UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil...

72
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE IMPAIRMENT Redução no Valor Recuperável de Ativos Por: Alex Barbosa Paiva Orientador Prof. Luciano Gerard Rio de Janeiro 2010

Transcript of UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil...

Page 1: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

IMPAIRMENT

Redução no Valor Recuperável de Ativos

Por: Alex Barbosa Paiva

Orientador

Prof. Luciano Gerard

Rio de Janeiro

2010

Page 2: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

2

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

IMPAIRMENT

Redução no Valor Recuperável de Ativos

Apresentação de monografia à

Universidade Cândido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em auditoria e

controladoria.

Por: Alex Barbosa Paiva

Page 3: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

3

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço à Minha

Esposa, que me deu forças para iniciar

e concluir esta pós-graduação, bem

como me apoiou no processo de

pesquisa e desenvolvimento da

monografia. Sou grato também aos

meus pais, que sempre me

incentivaram a buscar o melhor e

investir em meu futuro, assim como aos

meus colegas da Petrobras, que me

disponibilizaram material para agregar

valor ao meu estudo.

Page 4: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho em especial à

minha esposa, Patrícia, aos meus pais,

Nizia e Edison e à minha irmã, Aline.

Por eles luto na vida em busca do

crescimento profissional e como forma

de retribuição pelo amor e carinho que

sempre tiveram comigo, além de me

fazerem acreditar que sou capaz de

lutar e vencer.

Page 5: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

5

RESUMO

Este trabalho busca analisar a aplicação do teste de impairment, uma vez que

é obrigatório para as demonstrações contábeis encerradas desde 31 de

dezembro de 2008 para todas as empresas de grande porte e de capital

aberto, e salutar para todas aquelas que queiram imprimir em suas

demonstrações atributos de transparência e seriedade, conceitos estes

alicerçados no modelo de governança corporativa que vem se firmando no

Brasil e no mundo.

Tentaremos, aqui, explorar a necessidade de realização e a forma de aplicação

do teste de impairment em grandes empresas, sobretudo nas do segmento de

energia, como a Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobras. Esse assunto é de grande

importância para a contabilidade, pois o teste visa a assegurar que os ativos

não estejam avaliados, contabilmente, por um valor superior àquele passível de

ser recuperado no tempo, por uso nas operações ou por venda.

Page 6: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

6

METODOLOGIA Para atendimento aos objetivos propostos este estudo caracteriza-se como

descritivo e delineado por meio de pesquisa bibliográfica, a qual ofereceu

suporte e fundamentação teórica, e pesquisa documental e de análise de casos

múltiplos.

Para a realização deste trabalho foram utilizados livros da área de

Contabilidade, artigos de revistas e, sobretudo, informações disponíveis na

internet e obtidas diretamente na Contabilidade da Petrobras.

Sob a ótica da Teoria da Contabilidade e Contabilidade Internacional, a

apresentação das normas norte-americanas, internacionais e brasileiras,

relativas aos procedimentos do reconhecimento da perda de recuperabilidade

do ativo (impairment), também assume as características de uma pesquisa

documental, no sentido de coleta de dados nos relatórios financeiros da

Comissão de Valores Mobiliários - CVM e da Securities Exchange Commission

- SEC.

Page 7: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO CAPÍTULO I A IMPORTÂNCIA DO PETRÓLEO 1.1 – Principal fonte de energia 1.2 – A exploração e a produção no Brasil 1.3 – Fontes de energia renováveis e não renováveis 1.3.1 – Oferta de energia no Brasil e no mundo

1.3.2 – Energias renováveis

1.4 – O processo de exploração e produção (E&P) 1.4.1 – Descobertas do Pré-Sal

CAPÍTULO II CONTABILIDADE DE PETRÓLEO E GÁS 2.1 – Tratamento contábil 2.1.1 – Método dos Gastos Totais – Full Cost 2.1.2 – Método dos Esforços Bem Sucedidos – Successful Efforts Cost 2.1.3 – Comparação entre os Métodos de Contabilização de Petróleo e Gás

CAPÍTULO III REDUÇÃO NO VALOR RECUPERÁVEL DE ATIVOS - IMPAIRMENT 3.1 – Avaliação dos ativos 3.1.1 – Normas Internacionais 3.1.2 – Normas Brasileiras

3.2 – Pronunciamento Técnico CPC 01: Redução no Valor Recuperável de Ativos

Page 8: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

8

3.2.1 – Identificação da Unidade Geradora de Caixa (UGC) à qual um ativo pertence 3.2.2 – Valor Recuperável e valor contábil de uma UGC 3.2.3 – Composição de estimativas de fluxos de caixa futuros 3.2.4 – Taxa ou Taxas de Desconto 3.2.5 – Ágio em decorrência de expectativa de resultados futuros (goodwill)

CAPÍTULO IV IMPAIRMENT NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS 4.1 – Particularidades do segmento 4.2 – Impairment em Propriedades não Provadas 4.3 – Impairment em Propriedades Provadas 4.4 – Elaboração das Estimativas de Fluxos de Caixa Futuros 4.5 – Determinação do Valor Justo (Fair Value) dos Ativos de petróleo e Gás CAPÍTULO V IMPAIRMENT NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DA PETROBRAS 5.1 – Divulgação das informações 5.2 – Valorização dos fluxos de caixa futuros descontados líquidos relacionados a quantidades provadas de petróleo e gás e as correspondentes movimentações 5.3 – Resultados do teste de impairment 5.4 – Impairment do ágio com expectativa de rentabilidade futura 5.5 – Análises dos impactos causados nas demonstrações contábeis da Petrobras em decorrência do impairment CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA ANEXOS

Page 9: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

9

INTRODUÇÃO

Dentre as atividades de uma empresa de energia, a de exploração e produção

de óleo e gás caracteriza-se por ser tipicamente de capital intensivo, envolver

altos riscos e longos prazos de maturação do investimento, evidenciando

valores altamente significativos dos ativos empregados e, consequentemente,

apresentando dificuldade na recuperação dos montantes capitalizados.

Assim os testes para verificar a recuperação do valor dos ativos ganham

importância acentuada para o setor. Nesse contexto, o presente trabalho

objetiva realizar um levantamento dos principais pronunciamentos dos órgãos

contábeis nacionais e internacionais sobre desvalorização de ativos, efetuando

uma análise para se determinar como fatores extrabalanço se relacionam com

as despesas de impairment reconhecidas pelas empresas de energia que

exploram e produzem petróleo.

Apesar da importância do setor petrolífero, existe uma escassez de literatura

nacional específica relacionada aos aspectos contábeis das atividades de

exploração e produção de petróleo, além de ainda não existirem normas

contábeis específicas nem um plano de contas estruturado para o setor no

Brasil.

Nesse contexto, este estudo se justifica pela importância do setor petrolífero

para a economia brasileira e mundial, pela representatividade que as perdas

por impairment podem ocasionar no resultado das empresas desse segmento e

pela contribuição aos usuários das demonstrações contábeis na compreensão

das informações divulgadas pelas empresas em relação aos impactos da

adoção do impairment em seus ativos. Cabe ressaltar que a redução no valor

recuperável dos ativos tende a evitar a superavaliação desses bens, o que

ocasionaria riscos aos investidores.

Page 10: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

10

CAPÍTULO I A INDÚSTRIA DO PETRÓLEO 1.1 – Principal fonte de energia

O petróleo representa a principal fonte de energia primária consumida no

mundo e movimenta bilhões de dólares diariamente em atividades industriais

gigantescas, sendo imprescindível às facilidades e comodidades da vida

moderna.

Além disso, os benefícios proporcionados pelo setor petrolífero são verificados

em termos de finanças públicas, balança comercial, geração de emprego,

pesquisa e desenvolvimento tecnológico, bem como em termos fiscais, em

razão da multiplicidade de fatos geradores de impostos a ele associados.

O desempenho da indústria do petróleo e da economia mundial está também

condicionado ao preço desse produto no mercado internacional. As oscilações

no preço da commodity causadas pelo poder de mercado dos grandes

demandantes ou pelo poder dos grandes produtores (principalmente os

associados a Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP),

afetam tanto a economia dos países desenvolvidos quanto a dos em

desenvolvimento (ARAGÃO, 2005).

No ano de 2009, conforme ranking divulgado pela revista de negócios Fortune,

dentre as dez maiores empresas do mundo em faturamento anual, sete eram

petrolíferas, com os seguintes montantes: Royal Dutch Shell (Holanda) – US$

458 bilhões, Exxon Mobil (EUA) – US$ 442 bilhões, BP (Grã-Bretanha) – US$

367 bilhões, Chevron (EUA) – US$ 263 bilhões, Total (França) – US$ 234

bilhões, ConocoPhillips (EUA) – US$ 230 bilhões, Sinopec (China) – US$ 207

bilhões.

Page 11: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

11

No Brasil, segundo Aragão (2005, p. 1), a estimativa da contribuição média do

setor de petróleo no Produto Interno Bruto (PIB) tem sido crescente,

apresentando as seguintes médias: 2,44% (anos 60), 2,79% (anos 70), 4,20%

(anos 80), 3,36% (1990/97) e 4,94% (1998/2003).

Com base na revista Exame (Edição 952; setembro/2009), em 2009,

continuando a trajetória de crescimento observada após a Lei 9478/97, a

representatividade do setor petrolífero alcançou 10% do PIB. Com o pré-sal, a

estimativa é que essa participação chegue a 20% até 2020.

A relevância da indústria mundial do petróleo está além de sua posição

energética, pois impacta significativamente em outros segmentos da cadeia

produtiva, influência esta que pode ser verificada em termos econômicos,

políticos e financeiros. O investimento estimado do setor para o período de

2001 a 2030 é de US$ 3,04 trilhões, distribuídos em: US$ 2,18 trilhões para o

segmento de exploração e produção (72%); US$ 395 bilhões para o refino

(13%) e US$ 456 milhões para os demais segmentos (15%) (ARAGÃO, 2005).

1.2 – A exploração e a produção no Brasil

A Petróleo Brasileiro S.A. — Petrobras foi constituída em 1953, a fim de

conduzir as atividades de hidrocarboneto do governo brasileiro. A companhia

começou suas operações em 1954 e por cerca de quarenta anos conduziu

atividades de refino e produção de petróleo bruto e gás natural no Brasil.

Na década de 90, numa série de medidas legislativas o Estado brasileiro

renunciou a seu monopólio sobre as atividades de petróleo e gás. Em 9 de

novembro de 1995, a Constituição do Brasil foi alterada a fim de autorizar o

governo brasileiro a contratar com qualquer empresa estatal ou privada para

conduzir atividades nas áreas de exploração e produção (upstream) e

abastecimento (downstream) de petróleo e gás no Brasil.

Page 12: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

12

Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478),

que estabeleceu a concorrência nos mercados brasileiros de petróleo bruto,

derivados de petróleo e gás natural. Com vigência a partir de 2 de janeiro de

2002, o Brasil desregulamentou os preços do petróleo, derivados de petróleo e

gás natural.

Em 2008, conforme comentado no Relatório Form 20-F da Pertobras, a

produção média nacional diária de hidrocarbonetos pela empresa foi de 2.176

mboe/d (milhares de barris de óleo equivalente por dia), uma estimativa de

98,5% do total do Brasil. Mais de 84% das reservas provadas da empresa

estão localizadas em campos grandes, contíguos e altamente produtivos na

costa da Bacia de Campos, permitindo que concentre sua infraestrutura

operacional e restrinja seus custos de exploração, desenvolvimento e

produção.

Em 40 anos de desenvolvimento das bacias marítimas do Brasil, a Petrobras

desenvolveu uma habilidade especial na exploração e produção em águas

profundas, que a empresa explora tanto no Brasil, quanto em outras províncias

petrolíferas marítimas.

No Brasil os dados estatísticos da Agência Nacional do Petróleo – ANP

apresentam as “reservas totais”, que consideram o somatório de reservas

provadas, prováveis e possíveis, sinalizando o limite superior da disponibilidade

de reservas de petróleo.

Segundo dados recentes da ANP, de um total aproximado de 21 bilhões de

barris em 2008, 92,8 % das reservas totais nacionais de petróleo se localizam

no mar (campos “off shore”), e o restante se localiza em campos terrestres.

Três estados respondem pela maior parcela de contribuição das reservas

terrestres: Bahia (32%), Rio Grande do Norte (24%) e Sergipe (23%). Já as

reservas brasileiras “off shore” situam-se, basicamente, em estados da Região

Sudeste: Rio de Janeiro (84%) e Espírito Santo (12%). A participação dos

demais estados é marginal.

Page 13: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

13

Um indicador relevante se refere à razão entre as reservas provadas e as

reservas totais, que se situou em torno de 0,61 em 2008, ou seja, do volume

total de reservas conhecidas no Brasil, cerca de 61% são consideradas

economicamente recuperáveis com as condições atuais de tecnologia e preço.

As reservas totais de petróleo no Brasil vêm crescendo sistematicamente na

última década, graças às descobertas “off shore”. As reservas em terra

praticamente não se alteraram.

1.3 – Fontes de energia renováveis e não renováveis

Tecnicamente, o petróleo é constituído, basicamente, por uma mistura de

compostos químicos orgânicos, os chamados hidrocarbonetos. Assume a

forma gasosa quando é composto de moléculas de pequeno tamanho e o

estado físico líquido quanto os hidrocarbonetos são compostos por moléculas

maiores, considerando as condições normais de temperatura e pressão

(THOMAS, 2004, p. 4).

