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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA UNAMA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO SARA DE SOUZA RIBEIRO A ECOEFICIÊNCIA NA GESTÃO: REAPROVEITAMENTO E DIRECIONAMENTOS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DA INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO DE BELÉM Belém - PA 2014

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA – UNAMA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

SARA DE SOUZA RIBEIRO

A ECOEFICIÊNCIA NA GESTÃO: REAPROVEITAMENTO E DIRECIONAMENTOS

DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DA INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO

DE BELÉM

Belém - PA

2014

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SARA DE SOUZA RIBEIRO

A ECOEFICIÊNCIA NA GESTÃO: REAPROVEITAMENTO E DIRECIONAMENTOS

DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DA INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO

DE BELÉM

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Administração de Empresas da Universidade da

Amazônia, como requisito parcial para a obtenção do

título de Mestre em Administração de Empresas sob a

orientação da Profa. Dra. Ana Maria de Albuquerque

Vasconcellos.

Belém - PA

2014

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SARA DE SOUZA RIBEIRO

A ECOEFICIÊNCIA NA GESTÃO: REAPROVEITAMENTO E DIRECIONAMENTOS

DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DA INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO

DE BELÉM

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Administração de Empresas da Universidade da

Amazônia, como requisito parcial para a obtenção do

título de Mestre em Administração de Empresas sob a

orientação da Profa. Dra. Ana Maria de Albuquerque

Vasconcellos.

Comissão Examinadora

______________________________________

Dra. Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos

______________________________________

Prof. Dr. Emílio José Montero Arruda Filho

______________________________________

Prof. Dra. Voyner Ravena Cañete

Apresentado em: ___ / ___ / _______

Conceito: ______________________

Belém - PA

2014

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A meu companheiro de tantas vidas, Dirceu

Santos, por fazer com que eu queira ser uma

pessoa melhor todos os dias.

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AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos à quem sem me conhecer, acreditou em mim e aceitou ser

minha orientadora Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos. Ao professor Milton Farias, por

ter me auxiliado em todo o decorrer do curso de mestrado. Emilio Arruda por ter com suas

contribuições no momento de minha qualificação direcionando minha pesquisa e a toda

UNAMA por ter permitido que eu faça parte da sua história.

As amizades que tive a oportunidades de fazer em especial, Julio, Jamille, Karla, Rafael,

Roseane e Shirle, pelos momentos maravilhosos e que já deixam saudades.

Meus sinceros agradecimentos à empresa da qual faço parte em especial, a minha equipe de

trabalho que em muitos momentos se colocaram como verdadeiros guardiões, para que eu

conseguisse estudar, Darley, Eberth, Erika, Julice, Lúcia, Mariane, Raimundo, Rosineide,

Soraia, Suelen e Silvia.

Obrigada a toda minha família, não existindo um em especial, pois todos são preponderantes

para o sucesso de minha jornada e amigos sem vergonha que fizeram algumas farras sem

mim, mas mesmo assim, sei que torcem a meu favor.

Agradeço humildemente a Deus, sustento de minha vida, por cada uma das pessoas

maravilhosas e inesquecíveis que colocou em meu caminho para que as mesmas pudessem

contribuir para que fosse possível a realização deste sonho.

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RESUMO

Discute-se, a partir deste estudo, a necessidade da incorporação de mecanismos capazes de

viabilizar a ecoeficiência na gestão de resíduos, sobretudo em função do momento atual da

construção civil em Belém, que apresenta um crescente número de novos empreendimentos.

A presente dissertação tem como objetivo analisar de que forma a Ecoeficiencia está presente

no processo de gestão dos resíduos, buscando responder ao seguinte problema de pesquisa:

Até que ponto a ecoeficiencia está presente no processo de gestão dos resíduos produzidos na

indústria de construção civil no município de Belém? Como base teórica optou-se pela

governança corporativa uma vez que por meio desta é possível se vislumbrar um futuro onde

as empresas apresentem condições de gerar riqueza e valor para sociedade. Toma-se como

base a sustentabilidade na organização, que consiste em auxiliar na permanência da empresa

no mercado e o crescimento da mesma a partir de sua viabilidade econômica e a consistência

harmoniosa com o ambiente e a sociedade (LAZARO; POLO, 2012). O método utilizado para

dar direcionamento a esta pesquisa foi o estudo de caso, tendo-se como foco a abordagem

qualitativa e exploratória. Como técnica e procedimentos para coleta de dados optou-se pela

observação participante assistemática, ou seja, espontânea. Por meio da coleta e registros de

fatos ocorridos na realidade. A pesquisa caracteriza-se como observação participante,

realizada nos canteiros de obras da empresa pesquisada. Concluiu-se através da pesquisa que

a ecoeficiência está presente, mas de maneira muito frágil, quase que imperceptível no

processo de gestão dos resíduos produzidos nos três canteiros de obras pesquisadas. Com

apenas algumas pontuações de gestão que se faz de maneira independente entre os canteiros e

sem planejamento, seguindo a linha paliativa com intuído de retirar os entulhos gerados na

execução da obra e assim não prejudicar o desenvolvimento da mesma.

Palavras chave: Ecoeficiência, Resíduos. Construção Civil

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ABSTRACT

This paper presents a discussion about the need for the insertion of tools which allow eco-

efficiency in waste management, mainly considering civic construction present moment in

Belém, which has an increasing number of construction businesses. This essay aims to

analyze in which way eco-efficiency is present in the waste management process and to

answer the following question: to what extent is eco-efficiency present in the public waste

management process of civic enterprises in Belém? Corporative governance was chosen as

theoretical basis, since it is possible to foresee a future moment when enterprises will be able

to generate income and values to society. Organization’s sustainability was taken as basis,

which is to support the company maintenance in the market and its development from its

economic viability and from a balanced consistence with environment and society (LAZARO;

POLO, 2012). The method used to guide this research was the case study, having as its main

point explorative and qualitative approach. The techniques and procedures used for data

collection were the assistematic and participant observation, in other words, spontaneous,

through the collection and registry of facts occurred in reality. The research method was the

participant observation, done at the construction sites of the interviewed enterprises. It was

possible to conclude that eco-efficiency is present, but in a very fragile and almost

imperceptive way along the waste management process at the three construction sites

checked. There were just few independent actions of management at the sites and with no

planning, as palliative actions to remove waste produced during the construction, not to

disturb its development.

Keywords: Eco-efficiency. Waste. Civic construction.

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LISTA DE FLUXOGRAMAS

Fluxograma 01 - Variação da Observação Participante 24

Fluxograma 02 - Variação das modalidades de observação 25

Fluxograma 03 - Ecoeficiencia na gestão dos resíduos da construção civil 58

Fluxograma 04 - Fluxo do processo inicial para aprovação de um projeto imobiliário 67

Fluxograma 05 - Fluxo inicial do processo de construção de um projeto imobiliário 68

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Fase inicial do trabalho de limpeza do terreno Obra A 71

Figura 02 - Resíduo canteiro da Obra A 73

Figura 03 - Resíduo a ser encaminhado para CEAPRO ou aguardando para serem

reutilizada na obra 74

Figura 04 - Prateleiras feitas de madeira reciclada Obra B 76

Figura 05 - Entulhos na Obra B aguardando para ser retirado pela empresa CE 77

Figura 06 - Parede e piso do vestiário da Obra A na fase de implantação do canteiro

de obras 80

Figura 07 - Sala de recursos humanos da Obra B 81

Figura 08 - Material reciclado no CEAPRO 82

Figura 09 - Material estocado no CEAPRO aguardando destinação correta

82

Figura 10 - Resíduos perigosos como gesso e cimento para manta asfáltica

84

Figura 11 - Resíduos compostos de cerâmica, pedaços de concreto, madeira e ferro

86

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Possíveis ações de tratamento dos resíduos classificados 63

Quadro 02 - Classificação do SEBRAE o porte das empresas Brasileiras segundo o

número do IBGE 70

Quadro 03 - Relatório de produção de resíduos no período de julho a outubro de 2013 na

Obra A 72

Quadro 04 - Relatório de produção de resíduos no período de julho a outubro de 2013 na

Obra B 75

Quadro 05 - Relatório de produção de resíduos no período de julho a outubro de 2013 na

Obra C 85

Quadro 06 - Resumo da produção de resíduos, destinação dos mesmos e valor pago pela

retirada no período de 04 (quatro) meses 90

Quadro 07 - Resumo da presença / ausência da ecoeficiência na gestão dos resíduos

produzidos nos três canteiros de obras da Construtora A 91

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LISTA DE SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BOVESPA Bolsa de Valores de São Paulo

BRT Bus Rapid Transit

CBIC Câmara Brasileira da Indústria da Construção

CEAPRO Centro de Apoio à Produção

CIPAM Circular Projetos Ambientais

CND Certidão Negativa de Débito

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

CUB Custos Unitários Básicos de Construção

DDS Diálogo Diário de Segurança

EPIS Equipamento De Proteção Individual

FGV Fundação Getúlio Vargas

GC Governança Corporativa

IBGC Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

MMA Ministério do Meio Ambiente

PAIC Pesquisa Anual da Indústria da Construção

PDMB Plano Diretor do Município de Belém

PIB Produto Interno Bruto

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

RCC Resíduo da Construção Civil

RCD Resíduo da Construção e Demolição

RSCD Resíduos Sólidos Da Construção De Demolição

SEBRAE Serviço Brasileiro De Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SIGR Sistema Integrado de Gerenciamento de Resíduos

SINDUSCON-PA Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Pará

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

2 PERCURSO METODOLÓGICO 18

3 GOVERNANÇA CORPORATIVA E SUSTENTABILIDADE 28

4 INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL, SUAS CONTRIBUIÇÕES E

SEUS IMPACTOS NA SOCIEDADE

33

5 A POLÍTICA AMBIENTAL E A CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS 38

5.1 A POLÍTICA AMBIENTAL 38

5.2 CLASSIFICAÇÃO DE RESÍDUOS 44

5.2.1 Classificação dos resíduos, ABNT, NBR 10.004 (2004) 47

5.2.2 Resíduos classe I – perigosos 47

5.2.3 Inflamabilidade 47

5.2.4 Corrosividade 48

5.2.5 Reatividade 48

5.2.6 Toxicidade 49

6 ECOEFICIÊNCIA NA GESTÃO DE RESÍDUOS 50

6.1 CONCEITO DE ECOEFICIÊNCIA 50

6.2 PROPOSTA DE GESTÃO DE RESÍDUOS 59

6.2.1 Classificação dos resíduos baseado no CONAMA 60

6.2.2 Agentes envolvidos no processo de construção e suas responsabilidades 60

6.2.3 Proposta de modelo para implantação da ecoeficiência na gestão do canteiro

de obras

61

6.2.4 Modelo de classificação e separação dos resíduos no canteiro de obras 62

6.2.5 Ações, tratamentos e destinação dos RCC 62

7 PRODUÇÃO DE RESIDUOS NA INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL 64

8 ECOEFICIÊNCIA NA GESTÃO DE RESÍDUOS 70

8.1 IDENTIFICAÇÃO DOS CANTEIROS DE OBRAS E PRODUÇÃO DE SEUS

RESPECTIVOS RESÍDUOS

71

8.2 ANÁLISE DA COLETA DE DADOS 89

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS 94

REFERÊNCIAS 96

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1 INTRODUÇÃO

A presente dissertação tem como objetivo analisar de que forma a Ecoeficiência está

presente no processo de gestão dos resíduos, buscando-se identificar a importância da

inserção ou maior atenção no que se refere à ecoeficiência na gestão dos resíduos produzidos

pela indústria de construção civil no município de Belém. Especificamente, propõe-se

identificar os tipos de resíduos produzidos e os procedimentos utilizados nas fases para gerir

os resíduos produzidos no processo de construção das obras.

Tomando-se como referência a realidade atual da gestão de resíduos e sua relação

com a indústria de construção civil, discute-se, a partir deste estudo, a necessidade da

incorporação de mecanismos capazes de viabilizar a ecoeficiência nessa gestão, sobretudo, em

função do momento atual da construção civil em Belém, que apresenta um crescente número

de novos empreendimentos.

Supõe-se que, o novo desafio do setor industrial da construção civil, será implantar

em seu processo construtivo, uma gestão ecoeficiente que minimize os impactos causados ao

meio em que está inserida, com máximo aproveitamento de seus insumos e menor produção

de resíduos, sem perdas na qualidade do produto final e, consequentemente, diminuir a

quantidade de entulho destinado ao meio ambiente.

A ecoeficiência na gestão está fundamentada na redução do consumo de recursos

naturais, assim como na tentativa de amenizar os impactos causados ao meio ambiente por

meio da redução na produção de resíduos, no aumento da produtividade, ou seja, maior

produtividade com menor utilização de recursos (MUNCK; GALLELI DIAS; SOUZA,

2010). O fundamento da ecoeficiência se apresenta como a produção mais limpa, isto é, a

busca por uma melhor utilização da matéria-prima, gerando menos resíduos e

consequentemente otimizando o processo. A produção mais limpa aumenta a eficiência das

empresas e a competitividade dos produtos e serviços.

Neste sentido, compreende-se que a gestão planejada dos resíduos é o fator

fundamental para a redução de desperdícios na indústria de construção civil, de forma a

incentivar a utilização de práticas ecoeficientes no direcionamento da empresa para uma

grande vantagem competitiva diante de seus concorrentes.

Partindo do exposto acima, propõe-se analisar neste estudo o meio pelo qual são

geridos e direcionados os resíduos produzidos pela indústria da Construção Civil no

município de Belém. Busca-se responder ao seguinte problema de pesquisa: Até que ponto a

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ecoeficiência está presente no processo de gestão dos resíduos produzidos nas indústrias de

construção civil no município de Belém?

Embora exista uma vasta literatura sobre os impactos ambientais decorrentes do

descarte dos resíduos das obras das indústrias da construção civil, poucos estudos se atêm na

análise da gestão destes resíduos dentro das obras. Neste sentido, a proposta desta dissertação

direciona-se justamente na gestão dos resíduos nos canteiros da construção civil, mais

especificamente, em uma construtora na cidade de Belém.

O estudo sobre a ecoeficiência na gestão dos resíduos produzidos pela indústria da

Construção Civil justifica-se pela importância da temática em um mundo onde as discussões a

respeito da sustentabilidade, preservação ambiental, aquecimento global e problemas de

impactos ambientais de forma geral, tem se tornado cada vez mais emergente nas perspectivas

globais. Em relação à indústria de construção civil, discute-se, a partir deste estudo, a

necessidade da incorporação de mecanismos capazes de viabilizar a ecoeficiência na gestão

dos resíduos, sobretudo, em função do momento atual dessa indústria, em que se torna cada

vez mais oneroso a obtenção de matéria prima.

O presente estudo torna-se ainda mais relevante por se tratar de uma avalição crítica

da realidade de parte da região amazônica, foco mundial das questões ambientais, que traz em

seu bojo, impactos e desequilíbrios de toda natureza, delineados por um processo de ocupação

desordenada nas cidades e com altos custos ambientais.

Quando se toma como referência o setor empresarial da indústria da construção,

percebe-se que este, é um dos segmentos econômicos que mais contribui para o crescimento

do país, principalmente por se apresentar como elemento favorável no que diz respeito à sua

capacidade de gerar vagas diretas e indiretas no mercado de trabalho (COLOMBO; BAZZO,

2001). Este segmento expõe uma gama variada de meios de produção, pressionando a

expansão do mercado interno e comercialização de seus próprios produtos (ÂNGULO;

ZORDAN; JOHN, 2001).

Em sua maioria, a mão de obra absorvida no seguimento da indústria de construção

civil, caracteriza-se pelo baixo nível de escolaridade, instrução e mais carentes da sociedade

(SILVA, 2008). É essencial, para concretização da política habitacional, e para realização dos

objetivos estruturais do município conforme exporto no Plano Diretor do Município de Belém

(Lei Nº 8.655, de 30 de julho de 2008).

Para Teixeira e Carvalho (2005), o setor da construção civil deve ser considerado o

setor chave para o desenvolvimento brasileiro, devido ao impacto direto causado à economia

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brasileira, pois, este setor é responsável por produzir infraestrutura econômica por meio da

construção de portos, ferrovias, rodovias, sistemas de irrigação, energia e comunicação. A

forte interligação por traz da indústria da construção com outras atividades, permite classificá-

la como setor chave para economia brasileira. Além de complementar a base produtiva e criar

externalidades positivas aumentando a produtividade dos setores de produção (TEIXEIRA;

CARVALHO, 2005). Segundo Teixeira e Carvalho (2005), o argumento utilizado para definir

a industria de construção civil como setor chave é o seu tamanho e impacto direto à economia

brasileira bem como, sua importância direta e induzida para o desenvolvimento.

Acredita-se que o setor industrial é responsável por produzir infraestrutura sem as

quais o setor primário, secundário e terciário não poderiam funcionar adequadamente. Dessa

forma, o crescimento ordenado do setor facilitará o desenvolvimento da economia do Brasil.

Porém, sua construção e manutenção consomem uma parcela relevante de recursos materiais e

energéticos e geram quantidades consideráveis de resíduos (LICCO, 2006).

Segundo Ângulo, Zordan e John (2001), no modelo atual de produção, os resíduos

sempre são gerados, seja para bens de consumo duráveis, como edifícios e pontes, sejam para

bens não duráveis a exemplo de embalagens descartáveis. Advindo do processo de intensa

industrialização principalmente após o século XVIII, os resíduos se transformaram em graves

problemas urbanos com um gerenciamento oneroso e complexo. Nesse caso, os resíduos da

construção civil representam um significativo percentual dos resíduos sólidos produzidos nas

áreas urbanas (Resolução CONAMA N° 307, de 05 de julho de 2002).

Segundo Nunesmaia (2002), no inicio dos anos 70 alguns questionamentos relativos

aos resíduos eram discutidos de forma tímida, mas em geral a preocupação direcionava-se aos

resíduos associados aos recursos naturais, com a perspectiva de extinção de algumas matérias-

primas, inseridas em um contexto ambiental. Nos anos seguintes, Nusesmaia (2002), ressalta

que a gestão dos resíduos passa a ser vista por outros vieses, como tecnológico, jurídico,

econômico e ambiental, de forma mais precisa.

No modelo atual de construção, o desenvolvimento e expansão deste segmento causa

impactos irreversíveis ao meio ambiente. Sabe-se que a cada novo empreendimento o espaço

em que se dará a edificação do novo projeto sofre profundas transformações, gerando grande

volume de resíduos, seja no processo de “limpeza” do terreno com o desmatamento de áreas

verdes, seja através da demolição ou da escavação.

As questões que fazem referência ao setor industrial, no que diz respeito, aos

impactos causados ao meio ambiente em seu processo produtivo, passam a ser tratadas com

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mais importância na Resolução N° 307 do Conselho Nacional de Meio Ambiente no ano de

2002, por estabelecer diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão de resíduos, tais

como: identificar a origem dos resíduos provenientes da construção civil, os geradores,

transportadores, o agregado reciclado, o gerenciamento desses resíduos, e a reutilização dos

mesmos (Resolução CONAMA N° 307, de 05 de julho de 2002). Esta resolução também

direciona a classificação dos resíduos em classes: Classe A, os reutilizáveis ou reciclados;

Classe B, os reciclados para outras destinações; Classe C, os quais não foram desenvolvidos

tecnologias viáveis; Classe D, caracterizados como resíduos perigosos oriundos do processo

de construção (Resolução CONAMA N° 307, de 05 de julho de 2002).

O gerenciamento destes resíduos será considerado o sistema de gestão que visará

reduzir, reutilizar ou reciclar resíduos. Assim como incluir planejamento, responsabilidades,

práticas, procedimentos e recurso para desenvolver e programar as ações necessárias ao

cumprimento das etapas previstas em programas e planos, com intuito de amenizar os

impactos ambientais causados ao meio ambiente pelo setor industrial (Resolução CONAMA

N° 307, de 05 de julho de 2002).

De acordo com Yumi, Gonçalves e Mikos (2003), os impactos que a indústria da

construção causa ao meio ambiente, iniciam-se no começo do processo, como por exemplo, a

limpeza do terreno onde ocorrerá a construção para implantação do canteiro de obra.

Dependendo do local, pode ocorrer o desmatamento de extensas áreas verdes, ou demolição

de construções mais antigas para implantação do novo projeto.

Assim, como essa agressão ao meio ambiente ocorre pelo resultado final do que

produz, a situação se agrava quando verificadas as áreas destinadas à disposição final desses

resíduos, sejam eles regulamentadas ou clandestinas. Os problemas gerados ao meio ambiente

em virtude do processo de construção, trazem a necessidade de uma intervenção que viabilize

tanto a busca de soluções para o problema da disposição dos resíduos quanto à redução dos

mesmos (YUMI; GONÇALVES; MIKOS, 2003).

A crescente preocupação com a preservação dos recursos naturais e com a questão de

saúde pública associada aos resíduos sólidos, indicam que políticas públicas para tratar desses

temas, tendem a ser cada vez mais demandadas pela sociedade (BRASIL, 2012, p. 07).

A PNRS reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e

ações adotadas pelo governo federal, isoladamente ou em regime de cooperação com estados,

Distrito Federal, municípios ou particularidades, com vistas à gestão integrada e ao

gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos (BRASIL, 2012, p.12).

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Segundo Colombo e Bazzo (2001) no Brasil, no que se refere, ao setor da Construção

Civil, constata-se a existência de milhares de empresas com frágil organização empresarial.

Por este motivo, os fornecedores de serviços e materiais têm queixas quanto à baixa qualidade

exigida pelos construtores, em contraponto à grande exigência por preços módicos, fazendo

com que essa baixa exigência crie obstáculos para que se processe uma introdução mais

agressiva de máquinas e equipamentos nos canteiros de obras.

A indústria de construção civil de edificações apresenta particularidades singulares,

que a diferencia da indústria de transformação. Estas particularidades se apresentam no

caráter não homogêneo e não seriado de produção devido à singularidade do produto,

dependência de fatores climáticos no processo construtivo, o período de construção

relativamente longo; a complexa rede de interferências dos participantes (usuários, clientes,

projetistas, financiadores, construtores) (COLOMBO; BAZZO, 2001). Nesta direção,

entende-se que a discussão sobre a gestão de resíduos poderá contribuir para exemplificar

novas possibilidades de formulação de políticas públicas preventivas, por meio de condições

que estabeleçam o vinculo entre a atividade empresarial, meio ambiente e poder público.

Assim, compreende-se que o estudo sobre o tema que envolve a gestão dos resíduos

produzidos pela indústria de construção civil, é bem complexo, mas, ao mesmo tempo, com

relevância. Além disso, possui inúmeras particularidades, uma vez que, este setor caracteriza-

se como agente propulsor do desenvolvimento do país, mas, ao mesmo tempo, é visto como

causador de grande impacto ao meio ambiente.

Esta dissertação é composta por nove capítulos, incluindo este introdutório, e a

conclusão. No segundo capítulo, apresenta-se a metodologia que expõe as técnicas e o método

utilizado para dar direcionamento à esta pesquisa. O terceiro capítulo trará o conceito de

governança corporativa e sustentabilidade. O quarto capítulo expõe a revisão da literatura,

abordando-se as especificidades da indústria da construção civil quanto à sua posição

imprescindível para o desenvolvimento do país e os impactos que sua atividade causa ao meio

ambiente. O quinto capítulo refere-se à política ambiental e a classificação de resíduos de

acordo com a mesma. No sexto capítulo discute-se o conceito de ecoeficiência e suas

peculiaridades, sua contribuição na gestão dos resíduos da indústria de construção civil com

uma proposta de gestão dos mesmos, com base no trabalho desenvolvido pelo SINDUSCON-

MG sob a coordenação Cunha Junior (2005). No sétimo capítulo toma-se como base um texto

sobre a produção de resíduos da indústria de construção civil. O oitavo capítulo apresenta a

pesquisa de campo que foi realizada por meio de um estudo de caso de uma construtora, assim

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como, suas delimitações e análise da coleta de dados. Por fim, no nono capítulo, expõe-se

algumas considerações sobre a pesquisa e algumas recomendações para pesquisas futuras.

