade da

mudança, mas nem sempre conseguimos definir-lhe o rumo. Há um excesso de discursos,

redundantes e repetitivos, que se traduz numa pobreza de práticas” (NÓVOA, 2009, p. 27).

A diversidade de funções e objetivos, o excesso de responsabilidades sociais, o

“inchaço” curricular e o próprio sistema de ensino consagram a escola num espaço

transbordante. A escola está em processo de busca de identidade nas sociedades

contemporâneas. Para Nóvoa,

A escola cresceu como “palácio iluminado”. Hoje, é apenas um pólo – sem

dúvida – num conjunto de redes e de instituições que devem responsabilizar-

se pela educação das crianças e pela formação dos jovens. [...] A

contemporaneidade exige que tenhamos a capacidade de recontextualizar a

escola no seu lugar próprio, valorizando aquilo que é especificamente

escolar, deixando para outras instâncias atividades e responsabilidades que

hoje lhe são confiadas (2009, p. 43).

Na visão de Nóvoa (2009) a escola foi se desenvolvendo por acumulação de missões e

de conteúdos chegando a um transbordamento que a levou a assumir uma infinidade de

tarefas. Antes a função da escola estava clara; cabia à escola ensinar e, portanto ao aluno

aprender. Atualmente as funções se desdobram e multiplicam e, por sua vez, provocam um

desconforto contínuo nos professores que veem a escola afastada de seus objetivos primeiros.

Começou pela instrução, mas foi juntando a educação, a formação, o

desenvolvimento pessoal e moral, a educação para a cidadania e para os

valores...

Começou pelo cérebro, mas prolongou a sua ação ao corpo, à alma, aos

sentimentos, às emoções, aos comportamentos...

Começou pelas disciplinas, mas foi abrangendo a educação para a saúde e

para a sexualidade, para a prevenção do tabagismo e da tóxicodependência,

para a defesa do ambiente e do patrimônio, para a prevenção rodoviária...

Começou por um “currículo mínimo”, mas foi integrando todos os conteúdos

possíveis e imaginários, e todas as competências, tecnológicas e outras,

pondo no “saco curricular” cada vez mais coisas e nada dele retirando... (NÓVOA, 2009, p.50).

Como se pode perceber os contornos da escola foram imensamente alargados e até

mesmo borrados, ficando, dessa forma difícil definir qual é a sua função. Nóvoa propõe mais

aprendizagem, mais sociedade, mais comunicação e afirma que a primeira condição da

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cidadania é a aprendizagem e, nessa perspectiva, a escola deve ser considerada uma

comunidade, um lugar de trabalho conjunto, um lugar de diálogo, um lugar para praticar a

vida, um espaço público da educação onde os professores e alunos são instigados a

participarem dos debates sociais e culturais incluindo as diretrizes educacionais. Se por um

lado, o autor ao prever a aprendizagem como a função precípua da escola possibilita definir

com maior clareza os contornos da escola, por outro lado ao redefinir a organização escolar

como uma comunidade na qual se pratica a vida, dá continuidade ao dilatamento que vem

sendo feito nas fronteiras da escola. Inserir a vida em sua totalidade na escola pressupõe lidar

com todos os conteúdos que ela abarca e não somente com alguns conteúdos acadêmicos.

Para lidar com essa tensão que está posta na contemporaneidade, talvez seja necessário

assumir definitivamente que as fronteiras entre a escola e a sociedade estão cada vez mais

borradas. Isso pressupõe que ao invés das escolas fixarem bordas rígidas no intuito de buscar

sua identidade, procure definir eixos aglutinadores; eixos esses, que as fariam deixar de ser

transbordantes para tornarem-se escolas centradas em objetivos próprios, histórico e

socialmente contextualizadas. Assim, escola e sociedade não seriam percebidas de forma

isoladas, mas interagindo de forma mais aberta e coerente.

Nessa perspectiva, a responsabilidade da sociedade com a escola também deveria ser

exercida com mais coerência.

Educação, portanto, dada a sua complexidade e crescente ampliação, já não é

vista como responsabilidade exclusiva da escola. A própria sociedade,

embora muitas vezes não tenha bem claro de que tipo de educação seus

jovens necessitam, já não está mais indiferente ao que ocorre nos

estabelecimentos de ensino. Não apenas exige que a escola seja competente e

demonstre ao público essa competência, com bons resultados de

aprendizagem pelos seus alunos e bom uso de seus recursos, como também

começa a dispor a contribuir para realização desse processo, assim como a

decidir sobre os mesmos.(Lück, 2000, p. 12).

Assim o espaço escolar, marcado pelas diferenças culturais e pelo embate de valores,

poderia se transformar em um local de aprendizagem coletiva no qual não só os alunos

poderiam aprender, mas também os educadores como afirma Nóvoa,

19

[...] um espaço conceitual construído por grupos de educadores

comprometidos com a pesquisa e a inovação, no qual se discutem ideias

sobre o ensino e aprendizagem e se elaboram perspectivas comuns sobre os

desafios da formação pessoal, profissional e cívica dos alunos (2009, p. 42).

Ao se centrar e se colocar em movimento, com base em objetivos próprios, a escola

poderia contribuir, por ser um centro cultural, para que a sociedade contemporânea também

localizasse seus eixos integradores. Torres e Palhares apontam que,

Situada numa espécie de centro de confluência cultural, a organização escolar

é, sem dúvida, um contexto propício ao desenvolvimento de complexas

metamorfoses culturais construídas e sedimentadas no tempo e inscritas na

memória coletiva da instituição. A imagem de escola como entreposto

cultural, um espaço de cruzamento de culturas de proveniências diversas,

permite desenvolver um olhar holístico sobre os processos de liderança,

perspectivados simultaneamente como extensões e reflexos da cultura

organizacional da escola e como relevantes fatores de regulação cultural e

simbólica (2009, p.97).

Articular todas essas expectativas transforma-se em uma batalha travada diariamente

pela equipe gestora. É visto a necessidade da incorporação de múltiplos saberes, de novas

habilidades e novas competências para que a escola da contemporaneidade seja gerida de

forma integral, o que envolve integrar ações administrativas às ações do ensino. Se a escola

não tem mais certezas e nem promessas a oferecer, o que ela pode ofertar na

contemporaneidade? Talvez ela possa oferecer compreensão: compreender os jovens, suas

culturas e de suas famílias. Os embates entre elas, a cultura do jovem e de sua família, e a

cultura escolar pode ser o primeiro passo para se traçar um novo caminho.

20

CAPÍTULO 2– Gestão da escola na contemporaneidade: tempos de crise.

De acordo com Padre Antonio Vieira3,

“O tempo, como o mundo, tem dois hemisférios: um superior e visível, que é

o passado, outro inferior e invisível, que é o futuro. No meio de um e outro

hemisfério ficam os horizontes do tempo, que são estes instantes do presente

que imos vivendo, onde o passado se termina e o futuro começa” (1718)

Como vimos no capítulo anterior as tensões presentes na sociedade também se fazem

presentes na escola, ela se vê palco de diferentes lógicas e interesses contrários. No dizer de

Sacristán e Pérez Gómez:

O delicado equilíbrio da convivência nas sociedades que conhecemos ao

longo da história requer tanto conservação quanto a mudança, e o mesmo

ocorre com o frágil equilíbrio da estrutura social da escola como grupo

humano complexo, bem como com as relações entre esta e as demais

instâncias primárias da sociedade (2000, p.14).

Nesses novos cenários, a figura do diretor escolar também requer revisões. A

concepção de administração escolar que deu sustentação ao projeto de escola moderna está

sendo questionada e surge a figura do gestor escolar. Na visão de Lück,

[...] o conceito de gestão escolar ultrapassa o de administração escolar, por

abranger uma série de concepções não abarcadas por este outro, podendo-se

citar a democratização do processo de construção social da escola e a

realização de seu trabalho, mediante a organização de seu projeto político

pedagógico, o compartilhamento do poder realizado pela retomada de

decisões de forma coletiva, a compreensão da questão dinâmica e conflitiva e

contraditória das relações interpessoais da organização, o entendimento dessa

organização como entidade viva e dinâmica, demandando uma atuação

especial de liderança e articulação, a compreensão de que a mudança de

processos educacionais envolve mudanças nas relações sociais praticadas na

escola e nos sistemas de ensino (2000, p. 16).

3 O Padre António Vieira viveu grande parte da sua vida no Brasil, onde faleceu em 1697. A primeira edição da História do

Futuro foi publicada em 1718.

21

É nesse contexto que Lück(2000) afirma que a Gestão Escolar transcende os

conceitos de Administração Escolar, por não se limitar à organização das atividades

profissionais da escola, buscando compreendê-la como entidade viva e dinâmica.

A gestão escolar está pautada em conhecimentos complexos, de gerenciamento e

administração, de gestão das pessoas, de processos e práticas pedagógicas da escola. Daí a

necessidade da participação dos professores e demais profissionais da escola na construção da

proposta da instituição escolar tornando um apoio fundamental para o gestor escolar. Dessa

forma, a Gestão Escolar articula as perspectivas do estado, as expectativas dos professores e

funcionários, e também as dos alunos e suas respectivas famílias, buscando atendê-las na

construção de um projeto político pedagógico que respeite e acolha os anseios dos diferentes

atores educacionais envolvidos. Repensar a gestão escolar em tempos de incertezas torna-se

uma necessidade urgente e um exercício diário à sobrevivência e ao bem estar de todos os

envolvidos no processo escolar.

2.1 – Gestão Escolar

“O verdadeiro homem mede a sua força, quando se defronta com o

obstáculo!” (Saint-Exupéry)4

A atuação do diretor escolar vem sendo há muito tempo discutida. Paro (2015) ao

recuperar essa discussão faz menção ao estudo realizado por José Querino Ribeiro em 1938.

Os trabalhos realizados inicialmente sobre esta temática percebiam a atuação do diretor de

escola relacionada à concepção de escola controlada e fiscalizada por um administrador

escolar, que mais se aproxima a um gerente de operações escolares. As ações valorizadas

estavam associadas às competências técnicas, de caráter normativo, orientadas pelos

princípios da racionalidade. O papel do diretor nesta perspectiva era de repassar informações,

controlar e dirigir a escola. Lück sinaliza:

4 Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944) foi escritor, ilustrador e piloto francês. Ficou conhecido pela autoria do livro "O

Pequeno Príncipe", um clássico da literatura, publicado em 1943.

22

Com esse enfoque, administrar corresponderia a comandar e controlar,

mediante uma visão objetiva de quem atua sobre a unidade e nela intervém de

maneira distanciada até mesmo para manter essa objetividade e a própria

autoridade, centrada na figura do diretor (2000, p. 13).

As preocupações pedagógicas eram voltadas para o cumprimento das exigências dos

órgãos centrais que eram responsáveis pelo andamento da escola. Continuando com Lück é

importante salientar que:

Até pouco tempo, o modelo de direção da escola, que se observava como

hegemônico, era o de diretor tutelado dos órgãos centrais, sem voz própria,

em seu estabelecimento de ensino, para determinar os seus destinos e, em

consequência, desresponsabilizando dos resultados de suas ações e

respectivos resultados. Seu papel, nesse contexto, era o de guardião e gerente

de operações estabelecidas em órgãos centrais (2000, p. 13).

A função do diretor de escola era, portanto, definido por um Regimento Escolar que

elucidava as questões administrativas e de organização funcional da escola. O modelo de

administração escolar vigente pautava-se na autoridade e no comando de ações previamente

propostas, muitas vezes distantes das necessidades específicas das escolas. Vale ressaltar que

o aluno participante desse processo e sua família deveriam concordar e aceitar o padrão de

educação proposto e descrito na cartilha oficial proposta pelo Estado, na qual, a realidade era

apresentada como regular e estável e os que desestabilizavam deveriam ser excluídos para que

a ordem fosse mantida. A expulsão representava uma prática aceita como natural e, dessa

forma, integrada ao processo escolar.

Mais recentemente tem havido mudanças quanto à percepção do papel de diretor:

O diretor é o profissional a quem compete a liderança e organização do

trabalho de todos os que nela atuam, de modo a orientá-los no

desenvolvimento de ambiente educacional capaz de promover aprendizagens

e formação dos alunos, no nível mais elevado possível, de modo que estejam

capacitados a enfrentar os novos desafios que são apresentados ( LÜCK

2009, p. 17).

Nos cenários contemporâneos cabe ao diretor rever a sua atuação. O diretor de escola

do Ensino Médio da Rede Estadual de Ensino, a quem esta pesquisa se reporta, se vê frente ao

desafio de participar ativamente da construção da identidade e história da escola e,

23

consequentemente, da manutenção de seu projeto político pedagógico. Nessa perspectiva,

Lück enfatiza que,

[...] um diretor de escola é um gestor da dinâmica social, um mobilizador e

orquestrador de atores, um articulador da diversidade para dar-lhe unidade e

consistência, na construção do ambiente educacional e promoção segura da

formação de seus alunos (2000, p.16).

O diretor de escola, como representante legal da organização escolar torna-se um

agente integrador das ações administrativas e pedagógicas. O gestor escolar assume a função

de construtor de uma dinâmica em movimento, o seu papel é complexo, pois atua como um

articulador das ações humanas e das ações administrativo-pedagógicas da escola. A função do

gestor abrange a construção das conexões entre as relações e as ações presentes no âmbito

escolar por meio das mudanças e das exigências de uma sociedade em movimento.

Compreende-se por meio do contexto que o diretor é um gestor do ambiente escolar e a sua

atuação permeia todas as dimensões da escola requerendo assim, múltiplas competências e

habilidades para administrar no novo século. Lück propõe assim, a formação continuada para

os gestores articulando a teoria e prática, aproximando- a da realidade escolar. Para que o

gestor escolar conquiste as mudanças desejáveis e necessárias à construção da identidade da

escola representada pelo jovem estudante, pelos professores e os demais participantes do

processo educativo é preciso que a organização escolar, sob sua administração, esteja ciente

de que necessitará de atitudes significativas por parte das pessoas que compõem o quadro

organizacional da instituição. É notável que o gestor escolar esteja diante de desafios

profissionais complexos onde a mediação dos conflitos e tensões é necessária e prudente para

que haja harmonia no ambiente escolar.

Como o tecelão que alinha e tece o tecido, o gestor escolar deveria entrelaçar as

histórias dos profissionais da escola, em consonância com o olhar administrativo da gestão, e

escrever um enredo que retratasse a vida da escola. Um enredo a ser escrito em tempos de

mudanças, crises e incertezas, nos quais as novas gerações de alunos se encontram e

desencontram com as gerações dos professores. No entanto, o que se observa,

costumeiramente, é um diretor atropelado pelas demandas que se sobrepõem à construção do

projeto político pedagógico da escola. Ele se vê frente a uma batalha diária que implica

24

articular diferentes expectativas ou até mesmo lidar com a falta delas. Alunos desmotivados,

professores despreparados, famílias desintegradas e distantes compõem a rotina do gestor de

escola que outrora exercia a função de guardião e gerente das atividades escolares.

Atualmente é requisitado a ser o eixo de equilíbrio na instituição escolar. Ele é convocado a

ser um mediador de conflitos que emergem no cotidiano das escolas, bem como ser um

formador de professores, motivador de alunos e um conselheiro das famílias.

