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2009 Universidade de Coimbra - UNIV-FAC-AUTOR Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Análise das qualidades psicométricas da escala RSE TITULO DISSERT UC/FPCE Sandra Ribeiro da Cunha (e-mail: [email protected]) - UNIV- FAC-AUTOR Dissertação de Mestrado em Psicologia das Organizações e do Trabalho sob a orientação da Professora Doutora Teresa Manuela Marques Santos Dias Rebelo – U

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2009

Universidade de Coimbra - UNIV-FAC-AUTOR

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

Análise das qualidades psicométricas da escala RSE TITULO DISSERT

UC

/FP

CE

Sandra Ribeiro da Cunha (e-mail: [email protected]) - UNIV-FAC-AUTOR

Dissertação de Mestrado em Psicologia das Organizações e do Trabalho sob a orientação da Professora Doutora Teresa Manuela Marques Santos Dias Rebelo – U

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Análise das Qualidades Psicométricas da Escala RSE

Resumo O presente estudo, de tipo instrumental, tem por base a literatura em

torno da temática da Responsabilidade Social das Empresas (RSE) e pretende contribuir para a clarificação das qualidades psicométricas da escala RSE, desenvolvida por Inverno e Rebelo (2007). Neste sentido, foram conduzidas duas análises distintas. Numa primeira fase foi levada a cabo uma análise factorial confirmatória, com base no modelo que resultou da análise exploratória anterior (Inverno, Rebelo & Quijano, 2008). Foi utilizada uma amostra de 491 indivíduos, provenientes de 16 empresas do sector cerâmico português. Os resultados indicaram a existência de problemas no ajustamento do modelo, nomeadamente em termos de validade de constructo. Perante a necessidade de desenvolver novos estudos para melhor analisar as qualidades psicométricas da escala RSE, procedemos a uma nova análise factorial exploratória, recorrendo a uma amostra de 475 indivíduos de 27 empresas do mesmo sector de actividade da amostra anterior. Os resultados obtidos revelaram uma estrutura factorial com quatro dimensões, distinta da estrutura bidimensional anteriormente obtida. A análise das implicações deste estudo aponta no sentido da necessidade de uma possível reformulação do instrumento.

Palavras chave: Responsabilidade Social das Empresas, Escala RSE, Qualidades psicométricas.

Analysis of the Psychometric Qualities of RSE Scale

Abstract This instrumental study is based on the literature on Corporate Social

Responsibility (CSR) and intends to contribute to clarifying the psychometric qualities of the RSE Scale, developed by Inverno and Rebelo (2007). In this way, two separate analyses were conducted. In the first phase a confirmatory factor analysis was carried out, based on the model that resulted from the previous exploratory analysis (Inverno, Rebelo & Quijano, 2008). The sample used has 491 individuals from 16 Portuguese ceramic companies. The results indicated the existence of problems in the model fit, particularly in terms of construct validity. With the need for further studies to better analyze the psychometric qualities of RSE Scale we conducted a new exploratory factor analysis, using a sample of 475 individuals from 27 companies in the same sector of activity of the previous sample. The results indicate a factor structure with four dimensions, distinct from the previously two-dimensional structure. The analysis of the implications of this study points towards the need for a possible revision of the instrument.

Key Words: Corporate Social Responsibility, RSE Scale, Psychometric qualities.

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AgradecimentosTITULO DISSERT

A primeira palavra de agradecimento é dirigida à Professora Teresa Rebelo, por todo o apoio e disponibilidade, pela excelente orientação, por todas as sugestões e reflexões, e pela paciência com que me soube encaminhar ao longo de todo este percurso. Quero agradecer em especial à minha família, aos meus pais e à minha irmã, por todo o apoio, preocupação e paciência. Aos meus amigos, por tudo o que partilhámos e pelo apoio nesta fase importante. Ao Luís, pelo incentivo, pela troca de opiniões e reflexões, que em muito contribuíram para este resultado final.

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ÍndiceSSERT

Introdução 1 I - Enquadramento Conceptual

Responsabilidade Social das empresas: resenha histórica

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Responsabilidade Social das Empresas: a (in)definição do conceito

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Carroll e o modelo socioeconómico da RSE 7 O equilíbrio de forças: a RSE e a teoria dos stakeholders 8 O Livro Verde: a RSE no contexto europeu 11 Qualidades psicométricas de uma escala 12 Validade 12 Fiabilidade 14

II – Objectivos 18 III – Metodologia 19

Tipo de estudo 19 Amostras 20 Instrumento 21 Construção e primeiro estudo de validação da escala 21 Recolha de dados 22

IV – Resultados 23 Análise factorial confirmatória 23 Análise factorial exploratória 28

V – Discussão 32 VI – Conclusões 36 Bibliografia 37 Anexos

Anexo I – Escala RSE Anexo II – Informação complementar relativa à

análise factorial confirmatória da escala RSE

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Análise das qualidades psicométricas da escala RSE Sandra Ribeiro da Cunha (e-mail:[email protected]) 2009

Introdução

A globalização da economia mundial trouxe oportunidades sem

precedentes para as nossas organizações, desde supermercados e empresas de bens de consumo, que viram as suas áreas de influência largamente expandidas para os países em desenvolvimento, até multinacionais, em particular companhias petrolíferas e mineiras, que viram permitido o acesso a áreas anteriormente impenetráveis por legislação ou barreiras ideológicas e políticas. Não obstante, este fenómeno trouxe consigo também o “reverso da medalha”, um mundo de novas inseguranças e de riscos sociais e ambientais para os quais as empresas não se encontravam preparadas. À medida que a consciencialização pública, em torno dos malefícios que podem decorrer das práticas organizacionais para o ambiente físico e social aumentava, e se multiplicavam também os exemplos de poluição ambiental ou violação dos direitos humanos que prejudicavam claramente a reputação de determinadas empresas, o assunto da responsabilidade das organizações sobre a totalidade dos seus impactos tornou-se uma questão do interesse público. As empresas encontram-se actualmente sob escrutínio como nunca antes havia acontecido. A comunidade em que as organizações se encontram inseridas afecta cada vez mais a natureza e o nível de práticas socialmente responsáveis em que as empresas necessitam de ser ver envolvidas (Marquis, Glynn & Davis, 2007).

Poucos tópicos receberam tanta atenção ultimamente no meio empresarial como a Responsabilidade Social das Empresas (RSE). A RSE encontra-se assim no centro da discussão empresarial e académica (Carroll, 1979; Wartick & Cochran, 1985), e no topo das prioridades para as organizações nos anos vindouros, o que justifica a elaboração de estudos que versem sobre esta temática.

A escassez de instrumentos válidos, para aplicação no domínio da Responsabilidade Social das Empresas, aumenta a pertinência de um estudo que procura analisar as qualidades psicométricas de uma escala construída com a finalidade de avaliar as práticas de RSE.

A presente investigação procura assim, aumentar os conhecimentos em torno da escala RSE. Num primeiro momento procederemos a uma revisão de literatura, relativa à temática da RSE, clarificando igualmente alguns conceitos pertinentes e relativos às qualidades psicométricas de um instrumento. Passaremos depois à explicitação dos objectivos do estudo, seguindo-se a caracterização das amostras, do instrumento, e uma breve descrição de como foi elaborada e analisada previamente a escala RSE. Seguidamente serão apresentados os resultados das análises factoriais confirmatória e exploratória, efectuadas para analisar as qualidades psicométricas da escala RSE. A discussão dos resultados obtidos e a síntese das principais conclusões do estudo encontram-se no final do presente estudo e procuram lançar algumas indicações, no sentido da prossecução da investigação em torno deste instrumento.

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I – Enquadramento conceptual

A Responsabilidade Social das Empresas: resenha histórica

A discussão em torno do conceito de Responsabilidade Social das Empresas é um tema da actualidade, tendo-se assistido a um progressivo aumento do interesse organizacional, académico e científico nos últimos anos (Koh & Boo, 2001). Contudo, tem-se assistido a alguma especulação acerca da novidade efectiva do fenómeno de RSE. De facto, pode argumentar-se que esta não é uma discussão totalmente nova, na medida em que reflexões sobre esta surgem já no século XIX, embora pautadas pela moral, na sua extensão relativa ao negócio. Um dos autores que podemos destacar desta época é Andrew Carnegie, fundador da U. S. Steel e autor da obra “O evangelho da riqueza”, publicada em 1899. Carnegie defende que o papel da empresa passa também por aumentar a riqueza da sociedade, por meio de investimentos prudentes e uso cauteloso dos recursos sob a sua responsabilidade e estabelece dois princípios, o da caridade e o do zelo, ambos encarando a RSE de um ponto de vista paternalistas, como se os donos das empresas fossem pais dos empregados (Nishigawa, Gimenes, & Gimenes, 2007).

Não obstante, a preocupação com a RSE, reflectida nas práticas organizacionais e na investigação académica desenvolve-se apenas a partir da segunda metade do século XX. De acordo com Carroll (1999), os créditos do início da discussão em torno da RSE cabem a Howard Bowen (1953), que colocou a questão de que responsabilidades se espera que o homem de negócios assuma para com a sociedade. A década de 50 fica assim marcada como o início da era moderna da Responsabilidade Social das Empresas.

Significativamente, é na década de sessenta que se torna evidente um aumento expressivo na tentativa de formalização do conceito de RSE. Neste período podemos destacar os contributos de autores como Davis (1967), que apresenta como justificações para a ênfase na RSE o facto de as diversas partes da sociedade moderna serem cada vez mais interdependentes, assim como o aparecimento do interesse, por parte das ciências sociais, nesta temática, com a produção de conhecimento sobre a forma como as organizações afectam as outras partes na sociedade, e o papel que cabe à RSE nessa equação. Ainda na década de sessenta, mas com uma visão antagónica relativamente a esta, encontramos o economista Milton Friedman, que defende a existência de uma, e apenas uma responsabilidade social das empresas, a de usar os seus recursos e aplicá-los em actividades lucrativas, desde que se confinem às regras do jogo, em competição livre e aberta, sem logro ou fraude (Santos, Santos, Pereira, & Silva, 2006).

Em 1970, Friedman (citado por Matten, 2006) publicou um artigo, sob o título “The social responsibility of business is to increase its profits”, e no qual protesta contra a noção de RSE. O autor argumenta que apenas o ser humano tem responsabilidade moral pelas suas acções, e as empresas não se enquadram nesta categoria. Mais ainda, é da responsabilidade dos gestores actuar unicamente de acordo com os interesses dos shareholders, ficando as

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questões e os problemas sociais no domínio de actuação do Governo e não dos gestores das empresas. Matten (2006) acrescenta que Friedman não questionava a validade destas questões, antes considerava que não constituem práticas de RSE quando levadas a cabo para fins de auto-interesse. Neste contexto, constituem apenas formas de maximizar os lucros, encobertas pela desculpa da RSE. A questão que se coloca é a do que se encontra na base das acções sociais: altruísmo ou lucro? Ironicamente, estes argumentos desfavoráveis acabaram por se converter numa das razões que encaminha as empresas no sentido da RSE. Em muitos casos, constitui-se como vantajoso para o próprio negócio demonstrar que a empresa tem práticas socialmente responsáveis, e ser percepcionada pela sociedade como socialmente responsável constitui-se actualmente como uma fonte de vantagem competitiva (Matten, 2006). A década de setenta ficou marcada pelo interesse crescente em saber lidar de modo eficaz com o lado humano das organizações, sendo que as definições de RSE também mereceram alguma atenção nesta fase. De entre as muitas que foram surgindo, podemos mencionar os trabalhos de Davis (1973), que definiu a RSE como a reflexão e resposta das organizações a questões que ultrapassam as vertentes económica, técnica e legal, considerando que a responsabilidade social começa precisamente onde a lei termina. Importa destacar, ainda nesta década, a definição e o modelo de RSE apresentado por Carroll (1979). A RSE é então definida, procurando abranger todas as obrigações que a empresa deverá ter para com a sociedade, como necessitando de incluir

The economic, legal, ethical, and discretionary categories of

business performance […] These four categories are not mutually

exclusive, nor are they intended to portray a continuum with

economic concerns on one end and social concerns on the other.

That is, they are neither cumulative nor additive (Carroll, 1979, p.

499).

Carroll (1979) procura explicar as razões que levam à ambiguidade

torno da definição de RSE, referindo que estas se prendem com a não consensualidade do próprio conceito. Com o intuito de contribuir para ultrapassar esta dificuldade, elabora e apresenta um modelo de RSE que compreende quatro tipos de responsabilidades.

A década de oitenta fica marcada por menos definições e mais aplicações e estudos empíricos, ao passo que na seguinte, o factor humano passa a ser considerado como o elemento determinante no desenvolvimento e condução da empresa. Wood (1991) refere mesmo que as empresas apenas contribuirão para a sociedade se forem eficientes, rentáveis e responsáveis, deixando bem patente a influência recíproca entre empresas e a sociedade.

Já na década de noventa, assistimos a evoluções no modelo de RSE proposto por Carroll. Em 1991, o autor apresenta-nos a pirâmide da RSE, incluindo igualmente os quatro tipos de responsabilidade sociais anteriormente referidos, mas desenvolvendo as relações entre estas.

A atenção tem-se voltado, nos últimos tempos, mais para a

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identificação da relação entre acções socialmente responsáveis e determinado tipo de vantagens competitivas (Shrivastava, 1995). Alguns autores sugerem que a adopção de acções socialmente responsáveis por parte das empresas contribui de forma positiva para a imagem da organização, o que por sua vez, se consubstancia em vantagem competitiva ao atrair mais e melhores recursos humanos (Fombrun & Shanley, 1990). Turban e Greening (1996), numa investigação levada a cabo com o intuito de estabelecer uma ligação entre CSP e atractividade empresarial, concluíram que diferentes níveis de investimento ao nível da CSP se encontram relacionados com a reputação das empresas e a sua atractividade como empregador, sugerindo que as preocupações das empresas com a responsabilidade social podem resultar em vantagem competitiva na atracção de candidatos. Os autores anteriormente citados referem que a existência de práticas socialmente responsáveis numa determinada organização dá indicações aos potenciais candidatos acerca das condições de trabalho na empresa. Este facto influi, de acordo com um segundo estudo, levado a cabo pelos mesmos autores (Greening & Turban, 2000), no tipo de escolhas que os candidatos fazem durante o processo de busca de emprego, privilegiando empresas socialmente mais responsáveis, em detrimento das que não têm um investimento significativo nesta área.

