UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL LUANA REIS O...
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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
LUANA REIS
O IMEDIATISMO DO WEBJORNALISMO EM PERÍODOS DE MOBILIZAÇÃO
SOCIAL: UM ESTUDO DE CASO DOS MOVIMENTOS DE JUNHO/2013 NO
BRASIL
CAXIAS DO SUL
2015
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LUANA REIS
O IMEDIATISMO DO WEBJORNALISMO EM PERÍODOS DE MOBILIZAÇÃO
SOCIAL: UM ESTUDO DE CASO DOS MOVIMENTOS DE JUNHO/2013 NO
BRASIL
Monografia do Curso de Comunicação Social, apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, na Universidade de Caxias do Sul.
Orientadora Prof. Dra. Marlene Branca Sólio
CAXIAS DO SUL
2015
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LUANA REIS
O IMEDIATISMO DO WEBJORNALISMO EM PERÍODOS DE MOBILIZAÇÃO
SOCIAL: UM ESTUDO DE CASO DOS MOVIMENTOS DE JUNHO/2013 NO
BRASIL
Monografia do Curso de Comunicação Social, apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, na Universidade de Caxias do Sul.
Orientadora Prof. Dra. Marlene Branca Sólio
Aprovada em: ____/____/____
Banca Examinadora
______________________________________ Prof. Dra. Marlene Branca Sólio Universidade de Caxias do Sul ______________________________________ Prof. Ms. Edson Luiz Corrêa Universidade de Caxias do Sul ______________________________________ Prof. Ma. Ana Laura Paraginski Universidade de Caxias do Sul
4
Dedico este trabalho a minha falecida
avó, pessoa que me amou muito e que eu
sigo como exemplo de vida, força e garra.
Sempre sentirei saudades e agradeço por
ser neta dela. Vó Janyra, te amarei pra
sempre!
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que me acompanharam de alguma forma e fizeram parte dessa
etapa da minha vida. Obrigado a Deus, espíritos de luz, familiares, pais, minha irmã,
meu namorado, amigos, colegas, professores, Prouni e UCS.
Gratidão a tudo e a todos! Gratidão!
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“Plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.”
Shakespeare
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RESUMO
O presente trabalho acadêmico estuda o imediatismo do webjornalismo com o recorte de análise nos movimentos sociais de junho de 2013 no Brasil. Para a construção da proposta de estudo, parte-se do seguinte problema de pesquisa: O webjornalismo cumpre efetivamente com o imediatismo que prega? O objetivo geral dessa pesquisa foi analisar o imediatismo do webjornalismo através de notícias publicadas no Portal UOL durante o período escolhido. A fim de cumprir a fundamentação do trabalho e dar força ao estudo, os objetivos específicos desta pesquisa foram: estudar o conceito de webjornalismo e suas características específicas; estudar o conceito clássico de jornalismo, tensionando-o com o conceito de webjornalismo e, também, estudar os conceitos de tempo/espaço (compressão) na sociedade da informação e das tecnologias. Os objetivos estão estreitamente ligados a três hipóteses que foram postas à prova durante as análises. A primeira hipótese levantada é que o webjornalismo não cumpre efetivamente o imediatismo a que se propõe; a segunda defende que o webjornalismo institui uma nova forma de fazer jornalismo e a terceira e última afirmação hipotética analisada é que a sociedade da informação, centrada em processos tecnológicos, provoca a compressão dos conceitos de tempo e espaço. O método escolhido foi o etnográfico, a partir de análise de conteúdo inspirada em Laurence Bardin.
Palavras-chaves: Sociedade da Informação. Jornalismo. Webjornalismo.
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ABSTRACT
This scholarly work studying the immediacy of web journalism with analytical cut in social movements June 2013 in Brazil. For the construction of the study proposal is part of the following research problem: The web journalism effectively comply with the immediacy that preaches? The overall objective of this research was to analyze the immediacy of web journalism through news published in UOL portal during the chosen period. In order to meet the basis of the work and give strength to the study, the specific objectives of this research were to study the concept of web journalism and its particular characteristics; study the classical concept of journalism, tensing it with the concept of web journalism and also study the concepts of time / space (compression) in the information society and technology. The objectives are closely linked to three hypotheses were tested during analysis. The first hypothesis raised is that web journalism not effectively meet the immediacy that are proposed; the second argues that web journalism establishing a new form of journalism and the third and final analyzed hypothetical assertion is that the information society, centered on technological processes, causes compression of the concepts of time and space. The method chosen was the ethnographic , from content analysis inspired by Laurence Bardin . Keywords: Information society. Journalism. Web journalism.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Ao vivo ..................................................................................................... 66
Figura 2 – Ao vivo parte 2 ......................................................................................... 67
Figura 3 – Pessoas nas ruas ..................................................................................... 70
Figura 4 – Enquete online ......................................................................................... 72
Figura 5 – Galeria de Fotos ....................................................................................... 74
Figura 6 – Infográfico ................................................................................................ 75
Figura 7 – Vídeo ........................................................................................................ 76
Figura 8 – Banco de dados ....................................................................................... 77
Figura 9 – Banco de dados 2 .................................................................................... 78
Figura 10 – Charges .................................................................................................. 79
Figura 11 – Fotos dos internautas ............................................................................. 81
Figura 12 – Vídeo do internauta ................................................................................ 83
Figura 13 – Gráfico da análise .................................................................................. 84
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 12
2 METODOLOGIA ............................................................................................................. 19
2.1 A PESQUISA... .................................................................................................... .... 19
2.2 O PARADIGMA ... ................................................................................................ .... 20
2.3 AS PESQUISAS QUANTITATIVA E QUALITATIVA ................................................... 21
2.4 MÉTODO .................................................................................................................... 22
2.5 TÉCNICAS METODOLÓGICAS ................................................................................. 22
2.6 O PROJETO DE PESQUISA ...................................................................................... 22
2.7 ANÁLISE DE CONTEÚDO ......................................................................................... 24
2.8 A PESQUISA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 26
2.9 OBJETO DE ANÁLISE................................................................................................ 27
3 A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO .............................................................................. 28
3.1 RELAÇÃO TEMPO-ESPAÇO... ........................................................................... .... 29
3.2 COMUNIDADE VIRTUAL OU CIDADE INFORMACIONAL ................................. .... 33
3.3 NO NOVO ESPAÇO UMA NOVA COMUNICAÇÃO ................................................... 36
3.3 CULTURA NO CIBERESPAÇO .................................................................................. 38
4 O JORNALISMO ........................................................................................................... 42
4.1 NOVAS PRÁTICAS DO JORNALISMO ...................................................................... 45
4.2 CONSTRUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO DO DISCURSO ............................................ 47
4.3 NOTÍCIA NÃO É OPINIÃO ......................................................................................... 48
5 WEBJORNALISMO ....................................................................................................... 51
5.1 A PRODUÇÃO DO WEBJORNALISMO ..................................................................... 53
5.2 AS POSSIBILIDADES DE MÍDIA NA WEB ................................................................. 55
5.3 O CONTEÚDO EXCLUSIVO E DIFERENCIADO ....................................................... 58
5.4 OS DESAFIOS E AS DIFICULDADES DO DIA A DIA NA WEB ................................. 59
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6 ANÁLISE ...................................................................................................................... 61
6.1 O PERÍODO DE RECORTE DA ANÁLISE .................................................................. 61
6.1 O PORTAL UOL EM PERÍODOS DE MOBILIZAÇÃO SOCIAL ................................... 63
6.2.1 Imediatismo: coberturas ao vivo .......................................................................... 63
6.2.2 Apresentação de conteúdo e formato diferenciados .......................................... 69
6.3 A INTERAÇÃO ENTRE O UOL E OS PRODUTORES DE CONTEÚDO .................... 80
6.4 OS NÚMEROS DA ANÁLISE...................................................................................... 84
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 86
8 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 90
9 APÊNDICES ................................................................................................................. 95
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1 INTRODUÇÃO
Este trabalho acadêmico estuda o imediatismo do webjornalismo. Seu
recorte de análise está direcionado ao estudo de caso dos movimentos sociais de
junho de 2013 no Brasil. Para a construção da proposta de estudo, partimos do
seguinte problema de pesquisa: O webjornalismo cumpre efetivamente com o
imediatismo que prega? O objetivo geral dessa pesquisa foi analisar o imediatismo
do webjornalismo a partir de notícias publicadas no Portal UOL durante o período
escolhido.
A fim de cumprir a fundamentação do trabalho e dar força ao estudo, os
objetivos específicos desta pesquisa foram: estudar o conceito de webjornalismo e
suas características específicas; estudar o conceito clássico de jornalismo,
tensionando-o com o conceito de webjornalismo e, também estudar os conceitos de
tempo/espaço (compressão) na sociedade da informação e das tecnologias.
Os objetivos estiveram estreitamente ligados a três hipóteses que foram
postas à prova durante a análise final. A primeira hipótese levantada foi que o
webjornalismo não cumpre efetivamente o imediatismo a que se propõe; a segunda
defende que o webjornalismo institui uma nova forma de fazer jornalismo e a terceira
e última afirmação hipotética analisada foi que a sociedade da informação, centrada
em processos tecnológicos, provoca a compressão dos conceitos de tempo e
espaço.
O método escolhido para a investigação foi o etnográfico, a partir de análise
de conteúdo inspirada em Laurence Bardin.
O trabalho se fortaleceu a partir da constatação de que a sociedade
contemporânea passa por intensas mudanças decorrentes do avanço tecnológico
que a caracteriza. Essas mudanças se refletem no comportamento da sociedade e
da informação, o que permite associar o quadro ao jornalismo e aos meios de
comunicação.
A produção e circulação das formas simbólicas nas sociedades modernas é inseparável das atividades das indústrias da mídia. O papel das instituições da mídia é tão fundamental, e seus produtos se constituem em traços tão onipresentes da vida cotidiana, que é difícil, hoje, imaginar o que seria viver num mundo sem livros e jornais, sem rádio e televisão, e sem os inúmeros
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outros meios através dos quais as formas simbólicas são rotineira e continuamente apresentadas a nós. (THOMPSON, 1995, p. 219).
O comportamento do leitor mudou. Hipertextualidade, interatividade,
personalização de conteúdo, multimidialidade e imediatismo, são algumas das
características que guiam o jornalismo a partir da web. O webjornalismo ganhou
novos conceitos e novas demandas e o leitor se tornou um “consumidor” de
conteúdo, afinal, agora ele pode interagir, comentar, e preza por conteúdo
atualizado. Como argumenta Thompson (1995), as tecnologias da comunicação
possibilitam interação e personalização de conteúdo, dando assim mais poder de
escolha para seus leitores. Dessa forma, a principal mudança de formato do
jornalismo na web é a atualização constante das notícias, que se torna referência
entre os meios de comunicação.
A necessidade do webjornalismo ser imediato, como reflexo da ansiedade
da sociedade nessa era, se tornou regra e imprescindível para os veículos serem
reconhecidos e ganharem credibilidade. Em casos e notícias de grande impacto e
envolvimento social, como tragédias e mobilizações sociais, a curiosidade e a
vontade de “compartilhar” o momento fizeram com que o webjornalismo ganhasse
uma carga ainda maior de responsabilidade em apuração e agilidade.
Debord (1997) exemplifica que casos assim ganham mais destaque na
chamada “sociedade do espetáculo” que prestigia o que é espetacular. Dessa forma,
tudo que é notícia de grande impacto ou curiosidade, ganha espaço e,
principalmente, prioridade.
Nos dois últimos anos, o Brasil viveu momentos de extrema importância e
visibilidade social. A mobilização começou nos grandes centros do país e se
espalhou por inteiro. O movimento de Junho de 2013 levou às ruas mais de um
milhão de pessoas em apenas uma noite, segundo blog Estadão, em 20 de junho de
2013 1 ; número bastante distante do movimento anterior ao qual a sociedade
engajou-se: “diretas já”, que contabilizou um milhão e meio de pessoas durante todo
o período do movimento, segundo UOL notícias 20132.
1 Disponível em: http://blogs.estadao.com.br/estadao-urgente/protestos-ocorrem-em-75-cidades-e-
terao-seguranca-reforcada. Acesso em 01.set.2014.
2 Disponível em: http://noticias.uol.com.br/internacional/listas/top-10-manifestacoes-populares.jhtm.
Acesso em 01.set.2014.
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A mistura de grupos sociais, faixas etárias e os objetivos ganhou força nas
ruas e a mobilização se transformou em um grande espetáculo. Nos meios de
comunicação, as redações mal tinham tempo de publicar tudo o que acontecia, e os
programas ao vivo não acompanhavam a apuração das informações. Na web e nas
redes sociais, o furo de reportagem acabou perdendo o sentido. Os internautas
ganharam espaço como construtores de conteúdo e o jornalismo amador foi o que
mais trouxe novidades e ganchos de reportagem.
Analisar os fatos jornalísticos desse período traz um resgate valioso para a
imprensa brasileira e, principalmente, para o webjornalismo e as redes sociais. A
análise desse momento histórico do jornalismo pode ser uma grande contribuição
para o estudo e fundamentação do webjornalismo. Segundo Mattos (2013), a era
digital traz desafios para as mídias e para a análise das informações, já que
possibilita volume, variedade e velocidade na distribuição e produção de notícias.
Com base na pesquisa, o trabalho apurou o momento histórico do período e
analisou de maneira crítica como o webjornalismo propiciou aos leitores a
atualização das notícias minuto a minuto durante as manifestações. Nesse período
os leitores interagiram com os meios de comunicação no ambiente virtual, tornando-
se mediadores e produtores de conteúdo, o que será uma das características do
novo jornalismo que se institui conforme Thompson.
[...] o desenvolvimento das novas tecnologias da comunicação apresenta também a possibilidade de uma forma de comunicação mais personalizada e interativa, no sentido de que elas dão aos receptores maior escolha na seleção dos canais e serviços e maior capacidade de transmitir mensagens próprias através do sistema. (THOMPSON, 1995, p. 276).
Momentos históricos como esses são objeto de análise no estudo que
segue. O estudo do tema parece fundamental para a compreensão da comunicação
no Brasil; para a compreensão do rumo de aspectos sociais, políticos, econômicos
contemporâneas no País e para estudar de que forma o webjornalismo e a
virtualização das relações podem, de alguma forma, influenciar esse cenário.
Desde a segunda metade do século XX, a sociedade não é mais a mesma.
A Internet trouxe novas possibilidades e mudou paradigmas. Tempo, espaço,
comunicação e relações: tudo se transformou. A revolução tecnológica se
caracteriza pela mudança radical de antigos conceitos no que tange à comunicação,
principalmente.
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O destaque se dá pela maior rapidez e agilidade na propagação da
informação e pela facilidade com que os internautas podem interagir, destacando
suas opiniões, compartilhando e se relacionando com seus pares. Wolton destaca
que um dos maiores ganhos com a web foi a liberdade que seus usuários passaram
a ter.
Três palavras são essenciais para compreender o sucesso das novas tecnologias: autonomia, domínio e velocidade. Cada um pode agir, sem intermediário, quando bem quiser, sem filtro nem hierarquia e, ainda mais, em tempo real. Eu não espero, eu ajo e o resultado é imediato. Isto gera um sentimento de liberdade absoluta, até mesmo de poder, de onde se justifica muito bem a expressão “surfar na Internet”. (WOLTON, 2007, p. 86).
Podemos afirmar que a nova sociedade, impulsionada pela era digital e
tecnológica, influencia o comportamento do homem até mesmo longe dos ambientes
virtuais. Os conceitos, percepções e atitudes se misturam entre o mundo virtual e o
real3. Por isso, é de grande importância resgatar e analisar o que mudou e como
isso reflete no que ocorre tanto no mundo virtual como no atual. Num comparativo
entre passado e contemporaneidade, podemos dizer que, na essência, os diversos
fatos não sofreram alterações substanciais. Hoje, porém, precisamos reconhecer
que o ambiente web pode exercer certa influência sobre eles, na medida em que há
a interatividade, a instantaneidade, a convergência de meios e a participação muito
maior do usuário. Esse novo processo, muito mais complexo, terá efeitos sobre
produção, distribuição e compartilhamento de notícias.
Os meios de comunicação e o papel do jornalista também sofreram
transformações, de acordo com as necessidades do novo leitor, o internauta, que
pode ser considerado o “novo homem”. Para Mattos (2013), a sociedade e mídia
tradicional tiveram que se redefinir de acordo com a revolução tecnológica.
A disseminação das mídias pós-massivas tem contribuído também para a redefinição de inúmeros conceitos, inclusive os de ética e de privacidade. Os conceitos estão sendo modificados devido à influência das tecnologias digitais e suas mediações. Uma tecnologia que estimula a interatividade e o acesso a objetos de livre circulação, permitindo a manipulação dos mesmos. (MATTOS, 2013, p. 7).
Com a mudança de comportamentos e conceitos a partir da Internet, o fazer
jornalístico também teve que se reestruturar, já que as necessidades e exigências
3 Lévy (1996) apresenta como “fácil e enganosa” a oposição entre real e virtual. Ele defende que o
virtual se opõe ao atual, na medida em que tende a atualizar-se, sem chegar a uma concretização efetiva.
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do leitor mudaram. Não basta informar, é necessário dar espaço para interatividade,
agilidade de atualização das notícias e conteúdos cada vez mais diferenciados, a
partir de novos recursos. Mattos analisa o reposicionamento de antigas mídias
massivas.
Considerando que as novas tecnologias, principalmente a Internet, estão ganhando cada vez mais espaço como veículo e o fato de que o cenário da comunicação está sofrendo acelerada transformação, a tendência, que pode ser prevista, é que o segmento impresso (jornais e revistas) precisa se reposicionar no mercado, pois o jornalismo tem sido afetado pela expansão das redes sociais interativas. Assim, baseado no fato de que a Internet modificou a maneira de se consumir informação, o maior desafio dos veículos impressos será o de formar e fidelizar novos leitores (consumidores de informações) principalmente entre os jovens, sem deixar de considerar que com o avanço das tecnologias digitais e da portabilidade, os leitores também se transformaram em produtores e distribuidores de conteúdos informativos. O mundo mudou e o jornalismo está buscando encontrar novos caminhos que assegurem sua sobrevivência, é necessário que todos se conscientizem de que apenas transmitir notícias já não é suficiente, pois o leitor busca algo mais além de declarações, além do jornalismo oficial e do jornalismo declaratório. (MATTOS, 2013, p. 37).
Outro salto tecnológico que influenciou significativamente as mudanças na
sociedade foi a mobilidade, que trouxe facilidade, conexão a qualquer hora, em
qualquer lugar e muito mais interação entre os usuários. A tecnologia 3G4 foi uma
das evoluções que mais impulsionaram o imediatismo, a interação e a atualização
minuto a minuto dos acontecimentos reais/atuais com o mundo virtual.
A Internet passou a fazer parte da sociedade em todos os aspectos,
integrando-se à realidade. A partir disso, pode-se afirmar que o mundo real ou atual
e virtual estão próximos e, mais do que isso, um passou a refletir o outro. Dessa
forma, as necessidades do homem e do papel dele em cada “mundo” estão
relacionadas e interdependentes. Wolton aborda como a inserção do mundo virtual
no dia a dia trouxe mudanças, principalmente, à comunicação.
[...] é a partir da constatação, “nas sociedades desenvolvidas, de que as necessidades de informação e de comunicação não param de crescer”, que se legitima o novo mercado da Web. Os homens sempre tiveram a necessidade de se comunicar e de se relacionar uns com os outros. As necessidades crescem com o nível sociocultural, e a rede doméstica permite acessar informações de gênero e de natureza diferentes. (WOLTON, 2007, p. 93).
A transformação de comportamentos que a Internet trouxe à sociedade,
somada à realidade complexa do mundo virtual, gera uma série de reflexões quanto
4 Terceira geração de padrões e tecnologias de telefonia móvel, substituindo o 2G.
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às relações e quanto aos novos consumidores e produtores de informação. No
contexto jornalístico, a comunicação ganha destaque e sofre diversas mudanças. Os
acontecimentos e fatos são parecidos, porém, dia a dia, as reações e as interações
diante disso nesses mundos paralelos são interessantes objetos de análise.