O gestor escolar administra um ambiente de enfrentamento dos mais diferentes tipos e

nesse contexto ele é induzido a rever seus quadros de referência e sua prática. Espera-se que a

sua administração seja desenvolvida com eficiência e eficácia, tanto na área financeira como

na pedagógica, que atinja os primeiros lugares nos rankings educacionais, assegurando assim

a qualidade de ensino da instituição. Para que o gestor escolar participe ativamente da

construção da identidade da escola composta por todos aqueles que dela fazem parte, parece

ser necessário que ele transcenda sua função legal, prescrita nos documentos oficiais do

governo federal, e saiba acolher e lidar com a vida tal como ela se manifesta na escola e para

que isso se torne possível é necessário que ele tenha acesso a uma formação que o habilita

para isso.

25

CAPÍTULO 3- O Traçado metodológico.

“o ser humano é essencialmente um contador de histórias que extrai

sentido do mundo através das histórias que conta.”

(Barthes)5

Para alcançar os objetivos propostos, a pesquisa pautou-se na abordagem qualitativa, e

o procedimento de coleta de dados foi a entrevista narrativa. Esse procedimento deriva da

palavra latina narrare que significa relatar, contar uma história. A entrevista narrativa é uma

técnica para gerar histórias; ela é aberta quanto aos procedimentos analíticos que seguem a

coleta de dados (BAUER, 2013, p. 105). As narrativas são excelentes recursos onde os

entrevistados expressam suas experiências, seus saberes de maneira a contar a sua história.

Larrosa (1998, p.38) afirma que “quando contamos nossas histórias e experiências para os outros,

de forma escrita ou oral, elas deixam de ser somente nossas, pois passam a fazer parte da vida do

outro.” Para Barthes,

[...] a narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em

todas as sociedades; a narrativa começa com a própria história da

humanidade; não há, não há em parte algum, povo algum sem narrativa;

todas as classes, todos os grupos humanos têm suas narrativas [...] (1976, p.

19)

Ao contar suas histórias os atores sociais põem em forma os seus “pedaços” de vida

semeados e dispersos ao longo dos anos, entrelaçam rupturas e continuidades e a própria

construção dessa história imprime um sentido para ela (PINEAU, 1987).

Bauer retoma o sentido da narrativa explicitando que elas são infinitas no que se

refere a possibilidades e variedade, elas estão presentes em todo o lugar e parece ser uma

forma elementar de comunicação humana, uma capacidade universal: “Através da narrativa,

as pessoas lembram o que aconteceu, colocam experiência em uma sequência, encontram

possíveis explicações para isso, e jogam com a cadeia de acontecimentos que constroem a

vida individual e social. [...]” (BAUER, 2013, p. 91).

5 Vide referência

26

Sarmento revela a dinamicidade das abordagens narrativas quando expõe que as

narrativas:

[…] permitem o acesso à compreensão da complexidade de enredos entre

tempos e espaços configuradores das identidades singulares, construídas nas

múltiplas interações entre o passado, o presente e o futuro, o herdado e o

projetado, as continuidades e as rupturas, as ligações e os confrontos do

sujeito consigo próprio e com os atores que povoam os contextos em que se

move (2009, p. 306).

Para o autor, o ato de contar história é relativamente simples. As narrativas

transformam-se em um material de análise rico em detalhes com foco nos acontecimentos e

experiências do sujeito entrevistado.

A entrevista narrativa consiste em uma técnica de recolha de histórias. Narrar implica

estados intencionais que aliviam, ou ao menos tornam familiares, acontecimentos e

sentimentos que confrontam a vida cotidiana normal (BAUER, 2013). Por meio das

entrevistas narrativas as histórias dos sujeitos podem ser formadas e escritas proporcionando

assim, um sentido para elas. Continuando com o autor,

Deste modo, compreender uma narrativa não é apenas seguir a sequência

cronológica dos acontecimentos que são apresentados pelo contador de

histórias: é também reconhecer sua dimensão não cronológica, expressa pelas

funções e sentidos do enredo (2013, p. 93).

Para Benjamin (1987), filósofo e sociólogo francês do século XX, narrativa é:

[...] uma forma artesanal de comunicação. Ela não está interessada em

transmitir o “puro em si” da coisa narrada como uma informação ou um

relatório. Ela mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la

dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mão do

oleiro na argila do vaso (p.205) .

A entrevista narrativa pressupõe procedimentos de coleta de dados. O esquema de

narração substitui o esquema pergunta-resposta que define a maioria das situações de

entrevistas estruturadas (BAUER, 2013, p. 95). Segundo o autor, a narrativa privilegia a

27

realidade do que é experienciado pelos contadores de história: a realidade de uma narrativa

refere-se ao que é real ao que é real para o contador de história.

É importante pontuar que o caráter interativo entre os participantes da entrevista,

priorizado por esse tipo de procedimento, permite correções, esclarecimentos e adaptações

que o tornam eficaz na obtenção das informações desejadas... “a entrevista ganha vida ao se

iniciar o diálogo entre o entrevistador e o entrevistado”. (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 34).

Para o autor ao se planejar a entrevista narrativa segue-se um esquema autogerador com

características que devem ser consideradas: a textura detalhada que se refere à necessidade de

dar informações detalhadas aos fatos narrados pelo contador; a fixação da relevância onde o

contador de história narra aqueles aspectos do acontecimento que são relevantes, de acordo

com sua perspectiva de mundo e o fechamento da Gestalt que enfatiza a narrativa em sua

totalidade narrada com começo, meio e fim. É o que deixa a história contada transcorrer de

modo que o começo tende para o meio, e o meio tende para o fim.

Para a realização da Entrevista Narrativa alguns critérios são observados para que a

narração seja autossustentável. De acordo com Bauer (2013), o pesquisador monta uma lista

de perguntas exmanentes (que refletem os interesses do pesquisador, suas formulações e

linguagens). Distingue-se das perguntas exmanentes, as questões imanentes que são os

tópicos e relatos de acontecimentos que surgem durante a narração trazidos pelo informante.

Para Bauer, o ponto crucial da tarefa é traduzir questões exmanentes em questões imanentes,

ancorando questões exmanentes na narração, e fazendo uso exclusivamente da própria

linguagem do entrevistado. Segundo Bauer,

“No decurso da entrevista, a atenção do entrevistador deve estar focada em

questões imanentes, no trabalho de tomar as anotações da linguagem

empregada, e em preparar perguntas para serem feitas posteriormente, em

tempo adequado” (2013, p.98).

Primeiramente foi explicado para as diretoras das escolas o objetivo da entrevista e,

em seguida, foi solicitada a permissão para que a entrevista narrativa fosse gravada. As regras

são construídas para preservar a espontaneidade do informante em narrar alguns

acontecimentos convencionais e problemas em estudo (BAUER, 2013, p. 102). De acordo

com Bauer,

28

A maneira como o entrevistador inicia sua entrevista implica na qualidade da

entrevista. Este fato coloca muita ênfase no início da entrevista. A narração

poderá se tornar um produto da maneira como o entrevistador se comporta. A

fase da iniciação é difícil de ser padronizada e se apóia totalmente nas

habilidades sociais do entrevistador. Esta sensibilidade do método ao

momento inicial pode ser causa de ansiedade e estresse para o entrevistador

(2013, p.102).

É certo, portanto, que a entrevista narrativa submete ao entrevistador alguns cuidados

metodológicos que são específicos da pesquisa narrativa que devem ser garantidos para

efetividade do trabalho.

A transcrição das entrevistas foi o primeiro passo da análise dos dados da pesquisa.

Seguiram-se as orientações de Bauer (2013, p. 106), a transcrição, por mais cansativa que

seja, é útil para se ter uma boa apreensão do material, e por mais monótono que o processo de

transcrição possa ser, ele propicia um fluxo de ideias para interpretar o texto. As transcrições

das entrevistas foram realizadas pela pesquisadora a fim de assegurar a qualidade e

participação na transcrição, sem sofrer influências externas. A partir das falas das diretoras

que colaboraram com esta pesquisa, fez-se necessário compreender os elementos que

emergiram na entrevista e que, positivamente, atribuiu significado na idealização da estrutura

das narrativas utilizadas para amparar a análise dos dados coletados. A entrevista narrativa é o

empreendimento mais notável para superar o tipo de entrevista baseado em pergunta –

resposta. (BAUER, 2013, p. 95). Possui o benefício de obter, de forma imediata, as

informações para a estruturação da narrativa, conforme modelo anexo II, página .

As entrevistas foram agendadas, via telefone, levando em consideração a data e o

tempo disponível de cada participante. Ficou claro que o tempo destinado à entrevista era

muito escasso e em alguns momentos foi interrompido devido à demanda administrativa. Em

conversa com uma diretora após uma interrupção por parte dela, a mesma se negou a

continuar devido aos trabalhos da escola e dificultou a continuação da entrevista, assim

finalizamos a conversa sem ter a chance de retornar à escola.

O motivo da entrevista foi detalhadamente explicado a cada diretora e a maneira com

que as diretoras recebiam as informações sobre o trabalho da pesquisa também foi respondido

29

por algumas como um exercício de narrar a profissão que exercem, mas também foi visto

como um problema (a própria entrevista).

3.1 - Contexto da pesquisa

A pesquisa foi realizada em escola de Ensino Médio da Rede Estadual de Ensino.

Optou-se por realizar a pesquisa na referida rede por ela receber, segundo o Censo Escolar do

Estado de São Paulo, informe 2014, concentrar 83,9% das matrículas no Ensino Médio do

Estado de São Paulo. A pesquisa foi realizada em escolas situadas na Zona Leste,

considerando que a UNICID, universidade que sedia a pesquisa, está estabelecida nesse local

e assume o compromisso de, por meio de pesquisas, colaborar com o desenvolvimento das

escolas públicas da região.

Torna-se importante elucidar os marcos legais que dão sustentação ao funcionamento

do Ensino Médio. Inicialmente é importante salientar que ele tem suas finalidades descritas

pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394/96, no art. 35 que prevê dessa

forma suas finalidades:

Art. 35- O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, com duração

mínima de três anos, terá como finalidade:

I- a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos

no Ensino Fundamental, possibilitando o prosseguimento de

estudos;

II- a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando , para

continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com

flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento

posteriores;

III- o aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a

formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do

pensamento crítico;

IV - a compreensão dos fundamentos científico- tecnológicos dos

processos produtivos, relacionados a teoria com a prática,

no ensino de cada disciplina.

30

O marco histórico e legislativo do ensino médio no Brasil é certificado pela aprovação

da LDB que apresenta um caminho novo para este segmento que é a etapa final da educação

básica.

O desafio de ampliar a cobertura do ensino médio ocorre no Brasil ao mesmo

tempo em que, no mundo todo, a educação posterior à primária passa por

revisões radicais nas suas formas de organização institucional e nos seus

conteúdos curriculares.

Etapa da escolaridade que tradicionalmente acumula as funções

propedêuticas e de terminalidade ela tem sido a mais afetada pelas mudanças

nas formas de conviver, de exercer a cidadania e de organizar o trabalho,

impostas pela nova geografia política do planeta, pela globalização

econômica e pela revolução tecnológica (Parecer nº 15/98,CNE/ CEB).

Com base no referido Parecer, em 1.998, por meio da Resolução nº 3/98, a Câmara da

Educação Básica instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio prevendo

princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na organização curricular

vinculando a educação com o mundo do trabalho e a prática social. Princípios como a

Identidade, Diversidade e Autonomia, previstos no Art. 7º da mesma resolução, são

apreciados na busca da melhor adequação das necessidades dos alunos e de seu meio social.

Continuando com a Resolução nº 03/98, o ensino médio no contexto educacional

brasileiro concebido como etapa final da Educação Básica assume dupla função, conforme o

2º parágrafo do Art. 12:

§ 2º O ensino médio, atendida a formação geral, incluindo a preparação

básica para o trabalho, poderá preparar para o exercício de profissões

técnicas, por articulação com a educação profissional, mantida a

independência entre os cursos.

Percebe-se que o ensino médio tem a função de preparar o aluno para a vida

acadêmica e ao mesmo tempo para o mundo do trabalho. Essa dupla função pode atribuída a

questões pedagógicas e políticas também, da relação do trabalho com a educação. O diretor de

escola atende às demandas da escola e, precisamente, às expectativas do corpo discente,

docente e administrativo. Evidencia-se que, para a gestão escolar se efetivar de maneira a

atender à demanda administrativa e pedagógica do estado e local, é desejável a participação

31

de todos que convivem na escola. A gestão democrática está prevista no inciso VI do Art. 206

da Constituição Federal de 1988 e no Art. 14 da LDB (Lei de Diretrizes e Bases) nº 9394/ 96:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do

ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e

conforme os seguintes princípios:

I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto

pedagógico da escola;

II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou

equivalentes.

Para Santos (2002), as atitudes compartilhadas e conscientizadas na efetivação da

gestão participativa e democrática dependem: de ações que envolvam todos os profissionais

da escola para o planejamento das atividades escolares, do enfrentamento da sensação de

impotência e de inutilidade dos diferentes profissionais da educação frente ao fracasso escolar

e ao desafio de educar novas gerações e da tomada de consciência por todos que a prática

participativa e democrática pode provocar mudanças importantes e benéficas para a escola. A

gestão democrática está alinhada também aos princípios de Identidade, Diversidade e

Autonomia sendo observado que a participação de profissionais da educação, da comunidade

escolar e dos conselhos escolares, muitas vezes, encontra no ambiente da escola, espaços de

tensão. Martins salienta,

[...] a implementação do conjunto legal e normativo que regulamenta a gestão

e a organização escolar pode se transformar num ritual de cumprimento de

normas burocráticas, resultando numa tensão que dificulta à escola

reconstruir sua dinâmica de funcionamento configurada por uma cultura

singular. Os educadores têm sido, permanentemente, instados a se adaptarem

rapidamente às mudanças impostas pela reorganização do mundo do trabalho,

da cultura e da política, numa velocidade que, invariavelmente, lhes

possibilita pouco espaço de tempo para refletir sobre as mudanças propostas e

(re) construir seu percurso profissional (2010, p. 422).

Nesse contexto, é relevante considerar que a gestão da escola é um processo complexo

que depende da concordância e entendimento das pessoas que participam da vida da escola. A

gestão encontra-se num espaço entre o cumprimento de uma legislação que atenda e atinja os

objetivos do estado, da comunidade escolar e dos profissionais da educação. A contribuição

do Coordenador Pedagógico e do Supervisor de Ensino, junto do Diretor Escolar, denominado

Trio Gestor da escola, destacados pelas Resoluções da SE nº 88/07 e 70/10, constituem apoio

32

na condução administrativa e pedagógica da escola. Vale ressaltar as atribuições de cada

componente do Trio Gestor:

Compete ao Diretor, em parceria com o Supervisor de Ensino e, em sua

esfera de competência, garantir, a concretização da função social da escola,

liderando o processo de construção de identidade de sua instituição, por meio

de uma eficiente gestão, nas seguintes dimensões:

*de resultados educacionais de ensino e da aprendizagem;

* participativa;

* pedagógica;

* dos recursos humanos;

* dos recursos físicos e financeiros.

Na estrutura organizacional da Secretaria de Estado da Educação de São

Paulo (SEE-SP), o Supervisor de Ensino é o agente fundamental para o

desenvolvimento das políticas educacionais, promovendo a qualidade de

ensino e o cumprimento da legalidade.

