UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE...
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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
IDENTIFICAO DE HBITOS DE SONO, COMPREENSO DO SONO
E ROTINAS DE SONO EM CRIANAS DE IDADE ESCOLAR
Estudo com crianas e pais
Ana Cristina Guimares
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
Seco de Psicologia Clnica e da Sade
Ncleo de Psicologia Clnica da Sade e da Doena
2013
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
IDENTIFICAO DE HBITOS DE SONO, COMPREENSO DO SONO
E ROTINAS DE SONO EM CRIANAS DE IDADE ESCOLAR
Estudo com crianas e pais
Ana Cristina Guimares
Dissertao orientada pela Professora Doutora Margarida Custdio dos Santos
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
Seco de Psicologia Clnica e da Sade
Ncleo de Psicologia Clnica da Sade e da Doena
2013
AGRADECIMENTOS
Agradeo Professora Margarida Custdio dos Santos, pelo seu apoio e
ajuda, os quais foram imprescindveis realizao deste estudo.
Ao colgio onde os dados foram recolhidos, Directora, s professoras e a
todas as funcionrias que ajudaram, pela sua disponibilidade e ateno, que
permitiram realizar este trabalho.
A todas as crianas do colgio, pelo seu entusiasmo em participar no estudo.
Ao meu irmo, que me apoiou em todos os momentos da realizao deste
trabalho, e da minha vida.
Aos meus pais, pelas experincias que me proporcionam constantemente.
A todas as minhas amigas que me apoiaram em palavras e actos durante este
trabalho.
RESUMO
O sono um fenmeno universal de grande importncia para o desenvolvimento infantil.
A qualidade do sono determinada por vrios factores, entre eles as rotinas de sono. assim
importante estudar as rotinas de forma a aumentar o conhecimento sobre este determinante.
Apesar da criana ter um papel importante na qualidade do seu sono, foram encontrados poucos
estudos na literatura sobre a percepo e crenas infantis referentes ao sono.
O presente estudo tem como objectivos a identificao dos hbitos, rotinas de sono e
problemas relacionados com o sono infantil, referidos pelas crianas e os seus pais.
A amostra do estudo foi recolhida num Colgio Privado e numa escola Pblica em
Lisboa. O estudo foi realizado em duas fases, na primeira 181 mes e 122 pais preencheram o
Childrens Sleep Habits Questionnaire (Owens, 2000; adaptao portuguesa de Silva, 2011), e o
Questionrio de Hbitos e Rotinas de Sono, desenvolvido para o estudo. Na segunda fase 132
crianas preencheram o Sleep Self Report (Owens et al., 2000; traduzido por Janurio, 2012), e
foi realizada uma entrevista semi-estruturada a 90 crianas seleccionadas de forma aleatria.
Para a anlise dos resultados foram utilizados estudos estatsticos descritivos e no
paramtricos, atravs do Statistical Package for the Social Sciences, verso 21.
A anlise dos resultados mostrou que 12% das mes e 4,8% dos pais consideram que o
seu filho tem problemas de sono, e 22% das crianas referiram ter problemas relacionados com
o sono e o dormir. Comparativamente, mais mes do que pais consideram que o filho tem
parassnias. As crianas percebem o sono centrando-se em aspectos concretos. As rotinas de
sono mais identificadas so: lavar os dentes, procura de companhia, ir casa de banho e vestir o
pijama. Em relao a comportamentos antes de ir deitar, as crianas referem aprovar
essencialmente comer, lavar os dentes e ir para a cama dos pais, e desaprovar ver televiso,
jogar play-station e jogar bola. No entanto, estes comportamentos so aprovados mas apenas
segundo condies descritas pelas crianas.
Os resultados podem contribuir para a adequao da interveno preventiva dos
problemas de sono e para a construo de programas de promoo do sono infantil.
Palavras-chave: sono, perturbaes de sono, Childrens Sleep Habits Questionnaire,
Questionrio de Hbitos e Rotinas do Sono, Sleep Self Report, hbitos e rotinas de sono;
prticas de sono saudveis, crenas infantis sobre o sono.
ABSTRACT
Sleep is a universal phenomenon of great importance to child development. Sleep quality
is determined by several factors, including sleep routines. Therefore its important to study sleep
routines in order to increase the knowledge of this factor. Although children have an important
role in the quality of their sleep, there are few studies about childrens perception and beliefs
about sleep.
This study aims to identify sleep habits and routines, and the problems associated with
childrens sleep, reported by the children and their parents.
