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_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE BELAS ARTES
MESTRADO EM TEORIAS DA ARTE
A EVOLUÇÃO E A QUALIDADE
DO ENSINO DO DESIGN GRÁFICO EM PORTUGAL
I VOLUME
CANDIDATO: ALEXANDRA ISABEL CRUCHINHO BARREIROS GOMES.
ORIENTADOR: PROFESSORA DOUTORA MARGARIDA CALADO.
LISBOA, OUTUBRO DE 2001
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
RESUMO
A partir do estudo de três estabelecimentos de Ensino Superior, nomeadamente,
das Faculdades de Belas Artes das Universidades de Lisboa e Porto e do Instituto de
Artes Visuais, Design e Marketing, procurámos perceber como é que está a funcionar a
formação superior em design no nosso país.
Assim, iniciámos um trabalho de investigação como título “A Evolução e a
Qualidade do Ensino do Design em Portugal”, tendo como alvos principais de estudo,
os estabelecimentos de ensino superior, referidos anteriormente.
Numa primeira fase desta investigação, apresentamos um estudo sobre aqueles
que considerámos como os antecedentes do design e do seu ensino em Portugal.
Já numa segunda etapa de trabalho, elaboramos um estudo sobre o
funcionamento dos cursos de design nas escolas já referidas.
Para operacionalizarmos o nosso estudo, foram entrevistados os responsáveis
pela criação dos cursos de design em cada escola, e os actuais professores dos mesmos.
Questionámos ainda os alunos e ex-alunos das Faculdades de Belas Artes de Lisboa e
Porto e do IADE, ao nível do funcionamento e organização da escola, da estrutura
curricular dos cursos, dos professores, dos recursos da escola e ainda, ao nível das
expectativas para a vida profissional, de forma a percebermos quais as suas maiores
dificuldades e preocupações sobre a sua formação como designers.
Quanto aos instrumentos de recolha de dados, optou-se pelo inquérito por
questionário, por entrevista e pela pesquisa e análise documental.
Da análise dos resultados, constata-se que ocorreram várias transformações
culturais, técnicas e tecnológicas, que se apontam como as responsáveis pela urgente
necessidade de, ao nível do ensino, as escolas se moverem ao encontro destes avanços,
percorrendo o mesmo percurso, lado a lado.
Algumas deficiências graves, ao nível das escolas, nas suas instalações e nos
seus métodos de ensino, são assim apontadas como as principais razões que nos levaram
a apresentar a nossa modesta proposta de ajuste ou de alteração das estruturas
curriculares dos cursos superiores de design em Portugal.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
Também ao nível da aceitação e do reconhecimento do design, como actividade,
ou do designer, como profissional nesta área artística, deparamos com algumas barreiras
que lhes são impostas, nomeadamente, ao nível da sociedade, ao nível do mercado de
trabalho e, acima de tudo, ao nível dos órgãos do Governo que se apresentam inertes à
procura de mudança desta situação quando, eles próprios, não criam postos de trabalho
como forma de reconhecimento desta actividade, tão necessária a uma organização
desejável no seio da sociedade portuguesa.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
ABSTRACT
Studying three Higher Education Institutions, namely the Faculdade de Belas
Artes das Universidades de Lisboa e Porto and Instituto de Artes Visuais, Design e
Marketing, we tried to understand how portuguese higher teaching in design is working.
So, we started a research project entitle «The Evolution and Quality of Design
Teaching in Portugal», having has mains targets of study, the higher educations
institutions, named above.
At the initial stage of this research project, we have presented a study about
those considered the background of design and it’s teaching in Portugal.
In a second stage of the project, we prepared a study about the design courses in the
referred schools.
In order to start our research project, the responsibles for the creation of design
courses and their teachers, in each school, were interviewed. We also asked students and
graduates students from the Faculdade de Belas Artes de Lisboa e Porto and Instituto de
Artes Visuais, Design e Marketing, about the school’s organization, the study plans,
teachers, school resources and graduate opportunities, in order to understood their
biggest difficulties and concerns as designers.
As instruments of data collect, we choose the questionnaire, interviews, research
and documental analysis.
After analysing the results, we concluded that several cultural, technical and
technological transformations occurred. These transformations are pointed as
responsibles of the urgent need that schools, at teaching level, move towards these
advances, and walk through the same way, side by side.
Some serious imperfections, in school structure and teaching methods, are
pointed as the main reasons that took us to present our modest proposal of changing the
study plans of higher education design courses in Portugal.
Also at the level of approval and recognition of design, as activity, or the
designer, as a professional in this artistic area, we face some difficulties at society and
working market level and, above all, at the government level. The government organs
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
are presented as inactives, because they do not create working places as a recognition
form of this activity, so useful to a so required organization among portuguese society.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
ÍNDICE
I VOLUME
Introdução. 17
Os antecedentes do ensino do design em Portugal. 26
O ensino técnico e profissional. 59
- A Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis. 81
- A Escola Industrial de Arte Aplicada António Arroio. 86
- O Ar.co. 90
O ensino do design em Portugal. 97
Os cursos de design gráfico ou de comunicação das
Faculdades de Belas Artes das Universidades de Lisboa e
Porto e do IADE . 99
- Caracterização sociográfica dos alunos e ex-alunos das
Faculdades de Belas Artes das Universidades de Lisboa,
Porto e do Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing. 102
a) Estatuto conjugal. 105
A Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. 107
- Resenha histórica. 107
- O curso de design (equipamento e comunicação). 113
a) A escola. 121
b) Os recursos da escola. 124
c) A estrutura curricular do curso. 129
d) Os professores. 135
e) A vida profissional. 137
A Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. 139
- Resenha histórica. 139
- O curso de design de comunicação / arte gráfica. 143
a) A escola. 146
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
b) Os recursos da escola. 149
c) A estrutura curricular do curso. 151
d) Os professores. 154
e) A vida profissional. 155
O Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing. 158
- Resenha histórica. 158
- O curso de design (equipamento e comunicação). 162
a) A escola. 165
b) Os recursos da escola. 168
c) A estrutura curricular do curso. 171
d) Os professores. 175
e) A vida profissional. 176
Conclusão. 178
Índice Onomástico. 187
Índice Temático. 193
Bibliografia. 196
Bibliografia geral. 196
Bibliografia específica. 198
Bibliografia em periódicos. 200
Catálogos. 202
Fontes oficiais. 203
II VOLUME
Anexo I - O Curso de Formação Artística da Sociedade Nacional de Belas Artes.