Atribuições gerais:

*Elemento de proposição, articulação e mediação entre as políticas

educacionais e as propostas pedagógicas de cada uma das escolas da rede

pública;

*Liderança fundamental na construção da identidade escolar, favorecendo,

enquanto mediador, o envolvimento e o compromisso da equipe técnico-

pedagógica com a aprendizagem bem sucedida dos alunos;

*Parceiro da equipe escolar, compartilhando responsabilidades, na

consolidação das propostas pedagógicas das escolas da rede pública, na

implementação de ações integradas voltadas para a gestão da escola visando

a melhoria dos resultados da aprendizagem.

(Resolução SE 70, de 26 /10/2010)

No que se refere às atribuições do Coordenador Pedagógico, a Secretaria de Educação

considera que a coordenação pedagógica se constitui em um dos pilares estruturais da atual

política de melhoria da qualidade de ensino e que os Professores Coordenadores atuam como

gestores implementadores dessa política com objetivos de:

*Ampliar o domínio dos conhecimentos e saberes dos alunos, elevando o

nível de desempenho escolar evidenciado pelos instrumentos de avaliação

externa e interna;

*Intervir na prática docente, incentivando os docentes a diversificarem as

oportunidades de aprendizagem, visando à superação das dificuldades

detectadas junto aos alunos;

*Promover o aperfeiçoamento e o desenvolvimento profissional dos

professores designados, com vistas à eficácia em melhoria de seu trabalho.

(Resolução SE 88, de 19/12/2007)

É importante ressaltar o Parecer nº 05/2005, do Conselho Nacional de Educação que

entende,

33

Gestão educacional, entendida numa perspectiva democrática, que integre as

diversas atuações e funções do trabalho pedagógico e de processos

educativos escolares e não escolares, especialmente no que se refere ao

planejamento, à administração, à coordenação, ao acompanhamento, à

avaliação de planos e de projetos pedagógicos,bem como análise,

formulação, implementação, acompanhamento e avaliação de políticas

públicas e institucionais na área de educação (CNE/CP nº 05/2005, p.08).

Percebemos que a Gestão Democrática da Escola é amparada por uma legislação que

reconhece a sua legitimidade e ao mesmo tempo a necessidade de efetivação na administração

das escolas.

3.2 – Os sujeitos da pesquisa

“ Quando o homem compreende a sua realidade pode levantar

hipótese sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções.

Assim pode transformá-la e o seu trabalho pode criar um mundo

próprio, seu Eu e as suas circunstâncias”

(Paulo Freire)

Os sujeitos entrevistados são quatro gestores escolares que atuam em Escolas de

Ensino Médio, da Rede Estadual, situadas na Zona Leste da cidade de São Paulo. Obtivemos

informações claras a respeito dos acontecimentos que expressam as perspectivas dos sujeitos

da pesquisa. Para isso, a entrevista narrativa se pautou no objetivo da pesquisa: investigar

desafios enfrentados por gestores de ensino médio ao exercerem sua função e os recursos que

eles dispõem para enfrentá-los. De acordo com as entrevistas, foi possível estabelecer eixos de

análise como os desafios com o professor, com o aluno, com a família e com administração da

escola sinalizados pelas diretoras, conforme Anexo I, página 57, que estruturam a entrevista

narrativa. As entrevistas foram gravadas, transcritas e posteriormente analisadas, segundo

Anexo II, página 63. Para registrar a entrevista foi utilizado um gravador digital, papel e

caneta.

Com base nos dados, construímos um quadro com informações profissionais das

gestoras, participantes da pesquisa. Elas foram apresentadas pela formação inicial, curso de

pós- graduação e tempo de atuação na gestão escolar. Optamos por chamá-las de diretoras por

34

serem assim, usualmente, conhecidas no ambiente escolar. As diretoras das escolas receberam

nomes fictícios considerando seu perfil pessoal e profissional. Observamos que todas as

diretoras entrevistadas possuem mais de dez anos de tempo na área na educação. A diretora

Maria da Fé recebeu esse nome fictício porque demonstrou confiança e ânimo com a

profissão. Ela deposita fé no jovem estudante. Maria das Dores representou o desânimo

profissional, estava ocupando um cargo e não uma função tão complexa como a gestão

escolar. Foi difícil a conversa com a diretora porque estava sempre ocupada ou não podia

participar da entrevista devido aos compromissos da escola. Maria das Graças é uma diretora

cheia de graça, uma espécie de graça divina. Muito tranquila e segura de si, a entrevista

transcorreu como uma conversa entre amigas, como se já nos conhecessemos. Dona de uma

personalidade firme, sensata e muito ponderada. A diretora Maria das Flores é a diretora com

mais tempo de serviço e de experiência profissional:

“Eu tenho o dom de contagiar...Sou apaixonada pelo meu trabalho...[...]

percebo os talentos da escola[...] o meu papel é transformador.

Maria das Flores deixou a escola alegre e florida. Trabalhou alguns anos para resgatar

o espírito de equipe e a harmonia organizacional da escola. Por ser uma pessoa com

personalidade forte, a sua equipe de trabalho reflete a forma como pensa a administração da

escola. A escola tornou-se referência na região pela organização e por atender à comunidade

do bairro em que está localizada.

O quadro abaixo foi construído com base na formação acadêmica de cada diretora, o

respectivo tempo de atuação na direção de escola e o tempo de direção na escola em que

trabalham atualmente. Para isto foi utilizado um questionário enviado, via email, por ser uma

via de comunicação rápida.

Fonte: elaborado pela pesquisadora.

Formação inicial Pós-graduação Tempo de

atuação

Tempo de

direção na escola

Maria da Fé Educação Artística Mestrado em Educação 14 anos 6 anos

Maria das Dores Letras e Pedagogia Especialização em Educação 10 anos 2 anos

Maria das Graças Pedagogia Especialização em Gestão

Escolar

15 anos 10 anos

Maria das Flores Pedagogia, Letras e Direito Especialização em Educação 30 anos 4 anos

35

Continuando a descrição das diretoras entrevistadas percebemos que a diretora Maria

da Fé é uma profissional estudiosa e nos dias da entrevista tinha defendido a sua dissertação

na área das Políticas Públicas. Maria da Fé é uma profissional que acredita na educação e no

potencial dos jovens. Está há quatorze anos na direção de escola da rede pública, foi

supervisora de ensino e professora também. A diretora Maria das Dores divide o seu tempo

entre a direção da escola e uma sala de aula de escola da Prefeitura de São Paulo. Deixou

claro que não permitia que seu nome fosse divulgado por receio de represália da Diretoria de

Ensino e mostrou-se um tanto desconfortável durante a entrevista. Esclareci por diversas

vezes que a pesquisa seguia critérios éticos preservados pelo Comitê de Ética da Universidade

Cidade de São Paulo. A entrevista seguiu de maneira objetiva devido ao distanciamento da

diretora das questões abordadas. Foi preciso retornar à escola para concluirmos a entrevista

porque na primeira vez que conversamos a diretora Maria das Dores precisou se ausentar para

administrar uma ocorrência da escola. O ânimo reapareceu com a entrevista com a diretora

Maria das Graças. É a diretora que mais tempo tem na escola que trabalha. Administra a

escola com a participação dos professores e funcionários. Durante a entrevista foi

interrompida para conversar com um aluno. Ficou claro o seu perfil mediador. Com vasta

experiência no magistério, também trabalha em uma escola da Prefeitura de São Paulo. Para

Maria das Graças acumular com o cargo da direção com a docência a ajuda muito na

administração da escola porque uma função (de diretora) complementa a outra (de

professora). Para a diretora, “Estar em sala de aula é um facilitador para compreender a

dinâmica da escola.” A conversa com a diretora Maria das Graças transcorreu

tranquilamente. Não foi percebido desconforto durante a entrevista, pelo contrário, contribuiu

positivamente no objetivo da pesquisa e na análise dos dados. A diretora Maria das Flores é a

profissional entrevistada mais experiente. Fez questão de pontuar os cursos de graduação que

fez e a sua experiência como Supervisora de Ensino, inclusive, na escola em que trabalha

atualmente. Deixou claro também que por ter o dom de contagiar é admirada pelos

professores e funcionários. Revelou que quando assumiu a direção a escola estava em

situação deplorável. Atualmente, a escola está conservada em sua estrutura física e a limpeza

é um diferencial da escola. Maria das Flores relatou que os funcionários a respeitam e a

valorizam como diretora da escola. E assim conhecemos um pouco de cada diretora que estará

presente na análise dos dados coletados para a escrita da narrativa

36

CAPÍTULO 4 - Análise dos Dados

“Não existem erros, apenas lições. O crescimento é um processo de tentativa

e erro: experimentação. As experiências que não deram certo fazem parte do

processo, assim com as bem sucedidas. As respostas estão dentro de você.

Tudo o que tem a fazer é analisar, ouvir e acreditar”

(Gorge Bernard Shaw)6

Investigar desafios enfrentados por gestores de ensino médio ao exercerem sua função

e os recursos que eles disponibilizam para enfrentá-los foi o objetivo central das entrevistas

narrativas. E quando abordadas sobre os desafios que enfrentam, sinalizaram pontos que se

transformaram em eixos de análise como: desafios com os professores, com os alunos, com as

famílias e com a administração da escola, sintetizados no quadro abaixo. As colunas coloridas

sinalizam desafios que as diretoras de escolas enfrentam em sua rotina de trabalho.

Fonte : elaborado pela pesquisadora

Inicialmente podemos dizer que as diretoras exploraram esses eixos por diferentes

ângulos. Perspectivando suas narrativas, podemos tecer um panorama, mesmo que parcial de

alguns enfrentamentos vividos pelos gestores educacionais de Escolas Públicas de Ensino

Médio. Esses enfrentamentos parecem emergir na medida em que as diretoras se relacionam

com os diferentes atores sociais que participam dos processos educativos e contextualizam

essas relações nos cenários contemporâneos.

6 George Bernard Shaw (1856-1950) foi um dramaturgo, romancista, contista, ensaísta e jornalista irlandês. Co-

fundador da London School of Economics, foi também o autor de comédias satíricas de espírito irreverente e

inconformista.

Professores Alunos Famílias Administração

Maria da Fé

Maria das Dores

Maria das Graças

Maria das Flores

37

A apresentação do objeto de pesquisa para as diretoras foi o marco inicial das

entrevistas narrativas realizadas com as quatro diretoras. Por meio da narração e frente às

questões abordadas, as diretoras discorreram sobre o tema central.

Como foi dito, anteriormente, com base na análise das falas das diretoras foi possível

elencar os eixos de análise que serão explorados a seguir.

4.1. Desafios enfrentados com os professores

Optamos por iniciar a nossa análise destacando os desafios enfrentados pelas diretoras

na sua relação com os professores. Três delas abordaram essa temática enquanto uma delas,

Maria das Flores, teceu o seguinte comentário:

“O professor está aqui para trabalhar e o aluno para estudar.”

Essa afirmação parece refletir certo distanciamento da diretora em relação aos

professores e aos alunos. Sua reposta precisa, mas simplista, ignora a complexidade que

permeia esses processos.

No entanto as outras se aproximaram desse tema mostrando que ele as desafia. A lida

com os professores nem sempre é fácil para Maria da Fé:

[...] O meu maior enfrentamento não é o aluno, que eu tenho verdadeira

paixão com eles... O professor é o meu maior desafio. O professor é tão

indisciplinado quanto o aluno.[...] O professor não tem habilidade para

relacionar-se com o jovem de hoje[...]O professor não tem persistência ..não

tem afetividade Não podemos generalizar... temos professores que pula, fica

de cabeça para baixo...mas existem professores que não. (diretora Maria da

Fé)

Algumas falas das professoras remetem ao despreparo dos professores que nas suas

percepções parecem não contar com o repertório, acadêmico e emocional para exercer a

38

docência. A diretora Maria das Dores põe em evidência que o professor inicia o exercício da

docência sem o preparo necessário:

“O professor também chega à escola sem preparo e sem recursos

emocionais para nos apoiar. [...] Há um distanciamento da prática durante o

processo de formação[...] o professor está sem preparo, sem recursos

emocionais para nos apoiar. Ele não sustenta a situação.. (diretora Maria das

Dores)

A diretora Maria das Graças concorda com Maria das Dores e nos diz que os

professores não estão preparados para lidar com as novas gerações. Enfatiza que alguns são

imaturos e inexperientes, outros se apegam às suas práticas e não conseguem mudar:

“O professor precisa entender que a geração mudou, mas que também

precisa de valores e limites que estão sendo perdidos. [...] Alguns

professores acompanham a evolução tecnológica, mas outros continuam

ministrando suas aulas como nos velhos tempos...Uns professores chegam

sem base de formação que os impedem de “lidar” com esse cenário devido à

imaturidade emocional, falta-lhes a experiência”. “[...] temos professores

muito tradicionais, relutantes...temos sim!!! Temos outra parte que já é mais

jovem, geração mais jovem... Há conflitos de professor com professor,

professor com aluno. (diretora Maria das Graças)

As diretoras esclarecem que isso poderia ser minimizado se os professores

participassem do processo de formação continuada nas escolas desenvolvido nas ATPC7(

Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo). Para a diretora Maria da Fé:

“É neste espaço escolar que as coisas se transformam...sentir o outro...saber

o que ele carrega no seu currículo cultural e usar em benefício da escola.”

A diretora Maria das Graças também acredita que a participação dos professores nos

horários de ATPC’s é de suma importância, pois é nesse espaço que o cotidiano da escola é

7 ATPC (Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo) que trata da composição da jornada de trabalho docente com

observância ao limite máximo de 2/3 (dois terços) da carga horária, para o desempenho das atividades de

interação com os educandos, bem como reorganiza o tempo desse espaço de trabalho coletivo pedagógico de

hora para aula. (Documento orientador da CEB, Coordenadoria de Educação Básica, nº10/ 2014.)

39

discutido e, com base nessas discussões, a cultura da escola se explicita e pode ser repensada

e consolidada.

“A conscientização das novas questões educacionais e o enfrentamento com

as novas gerações de estudantes é realizada nas ATPC’s (Aula de Trabalho

Pedagógico Coletivo) e em reuniões. É um facilitador para a formação da

identidade cultural da escola: encontros e reuniões onde são discutidos e

abordados diversos assuntos.” (diretora Maria das Graças)

No dizer de Pérez Gómez (2004) a cultura escolar pode ser compreendida como o

conjunto de significados e comportamentos que dão sustentação a uma instituição inclusive à

escola. Ela comporta rituais, costumes, rotinas, forças de inércia, bem como forças de

inovação. É indiscutível a influência que essa cultura tem sobre as aprendizagens

experienciais e acadêmicas dos indivíduos que dela participam. Pensar sobre isso e

principalmente falar sobre isso possibilita decodificar as diferentes interações que se

produzem na escola.

No entanto, elas salientam que alguns apesar das dificuldades que enfrentam nas salas

de aulas, não estão dispostos a participarem dos espaços de formação continuada nas escolas.

O que nos leva a interrogar a respeito do teor da formação nas escolas. Podemos destacar

motivos pelos quais não participam desses encontros como: dupla jornada de trabalho; os

professores trabalham em mais de uma escola o que lhes dificulta a participação nos ATPC’s,

falta de motivação profissional sinalizada pela baixa remuneração o desgaste da docência.