Morin (2005) destaca, em seu princípio do Circuito Recursivo, a
complexidade que cria e transforma um possível ciclo de renovação. Isso, se
comparado com as relações e interações no mundo real e virtual pode servir como
alicerce para análise e reflexão de como funcionam os processos evolutivos e
tecnológicos diante da sociedade. Segundo o autor, os produtores e os efeitos são
eles próprios produtores e causadores daquilo que os produz. Em outras palavras,
Morin explica que qualquer ação, relação e consequência é um ciclo que se renova
e que se auto-organiza. O mundo real e virtual e o que acontece neles pode ser
considerado um ciclo unificado, que precisa de estudo e que não pode ser
investigado e analisado separadamente.
Neste trabalho, estudamos as categorias jornalismo, webjornalismo e
sociedade da informação. Com base na pesquisa dessas três palavras-chaves,
pudemos fundamentar a análise.
O segundo capítulo explica a metodologia adotada para construir a
pesquisa. Neste capítulo, é possível entender a importância do método e das
técnicas que dão credibilidade a todo o processo do trabalho acadêmico.
O terceiro capítulo desta pesquisa estuda conteúdo sobre as tecnologias da
informação, a partir da palavra chave sociedade da informação. Neste capítulo é
descrita a história da Internet, quais as mudanças que a informação trouxe para a
sociedade e o impacto disso na comunicação e interação das pessoas. A
fundamentação teórica baseou-se em Lemos e Palacios (2001); Lévy (1996,1999);
Castells (1999, 2003).
O quarto capítulo deste trabalho estuda o jornalismo convencional, bem
como sua história, características e formatos. Nesta parte, podemos ter noções de
como funciona o processo jornalístico, seus objetivos e como ele vem se renovando
a partir da web. Os principais autores estudados neste capítulo foram Traquina
(2005); Sodré (2009); Wolton (2010).
O quinto capítulo aborda a última categoria deste trabalho, que é o
webjornalismo. Nesse momento, são detalhadas as características do jornalismo
feito nos ambientes virtuais, suas diferenças em relação ao jornalismo tradicional e
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quais as possibilidades de comunicação, produção, interação e repercussão
midiática que ele possibilita. Dentre as bases de pesquisa estão Palacios (1999,
2003); Ferrari (2003); Machado (2007).
Sendo assim, adiante, é posta em prática a metodologia de análise de
conteúdo do objeto, a fim de caminhar com o trabalho para a comprovação de uma
das hipóteses possíveis a respeito do problema de pesquisa aqui proposto. E por
fim, o sétimo e último capítulo faz uma reflexão, por meio das considerações finais,
sobre os resultados obtidos na pesquisa.
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2 METODOLOGIA
2.1 A PESQUISA
O processo de análise deste trabalho foi desenvolvido por meio de
metodologia científica, a fim de fundamentar e apontar os objetivos e resultados com
maior clareza. Para isso, além de buscar críticos e autores que têm publicações
dando ênfase nos assuntos aqui abordados, foi necessária a dedicação quanto à
pesquisa, sobre a qual Lakatos e Marconi destacam que:
[...] pode ser considerada um procedimento formal com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais. Significa muito mais do que apenas procurar a verdade: é encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos. Especificamente é “um procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo de conhecimento”. (LAKATOS; MARCONI, 1992, p. 43).
A pesquisa é um processo de construção de conhecimentos e análises
sobre determinado objeto de estudo. É a partir dela que encontram-se caminhos e
olhares a respeito do que será abordado no trabalho científico. Segundo Bauer e
Gaskell (2011), o pluralismo metodológico é importante para se alcançar uma
análise mais completa diante dos fatos e conhecimentos.
Uma cobertura adequada dos acontecimentos sociais exige muitos métodos e dados: um pluralismo metodológico se origina como uma necessidade metodológica. A investigação da ação empírica exige a) a observação sistemática dos acontecimentos; inferir os sentidos desses acontecimentos das (auto-)observações dos atores e dos espectadores exige b) técnicas de entrevista; e a interpretação dos vestígios materiais que foram deixados pelos atores e espectadores exige c) uma análise sistemática. (BAUER; GASKELL, 2011, p.18).
A base da pesquisa é o conhecimento científico, que busca uma visão
focada e metodológica diante de um tema. Lakatos e Marconi (2003) destacam que
para entender o conhecimento científico é importante diferenciá-lo das demais
formas de conhecimentos, que são o religioso, filosófico ou empírico.
Um mesmo objeto ou fenômeno – uma planta, um mineral, uma comunidade ou as relações entre chefes e subordinados – pode ser matéria de observação tanto para o cientista quanto para o homem comum; o que leva um ao conhecimento científico e outro ao vulgar ou popular é a forma de observação. (LAKATOS; MARCONI, 2003, p. 76).
Quando se fala em metodologia científica, a análise bibliográfica é um ponto
importante, se não um dos principais quesitos. Segundo Lakatos e Marconi, analisar
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é decompor um todo em suas partes, a fim de poder efetuar um estudo mais
completo.
Com base nisso, é importante entender que para iniciar um processo
científico de análise de conhecimentos e contrapontos, é necessário pressupor-se a
partir de um ponto de vista. Em outras palavras, o conhecimento norteador da
pesquisa é o paradigma, que qualifica e objetiva o conhecimento científico e serve
como base para novos estudos. Segundo Triviños (2001), o conhecimento deve ser
objetivo e neutro.
Para os pesquisadores das ciências naturais, todo conhecimento científico devia ser objetivo, quantificável, exprimido em níveis de significação matemática, estatística. Além disso, o conhecimento científico deveria ser neutro, isto é, alheio em sua origem, a qualquer tipo de necessidade humana. O investigador trabalhava, atuando sobre os fenômenos naturais e sociais, para criar conhecimentos pelos mesmos conhecimentos. (TRIVIÑOS, 2001, p. 17).
2.2 O PARADIGMA
Kuhn (1987) introduziu o termo paradigma em seu livro A Estrutura das
Revoluções Científicas. Segundo ele, paradigma refere-se a crenças e valores.
Consiste em um modelo e nas diversas formas de ver o mundo, dependendo da
ótica de cada indivíduo. São conceitos pré-estabelecidos para entender tanto a vida
em sociedade quanto a ciência.
Suas principais críticas referem-se ao método quantitativo, que, segundo ele,
tem seus limites e exige uma objetividade impossível de ser alcançada. Kuhn é
criticado por defender uma visão relativista de ciência, negar a existência de critérios
objetivos para a avaliação e também por destacar a influência que o social exerce
em qualquer tipo de investigação e avaliação.
Para desenvolver uma pesquisa científica, é necessário partir de alguns
pressupostos e visões previamente investigadas cientificamente. O objetivo inicial de
um projeto é complementar ou, se possível, no decorrer da pesquisa, contrapor ao
tema. Essas diferentes visões, que servem como base aos estudos são os
paradigmas de pesquisa.
O paradigma se alicerça em verdades objetivas e independentes da
percepção humana. Para ser considerado como tal, é importante que o
conhecimento seja palpável, tangível e, se possível, estável. Os métodos utilizados
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dentro do paradigma são estruturados e visam a oferecer ao pesquisador o maior
nível possível de controle sobre o que está sendo pesquisado.
2.3 AS PESQUISAS QUANTITATIVA E QUALITATIVA
Há muita discussão sobre a diferença entre as pesquisas quantitativa e
qualitativa. Bauer e Gaskell (2003) explicam que o tipo de pesquisa voltado ao
quantitativo utiliza os números para embasar a análise, já o qualitativo, evita a
matemática.
A pesquisa quantitativa lida com números, usa modelos estatísticos pra explicar os dados, e é considerada pesquisa hard. O protótipo mais conhecido é a pesquisa de levantamento de opinião. Em contraste, a pesquisa qualitativa evita números, lida com interpretações das realidades sociais, e é considerada pesquisa soft. O protótipo mais conhecido é, provavelmente, a entrevista em profundidade. (BAUER; GASKELL, 2003, p. 22).
A pesquisa qualitativa é a mais utilizada em estudos em que os objetos de
pesquisa são as relações e a comunicação social. A qualitativa se norteia por uma
perspectiva epistemológica em que o conhecimento resulta de processos dinâmicos,
em entrevistas e na dialética. A proposta da metodologia qualitativa exige do
pesquisador coerência e consistência no que tange ao conhecimento científico, ao
envolvimento pessoal com investigação e, principalmente, à ética frente ao
conhecimento do objeto de análise.
Já, na pesquisa quantitativa, segundo Trivinõs, as técnicas utilizadas são
predominantemente estatísticas.
Na pesquisa quantitativa, a coleta de informações – coleta de dados – realiza-se através de instrumentos que são construídos empregando técnicas estatísticas. Os questionários, as entrevistas, as escalas, entre outros, são estruturados, e se determina neles, estatisticamente, não só validade lingüística e validade de conteúdo, que também se cuida para que os instrumentos sejam válidos em sua totalidade e em cada uma de suas perguntas ou itens. (TRIVIÑOS, 2001, p. 85).
Neste trabalho, apresentamos a análise por meio da pesquisa qualitativa e o
estudo de caso das notícias online, bem como sua repercussão e outras interações
entre usuários do ambiente web.
22
2.4 MÉTODO
Os métodos são caminhos e formatos que o pesquisador escolhe para
buscar a melhor maneira para desenvolver a análise e os resultados do seu objeto
de estudo. A metodologia constitui a etapa mais concreta e objetiva da investigação.
Dessa forma, pressupõe uma atitude concreta em relação ao fenômeno e se limita a
um domínio particular. Marconi e Lakatos (2007) destacam entre os métodos, nas
ciências sociais: o etnográfico, o histórico, o comparativo, o monográfico, o
estatístico, o tipológico funcionalista e o estruturalista.
O método tem regras, mas elas não são absolutas, porém, são necessárias,
pois sem elas não há método e não há lógica. Segundo Kopnin (1978) em A
dialética como lógica e teoria do conhecimento o método é um meio de obtenção de
determinados resultados no conhecimento e na prática. A escolha do método
adequado à busca de solução do problema de pesquisa é fundamental. Ela deve
“garantir” a maior aproximação possível da verdade.
Nesta pesquisa, o objeto de estudo e as hipóteses são postos a prova por
meio de análise de conteúdo.
2.5 TÉCNICAS METODOLÓGICAS
As técnicas metodológicas são consideradas um conjunto de processos de
que se serve uma ciência. São as maneiras de obter e alcançar os propósitos de
pesquisa. Segundo Lakatos e Marconi (2007), seja qual for a técnica escolhida, é
importante identificá-la e descrever suas características, sua forma de aplicação e,
inclusive, o modo como serão contabilizados, analisados e tabulados os resultados
obtidos. Pode-se dizer, em síntese, que a escolha adequada do paradigma, a
coerência dele com o método selecionado e a adequação das técnicas
metodológicas precisam apontar na direção de um “protocolo”.
2.6 O PROJETO DE PESQUISA
Podemos afirmar que um projeto acadêmico deve desenvolver todas as
etapas científicas para ser considerado como tal. Esse trabalho foi desenvolvido por
23
meio de metodologia científica e teve como base os conceitos, os modelos e os
exemplos de estudos que analisam questões sociais. O projeto usou a pesquisa
qualitativa para investigar suas possíveis verdades e enriquecer o objeto de estudo
com detalhamento.
O pesquisador usou a netnografia para investigar relações, interações e
reações das pessoas no ambiente virtual. O uso da netnografia possibilitou uma
análise coletiva, pois estuda agrupamentos reuniões ou coleções de pessoas, ou
seja, não estuda nem micro sistemas sociais e nem macros, mas sim grupos
intermediários. A netnografia é uma metodologia que surgiu da etnografia.
A opção pela netnografia para o desenvolvimento desse projeto se baseou
nos conceitos da etnografia. Alguns definem a etnografia como uma tentativa de
analisar a cultura e, assim, apontam os caminhos para compreender as relações e
comportamentos culturais em um determinado grupo.
O estudo buscou referências da etnografia com enfoque na netnografia, que
estuda especificamente o comportamento no ambiente virtual.
Segundo as pesquisadoras Adriana Amaral, Geórgia Natal e Luciana Viana:
“ao definirmos o papel da netnografia como uma metodologia para estudos na
Internet (HINE, 2000) e como um método interpretativo e investigativo para o
comportamento cultural e de comunidades on-line (KOZINETS, 1997), o próprio
método se traduz como objeto de estudo” (pg. 1).
Segundo a abordagem do problema de pesquisa, foi utilizada a metodologia
exploratória, a fim de buscar detalhes e vieses inovadores sobre o objeto de análise.
No portal online Brasil Escola5 temos a seguinte conceituação para pesquisa de
cunho exploratório:
[...] a pesquisa exploratória permite uma maior familiaridade entre o pesquisador e o tema pesquisado, visto que este ainda é pouco conhecido, pouco explorado. Nesse sentido, caso o problema proposto não apresente aspectos que permitam a visualização dos procedimentos a serem adotados, será necessário que o pesquisador inicie um processo de sondagem, com vistas a aprimorar ideias, descobrir intuições e, posteriormente, construir hipóteses.
5 Disponível em: http://www.brasilescola.com. Acesso em: 05.out.2014.
24
A técnica metodológica foi implementada com a análise de conteúdo do
Portal UOL6 no período de 01 a 30 de junho de 2013, sobre as manifestações
sociais que mobilizaram o Brasil.
Para Bardin (1977) a análise de conteúdo de mensagens tem duas funções:
· Uma função heurística:
- A análise de conteúdo enriquece a tentativa exploratória, aumenta a
propensão à descoberta; é a análise de conteúdo para „„ver o que dá‟‟;
· Uma função de administração da prova:
- Hipóteses sob a forma de questões ou de afirmações provisórias servindo
de diretrizes, apelarão para o método de análise sistemática para serem verificadas
no sentido de uma confirmação ou de uma informação; é a análise de conteúdo para
„servir de prova‟.
Na prática, essas duas funções se complementam. Bardin (1977) afirma que
a análise de conteúdo é um método empírico. A autora defende que a técnica de
análise de conteúdo tem que ser reinventada a cada momento.
2.7 ANÁLISE DE CONTEÚDO
A análise de conteúdo é a compreensão dos elementos da comunicação dos
conteúdos, ela vai além do entendimento de mensagens e palavras. Bardin (2004, p.
27) define a AC como um “conjunto de instrumentos metodológicos em constante
aperfeiçoamento, que se aplicam a discursos (conteúdos e continentes)
extremamente diversificados”. A autora ressalta que o fator em comum entre as
técnicas é uma “hermenêutica baseada na dedução, a inferência”. Sendo assim, as
técnicas da análise de conteúdo procuram entender situações cotidianas e se
tornam a busca de outras realidades por meio das mensagens.
Durante o processo da análise, Bardin (2004, p. 90) propõe a “leitura
flutuante”, isto é, o contato com documentos que devem ser analisados pelo
pesquisador, permitindo ao pesquisador deixar-se invadir por impressões e
orientações. Bardin (2004, p. 25) cita que os métodos de AC consistem em
ultrapassar a incerteza, enriquecer a leitura, proporcionar maiores detalhes na
análise e facilitar a compreensão do leitor.
6 Portal brasileiro de notícias. Disponível em: http://www.uol.com.br.
25
A autora divide a AC (2004, p. 89) em três fases: pré-análise; exploração do
material; tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Além disso, ela
estruturou o método da AC em cinco etapas: organização da análise, codificação,
categorização, inferência e o tratamento informático.
A pré-análise é a fase da organização, tem por objetivo planejar e
sistematizar as ideias iniciais para poder conduzir o restante do processo. A
exploração do material é a fase que consiste em realizar a codificação do material
recolhido.
Bardin também destaca a importância do corpus nesse processo, ou seja, a
definição do conjunto de documentos que serão analisados. Ela apresenta algumas
regras para concretizar a AC:
- Regra da exaustividade: quando todos os documentos recolhidos da
análise devem ser levados em conta;
- Regra da representatividade: as pesquisas trabalhadas com amostras em
virtude da quantidade de elementos proporcionados para o estudo;
- Regra da homogeneidade: os documentos obtidos devem ser da mesma
natureza, do mesmo gênero e obedecer a critérios precisos de escolha;
- Regra de pertinência: os documentos obtidos devem ser adequados
quando referimos à fonte de informação;
Para que uma AC seja credível, ela deve seguir regras de categorização.
Essa etapa consiste na classificação e no reagrupamento dos registros, isso
colabora para a compreensão dos dados coletados. Bardin (2004, p. 31) ressalta
que as regras de categorização devem ser homogêneas e exclusivas, adequadas ou
pertinentes, objetivas e fiéis, e, produtivas.
Um dos momentos mais importantes da análise é a inferência. Esse
momento utiliza aspectos implícitos da mensagem, e responde duas problemáticas:
as causas e os efeitos. Além disso, as inferências podem ser divididas em duas
modalidades: inferências específicas, quando há vínculo com situações específicas
do problema a ser investigado e inferências gerais, quando ultrapassam essa
situação específica do problema.
Para produzir a AC, existe um importante passo para entender a natureza do
material que será observado. Esse processo, muitas vezes intuitivo e empírico,
colabora para identificar quais serão as técnicas e operações específicas que devem
ser utilizadas para o material. Bardin defende que isso ajuda a enriquecer os
26
resultados, ou aumentar a sua validade, colaborando para o que ela chama de
interpretação final fundamentada.
A análise de conteúdo possui três características fundamentais: orientação
empírica e exploratória; transcendência nas noções normais de conteúdo;
metodologia própria que permite ao investigador programar, comunicar e avaliar
criticamente um projeto de pesquisa com independência de resultados.
De acordo com Bardin (2004), há sete técnicas principais para a utilização
da análise de conteúdo:
- Análise categorial: funciona por desmembramento do texto em unidades;
- Análise de avaliação: nessa análise se fundamenta a ideia de que a
linguagem representa e reflete diretamente quem a utiliza;
- Análise de enunciação: tem como apoio a concepção da comunicação
como processo e não como dado;
- Análise de expressão: afirma que existe uma ligação entre o tipo de
discurso e as características do locutor e seu meio;
- Análise de contingência: considera importante a organização de palavras,
temas, ou tipos de personagem que aparecem numa mensagem;
- Análise estrutural: todo o texto é uma realidade estruturada, que não é
revelada pelo conteúdo manifesto, por se encontrar implícito;
- Análise de discurso: pretende estabelecer ligações entre as condições de
produção do discurso e sua estrutura;
2.8 A PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
O passo inicial para o desenvolvimento do trabalho está fundamentado na
pesquisa bibliográfica, no sentido de estruturar nossa fundamentação teórica a partir
dos conceitos ou categorias: Jornalismo, Webjornalismo e Sociedade da Informação.
Ida Stumpf (2005) defende a importância da bibliografia como referencial.
[...] planejamento global inicial de qualquer trabalho de pesquisa que vai desde a identificação, localização e obtenção da bibliografia pertinente sobre o assunto, até a apresentação de um texto sistematizado, onde é apresentada toda a literatura que o aluno examinou, de forma a evidenciar o entendimento do pensamento dos autores, acrescido de suas próprias ideias e opiniões. (STUMPF, 2005, p. 51).
27
Sendo assim, um dos principais indicadores de uma pesquisa aprofundada e
bem estruturada é a escolha das referências bibliográficas utilizadas para embasar
com propriedade o objeto de estudo. Neste trabalho, os principais autores
pesquisados serão:
Sociedade da Informação: Lemos e Palacios (2001); Lévy (1996,1999);
Castells (1999, 2003).
Jornalismo: Traquina (2005); Sodré (2009); Wolton (2010).
Webjornalismo: Palacios (1999, 2003); Ferrari (2003); Machado (2007).
2.9 OBJETO DE ANÁLISE
A análise desta pesquisa foi feita a partir das notícias publicadas no Portal
UOL no mês de junho de 2013, com o recorte sobre os protestos e movimentos
sociais no Brasil.
O Portal UOL é um site de notícias que atualiza minuto a minuto o que
acontece no Brasil e no mundo. Fazem parte do UOL, todos os jornais e outros
meios do Grupo Bandeirantes.
O UOL tem editorias bem divididas, seções de interatividade e produção de
infografia e recursos de áudio e vídeo. O site é considerado um dos mais acessados
pelos internautas quando o assunto é jornalismo, no país. A escolha do objeto foi
embasada no número de acessos e na inovação constante do site e seus formatos.
Segundo a Omniture, o UOL possui mais de 7,4 bilhões7 de páginas vistas todos os
meses e sua home page recebe mais de 50 milhões8 de visitantes únicos por mês.