A primeira parte desta pesquisa foi realizada através de levantamento bibliográfico

(livros, revistas, artigos, leis ambientais) que tratassem sobre a indústria de construção civil de

maneira geral, logo após, iniciou-se o trabalho de observação dos canteiros com vários

registros fotográficos e anotações.

No segundo momento foi necessário identificar quais atores seriam capazes de

fornecer os dados e informações condizentes com a proposta de investigação da pesquisa

científica. Dessa forma, chegou-se ao princípio de que o grupo possuidor de dados necessários

que poderia explicar a forma pela qual a ecoeficiencia está presente na gestão dos resíduos

produzidos pelos canteiros de obra é composto pelos engenheiros, estagiários, almoxarifes,

técnico de segurança, vigia e diretoria da Construtora A, que fazem parte do cotidiano de

obra. Levou-se em consideração que esses profissionais possuem alto grau de conhecimento

do campo de pesquisa, bem como, informações não explícitas à maioria dos documentos

acessados.

A pesquisa realizada junto aos colaboradores da Construtora A ocorreu no período

total de 05 (cinco meses) que vai de julho a novembro de 2013, por meio da observação

participante que proporciona ao pesquisador a possibilidade de fazer parte do objeto

pesquisado. Tendo como objetivo buscar informações mais profundas do grupo que foi obtida

por meio de conversas informais.

As entrevistas ocorreram de maneira informal nos canteiros e proximidades das obras

pesquisadas, bem como, sala de recursos humanos, almoxarifados stands de venda. Não

houve registro eletrônico destas conversas apenas anotações que auxiliara na análise de dados.

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2 PERCURSO METODOLÓGICO

Este capítulo é reservado a apresentar o percurso metodológico desenvolvido no

decorrer da pesquisa que foi realizada em 04 etapas, sendo: (01) pesquisa bibliográfica, (02)

pesquisa de campo, (03) entrevistas com especialistas; e (04) análise e interpretação, sendo

que as 03 primeiras etapas ocorreram simultaneamente e a última parte por meio da análise

dos dados pesquisados. No entanto, todas as etapas foram acompanhas de procedimentos

metodológicos cada um em sua especificidade, uma vez que a pesquisa científica necessita

definir seu objeto de estudo e, a partir daí construir um processo de investigação.

Neste contexto o método utilizado para dar direcionamento à esta pesquisa, foi o

estudo de caso, tendo-se como foco primário a abordagem qualitativa e exploratória e, como

foco secundário, a abordagem quantitativa. O presente trabalho de pesquisa apresenta-se por

meio de procedimentos técnicos baseados no Estudo de Caso por este ressaltar, segundo

Campomar (1991), uma estratégia de pesquisa que não é tarefa fácil, por necessitar de maior

dedicação acadêmica. Nesse sentido, o estudo intensivo de um caso permite a descoberta de

relações que não seriam encontradas de outra forma e para isso, desenvolveu-se esse trabalho

com objetivo de conhecer o dia a dia de um canteiro de obra de uma empresa de construção

civil no município de Belém.

A escolha por um estudo de caso se deve ao fato do mesmo ser próprio para a

construção de uma investigação empírica, com intuito de se pesquisar um fenômeno dentro de

seu contexto real (YIN, 2001). Tomando como base Yin (2001), a investigação empírica pode

proporcionar um número variado de informações que em documentos ou produções

científicas não poderia contribuir. Neste caso, mesmo respeitando determinadas técnicas que

caracterizam a observação participante, a pesquisa se deu de forma natural, com base na

experiência do cotidiano de profissionais que vivem o canteiro de obra.

Segundo Ventura (2007), a pesquisa através de estudo de caso, requer pensar em suas

diferentes abordagens e aplicações. No entanto, revela sua importância crescente como

instrumento de pesquisa, apresentando suas origens, significados e seu delineamento como

metodologia de investigação. Com pouco controle ou nenhum controle sobre os eventos e

manifestações do fenômeno a se pesquisar (MARTINS, 2008).

O estudo de caso possibilita, também, a utilização de uma plataforma teórica que

reunirá o maior número possível de informações, em função das questões e proposições

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orientadoras do estudo, e ainda, com a utilização de diferentes técnicas de levantamento de

informações, dados e evidências (MARTINS, 2008).

Como técnica e procedimentos para coleta de dados optou-se pela observação

participante, uma vez que, este tipo de procedimento torna-se importante ferramenta na

observação e conhecimento do cotidiano. Neste caso, a observação participante se apresentou

como técnica “Sine qua non” na coleta de dados do cotidiano de um canteiro de obra na área

de construção civil.

Outra ferramenta utilizada para coletar informações sobre a gestão no canteiro de

obras, objeto deste estudo, foi a análise de conversas informais que ocorreram nas

proximidades e nos próprios canteiros de obras onde foi realizada a observação, além da

utilização de roteiros semiestruturados, anotações em caderno de campo e registro de imagens

com utilização de câmara digital.

Houve momentos em que algumas informações foram concebidas por meio de

conversas realizadas por telefone como no caso dos contatos realizados com prestadores de

serviços terceirizados, responsáveis pela retirada dos contêineres das obras.

Outra forma de coleta de dados utilizada, fora a análise documental por meio de

informações documentais obtidas através da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS),

documentos de registros do Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Pará

(SINDUSCON-PA), Plano Diretor de Belém e outros documentos que foram identificados no

processo da pesquisa como a Convenção Coletiva do Trabalho. Todos os documentos

utilizados foram associados com as informações obtidas por meio da observação participante

nos canteiros de obras pesquisados.

Segundo Farias Filho e Arruda Filho (2013), o uso da análise do discurso de

conteúdo em pesquisa tem como função original descrever e interpretar o conteúdo de uma

mensagem (emissor-receptor). Como exemplo, acompanharam-se profissionais com mais de

20 (vinte) anos de experiência profissional em obras e que já passaram por várias empresas,

que narram os fatos de sua vivência de obra como se estivesse narrando um filme da própria

vida, bem como aqueles que há menos de 06 (seis) meses receberam o diploma de engenheiro

e necessitam expor seu conhecimento técnico e científico no que diz respeito a obra, para

aqueles que os forneçam um minuto de atenção.

Segundo Farias Filho e Arruda Filho (2013, p. 66), o estudo de caso foi acusado

durante algum tempo, de não ter valor científico, por não atender às exigências mínimas para

planejamento de comparação e apresentar dificuldades lógicas no sentido de fornecer

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condições para formulação de proposição geral ou mais ampla. No entanto, o estudo de caso

envolve profundo e exaustivo estudo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o

seu amplo e detalhado conhecimento.

Com relação ao tipo de abordagem, segundo Dias (2000), as pesquisas são

subdivididas na literatura científica em dois tipos, quantitativos e qualitativos. Neste sentindo,

esta pesquisa se desenvolveu por meio de uma abordagem qualitativa, apresentando em seu

escopo, características essenciais capazes de identificar uma pesquisa em seu ambiente natural

como fonte direta de dados, através da análise do significado que as pessoas dão às coisas e à

sua vida como, preocupação do investigador ou até mesmo por meio do enfoque intuitivo

(NEVES, 1996).

A abordagem qualitativa foi utilizada para analisar a quantidade de resíduos retirada

do canteiro de obra que se encontrava na fase inicial, de andamento e final do processo de

construção. Além de verificar o volume de resíduos retirado das três fases de obra e o

investimento financeiro pago pela Construtora A à empresa responsável pela retirada desses

resíduos das obras pesquisadas no período de quatro meses.

A pesquisa qualitativa foi utilizada para coletar e analisar informações obtidas por

meio de entrevista ou conversas informais. Na abordagem qualitativa há a proximidade entre

o sujeito e objeto do conhecimento, requisito metodológico central da metodologia

qualitativa, que favorece o comprometimento subjetivo do pesquisador (MARTINS, 2004).

Na visão de Fraser e Gondim (2004), a entrevista na pesquisa qualitativa é realizada

como meio para se buscar conhecer o espaço pesquisado, privilegiar a fala dos atores sociais,

permite atingir um nível de compreensão da realidade humana que se torna acessível por meio

de discursos, sendo apropriada para investigações cujo objetivo é conhecer como as pessoas

percebem o mundo. Neste caso, o foco de investigação é o comportamento humano, ou seja, a

forma como as pessoas agem no cotidiano e não somente falam sobre ele, existem outras

técnicas, tais como, a observação participante e a observação sistemática que permitem

melhor atender a estes objetivos (FRASER; GONDIM, 2004).

Em geral, na pesquisa quantitativa ou experimental, a abordagem que se pretende dar

ao tema é definida no planejamento do roteiro da entrevista, determinando o número e o

conteúdo das perguntas. No entanto a abordagem qualitativa, o enfoque é mais vago além de

ser mais comum que ele se defina no próprio processo da entrevista. Ou seja, à medida que o

entrevistado vai expressando suas opiniões e significados, novos aspectos sobre o tema vão

emergindo e o entrevistador pode redefinir seu roteiro para obter informações que permitam

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ampliar sua compreensão do tema de acordo com as entrevistas. As entrevistas mais

comumente utilizadas nas pesquisas qualitativas são as semi-estruturadas e as não estruturadas

(FRASER; GONDIM, 2004).

A opção pela abordagem qualitativa se deu pela necessidade de se compreender os

narrativos presentes nas falas dos sujeitos que foram pesquisados. Uma vez que, a pesquisa

qualitativa pode ser caracterizada como uma tentativa de se explicar em profundidade o

significado e as características dos resultados das informações obtidas por entrevistas ou

questões abertas (OLIVEIRA, 2008, p. 46).

A pesquisa qualitativa parte também de uma visão em que há uma relação dinâmica

entre o mundo real e o pesquisador, entre o mundo objetivo e a subjetividade de quem observa

e que não pode ser traduzida em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de

significados são básicas nos processos da pesquisa qualitativa, sendo que este tipo de pesquisa

também é conhecido como pesquisa com análise intersubjetiva (FARIAS FILHO; ARRUDA

FILHO, 2013, p. 67).

A pesquisa qualitativa ainda torna-se mais difícil e ao mesmo tempo interessante,

pelo desafio de se interpretar a forma como o outro vive, e ver sua própria realidade, sem que

o pesquisador analise estas informações de forma pessoal, ou seja, sem julgar o outro de

acordo com suas crenças e seus próprios valores.

Com relação aos seus objetivos a pesquisa exploratória se fez presente por este

apresentar características de estudos que oferecem uma visão global do fato ou fenômeno

estudando. O mesmo ainda se constitui como um primeiro passo para a realização de uma

pesquisa mais aprofundada. Portanto, uma pesquisa exploratória requer um estudo posterior,

além do que, este tipo de estudo ainda proporciona um planejamento mais flexível

(OLIVEIRA, 2008, p. 44).

No decorrer do processo deste estudo, a pesquisa exploratória se fez presente, uma

vez que este tipo de pesquisa tem por objetivo proporcionar maior familiaridade com o

problema, com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses (FARIAS FILHO;

ARRUDA FILHO, 2013, p. 63).

A pesquisa exploratória relaciona-se ao presente estudo por este necessitar de

flexibilidade para se desenvolver, uma vez que a pesquisa ocorre no interior de um canteiro de

obra que fica suscetível a todo tipo de variáveis diariamente, uma vez que, a dinâmica de um

canteiro de obras é intensa, e por isso o pesquisador precisar contar com imprevistos por estar

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muito próximo ao seu objeto de pesquisa. E sem dúvida alguma, ao término dessa primeira

etapa de pesquisa uma série de outras possibilidades para novos estudos irão surgir.

Com relação à pesquisa, optou-se pela Observação Participante1 pelo contato direto,

frequente e prolongado do investigador, com os atores sociais, nos seus contextos culturais. A

pesquisa de campo se deu através das conversas informais realizadas no período de agosto a

novembro de 2013, com os engenheiros e estagiários de engenharia, almoxarifes,

encarregados de elétrica, segurança do trabalho entre outros como colaboradores externos e

prestadores de serviços, mas sempre no canteiro de obras ou nas proximidades da mesma. Os

encontros com os atores sociais foram sempre pela manhã, ao realizar o Diálogo Diário de

Segurança (DDS), quando era necessário se trocar alguma informação de trabalho, ou

simplesmente enquanto se aguardava algum cliente da Construtora A para visitar a obra com

intuito de visualizar o projeto adquirido.

A observação participante ocorreu como melhor alternativa de se realizar a pesquisa

de campo, devido o pesquisador estar envolvido diretamente com essa realidade de construção

civil desde o ano de 2006, quanto oferecia suporte para o setor administrativo da empresa em

que se deu a pesquisa de campo. Em seguida foi responsável pelo departamento de compras

ou suprimentos para o canteiro de obras e atualmente é responsável por todo setor comercial

da construtora pesquisada. Mesmo que essa atuação ocorra no campo de vendas, a relação

comercial com o canteiro de obras sempre se manteve interligado.

Importante observar que a pesquisa de campo fez com que o pesquisador passasse a

frequentar diariamente os canteiros de obras da construtora pesquisada. Essa realidade fez

com que os laços de amizade entre o pesquisador e objeto pesquisado pudessem se estreitar e

consequentemente, surgir a confiança de ambas as partes, pesquisador e objeto pesquisado

fizesse surgir naturalmente discussões sobre a realidade das obras, sua produção de resíduos,

1 A antropologia foi a primeira ciência humana a introduzir o pesquisador como parte integrante do universo

pesquisado. A partir do final do século XIX, o pesquisador posiciona-se como principal agente e instrumento

da coleta, dando origem ao que ficou conhecido como trabalho de campo. As pesquisas anteriores eram

desenvolvidas, a partir de inquéritos ou com questionários aplicados com o auxílio de tradutores. Utilizava-se

também a observação direta do comportamento dos indivíduos de maneira breve e superficial (SERVA; JAIME

JÚNIOR, 1995).

A observação participante refere-se, portanto, a situação de pesquisa onde observador e observado encontram-

se numa relação face a face, e onde o processo da coleta de dados se dá no próprio ambiente natural de vida dos

observados, que passam a ser vistos não mais como objetos de pesquisa, mas como sujeitos que interagem em

um dado projeto de estudos. A observação participante deve ser entendida como uma metodologia de pesquisa

que prevê a participação do observador/pesquisador no contexto a ser explorado, realizado pelo

estabelecimento de uma relação de aproximação entre o pesquisador e os sujeitos de sua pesquisa

(MALFITANO, 2011). A participação real do pesquisador nas operações regularmente desenvolvidas é um

atributo essencial, sem o que a observação participante perderia o seu sentido e, sobretudo, a sua legitimidade

científica.

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como os resíduos de obra poderia ser reaproveitados. Os próprios colaboradores das obras

ofereceram algumas sugestões para administração dos resíduos, como exemplo, reforma e

reparos na residência de funcionários com as sobras de cerâmica, ou madeira.

Segundo Silveira (2003), o ponto de partida do estudo etnográfico de observação

participante deve ser a escolha do local a ser estudado e se definir o grau de interação com o

objeto a ser estudado. Uma vez que, este tipo de pesquisa visa a descoberta de novos

entendimentos com relação a um determinado assunto. O local escolhido para se desenvolver

esta pesquisa foram os três canteiros de obra que se encontra em fases diferentes de

construção, de uma empresa do seguimento de construção civil classificada aqui como

Construtora A. Para Silveira (2003), o trabalho do observador já começa no momento em que

se faz a descrição do local, das pessoas, as ações, dos fatos, as formas de linguagem e

expressões que permitem visualizar a realidade em que se almeja desenvolver a pesquisa.

Assim, a observação participante requer tempo e envolvimento para que a descrição do

fenômeno represente os fatos e atitudes mais flexíveis de coleta e de entendimento da

realidade estudada, pois, esta não tem como pretensão a mudança desta realidade pesquisada.

Para Fraser e Gondim (2004), a observação participante parte da premissa de que a

apreensão de um contexto social específico só pode ser concretizada se o observador puder se

tornar um membro do grupo social investigado. Só então, poderá compreender a relação entre

o cotidiano e os significados atribuídos por este grupo.

A observação também pode ser sistemática, no entanto, o observador, antes da coleta

de dados, elabora um plano específico para a organização e registro das informações. Isto

implica estabelecer, antecipadamente, as categorias necessárias à análise da situação para se

observar passo a passo todo o processo da pesquisa (SILVEIRA, 2003).

Segunda Correia (2009), Malinowski foi pioneiro na utilização da observação

participante para coleta de dados, passando a ter maior projeção de seus estudos no pacífico

oeste. Porém, este método quase foi abandonado, durante algumas décadas em que a

supremacia do paradigma positivista veio pôr em causa a confiabilidade deste conhecimento.

Ainda segundo Correia (2009), com relação ao modelo há a observação, a

participação e a reflexão envolvendo-se em quatro fases ocorrendo pela observação inicial,

observação inicial com alguma participação, participação com alguma observação e

observação reflexiva. Neste discurso Correia (2009), discute a ideia de que independente do

tempo, os tipos de observação podem ser: observações descritivas, em que o observador vai

procurar ganhar uma “vista global” do que ali acontece; depois desta etapa são analisados os

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primeiros dados. Nas observações seletivas, as informações obtidas serão selecionadas,

conforme figura abaixo:

Fluxograma 01 - Variação da Observação Participante

Fonte: Elaboração própria do autor

Compreende-se que a observação participante faz com que, o observador seja um

objeto da investigação, abrindo-se possibilidades para que o investigador possa obter

informações ricas em detalhes, seja por meio da observação do espaço natural ou até mesmo

nos quais é possível se ter acesso principalmente no que diz respeito aos conceitos que são

usados no dia-a-dia e de forma livre.

De acordo com Correia (2009), o investigador está desde o inicio a ser observado,

portanto, a necessidade de construir uma base de confiança e empatia é indispensável nos

momentos de observação. Reconhecendo-se a importância em se ter disciplina durante a fase

de desenvolvimento da observação.

A observação direta intensiva é realizada através de duas técnicas: observação e

entrevistas. A observação é uma técnica empregada na obtenção de dados que utiliza os

sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. De um lado, possibilita meios

diretos e satisfatórios para estudar uma ampla variedade de fenômeno. Exige menos do

observador, permite a coleta de dados sobre um conjunto de atitudes comportamentais típicas,

depende menos da introspecção ou da reflexão (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 174). Por

outro lado, na observação direta intensiva, o observador tende a criar impressões favoráveis

ou desfavoráveis no observador. A ocorrência espontânea não pode ser prevista, impedindo o

observador a presenciar determinados fatos que podem ser importantes para pesquisa.

Imprevistos podem ocorrer, a duração dos acontecimentos é variável. Além do que, vários

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aspectos da vida cotidiana particular podem não ser acessíveis ao pesquisador (MARCONI;

LAKATOS, 2010, p. 175).

Segundo Marconi e Lakatos, (2010), na investigação científica são empregadas

várias modalidades de observação, conforme as figuras abaixo:

Fluxograma 02 - Variação das modalidades de observação

Fonte: Elaboração própria do autor

Baseado nas informações anteriores, a presente pesquisa caracteriza-se pela

observação assistemática, ou seja, espontânea, informal, ordinária, simples, livre, ocasional e

acidental, por meio da coleta e registros de fatos ocorridos na realidade. A observação é

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participante por ocorrer com a participação real do observador no grupo pesquisado. Ela

caracteriza-se por ser uma observação individual por realizar-se através de um pesquisador. E

por fim, a mesma também ocorreu no ambiente real, ou seja, o canteiro de obras da

Construtora A.

Pelo fato da pesquisa partir de um indivíduo, ela precisou se manter atenta no

momento de analisar os resultados da pesquisa de campo. Mesmo sabendo que a

personalidade do pesquisador pudesse fazer alguma inferência com relação ao observado.

Entretanto, o pesquisador pôde intensificar a objetividade das suas informações ao distinguir

suas observações com relação aos dados de eventos reais dos que foram interpretados.

A pesquisa de campo ocorreu no canteiro de três obras em diferentes estágios da

Construtora A. No início pensou-se em pesquisar três empresas de construção civil com

objetivo de conhecer a forma pelo qual são geridos os seus resíduos. No entanto, quando

deparado com a realidade de já estar inserido em uma empresa de construção civil, onde

pudesse se ter por meio da observação participante informações que não seria possível coletar

em relatórios, documentos ou questionário, a pesquisa caminhou para a investigação de uma

empresa de construção civil com foco na administração e gestão dos resíduos produzidos em

três fases diferentes de construção. A Obra A, que esta na fase inicial, a Obra B que esta na

superestrutura, ou seja, cinquenta por cento da obra concluída e Obra C que está na fase de

conclusão.

Após concluir que a pesquisa se daria em torno da gestão dos resíduos produzidos no

canteiro de obras, iniciou-se a fase de observação geral e coleta de dados. Nesse momento, foi

possível retratar o início de um processo de construção e consequentemente sua fase inicial de

produção de resíduos. Assim como, também se fez o registro de um canteiro de obras com

uma superestrutura e que já produz um tipo de resíduos diferente dos observados na Obra A.

E por fim, a terceira obra caracterizada pela fase final e entrega do novo empreendimento.

Neste primeiro momento essa observação geral se deu sem foco definido ou fixo.

Tinha-se como objetivo visualizar e registrar por meio de imagens o que é um canteiro de

obras e como seus colaboradores se relacionam a produção e gestão de resíduos. As imagens

foram feitas no período de Julho a novembro de 2013. No segundo momento deu-se inicio a

observação participante, mais próximo do trabalho no dia-a-dia do canteiro de obras e por

fim, as entrevistas informais nos três canteiros de obras pesquisados.

A observação participante ocorreu quando a pesquisa se desenvolveu a partir da

interação entre pesquisadores e membros das situações investigadas, com os pesquisadores

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assumindo função no grupo pesquisado. O objetivo é buscar informações mais profundas do

grupo. É uma pesquisa em que se registram, simultaneamente, os fatos e a observação

(FARIAS FILHO; ARRUDA FILHO, 2013).

Como proposta de análise das informações obtidas por meio das entrevistas

semiestruturas e cruzamentos das mesmas com as fontes documentais utilizaram-se o uso da

análise de discurso, segundo Farias Filho e Arruda Filho (2013), é um método que pode ser

utilizado para análises qualitativas e quantitativas. Tendo como função original descrever e

interpretar o conteúdo de uma mensagem.

Os resultados da analise do discurso foram cruzados com o material coletado no

levantamento empírico. Obteve-se uma serie de material nos registro de obra tais como

relação de saída de contêiner da obra, nota de pagamento por retirada de contêiner, valor pago

mensalmente a empresa que recolhe os entulhos de obra mensalmente com o setor de contas à

pagar da Construtora pesquisada, entre outros documentos, sempre com intuito de oferecer

maior credibilidade às informações coletadas.

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3 GOVERNANÇA CORPORATIVA E SUSTENTABILIDADE

A Governança e a Sustentabilidade Corporativa são termos que ganham cada vez

mais notoriedade, num mundo em que as expectativas da sociedade com relação a adoção de

boas práticas pelas empresas são crescentes e podem contribuir com a redução de custos no

processo de produção, por se apropriarem de tecnologia limpa, otimizando o processo

produtivo além de contribuir com um posicionamento competitivo de mercado, e atender as

exigências legais (ZAMCOPÉ; ENSSLIN; ENSSLIN, 2012).

De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC),

governança corporativa é o sistema pelo qual, as organizações são dirigidas, monitoradas e

incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários, conselho de administração,

diretoria e órgãos de controle. As boas práticas de governança corporativa convertem

princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e

aperfeiçoar o valor da organização, facilitando seu acesso à recursos e contribuindo para sua

longevidade (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2009).