Segundo a diretora Maria da Fé:

“Os momentos de reflexão e debates acontecem nos ATPC’s( Aula de

Trabalho Pedagógico Coletivo). Uns professores aceitam, outros ignoram as

discussões referentes aos desafios da sala de aula, por exemplo. O gestor

escolar precisa chamar a atenção do professor. Ou você enfrenta o professor

e sua vida vira um inferno ou, com muita paciência e conversa, vai engolindo

sapos e lagoas...” (diretora Maria da Fé)

Para a diretora Maria das Graças é difícil para o professor mudar suas rotinas e incluir

elementos da cultura dos jovens nas suas práticas:

40

“Tento mostrar para o professor que não é o só o que ele quer...a escola não

faz parte só da cultura dele, temos a cultura dos alunos. Em planejamentos

sempre tem muita discussão...porque existem alguns projetos que

desenvolvemos que o jovem quer e gosta...por outro lado temos professores

que não gostam de trabalhar com projetos porque não faz parte da cultura

dele, muda a rotina de trabalho dele, muda a rotina da escola, dá trabalho....

Muita relutância nesse sentido...mas sempre fazemos uma avaliação do

projeto...e na avaliação há sempre mais pontos positivos do que os negativos.

Vale analisar a avaliação e a própria fala dos professores que me

fortalece...porque encontra-se mais pontos positivos do que os negativos.

Sempre reforço, não é somente o que o professor quer, elencaram somente os

projetos da cultura do professor/ tradicional...mas temos que olhar para o

aluno...se o professor afirma que o projeto Teatro, campeonatos são bons

porque não realizá-los, precisamos incluí-los em nosso calendário...”

(diretora Maria das Graças)

A fala das diretoras apontam para a necessidade de se repensar os processos de

formação de professores, tanto a formação inicial como a continuada que não deve se reduzir,

somente, aos aspectos teóricos, mas abordar aspectos que envolvam a prática pedagógica

como um todo. Imbernón (2011) nos ajuda a ampliar a compreensão a respeito dos processos

de formação, ao dizer que a formação do professor vai além dos aspectos que envolvem o

ensino: atualização científica, pedagógica e didática; ela implica criar espaços de participação,

reflexão e formação para que os docentes aprendam a conviver com a mudança e com a

incerteza. Para Martins (2010, p. 422) não basta aprender novas técnicas ou apenas

frequentar alguns cursos de capacitação para compreender, introjetar novos referenciais

teórico-metodológicos e, sobretudo, transformá-los em práticas criativas de construção do

cotidiano. A aplicação dessa prática, muitas vezes, vista em processos de formação docente

são validadas e experimentadas no dia a dia da vida do professor que apreende e não resiste às

novas formas de ensinar e aprender.

O diálogo com Canário (2006) permite compreender que as formações tradicionais

que antecedem o exercício profissional dirigido à capacitação individual não têm se mostrado

eficazes. Ele enfatiza frente às aceleradas transformações sociais que é necessário que os

trabalhadores estejam em situação de formação permanente nas organizações em que se

encontram pautadas em sistema de formação abertos e integrados ao trabalho que favoreçam a

autonomia e autoformação. Um dos espaços de formação dos profissionais da educação das

escolas públicas do Estado de São Paulo têm sido as ATPC’s (Aula de Trabalho Coletivo

Pedagógico) nos quais o Trio Gestor, embora não mencionado pelas diretoras, proporcionam

atividades de formação continuada.

41

Nessa perspectiva, o processo de formação poderia se configurar como espaço coletivo

de reflexão, possibilitando aos professores aprenderem por meio da e na escola. A escola,

nessa perspectiva, pode transformar-se num celeiro formador assegurando que as experiências

vividas na escola convertam-se em aprendizagens. Canário (2006) destaca que os indivíduos

mudam, mudando o próprio contexto em que trabalham. Acreditamos que os espaços

coletivos de formação podem ser espaços formativos, também para os gestores que em

colaboração com equipe produziriam respostas mais adequadas para as questões formuladas

no cotidiano.

4.2. Desafios enfrentados com os alunos.

Os desafios enfrentados com os alunos e pelos alunos, também, se fizeram presentes

na fala das diretoras de escola. Ao abordarem os seus comportamentos e as suas posturas em

sala de aula, as percepções das diretoras nem sempre se aproximam. Para Maria da Fé:

O aluno em si não é o meu problema. [...] é o que me dá mais prazer é o

aluno. [...] De vez em quando a gente dá algumas briguinhas[...] mas é

pontual e mesmo que a gente tenha alguma desavença...alguma coisa assim...

uma coisa não muito resolvida, a gente consegue resgatar[...] Falo: - Vamos

conversar agora que você está calmo e eu também! (diretora Maria da Fé)

A diretora Maria da Fé sinaliza que o enfrentamento não é o aluno, pelo contrário, o

aluno é seu parceiro e colaborador. No entanto, as outras diretoras explicitaram algumas

questões importantes no que se referem aos alunos:

[...] O aluno é ciente que está na escola para estudar. Quando o aluno não

entende a família é chamada para orientar, junto da escola, o filho. O maior

enfrentamento tem sido o aluno do Ensino Médio (clientela grande). Os

alunos vêm de muitas escolas da prefeitura e não conseguem cumprir as

regras da escola. Incluímos esses alunos e quando começam a melhorar vem

outra turma... ”é um ciclo!” (diretora Maria das Graças)

[...] Temos problemas de assédio moral ALUNO X PROFESSOR. De drogas

e pais exigentes. [...]. O aluno deve vir para a escola para estudar. Temos a

função de garantir a paz para que o aluno tenha segurança na escola.

(diretora Maria das Flores)

42

“O aluno chega à escola com sua cultura formada e resiste em aceitar a

cultura imposta pela escola, imposta pelas regras de convivência, pelo

próprio sistema. O professor não está preparado para medir esse encontro.”

(diretora Maria das Dores)

Na fala dessas três diretoras alguns problemas enfrentados atualmente pelos gestores

de Ensino Médio, referem-se à lida com os alunos na escola. Para as diretoras Maria das

Dores, Maria das Graças e Maria das Flores, o aluno da escola atual reflete as mudanças que

atingem as sociedades contemporâneas. Podemos dizer que no dia a dia, quando conversamos

com os alunos, percebemos claramente que eles valorizam a sala de aula organizada e

disciplinada, gostam dos professores que mantém a ordem durante a aula. O aluno aprova a

postura do professor despojado e moderno, porém que ministre a aula com seriedade na qual

prevaleça o respeito entre eles. O professor permissivo é visto como o professor que não

impõe e que não consegue motivar o grupo.

A escola está se configurando cada vez mais como um entrelaçamento de culturas.

Na visão das diretoras entrevistadas, encontros e desencontros entre a cultura escolar e as

culturas juvenis acontecem diariamente assim,

“A escola não faz parte da cultura só do professor temos a cultura do

aluno”[...] tento mostrar para o professor que não é só o que ele quer...

(diretora Maria das Graças)

[...]”o professor faz parte desse processo de construção da cultura escolar

[...] a forma que os alunos agiriam diante das aulas também seria diferente

porque o aluno teria um espaço e o professor construiria esse espaço para

falar...”[...] (diretora Maria da Fé)

Para a diretora Maria da Fé o professor não entende a cultura do jovem e por não saber

lidar com ela, muitas vezes entram em choque com os alunos. A diretora Maria das Graças

enfatiza:

“ Sempre reforço, não é somente o que o professor quer, elencaram somente

os projetos da cultura do professor/ tradicional...mas temos que olhar para o

aluno...se o professor afirma que o projeto Teatro, campeonatos são bons

porque não realizá-los, precisamos incluí-los em nosso calendário...”

43

A escola enfrenta um momento de apreensão de novas culturas compartilhadas entre

os principais atores do processo escolar e, o encontro entre a cultura escolar e a cultura do

jovem provoca tensões no espaço escolar. Fanfani (2000), em seus estudos vem apontando

para o distanciamento existente entre as culturas dos jovens e as escolares, os alunos do

Ensino Médio quando instados a falar sobre o que aprendem na escola dizem existir pouca

relação entre os conteúdos escolares e os desafios que enfrentam na vida cotidiana. Cada vez

mais se torna necessário que a escola diminua esse distanciamento favorecendo com isso a

implicação dos jovens com os projetos escolares.

As novas gerações possuem seu próprio estatuto, suas múltiplas expressões, sua

maneira de pensar e produzir a sua própria identidade, móvel e instável. E por ser um

ambiente de confluências culturais, a escola necessita redesenhar seus mecanismos

institucionais para possibilitar a participação social do jovem. Para a diretora Maria da Fé, a

cultura escolar poderia ser construída com o apoio do professor. Para ela,

“[...] o que está na LDB é educar para a cidadania, educar para a formação

plena. E educação plena passa pela autonomia e autonomia é respeitar não

por imposição de regras, respeitar porque eu tenho o outro. Pela

consciência.”

Os jovens se percebem diferentes dos adultos e desrespeitados por eles, na medida em

que suas maneiras de pensar e sentir são, constantemente, desconsideradas. .Durante muito

tempo, a escola visou a homogeneização, procurando transformar os jovens e suas diferenças

em alunos uniformizados e semelhantes; aqueles que não se adaptam são segregados,

segundo Maria da Fé:

“Eu acho que segrega também. Coloquei em minha dissertação,

considerando um crime essa segregação porque, na verdade, tem que

trabalhar os diferentes [...] não temos todos lourinhos de olhos azuis, os que

ficam quietinhos...se é que existiu!!!??? A escola coloca pra fora quando ela

diz...não quero esse aluno em minha sala. Ela faz o que a sociedade quer,

pessoas cada vez menos autônomas, menos críticas, menos cultas, menos

inteligentes para eles dominarem...

Acabar com as diferenças, mais do que nunca torna-se impossível, os jovens se

distinguem não só pela classe a que pertencem, mas, também, por não estarem disponíveis a

se transformar no “aluno ideal” . Barbosa aponta:

44

[...] é preciso defender a interlocução com a diversidade social e cultural, das

crianças e adultos, das culturas familiares e suas formas de socialização, das

culturas consideradas legítimas e ilegítimas promovidas pela escola. Uma

escola de qualidade somente pode ser construída na tensão entre os

conhecimentos universais – construídos e socialmente compartilhados – e as

singularidades. (2007, p. 1076)

A influência da escola no processo de construção das subjetividades está diminuindo,

considerando que a escola não se configura como a única instância social responsável pela

aprendizagem. As tecnologias de informação e comunicação que tanto atraem a juventude têm

possibilitado a construção de redes sociais que participam ativamente da construção das

subjetividades contemporâneas.

4.3. Desafios enfrentados com as famílias.

As famílias parecem distantes da escola na percepção das diretoras. Algumas tendem a

responsabilizá-las pela falta de apoio que dão aos jovens que frequentam às escolas e também

por inadequações que eles apresentam. Na percepção das diretoras Maria das Flores e Maria

das Dores:

“o aluno reflete a cultura da família” (diretora Maria das Flores)

[...] os alunos vêm para a escola sem apoio algum. Os alunos não têm

histórico familiar. O aluno infringe as normas e usa o celular durante as

aulas. (diretora Maria das Dores)

“Hoje a família está longe da escola. Falta o apoio da família. Os alunos

vêm para a escola sem apoio algum. Eles não têm histórico escolar.”

(diretora Maria das Dores)

Para essas diretoras, além de não apoiarem, as famílias tendem a não respeitar a

escola:

“o meu maior desafio é a comunidade externa. A família está acostumada a

não respeitar a escola; a pessoa chega a desrespeitar...Quando a mãe diz

para o filho que ela paga e o filho pode tudo...termina assim a parceria

escola e família.” (diretora Maria das Flores)

45

Para as diretoras, a ausência das famílias ou mesmo a presença das famílias que

demandam atendimentos que não correspondem às responsabilidades da escola fazem parte da

realidade que o diretor enfrenta em sua rotina de trabalho:

“Enfrentamos muitos problemas relacionados à formação familiar. Ontem

descobri que um aluno mora sozinho. Convoquei os pais pra conversar. E a

escola consegue administrar até certo ponto. Temos nossas próprias

limitações.[...] ainda não sei o que aconteceu,como se mantém...”(Maria das

Dores)

Maria das Graças enfatiza a necessidade da parceria escola e família, mesmo que tenha

que ser exercida alguma pressão para que isso seja possível:

“ [...] chamamos a família para orientar o filho, está agindo assim... porque

sempre falo, sem a família não conseguimos nada...eu acho que tem ter o

vínculo família x escola para termos resultado. Às vezes na pressão: Olha,

não vai entrar enquanto a sua mãe não vier...é uma forma de trazê-la,

discutir...e resolver os problemas...a família tem uma função importantíssima

nesse triângulo escola/ família/ aluno. Não tem como fazer sem a família.

Nem que for pela pressão trazemos a família para a escola pra tentar

amenizar a situação conflituosa. Assim, na maioria das vezes conseguimos

resultados, um ou outro caso extrapola, sai da regra...essa escola desse

porte, tamanho, conseguimos administrar bem. Temos

problemas...temos...mas...”

Para Barbosa (2007), as culturas familiares têm sido responsabilizadas pelas

dificuldades enfrentadas pelas crianças das classes populares na escola. As famílias, invisíveis

nas suas singularidades, são costumeiramente consideradas omissas e descomprometidas. As

condições de trabalho, o medo dos pais de se aproximarem da escola, entre outros fatores não

são levados em conta. Nem sempre as lógicas educativas dos pais se aproximam das lógicas

educativas escolares o que aviva as tensões entre família e escola. No entanto, segundo

Barbosa, os pais têm clareza de que a escola é importante para seus filhos, ela, em sua

maneira de ver, possibilitará que seus filhos se posicionem melhor do que eles na sociedade e,

para isso, buscam construir estratégias para que seus filhos permaneçam na escola e obtenham

os sonhados diplomas.

Canário (2006) diz que a escola configura-se como um sistema aberto, um sistema de

comportamentos, valores e não apenas um território físico. Nessa perspectiva, a participação

46

ativa dos pais na escola seria bem vinda, pois ela poderia colaborar para estabelecer: sinergias

entre a socialização escolar e a socialização familiar, particularmente importante no caso de

alunos de origem pobre (2006, p. 48). No entanto, parece que a expectativa das diretoras

quanto à participação familiar se reduz a auxiliá-las no processo de transformar o jovem em

um aluno.

4.4. Desafios enfrentados com a administração da escola.

As culturas da sociedade e, especificamente, as culturas escolares estão em movimento

e reconstrução. A diversidade cultural da sociedade também é vista e presente no espaço

escolar. Gerir uma escola numa sociedade de incertezas tornou-se um desafio diário. A

diretora Maria das Graças expõe que um de seus maiores desafios na gestão escolar é o

excesso de trabalho na escola:

[...] o maior desafio é dar conta de tudo É conseguir dar conta de tudo...o

lado burocrático é muito grande e muitas vezes tenho que deixar o

pedagógico para atender o burocrático ainda mais agora sem funcionários e

sem gerente... Hoje uma escola com média de 1.700, temos dois na secretaria

e três inspetores. Desde agosto de 2014 estamos nessa situação. A limpeza e

merenda são serviços terceirizados, mas temos que acompanhar e observar o

trabalho. A parte financeira é de responsabilidade da Diretoria de Ensino.

(diretora Maria das Graças)

Segundo a diretora, para administrar a escola inteira é necessário um esforço, quase

braçal, porque a escola está sem funcionários e sem gerente de organização escolar8. Reforça

que, “a situação é conflitante...todo dia, toda aula, toda hora.” A frustração do diretor de

escola é deixar de atender a demanda pedagógica para atender à demanda administrativa da

escola tendo que responder à critérios próprios do sistema de ensino e às Diretorias de Ensino

a quem a escola se reporta diretamente. Administramos situações, muitas vezes, distante de

nossa competência; situações complexas como manifestações de estudantes, acidentes com

alunos e até abuso sexual entre alunos e professores e, entre pessoas que prestam serviço à

escola. O gestor escolar vive momentos de tensão e conflitos, internos e externos e, muitas

8 O Gerente de Organização Escolar é um profissional orientado a coordenar as práticas de gestão operacional da

vida escolar, no âmbito de sua unidade.(Matriz de Competências de Gerente de Organização Escolar-Secretaria

da Educação/ Secretaria de Gestão Pública).