7 Informações pesquisadas em: http://www.sobreuol.noticias.uol.com.br. Acesso em 25.mar.2015.
8 Informações pesquisadas em: http://www.sobreuol.noticias.uol.com.br. Acesso em 25.mar.2015.
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3 A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
A comunicação sustentada pela tecnologia, principalmente por meio da
Internet, possibilitou a criação e o desenvolvimento de um novo espaço público. Por
intermédio das redes e dos canais online, as pessoas vivenciam novas formas de
interação e envolvimento social. O sujeito vive a possibilidade da ambivalência entre
o local e o global, entre o ser produtor e o consumidor, entre o ser sozinho e o em
grupo, etc.
A Internet é real e virtual, ao mesmo tempo. Porém, muda nossos habituais
conceitos de tempo e espaço. Segundo Lemos e Palacios, o tempo e o espaço nas
redes existem por meio de construções sociais: “Esta construção é estruturada pelos
laços e valores sociopolíticos, estéticos e éticos que tipificam este novo espaço
antropológico”. (2001, p. 151).
Com as transformações, o novo mundo mediatizado serve como suporte a
processos sociais, afetivos e de compreensão. Dessa forma, gera-se uma rede de
interações e contatos e, assim, novos valores passam a mover as relações no meio
tecnológico. Para Lemos e Palacios, essa dialética é a geradora das novas práticas
sociais.
Trata-se de um novo tipo de organização sociotécnica que facilita a mobilidade no e do conhecimento, as trocas de saberes, a construção coletiva do sentido, em que a identidade sofre uma expansão do eu baseada na diluição da corporeidade, ou seja, o que se perde em corpo ganha-se em rapidez e capacidade de disseminar o eu no espaço-tempo. (LEMOS; PALACIOS, 2001, p.152).
Com base nisso, é importante questionar a possível virtualização do espaço
público, que se torna, como diz Soares, um espaço antropológico alternativo.
As comunidades virtuais são feitas de pessoas e do que elas realmente querem, daquilo que realmente lhes interessa, sem constrangimentos prévios ou póstumos [...] As novas tecnologias dão a cada um de nós um poder sem precedentes de construir o nosso próprio mundo de referência, de encontrar as pessoas que realmente nos interessam, estejam onde estiverem, de aprender e ensinar sobre aquilo que realmente queremos que faça parte da nossa vida. (SOARES, 1999, p.75).
Esse processo de virtualização social invade o cotidiano da sociedade e
transforma os modos de interação e comunicação. Ainda que em descoberta,
algumas coisas a respeito já se pode afirmar. O que se revela um risco é emitir juízo
acerca da nova realidade das práticas e identidades sociais que tendem a
consolidar-se por meio da Internet.
29
Talvez o ciberespaço seja um dos lugares públicos informais onde possamos reconstruir os aspectos comunitários perdidos quando a mercearia da esquina se transforma em hipermercado. Ou talvez o ciberespaço seja precisamente o lugar errado onde procurar o renascimento da comunicação, oferecendo, não um instrumento para o convívio, mas um simulacro sem vida das emoções reais e do verdadeiro compromisso perante os outros. Seja qual for o caso, precisamos descobri-lo o mais rapidamente possível. (RHEINGOLD, 1996, p. 43).
As possibilidades dadas ao usuário da Internet se transformam em “espaço”
de pesquisa de informação, de encontro e de compartilhamento. Apesar de a
Internet ser uma espacialidade considerada abstrata, gera-se uma grande
proximidade simbólica, e se formam comunidades por meio dela. Vale destacar que
a proximidade característica dos meios virtuais nada tem a ver com a proximidade
geográfica ou física, mas, sim, com a representativa.
A partir disso, é de suma importância a reflexão sobre a Internet como meio
de comunicação e como possível influenciadora desse novo tempo-espaço, mesmo
que diversos outros meios anteriores a ela tenham envolvido as pessoas. Talvez se
possa dizer que a Internet seja o serviço de telecomunicações que mais
efetivamente promoveu e em maior escala, o conceito de comunidade.
3.1 RELAÇÃO TEMPO-ESPAÇO
O estudo sobre a relação tempo-espaço em que autores analisam desde
questões conceituais até as mudanças históricas, que podemos chamar de
“evolução do tempo” e das relações com a sociedade, é de suma importância para
esta pesquisa.
Os conceitos e a análise do que se modifica a partir de diversos fatores em
relação ao tempo, são base que dá propriedade quando falamos dos ambientes
virtuais e do imediatismo na Internet.
Arendt (2009) é um dos autores que salienta a constante transformação do
conceito de tempo na sociedade. Ele argumenta que os conceitos de passado,
presente e futuro se misturam, trazendo um encontro entre os tempos. Isso nos
alerta para as mudanças e a dificuldade em percebermos o real tempo no qual
estamos inseridos.
[o mundo], com efeito, começou desde então a mudar, a se modificar e transformar com rapidez sempre crescente de uma forma para outra, como se estivéssemos vivendo e lutando com um universo proteico, onde todas
30
as coisas, a qualquer momento, podem se tornar praticamente qualquer outra coisa. (ARENDT apud BARROS, 2010, p. 80).
Essa indefinição sobre o tempo pertencente nos faz refletir sobre quão
rapidamente as coisas podem ser consideradas passado, e que isso, se analisado a
partir das tecnologias, pode ser ainda mais rápido. Por isso, a reflexão sobre a
relação tempo/espaço-temporal é fundamental em nossa pesquisa.
Baudrillard defende que o virtual é ainda mais decisivo do que o próprio
tempo real. Controverso a uma série de autores que defendem que ambos se
complementam, Baudrillard (1997) mostra que a relação tempo-espaço com a vida
real está diretamente ligada ao fluxo e à aceleração dos ambientes virtuais. Ou seja,
a sociedade está estreitamente ligada à evolução das tecnologias e suas
possibilidades e, sendo assim, temos o conceito de tempo associado ao ritmo e à
velocidade da Internet. Isso, em parte, traz um sentimento de ansiedade em
vivenciar qualquer tipo de interação na web e no tempo cronológico, confundindo os
ambientes e acelerando ainda mais a evolução da sociedade em todos os sentidos.
Baudrillard defende a imagem de um universo que, a partir disso, se contrai,
é um universo que implodiu. Ele explica que essas mudanças geraram um
esvaziamento da realidade, pois não somos mais capazes de distinguir o real do
imaginário.
O autor estabelece uma distinção entre o tempo histórico e o tempo real: “No
tempo histórico, o acontecimento ocorreu e as provas estão aí. Mas não estamos
mais no tempo histórico; doravante estamos no tempo real, e, no tempo real, não há
mais prova de nada”. (Baudrillard, 1997, 72-73).
A partir disso, podemos refletir que exista o fenômeno que Koselleck (1979)
conceitua como “aceleração do tempo”. Essa expressão prega que o tempo passa
mais rápido e as mudanças, consequentemente, também. O tempo e a mudança se
complementam, transformando a sociedade e sua história de tempo em tempo,
mesmo que não se saiba, exatamente, quanto tempo se leva para isso.
O tempo-espaço pode representar duas dimensões na ordem social: o tempo-espaço dos fluxos que são movimentos de informação, de capitais, de demandas e de decisões que promovem a interação organizacional no modelo cibernético; e o tempo-espaço dos lugares, a realidade tangível das ações humanas, no mundo concreto e físico onde espaço é lugar e o tempo é sucessão. Essas dimensões balizam o cotidiano da presente atualidade numa duplicidade e cumplicidade que modelam as novas formas de organização da vida social. O habitus social incorporou a realidade do tempo-espaço cibernético, projetando para o devir um envolvimento cada vez mais amplo. (VIEIRA, 2003, p. 6).
31
E assim, depois de conceituar e entender o termo tempo-espaço,
conseguimos analisar o impacto que as tecnologias têm sobre diversos sistemas na
sociedade. A Internet, em específico, afeta diretamente esse fluxo de realidade, o
que transforma as relações humanas, afetivas, de trabalho e de poder.
A ligação entre o tempo-espaço na web e as notícias e os acontecimentos
que são publicados, sofre uma série de influências da aceleração do tempo e das
mudanças constantes. O imediatismo do webjornalismo, em especial, pretende
acompanhar a velocidade com que os usuários da Internet aguardam por mais e
mais conteúdos.
A tecnologia e sua possibilidade de rapidez na entrega causam uma espécie
de ansiedade pela informação. Não apenas por conteúdo, mas, também, para
qualquer tipo de retorno ou resposta. A economia, a política e quase todos os
sistemas sociais entram na velocidade, causando uma compressão do tempo-
espaço real em que, de fato, os acontecimentos ocorrem e as notícias são
veiculadas na Internet consecutivamente.
Há uma exigência de que a informação seja absolutamente simultânea ao
fato real. Isso traduz para o profissional uma violenta pressão no sentido de
acompanhar e ratificar essa nova percepção de tempo.
Harvey (2000) aborda, falando de economia e trabalho, que a aceleração do
tempo de giro na produção envolve acelerações paralelas na troca e no consumo.
Sistemas aperfeiçoados de comunicação e de fluxo de informações, associados com racionalizações nas técnicas de distribuição [...] possibilitam a circulação de mercadorias no mercado a uma velocidade maior. [...] Dentre as inúmeras conseqüências dessa aceleração generalizada dos tempos de giro do capital, destacarei as que têm influência particular nas maneiras pós-modernas de pensar, de sentir e de agir. (HARVEY, 2000, p. 257-258).
Nesse sentido, Harvey prova que a aceleração das últimas décadas
envolveu todas as esferas sociais, causando mudanças culturais, sociais e de cunho
político-econômico. Sendo assim, tudo teve que se transformar para tentar
acompanhar o ritmo.
O efeito geral é, portanto, colocar no centro da modernidade capitalista a aceleração do ritmo dos processos econômicos e, em conseqüência, da vida social. Mas essa tendência é descontínua, pontuada por crises periódicas, porque os investimentos fixos em instalações e equipamentos, bem como em formas organizacionais e habilidades de trabalho, não podem
32
ser modificados com facilidade. A implantação de novos sistemas tem de esperar a passagem do tempo da vida “natural” da fábrica e do trabalhador, ou empregar o processo de “destruição criativa” que se baseia na desvalorização ou destruição forçadas de ativos antigos para abrir caminho aos novos. Como isso implica uma perda de valor mesmo para os capitalistas, poderosas forças sociais se opõem a esse processo. (HARVEY, 2000, p. 210).
Com base nisso, é possível refletir e compreender como a informação e a
produção de notícias são pressionadas à velocidade a que tudo foi submetido nos
últimos anos. Hoje, o imediatismo da web pode ser caminho para conteúdos escritos
e publicados de maneira mais superficial, já que a compressão do tempo-espaço se
sobrepõe ao processo natural dos próprios fatos. Isso causa uma ansiedade de
obtenção de material, mesmo que produzido de uma maneira menos aprofundada.
Podemos justificar isso se refletirmos com Harvey, que diz que os sistemas
passaram a causar “destruição criativa”, já que pressionam, muitas vezes, os
processos, a fim de acelerar a produção e os ganhos, possivelmente. Podemos
aplicar isso ao webjornalismo no sentido de que já que não há tempo hábil para a
produção “criativa” no tempo atual, pois o processo foi acelerado pela Internet.
Em publicações ao vivo e de cobertura minuto a minuto, o usuário busca
saber detalhes de tudo sobre o acontecimento. Um dos exemplos será nosso objeto
de análise do sexto capítulo, que são as mobilizações sociais. Ao mesmo tempo em
que os protestos de junho de 2013 tomavam as ruas, o imediatismo da web
publicava imagens, fotos, comentários e interagia com os leitores. Mais do que ao
vivo, a produção jornalística da Internet tinha a obrigação de oferecer conteúdos
completos com a maior velocidade possível. Paralelamente a isso, por meio das
redes sociais, as pessoas puderam acompanhar furos de reportagens e materiais
exclusivos vindos de produtores de conteúdo anônimos.
O tempo-espaço e a ansiedade de uma cobertura web durante a mobilização
“exigem” imediatismo e mais agilidade na checagem de informações, fato que,
muitas vezes, se torna inviável por causa do tempo em que os fatos chegam até o
webjornalista, e até mesmo por causa do time em que os fatos ocorrem “ao natural”.
A redução da experiência a "uma série de presentes puros e não relacionados no tempo" implica também que a "experiência do presente se torna poderosa e arrasadoramente vívida e 'material': o mundo surge diante do esquizofrênico com uma intensidade aumentada, trazendo a carga misteriosa e opressiva do afeto, borbulhando de energia alucinatória (Jameson, 1984, 120). A imagem, a aparência, o espetáculo podem ser experimentados com uma intensidade (júbilo ou terror) possibilitada apenas pela sua apreciação como presentes puros e não relacionadas no
33
tempo. Para isso, o que importa "se o mundo perde assim, momentaneamente, sua profundidade e ameaça tornar-se uma pele lisa, uma ilusão estereoscópica, uma sucessão de a imagens fílmicas sem densidade? (Jameson, 1984b). O caráter imediato dos eventos, o sensacionalismo do espetáculo (político, científico, militar, bem como de diversão) se tornam a matéria de que a consciência é forjada. (HARVEY, 2000, p. 57).
Tudo isso, ao mesmo tempo em que ocorrem mudanças sociais, políticas,
econômicas e, principalmente, mudanças nas relações entre todas elas. Podemos
reiterar que o tempo-espaço na web cria uma compressão, e, influencia as
atividades do jornalista na Internet.
3.2 COMUNIDADE VIRTUAL OU CIDADE INFORMACIONAL
As transformações da era virtual modificaram o comportamento e o “formato”
das relações sociais. Pode-se afirmar que o ambiente virtual traz uma nova forma
urbana. Segundo Castells, temos a chamada cidade informacional.
Por outro lado, como na era industrial, apesar da diversidade extraordinária dos contextos físicos e culturais, há algumas características comuns fundamentais no desenvolvimento transcultural da cidade informacional. Defenderei que, por causa da natureza da nova sociedade baseada em conhecimento, organizada em torno das redes e parcialmente formada de fluxos, a cidade informacional não é uma forma, mas um processo, um processo caracterizado pelo predomínio estrutural do espaço de fluxos. (CASTELLS, 1999, p. 488).
Segundo Lévy, as pessoas subordinam sua expertise individual a objetos e
fins comuns. Jenkins refere o autor ao lembrar que “A inteligência coletiva refere-se
a essa capacidade das comunidades virtuais de alavancar a expertise combinada de
seus membros” (2009, p. 56).
O que até então não podíamos fazer sozinhos, agora passamos a fazer
coletivamente, o que Lévy define como comunidades de conhecimento.
Uma nova cultura surge no planeta. É uma ruptura muito grande com o passado. Assim como Copérnico criticou o geocentrismo – mais ainda assim admitindo outro centro – a grande revolução atual é mostrar que não há centros. Ou melhor, há tantos centros quantos forem os seres humanos. Cada um é um nó de um grande universo/rede em expansão. As antigas culturas da oralidade e da escrita nos levavam a uma organização da mente, corpo e subjetividade. Assim também a cultura digital nos coloca outros desafios para nossa reconfiguração como seres sociais e individuais. (LÉVY apud JENKINS, 1999, p. 7).
34
Jenkins (1999) argumenta que a nova cultura do conhecimento surge quase
ao mesmo tempo em que antigos laços da comunidade social vão se rompendo. Ele
também afirma que nossa necessidade de proximidade física está diminuindo e em
seu lugar, surgem novas formas de comunidades. Assim, são reunidos novos grupos
por afiliações voluntárias, temporárias e táticas, que são reafirmadas por meio de
cargas emocionais e empreendimentos intelectuais comuns.
Os membros podem mudar de um grupo a outro, à medida que mudam seus interesses, e podem pertencer a mais de uma comunidade ao mesmo tempo. As comunidades, entretanto, são mantidas por meio da produção mútua e troca recíproca de conhecimento. Como Lévy escreve, tais grupos “tornam acessível ao intelecto coletivo todo o conhecimento pertinente disponível num dado momento”. E, o mais importante, esses grupos servem como locais de “discussão, negociação e desenvolvimento coletivos” e estimulam o membro individual a buscar novas informações para o bem comum [...]. (JENKINS, 1999, p. 57).
Kozinets (2014) explica que reuniões online são consideradas uma espécie
de comunidade por causa da interação. Segundo ele, os conceitos de comunidade e
cultura são bem exemplificados quando falamos de fóruns e locais na Internet. Os
grupos formados em sites, blogs, redes sociais e outros meios virtuais marcam
culturas, manifestam e forjam novas conexões e comunidades.
O autor cita Rheingold (1993) para conceituar as comunidades. Segundo a
definição, os grupos virtuais são “agregações sociais que emergem da rede quando
um número suficiente de pessoas empreende [...] discussões públicas por tempo
suficiente, com suficiente sentimento humano, para formar redes de relacionamento
pessoais no ciberespaço (p. 5)”.
Como ele observa, as pessoas das comunidades online interagem ao trocar
ideias, discutir, compartilhar questões emocionais, participar de discursos
intelectuais, gastar tempo com conversa à toa, entre outras maneiras de interação.
Nesse contexto, os fatos e notícias recebem envolvimento social pelo ambiente
virtual, e mais ainda, quando esses fatos envolvem muita gente e quando têm
grande impacto social, como as notícias que são divulgadas e acompanhadas em
coberturas ao vivo nos meios de comunicação.
Em situações de mobilizações sociais, como é o estudo de caso desta
pesquisa, as pessoas se engajam a redes sociais e ao compartilhamento de
informações. Nesses momentos, outras comunidades são formadas: são aquelas
que participam da produção de conteúdo e divulgação de informações. São as
35
pessoas que se envolvem em opinar, comentar e compartilhar suas noções a
respeito do fato.
Durante as coberturas online, as comunidades virtuais se envolvem e se
desencontram. Isso significa que em alguns momentos o usuário compartilha de
uma comunidade e, em outros, migra para outra ou até mesmo outras comunidades
ao mesmo tempo. Essa possibilidade em participar e trocar de grupos a todo
momento é uma das exclusividades da web.
Kozinets também cita Komito (1998) quando explica esse dinamismo na
construção e desconstrução das comunidades:
Uma comunidade não é fixa em forma ou função; ela é uma mistura de possíveis opções cujos significados e concretude estão sempre sendo negociados pelos indivíduos, no contexto de limitações externas em mutação. Isso é verdadeiro quer os membros do grupo interajam eletronicamente, por comunicação face a face, ou de ambas as formas. (KOMITO apud KOZINETS, 2014, p. 15).
A explicação para os agrupamentos, comunidades e interação social se dá,
segundo Kozinets por causa do senso de familiaridade, levando ao reconhecimento
de identidades e a um sentimento de pertencimento.
Sem dúvida, existe um continuum de participação na determinação do que pode e não pode ser considerado “afiliação à comunidade”. Seus limites às vezes são indistintos, mas devem ser compreendidos em termos de autoidentificação como um membro, contato repetido, familiaridade recíproca, conhecimento compartilhado de alguns rituais e costumes, algum senso de obrigação e participação. (KOZINETS, 2014, p. 17).
As comunidades online mostram a diversidade de grupos eletrônicos,
revelando as relações humanas, relações de trabalho e estruturas de poder as quais
passam por modificações sem que percebamos. Tudo isso expressa a condição
pós-moderna9 e como essas modificações libertam e limitam a comunicação na
sociedade.
E é nesse contexto de comunidade, que as pessoas se envolvem e se
mobilizam em causas e opiniões. Em assuntos polêmicos como política, e que
também envolvem grandes grupos, como o caso das mobilizações e dos protestos,
a repercussão e formação de novos grupos são ainda mais visíveis.
O objeto de análise desta pesquisa é exemplo bem marcante da formação
de grupos. Cada uma das comunidades formadas busca por informação imediata, a
9 Período com características de natureza sócio-cultural e estética, que marca o capitalismo da era
contemporânea. A principal referência é dos anos 50 até o período atual/dias de hoje. Disponível em: http://www.infoescola.com. Acesso em 22.abr.2015.
36
fim de compartilhar os conteúdos agregando-lhes sua visão. Sendo assim, os grupos
são fortes produtores de conteúdo, pois buscam disseminar os fatos a partir de seu
ponto de vista. Nesse cenário, o imediatismo web se torna imprescindível para a
propagação de conteúdo entre as comunidades online.