Mais recentemente, e com base nos estudos de Carroll, Lee (2008) traça a evolução nas teorias da RSE, argumentando que este conceito tem passado por uma progressiva racionalização, com duas grandes áreas de conceptualização nos últimos tempos. O autor refere que, actualmente, os investigadores começam a mudar o nível de análise da discussão em torno da RSE para o nível organizacional, deixando para trás décadas de discussão em torno dos efeitos a um nível mais macro, o da sociedade. Por outro lado, o foco das investigações também mudou de estudos orientados para a ética, para estudos que visam mais a performance em termos de RSE. No final da década de 90, começaram a tornar-se mais explícitas as relações entre a RSE e os resultados de mercado que advém da aplicação deste tipo de práticas (Hart, 1997; Orlitzky, Scmidt, & Rynes, 2003). Na primeira metade desta década, Marrewijk (2003) apresenta um estudo em que analisa o debate contemporâneo em torno da conceptualização de RSE e da sustentabilidade empresarial. O autor concluiu, com base em perspectivas históricas, análise filosófica, estudo do impacto da mudança de contextos e situações, e considerações práticas, que a busca por one solution fits all no que à RSE diz respeito, não se apresenta como adequado e deverá abandonar-se este caminho, no sentido da compreensão de que o aparecimento de diversas e cada vez mais específicas definições de RSE se encontra em harmonia com o nível de desenvolvimento e consciencialização das organizações relativamente a esta temática (Marrewijk, 2003).

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Responsabilidade Social das Empresas: a (in)definição do

conceito

Não obstante o enorme desenvolvimento que se fez sentir nos últimos tempos, relativamente à problemática da RSE, muitas são ainda as dificuldades, ambiguidades e limitações que esta temática comporta. Parece não haver confluência de opiniões relativamente aos progressos que se registaram quanto à RSE (De Bakker, Groenewegen, & Den Hond, 2005).

Detendo uma posição proeminente na literatura (Carroll, 1999; Cochran & Wood, 1984; McGuire, Sundgren, & Schneeweis, 1988; McWilliams & Siegel, 2001; Windsor, 2001), o termo RSE surge muitas vezes associado a outros termos. Autores como Carroll (1999) e Wood (1991) encetaram tentativas no sentido de sistematizar as diferentes terminologias que se encontram na literatura, associadas ao conceito de RSE (e.g. Corporate Social Performance [CSP], Corporate Financial Performance [CFP], Corporate Social Responsiveness e Corporate Social Action).

Os termos RSE e CSP dominam a literatura da área, e foram considerados no estudo de De Bakker et al. (2005) como conceitos centrais, constituindo-se a referida agregação de novos e mais termos como um indicador do interesse e desenvolvimento deste assunto (op cit.). CSP é um termo que aparece na literatura muito associado à RSE, tendo sido mesmo utilizado, diversas vezes, sem qualquer distinção (Wartick & Cochran, 1985), e que é encarado por alguns autores como incluindo as responsabilidades, políticas e acções de RSE (Wartick & Cochran, 1985; Wood, 1991). Como inicialmente descrito por Carroll (1979), a CSP pode ser vista como a integração de três dimensões (RSE, Responsividade Social das empresas e questões sociais). Wartick e Cochran (1985) fazem, desta forma a apologia das características integrativas da CSP, ressalvando que o modelo de CSP evolui a partir da discussão em torno do conceito de RSE. Os autores concluem que o modelo de CSP é válido para os estudos sociais e na área dos negócios e que se constitui como génese de um paradigma na área. Os três elementos integrados no modelo de CSP (Carroll, 1979; Wartick & Cochran, 1985) permitem a compreensão dos aspectos essenciais deste modelo, onde a RSE corresponde aos princípios orientadores do envolvimento da empresa com a sociedade (orientação filosófica), a Corporate Social Responsiveness diz respeito aos processos e à capacidade de a organização para responder de forma eficaz aos desafios da sociedade (orientação institucional) e a gestão das questões sociais visa a identificação, análise e desenvolvimento de políticas de CSP eficazes (orientação organizacional).

A performance financeira das empresas é algo que tem vindo a ser sistematicamente estudado, no âmbito da relação entre esta e a RSE (Campbell, 2007), sem contudo se ter atingido conclusões muito definitivas acerca da inter-relação dos dois conceitos (Barnett, 2007). McGuire et al. (1988) analisaram a relação entre as percepções de responsabilidade social da empresa e a sua performance financeira (CFP) e concluíram que mais importante do que a tentativa de avaliar a influência da RSE na posterior

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performance financeira, será avaliar a influência prévia da performance financeira nas práticas de RSE. Mais ainda, Margolis e Walsh (2003) acrescentam que, ao invés de continuarmos a insistir na procura de uma ligação entre a performance social e a performance financeira das organizações, deveríamos envidar os nossos esforços no sentido de compreender as condições sob as quais uma organização pode efectivamente beneficiar a sociedade. Os autores citados analisaram 127 estudos realizados ao longo de 30 anos de investigação e encontraram resultados muitas vezes contraditórios, concluindo que não é possível afirmar a existência de uma relação entre a performance social e financeira.

Concretamente no que à sua definição diz respeito, o conceito de RSE tem sido definido para além do círculo académico, no seio de várias organizações, desde organizações internacionais como a OIT (Organização Internacional do Trabalho), OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) e até organizações de empresas.

Embora seja claro que não existe ainda uma definição universalmente válida do termo, as principais características da RSE reúnem consenso. A RSE pode então ser caracterizada como possuindo carácter voluntário, pressupondo como requisito mínimo a conformidade com a legislação aplicável, fazendo parte do desenvolvimento sustentável, estando directamente relacionada com a forma como a empresa é gerida, e possuindo um carácter global. O reconhecimento e diálogo com as diversas partes interessadas (stakeholders) são também características marcantes da RSE na actualidade (Comissão das Comunidades Europeias [CCE], 2001; OCDE, 2003).

A falta de consenso em torno da melhor forma de balizar e definir o conceito de RSE tem contribuído para a falta de clareza e consequente desacreditação que pairam sobre o mesmo. Dahlsrud (2006) levou a cabo um estudo em que analisou 37 definições de RSE, apresentadas entre 1980 e 2003. O autor concluiu que as definições de RSE referem consistentemente cinco dimensões de RSE: ambiental, social, económica, stakeholder e voluntariado. Embora as frases sejam diferentes, as definições são substancialmente semelhantes e congruentes. Esta conclusão aponta no sentido de minorar a problemática da necessidade de uma definição universal visto a diferença entre as muitas definições de que dispomos se apresentar aqui apenas como residual, confluindo todas para a inclusão das mesmas dimensões.

Desta forma, consideramos que o desafio actual passa, não tanto pela definição de RSE, mas antes pela compreensão de como é este fenómeno construído socialmente, num determinado contexto, e como são desenvolvidas as estratégias organizacionais em torno do mesmo. Contribuem para este fim, modelos de RSE como o socioeconómico, a teoria dos stakeholders, e o Livro Verde da Comissão Europeia.

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Carroll e o modelo socioeconómico da RSE

A perspectiva socioeconómica da RSE apresenta-se como a “ponte” entre o modelo de orientação estritamente económica, intimamente associado ao Prémio Nobel da Economia, Friedman (citado por Matten, 2006), que postula ser a obtenção de lucro para os shareholders, a única função que respeita à gestão das organizações, e uma orientação mais social, que defende a interligação entre os negócios e a sociedade (Wood, 1991).

Os estudos de Carroll, enquadrando-se nesta abordagem, revestem-se de enorme importância no seio da investigação em torno da RSE. Este facto pode mesmo ser confirmado num estudo bibliométrico levado a cabo por De Bakker et al. (2005), no qual Carroll surge como o autor com maior número de artigos relativos a esta temática. Já em 1979, Carroll refere-se à RSE dizendo que “the social responsibility of business encompasses the economic, legal, ethical, and discretionary expectations that society has of organizations at a given point in time” (p.500). De acordo com a definição encontramos: as responsabilidades económicas, que se prendem com a produção de bens e serviços para a sociedade e a obtenção de lucro; as responsabilidades legais, relacionadas com o respeito e cumprimento de leis; as responsabilidades éticas, relacionadas com o respeito pelas normas, não necessariamente contempladas nas leis, mas esperadas pela sociedade e as responsabilidades discricionárias, que correspondem àquelas que possuem carácter voluntário e beneficiam a sociedade, encontrando-se para além do que é requerido pela lei ou esperado no sentido ético.

Não obstante, o modelo foi alvo de aperfeiçoamentos e alterações, por parte do autor, nos anos que se seguiram. Em 1991, e de acordo com o que já referimos, Carroll reorganiza os quatro tipos de responsabilidade social e apresenta a pirâmide da RSE.

It portrays the four components of CSR, beginning with the Basic

building block notion that economic performance undergirds all

else. At the same time, business is expected to obey the law

because the law is society’s codification of acceptable and

unacceptable behavior. Next is business’s responsibility to be

ethical. At its most fundamental level, this is the obligation to do

what is right, just, and fair, and to avoid or minimize harm to

stakeholders (employees, consumers, the environment, and

others). Finally, business is expected to be a good corporate

citizen. This is captured in the philanthropic responsibility,

wherein business is expected to contribute financial and human

resources to the community and to improve the quality of life

(Carroll, 1991, p.42).

Relativamente a este último tipo de responsabilidades, Windsor

(2001) refere que, enquanto as responsabilidades éticas são esperadas pela sociedade, a filantropia, que corresponde às responsabilidades discricionárias, por seu lado, é desejada pela mesma.

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Posteriormente à apresentação da pirâmide da RSE, Carroll menciona que as empresas não devem procurar responder às diferentes categorias de um modo sequencial, mas sim procurar responder a todas as categorias de um modo simultâneo, acrescentando ainda que a pirâmide proposta se constitui mais como uma descrição gráfica do que uma tentativa de adicionar um novo significado à definição assente em quatro dimensões, apresentada em trabalhos precedentes (Carroll, 1999).

O modelo da pirâmide viria ainda a ser substituído por uma abordagem de três domínios da RSE, apresentada num diagrama de Venn, com círculos (domínios) intersectados (Schwartz & Carroll, 2003). Este modelo apresenta como domínios da RSE, o Económico, o Legal e o Ético, e contrasta com o anterior modelo da pirâmide da RSE em dois grandes aspectos. Por um lado, o novo modelo reconhece a possibilidade clara de inter-relacões entre os domínios da RSE, e retira por completo a possibilidade de os tipos de responsabilidade serem interpretados de forma hierárquica e com diferentes graus de importância (Geva, 2008). O modelo dos círculos intersectados contrasta ainda com a pirâmide da RSE ao remeter as responsabilidades discricionárias para se incluírem nos domínios ético e/ou legal, reflectindo desta forma as diferentes motivações que podem estar por detrás deste tipo de responsabilidade (Schwartz & Carroll, 2003).

Carroll procurou constantemente uma aproximação das orientações económica e social, preocupando-se com a forma como os gestores lidam com estas ideias em termos de implementação da responsabilidade social nas empresas. O autor diz mesmo que a questão que persiste é a de “reconciling the firm’s economic orientation with its social orientation” (Carroll, 1991, p.40).

O equilíbrio de forças: A RSE e a teoria dos stakeholders

As organizações interagem de forma estreita e contínua com a sociedade, pelo que é natural que se desenvolvam interesses partilhados e interdependência entre a organização e outros grupos sociais. Quando isto acontece, emergem os stakeholders da organização. Na medida em que mantêm relações de elevada complexidade com muitos segmentos da sociedade, o sucesso das organizações pode ser afectado, quer negativa quer positivamente por estes. Equilibrar os interesses dos diversos stakeholders é uma das razões para que as empresas se envolvam em estratégias de RSE, e constitui um desafio diário e constante (Matten, 2006).

A RSE disponibiliza soluções para as empresas quando estas necessitam de equilibrar interesses distintos e encontrar soluções aceitáveis para todas as partes envolvidas nos problemas. Em estreita relação com este desafio pragmático encontra-se a teoria dos stakeholders, uma das principais “buzzwords” da RSE e um dos conceitos teóricos mais popular nas relações entre a empresa e a sociedade (Matten, 2006). A teoria dos stakeholders é provavelmente a teoria mais popular e com maior influência na área da RSE (Stark, 1993).

Numa época em que as estratégias de negócio mudam

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constantemente, influenciadas por forças como a competição global, o estabelecimento de novos acordos políticos, alterações ao nível dos valores públicos, e preocupações ambientais, os gestores enfrentam uma necessidade de equilibrar a busca de resultados económicos com as demandas das diferentes partes envolvidas com a organização.

A teoria dos stakeholders argumenta que o foco exclusivo na vertente económica da organização (teoria defendida por Friedman) ignora a complexidade daquilo com que a empresa tem de lidar, como são as ineficiências, as assimetrias de informação e os múltiplos problemas de incentivos. Desta forma, o papel da organização deve ser alargado de forma a incluir outros actores, internos e externos, para além dos seus shareholders (Donaldson & Preston, 1995). De acordo com estes autores (op cit.), a organização deve ser vista como uma constelação de interesses cooperativos e competitivos, com valores intrínsecos, e sem primazia de um tipo de interesses sobre os outros. As empresas interagem com a sociedade de diversas formas e as relações que estabelece variam com diferentes stakeholders.

O termo stakeholder surge na década de 60. Não obstante, a abordagem teórica foi desenvolvida e apresentada apenas nos anos 80, pela mão de Edward Freeman (1984, citado por Matten, 2006), que demonstrava insatisfação com a aplicabilidade dos modelos teóricos anteriores.