This study was applied in a private school and a public school in Lisbon. The study was
conducted in two phases, in the first 181 mothers and 122 fathers completed the Childrens
Sleep Habits Questionnaire (Owens, 2000; Silvas Portuguese adaptation, 2011) and the Sleep
Habits and Routines Questionnaire, developed for this study. In the second phase 132 children
completed the Sleep Self Report (Owens et al., 2000; translated by Janurio, 2012), and a semi-
structured interview was applied to 90 children, that were randomly selected.
For the analyses of the results, we used the Statistical Package for the Social Sciences,
version 21, to obtain descriptive and non-parametric statistics.
The results showed that 12% mothers and 4.8% fathers considered their child has having
a sleep problem, and 22% of the children reported having sleep problems. Comparatively, more
mothers than fathers considered that their child has parasomnias.
Children explain their beliefs about sleep using concrete aspects. The most identified
sleep routines were: brushing teeth, seeking company, going to the bathroom and putting on
pyjamas. Regarding sleep behaviours before bedtime, children mainly approve eating, brushing
teeth and going to parents bed, and disapprove of watching television, playing play-station and
football. However, these behaviours are sometimes approved, but with conditions associated to
them by the child.
The results of this study may contribute to an adequate intervention in sleep problems and
in the development of programmes promoting infant sleep.
Key-words: sleep, sleep disturbances, Childrens Sleep Habits Questionnaire, Sleep Habits and
Routines Questionnaire, Sleep Self Report, sleep habits and routines, healthy sleep practices,
childs beliefs
NDICE
INTRODUO .......................................................................................................................... 1
1. ENQUADRAMENTO TERICO .................................................................................... 2
1.1 Definio de Sono
1.2 Evoluo dos padres de sono na infncia
1.3 Consequncias de sono insuficiente
1.4 Perturbaes de sono - Classificao
1.4.1 Perturbaes de sono nas vrias faixas etrias
1.5 Determinantes do sono
- Prticas parentais/educativas na hora de deitar
- Diferenas culturais
- Rotinas de sono
- Prcticas de sono saudveis
1.6 Percepo parental em relao ao sono
1.7 Compreenso infantil do sono
1.8 OBJECTIVOS ........................................................................................................ 15
Objectivos gerais e especficos
2. METODOLOGIA ............................................................................................................ 16
2.1 Tipo de estudo
2.2 Populao
2.3 Instrumentos de recolha de dados
- Questionrio scio-demogrfico (Anexo II)
- Childrens Sleep Habits Questionnaire (Anexo III)
- Sleep Self Report (SSR) (Anexo IV)
- Questionrio da Higiene do Sono (Anexo V)
- Entrevista semi-estruturada
2.4 Procedimento
2.5 Anlise de dados
3. APRESENTAO DOS RESULTADOS ...................................................................... 24
3.1 Resultados do Questionrio Scio-Demogrfico
3.2 Resultados referentes ao objectivo 1 - Identificao dos hbitos de sono e
perturbaes de sono referidas pelos pais
3.2.1 Childrens Sleep Habits Questionnaire CSHQ
- Comparao entre as mdias das subescalas das mes e dos pais
- Comparao entre grupos, segundo o estado civil dos pais
3.2.2 Questionrio de Hbitos e Rotinas de Sono - QHRS
3.3 Resultados referentes ao objectivo 2 - Identificao dos hbitos de sono referidos
pelas crianas (atravs do Sleep-Self Report)
- Comparao entre os relatos de pais e filhos no que diz respeito a rotinas e
perturbaes de sono.
3.4 Resultados referentes ao objectivo 3 Explorao de crenas infantis relativas ao
sono e comportamentos de rotina de sono (atravs da entrevista semi-estruturada)
4. DISCUSSO DOS RESULTADOS ................................................................................ 49
4.1 Resultados referentes ao objectivo 1 - Identificao dos hbitos de sono e
perturbaes de sono referidas pelos pais
4.1.1 Childrens Sleep Habits Questionnaire CSHQ
4.1.2 Questionrio de Hbitos e Rotinas de Sono - QHRS
4.2 Resultados referentes ao objectivo 2 - Identificao dos hbitos de sono referidos
pelas crianas (atravs do Sleep-Self Report)
4.3 Resultados referentes ao objectivo 3 Explorao de crenas infantis relativas ao
sono e comportamentos de rotina de sono (atravs da entrevista semi-estruturada)
5. CONCLUSES E CONSIDERAES FINAIS ........................................................... 57
6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................................. 59
INDICE DE TABELAS
Tabela 1 Consistncia interna, mdias, desvios padres
Tabela 2 - Hora de deitar
Tabela 3 - Comportamento durante o sono
Tabela 4 - Acordar durante a noite
Tabela 5 - Acordar de manh
Tabela 6 - Sonolncia Diurna
Tabela 7 - Na semana passada, a criana permaneceu sonolenta em alguma destas situaes?