3.3 NO NOVO ESPAÇO UMA NOVA COMUNICAÇÃO
O ciberespaço proporciona a interação e a comunicação dos usuários de
diversas maneiras. Os meios de comunicação são exemplos de como pode-se
evoluir no sentido da informação, complementação e interação entre jornalistas,
comunicadores e os públicos. Dessa maneira, muitas vezes, o próprio internauta
torna-se fonte de informações e emissor.
A comunicação não foi mais a mesma com o fluxo rápido e sequencial da
web. Lévy mostra o que trouxe essa mudança.
A dimensão da comunicação e da informação, então está se transformando numa esfera informatizada. O interesse é pensar qual o significado cultural disso. Com o espaço cibernético, temos uma ferramenta de comunicação muito diferente da mídia clássica, porque é nesse espaço que todas as mensagens se tornam interativas, ganham uma plasticidade e têm uma possibilidade de metamorfose imediata. E aí, a partir do momento em que se tem o acesso a isso, cada pessoa pode se tornar uma emissora, o que obviamente não é o caso de uma mídia como a imprensa ou a televisão. (LÉVY apud JENKINS, 1999, p. 13).
Recuero (2012) estuda a chamada Conversação Mediada por Computador
(CMC). Para explicar o conceito, a autora cita Baron (2002, p.10): “a CMC é definida
de modo amplo como quaisquer mensagens de linguagem natural que sejam
transmitidas e/ou recebidas através de um computador”.
A CMC não diz respeito apenas a conceitos técnicos e de linguagem escrita
na Internet. Mais do que isso, observam-se questões sociais e culturais. Segundo
Heering (1996, p.1) é “a comunicação que acontece entre seres humanos através da
instrumentalidade dos computadores”.
Para Recuero (2012), a concepção inicial de conversação no ciberespaço
dá-se por meio da interação possibilitada por essas tecnologias. Foi a partir do
desenvolvimento das pesquisas que se descobriram evidências de que a
conversação no ciberespaço possui elementos típicos da linguagem oral e que deve
ser compreendida como conversação, de fato, e não como simulação ou metáforas.
37
Essas práticas de conversação, deste modo, vão aparecer, conforme dissemos, como apropriações, como formas de uso das ferramentas de CMC para construir contexto e proporcionar um ambiente de trocas interacionais. Lemos (2002) define a apropriação como a essência da cibercultura. Para o autor, a apropriação é o produto do uso da tecnologia pelo homem, tendo duas dimensões, uma simbólica e uma técnica. (RECUERO, 2012, p. 35).
Além do objeto de estudo aprofundado por Recuero, que são as
conversações mediadas pela Internet, há diversas formas de comunicação na web.
Na Internet, quase que tudo, se revela como processo de comunicação, pois
carrega uma mensagem e um sentido para quem escreve, publica ou compartilha, e
outras diferentes compreensões para quem lê ou recebe o conteúdo. A comunicação
no ciberespaço é um importante objeto de análise, em vista de que a sociedade em
rede se comunica online, offline e em diferentes formatos.
Castells (2003) defende que a Internet é material de apoio para o chamado
individualismo em rede:
[...] padrão social, não um acúmulo de indivíduos isolados. O que ocorre é antes que indivíduos montam suas redes, online e ofilne, com base em seus interesses, valores, afinidades e projetos. Por causa da flexibilidade e do poder de comunicação da Internet, a interação social online desempenha crescente papel na organização social como um todo. As redes online, quando se estabilizam em sua prática, podem formar comunidades, comunidades virtuais, diferentes das físicas, mas não necessariamente menos intensas ou menos eficazes na criação de laços e na mobilização. (CASTELLS, 2003, p. 109).
Seguindo a análise sobre como a web transformou o processo de
comunicação, Lévy (1996) argumenta que o ambiente virtual possibilita a linguagem
em tempos diferentes (diacrônicos), mesmo que ao mesmo tempo (sincrônicos).
A linguagem, em primeiro lugar, virtualiza um “tempo real” que mantém aquilo que está vivo prisioneiro do aqui e agora. Com isso, ela inaugura o passado, o futuro e no geral, o Tempo como um reino em si, uma extensão provida de sua própria consistência. A partir da invenção da linguagem, nós, humanos, passamos a habitar um espaço virtual, o fluxo temporal tomado como um todo, que o imediato presente atualiza apenas parcialmente, fugazmente. Nós existimos. (LÉVY, 1996, p. 71).
Lévy destaca, especialmente, a importância da web para o texto e a leitura,
bem como a transformação dessas formas de comunicação e linguagem por meio
da Internet.
Graças à digitalização, o texto e a leitura receberam hoje um novo impulso, e ao mesmo tempo uma profunda mutação. Pode-se imaginar que os livros, os jornais, os documentos técnicos e administrativos impressos no futuro serão apenas, em grande parte, projeções temporárias e parciais de
38
hipertextos online muito mais ricos e sempre ativos. Posto que a escrita alfabética hoje em uso estabilizou-se sobre um suporte estático, e em função desse suporte, é legítimo indagar se o aparecimento de um suporte dinâmico não poderia suscitar a invenção de novos sistemas de escrita que explorariam melhor as novas potencialidades. Os “ícones” informáticos, certos videogames, as simulações gráficas interativas utilizadas pelos cientistas representam os primeiros passos em direção a uma futura ideografia dinâmica. (LÉVY, 1996, p. 50).
Lemos e Palacios (2001) trazem também uma importante reflexão da
comparação da comunicação na web com o processo sociogenético, recorrendo
para isso a Stockinger (1998), que explica como esse processo ocorre se analisado
do ponto de vista da Física.
O sistema social é visto como composto por comunicações, isto é, por mensagens e informação emergentes. Os seres humanos enquanto pessoas e indivíduos não pertencem ao sistema, mas fazem parte do seu ambiente de maneira que passam a constituir algo como a “razão externa” da existência dele. Tal pressuposto teórico se adapta sobremaneira à comunicação em ciberambientes, onde ela ocorre inclusive “fisicamente” separada das pessoas e indivíduos. A diferença entre o sistema e seu ambiente é intermediada exclusivamente por limites de sentido. Áreas de sentido – campos cognitivos e do imaginário – passam a construir os próprios “territórios” em sistemas de informação. (LEMOS; PALACIOS, 2001, p. 106).
O papel do ciberespaço como ambiente consiste em cooperar com a
transformação de diferenças em informação. Diferenças essas emergentes no
ambiente do sistema de comunicação.
3.4 CULTURA NO CIBERESPAÇO
A análise cultural pode ser definida como o estudo das formas simbólicas em
relação a contextos e processos específicos e socialmente estruturados. Thompson
mostra que formas simbólicas – ações, objetos e expressões significativas – são
produzidas, recebidas e transmitidas.
Para o autor, a cultura se transforma no ambiente virtual.
Enquanto formas simbólicas, os fenômenos culturais são significativos assim para os atores como para os analistas. São fenômenos rotineiramente interpretados pelos atores no curso de suas vidas diárias e que requerem a interpretação pelos analistas que buscam compreender as características significativas da vida social. Mas estas formas simbólicas estão também inseridas em contextos e processos sócio-históricos específicos dentro dos quais, e por meio dos quais, são produzidas, transmitidas e recebidas [...] A análise dos fenômenos culturais implica a elucidação destes contextos e de processos socialmente estruturados. (THOMPSON, 2002, p. 181).
39
Segundo Lévy: “Com o espaço cibernético, temos uma ferramenta de
comunicação muito diferente da mídia clássica, porque é nesse espaço que todas as
mensagens se tornam interativas [...] e têm uma possibilidade de metamorfose
imediata”. (p. 13).
Esse poder de transformação possibilitado pela internet pretende mudar,
consideravelmente, os sistemas, as pessoas e o comportamento social. Segundo
Castells (2003), a cultura da Internet é uma cultura feita de uma crença tecnocrática
na evolução das pessoas a partir da tecnologia. O autor define: “comunidades de
hackers10 que prosperam na criatividade tecnológica livre e aberta, incrustada em
redes virtuais que pretendem reinventar a sociedade, e materializada por
empresários movidos a dinheiro nas engrenagens da nova economia”. (p. 53).
Um exemplo interessante a estudar sob o olhar da nova cultura no ambiente
virtual são a política e os movimentos sociais. A web proporciona a seus usuários a
nova dinâmica dos movimentos sociais, a interconexão de comunidades locais por
computadores e a importância dessas para a participação do cidadão. Castells
(2003) explica como a cultura dos movimentos sociais é efetiva na Internet:
Nesse contexto, a comunicação de valores e a mobilização em torno de significados tornam-se fundamentais. Os movimentos culturais (no sentido de movimentos voltados para a defesa ou a proposta de modos específicos de vida e significado) formam-se em torno de sistemas de comunicação – essencialmente a Internet e a mídia – porque é principalmente através deles que conseguem alcançar aqueles capazes de aderir a seus valores e, a partir daí, atingir a consciência da sociedade como todo. (CASTELLS, 2003, p. 116).
O autor defende que os processos de mudança social conflitiva na Era da
Informação giram em torno de lutas e formação de redes interativas que servem
como organização e mobilização. Segundo Castells (2003), a Internet fornece a
base material que permite o engajamento desses movimentos por uma nova
sociedade. Isso institui a Internet como uma ferramenta de transformação social.
A cultura no ciberespaço pode ser considerada instrumento para promoção,
especialmente, de democracia na sociedade. Por meio da Internet, o usuário tem
acesso fácil à informação política e à interatividade entre os cidadãos. Segundo
Castells, a Internet não pode consertar a crise democrática, porém, tem um papel
10
Uma palavra em inglês do âmbito da informática que indica uma pessoa que possui interesse e um
bom conhecimento nessa área, sendo capaz de fazer hack (uma modificação) em algum sistema
informático. Disponível em: http://www.significados.com.br/hacker. Acesso em 22.jun.2015.
40
importante na dinâmica da política. O autor define a “política informacional”
(CASTELLS, 1997).
O acesso ao governo em nossa sociedade baseia-se em grande parte em política da mídia e em sistemas de informação que suscitam o apoio ou a rejeição das mentes das pessoas, influenciando assim seu comportamento eleitoral. Como as pessoas não confiam em programas, somente em pessoas, a política da mídia é extremamente personalizada e organizada em torno da imagem dos candidatos [...] A Internet fornece, em princípio, um canal de comunicação horizontal, não controlado e relativamente barato, tanto de um-para-um quanto de um-para-muitos. (CASTELLS, 2003, p. 129).
Kozinets cita Escobar (1994) para explicar a cibercultura. A citação mostra
como as relações na web se envolvem de acordo com as opiniões coletivas e de
interesses em comum. Isso mostra que dependendo do tema, as necessidades de
maior imediatismo e complementação de informação acabam ganhando diferentes
níveis. Cada comunidade tem diferentes noções sobre os assuntos, o que
transforma e define os grupos e a interação deles em cada acontecimento. Para
Escobar “as construções e reconstruções culturais singulares nas quais as novas
tecnologias se baseiam e em que elas, inversamente, contribuem para moldar”
(ESCOBAR, 1994, p.211).
O ciberespaço é, de fato, um grande influenciador da forma como a
sociedade interage, se comunica, se envolve e evolui. O poder de transformação da
web é exercido em torno da produção e difusão de nós culturais e conteúdos de
informação. Conforme Castells, o controle sobre as redes de comunicação torna-se
a alavanca pela qual interesses e valores são transformados nas regras do
comportamento humano.
A Internet não é um instrumento de liberdade, nem tampouco a arma de uma dominação unilateral. [...] Na verdade, a liberdade nunca é uma dádiva. É uma luta constante, é a capacidade de redigir autonomia e pôr a democracia em prática em cada contexto social e tecnológico. A Internet encerra um potencial extraordinário para a expressão dos direitos dos cidadãos e a comunicação de valores humanos. [...] A Internet põe as pessoas em contato numa ágora pública, para expressar suas inquietações e partilhar suas esperanças. É por isso que o controle dessa ágora pública pelo povo talvez seja a questão política mais fundamental suscitada pelo seu desenvolvimento. (CASTELLS, 2003, p. 135).
Esse poder de transformar, unir e partilhar que o ciberespaço proporciona é
um dos principais diferenciais das relações e da cultura na Internet. Com a mesma
facilidade que se constroem pensamentos e relacionamentos, a web também
promove a facilidade em desconstruir essas dinâmicas. A cultura mudou, a
41
sociedade mudou, nada mais fica na inércia, principalmente se quisermos olhar para
o modo de fazer jornalismo.
42
4 O JORNALISMO
É de suma importância compreender, de fato, o que é a prática jornalística e
qual é o papel do jornalismo. Muitos autores pontuam que o ato de comunicar e
informar vem dos primórdios e, por isso, nasceu da essência do homem. Expressar,
contar, envolver, informar, entreter e assim por diante são essenciais para o convívio
social e a interação.
É impossível falar de como o jornalista lida com a notícia e os fatos, sem
falar da evolução da comunicação do homem. Há quem defenda que o jornalista
também se envolve, quase que diretamente, na educação, na política e na
concentração de poderes entre grupos. Isso, porque o fazer jornalístico envolve
pessoas e suas vidas do início ao fim.
Dessa forma, é difícil separar o processo jornalístico da sociedade e sua
evolução. Zelizer, citado por Traquina (2005) diz que o processo de
profissionalização no jornalismo tem levado à constituição de uma “comunidade
interpretativa” ou a uma “tribo”, como define Maffesoli (1988).
O conceito de “comunidade interpretativa” é definido por Hymes (1980:2) como um “grupo unido pelas suas interpretações partilhadas da realidade”. Zelizer (1993:402) afirma que os jornalistas possuem um “enquadramento de referência partilhado para trabalhar”. Outros têm feito a mesma afirmação. Bourdieu (1998) defende que a prática jornalística é baseada numa “série de assunções e crenças partilhadas” (p. 47) e que os jornalistas partilham “estruturas cognitivas, perceptivas e avaliativas” (p. 36). O termo “tribo” tem o mesmo significado da expressão “comunidade interpretativa” mas preferimos o termo pelo seu uso metafórico”. (TRAQUINA, 2005, p. 24).
O jornalismo é ator importante na disseminação de diferentes discursos, que
criam, constroem e transformam as visões e as relações entre seus usuários. Sodré
(2009) aborda as especificidades da notícia enquanto estratégia de construção e
comunicação do acontecimento.
Traquina estuda esse cenário que para ele: “vem desfilando na história com
o estandarte de defesa dos direitos civis, com foco na liberdade de expressão e na
ideologia do esclarecimento, sempre escudado em estratégias discursivas de
captação da escuta das massas”. (p. 15).
Apesar de o processo comunicativo ser mais amplo e complexo do que a
notícia, em si, ele se apoia no objeto central que é a informação noticiosa. Por esse
motivo, não há análise da prática jornalística sem analisar os fatos e
acontecimentos. Em seu livro A Narração do Fato, Sodré defende:
43
E esta forma de captação e comunicação do fato é uma dessas estratégias cuja mitologia liberal-mercadológica costuma fazer esquecer os procedimentos retóricos e imaginosos que presidem à construção do acontecimento. Não se trata de manipulações deliberadas, nem de mentiras, mas de interpretações que podem muitas vezes lançar mão de recursos típicos da ficção literária, com vistas à criação de uma atmosfera semântica mais compreensiva. Apesar de sua aposta histórica no esclarecimento neutro, a notícia não prescinde, em termos absolutos, do apelo à carga emocional contida nos estereótipos que derivam das ficcionalizações ou dos resíduos míticos [...] Mas o que se torna cada vez mais evidente é que “jornalismo” não é uma categoria exclusiva das modalidades expressivas inscritas nos tradicionais meios de comunicação. (SODRÉ, 2009, p. 16).
Em busca de ferramentas que auxiliem a entender o processo de
comunicação e a prática jornalística, vale entender o que, de fato, é notícia. Sodré
(2009) destaca que há quem afirme que: “notícia é o relato de uma fato, de uma
ideia ou de uma situação atual na comunidade”, ou então, “é tudo o que interessa e
que não se sabia antes”, ou ainda, “notícia é tudo aquilo de que o público quer falar;
quanto mais comentários provocar, mais valor tem”.
No entanto, Sodré explica que em meio à crise das formas tradicionais do
jornalismo diante da disseminação de informações via Internet, em tempo real e
fluxo contínuo, são postos em dúvida, o conceito real de notícia e,
consequentemente, do papel do jornalista.
[...] jornalismo não é reflexo, mas construção social de uma realidade específica. Da cultura profissional dos jornalistas, da organização geral do trabalho e dos processos produtivos, portanto de uma rotina industrial atravessada por uma polifonia discursiva, surgem os relatos de fatos significativos (os “acontecimentos”) a que se dá o nome de notícias. Em todo esse processo, o jornalista é apenas parcialmente autônomo, já que tem de obedecer às regras de um planejamento produtivo, assim como a uma concepção coletiva do acontecimento, que em parte o ultrapassa, fazendo com que a seleção das ocorrências informe tanto sobre o campo profissional do jornalismo quanto sobre o meio social a que se refere a notícia. (SODRÉ, 2009, p. 26).
Um dos desafios do jornalista é o posicionamento discursivo utilizado na
hora de informar algo. Apesar de “obedecer” a certas regras técnicas, o leitor tem
uma versão que é oferecida pelo profissional. E é nesse momento, um dos fatores
mais importantes na prática jornalística, que se vê possíveis faltas: sensacionalismo,
manipulação da notícia e propaganda disfarçada são maléficos à boa consciência
jornalística.
A solução para esses “riscos” da prática podem ser o aprofundamento do
fato e o senso crítico do discurso, que tendem a gerar reflexão e menor
44
probabilidade de alienação. Esses seriam alguns dos requisitos do jornalismo de
qualidade, segundo Sodré (2009).
O jornalismo tem diversos formatos e meios em que se comunica com seu
leitor e com a sociedade como um todo. Jornal impresso, rádio, revista, televisão ou
web são os formatos mais utilizados. É a partir das técnicas específicas de cada um
desses meios que o jornalista transforma a comunicação e oferece conteúdo para a
sociedade.
Nessa pesquisa, iremos nos aprofundar nas práticas exercidas no formato
de webjornalismo. E nosso recorte de análise dará ênfase para notícias de cunho
imediato, como é o caso das coberturas minuto a minuto durante mobilizações
sociais.
Em casos como esse, em que o acontecimento toma grande proporção, os
únicos meios que conseguem acompanhar em tempo real são a veiculação por rádio
e via Internet, e, em alguns casos, a TV consegue preencher algumas lacunas
durante cobertura ao vivo. Porém, cada um desses meios apresenta a notícia com
suas possibilidades e especificidades. A tendência é que a audiência seja maior na
cobertura web, já que permite texto, áudio, vídeo e interação simultâneos.
Apesar de ganhar mais audiência e participação dos internautas, o formato
de webjornalismo passou a ter, em grandes proporções, a maior exigência por
quantidade, qualidade e rapidez na publicação de conteúdos e retornos. Isso traz ao
profissional a necessidade de qualificação e especialização das técnicas em
produção web. No caso de coberturas ao vivo, as exigências são ainda maiores
porque pressionam quanto ao tempo e à interação constante em retornar
comentários e perguntas dos leitores.
No que diz respeito ao tempo, conforme falamos no capítulo anterior, a
compressão tempo-espaço causa uma ansiedade por conteúdo e uma nova
percepção do tempo real, o que resulta em ainda mais pressão ao profissional e
sugere a necessidade por mais flexibilidade, velocidade e criatividade/liberdade da
tecnologia e do meio/portal de notícias.
Além disso, as publicações imediatas prezadas pela web podem causar
estranhamento de discursos e posicionamentos antecipados e até precipitados dos
meios de comunicação quanto a notícias que têm vínculos políticos e econômicos.
São muitas as facilidades das publicações online, porém a dinâmica de tudo isso é
45
mais rápida e exige muito mais do jornalismo, do meio e, principalmente, do
profissional.