Embora existam diversas definições sobre quem ou o que constitui um stakeholder, Freeman (1984, citado por Clarkson, 1995) apresenta aquela que se tornou uma definição central deste conceito, e um marco importante da teoria, tendo sido amplamente citada e tornando-se o ponto de partida para uma visão mais alargada dos stakeholders. De acordo com Freeman (1984, citado por Margolis & Walsh, 2003), um stakeholder numa organização é, por definição, qualquer grupo ou individuo que pode afectar, ou é afectado pelas acções da organização na prossecução dos seus objectivos. A definição apresentada por Freeman (1984) pode, de acordo com Vos (2003), ser considerada como uma das mais abrangentes. Mitchell, Agle, e Wood (1997) acrescentam ainda que esta visão se baseia na realidade empírica de que as organizações podem de facto ser afectadas ou afectar, determinantemente, quase tudo e todos. Esta definição deixa claro que o conjunto dos stakeholders difere de organização para organização, e até mesmo dentro da mesma organização em diferentes situações, tarefas ou projectos (Matten, 2006).

O conceito de stakeholder personaliza assim as responsabilidades sociais ao delinear que pessoas ou grupos específicos deve a organização considerar na sua orientação para a RSE. O desafio da gestão passa por decidir quais merecem e recebem consideração no processo de tomada de decisão.

As organizações com estratégias de RSE deverão começar por colocar a questão de “Para com quem somos nós responsáveis?” (Vos, 2003). A resposta comum a esta interrogação passaria por algo como: “A organização é responsável pelos seus stakeholders.” O que, no seguimento, nos leva à importância da identificação dos stakeholders na gestão da

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estratégia de RSE. De certa forma, a gestão da RSE tornou-se gestão de stakeholders (Donaldson & Preston, 1995). Podemos, de acordo com Lawrence e Weber (2008, citado por Zu, 2009), distinguir dois grandes grupos de stakeholders: Market Stakeholders e Non-Market Stakeholders. Os primeiros, também designados de stakeholders primários, são aqueles que se encontram envolvidos directamente em transacções económicas com a organização, ao passo que os últimos são constituídos por pessoas e grupos que, embora não directamente envolvidos em trocas económicas, são ainda assim afectados ou afectam as acções da empresa. A empresa situa-se, desta forma, no centro de uma série de relações bidireccionais de interdependência.

Para Freeman (1984, citado por Matten, 2006), esta visão mais alargada da responsabilidade para com múltiplos stakeholders, acrescenta também um novo papel para os gestores. Deixando de ser simples agentes dos shareholders, os gestores passam a ter em conta os direitos e os interesses de todos os stakeholders legítimos da organização. Ao mesmo tempo que continuam a ter a responsabilidade de zelar pelos interesses dos shareholders, passam a necessitar da capacidade de equilibrar essa responsabilidade com os interesses, por vezes antagónicos, de todos os outros stakeholders, no sentido da sobrevivência da organização a longo prazo.

A RSE é definida, no seio da teoria dos stakeholders, como a obrigação ou dever de uma organização para com um sistema específico de stakeholders. Na definição de RSE importa ter em conta que a organização é vista como uma entidade responsável pelas suas actividades, sendo esta perspectiva apenas possível quando existe actividade humana (Wempe, 1998, citado por Vos, 2003). Esta maior especificação que a teoria dos stakeholders traz para a definição de RSE leva a uma maior utilidade da teoria, o que por sua vez conduz a uma recolha e tratamento de dados mais facilitada (Clarkson, 1995). Um estudo longitudinal levado a cabo por Clarkson (1995) indica que as empresas se relacionam com stakeholders e não com a sociedade em geral, e que a RSE deve distinguir as necessidades dos stakeholders e as questões sociais: os gestores podem lidar com as necessidades dos stakeholders, mas não com políticas sociais no abstracto.

A tentativa de adaptar a RSE ao campo teórico dos stakeholders levou os investigadores a necessitarem de especificar a RSE de forma mais clara e de acordo com as relações particulares da organização com cada stakeholder. Ironicamente, a especificação da RSE na relação com cada stakeholder resultou num alargamento da abrangência e significado da RSE (Clarkson, 1995).

Com a criação de cada vez mais categorias de RSE, tais como a responsabilidade ambiental, a diversidade, e práticas transparentes, o significado de RSE foi expandido para incluir novas categorias, bem como novas relações com stakeholders. Este alargamento do domínio da RSE implica uma maior abrangência nos instrumentos de medida que são criados para avaliar as práticas de RSE.

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O Livro Verde: a RSE no contexto europeu

O modelo que se encontra na base da elaboração da escala de RSE, que pretendemos avaliar no presente estudo, foi apresentado em 2001 pela Comissão Europeia, no Livro Verde intitulado Promover um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas. Como poderemos justificar o interesse, por parte da União Europeia, na responsabilidade social das empresas e o esforço por promover este tipo de práticas?

O primeiro apelo no sentido da responsabilidade social no meio empresarial surge em Março de 2000, no Conselho Europeu de Lisboa, onde foi enfatizada a necessidade de melhores práticas de organização do trabalho, igualdade de oportunidades, inclusão social, aprendizagem ao longo da vida e desenvolvimento sustentável.

O Livro Verde da Comissão surge, um ano depois, no sentido de contribuir para atingir o objectivo estratégico que ficou definido no Conselho Europeu de Lisboa. A Comissão alerta para a importância das práticas de RSE, referindo que, desta forma, as empresas estão a investir no seu futuro, e podem, com este compromisso voluntário, contribuir para o aumento da sua rendibilidade. A pertinência da temática pode igualmente ser justificada pelo elevado número de empresas europeias que desenvolvem estratégias e práticas de RSE como reacção a diversas pressões de natureza social, ambiental e económica, considerando a responsabilidade social como um investimento, que possibilita, a longo prazo, uma diminuição da incerteza e dos riscos a ela associados.

O propósito fundamental da elaboração do Livro Verde prende-se com o desenvolvimento de um quadro europeu comum, que permita o aumento da qualidade e da coerência nas práticas de RSE. A Comissão procura igualmente incentivar práticas inovadoras, aumentar a transparência, assim como a fiabilidade da avaliação e da validação das mesmas.

Ao procurar promover um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas, a Comissão Europeia destaca a importância da tríade dos desempenhos económico, social e ambiental – o tripple bottom line – que devem ser encarados como interdependentes e funcionando de forma integrada no sentido de um desenvolvimento sustentável. Desta forma e

Confrontadas com os desafios de um meio em mutação no âmbito

da globalização e, em particular, do mercado interno, as próprias

empresas vão também tomando consciência de que a sua

responsabilidade social é passível de se revestir de um valor

económico directo. Embora a sua obrigação primeira seja a

obtenção de lucros, as empresas podem, ao mesmo tempo,

contribuir para o cumprimento de objectivos sociais e ambientais

mediante a integração da responsabilidade social, enquanto

investimento estratégico, no núcleo da sua estratégia empresarial,

nos seus instrumentos de gestão e nas suas operações (CCE, 2001,

p.4).

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Análise das qualidades psicométricas da escala RSE Sandra Ribeiro da Cunha (e-mail:[email protected]) 2009

No respeitante à conceptualização da RSE encontramos que “a maioria das definições descreve a responsabilidade social das empresas como a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das empresas nas suas operações e na sua interacção com outras partes interessadas” (CCE, 2001, p.7). A Comissão Europeia sublinha que a RSE não se reduz à aceitação e cumprimento de todas as normas e obrigações legais, implicando algo mais, um maior investimento em capital humano, no ambiente e nas relações com outras partes interessadas e comunidades locais. A experiência adquirida com este investimento pode aumentar a competitividade das organizações, possibilitando uma melhor gestão da mudança e a conciliação entre o desenvolvimento social e o reforço da competitividade (CCE, 2001).

Mais especificamente, no que diz respeito ao modelo de RSE apresentado no Livro Verde, que se constituiu como base teórica para a elaboração da escala que pretendemos avaliar no presente estudo, duas grandes dimensões de RSE são apresentadas: a dimensão interna e a dimensão externa.

A dimensão interna diz respeito ao nível da empresa, encontra-se mais voltada para os processos organizacionais e para o stakeholder colaboradores. Neste âmbito, encontramos quatro subdimensões: Gestão de recursos humanos; saúde e segurança no trabalho; adaptação à mudança; gestão do impacto ambiental e dos recursos naturais (CCE, 2001; Rego, Cunha, Costa, Gonçalves & Cabral-Cardoso, 2006).

Por sua vez, a dimensão externa ultrapassa a esfera da própria empresa e estende-se à comunidade local, envolvendo um vasto leque de partes interessadas. Embora mais direccionada para a envolvente organizacional, esta dimensão da RSE encontra-se em continuidade com os seus processos internos, e inclui as seguintes subdimensões: Comunidades locais; parceiros comerciais; fornecedores e consumidores; direitos humanos; preocupações ambientais globais (CCE, 2001; Rego et al., 2006).

Qualidades psicométricas de uma escala

No âmbito da investigação a que nos propomos importa aprofundar alguns conceitos fundamentais no que concerne à análise das qualidades psicométricas de uma escala.

È geralmente aceite que quando um conceito foi definido operacionalmente, e foi proposta uma forma de o medir, esse instrumento deve ser fiel e válido (Bryman & Cramer, 2003). Para este efeito desenvolveremos os conceitos de validade e fiabilidade, que serão avaliados no presente estudo, e relativamente à escala RSE.

Validade

De acordo com Cronbach (1970), embora um teste se demonstre útil para a tomada de uma decisão hipotética, pode não ter valor para a tomada de outra decisão. Neste sentido a questão inicial deverá ser “quão valido é

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este teste para a decisão que pretendo tomar?”ou melhor, “para que decisões é este teste válido?”. Concretamente para a escala RSE, a questão que teremos de nos colocar passa por saber se a escala mede realmente a Responsabilidade Social das Empresas e não outro conceito qualquer.

O termo “validade” é referente à utilidade científica de um instrumento de medida, em termos de até que ponto mede aquilo que se propõe medir (Nunnally & Bernstein, 1994).

A validação de um instrumento de medida requer sempre investigação empírica, pelo que não há forma de provar a validade com base apenas na dedução de uma teoria ou na prova matemática (Nunnally & Bernstein, 1994). Os autores acrescentam ainda que a validade é uma questão de grau, mais do que uma propriedade de tipo “tudo ou nada”, e a validação constitui-se como um processo contínuo. A maioria das medidas nas ciências sociais têm de ser constantemente avaliadas e reavaliadas para observar ser estão a comportar-se conforme o esperado. Novas evidências podem sugerir modificações de uma medida pré-existente ou até mesmo o desenvolvimento de uma abordagem alternativa (Nunnally & Bernstein, 1994).

Existem vários tipos de estudos de validade. A classificação predominante na literatura aponta para três diferentes tipos de validade das medidas: a validade de conteúdo, a validade referenciada por um critério e a validade de constructo ou teórica.

Relativamente à validade de conteúdo, esta diz respeito ao grau em que a medida aparenta reflectir o conteúdo do conceito em questão (Bryman & Cramer, 2003). O conteúdo dos itens deverá, portanto, referir-se claramente à característica que se pretende avaliar (Moreira, 2004). De acordo com Nunnally e Bernstein (1994), para garantir a validade de conteúdo, é necessário dispor de uma colecção de itens representativa e métodos de construção de testes “sensíveis”. Moreira (2004) sinaliza dois tipos de problemas que podem surgir, no que à validade de conteúdo diz respeito. O primeiro deles alerta para o facto de a medida poder não contemplar um ou mais aspectos do conceito a medir. Por outro lado, existe igualmente a possibilidade de a escala reflectir aspectos de varáveis ou conceitos diversos daquele que é suposto a escala esta realmente a medir. Este tipo de validade é geralmente analisado por um grupo de peritos, que avaliam se os itens da escala de medida se referem realmente ao que o nome da escala indica (Hoyle, Harris, & Judd, 2002).

Por seu turno, a validade referenciada por um critério tem como objectivo encontrar índices alternativos da variável a medir, e analisar a associação estatística entre os resultados da escala e os valores desse índice (Moreira, 2004). Este tipo de validade pode ser aferido mediante o recurso a instrumentos já existentes, e com dados que corroborem a validade dos mesmos. No caso de se encontrar uma elevada correlação entre as escalas pré-existentes e a escala que se encontra a ser aferida, poderá então afirmar-se a existência de validade referenciada por um critério (Moreira, 2004).

Para analisar a validade referenciada por um critério podemos recorrer à análise da validade preditiva (validade que essa medida tem para

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predizer valores noutra variável) sendo comparados os resultados da escala com os obtidos num momento distinto, no índice alternativo, e da validade concorrente, que difere da validade preditiva na medida em que os valores da variável a predizer são recolhidos aproximadamente ao mesmo tempo que os valores do outro índice (Hill & Hill, 2005).

Para levar a cabo uma boa investigação, uma das primeiras coisas necessárias é medir com sucesso os constructos teóricos de interesse (Hoyle et al., 2002). A validade de constructo é relativa à medição de atributos psicológicos e analisa em que medida são os constructos teóricos de interesse operacionalizados com sucesso na investigação (Anastasi & Urbina, 1997; Hoyle et al., 2002; Nunnally & Bernstein, 1994). Uma variável com elevada validade de constructo é uma que mede maioritariamente o constructo de interesse, com uma contribuição mínima de outros constructos e do erro aleatório (Hoyle et al., 2002). Desta forma, uma escala apresenta elevada validade de constructo quando todos os constructos que esta pretende aferir são claramente capturados pelos itens que a compõem (Hoyle et al., 2002). A validação do constructo requer acumulação gradual de informações provenientes de diversas fontes, pelo que qualquer dado que aumente o conhecimento em torno do desenvolvimento e manifestações deste tipo de validade representa uma mais-valia para a sua adequada validação1 (Anastasi & Urbina, 1997). Se um estudo tem uma elevada validade de constructo, todos os constructos nas hipóteses que motivaram a investigação, foram medidos com sucesso. Para Cronbach (1970), sempre que um investigador deseja saber o que é que uma pontuação mede psicologicamente ou quais as causas para uma pessoa obter determinada pontuação num teste, ele está a querer saber quais os conceitos que podem ser apropriadamente usados para interpretar a performance no teste. Este tipo de conceito teórico é denominado de constructo e o processo de validar tal interpretação é denominado validade de constructo. Uma variável, quando abstracta e latente, é denominada de constructo. Esta variável é algo que não existe na realidade, como uma dimensão observável do comportamento (Nunnally & Bernstein, 1994).