O petróleo ocupa papel de destaque na matriz energética global, uma vez que

o crescimento e o desenvolvimento econômico dependem grandemente, entre

outros fatores, das fontes de energia provenientes do petróleo. O Gráfico 1

demonstra como está distribuído o consumo energético mundial, desde a

década de oitenta, das principais fontes de energia.

Na análise da distribuição do consumo de energia, percebe-se que as matrizes

energéticas mundial e brasileira estão mais baseadas em recursos minerais de

fontes não renováveis, conforme demonstrado no subitem a seguir.

1.3.1 – Oferta de energia no Brasil e no mundo

Page 14: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

14

Em razão de sua importância para a economia mundial, o petróleo é fator

decisivo na geopolítica mundial. O crescimento econômico está diretamente

associado à disponibilidade de energia, mas sabe-se que a distribuição das

reversas de petróleo não ocorre de maneira uniforme no planeta e que o

consumo é maior em regiões de economia desenvolvida.

O levantamento feito pela gigantesca petrolífera British Petroleum - BP em

2006, com dados de 2005, mostra que os 1.200,7 bilhão de barris de petróleo

disponíveis como reservas provadas no planeta e os 179,83 trilhões de metros

cúbicos de gás natural estão distribuídos da seguinte maneira: 51%

concentrados no Oriente Médio, 24% na Europa e Euroásia, 9% na América

Central e do Sul, 6% na África, 6% na região da Ásia-Pacifico e 4% na América

do Norte. Demonstramos a seguir a distribuição das principais fontes de

energia do Brasil e do mundo.

Fonte: site do Ministério das Minas e Energia

1.3.2 – Energias renováveis

As fontes de energia mais utilizadas pelo homem são as chamadas de “não-

renováveis”, as quais se encontram na natureza em quantidades limitadas e se

Page 15: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

15

extinguem com a sua utilização. Uma vez esgotadas, as reservas não podem

ser regeneradas. Consideram-se fontes de energia não renováveis os

combustíveis fósseis (carvão, petróleo bruto e gás natural) e o urânio, que é a

matéria-prima necessária para obter a energia resultante dos processos de

fissão ou fusão nuclear.

Todas essas fontes de energia têm reservas finitas, uma vez que é necessário

muito tempo para repô-las, e a sua distribuição geográfica não é homogênea,

ao contrário das fontes de energia renováveis, originada graças ao fluxo

contínuo de energia proveniente da natureza.

Geralmente, as fontes de energia não-renováveis são denominadas fontes de

energia convencionais, uma vez que o sistema energético atual assenta na

utilização dos combustíveis fósseis. São também consideradas energias sujas,

já que sua utilização é causa direta de importantes danos para o meio

ambiente e para a sociedade: destruição de ecossistemas, danos em bosques

e aquíferos, doenças, redução da produtividade agrícola, corrosão de

edificações, monumentos e infra-estruturas, deterioração da camada de ozônio

ou chuva ácida. Sem esquecer os efeitos indiretos, como os acidentes em

sondagens petrolíferas e minas de carvão ou a contaminação por

derramamentos químicos ou de combustível.

Em razão das características acima apresentadas, a Petrobras tem

concentrado grandes esforços no estudo e desenvolvimento de energias

renováveis, prevendo, inclusive, investimento de US$ 669 milhões até 2013 em

projetos que incluem geração de energia elétrica por meio de usinas eólicas,

solares e PCHs.

Energia eólica

A Petrobras desenvolveu projetos próprios em locais em que seu Centro de

Pesquisa - Cenpes vem realizando a medição do potencial eólico há anos.

Algumas parcerias também foram firmadas para a participação, em 2009, do

leilão específico de energia eólica preparado pelo Governo Federal. O primeiro

Page 16: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

16

projeto de energia eólica do Governo, a Usina Piloto de Macau, com 1,8 MW

instalados, completou cinco seis de operação, atingindo a marca de 24.500

MWh produzidos desde sua implantação, evitando a emissão de cerca de 6 mil

toneladas de CO2 por ano para a atmosfera.

Energia solar

A Petrobras possui oito sistemas termossolares instalados em refinarias,

fábricas de fertilizantes e no edifício sede da companhia, para aquecimento da

água destinada a vestiários e refeitórios. Ao longo de 2008, esses sistemas,

totalizando 2.180 m2 de coletores planos fechados, evitaram a emissão de 309

toneladas de CO2 para a atmosfera. Também em 2008, em busca da

conservação energética e contribuição para o meio ambiente, sem perder o

foco no vetor econômico, tiveram continuidade os trabalhos de prospecção,

análises técnicas e financeiras, e elaboração de projetos básicos.

Pequenas centrais hidrelétricas (PCHs)

Foram realizados estudos de otimização do projeto da PCH Pira, que prevê

capacidade instalada de 19,5 MW e será construída pela Petrobras no Rio do

Peixe, em Santa Catarina. O impacto ambiental será baixo, pois a área prevista

para o seu reservatório é de 0,3 km2, considerada pequena mesmo quando

comparada à de outras PCHs, que, na maioria dos casos, apresentam áreas de

até 3 km2.

Em 2009 foram desenvolvidos novos projetos de PCHs, visando ampliar a

carteira de empreendimentos da companhia.

1.4 – O processo de exploração e produção (E&P)

A exploração e a produção de petróleo estão voltadas para a descoberta e a

extração de reservas de óleo e gás natural, que são o nosso principal ativo.

Page 17: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

17

As acumulações de óleo e gás natural ocorrem, predominantemente, em

formações geológicas sedimentares. A existência dessas acumulações é

inferida por meio de métodos indiretos e confirmada, ou não, por meio da

perfuração de poços pioneiros.

A ocorrência de petróleo depende da combinação de vários fatores que

determinam os diferentes riscos exploratórios nas diversas bacias

sedimentares. Uma vez que a avaliação destes riscos se apóia na

interpretação de dados geológicos, quanto mais informações disponíveis,

menores serão os riscos envolvidos.

A ocorrência de petróleo é definida pelos volumes de matéria orgânica

presentes nas rochas sedimentares e pelas condições geológicas favoráveis,

ou seja, (a) soterramento suficiente para que com aumento da pressão e

temperatura, a matéria orgânica se transforme em petróleo, (b) dutos de

migração, para que o petróleo expelido das rochas geradoras migre para (c)

rochas-reservatório porosas e permeáveis, (d) recobertas por rochas

impermeáveis (selos) (e) dispostas em trapas (armadilhas) estruturais ou

estratigráficas, permitindo que o petróleo gerado migre e se acumule. Se a

acumulação tiver porte (volume) suficiente, poderá ser explotado

comercialmente.

Confirmada a acumulação de petróleo, novos poços são perfurados com vistas

a delimitar a jazida e permitir a avaliação técnico-econômica da extração.

Uma vez determinada a atratividade econômica, é executado um projeto de

lavra (desenvolvimento da produção), que requer investimentos adicionais na

perfuração de poços e na implantação de instalações industriais.

Esse processo requer, desde a descoberta até o início da produção, cinco

anos, em média, na atividade marítima, e de um a dois anos, na atividade

terrestre. A partir daí, a vida útil do projeto é da ordem de quinze anos. O ciclo

de vida do projeto de produção se encerra com a sua desativação, que requer

Page 18: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

18

recursos adicionais para o abandono das instalações de produção e dos poços

de petróleo.

A ocorrência de petróleo é definida pelos volumes de sedimentos orgânicos e

pelas condições geológicas favoráveis para acumular o óleo ou o gás formado,

e existentes há milhões de anos.

O petróleo bruto é uma complexa mistura de hidrocarbonetos e outros

compostos, que não é utilizável em sua forma natural, e necessita ser

processado em unidades industriais (refinarias), para obtenção dos seus

derivados (GLP ou gás de cozinha, gasolina, nafta petroquímica, solventes,

querosenes, óleo diesel, óleos lubrificantes, parafinas, óleo combustível, asfalto

e outros).

O processamento do petróleo é iniciado pela destilação, que permite a

separação de diversas correntes (GLP, nafta, querosenes, óleo diesel,

gasóleos e óleo combustível). Algumas dessas correntes sofrem um

processamento secundário para conversão em outros produtos, enquanto

outras passam por um tratamento para melhoria de suas características e

atendimento das exigências dos consumidores expressas nas especificações

de qualidade.

As refinarias recebem o petróleo através de dutos desde os campos

petrolíferos ou de terminais marítimos, onde é desembarcado de navios

petroleiros. O transporte dos produtos acabados é efetivado também por dutos

até as bases de distribuição ou terminais expedidores, de onde os produtos são

carregados em navios especializados, em vagões-tanque ou caminhões para

entrega ao mercado consumidor.

O gás natural é uma mistura de hidrocarbonetos gasosos que tem a vantagem

de poder ser utilizado diretamente ou após um processamento menos

complexo (do que o petróleo bruto), onde são removidos os componentes mais

pesados (GLP e gasolina natural). Sua entrega ao mercado é usualmente feita

Page 19: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

19

através de gasodutos de transporte, aos quais são interligadas as redes de

distribuição.

O gás natural é utilizado como matéria-prima petroquímica ou para fertilizantes,

ou como energético em substituição a outros combustíveis. Outras utilizações,

em menor escala, são: como redutor siderúrgico, como combustível automotivo

e para uso domiciliar através de redes de distribuição de gás canalizado.

1.4.1 – Descobertas do Pré-Sal

O termo pré-sal refere-se a um conjunto de rochas localizadas nas porções

marinhas de grande parte do litoral brasileiro, com potencial para a geração e

acúmulo de petróleo. Convencionou-se chamar de pré-sal porque forma um

intervalo de rochas que se estende por baixo de uma extensa camada de sal,

que em certas áreas da costa atinge espessuras de até 2.000m.

O termo pré é utilizado porque, ao longo do tempo, essas rochas foram sendo

depositadas antes da camada de sal. A profundidade total dessas rochas, que

é a distância entre a superfície do mar e os reservatórios de petróleo abaixo da

camada de sal, pode chegar a mais de 7 mil metros.

As maiores descobertas de petróleo, no Brasil, foram feitas recentemente pela

Petrobras na camada pré-sal localizada entre os estados de Santa Catarina e

Espírito Santo, onde se encontrou grandes volumes de óleo leve. Na Bacia de

Santos, por exemplo, o óleo já identificado no pré-sal tem uma densidade de

28,5º API (índice de pressão atmosférica), baixa acidez e baixo teor de enxofre.

São características de um petróleo de alta qualidade e maior valor de mercado.

O sucesso da atividade exploratória na seção pré-sal das bacias sedimentares

brasileiras do Sul e Sudeste marcou o ano de 2008, o que deverá sustentar o

crescimento da produção de petróleo nas próximas décadas.

Page 20: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

20

Na Bacia de Santos, em agosto daquele ano, por exemplo, a companhia

descobriu significativa acumulação de óleo leve e gás natural, com volume

recuperável estimado entre 3 e 4 bilhões de barris de óleo equivalente (boe) na

área conhecida como Iara (bloco original BM-S-11). Essa descoberta decorreu

da perfuração do poço 1-RJS-656, a cerca de 230 km do litoral da cidade do

Rio de Janeiro, em lâmina d’água de 2.230 metros. A nova área soma-se à de

Tupi, descoberta em 2006 no mesmo bloco, com volume recuperável estimado

entre 5 e 8 bilhões de boe, conforme anunciado em novembro de 2007. A

Petrobras detém 65% dessa concessão e está associada, na área, à BG Group

e à Galp Energia, que participam com 25% e 10%, respectivamente.

No litoral do Espírito Santo, ao norte da Bacia de Campos, foram feitas duas

descobertas importantes na seção pré-sal do Parque das Baleias, nos campos

de Baleia Azul e Baleia Franca, com volume recuperável total estimado entre

1,5 e 2 bilhões de boe (30º API). O volume total de óleo estimado na área do

Parque das Baleias, incluindo os reservatórios acima e abaixo da camada de

sal, chega a aproximadamente 3,5 bilhões de boe.

Em setembro, com o início do teste de longa duração do poço 1-ESS-103A,

interligado à plataforma P-34, no campo de Jubarte, no norte da Bacia de

Campos, a companhia começou a produzir na seção pré-sal do litoral do

Espírito Santo.

O portfólio de concessões exploratórias da companhia, com as aquisições e as

devoluções efetuadas em 2008, passou a contar com 265 blocos, somando

142,3 mil km². Além disso, outras 35 áreas em operação, com 12,7 mil km²,

encontravam-se em fase de avaliação de descobertas. A área exploratória da

Petrobras naquele ano totalizava 155 mil km².

Está em discussão no governo o modelo que deverá ser adotado para a

exploração do pré-sal, que poderá ser de concessão ou de partilha. No primeiro

as empresas são proprietárias do óleo que encontram, em troca de pagamento

de royalties, participações especiais e outras taxas. Na segundo o Estado é

Page 21: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

21

remunerado com o petróleo extraído, em parcelas que podem passar da

metade da produção, dependendo da regulamentação adotada.

CAPÍTULO II CONTABILIDADE DE PETRÓLEO E GÁS 2.1 – Tratamento contábil

Apesar de alguns países terem emitido normas específicas, ainda não existe

pronunciamento contábil uniforme para a indústria de petróleo e gás. Talvez

por esse motivo, a regra contábil mais utilizada no tratamento dos gastos das

empresas desse segmento seja a norte-americana SFAS nº 19 – Financial

Accounting and Reporting by Oil and Gas Producing Companies e Disclosures

About Oil and Gás Producing Activities.

Além das reservas, o tratamento contábil dos outros gastos de E&P, tais como:

pré-licença de prospecção; aquisição ou contratação dos diretos de exploração;

exploração, delimitação e avaliação; desenvolvimento, produção e abandono,

também é diferenciado entre as normas. A principal questão que se discute

está relacionada à escolha entre a capitalização dos gastos (ativação) ou à

contabilização diretamente no resultado.