Tabela 8 Frequncias das respostas ao questionrio
Tabela 9 Comportamento parental em situao de oposio da criana
Tabela 10 Frequncias, mdias e desvios padres do SSR
Tabela 11 Associao entre as respostas da criana e dos pais
INDICE DE QUADROS
Quadro 1 Caractersticas da amostra dos pais
Quadro 2- Anlise das verbalizaes das crianas em relao questo O que ter sono?
Quadro 3- Anlise das verbalizaes das crianas em relao autoridade sobre o deitar
Quadro 4- Anlise das verbalizaes das crianas em relao s rotinas do sono
Quadro 5 Anlise das verbalizaes em relao a comportamentos integrados na rotina de
sono comer antes de deitar
Quadro 6 Anlise das verbalizaes em relao a comportamentos integrados na rotina de
sono comer antes de deitar
Quadro 7 Anlise das verbalizaes em relao a comportamentos integrados na rotina de
sono lavar os dentes antes de deitar
Quadro 8 Anlise das verbalizaes em relao a comportamentos integrados na rotina de
sono jogar bola antes de deitar
Quadro 9 Anlise das verbalizaes em relao a comportamentos integrados na rotina de
sono jogar bola antes de deitar
Quadro 10 Anlise das verbalizaes em relao a comportamentos integrados na rotina de
sono ir para a cama dos pais antes de deitar
Quadro 11 Anlise das verbalizaes em relao a comportamentos integrados na rotina de
sono ir para a cama dos pais antes de deitar
Quadro 12 Anlise das verbalizaes em relao a comportamentos integrados na rotina de
sono ver televiso antes de deitar
Quadro 13 Anlise das verbalizaes em relao a comportamentos integrados na rotina de
sono ver televiso antes de deitar
Quadro 14 Anlise das verbalizaes em relao a comportamentos integrados na rotina de
sono jogar play-station antes de deitar
Quadro 15 Anlise das verbalizaes em relao a comportamentos integrados na rotina de
sono jogar play-station antes de deitar
ANEXOS (em suporte informtico)
Anexo I Consentimento informado
Anexo II Questionrio scio-demogrfico
Anexo III Childrens Sleep Habits Questionnaire
Anexo IV Questionrio de Rotinas e Hbitos de Sono
Anexo V Sleep Self Report
Anexo VI Outputs estatsticos referenciados natese
Anexo VII Transcries das entrevistas semi-estruturadas
Anexo VIII Anlises de contedo individuais
Anexo IX Tabelas com a anlise de contedo global referenciadas na tese
1
INTRODUO
O presente trabalho foi realizado na elaborao da tese de dissertao de Mestrado
Integrado em Psicologia, no ncleo de Psicologia da Sade e da Doena, para a faculdade de
Psicologia da Universidade de Lisboa.
O estudo realizado teve como objectivo a identificao dos hbitos e perturbaes de
sono referidas por pais e crianas, e as crenas sobre o sono relatadas pelas crianas.
Este estudo est organizado em cinco captulos. O primeiro captulo diz respeito ao
enquadramento terico realizado com base na literatura referente a esta temtica. Neste
definido o que o sono, as suas consequncias a diversos nveis, e os seus determinantes. So
definidas as perturbaes de sono e a sua prevalncia ao longo das vrias faixas etrias, e
abordam-se tambm as percepes parentais e a compreenso infantis do sono. so tambm
apresentados aos objectivos deste estudo.
O segundo captulo diz respeito metodologia do estudo, onde se refere o tipo de estudo,
a populao, os instrumentos de recolha de dados, o procedimento utilizado na investigao e na
recolha de dados.
No terceiro captulo so apresentados os resultados do questionrio scio-demogrfico, e
os resultados referentes aos objectivos do trabalho, que so os seguintes: (1) Identificao dos
hbitos de sono e perturbaes de sono referidas pelos pais; (2) Identificao dos hbitos de
sono referidos pelas crianas; e (3) Explorao de crenas infantis relativas ao sono e rotinas de
sono. Foi tambm realizada a comparao entres as respostas dos pais, e as respostas dos pais
com as das crianas.
O ltimo captulo diz respeito discusso dos resultados, apresentada segundo os
objectivos deste trabalho, e s concluses finais deste trabalho, incluindo as limitaes
encontradas.