Nunnally e Bernstein (1994) acrescentam que, e não obstante serem normalmente descritos em separado, os diferentes tipos de validade tendem a complementar-se na prática. No presente estudo, e através de análises à dimensionalidade da escala, procederemos a um aprofundamento em torno das validades de conteúdo e de constructo.

1 Relativamente ao tipo de técnicas que contribuem para a identificação e validação dos constructos, Anastasi e Urbina (1997) referem a Análise Factorial como um conjunto de técnicas especialmente relevante para os procedimentos de validação de constructo.

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Fiabilidade2

A validade, enquanto análise do grau em que uma medida reflecte

apenas o constructo pretendido, sem contaminação por parte de outros constructos, requer fiabilidade como pré-requisito (Hoyle et al., 2002). Uma medida que não apresenta fiabilidade não pode ter nenhum tipo de validade. Não obstante, uma medida pode ser absolutamente fiável e continuar a não ter qualquer tipo de validade. Só quando uma medida é simultaneamente fiável e válida, é que os seus resultados podem ser utilizados com confiança em investigações (Hoyle et al., 2002).

A análise da fiabilidade permite identificar quanta confiança podemos ter numa medição (Cronbach, 1970). Ao analisar a fiabilidade de uma escala, avaliamos as suas propriedades métricas enquanto instrumento de medida. Podemos afirmar que uma medida é fiável, quando passível de ser aplicada repetidas vezes, obtendo sempre medidas idênticas (Nunnally & Bernstein, 1994). No fundo refere-se à garantia que podemos afirmar que se trata de uma medida “exacta” (Hoyle et al., 2002).

As estatísticas de fiabilidade assumem que os itens que compõem a escala se combinam de forma aditiva, sendo a pontuação global um resultado da soma das pontuações obtidas em cada um dos itens. Estes procedimentos assumem ainda que, para além de medir o mesmo constructo, todos os itens da escala se encontram codificados na positiva, ou seja, na mesma escala não podemos encontrar itens formulados na positiva, lado a lado com itens formulados na negativa. A escala RSE não contém itens formulados na negativa, mas, caso esta situação se verificasse, procederíamos à inversão das respectivas cotações, previamente ao cálculo da fiabilidade. Isto acontece porque todas as pontuações elevadas deverão apresentar o mesmo significado, em todos os itens. (Bryman & Cramer, 2003).

As escalas podem ser classificadas como unidimensionais ou multidimensionais, em função da quantidade de constructos, ou de dimensões de um mesmo constructo, que se propõem medir. As escalas unidimensionais medem apenas uma variável latente, ou uma dimensão dessa variável, ao passo que as escalas multidimensionais medem mais do que um constructo, ou mais do que uma dimensão de um só constructo, como é o caso da escala de RSE. No caso das escalas multidimensionais, a estimação da respectiva fiabilidade é realizada para cada uma das dimensões, com base nos itens que integram cada uma dessas mesmas dimensões (Bryman & Cramer, 2003).

A influência aleatória que causa diferenças de medida na mesma variável é uma fonte de erro de medida3. A teoria clássica do erro postula que o resultado de uma qualquer medição se encontra determinado por dois

2 Este conceito tem sido alvo de diversas denominações, todas correspondendo ao termo inglês reliability. Para além de fiabilidade, o termo por nós adoptado no presente estudo, encontramos na literatura termos como fidelidade, precisão, fidedignidade, entre outros. 3 Tal como para o termo fiabilidade, também o termo erro de medida apresenta diversas formas de denominação na literatura da especialidade, de entre as quais, erro, erro padrão da medida, erro aleatório e erro de medição.

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factores: o resultado verdadeiro e o erro de medida (Moreira, 2004). Através da análise da fiabilidade é efectuado o cálculo do erro de medida de um resultado individual. A partir deste cálculo é possível predizer o intervalo de variação dos desempenhos individuais em função de factores aleatórios presentes no momento da avaliação e que podem ser atribuíveis, quer ao sujeito, quer às condições em que a aplicação do instrumento é realizada (Anastasi & Urbina, 1997).

Na qualidade de instrumento de medida, uma escala deve ser avaliada quanto à sua fiabilidade, isto é, importa saber acerca da sua capacidade de medir de forma consistente, precisa e isenta de erro a característica que se pretende avaliar (Anastasi & Urbina, 1997). A fiabilidade de uma escala comporta vários aspectos importantes. A escala revelar estabilidade ao nível da medida, sendo obtidas medidas similares com os mesmos sujeitos, quando avaliados em momentos diferentes, e espera-se ainda que os itens de uma escala revelem consistência na medição do mesmo constructo, e que sejam homogéneos (Nunnally & Bernstein, 1994).

Podemos afirmar, desta forma, que o conceito de fiabilidade pressupõe dois aspectos diferentes, mas complementares. Por um lado, implica a existência de estabilidade temporal, que se traduz na já referida capacidade do instrumento possibilitar valores de medida idênticos quando aplicado mais do que uma vez aos mesmos sujeitos. Por outro lado, o conceito de fiabilidade requer consistência interna, isto é, homogeneidade dos itens, relativamente à convergência de todos os itens da escala face ao constructo sob análise, ou dos itens dentro de cada subdimensão da escala (Nunnally & Bernstein, 1994). Bryman e Cramer (2003) distinguem igualmente estes dois aspectos da fiabilidade, denominando-os de fiabilidade externa e interna, respectivamente. Para a avaliação da estabilidade temporal, o método mais utilizado é o teste-reteste. Relativamente à estimação da consistência interna, os métodos mais comummente utilizados são o cálculo do coeficiente Alpha de Cronbach (α de Cronbach) e o coeficiente de bipartição ou duas metades (split-half reliability) (Bryman & Cramer, 2003).

A análise da fiabilidade teste-reteste é efectuada com base na aplicação do mesmo teste em duas ocasiões distintas, ao mesmo grupo de sujeitos (Nunnally & Bernstein, 1994), e é a forma mais simples de obter duas medidas paralelas da mesma variável (Moreira, 2004). Este método foi proposto na década de sessenta, e permite obter estimativas da variância das pontuações verdadeiras e da variância do erro. Espera-se que a posição relativa do resultado de cada sujeito se mantenha estável entre as duas aplicações (Bryman & Cramer, 2003). A análise da fiabilidade teste-reteste é relativamente fácil de compreender e largamente aplicada (Hoyle et al., 2002), constituindo-se como um dos principais meios de avaliar a fiabilidade externa (Bryman & Cramer, 2003). Não obstante, esta é também uma estimação difícil de obter. Não é fácil ter acesso ao mesmo grupo de pessoas duas vezes para repetir a aplicação do instrumento, e questões como a recordação de respostas dadas e mudanças de atitude face ao conceito sob

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análise podem tornar a escolha do período de intervalo entre aplicações numa verdadeira complicação (Hoyle et al., 2002). De facto, e no caso de um intervalo entre aplicações relativamente curto, os sujeitos poderão recordar as respostas dadas na primeira aplicação da escala, e utilizar essa memória para transmitir uma imagem de consistência (Moreira, 2004). Por outro lado, um período demasiado alargado entre as duas aplicações poderá conduzir a mudanças efectivas ocorridas no decurso do intervalo e que resultam em diferenças verdadeiras nos resultados das duas aplicações (Moreira, 2004). Bryman e Cramer (2003) acrescentam ainda como limitação para a aplicação deste método a impossibilidade de saber se os acontecimentos que medeiam as duas aplicações podem justificar, pelo menos em parte, a discrepância entre os dois conjuntos de resultados.

Por seu lado, a consistência interna é particularmente importante em relação às escalas de múltiplos itens (nosso caso), uma vez que analisa se cada escala está a medir uma única ideia e se os itens que constituem a escala se correlacionam entre si conforme esperado (Bryman & Cramer, 2003). A consistência interna é analisada com base nas correlações médias dos itens de um teste (Nunnally & Bernstein, 1994).

A análise da consistência interna tem por base a ideia de que o erro de medida varia não apenas ao longo do tempo, mas também de questão para questão, dentro da mesma medida (Hoyle et al., 2002). Ou seja, um engano, a não compreensão de uma palavra, entre outras coisas, influencia determinados itens da escala, mas não outros. Se formos capazes de afirmar que todos os itens da escala medem o mesmo constructo, ou, no caso das escalas multidimensionais, que todos os itens de cada dimensão avaliam a mesma dimensão de um determinado constructo, a falta de correlação entre itens específicos constituirá a base para avaliar a influência do erro de medida. Se o erro tiver um efeito elevado, irá apresentar valores elevados em determinados itens e baixos noutros, reduzindo a correlação inter-item. Por outro lado, um efeito reduzido do erro de medida poderá significar que os itens medem a mesma característica, levando a que um resultado elevado num item seja acompanhado de um resultado elevado noutro, e estando, desta forma, os itens altamente correlacionados (Hoyle et al., 2002). Esta ideia tem sido utilizada de diferentes formas para desenvolver métodos de estimação da fiabilidade de uma medida, que não necessitassem do recurso a duas aplicações separadas ao mesmo grupo de sujeitos.

Tal como já referimos, existem vários procedimentos para avaliar a consistência interna, mas os dois mais amplamente referidos e utilizados são o coeficiente de bipartição e o α de Cronbach (Bryman & Cramer, 2003; Nunnally & Bernstein, 1994).

A análise do coeficiente de bipartição (split-half reliability) é feita dividindo os itens de uma escala em dois grupos (pares versus ímpares, primeira metade versus segunda metade, ao acaso, ou outra forma) e examinando a relação entre os valores dos sujeitos em cada uma das metades (Bryman & Cramer, 2003). A correlação entre as duas metades do teste providencia a base para a estimação do coeficiente de bipartição. A grande limitação deste método consiste no facto de a sua exactidão depender da

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forma como a divisão dos itens foi efectuada, o que introduz um grau de arbitrariedade não desejado no processo de estimação da fiabilidade (Moreira, 2004).

Uma análise alternativa, a do coeficiente α de Cronbach, não se encontra sujeita a este tipo de condicionantes e é, portanto, mais amplamente utilizada (Hoyle et al., 2002).

O coeficiente alfa representa uma boa análise da fiabilidade de uma escala (Nunnally & Bernstein, 1994) e deriva das correlações de cada item com cada um dos outros, não ficando portanto dependente de nenhum processo de divisão de itens em duas metades (Hoyle et al., 2002). O modelo proposto por Cronbach assume que os itens que compõem a escala são homogéneos e medem o mesmo constructo, ou a mesma dimensão do constructo, pelo que a sua consistência interna pode ser avaliada através da correlação que existe entre todos os seus itens. A escala goza de fidelidade quando a variabilidade das pontuações observadas pode ser atribuída às diferenças existentes entre os sujeitos (Nunnally & Bernstein, 1995).

O coeficiente α de Cronbach encontra-se dependente do número de itens na escala, ou em cada dimensão da mesma, e da razão entre a média das suas covariâncias e a respectiva variância média, e traduz, essencialmente, a média de todos os coeficientes de bipartição possíveis (Bryman & Cramer, 2003; Nunnally & Bernstein, 1994). Quando um conceito e a sua medida compreendem várias dimensões, calculam-se os coeficientes de fidelidade para cada uma das dimensões subjacentes em vez de calcular um só para a medida no seu todo (Bryman & Cramer, 2003). Um coeficiente alfa com um valor muito baixo significa que, ou o número de itens é demasiado baixo, ou os itens têm muito pouco em comum. Quando se verifica este tipo de situação, torna-se necessário reconsiderar a utilização desses itens, e ponderar a escolha de novos itens (Nunnally & Bernstein, 1994).

No presente estudo recorrer-se-á à análise da consistência interna e, dentro desta, ao cálculo do coeficiente α de Cronbach. Esta estimação da fiabilidade, através do cálculo do α de Cronbach é importante porque vai permitir analisar o grau de consistência interna das dimensões que compõem a escala de RSE, permitindo avaliar se os itens estão de facto a medir o mesmo, dentro de cada dimensão (Nunnally & Bernstein, 1994).

II - Objectivos

Tal como já mencionámos, este estudo tem como objectivo primordial

a análise das qualidades psicométricas da escala RSE, instrumento desenvolvido por Inverno e Rebelo em 2007. Através desta análise, procuraremos contribuir com sugestões para melhorar a escala.

A análise da dimensionalidade da escala, anteriormente realizada (Inverno, Rebelo, & Quijano, 2008) foi efectuada com base numa análise factorial exploratória. No presente estudo prosseguiremos com a validação da escala através de uma análise factorial confirmatória.

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Como detínhamos uma amostra de grandes dimensões para a realização da presente investigação, e porque sempre achámos que o modelo proveniente da anterior análise factorial exploratória era algo restritivo (facto que decorre do número reduzido de itens que compõem a versão final da escala presente no modelo), procedemos a uma divisão prévia da amostra, em duas subamostras distintas, recorrendo ao critério do índice temporal. Salvaguardámos, desta forma, a possibilidade de o modelo não se revelar ajustado, podendo continuar com o processo de validação, recorrendo à segunda subamostra e a uma nova análise factorial exploratória.

Desta forma, o primeiro objectivo da presente investigação será o de analisar a robustez e estabilidade do modelo de dois factores sugerido pelo estudo anterior.