Em decorrência dessa questão, os métodos mais largamente utilizados, com

base nas normas norte-americanas, são o método dos gastos totais (Full Cost)

e o método dos esforços bem sucedidos (Successful Efforts Cost).

A escolha do método de contabilização depende do porte da empresa.

Geralmente as empresas de médio porte utilizam o full cost, enquanto que as

maiores do setor adotam o successful efforts cost. Apesar das diferenças,

percebe-se que em ambos os métodos, a avaliação dos ativos está fortemente

baseada no custo histórico.

Page 22: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

22

2.1.1 – Método dos Gastos Totais – Full Cost

Este método foi desenvolvido na década de 50, sendo a Belco Petroleum a

primeira corporação a utilizá-lo em 1957. Geralmente é adotado por empresas

de pequeno e médio porte e em especial por aquelas que buscam recursos no

mercado de capitais, por acreditarem que esse método é mais justo ao

demonstrar os ganhos com menos volatilidade (JOHNSTON; JOHNSTON,

2006).

Este método preceitua que os gastos decorrentes das atividades de geologia e

geofísica, poços secos na fase exploratória, custos de aquisição de área, poços

exploratório com sucesso, poços secos na fase de desenvolvimento e

desenvolvimento de poços bem sucedidos, são todos capitalizados

independentemente do sucesso da exploração do campo.

Os critérios de contabilização deste método são regulados pelo Regulation SX

Rule 4-10.

2.1.2 – Método dos Esforços Bem Sucedidos – Successful Efforts Cost

Estabelecido na década de 70, com sua utilização o FASB tentou definir este

método como o único para as empresas de petróleo e gás, mas em função do

lobby das empresas de pequeno e médio porte, permitiu-se a adoção dos

métodos Full Cost e Sucessful Efforts Cost, a critério das empresas.

Segundo esta metodologia, serão reconhecidos como despesa diretamente no

resultado os gastos com geologia e geofísica e com poços secos ou não

econômicos na fase exploratória, sendo capitalizados os demais gastos como o

custo de aquisição de área, poços exploratórios com sucesso, poços secos na

fase de desenvolvimento e desenvolvimento de poços bem sucedidos.

Page 23: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

23

Segundo Silva (2004), o método dos esforços bem sucedidos somente

capitaliza como custo do ativo de petróleo e gás os custos das atividades que

resultem na descoberta de reservas de petróleo economicamente viáveis. Os

custos exploratórios de poços secos, custos de geologia e geofísica em geral,

bem como outros custos relativos a propriedades não-provadas são

considerados como despesas do período. De maneira geral, os custos

capitalizados são amortizados pelo método das unidades produzidas, tendo por

base as reservas provadas.

2.1.3 – Comparação entre os Métodos de Contabilização de Petróleo e

Gás

Segundo Silva (2004), a principal diferença entre o método dos gastos totais e

o método dos esforços bem sucedidos refere-se aos custos que não podem ser

diretamente relacionados às descobertas de reservas específicas de petróleo e

gás.

Em outras palavras, a diferença básica entre estes dois métodos concentra-se

nos custos de exploração que serão capitalizados como custos de poços

produtivos.

A diferença de metodologia reflete diretamente no valor do ativo fixo,

considerando que os métodos não registram a totalidade das reservas,

somente reconhecem os gastos para explorar e desenvolver as áreas.

Percebe-se que no método dos gastos totais (full cost), os ativos fixos tendem

a ser maiores do que os ativos fixos reconhecidos pelo método dos esforços

bem sucedidos devido, basicamente, à capitalização dos gastos com geologia

e geofísica e com os gastos exploratórios.

Godoy (2004. p, 107), comparando os dois métodos de contabilização, pondera

que o método de esforços bem sucedidos é mais conservador que o método da

capitalização total, considerando que os gastos que não apresentam relação

direta entre os ativos e algum valor identificável devem ser lançados para

Page 24: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

24

despesas. Os custos relacionados à descoberta de poços secos é um exemplo

desse entendimento.

As principais diferenças entre os métodos de contabilização são sumarizadas e

destacadas pelo SFAS 19, parágrafo 110:

a) Categorias de reservas utilizadas como base da amortização;

b) Para os casos em que os custos de desenvolvimento são antecipados,

desde que os custos de aquisição, exploração e desenvolvimento forem

amortizados com base no total das reservas presentes;

c) Na medida de agregação das propriedades quando da amortização;

d) Nas bases de determinação das taxas de amortização de produção

conjunta de petróleo e gás;

e) Nas categorias de reservas e os métodos de avaliação utilizados para

estabelecer o limite dos gastos capitalizados (celling test); e

f) Na definição dos critérios de alocação dos custos indiretos de produção.

De uma forma mais direta, Johnston e Johnston (2006) sumarizam as

principais diferenças em relação ao tratamento dos gastos de E&P,

considerando os dois métodos de contabilização, as quais podem ser

observadas no quadro abaixo:

Page 25: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

25

Fonte: Adaptado Johnston e Johnston (2006) O método do full cost é mais restritivo em relação ao reconhecimento de

despesa. Essa metodologia faz com que os resultados apresentados pelas

companhias sejam mais uniformes, de forma que os insucessos na exploração

não causam grandes oscilações nos lucros das companhias.

No método do successful efforts o resultado não é preservado, o

reconhecimento em despesa é imediato na fase de geologia e geofísica (G&G)

e nos insucessos da fase exploratória (poços secos e não comerciais). Essa

metodologia impacta fortemente o lucro das companhias que se encontram nas

fases iniciais do processo de exploração e produção, mas como esse método é

utilizado por empresas de grande porte, tais despesas não chegam a causar

distorções representativas nos ganhos das companhias.

CAPÍTULO III REDUÇÃO NO VALOR RECUPERÁVEL DE ATIVOS - IMPAIRMENT 3.1 – Avaliação dos ativos

A aprovação da Lei n.º 11.638 em 28 de dezembro de 2007, resultado do

Projeto de Lei n.º 3.741/2000, contribuiu, entre outras coisas, para a condução

das normas contábeis brasileiras (BR-GAAP) a um padrão mundial, o que vem

sendo realizado pelos órgãos reguladores, como o Comitê de Práticas

Contábeis – CPC.

A necessidade de um consenso mundial é reconhecida tanto pelo Financial

Accounting Standards Board (FASB) quanto pelo International Accounting

Standards Board (IASB), que concordam que a convergência dos padrões

contábeis é essencial para diminuir as divergências entre os diversos padrões

contábeis que, no conjunto, causam muitos problemas na utilização,

Page 26: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

26

preparação, auditoria e regulamentação dos relatórios financeiros (SILVA et al,

2006; SANTOS et al, 2003).

Uma das divergências discutidas na contabilidade, e que reforça a necessidade

de uma harmonização de normas e conceitos, é a definição de ativo. Para

Iudícibus (2006), das várias definições apresentadas para ativo na literatura

contábil, deve-se depreender que o ativo deve ser considerado quanto à sua

controlabilidade por parte da entidade e precisa estar incluído uma

probabilidade de serviços futuros (fluxos de caixa futuros).

Para o FASB, conforme a Statement Financial Accounting Concepts – SFAC nº

6, ativos são prováveis benefícios econômicos futuros obtidos ou controlados

por uma entidade particular como resultado de transações ou eventos

passados.

A valoração de um ativo, de acordo com a teoria contábil, deve levar em

consideração a probabilidade de obtenção de benefícios futuros pela entidade

que o controla. Deste conceito, Iudícibus et al (2007, p. 202) depreende que o

valor econômico de um ativo permanente é estimado pelo valor presente dos

benefícios líquidos futuros decorrentes de seu uso. Em outras palavras, esse

valor presente é o valor econômico que o ativo gerará no futuro e deve ser

suficiente para cobrir pelo menos o seu custo.

Dentro deste contexto, surge o teste de impairment ou teste de

recuperabilidade do custo de um ativo, que objetiva assegurar que os ativos

não estejam registrados contabilmente por um valor superior àquele passível

de ser recuperado por uso ou por venda.

Em sua tradução literal, impairment é uma palavra em inglês que significa

deterioração. Para Martins (2006) é importante dizer que a figura do

impairment, em teoria contábil, é coisa de mais de dois séculos atrás. O ativo

se não for capaz de ter o saldo contábil recuperado ou pela venda ou pelo uso,

tem que ser baixado.

Page 27: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

27

Atualmente, as normas mais conhecidas que regulam esse instrumento são a

SFAS 144 - Accounting for the Impairment or Disposal of Long-Lived Assets,

emitida pelo FASB, e a IAS 36 - Impairment of Assets, emitida pelo IASB.

Na atividade de E&P o teste de impairment tem grande importância e utilidade,

pois como afirmado por Santos et al (2006) a indústria do petróleo caracteriza-

se por ser tipicamente de capital intensivo, com altos riscos nas atividades de

exploração, altos investimentos em desenvolvimento da produção e longos

prazos de maturação do investimento, evidenciando altos valores de ativos

imobilizados registrados em relação ao ativo total.

A sistemática utilizada para adequar a capacidade de geração de benefícios

futuros do ativo ao valor registrado pela contabilidade se baseia nas

metodologias de avaliação de ativos. Para fins desse estudo, limitou-se sua

discussão aos ativos de longa duração mantidos para uso.

Os ativos de longa duração são, na maioria das situações, avaliados pelo custo

histórico. A adequação ao valor justo do ativo (fair value) leva em consideração

a utilização dos ativos pela entidade, suas especificidades, operacionalidade,

fatores técnicos e de mercado. A observância desses aspectos é fundamental

para que se minimize o risco de distorção entre o critério de avaliação e o real

retorno econômico do ativo.

Segundo Rield (2004, p. 825), avaliação de ativos de longa duração para

efeitos de impairment implica em desafios significativos na sua divulgação, pois

na maioria das vezes requer uma previsão de desempenho com base,

geralmente, em previsões de valores futuros, tendo em vista que se busca

aferir o benefício econômico futuro do ativo.

Ainda de acordo com Rield (2004), essa avaliação pode não retratar o valor

justo dos ativos, os quais podem ser avaliados freqüentemente abaixo do seu

valor de liquidação. Consequentemente, a estimativa de impairment requer

julgamentos e estimativas, dando-lhe por vezes um alto grau de subjetividade.

Page 28: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

28

3.1.1 – Normas Internacionais

As regras que disciplinam os critérios de aplicação do impairment, para as

normas internacionais, ou seja, aquelas emitidas pelo IASB estão descritas no

IAS 36 – Impairment of Asset, vigente desde julho de 1999. A norma foi

revisada em março de 2004 em decorrência da emissão do IFRS 3 – Business

Combinations.

De acordo com Riley (2002), antes da emissão do IAS 36 já existiam normas

que abrangiam algumas premissas para o reconhecimento de perdas com a

desvalorização do ativo, como o IAS 16 – Property, Plant and Equipment, o IAS

28 - Investments in Associates e o IAS 31 - Interests in Joint Ventures.

Contudo, o IAS 36 detalhou melhor os critérios de aplicabilidade do impairment

determinando questões como: identificação do bem desvalorizado; mensuração

de seu valor recuperável e reconhecimento da perda.

Além do IAS 36, o IFRS 6 – Exploration for and Evaluation of Mineral

Resources foi emitido para viabilizar a inclusão das empresas exploradoras de

recursos minerais, dentre elas as empresas petrolíferas, nas regras contábeis

internacionais quando da adoção das normas do IASB, além de mencionar a

realização do impairment nos ativos dessas empresas.

As normas norte-americanas abordam o assunto impairment em dois

pronunciamentos distintos: no SFAS 142 – Goodwill and Other Intangible

Assets, aplicável ao goodwill e ativos intangíveis e no SFAS 144 – Accounting

for the Impairment or Disposal of Long-Lived Assets, que trata dos ativos de

longa duração e de ativos colocados a disposição para venda.

3.1.2 – Normas Brasileiras

No ambiente contábil brasileiro, as principais normas que mencionam o

tratamento do impairment são: Resolução CFC nº 1.110/07; Deliberação CVM

Page 29: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

29

527/07; e, sobretudo, o CPC01 – Redução no Valor Recuperável de Ativos,

norma que busca uniformizar as orientações contábeis sobre o tema.

3.2 – Pronunciamento Técnico CPC 01: Redução no Valor Recuperável de

Ativos

O Comitê de Pronunciamentos Contábeis é um órgão criado em 2005 e

implementado em agosto de 2006, que tem por objetivo o estudo, o preparo e a

emissão de pronunciamentos técnicos sobre procedimentos de contabilidade,

além da divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de

normas pelas entidades reguladoras brasileiras.

O Órgão visa à centralização e uniformização do processo de produção de tais

normas e leva sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira

aos padrões internacionais. Participam do CPC as seguintes entidades:

ABRASCA, APIMEC NACIONAL, BMF&BOVESPA, Conselho Federal de

Contabilidade, FIPECAFI e IBRACON. Pode contar ainda com a presença de

órgãos convidados, como: Banco Central do Brasil, Comissão de Valores

Mobiliários, Secretaria da Receita Federal e Superintendência de Seguros

Privados.

O Pronunciamento Técnico CPC 01 tem por objetivo promover a convergência

das normas contábeis brasileiras sobre o impairment com as normas

internacionais.

Desse modo, os conceitos utilizados no CPC 01 são semelhantes aos preceitos

do IAS 36. Em relação à aplicabilidade do pronunciamento, esta é bastante

abrangente, uma vez que é aplicável aos ativos de maneira geral, com exceção

daqueles relacionados a: contratos de construção; instrumentos financeiros;

plano de pensão e benefícios a empregados; e ativos mantidos para venda ou

classificados nesse grupo.

