UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo...

72
UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO CCHE FACULDADE DE HISTÓRIA LUIS AUGUSTO BARBOSA QUARESMA A ESTRADA DE FERRO BELÉM-BRAGANÇA: para além da integração (1901-1908) ARTHUR WENDER, 2016 BELÉM 2016

Transcript of UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo...

Page 1: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO – CCHE

FACULDADE DE HISTÓRIA

LUIS AUGUSTO BARBOSA QUARESMA

A ESTRADA DE FERRO BELÉM-BRAGANÇA:

para além da integração (1901-1908)

ARTHUR WENDER, 2016

BELÉM 2016

Page 2: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

LUIS AUGUSTO BARBOSA QUARESMA

A ESTRADA DE FERRO BELÉM-BRAGANÇA:

para além da integração (1901-1908)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de História do Centro de Ciências Humanas e Educação da Universidade da Amazônia como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em História. Orientadora: Prof.ª MSc. Maira Oliveira Maia

BELÉM 2016

Page 3: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

LUIS AUGUSTO BARBOSA QUARESMA

A ESTRADA DE FERRO BELÉM-BRAGANÇA:

para além da integração (1901-1908)

Data de Defesa: ____de Dezembro de 2016

Conceito:___________________

Banca Examinadora:

___________________________________________________

Orientadora: Prof.ª MSc. Maira Oliveira Maia

___________________________________________________

1º Examinador Interno: Prof. Dr. Raimundo William Tavares Júnior

___________________________________________________

2º Examinador Interno: Prof. Dr. Rui Jorge Moraes Martins Junior

Page 4: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

Ao meu avô Heleno Alves Barbosa (in memoriam), o meu espelho e exemplo, um dos maiores alicerces da minha educação e formação de caráter, a criação entre a rigidez e o carinho me tornaram a pessoa que sou.

Ao meu pequeno priminho Yan, um sopro de alegria e vida nova em nossa família.

Page 5: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

AGRADECIMENTOS

À minha mãe Helena Doris, minha maior incentivadora para seguir meus

sonhos e a pessoa que mais me apoiou na empreitada do meu curso, respeitando e

incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de

Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo, independente de qualquer

situação.

Ao meu pai Luis Augusto, responsável pela minha caminhada no curso e na

vida, por todos os puxões de orelha e conselhos. Além de tudo, obrigado por todos

os conflitos, embates e divergências, que apenas me fizeram perseverar em minha

escolha.

Aos meus saudosos avós Heleno, Américo, Cecília e Marina (in memoriam), e

minha avó Yedda, responsáveis direta ou indiretamente por fazerem ser quem hoje

sou, por todo carinho, amor, dedicação e instrução que me foram e são dados em

todos os dias de convivência.

Aos meus padrinhos, Carlos Augusto (Dindo) e Maria da Conceição (Tatão), a

minha tia Terezinha (Inha), minha prima Mônica (Konga), meus tios José Augusto

(Foca), Dolores e Ana Cleide, que foram como pais e mães durante toda a minha

vida, acompanhando meu crescimento e auxiliando em minha educação. Obrigado

por todo o carinho, zelo e cuidado.

Ao meu tio André Felipe e minhas primas Nathalia e Marina, que foram, os

três, como irmãos em toda a minha caminhada, obrigado pelas conversas, risos,

jogos de videogame, alegrias e tristezas compartilhadas.

Aos meus amigos irmãos que conquistei durante meu caminho: Matheus,

Hermano, Bruno, Yuka, Caio, Hideki, Bárbara, Aline, Lucas, Eryck, Beatrice, Camile,

Alexandre, Paula, Nivio, Megale, Lorena, Arthur, Letícia, Clayssa, Bianca, Paris,

Mayara. Cito apenas alguns com receio de incorrer na falha de esquecer alguém.

Eles, tanto os nomeados quanto os não, são os grandes responsáveis por muitas

alegrias, choros, conselhos, conversas, brigas e risos que tornam a vida mais

tranquila e leve. Obrigado a cada um por seus jeitos únicos e por todos os

momentos compartilhados.

Às amizades que a Universidade da Amazônia proporcionou serem

construídas: Maria Rosa, Loren, Murillo, Vitor, Amanda, Guilherme, Juliana,

Shayane, Julia, Vitória, Alberto, Christopher e Leonardo. Obrigado por tudo durante

Page 6: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

esses quatro anos, tornando a lida mais leve e prazerosa. Eles realmente sabem o

quão são especiais para mim.

Aos meus amigos da Universidade Federal do Pará, Natália, Susan, André,

André (Badé), Felipe, Gabriel, Raíssa, Andrey, Mikaela, Arthur, Caio, Leonardo, Julio

e muitos outros, companheiros de risos, aventuras, trabalhos, eventos e parte do

suporte de um alucinado que faz duas faculdades.

Aos meus colegas de classe da UNAMA, que a cada dia enriqueceram os

debates acadêmicos e foram grandes companheiros durante quatro anos.

Aos meus professores do Ensino Fundamental, responsáveis por minha

educação e formação de caráter. Aos professores do Ensino Médio: Ana Amélia,

Reginey Martins, Waldemir, Rosana Rodrigues, Adriana Leite, Pascoal Paracampo,

Rodrigo Bandeira, Nelson, Ivete França, Maria de Lourdes, Paulo Ramôa, Heloisa

Bolças, Maria de Belém, Maria de Fátima e Maísa Lopes, além dos demais

funcionários, responsáveis por parte de minha formação e personagens diretamente

ligados a quem sou atualmente.

Um agradecimento especial aos responsáveis pela minha escolha

profissional, Tereza Sodré, Alexandre Dimas, Marco Cavalcante, Ana Cristina e

Michel Pinho.

À professora Maria de Nazaré Sarges (Naná), professora da UFPA que,

mesmo sem saber, foi, quando ainda em meu primeiro ano do ensino médio, a

responsável por eu optar cursar História definitivamente, através de seu Belém,

riquezas produzindo a Belle Époque (1870-1912).

Aos meus professores da UNAMA Stela Pojuci, Raimundo William, Frederik

Mattos, Rui Jorge, Vera Pimentel, Ivone Xavier, Luciana Marinho, Letícia Barriga,

Wânia Alexandrino, Jairo de Jesus, Simone Oliveira, Diego Pereira, Antônio Maia,

Lucélia Bassalo, Maria do Céu Santos, Ceila Morais, Rachel Abreu, Conceição Mira

e Graça Salim, que, com muito carinho, dedicação e esforço, foram os responsáveis

por meu ensino superior, sempre se preocupando com uma boa formação dos

discentes.

À Maira Maia, minha querida orientadora, que, com muito carinho, calma,

competência, puxões de orelha e extrema paciência, possibilitou a execução e a

conclusão do presente trabalho com êxito, bem como os debates em sala, a

desconstrução da historiografia e o fazer pensar a história.

Page 7: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

Às bibliotecárias e técnicas do Museu Paraense Emilio Goeldi – Fátima

Telles, Graça Figueiredo, Ana Maria (in memoriam), Francileila Cavalcante, Berenice

Bacelar, Sônia Dias, Olímpia Reis Resque, Graça Santos, Andrea de Assis e demais

funcionários –, que, desde pequeno, me acolheram no universo dos livros e da

leitura, exercendo o real papel de suas formações, o de estimular, disponibilizar e

acolher os leitores na biblioteca.

Ao Colégio Gentil Bittencourt, local onde cresci e passei os primeiros quinze

anos da minha vida. Em especial, à irmã Ana Clemens Melo, uma grande mulher,

religiosa e educadora, sempre vigilante, carinhosa e zelosa com minha conduta e

meu desempenho escolar. À irmã Wania Lima e à coordenadora Maísa Lopes, que

me permitiram a oportunidade de retornar à escola como estagiário da disciplina

História, podendo retribuir, ainda que modestamente, tudo que me foi ofertado pelo

Colégio para minha formação.

Aos funcionários do CREA-PA e da Fundação Cultural Tancredo Neves, que

sempre estiveram dispostos a atender e auxiliar na pesquisa. Ao Arquivo Público do

Estado do Pará e à Associação dos Amigos do Arquivo Público do Estado do Pará

(ARQUPEP), nas pessoas de Letícia Barriga, William Paixão, Maria de Fátima

Veloso (Fafá), Roberta Ferreira, Ethel Soares, Lia Mara e Suellen Braz, esta última

que me apresentou ao mundo da fotografia. Todos fizeram parte da minha formação.

Ao Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP), na figura da Prof.ª Anaíza

Vergolino e Silva e do Prof. Pedro Rocha, que me possibilitaram a vivência do

voluntariado, acreditando no meu trabalho, exemplos de dedicação e compromisso

com a memória e a história da cidade de Belém. Faço um agradecimento mais do

que especial aos companheiros de labuta, Suellen Braz, Patrick Pardini e Rosa

Pereira.

Espero sempre contar com todos em meus novos desafios. Simplesmente,

muito obrigado, sempre os levarei em meu coração e em minha memória, pois todos

fazem parte da minha história.

Page 8: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

[...] arquejando e rangendo ferros, um olho enorme varando a noite, o trem dá graças ao maquinista, quando estaciona, para receber lenha, tomar água, ou descarregar os retirantes. Expelindo jatos de vapor, mostra o longo cansaço da carreira (...) O trem se esbofa a noite inteira. (...) Os trilhos gastos, assentes em dormentes desaprumados, tornam-se escorregadios; e a máquina, para arrastar a cauda, arranca e bufa aos gorgolejos, como um cardíaco obrigado a andar muitas léguas [...]

Bruno de Menezes, Candunga, 1993.

Page 9: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo compreender a expansão da Estrada de Ferro

Belém-Bragança (EFB) e seus novos ramais, mais especificamente o Ramal do

Pinheiro (hoje Icoaraci, um dos distritos de Belém), no período de 1901 a 1908,

percebendo os embates e jogos de interesses políticos imbricados no seu

espraiamento pela cidade de Belém e interiores, bem como perceber a dinâmica das

políticas públicas que envolveram a Estrada de Ferro, enquanto um dos símbolos de

modernidade no início do século XX. No período, estava à frente da governança

estadual Augusto Montenegro, responsável pela criação de novos braços de trilhos,

tanto para conexão da cidade, quanto para fazer de Belém uma cidade

modernizada. Para a elaboração do trabalho utilizaram-se as fontes ditas oficiais,

como os relatórios e as falas produzidos por Augusto Montenegro durante suas duas

gestões, bem como outros documentos adjacentes que mostram o desenrolar oficial

da história da ferrovia, assim como se utilizou de pesquisa bibliográfica e pesquisa

iconográfica. Percebe-se, então, que a Belém-Bragança não foi apenas um

elemento de integração regional, mas, também, uma estratégia de governo geradora

de lucros ao Tesouro Estadual, percebida por vieses do discurso político contido nos

relatórios do governador vigente na época.

Palavras-chave: Belle Époque. Modernidade. Augusto Montenegro. Estrada de

Ferro Belém-Bragança. Ramal do Pinheiro.

Page 10: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

ABSTRACT

The work presented have as an objective comprehend the Belém-Bragança Railway

expansion and it's newbranch lines, more specifically Pinheiro's Branch (nowadays

Icoaraci's District) between 1901 and 1908, perceiving the disputes and the political

interest games imbricated on it's expansion around the city of Belém and

countryside, as well as to perceive the dynamic of the public politics that involved the

railway as one of the symbols of modernity in the beginning of the XX century. At the

time in the front of the statal governance was Augusto Montenegro, responsible for

the creation of new branch lines for the connection of the city, as well as to make

Belém a modernized city. To elaborate the work it was used the sources said as

officials, like the reports and speaks produced by Augusto Montenegro in his two

mandates, as well as other adjacent documents that show the official unroll of the

history of the BR as well as it was used the bibliographic and the iconographic

search. It's perceived then that Belém-Bragança wasn't only one element of regional

integration, but also, a strategy of government that generated profit to the Statal

Treasure, besides that, perceive the bias of the political discourses contained on the

reports of the vigent governor at the time.

Key words: Belle Époque. Modernity. Augusto Montenegro. Belém - Bragança

Railway. Pinheiro Branch.

Page 11: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 – Viagem na Estrada de Ferro Manchester & Liverpool ...........................18

Figura 02 – George Stephenson’s Rocket Train ….………………………………..….18

Figura 03 – The Great Exhibition at Crystal Palace, 1851 ..…………………………..20

Figura 04 – Domo Central da Galeria de Máquinas Exposição Universal de Paris,

1889 ........................................................................................................20

Figura 05 – Antwerpen-Centraal Railway Station, na Bélgica …...……………….......24

Figura 06 – Madrid Atocha Railway Station, na Espanha .........................................24

Figura 07 – Irineu Evangelista de Sousa,o Barão de Mauá ......................................26

Figura 08 – Gravura da cerimônia em que o Imperador assentou o primeiro

dormente da Estrada de Ferro Petrópolis ..............................................27

Figura 09 – Estrada de Ferro Recife ao São Francisco 1858-1860 ..........................28

Figura 10 – Estrada de Ferro Santos-Jundiaí ...........................................................28

Figura 11 – Estrada de Ferro Donna Thereza Cristina .............................................28

Figura 12 – Estrada de Ferro Belém-Bragança .........................................................28

Figura 13 – Barão de Maracaju ...............................................................................32.