A utilização da técnica da análise factorial confirmatória encontra-se legitimada, pois existe um estudo prévio de validação do modelo que iremos testar. Com o objectivo de sustentar empiricamente o modelo teórico que apresenta duas dimensões da Responsabilidade Social das Empresas e que está na base da construção da escala RSE, optaremos pela utilização de uma análise factorial confirmatória, visto ser esta a que melhor se adequa a situações em que se pretende testar a existência de uma ligação entre as variáveis observadas e os seus factores latentes, mediante uma análise da convergência dos dados obtidos com a estrutura que constitui a hipótese (Byrne, 1994). Desta forma, tentaremos avaliar em que medida os dados da amostra seleccionada para o efeito se adequam ao modelo hipotético a testar.

Na sequência desta análise, e no caso de não se verificar a adequação do modelo hipotético aos dados, o objectivo será proceder a uma nova análise exploratória, com vista à prossecução da validação da escala, proporcionando novas indicações para alterações e melhorias da mesma.

Assim, considerando a possibilidade de o modelo hipotético, emergente do estudo anterior de Inverno et al. (2008) não se adequar aos dados, e na sequência daquilo que é o pilar orientador do nosso estudo, a validação da escala RSE, direccionaremos os nosso objectivos no sentido de uma nova análise factorial exploratória, com a segunda subamostra, analisando a validade de constructo e a fiabilidade das dimensões emergentes da análise.

III – Metodologia

Tipo de estudo

O presente estudo insere-se no âmbito da investigação instrumental, uma vez que se centra concretamente na avaliação das qualidades psicométricas da escala RSE.

De acordo com a categorização de Drenth (1998), a investigação instrumental apresenta-se como um dos cinco tipos de investigação mais frequentemente desenvolvidos na área da Psicologia do Trabalho e das Organizações, e diz respeito à elaboração e validação de escalas e testes.

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Análise das qualidades psicométricas da escala RSE Sandra Ribeiro da Cunha (e-mail:[email protected]) 2009

Amostras

O presente estudo contará com duas amostras, ambas relativas a

empresas do sector cerâmico português. Numa primeira fase procedeu-se à análise da base de dados,

excluindo da amostra todos os sujeitos que apresentavam um índice de não-respostas superior a 10% no total dos 26 itens da escala. Foi depois utilizado o critério do índice temporal para proceder à divisão da amostra inicial nas duas amostras do presente estudo.

No que concerne à primeira amostra utilizada no presente estudo, esta compõe-se por um total de 491 respondentes, oriundos de 16 empresas do referido sector cerâmico. Relativamente ao tempo médio de trabalho na empresa este é de aproximadamente 5 anos e 75,4% dos colaboradores são efectivos. Ao analisar a distribuição dos trabalhadores pelas áreas podemos observar a seguinte distribuição: comercial (2,9%), administrativa (5,8%), financeira (2%), recursos humanos (2,7%), marketing (1,1%), qualidade (3,6%), produção (71,8%) e investigação e desenvolvimento (2,2%). De entre o total de inquiridos 55,2% pertencem ao sexo masculino e 44,8% ao feminino.

Relativamente ao tamanho da amostra para levar a cabo uma análise de equações estruturais, encontramos que os investigadores apontam para a necessidade de uma amostra maior do que o necessário para análises exploratórias, no sentido de manter o poder da análise e obter estabilidade na estimação de parâmetros e erros estandardizados (Schumacker & Lomax, 2004). Esta necessidade deve-se também, em parte, aos requisitos do programa e à multiplicidade de variáveis observáveis utilizadas para definir variáveis latentes (Schumacker & Lomax, 2004). Desta forma, e de acordo com Ullman (2007), o critério mínimo para testar um modelo de equações estruturais é de 10 sujeitos por parâmetro livre (10/1). A amostra com que iremos proceder a uma análise factorial confirmatória é constituída por 491 sujeitos para 21 parâmetros livres, o que se converte num rácio superior ao requerido (23,4/1).

A segunda amostra é constituída por 475 sujeitos, provenientes de 27 empresas. O tempo médio de trabalho na empresa é igualmente de cerca de 5 anos, sendo que 85% dos colaboradores se apresentam como efectivos. Quanto à forma como se distribuem pelas áreas temos: comercial (2,9%), administrativa (8,4%), financeira (1,2%), recursos humanos (1,9%), marketing (1,4%), qualidade (5,7%), produção (70,8%) e investigação e desenvolvimento (1,4%). Dos respondentes, 61,8% pertencem ao sexo masculino, ao passo que os restantes 38,2% são do sexo feminino.

Importa acrescentar que a amostra ultrapassa largamente o mínimo sugerido de 100 sujeitos para a utilização de análises factoriais, bem como o rácio de 5 para 1 (sujeitos / item) que é normalmente referido como mínimo aceitável (Maroco, 2007; Pestana & Gageiro, 2005).

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Análise das qualidades psicométricas da escala RSE Sandra Ribeiro da Cunha (e-mail:[email protected]) 2009

Instrumento

A escala RSE é uma escala auto-administrada, constituída por 26

itens, de tipo Likert e com cinco alternativas de resposta (1- Discordo Muito; 2-Discordo; 3-Não Concordo Nem Discordo; 4-Concordo; 5-Concordo Muito)4. Os colaboradores deverão situar as suas respostas relativamente às suas percepções das práticas de Responsabilidade Social da empresa onde trabalham, e as respostas são pontuadas de 1 a 5.

Construção e primeiro estudo de validação da escala

A construção e desenvolvimento da escala RSE foram levadas a cabo por Inverno e Rebelo (2007), seguindo-se uma análise das qualidades psicométricas da mesma, com recurso à técnica da análise factorial exploratória (Inverno et al., 2008). A construção da escala teve por base o modelo de RSE proposto e apresentado pela Comissão Europeia no Livro Verde de 2001, intitulado Promover um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas. Os itens da escala inicial foram elaborados com base nos mais preponderantes indicadores de RSE interna e externa apresentados no Livro Verde, resultando numa escala tipo Likert com 26 itens. Após a construção da escala, e antes da aplicação da mesma, foi levado a cabo um estudo piloto com cinco sujeitos de empresas não presentes na amostra trabalhada, que responderam à versão inicial da escala e participaram num focus group, onde se discutiu e avaliou a compreensão dos itens, forma como estes estavam elaborados e preponderância dos mesmos para o tema da RSE. Nesta fase, os itens foram também submetidos ao escrutínio de dois “especialistas”, que procederam à avaliação da validade de conteúdo, analisada em termos do grau de adequação dos itens ao constructo que se pretendia medir. Por sua vez, a acessibilidade e compreensão dos itens foi posteriormente avaliada num grupo de seis trabalhadores de uma empresa de cerâmica. Após a recolha dos dados numa amostra de 289 colaboradores de 13 empresas, também do sector cerâmico, seguiu-se um estudo de avaliação da dimensionalidade da escala, com base em análises factoriais exploratórias com extracção pelo método das componentes principais. A primeira solução, com extracção livre de factores, revelou uma estrutura não satisfatória com seis factores e interpretabilidade teórica reduzida. Após a depuração da escala, os autores apresentaram uma solução final (após rotação varimax) com uma estrutura de 10 itens, distribuídos por duas dimensões, como se verifica na tabela 1. As duas dimensões sugeridas pela solução factorial foram classificadas como Dimensão Interna (factor 1) e Dimensão Externa (factor 2), e foram consideradas pelos autores como equiparáveis às dimensões da Responsabilidade Social das Empresas propostas pela Comissão Europeia.

4 A escala RSE pode ser consultada no anexo I.

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Análise das qualidades psicométricas da escala RSE Sandra Ribeiro da Cunha (e-mail:[email protected]) 2009

Tabela 1. Escala RSE: Pesos factoriais e Comunalidades (h2) do estudo anterior.

Factores h2 Item

1 2

RS3. Os colaboradores costumam ser solicitados

para darem a sua opinião relativamente ao

funcionamento da empresa.

.770 .162 .618

RS2. Esta empresa emprega pessoas com

dificuldades de integração profissional.

.732 .044 .538

22. Existem serviços de apoio à família. .624 .046 .392

RS10. No caso de despedimentos, a empresa

prepara atempadamente os colaboradores para os

desafios da procura de um novo emprego.

.620 .295 .471

RS18. Os espaços desta empresa são agradáveis e

confortáveis.

.558 .316 .411

RS9. Os nossos produtos correspondem àquilo que

deles anunciamos e publicitamos.

-.018 .767 .588

RS5.A nossa empresa estabelece uma relação

transparente com os clientes.

.217 .759 .623

RS23. Pode-se observar em todos os espaços e

acções da empresa a preocupação que existe com a

preservação do meio ambiente.

.095 .685 .479

RS11. A empresa onde trabalho, não só respeita,

como também protege activamente o meio ambiente.

.379 .588 .489

RS12. Esta empresa esforça-se por contribuir para o

desenvolvimento da região.

.448 .579 .536

Fonte: Inverno, Rebelo e Quijano (2008).

A Dimensão Interna explica 26,14% da variância total e é constituída

por 5 itens, ao passo que a Dimensão Externa, constituída também por 5 itens, explica 25,32%. No que diz respeito à análise da fidelidade da escala, esta foi analisada através do cálculo dos coeficientes α de Cronbach, para cada dimensão. A Dimensão Interna apresenta um valor de α de Cronbach de .73 enquanto que a Dimensão Externa apresenta um valor de α de Cronbach de .76. Ambos os valores indicam um grau de consistência interna aceitável (Nunnally & Bernstein, 1994).

Recolha de dados

Os dados que serão utilizados para a presente investigação foram

previamente recolhidos no âmbito de um estudo realizado pelo NEFOG – Núcleo de Estudo e Formação em Organização e Gestão em parceria com o CTVC – Centro Tecnológico de Cerâmica e do Vidro, e incluíram 56 pequenas, médias e grandes empresas, a laborar na área da indústria da cerâmica. As duas amostras do presente estudo provêm desta recolha de dados e incluem um total de 43 empresas. Para a obtenção da amostra recorreu-se ao método do inquérito e à técnica de questionário.

A recolha dos dados teve lugar entre Maio e Junho de 2007. Depois

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Análise das qualidades psicométricas da escala RSE Sandra Ribeiro da Cunha (e-mail:[email protected]) 2009

de um prévio contacto com as empresas, os questionários foram enviados para cada uma delas. O processo de recolha de dados tinha início com a instrução do responsável de recursos humanos ou outro colaborador, indigitado pela administração da organização. Este elemento, munido de toda a informação necessária, procedia à distribuição e posterior recolha dos questionários por uma amostra representativa de colaboradores. Quando solicitado, a equipa de investigação deslocava-se às organizações para esclarecer dúvidas e proceder à passagem e recolha dos questionários.

IV - Resultados

Análise Factorial Confirmatória

O modelo estrutural do presente estudo foi elaborado com base nos

resultados da análise exploratória de Inverno et al. (2008). A elaboração do modelo implicou a construção de um diagrama, representativo das relações teóricas a testar, e que nos permite agora evoluir no sentido da sua especificação. Esta pressupõe a conversão do diagrama num conjunto de relações estruturais entre as variáveis observáveis ou indicadores (passíveis de observação directa) e as variáveis latentes (não passíveis de observação).

Como indicadores ou variáveis observáveis temos os itens, por exemplo, RS10 (“No caso de despedimentos, a empresa prepara atempadamente os colaboradores para os desafios da procura de um novo emprego”) para o Factor Dimensão Interna, e RS12 (“Esta empresa esforça-se por contribuir para o desenvolvimento da região”) para o Factor Dimensão Externa. Como variáveis latentes ou factores, consideraram-se a Dimensão Interna e a Dimensão Externa da RSE, tal como apresentadas no modelo de Inverno et al. (2008), e de acordo com o que foi proposto pela Comissão Europeia, no Livro Verde de 2001.

Os indicadores considerados no modelo hipotético por nós apresentado correspondem aos 10 itens da escala RSE, que resultaram da análise efectuada por Inverno et al. (2008), cotados de 1 a 5, numa escala tipo Likert.

O modelo de medida apresentado não contém indicadores a saturar nas duas dimensões, e os erros de medida são todos considerados como não-correlacionados. Os factores latentes Dimensão Interna e Dimensão Externa são considerados como correlacionando-se, de acordo com o que podemos depreender da teoria sobre RSE, correspondendo estas duas dimensões a características de um mesmo conceito, a Responsabilidade Social das Empresas (CCE, 2001).

Todos os modelos de análise factorial confirmatória (AFC) têm de preencher duas condições prévias necessárias para a identificação do modelo. A primeira delas condiciona o número de parâmetros livres do modelo a ser inferior ou igual ao número de observações. A segunda condição refere que todos os factores têm de ter uma escala (Byrne, 2001; Kline, 1998; Reinard, 2006).

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Análise das qualidades psicométricas da escala RSE Sandra Ribeiro da Cunha (e-mail:[email protected]) 2009

O número de observações no modelo corresponde ao número de variâncias e covariâncias entre as variáveis observadas e é contabilizada através da seguinte fórmula: v(v+1)/2, sendo que v corresponde ao número de variáveis observadas (Byrne, 2001; Kline, 1998). No modelo apresentado são portanto contabilizadas 55 observações [10(10+1)/2=55]. Relativamente ao número de parâmetros livres, este equivale ao número total de variâncias e covariâncias (i.e. associações não analisadas) dos factores e dos erros de medida a somar aos efeitos directos dos factores nos indicadores (factor loadings). No nosso modelo hipotético encontramos 21 parâmetros a estimar livremente, designadamente, uma associação não analisada entre os dois factores (Dimensão Interna e Dimensão Externa), 12 variâncias dos erros de medida e dos dois factores e 8 saturações factoriais (factor loadings) (RS2; RS22; RS10; RS18; RS5; RS23; RS11; RS12). Desta forma, podemos afirmar que o modelo hipotético apresentado preenche o primeiro requisito para a identificação do modelo, com um total de 34 graus de liberdade (df).

Como as variáveis latentes não são observáveis directamente, necessitam de uma escala de medida, para que o programa possa proceder ao cálculo da estimação dos seus efeitos (Byrne, 2001; Kline, 1998). Para tal, fixámos em 1.00 o loading de um indicador, em cada um dos dois factores, atribuindo desta forma a mesma métrica dos indicadores à variável latente (estandardização dos factores). As variáveis observadas (indicadores) utilizadas como marcador para a definição da métrica dos factores foram os itens RS3 para o factor 1 (dimensão interna) e RS9 para o factor dimensão externa, tendo sido fixadas de forma aleatória pelo programa.