Page 30: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

30

A norma considera que o impairment deve ser aplicado quando há indícios de

que o valor recuperável do ativo está abaixo do seu valor registrado

contabilmente. Os indicativos internos e externos de perda no valor recuperável

do ativo são os mesmos descritos no IAS 36, da mesma forma que os critérios

de relevância e materialidade dos ativos sujeitos a perda de valor também são

semelhantes aos descritos na norma internacional.

Quanto à mensuração dos ativos, o pronunciamento pondera sobre duas

metodologias: valor líquido de venda e valor de uso. Na utilização do valor de

uso, a norma estabelece a utilização do fluxo de caixa que pode ser o

tradicional (que considera um único cenário) ou o fluxo de caixa esperado (que

considera vários cenários com probabilidades de ocorrência). Esses critérios

também estão aderentes com as normas internacionais.

O tratamento contábil da perda por impairment, de acordo com o CPC 01

consiste no registro de uma provisão para perda no ativo em contrapartida a

uma perda no resultado. A norma não especifica, entretanto, em que linha da

demonstração do resultado deve-se registrar a perda, se operacional ou não

operacional.

Para o caso em que o ativo desvalorizado tiver sido objeto de reavaliação, a

contrapartida da provisão de perda será uma dedução do valor da reserva de

reavaliação no patrimônio líquido até o montante da reserva constituída pela

reavaliação do ativo. A parcela que ultrapassar o valor da reserva de

reavaliação é registrada diretamente no resultado.

O CPC 01 também prevê e permite a reversão da perda por impairment para o

caso em que haja mudanças significativas nas premissas que originaram o

reconhecimento da perda. O tratamento contábil consiste em reverter os

registros contábeis da perda por impairment, ou seja, o débito do valor

revertido no ativo em contrapartida a um crédito no resultado ou na reserva de

reavaliação. Em relação ao aumento do valor do ativo, este só pode ocorrer até

o limite do valor do ativo que originalmente sofreu o impairment.

Page 31: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

31

Depois do reconhecimento de uma perda por desvalorização, a despesa de

depreciação, amortização ou exaustão do ativo deve ser ajustada em períodos

futuros para alocar o valor contábil revisado do ativo, menos seu valor residual,

se houver, em uma base sistemática sobre sua vida útil remanescente.

Por ser bastante semelhante ao IAS 36, o CPC 01 traz como novidade o

tratamento dos ativos de vida útil indefinida e, principalmente, estabelece

procedimentos para a adoção do valor presente através da metodologia do

fluxo de caixa.

Em relação aos critérios de divulgação propostos, os principais pontos são:

a) O valor da perda (reversão de perda) com desvalorizações reconhecidas

no período, e eventuais reflexos em reservas de reavaliação;

b) Os eventos e circunstâncias que levaram ao reconhecimento ou

reversão da desvalorização;

c) Relação dos itens que compõem a unidade geradora de caixa e uma

descrição das razões que justifiquem a maneira como foi identificada a

unidade geradora de caixa; e

d) Se o valor recuperável é o valor líquido de venda, divulgar a base usada

para determinar esse valor e, se o valor recuperável é o valor do ativo

em uso, a taxa de desconto usada nessa estimativa.

A divulgação deve detalhar ainda as informações sobre as estimativas

utilizadas na mensuração do valor recuperável das unidades geradores de

caixa que contenham goodwill ou ativos intangíveis de vida indefinida (IAS 36,

§§ 134, 135).

3.2.1 – Identificação da Unidade Geradora de Caixa (UGC) à qual um ativo

pertence

Page 32: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

32

O CPC 01 determina que se houver qualquer indicação de que um ativo possa

estar desvalorizado, o valor recuperável deve ser estimado individualmente

para esse bem. Se isso não for possível, a entidade deve determinar o valor

recuperável da unidade geradora de caixa (UGC) à qual o ativo pertence (a

UGC do ativo).

O valor recuperável de um ativo não pode ser determinado individualmente se:

(a) O valor em uso do ativo não puder ser estimado como tendo valor

próximo de seu valor líquido de venda (por exemplo, quando os fluxos

de caixa futuros provenientes de uso contínuo do ativo não podem ser

estimados como sendo insignificantes); e

(b) O ativo gerar entradas de caixa que não são em grande parte

independentes daquelas provenientes de outros ativos.

Nesses casos, o valor em uso e, portanto, o valor recuperável, pode ser

determinado somente para a UGC do ativo.

Uma UGC é o menor grupo de ativos que gera entradas de caixa que são em

grande parte independentes das entradas de caixa provenientes de outros

ativos ou grupos de ativos. A identificação de uma UGC requer julgamento. Se

o valor recuperável não puder ser determinado para cada ativo, a entidade

identificará o menor grupo de ativos que geram entradas de caixa, em grande

parte independentes.

Se existir um mercado ativo para o produto produzido por um ativo ou grupo de

ativos, esse ativo ou grupo de ativos deve ser identificado como uma UGC,

ainda que alguns ou todos os produtos sejam usados internamente.

Mesmo se toda ou parte da produção de um ativo ou de um grupo de ativos for

usada por outras unidades da entidade, por exemplo, produtos em um estágio

intermediário de um processo de produção, esse ativo ou grupo de ativos forma

Page 33: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

33

uma UGC separada se a entidade puder vender esse produto em um mercado

ativo. Isso acontece porque esse ativo ou grupo de ativos poderia gerar

entradas de caixa que seriam em grande parte independentes das entradas de

caixa provenientes de outros ativos ou grupos de ativos. Ao usar informações

baseadas em orçamentos e previsões financeiras que estão relacionadas a

essa UGC, ou a qualquer outro ativo ou UGC afetada pelo preço interno de

transferência, a entidade deve ajustar essa informação se os preços internos

de transferência não refletirem a melhor estimativa, por parte da administração,

dos que seriam conseguidos numa transação entre partes independentes.

As UGCs devem ser identificadas de maneira consistente de período para

período para o mesmo ativo ou tipos de ativos, a menos que haja justificativa

para uma mudança.

3.2.2 – Valor Recuperável e valor contábil de uma UGC

O valor recuperável de uma UGC é o valor mais alto entre o valor líquido de

venda e o valor em uso. Porém, nem sempre é necessário determinar esses

dois valores, pois se qualquer um exceder o valor contábil do ativo, este não

tem desvalorização e, portanto, não é necessário estimar o outro valor.

Pode ser possível determinar o valor líquido de venda mesmo que um ativo não

seja negociado em um mercado ativo. Entretanto, algumas vezes não será

possível determinar o valor líquido de venda, porque não há base para se fazer

uma estimativa confiável do valor a ser obtido pela venda do ativo em uma

transação em bases comutativas, entre partes conhecedoras e interessadas.

Nesse caso, o valor em uso poderá ser utilizado como seu valor recuperável e

os seguintes elementos devem ser refletidos em seu cálculo:

(a) Estimativa dos fluxos de caixa futuros que a entidade espera obter com

esse ativo;

Page 34: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

34

(b) Expectativas sobre possíveis variações no montante ou período desses

fluxos de caixa futuros;

(c) O valor do dinheiro no tempo, representado pela atual taxa de juros livre

de risco;

(d) O preço decorrente da incerteza inerente ao ativo; e

(e) Outros fatores, tais como falta de liquidez, que participantes do mercado

iriam considerar ao determinar os fluxos de caixa futuros que a entidade

espera obter com o ativo.

A estimativa do valor em uso de um ativo envolve os seguintes passos:

(a) Estimar futuras entradas e saídas de caixa decorrentes de uso contínuo

do ativo e de sua baixa final; e

(b) Aplicar taxa de desconto adequada a esses fluxos de caixa futuros.

Seja qual for a abordagem que a entidade adote para refletir expectativas sobre

eventuais variações no valor ou momento de fluxos de caixa futuros, o

resultado será o reflexo do valor presente esperado dos fluxos de caixa futuros,

ou seja, a média ponderada de todos os resultados possíveis.

O valor contábil de uma UGC deve ser determinado de maneira consistente

com o modo pelo qual é determinado seu valor recuperável, considerando

ainda que:

(a) Deve incluir o valor contábil somente daqueles ativos que podem ser

atribuídos diretamente ou alocados em base razoável e consistente à

UGC, e que gerarão as futuras entradas de caixa utilizadas para

determinar o valor em uso da UGC;

Page 35: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

35

(b) Deve incluir o ágio ou deságio gerado e relativo ao(s) ativo(s) em

decorrência de uma aquisição ou subscrição, cujo fundamento seja a

diferença entre o valor de mercado de parte ou de todos os bens do

ativo e o respectivo valor contábil; e

(c) Não deve incluir o valor contábil de qualquer passivo reconhecido, a

menos que o valor contábil da UGC não possa ser determinado sem

considerar esse passivo.

Isso ocorre porque o valor líquido de venda e o valor em uso de uma UGC são

determinados excluindo-se os fluxos de caixa que estão relacionados a ativos

que não sejam parte da UGC e passivos que foram reconhecidos nas

demonstrações contábeis.

Quando os ativos são agrupados para avaliação de sua recuperabilidade, é

importante incluir na UGC todos os ativos que geram ou são utilizados para

gerar o fluxo relevante de entradas de caixa. De outra forma, a UGC pode

parecer ser totalmente recuperável quando, de fato, ocorreu uma perda por

desvalorização. Em alguns casos, mesmo que alguns ativos contribuam para

os fluxos de caixa futuros estimados de uma UGC, eles não podem ser

alocados à UGC em base razoável e consistente. Esse poderia ser o caso de

ágio pago por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) ou ativos

corporativos, tais como ativos de um escritório central.

Poderá ser necessário considerar alguns passivos reconhecidos para

determinar o valor recuperável da UGC. Isso poderá ocorrer se na alienação de

uma UGC há exigência de que o comprador assuma um passivo. Nesse caso,

o valor líquido de venda, ou o fluxo de caixa estimado da baixa final da UGC, é

o preço de venda estimado para os ativos da UGC e o passivo juntos, menos

as despesas da baixa. A fim de efetuar uma comparação significativa entre o

valor contábil da UGC e seu valor recuperável, o saldo do passivo deve ser

deduzido ao se determinar tanto o valor em uso da UGC quanto seu valor

contábil.

Page 36: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

36

Por razões práticas, o valor recuperável de uma UGC é algumas vezes

determinado depois de se considerar os ativos que não são parte da UGC

(contas a receber ou outros ativos financeiros) ou passivos que tenham sido

reconhecidos (contas a pagar, pensões e outras provisões). Nesses casos, o

valor contábil da UGC deve ser aumentado pelo valor contábil desses ativos e

diminuído pelo valor contábil desses passivos.

3.2.3 – Composição de estimativas de fluxos de caixa futuros

As estimativas de fluxos de caixa futuros devem incluir:

(a) projeções de entradas de caixa a partir do uso contínuo do ativo;

(b) projeções de saídas de caixa, que são incorridas necessariamente para

gerar as entradas de caixa decorrentes do uso contínuo do ativo,

incluindo saídas de caixa para preparar o ativo para uso, e que podem

ser diretamente atribuídas ou alocadas ao ativo, em base consistente e

razoável; e

(c) se houver, fluxos líquidos de caixa, a serem recebidos ou pagos no

momento da baixa do ativo no fim de sua vida útil.

As estimativas de fluxos de caixa futuros e a taxa de desconto devem refletir

premissas consistentes sobre aumentos de preço devido à inflação geral.

Portanto, se a taxa de desconto incluir o efeito dos aumentos de preço devido à

inflação geral, os fluxos de caixa futuros devem ser estimados em termos

nominais. Se a taxa de desconto excluir o efeito de aumentos de preço devido

à inflação geral, os fluxos de caixa futuros devem ser estimados em termos

reais, porém devem incluir aumentos ou futuras reduções de preços

específicos.

As projeções de saídas de caixa devem incluir aquelas necessárias para

utilização e manutenção do ativo, bem como as despesas gerais indiretas que

Page 37: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

37

podem ser atribuídas diretamente ou alocadas ao uso do ativo, em base

razoável e consistente.

Quando o valor contábil de um ativo ainda não inclui todas as saídas de caixa a

serem incorridas antes de estar pronto para uso ou venda, a previsão de

saídas de fluxos de caixa futuros deve incluir uma previsão de qualquer saída

de caixa adicional que se espera incorrer antes que o ativo esteja pronto para

uso ou venda.

As estimativas de fluxos de caixa futuros não devem incluir:

(a) entradas ou saídas de caixa provenientes de atividades de

financiamento; ou

(b) recebimentos ou pagamentos de tributos sobre a renda.

Fluxos de caixa futuros estimados devem refletir premissas consistentes com a

maneira pela qual a taxa de desconto é determinada. De outra forma, o efeito

de algumas premissas será contado duas vezes ou ignorado. Como o valor da

moeda no tempo é considerado no desconto de fluxos de caixa futuros

estimados, esses fluxos de caixa excluem as entradas ou saídas de caixa

provenientes das atividades de financiamento. Similarmente, uma vez que a

taxa de desconto é determinada antes dos impostos, os fluxos de caixa futuros

são também estimados antes de impostos.

3.2.4 – Taxa ou Taxas de Desconto

A taxa (ou as taxas) de desconto deve(m) ser a taxa (ou as taxas) antes dos

impostos, que reflita(m) as avaliações atuais de mercado:

(a) do valor da moeda no tempo; e

Page 38: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

38

(b) dos riscos específicos do ativo para os quais as futuras estimativas de

fluxos de caixa não foram ajustadas.