Figura 14 – Marco da primeira légua patrimonial de Belém, na Av. Almirante Barroso,

em frente ao CCBS da UEPA ....................................................................................32

Figura 15 – Mapa da Estrada de Ferro Belém-Bragança ..........................................34

Figura 16 – Governador Augusto Montenegro, por Carlos Custódio de Azevedo,

1906 .........................................................................................................35

Figura 17 – EFB – Estação de São Braz em 1899 ....................................................43

Figura 18 – EFB - Estação de São Braz em 1908 ....................................................44

Figura 19 – Villa Operária em Marituba, Estrada de Ferro de Bragança ..................44

Figura 20 – Officinas de Reparo das Locomotivas ....................................................45

Figuras 21 e 22 – Fachada da Estação de Pinheiro .................................................45

Figura 23 – Banquete dos Intendentes no Bosque Rodrigues Alves no dia 15 de

Agosto de 1903 ......................................................................................48

Figuras 24 e 25 – Chalet e Lago do Livreiro Tavares Cardoso e Chalet do Senador

José Porphirio ................................................................................51

Figuras 26 e 27 – Ponte da Estrada de Ferro para Descarga e Depósito de

Carvão....................................................................................51

Page 12: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Despesas com Pessoal Referente ao ano de 1901 .............................41

Quadro 02 – Valor da Lenha Fornecida para a EFB em 1902 ..................................48

Quadros 03 e 04 – Listagem de Material Para o Ramal do Pinheiro ........................52

Quadro 05 – Balanço de Arrecadação 1903-1907 ....................................................55

Quadro 06 – Valores que a Linha Principal Transportou em 1907............................55

Quadro 07 – Valores que o Ramal do Pinheiro Transportou em 1907 .....................56

Quadro 08 – Valores Transportados pelo Ramal do Pinheiro....................................57

Page 13: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO..................................................................................................................13

2 – FERROVIAS, TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO ..............................................16

2.1 – A Revolução Industrial e a Origem das Ferrovias ......................................16

2.2 – O Transporte Ferroviário: Símbolo de Modernidade ..................................22

2.3 – As Ferrovias no Brasil e na Amazônia .........................................................25

3 – A EFB PARA ALÉM DA INTEGRAÇÃO ..........................................................38

4 – CONCLUSÃO ......................................................................................................59

REFERÊNCIAS .........................................................................................................62

FONTES ....................................................................................................................67

Page 14: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

13

1 – INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo tratar da Estrada de Ferro Belém-

Bragança (EFB) e seus novos ramais, mais especificamente o Ramal do Pinheiro

(atual Icoaraci, um dos distritos de Belém), no período em que estava à frente da

governança estadual Augusto Montenegro, responsável pela criação de novos

braços de trilhos tanto para conexão da cidade de Belém com os interiores, quanto

com os arrabaldes. Essa grande expansão foi fruto de uma política implantada pelo

governador como “pauta de governo” para a Estrada de Ferro. Esse elemento, a

ferrovia, é um dos símbolos de modernidade no início do século XX. Portanto, para

mostrar Belém como uma cidade modernizada, havia a necessidade de se ter uma

ferrovia.

O interesse pela temática surgiu após ter ouvido que em um grande casarão

bellepoqueano localizado na avenida Almirante Barroso havia algumas senhoras

cheias de histórias para contar. Tais histórias se entrecruzavam com a história da

cidade e seu desenvolvimento. As senhoras são filhas do engenheiro Amynthas de

Lemos, um dos responsáveis por tais obras. Elas guardam toda a memória dos pais

e a história da família, que é marcada pelos trilhos da Estrada de Ferro Belém-

Bragança. Quadros, fotografias e histórias surgem ao se adentrar a casa, instigando

a curiosidade de qualquer leigo ou desinteressado e muito mais ainda de um

estudante de História.

Assim, por meio deste trabalho, se objetiva compreender a expansão da

ferrovia entre 1901 e 1908, percebendo os embates e jogos de interesses políticos

imbricados no seu espraiamento pela cidade de Belém e interiores, bem como

perceber a dinâmica das políticas públicas que envolvem a EFB, analisando-a não

mais apenas como um elemento de integração regional, mas, também, como uma

estratégia de governo geradora de lucros ao Tesouro Estadual. Além disso, há o

propósito de perceber os vieses do discurso político contido nos relatórios do

governador vigente na época.

Para a construção deste trabalho, utilizaram-se as fontes ditas oficiais, como

os relatórios e falas produzidos por Augusto Montenegro durante suas duas gestões,

assim como outros documentos adjacentes que mostram o desenrolar oficial da

história da EFB. Além desses documentos, também se utilizou de pesquisa

bibliográfica, a partir de referências como Cruz (1955), Andrade (2010), Lacerda

Page 15: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

14

(2006), Hardman (2005) e outros autores que vêm trabalhando com esta temática

local, nacional e internacionalmente. Aliada a isso, se realizou uma pesquisa

iconográfica com intuito de levar o leitor a perceber, através da visualidade, o

contexto histórico do trabalho, as políticas desenvolvidas acerca da temática e as

modificações socioespaciais estabelecidas pelo signo da modernidade.

Outro recurso importante para esta pesquisa foram as fontes oficias

produzidas pelo governo do Estado, nas quais o administrador anualmente

reportava-se publicamente com intento de apresentar as ações por ele realizadas

durante o ano de governo e os planos traçados para os próximos anos. Assim, como

evidencia Bloch (2001), criou-se uma história problema a partir dessas fontes e não

apenas um relato positivista e historicista preocupado apenas em fazer um

compêndio de fatos ou uma grande súmula de nomes ilustres.

Como, a exemplo de Batista (2014), a partir de uma análise dos relatórios

administrativos dos presidentes de província, foram abordados os documentos e

ouvidos os ecos de suas vozes, percebendo os interesses políticos e a construção

das falas do governante da época.

Em relação à estrutura do trabalho, o primeiro capítulo é composto de um

debate historiográfico a partir de artigos e livros acerca da Revolução Industrial,

momento impulsionador das ferrovias e que proporciona intenso crescimento

urbano. Outro item trabalhado é uma incursão à temática ferroviária em âmbito geral

e posteriormente no Brasil, destacando os usos e expansões no País.

Posteriormente, analisa-se a questão da Estada de Ferro em seu caso local,

Ferrovia Belém-Bragança, que, por ser a primeira da região norte do País, torna-se

um marco da modernidade na “selva” e da integração regional do território paraense.

O segundo capítulo, por sua vez, contém os debates acerca da expansão da

Estrada de Ferro Belém-Bragança como uma pauta de governo de Augusto

Montenegro, bem como, através da análise de discursos, compreende os jogos de

interesse na abertura dos ramais, mais especificamente o Ramal do Pinheiro,

percebendo então a relevância do mesmo para a dinâmica da urbe,

compreendendo, assim, não mais a ferrovia como um elemento apenas integrador,

mas como uma forma de gerar lucros ao Estado que, segundo a administração

vigente na época, estava em crise.

Page 16: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

15

Mostra-se, assim, a importância das estradas de ferro para a dinâmica da

cidade de Belém, tomando especificamente a EFB como elemento carregado de

simbolismos de modernidade, que reafirma a urbe perante os outros estados da

nação. E, para além disso, se torna um dos grandes vetores de arrecadação de

divisas para as finanças estaduais. A partir desses pressupostos, discute-se acerca

dos interesses e consequências imbricados no desenvolver da Belém-Bragança com

a abertura do Ramal do Pinheiro, que se tornou, em pouco tempo, tão fundamental

para a economia e a dinamização estadual.

Page 17: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

16

2 – FERROVIAS, TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO

A estrada de ferro, arrastando sua enorme serpente emplumada de fumaça, à velocidade do vento, através de países e continentes, com suas obras de engenharia, estações e pontes formando um conjunto de construções que fazia as pirâmides do Egito e os aquedutos romanos e até mesmo a Grande Muralha da China empalidecerem de provincia-nismo, era o próprio símbolo do triunfo do homem pela tecnologia (HOBSBAWM, 2009, p.61).

2.1 – A Revolução Industrial e a Origem das Ferrovias

A história das ferrovias remonta ao século XIX e representa uma grande

modificação na história da humanidade. Foi ao longo do tempo responsável pelo

encurtamento de distâncias e pelo aumento de fluxos de pessoas, informações,

produtos, serviços e capital. Com a Revolução Industrial, no século XVIII, se percebe

um contexto propício para a febre ferroviária a se espalhar pelo mundo durante o

início do século XIX, com a invenção da máquina a vapor. Hobsbawm trabalha a

Revolução Industrial dando seu significado como:

a criação de um “sistema fabril” mecanizado que por sua vez produz em quantidades tão grandes e a um custo tão rapidamente decrescente a ponto de não mais depender da demanda existente, mas criar seu próprio (sic) (HOBSBAWM, 2009, p.48).

A Inglaterra torna-se pioneira na Revolução Industrial, visto que foi ele quem

iniciou uma política de cercamentos1 mais intensa, fazendo assim com que

ocorresse um grande fluxo de êxodo rural, o que levou à superlotação das cidades e

a péssimas condições urbanas com mão de obra disponível e barata para trabalhar

nas fábricas e manufaturas. Outro elemento fundamental para o pioneirismo inglês

foi a grande quantidade de matéria-prima, nesse caso o algodão (família

Malvaceae), para a produção de tecidos comercializáveis no mercado internacional

1 Cercamentos é o processo de exclusão dos trabalhadores de seu meio de sustento, as terras produtivas, na transição do feudalismo para o capitalismo, mediante sua transformação em propriedade. Para um exemplo de cercamento, ver: Marx (2008).

Page 18: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

17

que gerou grande acúmulo de capital para a Inglaterra (NATAL, 1991)2. Tal contexto

provocou um novo dinamismo no perfil econômico, industrial e espacial da época.

Segundo Vilar (2011), o ferro não era um material utilizado até o início do

século XIX na construção de edificações ou maquinários, ele se restringia

principalmente a ferramentas. No entanto, a partir daquele período, esse material,

bem como o vidro, passou a ser símbolo de edificações e também de maquinário.

Desse modo, passam a se desenvolver as primeiras locomotivas e estradas de ferro

na Europa. E o ferro se consolida como um símbolo da modernidade3 e da

modernização4, sendo inclusive exportado para países como o Brasil e os Estados

Unidos, dentre outros.

No século XIX, ocorreu um boom das estradas de ferro pela Europa e pelos

Estados Unidos da América. A primeira a surgir é datada de 1830, criada para

interligar Liverpool e Manchester, na Inglaterra (Figura 1). No entanto, a primeira

locomotiva é de 1814 (Figura 2), criada por George Stepheson5. A implantação de

estradas de ferro torna-se um símbolo de modernidade e avanços tecnológicos para

o século XIX, portanto, era um elemento carregado de simbolismo, como enfatiza

Hobsbawm:

Nenhuma outra inovação da revolução industrial incendiou tanto a imaginação quanto a ferrovia, como testemunha o fato de ter sido o único produto da industrialização do século XIX totalmente absorvido pela imagística da poesia erudita e popular. [...] Indubitavelmente, a razão é que nenhuma outra invenção revelava para o leigo de forma tão cabal o poder e a velocidade da nova era (2009, p.61).

Nesse mesmo contexto, surgem as Exposições Mundiais ou Exposições

Universais, locais de eventos onde todas as grandes nações se reúnem mostrando

sua produção tecnológica, científica e cultural.

2 Para outros motivos do pioneirismo inglês da Revolução Industrial, ver: Hobsbawm (2009). 3 Forma de ver o mundo que ganha força a partir do Iluminismo, quebrando então com a visão extremamente teocêntrica da Idade Média e colocando em voga uma visão mais racional de mundo. Ver: Berman (1986). 4 Conjunto de processos pelos quais uma sociedade passa para se tornar moderna. Tais processos podem ser a urbanização e a industrialização, que são elementos que podem proporcionar mudanças de pensamento, visão de mundo e modos de vida. Ver: Berman (1986). 5 George Stephenson (1781-1848) foi um engenheiro civil e engenheiro mecânico inglês. Projetou a famosa e histórica locomotiva a vapor, sendo conhecido como o pai dos caminhos de ferro britânicos. Ver: British Broadcasting Corporation (2016).

Page 19: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

18

Figura 1: Viagem na Estrada de Ferro Manchester & Liverpool (autor não identificado)

Fonte: Edgehillstation, 2016

Figura 2: George Stephenson's Rocket train

Fonte: British Broadcasting Corporation, 2016

A primeira destas exposições ocorreu em Londres, em 1851 no Palácio de

Cristal e posteriormente em diversos lugares do mundo. Esses eventos foram então

Page 20: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

19

o momento propício para o exibicionismo e certo voyeurismo6 da civilização

burguesa (HARDMAN, 2005). Cabe aqui perceber que tais locais também serviam

como disseminadores da ideologia da modernidade, do ferro e do vidro, dos avanços

tecnológicos que as nações deveriam possuir para entrar no seleto grupo de

“potências mundiais”.

Assim, participar desses eventos não é apenas uma forma de exibicionismo

sem motivo, mas sim um evento demarcador de papéis e posições no mundo, como

é descrito:

Reaparece aqui o nacionalismo revigorado pela expansão planetária dos impérios europeus, mesmo que o processo adquira contornos, no cenário das exibições, de entrelaçamento fraterno dos povos. A divisão social do trabalho mostra-se precisamente como divisão entre nações. Os estandes classificam não só produtos, mas, ao mesmo tempo, países. Sediar uma Exposição Nacional já representa, por si só, motivo de júbilo nacional (HARDMAN, 2005, p.60).

Ao comentar Karl Marx e Frederich Engels, Hardman (2005, p.74-75) mostra

que “Com essa exposição, a burguesia do mundo erige na moderna Roma, seu

panteão, no qual exibe, com orgulhosa autossatisfação, seus deuses, os quais ela

mesma se construiu”. Assim, percebe-se que a importância e o significado da

máquina (não se limitando apenas ao trem) são tão grandes para a sociedade

moderna que são organizadas festas (exposições) em homenagens a esses

“deuses” criados pelo homem, tal qual as celebrações da antiguidade em honra a

divindades (Figuras 3 e 4).

6 Segundo o dicionário, Excitação sexual apenas pela observação de cópula praticada por

outros ou pela observação dos órgãos genitais de outrem; mixoscopia. (MICHAELIS, 2016). No presente contexto utilizar-se-á para a observação e deleite ao apreciar as maravilhas da modernidade.

Page 21: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

20

Figura 3: The Great Exhibition at Crystal Palace, 1851

Fonte: Archexpo, 2016

Figura 4: Domo Central da Galeria de Máquinas, Exposição Universal de Paris, 1889, por Louis Beróud.

Fonte: Muzzique, 2016

Page 22: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

21

A nobreza e os reis, como patrocinadores desses eventos, consolidam assim

o estado burguês, que se reafirma a partir dessas exposições, incluindo então a

ferrovia, como uma exigência primordial da revolução técnica e científica agilizada

pelo capital (POSSAS, 2001). Isso porque a ferrovia traz ao cenário moderno um

novo olhar, através da monumentalidade e da grandiosidade de suas estações,

associadas às contradições produzidas por novas formas de dominação e exclusão,

disseminando, assim, contradições e conflitos sociais. Exemplifica-se tal contradição

nas exposições universais como a de 1851, em Londres, como descreve Hardman

(2005) ao contrapor o exibicionismo da burguesia e a condição excluída dos

operários que utilizavam a via férrea e sua dinâmica como opção de lazer.

Neste contexto, as ferrovias vêm também fomentar o surgimento de outras

atividades econômicas, que surgem a partir do trem, a exemplo do turismo. Surgido

como subproduto da revolução industrial, a atividade turística agenciada tem sua

gênese na Inglaterra, na segunda metade do século XIX, com Thomas Cook7. Este,

como retrata Camargo (2008), torna-se o responsável pela implantação de um trem

especial entre Leicester e Loughborough, no formato de uma excursão, a fim de

levar pessoas para encontros de Ligas de Temperança8.