Não obstante, o preenchimento destes dois requisitos não é condição suficiente para garantir a identificação do modelo (Kline, 1998). No caso de um modelo de AFC do género do aqui apresentado, ou seja, com um número de factores igual ou superior a dois, a existência de indicadores em número igual ou superior a dois, em cada factor, é condição suficiente para a identificação do mesmo (Kline, 1998). Desta forma, o modelo hipotético por nós aqui apresentado é sobre-identificado (overidentified), com cinco itens por factor, observações em número superior a parâmetros, e factores estandardizados.

Tal como já referimos, a amostra utilizada nesta AFC5 é constituída por um total de 491 sujeitos, provenientes de 16 empresas do mesmo sector do estudo anterior.

A análise dos dados da amostra evidencia uma boa variabilidade nas respostas aos itens, encontrando-se as respostas distribuídas pelas cinco opções disponíveis. Não foram encontradas médias demasiado extremas. O valor mais baixo é de 2,23 no item RS22 e o mais elevado de 3,91, corresponde ao item RS9. Os valores de desvio-padrão oscilam entre 0,820 no item RS12 e 1,169 no item RS2.

Relativamente aos missing values da amostra, Cohen e Cohen (1985, citado por Kline, 1998) referem 5 ou 10% de missings como não problemático. O método utilizado para lidar com os missings desta amostra foi a substituição pela média das observações (replace with mean), sendo

5 Encontra-se descrita na secção Metodologia, p.20.

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Análise das qualidades psicométricas da escala RSE Sandra Ribeiro da Cunha (e-mail:[email protected]) 2009

este um método simples e com elevada sensibilidade para lidar com missings que não ultrapassem os 10% e que se encontrem distribuídos pelas variáveis (Kline, 1998), situação que se verifica com a amostra em estudo.

A análise do pressuposto da normalidade univariada revela valores de assimetria dos itens que se inserem no intervalo de ±1 (oscilam entre -0,038 para o item RS10 e -0,940 para o item RS23). A curtose é analisada por uma fórmula que identifica a curva perfeita normal com um valor de curtose igual a 0. Desta forma, um valor absoluto de curtose superior a 1 seria indicador de desvios à normalidade. Os valores de curtose para o item 9 (“Os nossos produtos correspondem àquilo que deles anunciamos e publicitamos”) estão para além daquilo que é esperado para uma distribuição normal (1,206). Os restantes itens não apresentam valores que violem o pressuposto da normalidade univariada. Estas estatísticas são contudo, unicamente univariadas, e o pressuposto da normalidade relativo a uma análise confirmatória requer igualmente normalidade multivariada (Moreira, 2004). No sentido de analisar a normalidade multivariada recorremos à estatística de Mardia (uma medida da curtose multivariada). O valor desta estatística é de 18,790, com um critical ratio de 13,438 (um valor superior a 1,96 indica a presença de desvios da normalidade multivariada com um grau de confiança de 95%).

A análise da normalidade apresenta, assim, alguns problemas, pelo que, a análise dos valores de Qui-Quadrado (χ2), um teste particularmente sensível ao pressuposto da normalidade, assim como ao tamanho da amostra, deve ser efectuada com especial precaução (Brown, 2006).

Assim, e com base no já referido modelo, apresentado por Inverno e Rebelo (2007), foi efectuada uma análise factorial confirmatória com o auxílio do programa Amos 18.0, do SPSS. Todas as análises de AFC foram baseadas na matriz de variância-covariância, com o método da Máxima Verosimilhança (Maximum Likelihood Estimation)6.

Os resultados obtidos permitem agora proceder a uma análise da qualidade do ajustamento do modelo hipotético aos dados, através da análise da adequação dos parâmetros estimados e da adequação global do modelo (Byrne, 2001).

De acordo com Byrne (2001), a análise da adequação dos parâmetros estimados (cf. Figura 1) revela valores de loading razoáveis, que variam entre .44 e .60. Os valores não estandardizados dos parâmetros foram analisados para ver se as suas diferenças relativamente ao valor zero são estatisticamente significativas. O teste estatístico é o critical ratio, e os valores dos parâmetros nesta estatística deverão ser >±1,96 para que possa ser rejeitada a hipótese nula, que diz que o peso factorial de cada dimensão na variável é igual a zero. Os valores de critical ratio dos parâmetros estimados no presente modelo encontram-se todos acima do valor crítico de

6 Embora existam problemas ao nível da normalidade multivariada, e este se constitua como um dos pressupostos para a utilização deste método de estimação, estes não invalidam a utilização do método da Máxima Verosimilhança. Este estimador apresenta-se como suficientemente robusto, tendo em conta que o rácio sujeito/item da amostra é muito superior ao mínimo aceitável de 10/1.

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Análise das qualidades psicométricas da escala RSE Sandra Ribeiro da Cunha (e-mail:[email protected]) 2009

1,96, não apresentando, desta forma, problemas em termos de significância estatística7.

Figura 1. Modelo estrutural – solução estandardizada8.

Na avaliação da qualidade do ajustamento foram utilizados os

seguintes índices de ajustamento: RMSEA (Root Mean Square Error of Aproximation), CFI (Comparative Fit Index), TLI (Tucker-Lewis Index), AGFI (Ajusted Goodness of Fit Index) e o χ² (Qui-Quadrado). Os valores dos índices de ajustamento analisados podem ser observados na tabela 2.

O teste de χ² avalia a adequação global do modelo, permitindo testar a validade deste (Brown, 2006; Byrne, 2001). Quanto maior for o valor da probabilidade associada ao valor de χ², maior se revela o ajustamento entre os dados e o modelo hipotético sob estudo (Byrne, 2001). A presente análise revela um valor de Qui-Quadrado [ χ² (34, N = 491) = 147,424, p <.001], indicando um pobre ajustamento do modelo hipotético aos dados. Não obstante, não podemos deixar de observar esta estatística com precaução,

7 O teste estatístico critical ratio representa o parâmetro dividido pelo seu erro estandardizado. 8 Informação complementar relativa aos valores estimados da solução não estandardizada pode ser encontrada no anexo II.

.31

.21

.19

.32

.27

.56

.44

.46

.56

.52

.69

.81

.79

.68

.73

e1

e2

e3

e5

RS3

RS2

RS22

RS10

RS18

.64

.71

.79

.65

.70

Dimensão Interna

RS23

RS5

RS11

RS12

RS9 e1

e2

e3

e4

e5

Dimensão Externa

.60

.53

.46

.60

.55

e4

.70

.36

.29

.21

.35

.30

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Análise das qualidades psicométricas da escala RSE Sandra Ribeiro da Cunha (e-mail:[email protected]) 2009

devido às limitações inerentes a este tipo de teste. Para além disso, esta estatística, baseada na distribuição do χ², assume que o modelo se ajusta perfeitamente à população, situação que nunca se verifica na realidade, pois por muito bons que os modelos sejam apenas se ajustam à realidade de forma aproximada. Tendo em conta as limitações deste teste, é recomendada a utilização de critérios adicionais para avaliar a qualidade do ajustamento dos dados (Byrne, 2001; Kline, 1998). Para além disso, foram utilizados múltiplos índices pois estes disponibilizam diferentes tipos de informação acerca do ajustamento do modelo, e quando utilizados em conjunto, possibilitam uma análise mais robusta e fiável da solução (Brown, 2006).

Os valores de GFI e AGFI (apresentado na tabela 2) são aproximadamente similares, diferindo apenas no facto de o valor de AGFI ser um índice ajustado aos graus de liberdade do modelo. De acordo com os valores de referência utilizados, um valor de GFI próximo de 1,00 é indicador de um bom ajustamento (Byrne, 2001). Quanto ao AGFI, o valor 1,00 corresponde ao ajustamento perfeito enquanto que valores superiores a .90, correspondem a modelos com valores de ajustamento aceitáveis (Moreira, 2004).

Tabela 2. Índices de ajustamento do modelo.

χ² g.l. CFI RMSEA AGFI TLI

Valor Observado 147,424*** 34 .856 .083 .906 .809

*p< .05; **p< .01; ***p< .001

Os valores de GFI e AGFI do presente modelo são, respectivamente, .942 e .906. Estes valores denotam um ajustamento aceitável do modelo aos dados. Não obstante, estes são os únicos índices que possibilitam esta análise. E mais ainda, Fan, Thompson e Wang (1999, citado por Byrne, 2001) alertam para o facto de os valores de GFI e AGFI poderem ser altamente influenciados pelo tamanho da amostra.

O RMSEA foi, de acordo com Byrne (2001) apenas nos últimos tempos, reconhecido como um dos critérios mais informativos neste tipo de avaliação. O seu valor deverá ser o mais baixo possível; valores por volta de .06 ou inferiores são indicadores de um fit razoável (Thompson, 2004). Voltando à tabela 2, podemos verificar que o valor de .083 do nosso modelo hipotético se encontra aquém do valor ideal.

Thompson (2004) considera que CFI com valores perto de 1,00 são desejáveis, e próximos de .95 indicam um ajustamento razoável. Hu e Bentler (1999, citado por Byrne, 2001) apresentam o valor de .95 como ponto de corte para este índice de ajustamento, considerando-se os valores iguais ou superiores a este como indicadores de um bom ajustamento. Como pode ser observado na tabela 2, o valor de CFI de .856 encontra-se longe do desejável.

De acordo com Hu e Bentler (1999, citado por Byrne, 2001), valores de TLI perto de .95 apresentam-se como indicativos de um bom ajustamento. Este índice apresenta a vantagem de ser menos dependente da amostra e apresenta características que compensam o efeito da complexidade do modelo (Brown, 2006). Não obstante, o valor de TLI de .809 que surge

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Análise das qualidades psicométricas da escala RSE Sandra Ribeiro da Cunha (e-mail:[email protected]) 2009

do modelo hipotético apresentado encontra-se longe do valor desejável. O passo seguinte consistiria na análise dos índices de modificação,

com o intuito de obter sugestões no sentido da melhoria da adequação do modelo aos dados. Neste ponto, e face aos resultados apresentados pelos índices de ajustamento, torna-se necessário decidir se queremos ou não prosseguir com uma reespecificação e reestimação do modelo (Byrne, 2001).

A análise dos índices de modificação demonstrou que o valor mais elevado se refere à covariação entre o erro e5 e a dimensão Externa (M.I.=32,425). Encontraram-se vários itens e erros de medida com valores de índices de modificação que sugerem a necessidade de alterações ao modelo. De acordo com Thompson (2004), os parâmetros fixos com os maiores M.I. estão entre os candidatos da frente a considerar no refinamento do modelo. Não obstante, optámos por não proceder a qualquer tipo de reespecificação do modelo. Tendo em conta o facto de os índices de ajustamento revelam um fraco ajustamento do modelo aos dados, a somar ao facto de a análise se tornar, com a reespecificação do modelo, de carácter mais exploratório do que propriamente confirmatório, considerámos que a reespecificação do modelo não se revela, neste contexto, como o caminho mais proveitoso e mais adequado no sentido da prossecução dos objectivos desta investigação.

A decisão última de proceder ou não a pesquisas de especificação deve ter em conta, de acordo com Byrne (2001), se é realmente significante e importante procurar um ajustamento para o modelo hipotético que revelou um baixo ajustamento na sua versão inicial. Moreira (2004), acrescenta ser altamente criticável a introdução de ajustamentos no modelo, quando não se verifique a existência de fundamentação teórica para tal.

Tomando em consideração o exposto, e o que pode ser depreendido dos baixos índices de ajustamento, bem como o facto de a estrutura submetida a análise factorial confirmatória ter perdido muitos dos itens da versão inicial da escala, consideramos que não seria vantajoso proceder a uma reespecificação do modelo. O mais adequado seria, e no sentido de continuar no caminho da validação da escala RSE, proceder a uma nova análise factorial exploratória, com todos os itens originais da escala e com uma amostra maior, no sentido de procurar novas possibilidades ao nível da dimensionalidade da escala, e contribuir com mais indicações no sentido da melhoria do instrumento.

Análise factorial exploratória

A não adequação do modelo hipotético aos dados, na análise factorial

confirmatória alertou-nos para a necessidade de uma nova análise da dimensionalidade da escala RSE. Desta forma, considerámos como sendo prioritário proceder a uma nova análise da dimensionalidade da escala, através de uma análise factorial exploratória (AFE), com uma nova amostra9, e com a escala total de 26 itens.

9 A amostra utilizada encontra-se descrita na secção Metodologia, p. 20.

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Previamente à execução da análise exploratória, observámos a tendência das respostas dos sujeitos em cada item da escala, mediante a análise de algumas medidas descritivas. Em todos os itens, as respostas encontram-se distribuídas pelas cinco opções disponíveis. Relativamente à frequência de respostas por opção em cada item, encontrámos uma razoável variabilidade de respostas (encontrámos apenas para os itens RS9, RS14, RS21, RS23 e RS25 uma percentagem superior a 50% numa das alternativas de resposta, a opção 3-Não concordo nem discordo, 55,2%; 56,4%; 51,8%, 53,7% e 50,1%, respectivamente), pelo que à excepção destes itens, a escala revelou um adequado poder discriminativo. Não se verificam médias extremas. Os valores oscilam entre 2,07, registado no item RS22, e 3,87, observado no item RS2. Relativamente aos desvios-padrão, estes variam entre 0,696 no item RS9 e 1,074 no item RS2. O procedimento utilizado para lidar com os missing values foi a substituição pela média das observações (replace with mean).

A estrutura relacional dos itens que compõem a escala RSE foi avaliada sobre a matriz das correlações, com extracção dos factores pelo método das componentes principais10, seguida de uma rotação varimax. A primeira extracção revelou uma estrutura factorial não satisfatória, com 6 dimensões e interpretabilidade teórica reduzida.