Uma taxa que reflita avaliações atuais de mercado do valor da moeda no

tempo e os riscos específicos do ativo é o retorno que os investidores exigiriam

se eles tivessem que escolher um investimento que gerasse fluxos de caixa de

montantes, tempo e perfil de risco equivalentes àqueles que a entidade espera

extrair do ativo. Essa taxa é estimada a partir de taxas implícitas em transações

de mercado atuais para ativos semelhantes, ou ainda do custo médio

ponderado de capital de uma companhia aberta que tenha um ativo único, ou

uma carteira de ativos semelhantes em termos de potencial de serviço e de

riscos do ativo sob revisão. Entretanto, se os fluxos estiverem em moeda de

poder aquisitivo constante, ou ajustados por determinados riscos, a(s) taxa(s)

de desconto utilizada(s) para mensurar o valor de um ativo em uso não

deve(m) refletir a inflação projetada e os riscos para os quais as futuras

estimativas de fluxos de caixa já tiverem sido ajustadas. Caso contrário, o

efeito de algumas premissas será levado em consideração em duplicidade.

Quando uma taxa de um ativo específico não estiver diretamente disponível no

mercado, a entidade deve usar substitutos para estimar a taxa de desconto.

3.2.5 – Ágio em decorrência de expectativa de resultados futuros

(goodwill)

Alocação do Ágio (goodwill) para UGCs

O CPC 01 determina que para fins de teste de redução ao valor recuperável, o

ágio (goodwill) pago em uma aquisição em decorrência de expectativa de

resultado futuro deverá, a partir da data da aquisição, ser alocado a cada uma

das unidades geradoras de caixa do adquirente, ou a grupos de unidades

geradoras de caixa, que devem se beneficiar das sinergias da aquisição,

independentemente de os outros ativos ou passivos da entidade adquirida

serem ou não atribuídos a essas unidades ou grupos de unidades. Cada

Page 39: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

39

unidade ou grupo de unidades ao qual o ágio (goodwill) é alocado dessa forma

deverá:

(a) representar o nível mais baixo dentro da entidade no qual o ágio

(goodwill) é monitorado para fins administrativos internos; e

(b) não ser maior do que um segmento, baseado tanto no formato de

relatório primário como no secundário da entidade, determinado, quando

aplicável, de acordo com o Relatório por Segmento quando essa forma

de evidenciação for utilizada pela entidade.

O ágio pago, correspondente à diferença entre o valor de mercado de parte ou

de todos os bens do ativo da entidade adquirida e o respectivo valor contábil,

deve ser reconhecido pela investidora como custo desses ativos.

O ágio pago, decorrente de expectativa de rentabilidade futura em uma

aquisição de entidades (goodwill), representa um desembolso realizado por um

adquirente na expectativa de benefícios econômicos futuros de ativos, para os

quais a administração não conseguiu individualmente identificá-los e

separadamente reconhecê-los. Esse ágio não gera fluxos de caixa

independentemente de outros ativos ou grupos de ativos, e frequentemente

contribui para os fluxos de caixa de diversas unidades geradoras de caixa. Às

vezes, esse ágio não pode ser alocado de forma não-arbitrária para unidades

geradoras de caixa individuais, mas apenas a grupos de unidades geradoras

de caixa.

Assim, o nível mais baixo dentro da entidade, no qual o ágio por expectativa de

resultado futuro é monitorado para fins administrativos internos, às vezes inclui

algumas unidades geradoras de caixa às quais o ágio se relaciona, mas às

quais não pode ser alocado.

Se a alocação inicial do ágio pago, decorrente de rentabilidade futura em uma

aquisição de entidades, não puder ser concluída antes do fim do período anual

Page 40: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

40

no qual a aquisição foi realizada, a alocação inicial deverá ser concluída antes

do fim do primeiro período anual subsequente à data de aquisição.

Se, ao fim do período no qual a aquisição é realizada, a contabilização inicial

puder ser determinada apenas provisoriamente, o adquirente:

(a) deve contabilizar a aquisição usando esses valores provisórios; e

(b) deve reconhecer como parte desses valores provisórios quaisquer

ajustes que ocorrerem dentro dos primeiros doze meses a contar da

data da aquisição.

Se o goodwill tiver sido alocado a uma UGC e a entidade se desfaz de uma

operação dentro daquela unidade, o ágio associado à operação baixada deverá

ser:

(a) incluído no valor contábil da operação, ao determinar os ganhos ou as

perdas na baixa; e

(b) medido com base nos valores relativos da operação baixada e na

parcela da UGC retida, a menos que a entidade consiga demonstrar que

algum outro método reflita melhor o goodwill associado à operação

baixada.

O fluxograma contido na figura abaixo demonstra as etapas da aplicação do

teste de impairment conforme as regras do IAS 36 - base para o CPC 01:

Page 41: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

41

CAPÍTULO IV IMPAIRMENT NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS 4.1 – Particularidades do segmento

Wolk, Francis e Tearney (1984) apud Godoy (2004), ponderam que os

segmentos industriais possuem particularidades de acordo com seu ramo

operacional ou área de atuação, mas que é raro encontrar um setor com tantas

particularidades, tanto nos negócios quanto na contabilidade, como o setor

petrolífero.

Page 42: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

42

A necessidade de se avaliar periodicamente o retorno dos benefícios dos ativos

de petróleo e gás ficou evidente após o declínio do preço, principalmente no

período de 1982 a 1984. Em 1986, o acentuado declínio do preço de petróleo,

aliado a metodologias não uniformes, causou fortes distorções nos resultados

apresentados pelas companhias petrolíferas (JENNING; FEITEN; BROCK,

2000).

A decisão de explorar petróleo permeia diversas etapas, tais como: aquisição

de área, campo não delimitado, delineamento de área – reservas provadas não

desenvolvidas e reversas desenvolvidas, etc. Em todas essas etapas devem

ser realizados os acompanhamentos de viabilidade econômica do projeto

(GODOY, 2004).

Por esse motivo, a maioria dos ativos de petróleo e gás que são submetidos ao

teste de impairment não é avaliada individualmente, mas através de unidades

geradoras de caixa, pois os benefícios futuros dos recursos investidos na

formação dos ativos geralmente são provenientes da atuação conjunta desses

ativos.

De acordo com Wright e Gallun (2005, p. 308), “um dos aspectos mais críticos

é a determinação dos ativos que serão testados para impairment”. Assim, os

ativos devem ser agrupados ao menor nível para o qual se pode conseguir

atribuir fluxo de caixa futuro identificável. Nas atividades de petróleo e gás, os

ativos como os poços, equipamentos e facilidades de produção de petróleo e

gás são tipicamente agrupados ao nível de um campo produtor (reservatório)

para propósitos do teste de impairment.

Os ativos da indústria de petróleo e gás, especialmente no segmento de E&P,

apresentam características específicas não somente em decorrência dos

métodos de reconhecimento contábil, mas também em relação à identificação

dos benefícios futuros gerados por esses ativos.

Desse modo, considerando as peculiaridades do ativo do segmento de E&P, a

avaliação desses ativos representa fator crítico em sua mensuração. A

Page 43: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

43

utilização do valor de mercado nem sempre é viável, pois na maioria das vezes

não há mercado ativo para esses bens.

A comparação com bens de características semelhantes também não se

apresenta como a metodologia de avaliação mais adequada, tendo em vista

que as características do projeto de exploração e produção de petróleo e gás o

tornam particular, inclusive na composição dos ativos, não sendo possível na

maioria das vezes, portanto, a comparação com ativos similares.

Assim, a utilização das metodologias de avaliação considerando o valor de

mercado ou o valor de bens similares é questionável, já que não

necessariamente representam o real valor do beneficio do ativo. Nesse

contexto, o fluxo de caixa é apresentado como uma alternativa de avaliação

dos ativos de petróleo e gás, apesar da subjetividade envolvida nesse método

de mensuração.

O critério de identificação do impairment também varia de acordo com o

método de contabilização utilizado. No caso das normas norte-americanas,

para o método dos gastos totais é utilizada a metodologia do celling test (valor

limite ou teto máximo) de acordo com o SFAS 19 e para o método dos esforços

bem sucedidos são utilizadas as seguintes regras: para as propriedades não

provadas, os preceitos do SFAS 19 e para as propriedades provadas, os

preceitos do SFAS 144.

Em relação às normas internacionais, os preceitos do IAS 36 e IFRS 6 são

aplicados a toda indústria de petróleo e gás que adotam as normas do IASB,

não importando o método de contabilização dos gastos e nem a divisão dos

ativos em propriedades não provadas e propriedades provadas (WRIGHT;

GALLUN, 2005, p. 316).

O impairment, de acordo com as regras do SFAS 144, ocorre em duas etapas.

Em ambas, os fluxos de caixa e a determinação do fair value são

operacionalizados levando em consideração as particularidades e o segmento

no qual a empresa está inserida. Para efeito de um melhor entendimento do

Page 44: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

44

SFAS 144, os ativos de longa duração de petróleo e gás associados foram

divididos em propriedades não provadas e propriedades provadas.

Com isso, as particularidades na elaboração da estimativa do fluxo de caixa

futuro e a determinação do valor justo dos ativos relacionados a propriedades

provadas nas empresas petrolíferas são discutidas nos subitens a seguir.

4.2 – Impairment em Propriedades não Provadas

Na fase de exploração, os ativos de petróleo e gás começam a ser formados,

principalmente, pelos gastos que envolvem as etapas de aquisição dos direitos

minerais. Esses gastos também podem ser denominados de aquisição de

propriedades não provadas e representam de fato direitos de exploração de

uma área na qual não existe certeza da existência de petróleo.

Segundo Jenning, Feiten e Brock (2000), as companhias de petróleo estão

interessadas em assegurar o direito de extração e produção de petróleo e gás.

A probabilidade da existência do produto em determinada área, mesmo sem

confirmação, faz com que as companhias paguem por esse direito além do

valor contratual estipulado. Por esse motivo, em muitos casos tem-se um

pagamento de uma espécie de “ágio”, também denominado de bônus.

No Brasil, o direito de exploração de áreas é concedido desde 1999, através de

leilões realizados pela Agência Nacional de Petróleo – ANP, a qual estabelece

ao interessado, dentre outras obrigações, um bônus mínimo que varia de

acordo com as características técnicas dos blocos oferecidos no leilão.

Esses gastos são considerados como gastos de E&P de propriedades não

provadas e seu tratamento contábil depende de fatores como relevância e

metodologia de contabilização dos gastos de E&P.

No método dos gastos totais esses desembolsos são capitalizados. Para o

método dos esforços bem sucedidos, o reconhecimento contábil pode ocorrer

Page 45: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

45

de três maneiras: como despesas, quando incorridas; capitalização de todos os

gastos de maneira global; e capitalização de todos os gastos especificando por

áreas (JENNING; FEITEN; BROCK 2000).

Esses autores (2000) ponderam ainda que caso o valor seja irrelevante o

tratamento mais usual é o reconhecimento direto no resultado, mas a decisão

de capitalização também dependerá da intenção da companhia, pois o direito

de exploração da área pode ser negociado visando, por exemplo, a formação

de parcerias operacionais (joint ventures) ou em operações de combinações de

negócios (business combinations).

Geralmente entre 70% e 90% das propriedades não provadas adquiridas são

abandonadas antes de se iniciar o processo produtivo da área, conforme

afirmam Jenning, Feiten e Brock (2000). Levando-se em conta o histórico de

insucessos inerente à indústria petrolífera, esses ativos estão naturalmente

sujeitos ao impairment, pois constantemente precisam estar sendo testados em

relação a seu benefício econômico futuro esperado.

O conceito de impairment para as propriedades não provadas foi introduzido

pelo SFAS 19. Entretanto, nem o FASB nem a SEC definem de forma clara os

critérios de mensuração. A aplicação do impairment nesse tipo de ativo não faz

parte do escopo do SFAS 144.

Neste caso, a aplicabilidade do teste de impairment pode ser feita com base

em orientações diversas. Na norma AC Section Oi5 do FASB, por exemplo, há

a indicação de que esses ativos devem passar periodicamente pelo teste de

impairment e na existência de perda do valor econômico recuperável, essa

deverá ser reconhecida como provisão, reduzindo o valor do ativo. Existem

duas possibilidades de avaliação do valor justo desses ativos para efeitos de

teste de impairment: avaliação individual das propriedades ou em grupo de

ativo (JENNING; FEITEN; BROCK 2000).

a) Avaliação individual das propriedades não provadas: não há um conceito

claro indicando como esse ativo deve ser mensurado. Jenning, Feiten e Brock

Page 46: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

46

(2000, p. 152), se referindo a pesquisa da PricewaterhouseCoopers realizada

em companhias de petróleo e gás, “Survey of U.S Petroleum Accounting

Pratices”, de 1999, sugerem que seja considerado principalmente o plano de

investimentos nas áreas não provadas, sempre tendo como limite o valor

contábil da área.

b) Avaliação em grupo de ativos das propriedades não provadas: geralmente a

mensuração através desse método está associada a pouca relevância do valor

individual das áreas não provadas, mas que no conjunto são relevantes. Nesse

caso, podem-se utilizar as seguintes abordagens: ênfase nas despesas de

amortização e ênfase na avaliação de ativos (asset valuation).

b.1) Ênfase nas despesas de amortização: a noção básica é a de que as

propriedades que não serão produtivas “over time” deverão sofrer impairment.