Anexo II - Os cursos leccionados na Escola de Artes Decorativas Secundária
Soares dos Reis.
Anexo III - Os cursos leccionados na Escola Industrial de Arte Aplicada
António Arroio.
Anexo IV - Os cursos leccionados no Ar.co.
Anexo V - Entrevista realizada aos criadores dos cursos de Design nas
Faculdades de Belas Artes das Universidades de Lisboa e Porto e no IADE.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
Anexo VI - Entrevista realizada aos professores dos cursos de Design nas
Faculdades de Belas Artes das Universidades de Lisboa e Porto e no IADE.
Anexo VII - Questionários realizados aos ex-alunos das Faculdades de Belas
Artes das Universidades de Lisboa e Porto e do IADE.
Anexo VIII - Questionários realizados aos actuais alunos das Faculdades de
Belas Artes das Universidades de Lisboa e Porto e do IADE.
Anexo IX - Recolha de anúncios de oferta de emprego na área do Design.
Anexo X - Tabela de estabelecimentos de ensino e respectivos cursos na área do
Design existentes em Portugal.
Anexo XI - Proposta de alteração da estrutura curricular do curso de Design de
Comunicação da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
III VOLUME
Anexos – Fontes Oficiais – Decretos-Lei.
IV VOLUME
Anexo XIII - Desdobrável de divulgação e estrutura curricular do primeiro curso
de Design criado na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
Anexo XIV - Os cursos existentes na Faculdade de Belas Artes da Universidade
de Lisboa.
Anexo XV - Lista de empresas e escolas com as quais a Faculdade de Belas
Artes da Universidade de Lisboa mantém protocolos de colaboração.
Anexo XVI - Entrevistas realizadas aos responsáveis pela criação dos cursos de
Design na FBAUL.
Anexo XVII - Entrevistas realizadas aos professores dos cursos de Design da
FBAUL.
Anexo XVIII - Resultados dos questionários realizados aos ex-alunos dos cursos
de Design da FBAUL.
Anexo XIX - Resultados dos questionários realizados aos actuais alunos dos
cursos de Design da FBAUL.
Anexo XX - Programas das disciplinas dos cursos de Design da FBAUL.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
V VOLUME
Anexo XXI - Os cursos existentes na Faculdade de Belas Artes da Universidade
do Porto.
Anexo XXII - Entrevistas realizadas aos responsáveis pela criação do curso de
Design da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Anexo XXIII - Entrevistas realizadas aos professores do curso de Design da
Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Anexo XXIV - Resultados dos questionários realizados aos ex-alunos do curso
de Design da FBAUP.
Anexo XXV - Resultados dos questionários realizados aos actuais alunos do
curso de Design da FBAUP.
Anexo XXVI - Programas das disciplinas do curso de Design da Faculdade de
Belas Artes da Universidade do Porto.
VI VOLUME
Anexo XXVII - Os cursos existentes no Instituto de Artes Visuais, Design e
Marketing.
Anexo XXVIII - Entrevistas realizadas aos responsáveis pela criação dos cursos
de Design no Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing.
Anexo XXIX - - Entrevistas realizadas aos professores dos cursos de Design do
Instituto de Artes Visuais, Design e Marketing.
Anexo XXX - Resultados dos questionários realizados aos ex-alunos dos cursos
de Design do IADE.
Anexo XXXI - Resultados dos questionários realizados aos actuais alunos dos
cursos de Design do IADE.
Anexo XXXII - Programas das disciplinas dos cursos de Design do Instituto de
Artes Visuais, Design e Marketing.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
VII VOLUME
Anexo XXXIII - Questionários respondidos pelos ex-alunos dos cursos de
Design da FBAUL.
Anexo XXXIV - Questionários respondidos pelos actuais alunos do curso de
Design de Equipamento da FBAUL.
Anexo XXXV - Questionários respondidos pelos actuais alunos do curso de
Design de Comunicação da FBAUL.
VIII VOLUME
Anexo XXXVI - Questionários respondidos pelos ex-alunos do curso de Design
da FBAUP.
Anexo XXXVII - Questionários respondidos pelos actuais alunos do curso de
Design da FBAUP.
IX VOLUME
Anexo XXXVIII - Questionários respondidos pelos ex-alunos dos cursos de
Design do IADE.
Anexo XXXIX - Questionários respondidos pelos actuais alunos dos cursos de
Design do IADE.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
INTRODUÇÃO
“A evolução e qualidade do Ensino de Design em Portugal”, foram as palavras
que nos lançaram à aventura na realização de um trabalho que, à partida, se apresentava
tão vasto e com fronteiras tão indefinidas, e que por fidelidade apresentamos como seu
título e fundamento.
Com elas iniciámos um percurso de investigação que não foi linear nem fiel a
pressupostos mas que, pelo contrário, se foi estabelecendo à medida que as pistas se
faziam e desfaziam, consoante os obstáculos e os entusiasmos.
O tema sugeria múltiplos vectores de pesquisa e os mais diversificados objectos
de análise, tais como, currículos dos cursos, programas das disciplinas, regulamentação
da Escola, professores, alunos e ex-alunos dos cursos, etc., só para citar os mais óbvios
e por eles principiámos o trabalho, tentando seleccionar, de tão vasto conjunto, os
elementos que possibilitassem a realização de um trabalho coerente, nos limites de
tempo que se impunha.