Foram retirados da análise 7 itens, dado apresentarem saturações próximas e com valores superiores a .45 em mais do que um factor11 ou comunalidades inferiores a .40 (RS3, RS5, RS12, RS14, RS16, RS18 e RS19).

Retiveram-se os factores que apresentavam um valor próprio superior a 1, considerando ainda a análise do scree plot e a percentagem de variância

10 A distinção entre análise factorial e análise em componentes principais tem sido alvo de discussão nos últimos tempos, sendo que há investigadores que consideram a análise em componentes principais como um método da análise factorial, enquanto outros a distinguem como uma técnica exploratória multivariada independente da análise factorial (Maroco, 2007). Maroco (2007), refere que os dois modelos apresentam fundamentação teórica e objectivos significativamente distintos. Enquanto a análise em componentes principais procura resumir a informação das variáveis originais num número reduzido de índices que explicam o máximo possível de variância das variáveis originais, a análise factorial atenta na identificação dos factores latentes que explicam as intercorrelações observadas nas variáveis originais. Bryman e Cramer (2003) referem-se à análise em componentes principais e à análise factorial como duas formas de uma técnica exploratória mais abrangente que dá também pelo nome de análise factorial. Os autores explicam esta possível “confusão” com os termos, referindo que o método da análise factorial, dentro da técnica com igual denominação, é designado no SPSS por principal axis-factoring. Para além destas duas técnicas, as mais amplamente utilizadas, encontram-se também disponíveis no SPSS outros métodos, como o método alfa (alpha), o método de imagem (image), o método da máxima verosimilhança (maximum-likelihood factoring), mas estes muito mais raramente são utilizados. 11 De acordo com Tabachnick e Fidell (2007), variáveis que apresentem saturações elevadas em mais do que um factor, são consideradas variáveis complexas, porque reflectem a influência de mais do que um factor. Os autores aconselham a eliminação deste tipo de variáveis, pois estas tornam a interpretação dos factores mais ambígua.

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explicada. Dever-se-ão utilizar vários critérios na decisão dos factores a reter, dado que um só critério poderá conduzir a uma sub ou sobre consideração do número de factores (Maroco, 2007; Pestana & Gageiro, 2005).

Para avaliar a adequação da análise, utilizou-se o critério KMO (Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy) e a classificação de Pestana e Gageiro (2005). A qualidade da análise pode ser considerada boa (KMO=.885). Por sua vez, o teste da esfericidade de Bartlett, com um nível de significância associado p <.001, demonstra que as variáveis estão significativamente correlacionadas12. Relativamente à análise da matriz anti-imagem, e considerando Pestana e Gageiro (2005), esta aponta para a não exclusão de variáveis e possibilita a aplicação do modelo de análise, com os valores na diagonal principal a oscilarem entre .520 e .808, não existindo desta forma, valores inferiores a .50.

De acordo com a regra dos valores próprios superiores a 1 e com o scree-plot, foram considerados 4 factores, explicando estes cerca de 51% (50,77%) da variância total. Na tabela 4 são apresentados os pesos factoriais de cada item para cada factor isolado, a respectiva comunalidade e a % de variância explicada por cada factor.

O primeiro factor apresenta pesos factoriais elevados em itens como RS23 (“Observa-se em todos os espaços e acções da empresa a preocupação que existe com a preservação do meio ambiente”), explica 14,87% da variância total e é designado de Meio Ambiente Interno e Externo. O segundo factor, com pesos factoriais elevados em itens como RS10 (“No caso de despedimentos, a empresa prepara atempadamente os colaboradores para os desafios da procura de um novo emprego”), explica 14% da variância total e constitui a dimensão Colaboradores. Relativamente ao terceiro factor, inclui itens como RS6 (“A empresa contribui para actividades sociais, culturais ou desportivas da zona”), constitui a dimensão Comunidade e explica 11,33% da variância total. Por fim, o quarto factor, apresenta pesos factoriais elevados em itens como RS2 (“A empresa emprega pessoas com dificuldades de integração profissional”), explica 10,65% da variância total e é designado de Integração.

12 Pestana e Gageiro (2005), alertam para o facto de o teste de esfericidade de Bartlett ser muito influenciado pelo tamanho da amostra, pelo que se torna preferível usar o KMO.

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Tabela 4. Pesos factoriais de cada item nos 4 factores retidos, respectiva comunalidade (h2) e % de variância explicada por cada factor, após AFE com extracção de factores

pelo método das componentes principais, com rotação Varimax.

Factores Itens

1 2 3 4 h2

RS23. Pode-se observar em todos os espaços e acções da empresa a preocupação que existe com a preservação do meio ambiente

.744 -.138 .161 .125 .615

RS1. Esta empresa investe bastante na Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho

.684 .217 .218 .163 .589

RS11. A empresa onde trabalho, não só respeita, como também protege activamente o meio ambiente

.653 .364 .055 .048 .565

RS26. O ambiente de trabalho nesta empresa é, regra geral, agradável e amistoso

.549 .316 .268 .030 .474

RS24. Nesta empresa, luta-se activamente contra qualquer tipo de corrupção

.538 .260 .313 -.023 .455

RS9. Os nossos produtos correspondem àquilo que deles anunciamos e publicitamos

.497 .396 .047 -.055 .409

RS10. No caso de despedimentos, a empresa prepara atempadamente os colaboradores para os desafios da procura de um novo emprego

.019 .732 .223 .190 .662

RS8. Os superiores exprimem de forma clara o que esperam do trabalho dos seus colaboradores

.226 .651 -.033 .174 .505

RS17. Só existem despedimentos nesta empresa quando não há outras Soluções

.208 .613 .123 .127 .450

RS4. São dadas iguais oportunidade de evolução profissional a mulheres e a homens

.272 .532 .200 .163 .423

RS20. A empresa facilita-me conciliar o meu trabalho com a vida pessoal

.119 .515 .372 .059 .421

RS6. A nossa empresa contribui para actividades sociais, culturais ou desportivas da zona

.136 .162 .663 .031 .485

RS21. É habitual esta empresa apoiar instituições de solidariedade social

.272 -.113 .647 .065 .510

RS22. Existem serviços de apoio à família .043 .224 .615 .127 .446

RS25. Esta empresa incentiva-me a participar nas acções de voluntariado que promove

.209 .266 .591 .171 .493

RS2. Esta empresa emprega pessoas com dificuldades de integração profissional

.212 .049 .026 .799 .687

RS13. A empresa emprega pessoas com dificuldades de integração social

.012 .202 .264 .715 .621

RS7. A força de trabalho desta empresa é composta por pessoas de diferentes povos

-.095 .137 .064 .665 .475

RS15. Os espaços desta empresa permitem a mobilidade de pessoas com limitações físicas

.384 .184 .036 .468 .402

Variância explicada 14,78% 14,00% 11,33% 10,65%

Para o estudo da consistência interna recorreu-se ao cálculo do Alfa de

Cronbach, que no caso do Factor 1 (Meio Ambiente Interno e Externo) apresentou um valor de .79, o que de acordo com Pestana e Gageiro (2005),

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permite afirmar que a consistência interna do factor é aceitável, e se encontra acima do valor de referência de .70 adiantado por Nunnally e Bernstein (1994). Relativamente ao Factor 2 (Apoio aos colaboradores) o valor do Alfa de Cronbach é de .73, sendo igualmente classificado como razoável. O Alfa do Factor 3 (Apoio à comunidade) é de .64, e o do Factor 4 (Apoio à integração) foi estimado em .66. Ainda que inferiores ao valor de referência de .70, são valores que, actualmente, começam a ser aceites por muitos autores como razoáveis no âmbito das ciências sociais.

V - Discussão

A importância relatada na literatura sobre o papel preponderante da

RSE como fonte de vantagem competitiva sustentável (Carroll, 1999; Matten, 2006) e a importância que lhe é atribuída por organizações governativas internacionais, como é o caso da Comissão das Comunidades Europeias, que apresentou em 2001 o “Livro Verde: Promover um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas”, demonstra a pertinência de estudo em torno desta temática. Mais ainda, a escassez de instrumentos válidos, fiáveis e rigorosos que contribuam para aumentar o conhecimento relativo às práticas de RSE levadas a cabo nas organizações, justificava de sobremaneira o estudo das qualidades psicométricas da escala RSE, desenvolvida por Inverno e Rebelo (2007), com base nas premissas e no modelo de RSE apresentado pela Comissão Europeia no referido Livro Verde de 2001. Desta forma, o presente estudo tinha como objectivo contribuir para a validação da escala RSE, procedendo para tal a uma análise da dimensionalidade da mesma, estudando determinados aspectos da validade e fiabilidade da mesma.

De acordo com o modelo de RSE apresentado no Livro Verde (CCE, 2001) a Responsabilidade Social apresenta duas grandes dimensões (Interna e Externa), que por sua vez se encontram seccionadas em oito subdimensões. A elaboração da escala inicial procurou incluir questões em número suficiente para abranger todas as subdimensões de RSE que são apresentadas no referido modelo. Ao nível da dimensão Interna encontramos a Gestão de Recursos Humanos, a saúde e segurança no trabalho, a Adaptação à mudança e a Gestão do impacto ambiental e dos recursos naturais. Por sua vez, a dimensão Externa da Responsabilidade Social inclui, e de acordo com as directrizes que constam no Livro Verde (CCE, 2001), as Comunidades locais, os Parceiros comerciais, fornecedores e consumidores, os Direitos Humanos e as Preocupações ambientais globais.

Do modelo submetido a análise confirmatória constam apenas 10 itens, que abrangem algumas das subdimensões acima referidas, mas onde subdimensões como, por exemplo, a Saúde e segurança no trabalho (dimensão interna) ou os Direitos Humanos (dimensão externa), não se encontram abrangidas por nenhum dos itens incluídos no modelo estrutural testado na análise factorial confirmatória. Este facto aponta para limitações ao nível da validade de conteúdo, na medida em que a escala não inclui

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aspectos do conceito a medir. Uma medida válida do conceito de Responsabilidade Social das Empresas terá de se referir a todos os aspectos e subdimensões da RSE, e reflectir de modo adequado o peso de cada uma delas na medida global13. O número reduzido de itens, 10 de uma escala inicial composta por 26, é um factor indicativo de que esta estrutura não se adequada a esta amostra.

Como se pode verificar na apresentação dos resultados da AFC, não procedemos a qualquer tipo de reespecificação do modelo. Na base desta decisão encontra-se o facto de a estrutura analisada ter perdido muitos dos itens construídos na versão inicial da escala, o que nos fez considerar a possibilidade de, com uma amostra maior podermos obter uma estrutura dimensional mais abrangente. A somar a isto temos ainda o facto de, a partir do momento em que enveredamos por uma reespecificação do modelo, estarmos a abandonar o campo da análise confirmatória e a voltarmo-nos para uma análise de carácter mais exploratório (Byrne, 2001). Se teríamos, pelo exposto, de transitar para uma análise de carácter exploratório, considerámos como mais vantajoso para os fins a que nos propomos, proceder com uma análise factorial exploratória com uma nova amostra e a totalidade dos itens que constituem a versão original da escala. Longe de significar uma inviabilização das capacidades de aplicabilidade da escala RSE, este resultado (não ajustamento do modelo aos dados) significa antes uma necessidade premente de novos estudos. E foi a isto que nos propusemos, numa fase seguinte da investigação.

O segundo estudo foi realizado com recurso a uma amostra maior do que utilizada na primeira análise factorial exploratória da escala RSE e conduziu-nos a uma solução factorial com mais itens (19) e mais subdimensões de RSE (4 factores). A solução de quatro factores apresenta interpretabilidade estatística, com cerca de 51% da variância total explicada pelos factores, e com cada um dos factores a apresentar um grau de consistência interna aceitável.

Relativamente à interpretabilidade teórica dos factores que surgem com esta segunda análise factorial exploratória, encontramos um primeiro grupo de itens que foi denominado de Meio ambiente interno e externo. Nesta dimensão encontramos itens referentes à preservação do ambiente (RS23. “Pode-se observar em todos os espaços e acções da empresa a preocupação que existe com o meio ambiente”), ao lado de itens relacionados com o ambiente de trabalho (RS26. “O ambiente de trabalho nesta empresa é, regra geral, agradável e amistoso”) ou até mesmo relativos aos produtos da empresa (RS9. “Os nossos produtos correspondem àquilo que deles anunciamos e publicitamos”). Uma análise mais cuidada ao conteúdo destes itens faz sobressair o facto de todos eles apontarem no sentido de práticas que vão para além da lei, no verdadeiro sentido do que deverá ser a RSE. Encontramos referência e este tipo de práticas no modelo socioeconómico de RSE apresentado por Carroll (1979, 1991), e onde o autor denomina este tipo de práticas de discricionárias, e relativas ao facto

13 De acordo com o que foi anteriormente referido acerca deste tipo de validade e que pode ser revisto na secção Enquadramento teórico.

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de a empresa dever ser um “bom cidadão corporativo”. Com estas práticas de RSE espera-se que a empresa contribua para a comunidade e para aumentar a qualidade de vida. Podemos encontrar este carácter voluntário da RSE subentendido nos diferentes itens desta dimensão, em palavras como “preocupação que existe com…”; “investe bastante…”; “não só respeita como também protege activamente…”, que nos remetem para algo mais do que aquilo que já se encontra na lei e é esperado da organização em termos de RSE. Não obstante, a transversalidade desta dimensão, que acaba por agrupar itens de RSE interna e externa em simultâneo, poderá estar a agrupar itens que se enquadrariam melhor em dimensões separadas. A inclusão de novos itens na escala, relativos a este carácter filantrópico da RSE poderia contribuir para a emergência de uma dimensão mais interna das responsabilidades discricionárias, e outra mais direccionada para o exterior da organização.

Por sua vez, as dimensões Apoio aos colaboradores e Apoio à comunidade podem ser analisadas à luz da teoria dos stakeholders (teoria que também se encontra na base de elaboração do Livro Verde de 2001), que considera como stakeholders todos os grupos que podem afectar ou são afectados pelas acções da organização (Freeman, 1984, citado por Margolis & Walsh, 2003). Esta abordagem foca-se nos diferentes grupos para com quem a organização tem responsabilidades e defende que as organizações não são geridas apenas pelos interesses dos shareholders. Nesta gestão têm de ser incluídos os interesses de outros grupos, ou stakeholders, com interesses igualmente legítimos sobre a organização (Matten, 2006), de entre os quais se encontra o grupo dos colaboradores e a comunidade em que a empresa se encontra inserida.