47

vezes, devido à função que ocupa sente-se solitário e sem apoio nas decisões. Nesse contexto,

a diretora Maria das Dores confirma:

A diretora tem funções diversas: “não fazemos o que tem que ser feito e

fazemos, na maioria das vezes, o de sempre.” A função do diretor de escola é

apagar incêndios. [...] (Maria das Dores)

A diretora Maria das Dores afirma que as diversas atividades exercidas pelo diretor de

escola a deixa frustrada. As ocorrências que surgem no dia a dia, atendimentos às famílias, a

própria administração da escola, sobrecarrega o trabalho da direção da escola. Quando aponta

que “não fazemos o que tem que ser feito” refere-se ao trabalho pedagógico que é substituído

pela rotina administrativa. Sofremos as consequências do novo tempo, da nova geração de

professores e de alunos e da sociedade contemporânea. E o novo tempo surge também, com

desafios e enfrentamentos novos e adentra a escola e, principalmente, a sala de aula.

A diretora Maria da Fé destaca que:

“É assim, a escola está inserida e a sociedade está mudando muito rápido e

exige que as pessoas se adéquem a todas essas mudanças e eu sinto que a

escola se mantém resistente a essas mudanças, por isso que existem esses

conflitos de relações entre os mais jovens e entre os mais velhos, não vou

dizer nem os mais experientes e mais antigos no magistério, porque eu tenho

professores jovens com a mesma cabeça dos que estão há 20 anos no

estado”.

Maria das Graças pronuncia que:

“vivemos no conflito [...] Das gerações, das transformações [...] Tentando

entender as duas partes, tentando amenizar o “choque” das gerações.

Mostrando para o professor que a sociedade mudou; que os alunos não são

os mesmos. Que houve uma mudança e temos que entender a mudança e

saber lidar com essa mudança. Tentar maneiras e estratégias para chamar

esse jovem e também tentar conscientizá-lo em algumas situações bastante

conflitantes, questões familiares [...] os alunos estão sem limites, sem

valores... O professor precisa entender que a geração mudou, mas que

também precisa de valores e limites que estão sendo perdidos.”(diretora

Maria das Graças)

Como não poderia deixar de ser, essas questões estão presentes no cotidiano da escola

exigindo que ela revise sua lógica e, para isso, àqueles que participam da construção e

48

manutenção de sua forma de olhar para o mundo, façam revisões pra isso: “É preciso refletir

sobre a vida que lá se vive, em uma atitude de diálogo com os problemas e frustrações, os

sucessos e os fracassos, mas também em diálogo com o pensamento próprio e o dos outros.”

(Alarcão, 2001, p. 14)

Cumpre destacar, também, as dificuldades enfrentadas pelas diretoras com os

funcionários da escola. A diretora Maria das Graças relatou que a escola em que trabalha

conta com dois funcionários na secretaria e três inspetores para uma escola com um mil e

setecentos alunos. Segundo a diretora, a limpeza e a distribuição da merenda escolar são

serviços terceirizados, mas a diretora acompanha o trabalho na escola. A parte financeira é de

responsabilidade da Diretoria de Ensino. O absenteísmo dos funcionários também se

configura como um problema e compromete o trabalho do diretor. Para a diretora Maria da

Fé:

“o diretor de escola tem vários desafios dentro do ambiente de trabalho dele.

Começando pelo administrativo, por exemplo, ele enfrenta desafios em

relação aos funcionários [...] aquela funcionária faltou dois dias seguidos e

é responsável por um segmento [...] às vezes temos pessoas extremamente

comprometidas, mas por outro lado eu tenho pessoas que não se

comprometem, não cumprem seus horários, que ficam mandando mensagens

de texto [...] então você tem que ir polindo essas pessoas [...] hoje com dois

períodos, a quantidade de funcionários que eu tenho seria suficiente para a

escola não ter problemas em questão de documentação, de escrituração, de

alunos [...] se eu tivesse um grupo todo ele em 100% comprometido.

Maria da Fé sinaliza :

“[...] com a falta de funcionários começa outro probleminha [...] Eu faço

pagamento, pagamento não é função de diretor. Então o que acontece? Dois

dias eu fico como gerente, dois dias eu fico com as atividades de diretor de

escola [...] e deixo um dia de coringa para alguma eventualidade. Mas tem

que ter um gerente de organização escolar que faça todo esse serviço, que

cuide da vida do professor. Porque não sou eu quem cuida da vida do

professor”.

A diretora Maria das Flores parece ter muita segurança no desenvolvimento do

trabalho administrativo, talvez isso se deva ao seu tempo de serviço. Salienta também que o

colegiado é respeitado e ela acredita no trabalho coletivo entre funcionários e professores.

49

A instituição escolar como toda organização movida por pessoas se vê diante de um

desafio com a ausência de funcionários e professores. Assim como a falta de professor deixa a

escola vulnerável, a falta de funcionário compromete a organização interna da escola. O

desenvolvimento de um processo que envolva a formação continuada dos funcionários deve

ser incentivado pela gestão escolar ou até mesmo solicitado aos órgãos estaduais, para que

possam atender à demanda escolar e aos objetivos da educação contemporânea. Como a

diretora Maria da Fé descreve que, a escola recebe funcionários jovens, muitas vezes sem

experiência profissional que desconhecem a cultura da escola e a falta de experiência pode

comprometer a sua permanência na instituição. A formação desse funcionário também passa

a ser responsabilidade do gestor escolar que conduz o processo administrativo e pedagógico

da instituição.

A diretora Maria das Flores evidencia que:

“a escola pode fazer tudo [...] Tem muitas pessoas competentes [...]”.

A opinião da diretora Maria das Flores, distancia-se das demais opiniões. A visão

dessa diretora mais uma vez evidencia seu distanciamento dos enfrentamentos da escola

contemporânea. Entre o não fazer nada e fazer tudo, existe um espaço delimitado de potência

que não é abordado pela diretora.

Percebemos que a importância de a escola desenvolver um projeto escolar que englobe

a escola como um todo cada vez se torna mais evidente. Para Nóvoa, o trabalho escolar

reclama equipes pedagógicas que não se reduzam às somatórias de competências individuais,

mas possuam uma competência coletiva: “Estamos a falar da necessidade de um tecido

profissional enriquecido da necessidade de integrar na cultura docente um conjunto de modos

coletivos de produção e de regulação do trabalho”. (NÓVOA, 2009, p. 40)

O autor defende a ideia de um novo contrato educativo, celebrado com toda a

sociedade, e não apenas com a escola, que tenha como base o reforço do espaço público da

educação [...]. A diretora Maria das Graças enfatiza que:

50

“A escola, inevitavelmente, sente os impactos de toda mudança que estamos

vivendo. Reflete diretamente na sala de aula através do aluno e do professor.

Esse encontro, muitas das vezes são tensos...Alguns professores

acompanham a evolução tecnológica, mas outros continuam ministrando

suas aulas como nos velhos tempos...Uns professores chegam sem base de

formação que os impedem de lidar com esse cenário, devido à imaturidade

emocional, falta-lhes a experiência.[...] professores novos que entraram na

escola usam (a tecnologia) como ferramenta. Tem que conscientizar muito

bem o aluno e quem administrará será o professor. Deixar bem claro que

será usado naquela aula...naquela atividade como ferramenta pedagógica.

São três professores num grupo de cem professores que usam essas

estratégias.Usamos como forma de trabalho administrativo também. Usamos

o facebook como meio de comunicação para informar às famílias e aos

alunos.”

Para a diretora Maria das Flores estamos frente a uma sociedade com base tecnológica

e o uso das tecnologias da informação é incentivado na escola. Segundo a diretora, é feito o

melhor para o professor dar uma boa aula. Nesse sentido, [...] a comunhão entre as

Tecnologias Educacionais e o acontecimento pedagógico, ensinar e aprender, ou melhor,

aprender a aprender, tornam-se pares constantes no espaço escolar” (NAGATA, 2012, p. 77).

Há um incentivo por parte da gestão escolar e programas que estimulem o uso das

tecnologias da educação, porém a forma com que a escola é organizada, a estruturação das

matrizes curriculares e a conscientização da equipe docente, não permitem, muitas vezes, o

desenvolvimento de um processo de formação para uso da tecnologia da informação dentro da

sala de aula. E bem sabemos que a gestão da escola sofre a resistência acentuada da equipe

docente em aprender a aprender com as novas tecnologias da educação e implementá-las no

solo pedagógico. Os órgãos estaduais de educação subsidiam recursos para a formação de

professores e investem também na compra de recursos tecnológicos para serem usados no

desenvolvimento de novas práticas escolares. Salienta a diretora Maria da Fé,

“A gente sempre dá um jeito de ter o básico. Mas aqui eu vejo que nos

últimos tempos, notebook eu tenho, devo ter uns 10 dentro da caixa fechado,

tem data show em 3 salas de aula, um móvel. Eu tenho a filmadora, a

máquina, o site da escola que ninguém se quer se digna a colocar os projetos

que tem desenvolvido. Tem um ano que estou pagando o site.”

A escola busca o entendimento da movimentação social e da educação contemporânea

tentando interpretar os novos princípios que regulam a sociedade. Para Nagata,

51

O novo contexto instiga as organizações escolares a refletirem sobre o

paradigma da educação monocultural, abrindo-se para a perspectiva de

educação multicultural que prevê a diversidade de culturas, abrangendo

novos suportes curriculares, novas formas de interagir com o conhecimento e

as informações (2012, p. 78).

Novos tempos. Novas formas de professar a educação. Novas configurações

familiares. Novos entendimentos sobre certezas consagradas. Antigas certezas são

questionadas e surgem no meio das discussões, paradigmas incertos, prováveis ou

improváveis, mas firmados ou reafirmados pelo novo tempo.

52

CONSIDERAÇÕES POSSÍVEIS

Investigar os desafios que os gestores de escola estão enfrentando e os recursos que

disponibilizam para enfrentá-los foi considerado o objetivo principal desse trabalho. Para

explorar esse tema foi necessário compreender as mudanças pelas quais o exercício da gestão

tem passado. Inicialmente um diretor administrativo, um fiscal do governo com o olhar de

um gerente que controlava e fiscalizava os comportamentos dos professores e alunos.

Encontrava-se, muitas vezes, distante do processo de ensino e aprendizagem. Atualmente, o

diretor de escola passou a ter seu papel ampliado, com responsabilidades superiores que tinha

no passado. Cabe ao diretor promover um ambiente sustentável para que os professores,

alunos possam exercer seus papéis em consonância com os anseios da comunidade, além de

articular o trabalho institucional aos resultados esperados.

Frente a essas novas demandas o diretor se vê sobrecarregado com seu trabalho

pulverizado. Entre vários desafios, administrativos e pedagógicos, espera-se que ele

promova a construção de uma cultura escolar capaz de desencadear e desenvolver processos

de aprendizagem que envolvam os diferentes atores sociais. A sua função requer, cada vez

mais, habilidades para trabalhar com a diversidade humana.

Com base nas narrativas das diretoras foi possível constatar que escola também sofre

as consequências vindas da sociedade contemporânea A escola atual, comprometida com o

passado, tenta formar alunos para o futuro, mas para isso esquece que é necessário construir

um presente no qual, professores e alunos, estejam implicados, trabalhando juntos e

envolvidos, com a vida que acontece na escola. Vivemos em uma era globalizada que põe em

evidência inúmeras contradições. Se por um lado contamos com sistemas de comunicação

avançados, capacidade produtiva nunca alcançada, produção de complementos em alta escala,

essas conquistas produzem enormes regiões de sombra, os enfrentamentos éticos e culturais,

as emigrações desordenadas, o tráfico de drogas, a intolerância e a violência. A escola, por

sua vez, vive um processo de transbordamento de funções deixando, muitas vezes, de exercer

sua finalidade principal: promover a aprendizagem dos alunos. As mudanças vividas pela

sociedade contemporânea ofuscam essa missão.

53

Diante de todos esses desafios é importante destacar que a escola não pode deixar de

praticar a arte do encontro, da comunicação e da vida em colaboração.

Aos que participam da vida da escola é primordial perceber que os tempos mudaram e

no rastro dessas mudanças a geração de alunos que está na escola não é mais a mesma. Dessa

forma, é necessário que a escola abra espaços para que as culturas juvenis possam participar

da construção de novos sentidos para a escola para que, dessa forma, os jovens se

comprometam com os trabalhos desenvolvidos na escola. O que as diretoras nos contam, no

entanto, é que nem sempre isso acontece. No Ensino Médio elas se deparam com professores,

em sua maioria, despreparados para lidar com a docência e com a complexidade da sala de

aula. Fica claro que lidar com as culturas juvenis também é um desafio. Os professores

apegam-se às práticas tradicionais que desmotivam os jovens que não estão tão disponíveis

com as gerações anteriores a se submeter à autoridade dos professores.

Os alunos, por sua vez, chegam à escola, bombardeados por informações, obtidas das

mais variadas formas e se deparam com a cultura escolar que se distancia de suas

experiências. Uma cultura que se organiza com base na disciplina e nos limites nem sempre

compreendidos e aceitos por eles. Ao serem cobrados pelo descumprimento das regras e das

tarefas escolares, ocorrem os enfrentamentos que dificilmente são considerados oportunidades

de aprendizagem, mas percebidos como fatores que desorganizam a escola. O aluno tende a se

envolver com as atividades quando se depara com um professor que o respeita e consegue

promover a aprendizagem dos alunos. As diretoras entrevistadas salientam que a experiência e

a maturidade emocional do professor favorecem o exercício da docência, mas não são

suficientes. É importante que o professor participe dos espaços de formação continuada

existentes na escola principalmente das ATPC’s (Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo) que

possibilitam a reflexão coletiva.

As famílias, segundo as diretoras, estão distantes da escola e pouco contribuem para

com o trabalho desenvolvido na instituição; algumas até responsabilizam a escola pelo

fracasso de seus filhos, fruto da falta de acompanhamento necessário. Segundo as diretoras,

54

elas só vão à escola em situações de urgência para tomar ciência de situações limites que

comprometem o desempenho de seus filhos.

Investigar os desafios enfrentados pelos diretores inseridos em uma sociedade de

incertezas possibilitou-me aproximar de suas experiências. Ouvir as diretoras de escola

narrando o seu dia a dia, testemunhando as suas responsabilidades, os seus sucessos, mas,

também, suas fragilidades transformaram-se, além de um projeto de escrita, em um projeto de

vida profissional. Não se tem um ponto de chegada, com resultados mensurados

estatisticamente, mas histórias da vida profissional contadas por quatro diretoras de escolas da

rede estadual de ensino que vivem os desafios da sociedade contemporânea que se

materializam nas escolas.

Encerro esse trabalho na companhia de Furter (1970) que expressa que o pensamento

contemporâneo tem de ir além do já conhecido e alimentar-se de um pensamento utópico, que

se exprime pela capacidade não só de pensar o futuro no presente, mas também de organizar o

presente de maneira que permita atuar sobre esse futuro.