2
1. ENQUADRAMENTO TERICO
1.1 Definio de sono
O desejo de dormir uma das motivaes mais prevalentes, tornando-se prioritria face
s outras motivaes se a pessoa estiver muito tempo acordada (Gleitman, 2002).
O sono um fenmeno universal e no seu desenvolvimento, crianas e adolescentes
passam, em mdia, 40% do dia a dormir (Mindell e Owens, 2003). As crianas ocupam um
tero da sua vida a dormir, o que indica a importncia do sono no desenvolvimento e sade
infantil (Dworak, Schierl, Bruns e Struder, 2007). Owens, Jones e Nash (2011) tambm
afirmam que o sono importante para o funcionamento ptimo e para uma boa sade.
Existem vrios estdios de sono, que variam em profundidade e se repetem de forma
cclica ao longo de uma noite de sono. O sono divide-se em dois tipos de padres, o padro de
sono com movimentos oculares rpidos (REM "rapid eye movements") e o sem movimentos
oculares rpidos (NREM "non-rapid eye movements"), sendo este dividido em 4 fases, os
estgios 1 a 4, de profundidade crescente. Depois de se adormecer, d-se a evoluo do estdio
1 ao 4 do sono NREM, tambm denominado sono lento, e de seguida ocorre o sono REM, ou
paradoxal, no qual ocorrem os sonhos (Gleitman, 2002).
No sono NREM, ocorre relaxamento muscular comparativamente ao estado de viglia
apesar de se manter sempre alguma tonicidade basal. No sono REM, apesar da atonia muscular
que acompanha este estgio, observam-se movimentos corporais errticos, de diversos grupos
musculares, principalmente na face e membros, tal como emisso de sons. Durante o sono, o
indivduo no interage com o ambiente, encontra-se imvel ou com um nmero limitado de
movimentos, involuntrios e automticos. A reactividade a estmulos externos e dolorosos
reduzida, em comparao com o estado de viglia, principalmente nas fases de sono profundo.
necessrio o aumento da intensidade do estmulo para que o indivduo volte ao estado de viglia,
o que nem sempre observado, particularmente nas crianas (Fernandes, 2006).
Ambos os padres de sono esto associados a tarefas de aprendizagem (Buckhault, 2011),
mas o sono REM parece ser mais importante para a consolidao das tarefas de memria do que
o NREM (Plihal, 1997). O sono REM importante para a memria emocional e processual,
enquanto que o sono NREM importante para a memria declarativa (Walker et al., 2004).
3
1.2 Evoluo dos padres de sono na infncia
Segundo National Sleep Foundation (2006) a quantidade e o horrio de sono altera-se ao
longo do desenvolvimento da criana. Os recm-nascidos (0 a 3 meses) dormem entre 10 a 18
horas por dia, em intervalos curtos (45 minutos a 3 horas), sem diferenciar a noite e o dia. Os
bebs (3 a 12 meses), de noite dormem um intervalo de tempo maior (8 a 10 horas), e fazem
duas a trs sestas durante o dia (com um total de 3 a 4 horas de sono dirio). As crianas (12
meses a 3 anos) dormem 9 a 10 horas durante a noite, e 1 a 3 horas durante o dia. As crianas de
idade pr-escolar (3 a 5 anos) dormem 9 a 10 horas durante a noite, embora seja esperado que
necessitem de 11 a 12 horas. Nesta fase etria a principal mudana o trmino das sestas
dirias, apesar de 25% das crianas de 5 anos continuar a fazer a sesta. Considerava-se que as
crianas de idade escolar (5 a 12 anos) dormiam 10 a 12 horas nocturnas, mas estudos
demonstram que dormem em mdia 9,5 horas e que um tero desenvolve problemas de sono
(Mindell et al, 2009). Os adolescentes necessitam de 9 horas de sono, apesar de dormirem em
mdia 7 a 7,5 horas.
Acordar durante a noite, por breves perodos, normal (Ward e Mason, 2002), e ocorre 5
a 8 vezes no padro de sono tpico das crianas (Dahl, 1998), normalmente sem a criana ou os
pais se aperceberem. McKenna et al. (1993) proposeram que, nos bebs, acordar durante a noite
um componente necessrio para o desenvolvimento normal do crebro.
1.3 Consequncias de sono insuficiente
A curta durao e fraca qualidade do sono, tem consequncias negativas a nvel da sade
fsica e mental, e no funcionamento cognitivo e social (Fallone et al., 2001, cit. por Blunden,
2011). Perturbaes do sono tm tambm consequncias a nvel do funcionamento cognitivo,
emocional, comportamental e familiar.