Algumas pistas ficaram pelo caminho e também alguma investigação realizada
como o caso do estudo da Faculdade de Belas Artes de Lisboa que só por si era
suficiente para a elaboração de outro trabalho com proporções idênticas. Outras foram
excluídas, embora, com um inegável interesse para o tema em questão, mas
desajustadas em termos de percurso e de tempo, ou ainda a investigação em Livros ou
Jornais, pela consciência de que um levantamento tão vasto e diversificado iria eternizar
um tempo de trabalho, ou pelo menos prolongá-lo por mais alguns anos.
Foi assim que as principais e mais antigas escolas com cursos de Design do país,
acabaram por criar, só por si, um espaço próprio e autónomo, obrigando à exclusão dos
restantes vectores de pesquisa e apresentando-se como um bloco homogéneo capaz de
fornecer todos os elementos necessários. Cursos nascidos, quase todos, do fervilhar da
“Revolução dos Cravos”- o 25 de Abril, eles foram na realidade um fenómeno da época
nestas escolas e daí a sua homogeneidade e os seus múltiplos pontos de contacto, e
como tal importa analisá-los.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
Foram assim seleccionadas a Faculdade de Belas Artes da Universidade de
Lisboa, a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e o IADE, funcionando
como as principais referências do ensino do Design em Portugal.
Delimitado assim o objecto de análise, a investigação prosseguiu, pelo
levantamento exaustivo – tanto quanto possível – daqueles que considerámos ser os
antecedentes do ensino do Design em Portugal nomeadamente acontecimentos ao nível
da indústria, da ilustração em Revistas, da divulgação em campanhas publicitárias como
no Estado Novo ou em escolas que de algum modo, incentivaram uma maior abertura
de espírito e aceitação deste novo mundo que é o mundo do Design, tudo isto ao mesmo
tempo que se recolhiam todos os artigos susceptíveis de possuir algum interesse para a
história sócio-cultural destes anos.
Entramos então, no campo do ensino do Design e da sua qualidade ao nível das
três escolas em estudo.
Questionadas no seu todo, estas instituições fornecem deste modo várias
respostas às questões que colocámos inicialmente e às dúvidas que foram surgindo ao
longo de todo o percurso que percorremos para realizar um estudo aprofundado das
escolas que escolhemos.
Assim, a organização dos dados recolhidos foi, também ela, objecto de múltiplos
ensaios, na tentativa de equacionar as questões mais importantes, mas evitando o perigo
de uma sobreposição ou de uma repetição sistemáticas. Optámos por dividi-los em dois
grupos, correspondentes aos dois principais capítulos – Os antecedentes do Ensino do
Design e as escolas em estudo (como entidades autónomas) tendo em conta os dados
obtidos por uma investigação estatística, tornados ambos objectos de análise
individualizados, mas, evidentemente, permeáveis pela sua existência real.
De certo modo introdutório ao tema, o primeiro capítulo, resulta da necessidade
de perceber as raízes destas actividades, nele auscultamos alguns dos acontecimentos
artísticos mais importantes da época e que antecedem a criação de cursos de Design em
Portugal, nomeadamente escolas de ensino técnico e profissional tais como: a Escola de
Artes Decorativas Soares dos Reis, a Escola Industrial de Arte Aplicada António Arroio
e o Ar.co. Não referimos porém, o ensino da Casa Pia, não por que este não seja um
aspecto importante a considerar para o desenvolvimento do tema mas, porque sentimos
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
alguma necessidade de limitar um pouco o campo do nosso estudo de forma a não
podermos cair em risco de tornar este trabalho demasiado extenso.
O trabalho que se irá desenvolver, responde a algumas questões prévias que
assentam em três elementos indissociáveis – As três escolas que consideramos
fundamentais e mais marcantes no ensino de Design em todo o país, a sua evolução e a
qualidade em termos de prestação de um serviço importante para a comunidade e que
assenta na formação de Designers que habitam o mundo profissional. O que estes
representaram, e representam ainda, como intervenientes dum processo cultural e
artístico de que fizeram parte, em que medida contribuíram para a difusão e assimilação
de novos valores, e qual a sua acção conjunta na definição de um movimento cultural,
são algumas das questões a que procuraremos responder.
Contudo, para responder as questões relacionadas com o ensino do Design, será
pertinente encontrar uma definição que explique o que é o Design.
Segundo Daciano da Costa “A palavra Design só aparece “oficializada” em
1971, na Iª Exposição do Design Português, também promovida pelo INII, tendo então
Torres Campos como director e Maria Helena Matos como responsável do «núcleo de
Design».
Podemos afirmar que é nesta data que o Design obtém em Portugal a sua
«certidão de registo civil». Tinham, no entanto , decorrido mais de trinta anos desde
que Frederico George, na Escola António Arroio, introduzira o conceito de Design na
prática docente das disciplinas de Desenho de Mobiliário e de Arquitectura de
Interiores”.1
A palavra Design significa toda uma actividade projectual da qual, sem dúvida
faz parte o Desenho e, como tal, todos os objectos que nos rodeiam passaram por essa
etapa que representa o Desenho.
O Design assumido como elemento imprescindível do processo de produção
industrial aparece, generalizadamente, nas empresas mais avançadas dos países
industrializados como os E.U.A., Alemanha, Inglaterra, os países escandinavos e, a
1 Daciano da Costa - Daciano da Costa Designer. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. p.17.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
partir dos anos 50, na Itália. Isso deve-se a um processo evolutivo normal e também ao
esforço desenvolvido por alguns governos na implementação de organismos de suporte.
Ao nível das técnicas construtivas ensaiam-se novas aplicações. Novas
formulações estruturais contribuem para modificar os espaços vivenciais e as paisagens,
sendo, naturalmente, acompanhadas por complicadas situações estéticas ao nível dos
equipamentos e dos objectos.