Outra das funcionalidades das vias férreas, desde o século XIX, é o

transporte de tropas militares e armamentos, como é apresentado por MacMillan

(2013, p.296): “In 1870, as chief of Prussian general staff, he was responsible for the

sucessful campaign against France. This time the armies were carried to the

battlefield by trains”9. Esse é um elemento fundamental para a dinâmica da guerra

até o século XX, visto que, ainda durante a Primeira Guerra, foi um dos meios de

transporte dos soldados para o campo de batalha. Infere-se então que o trem, ou

melhor, a ferrovia como um todo, torna-se um elemento diferencial e propulsor de

novas relações sociais e econômicas, não mais somente para a sociedade

burguesa, mas também para o proletariado.

7 Thomas Cook (1808-1892), empresário inglês considerado o pai do turismo agenciado. 8 Associações puritanas organizadas contra o álcool, o jogo e a prostituição. 9 “Em 1870, como chefe de estado maior prussiano, ele foi responsável pela campanha bem sucedida contra a França. Desta vez os exércitos foram levados aos campos de batalha por trens.” (tradução nossa)

Page 23: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

22

2.2 – O Transporte Ferroviário: Símbolo de Modernidade

O ser humano busca desde os primórdios domesticar ou dominar a natureza.

Porém, a partir do século XIX, impulsionado pelo desenvolvimento propiciado pela

Revolução Industrial do século XVIII e pelo melhoramento tecnológico, a máquina

triunfa como elemento de dominação, como ressalta Bresciani:

Afinal, atribuía-se aos engenhos astuciosos fabricados pelos homens – as maquinas com seus mecanismos irresistíveis e incansáveis – essa vitória na guerra com a rude natureza. A máquina foi apontada como expressão simbólica e material dessa vitória que lograra emancipar o homem do limitado destino de ser subjugado aos imperativos do mundo físico (1985, p.37).

E, assim, o alvoroço da vida moderna se alimenta, nessas descobertas,

avanços tecnológicos, mudanças de visões de mundo, criando novos ambientes e

ideologias na sociedade.

Corroborando a premissa da autora supracitada, Judt delineia o painel de

mudanças ocorridas na paisagem com a chegada das ferrovias:

As estradas de ferro reinventaram a paisagem. Cortaram caminho através de colinas, escavaram por baixo de estradas e canais, foram levadas através de vales, vilarejos e estuários. O caminho permanente podia ser estendido sobre travas de metal, cavaletes em madeira, pontes de tijolos, aterros feitos com pedras ou musgo compactado; [...] as ferrovias exigiam - e lhes eram concedidos por toda parte - poderes e autoridade, tanto sobre os homens como sobre a natureza: direitos de passagem, de propriedade, de posse e de destruição que eram (e permanecem) sem precedentes em tempos de paz (2016, p.328-329).

Tal cenário é marcado por relações complexas em que o ritmo da vida passa

a ser acelerado e, como mostra Berman (1986, p.16), “No século XX, os processos

sociais que dão vida a esse turbilhão, mantendo-o num perpétuo estado de vir-a-ser,

vêm a chamar-se ‘modernização’”. Percebe-se que o triunfo da modernização

mescla-se ao triunfo da máquina e do homem sobre a natureza. O trem é um dos

elementos de dominação e desbravamento de territórios antes pouco conhecidos e,

como afirma Diniz (2012, p.50), “levaria a civilização ao sertão” e não se ateria

apenas aos centros urbanos.

Page 24: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

23

Compreende-se, assim, o trem como um dos elementos chave desse

desenvolvimento propiciado pela modernidade, como descreve Santos (2012) ao

afirmar que o simbolismo que a velocidade trazida por uma locomotiva carrega

acaba por propagar o discurso de que a modernidade chegaria de trem. Assim,

concebe-se que o elemento ferroviário torna-se um símbolo de modernização, já que

o mesmo dinamiza a economia e articula e relação com os portos, necessários na

dinâmica comercial. Isso é corroborado a partir de Zorzo e Silva (2011) ao

analisarem a emergência do capitalismo.

Tais teóricos mostram que onde existiam ferrovias ou empresas ferroviárias,

consideradas símbolos da modernidade, o território se mecanizou e ocorreu uma

mudança produtiva e financeira, bem como na forma de deslocamento das pessoas

e como as mesmas passam a se agrupar, como afirma Benjamin:

A marca histórica da estrada de ferro consiste no fato de ela representar o primeiro meio de transporte – e sem dúvida também o último, até as grandes embarcações transatlânticas a vapor – que forma massas de pessoas. A diligência, o automóvel, o avião transportam viajantes apenas em pequenos grupos (2007, s. p.).

Percebe-se que o trem realizaria façanhas nunca antes pensadas, penetrar

pela zona rural, ligar nações, aumentar o fluxo de capitais e pessoas, a exemplo do

que ocorreu com o objeto deste estudo, a Estrada de Ferro Belém-Bragança,

portanto, deveria ser comemorada.

Isso pode ser percebido a partir da perspectiva de que:

Os trens alcançavam o centro das grandes cidades – onde suas façanhas eram festejadas com estações ferroviárias igualmente triunfais e gigantescas – às mais remotas áreas da zona rural, onde não penetrava nenhum vestígio do século XIX. Por volta do inicio dos anos 1880 (1882), quase 2 bilhões de pessoas viajava por ano pelas ferrovias, a maior parte delas, naturalmente, na Europa (72 por cento) e na América do Norte (20 por cento) (HOBSBAWN, 1992, p.48).

Assim, a construção de estações monumentais que maravilhavam os olhos da

população local e pudessem ser projetadas em âmbito global é até hoje reflexo

dessa importância e monumentalidade dos valores simbólicos propiciados pelo trem.

Page 25: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

24

Judt discorre acerca da importância e dos significados da monumentalidade

das estações, como pode ser visto a seguir:

Trens tem haver com movimentar pessoas. Porém sua mais visível encarnação, seu maior monumento público, era estática: a estação ferroviária. Estações ferroviárias - especialmente as grandes estações terminais - têm sido estudadas pelos seus fins práticos e por seu significado: como organizadoras de espaço, como um meio inovador de acumular e despachar quantidades sem precedentes de pessoas (2016, p.331).

Estações como a Antwerpen-Centraal Railway Station, na Bélgica (Figura 5),

e a Madrid Atocha Railway Station, na Espanha (Figura 6), são ícones da

monumentalidade férrea entre os séculos XIX e XX, bem como da reorganização

espacial das cidades que foram dotadas com trilhos. Hoje, muitas dessas obras

foram refuncionalizadas para atender outros usos e serviços complementares a

serviço do turismo seja como atrativos, seja como museus e patrimônio cultural.

Figuras 5 e 6: Antwerpen-Centraal Railway Station, na Bélgica e Madrid Atocha Railway Station, na Espanha

Fonte: travelandleisure, 2016 Fonte: urbanghostsmedia, 2016

As ferrovias tornam-se, então, também um símbolo de dominação das

grandes potências. Por mais que elas sejam elementos difusores de culturas,

crenças, símbolos e significados, possuem outros vieses, como é elencado por

Borges:

A história nos revela que as vias férreas sempre estiveram sob a tutela do poder de Estados ou de grupos econômicos, e serviram de elemento modernizador e civilizador, segundo os interesses dominantes. Isto é, as vias férreas expandiram-se a serviço da

Page 26: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

25

hegemonia política das grandes potências e da acumulação capitalista (2011, p.28).

Apreende-se então que as vias férreas possuem capital simbólico de

dominação, sendo exemplos de algumas das novas relações sociais, econômicas,

políticas e espaciais tecidas durante o século XIX e o início do século XX, como as

ocorridas a partir da EFBB. Ao mesmo tempo em que o trem é o símbolo da

modernidade e modernização, ele se torna um agente excludente, elemento ímpar

para a dinamização econômica, mas também gerador de pobreza, um elemento

símbolo das oligarquias, mas, também, ícone da dominação.

2.3 – As Ferrovias no Brasil e na Amazônia

O Brasil, somente no século XVIII, desenvolveu ações no sentido de viabilizar

a edificação de estradas. Anteriormente a isso, os transportes fluvial e de tração

animal eram as alternativas de interligação das diversas regiões do que hoje forma o

território nacional. Assim, a expansão do capitalismo industrial (durante o século

XIX) faz com que os centros urbanos passem a ser (re)modelados com a

infraestrutura básica, como salienta Silveira:

Implantou-se um conjunto de infraestruturas básicas (água, gás, telefone, esgoto, bondes, telégrafo, eletricidade, transportes, etc.) para atender às necessidades dos moradores das cidades [...] As ferrovias passaram a ser fator importante para transportar a produção primária, sobretudo agrícola, destinada à exportação, financiada tanto pelos investidores estrangeiros quanto pelos nacionais (2003, p.71).

Como enfatizam Paula (2008) e Borges (2011), o interesse brasileiro por

ferrovias ocorre desde o início do século XIX. João Antônio de Paula (2012) ressalta

a importância do fim do tráfico negreiro para a expansão ferroviária, visto que o

capital anteriormente utilizado para o mesmo passa a ser empregado na construção

de vias férreas para o escoamento cafeeiro. Foram criadas leis de incentivo

ferroviário10 para a dinamização da economia primário-exportadora imperial,

10 Dentre as leis de Incentivo ferroviário pode-se citar: Lei de 29 de agosto de 1828 que “Estabelece regras para a construcção das obras publicas, que tiverem por objecto a navegação de rios, abertura de canaes, edificação de estradas, pontes, calçadas ou aqueductos” (BRASIL, 1828, s.p.); Decreto nº 101, de 31 de outubro de 1835, em que

Page 27: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

26

principalmente ligada ao café. Aliado a isso, Borges (2011) reitera que a dificuldade

de abastecimento e mobilização de tropas durante a Guerra do Paraguai (1864-

1870) fez com que se pensasse em uma política de integração nacional, visando

não deixar as fronteiras brasileiras vulneráveis.

De fato, a “Era Ferroviária” do Brasil começa somente a partir da metade do

século XIX, mais precisamente com a lei Nº 641 de 1852 que:

Autorisa o Governo para conceder a huma ou mais companhias a construcção total ou parcial de hum caminho de ferro que, partindo do Municipio da Côrte, vá terminar nos pontos das Provincias de Minas Geraes e S. Paulo, que mais convenientes forem (BRASIL, 1852, s.p.).

Com isso, pode-se perceber que, pelo menos prioritariamente, a intenção de

se instalar ferrovias no Brasil seria de interligar as regiões agroexportadoras com a

Corte (Rio de Janeiro), facilitando, assim, o deslocamento comercial para os portos.

Borges (2011) informa que, em 1852, foi concedido pelo Imperador Dom

Pedro II, a Irineu Evangelista de Sousa11 (Figura 7), o direito de ligar a Corte ao Vale

do Paraíba (região produtora de café). Assim, se torna o responsável pela instalação

do primeiro trecho de estrada de ferro em solo brasileiro (BRASIL, 2016) – a Estrada

de Ferro Petrópolis12 (Figura 8) –, em 30 de abril de 1854, ligando Porto Mauá à

Fragoso, ambas no Rio de Janeiro. É importante destacar que o grande elemento

impulsionador deste processo foi a integração econômica, utilizando a inovação

modernizadora para o transporte de café e demais gêneros, dependendo da região

em que se localizam as ferrovias.

“Autorisa o Governo a conceder a uma ou mais Companhias, que fizerem uma estrada de ferro da Capital do Imperio para as de Minas Geraes, Rio Grande do Sul, e Bahia, o privilegio exclusivo por espaço de 40 annos para o uso de carros para transporte de generos e passageiros, sob as condições que se estabelecem” (BRASIL, 1835, s.p.). 11 Irineu Evangelista de Souza, Visconde e Barão de Mauá (1813-1889), comerciante, industrial e banqueiro brasileiro que, além de ser o responsável pelo primeiro trecho ferroviário no Brasil, também fundou a Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro, a Companhia de Navegação a Vapor do Amazonas, entre outros (GUIMARÃES, 2007, p.1). 12 Oficialmente denominada Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis, hoje em dia chama-se Estrada de Ferro Mauá, em homenagem ao construtor do primeiro trecho de sua extensão (ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS DO BRASIL, 2016).

Page 28: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

27

Figura 7: Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá. Litografia de S. A. Sisson, final de 1850.

Fonte: O Dia a História, 2016

Figura 8: Gravura da cerimônia em que o Imperador assentou o primeiro dormente da Estrada de Ferro Petrópolis (autor desconhecido)

Fonte: FERROVIA, 2016

O Brasil, então, a fim de mostrar que não é uma nação periférica, querendo

deixar de lado a imagem de região atrasada, passa a investir nas ferrovias e todo o

Page 29: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

28

seu capital simbólico construído nas grandes nações do mundo para evidenciar seu

avanço tecnológico e demarcar local no cenário internacional. Com o boom

ferroviário no Brasil, surgem ferrovias por todo o território nacional, como, por

exemplo, a Estrada de Ferro Recife ao São Francisco (1858), na província de

Pernambuco, a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí (1867), na província de São Paulo,

a Estrada de Ferro Donna Thereza Cristina (1880), na província de Santa Catarina,

e a Estrada de Ferro Belém-Bragança (1883), na província do Pará (Figuras de 9 a

12). Esta última se constituiu relevante não só pela integração efetiva do nordeste

paraense com a capital da província do Pará, mas também por seu pioneirismo, haja

vista o fato de se constituir a primeira estrada de ferro construída no norte do País.

Fonte: Ibamendes, 2016 Fonte: Viatrolebus, 2016

Fonte: Criciúma, 2016 Fonte: Solariseditora, 2016

Figura 9: Estrada de Ferro Recife ao São Francisco (1858-1860)

Figura 10: Estrada de Ferro Santos-Jundiaí

Figura 11: Estrada de Ferro Donna Thereza Cristina

Figura 12: Estrada de Ferro Belém-Bragança

Page 30: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

29

A construção da Estrada de Ferro Belém-Bragança inicia-se em 1883. Ela

está inserida no período chamado Belle Époque, em que a região amazônica passa

por inúmeras mudanças urbanas de embelezamento decorrentes do fluxo de capital

gerado pelo ciclo da borracha. Para compreender a construção da EFB, há a

necessidade de perceber como se configura a cidade de Belém nesse período.

Para tanto, é preciso compreender as cidades como um espaço passível de

mudanças e como o próprio sujeito da história, com inúmeros personagens que

atuavam na modificação e na modernização da urbe, como evidencia Pechman:

As cidades são a grande novidade do século XIX. O espetáculo da multidão nas ruas, a concentração da população num mesmo espaço, a moradia precária e super-habitada, a faina obsessiva das fábricas e o movimento alucinante de pessoas e mercadorias preparam a civilização que está por vir. E é no rastro do fenômeno urbano que ela surgirá. A nova civilização, portadora dos ideais do progresso e da crença no poder das ciências (1994, p.1).