Segundo Bergamini Junior (2005), a governança é a expressão utilizada, para

denominar os assuntos relativos ao poder de controle e direção de uma empresa, ou mesmo da

capacidade governativa no contexto internacional ou de uma nação. Na teoria econômica

tradicional, a GC avalia os instrumentos para superar o “conflito de agência”, presente a partir

da separação entre a propriedade e a administração da empresa. Essa situação demanda a

criação de mecanismos eficientes, representados por sistemas de monitoramento e de

incentivos, a fim de assegurar o alinhamento da atuação do administrador aos interesses do

proprietário.

Lamera (2001) define governança corporativa, nos meios acadêmicos, como o

conjunto de mecanismos econômicos e legais que são alterados por processos políticos,

objetivando melhorar a proteção dos direitos dos acionistas e credores em uma sociedade.

Deixando de ser apenas um sistema que permite aos acionistas controladores a administração

estratégica da companhia e o controle dos executivos da empresa, e passa a ser, em sentido

amplo, a prática da administração das relações entre os acionistas, majoritários e minoritários,

credores, executivos ou administradores, e demais interessados (stakeholders).

Os princípios básicos de Governança Corporativa estão diretamente associados à

transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa (INSTITUTO

BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2009).

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A transparência, por disponibilizar para as partes interessadas as informações que

sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos.

Não devendo restringir-se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando também os

demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que conduzem à criação

de valor.

Outro pronto relacionado diretamente aos princípios básicos de Governança

Corporativa é a equidade, caracterizada pelo tratamento justo de todos os sócios e demais

partes interessadas (stakeholders). A prestação de contas (accountability) compõe o terceiro

item dos princípios básicos de Governança Corporativa, em que os mesmos devem prestar

contas de sua atuação, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões.

No Brasil, as principais iniciativas dirigidas a GC são os incentivos oferecidos pelo

IBGC; o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem programas

que valorizam a adoção de boas práticas de GC, como requisito preferencial para a concessão

de créditos; os incentivos criados pela Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) que criou

Novo Mercado 2 e os Níveis Diferenciados de GC (Nível 1 e Nível 2), que são segmentos de

listagem voltados às companhias que adotam boas práticas de GC (LÁZARO; POLO, 2012).

Associado à este discurso da Governança Corporativa que tem como base a adoção

de boas praticas pela empresa, visando converter princípios em recomendações positivas,

alinhando seus interesses em prol do aperfeiçoamento da organização, este é o discurso que

envolve as bases do desenvolvimento ambiental.

O desenvolvimento ambiental passou a ser legitimado e difundido amplamente com

base na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,

celebrado no Rio de Janeiro, em 1992. Mas a consciência ambiental surgiu nos anos 60 com a

Primavera Silenciosa de Rachel Carson, e se expandiu nos anos 70, depois da Conferencia das

Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, celebrada em Estocolmo, em 1972.

Passando a fazer com que a construção de uma racionalidade ambiental implica-se na

formação de um novo saber e a integração interdisciplinar do conhecimento, para explicar o

comportamento de sistemas socioambientais complexos. Fazendo com que, nos últimos anos

a noção de desenvolvimento sustentável, procurasse vincular estreitamente a temática do

crescimento econômico com o meio ambiente (LEFF, 2001, p. 16).

Compreende-se que no decorrer das discussões que envolvem a preocupação

ambiental, juntamente com a intensificação das problemáticas a ela associada, surgem

mudanças na postura das organizações. Onde as mesmas tendem à emergir com foco na

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incorporação e gestão da extensão ambiental em seus negócios. Entendendo-se que

historicamente as organizações são responsabilizadas pela degradação ambiental,

necessitando transformar-se pela inserção da consciência ambiental na cultura organizacional

que passa a reconhecer a dimensão ambiental como variável crítica de seu êxito (JABBOUR;

ALMADA SANTOS, 2007, p. 285).

Neste contexto, a gestão ambiental empresarial, envolve as atividades de

planejamento e organização do tratamento da variável ambiental da empresa, com objetivo de

alcançar metas ambientais específicas, demandando o engajamento das diversas áreas de

gestão para sua administração ótima, no entanto, sabe-se que não há homogeneidade no

tratamento da dimensão ambiental pelas empresas (JABBOUR; ALMADA SANTOS, 2007).

Constata-se nos discursos dos diretores e acionistas da organização que as questões

ambientais são tratadas na empresa como geradoras de custo operacional extra, o que

acompanha a postura reativa da empresa ante às problemáticas ambientais. Ou então, quando

denominada de preventiva, a questão ambiental torna-se uma variável relevante para o

sucesso empresarial, mas não é tida como determinante desse desempenho. Por fim, alguns

especialistas discorrem sobre a gestão ambiental estratégica, em que a mesma é tomada como

variável crítica do sucesso empresarial e como determinante da consecução dos planos

empresariais.

Segundo os autores Jabbour e Almada Santos (2007), a gestão ambiental da empresa

é um processo complexo e multidisciplinar que demanda o engajamento das diversas áreas de

gestão na prospecção das melhores alternativas ambientais concernentes ao desenvolvimento

de produtos sustentáveis. Compreende-se que o processo de desenvolvimento de produtos

sustentáveis devem se fazer presentes nas tomadas de decisões durante o seu

desenvolvimento, para que as melhorias ambientais significativas possam ser alcançadas

considerando-se as propriedades ambientais como, um elemento a ser otimizado, associado a

funcionalidade, ergonomia e custo de produção de um dado projeto.

Como suporte para elaboração de produtos sustentáveis, os mesmos devem estar

relacionados diretamente à gestão de pessoas, em que deve ser objetivada a utilização das

mesmas para o alcance dos objetivos empresariais. Assim como, também as dimensões

competitivas de recursos humanos, a saber, cultura organizacional, aprendizagem

organizacional. De maneira mais explícita as contribuições de recursos humanos para o

desenvolvimento de produtos sustentáveis passam a envolver a inserção da administração de

recursos humanos na formulação da política ambiental da organização, treinamento

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ambiental, avaliação de desempenho e recompensas (JABBOUR; ALMADA SANTOS,

2007).

Dentro do conjunto dos demais interessados, pode-se incluir os agentes que se

encontram afetados pelas decisões da empresa e, esse universo abrange fornecedores,

consumidores, concorrentes, vizinhos e mesmo os cidadãos e os governos. Isso envolve a

empresa em um universo onde se estabelecem relações das mais tênues às mais fortes

(LAMERA, 2001 p. 45).

O conjunto de interesses e a tomada de decisões podem gerar conflitos, associados a

relações entre funcionários e administradores, acionistas controladores e versam sobre

remuneração, prêmios e vantagens. Ou conflitos que emergem da relação entre a empresa e

seus fornecedores e clientes, envolvendo as negociações de prazos, quantidades, preços,

práticas comerciais, em que estas situações devem ser observadas por uma boa governança

corporativa (LAMERA, 2001 p. 45).

Neste sentindo, os conflitos repercutem nos diversos setores da companhia, e o

fórum onde se encontram em discussão na empresa é o conselho de administração que tem

por missão proteger o patrimônio e maximizar o retorno do investimento dos acionistas

agregando o valor ao empreendimento, devendo zelar pela observância dos valores. Dessa

forma, o conselho atua como interface entre os acionistas, os administradores, os demais

interessados (stakeholders), os conselhos fiscais os credores, os auditores e a sociedade de

uma forma mais ampla. Logo, ao relacionamento estabelecido entre estes agentes e as práticas

que permitem a condução da corporação ao encontro de seus objetivos dá-se o nome de

governança corporativa (LAMERA, 2001 p. 48).

Assim, como a definição de governança corporativa a sustentabilidade corporativa

tem como objetivo o atendimento das necessidades de grupos e interesses da empresa

(stakeholders). Em sua definição mais ampla, incluem-se as responsabilidades da empresa que

possam demonstrar a inclusão das preocupações socais e ambientais nas operações de

negócios e na interação com os grupos de interesses. No qual, a evolução da governança está

sujeita a uma série de ponderações como a superação de padrões de comportamento

oportunistas por padrões responsáveis, o desenvolvimento de métodos capazes de conciliar os

anseios diversos da sociedade civil e os imperativos da sociedade empresarial (ALVES,

2001).

Segundo Alves (2001), o processo de evolução da governança corporativa é possível

de ser vislumbrada em um futuro, em que as empresas apresentem condições de gerar riqueza

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e valor para sociedade. Buscando o equilíbrio entre o que é viável em termos econômicos,

ecologicamente sustentável e socialmente correto. Tomando como base a sustentabilidade na

organização que consiste em auxiliar na permanência da empresa no mercado e o crescimento

da mesma a partir de sua viabilidade econômica e a consistência harmoniosa com o ambiente

e a sociedade (LAZARO; POLO, 2012).

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4 INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL, SUAS CONTRIBUIÇÕES E SEUS

IMPACTOS NA SOCIEDADE

Neste capitulo será apresentado algumas peculiaridades no que se refere à indústria

de construção civil, Resaltando sua posição imprescindível para o desenvolvimento do país,

uma vez que esta atividade oferece intraestrutura para que a economia do país possa se

desenvolver. No entanto, sua atividade também passa a ser responsável por inúmeros

prejuízos causados ao meio ambiente.

Nos últimos anos, a indústria de construção civil tem seguido uma trajetória de

crescimento em termos de produção, na maior parte do Brasil. Embora os fatores que podem

contribuir para a explicação deste crescimento possam ser intuitivamente conhecidos, não há

uma vasta literatura com modelos economicamente formais sobre o tema (FOCHEZATTO;

GHINIS, 2011), ao contrário, este tipo de abordagem parece ser ainda incipiente na literatura.

Entretanto, o setor é contabilizado e é responsável por uma parcela significativa da formação

bruta de capital fixo.

O estudo realizado em parceria pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção

(CBIC), junto a Fundação Getúlio Vargas, apresenta dados para avaliar a produtividade

setorial nos anos recentes, tendo como referência a Pesquisa Anual da Indústria da Construção

(Paic-IBGE), as contas nacionais brasileiras e uma pesquisa de opinião junto às empresas.

Segundo a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o crescimento da Construção Civil

brasileira tem se refletido em avanços qualitativos importantes, com uma maior participação

de empresas formais no Produto Interno Bruto (PIB) setorial e com o avanço do emprego com

carteira assinada (CAMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL,

2013). Vale ressaltar, que no período de 2003, apenas 19,5% dos trabalhadores da construção

possuíam vinculo formal de emprego, com registro em carteira de trabalho – em 2009, esse

indicador chegou a 30,1%. Nesse período, o contingente e trabalhadores com carteira assinada

dobrou (CAMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL, 2013).

Segundo a pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) (INSTITUTO

BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTIC, 2011) responsável por levantar

informações sobre o segmento empresarial da indústria da construção em todo o Território

Nacional, em 2011, as 92,7 mil empresas do setor realizaram incorporações, obras e serviços

da construção, assinalando um aumento de 4,5% em relação ao ano anterior. Deste montante,

R$ 12,4 bilhões foram incorporações e R$ 274,2 bilhões foram obras e serviços da

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construção, dos quais R$ 104,9 bilhões são obras contratadas por entidades públicas,

representando 38,3% do total das construções, participação inferior à de 2010 (41,5%) e à de

2007 (41,2%). A receita operacional líquida foi de R$ 268,5 bilhões, registrando um

incremento real de 3,2% no confronto com o ano de 2010.

A PAIC (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA, 2011),

destaca ainda que as empresas do setor da construção empregaram cerca de 2,7 milhões de

pessoas, número superior aos 2,5 milhões de pessoas ocupadas em 2010, e tiveram gastos

com pessoal ocupado de R$ 74,7 bilhões, que representaram 31,1% do total dos custos e

despesas da construção em 2011 (R$ 240,3 bilhões). Os gastos com salários, retiradas e outras

remunerações atingiram R$ 49,9 bilhões, o que significou um salário médio mensal de R$ 1

437, assinalando um aumento real de 3,8% em relação à média salarial de 2010. Em termos de

salários mínimos, o valor médio pago em 2011 foi de 2,6 salários mínimos mensais, resultado

igual ao de 2010.

A política administrativa do município a lei Nº 8.655, de 30 de julho de 2008, dispõe

sobre o Plano Diretor do Município de Belém, e dá outras providência o Art. 1º que se refere

a política urbana do Município de Belém obedecendo aos preceitos da Constituição Federal,

da Constituição Estadual e da Lei Orgânica do Município de Belém e, em especial, da Lei

Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto da Cidade), objetivando o

desenvolvimento da cidade, com justiça social, melhoria das condições de vida de seus

habitantes e usuários, e desenvolvimento das atividades econômicas (Plano Diretor, 2008

p.1).

Na visão de Delongui et al (2011), não há como haver desenvolvimento em um país

sem que seus cidadãos tenham acesso à habitação, estradas seguras, saneamento básico,

dentre tantos outros itens que sustentam a infraestrutura necessária para uma economia elevar-

se, em consequência há o incentivo a políticas governamentais que induzem o

desenvolvimento da construção civil. Partindo deste principio, a indústria de construção civil

está relacionada diretamente a política administrativa do município de Belém uma vez que, a

indústria de construção oferece subsídios para que se obtenha sucesso na execução do Plano

Diretor da cidade.

A Seção VI da Política de Habitação Art. 26, a Política Municipal de Habitação visa

a universalização do acesso à moradia com condições adequadas de habitabilidade,

assegurando a transparência das ações relacionadas à gestão habitacional, tendo como um dos

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objetivos reduzir o déficit habitacional do município, fazendo com que a indústria de

construção se faça presente (Lei Nº 8.655, de 30 de julho de 2008, p. 17).

O Art. 27 trata das diretrizes para a Política Municipal de Habitação criar condições

para participação da iniciativa privada na produção de habitação de interesse social, por meio

de incentivos normativos e mediante projetos integrados. Assim como também, incentivar a

pesquisa que promova a utilização de tecnologias construtivas e de formas alternativas de

produção habitacional, visando o baixo custo e a racionalização da produção de habitação de

interesse social (Lei Nº 8.655, de 30 de julho de 2008, p. 19).

Segundo Teixeira e Carvalho (2005), a indústria de construção civil no Brasil

caracteriza-se como setor chave para o desenvolvimento da economia brasileira. Uma vez que

este setor é o responsável por produzir infraestrutura econômica por meio da construção de

portos, ferrovias, rodovias, sistemas de irrigação, energia e comunicação. Além do que,

apresenta-se como elemento favorável no que diz respeito à diminuição do número de

desempregos devido a sua capacidade de gerar vagas diretas e indiretas no mercado de

trabalho (COLOMBO; BAZZO, 2001). A avaliação negativa está relacionada ao fato de sua

construção e manutenção consumirem uma parcela relevante de recursos materiais e

energéticos, além de gerar quantidades consideráveis de resíduos (LICCO, 2006).

Embora a indústria de construção seja considerada elemento preponderante para o

desenvolvimento do país, Souza (2005), afirma que além do expressivo consumo de

materiais, a indústria de construção também é tida como grande geradora de resíduos.

Embora, a construção informal seja a maior produtora de entulhos. O mesmo explica que é

fácil de encontrar nas proximidades de um canteiro de obra, independente de ser uma nova

construção ou reforma, uma caçamba responsável pela retirada de entulhos. Daí a necessidade

de que as informações sobre o consumo e perdas ou desperdícios de materiais devem ser

fundamentadas em procedimentos conhecidos, de levantamento de processamento de dados

com a finalidade de serem utilizados na tomada de decisão (SOUZA, 2005 p. 19).

Segundo Souza (2005 p. 37), o entulho produzido nos canteiros de obra representa as

perdas mais comuns. É o entulho colocado em caçambas, visto na TV e nas fotos de revistas e

jornais, quando se critica a construção como geradora de resíduos; são os restos de materiais

indevidamente utilizados que geram a sensação de sujeira num canteiro de obras, causando,

mesmo susceptibilidade maior à ocorrência de acidentes. Portanto, é importante entender a

sua ocorrência para se propor eventuais ações visando combater sua geração.

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O entulho é também denominado de “lixo que sai” da obra. Pode ser gerado em

várias fases da obra e serviços e é relativo a diferentes materiais como, por exemplo, fruto da

escavação que tem como resultado, barro, argila; ou na fase de estrutura em que se concentra

alvenaria, sobra de madeiras para escoramento, sobras de ferragem. E fase final, onde se

concentra o acabamento e pequenas modificações, tendo como consequência, resíduos na

forma de tinta, solvente, pedaços de cerâmica entre outros, como sacos de cimentos, cal,

gesso, argamassa vazando do saco, sacos de cimentos empedrados, pontas de aço não

aproveitáveis.

A qualificação da mão de obra utilizada no canteiro de obra, aliado ao

desconhecimento da correta utilização de alguns materiais e a técnicas construtivas

ultrapassadas, estimulam o consumo descomedido de matéria prima. Isto acarreta o aumento

na geração de resíduos sólidos decorrentes de sobras no processo construtivo, que em sua

maioria, são dispostos em locais irregulares, geralmente caracterizados como zonas de risco

ambiental (DELONGUI et al, 2011).

Para Nunesmaia (2002), a gestão de resíduos pode ser retratada de forma bem

contraditória no Brasil. De um lado, com anseios de uma gestão eficiente e bem direcionada,

por outro lado, com limitações elementares em seus serviços de limpeza urbana. Na verdade,

essa realidade, segundo Nunesmaia (2002), está associada às diferenças socioeconômicas

encontradas entre distintas regiões do Brasil e entre diversos municípios do estado, mas pode

tornar-se diferente por meio de propostas inovadoras e da realização de parcerias entre o setor

público e o privado.

Percebe-se no cotidiano das metrópoles brasileiras, que os problemas ambientais

estão cada vez mais graves, em decorrência das dificuldades na gestão dos resíduos e da

interferência crescente do despejo inadequado dos mesmos em áreas potencialmente

degradáveis em termos ambientais. Tais resíduos estão associados ao processo de construção,

operação e demolição. Além de se apresentar como grande transformadora de matéria prima e

consumidora de energia que em sua maioria demanda de recursos naturais não renováveis

(LICCO, 2006).

Sabado e Farias Filho (2011), retratam a indústria de construção civil como um setor

provocador de muitos danos ao meio ambiente devido a diversos fatores, como a geração de

grande volume de resíduos e entulhos ocasionados pelo canteiro de obras, extração mineral de

produtos como areia, pedra, seixo, brita, madeira. De tal modo, um dos grandes desafios deste

segmento econômico será desenvolver ações ecoeficientes que minimizem os impactos

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provocados por sua atividade. Neste sentido, acredita-se que os estudos sobre a

sustentabilidade no canteiro de obras poderá diminuir o descarte de materiais em outras áreas

das cidades.

Baseando-se na fala dos entrevistados na pesquisa de campo constata-se que para se

iniciar um trabalho de gestão dos resíduos produzidos no canteiro de obra é necessário se criar

uma comissão responsável por desenvolver um projeto de gestão desses resíduos nos próprios

canteiros de obra. No entanto, a comissão organizadora do projeto deve ser composta pelo

almoxarife de cada obra, por esses serem responsáveis pela gestão dos materiais e retiradas de

resíduos da obra, junto com seus respectivos engenheiros. De início já se tem como propósito

solucionar a falta de comunicação entre as obras. Na pesquisa foi possível identificar que cada

obra gere o seu resíduo de forma independente, insuficiente e paliativo.

A implantação de um sistema ecoeficiente de gestão dos resíduos gerados nos

canteiros de obra ainda teria como benefício para empresa a possibilidade de redução de

custos extras, uma vez que, na gestão consciente dos resíduos seria possível identificar com

mais precisão onde estão ocorrendo os desperdícios, qual matéria prima merece mais atenção

na hora de ser utilizar, o que pode ser reutilizado, ou retornar a condição de matéria-prima,

quais resíduos podem ser direcionados para reciclagem ou doação.

Strobino, Teixeira e Nakatani (2009), apresentam como sugestão para destinação

desses resíduos a venda do material possível, para empresas interessadas e atuantes no setor

de reciclagem. Produtos que em sua maioria são descartados em caçambas de entulho podem

passar a ser vistos como pequena fonte de retorno financeiro, até mesmo para funcionários da

construtora.

Com relação ao processo de inovação nas edificações, os autores Colombo e Bazzo

(2001) afirmam que no Brasil, como em outros países, o subsetor de edificações,

frequentemente é apresentado como atrasado tecnologicamente com grande número de

desperdícios de materiais e mão-de-obra. No entanto, ao analisar suas características mais

detidamente, verifica-se que, embora lentas, as inovações estão presentes e correspondem a

formalizações teóricas genéricas destes processos de modernização.

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5 A POLÍTICA AMBIENTAL E A CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS

5.1 A POLÍTICA AMBIENTAL

Este espaço tem como proposta contribuir com algumas pontuações no que se refere

as políticas públicas, especificamente a política ambiental brasileira e sua relação com a

indústria de construção civil. Neste contexto, apresenta-se a classificação dos resíduos de

acordo com o CONAMA e ABNT, uma vez que, essa classificação, inserida no processo de

gestão dos resíduos da indústria de construção, poderá contribuir no atendimento das políticas

ambientais. Além de promover o atendimento a questão legal, poderá contribuir para que a

indústria venha a manter uma relação harmoniosa com o meio ambiente.

A velocidade em que surgem novas tecnologias, novos conceitos e novas

descobertas científicas em nossa atualidade, em muitos casos confronta a capacidade humana

de acompanhamento e adaptação, sendo que tais transformações abalam conceitos outrora

tidos como referência, costumes e paradigmas. O mesmo vem acontecendo com as

preocupações da sociedade em relação ao meio ambiente, o que parece indicar que a busca

pela manutenção da viabilidade biológica do planeta deve partir inicialmente da mudança na

postura política, sobretudo dos países industrializados e em desenvolvimento.

Essa realidade atual faz com que as pessoas passem a se confrontar com situações

que necessitam de respostas cada vez mais rápidas, no entanto, principalmente quando se

refere ao meio ambiente e a forma pela qual são geridos os seus resíduos, o posicionamento

do indivíduo se coloca de forma contraditória. Em decorrência de processos políticos ou por

fatores econômicos, onde se acredita que a melhoria na gestão de resíduos poderia esbarrar

em novos custos. E em uma sociedade capitalista na qual o processo produtivo privilegia o

ponto de vista econômico, a questão ambiental termina por não ter a atenção que merece.

Com o aumento cada vez mais rápido da produção de resíduos, surge como destino

dos mesmos os lixões fora das cidades, entretanto, esses lixões passaram a não suportar a

crescente quantidade de resíduos produzidos, sobretudo pelo processo de crescimento urbano.

Na década de 60 e 70 começam a surgir legislações federais sobre aterros de resíduos em

diferentes países. Nesse momento, inicia-se o descarte dos resíduos, antes dispersos em

pequenos lixões, para grandes aterros. Na década de 70, estabeleceu-se a hierarquia do evitar,

reduzir e reciclar, o que influenciou fortemente a legislação sobre resíduos na década de 80.

(STRAUCH E ALBUQUERQUE, 2008).

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Segundo Strauch e Albuquerque (2008, p. 37), hoje em dia, o fluxo de materiais da

economia ainda segue um caminho linear em que se recorre à extração da natureza para a

produção de um bem e o seu uso para que em seguida ocorra o seu descarte. Como os

recursos naturais e o espaço para depositar resíduos são limitados é necessário abandonar o

caminho linear e buscar um caminho circular dos materiais, no qual a extração de materiais

virgens do ambiente é minimizada e o descarte de resíduos também.

Segundo Schenkel (2008, p. 85), as coisas nunca foram fáceis para política

ambiental. Na Alemanha foram criados, na década de 1970, três pressupostos para uma

política ambiental bem-sucedida. Primeiramente, era necessário se ter conhecimento dos

riscos ambientais; Em seguida o governo federal e a indústria passaram a reconhecer e apoiar

os grupos ecologistas e iniciativas dos cidadãos; E por fim, elaboraram-se os valores que

orientam o posicionamento ecológico. A partir de seus valores as soluções encontradas com

intuito de respeitar o meio ambiente na Alemanha parecem ser muito atraente, e mesmo

assim, sujeita a uma mudança constante2.