Sade Fsica e Mental
O sono tem um grande impacto na sade humana. Estudos indicam que um sono
perturbado aumenta o risco de baixa tolerncia glucose em adultos (Spiegel, Leproult e Van
Cauter, 1999) e de obesidade em adultos e crianas (Gangwisch, Malaspina, Boden-Albala e
Heymsfield, 2005), estando relacionado com o desenvolvimento de diabetes. Um sono
perturbado est associado a um maior risco de excesso de peso e obesidade devido a alteraes
na regulao do apetite (Carter, 2011), e um sono de curta durao e fraca qualidade causa
dficites nas capacidades motoras (Laureys, 2002).
4
Num estudo de Kaneita et al (2007), realizado com adolescentes japoneses, os autores
verificaram que a sade mental de adolescentes que dormem menos de 7 ou mais de 9 horas,
pior do que a sade mental de adolescentes que dormem mais de 7 mas menos de 9 horas.
Funcionamento cognitivo
A perturbao do sono influencia as funes cognitivas, como o desempenho acadmico
(Taras, Potts-Datema e Pearson, 2005).
Sadeh (2007) afirma que existem dois mecanismos subjacentes, pelos quais o sono
insuficiente ou perturbado pode afectar negativamente o funcionamento cognitivo e o
comportamento em geral. O primeiro mecanismo, est associado ao papel activo do sono na
maturao do crebro, processamento de informao, consolidao da memria, aprendizagem e
outras funes de manuteno cerebral (Stickgold, 2001; Stickgold, Hobson, Fosse, et al., 2001;
Mirmiran e Vansomeren, 1993; Peigneux, Laureys, Delbeuck, et al, 2001; Frank e Benington,
2006). Um sono insuficiente impede ou reduz as actividades cerebrais necessrias requeridas
para a maturao do crebro, regulao dos afectos, consolidao da memria e aprendizagem.
O segundo mecanismo, est associado ao papel revigorante do sono e ao facto de que sono
insuficiente ou perturbado leva ao aumento da sonolncia durante o dia, estado de alerta
reduzido, e funcionamento dirio comprometido de reas cerebrais especficas (o cortex pr-
frontal), o que origina muitas reas de funo cognitiva e regulao comportamental
comprometida (Dahl, 1996; Horne, 1993; Drummond, Brown, 2001; Harrison, Horne, Rothwell,
2000; Harrison, Horne, 2000; Jones, Harrison, 2001).
As perturbaes de sono comportamentais que reduzem a quantidade do sono reduzem
tambm a quantidade de sono REM nas horas de madrugada, tendo um impacto significativo na
capacidade de aprendizagem (Blunden, 2011)
Num estudo realizado por Radazzo, Muehlbach, Schweitzer e Walsh (1998), com
crianas dos 10 aos 14 anos, em que um grupo de crianas dormia 5 horas e outro 11 horas,
verificou-se que as funes cognitivas superiores, como o pensamento abstracto e a criatividade
verbal, ficam comprometidas aps uma nica noite de sono perturbado
Funcionamento Emocional e Comportamental
Qualquer perturbao no sono que reduz a qualidade ou a quantidade do sono tem um
efeito prejudicial no comportamento (Blunden, 2011).
Um conjunto alargado de estudos tem verificado que as perturbaes de sono esto
associadas a dificuldades emocionais, como a ansiedade e depresso, e comportamentais, como
a ateno e conduta, em crianas e adolescentes (Gregory e OConnor, 2002).
5
No estudo realizado por Blunden e Chervin (2010) com crianas australianas dos 7 aos 11
anos, os autores verificaram problemas de sono afectam a regulao emocional e o controlo dos
comportamentos. A diminuio do perodo de sono normal leva a um aumento da agressividade,
irritabilidade, labilidade emocional e menor tolerncia frustao (Blunden, 2011).
Consequncia dos problemas de sono na Famlia
Os problemas de sono na infncia podem causar preocupao desnecessria e perturbao
do sono nos pais (Palmstierna, Sepa e Ludvigsson, 2008), resultando em fadiga diria,
perturbaes de humor, e esto associados depresso materna e a nveis inferiores de bem-
estar parental (Boergers, Hart, Owens, Streisand e Spirito, 2007).
As perturbaes de sono tm tambm efeitos significativos no funcionamento familiar
(Kerr et al, 1994), como discordncia parental e mesmo abuso infantil (Kerr et al., 1994).