55

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58

ANEXO I: síntese das entrevistas narrativas organizadas a partir dos desafios enfrentados pelas diretoras Maria da Fé, Maria das

Dores, Maria das Graças e Maria das Flores.

GESTOR 1 – MARIA DA FÉ

PROFESSOR ALUNO FAMÍLIA ESCOLA

- “O professor é o maior desafio”

- O professor é tão indisciplinado

quanto o aluno.

- O professor é muito resistente

em relação ao processo de

mudança que a sociedade

contemporânea está passando.

- Cabo de força entre o professor

e aluno: quem tem mais poder.

- O professor ainda tem o poder.

- Absenteísmo –... ”os

professores não se comprometem,

não cumprem horários, ficam

enviando mensagem pelo

celular.” (Alienação)

- “Tem professor que dá aula do

jeito de quando saiu da

faculdade...extremamente

inteligente mas não sabe passar

para o aluno...”

- “O gestor escolar precisa

chamar a atenção do professor.”

Ou enfrenta o professor e a sua

vida vira um inferno ou, com

muita paciência e conversa...vai

engolindo “sapos e lagoas”.

- “O meu enfrentamento não é o

aluno, que eu tenho verdadeira

paixão com eles.”

- Aluno -...”não tenho problemas

com indisciplina de aluno”.

- Tem aluno com capacidade de

“dar um banho” no professor. Dar

uma aula melhor que o professor.

- “Alguns alunos se adaptam, ficam

meio resignados. Outros alunos

partem para o enfrentamento devido

à postura do professor em sala de

aula. “

- Com o apoio do professor, o aluno

agiria de forma diferente, teria um

espaço de construção da cultura

escolar: espaço de discussão das

dificuldades, quando não entenderem

a disciplina...

- Precisa haver diálogo entre aluno

professor: “Nem mesmo o aluno tem

a representação concreta do que

seja indisciplina”

- Desafios Administrativos: em

relação aos funcionários. ”Temos

pessoas extremamente

comprometidas e pessoas que não

se comprometem, não cumprem

seus horários,... ficam mandando

mensagem de texto então você tem

que ir polindo essas pessoas.. Um

dos desafios é em relação ao

funcionário”: comprometimento

profissional.

- Indisciplina do funcionário

compara-se à indisciplina do aluno.

- A escola está sem o gerente:

agente de organização escolar.

- Participação do diretor, do

coordenador, do vice- diretor e

funcionários na construção da

cultura da escola.

- A escola é um mundo à parte.

Não acompanha as mudanças.

- A escola segrega: um crime essa

segregação. “Tem que trabalhar os

diferentes”

- “A escola coloca pra fora:

reproduz a ideologia da sociedade:

59

- O professor utiliza tablet para

bate-papo;

-Momentos de reflexões e debates

ATPC (Aula de Trabalho

Pedagógico Coletivo): uns

professores aceitam, outros

ignoram discussões referentes aos

desafios da sala de aula

- O professor contribuiria na

construção desse espaço. O

professor mediaria as dificuldades

do aluno.

- “Se você for ver... não faz outra

coisa a não ser chamar atenção

do professor”

- Em conversas com o professor

sobre as ocorrências do dia a dia

“O professor ameaça porque não

é demitido (mandado embora). É

diferente de uma escola

particular ...”

- Quando o professor expulsa um

aluno de sua aula, ele diz: “não

quero esse aluno em minha sala”.

- “O professor não tem

habilidade para relacionar-se

com o jovem de hoje”. O diálogo

é assim:

“entendeu...entendeu...não

entendeu, não é problema meu”.

- “O professor não tem

afetividade”

- “Mas existem os que pulam,

ficam de cabeça pra baixo para

ministrarem uma boa aula”.

pessoas menos autônomas, menos

cultas, menos críticas, menos

inteligentes para ela dominar”.

- “O que está na LDB (Lei de

Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) é educar para a

cidadania, educar para a formação

plena. E a educação plena passa

pela autonomia e autonomia é

respeitar não pela imposição de

regras, respeitar porque eu tenho o

outro. É pela consciência.”

- É assim, a escola está inserida e

a sociedade está mudando muito

rápido e exige que as pessoas se

adéquam a todas essas mudanças e

eu sinto que a escola se mantém

resistente à essas mudanças, por

isso que existe esses conflitos de

relações entre os mais jovens e

entre os mais velhos, não vou dizer

nem os mais experientes e mais

antigos no magistério, porque eu

tenho professores jovens com a

mesma cabeça dos que estão há 20

anos no estado.

60

GESTOR 2 – MARIA DAS DORES

PROFESSOR ALUNO FAMÍLIA ESCOLA

- Absenteísmo do professor:

comprometimento profissional.

- A falta de professores deixa a

escola mais frágil e vulnerável.

- “O professor falta porque não

aguenta, não suporta a sala de

aula”.

- Professor despreparado.

Distanciamento Teoria x Prática

escolar: “o professor chega na

escola sem preparo e sem recursos

emocionais para nos apoiar”.

-Um dos problemas é no processo

de formação docente.

- O professor não está preparado

para mediar o encontro da cultura

do aluno com a cultura da escola e

a sua.

O professor não tem saúde

emocional e nem física para

administrar a sala de aula.

- “Os alunos vêm pra escola sem

apoio algum”

- Os alunos não têm histórico

familiar.

- O aluno infringe as normas e usa o

celular durante as aulas.

- O aluno chega à escola com sua

cultura formada e resiste em aceitar a

cultura imposta pela escola, imposta

pelas regras de convivência, pelo

próprio sistema.

- Problemas com a formação

familiar.

- A família está longe da escola:

procura a escola nas situações de

roubo de celular...

- Função do diretor de escola:

“apagar incêndios”

- Limitações da escola na solução

dos problemas.

- A conscientização das normas e

regras de conduta da escola é

realizada diariamente.

- Funções diversas: “não fazemos

o que tem que ser feito e fazemos,

na maioria das vezes, o de

sempre”.

- A construção da cultura da escola

acontece de forma bem difícil.

61

GESTOR 3 – MARIA DAS GRAÇAS

PROFESSOR ALUNO FAMÍLIA ESCOLA

- Motivar o professor: crescemos

enquanto grupo.

- Professores tradicionais,

relutantes.

- Professores mais jovens (geração

mais jovem)

- O diretor de escola administra

conflitos professor x professor

- Mostrar para o professor que não

é só o que ele quer.

- O professor não gosta de

trabalhar com projetos porque não

faz parte da cultura dele.

Muda a rotina de trabalho da

escola.

Dá trabalho...

- “Não é somente o que o

professor quer”.

- [...] e temos que oferecer o que o

professor gosta também, da

cultura do cultura do professor

que também funciona...

- O problema do professor é

estrutural, familiar, cultural...em

qualquer que seja a idade.

- Conflitos aluno x aluno ou aluno

x professor são resolvidos com

conversas e conscientização.

-O aluno é ciente que está na

escola para estudar. Quando o

aluno não entende a família é

chamada para orientar, junto da

escola, o filho.

- “O maior enfrentamento tem

sido o aluno do EM”, clientela

grande. Os alunos vêm de

muitas escolas da prefeitura e

não conhecem as regras da

escola. Incluímos esses alunos,

trabalhamos as regras e normas

da escola. Começam a melhorar

no 2º ano do EM....aí vem outra

turma...é um ciclo!!!” - O aluno demora em aceitar as

regras/ normas da escola. É um

trabalho cíclico.

- O jovem gosta de trabalhar com

projetos. Melhora o

relacionamento professor e aluno e

entre os alunos.

“Temos que olhar para o

aluno...”

- “Ficamos batendo na mesma

tecla...não temos receita pronta,

- Preservação do vínculo: Família x

Escola.

- Quando há necessidade chamamos a

família na escola para nos apoiar na

solução dos problemas.

- DESAFIO: Administrar a escola

inteira: esforço para atuar no

pedagógico.

- Sem funcionário e sem gerente.

- “A escola não faz parte da cultura só

do professor temos a cultura do

aluno”.

- MAIOR DESAFIO: dar conta de

tudo.

Excesso de trabalho. Lado

burocrático muito grande. Diversas

funções.

- “...deixar o pedagógico para dar

atender o burocrático ainda mais

agora sem funcionários e sem

gerente...”

A situação é conflitante... todo

dia...toda aula...toda hora... - -“ a escola está sem funcionários e

sem gerente...”

- Reuniões de direção e coordenação

momento para planejamento de ações

administrativo pedagógico.

- Vivemos no conflito, né? Das

gerações, das transformações,

administrando os conflitos. Tentando

entender as duas partes, tentando

amenizar o “choque” das gerações.

Mostrando para o professor que a

62

nem eu, juntos teremos que

descobrir estratégias que

envolvam esse jovem que é

diferente da nossa época”.

- “Temos que oferecer o que o ano

gosta ...

sociedade mudou, que os alunos não

são os mesmos. Da nossa época a

velha fala: No meu tempo era

assim...tentamos mostrar nas reuniões,

nos planejamentos...que o jovem não é

o mesmo do jovem do nosso tempo.

Que houve uma mudança e temos que

entender a mudança e saber lidar com

essa mudança. Tentar maneiras e

estratégias para “chamar” esse jovem

e também tentar conscientizá-lo em

algumas situações bastante

conflitantes, questões familiares, sem

limites, sem orientação sem valores....

Tentamos balancear os dois lados. O

professor precisa entender que a

geração mudou, mas que também

precisa de valores e limites que estão

sendo perdidos.

63

GESTOR 4 – MARIA DAS FLORES

PROFESSOR ALUNO FAMÍLIA ESCOLA

-O professor não tem condições

de enfrentar a sociedade com base

tecnológica.

- A direção deve perceber os

talentos do professor.

- O professor está na escola para

trabalhar.

- Vários desafios: drogas, assédio

moral com o professor, pais

exigentes.

- A direção da escola deve

proporcionar condições para o

professor trabalhar a proposta da

escola.

- A direção da escola deve

motivar e incentivar o professor e

o funcionário.

- O professor carrega em seu

currículo cultural experiências

profissionais que colaboram para

a construção e fidelização da

cultura da escola...

- Professores competentes.

- O governo não assiste o aluno

(“Prefiro pensar que o governo

não tem dinheiro”).

- Problemas de assédio moral

ALUNO X PROFESSOR.

- O aluno reflete a cultura da

família. - O aluno deve vir para a

escola para estudar.

- O aluno não vem para a escola

para brincar.

- “Temos a função de garantir a

paz para que o aluno tenha

segurança na escola.”

- Trabalhar por um grupo que

trabalha pelo aluno.

- MAIOR DESAFIO: comunidade

externa. Quando mãe diz para o filho

que ela paga e o filho pode fazer

tudo... Termina a parceria escola e

família.

- “Temos muitas pessoas

competentes”

- Papel do diretor: mediador,

transformador.

- “sou apaixonada pelo meu

trabalho”...

- “eu tenho o dom de contagiar.”

- “Tenho domínio de meu espaço

pedagógico, administrativo e

financeiro”.

- Trabalho coletivo, professor, aluno e

funcionário.

-“ A escola pode fazer tudo!!!”

- “é na escola que as coisas se

transformam...”

- “A escola é um espaço de

conscientização”

-Direção escolar: trabalho árduo!

- A escola apóia o professor para que

seja ministrada uma boa aula.

- MUITAS DIFERENÇAS NA

ESCOLA

- “Fazemos o que é de melhor para o

professor”.

- O colegiado da escola é muito

respeitado.

- Valorização da autonomia da escola.

- A família não respeita a escola.

- Trabalhar por um grupo que trabalha

pelo aluno.

- “Tenho domínio de meu espaço

pedagógico, administrativo e

financeiro”.

- Direção voltada ao respeito da

legislação.

64

ANEXO II

Transcrição das entrevistas realizadas com quatro diretores de escola da rede estadual

de Ensino Médio, da região da Zona Leste, da cidade de São Paulo.

Diretora – MARIA DA FÉ: usaremos a sigla (MFé) para sinalizar as respostas das

diretoras.

Então sobre os desafios que, nós, diretores de escola enfrentamos o que você tem a nos

dizer?

MFé- Oh! Eu acho assim, o diretor de escola tem vários desafios dentro do ambiente de

trabalho dele. Começando pelo administrativo, por exemplo, ele enfrenta desafios em relação

aos funcionários. Por exemplo, aquela moça que estava aqui. Ela me faltou dois dias seguidos

e ela é responsável por um segmento.

Ela é professora?

MFé - Não, da secretaria. Então às vezes a gente tem assim, pessoas extremamente

comprometidas, mas por outro lado eu tenho pessoas que elas não se comprometem, não

cumprem seus horários, que fica mandando mensagem de texto então você tem que ir polindo

essas pessoas. Então um dos desafios, é em relação ao funcionário.

Então você enfrenta desafios internos também?

MFé - É, é... são desafios internos, eles são grandes e eles extremamente complexos porque

você lida com as pessoas e tem que ter um tato pra falar com as pessoas né? Pra tentar trazer à

realidade, então fora a quantidade porque às vezes eu tenho uma quantidade e não tenho a

qualidade.

Sim.

MFé - Então, hoje como dois períodos, a quantidade de funcionários que eu tenho seria

suficiente que essa escola não ter problema algum, em questão de documentação, de

escrituração, de alunos. Eu não teria problemas. Se eu tivesse um grupo todo ele 100 %

comprometido. Quem não é comprometido? Os funcionários novos que para o Estado é

assim, tem 18 anos pode prestar concurso público. Eu tenho dois funcionários de 19 anos, são

mais alunos do que funcionários. Então isso é uma coisa extremamente negativa porque a

pessoa não tem aquele comprometimento que uma pessoa, por exemplo, de 40 de 50 tem.

65

Verdade.

MFé - Então esse já começa um probleminha. A falta de funcionário, vamos supor, neste

caso, eu faço pagamento, pagamento não é função de diretor. Então o que acontece? É este

ano eu vou dividir. Dois dias eu fico como gerente, dois dias eu fico com as atividades de

diretor de escola e um dia né? Deixo um dia coringa para alguma eventualidade. Mas tem que

ter um gerente de organização escolar que faça todo esse serviço, que cuide da vida do

professor. Porque não sou eu quem cuida da vida do professor.

Quem cuida?

MFé- Um gerente. E esse gerente, na verdade, é um agente de organização escolar que fez

uma prova de certificação. É isso. Então... a gente acaba sendo obstáculo porque você não

pode fazer as coisas a contento. O ano passado, por exemplo, os alunos do 3º ano tinha TCC.

Então eu não sabia o que fazia, se eu fazia pagamento, se eu fazia as coisas que tinha que

fazer de diretor ou ajudava os alunos com o TCC.

Então, na verdade você enfrenta maiores desafios internos e externos do que com o

próprio aluno. O aluno em si?

MFé - O aluno em si ele não é o meu problema. Entendeu? Eu costumo dizer assim, que o

que me dá mais prazer é o aluno. De vez em quando a gente dá algumas briguinhas, né?

Porque são adolescentes mais a gente é... de forma geral, isso é de forma pontual e mesmo

que a gente tenha alguma desavença alguma coisa assim... Uma coisa não muito resolvida, a

gente consegue depois resgatar, vamos conversar agora que você está calmo e eu também.