Em 1972, foi promulgada na Europa a primeira lei federal referente a resíduos, esta

lei determinava, entre outras coisas, as competências para a coleta, o transporte e a

autorização da instalação de usinas, bem como o planejamento da gestão de resíduos

(SCHENKEL, 2008, p. 95).

Na visão de Yuhong Cen (2008, p. 107), o principal desenvolvimento de um conceito

renovado de gestão de resíduos surgiu a partir da década de 80, na sequência da ECO 92 no

Rio de Janeiro, após a qual a ideia de desenvolvimento sustentável passou a ser associada à

gestão de resíduos. A gestão de resíduos passa por uma fase de transição, tornando-se um

marco mais amplo de gestão integrada de resíduos, que incluiria uma gama de diferentes

opções de projetos e regiões do país.

A necessidade de gerir seus resíduos industriais de forma eficiente passa a se

intensificar em todo mundo. Na América do Norte e Europa, a reciclagem é vista pela

iniciativa privada como um mercado altamente rentável, onde suas empresas investem em

pesquisa e tecnologia, aumentando a qualidade do produto reciclado e eficiência do sistema

produtivo (MENEZES; NEVES; FERREIRA, 2002). Segundo Menezes, Neves e Ferreira

(2002), países de Primeiro Mundo, utilizam seus resíduos industriais como materiais

alternativos, motivados pelo esgotamento das reservas de matérias-primas confiáveis.

2 De acordo com Bursztyn (1995), o mercado capitalista fez com que a economia se desenvolvesse por uma linha

de raciocínio contraditória à ecologia, tendo por consequência a constituição de políticas públicas voltadas a

garantir a qualidade do ambiente. Invariavelmente, estas políticas passaram a evoluir a medida que novos

instrumentos econômicos e jurídicos econômicos são incorporados ao processo de decisão.

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Para Côrtes et al (2011), no Brasil, a Indústria da Construção Civil, apresenta um

quadro de atraso quanto à responsabilidade socioambiental, que se revela, por exemplo, nos

investimentos pouco expressivos na formação e qualificação dos profissionais e na destinação

inadequada dos resíduos sólidos. Entretanto, iniciativas mais recentes que começam a surtir,

como as determinações do Ministério do Meio Ambiente: as Resoluções do Conselho

Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, 2002 (Resolução CONAMA N° 307, de 05 de

julho de 2002).

No Brasil o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) é o órgão consultivo

e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). O CONAMA foi

instituído pela Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,

regulamentada pelo Decreto 99.274/90. É composto por Plenário, Circular Projetos

Ambientais (CIPAM), Grupos Assessores, Câmaras Técnicas e Grupos de Trabalho. O

Conselho é presidido pelo Ministro do Meio Ambiente e sua Secretaria Executiva é exercida

pelo Secretário-Executivo do MMA (BRASIL, 2013).

O Conselho é um colegiado representativo de cinco setores, a saber: órgãos federais,

estaduais e municipais, setor empresarial e sociedade civil. Caracteriza os resíduos da

indústria de construção civil como sendo aqueles provenientes de construções, reformas,

reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da

escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas,

metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas,

pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados

de entulhos de obras, caliça ou metralha (Resolução CONAMA N° 307, de 05 de julho de

2002).

O CONAMA identifica os geradores de resíduos como pessoas físicas ou jurídicas

públicas ou privadas, responsáveis por atividades ou empreendimentos que gerem os resíduos

definidos nesta Resolução. Com relação aos seus transportadores refere-se aos mesmos como

pessoas físicas ou jurídicas, encarregadas da coleta e do transporte dos resíduos entre as fontes

geradoras e as áreas de destinação (Resolução CONAMA N° 307, de 05 de julho de 2002).

No que diz respeito a agregado reciclado: é o material granular proveniente do

beneficiamento de resíduos de construção que apresentem características técnicas para a

aplicação em obras de edificação, de infraestrutura, em aterros sanitários ou outras obras de

engenharia. O gerenciamento de resíduos de gestão que visa reduzir, reutilizar ou reciclar

resíduos, incluindo planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos e recursos para

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desenvolver e implementar as ações necessárias ao cumprimento das etapas previstas em

programas e planos (Resolução CONAMA N° 307, de 05 de julho de 2002).

No Art. 3° do CONAMA os resíduos da construção civil deverão ser classificados,

para efeito desta Resolução, da seguinte forma:

I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:

a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras

de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;

b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes

cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;

c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto

(blocos, tubos, meio fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;

II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como:

plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros;

III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias

ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação,

tais como os produtos oriundos do gesso;

IV - Classe D: são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais

como, tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à

saúde oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas,

instalações industriais e outros bem como telhas e demais objetos e materiais que

contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde. (Resolução CONAMA N°

307, de 05 de julho de 2002).

Seguindo as diretrizes do CONAMA esta Lei nº 12.305/10, que institui a Política

Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é bastante atual e contém instrumentos importantes

para permitir o avanço necessário ao país no enfrentamento dos principais problemas

ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos.

A PNRS caracteriza resíduos sólidos como todo material, substância, objeto ou bem

descartado resultante de atividades humanas em sociedade, cuja destinação final se procede,

se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólidos ou semissólido, bem

como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu

lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções

técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (Lei nº

12.305, de 2 de agosto de 2010, p. 11 ITEM XVI).

Assim como, define resíduos da construção civil os gerados nas construções,

reformas, reparos e demolições de obra de construção civil incluída os resultantes da

preparação e escavação de terrenos para obras civis (Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, p.

17 Art. 13 ITEM 1 h).

O plano nacional de resíduos sólidos sob a coordenação do Ministério do Meio

ambiente prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a

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prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o

aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor

econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada

dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado) (Lei nº 12.305, de 2 de agosto

de 2010).

Institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: dos fabricantes,

importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de serviços de manejo dos

resíduos sólidos urbanos na logística reversa dos resíduos e embalagens pós-consumo. Além

de criar metas importantes que irão contribuir para a eliminação dos lixões e institui

instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional, intermunicipal e

metropolitano e municipal; além de impor que os particulares elaborem seus planos de

gerenciamento de resíduos sólidos (Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010).

A Lei N° 12.305, de agosto de 2010 instituiu a Política Nacional de Resíduos

Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as

diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo os

perigosos às responsabilidades dos geradores e do poder publico e aos instrumentos

econômicos aplicáveis (Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010).

Das disposições gerais dos planos de resíduos sólidos estão: I – o Plano Nacional de

Resíduos Sólidos; II – os planos estaduais de resíduos sólidos; III – os planos microrregionais

de resíduos sólidos e os planos de resíduos sólidos de regiões metropolitanas ou aglomerações

urbanas; IV – os planos intermunicipais de resíduos sólidos; V – os planos municipais de

gestão integrada de resíduos sólidos; VI – os planos de gerenciamento de resíduos sólidos.

Onde é assegurada ampla publicidade ao conteúdo dos planos de resíduos sólidos, bem como

controle social em sua formulação, implementação e operacionalização, observado o disposto

na Lei nº 10.650, de 16 de abril de 2003, e no art. 47 da Lei nº 11.445, de 2007 (Lei nº 12.305,

de 2 de agosto de 2010).

Também coloca o Brasil em patamar de igualdade com os principais países

desenvolvidos no que concerne ao marco legal e inova com a inclusão de catadores de

materiais recicláveis e reutilizáveis, tanto na logística reversa quando na coleta seletiva. Além

disso, os instrumentos da PNRS ajudarão o Brasil a atingir uma das metas do Plano Nacional

sobre Mudança do Clima, que é de alcançar o índice de reciclagem de resíduos de 20% em

2015 (Resolução CONAMA N° 307, de 05 de julho de 2002).

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Para a Política Nacional de Resíduos Sólidos da União Europeia, a mesma traz como

primeira prioridade, evitar e reduzir a geração de resíduos. É muito ampla e passa por muitos

setores da economia, exigindo, para sua concretização, medidas que vão desde a extração de

matéria-prima, a manufatura de produtos, distribuição e venda até o uso e descarte pelo

consumidor final (STRAUCH, 2008, p. 44).

Segundo Strauch (2008, p.52), a reciclagem e o tratamento dos resíduos assumem o

segundo nível de prioridade na PNRS da União Europeia, após a redução e reutilização. No

Brasil, a reciclagem é um passo importante na busca de uma economia sustentável, além de

contribuir economicamente para famílias de baixa renda. Por meio da seleção de resíduos que

separados passam a gerar matéria-prima secundária dotadas de valor. E cuja renda sustenta

famílias que vêem nessa atividade uma opção na geração de renda.

No Brasil, a reciclagem ainda não está inserida na cultura dos empresários e

cidadãos. Apresentando índices insignificantes frente ao montante produzido, tendo como

consequência a agressão de seus rejeitos ao meio ambiente em virtude da falta de tratamento

adequado e fiscalização sobre a manipulação e descarte dos mesmos segundo Menezes, Neves

e Ferreira (2002).

A gestão dos resíduos nas diversas formas que pode vir a ser gerado é preocupação

dos diversos órgãos do governo. O plano Diretor do Município de Belém discute este assunto

de interesse de todos, seja do setor público ou privado e comunidade local, na Subseção IV

dos Resíduos Sólidos (Lei Nº 8.655, de 30 de julho de 2008, p. 26-27):

Art. 38 A Política Municipal de Resíduos Sólidos tem como objetivos:

I - proteger a saúde humana por meio do controle de ambientes insalubres derivados

de manejo e destinação inadequados de resíduos sólidos;

II - promover um ambiente saudável em áreas de acumulação de resíduos sólidos

por meio de gerenciamento com recuperação paisagística e ambiental;

III - erradicar o trabalho infantil pela inclusão social da família que sobrevive com a

comercialização de resíduos;

IV - promover oportunidades de trabalho e renda para a população menos favorecida

pelo aproveitamento de resíduos domiciliares, comerciais e de construção civil,

desde que aproveitáveis, em condições seguras e saudáveis;

V - implantar mecanismos de controle social dos serviços contratados no Município;

VI - controlar a disposição inadequada de resíduos pela educação ambiental da

população, pela oferta de instalações para disposição de resíduos sólidos e pela

fiscalização efetiva;

VII - preservar a qualidade dos recursos hídricos pelo controle efetivo do descarte de

resíduos em áreas de mananciais;

VIII - minimizar a quantidade de resíduos sólidos por meio de programas de

prevenção da geração excessiva, incentivo ao reuso e fomento à reciclagem;

IX - recuperar áreas públicas degradadas ou contaminadas;

X - repassar o custo dos excessos aos agentes responsáveis pela produção de

resíduos que sobrecarregam as finanças públicas.

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Art. 39 O Poder Público Municipal deverá estabelecer parcerias com os demais

municípios da Região Metropolitana de Belém para elaborar e implementar o Plano

de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos da Região Metropolitana de

Belém, compartilhando o Sistema de Tratamento e Destino Final.

Art. 40 São diretrizes da Política Municipal de Resíduos Sólidos:

I - controlar e fiscalizar os processos de geração de resíduos sólidos, incentivando a

busca de alternativas ambientalmente adequadas;

II - garantir o direito de toda a população à equidade na prestação dos serviços

regulares de coleta de lixo e limpeza pública;

III - promover a sustentabilidade ambiental, social e econômica na gestão dos

resíduos;

IV - desenvolver alternativas para o tratamento de resíduos que possibilitem a

geração de energia;

V - estimular a segregação integral de resíduos sólidos na fonte geradora e a gestão

diferenciada;

VI - promover a integração, articulação e cooperação entre os municípios da Região

Metropolitana para o tratamento e a destinação dos resíduos sólidos;

VII - recuperar ambiental e paisagisticamente as áreas públicas degradadas ou

contaminadas;

VIII - criar mecanismos, para promover a recuperação ambiental e paisagística em

áreas particulares degradadas ou contaminadas;

IX - estimular o uso reutilização e reciclagem de resíduos em especial o

reaproveitamento de resíduos inertes da construção civil;

X - garantir o direito do cidadão de se informar a respeito dos custos e do potencial

de degradação ambiental dos produtos e serviços ofertados pelo produtor e pelo

Poder Público;

XI - responsabilizar civilmente o prestador de serviço, produtor, importador ou

comerciante pelos danos ambientais causados pelos resíduos sólidos provenientes de

sua atividade, de acordo com a legislação vigente;

XII - estimular a pesquisa, o desenvolvimento e a implementação de novas técnicas

de gestão, minimização, coleta, tratamento e disposição final de resíduos sólidos.

Além dos resíduos sólidos, a indústria de construção civil, também é responsável por

outros agentes poluentes, que na maioria das vezes passam despercebidos, por apresentarem

possibilidades mínimas de mensuração, como a utilização de solventes e diluidores de tintas,

aditivos de concreto e argamassa entre outros (STROBINO; TEIXEIRA; NAKATANI, 2009).

5.2 CLASSIFICAÇÃO DE RESÍDUOS

O aumento na quantidade de resíduos reflete a velocidade com que se retiram os

recursos da natureza sem os repor, consumindo parte deles, em muitos casos de forma

ineficiente. Para completar, na maioria das vezes, suas sobras passam a ter características

prejudiciais, como aumento da poluição no ambiente, maior consumo de energia e matérias

primas naturais, superando a capacidade de reposição dos mesmos a natureza (FLORIM;

QUELHAS, 2004). Além de causar transtornos nas cidades, devido a demanda desnecessária

no sistema de transporte (COLOMBO; BAZZO, 2001).

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Sabe-se que o modelo atual de produção segue a linha de fabricação de bens de

consumo, sejam eles duráveis ou não, onde os bens são produzidos, consumidos e descartados

sob a forma de lixo, transformando-se assim em resíduos. No entanto, apesar dos resíduos

serem fabricados a partir de recursos naturais, a maioria não pode ser decomposta pela

natureza, pois além da matéria-prima passar por um processo de transformação, a mesma é

em via de regra, submetida a um alto grau de transformação e processamento. Além do mais,

as quantidades geradas são superiores à condição de assimilação pelo meio ambiente segundo

Barra, Paschoarelli e Renófio (2006).

A Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, NBR 10.004 (2004), define

resíduos sólidos como qualquer resíduo nos estados sólidos e semi-sólidos, resultados de

atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de

varrição. Incluem-se nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água,

aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como

determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede

pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente

inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

(SEBRAE, 2013), o aumento significativo de resíduos, nos seus diferentes estados (sólidos,

líquidos e gasosos) e indesejáveis efeitos no meio ambiente, têm elevado o custo do

tratamento desses resíduos. Assim, como o aumento das áreas de aterros para o descarte do

lixo urbano, contaminação das águas e ar, tanto em áreas urbanas como rurais, apresenta

graves efeitos nocivos pelo descarte incorreto dos resíduos e dejetos. Portanto, reduzir,

reutilizar e reciclar são condições essenciais para garantir processos mais econômicos e

ambientalmente sustentáveis, em áreas urbanas e rurais (SEBRE, 2013).

No que se refere a sua sustentabilidade, a base de seu conceito no mundo moderno é

transformar resíduos e dejetos em co-produtos – produzir mais com menos e ainda com menor

impacto ambiental. Isso significa produzir de forma mais eficiente, com a utilização racional

das matérias-primas, água e energia. Segundo Nascimento e Silva (2006), a ecoeficiência é

uma ferramenta do desenvolvimento sustentável, dentro do conceito do pensar globalmente

agindo localmente.

Desenvolvimento sustentável apresenta-se como uma postura correta que deve ser

absorvida no meio empresarial, principalmente para organizações que pretendem se manter

em um mercado cada vez mais exigente, onde as organizações devem se apropriar dos

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recursos naturais com respeito ao próximo e ao meio ambiente. Preservando os bens naturais

presentes e a sociedade humana no futuro. É o desenvolvimento que não esgota os recursos,

conciliando crescimento econômico e preservação da natureza (NASCIMENTO; SILVA

2006).

Portanto, o próximo passo é reformular certos modelos de gestão através do

conhecimento e técnicas científicas que, em prol da humanidade, possam criar um sistema

fechado e sustentável. Tomando-se como base o modelo de desenvolvimento sustentável em

que, todos ou maioria, dos materiais e energias oriundos de um processo de produção possam

retornar, ou seja, devam ser recuperados através de ações restauradoras que minimizem o

impacto ambiental (LIMA et al, 2008).

O processo de gestão de resíduos se inicia na conscientização da necessidade de se

gerir de forma eficiente os resíduos produzidos no processo de produção. Independente de

esta conscientização partir de determinações legais, ou da necessidade de se obter fontes

alternativas de matéria prima confiáveis.

É relevante se iniciar o processo de gestão dos resíduos pela identificação dos

mesmos que segundo a NBR 10.004 (2004), os classifica de acordo com o processo ou

atividade que lhes deu origem e de acordo com seus constituintes e características e a

comparação destes constituintes com listagens de resíduos e substâncias cujo impacto à saúde

e ao meio ambiente é conhecido.

A identificação dos constituintes a serem avaliados na caracterização do resíduo deve

ser criteriosa e estabelecida de acordo com as matérias-primas, os insumos e o processo que

lhe deu origem.

O laudo de classificação dos resíduos de acordo com a NBR 10.004 (2004) pode ser

baseado exclusivamente na identificação do processo produtivo. Deve constar no laudo de

classificação a indicação da origem do resíduo, descrição do processo de segregação e

descrição do critério adotado na escolha de parâmetros analisados, quando for o caso,

incluindo os laudos de análises laboratoriais. Os laudos devem ser elaborados por

responsáveis técnicos habilitados.

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5.2.1 Classificação dos resíduos, ABNT, NBR 10.004 (2004)

Para os efeitos desta Norma, os resíduos são classificados em:

a) resíduos classe I - Perigosos;

b) resíduos classe II – Não perigosos;

c) resíduos classe II A – Não inertes.

d) resíduos classe II B – Inertes.

5.2.2 Resíduos classe I - perigosos

Aqueles que apresentam periculosidade.

5.2.3 Inflamabilidade

Um resíduo sólido é caracterizado como inflamável (código de identificação D001),

se uma amostra representativa dele, obtida conforme a NBR 10007, apresentar qualquer uma

das seguintes propriedades:

a) ser líquida e ter ponto de fulgor inferior a 60°C, determinado conforme NBR

14598 ou equivalente, excetuando-se as soluções aquosas com menos de 24% de álcool em

volume;

b) não ser líquida e ser capaz de, sob condições de temperatura e pressão de 25°C e

0,1 MPa (1atm), produzir fogo por fricção, absorção de umidade ou por alterações químicas

espontâneas e, quando inflamada, queimar vigorosa e persistentemente, dificultando a

extinção do fogo;

c) ser um oxidante definido como substância que pode liberar oxigênio e, como

resultado, estimular a combustão e aumentar a intensidade do fogo em outro material;

d) ser um gás comprimido inflamável, conforme a Legislação Federal sobre

transporte de produtos perigosos (Portaria nº 204/1997 do Ministério dos Transportes).

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5.2.4 Corrosividade

Um resíduo é caracterizado como corrosivo (código de identificação D002) se uma

amostra representativa dele, obtida segundo a NBR 10007, apresentar uma das seguintes

propriedades:

a) ser aquosa e apresentar ph inferior ou igual a 2, ou, superior ou igual a 12,5, ou

sua mistura com água, na proporção de 1:1 em peso, produzir uma solução que apresente pH

inferior a 2 ou superior ou igual a 12,5;

b) ser líquida ou, quando misturada em peso equivalente de água, produzir um

líquido e corroer o aço (COPANT 1020) a uma razão maior que 6,35 mm ao ano, a uma

temperatura de 55°C, de acordo com USEPA SW 846 ou equivalente.

5.2.5 Reatividade

Um resíduo é caracterizado como reativo (código de identificação D003) se uma

amostra representativa dele, obtida segundo a NBR 10007, apresentar uma das seguintes

propriedades:

a) ser normalmente instável e reagir de forma violenta e imediata, sem detonar;

b) reagir violentamente com a água;

c) formar misturas potencialmente explosivas com a água;

d) gerar gases, vapores e fumos tóxicos em quantidades suficientes para provocar

danos à saúde pública ou ao meio ambiente, quando misturados com a água;

e) possuir em sua constituição os íons CNou S2- em concentrações que ultrapassem

os limites de 250 mg de HCN liberável por qulilograma de resíduo ou 500 mg de H2S

liberável por quilograma de resíduo, de acordo com ensaio estabelecido no USEPA - SW 846;

f) ser capaz de produzir reação explosiva ou detonante sob a ação de forte estímulo,

ação catalítica ou temperatura em ambientes confinados;

g) ser capaz de produzir, prontamente, reação ou decomposição detonante ou

explosiva a 25°C e 0,1 MPa (1 atm);

h) ser explosivo, definido como uma substância fabricada para produzir um resultado

prático, através de explosão ou efeito pirotécnico, esteja ou não esta substância contida em

dispositivo preparado para este fim.

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5.2.6 Toxicidade

Um resíduo é caracterizado como tóxico se uma amostra representativa dele, obtida

segundo a NBR 10007, apresentar uma das seguintes propriedades:

a) quando o extrato obtido desta amostra, segundo a NBR 10005;

b) possuir uma ou mais substâncias e apresentar toxicidade. Para avaliação dessa

toxicidade, devem ser considerados os seguintes fatores:

natureza da toxicidade apresentada pelo resíduo;

concentração do constituinte no resíduo;

potencial que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua degradação, tem

para migrar do resíduo para o ambiente, sob condições impróprias de manuseio;

persistência do constituinte ou qualquer produto tóxico de sua degradação;

potencial que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua degradação, tem

para degradar-se em constituintes não perigosos, considerando a velocidade em

que ocorre a degradação;

extensão em que o constituinte.

Este capítulo destacou a política ambiental e a classificação dos resíduos dando

ênfase às mudanças de comportamento do setor industrial que se fazem necessárias em

decorrência do seu processo produtivo e, consequentemente, de seus resíduos. As

determinações legais passam a identificar os seus geradores e responsabilizá-los no que se

refere a classificação e gestão de seus resíduos. A identificação e seleção dos resíduos se

fazem necessário, para que no novo processo de gestão os mesmos possam ser classificados e

alocados de acordo com as normas legal de seleção, armazenamento e estocagem até o seu

destino final.

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6 ECOEFICIÊNCIA NA GESTÃO DE RESÍDUOS

6.1 CONCEITO DE ECOEFICIÊNCIA

Neste capítulo será possível identificar o conceito de ecoeficiência e suas

contribuições no que se refere ao processo de produção eficiente, competitivo e com menor

produção de resíduos. Além de oferecer como sugestão uma proposta de gestão para os

resíduos produzidos nos canteiros de obras, com base no trabalho desenvolvido pelo

SINDUSCON – MG (2005).

Supõe-se que o novo desafio do setor de construção será implantar em seu processo

construtivo uma gestão ecoeficiente que minimize os impactos causados ao meio em que está

inserida, com máximo aproveitamento de seus insumos e menor produção de resíduos, sem

perdas na qualidade do produto final e, consequentemente, diminuir a quantidade de entulho

destinado ao meio.

Diante de um mercado cada vez mais competitivo em que o setor industrial necessita

desenvolver estratégias que o coloque em posição favorável de competição, sabe-se que cada

vez mais são exigidas novas posturas no modo de administrar suas organizações e seus

projetos.

No que diz respeito aos resíduos, a mudança na cultural organizacional pode ocorrer

por diversas formas, que passam pela necessidade de se obter novas reservas de matéria-prima

ou pela obrigatoriedade de atender às exigências legais, de modo que estes resíduos não

comprometam a saúde pública ou o meio ambiente. Essa renovação implica em contínuas

mudanças, que podem ser custosas em termos financeiros especialmente se forem impostas

por meio de regulação ambiental (SANCHES, 2000).

A inserção da ecoeficiência na gestão do canteiro de obra poderá ser um importante

aliado quando relacionado ao reaproveitamento e direcionamento dos resíduos. Uma vez que,

segundo Nascimento e Silva (2006), o fundamento da ecoeficiência se apresenta como a

produção mais limpa, isto é, a busca por uma melhor utilização da matéria-prima, gerando

menos resíduos e consequentemente otimizando o processo. A produção mais limpa aumenta

a eficiência das empresas e a competitividade dos produtos e serviços.