A palavra Design é um estrangeirismo que tem um uso relativamente recente em
Portugal. Deverá ter entrado na nossa língua sensivelmente a partir de 1975, quando
foram implantados, pela primeira vez, cursos de Design em Portugal.
Design é uma palavra de origem inglesa. Nesta língua, este substantivo transmite
por um lado a ideia de planificação, intenção e desígnio, por outro lado ele encerra
ainda a ideia de configuração, arranjo e estrutura.1
A palavra Design tem a sua origem no verbo latim Designare, que abrange dois
sentidos distintos: o de designar e o de desenhar.2
Do ponto de vista etimológico, o termo Design contém, nas suas origens, uma
ambiguidade, uma tensão dinâmica, entre o aspecto abstracto de conceber, projectar,
atribuir e o aspecto concreto de registar, configurar, formar.
Desde o ensino da Bauhaus o Design já procurava um novo artista, e este que
fosse útil à sociedade. A sociedade deveria encontrar o seu equilíbrio vital, sendo este
alcançado, quando os objectos de uso quotidiano e o ambiente em que vivemos forem
obras de arte.
Assim, a vontade de Desenhar nasce em todos nós muito cedo. É uma das muitas
formas espontâneas que temos para registar o mundo que nos rodeia, de
compreendermos o significado das coisas, de manifestar as nossas emoções e desejos,
de comunicar com os outros e de pensar. No entanto, o Design acrescenta ao Desenho
algo de novo: uma intenção de imaginar e realizar soluções para problemas concretos,
que podem ser muito diversos.
1 Dicionário de Português-Inglês. 2ª Edição. Porto: Porto Editora, Agosto 1998.2 Dicionário de Português-Latim. 2ª Edição. Porto: Porto Editora, Agosto 1998.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
A procura de soluções, mesmo para problemas simples, implica que o desenho
estude em pormenor cada fase do processo para a obtenção do resultado que se pretende
atingir.
A complexidade dos desenhos necessários vai surgindo à medida que o Designer
se aproxima das soluções que considera ideais ou que são possíveis.
As formas, cores, os materiais, as dimensões, o peso, a resistência, a dualidade,
os meios de produção, reciclagem e o preço final de cada objecto, são algumas das
várias preocupações que o Designer deve colocar nos seus desenhos em função daquilo
a que os produtos se destinam e de quem vai utilizá-los.
Neste conjunto de preocupações que se acrescentam ao Desenho, reside o
significado mais importante da palavra Design.
O Homem, ao longo dos séculos, tem deixado marcas da sua presença, criando
“paisagens de artefactos” onde já dificilmente conseguimos encontrar um único
“objecto natural”. Tem sido da experiência dessa “viagem”, observando atentamente o
mundo que o rodeia, que ele tem colhido todas as informações para organizar o seu
espaço social, criar equipamentos para os seus locais de trabalhos ou de lazer e para
materializar objectos (de valor utilitário, estético e afectivo) que determinam o seu
modo de viver.
A alavanca, a roda, a roldana, as ferramentas, as máquinas, os utensílios e as
habitações, os suportes de mensagens e os sistemas de sinais, os meios de transporte e
os meios de comunicação - que têm permitido a sobrevivência da espécie humana e o
seu progresso - são prodigiosas contribuições do Design que procuram dar resposta a
muitas aspirações colectivas de bem estar.
Portanto, a disciplina do Design, sendo fundamentalmente um método de
trabalho, tem diversificado a sua actuação em quase todas as actividades do Homem,
prestando colaborações preciosas a todos os ramos da ciência e da arte.
A publicidade é o exemplo que mais influência exerce no espaço que nos
envolve. E nesse espaço, cidade, vila ou aldeia, os equipamentos urbanos e a sinalização
desempenham também um papel significativo no conforto e no convívio com as
pessoas.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
Podemos então , procurar várias definições para a palavra, “Design, s.m. (Ing.).
Estudo do arranjo harmónico e racional do meio ambiente humano, desde o desenho de
objectos ou utensílios industriais até à concepção urbanística.”1
Podemos encontrar ainda, outras definições de Design, tal como aquela que,
além de muitas outras, Carlos de Sousa Rocha nos deixa, assim “Design é o conjunto
de operações desenvolvidas no sentido de dar forma a objectos, equipamentos ou
sistemas ou, no campo da comunicação, a mensagens que respondam a necessidades
detectadas.
Os projectos de design podem ter vários níveis de complexidade e requerem
uma série de etapas que vão desde a concepção até à realização, passando por todos os
estudos e fases experimentais e de desenvolvimento que confirmem o nível e a
capacidade de resposta do projecto à necessidade visada.”2
Contudo, outras são ainda as definições que poderemos encontrar sobre o
conceito de Design: “Design é a forma geral ou composição de qualquer construção ou
obra de arte; Em arte aplicada - a forma dada a qualquer objecto utilitário e também o
como ele funciona.”3
Ainda sobre o conceito de Design, podemos encontrar algumas definições do
termo um pouco mais específicas, ou seja, notando uma diferenciação de vários sectores
do Design. “Design Gráfico é um sector do design que se ocupa da configuração das
mensagens e sistemas gráficos e da produção e reprodução gráfica, fotográfica,
serigráfica e televisiva.”4
Contudo, ao procurar uma definição do conceito de Design em qualquer
dicionário de Língua Portuguesa, “Design significa desenho; esboço; plano; estética
industrial; estilo industrial; desenho destinado à arte industrial; que serve de base à
1 Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. 1985.2 Carlos de Sousa Rocha – Design Gráfico: Panorâmica das Artes Gráficas II. Lisboa: Plátano EdiçõesTécnicas, 1993. p. 8.3 Edward Lucie-Smith – Dicionário de Termos de Arte. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1990.4 Maurício Fernandes – Manual do Design 1: Da Metodologia à Ergonomia. Madeira: Universidade daMadeira – Instituto Superior de Arte e Design, 1994.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
produção em série de objectos de uso comum, a cuja utilidade prática se deverá juntar
beleza e elegância; concepção gráfica de um produto.”1
Porém, também os alunos da Faculdade de Belas Artes da Universidade de
Lisboa definem o design como “actividade projectual englobando componentes sociais,
económicas, industriais e estéticas, tendendo à resolução de problemas do homem em
articulação com o envolvimento natural e cultural, através da produção de objectos ou
artefactos bi e tri-dimensionais. Há fundamentalmente dois tipos de design: de
equipamento ou industrial (produtos, interiores, embalagem, etc.) e de comunicação
(gráfico, vídeo, cinema, etc.).”2
Ainda por outras palavras, entende-se por design industrial, dar forma aos
produtos da indústria, pelo que o designer deverá dispor de conhecimentos, aptidões e
experiências que, atendendo aos factores predominantes da produção, lhe permitam
conceber o produto a ser executado, elaborando os respectivos estudos, e
acompanhando o processo de execução até à sua concretização final, em estreita
colaboração com os demais intervenientes na planificação da produção e na fabricação.