4.1 NOVAS PRÁTICAS DO JORNALISMO
O ambiente virtual é um dos espaços midiáticos mais propensos aos
discursos excessivos e antiéticos no que tange à prática livre do jornalismo. Sodré
explica essa relevância também na web:
[...] o conteúdo da mídia – tanto na tradicional quanto nas redes ciberculturais – apresenta-se de fato como um fluxo heterogêneo, senão estilhaçado, de dados significativos da existência, sempre sob modalidades de discurso afins ou compatíveis da existência, sempre sob modalidades de discurso afins ou compatíveis com os microuniversos do quotidiano e sob a regência dos ritmos ditados pela produção industrial [...] na sociedade contemporânea, a experiência do atual vem sendo profundamente afetada pelas novas tecnologias da comunicação. Agora, a temporalidade se acelera, criando efeitos de simultaneidade e sensações de imediatez dos acontecimentos. O “efeito SIG” (simultaneidade, instantaneidade e globalidade) já está definitivamente inscrito na temporalidade cotidiana, abolindo todas as distâncias espácio-temporais. (SODRÉ, 2009, p. 88).
O webjornalismo mostra que vai além da mídia tradicional. Isto se dá por
meio da produção de conteúdo original. A prática jornalística nesse meio tem
potencial e ainda não mostrou todas as suas possibilidades. Com isso, é possível
afirmar que os usuários têm possibilidades de participar do processo produtivo da
informação, quase que ao mesmo tempo e em condições parecidas com as do
profissional de comunicação.
O aprofundamento da informação no espaço das redes ainda é sensivelmente deficiente, mas não há quaisquer impedimentos técnicos para que um novo tipo de profissional utilize algoritmos computacionais destinados a encadear fontes informativas relevantes, requalificando o material informativo. Nesta direção caminham as experiências de jornalismo cidadão, jornalismo colaborativo ou ainda jornalismo participativo, que têm em comum a produção de conteúdo pelos usuários, variando apenas os modos técnicos de realização [...] seja complementando, criticando ou até mesmo coletando a informação. Sucedem-se os mecanismos ditos de agregação de conteúdo e distribuição automática de notícias, que ajudam a transformar o leitor em editor. (SODRÉ, 2009, p. 109).
Wolton (2010), em seu livro Informar não é Comunicar, defende que as
tecnologias sozinhas não bastam para o progresso da comunicação entre os
homens e as sociedades. Apesar de ter tudo na ponta dos dedos: enviar, receber,
46
falar, entre outras atividades facilitadas pela Internet, a comunicação ainda falha. Ele
questiona o significado das tecnologias da comunicação:
Comunicação sem incomunicação. Uma linha de continuidade entre informação e comunicação, justamente onde a comunicação humana costuma fracassar. Triunfo da ideologia da transmissão confundindo a rapidez e o desempenho das ferramentas com a incerteza e a complexidade da comunicação entre os homens. Repensar as relações entre informação e comunicação implica, antes de tudo, “destecnologizar” a questão da comunicação e lembrar que a tecnologia indiscutivelmente facilita a comunicação humana, basta olhar um século para trás, mas isso já não é suficiente. A midiatização da transmissão e a interação não produzem necessariamente um sistema de comunicação. (WOLTON, 2010, p. 31).
Wolton explica que as comunicações sociais progrediram,
consideravelmente, com as tecnologias. Porém, não são suficientes para resolver as
aporias existenciais da comunicação humana. Segundo ele, estamos vivendo
“solidões interativas”. Wolton alerta para nossa dependência em relação às
tecnologias da comunicação.
Ele afirma que o progresso tecnológico não é mais sinônimo de progresso
na comunicação. Para ele: “Essa onipresença das tecnologias engoliu todo o espírito
crítico a tal ponto que para muitos a comunicação sem tecnologia tornou-se
impossível. A palavra rede tornou-se mágica”. (WOLTON, 2009, p. 46).
Para Ramonet (1999) o jornalismo tradicional sofreu grandes mudanças
desde quando a televisão trouxe a imagem como uma importante transmissora de
informação, mesmo quando não vem acompanhada de conteúdo produzido.
Restabelece-se assim, pouco a pouco, a ilusão de que ver é compreender. E que todo acontecimento, por mais abstrato que seja, deve imperativamente apresentar uma face visível, mostrável, televisável. É por isso que se observa uma emblematização cada vez mais freqüente de eventos de caráter complexo [...] Aliás, esta concepção da informação leva a um doloroso fascínio pelas imagens "transmitidas ao vivo", por eventos palpitantes, por cenas violentas e noticias sangrentas de jornal. Esta demanda incentiva a oferta de falsos documentos, de reconstituições, de manipulações e de "blefagens". (RAMONET, 1999, p. 53).
Com isso, Ramonet defende que a partir da televisão, as práticas, os
conceitos e o próprio dia a dia do jornalista mudaram gradativamente. Cria-se a ideia
de que os principais acontecimentos ou noticiários se dão de acordo com a riqueza
em imagens. Podemos trazer essa análise quando falamos da mudança que a
Internet trouxe, pois ambas (TV e Internet) modificaram o ciclo da informação.
Podemos afirmar que meios como o rádio, a televisão e a Internet
conseguem retratar ao vivo um fato. Mas, somente o ambiente web propicia que
47
áudio, imagem, texto, interatividade e outros recursos caminhem juntos enquanto se
faz a cobertura de um acontecimento. Desse modo, a rotina do profissional e a
própria rotina do leitor/ouvinte/telespectador/internauta mudaram de forma
significativa.
4.2 CONSTRUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO DO DISCURSO
Não existe jornalismo sem discurso. Por mais ético e profissional que o
jornalista seja, há uma versão dos fatos e acontecimentos a ser apresentada.
A notícia é pois uma versão de um fenômeno social, não a tradução objetiva, imparcial e descomprometida de um fato. Qualquer redator ou relator de um fato é parcial inclusive ao escolher o melhor ângulo para descrevê-lo, como se recomenda nas redações. É aí que observamos a discrepância entre o discurso dos profissionais de imprensa e, principalmente, dos veículos, e o resultado final de seu trabalho. (LUSTOSA, 1996, p. 21).
Segundo Rodrigues no livro organizado por Porto e Mouilland (2002), o
discurso é o principal produto e o resultado final da mídia. Uma das principais
características do discurso midiático é a sua possibilidade de continuidade.
O discurso midiático [...] flui de maneira constante e ininterrupta, encadeia enunciados que se apresentam habitualmente de forma acabada, escondendo os seus processos de gestação [...] uma das funções comunicacionais mais importantes do discurso midiático, além da função referencial, que consiste em dar conta dos acontecimentos que ocorrem no mundo, é a função fática, que consiste na manutenção do contato com o público. (RODRIGUES, 2002, p. 217).
Um dos desafios dos discursos são os diferentes níveis de compreensão e
crítica sobre os fatos. É possível que um leitor compreenda e crie sua própria visão
sobre a notícia, desconstruindo e reconstruindo o discurso de acordo consigo. Mas
há, também, aqueles que não conseguem entender a versão inicial entregue pelo
jornalista. Eis um grande desafio para o profissional atingir seu público e se fazer
claro com o seu discurso midiático, quaisquer que sejam a notícia e o assunto.
Um dos problemas pragmáticos do discurso midiático tem a ver com a avaliação do grau de probabilidade de entendimento dos seus enunciados por patê do público. Como podem os seus enunciados ser entendidos por uma diversidade incomensurável de indivíduos, a partir de quadros de experiência que escapam à percepção do locutor? (RODRIGUES, 2002, p. 232).
48
Segundo Rodrigues, existem três tipos de evidências a partir das quais os
interlocutores inferem o sentido dos discursos: a presença física, a co-presença
linguística e a pertença a uma comunidade da experiência do mundo. Esses fatores
têm papeis determinantes no entendimento do que o jornalista escreveu. Rodrigues
explica que o discurso midiático utiliza recursos da intertextualidade para colaborar
com a compreensão de conteúdo.
É o caso do uso elementos anafóricos, de unidades discursivas que remetem para outras, criando assim efeitos co-textuais que ancoram o discurso a um sentido intertextual, identificável pelo público, independente do horizonte da sua experiência individual. Deste modo, o sentido do discurso midiático converte-se num sentido auto-reflexivo, em relação ao qual são situados os fatos, as referências ao mundo narrado. Este fenômeno pode ser facilmente apreciado, comparando a familiaridade do público habitual de um jornal em relação ao seu discurso com a estranheza de um leitor ocasional. (RODRIGUES, 2002, p. 233).
O objeto de estudo desta pesquisa tem a web como principal meio de
análise. Nesse contexto, podemos compreender que a Internet e suas possibilidades
de comunicação, principalmente de notícias, coberturas e a interação durante esses
processos, são extremamente facilitadas.
Outra questão é a das liberdades informativas ou da liberdade de comunicação. Na sociedade contemporânea, globalizada e centrada no local e no comunitário ao mesmo tempo, a liberdade de informação é concebida como um valor inabalável, porém não satisfaz se tomada apenas no sentido de informar, vertical e unilateralmente. (CICILIA, 2002, p. 77).
Com base nisso, podemos compreender que o jornalismo online é um
importante facilitador da propagação e posicionamento de discursos. Essa
característica pode ser notável em qualquer meio de comunicação, porém, é na
Internet que tudo se torna mais rápido e muito mais interativo.
Conforme já destacamos no capítulo anterior, o jornalismo na web é
importante no que tange à cultura e à formação de comunidades. Eis, então, alguns
dos principais motivos da construção e desconstrução de discursos.
4.3 NOTÍCIA NÃO É OPINIÃO
Apesar de parcial, o jornalismo, não pode, de forma alguma, ser comparado
à opinião. Sousa (2002) separa a informação e a opinião como “o fato e o
comentário”.
Apesar de ocasionalmente identificar algumas salutares desconfianças em relação aos enunciados jornalísticos, não me parece que essa seja a visão
49
dominante ou a visão “de fato” que a generalidade das pessoas tem do jornalismo nas sociedades pós-modernas. Ao invés, parece-me que formulações retóricas como a “separação” entre informação e opinião, entre o “fato” e o “comentário” que os valores jornalísticos clássicos propõem favorecem a construção de uma imagem do jornalismo como espelho da realidade. (SOUSA, 2002, p. 19).
O ambiente virtual é espaço onde, muitas vezes, a informação e a opinião se
confundem. Sousa reforça que o ciberespaço resulta na colaboração em rede, com
os chamados “jornalistas-cidadãos”, em que todos podem produzir e consumir
conteúdo, permitindo um debate livre.
Na verdade, para mim, o fato de a informação não ser hierarquizada, não monopolizada nem previamente selecionada nesses espaços/publicações online nem sempre é positivo. Agora, como no futuro, parece-me importante que jornalistas comprometidos com a realidade e com um determinado conceito de “verdade” e regulados por macrocódigos (deontologia, ética, etc.) e microcódigos (livros de estilo, manuais organizacionais, etc.) funcionais e normativos que definam valores e regras suscetíveis de conotar o jornalismo como um bem público, selecionem e hierarquizem a informação, pois, de outra maneira, parece-me que mergulharíamos numa overdose informacional que depressa nos afogaria. Isto será tanto mais verdadeiro quanto maior for a quantidade de informação disponibilizada [...] Aliás, informação e conhecimento/saber são coisas distintas. (SOUSA, 2002, p. 20).
Segundo Sousa (2002, p. 20), a notícia tem características específicas:
acontecimento discursivo; dimensão ilocutória (“dizer-se”) e dimensão perlocutória
(produz qualquer coisa pelo fato de a enunciar). Sousa também afirma ao citar
Alsina (1993) que: “A notícia não se esgota na sua produção. Engloba também a sua
circulação e o seu consumo”.
O autor também cita Maria Dolores Montero, que traz à tona a importância
da análise de conteúdo, receptividade, compreensão e interação do público perante
uma notícia. E, como exemplo, no ciberespaço, o volume e a velocidade são fatores
relevantes para todo o processo jornalístico e sua relação entre os leitores, que
agora passam a ser chamados de usuários ou até mesmo de produtores de
conteúdo.
Nesse sentido, as notícias de maior valor-notícia e importância na sociedade
ganham mais ênfase e alteram visivelmente o processo de produção jornalística.
Isso porque a web não é linear, logo, as notícias, a cobertura web, as interações e a
dimensão de audiência envolvem diretamente os usuários da Internet em forma de
conteúdo livre. Essa liberdade de comunicação é avaliada por Cicilia (2002):
Liberdade de comunicação diz respeito, ainda, ao acesso aos canais de comunicação, os quais abrangem não só a grande mídia, mas também
50
todos os outros tipos de meios de comunicação, como aqueles conhecidos como mídia comunitária, local, participativa ou “alternativa”. (p. 78).
Sendo assim, aquilo que mais interessa ao internauta se torna o filtro de
escolha para os canais que ele irá acompanhar e, muitas vezes, com os quais irá
interagir. Isso vale para o que lhes interessa no que tange a posicionamento de
discurso, criação das comunidades de interesse em comum e formatos que mais o
atraem entre os meios de comunicação virtuais.
Em conteúdos como as mobilizações e o imediatismo das coberturas online,
a interação entre os usuários é ainda mais veloz e requer retorno rápido também.
Um dos desafios é quando a “democracia de informação” causa dúvida na Internet
entre o que é notícia e o que é conteúdo produzido pelos próprios internautas.
No ambiente virtual, nem sempre é clara a distinção entre o que é conteúdo
jornalístico e o que vem da interação e da opinião. A possibilidade de recursos da
web dá espaço ao que pode ser confundido com conteúdos não jornalísticos, como
é o caso das informações vindas de comentários e publicações de blogs e de redes
sociais, por exemplo.
É nesse momento que o profissional da comunicação deve estruturar a
produção e suas técnicas a fim de deixar as publicações claras, com valor
jornalístico e diferenciadas, ao mesmo tempo. Afinal, notícia não é opinião e apesar
da web oferecer rapidez nas publicações, não se pode fazer do imediatismo no
ambiente virtual um facilitador de conteúdos que não sigam os princípios
jornalísticos.
51
5 O WEBJORNALISMO
A prática do Jornalismo no ambiente virtual pode ser considerada o formato
de mídia mais inovador e que ainda tem muito a ser descoberto. O webjornalismo
tem uma série de características que se somadas durante a produção de conteúdo,
garantem alcance, interatividade e maior compreensão pelos internautas.
Com poder massivo e de engajamento invejáveis, o webjornalismo já é
considerado determinante em muitos assuntos da sociedade, já que concentra as
opiniões dos usuários em sites, blogs e redes sociais. Os números comprovam isso.
São mais de milhões somente no Brasil segundo o IBGE11 e a TIC Domicílios12.
As principais características do jornalismo na Internet são: interatividade,
customização de conteúdo, hipertextualidade e multimidialidade. Porém, Palacios
(1999) estabelece uma nova característica: a memória, que contribui solidamente
para a consolidação do que vem sendo chamado de jornalismo assistido por
computador ou jornalismo de dados, que embasa os fatos na consulta a banco de
dados, em confronto com outro tipo de jornalismo, comum, mas cada vez mais
criticado pelo leitor e que se embasa em declarações simplesmente (jornalismo
declaratório). E ainda é de suma importância destacar a instantaneidade e o
imediatismo como características da web, que permitem, ao contrário da mídia
impressa, a atualização em tempo real.
O webjornalismo se apresenta com grande potencial e diversas
possibilidades para a Internet. Machado e Palacios (2003) defendem:
Essas seis características, que serão agora brevemente apresentadas, refletem as potencialidades oferecidas pela Internet ao jornalismo desenvolvido para a web. Deixe-se claro, preliminarmente, que tais possibilidades abertas pelas Novas Tecnologias de Comunicação (NTC) não se traduzem, necessariamente, em aspectos efetivamente explorados pelos sítios jornalísticos, quer por razões técnicas, de conveniência, adequação à natureza do produto oferecido ou ainda por questões de aceitação do mercado consumidor [...] É igualmente importante que se ressalte que não acreditamos existir um formato canônico, nem tampouco “mais avançado” ou “mais apropriado” no jornalismo que hoje se pratica na web. (PALACIOS, 2003, p. 17).
11
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em http://www.ibge.gov.br/home.
Acesso em 17.mai.2015. 12
TIC Domicílios – Pesquisas de acesso a Tecnologias da Informação e Comunicação em domicílios
brasileiros. Disponível em http://cetic.br/pesquisa/domicilios/indicadores. Acesso em 17.mai.2015.
52
Palacios (2003, p. 18 e 19) conceitua e explica as características do
webjornalismo da seguinte forma:
Multimidialidade/Convergência: Multimidialidade refere-se à convergência
dos formatos das mídias tradicionais (imagem, texto, infografia e som) na narração
do fato jornalístico. A convergência torna-se possível em função do processo de
digitalização da informação e sua posterior circulação e/ou disponibilização em
múltiplas plataformas e suportes, numa situação de agregação e
complementaridade.
Interatividade: Com os diversos recursos possibilitados pela web, a notícia
online possui a capacidade de fazer com que o leitor/usuário sinta-se mais
diretamente parte do processo jornalístico. Isso pode acontecer de diversas
maneiras: emails, espaços de bate-papo, fóruns, redes sociais, blogs, etc.
Hipertextualidade: Possibilita a interconexão de textos por meio de links. A
compreensão de qualquer conteúdo web pode vir a partir de outros textos e formatos
complementares, como fotos, sons, vídeos, animações, infográficos e outras
maneiras que, juntas, contribuem para a comunicação com o usuário web.
Customização do conteúdo/personalização: Também denominada
individualização, a personalização ou customização consiste na opção oferecida ao
usuário para configurar os produtos jornalísticos de acordo com os seus interesses
individuais. Há sítios noticiosos que permitem a pré-seleção dos assuntos, bem
como a hierarquização e escolha de formato de apresentação visual (design). Assim,
quando o sítio é acessado, a página de abertura é carregada na máquina do
usuário, atendendo a padrões previamente estabelecidos, de sua preferência.
Memória: Palacios (1999) argumenta que a acumulação de informações é
mais viável técnica e economicamente na web do que em outras mídias. Acresce-se
o fato de que na web a memória torna-se coletiva, por meio do processo de
hiperligação entre os diversos nós que a compõem. Dessa maneira, o volume de
informações anteriormente produzidas e diretamente disponibilizadas ao usuário e
ao produtor da notícia cresce exponencialmente no Jornalismo Online, o que gera
efeitos quanto à produção e recepção da informação jornalística.
Instantaneidade/atualização contínua: A rapidez do acesso, combinada com
a facilidade de produção e de disponibilização, propiciadas pela digitalização da
informação e pelas tecnologias telemáticas, permitem uma extrema agilidade de
53
atualização do material nos jornais da web. Isso possibilita o acompanhamento
contínuo em torno do desenvolvimento dos assuntos jornalísticos de maior interesse.
O imediatismo é um forte aliado do mundo web. Enquanto que a sociedade,
os fatos, e as notícias continuam ocorrendo de forma natural e quase sem
“previsões”, a web causa desconforto, já que tenta atravessar esse “tempo” de as
coisas acontecerem, a fim de não perder e pecar no que tange ao imediatismo e
agilidade, complementando e agregando mais dados e detalhes sobre um
determinado assunto. Como vimos no terceiro capítulo, a web trouxe uma nova
percepção do tempo-espaço e isso mudou muitas coisas na comunicação e em
diversos aspectos das relações na sociedade.
5.1 A PRODUÇÃO DO WEBJORNALISMO
Muito além de textos, imagens, fotos e gráficos, a atividade do jornalista
digital pode ser considerada como “produção de conteúdo”. O webjornalismo e seu
conteúdo online permitem que o leitor/usuário seja muito mais ativo, decisivo e
protagonista de todo o processo de produção, edição, acompanhamento e
compartilhamento do que é publicado na Internet.
Ferrari (2003) defende que acessar os conteúdos web não se baseia apenas
em ler mas, sim, na interação em salas de bate-papo, colunas e blogs. A autora
explica que o conteúdo não está apenas nos portais de notícias, está espalhado nos
diversos produtos oferecidos no ambiente virtual. Com isso, ela destaca as
diferenças da prática jornalística na web:
Os desafios do jornalismo digital estão sem dúvida relacionados à necessidade de preparar as redações, como um todo, e aos jornalistas em particular, para conhecer e lidar com essas transformações. Além da necessidade de trabalhar com vários tipos de mídia, é preciso desenvolver uma visão multidisciplinar, com noções comerciais e de marketing. (FERRARI, 2003, p. 40).
Muitos são os desafios de trabalhar com o jornalismo nas novas mídias.
Ferrari aponta que profissionais multitarefa podem se tornar ciber13 com facilidade.