Os efeitos das perturbaes de sono so ainda mais sentidos em famlias de nveis scio-
econmicos desfavorecidas (Buckhault, 2011).
Os problemas de sono desenvolvidos durante a infncia, quando no tratados podem
tornar-se um problema persistente, com efeitos que se prolongam at idade adulta (Blunden,
2011). Um sono pobre na infncia origina sade fsica pobre em adultos, talvez mediada por um
funcionamento imunolgico comprometido (Vgontzas, 2008), sendo este mais provvel em
pessoas numa posio socio-econmica mais baixa (Sekine, 2006). Os problemas de sono levam
tambm a um risco acrescido de ansiedade (Gregory, Caspi, Eley, Moffitt, OConnor e Poulton,
2005), e a dificuldades no sono na idade adulta (Buckhault, 2011). A curta durao e fraca
qualidade do sono potenciam um maior potencial para o abuso de alcool e drogas em adulto
(Wong et al., 2004), e o risco de suicidio em adulto (Wojnar, 2009).
1.4 Perturbaes de sono - classificao
Segundo a ICSD (2001), as perturbaes de sono podem ser divididas em quatro grupos:
(1) as dissnias; (2) parassnias; (3) as associadas a disfunes mentais, neurolgicas ou
mdicas; (4) ou outras, em que no existe informao suficiente para confirmar a perturbao.
(1) As dissnias podem ser divididas em trs grupos: as perturbaes de sono intrnsecas, com
origem no corpo (e.g. insnia, narcolepsia, hipersnia, sndrome de apnea do sono, etc);
perturbaes de sono extrnsecas, com origem fora do corpo; e perturbaes de sono do
ritmo circadiano, relacionadas com o perodo de sono.
6
As perturbaes de sono extrnsecas incluem as seguintes perturbaes: Higiene de Sono
Inadequada, Perturbao de Ajustamento do Sono, Sndrome de Sono Insuficiente,
Perturbao de Estabelecimento de Tempo Limite de Sono e Perturbao de Sono
Associada ao Inicio do Adormecimento (ICSD, 2001).
(2) As parassnias podem ser classificadas em perturbaes de excitao (e.g. sonambolismo,
terrores nocturnos), perturbaes de transio sono-viglia (e.g. perturbao de movimentos
ritmicos, incio do adormecimento, falar durante o sono, cimbras nocturnas nas pernas),
parassnias associadas ao sono REM (e.g. pesadelos, paralesia do sono), ou outras
parassnias (e.g.bruxismo, enurese nocturna, etc).
Mais recentemente, Blunden (2011) afirma que, as perturbaes de sono na infncia
podem ser divididas segundo as que tm etiologia fsica (e.g. perturbaes respiratrias
relacionadas com o sono, parassnias e perturbao de movimentos peridicos dos membros), e
as que no tm etiologia fsica. Os problemas de sono mais comuns nos primeiros anos so os
que tm uma etiologia no fisiolgica.
Segundo Blunden (2011), as perturbaes comportamentais de sono em crianas so
descritas como Behavioural Insomnia of Childhood (BIC) - Insnia Comportamental da
Infncia, pela Academia Americana de Medicina do Sono (AASM, 2005), na sua Classificao
Internacional de Perturbaes de Sono Segunda Edio (ICSD-2, 2005). As BIC foram
classificadas pela ICSD como dissnias, descritas na segunda edio como perturbaes
caracterizadas por dificuldade em iniciar ou manter o estado de sono, ou sonolncia excessiva.
De todas estas perturbaes, as mais importantes para o presente estudo, so as dissnias
extrnsecas, com origem em factores externos ao corpo (AASM, 2005), mais especificamente, a
Higiene de Sono Inadequada, Perturbao de Estabelecimento de Tempo Limite de Sono e
Perturbao de Sono Associada ao Inicio do Adormecimento.
Na Higiene de Sono Inadequada, o desempenho nas actividades de vida dirias,
inconsistente com a manuteno de uma boa qualidade de sono e estado de alerta durante o dia.
A Perturbao de Ajustamento do Sono est relacionada temporariamente com stress agudo,
conflito, ou mudana ambiental que causa excitao emocional. O Sndrome de Sono
Insuficiente ocorre num individuo que falha, persistentemente, em obter o sono nocturno
suficiente, necessrio para suportar a vigilia normal. A Perturbao de Estabelecimento de
Tempo Limite de Sono principalmente uma perturbao infantil, caracterizada pela aplicao
inadequada da hora de dormir pelo cuidador, com a pessoa a resistir ou recusar ir para a cama na
hora apropriada. A Perturbao de Sono Associada ao Incio do Adormecimento ocorre quando
7
o incio do sono comprometido pela ausncia de um certo objecto ou um conjunto de
circunstncias.