A avaliação do ativo será feita utilizando estimativas baseadas em suas

experiências de sucesso exploratório de áreas anteriormente exploradas ou na

média de sucesso da indústria do mesmo segmento, o que for mais factível

para a empresa.

b.2) Ênfase na avaliação de ativos: considera o ajuste da provisão de

impairment para um percentual predeterminado dos arrendamentos de áreas

não provadas. Esse procedimento simplificado será apropriado somente se as

aquisições e devoluções de áreas não provadas se mantiverem estáveis ano a

ano e se o valor não provado das propriedades individualmente não for

representativo.

Wright e Gallun (2005) entendem que a determinação do procedimento de

avaliação do valor justo, para aplicabilidade do teste de impairment em

propriedades não provadas, é difícil e altamente subjetivo, tanto do ponto de

vista do SFAS 144 quanto das normas internacionais IAS 36 e IFRS 6. A maior

dificuldade, segundo as autoras (2005), é a determinação do valor recuperável

associado a esses ativos, tendo em vista que não existe um mercado ativo

para se determinar o valor desses ativos e que a determinação do valor em uso

Page 47: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

47

pelo método de fluxo de caixa é virtualmente impossível (WRIGHT; GALLUN,

2005).

As autoras (2005) especificam algumas questões norteadoras para a

identificação do impairment, quais sejam: a) existência de dados de geologia e

geofísica que indiquem baixa probabilidade de se encontrar petróleo ou a

ocorrência de “poços secos” na área adquirida; b) se o programa de trabalho

realizado na área está de acordo com o contrato de aquisição da propriedade;

e c) para o caso de não haver programa de trabalho, se existe algum plano

definido para perfuração da área.

Operacionalmente, o impairment desses tipos de ativos é tratado como uma

provisão e poderá ser revertida se houver mudanças nas condições que o

originaram e apenas quando estiverem classificados como propriedades não

provadas. No momento em que as propriedades não provadas forem

reclassificadas como propriedades provadas, as mesmas estarão sujeitas às

regras do SFAS 144.

4.3 – Impairment em Propriedades Provadas

Nas empresas petrolíferas que adotam o método dos esforços bem sucedidos,

o impairment é operacionalizado conforme as regras do SFAS 144, e abrange

os ativos associados a propriedades provadas, que são compostas

basicamente pelos gastos bem sucedidos de exploração, gastos de

desenvolvimento e ativos de produção, bem como equipamentos e facilidades

relacionadas a essas áreas.

O teste de impairment em ativos fixos de longa duração de petróleo e gás deve

ser aplicado quando houver evidências da perda econômica do ativo. Esses

indícios dependem do ambiente econômico no qual a empresa está inserida.

Page 48: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

48

Nas empresas petrolíferas, conforme Jenning, Feiten e Brock (2000, p. 437),

podem ser indicadores da redução do valor econômico recuperável dos ativos

e, consequentemente, ao teste de impairment os seguintes itens:

a) Critério de amortização pelo método da unidade produzida (é provável

que ocorra um aumento do impairment com a passagem do tempo

quando a produção do grupo de ativos se aproximar de seu limite

econômico);

b) Diminuição na expectativa de preço futuro de petróleo e gás;

c) Quando os custos atuais e futuros de desenvolvimento da produção

forem mais relevantes que a antecipação prévia dos benefícios do grupo

de ativos;

d) Significativo declínio nas revisões das estimativas de reservas do

campo; e

e) Mudanças significativas no ambiente regulatório.

Outro fator importante é que esses ativos geralmente são agrupados em

campos, os quais agregam todos os gastos de equipamentos e facilidades para

se produzir em uma determinada área. Por esse motivo, normalmente a

avaliação desses ativos é feita de forma conjunta, ou seja, o campo (grupo de

ativos) será a menor unidade na qual se pode atribuir um fluxo de caixa para se

apurar o retorno futuro do ativo.

Em pesquisa realizada pela PricewaterhouseCoopers, em 1999, constatou-se

que as seis maiores companhias do setor avaliam seus ativos de E&P em

grupo de ativos, a partir dos campos de exploração de petróleo e gás. Na

aplicação da pesquisa em 30 empresas petrolíferas, observou-se que 53%

delas avaliam seus ativos por campo e isso independentemente do método de

contabilização utilizado (JENNING; FEITEN; BROCK, 2000).

Page 49: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

49

A aplicação do impairment em ativos associados a propriedades provadas é

realizada obedecendo às seguintes etapas: verificação do beneficio futuro do

ativo através da estimativa de fluxo de caixa futuro; e, caso haja indícios de

perda na recuperabilidade de ativos, é realizada a estimativa de fluxo de caixa

descontado para que seja definido o valor da perda por impairment.

Para exemplificar a aplicação do teste de impairment em propriedades

provadas, conforme o SFAS 144, considere o caso de três campos (A, B e C,

respectivamente), cujo valor contábil líquido é de $10.000; $4.000 e $8.000. O

primeiro passo do teste consiste em apurar o valor justo das propriedades

(campos).

No exemplo, apurou-se o fluxo de caixa futuro associado a cada campo, cujo

valor resultou em $8.000; $5.000 e $10.000. Confrontando o valor justo

apurado pelo método do fluxo de caixa com o valor contábil líquido de campo,

apenas o campo A apresentou indícios de perda no valor econômico

recuperável do ativo (valor justo menor que o valor contábil líquido). No passo

seguinte, apura-se o valor do fluxo de caixa futuro do campo A a valor presente

(fluxo descontado) para se determinar o valor da perda por impairment, que no

exemplo será de $3.000. O Quadro a seguir mostra a aplicação do teste:

TESTE DE IMPAIRMENT

Em US$ milhões

Campo A Campo B Campo C Gastos Capitalizados de Propriedades Provadas 18.000 7.000 15.000 Despesas de Depreciação e Amortização Acumuladas (8.000) (3.000) (7.000) Ativos de abandono Líquido - Valor Contábil Líquido 10.000 4.000 8.000 Fluxo de caixa estimado não descontado antes dos impostos 8.000 5.000 10.000 Indicativo de Perda por Impairment Sim Não Não MENSURAÇÃO DO IMPAIRMENT Valor Contábil Líquido 10.000 Fair Value - Fluxo de Caixa Descontado (7.000) Valor da perda por impairment 3.000

Além dos indicadores e do grupamento de ativos, a determinação do fluxo de

caixa futuro é o ponto principal da aplicação do impairment nos ativos de

Page 50: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

50

petróleo e gás, já que essa metodologia é a utilizada para se verificar o valor

justo de tais ativos. Com isso, o fluxo de caixa deve ser elaborado tendo por

base a melhor estimativa embasada por cenários e projeções que garantam

razoável probabilidade do retorno dos ativos.

4.4 – Elaboração das Estimativas de Fluxos de Caixa Futuros

Na elaboração do fluxo de caixa para o teste de impairment pode-se identificar

algumas premissas que geralmente são utilizadas pela indústria petrolífera.

Segundo Jenning, Feiten e Brock (2000), na avaliação dos ativos de E&P

devem ser consideradas as seguintes premissas: reservas, preços, custos,

gastos administrativos (overhead) e impostos.

a) Reservas

Segundo Thomas (2001), estimativa de reservas é a atividade dirigida à

obtenção de volumes de fluídos que possam ser retirados do reservatório até

que ele chegue à condição de abandono. Essas estimativas dos volumes a

serem produzidos são feitas não só por ocasião da descoberta da jazida de

petróleo e gás, mas também ao longo de sua vida produtiva, à medida que se

vão obtendo informações mais detalhadas a respeito da reserva.

Para Szuster et al (2006), o ponto essencial no reconhecimento das reservas

ocorre quando ainda não existe produção, ou seja, o petróleo ou gás ainda

encontra-se no subsolo, ou na fase de desenvolvimento quando ainda não se

pode quantificálas com precisão. Dessa forma, na avaliação de reservas,

assume-se a estimativa como o melhor número da reversa a partir de uma

certeza razoável.

Os padrões de classificação de reservas de petróleo (classes e subclasses)

internacionalmente aceitos foram definidos por organizações técnicas,

agências governamentais e indústria petrolífera, destacando-se: “Society of

Petroleum Engineers” (SPE), “World Petroleum Congress” (WPC) e “American

Page 51: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

51

Association of Petroleum Geologists” (AAPG), “Securities Exchange

Commission” (SEC) e agências reguladoras da atividade em cada país

produtor.

Segundo o Manual de Procedimentos para Cálculo de Reservas da Petrobras

(2006), as definições da SEC (1978) e da SPE (1981) servem como base para

o esforço empreendido ao longo de 20 anos, que culminou com o

estabelecimento das definições de reservas SPE/WPC/AAPG de 2001 nas

categorias provada, provável e possível. Estas definições têm sido adotadas

por diversas companhias, agências governamentais e países como base

técnica para estimativa e classificação de reservas por todo o mundo.

Ainda segundo esse manual, no Brasil, a Agência Nacional do Petróleo (ANP)

estabeleceu através da Portaria nº 9, de 21 de janeiro de 2000, os critérios de

estimativas de volumes de petróleo que têm como base os critérios definidos

pela SPE.

De acordo com a ANP (2000), reservas são recursos descobertos de petróleo,

comercialmente recuperáveis a partir de uma determinada data denominada

declaração de comercialidade. Seu reconhecimento ocorre no momento em

que a companhia define junto à ANP o interesse em desenvolver a descoberta

contida na área exploratória.

A ANP permite, ainda, que sejam divulgadas as estimativas de reservas para o

período de produção até o final da vida útil do campo, utilizando-se para isto os

critérios SPE. Fora do Brasil, geralmente se usa o período do contrato como

limite máximo de tempo para contabilizar reservas.

As reservas a serem utilizadas na elaboração do fluxo de caixa futuro estimado

para o teste de impairment deverão ser aquelas avaliadas pelos critérios da

SEC de avaliação de reservas, para as empresas que adotam as normas norte-

americanas.

Page 52: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

52

As definições de reserva provada adotadas pela SEC estão de acordo com o

ASR- Accounting Series Release nº. 257 do Departamento de Energia dos

Estados Unidos (U.S. DOE).

As reservas, quando constituem reservas provadas de petróleo, de acordo com

os critérios SEC, terão os volumes estimados de petróleo, gás natural e líquido

de gás natural avaliados monetariamente pela análise dos dados de geologia e

de engenharia, desde que apresentem razoável certeza de serem

recuperáveis, no futuro.

Os reservatórios serão mensurados sob condições econômicas,

regulamentos e métodos de operação existentes, ou seja, a preços e custos

vigentes na época da avaliação. Para a análise econômica de reserva somente

pode ser considerado o preço do petróleo comercializado no último dia do ano

fiscal.

O preço deve ser constante para todo o fluxo de caixa e alterações de preços,

projeções ou médias históricas somente podem ser usadas se constarem dos

contratos. A taxa de desconto a ser utilizada na avaliação econômica deve ser

uma taxa padrão de 10% ao ano.

As reservas impactam diretamente no fluxo de caixa, pois são fundamentais

para estimativa futura das receitas que o campo pode gerar. Desse modo, a

quantidade de reserva de uma empresa petrolífera pode influenciar

decisivamente nas estimativas dos benefícios econômicos futuros dos ativos

associados a propriedades provadas, para efeito do teste de recuperabilidade.

Na elaboração dos fluxos de caixa futuros estimados, geralmente são utilizadas

as reservas provadas, prováveis e, de maneira questionável, as reservas

consideradas possíveis (com o objetivo de diminuir o risco das estimativas).

Por conveniência, as companhias podem usar somente reservas provadas para

rapidamente eliminar muitas propriedades e uma grande quantidade de

propriedades (ativos) sujeitas a impairment. Para as propriedades

Page 53: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

53

remanescentes é feita uma análise mais refinada na determinação do fluxo de

caixa futuro, podendo ser utilizadas as provadas, prováveis e em alguns casos

as reservas possíveis (JENNING; FEITEN; BROCK, 2000).

b) Preço

O preço representa uma das variáveis que estão expostas às grandes

oscilações de mercado, tendo em vista as condições geopolíticas e

econômicas que envolvem o preço do petróleo. Desde a década de 60

observa-se grande elevação dos preços, principalmente na década de 70, em

decorrência da intervenção na oferta do produto e consequente controle de

preços imposto pelos países exportadores de petróleo através da OPEP

(Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

Entretanto, o preço de mercado não necessariamente significa o melhor

indicador de preço a ser utilizado no fluxo de caixa futuro para o teste de

impairment dos ativos de petróleo e gás associados às propriedades provadas,

pois as empresas petrolíferas têm tipos de petróleo diferentes, bem como

preços de realização (preço de venda) diferenciados de acordo com esses

tipos de petróleo.

Por esse motivo devem ser adotados, preferencialmente, os preços que

tenham uma forte correlação como os preços futuros utilizados nos orçamentos

de longo prazo para o gerenciamento dos negócios da companhia, ou ainda os

preços futuros estipulados em contratos futuros, se existirem (JENNING;

FEITEN; BROCK, 2000).

c) Custos

Os custos futuros projetados utilizados nos fluxos de caixa futuros deverão

estar baseados na melhor estimativa dos gastos futuros de capital, gastos

operacionais e, eventualmente, os gastos com depreciação, abandono e

amortização associados com impairment.

Page 54: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

54

Deve-se buscar associar os custos com alto grau de correlação com os gastos

operacionais e de investimentos futuros utilizados no orçamento de longo prazo

de gerenciamento do projeto onde o ativo tenha sido utilizado.

Os custos operacionais fixos e variáveis estão associados às curvas de

produção, mas podem variar também em função da tecnologia e métodos de

produção.

d) Gastos Administrativos (Overhead)

A utilização do overhead não é usual nas companhias de petróleo e gás.