Segundo ela, a dificuldade está em saltar de surfista14 para repórter e depois editor.
E ela alerta: “Não basta ser multitarefa e esperto com a tecnologia presente na web:
13
Palavra em inglês que remete à cultura cibernética e toda tecnologia disponível na web. 14
Gíria utilizada para referenciar a quem “navega” ou “surfa” nos ambientes virtuais da web.
54
é preciso ter background15 cultural para conseguir contextualizar a informação e
empacotá-la”. (FERRARI, 2003, p. 42).
As redações online deixaram de considerar a produção jornalística como o
único exercício do jornalismo. Adotou-se a produção de conteúdo/notícias, o
“empacotamento” de notícias e, assim, muito se questiona sobre a atividade do
editor.
Empacotar significa receber um material produzido, na maioria das vezes, por uma agência de notícias conveniada, e mudar o título, a abertura, transformar alguns parágrafos em outra matéria para ser usada como link correlato, adicionar foto ou vídeo, e por aí afora. (FERRARI, 2003, p. 44).
Ferrari destaca que as funções do editor agora se misturam com as
atividades do “empacotador”. Esse “novo” profissional, ainda não reconhecido como
tal, é o responsável por traduzir o conteúdo para uma linguagem web. Porém, a
atividade do profissional web, não se resume a traduzir notícias. O jornalismo digital
precisa produzir especialmente para o ambiente virtual.
É preciso pensar na enquete (pesquisa de opinião com o leitor); no tema do
chat, no bate-papo digital; nos vídeos e áudios; no infográfico; e reunir o maior
número possível de assuntos e serviços correlatos à reportagem.
A Internet ainda está em gestação, a caminho de uma linguagem própria. Não podemos encará-la apenas como uma mídia que surgiu para viabilizar a convergência entre rádio, jornal e televisão. A Internet é outra coisa, uma outra verdade e consequentemente uma outra mídia, muito ligada à tecnologia e com particularidades únicas. Ainda estamos, metaforicamente, saindo da caverna. (FERRARI, 2003, p. 45).
A liberdade de produção e formatos possibilitada na web é o grande desafio
dos jornalistas e dos meios de comunicação. Criar conteúdos diferenciados e que
surpreendam o usuário começou a ganhar ainda mais destaque.
A diferença entre produzir conteúdo e notícia se tornou difusa, já que as
notícias agora são publicadas em muitos formatos, e não somente em texto. Isso
tudo deu espaço e agregou novas características e rotinas aos profissionais, tais
como a pesquisa, o uso de banco de dados e a especialização de profissionais de
jornalismo no que tange a tecnologias e programação.
Para isso, devemos especificar a diferença da atividade do profissional
jornalista e do desempenho do produtor de conteúdo no ambiente virtual. O
jornalista é imprescindível na produção de notícias e informação no que tange à 15
Palavra em inglês que remete a significados como ambiente, contexto, meio, plano de fundo, etc.
Definições disponíveis em: http://www.significados.com.br. Acesso em 17.mai.2015.
55
pesquisa e análise de banco de dados, à prática do empacotamento de informações,
à percepção do valor-notícia do acontecimento e à valiosa construção da narrativa
do fato.
Já, o produtor de conteúdo ganha destaque pois conta, muitas vezes, com a
proximidade do fato (possível causa da escolha por produzir sobre o assunto), o
testemunho sobre a pauta e também a competência para o registro frente à
facilitação das tecnologias como é o caso dos registros em fotos e vídeos.
Com base nisso, podemos entender que ambos têm grande valor na rede de
comunicação e disseminação de informações, que é possibilitada pela Internet.
Tanto o profissional jornalista quanto o produtor trazem versões e informações que
se complementam. São duas figuras com papeis distintos e seus espaços
assegurados na Internet. A ideia é que esse processo colabore com a informação.
Juntos eles alcançam mais detalhamento e conseguem atingir maior número de
pessoas/receptores com a informação. Essa união entre os dois tipos de
comunicadores se transforma em liberdade de expressão e democracia da
informação na sociedade. Eis, então, um grande fator evolutivo do meio que
proporciona isso tudo, o ambiente virtual.
A análise desta pesquisa é um exemplo que demonstra com clareza a
importância de o profissional criar conteúdos diferenciados e ainda se adequar à
necessidade da cobertura imediata e com recursos que vão além do texto. As
mobilizações e reportagens online minuto a minuto trazem à tona os
questionamentos como a ansiedade da informação, a ética na apuração da notícia, a
flexibilidade dos meios de comunicação, os recursos ágeis de tecnologia e também
assuntos mais polêmicos como a redução de equipe e adição de novas tarefas a
apenas um jornalista. Devemos sinalizar, como já o fizemos em capítulo anterior,
que, de modo mais enfático do que a autora, defendemos que a produção de
conteúdos e a produção de webjornalismo não traduzem a mesma coisa.
5.2 AS POSSIBILIDADES DE MÍDIA NA WEB
A web introduziu na rotina jornalística novas formas de escrever. Conhecer o
público e manter o foco nas necessidades e hábitos dos leitores é um dos pontos
iniciais para a boa produção no ambiente virtual. Segundo Ferrari (2003), estudos de
56
usabilidade da Internet mostram que os internautas tendem a apenas passar pelos
sites.
Diversas pesquisas apontam ainda que o público online tende a ser mais ativo do que o de veículos impressos e mesmo do que um espectador de TV, optando por buscar mais informações em vez de aceitar passivamente o que lhe é apresentado. [...] Além disso, como o site tem visibilidade global, o jornalista sugere que se pense sobre qual o alcance que se quer dar a ele – local, nacional ou até internacional – e que se escreva com isso em mente. (FERRARI, 2003, p. 47 e 48).
Estas possibilidades conquistadas a partir da plataforma web contribuem
para o que podemos chamar de jornalismo cidadão. Munhoz e Palacios afirmam que
os efeitos da liberdade de o leitor participar da produção de material informativo
consolidam circuitos alternativos de informação. Ou seja, agora não são somente os
meios de comunicação que têm a possibilidade de comunicar e informar algo. Todos
podem desfrutar do ambiente virtual e contribuir em rede para isso. Os autores
destacam como a fotografia ganhou espaço e se tornou um dos materiais mais
compartilhados pelos jornalistas cidadãos.
Os efeitos da participação do cidadão na produção de imagens com valor jornalístico são detectáveis tanto no que se refere à criação e consolidação de circuitos alternativos de circulação de informação, quanto no que diz respeito às transformações da mídia tradicional em sua convivência forçada com os novos circuitos. Na Internet, jornalismo tradicional e circuitos alternativos de informação (jornalística ou não) compartilham o mesmo suporte (Blood, 2002), estando separados por apenas um clic do usuário, que pode livremente comutar entre o tradicional e o alternativo. Os veículos de massa tradicionais, ao migrarem para as redes, perderam o monopólio da emissão que gozavam em suportes anteriores (Wolton, 1999). Gradativamente vão construindo uma nova linguagem, entrando em processos simbióticos com as novas ferramentas que se fazem disponíveis e confrontando-se com os conteúdos livremente produzidos na Web, numa relação não exclusivamente de oposição, mas certamente marcada por consideráveis tensões. (MUNHOZ; PALACIOS, 2007, p. 63).
Os blogs, canais de opinião e redes sociais são potências no que tange às
relações e à liberdade de expressão e de compartilhamento de conteúdos entre os
internautas. Segundo dados do site do IBOPE16, o número de usuários que possuem
algum perfil em redes sociais já ultrapassa os 50 milhões no Brasil. Isso prova o
potencial da Internet no aspecto interatividade e formação de comunidades virtuais.
É importante destacar que o papel do jornalista dentro desse cenário teve
grandes transformações. Como o relatado no subcapítulo anterior, o jornalista e as
redações agora trabalham num ritmo diferente. Hoje, o jornalista se tornou o
16
Disponível em: http://www.ibope.com.br/pt-br/Paginas/home.aspx.
57
“empacotador” e seu diferencial está nas formas de produzir material pensado
propriamente para a web.
E é nesse momento que entram os infográficos, vídeos, áudios, a criação de
blogs de opinião, o resgate minuto a minuto de algum acontecimento, a
interatividade constante com o leitor, o material exclusivo (foto, texto, resgate de
dados). O objetivo comum de sites de notícias e usuários web é o mesmo:
compartilhar informação. E mesmo que ainda haja quem duvide, essa relação
precisa ser de complementaridade e não de disputa. Afinal, o jornalista que souber
utilizar os meios na Internet terá seu espaço com credibilidade e diferencial.
Munhoz e Palacios (2007) destacam essa importante relação quando voltam
a exemplificar a fotografia na web:
O crescimento do jornalismo cidadão e a sua expressão em formatos especificamente gerados para a Internet – como o Blog – coincidem, em grande medida, com o desenvolvimento de tecnologias de alta velocidade de acesso e com ela a explosão da circulação de imagens na Web. Apesar da pequena presença do assunto na literatura especializada sobre jornalismo, antes e depois das redes, a utilização em jornais e revistas impressos de fotos produzidas por cidadãos, sejam eles fotógrafos profissionais ou amadores, não é fato novo. Registros fotográficos de incêndios, desastres naturais (inundações, furacões, erupções etc), acidentes de todos os tipos (automóveis, aviões, trens, construção civil), instantâneos de fatos inusitados ou de personalidades difíceis de serem fotografadas, enviados por leitores, freqüentaram as páginas da imprensa de todo o mundo, desde que a fotografia se popularizou e encontrou seu lugar nos jornais e revistas ilustrados, na segunda metade do século XIX, e com mais vigor desde as primeiras décadas do século XX. (MUNHOZ; PALACIOS, 2007, p. 65).
Segundo Munhoz e Palacios, a incorporação dos blogs como um dos
gêneros jornalísticos disponíveis nas edições online ocorre como uma tentativa de
domesticação da ferramenta, com a criação e manutenção de blogs “caseiros” ou
“fechados”, que se limitam a fazer ligações com outros itens da mídia tradicional, do
portal ou do próprio veículo no qual estão inseridos.
Na medida em que o Blog tem como uma de suas características justamente a ligação com outros congêneres, no contexto da Blogosfera, é de se questionar até mesmo se não seria abusivo denominar-se como Blogs esses produtos jornalísticos da grande imprensa, que mais se assemelham a colunas jornalísticas autorais, funcionando on-line e num regime de atualização contínua. A não inserção na Blogosfera faz de um Blog nada mais que uma página pessoal, apenas com maior facilidade de atualização. É também verdade, outrossim, que as empresas de comunicação jornalística começam a reforçar suas coberturas, instando os internautas a que disponibilizem seus testemunhos em seus veículos, seja através de textos, seja através de imagens ou outros formatos midiáticos. Essas relações entre o circuito midiático das grandes empresas de comunicação e os circuitos alternativos de produção e circulação de informações de
58
atualidade colocam, é claro, uma série de questões, comerciais, ideológicas, éticas, profissionais, etc. (MUNHOZ; PALACIOS, 2007, p. 77).
Muitas são as possibilidades do ambiente web. Cabe aos jornalistas e aos
meios de comunicação utilizarem as diferentes maneiras de produzir conteúdo,
hiperlinks, interação e, assim, usufruir e contribuir para a comunicação. Podemos
afirmar que é de suma importância a credibilidade dos meios para que os usuários
interajam e se engajem em qualquer tipo de relação com os veículos na web. A
atualização e o imediatismo de conteúdo podem ser considerados um dos pontos
que mais são levados em conta pelos usuários.
A partir desses diferenciais, é importante que a sociedade compreenda que
o jornalista se transformou, a tecnologia se transformou, mas o tempo e a dinâmica
dos acontecimentos continuam tributários do tempo relógio. Desta forma, não é
possível cobrar dos veículos, tradicionais ou não, a cobertura “além do tempo”,
afinal, as notícias acontecem da mesma maneira. O que mudou são as
possibilidades de informá-la em um curto espaço de tempo e mesmo em tempo real.
O ciclo do fato em si precisa ser respeitado.
5.3 O CONTEÚDO EXCLUSIVO E DIFERENCIADO
O conteúdo e a produção diferenciada na Internet são desafios do
webjornalismo. Além de utilizar ferramentas e apresentar as notícias em formatos
que contribuem para a compreensão do ritmo de um usuário web, é importante que
o jornalista saiba como conduzir a notícia. Não basta inovar em ferramentas, sem
evoluir o conteúdo, de fato, como afirma Ferrari (2003).
Uma das apostas de estudiosos, como Palacios, é a produção de conteúdo
com base em banco de dados e pesquisa. Este é um ponto que os profissionais da
redação devem dominar para diferenciar e aprofundar as notícias. A partir da Base
de Dados, as notícias ganham uma nova narrativa. Machado (2007) defende:
[...] nas sociedades contemporâneas, a Base de Dados, entre outras funções, opera como suporte para a composição de novos modelos de narrativa. Neste texto, fundamentado no conceito de Base de Dados reformulado por Manovich (Manovich, 2001), discutiremos como, no caso do campo da comunicação, mais do que uma estrutura lógico-matemática, que possibilita a organização, armazenamento e recuperação de informações individualizadas, a Base de Dados aparece para os usuários como uma interface tipificada no espaço navegável que permite explorar, compor, recuperar e interagir com as narrativas. Se na cultura dos novos meios nada obriga que o banco de dados seja adotado como forma cultural única, do ponto de vista da experiência dos usuários, como sustenta Manovich, uma
59
larga proporção destes objetos funciona como uma espécie de banco de dados porque são identificados como uma coleção estruturada de itens que permite uma variedade de operações [...]. (MACHADO, 2007, p.112).
O banco de dados possibilita ver, navegar, buscar, intercambiar informações
e compor formas diferenciadas de narrativa. Machado destaca que, na web, a
narrativa em vez de uma simples sucessão de ações, fica configurada, cada vez
mais, como uma viagem através do espaço constituído pelos conjuntos estruturados
de itens organizados na forma de bancos de dados.
Esse é um dos diferenciais que o jornalista pode desenvolver nas redações
para a produção no ambiente virtual. Além de diferencial em conteúdo, utilizar base
de dados gera conteúdos exclusivos para os internautas. E, ainda, as informações
da pesquisa enriquecem-se com formatos como infográficos, vídeos e coberturas
minuto a minuto. No mundo interativo das redes, a narrativa aparece como um
conjunto contínuo de narrativas e explorações.
Mas Ferrari (2003, p. 49) alerta para os exageros: “Um bom texto de mídia
eletrônica usa sentenças concisas, simples e declarativas, que se atêm a apenas
uma ideia”. A autora ainda defende que achar que o mais importante é oferecer
notícias o mais rápido possível pode ser um erro, já que podem ser superficiais e
descontextualizadas.
Por outro lado, o webjornalismo proporciona o que poucas mídias
conseguem: a personalização. Machado e Palacios (2003) explicam que a
personalização consiste em oferecer ao usuário a opção de configurar os produtos
jornalísticos de acordo com seus interesses individuais. Eis, então, uma brecha para
as redações estudarem seus públicos e produzirem material exclusivo e direcionado.
É importante que as redações avaliem como apresentar os conteúdos
exclusivos, interativos e de atualização constante. Afinal, como o processo na web
ainda é novo, muito se desvia da excelência pela ansiedade em publicar, esteja lá
como estiver o conteúdo. Esse desafio é ainda maior em coberturas ao vivo de fatos
de grande impacto social.
5.4 OS DESAFIOS E AS DIFICULDADES DO DIA A DIA NA WEB
As tecnologias trouxeram muitas mudanças no dia a dia de uma redação.
Porém, Gradim defende que os deveres e tarefas dos profissionais se mantiveram.
60
Ela afirma: “[...] induziu verdadeiras revoluções nos gêneros e na forma. [...] O seu
dever é para com o público e para com a informação [...]”. (2007, p. 89).
A autora exemplifica que o processo de coleta de informações, pesquisa,
análise, edição continuam iguais, o que se diferencia é a forma de apresentá-las.
Fazer da sua atividade profissional, selecionar, verificar e transmitir
informação com imparcialidade e veracidade permanece idêntico
relativamente às condutas do jornalismo. Mesmo que os meios à disposição
tenham definitivamente mudado, e o modo de apresentação dos conteúdos
– os tradicionais gêneros jornalísticos – estejam eles próprios em mutação.
(GRADIM, 2007, p. 90).
O processo de convergência das tecnologias e suas transformações
trouxeram liberdade em todos os sentidos da comunicação. No contexto da atividade
do jornalista, há preocupações quanto aos valores como a ética e a verdade.
A designação que Jim Hall utilizou de “jornalismo alternativo” permite
analogia com esse período de mudanças de produção e publicação de diversos
formatos de conteúdo. Além de inovar no quesito de produção diferenciada e
tecnológica, o jornalismo é uma profissão que exige valores e responsabilidades.
Hoje, segundo Gradim, os formatos mudaram o “fazer jornalístico”, mas asseguram
os mesmos deveres e tarefas do profissional da área, seja qual for o tipo de
redação.
Nesse contexto, entendemos que a atividade do jornalista em meio a
coberturas web possibilita muitas formas de conteúdo diferenciado. Porém, como foi
destacado no capítulo, as responsabilidades com a ética, a apuração dos fatos e,
ainda, a pesquisa em base de dados são muito importantes para realizar algumas
das possibilidades do webjornalismo. Afinal, não bastam a tecnologia, os recursos
diferenciados e o imediatismo, se juntos eles não representarem conteúdo de
qualidade e prática do jornalismo ético e credível.
61
6. ANÁLISE
A partir do desenvolvimento da metodologia, por meio da Análise de
Conteúdo, proposta por Bardin (1977), fizemos a análise dos conteúdos e da
repercussão de notícias do Portal UOL. O foco de nossa pesquisa foi analisar o
imediatismo do meio no período de junho de 2013, do dia 1° ao dia 30 de junho,
principalmente, e a interatividade propiciada pelo portal de notícias.
A análise de conteúdo da pesquisa foi desenvolvida por meio de
amostragem de matérias, já que não é possível citar todos os conteúdos que o
Portal UOL repercutiu. A pesquisa foi feita por meio do site de buscas Google17
através de amostragem qualitativa de publicações e banco de dados arquivados
pelo portal.
De acordo com o método de Bardin, a pesquisa foi feita com a regra da
representatividade. Sendo assim, as análises foram trabalhadas por meio de
amostras em virtude da quantidade de material disponível para o estudo. O trabalho
teve acesso, durante o processo, a aproximadamente 40 materiais diferentes,
porém, foram selecionadas 8 publicações do portal para desenvolver essa análise.
O formato de análise escolhido para o trabalho foi a análise estrutural,
conceituada e reconhecida por Bardin como um método que revela o que pode estar
implícito na estrutura do conteúdo observado. Dessa forma, pudemos compreender
melhor alguns recursos e detalhes encontrados nos materiais selecionados das
publicações do UOL. Além disso, em alguns momentos, foi importante a utilização
de um método de análise do material produzido a partir da fundamentação teórica
desenvolvida, que ajudou e identificar alguns detalhes durante o processo da
análise.
6.1 O PERÍODO DE RECORTE DA ANÁLISE
As mobilizações sociais ocorridas em junho de 2013, desencadeadas pelo
aumento do valor das passagens de ônibus, movimentaram grande parte da
população brasileira. Os protestos, que lembraram as Diretas Já, durante o período
17
Disponível em http: //www.google.com.br.
62
da ditadura militar brasileira em 1964, reuniram mais de um milhão de pessoas,
segundo o Portal UOL de notícias, como foi citado em capítulo anterior.
Centenas de cidades brasileiras repetiram cenas de aglomerados de
cidadãos que protestaram contra a corrupção, e por melhores condições de
educação, saúde, transporte, entre outras reivindicações. As mobilizações tomaram
grandes proporções graças à comunicação e à repercussão da insatisfação das
pessoas na web, seja em blogs, sites ou redes sociais. Até então, os brasileiros não
tinham vivido um momento em que as insatisfações que antes eram desabafadas na
Internet fossem, de fato, concretizadas nas ruas.
Esse importante período do país trouxe uma série de reflexões de cunho
político, econômico, comunicacional e social. Para iniciarmos nossa análise sobre a
importância das mídias virtuais em torno desse momento, voltamos a destacar que
essa pesquisa será direcionada a analisar o contexto da característica imediatismo
em materiais publicados pelo Portal UOL durante o mês de junho de 2013.