1.4.1 Perturbaes de sono nas vrias faixas etrias
As perturbaes do sono so comuns em crianas (Palmstierna, Sepa e Ludvigsson, 2008)
e adolescentes (Gregory e Sadeh, 2012). Durante o seu desenvolvimento uma percentagem
alargada de crianas apresentar algum grau de problemas de sono considerados transitrios e
normais do desenvolvimento (Stores, 1999; Sadeh et al., 2000, cit. por Blunden, 2011), mas
outras iro desenvolver problemas de sono crnicos e persistentes. A maioria dos problemas de
sono nos jovens, no tm uma etiologia fisiolgica, mas so baseados nos comportamentos
(Hiscock et al. 2007).
Os problemas de sono mais comuns durante a infncia so dificuldade em adormecer e
acordar durante a noite, e na maioria dos casos as perturbaes desaparecem sozinhas (Ward
and Mason, 2002)
Blunden (2011) afirma que as perturbaes comportamentais do sono so comuns,
afectando 20 a 30% dos bebs e crianas (Morgen- thaler 2006), 30 a 40% das crianas de idade
pr-escolar (Blader et al., 1997; Owens et al., 1998; Blunden et al., 2005), 10 a 45% das
crianas pr-adolescentes (Wolfson et al., 2007) e 11 a 30% dos adolescentes (Wolfson, 2003;
Carskadon et al., 2004).
Problemas de sono nos bebs e criana pr-escolares
Os problemas de sono mais comuns nas crianas mais novas so os de etiologia no
fisiolgica. Nos bebs e crianas, os problemas de sono mais frequentes so a Perturbao de
Sono Associada ao Incio do Adormecimento, a Perturbao de Estabelecimento de Tempo
Limite de Sono, ou a combinao das duas. Na Perturbao de Sono Associada ao Incio do
Adormecimento, o incio do sono est comprometido pela ausncia de um certo objecto ou
conjunto de circunstncias, pois a criana no consegue iniciar o sono sem a presena de um
objecto ou pessoa (como por exemplo um bibero, ser embalada, alimentao, presena
parental). Esta perturbao cria dependncia no incio do sono, durante o dia e a noite, pois a
criana incapaz de se auto-acalmar. Na Perturbao de Estabelecimento de Tempo Limite de
Sono, os pais tm dificuldade em aplicar os limites na hora de dormir, o que resulta em atrasos
na hora de dormir da criana e uma reduo da durao do sono (Blunden, 2011).
8
Problemas de sono nas crianas de idade escolar
Segundo Blunden (2011), normalmente as crianas de idade escolar j alcanaram a
consolidao do sono, a capacidade de atingir um perodo de sono interrompido e de se auto-
acalmarem (Mindell et al, 1999). Apesar disso ainda so relatadas frequentemente a
Perturbao de Sono Associada ao Incio do Adormecimento e Perturbao de Estabelecimento
de Tempo Limite (Mindell, 2003)
Em crianas de idade escolar a Perturbao de Sono Associada ao Incio do
Adormecimento, raramente envolve associaes com a alimentao mas sim com a presena do
cuidador (Kushnir, 2011, cit por Blunden, 2011). Os medos nocturnos, moderados e limitados
no tempo so prevalentes no desenvolvimento normal, e a maioria das crianas supera-os
(Gordon, 2007). As crianas que no os superam esto mais propensas a apresentar medos na
hora de deitar e a precisar de ajuda para acalmar, desenvolvendo a Perturbao de Sono
Associada ao Incio do Adormecimento.
Os problemas de sono so uma parte integral do quadro clinico em crianas que tm
medos na hora de dormir, uma vez que apresentam dificuldade em adormecer sozinhas,
acordam durante a noite frequentemente e tm dificuldade em voltar a adormecer sem ajuda
(Blunden, 2011).
Os factores da higiene de sono, como o uso excessivo dos media na hora de dormir tm
impacto no sono (Gupta, 1994). Estes factores causam o adiamento da hora de dormir e podem
desenvolver Sindrome de Higiene de Sono Inadequada. Os pais de crianas de idade escolar
devem definir limites relativamente ao uso dos media, de forma a reduzir a exposio aos
mesmos na hora de dormir. O estabelecimento de limites parece ser um factor importante na
Perturbao de Higiene de Sono Inadequada neste grupo etrio (Blunden, 2011).