Ainda de acordo com Pechman (1994), as cidades, com sua nova

configuração, se constituem como lócus de surgimento de novos sujeitos sociais e

novas maneiras de sociabilidade, se constituindo palco de convergentes e múltiplos

olhares, que possibilitam a emergência de novas formas de dominação, baseadas

no conhecimento científico, nas intervenções no espaço e na disciplinarização dos

indivíduos. Assim, percebe-se que a cidade é um elemento em constantes

transformações, efervescências, movimentos, interrupções e continuidades que

devem ser compreendidos pelo pesquisador, a tornando o fio condutor de suas

análises.

A construção de uma ferrovia dentro da “selva” amazônica, bem como o

crescimento das cidades da região por conta do fluxo da borracha, é elemento que

mostram o poder do homem, não apenas o material, mas o simbólico, de dominar e

sobrepujar a natureza a serviço do capital. Nesse sentido, Bresciani afirma:

a percepção de que o homem ao sobrepujar-se à natureza havia caído na armadilha de sua própria astúcia. A cidade moderna representa o momento culminante desse longo processo e também o lugar onde acumulam-se homens despojados de sua humanidade; em suma lugar onde a subordinação da vida a imperativos exteriores ao homem se encontra levada às últimas consequências. Fascínio e medo; a cidade configura o espaço por excelência da transformação,

Page 31: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

30

ou seja, do progresso e da história; ela representa a expressão maior do domínio da natureza pelo homem e das condições artificiais (fabricadas) de vida (1985, p.39).

A cidade bellepoqueana está intimamente ligada a tais conceitos, visto que a

mesma é um local de atração e fluxo de capitais e principalmente de pessoas. Como

também elenca Bresciani (1994), surgem as multidões, as aglomerações e também

o “medo” em relação a esses grupos, fazendo com que surjam novas formas de

dominação, políticas de segurança e instrumentos de defesa para com tais grupos.

A partir da década de 1840, como discorre Sarges (2010), a economia

amazônica passa a girar em torno da borracha. Então, durante segunda metade do

século XIX, a Amazônia como um todo passa a se inserir no mercado capitalista

mundial, e cidades como Belém e Manaus se tornam pontos chave para a

dinamização econômica desse mercado. Constituem-se cidades ícones da

reurbanização presente no final do século XIX e início do XX.

O surgimento de uma nova burguesia enriquecida às custas do látex, os

fazendeiros, os coronéis de barranco13 e os barões da borracha, demanda novas

melhorias para a cidade e sua dinamização, como elenca Sarges:

A nova ordem econômica e a nova filosofia financeira nascida com a República, impunha não somente a reordenação da cidade através de uma política de saneamento e embelezamento, mas também a remodelação dos hábitos e costumes sociais. Era preciso alinhar a cidade aos costumes e padrões da civilização europeia. Desse modo, a destruição da imagem da cidade desordenada, feia, promíscua, imunda, insalubre e insegura fazia parte de uma nova estratégia social no sentido de mostrar ao mundo civilizado (entenda-se Europa) que a cidade de Belém era o símbolo do progresso, imagem que se transformou na “obsessão coletiva da nova burguesia” (2010, p.20).

Dessa forma, é possível perceber que esse frenético fluxo de capitais e

pessoas, gerando novas relações e modificações sociais, também é gerador de

transformações urbanas. Nesse contexto, a abertura de boulevards, o ajardinamento

13 No que se refere à região amazônica, o termo coronel de barranco mantém o mesmo significado do restante do país: um homem que manda na região e dita as regras, delegando funções em meio à floresta (MENDES; QUEIRÓS, 2012). Nas palavras de Márcio Souza, o coronel de barranco dos ciclos da borracha é um “cavalheiro citadino em Belém ou Manaus e o patriarca feudal no seringal” (SOUZA, 2001, p.182).

Page 32: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

31

de praças, as modificações arquitetônicas na cidade são demandas das camadas

mais abastadas da sociedade. Logo, as modificações atendem inicialmente à elite

daquele momento.

Para além da “Paris nos trópicos” das elites, é possível perceber a cidade a

partir de outros vieses. Pantoja (2005) aborda Belém tomando como prismas de

análise o lazer, o morar, a constituição familiar e o cotidiano laboral das camadas

mais populares, as quais não seriam afetadas da mesma maneira pelas mudanças

introduzidas entre o final do século XIX e início do século XX. Ainda que não façam

parte das classes mais abastadas da sociedade, tais indivíduos foram elementos

fundamentais na história e na dinâmica da urbe. Tavares Júnior (2012) discorre

acerca dos encontros culturais existentes nesse período, a ressignificação de

hábitos populares pela elite e da elite pelos populares, mostrando assim uma Belle

Époque híbrida, afroindígena e não apenas uma cópia de modelos europeus.

Associadas a questões urbanísticas, tem-se também as relacionadas à

mobilidade, como a melhoria dos portos e a reorganização do espaço da urbe

através de ferrovias ou bondes que são demandas necessárias para a dinamização

econômica da cidade, o que é corroborado por Sarges:

O advento das ferrovias, dos bondes elétricos, além de representar uma das invenções da modernidade, surgiu em razão da necessidade de articulação do mercado mundial, e, no caso de Belém, essa invenção surgiu também como uma necessidade básica de uma cidade que se ampliava e dinamizava (2010, p.188).

Assim, a Estrada de Ferro que viria a ser implantada em Belém começa a ser

discutida e negociada ainda nas últimas décadas do século XIX, como um elemento

de organização e dinamização do espaço não apenas belenense, mas, sim, do

espaço paraense como um todo.

Desde a década de 1870, existem projetos de instalação de uma via férrea

que fosse capaz de interligar a capital do Estado do Pará, Belém, aos municípios do

interior, visto que a comunicação com os mesmos se dava por via marítima e fluvial.

A implantação de um meio de transporte que diminuísse as distâncias seria

fundamental para a dinamização econômica do Estado, além de auxiliar na

colonização do interior. Andrade (2010) descreve o início da construção da EFB que

Page 33: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

32

se dá em 1883, no governo de Rufino Enéas Gustavo Galvão14 (Figura 13), porém

seu traçado é designado ainda em 1870, a partir de lei provincial, que indica que as

obras iniciariam próximo à primeira légua patrimonial da cidade, em frente onde hoje

se localiza o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade

Estadual do Pará (UEPA) (Figura 14), seguindo na direção do chamado “Caminho

para São Luís”.

Figura 13: Barão de Maracaju

Fonte: Geneall, 2016

Figura 14: Marco da primeira légua patrimonial de Belém, na Av. Almirante Barroso, em frente ao CCBS da UEPA

Fonte:Google, 2012

14 Rufino Enéas Gustavo Galvão (1831-1909), agraciado com o título de nobreza de Barão e Visconde de Maracaju, foi um militar e político brasileiro, presidente da província do Amazonas em 1878, da província do Mato Grosso em 1879, do Pará de 1882 a 1884 e Ministro da Guerra do Brasil em 1889. Para mais informações, ver: GUARANÁ (1925).

Page 34: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

33

Destaque-se, porém, que a ferrovia não foi executada no trecho supracitado,

mudou de localização para onde hoje se encontra o Terminal Rodoviário de Belém,

visto que lá seria o local onde se edificaria a Estação Central da EFB. O primeiro

trem faz sua viagem inaugural em 1884 e passa a circular em 1885, em direção a

Benevides15 (Figura 15), visto que as obras da ferrovia só chegavam até tal local

neste período, como descreve Cruz (1955). Espacialmente depois de Benevides,

estabeleceram-se outros núcleos coloniais agrícolas, como Apéu, Castanhal,

Benjamin Constant, Ianetama, Jambu-Açu e outros. Para tais localidades, Lacerda

ressalta que:

o então presidente da Província do Pará, Barão de Maracaju acreditava firmemente na chegada do povoamento e consequentemente de “civilização” nos caminhos percorridos pelo trem. Do mesmo modo o jornal O Liberal do Pará não deixava de apontar o que se esperava da ferrovia, acreditando no povoamento dessa “extensa zona” cortada por florestas e na possibilidade de se provir com “abundantes frutos” o “mercado capital” com a “barateza dos produtos” que teriam o trem para o transporte (2006, p.267).

Como afirma Santos (2014), próximo à proclamação da República (datada

oficialmente de 15 de novembro de 1889), as despesas da EFB não eram

satisfatórias, então houve um investimento na vinda de colonos, como pode ser

visto:

Uma das explicações para esses déficits estava na ‘falta de habitantes nas margens da mesma’. Portanto, para o diretor da estrada de ferro Antônio Joaquim de Oliveira Campos, em relatório apresentado ao presidente da província em 1888, “povoar a estrada de pessoal que se dedique a lavoura, é ao meu ver, primeira medida a tomar-se”. Obviamente que, “não havendo productos, nem passageiros a transportar, não pode haver renda” (SANTOS, 2014, p.8).

15 O município de Benevides está localizado a cerca de 30 quilômetros da capital do Pará, e integra a região metropolitana de Belém. Seu núcleo colonial agrícola remonta ao século XIX como um povoado chamado São Miguel Arcanjo. Com a construção da Estrada de Ferro Belém Bragança, Benevides foi contemplada com uma estação que se localizava no Km 33 (BRASIL, 2016).

Page 35: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

34

Então, é despendida uma verba do Orçamento Geral do Império para o

presidente de província da época, Miguel José d’Almeida Pernambuco16, dar

prosseguimento à expansão da ferrovia e impulsionar o estabelecimento de

nordestinos para colonizar as margens da Estrada de Ferro e tentar suprir o déficit

por ela causado.

Figura 15: Mapa da Estrada de Ferro Belém-Bragança, com destaque em vermelho para o primeiro trecho, Belém-Benevides, que posteriormente viria a ser expandido.

Fonte: Andrade, 2010; Cruz, 1955.

Como demonstra Andrade (2010), durante o governo de Lauro Sodré17, o

engenheiro Manoel Odorico Nina Ribeiro18 estava à frente da direção da EFB. Em

um de seus relatórios, mostra as melhorias e certo otimismo em relação à ferrovia

anteriormente deficitária, que passa a dinamizar a economia do Estado, passando a

receber melhorias estruturais tanto de materiais quanto de conforto. Durante o

16 Miguel José d’Almeida Pernambuco (1839-1898), político brasileiro formado em direito em Recife, presidente da província do Pará de 1888 a 1889, redator do jornal republicano O Tempo, além de deputado pelos estados de Pernambuco e Rio de Janeiro (FUNDAÇÃO, 2016). 17 Lauro Nina Sodré e Silva (1858-1944), militar e político republicano brasileiro formado no Liceu Paraense, foi governador do Estado do Pará em duas legislaturas, de 1891 a 1897 e de 1917 a 1921, foi deputado pelo Rio de Janeiro em 1902 e pelo Pará nos anos de 1897, 1912 e 1922 (FUNDAÇÃO, 2016). 18 Manoel Odorico Nina Ribeiro, engenheiro da Câmara Municipal durante o final do século XIX (FERREIRA; FLEURY, 2011).

Page 36: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

35

governo de Paes de Carvalho19, a ferrovia cresce de 61 km construídos para 109

km, fazendo assim a interligação com uma quantidade maior de municípios.

Percebe-se, então, que os trilhos, mais do que nunca, se tornam um elemento

fundamental para a integração do Estado.

A partir do início do século XX, período em que Antônio José de Lemos20 está

à frente da intendência municipal, a cidade passa por uma reurbanização mais

intensa (SARGES, 2004). Está na governança do Estado Augusto Montenegro21

(Figura16), um dos personagens de fundamental papel para a história da EFB, visto

que com ele a mesma se torna uma pauta de governo. Investimentos maciços são

feitos para as suas melhorias, como pode ser visto em fala oficial ao Congresso

Legislativo em 1904:

Os edifícios das estações exigem reparos, ou, o que talvez seja mais economico para o futuro [...] Começou-se a reforma pela estação de São Braz que se achava muito acanhada para o grande movimento de cargas e passageiros [...] Fez-se tambem reparo geral no edificio velho, substituindo-se os soalhos estragados por calçamento de concreto e embôço de cimento [...] O sobrado foi completamente pintado interior e exteriormente (MONTENEGRO, 1904, p.66).

Percebe-se então a clara necessidade de uma reforma geral da estação, visto

que a demanda era muito grande e que não havia condições para tantos

passageiros e cargas em trânsito.

19 José Paes de Carvalho (1850-1943) foi governador do Pará de 1897 a 1901. Eleito senador em 1903, assumiu e retirou-se em definitivo para Paris. Médico humanitário, foi durante muitos anos amigo dos paraenses e brasileiros na capital francesa, além de assessor das relações financeiras entre o Brasil e seus banqueiros europeus (ABREU JUNIOR; MIRANDA, 2013). 20 Antonio José de Lemos, (1843-1913) político brasileiro responsável por uma intensa urbanização na cidade de Belém, sendo também senador do estado e presidente da câmara. Para mais informações ver Sarges (2004; 2010). 21 Augusto Montenegro, diplomata, político e juiz, governo o estado do Pará de 1901 a 1909, junto com Antonio Lemos promoveu intensas reformas urbanas em Belém. (MUSEU, 2010).

Page 37: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

36

Figura 16: Governador Augusto Montenegro, por Carlos Custódio de Azevedo, 1906.

Fonte: MUFPA, 2010

Como o objetivo deste trabalho é compreender a Estrada de Ferro Belém-

Bragança entre o período em que o político republicano Augusto Montenegro está à

frente da administração estadual, bem como principalmente os interesses em jogo

na abertura do ramal do Pinheiro, optou-se, a título de delimitação temporal, pelo

período de 1901 a 1908, no qual Montenegro, a partir de uma política de

crescimento econômico, passa a estabelecer a possibilidade de visualizar a EFB

para além de um instrumento de integração. Assim, a partir deste estudo, também

se compreendem as modificações em que a ferrovia está inserida, bem como a

cidade de Belém, já que essa ferrovia é um dos elementos da história da capital.

Durante o governo de Augusto Montenegro, é inaugurado o ramal do

Pinheiro, hoje Icoaraci (atualmente Distrito da cidade de Belém). Em mensagem ao

Congresso Legislativo de 1905, é possível perceber que a Belém-Bragança é sim

uma pauta do seu programa de governo e seria um elemento responsável por

colocar a capital do Estado lado a lado com as grandes cidades do Brasil. Ainda que

Montenegro afirme "Comprehendeis quão difícil é romper com abusos inveterados"

(1905, p.61), entende-se que há um jogo de interesses envolvido nessa expansão

ferroviária. Como nota-se na fala do governador, ele necessita de energia para

Page 38: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

37

continuar a ferrovia, visto que a mesma é uma das “idéas que sahem a rotina”

(MONTENEGRO, 1905, p.61).