Todos os itens incluídos na dimensão Apoio aos colaboradores dizem respeito à forma como a empresa lida com este importante grupo de stakeholders, e. g., o item RS8 (“Os superiores exprimem de forma clara o que esperam do trabalho dos seus colaboradores.”). Esta dimensão é, portanto, também uma dimensão interna da RSE, na medida em que o apoio aos colaboradores é algo interno à própria organização.

Por sua vez, os itens agrupados na dimensão Apoio à comunidade remetem para as estratégias e práticas organizacionais mais direccionadas para o exterior, e concretamente, para a comunidade em que a empresa se encontra inserida, e a forma como a organização contribui para o desenvolvimento dessa mesma comunidade. Os itens RS21 (“É habitual esta empresa apoiar instituições de solidariedade social.”) e RS25 (“Esta empresa incentiva-me a participar nas acções de voluntariado que promove.”) são exemplo disso mesmo.

O item RS22 (“Existem serviços de apoio à família (jardim de infância, ATL, benefícios de saúde, etc.) ”) encontra-se também na dimensão Apoio à comunidade, o que pode ser entendido na medida em que o apoio às famílias dos colaboradores é um tipo de apoio a elementos da comunidade. Não obstante, este item poderá também ser interpretado num sentido mais restrito de apoio aos colaboradores, tendo surgido na solução anterior (Inverno e Rebelo, 2007) integrada na dimensão interna da RSE. Perante o

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exposto, consideramos que uma reformulação do item, no sentido de tornar mais claro qual o grupo de stakeholders para o qual se encontra direccionado, ou até mesmo “desdobrar” este item, poderá contribuir para diminuir possíveis ambiguidades na sua interpretação e aumentar a abrangência da escala.

Por fim, a dimensão denominada de Apoio à integração inclui itens que podem ser entendidos como referentes à vertente de apoio à diversidade e de não-discriminação, inerente ao conceito e às práticas de Responsabilidade Social das Empresas. Encontramos descrito no Livro Verde que “as práticas de recrutamento responsáveis, designadamente não-discriminatórias, poderão facilitar a contratação…” (CCE, 2001, p.9). Do mesmo modo, a aposta em instalações que permitam a mobilidade de pessoas com limitações físicas contribui para alargar o alcance do recrutamento, atraindo candidatos que de outra forma não poderiam vir a integrar os quadros da empresa.

A análise factorial exploratória desenvolvida neste estudo, e salvo excepção relativa à dimensão Meio ambiente interno e externo, apresenta dimensões da RSE que podem ser inseridas na divisão mais alargada e proposta por Inverno et al. (2008), com base no Livro Verde (CCE, 2001) de RSE interna e externa. Desta forma, as dimensões Apoio aos colaboradores e Apoio à integração constituiriam parte das práticas de RSE interna, ao passo que a dimensão Apoio à comunidade seria relativa à dimensão externa da RSE. A dimensão Meio ambiente interno e externo apresenta itens relativos, quer a práticas de RSE internas, quer externas.

Perante estes resultados cremos constituir uma mais-valia a prossecução dos estudos em torno da validade desta escala. As qualidades da mesma encontram-se fundamentadas nas dimensões de RSE emergentes das diferentes análises já efectuadas. Desta forma, deverão ser mantidos na escala os itens que se revelaram adequados nas análises efectuadas. Contudo, e apesar do rigor metodológico e conceptual com que a mesma foi construída, as fragilidades apontadas relativamente a determinados itens, que podem ser alvo de ambiguidades na sua interpretação por parte dos sujeitos, e a não abrangência, nas soluções factoriais obtidas em ambos os estudos, de todas as subdimensões de RSE que se encontram na base da elaboração da escala, poderão ser superadas em investigações posteriores. A escala RSE apresenta ainda fragilidades ao nível da sua estrutura factorial (validade de constructo), manifestas através da falta de estabilidade que apresentou, com uma estrutura inicial de duas dimensões, que posteriormente não é confirmada, e uma subsequente estrutura de quatro dimensões.

Nesse sentido consideramos importante, e de uma forma mais específica, que sejam analisados os itens RS14 (“Só se trabalha com fornecedores que respeitam os direitos humanos, sociais e ambientais”) e RS16 (“Aqui prefere-se respeitar os direitos humanos, do que desrespeitá-los para ter mais lucro”), pois não surgem em nenhuma das soluções até agora alcançadas. Este facto poderá ficar a dever-se a problemas ao nível dos próprios itens, e assim seria importante avaliá-los cuidadosamente, ou até mesmo proceder à sua reconstrução. Na origem desta situação pode ainda

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estar a falta de mais itens relativos à mesma dimensão que estes dois avaliam, e que aponta para a subdimensão Direitos Humanos, presente no Livro Verde da Comissão Europeia (2001), e ausente das soluções finais obtidas. Esta situação será indicadora da necessidade de construção de mais itens que possam aferir as práticas relativas aos Direitos Humanos. O item RS19 (“A formação dada pela empresa, não só vai de encontro às necessidades de evolução profissional, como também vai de encontro às necessidades de evolução pessoal dos colaboradores”), relativo às práticas de formação profissional para os colaboradores não se encontra igualmente presente em nenhuma das soluções factoriais prévias, pelo que deverá merecer igualmente atenção redobrada, no sentido de compreender os motivos que o levaram a ser excluído das soluções finais.

Considerando todos estes pontos, cremos ser importante um estudo que proceda a uma nova análise da totalidade dos itens da escala RSE, mantendo parte deles, alterando os que apresentam fragilidades e construindo novos itens, aumentado, dessa forma, a probabilidade de o instrumento se tornar mais robusto e estável em diferentes amostras.

VI - Conclusão

O objectivo primordial do presente estudo consistiu em analisar as

qualidades psicométricas da escala RSE. O facto de não existirem estudos prévios, para além do levado a cabo por Inverno et al. (2008), ampliava a importância desta investigação.

No que concerne à análise factorial confirmatória realizada, esta revelou a existência de limitações no instrumento, nomeadamente ao nível da validade de constructo, apontando para a necessidade de reformular determinados itens. Relativamente à validade de conteúdo, já fazia parte das preocupações no estudo anterior, o facto de se considerar que a escala era pouco abrangente, não contemplando determinadas áreas da RSE, o que se viu reforçado com a não adequação aos dados nesta nova amostra. As inconsistências e limitações detectadas com esta análise encaminharam-nos assim, no sentido de uma nova análise da dimensionalidade da escala, e de carácter exploratório. Na sequência da análise factorial exploratória realizada foi possível encontrar uma estrutura relacional de quatro dimensões para a escala SER, robusta do ponto de vista estatístico, mas com a interpretabilidade teórica a revelar algumas fragilidades.

Visto serem escassas as investigações na área da mensuração da RSE, este estudo contribui para o aumento de instrumentos validados para este fim, que possam ser mais facilmente aplicados, quer em contexto académico, como também nas organizações, para diagnóstico e avaliação de práticas de RSE. A escassez de medidas validadas para a análise e mensuração da RSE constitui-se como um problema, que a presente investigação procura ajudar a colmatar.

Uma das limitações do presente estudo, ainda que de alguma forma indirecta, surge na sequência de muitas organizações entenderem a RSE

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como uma mais-valia no contexto do marketing empresarial, não constituindo a RSE uma prática integrante do core business da organização. Este facto, a somar à profícua criação de definições, por parte das organizações, para referir quais as práticas de Responsabilidade Social realmente importantes, e que vão sobretudo de encontro àquilo que se revela mais produtivo e vantajoso para cada empresa em particular, poderão criar enviesamentos e dificuldades na conceptualização da Responsabilidade Social, e consequentemente na resposta ao questionário.

Outra limitação do estudo, que poderá ser ultrapassada em investigações futuras, prende-se com a generalização dos resultados, que não é possível, com o presente estudo, dado todas as amostras serem provenientes do mesmo sector de actividade. Em investigações futuras, e no sentido de contribuir para aumentar a validade da escala RSE, seria pertinente conduzir análises com amostras provenientes de outros sectores de actividade, que não o sector industrial da cerâmica.

Constituirá também uma pista para o futuro alargar o estudo da validade deste instrumento a outros tipos de validade, como a concorrente ou a preditiva.

Após a realização da presente investigação, e decorrente dos resultados obtidos, cremos ser relevante alertar para a necessidade de novos e mais estudos em torno da escala RSE. O trabalho por nós realizado poderá assim ser considerado como um “indicador” no sentido do que em seguida se apresenta como premente no estudo e validação desta escala.

Por fim, importa ainda reafirmar a pertinência e necessidade de que se efectue este tipo particular de estudos, como seja a análise das qualidades psicométricas de uma escala, para a Psicologia das Organizações, pois daqui decorre, em grande parte, o rigor e a validade da nossa produção científica, assim como das práticas de intervenção.

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AnexosTITULO DISSERT

- UNIV-FAC-AUTOR

- U

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Anexo ITITULO DISSERT

Escala RSE- UNIV-FAC-AUTOR

- U

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Pense na empresa em geral e não somente na sua unidade de trabalho. Neste sentido, responda, por favor, em que medida está de acordo ou em desacordo com as seguintes afirmações:

1.Concordo

muito 2.Concordo

3.Nem

concordo nem

discordo

4.Discordo 5.Discordo

muito

Nesta empresa…

1.Esta empresa investe bastante na Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho

1 2 3 4 5

2.Esta empresa emprega pessoas com dificuldades de integração profissional (por exemplo, desempregados de longa duração ou pessoas portadoras de deficiência)

1 2 3 4 5

3.Os colaboradores costumam ser solicitados para darem a sua opinião relativamente ao funcionamento da empresa

1 2 3 4 5

4. São dadas iguais oportunidade de evolução profissional a mulheres e a homens

1 2 3 4 5

5.A nossa empresa estabelece uma relação transparente com os clientes

1 2 3 4 5

6.A nossa empresa contribui para actividades sociais, culturais ou desportivas da zona

1 2 3 4 5

7.A força de trabalho desta empresa é composta por pessoas de diferentes povos

1 2 3 4 5

8.Os superiores exprimem de forma clara o que esperam do trabalho dos seus colaboradores

1 2 3 4 5

9.Os nossos produtos correspondem àquilo que deles anunciamos e publicitamos

1 2 3 4 5

10.No caso de despedimentos, a empresa prepara atempadamente os colaboradores para os desafios da procura de um novo emprego

1 2 3 4 5

11.A empresa onde trabalho, não só respeita, como também protege activamente o meio ambiente (ao nível, por exemplo, do ruído, da luz, da poluição, das emissões gasosas e do transporte e eliminação de resíduos)

1 2 3 4 5

12. Esta empresa esforça-se por contribuir para o desenvolvimento da Região

1 2 3 4 5

13. A empresa emprega pessoas com dificuldades de integração social (por exemplo, ex-reclusos)

1 2 3 4 5

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14. Só se trabalha com fornecedores que respeitam os direitos humanos, sociais e ambientais

1 2 3 4 5

15. Os espaços desta empresa permitem a mobilidade de pessoas com limitações físicas

1 2 3 4 5

16. Aqui prefere-se respeitar os direitos humanos, do que desrespeitá-los para ter mais lucro

1 2 3 4 5

17. Só existem despedimentos nesta empresa quando não há outras Soluções

1 2 3 4 5

18. Os espaços desta empresa são agradáveis e confortáveis (por exemplo, existem espaços de lazer e convívio, máquinas de comida e bebida, espaços limpos e organizados, etc)

1 2 3 4 5

19. A formação dada pela empresa, não só vai de encontro às necessidades de evolução profissional, como também vai de encontro às necessidades de evolução pessoal dos colaboradores

1 2 3 4 5

20. A empresa facilita-me conciliar o meu trabalho com a vida pessoal

1 2 3 4 5

21. É habitual esta empresa apoiar instituições de solidariedade social

1 2 3 4 5

22. Existem serviços de apoio à família (jardim de infância, ATL, benefícios de saúde, etc.)

1 2 3 4 5

23. Pode-se observar em todos os espaços e acções da empresa a preocupação que existe com a preservação do meio ambiente (por exemplo, existem vários contentores para reciclagem)

1 2 3 4 5

24. Nesta empresa, luta-se activamente contra qualquer tipo de corrupção

1 2 3 4 5

25. Esta empresa incentiva-me a participar nas acções de voluntariado que promove

1 2 3 4 5

26. O ambiente de trabalho nesta empresa é, regra geral, agradável e amistoso

1 2 3 4 5

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Anexo IITITULO DISSERT

Informação complementar relativa à análise factorial confirmatória da escala RSE - UNIV-FAC-AUTOR

- U

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Valores não estandardizados do modelo da escala RSE

Estimação RS2 <--- Dimensão Interna 0,83*** RS22 <--- Dimensão Interna 0,83*** RS10 <--- Dimensão Interna 0,95*** RS18 <--- Dimensão Interna 0,89*** RS9 <--- Dimensão Externa 1,00 RS5 <--- Dimensão Externa 0,91*** RS23 <--- Dimensão Externa 0,95*** RS11 <--- Dimensão Externa 1,22*** RS12 <--- Dimensão Externa 0,90*** RS3 <--- Dimensão Interna 1,00

Dimensão Interna <--> Dimensão Externa 0,22***

*p<.05; **p<.01; ***p<.001

Estimação Dimensão Interna 0,38*** Dimensão Externa 0,25***

e1 0,84*** e2 1,10*** e3 0,99*** e4 0,74*** e5 0,83*** e6 0,44*** e7 0,51*** e8 0,84*** e9 0,67*** e10 0,46***

*p<.05; **p<.01; ***p<.001 Nota: As estimações dos itens RS9 e RS3 não são testadas, tendo sido

fixadas em 1,00.