Na visão de Florim e Quelhas (2004), a ecoeficiência é alcançada mediante o

fornecimento de bens e serviços, a preços competitivos, que satisfaçam as necessidades

humanas, promovendo ao mesmo tempo uma redução progressiva dos impactos ambientais e

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da intensidade do consumo de recursos ao longo do seu ciclo de vida, considerando de um

lado o aspecto econômico, de outro o ecológico, ambos associados à visão social.

Segundo Talmasky e Tavares (2012), o processo ecoeficiente apresenta requisitos

especiais que o diferenciam de outros, ao ser concluído sua fabricação, estocagem, transporte,

utilização, é reaproveitado no processo final por meio das estratégias de fim de vida,

minimizando assim o impacto ambiental tanto na disposição quanto no consumo de novos

recursos reciclados.

Na percepção de Camara e Diniz, (2009), efetivamente a ecoeficiência engloba

ferramentas, tais como a prevenção da poluição, redução na fonte do volume de insumos,

redução de resíduos, minimização de resíduos e produção mais limpa, traduzindo a ideia de

redução da poluição através de mudanças no processo. A produção mais limpa faz com que a

matéria-prima seja melhor utilizada, ou seja, que o processo seja otimizado,

consequentemente ocasionando um aumento da produtividade e diminuição dos resíduos.

Segundo Nascimento (2000), a produção mais limpa aumenta a eficiência das

empresas e a competitividade dos produtos. É a "ecoeficiência", hoje perseguida em todo o

mundo. É a melhor compatibilização dos processos produtivos com os recursos naturais do

planeta.

A atividade ecoeficiente passa a racionalizar o uso da energia, da água, da matéria-

prima utilizadas pelos diversos setores no processo de produção. Além de adotar medidas de

controle e prevenção de impactos ambientais (NASCIMENTO; SILVA, 2006).

Com relação ao Brasil, o mesmo voltou suas atenções às questões ambientais em

meados do século XX, demandando atores e práticas centradas na busca por alternativas

viáveis de conservação ou restauração do meio ambiente degradado. Segundo Ribeiro, Souza

e Campos (2010), na segunda metade deste século o Brasil passa a sofrer grandes

transformações em decorrência do aumento demográfico e da modernização de suas bases de

desenvolvimento.

Na sociedade contemporânea brasileira, o discurso dos gestores e dos empresários no

que diz respeito à sustentabilidade, direciona-se os seus funcionários, ao mercado

consumidor, aos concorrentes, aos clientes, às Organizações Não-Governamentais (ONGs) e

aos órgãos governamentais (CLARO, CLARO; AMÂNCIO, 2008).

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No que se refere à sustentabilidade3, segundo Claro, Claro e Amâncio (2008), o

discurso busca vincular práticas gerenciais ambientais, a uma imagem positiva da empresa.

Porém, várias empresas têm dificuldade em associar seus discursos e práticas gerenciais a

uma definição completa de sustentabilidade. Predomina, na realidade, a falta de consenso

sobre o significado atribuído à sustentabilidade.

De acordo com Ribeiro, Souza e Campos (2010), o acelerado ritmo de

industrialização e concentração de contingentes populacionais em áreas urbanas passou a

provocar profundos impactos no meio ambiente, tanto físicos como econômicos e sociais.

Sabe-se que no meio empresarial o discurso que se faz, reconhece a ecoeficiência como

ferramenta primordial para a sustentabilidade dos empreendimentos no cenário

contemporâneo de competitividade, em que grandes partes dos riscos socioambientais,

vivenciados pela sociedade estão diretamente relacionadas à ação industrial.

Ao mesmo tempo em que a industrialização produziu enormes benefícios

econômicos também produziu significativa quantidade de poluição e consumo de matérias-

primas naturais, recursos e combustíveis fósseis em uma taxa crescente (HART, 2004).

Na visão de Hart (2004), outro motivador do processo de expansão do conceito de

sustentabilidade esta relacionado às tecnologias emergentes que podem oferecer soluções

poderosas e revolucionárias, podendo tornar obsoletas as bases de muitas das atuais indústrias

que usam energia e matérias-primas de forma intensiva.

3 O conceito de desenvolvimento sustentável é bastante recente e está hoje no centro de todo o discurso

ecológico oficial, sem que haja um mínimo consenso quanto ao seu significado. Ao buscar-se um

desenvolvimento sustentável hoje se está, ao menos implicitamente, pensando em um desenvolvimento

capitalista sustentável, ou seja, uma sustentabilidade dentro do quadro institucional de um capitalismo de

mercado. No entanto, não se colocando a questão básica quanto à própria possibilidade de tal sustentabilidade,

o conceito corre o risco de tornar-se um conceito vazio, servindo apenas para dar uma nova legitimidade para a

expansão insustentável do capitalismo (STAHEL, 2004).

A proposta de sustentabilidade lança uma nova luz sobre a questão política, que e como central a toda busca de

desenvolvimentos sustentáveis, uma vez que, uma sociedade sustentável depende antes de tudo de uma

reconstrução política total da sociedade contemporânea. Neste contexto, o poder público tem por missão

garantir a qualidade ambiental, por meio de imposições legais que fazem com que o setor econômico reconheça

a relevância do poder público, no momento em que, determinadas mudanças no processo de produção passe a

significar custos individuais, que somente serão adotadas por meio de instrumentos de coerção por parte do

poder publico (BURSZTYN, 1995).

Na perspectiva da sustentabilidade ambiental, o tipo de processo econômico que importa é aquele que produz

bens e serviços levando em conta simultaneamente todos os custos que lhes são inevitavelmente associados.

Todavia, na compreensão econômica usual, tem-se em vista apenas a geração de benefícios pelas atividades

produtivas. Os custos normalmente considerados são os internos a essas atividades, ou seja, os que dizem

respeito à sua contabilidade interna, outros custos, como os da destruição de uma paisagem bela ou da extinção

de uma espécie, constituem externalidades que se excluem do cálculo econômico (CAVALCANTE, 2004).

Não levando-se em consideração que qualquer externalidade no processo de produção tende a provocar

disfunções no setor econômico (BURSZTYN, 1995).

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O empresariado, em grande parte, não entende que na maioria das vezes a matéria

prima é mal aproveitada e consequentemente desperdiçada. A gestão consciente terá a

redução econômica de energia, água e outros recursos naturais. Assim, a ecoeficiência e a

eficácia econômica estão intimamente ligadas (NASCIMENTO; SILVA, 2006).

A escolha do pensamento ecológico4 atualmente não se situa mais entre

desenvolvimento econômico ou proteção do meio ambiente. A escolha se coloca precisamente

entre que tipo de desenvolvimento econômico que se deseja programar de agora em diante.

Atualmente, a criação das tecnologias limpas, desenvolvimento econômico e meio ambiente

deixaram de ser considerados como realidades antagônicas, e passaram a ser complementares

(LAYRARGUES, 1997).

A partir de meados do século XX aos dias atuais, é irrefutável a importância do

questionamento e a reflexão de temas como sustentabilidade, ou responsabilidade social,

inovações tecnológicas nas pautas das reuniões organizacionais, que passaram a planejar

estrategicamente suas ações (STROBINO, TEIXEIRA; NAKATANI, 2009).

Segundo Munck, Dias e Souza (2010), a sustentabilidade organizacional não

significa simplesmente boa cidadania empresarial, isto é, ser reconhecida por reduzir as

emissões de gases tóxicos ou benefícios assistenciais a seus colaboradores, e muito menos se

trata de uma questão ética de negócios. O conceito de sustentabilidade deve estar

fundamentado na gestão inteligente, algo muito fácil de ignorar ou assumir como inevitável,

num mundo em que o resultado financeiro geralmente é visto como a única medida de

sucesso.

No tocante a formação da consciência ambiental pelo empresariado, este faz parte da

responsabilidade empresarial e representa uma mudança cultural e de comportamento,

caracterizando-se não apenas pelo cumprimento da legislação ou implantação de projetos

antipoluentes. Demonstrando a extensão do papel empresarial ultrapassando seus objetivos

financeiros (FREIRE et al, 2008).

Para Strobino, Teixeira e Nakatani (2009), século XX apresentou-se rico no que diz

respeito a produção de livros e artigos e publicações internacionais diversas sobre assuntos

relacionados ao meio ambiente. A responsabilidade ambiental passa a anexar essa

preocupação. Palavras como reciclagem, sustentabilidade, e gestão ambiental passam a fazer

parte do vocabulário corrente das sociedades e organizações.

4 De acordo com Bursztyn (1995), a concepção de racionalidade em que o ter e o ser tratam-se de duas

dimensões que não podem ser alternativas, mas sim complementares, o desafio a ser enfrentado não é da

posição econômica/ecológica, mas sim da solidariedade entre as duas ciências.

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Nesse caso, a responsabilidade empresarial passa a estar relacionada ao

desenvolvimento sustentável não apenas para atender às imposições legais, mas também para

fomentar atitudes voluntárias. A postura consciente contribuirá muito mais diante da

sociedade, superando as próprias expectativas do meio empresário em que está inserida

(STROBINO, TEIXEIRA; NAKATANI, 2009).

Com relação à indústria de construção civil a gestão de seus resíduos segundo

Delongui et al (2011), mostra que as administrações municipais brasileiras, ainda atuam de

maneira ineficaz e quando apresentam soluções, as mesmas se mostram emergenciais e

inconvenientes. Para completar, em decorrência do seu atraso as próprias construtoras

terminam por empregar mão de obra desqualificada na tentativa de diminuir custos, dando

continuidade a situação de atraso do setor. Além do que, na visão de Hart (2004), quando se

fala de inovação, novas tecnologias, produção limpa, sustentabilidade, o empresário logo

associa a custos adicionais, não percebendo as novas oportunidades de negócio e redução de

custo.

O descarte em grandes quantidades de entulhos de forma desordenada reflete o

momento opulento da economia, contudo, sem mecanismos e ferramentas para geri-los, estes

resíduos se tornam um problema caro para o poder público municipal, uma vez que, na

maioria das vezes estes resíduos são depositados em áreas clandestinas e sem fiscalização.

Entre os problemas cita-se: o esgotamento prematuro de áreas de disposição final de resíduos,

a obstrução de elementos de drenagem urbana, a degradação de mananciais, a sujeira nas vias

públicas, a proliferação de insetos e roedores e o consequente prejuízo aos cofres municipais e

à saúde pública do cidadão (BLUMENSCHEIN, 2004).

Este é o resultado de uma receita que tem como ingredientes a falta de educação e

informação da população para a problemática, a incapacidade do poder público local em

fiscalizar e a dificuldade dos órgãos ambientais em ofertar estruturas que recebam resíduos

desta natureza. Certamente o entulho hoje merece atenção dos órgãos fiscalizadores,

principalmente os municipais (SEBRAE, 2013).

De acordo com o Manual Técnico de Blumenschein (2007), um Sistema Integrado de

Gerenciamento de Resíduos - SGR envolve questões complexas, particularmente, no processo

de produção da cadeia principal da cadeia produtiva da indústria da construção, ou seja, no

processo construtivo, uma vez que há:

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a) a necessidade de assegurar o cumprimento de legislações específicas, que definem

e organizam as responsabilidades relativas à geração, coleta, transporte, acondicionamento e

disposição final;

b) outro ponto diz respeito às dificuldades inerentes ao processo construtivo, que en-

volve e depende de um grande número de atores, conferem ao processo de produção

características físicas e organizacionais peculiares. Essas características potencializam a

geração de resíduos (demonstrado pelo nível de perdas e desperdícios) e pela cultura vigente a

qual não se preocupa com a gestão de resíduos sólidos, seu destino, tampouco com a sua

reutilização;

c) e por fim, as dificuldades e complexidades inerentes à implantação de um Sistema

Integrado de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, requerem a integração de diversos fatores,

entre eles: formas de geração e disposição, atores, instrumentos, ações e recursos. A falta de

dados como: tipologia e quantidade de resíduos gerados, caracterização dos resíduos por

regiões urbanas, identificação de agentes recicladores, entre outros, é mais um desafio a ser

superado pelos responsáveis pela gestão de RSCD.

Tem-se como fase inicial do processo de produção de resíduos a extração da matéria-

prima que em alguns casos precisa passar por um processo de transformação para se

apresentar como material de construção. Em seguida iniciam-se as etapas preliminares para

construção que pode ser manutenção ou reforma de área construída, retirada de área verde ou

demolição. Seguindo com a implantação do canteiro de obra (KARPINSK et al, 2009), com a

utilização de blocos de cerâmica, concreto (cimento, areia; brita) madeiras, telhas em

pequenas quantidades se comparado a implantação da superestrutura, pois utilização desse

material será para implantação da estrutura de vestiário, refeitório, almoxarifado, salas

administrativas e de descanso.

A fase correspondente à superestrutura passa a produzir grande contingente de

resíduos devido a utilização de concreto (cimento, areia; brita), madeira, ferro, fôrmas

plásticas. É nesta fase que se inicia a alvenaria com utilização de blocos cerâmicos, blocos de

concreto, argamassa papel e plástico. Instalações hidrossanitárias, com mais blocos cerâmicos

pvc. Instalações elétricas com blocos de cerâmicas conduites, mangueira, fio de cobre e

reboco interno/externo.

Na fase final a argamassa passa a ser utilizado nos revestimentos para pisos e

azulejos cerâmicos piso laminado de madeira, papel, papelão, plástico. Forro de gesso placas

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de gesso acartonado e por fim pinturas tintas, seladoras, vernizes, texturas (LIMA; LIMA,

2012).

A cadeia produtiva da construção civil é responsável por uma quantidade

considerável de Resíduos, e quando descartados de forma irregular terminam por ser

depositados em encostas de rios e vias públicos, criando locais de deposições irregulares nos

municípios. Esses resíduos terminam por comprometer a paisagem urbana, invadem pistas,

dificultam o tráfego e a drenagem urbana, além de propiciar a atração de resíduos não inertes,

com multiplicação de vetores de doenças e degradação de áreas urbanas, o que afeta o meio

ambiente como um todo (KARPINSKI et al, 2008).

O gerenciamento dos resíduos sólidos de construção de forma sustentável nos

canteiros de obras de pequeno, médio e grande porte, é indispensável para a preservação do

meio ambiental nos centros urbanos (BLUMENSCHEIN, 2007). De acordo com Manfrinato,

Esguícero e Martins (2008), o resultado da ECO 92 no Rio de Janeiro, a “agenda 21”, trouxe

como tópico a “construção sustentável” e essa iniciativa passou a reavaliar a cadeia de

produção a partir da extração da matéria prima. Buscando desenvolver novas formas de

obtenção de matéria-prima a partir da reciclagem dos RCC, por meio da produção do

agregado reciclado.

A sustentabilidade ambiental e social na gestão dos resíduos sólidos constrói-se por

meio de modelos e sistemas integrados que possibilitem a redução dos resíduos gerados pela

população. Esta redução dá-se com a implantação de programas que permitem também a

reutilização desse material e, por fim, a reciclagem (KARPINSKI et al, 2008). Segundo

Blumenschein (2007), a reutilização dos resíduos e materiais pode ser considerada tanto na

fase de construção quanto na fase de demolição. Onde a reutilização torna-se fundamental

para minimizar a escassez de matéria-prima cada vez maior no planeta.

A indústria de construção civil é responsável pela extração de recursos naturais não

renováveis, gerando grande consumo de energia desde a exploração de jazidas até o transporte

dos materiais. A geração de resíduos continua com o desperdício na execução dos

empreendimentos sendo eles de origem particular ou pública, no entanto, sua agressão ao

meio ambiente pode ser amenizada por meio da gestão de seus resíduos de forma consciente.

A reciclagem de Entulho passa a ser uma importante ferramenta para obtenção de novos

agregados configurando-se como uma possível solução para tais problemas, possibilitando o

retorno dos RCC à cadeia produtiva da construção civil, fechando o ciclo de produção dos

agregados (MANFRINATO; ESGUÍCERO; MARTINS, 2008).

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O termo "gestão" indica planejar, organizar, liderar e controlar as pessoas e os

processos que constituem uma organização e, consequentemente, as atividades por elas

realizadas. Em relação aos resíduos de construção, a gestão é iniciada como se fosse um

aprendizado, e a indústria da construção civil brasileira já está dando os primeiros passos. No

entanto, sabe-se que há empresas que se destacam, a exemplo das que se encontram em

centros maiores e que possuem melhores condições para obter êxito no processo de gestão de

seus resíduos (KARPINSKI et al, 2009).

A Resolução do CONAMA nº 307, de 5 de julho de 2002 Publicada no DOU no 136,

de 17 de julho de 2002, Seção 1, páginas 95-96 estabelece no Art. 2o Para efeito desta

Resolução são adotadas as seguintes definições:

I - Resíduos da construção civil: são os provenientes de construções, reformas,

reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e

da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral,

solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros,

argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação

elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha;

II - Geradores: são pessoas, físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, responsáveis

por atividades ou empreendimentos que gerem os resíduos definidos nesta

Resolução;

III - Transportadores: são as pessoas, físicas ou jurídicas, encarregadas da coleta e

do transporte dos resíduos entre as fontes geradoras e as áreas de destinação;

IV - Agregado reciclado: é o material granular proveniente do beneficiamento de

resíduos de construção que apresentem características técnicas para a aplicação em

obras de edificação, de infra-estrutura, em aterros sanitários ou outras obras de

engenharia;

V - Gerenciamento de resíduos: é o sistema de gestão que visa reduzir, reutilizar ou

reciclar resíduos, incluindo planejamento, responsabilidades, práticas,

procedimentos e recursos para desenvolver e implementar as ações necessárias ao

cumprimento das etapas previstas em programas e planos;

VI - Reutilização: é o processo de reaplicação de um resíduo, sem transformação do

mesmo;

VII - Reciclagem: é o processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido

submetido à transformação;

VIII - Beneficiamento: é o ato de submeter um resíduo à operações e/ou processos

que tenham por objetivo dotá-los de condições que permitam que sejam utilizados

como matéria-prima ou produto;

IX - Aterro de resíduos da construção civil: é a área onde serão empregadas técnicas

de disposição de resíduos da construção civil Classe “A” no solo, visando a

preservação de materiais segregados de forma a possibilitar seu uso futuro e/ou

futura utilização da área, utilizando princípios de engenharia para confiná-los ao

menor volume possível, sem causar danos à saúde pública e ao meio ambiente;

X - Áreas de destinação de resíduos: são áreas destinadas ao beneficiamento ou à

disposição final de resíduos, conforme figura abaixo:

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Fluxograma 03 - Ecoeficiencia na gestão dos resíduos da construção civil

Fonte: Elaboração própria do autor

A gestão de resíduos, com base na sustentabilidade necessita do envolvimento de

todos os envolvidos, segundo Gonçalves (2002), o cliente pode contribuir com o processo de

ecoeficiencia na gestão avaliando e definindo critérios quanto a flexibilidade, durabilidade e

racionalidade no momento de escolher sua futura aquisição.

No que se refere ao papel das construtoras, Gonçalves (2002), afirma que as mesmas

devem ter como prioridade em seu planejamento organizacional a ecoeficiencia na gestão de

seus canteiros de obras, buscando reduzir perdas e geração de resíduos por meio da adoção de

métodos construtivos mais racionais. Onde todos os envolvidos como engenheiros, arquitetos,

mestres-de-obras, servente, pedreiros, carpinteiros, ferreiros, ou seja, a equipe como um todo,

tornem-se corresponsáveis pelo êxito da coleta seletiva no canteiro de obras. Além da

fiscalização dos órgãos públicos.

Os autores Mansor et al (2010), compartilham da ideia de que gestão de resíduos,

com base na sustentabilidade necessita do envolvimento de todos os envolvidos seja, no

contexto organizacional, estado ou comunidade local, tendo-se como base os “quatro erres” (4

Rs): Redução, Reutilização, Reciclagem e Recuperação da energia conforme apresentado

abaixo:

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a) Redução: diminuição da quantidade em volume e peso dos RCC;

b) Reutilização: reaproveitamento dos RCC sem transformação física ou química,

assegurando o tratamento destinado ao cumprimento aos padrões de saúde publica e meio

ambiente;

c) Reciclagem: é o processo de transformação dos RCC que envolve a alteração nas

propriedades físicas, físico-químicas dos mesmos, tornando-os insumos destinados ao

processo produtivo;

d) Recuperação da Energia: refere-se à recuperação de energia térmica gerada pela

combustão dos resíduos sólidos urbanos, por processos de tratamento. A recuperação de

energia a partir de resíduos sólidos urbanos já é adotada em países da Europa e Ásia. O

desenvolvimento desta tecnologia no Brasil ainda encontrasse e fase inicial. A recuperação de

energia hoje é considerada como passível de viabilidade, especialmente nas regiões

metropolitanas, nas quais a disposição final em aterros já se torna problemática pela carência

de espaço físico.

Os autores Mansor et al (2010), defendem a ideia de que a gestão consciente, tem

como propósito a redução da produção de resíduos na fonte geradora, tendo-se como

prioridade a gestão de resíduos sólidos, seguida pelo reaproveitamento (considerado em suas

três dimensões: reutilização, reciclagem e recuperação de energia) e, finalmente, a disposição

final de forma correta do que não for possível mais aproveitar.

6.2 PROPOSTA DE GESTÃO DE RESÍDUOS

Com base na Cartilha de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil realizado

pelo SINDUSCON-MG sob a coordenação Cunha Junior (2005) segue abaixo uma proposta

para inclusão da Ecoeficiencia na Gestão dos Resíduos da Construção Civil, com objetivo de

melhor aproveitar os insumos e amenizar os impactos causados ao meio ambiente no processo

de construção.

A proposta de gestão de resíduos tem como meta a implantação da ecoeficiência na

gestão dos resíduos no canteiro de obras, buscando-se obter maior aproveitamento dos

insumos utilizados no processo de construção, assim como redução na geração de resíduos e o

correto gerenciamento dos mesmos. Sabe-se que para o êxito do projeto é necessário a

sensibilização de todos os envolvidos no processo construtivo além da criação de uma

metodologia própria de gestão em cada organização.

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Dentre as diretrizes a serem alcançadas pela indústria de construção estão:

a) Reduzir desperdícios e a geração de resíduos;

b) Segregar os resíduos por classe e tipo;

c) Reutilizar materiais que não necessitem de grandes transformações;

d) Reciclar os resíduos transformando-os em matéria-prima para a fabricação de

novos produtos.

6.2.1 Classificação dos resíduos baseado no CONAMA

I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:

a) pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de

terraplanagem;

b) edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de

revestimento etc.), argamassa e concreto;

c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto

(blocos, tubos, meio fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;

II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como:

plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros;

III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou

aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os

produtos oriundos do gesso;

IV - Classe D: são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como

tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de

demolição.

6.2.2 Agentes envolvidos no processo de construção e suas responsabilidades

a) Gerador de resíduos: partir do principio de se gerir os resíduos desde a geração até

a disposição final dos mesmos, por meio da adoção de técnicas, métodos e processos de

manejos compatíveis com suas destinações ambientais e economicamente desejáveis;

b) Serviços terceirizados ou transportadores: cumprir e fazer cumprir as

determinações normativas que disciplinam os processos de gerenciamento e transporte de

resíduos;

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c) Cedentes de área para recebimento de inertes: cumprir e fazer cumprir as

determinações normativas que disciplinam os procedimentos e operações de aterros de

inertes, em especial, o seu controle ambiental;

d) Poder público: Normalizar, orientar, controlar e fiscalizar a conformidade da

execução dos processos de gerenciamento do Plano Integrado de Gerenciamento dos Resíduos

da Construção Civil.