Vale observar que o jornalismo tradicional brasileiro levou um choque ao se
deparar com a independência da mídia online e da produção de conteúdo livre.
Sendo assim, o leitor passou a acompanhar, interagir e vivenciar a notícia quase que
ao vivo, transferindo mais responsabilidade aos meios de comunicação da web.
A nova dinâmica da rotina do profissional de comunicação e da produção de
matérias, conforme citamos em capítulos anteriores, evidenciou algumas das bases
mais importantes e que ganharam maior ênfase no período, o imediatismo das
coberturas jornalísticas online. Além disso, o momento propiciou a mudança no
comportamento do leitor, que passou a complementar informação, opinar e também
entregar conteúdo produzido.
A web introduziu novas formas na prática jornalística e no comportamento do
leitor, como destaca Ferrari (2003), em seus estudos de usabilidade da Internet.
Diversas pesquisas apontam ainda que o público online tende a ser mais ativo do que o de veículos impressos e mesmo do que um espectador de TV, optando por buscar mais informações em vez de aceitar passivamente o que lhe é apresentado. [...] Além disso, como o site tem visibilidade global, o jornalista sugere que se pense sobre qual o alcance que se quer dar a ele – local, nacional ou até internacional – e que se escreva com isso em mente. (FERRARI, 2003, p. 47 e 48).
O período trouxe alerta aos veículos online e evidenciou a importância da
diferenciação do profissional web. Sendo assim, Ferrari reafirma a necessidade de o
63
jornalista se preparar para essa nova relação entre notícia, sociedade e meio de
comunicação.
Os desafios do jornalismo digital estão sem dúvida relacionados à necessidade de preparar as redações, como um todo, e aos jornalistas em particular, para conhecer e lidar com essas transformações. Além da necessidade de trabalhar com vários tipos de mídia, é preciso desenvolver uma visão multidisciplinar, com noções comerciais e de marketing. (FERRARI, 2003, p. 40).
Podemos afirmar que o imediatismo e a interatividade são as principais
características das coberturas dos protestos de junho de 2013. A partir desse
período, o leitor passou a dar ainda mais importância e credibilidade ao conteúdo
atualizado e, agora, ele mesmo tem a liberdade de complementar e opinar nas
notícias.
A web proporciona a seus usuários a nova dinâmica dos movimentos
sociais, a interconexão de comunidades locais por computadores e a importância
dessas para a participação do cidadão. Castells explica como a cultura dos
movimentos sociais é efetiva na Internet:
Nesse contexto, a comunicação de valores e a mobilização em torno de significados tornam-se fundamentais. Os movimentos culturais (no sentido de movimentos voltados para a defesa ou a proposta de modos específicos de vida e significado) formam-se em torno de sistemas de comunicação – essencialmente a Internet e a mídia – porque é principalmente através deles que conseguem alcançar aqueles capazes de aderir a seus valores e, a partir daí, atingir a consciência da sociedade como todo. (CASTELLS, 2003, p. 116).
Podemos compreender que atitudes que antes eram exclusivas dos veículos
de comunicação, a partir das mobilizações de 2013, passaram a ser democráticas, e
a informação passa a ser responsabilidade de toda a sociedade.
6.2 O PORTAL UOL EM PERÍODOS DE MOBILIZAÇÃO SOCIAL
O Portal UOL e todos os veículos que fazem parte desse grupo de
telecomunicações estiveram muito presentes nas coberturas das mobilizações de
junho de 2013. Analisamos abaixo alguns dos fatores mais importantes das
publicações do Portal UOL de notícias.
6.2.1 Imediatismo: coberturas ao vivo
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A ansiedade da sociedade em se manter atualizada sobre o que se passava
no país aumentou o número de acessos em sites de notícias nacionais. Enquanto a
televisão e o rádio faziam coberturas para os noticiários e algumas interrupções na
programação, a web saiu na frente com as coberturas minuto a minuto do que
ocorria nas ruas.
O Portal UOL colocou seus repórteres na rua para entrevistar, gravar,
fotografar e ancorar as mobilizações com publicações constantes e atualização
rápida, graças ao uso das tecnologias e da comunicação em rede, junto dos
produtores de conteúdos. Outro fator que influenciou essa atitude do UOL foi a
pressão causada pela agilidade e pela complexidade de coberturas desenvolvidas
por portais colaborativos.
Essa necessidade por mais conteúdo e informação cada vez mais rápida,
como já citamos em capítulos anteriores, vem do reflexo da sociedade e de uma
série de fatores que foram transformados, principalmente, por causa da evolução
das tecnologias. Sodré (2009) explica como essa transformação mudou a
comunicação.
[...] na sociedade contemporânea, a experiência do atual vem sendo profundamente afetada pelas novas tecnologias da comunicação. Agora, a temporalidade se acelera, criando efeitos de simultaneidade e sensações de imediatez dos acontecimentos. O “efeito SIG” (simultaneidade, instantaneidade e globalidade) já está definitivamente inscrito na temporalidade cotidiana, abolindo todas as distâncias espácio-temporais. (SODRÉ, 2009, p. 88).
Harvey (2000) prova que a aceleração das últimas décadas envolveu todas
as esferas sociais, causando mudanças culturais, sociais e de cunho político-
econômico. Sendo assim, tudo teve que se transformar para tentar acompanhar o
ritmo dos acontecimentos. E nesse contexto, a produção da notícia e a “venda” dela
para os internautas também sofreram transformações, principalmente quando
falamos do tempo, da relação tempo-espaço e da compressão desse fator, que
causa a noção de aceleração do tempo cronológico. Ou seja, isso tudo trouxe uma
nova percepção/novo sentido para o tempo, como vínhamos argumentando nos
capítulos dessa pesquisa.
O efeito geral é, portanto, colocar no centro da modernidade capitalista a aceleração do ritmo dos processos econômicos e, em conseqüência, da vida social. Mas essa tendência é descontínua, pontuada por crises periódicas, porque os investimentos fixos em instalações e equipamentos, bem como em formas organizacionais e habilidades de trabalho, não podem ser modificados com facilidade. A implantação de novos sistemas tem de esperar a passagem do tempo da vida “natural” da fábrica e do trabalhador,
65
ou empregar o processo de “destruição criativa” que se baseia na desvalorização ou destruição forçadas de ativos antigos para abrir caminho aos novos. Como isso implica uma perda de valor mesmo para os capitalistas, poderosas forças sociais se opõem a esse processo. (HARVEY, 2000, p. 210).
Arendt (2009) salienta essa constante transformação do conceito de tempo
na sociedade. Ele argumenta que os conceitos de passado, presente e futuro se
misturam, trazendo um encontro entre os tempos. Isso nos alerta para as mudanças
e a dificuldade em percebermos o real tempo no qual estamos inseridos.
[o mundo], com efeito, começou desde então a mudar, a se modificar e transformar com rapidez sempre crescente de uma forma para outra, como se estivéssemos vivendo e lutando com um universo proteico, onde todas as coisas, a qualquer momento, podem se tornar praticamente qualquer outra coisa. (ARENDT apud BARROS, 2010, p. 80).
Esta indefinição sobre o tempo pertencente nos faz refletir sobre quão
rapidamente as coisas podem ser consideradas passado, e que isso, se analisado a
partir das tecnologias, pode ser ainda mais rápido. Por isso, a reflexão sobre a
relação tempo/espaço-temporal é fundamental em nossa pesquisa.
A partir disso, entendemos que exista o fenômeno que Koselleck (1979)
conceitua como “aceleração do tempo”. Esta expressão prega que o tempo passa
mais rápido e as mudanças, consecutivamente, também. O tempo e a mudança se
complementam, transformando a sociedade e sua história de tempo em tempo,
mesmo que não se saiba, exatamente, quanto tempo se leva para isso.
O tempo-espaço pode representar duas dimensões na ordem social: o tempo-espaço dos fluxos que são movimentos de informação, de capitais, de demandas e de decisões que promovem a interação organizacional no modelo cibernético; e o tempo-espaço dos lugares, a realidade tangível das ações humanas, no mundo concreto e físico onde espaço é lugar e o tempo é sucessão. Essas dimensões balizam o cotidiano da presente atualidade numa duplicidade e cumplicidade que modelam as novas formas de organização da vida social. O habitus social incorporou a realidade do tempo-espaço cibernético, projetando para o devir um envolvimento cada vez mais amplo. (VIEIRA, 2003, p. 6).
Abaixo podemos observar uma das coberturas ao vivo dos protestos
publicados via Folha de São Paulo, em sua página online. Esse tipo de cobertura
proporcionado por veículos de comunicação na web nos traz à tona essa nova
percepção de tempo e essa ansiedade por conteúdo rápido e atualizado,
sentimentos esses causados pelas transformações da sociedade.
66
Figura 1 - Ao vivo
Fonte: http://aovivo.folha.uol.com.br/2013/06/13/2623-aovivo.shtml
67
Figura 2 - Ao vivo parte 2
Fonte: http://aovivo.folha.uol.com.br/2013/06/13/2623-aovivo.shtml
A cobertura em formato de timeline utilizada pelo Portal UOL conseguiu dar
sequência e oferecer a atualização constante de conteúdo sobre os protestos que
68
ocorriam em junho de 2013 no país. Nas figuras acima, temos um exemplo de uma
publicação de 13 de junho que até hoje está registrada no site com todos os
acontecimentos do dia e seus destaques minuto a minuto. Como podemos observar,
são diversas páginas online com a cobertura ao vivo desse importante momento do
país.
Mattos (2013) reforça a importância do jornalismo se reiventar para atender
à transformação causada pelas tecnologias. Nesse sentido, reiteramos que os
veículos passaram a mudar seus formatos, como foi o caso do UOL.
Considerando que as novas tecnologias, principalmente a Internet, estão ganhando cada vez mais espaço como veículo e o fato de que o cenário da comunicação está sofrendo acelerada transformação, a tendência, que pode ser prevista, é que o segmento impresso (jornais e revistas) precisa se reposicionar no mercado, pois o jornalismo tem sido afetado pela expansão das redes sociais interativas. Assim, baseado no fato de que a Internet modificou a maneira de se consumir informação, o maior desafio dos veículos impressos será o de formar e fidelizar novos leitores (consumidores de informações) principalmente entre os jovens, sem deixar de considerar que com o avanço das tecnologias digitais e da portabilidade, os leitores também se transformaram em produtores e distribuidores de conteúdos informativos. O mundo mudou e o jornalismo está buscando encontrar novos caminhos que assegurem sua sobrevivência, é necessário que todos se conscientizem de que apenas transmitir notícias já não é suficiente, pois o leitor busca algo mais além de declarações, além do jornalismo oficial e do jornalismo declaratório. (MATTOS, 2013, p. 37).
Sendo assim, a partir do formato minuto a minuto, o UOL descreveu o que
acontecia nas ruas, deu espaço para conteúdos em outros formatos, publicou
infográficos e imagens, entre outros recursos. Dentre as características de narrativa,
podemos compreender que o veículo utilizou linguagem simples e se posicionou de
forma aberta a comentários e à interação com os leitores. Podemos observar esse
posicionamento no início da time, figura 1, onde o UOL se despede dos leitores e
deseja boa noite a quem acompanhou a cobertura ao vivo.
Esse formato centralizou a atualização e o imediatismo de conteúdos e
possibilitou que o internauta fosse informado logo que a novidade chegava à
redação do UOL. Em alguns momentos, as informações se repetiam ou se
complementavam, como podemos observar no exemplo. Mesmo assim, o Portal
UOL não deixou seu leitor muito tempo sem alguma atualização.
No início da página, podemos visualizar uma função de ativar ou não a
atualização da página automaticamente. Isso facilitou ainda mais o acesso às
informações que eram postadas imediatamente. Recursos como esse foram
possibilitados graças às tecnologias e à usabilidade possível na Internet.
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Como já destacamos em capítulo anterior, a comunicação não foi mais a
mesma com o fluxo rápido e sequencial da web e podemos complementar a análise
sobre o exemplo UOL. Lévy, então, mostra o que trouxe a mudança no processo de
informar com a Internet.
A dimensão da comunicação e da informação, então está se transformando numa esfera informatizada. O interesse é pensar qual o significado cultural disso. Com o espaço cibernético, temos uma ferramenta de comunicação muito diferente da mídia clássica, porque é nesse espaço que todas as mensagens se tornam interativas, ganham uma plasticidade e têm uma possibilidade de metamorfose imediata. E aí, a partir do momento em que se tem o acesso a isso, cada pessoa pode se tornar uma emissora, o que obviamente não é o caso de uma mídia como a imprensa ou a televisão. (LÉVY apud JENKINS, 1999, p. 13).
O exemplo do UOL demonstrou como os veículos tiveram que trabalhar e se
adaptar ao ritmo de web na hora de informar a população sobre o que ocorria no
país. Dada a devida atenção à relevância do período brasileiro, os meios de
comunicação em suas versões online buscaram usar de recursos de produção e
tecnologia para satisfazer os leitores e, principalmente, não deixar a população sem
os detalhes dos acontecimentos.
6.2.2 Apresentação de conteúdo e formato diferenciados
Durante os protestos, os veículos buscaram apresentar conteúdos e
formatos específicos para web. A criação desses materiais foi uma das formas de os
meios criarem atrativos para audiência na cobertura dos protestos. Além disso, foi a
partir desse tipo de produção, que os jornalistas e os meios de comunicação
conseguiram se diferenciar de produtores de conteúdo, como citamos em capítulos
anteriores. Porém, mesmo assim, em muitos momentos, mídias alternativas e
produtores de conteúdo conseguiram alcançar melhores resultados em coberturas
do período.
O Portal UOL criou infográficos, publicou vídeos, preparou enquetes,
desenvolveu uma narrativa com banco de dados e disponibilizou o histórico dos
fatos. Tudo isso para atualizar seu leitor e ser o mais compreensível possível sobre
tudo que envolveu os protestos e a situação político-social do país.
Abaixo, anexamos exemplos de recursos utilizados em uma publicação do
UOL em 20 de junho de 2013.
70
Figura 3 - Pessoas nas ruas
Fonte: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/06/20/em-dia-de-maior-mobilizacao-protestos-levam-centenas-de-milhares-as-ruas-no-brasil.htm
A figura acima mostra a cobertura do dia sobre a repercussão e o
engajamento da população aos protestos. Além de chamar atenção com o título e o
dado sobre o número de pessoas envolvidas, o portal utilizou uma imagem da
mobilização no Rio de Janeiro para ilustrar o impacto vivenciado no momento
brasileiro.
Podemos observar, na linha abaixo do título, que o veículo atualizou a
notícia, mesmo após publicada. Na figura acima podemos ver que a publicação foi
feita dia 20 de junho, mas no dia seguinte, foi atualizada pelo portal. Essa é uma
maneira de complementar o conteúdo e deixar as notícias online sempre alinhadas
às últimas informações.
Essa atualização e, principalmente, o arquivo de todo o conteúdo já
publicado são uma importante ferramenta da Internet. Isso porque a televisão e o
71
rádio conseguem atualizar as notícias, porém, não podem deixar o arquivo de seus
materiais disponíveis. Ao contrário da Internet, que permite esse banco de dados de
postagens mais antigas e disponibiliza tudo isso ao seu usuário. Cabe ressaltar que,
nesse sentido, de arquivamento de notícias, o webrádio e a webtelevisão
conseguem oferecer os podcasts18, atendendo a essa necessidade de atualização e
arquivamento de notícias.
Além disso, como a web permite acesso às notícias de arquivo quando o
internauta quiser, essa atualização em algo já publicado mostra que o meio de
comunicação se preocupa em deixar as informações cada vez mais “redondas”,
principalmente se tratando de um fato de tanta importância para a sociedade e para
a situação do país.
Essa preocupação do site traz à tona a característica imediatismo na web,
não no que tange a publicações ao vivo, mas, sim, no que diz respeito ao interesse
do veículo em ser imediato. O Portal UOL se preocupou em atualizar coisas que já
tinham sido publicadas, a fim de ser mais certeiro em seu discurso narrativo e
possibilitar mais entendimento e detalhamento ao seu leitor.
Abaixo um novo exemplo de recurso utilizado pelo Portal UOL:
18
Um podcast é uma mídia digital de áudio ou vídeo, que fica disponível para download na Internet. Nesse caso, damos o exemplo de podcasts de rádio web e televisão web, que deixam seus materiais disponíveis no site para os usuários.
72
Figura 4 - Enquete online
Fonte: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/06/14/existe-terror-em-sp-o-dia-em-que-pms-atiraram-a-aplausos-e-a-pedidos-de-nao-violencia.htm
Na figura acima, podemos ver um box com uma enquete sobre as
mobilizações. Nesse exemplo, o site questiona o leitor sobre o mesmo assunto que
está descrito na matéria na qual a enquete está inserida. Posicionada
estrategicamente no centro da matéria, a enquete foi usada como forma de
interação com os leitores. Entendemos que a pergunta “Você é a favor da repressão
policial a manifestantes?” foi estrategicamente colocada ao lado do segmento que
fala da opressão policial contra repórteres. Isso prova que o Portal UOL tinha um
posicionamento já definido e que aparecia na hora de utilizar recursos e
características particulares das publicações online.
Como já citamos em capítulo anterior, um dos desafios do jornalista é deixar
o seu lugar de fala especificado no texto. O jornalista pode ter opinião e
posicionamento sobre determinado assunto, porém, não pode se posicionar quando
escreve a notícia, ele precisa saber onde e de que forma pode colocar seu discurso.
É importante deixar claro ao leitor o espaço da fala pessoal dele, onde ele deixa de
lado o papel como jornalista. Essa situação não foi bem separada no exemplo acima
do Portal UOL, pois o discurso e o posicionamento se misturam com a reportagem.
73
Apesar de “obedecer” a certas regras técnicas, o leitor recebeu uma versão
sobre o assunto. Nesse caso, o jornalista misturou a opinião e a notícia. A enquete
deve funcionar como um complemento da interação jornalística, mas, nesse caso,
ela está, possivelmente, influenciando o leitor.
Isso nos faz refletir sobre a postura ética do profissional, que não deve
misturar a notícia e a opinião. O jornalista precisa saber separar as duas situações.
Para evitar isso, além de especificar o que é informação e o que é discurso e
opinião, é importante oferecer detalhes do fato e aprofundar o assunto. Dessa forma,
o senso crítico que o leitor alcança em determinado assunto gera mais reflexão e
menor probabilidade de alienação. Esses seriam alguns dos requisitos do jornalismo
de qualidade, segundo Sodré.
O aprofundamento da informação no espaço das redes ainda é sensivelmente deficiente, mas não há quaisquer impedimentos técnicos para que um novo tipo de profissional utilize algoritmos computacionais destinados a encadear fontes informativas relevantes, requalificando o material informativo. Nesta direção caminham as experiências de jornalismo cidadão, jornalismo colaborativo ou ainda jornalismo participativo, que têm em comum a produção de conteúdo pelos usuários, variando apenas os modos técnicos de realização [...] seja complementando, criticando ou até mesmo coletando a informação. Sucedem-se os mecanismos ditos de agregação de conteúdo e distribuição automática de notícias, que ajudam a transformar o leitor em editor. (SODRÉ, 2009, p. 109).
Outro recurso importante e, quase que, básico da narrativa web é a
publicação de imagens para a cobertura de uma determinada notícia. Na figura
abaixo, um exemplo de galeria de fotos:
74
Figura 5 - Galeria de fotos
Fonte: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/06/20/em-dia-de-maior-mobilizacao-protestos-levam-centenas-de-milhares-as-ruas-no-brasil.htm
Na figura acima é possível entender a preocupação do site em divulgar seu
banco de imagens para os leitores. Uma forma de comunicar o ocorrido por meio
dos cliques de fotógrafos e jornalistas em meio ao caos que o país vivenciava. Esse
tipo de recurso é muito utilizado em notícias de grande impacto social. É uma
maneira de complementar mais informações e compartilhar todo o tipo de material
reunido durante as coberturas. Eis, então, uma das possibilidades do webjornalismo,
em que não há limites de tempo e espaço para repercutir mais conteúdo. A web
possibilita que o meio de comunicação compartilhe todos os recursos possíveis. E é
o leitor que escolhe qual conteúdo acessar e qual não acessar.