Então a gente retoma. Então eu costumo dizer, que assim meu maior desafio ou meu maior

problema não é meu aluno, é o meu funcionário, é o meu professor. Quando eu falo na

dissertação da indisciplina eu não me aprofundo, mas, eu cito que o meu professor e meu

funcionário é tão indisciplinado quanto àquele que eles apontam como alunos indisciplinados

porque o professor não cumpre o horário, porque o aluno tem que cumprir o horário? O

professor não acata as regras. Então porque que ele impõe ao aluno as regras?

E a escola sente os reflexos de todo esse processo de mudança que a sociedade está

passando? Como você verifica e percebe?

MFé - Eu acho que os professores, não todos, né? Tem sempre aquele que vai acompanhando

que utiliza, p.e., a internet, que utiliza o smart, enfim, mas a grande maioria é muito resistente

em relação a todas essas novidades e que são novidades que atraem os jovens e que se fossem

66

utilizadas adequadamente, traria os alunos pra mais perto. Então fica uma certa crise. Um

enfrentamento. Fica aquela coisa de quem pode mais. Sabe aquele cabo de força?

Então na verdade o uso de todo veículo de comunicação, das redes sociais e da própria

internet, poderiam ser usadas como agregado às nossas metodologias?

MFé - Sim.

E muitas vezes o professor enxerga como um inimigo?

MFé - Tem professor que inclusive que ele dá aula do jeito de quando saiu da faculdade. Ele é

extremamente inteligente, ele muito inteligente, sabe muito, mas não sabe passar para o aluno.

Então é aquela coisa da alienação. O aluno vai “cabular”, o aluno sabe que não vai ficar em

uma matéria só. Vai entrar com recurso, vai pra mão do Diretor e o diretor vai aprovar. Eu sei

das partes, tentamos com o coordenador, olha você precisa fazer um trabalho, introduz algo

atual, modifica, introduz algo atual, estatística, pega o jornal, não é falta de material. A gente

sempre dá um jeito de ter o básico. Mas aqui eu vejo que nos últimos tempos, notebook eu

tenho, devo ter uns 10 dentro da caixa fechado, tem data show em 3 salas de aula, um móvel.

Eu tenho a filmadora, a máquina, o site da escola, que ninguém se quer se digna a colocar os

projetos que tem desenvolvido. Tem um ano que estou pagando o site.

Então pelo que você fala, hoje, o que nós enxergamos, é uma resistência maior por parte

do professor do que do aluno.

MFé - Alguns alunos se adaptam, aqueles alunos que são sabe? O professor ainda tem o

poder. Ficam quietos, ficam meios que resignados. Tem alguns que, como nós, que

independente do professor, vai estudar, como na nossa geração e, têm outros que partem para

o enfrentamento só que o professor não vê que esse enfrentamento umas das possíveis causas,

porque não podemos colocar uma só causa, ele não tem a visão que um dos motivos que o

aluno “cabula” aula, vai bater papo tem a ver com sua postura em sala de aula.

Qual a leitura que você faz desses enfrentamentos que estão ocorrendo nas escolas hoje?

É um enfrentamento que veio da sociedade móvel, dinâmica?

MFé - Eu penso que sim. É assim, a escola está inserida e a sociedade está mudando muito

rápido e exige que as pessoas se adéquem a todas essas mudanças e eu sinto que a escola se

mantém resistente à essas mudanças, por isso que existe esses conflitos de relações entre os

mais jovens e entre os mais velhos, não vou dizer nem os mais experientes e mais antigos no

magistério, porque eu tenho professores jovens com a mesma cabeça dos que estão há 20 anos

no estado.

67

Com certeza.

MFé - A sociedade exige uma série de mudanças e exige que a gente vai acompanhando. Só

que a escola não tem acompanhado. Eu vejo a escola como um mundo à parte. Entendeu??

Não a vejo integrada às mudanças.

Importante... essa integração que não ocorre!!!.

MFé - E que na verdade não é uma coisa extra humano, não é uma coisa que vai exigir

mundos e fundos. Tenho uma professora que deu uma aula com papelão, tinta. Era sobre

máscaras africanas. Resultados lindos.

Você teve problemas com indisciplina?

MFé- Nenhum... de vez em quando tínhamos que pedir pra “abaixar o volume”, as salas

ficavam abertas, tinham que sair para lavar os pincéis, e de repente escapou uma pincelada na

parede era só lavar...tinta a guache, e tinha que limpar...São poucos, e os alunos curtem por

demais. Eu estou na direção desde 2002. De 1988 até 2001 estava em sala de aula e eu amava

a dar aula!!!

Qual conteúdo?

MFé - Eu trabalhava Desenho Geométrico e Ed. Artística que era uma coisa que não era bem

quista então eu casava, sempre que possível, as duas coisas...no Fundamental. E eu consegui

concorrer com a professora de Ed. Física. Eu lembro que tinha que falar sobre polígonos.

E uma construção abstrata para os alunos! Extremamente abstrata...

MFé - Totalmente abstrata. Depois de construir levava bola, vamos fazer um tapete com os

polígonos que aprenderam? E adoraram...Fizemos um tapete persa também, conteúdo da

apostila. Primeiro no papel quadriculado e depois uma tela. Os alunos iam para aula de Ed.

Física para construir tapetes...

Percebemos que faltam habilidades novas por parte dos professores...

MFé - Sim, é a criação. Alguma coisa pode dar errado, mas replanejamos e quando

planejamos algo diferente para o aluno é difícil que o aluno diga NÃO. Ele pode até ficar com

“pé” atrás e vão vendo os colegas fazerem e motivam-se.

A escola, no seu ponto de vista, acolhe os diferentes “atores” ou segrega também?

68

MFé - Eu acho que segrega também. Coloquei em minha dissertação, considerando um crime

essa segregação porque na verdade tem que trabalhar os diferentes, pois não temos todos os

lourinhos de olhos azuis, os que ficam quietinhos...se é que existiu!!!??? A escola coloca pra

fora. Ela reproduz a ideologia da sociedade. Qdo a escola segrega, expulsa, qdo ela diz...não

quero esse aluno em minha sala. Ela faz o que a sociedade quer, pessoas cada vez menos

autônomas, menos críticas, menos cultas, menos inteligentes para eles dominarem...

Mesmo que ideologicamente, né?

MFé - Sim...

Serão esses os motivos, os quais a escola não é atrativa para grande parte dos alunos?

MFé - Um dos motivos, o outro tem a ver com o relacionamento. O professor não tem

habilidade para relacionar-se com o jovem de hoje. Entendeu...entendeu...não entendeu ...não

é problema meu!!! O aluno vem com defasagens dos anos anteriores...O professor não tem

persistência...não tem afetividade...não podemos generalizar... temos professores que pula,

fica de cabeça pra baixo...mas existem professores que não...

Qual o seu maior desafio, sendo uma escola de ensino médio?

MFé - O meu maior enfrentamento não é o aluno. Que eu tenho verdadeira paixão com

eles. A minha diferença é com o professor. Não é com os funcionários...porque com o

funcionário você vai moldando...

O professor, de certa forma, não sei se concorda...não entende a cultura do jovem.

MFé - Talvez até meio inconsciente como alguém que pode ter mais poder (inconsciente)

...não sei!!! Ele pode “ver” o aluno como alguém que por ter todas essas tecnologias ... Tem

alunos que tem capacidade de dar um “banho” no professor. Literalmente!!! Assim...dar uma

aula melhor que o professor...O professor tem um pouco de receio...

E o diretor? Como está o espaço do diretor???

MFé - Você tem duas opções...ou você enfrenta e vive o “inferno” ou você vai com muita

paciência, conversando, sendo tolerante...engolindo “sapos...lagoas” . Porque se você for ver

tudo, você não fazer outra coisa a não ser chamar a atenção do professor...Nas ATPC reuniões

semanais,junto com os coordenadores, trabalhamos textos que se façam reflexões a respeito,

tentamos!!!

69

O professor recebe esse apoio vindo da coordenação/ direção como agravante ou como

um subsídio/ apoio?

MFé - Não seria agravante, mas temos professores que aceitam e outros que literalmente

ignoram. Estão de corpo presente. Com esses, conversamos com cada um.

E você faz conversa com esse professor?

MFé - Estava fazendo antes da qualificação. Antes de assumir funções, de sobrecarregar de

funções. Nunca tive problemas de conversar com os professores. Nunca foi desgastante. Mas

nunca deixei de conversa com os professores porque é desgastante. O professor te ameaça

dizendo que vai na POESP. Então é diferente de uma escola particular porque ele não falaria.

Ele teria medo de ‘ser mandado embora”. Aqui ele não é mandado embora.

Aqui você teria que conduzir todo o processo junto do professor...Você conversa com os

alunos??

MFé - Converso...inclusive os alunos participaram de minha pesquisa de dissertação. E em

uma visita do supervisor ele presenciou o meu envolvimento com os alunos, o meu apoio no

TCC deles. Eu me candidatei a apoiar os alunos, na bibliografia e condução. Com a maioria

dos professores, às vezes, conversamos, não é com a mesma frequência mas converso e

quando não é comigo a conversa é conduzida pela coordenação. Qdo a conversa é mais séria,

o assunto é grave, conversamos juntas, para uma apoiar a outra. Já assisti aulas e tive que

chamar o professor pra dizer: Você está fazendo tudo errado...precisei orientar o professor a

dar uma aula de matemática...os alunos não entendiam o que o professor falava...um professor

aposentado que resolveu a retornar...então eu fiz a leitura com eles...o professor ficou de

lado...

Qdo acontece esse tipo de situação é complicado...Professor de matemática...

MFé - Quando chega nessa situação...adeus ética...adeus muita coisa...

É uma sala inteira aguardando...

MFé - É... fiz a leitura junto da sala. Eu li o enunciado...acho que era PROPORÇÃO...não fiz

o exercício. Fiz o desenho na lousa...O professor disse: Pode deixar que eu termino. Eu disse:

Eu comecei eu termino...não gritei...não fiz nada...aí eu aproveito e escrevo na lousa...pois faz

tempo que não escrevo...fui conduzindo a aula com o professor na sala. Na porta estavam 3

outros professores aguardando a minha posição. Conversei com os alunos sobre estudo,

colocando-os à parte da situação...vocês também precisam fazer a parte de vocês (aluno).

70

Com aluno em si, problemas com indisciplina que você tem propriedade para falar

numa escola de EM, você ainda não abordou problemas de indisciplina extremo.

MFé - Eu não vejo os problemas daqui com problemas de indisciplina. Na verdade é assim, o

resultado de meu trabalho aponta que a representação deles de indisciplina é o cumprimento

das regras impostas. Por isso que inicio falando que indisciplina é um assunto complexo.

Preciso haver diálogo. Então vai assim...nem eles mesmo tem a representação concreta do que

seja indisciplina. Porque o que o professor considera indisciplina? Aquele aluno que está

ouvindo fone de ouvido, conversando aí o professor coloca o aluno pra fora de sala...E tenho

professor que usa tablet na aula...se o professor usa o aluno também pode...

O professor utiliza pra fins pedagógicos?

MFé - Não...pra bate-papo...tanto que foi pra bate papo que ele escondeu... indisciplina pra

mim,é assim...vejo necessário as regras, que precisam ser conversadas...as regras precisam ser

pra todos...eu não convordo com as regras somente para os alunos...para o diretor, para o

aluno, para o professor,para a família...

Essas regras, esses combinados, que nós travamos com os alunos que sem elas seria

complicada a nossa convivência. Você acredita que poderíamos compartilhar com os

alunos no momento de escrevê-las? Seria possível?

MFé - Eu acho que sim, seria possível sim, mas seria moroso, bastante trabalhoso!!!

E se tivesse o apoio do professor, do coordenador, que levasse pra salas de aula esse

assunto pra ser abordado seria mais fácil?

MFé - Seria sim, o Araujo fala de assembléias. Ele trabalha três tipos de assembléias dentro

da escola visando uma convivência democrática, um professor seria o mediador para fazer

esse trabalho. Diz também que umas regras são indiscutíveis. Aquelas que envolvem a justiça,

a ética, respeito, direitos humanos. São inegociáveis, mas devem ser compreendidos.

O professor faz parte de todo esse processo escolar, da construção dessa cultura escolar.

Se ele trabalhasse em sala de aula essa discussão, seria mais fácil?

MFé - Eu acho que seria e também acho que a forma que os alunos agiriam diante das aulas

também seria diferente também porque o aluno teria um espaço e o professor construiria esse

espaço para falar...não conseguimos compreender essa disciplina...temos dificuldade, não

temos pré-requisitos...aí ele fala de uma outra assembléia entre os professores com a

participação do diretor, do coordenador e do vice, que é pra trabalhar que cada turma fala o

que devemos melhorar e uma terceira em que é mais ampla, todos os funcionários da escola,

71

pais que quiserem...pode ser como reuniões semanais, com duração de 50’ onde um professor,

aquele que maior número de aulas que poderia conversar com os alunos em uma aula.

Seria importante para a formação cultural da escola para que fosse consolidada e com

fins de cidadania...discutir assuntos pertinentes ...situações que não acontecem por ser

“atropelada”...

MFé - É...na verdade o EM, o que está na LDB, é educar para a cidadania, educar para a

formação plena. E educação plena passa pela autonomia e autonomia é respeitar não pela

imposição de regras, respeitar porque eu tenho o outro. Pela consciência...

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Diretora - MARIA DAS DORES: usaremos a sigla (MD) para sinalizar as respostas das

diretoras.

Conforme conversamos, o diretor de escola da sociedade contemporânea vive um

momento de mudança e grande movimentação., diante dessa realidade quais os desafios

que você enfrenta?

MD- Hoje a família está longe da escola. Falta o apoio da família. Os alunos vêm pra escola

sem apoio algum. Eles não têm histórico familiar.

Temos outro problema grave que é o absenteísmo. O professor falta porque não agüenta/

suporta a sala de aula. Falta um preparo na formação desse professor. Ele aprende a teoria e

quando se depara com a prática, que é a sala de aula, não agüenta, não tem saúde emocional e,

até física, para suportar/ administrar a sala de aula.

A escola acompanha os “avanços” dessa sociedade em mudança?

MD - O aluno vem pra escola com o aparelho celular mesmo sabendo que é proibido. Temos

roubos, a família vem na escola para verificar o que fazer...ele (o aluno) usa durante as aulas

sabendo da proibição.

E como vocês, professores, coordenadores e direção reagem a essa postura?

MD - A família vem e explicamos, que é proibido, tem lei pra isso, mas eles continuam

usando. Conscientizamos os alunos, mas é um trabalho diário sem sucesso.

Como é o comportamento característico da escola? É uma escola agitada, calmo,

atípica?

MD - Enfrentamos muitos problemas relacionados à formação familiar. Ontem descobri um

aluno que vive sozinho. Convoquei os pais pra conversar. E a escola consegue administrar as

diversas situações até certo ponto. Temos nossas próprias limitações.

Mas o aluno trabalha? Como faz para se sustentar?

MD - Ainda não sei o que aconteceu, como se mantém, mas temos casos/ situações atípicas.

Você tem o apoio do professor na solução de parte dessas situações?

MD - Às vezes. O professor também chega muito despreparado. O distanciamento da prática

durante o processo de formação o deixa fragilizado, sem preparo e recursos emocionais para

nos apoiar. Ele não sustenta a situação.

O jovem que chega à escola possui uma cultura sua, formada na família, com os amigos,

formada também na rua. Como se dá o encontro dessas culturas na escola?