6.2.3 Proposta de modelo para implantação da ecoeficiência na gestão do canteiro de

obras

Segundo Nascimento (2006), a ecoeficiência tem como fundamento básico a

produção mais limpa, isto é, a necessidade de se implantar mecanismos de gestão que vise a

melhor utilização da matéria-prima, gerando menos resíduos. Fazendo com que a produção

mais limpa crie possibilidades para aumentar a eficiência das empresas e a competitividade

dos produtos e serviços.

A implantação deste modelo de gestão necessita do cumprimento de várias etapas:

a) Escolha do processo de construção;

b) Conscientização e apresentação do projeto de gestão: nesta etapa os responsáveis

no projeto de gestão, deverão envolver os colaboradores da empresa. Apresentando-se os

principais conceitos sobre os mesmos, além dos benefícios e dificuldades que surgirão em

decorrência da mudança de comportamentos que ocorrerá na empresa;

c) Formação da equipe do novo projeto de gestão: os membros da equipe deverão ser

determinados de acordo com as necessidades do novo projeto de gestão, levando-se em conta

os processos a serem implantados. Essa equipe será responsável pela sobrevivência do

programa, assim é importante se deixar claro as atribuições e responsabilidades de cada um;

d) Repasse da metodologia: é a demonstração da implantação da nova gestão, onde

seus membros deverão ter conhecimento do escopo e conteúdo do projeto com o objetivo de

atender as datas e prazo pré-estabelecidos;

e) Medição de campo: refere-se ao levantamento das entradas de insumos e produção

de resíduos.

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6.2.4 Modelo de classificação e separação dos resíduos no canteiro de obras

A coleta seletiva dos resíduos deverá ser realizada de acordo com as etapas expostas

a abaixo:

1° Etapa: Planejamento das ações a serem realizadas e locais a ser implantada a

coleta e seleção dos resíduos;

2° Etapa: Mobilização de pessoal a ser feita por meio de palestras direcionada a

chefia de obra, funcionários e outros colaboradores, além de exposição de cartazes e outros

meios como divulgação em contracheques;

3° Etapa: Caracterização dos RCC gerados nas respectivas fazes da obra, sendo

variável durante sua execução;

4° Etapa: avaliação da viabilidade do uso dos componentes do entulho:

- Classe A, poderiam ser reutilizados após a moagem na própria obra;

- Classe B e D, irão retornar ao ciclo de produção;

- Classe C, ainda não há uma solução economicamente viável.

5° Etapa: Providenciar acordos, contratos, licenças, autorizações e demais

documentos que permitam a utilização do RCC;

6° Etapa: Desenvolver e documentar o procedimento adotado para seleção e retirado

do RCC. Além de providenciar recipientes ou local apropriado para acondicionar os resíduos

a serem segregados;

7° Etapa: Implantar a logística do transporte para retirada dos resíduos selecionados,

evitando a acumulação destes no canteiro de obras;

8° Etapa: Capacitar todos os envolvidos, por meio de treinamento geral, realizando

com todos os funcionários para que destinem o resíduo para o recipiente apropriado e para

remoção dos RCC dos recipientes para os locais identificados.

6.2.5 Ações, tratamentos e destinação dos RCC

O quadro abaixo ilustra as possíveis ações e tratamentos dos resíduos classificados:

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Quadro 01 - Possíveis ações de tratamento dos resíduos classificados CLASSE A

TRATAMENTO E DESTINAÇÃO DOS RCC

Terra de remoção

Pode ser utilizada na própria obra como aterro; restauração de solos

contaminados, aterros e terraplanagem de jazidas, devidamente

autorizados.

Tijolos, cerâmicos e cimento Estação de reciclagem de entulhos, aterros de inertes licenciados ou

utilizados na própria obra como aterro, piso, paredes de vestiários.

Argamassa Estação de reciclagem de entulhos

CLASSE B

TRATAMENTO E DESTINAÇÃO DOS RCC

Madeira

Pode ser direcionado à empresas e entidades que utilizam a madeira

como energético ou matéria prima.

Metais

Empresas de reciclagem de materiais metálicos; Cooperativas e

associações de catadores; Deposito de ferro velhos devidamente

licenciados; Criação do Brachó da Construção, quando os materiais

estiverem em condição de uso.

Embalagens, papel, papelão e plásticos

Empresas de reciclagem de materiais plasticos e papelão; Cooperativas e

associações de catadores; Depósito de ferro velhos devidamente

licenciados; Embalagens de cimento e argamassa: caberá ao gerador

buscar soluções junto ao fonecedor do produto.

Vidros Empresas de reciclagem de vidros; Cooperativas e associações de

catadores; Deposito de ferro velhos devidamente licenciados.

CLASSE C

TRATAMENTO E DESTINAÇÃO DOS RCC

Gesso e derivados

são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou

aplicações economicamente viáveis que permitam a sua

reciclagem/recuperação, cabendo ao gerador buscar soluções junto ao

fabricante.

CLASSE D

TRATAMENTO E DESTINAÇÃO DOS RCC

Resíduos perigosos e contaminados

(óleos, tintas, vernizes, produtos químicos

e amianto)

Empresas de reciclagem de tinta e vernizes; Empresas de co-

processamentos; Não existe uma destinação adequada, para grande parte

dos resíduos perigosos ou contaminados, cabendo ao gerador buscar

soluções junto ao fabricante.

RESÍDUOS ORGÂNICOS

Adicionar os resíduos produzido durante as refeições em sacos plásticos.

Os sacos devem ser colocados nos locais e horários previstos pela

empresa concessionária de limpeza pública, sendo ela responsável pela

coleta, transporte e destinação final destes resíduos.

Fonte: Adaptado na Cartilha de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil realizado pelo SINDUSCON-

MG sob a coordenação Cunha Junior (2005).

O exposto acima é apenas uma proposta para inclusão da ecoeficiência na gestão dos

resíduos produzidos pela indústria de construção civil, tendo como objetivo o melhor

aproveitamento dos insumos utilizado no processo de construção e consequentemente menor

produção de resíduos. No entanto, antes da implantação de qualquer proposta de gestão deve-

se analisar a estrutura organizacional da empresa e de acordo com a sua cultura realizar as

devidas adaptações.

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7 PRODUÇÃO DE RESIDUOS NA INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÃO CIVIL

Os responsáveis pela criação de um novo empreendimento devem obedecer a

determinadas etapas que precisam ser elaboradas com atenção, pois a visualização das

mesmas no processo de construção poderá auxiliá-los na gestão dos recursos que serão

utilizados e descartados ao longo do tempo.

Neste cenário, várias etapas necessitam de atenção e cuidados especiais, iniciando-se

na criação, elaboração e desenvolvimento do projeto imobiliário, passando pela aprovação do

mesmo junto aos órgãos competentes, até a construção e posterior entrega do empreendimento

aos seus clientes. Destaca-se como foco de interesse, a fase de gestão do canteiro de obras, a

partir do processo de administração da gestão dos resíduos produzidos no canteiro de obra e

suas externalidades.

O conceito de externalidade refere-se à ação que um determinado sistema de

produção ocasiona a outros sistemas externos. E a internalização desses efeitos refere-se às

ações que o agente pode tomar no sentido de eliminar as externalidades ou, reduzí-las a níveis

aceitáveis. Em um mercado competitivo, os bens serão produzidos em um nível ótimo de

produção e de forma eficiente, desde que não haja fraude ou informações imperfeitas e

nenhuma externalidade (GONÇALVES, 2011).

Inserido no contexto da indústria de construção civil, entende-se por externalidade os

resíduos produzidos no canteiro de obra, quando não é mais possível a reutilização e

reciclagem ou sem a avaliação e seleção previa dos mesmos, são depositados fora do canteiro

de obras em locais que podem ser legalizados pela prefeitura do município ou impróprios e

não controlados pelo poder público, onde seus rejeitos passam a oferecer possibilidade de

poluição ambiental, causando prejuízos à paisagem urbana e poluindo o meio ambiente

segundo Manfrinato, Esguícero e Martins (2008).

De acordo com Calderani (2012), as externalidades são consideradas de acordo com

os efeitos colaterais de sua produção, podendo constitui-se em efeitos negativos e positivos,

sendo onerosa para sociedade ou geradora de benefícios para mesma. De uma lado,

externalidades negativas caracterizam-se pela geração de resíduos sem a sua reutilização,

disposição inadequada, ausência de logística reversa, além dos custos e métodos não

otimizado na coleta. Por outro lado, a externalidade positiva estão pautadas na redução da

produção de resíduos, reutilização, reciclagem, disposição adequada dos mesmos, logística

reversa dos mesmos, além da redução nos custos e otimização da coleta.

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Os resíduos originados nos canteiros de obras são coletados por empresas

transportadoras de entulho ou por indivíduos que utilizam carroças ou veículos de pequeno

porte, acondicionados em caçambas e levados para áreas determinadas pelo poder público.

Normalmente são os aterros sanitários ou áreas que precisam de aterramento. Os custos

envolvidos no transporte, as distâncias entre as áreas de recebimento e os centros urbanos, a

falta de conscientização dos impactos causados no meio ambiente, a falta e a dificuldade de

fiscalização potencializam a clandestinidade (BLUMENSCHEIN, 2004).

De acordo com Blumenschein (2004), quando os resíduos são depositados em área

não determinadas pelo poder público, essa disposição clandestina coloca em risco a saúde do

cidadão, degrada a paisagem urbana, compromete a drenagem urbana e a estabilidade das

encostas. Assim, é necessário, se implantar um Sistema Integrado de Gerenciamento de

resíduos da construção que envolva, portanto dificuldades e complexidades, do processo de

produção da cadeia produtiva da indústria da construção.

Segundo Blumenschein (2004), o processo construtivo define-se como os

procedimentos de produção de um dado edifício, desde a tomada de decisão até a sua

ocupação. Envolvendo-se com o planejamento, gerenciamento, projetos, construção, e

comercialização do novo empreendimento imobiliária lançado no mercado. É o processo pelo

qual, materiais e componentes, terra, energia e combustível, água, máquinas, ferramentas e

mão-de-obra são agrupados e organizados para a produção de um determinado produto que

poderá ser definido como residencial, comercial, voltado para área de saúde ou educação.

O produto final do processo construtivo envolve um grande número de diferentes

organizações, com papéis definidos em sua execução: proprietários de terra e (ou) imóvel,

empreendedor, construtores, planejadores, financiadores, arquitetos, engenheiros, consultores

especiais, mão-de-obra, fornecedores e usuários. Apesar de compartilharem o objetivo de

produzir um edifício ou obra de infra-estrutura, são organizações independentes, com

culturas, procedimentos e objetivos específicos (BLUMENSCHEIN, 2004).

No setor imobiliário algumas decisões precisam ser tomadas antes de se iniciar o

lançamento de uma nova construção, como por exemplo, tipo de produto imobiliário a ser

lançado para comercialização ou local do terreno em que se dará a nova construção. Em

alguns casos, se obtém primeiro o terreno e posteriormente se define o projeto, mas o inverso

também pode ocorrer. Há nesse momento a pesquisa de mercado para se conhecer a

necessidade do local, qual tipo de projeto melhor atende a demanda periférica (comercial ou

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residencial) e se o projeto anteriormente pensado deve ou não ser modificado, (ampliar ou

ajustar é modificar).

O estudo preliminar de viabilidade econômica e financeira é o próximo passo. Nesse

momento é definida a área real ou privativa das unidades imobiliárias que serão postas a

venda, ou seja, o tamanho das unidades a serem comercializadas no futuro imóvel, seja no

projeto residencial ou comercial; determinação da área equivalente total; composição dos

preços das unidades autônomas, baseado no custo da unidade e valor de mercado; cálculo da

construção – O valor referem-se aos Custos Unitários Básicos de Construção (CUB/m²);

cálculo das receitas de incorporação.

Após as etapas descritas acima e de propriedade do terreno, desenvolvimento e

aprovação de projetos; definições básicas dos materiais de construção que também podem ser

encontrados no memorial descritivo; orçamento detalhado do custo de construção. Este por

sua vez refere-se aos Custos Unitários Básicos de Construção (CUB/m²), calculados de

acordo com a Lei Federal. nº. 4.591, de 16/12/64 e com a Norma Técnica NBR 12.721:2006

da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e são correspondentes ao mês de

Janeiro/2013 (SINDUSCON-PA). Retorna-se ao estudo de viabilidade econômica e financeiro

definitivo; montagem do memorial de incorporação que inclui uma série de documentos como

Art. 39, declaração de carência, histórico de títulos de proprietários, atestado de idoneidade

financeira, declaração de vaga de garagem, relação de frações ideais. Registro do memorial de

incorporação no cartório; obtenção do registro de memorial de incorporação e somente de

posse deste documento é que a Incorporadora e/ou Construtora esta liberada para iniciar as

vendas; elaboração das tabelas de vendas onde serão expostas as unidades a serem

comercializadas, com metragem e proposta de valores, planejamento de vendas com

elaboração do plano de ação de mídia, tomada de decisão para se colocar apartamento

decorado ou não, exposição do estande de vendas; efetivação das vendas conforme figura

abaixo:

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Fluxograma 04 - Fluxo do processo inicial para aprovação de um projeto imobiliário

Fonte: Elaboração própria do autor

Após a conclusão das etapas anteriores, que mesmo no decorrer da obra podem

sofrer alterações, segue a fase de início da construção. Momento em que passará a haver a

necessidade do gerenciamento do empreendimento e administração do canteiro de obra

conforme figura abaixo:

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Fluxograma 05 - Fluxo inicial do processo de construção de um projeto imobiliário

Fonte: Elaboração própria do autor

Nos meses posteriores ocorreu a conclusão da construção com obtenção do “habite-

se“ após avaliação e liberação do Corpo de Bombeiro e Prefeitura e a retirada “CND

(Certidão Negativa de Debito) de INSS”, seguindo com averbação em cartório e outorga da

escritura.

No entanto, até se chegar à outorga da escritura de um empreendimento residencial

de aproximadamente vinte e cinco andares, com dois apartamentos por andar, área de lazer

completa e uma ou duas vagas de garagem, o período de construção do mesmo gira em torno

de quarenta e oito meses e ao longo desse tempo há a produção de várias toneladas de

resíduos, também conhecido como entulho.

De acordo com o Dicionário Priberam (2013) entulho tem por conceito “Montão de

fragmentos que resultam de uma demolição ou desmoronamento, ou o que atravanca ou

enche; embaraço; estorvo”.

Na prática, não há uma clara definição do que pode ser considerado entulho, mas no

Brasil, este resíduo das construções é conhecido como entulho, caliça ou metralha. Numa

linguagem mais técnica, o Resíduo da Construção e Demolição (RCD) ou Resíduo da

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Construção Civil (RCC) é todo resíduo gerado no processo construtivo, de reforma, escavação

ou demolição.

De acordo com o SEBRAE (2013), define-se entulho como o conjunto de fragmentos

ou restos de tijolo, concreto, argamassa, aço, madeira, etc., provenientes do desperdício na

construção, reforma e/ou demolição de estruturas, como prédios, residências e pontes.

O entulho de construção compõe-se, portanto, de restos e fragmentos de materiais,

enquanto o de demolição é formado apenas por fragmentos, tendo por isso maior potencial

qualitativo, comparativamente ao entulho de construção. O processo de reciclagem do

entulho, para a obtenção de agregados, basicamente envolve a seleção dos materiais

recicláveis do entulho e a trituração em maquinário apropriado. Os resíduos encontrados

predominantemente no entulho, que são recicláveis para a produção de agregados, pertencem

a três grupos segundo o SEBRAE (2013):

a) Grupo I: Materiais compostos por cimento, cal areia e brita: concretos, argamassa,

bloco de concreto.

b) Grupo II: Materiais cerâmicos: telhas, manilhas, tijolos, azulejos;

c) Grupo III: Materiais não-recicláveis: solo, metal, madeira, papel plástico, matéria

orgânica, vidro e isopor.

Porém o entulho é mais do que isso: é desenvolvimento sustentável e oportunidade

de trabalho e de negócio quando administrado de forma consciente. Por outro lado, é também

um dos grandes vilões do ambiente urbano, uma vez que, a administração desses resíduos de

forma incorreta faz com que seu acumulado seja vetor de doenças como a dengue, febre

amarela e chamariz de insetos e roedores.

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8 CASO PESQUISADO / APRESENTAÇÃO DAS OBRAS

Este capítulo apresenta as informações coletadas na pesquisa de campo. Neste espaço

serão expostos alguns trechos das entrevistas coletadas em campo, assim como os diversos

tipos de resíduos, volumes e valores correspondentes à retirada desses resíduos dos canteiros

das obras que são de responsabilidade da construtora que neste estudo será caracterizada

como Construtora A.

A Construtora A esta com três obras entregues no centro da cidade e mais três obras

em andamento. A pesquisa de campo ocorreu nas três referidas obras que se encontram em

andamento e em diferentes fases de produção. Podendo assim, se analisar a produção de

resíduos em três fases diferentes de e sua respectiva gestão. A Construtora A caracteriza-se

como uma empresa de médio porte, segundo a definição dada pelo SEBRAE que utiliza o

critério por número de empregados do IBGE para classificação do porte das empresas.

Quadro 02 - Classificação do SEBRAE o porte das empresas Brasileiras segundo o número do IBGE

Porte das Empresas Número de Funcionário

Micro com até 19 empregados

Pequena de 20 a 99 empregados

Médias\ 100 a 499 empregados

Grande mais de 500 empregados

Fonte: SEBRAE (2013)

A Construtora A é uma empresa regional, com sede no município de Belém há

aproximadamente sete anos. Possui um corpo administrativo em que a direção é orientada

pelos seus dois sócios; área operacional que coordena o setor financeiro com contas a receber,

contabilidade com contas a pagar, compras, responsável pela aquisição dos insumos a serem

utilizados na obra e outros departamentos da empresa, publicidade que cuida da imagem da

Empresa A. Setor comercial responsável pela venda e pós-venda. E departamento de

engenharia que se desenvolver junto ao corpo de engenheiros, projetos de arquitetura e equipe

de obra.

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8.1 IDENTIFICAÇÃO DOS CANTEIROS DE OBRAS E PRODUÇÃO DE SEUS

RESPECTIVOS RESÍDUOS

O canteiro de obras descrito neste momento será identificado como Obra A5, uma

vez que a mesma encontra-se na fase inicial do processo de construção. Está localizada no

município de Belém no bairro Castanheira, em uma área que devido ao número de novos

lançamentos imobiliários tanto residenciais quanto comerciais, que se iniciaram no período de

2011 é conhecida no meio imobiliário como “Nova Belém”.

As áreas que são identificadas como “Nova Belém” compreendem a região do

Entroncamento pela construção do BRT, prolongamento da Avenida João Paulo II, Rodovia

Augusto Montenegro e Br 316 ainda vista como uma região promissora para novos negócios

e em expansão, devido o número de obras que se concentra nas proximidades do bairro (O

QUE É BRT, 2013).

A Obra A, posteriormente ao período de aprovação de projetos, liberação de licenças,

e fase de lançamento junto ao setor comercial, iniciou-se no período de junho de 2013 os

primeiros trabalhos de limpeza do terreno onde ocorrerá a construção de um projeto

residencial, com 03 (três) torres, onde cada torre terá 12 (doze) andares com 06 (seis)

apartamentos por andar.

Assim, inicia-se a primeira fase do processo de construção com a limpeza do terreno

para implantação do canteiro de obras. Nessa fase as primeiras produções de resíduos serão

composta pela remoção de área verde, barro e terra, conforme imagem abaixo:

Figura 01 - Fase inicial do trabalho de limpeza do terreno Obra A

Fonte: Acervo fotográfico do autor (2013)

5 Nesta pesquisa não foi identificado o endereço e maiores informações com relação a construtora e as obras

pesquisadas para preservar as mesmas, além do que, a pesquisa foi realizada por um colaborador da empresa.

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Logo após o termino da limpeza do terreno inicia-se a fase de implantação do

canteiro de obras com a demarcação do terreno e construção da estrutura que dará suporte ao

engenheiro, técnico de segurança, almoxarife, equipe de obra, como área de vestiário,

refeitório, e área administrativa. Na fase inicial a maior produção de resíduos é composta por

terra, área, barro e argila retirados do solo, em seguida se comparado a superestrutura e fase

de entrega da construção, em pequena quantidade estão os resíduos compostos por ferro,

madeira, pedaços de telha, sacos de papel e plástico, além de pedaços de alvenaria e cerâmica,

conforme tabela abaixo:

Quadro 03 - Relatório de produção de resíduos no período de julho a outubro de 2013 na Obra A

Fonte: Elaboração própria do autor

No período de julho de 2013 ainda não havia iniciado o trabalho correspondente à

implantação do canteiro de obras, passando o mesmo a ocorrer a partir de agosto do mesmo

ano. No mês de agosto e setembro percebeu-se que houve a retirada de um volume

considerado de resíduos. No mês de outubro de 2013 o material retirado do solo não foi

transportado para fora da obra, pois o mesmo foi utilizado no nivelamento do próprio terreno.

Segundo o Vigia da obra, funcionário da Construtora A pesquisada, a limpeza do

terreno foi realizada pelos funcionários da própria empresa pesquisada, neste caso os

serventes. Concluída a limpeza do terreno um dos colaboradores entra em contato com um

Obra a

Tipo de

Caçamba

Tipo de Resíduos Volume

retirado mês

Quanti

dade de

Caçam

ba

Valor

unitário por

retirada

Valor pago mensal

por retirada de

resíduos

Jul/2013

Toco –

14.000m³ - - - - -

Truck – 25.000m³

- - - - -

Agos/2013

Toco –

14.000m³

Mato, areia, terra,

barro e argila. 658.000,00m³ 47 R$ 70,00 R$3.290,00

Truck –

25.000m³

Mato, areia, terra,

barro e argila. 825.000,00m³ 33 R$100,00 R$3.300,00

Set/2013

Toco –

14.000m³ - - - - -

Truck –

25.000m³

Madeira, pedaços de telha, sacos de

papel e plástico,

pedaços de

alvenaria e

cerâmica.

225.000,00m³ 9 R$100,00 R$900,00

Out/2013

Toco – 14.000m³

- - - - -

Truck –

25.000m³

- - - - -

Total Geral

- - 1.708.000,00m³ 89 - R$7.490,00

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prestador de serviço que é dono das caçambas, toco e truck, como se verifica no trecho da

conversa realizada nas proximidades do canteiro de obra no dia 05 de agosto de 2013:

(...) um pessoal capinou e outro com a máquina fez a raspagem do terreno. Logo em

seguida com a ajuda de máquina todo lixo foi colocado nas caçambas. Eles levam o

lixo em caçambas todo que suporta em torno de doze a quatorze metros cúbicos. Ou

a caçamba truck que suporta entre 24 e 25 metros cúbicos praticamente o dobre de

peso da toco. O caminhão menor cobra por retirada a importância de R$70,00

(setenta reais), o caminhão maior o valor por retirada é em torno de R$ 100,00 (cem

reais). (Informação verbal). 6

Nos dias seguintes mais precisamente no dia 29 de agosto de 2013 em conversa

informal com o estagiário de engenharia da mesma obra, por volta das 08h45minh da manhã,

quando questionado se ele sabia o que fizeram com o material (resíduos) que retiraram do

terreno, o mesmo informou que:

Nesta faze inicial todo o material retirado do solo e subsolo fruto do processo inicial

de fundação está sendo doado para o centro comunitário que fica localizado nessa

rua. O Centro Comunitário esta utilizando estes resíduos para fazer aterro em uma

área onde querem construir um espaço de recreação. (Informação verbal).7

As fotos abaixo identificam os resíduos retirados nessa fase inicial da Obra A e que

foi utilizada pelo centro comunitário que fica próximo a obra pesquisada para fazer aterro:

Figura 02 - Resíduo canteiro da Obra A

Fonte: Acervo fotográfico do autor (2013)

O estagiário de engenharia da Obra A também informou que nessa fase inicial há

outros sobras de materiais que viram resíduos:

6 Entrevista com vigia na Obra A, 2013.

7 Entrevista com estagiário de engenharia, 2013.

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(...) outros resíduos estão sendo separados como resto de madeira para ser

reutilizado na fabricação de formas ou escoras. Outra sobra de material que já se tem

nesta obra é o ferro que será encaminhado ao Almoxarife responsável pela venda

deste material para o ferro velho. (Informação verbal). 8

O material citado pelo estagiário da Obra A refere-se aos resíduos produzidos no

inicio do processo de fundação com a demarcação do terreno ou implantação do canteiro de

obras. O ferro será encaminhado para o Centro de Apoio a Produção (CEAPRO), local onde

são armazenados os ferros para venda ou reciclagem. No caso da madeira ela permanecerá na

obra para ser utilizadas nas fabricações de forma ou escora na execução do processo de

fundação. As que não possuem utilidade ou são queimadas ou colocadas nas caçambas

conforme imagens abaixo:

Figura 03 - Resíduo a ser encaminhado para CEAPRO ou aguardando para serem reutilizada na obra

Fonte: Acervo fotográfico do autor (2013)

No período em que se realizou a pesquisa no canteiro de Obra A, não se constatou

nenhum tipo de projeto ou planejamento de gestão dos resíduos produzidos. Não se levou em

consideração o fundamento básico da gestão ecoeficiente que segundo Nascimento e Silva

(2006) está pautada no fornecimento de bens e serviços a preços competitivos, promovendo

ao mesmo tempo redução de resíduos e a agressão ao meio ambiente.