Na sua actividade criadora, o designer basear-se-á nos conhecimentos científicos e nas
técnicas. O fim da sua actividade é a produção de bens industriais que, quer social, quer
culturalmente, estejam ao serviço da sociedade.
Deparamos ainda, com outro definição bastante actual do Design: “Estética de
concepção dos objectos utilitários, em que se procuram novas formas adaptadas às
funções; criação estética de objectos, produtos industriais e comerciais.”3
O Design é ainda interpretado e definido, das mais variadas formas, pela
imprensa, sempre que são tidos em linha de conta conceitos como, Arte e Design,
Design Gráfico e Design Industrial. “Nascido nos anos 20 com a influência do
movimento alemão do «Bauhaus», o design tentou inicialmente combinar a
funcionalidade com a estética na arquitectura, mobiliário e produtos
manufacturados.”4
1 Dicionário da Língua Portuguesa. 8ª Edição. Porto: Porto Editora, Agosto 1998.2 Glossário de Design Gráfico. Lisboa: Escola Superior de Belas Artes, 1991. p. 17.3 Academia das Ciências de Lisboa – Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. I Vol. A-F.Lisboa: Editorial Verbo, 2001.4 Jornal Expresso. 11-01-1992.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
Quanto ao aspecto dos objectos concebidos: “Este novo telefone público, pelo
design, tecnologia e qualidade, é bem representativo do esforço na produção de novos e
modernos equipamentos.”1
Quanto à definição de designer: “ Artista que concebe objectos em que a
funcionalidade e a estética se combinam; especialistas em Design.”2
Portanto, é esta disciplina do Design que pretendemos estudar, no sentido de
perceber como é que ela é entendida no seio das instituições que a leccionam na forma
de curso e como é que é recebida pela sociedade e no mundo profissional.
O Design é, na sua essência, uma prática interdisciplinar.
Ele é uma das chamadas artes do projecto, porque o seu processo criativo se
constitui numa série articulada de procedimentos controlados, tendo em vista a
dialéctica entre a ideia e a forma, através da produção de um “Desenho” que descreve o
objecto a construir. Mas é também inerente ao Design o situar-se no cruzamento das
artes visuais tradicionais, com as ciências sociais e humanas, os mecanismos de
mercado e as técnicas de reprodução.
Não há processo pedagógico em nenhuma escola que possa ter êxito, se
menosprezar qualquer um destes aspectos – quer a nível dos chamados cursos médios,
de formação mais dependente dos circuitos tradicionais, quer nas licenciaturas das
escolas superiores, em que a formação para o mercado deve implicar uma especulação
técnica capaz de dotar o aluno de um efectivo poder de análise e crítica.
Adoptámos, para a realização desta investigação, uma metodologia que consistiu
fundamentalmente, numa primeira fase, na recolha de dados para fundamentar a escolha
do tema através da realização de entrevistas quer aos professores envolvidos no
processo de criação dos cursos, quer aos actuais professores dos cursos de design das
escolas em estudo. Realizámos ainda, dois questionários que se destinaram aos antigos e
aos actuais alunos das escolas, o que nos permitiu perceber até que ponto é que as
expectativas dos alunos, durante a sua formação, com a actividade profissional que
iriam desempenhar posteriormente, correspondeu à sua realização já no mundo
1 Jornal Expresso. 14-11-1987.2 Academia das Ciências de Lisboa – Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. I Vol. A-F.Lisboa: Editorial Verbo, 2001.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
profissional. Claro está que através dos questionários foram muitos os aspectos que nos
foram permitidos analisar já numa segunda fase da nossa investigação.
Para seleccionarmos a amostra de inquiridos, contámos com o apoio do Centro
Português do Design que nos disponibilizou, de imediato, uma extensa lista de nomes,
contactos e respectivas escolas responsáveis pela formação superior de antigos alunos
das Faculdades de Belas Artes de Lisboa e Porto e do IADE, o que nos permitiu
recolher um número razoável e aceitável de nomes para podermos iniciar a
investigação.
Após realizarmos todo o tratamento estatístico dos dados obtidos nos
questionários e em toda a nossa investigação, apresentamos por fim, algumas
conclusões pertinentes a que nos permitimos chegar através da realização da tese que a
seguir apresentamos.
_______________ A Evolução e a Qualidade do Ensino do Design Gráfico em Portugal
CONCLUSÃO
O ensino do Design em Portugal teve um decisivo incremento após o 25 de Abril
de 1974, com a criação das primeiras licenciaturas em escolas públicas, nomeadamente
Escolas Superiores de Belas Artes de Lisboa e Porto(1975) e o Instituto Superior de
Artes Plásticas da Madeira(1977).
O IADE, instituição particular aberta em 1969, começa com cursos de
decoração, só depois vindo a integrar cursos de Design. O AR.CO, outra escola privada
importante, nasce em 1973 e é, assim, directamente influenciada pelo movimento que,
no ano seguinte, vai alterar completamente a face do país. Tem hoje também, formação
em Design Gráfico.