75
Figura 6 - Infográfico
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1294919-maioria-da-populacao-e-a-favor-dos-protestos-mostra-datafolha.shtml
A figura 6 mostra o recurso infográfico, que une informação, gráficos e a
interpretação sobre diversos ângulos dos fatos. Esse recurso é muito utilizado em
impressos, mas ganha um layout mais visual quando é feito especialmente para
web, pois pode adicionar links, ter movimento e interagir com as escolhas do leitor. É
um recurso extremamente valioso, pois dá credibilidade ao meio de comunicação,
mostra a pesquisa de banco de dados feita pelo profissional e, principalmente,
explora um recurso que na web é diferencial, comparativamente às mídias
impressas e ao rádio.
76
Figura 7 - Vídeo
Fonte: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/06/20/em-dia-de-maior-mobilizacao-protestos-levam-centenas-de-milhares-as-ruas-no-brasil.htm
Na figura acima, temos um exemplo da publicação de vídeo sobre os
protestos. A reunião de vídeos produzidos por cinegrafistas e também fornecidos por
internautas traz mais detalhamentos sobre os fatos. O Portal UOL criou uma galeria
de vídeos em formato timeline, ou seja, na galeria, o internauta poderia acessar
vídeos de diversos dias de manifestações, pois todos estavam reunidos no mesmo
link.
Isso trouxe o poder de escolha ao internauta, que tinha todos os vídeos
acessíveis, mas poderia escolher o que mais lhe interessava para assistir no
momento. Porém, o recurso não foi utilizado de forma satisfatória pelo UOL. A
cobertura de vídeo do site foi relativamente fraca se comparada a grupos que
ganharam destaque durante o período. Um exemplo importante foi a Mídia Ninja19,
19
Coletivo de produtores de conteúdo que deu diversos furos de reportagem durante as mobilizações
no Brasil. As publicações da Mídia Ninja ganharam repercussão e foram, em alguns momentos, mais satisfatórias do que alguns veículos de comunicação. Disponível em: https://www.facebook.com/midiaNINJA/timeline.
77
que se diferenciou com a cobertura dos protestos e, em muitos momentos, apareceu
à frente de muitos veículos brasileiros.
Além do vídeo, a pesquisa em banco de dados, como já afirmamos, é um
ponto forte e importante para o webjornalista. Após um ano do ocorrido, os meios de
comunicação ainda trazem o fato para a atualidade, analisam, comparam e
repercutem nos ambientes virtuais. Abaixo, dois exemplos de conteúdos publicados
com análise de banco de dados e pesquisas.
Figura 8 - Banco de dados
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1301456-participantes-da-passeata-de-1968-analisam-os-protestos-atuais.shtml
78
Figura 9 - Banco de dados 2
Fonte: http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/manifestacoes-de-junho-de-2013-qual-e-o-saldo-dos-protestos-um-ano-depois.htm
A abertura para charges também foi um recurso utilizado pelo UOL. Abaixo,
a publicação de uma galeria de charges, em que o UOL deu espaço para a opinião e
expressão sobre o que ocorria no Brasil. Esse foi um formato apresentado pelo
portal para democratizar as opiniões diversas a respeito dos protestos, foi uma
maneira de oferecer conteúdo além da cobertura das notícias minuto a minuto.
79
Figura 10 - Charges
Fonte: http://noticias.uol.com.br/album/2013/06/18/protestos-pelo-brasil-viram-charges.htm
O Portal UOL utilizou muitos recursos web para cobrir o período de
mobilizações no país. Podemos entender que o planejamento de pauta do portal
buscou a disseminação de informações em tempo real e fluxo contínuo. Esse
posicionamento de um veículo ser presente em todos os momentos de um período
ímpar no país nos faz refletir sobre papel do jornalista/jornalismo na sociedade.
[...] jornalismo não é reflexo, mas construção social de uma realidade específica. Da cultura profissional dos jornalistas, da organização geral do trabalho e dos processos produtivos, portanto de uma rotina industrial atravessada por uma polifonia discursiva, surgem os relatos de fatos significativos (os “acontecimentos”) a que se dá o nome de notícias. Em todo esse processo, o jornalista é apenas parcialmente autônomo, já que tem de obedecer às regras de um planejamento produtivo, assim como a uma concepção coletiva do acontecimento, que em parte o ultrapassa, fazendo com que a seleção das ocorrências informe tanto sobre o campo profissional do jornalismo quanto sobre o meio social a que se refere a notícia. (SODRÉ, 2009, p. 26).
Na web, a prática do profissional ganha destaque pela maior rapidez e
agilidade na propagação da informação e pela facilidade com que os internautas
podem interagir, destacando suas opiniões, compartilhando e se relacionando com
seus pares. Wolton destaca que um dos maiores ganhos com a web foi a liberdade
que seus usuários passaram a ter.
80
Três palavras são essenciais para compreender o sucesso das novas tecnologias: autonomia, domínio e velocidade. Cada um pode agir, sem intermediário, quando bem quiser, sem filtro nem hierarquia e, ainda mais, em tempo real. Eu não espero, eu ajo e o resultado é imediato. Isto gera um sentimento de liberdade absoluta, até mesmo de poder, de onde se justifica muito bem a expressão “surfar na Internet”. (WOLTON, 2007, p. 86).
Os protestos tiveram grande participação da população tanto nas ruas, como
na web. Ou seja, ambos foram importantes para o momento. Nas ruas os fatos
ocorriam e o povo expressou sua opinião, e na Internet os fatos eram
acompanhados/publicados e repercutidos e o internauta também interagia e se
expressava. Com isso, é importante nos questionarmos sobre a possível
virtualização do espaço público. Destacamos em capítulo anterior o que Soares
afirma ser um espaço antropológico alternativo.
As comunidades virtuais são feitas de pessoas e do que elas realmente querem, daquilo que realmente lhes interessa, sem constrangimentos prévios ou póstumos [...] As novas tecnologias dão a cada um de nós um poder sem precedentes de construir o nosso próprio mundo de referência, de encontrar as pessoas que realmente nos interessam, estejam onde estiverem, de aprender e ensinar sobre aquilo que realmente queremos que faça parte da nossa vida. (SOARES, 1999, p.75).
Esse processo de virtualização invadiu o cotidiano da sociedade e
transformou os modos de interação e comunicação. Como exemplificamos acima,
sociedade e meios de comunicação tiveram uma intensa responsabilidade durante
as mobilizações de junho de 2013, tanto nas ruas como na web.
6.3 A INTERAÇÃO ENTRE O UOL E OS PRODUTORES DE CONTEÚDO
A interatividade e a democracia possibilitadas pela Internet foram fatores
importantes no que tange à complementação e atualização dos fatos. Essa
exclusividade da plataforma web contribui para o que podemos chamar de
jornalismo cidadão. Munhoz e Palacios afirmam que os efeitos da liberdade de o
leitor participar da produção de material informativo consolidam circuitos alternativos
de informação.
Rheingold (1996) destaca que essa nova dinâmica de informar e se
comunicar na web traz uma nova percepção de comunidade, grupos e espaço
público.
81
Talvez o ciberespaço seja um dos lugares públicos informais onde possamos reconstruir os aspectos comunitários perdidos quando a mercearia da esquina se transforma em hipermercado. Ou talvez o ciberespaço seja precisamente o lugar errado onde procurar o renascimento da comunicação, oferecendo, não um instrumento para o convívio, mas um simulacro sem vida das emoções reais e do verdadeiro compromisso perante os outros. Seja qual for o caso, precisamos descobri-lo o mais rapidamente possível. (RHEINGOLD, 1996, p.43).
Como já destacamos anteriormente, com a Internet todos podem desfrutar
do ambiente virtual e contribuir em rede com a notícia. O Portal UOL se posicionou
aberto à participação de leitores na cobertura dos protestos. Exemplos abaixo
comprovam que materiais vindos de leitores e internautas tiveram seu espaço e, por
consequência, boa repercussão na mídia.
Figura 11 - Fotos dos internautas
Fonte: http://noticias.uol.com.br/album/2013/06/18/internautas-registram-protestos-motivados-por-aumento-das-tarifas-do-transporte-veja-fotos.htm
Na figura acima, temos um exemplo de galeria de imagens enviadas por
internautas sobre os dias de protestos e na figura abaixo temos um vídeo enviado
também por um cinegrafista amador. Podemos entender que a presença e a
contribuição da sociedade e dos produtores de conteúdo são de suma importância
no processo da notícia. Isso porque eles podem complementar ou até trazer furos de
reportagem. Outro fator relevante foram as pessoas que participaram do processo
da notícia e mídia alternativa independentemente do espaço geográfico. Isso
82
colaborou em muitos momentos com a disseminação das informações, já que para a
mídia tradicional o processo de cobertura se revelaria muito mais difícil e caro, na
medida em que dependeria de enviados e na medida em que não teria a
instantaneidade da web.
A participação dos leitores no processo da notícia se dá, em linhas gerais,
diante dos mesmos interesses e opiniões, ou então, com o objetivo de confrontá-las.
Citamos abaixo a explicação de Castells.
[...] padrão social, não um acúmulo de indivíduos isolados. O que ocorre é antes que indivíduos montam suas redes, online e ofilne, com base em seus interesses, valores, afinidades e projetos. Por causa da flexibilidade e do poder de comunicação da Internet, a interação social online desempenha crescente papel na organização social como um todo. As redes online, quando se estabilizam em sua prática, podem formar comunidades, comunidades virtuais, diferentes das físicas, mas não necessariamente menos intensas ou menos eficazes na criação de laços e na mobilização. (CASTELLS, 2003, p. 109).
Podemos reiterar a participação dos internautas com o exemplo do vídeo
representado abaixo que denuncia a atitude de policiais militares durante as
mobilizações. Graças a essa relação entre meios de comunicação online e
sociedade é possível compartilhar mais conteúdo e informação a respeito dos fatos.
Isso evidencia um grande diferencial proporcionado pela web.
83
Figura 12 - Vídeo do internauta
Fonte: http://mais.uol.com.br/view/c2660va0emks/policial-quebra-vidro-da-propria-viatura-em-sao-paulo-04024C99356CC4A94326?types=A&
Com base em todos os exemplos acima citados, acreditamos que o Portal
UOL utilizou muitos recursos possibilitados pela Internet e deu grande importância
ao imediatismo e à atualização constante de conteúdo, seja com informações
complementares, atualização de antigas publicações, pesquisa com banco de
dados, imagens, vídeos, infográficos, enquetes, interatividade e espaço para
publicações de internautas.
De acordo com a análise, destacamos que o leitor mudou a sua forma de
interagir e se comunicar nos ambientes virtuais. A ansiedade por mais informação
pode causar um possível descontentamento com os meios de comunicação, pois o
ritmo e a velocidade da web passam a ser mais ágeis do que a velocidade com que
o fato, de fato, acontece. Os meios de comunicação virtuais buscam atender a essa
necessidade e oferecer conteúdo imediato, na medida do possível. E é por causa
84
dessa necessidade do internauta que os veículos passaram a dar mais valor ao
produtor de conteúdo e, no caso dos profissionais, dá-se cada vez mais valor à
produção.
6.4 OS NÚMEROS DA ANÁLISE
A pesquisadora teve acesso, durante o processo, a aproximadamente 40
materiais diferentes, porém, foram selecionadas 8 publicações do portal para
desenvolver a análise qualitativa. Abaixo um gráfico que aborda a amostragem de
matérias escolhidas para a pesquisa:
Figura 13 - Gráfico da análise
Fonte: a autora
No período de 1° a 30 de junho de 2013, o Portal UOL teve uma média de
120 publicações, segundo site de arquivos da web20. O principal quesito de escolha
das matérias foi conteúdos que apresentassem os recursos e as características aqui
abordados. A análise estudou em média 6,6% das notícias relacionadas às
manifestações sociais de junho de 2013.
20
Disponível em: http://web.archive.org/web/20130101000000*/http://uol.com.br.
85
Para confirmar a atualização e demais características dos materiais do
portal, podemos observar a tabela abaixo com a relevância de cada recurso adotado
nas publicações:
Fonte: a autora O critério de avaliação respeita a fundamentação teórica desenvolvida
Com base em toda a análise, acreditamos na democratização da informação
interativa e em tempo real no ambiente virtual. Porém, cabe ressaltar que os meios
de comunicação devem seguir os fundamentos do exercício do jornalismo, e que
essa postura seja inquestionável quanto ao papel dos profissionais na web,
principalmente neste contexto atual de constantes emissões e publicações vindas
das novas redações online.
86
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa analisou o imediatismo do webjornalismo em períodos de
mobilizações sociais. O nosso recorte de pesquisa foi estudar as publicações do
Portal UOL no período de 1º a 30 de junho de 2013.
Durante o processo, buscamos resolver o seguinte problema de pesquisa: O
webjornalismo cumpre efetivamente com o imediatismo que prega? O objetivo geral
dessa pesquisa foi analisar o imediatismo e a atualização do webjornalismo a partir
das notícias no UOL durante o período escolhido.
Nossos objetivos específicos foram: estudar o conceito de webjornalismo e
suas características específicas; estudar o conceito clássico de jornalismo,
tensionando-o com o conceito de webjornalismo e, também, estudar os conceitos de
tempo/espaço (compressão) na sociedade da informação e das tecnologias. A
pesquisa bibliográfica estudou a fundamentação dos autores baseada,
principalmente, nos conceitos da prática do jornalismo e das mudanças causadas
pela tecnologia na sociedade e no dia a dia do jornalista, em específico na web.
Os principais autores desse trabalho foram: Lemos e Palacios (2001); Lévy
(1996,1999); Castells (1999, 2003); Traquina (2005); Sodré (2009); Wolton (2010);
Palacios (1999, 2003); Ferrari (2003); Machado (2007), entre outros.
Os objetivos estiveram estreitamente ligados a três hipóteses que foram
postas à prova durante a análise. Todas as hipóteses foram analisadas e tiveram
diferentes comprovações durante o estudo.
A primeira hipótese levantada foi que o webjornalismo não cumpre
efetivamente o imediatismo a que se propõe. Essa hipótese não pode ser levada
como verdadeira, já que comprovamos a partir da análise que o jornalismo na web
utiliza de muitos recursos para informar e possibilitar que o internauta acompanhe ao
vivo as notícias. O que causa uma possível insatisfação quanto às coberturas minuto
a minuto é a nova percepção de tempo a que a sociedade está submetida diante das
tecnologias e da ansiedade por conteúdo. Há, da parte dos
leitores/usuários/internautas, uma ansiedade no sentido de que tudo se adapte à
velocidade da Internet.
Essa nova percepção de tempo-espaço reflete na necessidade de as
notícias acompanharem o ritmo da web. Porém, muitas vezes, isso não é possível, já
que os fatos e as notícias ocorrem no tempo cronológico natural. Ou seja, as
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notícias continuam com o ritmo normal dos acontecimentos, e por esse motivo, não
se pode acompanhar a velocidade que a Internet possibilita, por exemplo. O que
pode ser mais rápido e ágil é a prática das redações online nos veículos de
comunicação.
Como foi abordado durante a fundamentação teórica e a análise, é possível
atualizar as redações e implementar recursos e habilidades no dia a dia e nas
coberturas online, porém, mesmo assim, deve-se seguir a ordem e o ritmo dos fatos,
não podendo ultrapassar a velocidade em que as notícias, de fato, acontecem. Isso,
muitas vezes, causa uma ideia de que o veículo não é totalmente imediato e atual.
Mas, conseguimos mostrar por meio da análise, que os meios de comunicação web
estão atentos a essas necessidades e buscam aliar a prática jornalística às
ferramentas tecnológicas e à velocidade web.
Nossa segunda hipótese defende que o webjornalismo institui uma nova
forma de fazer jornalismo. Essa defesa se comprovou totalmente em nossa
pesquisa, já que avaliamos a transformação da sociedade junto às tecnologias e
como isso se refletiu na prática do jornalismo.
Conseguimos apresentar diversos exemplos de como o Portal UOL mudou
sua rotina na web e se adaptou às novas necessidades do leitor. Sendo assim,
implementou uma série de recursos para atender a ansiedade dos internautas por
informação dos internautas.
Exemplificamos que o Portal apresentou como recursos a cobertura minuto a
minuto, a enquete, a pesquisa de banco de dados, o vídeo, a imagem, o infográfico,
a charge e a interação do veículo com leitores e produtores de conteúdo. Todos
esses recursos comprovam como a mídia online está atenta à transformação pela
qual os veículos devem passar diante das tecnologias e das novas necessidades
dos leitores.
A terceira e última afirmação hipotética analisada foi que a sociedade da
informação, centrada em processos tecnológicos, provoca a compressão dos
conceitos de tempo e espaço. Essa hipótese foi totalmente comprovada a partir do
que foi fundamentado com a nova percepção da sociedade quanto ao tempo-
espaço. Mostramos que as tecnologias causaram grandes mudanças na sociedade
moderna. Isso trouxe novas atitudes e novas ideias quanto aos fatos, à interação e
às relações.
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No ambiente web o leitor acaba criando uma nova percepção de tempo, o
que pode causar insatisfação quanto à atualização das notícias. Mas, conforme
nossa análise, os portais de comunicação da Internet já estão adaptados a essa
nova demanda de informação e estão transformando suas redações. Nesse sentido,
podemos afirmar que existe uma compressão nos conceitos de tempo e espaço e
que são esses os motivos que causam ansiedade por informação mais rápida.
Afirmamos que os meios estão adaptados para atender as necessidades do novo
leitor, o que não se pode atender é a velocidade da Internet ao ultrapassar a
velocidade do fato em si, já que esse tem seu tempo natural para acontecer. E isso
precisa ser levado em conta.
O trabalho se fortaleceu a partir da constatação de que a sociedade
contemporânea passa por intensas mudanças decorrentes do avanço tecnológico
que a caracteriza. Essas mudanças se refletem no comportamento da sociedade e
da informação, o que permite associar o quadro ao jornalismo e aos meios de
comunicação.
O método escolhido para a investigação foi o netnográfico, que é um método
vindo da etnografia. Escolhemos a análise de conteúdo inspirada em Laurence
Bardin para estruturar nossa pesquisa e dar credibilidade ao processo de analisar o
Portal UOL, o que se revelou adequado.
Neste trabalho estudamos as categorias jornalismo, webjornalismo e
sociedade da informação. Com base na pesquisa dessas três palavras-chaves,
pudemos fundamentar a análise. O processo de desenvolvimento desse trabalho foi
extremamente enriquecedor e obteve êxito quanto à estrutura, fundamentação
teórica e análise. Desenvolver um trabalho acadêmico como esse, trouxe muito
aprendizado e consistência à formação acadêmica.
A organização metodológica e a pesquisa de autores foram fatores
determinantes para dar credibilidade e força a toda pesquisa. Seguir a estrutura
científica e a metodologia acadêmica esclareceu as ideias e distribuiu de forma mais
credível as informações aqui abordadas.
Além de reafirmar o posicionamento acadêmico, o processo desse trabalho
trouxe descobertas adicionais a minha formação. Apesar da organização e da
orientação extremamente qualificada, pude compreender a importância em buscar
informações e acompanhar tudo o que vinha a ter ligação com o objeto de pesquisa
desse trabalho.
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Outro grande aprendizado foi a importância em se atualizar constantemente,
principalmente, no que tange às tecnologias e às transformações na sociedade. Por
se tratar de uma pesquisa que tinha como objeto o webjornalismo, tive que buscar
alternativas de buscas na Internet e métodos para entender como funciona a
pesquisa online. Em alguns momentos, tive dificuldades em encontrar materiais
publicados no período escolhido para a análise. E foi a partir disso, que busquei
informações com pessoas que entendessem de pesquisas na web, para alcançar o
material necessário e a análise qualitativa com banco de dados. Com isso, consigo
reafirmar a importância da atualização constante como acadêmica, principalmente,
se tratando de uma pesquisa que analisa um meio de constantes transformações
como a Internet.
A partir desse trabalho, e de tudo que aprendi durante o processo, acredito
que essa pesquisa terá grande valia à comunidade acadêmica e à sociedade.
Destaco, ainda, que será de muito valor que acadêmicos e profissionais das áreas
de comunicação, tecnologias e antropologia e sociologia estudem ainda mais as
questões abordadas nessa pesquisa, já que são temas que envolvem diretamente a
sociedade, suas transformações, as relações entre comunidades e grupos e, ainda,
trazem à tona como a tecnologia vem mudando alguns conceitos e a vida
contemporânea como um todo.
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