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MD - De forma bem difícil, o aluno chega à escola com a sua cultura formada e resiste aceitar

a “cultura” imposta pela escola. Imposta pelas regras de convivência, pelo próprio sistema. O

professor não está preparado para mediar esse encontro. Sofremos pela falta de professores e

que deixa a escola mais frágil e vulnerável. Estamos assumindo, nós diretores, funções

diversas e acaba que não fazemos o que tem que ser feito e fazemos, na maioria das vezes, o

de sempre. “Apagar incêndios”

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Diretora: MARIA DAS GRAÇAS: usaremos a sigla (MG) para sinalizar as respostas

das diretoras.

Com base no objetivo geral da pesquisa que é investigar o espaço que o diretor de escola

ocupa diante de uma sociedade em mudança. Como você, diretora de escola, percebe e

enfrenta esse momento? Quais são seus maiores enfrentamentos?

MG - Vivemos no conflito, né? Das gerações, das transformações, administrando os

conflitos. Tentando entender as duas partes, tentando amenizar o “choque” das gerações.

Mostrando para o professor que a sociedade mudou, que os alunos não são os mesmos. Da

nossa época a velha fala: No meu tempo era assim...tentamos mostrar nas reuniões, nos

planejamentos...que o jovem não é o mesmo do jovem do nosso tempo. Que houve uma

mudança e temos que entender a mudança e saber lidar com essa mudança. Tentar maneiras e

estratégias para “chamar” esse jovem e também tentar conscientizá-lo em algumas situações

bastante conflitantes, questões familiares, sem limites, sem orientação sem valores....

Tentamos balancear os dois lados. O professor precisa entender que a geração mudou, mas

que também precisa de valores e limites que estão sendo perdidos.

A movimentação da sociedade em curtos espaços de tempos, a interconexão de

informações atingem todos os espaços da escola. Como está a escola nesse aspecto? Ela

sente os impactos dessa transformação?

MG - A escola, inevitavelmente, sente os impactos de toda mudança que estamos vivendo.

Reflete diretamente na sala de aula através do aluno e do professor. Esse encontro, muitas

vezes, são tensos...Alguns professores acompanham a evolução tecnológica mas outros

continuam ministrando suas aulas como nos velhos tempos... Uns professores chegam sem

base de formação que os impedem de “lidar” com esse cenário, devido a imaturidade

emocional, falta-lhes a experiência.

Você tem o apoio de sua equipe de professores quanto ao uso/ controle dos dispositivos

eletrônicos?Os professores usam como recurso?

MG - Esse ano que a discussão apareceu. Professores novos que entraram na escola que

usariam como ferramenta. Como utilizam como ferramenta, o professor deve administrar essa

utilização. Tem que conscientizar muito bem o aluno e quem administrará será o professor.

Deixar bem claro que será usado naquela aula...naquela atividade como ferramenta

pedagógica.

E o professor consegue administrar essa situação (de utilização?)

75

MG - Então , essa discussão foi esse ano ,estamos em fase de experimentação, de observação.

Então...são 3 professores num grupo de 100 que usam essas estratégias/ ferramenta.

A escola sofre as conseqüências da sociedade atual, da sociedade de informação, do uso

da tecnologia?

MG - Você diz pra quem, nós administrativos? Usamos como forma de trabalho. Utilizamos

bastante. Usamos o facebook para informar às famílias e aos alunos. A vice- diretora utiliza

como meio de comunicação.

A escola tem facebook?

MG - Tem sim. Usamos como meio de comunicação que a vice- diretora utiliza para informar

os alunos.

É favorável?

MG - Sim. É favorável e positivo. Por exemplo, a coordenadora se comunica por e-mail, pelo

facebook com os alunos. Os alunos são a era tecnológica. Dominam e aprendem rapidamente.

Por exemplo, usamos para informar sobre Dependência. Pequenas evoluções...trabalhos, a

data das provas de DP.

Parece que a escola vive entre seu passado e a necessidade de mudar. Como você,

gestora de escola, vive esse momento e orienta os seus colaboradores, no caso, os

professores e os alunos para esses enfrentamentos?

MG - Com os professores fazemos a formação em ATPC, em planejamentos levantando essas

questões para que percebam que nada é igual à nossa época. Temos que aprender a lidar com

essas questões. Ficamos batendo na tecla...não temos receita pronta, nem eu, juntos teremos

que descobrir estratégias que envolvam esse jovem que é diferente da nossa época, que é fala

principal...”no nosso tempo”... não estamos mais nesse tempo...quanta coisa mudou...a família

mudou, a cultura familiar mudou, a nossa sociedade mudou..tudo mudou...temos que fazer

pra conseguir alguma coisa nesse sentido envolvendo esse jovem para que seja mais

participativo, para que a família participe também da vida escolar de seu filho. Tentamos

estratégias pequenas para conscientizar o aluno para que respeite o professor...que é daquela

maneira, que tem aquela metodologia...pra ele entender a posição do professor ...mostrar para

os dois lados...tanto mostrar para o professor que coisa não é mais como era...e também

direcionar o aluno de respeitar a característica daquele professor...

É um trabalho e retrabalho...Você consegue atingir o professor?

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MG - Assim...pouco...a gente consegue sim...se entender um pouquinho cada um, um ou

dois...crescemos enquanto grupo...temos professores muito tradicionais, relutantes...temos

sim!!! Temos a outra parte que já é mais jovem., geração mais jovem...Há conflitos de

professor com professor, professor com aluno. Tentamos a conscientização de trabalhar e

estudar em ATPC, em reuniões, que as coisas estão diferentes, como podemos resolver as

situações...diminuindo os conflitos.

Você tem conflitos com os alunos? Diante dessa mudança pela qual passamos diante

desse encontro de gerações. E com o aluno? Em que dimensão?

MG - Com o professor acontece no momento de formação, em reuniões...com o aluno quando

temos problemas na sala, ouvimos esse aluno tentando entendê-lo, mas esclarecemos a

posição do professor (ministrar a aula) , conscientizando-o de que aquele momento não era de

brincar...ele atrapalha o professor com esse comportamento.

E o aluno entende?

MG - Muitas vezes sim!!! Quando não entende chamamos a família para orientar o filho, está

agindo assim... porque sempre falo, sem a família não conseguimos nada...eu acho que tem ter

o vínculo família x escola. Para termos resultado. Às vezes na pressão: Olha não vai entrar

enquanto a sua mãe não vier...é uma forma de trazê-la, discutir...e resolver os problemas...a

família tem uma função importantíssima nesse triângulo escola/ família/ aluno. Não tem

como fazer sem a família. Nem que for pela pressão trazemos a família para a escola pra

tentar amenizar a situação conflituosa. Assim, na maioria das vezes conseguimos resultados,

um ou outro caso extrapola, sai da regra...essa escola desse porte, tamanho, conseguimos

administrar bem. Temos problemas...temos...mas...

Você tem uma vice- diretora? MG - Duas vices e dois coordenadores. Três turnos.

Você enfrenta maiores desafios no Ensino Fundamental ou Ensino Médio?

MG - Acho que com o EM porque agora temos uma clientela muito grande entrando no

Médio. Antes começavam na 5ª série e iam até o 3º EM. Agora temos outra realidade...

muitos alunos vindos ...temos 8 salas vindos da prefeitura porque não conhecem a escola, não

conhecem as regras... O maior enfrentamento tem sido no EM por conta dos alunos

ingressarem no 1º ano EM vindos de outras escolas...trabalhar as regras da escola, as normas

77

...é um trabalho de um ano...incluí-los na nossa escola...começam a melhorar no 2º ano...aí

vem a outra turma...é um ciclo...Trabalho de professor não tem fim...

Nessa perspectiva, percebe-se que escola torna-se um espaço de enfrentamentos de

gerações e culturas, como já discutimos. A cultura que o jovem carrega e a cultura

escolar formada no dia a dia. Como você, gestora de escola, administra o encontro

dessas culturas? Como o professor participa dessa construção e desconstrução?Como

você, em seu espaço, administra todos esses encontros e desencontros?

MG - Tento mostrar para o professor que não é o só o que ele quer...a escola não faz parte só

da cultura dele, temos a cultura dos alunos. Em planejamentos sempre tem muita

discussão...porque existe alguns projetos que desenvolvemos que o jovem quer e gosta...por

outro lado temos professores que não gostam de trabalhar com projetos porque não faz parte

da cultura dele, muda a rotina de trabalho dele, muda a rotina da escola, dá trabalho.... Muita

relutância nesse sentido...mas sempre fazemos uma avaliação do projeto...e na avaliação há

sempre mais pontos positivos do que os negativos. Vale analisar a avaliação e a própria fala

dos professores que me fortalece...porque encontra-se mais pontos positivos do que os

negativos. Sempre reforço, não é somente o que o professor quer, elencaram somente os

projetos da cultura do professor/ tradicional...mas temos que olhar para o aluno...se o

professor afirma que o projeto Teatro, campeonatos são bons porque não realizá-

los,precisamos incluí-los em nosso calendário... Após a realização dos projetos a sala de aula

fica melhor, o relacionamento aluno/ professor, entre os alunos melhoraram... Em

campeonatos trabalhamos interdisciplinarmente, a escola fica agitada mas o resultado é

excelente. Questões disciplinares, da obesidade, trabalhado em campeonatos...Eu tenho que

oferecer o que o aluno gosta e o que o professor também gosta... da cultura do professor que é

tradicional que também funciona...o que podemos proporcionar ao jovem e ao professor. E é

sempre avaliado em equipe entre os alunos e os professores...trabalhar com projetos

proporciona um crescimento para todos. O aluno se empenha mais, se envolve totalmente.

Trabalhamos “O Fantasma da Ópera”, quando alunos do EM interpretariam essa peça? Esse

ano o colégio completará 50 anos e os professores já estão planejando atividades

comemorativas que são peças criadas pelos alunos...O projeto Teatro é um diferencial da

escola e relacionado com fatos históricos e há dois anos é trabalhado na escola. É um

trabalhado desenvolvido durante o ano escolar...cada um dos alunos trabalha uma

área...editoração e adaptação do texto, decoração...

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Você, como gestora, consegue trabalhar com seus professores a Formação Continuada.

Acontece em que momentos?

MG- Acontece nos ATPC’s, no planejamento. Dependendo do número de aulas que cada

professor tem. Chegando a até 3 ATPC por semana.

E você participa desses encontros (ATPC)?

MG - Estamos tentando fazer um calendário para que eu possa participar. Agora piorou

porque estou sem funcionários, sem gerente...então não consigo participar de todos os

ATPC’s ...fico no período da tarde e noite porque de manhã sou professora da

prefeitura.Trabalho em EMEI outra situação... outro mundo...mas o que eu sinto?? Se você

me perguntar o que você prefere eu não saberia respondê-la...porque são os mesmos

problemas...um complementa o outro...mesmo em sala de aula dos pequenos eu consigo

visualizar os problemas dos professores de sala de aula...são os mesmos problemas...sou

muito pé no chão...eu tenho argumento...eu sei...eu vivo... e isso me ajuda muito como

diretora...porque estou em sala de aula...é um facilitador...engraçado que todos os problemas

que os professores daqui falam eu vivo lá também...é estrutural, familiar, cultural...em

qualquer que seja a idade...

E o seu maior desafio?

MG - É conseguir dar conta de tudo...o lado burocrático é muito grande e muitas vezes tenho

que deixar o pedagógico para atender o burocrático ainda mais agora sem funcionários e sem

gerente...piorou a situação que trabalha com a documentação dos alunos e professores... Hoje

uma escola com média de 1.700, temos dois na secretaria e três inspetores. Desde agosto de

2014 estamos nessa situação. A limpeza e merenda são serviços terceirizados, mas temos que

acompanhar e observar o trabalho. A parte financeira é de responsabilidade da Diretoria de

Ensino.

O administrativo sufoca a função do diretor? O seu trabalho é dificultado pelo excesso

do trabalho administrativo, deixando em algum momento o pedagógico para depois?

MG - Dificulta muito, mas tenho me esforçado para atuar também no pedagógico. Porque

temos que saber de tudo e mesmo que dividimos o trabalho com as coordenadoras com as

vices...temos que administrar a escola. Em reuniões administrativas e pedagógicas

conversamos juntas, para que o trabalho escolar se efetive de maneira geral. Temos reuniões

79

semanais que muitas vezes acontecem quinzenalmente devido ao excesso do trabalho

administrativo...momentos de planejarmos, mesmo com falhas, é um grande facilitador da

coordenação porque assim, falamos a mesma língua.

80

Diretora – MARIA DAS FLORES: usaremos a sigla (MF) para sinalizar as respostas

das diretoras.

Com base no objetivo geral da pesquisa que é investigar o espaço que o diretor de escola

ocupa diante de uma sociedade em mudança e transformação. Como você, diretora de

escola, percebe e enfrenta esse momento? Quais são seus maiores enfrentamentos?

MF:. Trabalho árduo. A escola pode fazer tudo. Temos vários desafios, drogas, assédio moral

ao professor, pais exigentes, MUITAS DIFERENÇAS.

O meu papel é mediador, é transformador. Faço questão de dar o melhor de mim. Posição

hierárquica- ação mobilizadora. Motivas e incentivas o professor como eu acredito. Trabalho

coletivo. Eu tenho o dom de contagiar... Sou apaixonada pelo trabalho... Chamando os

melhores... Perceber os talentos... Condições de trabalhar a proposta da escola. Direção

voltada ao respeito da legislação. A autonomia da escola é muito respeitada. O colegiado da

escola é muito respeitado.

PEDAGÓGICO: CONHEÇO E RESPEITO MÚTUO. Traço o planejamento que seja

possível de ser realizado... ADMINISTRATIVO: Tenho muita segurança devido ao tempo de

trabalho.

MAIOR DESAFIO: Comunidade externa. A família está acostumada a não respeitar a

escola. A pessoa chega a desrespeitar... Quando a mãe diz para o filho: que ele paga e o filho

pode fazer tudo... termina assim a parceria escola & família. Abordagem com o professor.

A escola entre seu passado e a necessidade de mudar. Como você, gestora de escola, vive

esse momento e orienta os seus colaboradores, no caso, os professores e os alunos para

esses enfrentamentos?

MF: Prefiro pensar que o governo não tem dinheiro. Frente a uma sociedade com base

tecnológica, o aluno tem acesso instantaneamente... O governo não assiste o aluno nesse

olhar... O professor não tem condições. Aqui na escola o uso das tecnologias é incentivado.

Fazemos o que é de melhor para o professor dar uma boa aula..

A movimentação da sociedade em curtos espaços de tempos, a interconexão de

informações. Como está a escola nesse aspecto? Ela sente os impactos dessa

transformação?

MF- A escola transformou a identidade e a visão da educação. A ESCOLA É UM ESPAÇO

DE CONSCIENTIZAÇÃO.

A escola pode fazer tudo! Temos muitas pessoas competentes...

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Nessa perspectiva, percebe-se que escola torna-se um espaço de enfrentamentos de

gerações e culturas, como já discutimos. A cultura que o jovem carrega e a cultura

escolar formada no dia a dia. Como você, gestora de escola, administra o encontro

dessas culturas? Como o professor participa dessa construção e desconstrução?Como

você, em seu espaço, administra todos esses encontros e desencontros?

MF- É neste espaço escolar que as coisas se transformam...sentir o outro...saber o ele carrega

no seu currículo cultural e usar em benefício da escola...Tenho domínio de meu espaço,

pedagógico, financeiro e administrativo.

O professor está aqui para trabalhar e o aluno para estudar... o aluno não vem para brincar...

Temos a função de garantir a paz para que o aluno tenha segurança... trabalhado por um grupo

que trabalha