Mas é apenas no inicio desta época que começam a proliferar diversas
instituições, particulares ou ligados ao ensino público, que criam cursos na área do
design – quer como reflexo de uma procura crescente pelos alunos, quer pela
necessidade de adaptação de alguns segmentos industriais face á integração no mercado
europeu.
O ensino superior em Portugal compreende o ensino universitário e o ensino
politécnico.
Tanto o ensino universitário como o politécnico podem conferir os graus de
bacharel e de licenciado, embora sejam raros os cursos de bacharelato no ensino
universitário. Algumas áreas só existem no ensino universitário enquanto outras só
existem no ensino politécnico, havendo muitas que são partilhadas por ambos os tipos
de ensino.
O ensino politécnico tem objectivos mais profissionalizantes e a maior parte das
licenciaturas neste tipo de ensino são do tipo bi-etápico, ou seja, conferem num primeiro
ciclo, o grau de bacharel que pode ser complementado por um segundo ciclo conferindo
o grau de licenciado.
A licenciatura corresponde a uma formação académica mais longa, de pelo
menos quatro anos, enquanto o bacharelato tem a duração máxima de três anos.
A nível básico e secundário, e no referente à área das Artes Visuais, o Ensino
Artístico em Portugal tem vindo a organizar-se em moldes que se julga tendencialmente
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adequados, desde que aos Docentes e às Escolas venham a ser proporcionadas
condições dignas de actuação, que permitam um efectivo cumprimento dos respectivos
programas. A nível superior é que a situação se tornou há muito intolerável. Desde logo,
porque enferma dos mesmos vícios da generalidade do ensino superior e universitário
português: instalações e equipamentos caducos, impróprios e insuficientes;
desmotivação, alheamento e inadequada preparação (nomeadamente pedagógica, mas
também frequentemente teórico-científica) de grande parte dos Docentes; programas e
métodos pouco coerentes; organização concentracionista e gestão centralizadora e
burocrática; estratificação de carreiras artificiosamente burocratizada e mais orientada
para os formalismos (como guardiã de vassalagens e privilégios feudais) fundada em
reais competências experimentalmente comprovadas; inadequados regimes de acesso e
deficiente formação anterior dos alunos; dominante apoio às formações
tecnocratizantes, em detrimento das vertentes de maior componente corporal e
humanística. É óbvio entretanto que, neste panorama, o Ensino Superior Artístico ainda
vem sendo, de há muito, o mais penalizado e marginalizado por algum acomodamento
próprio, mas sobretudo, em razão das incompreensões que gera, especialmente perante o
analfabetismo cultural do economicismo dominante, que o julga pouco produtivo, a não
ser em termos de algum aparente lustre ... E assim, apesar dos processos de profunda
renovação empreendidos, desde 74, pela ESBAL, pela ESBAP e pelo ISAPM, únicas
escolas superiores públicas nesta área (secundadas, em perspectivas de índole mais
politécnica, pelas escolas privadas e cooperativas, em particular o IADE, a Árvore e o
Ar.co), sempre aqueles estabelecimentos têm deparado com as mais surdas resistências
do Ministério da tutela, que mais parece apostado na sua deterioração! Basta ver que,
embora detenham estatuto paralelo e equiparado ao das escolas universitárias, os seus
diplomas sejam equivalentes aos das licenciaturas universitárias, não têm, os sucessivos
Governos respeitado tal estatuto.
Porém o alvo da nossa investigação é o Design, e o Design em termos do seu
ensino ao nível superior e de facto, é este tipo de cursos que pretendemos apontar de
forma a procurar perceber como eles funcionam, como são reconhecidos e quais as suas
dificuldades em termos de reconhecimento pela sociedade, pelo mercado de trabalho e
pelo próprio Governo.
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O que hoje parece dominante na concepção dos cursos design das escolas
portuguesas é um imediatismo de princípios na preparação de profissionais standard
com uma suposta capacidade de intervenção concorrencial nos mercados. Se não queres
combatê-los, terás que te juntar a eles...
Países como o nosso, apresentando grande grau de dependência estratégica e
tecnológica, terão sempre uma enorme dificuldade em inovar, tanto no que se refere aos
modos de produção, como mesmo em aspectos organizativos ou de planeamento. A
nossa capacidade de projectar só poderá apresentar sinais verdadeiramente criativos se
for considerada dentro dos parâmetros próprios do país/região. Isto é, há, por assim
dizer, que assumir algumas fronteiras e, dentro delas, estruturar um pensamento que
possa revelar-se original.
É verdade que aquilo que a industria nos pede é, em certa medida, o oposto:
capacidade de competir vantajosamente com a Europa, nos exactos termos por esta
definidos, e daí a defesa tenaz de um grande pragmatismo no ensino – forma depressa
designers competentes para encontrar as respostas naturais na dinâmica do mercado.
Este caminho apela à demissão do Design daquilo que são algumas das suas
características fundamentais: bissectriz entre diversos estratos sociais, democratização
dos valores estéticos transportados pela função, valorização das culturas próprias de
cada sítio.
Poderá equacionar-se a questão com uma pergunta: que tipo de design e que
perfil de designers se pretende para este país?
A própria função de Designer parece estar muito pouco esclarecida, o que se
explica tanto por ser uma profissão recente, como pelo facto de ser uma função que tem
vindo a ser assegurada por profissionais com formações muito diversas.
Assim, os limites da intervenção dos designers em termos organizacionais e as
fronteiras que os separam de profissões adjacentes (desenhadores técnicos, arquitectos,
gráficos, consultores de imagem, gestores de produto, ...), são linhas muito ténues e
facilmente ultrapassadas por todos os intervenientes nestas áreas.