A ferrovia, então, tem somente sua inauguração oficializada em 1908, no

último ano de governo de Montenegro, e, como é perceptível, vindo a expandir-se. O

que de início ligara apenas Belém a Benevides, agora se estende por um percurso

muito maior e dotado com inúmeras melhorias:

Augusto Montenegro não só terminou as obras do ramal do Pinheiro em 1906, como construiu mais 38 e meio quilômetros de ramais e concluiu o que faltava da Via Principal da Estrada de Ferro de Bragança, num total de 166 quilômetros, com pontes, oficinas e vila operária de Marituba, inaugurando-a em 1908 (ANDRADE, 2010, p.45).

Posteriormente a isso, mesmo com o debaclé da economia gomífera, existe

uma necessidade e demanda pela Estrada de Ferro, como mostra o governador do

Estado do Pará, Enéas Martins:

O valor deste próprio do Estado em que representado pelo activo de 23.730:337$135 em 31 de dezembro de 1912, teve no decorrer de 1913, o acréscimo de 485:581$244, devido em sua quase totalidade à importação de material rodante e sobressalentes para locomotivas e carros de passageiros, que se tornaram indispensáveis à continuação do tráfego de trens. Esta despeza impunha-se sem delongas e viu-se o governo na contingência de autoriza-la, apezar das dificuldades financeiras, para que não periclitassem a vida dos passageiros e os interesses de uma grande zona (MARTINS, 1914, s.p.).

Percebe-se, então, que, mesmo com a crise da borracha, a ferrovia continua

a ser um elemento fundamental na dinâmica urbana. No próximo capítulo, são

apresentados e discutidos os processos de expansão que perscrutam a história da

Estrada de Ferro Belém-Bragança, mostrando os jogos de interesse e meandros

pelos quais ela está envolvida, destacando a importância do Ramal do Pinheiro na

história da cidade por meio da ferrovia.

Evidencia-se, assim, que, por mais que passasse por períodos de

precariedade ou fartura, a ferrovia foi peça chave para a cidade e o Estado como um

todo, frisando sempre que, por mais que tenha sido extinta durante o governo de

Castelo Branco, ela ainda está viva na memória, se tornando um marco na memória

Page 39: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

38

coletiva urbana de Belém do Pará e das comunidades/municípios por onde se

espraiou, despontando como um tema para ser discutido e analisado por diversas

áreas do conhecimento, ou seja, é um “fantasma” vivo do passado que continua a

instigar e inquietar os pesquisadores do presente.

Page 40: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

39

3 – A EFB PARA ALÉM DA INTEGRAÇÃO

[...] lá vai o trem com o menino lá vai a vida a rodar lá vai ciranda e destino cidade e noite a girar lá vai o trem sem destino pro dia novo encontrar correndo vai pela terra

vai pela serra vai pelo mar

cantando pela serra do luar correndo entre as estrelas a voar

no ar piiuí! piuí piuí

no ar piiuí! piuí piuí [...] (GULLAR, 2000, p.106-107)

Como discutido no capítulo anterior, a Estrada de Ferro Belém-Bragança teve

sua construção iniciada em 1883 no governo do Barão de Maracaju, que acreditava

que, a partir dela, chegariam a colonização e a civilização ao interior do Pará. No

presente capítulo, são apresentados outros vieses que a ferrovia ganha, tanto para a

cidade de Belém, quanto para o Estado como um todo. A partir de um outro olhar,

será possível compreender tanto um panorama da cidade de Belém na

administração Augusto Montenegro, quanto as influências da ferrovia na dinâmica

econômica estadual.

A historiografia clássica elenca que o auge da economia gomífera se dá no

final do século XIX e início do XX, entrando em decadência a partir de 1913-1914.

Dias (1999) afirma que algumas cidades brasileiras, como Manaus, Rio de Janeiro e

Belém, passam a "civilizar-se", mas não o Brasil como um todo, definindo então

alguns dos pontos de maior ebulição bellepoqueana. Sarges, em seus Belém:

riquezas produzindo a Belle Époque (1870-1912) e Memórias do Velho Intendente

(2010; 2004), vislumbra o panorama da cidade em crescimento que está passando

por um grande auge econômico, com fluxo de pessoas, capitais e explosão cultural.

Uma grande efervescência intelectual passa a ocorrer na cidade de Belém,

Coelho (2011) lista alguns dos clubes e jornais que surgem neste período,

destacando uma grande movimentação na intelectualidade nortista, que não se

restringia apenas ao âmbito local, mas também se expandia ao nacional. O referido

Page 41: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

40

pesquisador periodiza que tradicionalmente o auge da Belle époque na Amazônia se

traduza aos últimos vinte anos do século XIX e à primeira década do século XX, haja

vista que, nesse período, ocorre, como explicita Coelho (2014, p.24), a "

mundialização do capital e do capital simbólico, no caso a cultura da belle époque",

marcada por uma cultura erudita, importada da Europa, que se mescla com a

realidade regional.

Ferranti e Souza afirmam:

Aqueles eram tempos em que a extração da borracha proporcionava benefícios imensuráveis à alta sociedade paraense. Na fase áurea da exportação do látex, Belém era a capital econômica dessa engenhosa empreitada (2013, p.2).

Tais análises feitas pelos pesquisadores são inegáveis, porém desconstruir

esse período de esplendor na Amazônia também é algo que se faz necessário.

Cidades como Manaus e Belém sofrem mudanças decorrentes dessa

economia gomífera, e os trabalhos de Sarges (2010;2004), Dias (1999) e Coelho

(2011) discutem intensamente esses elementos. Porém, é interessante perceber

que, dentro desse macrocosmo chamado Belle Époque, existem crises internas que

irão gerar problemas nas finanças do Estado, ainda que se esteja em um período de

grande circulação monetária. Batista (2016), ainda que analise o período anterior ao

aqui estudado, já elenca aspectos de crises internas, tanto de abastecimento quanto

econômicas, durante o século XIX. Assim, discutem-se essas crises também

existentes a partir do governo de Augusto Montenegro, entre 1901 e 1908, tendo

como trilho condutor da análise a Estrada de Ferro Belém-Bragança.

José Paes de Carvalho, governador predecessor a Augusto Montenegro, em

sua Mensagem de 15 de abril de 1898, já explicitava a situação econômica de crise

existente no Brasil, como pode ser visto no excerto seguinte:

Tem me preocupado bastante a situação do Pará diante da crise monetaria e economica, que o Brazil vai atravessando. É indubitavel que a prosperidade d'esta região não é só devida ao crescimento de sua producção, mas tambem á desvalorisação do papel, sendo acompanhada de uma alta nos preços do seu principal genero de exportação, e a importação não tendo excedido o valor em ouro dos generos exportados, trouxe em resultado uma grande actividade nos negocios e crescimento dos lucros oriundos do movimento

Page 42: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

41

commercial. [...] Afigura-se-me, porém, que o perigo está mais proximo do que póde parecer aos menos cautos. A situação economica e financeira do Brazil é profundamente anormal; esta anormalidade não póde perdurar sem que venha affectar a propria estructura da nação (MONTENEGRO, 1901, p.3-4).

É perceptível na fala de Paes de Carvalho, ainda no século XIX, sua

preocupação com a crise econômica que atinge o Brasil e que, portanto, em um

futuro próximo, viria a afetar todas as províncias de maneira profunda, causando

prejuízos ao Tesouro Estadual e ao comércio como um todo.

Augusto Montenegro, ao assumir em 1901, em sua primeira fala oficial,

realizada em 10 de setembro do referido ano, afirma que o panorama antevisto por

seu antecessor acabou por se realizar:

Deu-se o que a previsão do homem eminente que escreveu estas palavras descortinára e talvez mais cedo do que elle proprio suppuzesse. [...] os lucros foram em igual proporção substituidos por prejuisos. Sem capitaes para resistir, sem estabelecimentos bancarios que no desastre lhe servissem de amparo, como na prosperidade não souberam exercer a sua função de freios, o comercio soffreu fatalmente e de um modo extraordinario e continuará a soffrer si uma baixa rasoavel de taxa não lhe vier suavisar os prejuizos. [...] Era certo, pois, que a crise que vamos atravessando tinha fatalmente de dar-se; infelizmente, accumularam-se muitas causas para tornal-a ainda mais seria e tremenda. A baixa do cambio, a diminuição da producção, a queda do preço do proprio producto, base de todos os negocios, nos mercados consumidores, e por fim a maneira brusca por que foram abalados todos os negocios com o Estado visinho, de modo a tornar incerta a realisação de enormes capitaes que a nossa praça possue espalhados por todos os seus rios (MONTENEGRO, 1901, p.4-5).

Segundo os governadores, é notável então a situação pela qual estava

passando a província do Pará, onde a sombra de uma grande crise está ofuscando

as finanças estaduais. Coelho (2014) aponta a existência de sinais dessa crise em

decorrência do valor da borracha a partir de 1907. Porém, para a governança, o que

se estabelece é uma crise econômica e de abastecimento que atinge o orçamento

estadual desde o início do século XX. Assim, compreender o cenário econômico

existente se faz necessário, visto que será um marco balizador na expansão e no

caminho tomado pela Ferrovia Belém-Bragança.

Page 43: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

42

Ainda que um panorama de crise esteja instalado para esses políticos, o

governador, em sua fala de 07 de setembro de 1902, reitera a importância da

ferrovia como uma pauta de governo para sua administração. Porém, segundo ele, é

necessário fazer sua expansão com cautela e negociações, a fim de driblar uma

crise econômica existente:

No manifesto em que inaugurei o meu governo disse que o prolongamento e a conclusão da Estrada de Ferro de Bragança por si só constituiam um programma de governo. Os transes da terrivel crise financeira que o Estado atravessa e cujos effeitos tão duramente repercutem sobre o Thesouro, si me têem privado de dar á estrada de ferro aquillo de que ella carece, isto é, sua conclusão, não me tem impedido de introduzir em sua exploração aquillo de que ela tambem necessitava; ordem e economia, disciplina e melhor distribuição de serviços (MONTENEGRO, 1902, p.58).

Para a administração, a crise instaurada, aliada a uma ferrovia "estagnada"

por não gerar lucros ao Tesouro do Estado, é elemento preocupante. Assim, o

gestor necessita buscar maneiras de vencer esse déficit para continuar com sua

pauta de governo e ainda assim gerar lucros para o fundo estadual. Tais ações em

busca da contenção de gastos se iniciam com as revisões do contrato de exploração

do prolongamento da ferrovia com o Banco Norte do Brazil. Como indício dessa

contenção de gastos, se tem o referido orçamento inicial que fora considerado

extremamente caro. Reajustes e negociações resultaram então em uma baixa de

preço, fazendo com que, nos primeiros dois anos de administração, dezoito

quilômetros de ferrovia fossem expandidos.

A estrada passa, então, por reduções de gastos não apenas com material fixo

ou rodante, mas com o próprio pessoal que nela trabalhava, diminuindo, assim,

consideravelmente, os gastos, como pode ser visto no quadro 01 acerca do

pagamento de funcionários para o ano de 1901.

Page 44: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

43

Quadro 01- Despesas com Pessoal Referente ao ano de 1901

Fonte: MONTENEGRO (1902)

Assim, com uma ferrovia que, naquele momento, não gerava dividendos,

fazia-se necessário realizar mudanças nas suas administrações, como, por exemplo,

quando em 1902 o diretor da EFB pede melhorias ao Estado, as quais são feitas,

porém agora com uma maior pesquisa de mercado e negociação de valores mais

baixos. Ao invés de encomendar os materiais junto a fornecedores da própria

cidade, foram encomendados tais materiais diretamente do Rio de Janeiro ou da

Europa, visto que seria possível conseguir algum valor mais baixo e prazos maiores

para o pagamento nestes locais.

Como então poderia ser viável manter essa ferrovia, em tempos de crise,

além de negociar os valores de compras e expansão da mesma? Montenegro define

que a crise é a principal inimiga da ferrovia, como pode ser visualizado a seguir:

Infelizmente a receita da estrada não tem correspondido aos esforços que tenho empregado para fazel-a progredir. A crise tem ferido duramente os industriaes e os lavradores que são os principaes freguezes da Estrada, de modo que a situação precária dos productos influe poderosamente sobre a renda (1902, p.56).

Aliado a isso e às reclamações constantes em relação ao elevado valor da

tarifa da ferrovia, que seria para Montenegro (1902 p. 56) "uma das mais baixas do

mundo", o governador decide elaborar um novo valor para ser cobrado futuramente,

tentando atender aos industriais22 e aos lavradores, mas também pensando na

22 Esses industriais a que se refere o relatório possivelmente são, como discorre Weinstein (1993), a “elite tradicional” que está mais vinculada à terra do que ao extrativismo e não via com bons olhos esse boom da borracha e o hostilizavam.

Page 45: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

44

geração de lucro para o Tesouro do Estado, visto que, com a diminuição do valor, o

fluxo se tornaria maior e os cofres públicos ganhariam pela quantidade, que cobriria

o valor rebaixado.

Ainda que com precariedades no orçamento, 1903 é um ano em que diversas

medidas são tomadas em relação à ferrovia, são construídos mais vinte e três

quilômetros de trilhos, a estação de São Braz (Figuras 17 e 18) ganha uma reforma

mediante sua necessidade de expansão, é construída a Vila Operária de Marituba

para serem instaladas as oficinas da EFB (Figuras 19 e 20), tudo, segundo o

governador, com extrema economia. A medida anteriormente discutida, que visava a

diminuição das taxas da ferrovia, é então aplicada23. Pode-se perceber, no discurso

de Montenegro, que, para ele, essa seria uma das formas de ganhar dinheiro aos

cofres públicos:

Não ha duvida, porém, que as novas tarifas produziram sensivel diminuição de receita, que espero ver compensada pella animação que ellas trouxeram ás lavouras e industrias exploradas pelos moradores dessa região. Conto com as novas officinas, permittindo consideravel economia na despesa da estrada, pelos serviços que prestarão á renovação e conservação do material, venhão auxiliar a cobrir a differença causada pela nova tarifa (1903, p.47).

Tal baixa tarifária faria com que os lavradores e industriais passassem a

supostamente se interessar por mandar novamente seus produtos pela ferrovia,

visto que, como discute Santos (1980), com o crescimento da extração da borracha,

até a lavoura de subsistência tem uma baixa em sua força de trabalho que vai ser

transferida para os seringais, gerando dividendos ao Estado que, junto com as

novas oficinas responsáveis pelos reparos do maquinário da ferrovia, ajudariam a

transpor a crise.