Segundo pesquisa realizada pela PricewaterhouseCoopers, em 1999, 86% das

empresas pesquisadas ignoram os dados de despesas administrativas na

elaboração do fluxo de caixa futuro, pois essa informação não está diretamente

relacionada com a perda do valor recuperável do ativo.

e) Impostos

Referem-se às contribuições e encargos que impactam os fluxos de caixa

futuros, tais como royalties e outros relacionados à produção.

Após a elaboração do fluxo de caixa futuro para a aplicação do teste de

impairment a próxima etapa remete a apuração do valor justo (fair value) para

que seja calculado o valor da perda do ativo.

4.5 – Determinação do Valor Justo (Fair Value) dos Ativos de petróleo e

Gás

Segundo Jenning, Feiten e Brock (2000, p. 734), a abordagem da avaliação

pelo método do fluxo de caixa descontado é a metodologia usualmente

utilizada pelas empresas petrolíferas. Sua função, basicamente, é medir o valor

justo dos ativos, bem como demonstrar a expectativa futura de fluxo de caixa

líquido.

Page 55: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

55

Os autores, em pesquisa de mercado realizada em 1993 para identificar a

metodologia predominante utilizada para avaliar seus ativos, demonstraram

que de 95 empresas petrolíferas consultadas, 45 utilizavam apenas o fluxo de

caixa; 50 usavam o fluxo de caixa associado a outro método de avaliação e

somente seis companhias não adotavam a metodologia do fluxo de caixa

(JENNING; FEITEN; BROCK, 2000).

Depreende-se, portanto, que as avaliações das propriedades de petróleo e gás

são realizadas, predominantemente, por meio da expectativa futura de fluxo de

caixa, ou seja, na mensuração do retorno econômico futuro gerado pelos ativos

de petróleo e gás (fair value), a abordagem mais aderente seria o fluxo de

caixa, que também pode ser utilizado para fins de impairment.

O SFAS 144 determina que para esse tipo de avaliação devam ser utilizadas

as regras do SFAC nº 7 – Using Cash Flow Information and Present Value in

Accounting Measurements, que permite a abordagem de cenários de

probabilidades ou a tradicional. Em relação à norma internacional IAS 36, na

definição do valor em uso, também se preconiza a utilização do fluxo de caixa

futuro.

A abordagem do fluxo de caixa simples preconiza a utilização da estimativa

considerando apenas um único cenário e uma única taxa de desconto que

reflita o risco associado com o uso do ativo.

Considerando a abordagem do fluxo de caixa estimado, são utilizados múltiplos

cenários que buscam refletir em intervalos as possibilidades de fluxos de caixa

para determinados ativos. O mesmo acontece com a taxa de desconto

utilizada, que deve refletir o risco associado a cada cenário estimado.

De acordo com Machado (2003), considerando que as avaliações de

probabilidade utilizam todas as informações disponíveis no instante da

elaboração, tais avaliações assumem natureza bastante subjetiva e, em muitos

casos, podem limitar o julgamento dos administradores sobre os prováveis

Page 56: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

56

cenários (otimista, mais provável e pessimista) que serão utilizados na

elaboração das estimativas de fluxos de caixa futuros.

Não existe uma determinação expressa sobre qual modelo as empresas

petrolíferas devem adotar, mas pressupõe-se que as empresas adotem o fluxo

de caixa estimado, considerando cenários múltiplos (probabilidades), pois as

oscilações macro-econômicas e as características técnicas do campo são

fatores que conferem especificidades a esses ativos, uma vez que, a principio,

não teria seu valor justo adequadamente retratado através do fluxo de caixa

simples (tradicional) (WRIGHT; GALLUN, 2005).

A baixa do ativo, sobretudo se considerada permanente, está associada

principalmente a eventos econômicos, ou seja, a exposição econômica que os

ativos de longa duração de petróleo e gás estão sujeitos e a utilização do

impairment serve como medida para ajustar o valor do ativo a seu benefício

econômico futuro esperado e demonstrar mais adequadamente o desempenho

dos ativos operacionais das companhias (exposição e utilização). Além disso,

na indústria de petróleo e gás também poderá ser indicativo do índice de

sucesso das empresas e de retorno de seus investimentos na atividade de

E&P.

CAPÍTULO V IMPAIRMENT NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DA PETROBRAS 5.1 – Divulgação das informações

Neste capítulo analisaremos a aplicação do teste de impairment na Petrobras e

seus impactos nas demonstrações financeiras da empresa em 31.12.2008.

Para atingir o objetivo deste estudo buscou-se confrontar os conceitos

estudados com a realidade da referida empresa, a qual foi escolhida em razão

de vários fatores, como:

Page 57: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

57

- É a maior empresa do Brasil e 8ª do mundo em valor de mercado, estando

presente em 29 países;

- Atua de forma integrada nas atividades de exploração e produção, refino,

comercialização, transporte e petroquímica, distribuição de derivados, gás

natural, biocombustíveis e energia elétrica; e

- Possui extrema importância no cenário sócio-econômico brasileiro.

A empresa elabora suas demonstrações financeiras de acordo com as práticas

contábeis adotadas no Brasil (BR GAAP) e também conforme os princípios

contábeis geralmente aceitos nos Estados Unidos da América (US GAAP).

Ambas as demonstrações são revisadas por auditores externos e

posteriormente divulgadas ao mercado de capitais.

No Formulário 20-F, elaborado pela companhia de acordo com as práticas

contábeis em US GAAP e arquivado na SEC, são evidenciadas as unidades de

negócio que sofreram Impairment e informados os principais fatores decisivos

na perda do valor recuperável dos ativos. Destacam-se também os impactos no

resultado do período, informando a taxa utilizada no cálculo do fluxo de caixa

descontado.

O relatório menciona que a empresa utiliza as regras SFAS 144 para a

realização do impairment e faz referência ao impacto que as estimativas das

reservas e os preços do petróleo e do gás causam no cálculo, detalhando os

critérios de avaliação dos ativos de E&P e informando que sua mensuração

baseia-se principalmente no fluxo de caixa descontado. Ressalta ainda que são

consideradas as reservas provadas e prováveis, de acordo com as

especificidades dos ativos envolvidos.

A empresa destaca que o fator preço do petróleo influencia na avaliação dos

ativos e por esse motivo são utilizadas estimativas de preços de longo prazo,

Page 58: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

58

ressaltando que a desvalorização (desconto) da moeda não tem sido relevante

nos últimos anos.

Na demonstração do resultado consolidado há o destaque em linha específica

da perda por impairment dos períodos divulgados. Nas notas de imobilizado e

intangível são destacados, novamente, os montantes do impairment, bem

como os fatores principais e impactos da desvalorização dos ativos. O

impairment também é destacado na demonstração de resultado por segmento,

com linha específica informando a perda no segmento de Exploração e

Produção.

O relatório da empresa é apresentado de forma bastante aderente com os

critérios de divulgação do SFAS 144, mas não menciona os procedimentos

utilizados no teste de recuperabilidade dos ativos relacionados a propriedades

não provadas.

5.2 – Valorização dos fluxos de caixa futuros descontados líquidos

relacionados a quantidades provadas de petróleo e gás e as

correspondentes movimentações

Conforme o Formulário 20-F, a valorização padronizada dos fluxos de caixa

líquidos futuros descontados referentes às reservas de petróleo e gás provadas

é feita na Petrobras com base no SFAS 69.

As entradas de caixa futuras estimadas de atividades de produção da

companhia no Brasil são apuradas através da aplicação dos preços do final do

exercício, obtidos segundo a metodologia de determinação interna de preços

de petróleo e gás, pelas quantidades estimadas das reservas provadas líquidas

no fim do exercício. As entradas de caixa futuras estimadas de atividades de

produção relativas ao segmento Internacional são apuradas através da

aplicação dos preços no final do exercício para petróleo e gás às quantidades

das reservas estimadas provadas líquidas, também ao final do exercício.

Page 59: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

59

As variações nos preços futuros se limitam às variações previstas em contratos

existentes no fim de cada exercício.

Os custos de desenvolvimento e produção futuros correspondem aos

dispêndios estimados necessários para desenvolver e extrair as reservas

provadas no fim do exercício com base em indicadores de custo no fim do

exercício, assumindo que terá continuidade das condições econômicas.

A estimativa de imposto de renda e contribuição social futuros é calculada

utilizando as alíquotas oficiais em vigor no fim do exercício. Essas alíquotas

refletem deduções permitidas sendo aplicadas aos fluxos de caixa futuros

líquidos estimados antes da tributação menos a base fiscal dos ativos

relacionados.

Os fluxos de caixa futuros descontados líquidos são calculados utilizando

fatores de desconto de 10%. Essa estimativa deve ser reavaliada ano a ano a

partir do momento em que os dispêndios futuros serão incorridos e quando as

reservas serão extraídas.

Com base nas premissas acima, o seguinte fluxo de caixa foi apresentado pela

companhia no Formulário 20-F:

Em US$ milhões

Brasil Internacional Total

Em 31 de dezembro de 2008

Fluxos de caixa futuros 298.408 26.349 324.757

Custos de produção futuros (163.427) (7.036) (170.463)

Custos de desenvolvimento futuros (41.063) (3.196) (44.259)

Despesa futura de imposto de renda (33.679) (9.022) (42.701)

Fluxos de caixa líquidos futuros não descontados 60.239 7.095 67.334

Desconto anual de 10% dos fluxos de caixa estimados (22.772) (2.540) (25.312)

Fluxo de caixa líquidos futuros padronizados descontados 37.467 4.555 42.022

Participação proporcional em medida padronizada do fluxo de caixa

futuro descontado líquido relativo às reservas provadas em

empresas não consolidadas - 240 240

Page 60: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

60

5.3 – Resultados do teste de impairment

Em decorrência da volatilidade dos preços de petróleo, a Petrobras optou por

manter os campos que não possuem reserva SEC no cálculo do impairment,

considerando os fluxos de reservas prováveis para determinar a

recuperabilidade dos ativos.

Os campos que ainda não estão em produção também não foram considerados

para fins do cálculo do impairment, pois ao iniciar a produção, os fluxos de

caixa dos reservatórios representam projeções apenas conceituais. Desta

forma, anteriormente a essa etapa é feito um projeto base em que à medida

que se inicia a produção é feita a coleta de dados para determinar o fluxo de

caixa real do campo.

A companhia divulgou em suas demonstrações contábeis de 31.12.2008, em

BR GAAP, os seguintes valores resultantes do teste de redução ao valor

recuperável de ativos:

Por área de negócio: R$ mil

Consolidado Controladora

Exploração e produção 602.675 602.675

Internacional 330.413 -

Total 933.088 602.675

Por tipo de ativo: R$ mil

Consolidado Controladora

Edificações e benfeitorias 3.832 -

Equipamento e outros bens 90.766 89.153

Gastos com exploração,

desenvolvimento e produção de

petróleo e gás 838.490 513.522

Total 933.088 602.675

Page 61: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

61

Considerando-se as particularidades dos ativos da Petrobras, a companhia

utiliza o valor em uso para avaliação do teste de redução ao valor recuperável,

exceto quando especificamente indicado.

Este valor de uso é estimado com base no valor presente de fluxos de caixa

futuros, resultado das melhores estimativas da companhia. Os fluxos de caixa,

decorrentes do uso contínuo dos ativos relacionados, são ajustados pelos

riscos específicos e utilizam a taxa de desconto pré-imposto, a qual deriva da

taxa pós-imposto estruturada no Custo Médio Ponderado de Capital (WACC).

As principais premissas dos fluxos de caixa são: preços baseados no último

plano estratégico divulgado, curvas de produção associadas aos projetos

existentes no portfólio da companhia, custos operacionais de mercado e

investimentos necessários para realização dos projetos.

Exploração e Produção

Os ativos foram agrupados em unidades geradoras de caixa para identificação

de possíveis perdas por desvalorização. Cada campo corresponde a uma

unidade geradora de caixa.

Em 2008 o segmento de Exploração e Produção da Petrobras registrou

despesas com provisão para perda por desvalorização de ativos no montante

de R$ 602.675 mil. A perda foi relacionada principalmente aos ativos em

produção no Brasil.

Durante o ano dois fatores influenciaram negativamente os resultados dos

campos da companhia: o preço do Brent (tipo de petróleo) de 31 de dezembro

de 2008 e os custos operacionais (equipamentos e serviços) que não tiveram

uma queda tão acentuada quanto o do Brent. Esses dois fatores durante a

análise econômica tiveram efeitos redutores, que levaram a constituição de

provisão para perda por desvalorização em alguns campos.

Page 62: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

62

Internacional

No exercício de 2008 foram reconhecidas perdas por desvalorização de ativos

no segmento Internacional no montante de R$ 330.413 mil, apuradas,

principalmente, sobre os gastos exploratórios do campo de Cottonwood, nos

Estados Unidos (R$ 307.784 mil), em decorrência dos baixos preços projetados

do petróleo e das altas taxas praticadas.

Abastecimento, Gás e Energia e Distribuição

Não houve perdas por desvalorização de ativos em 2008.

5.4 – Impairment do ágio com expectativa de rentabilidade futura

A Petrobras América Inc., controlada indireta da Petrobras, registrou em 2008

uma perda por desvalorização do ágio pago na aquisição das empresas

Pasadena Refining System, Inc.e Pasadena Trading Company no valor de R$

384.431 mil. Os fatores determinantes para o cálculo foram:

(a) Declínio constante e substancial do petróleo bruto e preço dos produtos

nos últimos doze meses daquele ano;

(b) Diminuição do refino e margem bruta do mercado atacadista; e

(c) Diminuição da demanda de produtos refinados.