O próprio papel do Designer no seio das organizações onde é chamado a
intervir, parece estar muito pouco clarificado, sendo objecto de interpretações erradas,
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tanto por parte dos empresários como por parte dos próprios designers, sobretudo se
estes últimos são ainda pouco experientes.
Existe ainda uma grande indefinição quanto às áreas de especialização dentro do
design e respectivas competências, pelo que é comum encontrar designer gráficos a
conceber produtos e stands, e designers de produto a conceberem logotipos ou a
fazerem desenvolvimentos da imagem institucional da empresa onde trabalham.
O facto da actividade de Designer ser ainda muito pouco regulada (quer por
regras escritas, quer por uma tradição de práticas aceites por todos), leva a que existam
práticas muito diversas o que conduz, por parte dos vários intervenientes, a um grande
desejo de clarificação.
Poderemos apontar algumas das que consideramos serem as medidas mais
urgentes para a tentativa de clarificação deste sector: necessidade de definição de uma
identidade jurídica e fiscal para os designers, de níveis de formação específicos para a
obtenção de diploma de Designer / determinar critérios de certificação, de um campo de
competências e de um código de conduta entre designers e contratantes.
O Designer não é um simples delegado do consumidor nem um venerador
assalariado do industrial. Ele tem como responsabilidade profissional reforçar os
diversos conceitos de valor implícito no próprio objecto (artístico, social, operativo)
sabendo que o objecto é cada vez mais reflexo de uma dominação, imagem veículo de si
mesmo e, como tal ideologicamente conservadora.
E, se é aceitável e até desejável que os nossos profissionais sejam dotados de
formação e de um enquadramento teórico – prático de acordo com as exigências da
concorrência, é também imprescindível que a escola não contribua para descaracterizar
a sua sensibilidade, remetendo-a para uma criativa natural nas artes plásticas, mas
contraditória no design ou levando a interiorizarão no designer a ideia de que só
dominado cultural e tecnologicamente poderá realizar os seus desígnios.
Porém, de alguma forma a actividade de Designer não é ainda completa ou
totalmente aceite no seio da sociedade, o que dificulta também a acção interventiva dos
jovens designers.
De facto, o design português é, de um modo geral, pouco valorizado pelo tecido
empresarial e pelo público em geral, o que se explicará por factores de diversos níveis:
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- Verifica-se uma não valorização pela cultura “oficial”, da nossa tradição
estética popular e/ou industrial. São poucos os sectores onde existe uma personalidade
estética portuguesa definida ( azulejaria, louça, ferro forjado, bordados, ...) e mesmo
esses têm sido menosprezados pela inteligência local, pelos media e pelos próprios
designers. Como consequência disto, o grande público também não o valoriza e não o
compra, e isto refere-se não só ao têxtil, mas ao mobiliário e até ao design de
comunicação.
- O design português de sucesso desfruta de pouca visibilidade existindo poucos
designers de nomeado reconhecimento e sendo ainda menos aqueles que são conhecidos
fora do meio, mesmo cá em Portugal.
- A concorrência directa de países com “indústrias de design” muito fortes, tende
a dificultar a implantação dos designers portugueses, que concorrem em situação de
desigualdade (em termos de meios técnicos, “aparato” e prestígio).
- A agravar todos estes problemas históricos e sociológicos, constata-se o
lançamento para o mercado de uma profusão de recém-licenciados pouco preparados
para a realidade empresarial, e que, com alguma frequência, dão uma imagem deturpada
do estado da profissão, retirando-lhe credibilidade e apelatividade desejável.
Assim, urge equacionar algumas soluções ou directrizes na correcção deste
aspecto em termos de aceitação do design.
As escolas deverão então formar designers humanistas e críticos, capazes de
encontrar as respostas necessárias e suficientes – para este país, com estes recursos, com
estes materiais e com estes utentes.
Isto não depende, no entanto, apenas das pedagogias e dos planos de cursos, mas
também da parte de se poder desenvolver um trabalho ao nível da explicitação orgânica
e valorização da ideia de design nas empresas privadas, empresas públicas, autarquias,
departamentos estatais, na criação de postos de trabalho destinados a designers e
técnicos de design, tendo em conta os diversos tipos de especialização, na formação
profissional de quadros intermédios e na criação de legislação adequada e que, numa
fase inicial, proteja adequadamente as diversas entidades intervenientes.
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A acção das escolas é, neste contexto, importante a pelo menos, três níveis:
formação destes designers, informação e sensibilização dos utentes, pressão sobre o
poder.
E porque não existirem cargos criados, ao nível das Autarquias, Juntas de
Freguesia, Ministérios, etc., para profissionais formados em design que promovam a
imagem e qualidade de toda a divulgação das mesmas?
Parte das Escolas a pressão exercida sobre o Governo, no sentido de se
reconhecerem afectivamente os cursos de design e, nesse sentido, de se criarem postos
para os designers no país.
Cabe então, ao Governo tomar a iniciativa no reconhecimento do design como
profissão de grande importância para o país e na sensibilização de toda a população para
o que é o design, em que consiste, para que serve, qual é realmente a sua importância e
as vantagens que há para o país em o reconhecer como uma profissão de grande força e
poder no futuro.
No que respeita à formação destes designers, algumas serão também as
sugestões que aqui apresentamos uma vez que esta formação, de alguma forma
deficiente, se faz notar também ao nível profissional que ainda encontra alguma forma
de acolher estes jovens recém-licenciados.
E de facto, esta é uma das questões que se evidencia como uma das maiores
preocupações dos jovens licenciados e de futuros licenciados que é a questão da sua
aceitação no mercado de trabalho, o facto de ainda haver procura de profissionais com o
perfil que apresentam na sua formação.
Em relação a essas preocupações evidenciadas também por todos os grupos de
inquiridos, relativamente às três escolas em estudo, sobre a questão da colocação
profissional após a conclusão das licenciaturas na área do design, ramo de design
gráfico ou de comunicação, procurámos sondar, embora de uma forma ligeira, o
mercado de oferta de emprego. Para tal, durante um mês e meio, (de 15 de Março a 28
de Abril), adquirimos diariamente o Diário de Notícias e semanalmente o Expresso1.