23 A tarifa foi autorizada pelo artigo 7º letra b da lei nº 804 de 25 de outubro de 1901 e foi promulgada pelo decreto nº 1181 de 30 de dezembro de 1902 (MONTENEGRO, 1903, p.46).

Page 46: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

45

Figura 17: EFB - Estação de São Braz em 1899

Fonte: PARÁ (1899)

Figura 18: EFB - Estação de São Braz em 1908

Fonte: PARÁ (1908)

Page 47: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

46

Figura 19: Villa Operária em Marituba, Estrada de Ferro de Bragança

Fonte: PARÁ (1908)

Figura 20: Officinas de Reparo das Locomotivas

Fonte: PARÁ (1908)

Page 48: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

47

Nesse contexto de driblar uma suposta crise existente que acometia o

Tesouro Estadual é que surgem os planos para a construção do Ramal do Pinheiro24

(Figuras 21 e 22), elemento que será de extrema importância para a dinâmica e a

economia do Estado.

Figuras 21 e 22: Fachada da Estação de Pinheiro

Fonte: PARÁ (1908)

Originalmente, os planos de expansão da ferrovia se dariam até o município

de Salinópolis25, chamado Ramal de Salinas. Ocorre então uma negociação com o

Banco Norte do Brazil e é feita a transferência da concessão do dito ramal para a

abertura do Ramal do Pinheiro, gerando assim a poupança de gastos ao Estado,

como pode ser percebido na fala de Montenegro no ano de 1903:

Assim, pois, financeiramente, o accôrdo feito, traduz-se pelas seguintes cifras: o ramal de Salinas , que se cogitou construir para que a população da capital podesse ir tomar banhos salgados na costa, importaria para o Estado em uma despesa effectiva de 4.150:000$; a construcção do ramal do Pinheiro trará para o Estado uma despesa de 900$000, por conseguinte o Estado apurou uma economia real de ............3.250:000$, que consegui obter para o Thesouro Publico (MONTENEGRO, 1903, p.47).

Segundo o governador, existiam grupos contra a abertura de tal braço da

ferrovia. Há a necessidade de se relativizar a fala dele, visto que seu argumento é:

Muito se tem discutido sobre a conveniencia da construcação do ramal do Pinheiro e espiritos apaixonados em sua ancia de

24 Inaugurado oficialmente a 07 de janeiro de 1906. 25 Município localizado a 223 quilômetros da capital, no nordeste paraense, integrando a costa atlântica do Estado.

Page 49: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

48

condemnar tudo quanto parte do Governo, têm insinuado entre as enumeradas desvantagens, a de não ser mais, depois da construcção da linha, permittido andar em trajes menores naquella pittoresca villa (MONTENEGRO, 1903, p.47-48).

Os argumentos que o governante utiliza como desfavoráveis ao seu projeto

são, no mínimo, inusitados. Porém, a fim de esclarecer as necessidades de abertura

deste trecho férreo, ele elenca alguns fatores:

Em primeiro logar, o Estado se dispensa do pagamento da actual subvenção que serve á companhia de navegação pela linha de navegação que mantém com o Pinheiro [...] Com a construcção do ramal pretendo o Estado construir uma bôa ponte de desembarque no Pinheiro, afim de economicamente importar o carvão de pedra destinado não só ás machinas da Estrada como aos machinismos de Utinga, todos hoje nutridos á lenha (MONTENEGRO, 1903, p.48).

Não se nega a preocupação dos governadores como um todo em relação ao

Tesouro, porém é perceptível no discurso de Montenegro uma preocupação

acentuada com as finanças do Tesouro público do Estado, visto que, para ele, ainda

que existam grupos contrários aos seus projetos, estes são necessários a fim de

ajudar a sanar esse déficit existente.

Para o governo do Estado, era imprescindível a construção de tal ramal,

porque, no Pinheiro, poderia ser construído um porto metálico a fim de descarregar

carvão de pedra, para alimentar a ferrovia e a rede de tratamento de água do Utinga.

Mas qual a necessidade de se optar pelo carvão em substituição à lenha? O

governador esclarece em seu manifesto:

A lenha é um dos maiores males de que soffre a Estrada de ferro; por causa della nunca se tem horarios certos, a necessidade de transportal-a de longas distancias obriga o emprego de grande parte do material rodante com visivel desfalque da receita da Estrada, e por fim sendo a Estrada o principal consumidor de lenha, o Estado, pela força das circumstancias, tornou-se o primeiro dos responsaveis pela feroz devastação de nossas mattas, que urge debellar com providencias promptas e energicas (MONTENEGRO, 1903, p.48).

É notável que existe uma preocupação no uso da lenha como força motriz de

mecanismos necessários para a cidade, não se deixa de lado o fato de que o uso da

lenha destruiria as florestas e as matas das redondezas, principalmente do Utinga. A

Page 50: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

49

preocupação com o uso deste recurso já era desenhada desde início do século XX,

permanecendo até hoje, inclusive em função da finitude dos recursos

vegetal/mineral, bem como da preocupação com o grande prejuízo que a sua

fabricação provoca ao ser humano.

No entanto, crê-se que os vieses econômico e utilitário são os fatores mais

preponderantes para a opção do carvão em substituição à madeira, visto que é

extremamente ressaltada a variação do seu valor, como pode ser visto:

que com a lenha é impossível fiscalisar os gastos de combustivel, porquanto a variedade existente na lenha fornecida, que diminue ou augmenta a sua força productora de vapor, crêa uma difficuldade quasi que invencivel ao estabelecimento de uma fiscalisação rigorosa e severa (MONTENEGRO, 1903, p.48).

Assim, a abertura do ramal levaria à construção de um porto metálico para a

atracação de navios carvoeiros no Pinheiro, sendo algo lucrativo para o Estado, que

não ficaria mais refém da variação do valor da lenha (Quadro 02), bem como

acabaria a navegação subvencionada para a região, poupando gastos aos cofres

públicos, e facilitaria o transporte ao matadouro no furo do Maguary, este último

sendo "transporte lucrativo e facil" (MONTENEGRO, 1903, p.49).

Quadro 02 – Valor da Lenha Fornecida para a EFB em 1902 Fonte: MONTENEGRO (1902)

Como mostra Moura (2008), desde 1903 existe uma preocupação com a

eleição estadual para o governo de 1905. Portanto, Augusto Montenegro,

juntamente com Antônio José de Lemos, organiza um almoço no Bosque Municipal

com diversos políticos do Estado (Figura 23). O mote de tal evento era a discussão

acerca da política paraense, bem como a reeleição do governador do Estado, o que

Page 51: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

50

era proibido legalmente. Assim, se pode perceber o grande esmero com as minúcias

descritas pelo governador em sua fala ao Congresso Legislativo em 07 de setembro

de 1904, como uma continuação de sua "campanha", através de uma "economia

política da imagem” (COELHO, 2014, p.22), em busca de uma reeleição, o que

acontece, levando assim Montenegro a assumir a governança do Estado até o início

de 1909.

Figura 23: Banquete dos Intendentes no Bosque Rodrigues Alves no dia 15 de agosto de 1903

Fonte: Pará (1908)

No que tange à Ferrovia Belém-Bragança, é possível perceber um grande

elogio aos feitos em sua administração, o que pode, junto com suas atividades

intelectuais, ser compreendido como “estratégica à construção da imagem social”

(COELHO, 2014, p.36). Segundo Augusto Montenegro, ainda que em crise e não

podendo cumprir sua pauta inicial de governo, ele se esforçou para cumpri-la:

Disse em meu manifesto que o prolongamento da Estrada de ferro de Bragança por si só constituia um programma de uma administração [...] Obrigado a encarar e resolver outros problemas igualmente importantes, é plenamente justificavel que não tenha podido desempenhar o compromisso assumido quanto á Estrada de ferro de Bragança. Entretanto, nas considerações que se seguem tereis a prova palpavel de que não me descurei da Estrada de ferro, mas que meu esforço principal teve de ser empregado no trecho em trafego que estava exigindo promptas e efficazes medidas no sentido de melhorar-lhe as condições technicas e a exploração racional (MONTENEGRO, 1904, p.60).

Page 52: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

51

Infere-se da fala do governador que ele se rejubila em ter conseguido diminuir

as despesas da ferrovia e ainda conseguido auxiliar nas contas do Tesouro

Estadual.

Ainda que, para Montenegro (1904), exista uma crise de passageiros devido a

grande quantidade de colonos ter ido para os seringais, uma crise de exportação de

madeira e a precariedade das pequenas lavouras às margens da ferrovia, gerando

uma diminuição de produtos na capital e, por conseguinte, uma crise de

abastecimento, o governo estadual tenta, incessantemente, gerar lucros ao Estado

para que os efeitos da crise sejam menores. Então, a fim de divulgar as benesses de

seus atos, passa a mostrar o quanto os mesmos geraram lucros às finanças, como,

por exemplo, a diminuição das taxações de bens de utilidade, em 25% do valor

inicial, o que, segundo ele, fez com que:

A diminuição do frete reanimou de novo a lavoura marginal da Estrada e se o augmento da produção ainda não recompensa a reducção dos 25% nas tarifas, manifestou-se contudo em um pequeno augmento de 9000 kilos nos productos de exportação, indicio certo da efficacia d'esta medida em beneficio da producção na zona bragantina. (MONTENEGRO, 1904, p.62).

Deduz-se então que, a partir da exposição de gastos e compras, Montenegro

pretende mostrar o que em sua administração foi possível fazer em relação ao

dinheiro do Tesouro Estadual.

Nos seus pronunciamentos, chega a comparar seus gastos com o do

governador anterior a fim de mostrar que em sua gestão, ainda que não houvesse

grande lucro para as finanças estaduais, pelo menos haveria uma diminuição dos

gastos. O relatório de 1904 é cheio de detalhes bem específicos a respeito das

obras empreendidas na Belém-Bragança: o reparo e/ou a construção de estações e

paradas ao longo da mesma; melhorias em relação ao material rodante; construção

de oficinas e manutenção de maquinários.

É interessante perceber que a abertura do Ramal do Pinheiro tem grande

relação com outro braço da ferrovia, que se localizava no estremo oposto do

mesmo, o Ramal do Arsenal de Marinha construído em 1901, responsável pelo

transporte de madeira para construções no próprio espaço do arsenal, bem como de

material para a ferrovia.

Page 53: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

52

Ainda que fosse interessante para a ferrovia a existência dessa opção, com o

passar do tempo, percebe-se que a abertura do Ramal do Pinheiro seria mais

lucrativa e facilitaria alguns serviços, como pode ser visto na fala de Augusto

Montenegro:

A Estrada de Ferro de Bragança desde muito lucta com difficuldade para desembarcar seu material de consumo e está sujeita hoje aos favores do Arsenal de Marinha, cujo cáes só dá descarga com a maré cheia, a alvarengas, e onde um navio não pode atracar directamente, para descarregar carvão, que resolvi adoptar como combustivel, pelas razões expostas em minha mensagem anterior (1904, p.73).

Percebe-se, então, que não foi apenas uma questão de “gosto” abrir um ramal

para a atual Icoaraci, naquele local existiam sim residências de políticos ou pessoas

abastadas (Figuras 24 e 25), mas o fator econômico é de grande valor para essa

opção. Assim, com a abertura de tal caminho, seria possível acabar com a

navegação subvencionada, gerando menos gastos aos cofres públicos, bem como a

construção da ponte metálica de atracação (Figuras 26 e 27) ajudaria na recepção e

no transporte do carvão necessário para a própria ferrovia e para as usinas do

Utinga, acabando com a dependência do Arsenal de Marinha.

Figuras 24 e 25: Chalet e Lago do Livreiro Tavares Cardoso e Chalet do Senador José Porphirio

Fonte: PARÁ (2014); SKYSCRAPERCITY (2006)

Page 54: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

53

Figuras 26 e 27: Ponte da Estrada de Ferro para Descarga e Depósito de Carvão

Fonte: PARÁ (1908)

Como foi discutido no capítulo anterior, a ferrovia é em si um símbolo de

modernidade. Então, a fim de mostrar ao mundo que Belém é uma cidade moderna,

Augusto Montenegro, ainda que, segundo ele, com as finanças em crise, não poupa

esforços em sua conclusão e expansão ferroviária, como pode ser visto após sua

reeleição em sua seguinte fala de 07 de setembro de 1905:

Continúo a realizar na Estrada de Ferro de Bragança o programma que me tracei para elevar este proprio Estado á altura das estradas de ferro da mesma cathegoria. Comprehendeis quão difficil é romper com abusos inveterados e quanta energia é preciso empregar para realizar idéas que sahem da rotina. Entretanto, tenho fundadas esperanças de conseguir o meu intento dentro em pouco (MONTENEGRO, 1905, p.61).

Pode-se inferir da fala do governador a existência de grupos opositores a sua

empreitada, porém, o mesmo continua dando cabo a ela.

Tal intenção pode ser percebida a partir do grande investimento que o mesmo

irá fazer com o Ramal do Pinheiro, a Estrada de Ferro Belém-Bragança possuía

grande quantidade de material, como pode ser visto:

A Estrada possúe actualmente o seguinte material: 1 carro-salão, 5 carros de passageiros de 1ª classe, 7 de 2ª classe, 2 mixtos,1 de inspecção, 8 carros de mercadorias fechados, 1 de socorro, 2 de conducção de animaes, 1 de inflammaveis, 2 de bagagens, 10 gondolas para lenha, 9 plataformas, 10 wagonetes para lastro, 10 trucks para carros de passageiros, 60 ditos para carros de mercadorias e 14 locomotivas, das quaes 2 inutilisadas (MONTENEGRO, 1905, p.62).

Page 55: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

54

Se for feita uma comparação apenas com o Ramal do Pinheiro, é possível

verificar que os investimentos no mesmo são em larga escala para apenas um

ramal, como é perceptível nos Quadros 03 e 04.

Quadros 03 e 04 – Listagem de Material Para o Ramal do Pinheiro.

Fonte: MONTENEGRO (1905).

Guardando as devidas proporções, já que se faz uma comparação da ferrovia

como um todo e apenas o Ramal do Pinheiro, se percebe que o investimento no

novo trecho ferroviário é maciço, demonstrando assim a grande relevância do

mesmo para a política e a economia estadual. Vale frisar que com a abertura de tal

trecho e a troca da lenha pelo carvão geraram também a abertura de um novo braço

Page 56: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

55

de ferrovia, chamado Ramal do Utinga, que seria destinado ao transporte da nova

fonte de energia para o maquinário lá existente.