5.5 – Análises dos impactos causados nas demonstrações contábeis da

Petrobras em decorrência do impairment

Apresentamos no anexo I a este trabalho exemplos de impacto nas

demonstrações contábeis da Petrobras (controladora) de 2007 e 2008 em

consequência da aplicação do impairment.

Page 63: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

63

Comparamos os dois exercícios e analisamos os efeitos em alguns indicadores

de desempenho, após a contabilização da redução no valor recuperável dos

ativos da companhia.

Page 64: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

64

CONCLUSÃO

O impairment é a sistemática utilizada para adequar a capacidade de geração

de benefício futuro do ativo ao valor registrado pela contabilidade. As principais

diretrizes sobre este instrumento estão contidas nas normas IAS 36 -

Impairment of Assets e SFAS 144 - Accounting for the Impairment or Disposal

of Long-Lived Assets, além da norma brasileira CPC 01 – Redução no Valor

Recuperável de Ativos.

Esse estudo foi estruturado no sentido de apresentar as principais

características da aplicação do impairment, considerando os aspectos da teoria

da contabilidade, principais normas contábeis relacionadas a sua utilização e

divulgação e sua aplicabilidade nos ativos, sobretudo naqueles referentes ao

segmento de exploração e produção de petróleo e gás.

A utilização do valor de mercado ou o valor de bens similares é questionável já

que não necessariamente representam o real valor do beneficio trazido para a

entidade. Nesse contexto, o fluxo de caixa se apresenta a melhor opção,

apesar da subjetividade envolvida no método em relação à taxa de desconto.

Para os ativos da indústria de óleo e gás, especialmente no segmento de E&P

pelas suas particularidades, o método mais apropriado para valorização dos

ativos é o fluxo de caixa.

Procuramos nesse estudo abordar a importância do petróleo para o mundo e

os tratamentos contábeis pertinentes para o registro das operações envolvendo

essa commodity. No capítulo I analisamos as opções de energia mais

exploradas e as alternativas buscadas pelo homem em substituição às

energias não renováveis.

No capítulo II analisamos o tratamento contábil dado às principais operações

relacionadas à indústria de petróleo e gás, destacando que a diferença básica

entre o método dos gastos totais e o dos esforços bem sucedidos concentra-se

na capitalização dos custos de exploração.

Page 65: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

65

Procuramos explorar no capítulo III as principais normas contábeis referentes

ao teste de impairment, seja no cenário externo, principalmente com o IAS 36 e

o SFAS 144, ou no cenário interno, com o CPC 01.

Na comparação entre as normas contábeis que disciplinam o impairment

constatou-se que as diferenças observadas podem provocar distorções no

valor recuperável dos ativos e comprometer a qualidade da informação aos

seus diversos usuários, principalmente o externo, além de distorcer o real

objetivo do instrumento que seria o de garantir que os registros contábeis

retratem o valor mais acurado possível dos benefícios econômicos futuros que

os ativos podem auferir à entidade.

Concentramos nossas análises sobre os principais pontos a serem observados

com relação à norma CPC 01, dando destaque às dificuldades na identificação

da UGC à qual um ativo pertence, às diferenças entre valor recuperável e valor

contábil de uma UGC, à composição de estimativas de fluxos de caixa futuros,

às taxas de desconto e ao goodwill.

Buscamos no capítulo IV a consolidação das diretrizes abordadas no capítulo

III, considerando sua aplicação na indústria de petróleo e gás, a qual possui

diversas particularidades e cujos saldos contábeis são, em geral, bastante

relevantes. Destacamos a realização do teste em propriedades provadas e não

provadas, além da metodologia de utilização dos fluxos de caixa futuros.

Por fim, tentamos conciliar os procedimentos adotados no cálculo do

impairment com a realidade da maior empresa do Brasil e uma das maiores

empresas de energia do mundo, a Petrobras. Utilizamos informações

disponibilizadas pela empresa ao mercado de capitais, através de seus

relatórios arquivados na CVM e na SEC, bem como de informações obtidas no

site da companhia e diretamente com sua área de Contabilidade.

Conforme divulgado no relatório contábil de 31.12.2008, arquivado na CVM, na

elaboração do teste de impairment as principais premissas dos fluxos de caixa

Page 66: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

66

utilizadas pela companhia são: preços baseados no último plano estratégico

divulgado, curvas de produção associadas aos projetos existentes no portfólio

da companhia, custos operacionais de mercado e investimentos necessários

para realização dos projetos. Os ativos foram agrupados em UGCs para

identificação de possíveis perdas por desvalorização, sendo que cada campo

corresponde a uma UGC. Vale destacar que algumas informações referentes

ao cálculo do impairment da Petrobras são de caráter sigiloso, não sendo

divulgadas pela companhia e não nos possibilitando, portanto, utilizá-las e

apresentá-las como objeto desse estudo.

Com base em todo o trabalho realizado, concluímos que a metodologia

adotada no cálculo do impairment pode gerar impactos relevantes nos

balanços das empresas. Contudo, os conceitos e objetivos apresentados

apontam que sua adoção é um fator que trará os valores dos ativos mais

próximos da realidade e, portanto, mais próximo da essência das empresas.

Em função de todo o exposto acima, verifica-se que não apenas novos estudos

das normas do impairment podem ser mais bem explorados, como também sua

aplicação e conseqüências em casos reais, garantindo a esse assunto um

campo vasto para novas pesquisas.

Page 67: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

67

BIBLIOGRAFIA

ARAGÃO, Amanda Pereira. Estimativa da contribuição do setor petróleo ao

produto interno bruto brasileiro: 1995/2004. Dissertação (Mestrado em

Planejamento Estratégico). Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 2005.

ANP – Agência Nacional do Petróleo; Disponível em: http://www.anp.gov.br;

Acesso em 01/02/2010.

BRITISH PETROLEUM - BP. BP statistical review of world energy -

quantifying energy. June 2006. Disponível em: www.bp.com/centres/energy>.

Acesso em: 03/02/2010.

CVM – Comissão de Valores Mobiliários. OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP

Nº 01/2006, de 22 de fevereiro de 2006.

CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento CPC 01 –

Redução no valor recuperável de ativos (impairment); Disponível em:

http://www.cpc.org.br/pdf/CPC_01.pdf; Acesso em 30/01/2010.

ERNEST & YOUNG. IAS 36 Impairment of assets: impact, issues and

valuation; Disponível em: <http://www.ey.com/global/content.nsf/US/AABS_-

_Assurance_-_Articles_-_TC_Webcast_IAS_36_Impairment_of_Assets>.

Acesso em: 04/02/2010.

FASB - Financial Accounting Standards Board. Statements of Financial

Accounting Standards n° 144 – Accounting for the Impairment or Disposal

of Long-Lived Assets. Aug., 2001.

FASB - Financial Accounting Standards Board. Statements of Financial

Accounting Standards n° 142 – Goodwill and Other In tangible Assets.

Jun.,2001.

Page 68: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

68

FASB - Financial Accounting Standards Board. FASB Current Text Section

Oi5, Oil and Gas Producing Activities. 2000.

FORTUNE. Fortune Global. Disponível em: <http://money.cnn.com/magazines/

fortune; Acesso em: 06/02/2010.

GODOY, Carlos Roberto de. Evidenciação contábil e as avaliações pelo

fluxo de caixa descontado e pela teoria de opções: um estudo aplicado à

indústria petrolífera mundial. Tese (Doutorado em Contabilidade e

Controladoria). São Paulo: FEA/USP, Departamento de Contabilidade, 2004.

IASB - International Accounting Standards Board. IFRS 6 - Exploration for and

Evaluation of Mineral Resources. Dez. 2004.

IASB - International Accounting Standards Board. IAS 36 - Impairment of

Assets. Jun. 1998.

IBRACON – Instituto dos Auditores Independes do Brasil. Normas e

Procedimentos de Contabilidade 7 (NPC 7) – Ativo Imobilizado, de 18 de

janeiro de 2001.

IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da Contabilidade. 6. ed. São Paulo: Atlas,

2000.

JENNING, Dennis R.; FEITEN, Joseph B.; BROCK, Horace R. Petroleum

accounting: principles, procedures & issues. 5. ed. Denton, Texas:

PricewaterhouseCoopers/Professional Development Institute, 2000.

JOHNSTON, David.; JOHNSTON, Daniel. Introduction to oil company

financial analysis. Tulsa, Oklahoma: PennWell, 2006.

MACHADO, Nilson Perinazzo. Teste de impairment para ativos de longa

duração: comparação entre as normas contábeis norte-americanas,

Page 69: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

69

internacionais e brasileiras. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis).

São Leopoldo: UNISINOS, 2003.

MARTINS, Gilberto de Andrade. Estudo de caso: uma estratégia de pesquisa.

São Paulo: Atlas, 2006.

MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIAS; Disponível em:

http://www.mme.gov.br/mme/menu/todas_publicacoes.html. Acesso em:

30/01/2010.

PETROBRAS. Manual de procedimentos de estimativa de reservas. 2006.

Disponível em: <http://www2.petrobras.com.br/portal/frame.asp?pagina=/ri/port/

DestaquesOperacionais/ExploracaoProducao/ManualProcedimentos.asp&lang

=pt&area=ri>. Acesso em 27 maio 2007.

PETROBRAS. Disponível em: http://www2.petrobras.com.br/portal/ frame_ri.

asp?pagina=/ri/port/index.asp&lang=pt&area=ri >. Acesso em: 05/02/2010.

PETROBRAS. Relatório Form 20-F e Relatório Anual 2008; Disponível em:

http://www.petrobras.com.br/pt/investidores.

RIELD, Edward J. An examination of long-lived asset impairments. The

Accounting Review. n. 3, v. 79. jul., 2004. p. 823-852.

RILEY, Simon. IAS 36 – Impairment of Assets. Association of Chartered

Certified Accountants – ACCA, 01 feb. 2002. Disponível em:

<http://www.accaglobal.com/students/publications/student_accountant/archive/

002/23/315710>. Acesso em: 06/02/2010.

SANTOS, Odilanei M.; SILVA, Paula D. Almeida.; MARQUES, José Augusto V.

O custo de abandono das empresas petrolíferas. In: CONGRESSO

INTERNACIONAL DE CUSTOS, 10., 2005. Itapema. Anais ... Itapema:

UFSC/ABC, 2005. CD ROM.

Page 70: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

70

SEC - Securities and Exchange Commission. Regulation S-X Rule 4-10 –

Financial Accounting and Reporting for Oil and Gas Producing Activities

Pursuant to the Federal Securities Laws and the Energy Policy and

Conservation. 1975.

SILVA, Carlos E. Vieira. Uma análise da mudança das práticas contábeis,

ocorridas em 1999, relativas às atividades de exploração e produção de

petróleo: o caso Petrobras S/A. Dissertação (Mestrado em Ciências

Contábeis). Rio de Janeiro: FACC/UFRJ, Departamento de Contabilidade,

2004.

SILVA, Paula D. Almeida; Análise da evidenciação das informações sobre o

impairment dos ativos de longa duração de empresas petrolíferas.

Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). Rio de Janeiro: FACC/UFRJ,

2007.

SZUSTER, Natan.; SILVA., Paula D. A.; SANTOS, Odilanei M.; SILVA., Carlos

E. V.; Patrimônio líquido efetivo em empresas petrolíferas: o

reconhecimento contábil das reservas de petróleo. In: SLADE Brasil 2006 &

Encontro Luso-Brasileiro de Estratégia, 2006, Balneário Camboriú. Anais...

Balneário Camboriú/SC: SLADE, 2006.

THOMAS, José Eduardo (Org). Fundamentos da engenharia de petróleo. 2.

ed. Rio de Janeiro: Interciência/Petrobras, 2004.

WRIGHT, Charlotte J.; GALLUN, Rebecca A. International petroleum

accounting. Tulsa, Oklahoma: PennWell, 2005.

Page 71: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

71

ANEXO I

Impacto do impairment nas demonstrações contábeis da Petrobras em 2007 e 2008

Impacto sobre o lucro liquido

Controladora 2007 2008 Total da perda por impairment 45.248 602.675 Lucro Líquido do Exercício 22.028.691 36.469.549 Total do Lucro + Perda 22.073.939 37.071.624 Diferença em percentual ( % ) 0,2% 1,65%

Impacto sobre o ativo total

Controladora 2007 2008 Ativo Total 211.233.010 311.010.867 Perda na Recuperação de Ativos 45.248 602.675 Total do Ativo + Perda Recup. 211.280.265 311.612.942 Diferença em Percentual ( % ) 0,02% 0,19%

Impacto sobre o lucro por ação

Controladora 2007 2008 Lucro por ação 5,03 4,16 Lucro Líquido 22.028.691 36.469.549 Perda na Recuperação de Ativos 45.248 602.675 Lucro Líquido + Impairment 22.073.939 37.072.224 Número de ações 4.379.461 8.766.719 Lucro líquido por ação considerando o lucro líquido + a perda na recuperação de ativos 5,04 4,23

Redução por perda na recuperação de ativos em cada ação 0,01 0,07

Page 72: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Em 6 de agosto de 1997, o Brasil promulgou a Lei do Petróleo (Lei Nº 9.478), que estabeleceu a concorrência nos mercados

72

Impacto sobre a margem líquida

Controladora

Ano Vendas Líquidas

Lucro Líquido com perda

Margem Líquida

2007 126.767.001 22.028.691 17,38 2008 161.709.506 36.469.549 22,55

Ano Vendas Líquidas

Lucro Líquido sem perda

Margem Líquida

2007 126.767.001 22.073.939 17,41 2008 161.709.506 37.072.224 22,93