Constatámos que a oferta de emprego na área em causa ainda é uma realidade agradável
1 Ver Anexo IX.
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o que, de alguma forma, servirá de algum incentivo para os alunos que já ingressaram
neste cursos ou mesmo para aqueles que ainda pretendem aí ingressar.
Encontrámos assim, variadíssimas propostas como as que procuram Designers
Gráficos com conhecimentos de Web e Multimédia, de Designers para gabinetes de
decoração e arquitectura, Designers de Equipamento, enfim, propostas que poderão ser
aliciantes para futuros recém-licenciados. Encontrámos ainda, outras propostas na área
que poderiam servir como algum auxílio aos alunos que ainda estudam, quer em termos
financeiros, quer ainda, em termos de complementos práticos na formação dos jovens,
futuros designers. Propostas para Impressor Offset, Ajudante de Offset, Técnico de
Produção Gráfica, Técnico de Impressão Digital, Desenhador de Artes Gráficas, foram
encontradas durante este mês e meio em que investimos na sondagem do mercado de
emprego.
Porém, não podemos tomar as conclusões desta sondagem como algo válido e
aplicável em todas as alturas do ano uma vez que, se trata de um estudo de curta
duração e sendo certo também, que a oferta de emprego varia muito com a época do ano
em que nos encontramos e, inclusivamente, com outros factores de âmbito sócio-
-económico e social.
Contudo, não será, de todo, preocupante a forma como se integram os recém-
-licenciados no meio profissional, uma vez que, ainda se inserem numa área em que o
mercado de emprego é bastante jovem, está disponível e não apresenta qualquer indício
de saturação o que, de alguma forma, acaba por dar resposta a algumas das questões que
se evidenciaram como aquelas que invadem o leque de preocupações dos alunos dos
cursos de design nas Faculdades de Belas Artes de Lisboa e Porto e no IADE.
Será então, mais fácil apontar algumas deficiências na formação, ao nível do
ensino superior, mais do que ao nível da procura de profissionais na área, como forma
de explicar a fraca aceitação de designers no mercado de trabalho do nosso país.
Desenvolvimentos variadíssimos na tecnologia dos meios de comunicação e da
economia informatizada, têm afectado profundamente a prática e o ensino do design de
comunicação visual. Novos desafios confrontam o designer.
A variedade e a complexidade das questões relacionadas ao design têm-se
expandido.
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O desafio resultante é a necessidade de um equilíbrio ecológico mais avançado
entre os seres humanos e o seu ambiente sócio-cultural e natural.
O ensino do design deve concentrar-se numa mentalidade crítica, combinada às
ferramentas usadas para a comunicação. Deve fomentar uma habilidade e atitude que
levem a uma auto-reflexão.
O novo programa deve estimular estratégias e métodos para a comunicação e
cooperação.
A teoria e a história do design deveriam ser parte integrante do ensino do design.
A pesquisa em design deveria incrementar a produção de reconhecimento neste campo,
de modo a potencializar o rendimento do mesmo, por meio da compreensão de factores
de cognição e emoção, bem como de factores físicos, sociais e culturais
Mais do que nunca, o ensino do design deve preparar os estudantes para as
transformações. Com esta finalidade, ele deve alterar o seu enfoque, de um modelo
baseado no ensino para um novo modelo centrado no aprendizado, de tal modo que os
alunos possam experimentar e desenvolver os seus próprios potenciais dentro dos
programas académicos .
Portanto, o papel do educador em design desloca-se daquele de fornecedor
exclusivo do conhecimento, para o da pessoa que inspira e facilita a orientação no
sentido de uma prática mais substancial.
Propomos assim, modestamente, uma remodelação dos vários currículos dos
cursos de ensino superior do design no nosso país, de forma a que estes se ajustem e se
equiparem aos avanços permanentes do mercado de trabalho ao nível tecnológico e
científico. Assim, apresentamos a nossa proposta1 na remodelação de design com a
criação de um modelo de estrutura curricular, próxima de estar ao nível do avanço
tecnológico, social, económico e científico do nosso país.
Em suma, deixamos então presente a necessidade que se verifica urgente na
procura de adaptação do ensino aos avanços técnicos, tecnológicos e científicos de
forma a que os cursos superiores de design em Portugal possam estar lado a lado, em
1 Ver Anexo XI.
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termos de solidez na formação do designers com as grandes escolas de design da
Europa.
Este trabalho foi, de facto, algo de muito esclarecedor e extremamente
enriquecedor ao nível da nossa formação o que, além de ser trabalhoso, se tornou para
nós algo que desenvolvemos com todo o interesse, disponibilidade e agradabilidade
uma vez que se tratou de um tema bem ao nosso gosto o que nos cativou e despertou
uma vontade crescente na busca de mais e mais.
O método de recolha da bibliografia apresentada, foi o mesmos que utilizámos
para jornais e revistas, isto é, consultando os arquivos das várias bibliotecas, sobretudo
da Biblioteca Nacional, da Biblioteca Municipal do Porto, e da Biblioteca da Fundação
Calouste Gulbenkian.
Fica assim definido um estudo que, esperamos que, de alguma forma, se torne
útil e necessário ao usufruto da comunidade científica em que nos inserimos pois só
assim fará sentido desenvolver este tipo de investigações, apresentando então um
carácter inovador, criativo e necessário ao público a que se destina.
Muito mais haveria a dizer, e muito ainda ficou por referir, o que aumentaria a
extensão deste estudo. Contudo, acreditamos que poderemos partir daqui, desta primeira
grande etapa na nossa investigação, para percorrer um percurso mais além, e até, porque
não? aprofundar bastante mais este trabalho numa fase posterior que comporta já um
nível de Doutoramento.