A pesquisa realizada neste canteiro de obra ocorreu através de anotações, registros

fotográficos e por meio de conversas informais. A gestão dos resíduos produzidos

inicialmente neste canteiro de obras se deu de forma paliativa com intuído de retirar os

entulhos gerados na execução da obra e assim, não prejudicar o desenvolvimento da mesma.

O canteiro de obras, a seguir caracteriza-se como uma obra que já corresponde à

superestrutura, pois já apresenta toda infraestrutura correspondente ao canteiro de obras,

8 entrevista com estagiário de Engenharia, 2013.

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alvenaria externa com 80% executada e interna com 50% concluída. Ao mesmo tempo,

realiza-se o processo de revestimento interno e implantação da estrutura hidráulica,

hidrossanitária e elétrica e será identificada como Obra B.

A Obra B está localizada no bairro de São Braz, cercada por outros empreendimentos

imobiliários de construtoras que vê nessa região oportunidade para realização de bons

negócios. Em seu entorno está a Casa do Governador, Museu Emilio Goeldi, supermercado,

doceiras, restaurantes.

No canteiro de Obra B o trabalho que se desenvolve visa a edificação de um

empreendimento residencial com mais de trinta andares e cinco apartamentos por andar, área

de lazer completa com piscina, quadra poliesportiva, sauna, academia entre outras opções de

lazer como salão de festa, churrasqueira, espaço para massagem. Contando ainda com um

espaço reservado para lojas comerciais.

Nessa fase o número de funcionários trabalhando no canteiro de obra é de

aproximadamente 110 (cento e dez) colaboradores. É nesse momento que a produção de

resíduos é composta por um grande número de peças de cerâmicas como tijolos, pedaços de

cabo de aço, madeira como ripa, compensado, pedaços de concreto, sacos de papel, sacos

plásticos, cimento empedrado, além de uma despesa que gerou no período de julho de 2013 a

outubro do mesmo ano um valor de R$ 11.850,00 (onze mil e oitocentos e cinquenta reais),

conforme Tabela abaixo:

Quadro 04 - Relatório de produção de resíduos no período de julho a outubro de 2013 na Obra B

Obra B Tipo de Resíduos Volume

retirado mês

Quantidade

de

Contêiner =

5.000,00m³

Valor

unitário

por

retirada

Valor pago

mensal por

retirada de

resíduos

Jul/2013

Madeira, saco plástico, saca de papel, areia,

cerâmica, papelão, pedaços de concreto,

cimento, tinta, balde, lona plástica, tela de

proteção,

75.000,00m² 15 R$150,00 R$2.250,00

Agos2013

Madeira, saco plástico, saca de papel, areia,

cerâmica, papelão, pedaços de concreto,

cimento, tinta, balde, lona plástica, tela de

proteção,

110.000,00m³ 22 R$150,00 R$3.300,00

Set/2013

Madeira, saco plástico, saca de papel, areia,

cerâmica, papelão, pedaços de concreto,

cimento, tinta, balde, lona plástica, tela de

proteção,

90.000,00m³ 18 R$150,00 R$2.700,00

Out/2013

Madeira, saco plástico, saca de papel, areia,

cerâmica, papelão, pedaços de concreto,

cimento, tinta, balde, lona plástica, tela de

proteção, equipamento de segurança.

120.000,00m³ 24 R$150,00 R$3.600,00

Total

Geral

- 395.000,00m³ 79 - R$11.850,00

Fonte: Elaboração própria do autor

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No período de julho a outubro de 2013, baseada nas informações obtidas junto ao

setor de pagamento da Construtora A, concluiu-se que em um período de quatro meses a

Construtora A, possui um valor médio mensal de pagamento por retirada de resíduos da Obra

B de R$ 2.962,50 (dois mil e novecentos e sessenta e dois reais e cinquenta centavos).

Com objetivo de obter maiores informações a respeito da gestão dos resíduos

produzidos pela Obra B, na manhã do dia 22 de Agosto de 2013, meia hora antes de se iniciar

o DDS (Dialogo Diário de Segurança), no canteiro da Obra B, e que se encontra em

construção com previsão para conclusão da obra nos próximos 17 meses, foi iniciada uma

conversa informal com o Almoxarife Obra B. Quando indagado se na obra havia algum

trabalho ou projeto para reaproveitar o resto de material que estava no contêiner em frente à

obra, o mesmo respondeu que projeto não, mas que eles tentavam aproveitar alguma coisa

conforme apresentado abaixo:

(...) Por exemplo, parte das prateleiras do almoxarifado é de resto de compensado. O

ferro que seria jogado fora hoje é de responsabilidade do Almoxarife Central, ele

vende o ferro e o valor arrecadado é utilizado para compra de ferramentas diversas,

que retornam para obra. (Informação verbal).9

As fotos abaixo apresentam as prateleiras que foram fabricadas por meio da

reutilização de algumas peças de compensado e ripa que seriam depositadas nos contêiner até

que lhe fosse retirados pela empresa responsável pelo serviço:

Figura 04 - Prateleiras feitas de madeira reciclada Obra B

Fonte: Acervo fotográfico do autor (2013)

O almoxarife desta obra disse que a ideia de reciclar não estar fortemente presente

nos canteiro de obras da Construtora A. Um exemplo que pode elucidar esta percepção foi o

fato que ocorreu anteriormente quando a técnica de segurança do trabalho da Construtora A,

9 Entrevista com Almoxarife Central, 2013.

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solicitou ao departamento administrativo alguns camburões para iniciar a seleção dos resíduos

produzidos pela obra, sem muitos argumentos a compra dos mesmos não foi liberada com a

justificativa de que mesmo com a seleção dos resíduos não havia um destino definido para os

mesmos.

A conversa foi encerrada quando o Almoxarife Obra A, deu em seu depoimento a

seguinte informação:

“Já trabalhei em várias obras e em todas elas é muito grande o desperdícios de

materiais que podem ser reciclados, mas que quase sempre são jogados fora (...)” (Informação

verbal).10

Na Obra B, grande parte da produção de resíduos é depositada em contêiner e

recolhida durante a semana. Neste momento quem é responsável por recolher estes resíduos é

a empresa que será denominada neste estudo de EMPRESA CE - COLETA DE ENTULHOS

– localizada em Belém / PA - Rodovia Do Tapanã, conforme imagem abaixo:

Figura 05 - Entulhos na Obra B aguardando para ser retirado pela Empresa CE

Fonte: Acervo fotográfico do autor (2013)

Conforme informações do Almoxarife da Obra B, ao ser solicitado na data de 27 de

agosto de 2013, que informasse assim que houvesse entulho na obra que ele julgasse ser

possível reaproveitar, para que fossem feitos alguns registros fotográficos. O Almoxarife Obra

B, disse que o pessoal já havia ido buscar o contêiner, e por isso não havia nada. Quando

indagado se era o pessoal da prefeitura que recolhia o entulho, ele respondeu que não, o

pessoal da prefeitura não tem nenhuma relação com a retirada de entulho da obra.

Assim, o Almoxarife Obra B, disse que no presente momento quem retira o material

da obra ou entulho é a Empresa CE, em seguida entrou-se em contato com a empresa CE e

seu atendendo passou a seguinte informação:

10

Entrevista com Almoxarife Obra B, 2013.

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(...) Eles vão ao canteiro de obras quando são avisados por alguém responsável pela

retirada do contêiner quando este enche. Após a coleta do contêiner, parte do entulho

que é de resto de concreto, demolição ou qualquer material que sirva de aterro é

doada para o bairro ou proximidades da própria empresa que fica em uma área

carente e que dificilmente a prefeitura chega. Outra parte como madeira eles também

realizam a doação, em alguns casos essa madeira ainda pode servir para fazer

cercado. O que não dá para aproveitar pagasse uma taxa e despejam no Lixão do

Aurá. (Informação verbal).11

O atendente da Empresa CE, também afirmou que a empresa está com um projeto

para ser implantado até final do ano de 2013, ou início do ano que vem em 2014, para

selecionar e tratar o material recolhido com intuito de implantar um trabalho de reciclagem

dentro da própria empresa.

Com relação ao valor cobrado pela retirada de contêiner no local da obra, a mesma

pessoa disse que pode variar de acordo com o local, quantidade, ou número de vezes que será

necessário retirar o material do canteiro de obra, mas que o valor médio fica em torno de R$

150,00 (cento e cinquenta reais) por retirada.

No dia 27 de agosto de 2013, em conversa amistosa que ocorreu ao redor da Obra B,

por volta das 16h00min com o responsável por toda Área Elétrica da Empresa A, que aqui

será identificado como Eletricista A, quando questionado sobre suas atividades na Empresa A,

e se ele consegue mensurar a quantidade de resíduos produzidos no setor dele o mesmo

informou que:

O setor de minha responsabilidade é um setor que precisa de muita atenção porque o

material utilizado para desenvolver as atividades do dia a dia é muito caro, possui

um alto valor econômico. Assim é de extrema importância utilizar o material de

forma consciente. Por exemplo, o cabeamento para um prédio comercial de mais de

20 (vinte) andares chega a se investir uns R$300.000,00 (trezentos mil reais). (...)

mas que mesmo assim existe a produção de resíduos que são jogados fora. Mas que

só daria para calcular a quantidade se houvesse seleção desses resíduos. (Informação

verbal).12

O eletricista A, disse que a técnica de segurança A, tentou iniciar um projeto de

seleção desses resíduos, mais conhecidos como entulho, mas que até o momento não deu

certo.

Após ouvir alguns relatos sobre a gestão dos resíduos produzidos nas obras,

entendeu-se que era necessário conversar com a técnica de segurança do trabalho A, o

encontro ocorreu no dia 28 de agosto de 2013, no final da manhã por volta das 12h09minh no

próprio canteiro da Obra B. Quando a conversa se direcionou para gestão de resíduos, a

mesma se mostrou muito dispostas em desenvolver um projeto voltado para gestão consciente

11

Entrevista com Atendente da Empresa CE, 2013. 12

Entrevista com encarregado de elétrica da Construtora A, 2013.

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dos resíduos produzidos pela obra, além de já possui consigo um projeto de reciclagem desse

material que almeja colocar em prática de acordo com o seu depoimento:

Eu cheguei a apresentar um projeto voltado para gestão e seleção dos resíduos que

são produzidos aqui à diretoria da empresa. Porém não foi aprovado porque não se

sabia o que fazer com o material selecionado. Assim até o momento a ideia continua

no papel, mas também já sofreu grandes mudanças, pois o mesmo já foi ampliado

(...)”. (Informação verbal).13

Com relação à destinação final dos resíduos produzidos nos canteiros de obra a

técnica de segurança do trabalho A, disse que procurou se informar sobre o que fazer com os

resíduos após a seleção dos mesmos e como resposta para o que se fazer com os resíduos

selecionados, ela sugeriu que os mesmos fossem destinados a fazer aterro na rua dos operários

das obras que moram em áreas carente e sem asfalto, logo são áreas de difícil acesso. Outra

ideia seria selecionar resto de cerâmica quebrada, papelão, madeira para doação a oficinas de

artesanato. A própria madeira que sobra pode ser utilizada para produção de prateleiras, mesas

cadeiras, suporte de equipamentos, no canteiro de obras como já vem ocorrendo.

A técnica de segurança do trabalho A, também informou que até mesmo esse tipo de

doação encontra barreiras, como exemplo, as sobras de cerâmica, papelão ou madeira que

podem ser doadas para reciclagens dos mesmos em oficinas, quando oferecido a um

determinado local que hoje desenvolve trabalhos artesanais. A secretária do local solicitou um

projeto definido com orientação do que poderia ser feito com o material doado para poderem

aceitar a doação.

Em seu depoimento a técnica de segurança do trabalho A, afirmou que o grande

interesse é voltado para sobras de ferro, uma vez que, além da reciclagem podem oferecer

bom retorno financeiro dependendo da quantidade disponível para venda.

Por fim, a técnica de segurança do trabalho A, afirmou que a empresa desperdiça

muito material, vive tentando diminuir as despensas, principalmente da obra, mas não

consegue ver onde esses custos poderiam ser diminuídos ou pelo menos amenizados. A

mesma informou que falta alguém que olhe para obra, que conheça a realidade do canteiro e

que se junte com pelo menos mais duas pessoas para desenvolver apenas o trabalho de seleção

e destinação dos resíduos da obra de forma consciente.

Na quarta feira dia 04 de setembro de 2013, a conversa se realizou com o almoxarife

A, um senhor com mais de vinte anos de canteiro de obra. A conversa ocorreu por volta das

13

Entrevista encarregado de elétrica da Construtora A, 2013.

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15h30min, o mesmo foi buscar uma encomenda no stand de vendas que fica localizado na

Obra B, e nesse momento iniciou-se uma conversa sobre o destino final dos entulhos da obra.

Sem poder interferir, ouviu-se atentamente o almoxarife A, informar que é mínima a

quantidade de materiais desperdiçados:-

É mínima a produção de resíduos, até porque muita coisa é reaproveitada e o resto

que se joga fora não serve para mais nada. O ferro é um exemplo, o pessoal das

obras separam os ferros que não poderão ser utilizados novamente nos canteiros de

obras e os enviam para o CEAPRO, neste local as sobras de ferros são estocadas e

vendidas para o ferro velho no valor de R$0,10 (dez centavos) o quilo.

Recentemente eles conseguiram juntar uns 600 kg de ferro que deu em torno de

R$60,00 (sessenta reais), onde o valor é revestido em ferramentas para própria obra.

Ou também em alguns casos as peças puderam ser transformadas em andaimes,

porta fichários e criado mudo. (Informação verbal). 14

O almoxarife A, também informou que a cerâmica quebrada, encontrada

principalmente na fase de revestimento interno e externo do prédio ou fase final de obra como

é o caso da Obra C, foi utilizada na parede e piso dos vestiários da Obra A, e no próprio piso

onde funciona a sala de recursos humanos na Obra B, assim como as mesas, quadro de aviso,

porta capacete, parede e janela. Segundo o almoxarife a madeira dificilmente é utilizada, e por

isso ela não vai para CEAPRO.

Figura 06 - Parede e piso do vestiário da Obra A na fase de implantação do canteiro de obras

Fonte: Acervo fotográfico do autor (2013)

14

Entrevista com almoxarife A, 2013.

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Figura 07 - Sala de recursos humanos da Obra B

Fonte: Acervo fotográfico do autor (2013)

As fotos apresentadas acima correspondem a sala de recursos humanos que fica

localizada na obra B onde são realizados treinamentos de integração e alguns cursos. Nela, o

piso é revestido com sobras de cerâmicas e as paredes de sobras de madeira utilizadas na obra

B. As fotos foram retiradas enquanto ocorria uma conversa informal no dia 28 de novembro

de 2013, com a psicóloga da Construtora A, a mesma, apresentou as mesas que, assim como

as paredes, acabamento de janelas, suporte para capacete foram feitas de madeira reciclada na

própria obra. Ao contrario do que foi dito anteriormente pelo almoxarife A, que a madeira não

vai para o CEAPRO porque dificilmente é utilizada.

O CEAPRO, funciona como um almoxarife central, onde muitos equipamentos,

ferramentas e outros diversos materiais são armazenados. É para este almoxarife central que

são enviadas as sobras de ferros para revitalização ou estocagem para venda futura. Ou outros

resíduos que podem ser reaproveitados e devolvidos aos canteiros de obra da Construtora A,

conforme imagens abaixo que apresenta baldes de tinta que passaram por tratamento de

reciclagem e viraram lixeiras seletivas, pedaços de ferro que antes serviam de escoras e

passaram a ser andaime, placa de aço passaram a ser criado mudo e porta fichários e por fim o

material que esta aguardando destinação correta, conforme imagens abaixo:

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Figura 08 - Material reciclado no CEAPRO

Fonte: Acervo fotográfico do autor (2013)

Figura 09 - Material estocado no CEAPRO aguardando destinação correta

Fonte: Acervo fotográfico do autor (2013)

O almoxarife A, afirma que a atividade realizada de seleção dos resíduos produzidos

na obra é insuficiente, porque o trabalho de seleção é muito difícil e necessita de uma equipe

treinada para desenvolver esse trabalho. No entanto, segundo o almoxarife, a Construtora A,

possui um número pequeno de colaboradores em seu quadro de funcionários responsáveis

pela administração da empresa, ficando mais difícil treinar e direcionar uma equipe

exclusivamente para tratar os entulhos das obras.

Outro problema apontado está relacionado à falta de espaço para armazenar o

resíduo, até que o mesmo passe pelo processo de seleção e destinação adequada. E mesmo

que houvesse a disponibilidade espacial para se estocar e selecionar o que é papel, plástico,

ferros, cerâmica, o que pode ser reciclado do que não há mais como ser reutilizado, isso

demandaria um alto custo para empresa. No entanto, caso se consiga implantar um processo

de gestão dos resíduos produzidos no canteiro de obra, o custo com a retirada de resíduos da

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obra diminuiria e em longo prazo o investimento realizado para implantação no novo sistema

de gestão seria revertidos em lucro para empresa.

Compartilhando da concepção de Gonçalves (2011), quando afirma que a gestão

consciente dos RCC no canteiro de obras, além dos benefícios ambientais, pode contribuir

com a redução de custos para o construtor no momento em que há a redução na contratação de

serviços de remoção de entulho. E redução do desperdício nas obras, uma vez que ao segregar

os resíduos, o construtor passa a identificar os focos de maior geração de resíduos, podendo

assim criar ações para redução dos mesmos.

No período em que se realizou a pesquisa no canteiro de Obra B, não se constatou

nenhum tipo de projeto ou planejamento de gestão dos resíduos produzidos. A pesquisa

realizada neste canteiro de obra ocorreu através de anotações, registros fotográficos e por

meio de conversas informais. A gestão dos resíduos produzidos neste canteiro de obras segue

a linha paliativa com intuído de retirar os entulhos gerados na execução da obra e assim não

prejudicar o desenvolvimento da mesma.

No entanto, mesmo que de forma muito frágil é possível identificar alguns exemplos

em que se faz presente a ecoeficiência na gestão desses resíduos como, por exemplo, a

cerâmica selecionada e transformada em piso para sala de recursos humanos, parte da madeira

que virou resíduo pôde ser transformada em matéria-prima para confecção de mesas, cadeiras,

paredes, e o ferro direcionado para CEAPRO, que se transformou em equipamento para

escritório, de obra e o que não foi possível reciclar foi destinado a venda.

Entretanto, sabe-se que parte do material poderia ter sido doada, além de passar por

um processo melhor estruturado de seleção dos resíduos antes de ser enviado para o contêiner,

dependendo do que encontrassem, alguns resíduos poderiam ter voltado a condição de

matéria-prima. Porém, como foi visto nos depoimentos, o conceito de ecoeficiência, gestão

de resíduos não esta fortemente implantada no corpo administrativo desta organização.

E por fim, o canteiro de Obra C, que se caracteriza como uma obra que já

corresponde a fase final do processo de construção, pois já apresenta toda infraestrutura

correspondente a alvenaria externa e interna finalizada, assim como, revestimento interno e

externo, com estrutura hidráulica, hidrosanitária, elétrica e de acabamento praticamente

concluída. Restando apenas para conclusão e entrega do novo empreendimento limpeza das

áreas de entrada, estacionamentos, desmontagem do que servia de apoio para os operários

como refeitório, sala do engenheiro e almoxarife. Alguns retoques de pinturas, retirada de

tapume, paisagismo e harmonização do ambiente com inclusão de jardim e moveis.

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A Obra C, está localizada no bairro do Umarizal, próximo a um dos maiores

shopping de Belém, ao lado de excelentes bares e restaurantes, clínica, escritórios, escolas,

faculdades, hospitais, academias. Nesta obra, o trabalho que se desenvolve visa a edificação

de um empreendimento comercial com mais de 20 (vinte) andares e 06 (seis) salas por andar,

05 (cinco) elevadores, espaço para auditório, área de café e lojas comerciais.

Nesta fase, o número de funcionários trabalhando no canteiro de obra é de

aproximadamente 80 (oitenta) colaboradores. Tendo a produção de resíduos composta por um

grande número de peças de sacos plásticos, papel ou papelão, metais, vidros, madeiras e

outros. Assim como os resíduos que não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações

economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação, tais como, os

produtos oriundos do gesso muito utilizado na decoração do teto das salas ou lojas. Além dos

classificados como resíduos perigosos, tais como tintas, solventes, óleos, seladores e outros

conforme imagens abaixo:

Figura 10 - Resíduos perigosos como gesso e cimento para manta asfáltica

Fonte: Acervo fotográfico do autor (2013)

Nesse momento, ainda se produz uma quantidade razoável de resíduo composto por

peças de cerâmicas como tijolos, pedaços de cabo de aço, madeira como ripa, compensado,

pedaços de concreto, sacos de papel, sacos plásticos, cimento empedrado, além dos

classificados como resíduos perigosos. A retirada desses materiais da obra gerou no período

de julho de 2013 a outubro do mesmo ano uma despesa no valor de R$ 15.450,00 (quinze mil

e quatrocentos e cinquenta reais) conforme Tabela abaixo:

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Quadro 05 - Relatório de produção de resíduos no período de julho a outubro de 2013 na Obra C

Obra C Tipo de Resíduos Volume

retirado mês

Quantidade

de Contêiner

= 5.000,00m³

Valor

unitário

por

retirada

Valor pago

mensal por

retirada de

resíduos

Jul/2013

Madeira, saco plástico, saca de papel,

areia, cerâmica, papelão, pedaços de

concreto. E os considerados perigosos

como gesso, selador, tiner, água raz

120.000,00m² 24 R$150,00 R$3.600,00

Agos2013

Madeira, saco plástico, saca de papel,

areia, cerâmica, papelão, pedaços de

concreto. E os considerados perigosos

como gesso, selador, tiner, água raz

145.000,00m³ 29 R$150,00 R$4.350,00

Set/2013

Madeira, saco plástico, saca de papel,

areia, cerâmica, papelão, pedaços de

concreto. E os considerados perigosos

como gesso, selador, tiner, água raz

150.000,00m³ 30 R$150,00 R$4.500,00

Out/2013

Madeira, saco plástico, saca de papel,

areia, cerâmica, papelão, pedaços de

concreto. E os considerados perigosos

como gesso, selador, tiner, água raz

100.000,00m³ 20 R$150,00 R$3.000,00

Total Geral

- 515.000,00m³ 103,00 - R$15.450,00

Fonte: Elaboração própria do autor

Com relação ao relato da Obra C, uma das primeiras conversas a serem realizadas foi

no dia 12 de agosto de 2013 por volta das 10h00minh realizada de maneira informal com a

Engenheira responsável pelo processo de construção do empreendimento que esta com

previsão de entrega para o inicio do mês de dezembro de 2013. A Engenheira esta com idade

aproximada entre 22 e 25 anos, com no máximo 02 (dois) anos de conclusão do curso de

engenheira, de acordo com a Engenheira Obra C:

“Nessa fase final de construção a equipe conforme vai concluindo os andares eles

vão descendo todo lixo e colocando nos contêiner para o pessoal buscar (...)”. (Informa

verbal).15

Quando indagada se dá para reciclar ou aproveitar de alguma forma esse resto de

material ela respondeu:

“(...) já tentaram quem iniciou o trabalho foi a técnica de segurança do trabalho A,

mas que não deu certo porque o pessoal não aceitou (esta se referindo ao setor administrativo

da empresa)”. (Informação verbal).16

A engenheira Obra C, também deu como justificativa para que não tivesse dado certo

o trabalho de gestão destes resíduos o fato de que é mais barato pagar pela retirada do

contêiner, uma vez que, esse trabalho de reciclagem é muito caro.