A EFB possuía um teto de gasto avaliado em 483:450$000 em papel e

120:945$000 em ouro26. É interessante perceber que, mesmo que em meio a uma

“crise”, esse regulamento é modificado em 1906, fazendo com que os valores de

gastos com a mesma sejam alterados para 668:055$000 em papel e 131:480$000

em ouro. Talvez por conta de uma necessidade pessoal do governador em tentar

cumprir sua pauta de governo tão divulgada durante seu primeiro mandato, e

reiterada às vésperas de sua reeleição, ele argumenta:

Estas cifras se justificam: a) pelo augmento de despesas causado pelo trafego do ramal do Pinheiro; b) pelo mesmo augmento oriundo do trafego que se tem de fazer no trecho do Livramento ao Peixe-Boi [...] c) pela rectificação de um erro havido no regulamento de 1901 relativo a certos trabalhadores que, percebendo 365 dias, foram incluidos na tabella como percebendo 300 dias (MONETENGRO, 1906, p.45).

Ainda que tenham sido aumentados os gastos, os valores seriam

compensados plenamente, visto que a navegação subvencionada para o Pinheiro

teria sido cancelada, os lucros auferidos com as viagens nos trens até o referido

lugar supririam os déficits, bem como o lucro que o Estado obtivera, ao passo que

optou por substituir a lenha pelo carvão27. Percebe-se então que, para o governador,

é importante frisar o papel econômico gerador não apenas de suas escolhas, nem

da ferrovia como um todo, mas, sim, do Ramal do Pinheiro também.

Crê-se que, a fim de se respaldar, principalmente diante dos que foram

contrários à abertura desse caminho férreo, Montenegro faz um balanço de como

está a receita da ferrovia desde sua inauguração até o final do mês de junho

daquele ano:

A receita [...] foi de 50:238$790 e a despeza de 44:848$985, contando não só o pessoal, como lubrificante e combustivel; o saldo foi de 5:389$805. Considerando, porém, que no 2º semestre a

26 Decreto nº 1006 de 30 de abril de 1901 (MONTENEGRO, 1906) 27 Montenegro (1906) informa que, entre outubro de 1904 e junho de 1905, foram gastos com lenha 126.736$500 e, de outubro de 1905 a junho de 1906, foram gastos com carvão 67.375$000, gerando uma poupança de 59.361$500 aos cofres do Tesouro Estadual.

Page 57: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

56

affluencia de passageiros é maior, e que nesse semestre começa no ramal o transporte de combustivel, facil é avaliar quão lucrativa foi a construcção (MONTENEGRO, 1906, p.46).

Em contraponto a esses gastos com o Ramal do Pinheiro, no mesmo

relatório, Montenegro apresenta a existência de uma certa crise econômica.

Portanto, não haveria condições de reformar várias das estações espalhadas pelo

interior:

Todas as estações (Belém, S. Braz, Benevides, Santa Izabel, Americano, Apehú, Castanhal, Anhanga, Jambuassu, Igarapé-Assú) necessitam de substituição por estarem imprestaveis. A falta de recursos obrigou-me, porém, a adiar este serviço que actualmente é urgente, mas a que se preferiu, aliás com razão, o da conservação da linha. Entretanto é tal o estado da estação de Igarapé-Assu que não póde deixar de ser substituida, para o que já mandei organizar planta e orçamento. Dentro em poucos dias vai ser iniciada a estação de Marituba. (MONTENEGRO, 1906, p.46).

Possivelmente, a opção por investimentos no novo ramal, levando em

consideração que o mesmo geraria lucros, a partir de diversos fatores previamente

explicitados, seria uma maneira de gerar saldo ao Tesouro do Estado a fim de

auxiliar nessas reconstruções e nas substituições de paradas e estações

ferroviárias.

Em 1907, próximo ao fim de seu governo, Augusto Montenegro, em sua

mensagem de 07 de setembro de 1907, faz um levantamento histórico e econômico

da Ferrovia Belém-Bragança. Inicia desde as primeiras ideias de construção férrea

até seu governo, no qual o autor se logra de ser o finalizador da ferrovia28. Fez um

balanço de como suas ações como governante foram benéficas economicamente à

EFB e, por conseguinte, para as rendas do Estado, como pode ser visto no Quadro

0529:

28 Ainda que a mesma não tivesse sido concluída quando a mensagem fora pronunciada, o governador antevê sua finalização para pouco tempo depois de seu pronunciamento. 29 Vale frisar que o valor do ano corrente (1907) é inferior a alguns dos anteriores, porque foram levados em consideração apenas os meses que já se haviam passado.

Page 58: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

57

Quadro 05 – Balanço de Arrecadação 1903-1907

Fonte: MONTENEGRO (1907)

Assim, é possível perceber que os investimentos e esforços de Augusto

Montenegro para gerar renda ao Tesouro do Estado foram eficazes. Não se nega a

eficácia das políticas de outros governadores do Estado do Pará em gerar

dividendos ao Tesouro, porém, em um período em que o governador afirma estar

em crise, é interessante ressaltar que as medidas por ele tomadas, em relação à

ferrovia Belém-Bragança como em outros setores da economia estadual, geraram

resultados.

Quando o governador lista as tabelas de valores da linha principal com o

Ramal do Pinheiro, é impossível não notar algumas discrepâncias em relação ao

novo caminho de ferro, como pode ser visto nos quadros 06 e 07.

Page 59: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

58

Quadro 06 – Valores que a Linha Principal Transportou em 1907

Fonte: MONTENEGRO (1907)

Quadro 07 – Valores que o Ramal do Pinheiro Transportou em 1907 Fonte: MONTENEGRO (1907)

Ainda que a linha principal transporte uma quantidade superior de

mercadorias, material de construção e lenha, o Ramal do Pinheiro supera a mesma

em relação à quantidade de passageiros e bagagens, se percebendo assim o

grande impacto que o mesmo vai ter na dinâmica da cidade e de seus moradores.

Já em 1908, em seu último ano de governo, Augusto Montenegro faz um

grande apanhado de suas duas administrações. Na sua fala, ele informa a

incorporação do Ramal de Benjamin Constant a Estrada de Ferro Belém-Bragança,

bem como o término das obras de prolongamento da mesma, ou seja, em seu

governo, a ferrovia foi concluída. Nesse mesmo relatório, ele destaca os números

em relação ao Ramal do Pinheiro (Quadro 08), como pode ser visto a seguir:

Page 60: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

59

Quadro 08 – Valores Transportados pelo Ramal do Pinheiro

Fonte: MONTENEGRO, 1908, p.122

Dessa maneira, se acredita que, apesar da crise apontada pelo governador

do Estado, investir na abertura do Ramal do Pinheiro foi algo válido para a dinâmica

e a economia da cidade, visto que, juntamente com outras ações tomadas pelo

governo do Estado, foram responsáveis por gerar lucro ao Tesouro ou reduzir os

gastos para os cofres públicos.

Tais fatores são expostos no relatório de 1908: a economia em 45% do valor

anteriormente dispensado com lenha (substituída pelo carvão); a regulação das

tarifas de transporte; a política de encomendas de materiais diretamente do Rio de

Janeiro ou da Europa e a extinção da linha de navegação entre o Pinheiro e Belém.

Assim, crê-se que mesmo a ferrovia, originalmente possuindo um caráter integrador

da capital aos municípios do interior, na gestão de Augusto Montenegro, também

ganha outras faces, como elemento responsável pela geração de lucros ao Estado e

Page 61: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

60

dinamizando um transporte mais eficaz, com melhor locomoção de matéria-prima

para seu próprio funcionamento e de outras instituições estaduais.

Page 62: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

61

4 – CONCLUSÃO

Ao longo do surgimento, desenvolvimento e aprimoramento da máquina a

vapor durante a Revolução Industrial, o trem e a ferrovia se reafirmam na cidade e

no ideário mundial como símbolo da diminuição temporal e de distâncias, como um

grande resumo do que seria a modernidade. Ganhando várias faces e usos,

extrapola seu objetivo inicial, passando a transportar tropas, gerando turismo, e se

torna agente na modificação das relações espaciais de trabalho e convivência. Gera

novas dinâmicas e (re)organização tanto nas grandes cidades do mundo quanto nas

pequenas que passam a ser entrecortadas pelos trilhos.

A presença da mesma na economia brasileira foi um fator dinamizador e

integrador primeiramente de regiões cafeeiras, para depois se tornar elemento

fundamental à logística de transporte, locomoção e integração nacional. Na

Amazônia, abrir uma ferrovia em meio ao grande “inferno verde” é algo essencial

para mostrar ao mundo a modernidade que chega à selva, que representa o homem

domando a natureza e como o mesmo consegue “controlá-la”. Como grande

expressão disso, a Belém-Bragança, por ser a primeira ferrovia da Amazônia, é um

marco deste período da Belle Époque em que a cidade se modificara.

Os primeiros interesses para a composição desta pesquisa acerca da ferrovia

despontaram ao se ter conhecimento da existência de descendentes de um dos

engenheiros e diretor da mesma. Inicialmente, a partir de uma leitura

descompromissada, se acercou da temática, porém sem grandes pretensões ou

interesses. Afinal de contas, uma história da ciência seria mais interessante do que

pesquisar uma ferrovia. Porém, com o passar do tempo, o interesse começou a se

desenvolver de tal forma que uma viagem ao interior do Estado, através da “Rota

Turística Belém-Bragança”, abriu os olhos à pesquisa, fez perceber que, mesmo

com a presença, até hoje, de elementos da ferrovia, ainda que ela não mais exista,

foi elemento fundamental na história econômica, política e social daqueles espaços.

Ao voltar para Belém, foi possível perceber a cidade com outros olhos, foi

possível pensar na cidade rasgada por grandes veios de trilhos, remodelada ao som

do apito e à imagem da fumaça correndo por entre as ruas. Surgiu então um grande

questionamento: por que não tentar conhecer um pouco dessa história, conhecer

melhor seus caminhos? Esses caminhos são indeléveis na espacialidade da cidade

Page 63: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

62

e na memória do cotidiano belenense e dos moradores dos diversos municípios

pelos quais se fez passar a ferrovia.

Originalmente, haja vista que se tinha uma pequena aproximação com a

temática, gestou-se grande interesse em desenvolver o presente trabalho entre os

anos de 1904 e 1914, período em que o engenheiro Amynthas de Lemos estava à

frente da direção da via férrea. Porém, no percurso que se traçou, foram

encontradas algumas dificuldades para se seguir a pesquisa, tanto o fato de a

família dificultar acesso à documentação particular, quanto o setor de obras raras da

Biblioteca Pública Arthur Vianna se encontrar fechado, onde seriam consultados os

relatórios da ferrovia.

Isso fez com que a temporalidade da pesquisa fosse alterada, bem como as

fontes analisadas, passando então para o período de 1901 a 1908, a partir dos

relatórios e falas construídos pelo governador Augusto Montenegro durante suas

duas administrações. Ler essa documentação suscitou alguns questionamentos

como: por que o governador afirmava a existência de uma crise na cidade? Quais

seriam as maneiras de se driblar essa crise? E qual a grande importância da

abertura do Ramal do Pinheiro nesse contexto?

Então, a partir de uma análise de discursos e das fontes em si, foi possível

perceber o panorama da "crise" instaurada na cidade na fala de Augusto

Montenegro, bem como as estratégias por ele desenvolvidas para contenção de

gastos ou geração de lucros para a economia estadual. Aliada a isso, a abertura do

Ramal do Pinheiro foi elemento chave nas políticas por ele desenvolvidas,

colocando a Ferrovia Belém-Bragança como pauta de governo.

Gestada com a função de integrar a capital paraense ao interior do Estado

durante o século XIX, no governo de Augusto Montenegro a ferrovia ganha outro

tom, se torna uma pauta de governo e tem como grande função não mais apenas

integrar, mas sim gerar lucros ao Tesouro Estadual. Assim, se pensa a abertura do

Ramal do Pinheiro como uma forma de garantir a contenção de despesas e

captação de dividendos ao Estado, aliado a uma substituição de combustível da

ferrovia e ao encerramento da navegação subvencionada para tal local.

É perceptível, portanto, que a Estrada de Ferro Belém-Bragança é um

elemento muito importante na história da capital e do interior do Estado, e continua a

suscitar análises e indagações nas mais diversas áreas do conhecimento. O

Page 64: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

63

presente trabalho não é uma porta fechada, mas, sim, serve como uma “força

motriz” para gerar novas pesquisas e estudos, mostrando que, mais do que nunca, a

EFB não é um elemento “morto” na cidade, mas um personagem de memórias e

agente da história que permeia a vida de inúmeras pessoas até os dias de hoje.

Page 65: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

64

REFERÊNCIAS

ABREU JUNIOR, José Maria de Castro; MIRANDA, Aristoteles Guilliod de. As primeiras sociedades médicas do estado do Pará, Brasil. Revista Pan-Amaz Saúde, Brasil, v. 2, p.11-17, 2013. ANDRADE, Fabiano Homobono Paes de. De São Braz a jardim público – 1887-1931: um ramal da Estrada de Ferro de Bragança em Belém do Pará. 318f. 2010. Tese (Doutorado em História). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2010. BATISTA, Luciana Marinho. Muito além dos seringais: elites, fortunas e hierarquias no Grão-Pará, c.1850-c.1870. Belém: Açaí, 2014. BRASIL. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Breve história da ferrovia no Brasil. Disponível em: < http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Breve%20hist%C3%B3ria%20da%20ferrovia%20no%20Brasil2.pdf >. Acesso em: 16 mai. 2016. ______. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Benevides. Disponível em: < http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/para/benevides.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2016. BENJAMIN, Walter Bendix Schönflies. Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007. BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. BORGES, Barsanufo Gomides. Ferrovia e modernidade. Revista UFG, Brasil, v. 11, p.27-36, 2011. BRESCIANI, Maria Stella Martins. Metrópoles: as faces do monstro urbano (as cidades no século XIX). Revista Brasileira de História, Brasil, v.5, p.35-68, 1985. ______. A cidade das multidões, a cidade aterrorizada In: PECHMAN, Robert Moses. (Org.). Olhares sobre a cidade. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994. p.9-42. CAMARGO, Haroldo Leitão. Fundamentos multidisciplinares do turismo: história. In: TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. (Org.). Turismo como aprender, como ensinar. v.1. São Paulo: Editora SENAC, 2008. p.33-85. COELHO, Geraldo Mártires. Na Belém da belle époque da borracha (1890-1910): dirigindo olhares. Escritos (Fundação Casa de Rui Barbosa), Rio de Janeiro, v. 5, p.141-168, 2011. Disponível em:

Page 66: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

65

<http://www.casaruibarbosa.gov.br/escritos/numero05/FCRB_Escritos_5_8_Geraldo_Martires_Coelho.pdf>. Acesso em: 08 nov. 2016. ______. A lira de Apolo: O mecenato em Antônio Lemos e Augusto Montenegro (1897-1912). Belém: Estudos Amazônicos, 2014. CRICIUMA. Estrada de Ferro Dona Thereza Cristina. Disponível em: < http://www.criciuma.sc.gov.br/site/turismo/arquivo_historico/2?epoca=&fonte=&cor=PB&categoria=1 >. Acesso em: 19 jun. 2016. CRUZ, Ernesto. A Estrada de Ferro de Bragança: visão social política e econômica. Belém: Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPEVEA), 1955. DIAS, Edinea Mascarenhas. A ilusão do Fausto: Manaus – 1890-1920. Manaus: Valer, 1999. DINIZ, Ivaldo Frois. Contribuição da ferrovia para a urbanização: 1908-1950. Alguns apontamentos sobre o Norte de Minas. 113 p. 2012. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Social), UNIMONTES, Brasil. 2012. ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS DO BRASIL. Estado do Rio de Janeiro. Disponível em: < http://www.estacoesferroviarias.com.br/efl_rj_petropolis/efl_petropolis.htm >. Acesso em: 06 mai. 2016. FERRANTI, Tatiara Rodrigues; SOUZA, Cellayne Patrícia Brito de. Arte e cultura na Belém da belle époque. RevistaTrias – Revista eletrônica online de filosofia, história, literatura e ciências sociais. sl, Ano III, nº 6, janeiro a julho de 2013. Disponível em: < http://www.revistatrias.pro.br/artigos/ed-6/Arte-e-Cultura-na-Belem-da-Belle-Epoque.pdf>. Acesso em 30 nov 2016. FERREIRA, Aline Alves; FLEURY, Jorge Nassar. Ver-o-Peso da cidade: o mercado, a carne e a cidade no século XIX. Revista Estudos Amazônicos, Belém. v.6. n.1. p.100-116, 2011. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Miguel José de Almeida Pernambuco. Disponível em: < http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/PERNAMBUCO,%20Miguel%20Jos%C3%A9%20de%20Almeida.pdf >. Acesso em: 18 jun.2016. ______. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Lauro Sodré. Disponível em: < http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/SODR%C3%89,%20Lauro.pdf >. Acesso em: 18 jun.2016. GUARANÁ, Manuel Armindo Cordeiro. Rufino Enéas Gustavo Galvão, Visconde de Maracajú. In: Dicionário biobibliográphico sergipano. Rio de Janeiro: Pongetti & C., 1925. p.249-251.

Page 67: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

66

GUIMARÃES, Carlos Gabriel. Mauá por trás do mito. In: Revista de História, 2007. p.1-3. Disponível em: < http://www.revistadehistoria.com.br/secao/retrato/maua-por-tras-do-mito>. Acesso em: 20 mai. 2016. GULLAR, Ferreira. Melhores poemas. 6.ed. São Paulo: Global, 2000. HARDMAN, Francisco Foot. Trem fantasma: a ferrovia Madeira-Mamoré e a modernidade na selva. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. HOBSBAWM, Eric John Ernest. A era das revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 2009. _____. A era dos impérios (1875 – 1914). 2.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. JUDT, Tony. Quando os fatos mudam: ensaios 1995-2010. Rio de Janeiro: Objetiva, 2016. LACERDA, Franciane Gama. Migrantes cearenses no Pará: faces da sobrevivência (1889-1916). 340p. 2006. Tese (Doutorado em História Social). Universidade de São Paulo. São Paulo. 2006. MACMILLAN, Margaret Owen. The war that ended the peace: how Europe abandoned peace for the First World War. Great Britain: PROFILE BOOKS LTD. 2013. MARX, Karl. Acumulação primitiva. In:_____. O Capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2008. MENDES, Francielle Maria Modesto; QUEIRÓS, Fancisco Aquinei Timóteo. O coronelismo bem engomado da Amazônia. In: A Palavrada, 2012. p.79-92. Disponível em: < https://revistaapalavrada.files.wordpress.com/2014/05/6-o-coronelismo-bem-engomado-da-amazc3b4nia-francielle-maria-modesto-mendes-e-francisco-aquinei-timc3b3teo-queirc3b3s.pdf >. Acesso em: 18 jun. 2016. MENEZES, Bruno de. Candunga: cenas das migrações nordestinas na zona bragantina. In: _____. Obras Completas. Belém: SECULT, 1993. v. 3, Ficção. MICHAELIS DICIONÁRIO DE PORTUGUÊS ONLINE. Disponível em: < http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=voyeurismo >. Acesso em: 19 jun. 2016. MOURA, Daniella de Almeida. A república paraense em festa (1890-1911). 124 f. 2008. Dissertação (Mestrado em História Social da Amazônia) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará, Belém, 2008. NATAL, Jorge Luiz Alves. Transporte, ocupação do espaço e desenvolvimento capitalista no Brasil: história e perspectivas. Ensaios FEE, Porto Alegre, (12) 2 p.293-307, 1991.

Page 68: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

67

PANTOJA, Letícia Souto. Au jour le jour: cotidiano, moradia e trabalho em Belém (1890 a 1910).362 f. 2005. Dissertação (Mestrado em História Social), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005. PAULA, Dilma Andrade de. 154 Anos de ferrovias no Brasil: para onde caminha esse trem?. Revista UFG. v.13, p.45-69, 2008. PAULA, João Antônio de. O processo econômico. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz. (Org.). A construção nacional: 1830-1889. Madrí/Rio de Janeiro: Fundación MAPFRE/objetiva, 2012. p.179-223. v.2. PECHAMN, Robert Moses. Olhares sobre a cidade. In: ______. (Org.). Olhares sobre a cidade. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994. p.3-8. PINSKY, Carla Bassanezi. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005. v.1 POLLACK, Michael. Memória, silêncio, esquecimento. Estudos Históricos, 2(3). p.3-15, 1989. POSSAS, Lidia Maria Vianna. Mulheres, trens e trilhos: modernidade no sertão paulista. Bauru: EDUSC, 2001. SANTOS, Chrislayne Fernandes. A modernidade chega de trem: o progresso como discurso para o advento dos caminhos de ferro no estado de Sergipe. In: SEMINÁRIO REGIONAL NORTE-NORDESTE DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA, 3, 2012, João Pessoa. Anais... Pós-Graduação em Geografia no Norte e Nordeste: políticas de fomento, pesquisas e ações. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2012. SANTOS, Francisnaldo Sousa dos. Imigração e colonização no limiar da República: considerações sobre o processo de implantação dos núcleos coloniais ao Nordeste do Pará. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA 6, 2014, Jataí. Anais... 2014. SANTOS, Roberto. História econômica da Amazônia (1800-1920). São Paulo: T. A. Queiroz, 1980. SARGES, Maria de Nazaré dos Santos. Belém: riquezas produzindo a Belle Époque (1870-1912). 2.ed. Belém: Paka-Tatu, 2010. ______. Memórias do velho intendente: Antônio Lemos (1869/1973). Belém: Paka-Tatu, 2004. SILVEIRA, Marcio Rogério. A importância geoeconômica das estradas de ferro no Brasil. 454 f. 2003. Tese (Doutorado em Geografia), UNESP, Presidente Prudente. 2003. SOUZA, Márcio. Breve história da Amazônia. Rio de Janeiro: Agir, 2001.

Page 69: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

68

TAVARES JÚNIOR, Raimundo William. Um viveiro de mestres: A Escola Normal e a cidade de Belém do Pará em tempos de modernização (1890 – 1920). Tese (Doutorado em História), PUC, São Paulo. 2012. VILAR, Leandro. Fábrica, aço e vapor: a Revolução Industrial. 2011. Disponível em: <http://www.seguindopassoshistoria.blogspot.com.br/2011/03/fabrica-aco-e-vapor-revolucao.html>. Acesso em: 01 mai. 2016. WEINSTEIN, Barbara. A borracha na Amazônia: expansão e decadência (1850-1920). São Paulo: Hucitec; EDUSP, 1993. ZORZO, Francisco Antonio; SILVA, Marcelo Werner. A emergência do capitalismo ferroviário na Europa e no Brasil na segunda metade do século XIX. Revista Geografica de America Central (online), v. Vol2, p. 100-111, 2011. Disponível em:< http://www.revistas.una.ac.cr/index.php/geografica/article/view/1751 >. Acesso em: 20 mai. 2016.

Page 70: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

69

FONTES:

ARCHEXPO. The great exhibition at Crystal Palace, 1851. Disponível em: <http://archexpo.net/en/contenu/great-exhibition-crystal-palace-1851#.Vzj1i_krLIV>. Acesso em: 15 mai. 2016. BRASIL. Presidência da República. Decreto Nº 31 de 1835. 1835. Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-101-31-outubro-1835-562803-publicacaooriginal-86906-pl.html >. Acesso em: 16 mai. 2016. ______. Presidência da República. Lei Nº 29 de 1828. 1828. Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-38195-29-agosto-1828-566164-publicacaooriginal-89803-pl.html >. Acesso em: 16 mai. 2016. ______. Presidência da República. Lei Nº 641 de 1852. 1852. Disponível em: < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/dpl/dpl641.htm >. Acesso em: 16 mai. 2016. BRITISH BROADCASTING CORPORATION. George Stephenson. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/schools/primaryhistory/famouspeople/george_stephenson/>. Acesso em: 01 mai. 2016. EDGEHILLSTATION. Traveling on the Liverpool and Manchester Railway. Disponível em: < http://www.edgehillstation.co.uk/resources/travelling-on-the-liverpool-and-manchester-railway-v/>. Acesso em: 01 mai. 2016. FERROVIA CENTRO ATLANTICA. Sobre a FCA, história. Disponível em: <http://www.fcasa.com.br/wp-content/_cache/wp-cache-fa1df60a2024f7728231f635b5815f37.html)>. Acesso em: 14 mai. 2016. GENEALL. Rufino Eneias Gustavo Galvão, 1ºvisconde de Maracajú. Disponível em: < http://geneall.net/pt/nome/220245/rufino-eneias-gustavo-galvao-1-visconde-de-maracaju/ >. Acesso em: 24 jun. 2016. GOOGLE MAPS. UEPA, Almirante Barroso. Disponível em: < https://www.google.com.br/maps/@-1.4287233,-48.4533641,3a,75y,255.15h,88.14t/data=!3m6!1e1!3m4!1sPQd-fLUum5kh6yAOUocjaw!2e0!7i13312!8i6656 >. Acesso em: 24 jun. 2016. IBAMENDES. Fotos antigas da cidade do Recife (Pernambuco) - XXXVII. Disponível em: < http://www.ibamendes.com/2012/04/blog-post_2330.html >. Acesso em: 19 jun. 2016. MARTINS, Enéas. Mensagem ao congresso legislativo do Pará em 1914 pelo Dr. Enéas Martins governador do estado do Pará. Belém: Imprensa Oficial, 1914.

Page 71: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

70

MONTENEGRO, Augusto. Mensagem ao congresso legislativo do Pará em 10 de setembro de 1901 pelo Dr. Augusto Montenegro governador do estado do Pará. Belém: Imprensa Oficial, 1901. ______. Mensagem ao congresso legislativo do Pará em 7 de setembro de 1903 pelo Dr. Augusto Montenegro governador do estado do Pará. Belém: Imprensa Oficial, 1902. ______. Mensagem ao congresso legislativo do Pará em 7 de setembro de 1902 pelo Dr. Augusto Montenegro governador do estado do Pará. Belém: Imprensa Oficial, 1903. ______. Mensagem ao congresso legislativo do Pará em 7 de setembro de 1904 pelo Dr. Augusto Montenegro governador do estado do Pará. Belém: Imprensa Oficial, 1904. ______.Mensagem ao congresso legislativo do Pará em 7 de setembro de 1905 pelo Dr. Augusto Montenegro governador do estado do Pará. Belém: Imprensa Oficial, 1905. ______. Mensagem ao congresso legislativo do Pará em 7 de setembro de 1906 pelo Dr. Augusto Montenegro governador do estado do Pará. Belém: Imprensa Oficial, 1906. ______. Mensagem ao congresso legislativo do Pará em 7 de setembro de 1907 pelo Dr. Augusto Montenegro governador do estado do Pará. Belém: Imprensa Oficial, 1907. ______. Mensagem ao congresso legislativo do Pará em 7 de setembro de 1908 pelo Dr. Augusto Montenegro governador do estado do Pará. Belém: Imprensa Oficial, 1908.

MUSEU DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (MUFPA). Obras restauradas: Coleção C.C.J (Retratos de Direito). Disponível em: < https://mufpa.wordpress.com/2010/08/12/obras-restauradas-colecao-c-c-j-retratos-de-direito/ >. Acesso em: 19 jun. 2016. MUZZIQUE. Domo central da galeria de máquinas, Exposição Universal de Paris. Disponível em: <http://muzzique.blogspot.com.br/2012/05/louis-beroud.html>. Acesso em 15 mai. 2016. O DIA A HISTÓRIA. Barão de Mauá. Disponível em: <http://odia-a-historia.blogspot.com.br/2016/01/barao-de-maua.html. Acesso em: 08 mai. 2016.

PARÁ. Governo do Estado. Album do Pará em 1899 na administração do governo de sua Excia o Senr. Dr José Paes de Carvalho. Sem editora e local, 1899.

Page 72: UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA - UNAMA CENTRO DE … · incentivando desde a minha escolha até o ultimo momento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, aconselhando e auxiliando em tudo,

71

______. Governo do Estado. 1908 - Album do Estado do Pará. Paris: Imprimiere CHAPONET, 1908. ______. Secretaria de Cultura. Belém da Saudade: a memória da Belém do início do século XX em cartões - postais. Belém: SECULT, 2014.

SOLARISEDITORA. As ferrovias do Brasil: nos cartões-postais e álbuns de lembranças. Disponível em: < http://www.solariseditora.com.br/estr_ferro/ef_501.htm >. Acesso em: 19 jun. 2016. SKYCRAPERCITY. Icoaraci, PA - A Vila Sorriso. Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?referrerid=39159&t=343411>. Acesso em: 11 dez 2016. TRAVELANDLEISURE. Antwerp Central Station, Belgium. Disponível em: < http://www.travelandleisure.com/slideshows/worlds-most-beautiful-train-stations/12 >. Acesso em: 19 jun. 2016. URBANGHOSTSMEDIA. Madrid: former Atocha Railway Station converted into tropical garden. Disponível em: < http://www.urbanghostsmedia.com/2013/10/madrid-old-atocha-railway-station-converted-tropical-garden/ >. Acesso em 19 jun. 2016.

VIATROLEBUS. SP461 – a Estrada de Ferro Santos – Jundiaí. Disponível em: <

http://viatrolebus.com.br/2015/01/sp-461-a-estrada-de-ferro-santos-jundiai/ >. Acesso

em: 19 jun. 2016.