15

Entrevista com almoxarife A, 2013 16

Entrevista com estagiário de Engenharia, 2013.

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Quando questionada se esse resto de material pode ser utilizado em outras obras da

própria empresa, ou se já foi feito um levantamento de custo se é mais barato ou não gerir

esses restos de obra, a Engenheira Obra C, disse que até pode ser utilizado em outras obras,

mas ninguém faz e que não foi feito nenhum levantamento de custo com relação ao

pagamento para retirada do contêiner e reaproveitamento dos resíduos jogados fora.

As fotos a seguir foram retiradas na Obra C, e retratam algumas das sobras de

materiais que viraram resíduos e aguardavam para serem removidos pela Empresa CE ou

encaminhados para CEAPRO como é o caso do ferro:

Figura 11 - Resíduos compostos de cerâmica, pedaços de concreto, madeira e ferro

Fonte: Acervo fotográfico do autor (2013)

Uma das ultimas entrevistas que ocorreram foi com o engenheiro técnico,

responsável pela supervisão dos engenheiros, com um dos diretores da Construtora A, e

estagiária de engenharia que fica na Obra C. A conversa com o engenheiro técnico

responsável pelo trabalho dos engenheiros da Construtora A pesquisada ocorreu no final do

dia 28 de outubro de 2013 na Obra C, quando questionado se havia alguma proposta para

gerir os restos de construção da obra, o engenheiro respondeu que não, eles até tem um

trabalho de pesquisa sobre gestão de resíduos no canteiro de obras, mas que em Belém,

nenhuma empresa desenvolve o trabalho de gestão e seleção do seu material.

“Eu até tenho um trabalho de pesquisa que fala sobre gestão de resíduos, mas é muito

difícil implantar na obra, principalmente pelo custo e dentro da empresa não tem como montar

uma equipe só para cuidar disso (...)” (Informação verbal).17

No caso da Construtora A, de

acordo com o engenheiro, falta pessoal interessado e capital financeiro para se desenvolver

17

Entrevista com engenharia técnico, 2013.

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este tipo de trabalho que para ser eficiente necessita de planejamento, treinamento e

fiscalização dos envolvidos na execução do projeto.

No discurso apresentado pelo engenheiro é fácil verificar como justificativa para não

implantação de uma política de gestão ecoeficiente dos resíduos produzidos pelas obras

devido o custo extra que se teria para implantá-lo. Corroborando com a visão de Hart (2004),

quando afirma que ao se falar em novas tecnologias, mudanças de processos o empresariado

associa a custo extra, não percebendo as novas oportunidades de negócios e redução de custos

a médio e longo prazo.

A conversa informal realizada com um dos diretores da Construtora A, ocorreu no

final do dia 30 de outubro de 2013 na Obra C. Com relação à concepção do diretor da

Construtora A, no que se refere a gestão dos resíduos, o mesmo afirma que este é um processo

difícil por vários fatores:

(...) a formação escolar, a dificuldade de diálogo, a falta de comprometimento da

grande maioria dos operários com o seu próprio trabalho, gera um desgaste muito

grande e maior ainda a necessidade de fiscalização constante do trabalho desses

operários. E parte dessa falta de interesse e comprometimento com o trabalho tem

como consequência o desperdício de material e a produção desses resíduos.

(Informação verbal). 18

Na conversa descrita acima, com o diretor da Construtora A, é possível rever o que

foi citado anteriormente por Delongui et AL (2011) quando o autor se refere a falta de

qualificação na mão de obra utilizada nos canteiros de obra, aliados a técnicas construtivas

ultrapassadas, passa a ter como resultado o desperdício da matéria prima e consequentemente

aumento na produção de resíduos.

Ainda no discurso do diretor, ele deu como exemplo o ferro, um importante material

que é utilizado em todas as fases do processo de construção. Onde no momento da solicitação

de compra do ferro é feito um pequeno projeto, um desenho em que é especificado o tamanho

a espessura e o formato do ferro a ser comprado e mesmo assim há uma grande quantidade de

sobra desse ferro. Outro problema que ocorre na obra esta relacionado com o próprio

equipamento de segurança dos colaboradores, se não houver alguém na obra fiscalizando

como exemplo um técnico de segurança do trabalho, Equipamento de Proteção Individual -

EPIs como bota, capacete, luva, óculos de proteção e uniforme viram lixo.

18

Entrevista com diretor da Construtora A, 2013.

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O relato da estagiária de engenharia foi concebido no final do dia 28 de novembro de

2013 quando questionado sobre a gestão dos resíduos tóxicos a mesma declara em seu

depoimento:

(...) existe aqui na obra um material que é utilizado para impermeabilizar a laje,

existem dois tipos, uma com manta laminada e a outra com manta asfáltica. Depois

que aplicamos a manda de impermeabilização coloca-se por cima um tipo de

plástico para proteger e com certeza disso ai não há como se reciclar nada, até

porque não há sobra do material (...) não sei o que é feito com os recipiente e sacos

que armazenam o material, devem ser colocados tudo no contêiner. (entrevista com

a estagiária de engenharia Obra C, 2013).

A estagiária de engenharia, também informou que no momento que estão derretendo

a manta asfáltica, além de ficar muito quente a fumaça que sai do forno tem um cheiro muito

forte chegando a ser insuportável o local.

No período em que se realizou a pesquisa no canteiro de Obra C, não se constatou

nenhum tipo de projeto ou planejamento de gestão dos resíduos produzidos. A pesquisa

realizada neste canteiro de obra ocorreu através de anotações, registros fotográficos e por

meio de conversas informais. Não foi percebido na administração dos resíduos produzidos

neste canteiro de obras, algum indício de ecoeficiência na gestão dos seus resíduos, por menor

que fosse. O que se fez presente nos depoimento foi o fato de saberem que os resíduos que se

encontram no presente local poderiam ser reaproveitados em alguns casos, mas que não é

feito por falta de pessoal destinado para tal função, ou porque a implantação de uma gestão

ecoeficiente tornaria ainda mais oneroso o processo de construção.

Mesmos os produtos tóxicos que no momento de seu manuseio causam grande

desconforto ao final do processo são misturados à outros resíduos sem nenhum tipo de

cuidado especial. Por meio da observação participante percebe-se que nesse momento a

grande preocupação é limpar, se livrar do que for considerado lixo na obra e prepará-la para

entrega. Não havendo a menor preocupação com a gestão dos resíduos que estão sendo

produzidos e se os mesmos irão gerar externalidades negativas ou positivas.

Têm-se neste cenário de construção como externalidade negativa os resíduos

produzidos no canteiro de obra, quando não é mais possível a reutilização e reciclagem ou

sem a avaliação e seleção previa dos mesmos, são depositados em caçambas ou contêiner e

em seguida retirados das obras por empresas terceirizadas que os esvazia em locais que

podem ser legalizados pela prefeitura do município ou impróprios e não controlados pelo

poder público, onde seus rejeitos passam a oferecer possibilidade de poluição ambiental,

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causando prejuízos à paisagem urbana e poluindo o meio ambiente (MANFRINATO;

ESGUÍCERO; MARTINS, 2008).

O problema ambiental, é sem dúvida, uma das externalidades negativas geradas pelos

resíduos depositados de forma desregrada em aterros clandestinos, acostamentos e rodovias

que podem ser amenizados por meio da inclusão da ecoeficiência na gestão desses resíduos

visando preservar o meio ambiente.

De acordo com Calderani (2012), as externalidades são consideradas de acordo com

os efeitos colaterais de sua produção, podendo constitui-se em efeitos negativos e positivos,

sendo onerosa para sociedade ou geradora de benefícios para mesma. De um lado,

externalidades negativas caracterizam-se pela geração de resíduos sem a sua reutilização,

disposição inadequada, ausência de logística reversa, além dos custos e métodos não

otimizados, na coleta. Por outro lado, a externalidade positiva estão pautadas na redução da

produção de resíduos, reutilização, reciclagem, disposição adequada, logística reversa dos

mesmos, além da redução nos custos e otimização da coleta.

8.2 ANÁLISE DA COLETA DE DADOS

Analisou-se através da pesquisa desenvolvida por meio da observação participante

que a ecoeficiencia está presente, mas de maneira muito frágil, quase que imperceptível no

processo de gestão dos resíduos produzidos nos três canteiros de obras pesquisadas. Seguindo

a linha paliativa com intuído de retirar os entulhos gerados na execução da obra e assim não

prejudicar o desenvolvimento da mesma.

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Quadro 06 - Resumo da produção de resíduos, destinação dos mesmos e valor pago pela retirada no período de

04 (quatro) meses.

Canteiro de

Obra

pesquisado

Produção de

resíduos em 04

meses (julho a

outubro de 2013)

Gestão de Resíduos no período de 04

meses (julho a outubro de 2013)

Quantidade de

resíduos

produzidos

resíduos por obra

no período de 04

meses (julho a

outubro de 2013)

Valor investido

para retirada dos

resíduos por obra

no período de 04

meses (julho a

outubro de 2013)

Obra A

Mato, areia, terra,

barro e argila,

madeira, pedaços

de telha, sacos de

papel e plástico,

pedaços de

alvenaria e

cerâmica.

- Parte do material foi doado para fazer

aterro e nivelamento do terreno da obra;

- Ferro destinado para CEAPRO

reciclagem ou venda;

- Parte da madeira foi reutilizada na

produção de formas ou escoras, e parte

queimada.

- Demais resíduos depositados em

caçambas.

1.708.000,00m³

R$7.490,00

Obra B

Madeira, saco

plástico, saca de

papel, areia,

cerâmica, papelão,

pedaços de

concreto, cimento,

tinta, balde, lona

plástica, tela de

proteção,

equipamento de

segurança.

- Parte da madeira foi utilizada na

fabricação de moveis (mesas, cadeiras,

prateleiras, bancadas, paredes, portas e

janelas);

- Parte da cerâmica foi utilizada no

revestimento do piso da sala de recursos

humanos, engenharia e almoxarife.

- Ferro destinado para CEAPRO

reciclagem ou venda;

- Demais resíduos depositados nos

contêiner

395.000,00m³

R$ 11.850,00

Obra C

Madeira, saco

plástico, saca de

papel, areia,

cerâmica, papelão,

pedaços de

concreto. E os

considerados

perigosos como

gesso, selador,

tiner, água raz.

- Parte da madeira foi utilizada na

fabricação cavalete, escoras e

prateleiras.

- Parte da cerâmica foi utilizada nas

paredes e pisos dos vestiários, sala do

almoxarife e de Engenharia da Obra A

- Ferro destinado para CEAPRO

reciclagem ou venda;

- Demais resíduos depositados nos

contêiner

515.000,00m³

R$15.450,00

Fonte: Elaboração própria do autor

O quadro a cima identifica os tipos de resíduos produzidos, os procedimentos

utilizados para sua gestão e, por fim, a quantidade de resíduos produzidos e investimento

aplicado para retirada dos mesmos dos canteiros de obra, que em sua maioria não passou por

nenhum processo de seleção, do canteiro de obras no período de julho a outubro de 2013, em

que se desenvolveu a pesquisa de campo.

No entanto, mesmo que de forma muito frágil é possível identificar alguns casos em

que se fez presente a ecoeficiência na gestão desses resíduos conforme quadro abaixo:

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Quadro 07 - Resumo da presença / ausência da ecoeficiência na gestão dos resíduos produzidos nos três canteiros

de obras da Construtora A

E

C

O

E

F

I

C

I

E

N

C

I

A

Conceito Presença / Ausência da ação ecoeficiencia na gestão na

Obra A, B e C.

Produção mais limpa

(NASCIMENTO; SILVA,

2006).

Não identificado

Estratégia de fim de vida,

reaproveitamento

(TALMASKY; TAVARES,

2012).

- Parte do material foi doado para fazer aterro e

nivelamento do terreno da obra;

- Ferro destinado para CEAPRO reciclagem ou venda;

- Parte da madeira foi reutilizada na produção de

formas ou escoras.

Redução de poluição através de

mudanças de processo

(CAMARA; DINIZ, 2009).

Não identificado

Racionalidade no uso as energia,

da água e matéria prima

(NASCIMENTO; SILVA,

2006).

Não identificado

Redução, reutilização,

reciclagem e recuperação de

energia (MANSOR; ET AL,

2010).

- Parte da madeira foi utilizada na fabricação de

moveis (mesas, cadeiras, prateleiras, bancadas,

paredes, portas e janelas);

- A madeira também utilizada na produção de energia

para derreter o produto utilizado na fabricação de

manta asfáltica.

- Parte da cerâmica foi utilizada no revestimento do

piso da sala de recursos humanos, engenharia e

almoxarife.

- Ferro destinado para CEAPRO reciclagem ou venda.

Fonte: Elaboração própria do autor

A proposta de gestão acima é desenvolvida nos três canteiros de obras, nas

conversas informais e no próprio dia-a-dia vivenciado nas obras é possível perceber algumas

ações de gestão dos resíduos, como o material retirado do solo que foi doado ao centro

comunitário, a cerâmica utilizada no piso da sala de recursos humanos, engenharia e

almoxarifado, parte da madeira que virou resíduo pôde ser transformada em matéria-prima

para confecção de mesas, cadeiras, paredes, os baldes de tinta passaram a ser lixeiras seletivas

e o ferro direcionado para CEAPRO, que se transformou em equipamento para escritório, de

obra, e o que não foi possível reciclar foi destinado à venda.

No entanto, tudo ocorre de maneira muito instintiva, intuitiva, ao acaso, sem

comunicação entre as obras, como se cada obra fosse uma empresa independente e não a

extensão de uma organização. Apenas a sede do CEAPRO, serve como local para

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armazenamento de parte do resíduo produzido pelas obras. E mesmo assim, a maioria do

material que se encontra no CEAPRO é composta por ferro.

Com relação ao destino final dos resíduos que são colocados em caçambas ou

contêiner, após passarem por seleção ou não, não parece ser de interesse dos colaboradores da

Construtora A, uma vez que, constatou-se nas entrevistas que a maior preocupação no que se

refere ao resíduo, é retirá-lo o quanto antes dos canteiros de obra com intuito de limpar a

mesma e cumprir com os prazos de entrega dos empreendimentos.

Verificou-se que os tipos de resíduos são semelhantes entre as obra, tendo com

diferença uma das outras a quantidade do tipo de resíduos produzido. Como exemplo a Obra

A que produziu no período de quatro meses em que ocorreu a pesquisa um volume de

1.708.000,00m³ (um milhão e setecentos e oito mil) metros cúbicos de resíduos tendo a

grande maioria composta pelo material retirado do solo na fase de limpeza do terreno e início

da fundação, com um custo para Construtora A, de R$ 7.490,00 (sete mil e quatrocentos e

noventa reais).

Com relação a Obra B e C, ambas estão compostas por madeira, saco plástico, saca

de papel, areia, cerâmica, papelão, pedaços de concreto, cimento, tinta, balde, lona plástica,

tela de proteção, equipamento de segurança e produtos tidos como tóxicos, no entanto, não há

como saber onde está mais concentrado a produção de um determinado tipo de resíduo por

não haver nenhum tipo de seleção dos mesmos antes de colocá-los nos contêiners.

Sabe-se que no mês de julho a outubro de 2013, período em que se desenvolveu a

pesquisa a Obra B, produziu um volume de 395.000,00m³ (trezentos e noventa e cinco mil)

metros cúbicos, com um custo para Construtora A, de R$ 15.450,00 (quinze mil e

quatrocentos e cinquenta reais).

Neste mesmo período de julho a outubro de 2013, a Obra C, produziu o equivalente a

515.000,00m³ (quinhentos e quinze mil) metros cúbicos de resíduos com um custe equivalente

a R$ 15. 450,00 (quinze mil e quatrocentos e cinquenta reais).

Assim, de forma geral no período de julho a outubro de 2013 a Construtora A

produziu aproximadamente a quantidade de 2.618.000,00m³ (dois milhões e seiscentos e

dezoito mil) metros cúbicos de resíduos, com um custo de R$ 34.790,00 (trinta e quatro mil e

setecentos e noventa reais). Corrobora-se com o que Souza (2005) afirma sobre a indústria de

construção civil, quando a apresenta como elemento preponderante para o desenvolvimento

do país, mas também, responsável pela produção de grande contingente de resíduos e

consequentemente agressão ao meio ambiente.

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No que se refere, à externalidade dos resíduos produzidos nos canteiros de obra da

empresa pesquisada, compreende-se que a externalidade positiva é percebida, mesmo que de

forma incipiente quando há a preocupação em reciclar ou reutilizar uma pequena parte dos

resíduos que são produzidos nos canteiros de obras da construtora pesquisada.

No entanto, em sua grande maioria a externalidade dos resíduos produzidos pela

Construtora A, caracteriza-se de forma negativa, por não haver tratamento, seleção ou ser

demonstrado algum tipo de preocupação com o que será feito dos 2.618.000,00m³ (dois

milhões e seiscentos e dezoito mil) metros cúbicos de resíduos produzidos no período de julho

a outubro de 2013, em que se deu essa pesquisa.

Uma das justificativas apresentadas pelos entrevistados, no que se refere à ausência

de um projeto de gestão dos resíduos produzidos pela Construtora A, estar relacionado com o

custo para implantação do projeto e ausência de pessoal que possa implantar, direcionar e

fiscalizar um sistema gestão dos resíduos produzidos nos canteiro de obra. No entanto, em

nenhum momento foi citado pelos colaboradores da Construtora A, algum levantamento em

termos de investimentos para implantação do sistema de gestão.

Sabe-se por meio da pesquisa que no período de julho a outubro de 2013, a

Construtora A, teve uma despesa com retirada de resíduos da obra de R$ 34.790,00 (trinta e

quatro mim e setecentos e noventa reais). Com 25% deste valor mais encargos trabalhista,

seria possível montar uma equipe de seis pessoas com um salário base de R$1.087,00 (hum

mil e oitenta e sete reais) cada. Sendo que, de acordo com a Convenção Coletiva de Trabalho

2013/2014 responsável por estipular as condições do trabalho e pisos salariais de acordo com

a categoria, podendo variar de R$ 1.187,55 (hum mil e cento e oitenta e sete reais e cinquenta

e cinco centavos) para profissionais técnicos com nível médio e escolas profissionalizantes a

R$773,90 (setecentos e setenta e três reais e noventa centavos) para auxiliares em geral e

funções semelhantes (SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO DO ESTADO

DO PARÁ, 2013).

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9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa buscou analisar de que forma a ecoeficiência está presente no

processo de gestão dos resíduos produzidos pela indústria de construção civil no município de

Belém, a partir da observação participante realizada em uma construtora local, apontada aqui

com o nome fictício de Construtora A. Neste sentido, compreende-se que a ecoeficiência na

gestão dos resíduos produzidos nos canteiros da construtora pesquisada apresenta-se de forma

sutil, quase que imperceptível. Com apenas algumas pontuações de gestão que se faz de

maneira independente entre os canteiros e sem planejamento.

Percebe-se que, a construtora pesquisada ainda não se conscientizou da importância

de se inserir mudanças de comportamento diante dos resíduos que produz. Neste sentido,

observa-se a necessidade de se implantar algumas mudanças na sua cultura organizacional por

meio da inclusão da ecoeficiência na gestão de seus resíduos que, poderá vir a contribuir no

atendimento de legislações específicas que os auxiliem na redução da geração, coleta,

transporte, acondicionamento e disposição final de seus resíduos.

A inserção da ecoeficiência como política organizacional também poderá contribuir

com a utilização de forma consciente dos insumos utilizados no processo de construção, além

de evitar desperdícios. Tendo como importante aliado neste processo de gestão, a reciclagem

de determinados resíduos, fazendo com que os mesmos possam ser transformados em novos

agregados, possibilitando o seu retorno a cadeia produtiva da construção civil.

Somando ao que foi dito anteriormente, a importância da ecoeficiência na gestão,

ainda está fundamentada, por buscar reduzir perdas, reutilizar, reciclar e recuperar

determinados resíduos por meio da adoção de métodos construtivos mais eficientes e

racionais.

Conclui-se com a pesquisa realizada na Construtora A, que até o presente momento

não há interesse em se desenvolver um projeto para gerir os resíduos produzidos em seus

canteiros de obra, em que se tenha como base a ecoeficiência na gestão dos mesmos. O autor

entende que este tipo de postura, por parte dos gestores da Construtora A, está associada a

falta de conhecimento do volume e principalmente tipo de resíduos que são produzidos no

processo construtivo. Assim como também desconhecem o capital financeiro investido pela

construtora para retirar estes resíduos de seus canteiros de suas obras.

Embora, a pesquisa tenha identificado a existência de algumas iniciativas para gerir

uma pequena parte de seus resíduos como a doação dos resíduos produzidos no canteiro de

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obras que se encontra na fase inicial de construção, assim como parte da cerâmica, madeira e

ferro que foram direcionados respectivamente para o revestimento de pisos e paredes,

confecção de móveis e venda para ferro velho e reciclagem, das obras que se encontram na

fase de superestrutura e de entrega. Falta muito esforço para mudar a cultura organização da

empresa com a inclusão de forma efetiva da ecoeficiência em seu sistema de gestão dos

resíduos que são produzidos diariamente nos canteiros de obras.

Compreende-se que a gestão ecoeficiente não é vista como importante aliado no

processo de reaproveitamento e direcionamento adequado dos resíduos produzidos

diariamente no decorrer do processo produtivo. Pelo contrário, a maioria dos entrevistados

defende a ideia de que a inclusão da ecoeficiencia na gestão dos resíduos somente geraria

custos adicionais a obra, mesmo sem haver algum levantamento no que se refere a

implantação deste projeto na Construtora.

Um fator interessante que se fez presente nas entrevistas é o desejo de se administrar

de forma consciente os resíduos, pelos profissionais que convivem diariamente com os

entulhos de obra e que possuem mais de 10 (dez) anos de experiência no seguimento de

construção e menor formação técnica científica. Ao contrário dos que possuem formação

acadêmica e estão em cargos de chefia que demonstraram maior preocupação em retirar os

resíduos das abras para que os mesmos não atrapalhassem o processo de construção.

Como sugestão para Construtora A, tem-se como proposta a inclusão de uma política

de gestão com a participação de todos os envolvidos no processo de construção como

diretores, engenheiros, arquitetos, mestre de obra, servente, carpinteiros, e equipe no geral,

para que todos possam ter consciência da importância de se gerir de forma racional os seus

resíduos. Não apenas nos canteiros de obras, mas também nos outros setores da empresa

como estandes de venda e departamentos administrativos.

Em seguida buscar alternativas de gestão de resíduos que possam ser absorvidas pela

cultura organizacional da construtora e, a partir daí, reunir uma comissão responsável por

implantar, administrar, treinar e fiscalizar a gestão de forma consciente os seus resíduos.

Como proposta de pesquisa futura, pode-se investigar a forma como ocorre a gestão

dos resíduos no interior das empresas que são responsáveis pela coleta dos resíduos

produzidos pela indústria de construção civil.

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Construção de um modelo para avaliação da sustentabilidade corporativa: um estudo de caso

na indústria têxtil. Prod., São Carlos, v. 19, n. 2, 2012.