Problemas de sono nos adolescentes
Nos adolescentes, as perturbaes comportamentais de sono mais comuns so a Higiene
de Sono Inadequada, Sndrome de Sono Insuficiente e Perturbao de Estabelecimento de
Tempo Limite de Sono (Blunden, 2011).
1.5 Determinantes do sono
Sadeh, Tikotzky e Scher (2010), afirmam que o sono infantil influenciado por factores
de maturao biofisiolgica, intrnsecos, constitucionais, biolgicos, temperamentais e mdicos,
e tambm pela influncia dos pais e factores relacionados com os comportamentos interactivos
dos pais.
9
As perturbaes de sono podem ser causadas por condies mdicas, como a apneia
obstrutiva do sono, por factores psicolgicos ou sociais (Ward e Mason, 2002), e pela interaco
entre factores fisiolgicos da criana e o seu relacionamento com os pais (Lacerda, 2000; cit por
Mendes, Fernandes e Garcia, 2004).
Estudos encontraram associaes entre perturbaes do sono e factores ambientais,
como por exemplo o conflito conjugal dos pais (El-Sheikh, Buckhalt, Mize e Acebo, 2006), o
nvel de educao inferior dos pais (Rona, Li, Gulliford e Chinn, 1998; Sadeh, Raviv e Gruber,
2000), a origem geogrfica dos pais (Rona, Li, Gulliford e Chinn, 1998) e a alimentao
nocturna excessiva (Sadeh, Raviv, Gruber, 2000; Pearl, 2002).
Existem tambm associaes entre as perturbaes do sono e factores da criana, como
o seu temperamento (Owens-Stively et al, 1997), e provir de um nvel scio econmico
desfavorecido (Buckhalt, 2011).
As rotinas de sono da criana de idade escolar so determinadas pelas prticas parentais
do sono.
A parentalidade refere-se ao conjunto complexo de comportamentos parentais, deveres,
papis, expectativas, cognies e emoes relacionadas com cuidar e educar a sua criana
(Sadeh, Tikotzky e Scher, 2009).
Existe uma relao bidireccional entre a parentalidade e o sono infantil. As crenas,
expectativas, emoes e comportamentos parentais, relacionados com o sono infantil, so
influenciados por: o contexto scio-cultural e ambiental; a sua histria de desenvolvimento e
memrias; a sua personalidade e psicopatologia; a idade da criana e as suas caractersticas de
desenvolvimento; e os padres de sono da criana. As cognies parentais sobre o sono infantil
guiam os comportamentos parentais relacionados com sono, que influenciam o sono das
crianas (Sadeh, Tikotzky e Scher, 2010).
A associao entre o sono infantil, as cognies parentais e os comportamentos na hora
de deitar, sugere que os pais tm um papel importante na evoluo e manuteno dos problemas
de sono durante a infncia (Touchette, Petit, Tremblay e Montplaisir, 2009).
Na literatura encontra-se uma ligao entre o envolvimento parental nocturno e os
problemas de sono nas crianas. As crianas que adormecem com uma assistncia parental
significativa (por exemplo a ser segurada, alimentada, balanada, etc) so mais provveis de ter
um aumento no nmero e durao das vezes que acordam durante a noite. As crianas que
adormecem com um alto nvel de envolvimento parental e comportamentos para a acalmar, no
desenvolvem a sua capacidade de auto-regulao e de se auto-acalmarem, continuando assim a
10
depender de intervenes parentais repetidas durante a noite Concluindo, um envolvimento
parental minimo durante o processo de acalmar e durante a noite, est associado a um sono mais
consolidado nas crianas. (Sadeh, Tikotzky e Scher, 2010).
Segundo um estudo realizado por Owens-Stively et al. (1997), as prticas parentais mais
relaxadas (com menos normas) foram associadas a perturbao de sono na populao peditrica
em geral, e as caractersticas intensas e negativas do temperamento parecem estar associadas a
perturbaes comportamentais de sono clinicamente significativas. Tambm os estilos parentais
inadaptados e comportamentos dirios disruptivos esto associados a perturbaes de sono
moderadas
As rotinas parentais relativamente ao sono diferem entre as vrias culturas e mesmo
dentro de cada cultura.
Segundo Sadeh, Mindell e Rivera (2011), as cognies e percepes parentais
relativamente ao sono das crianas so moldadas pelo contexto cultural, as suas narrativas de
infncia e a experincia com a sua prpria criana. Os autores demonstraram que existem
variaes nos padres de sono, nos comportamentos parentais e no contexto do sono entre
vrios paises e culturas (Mindell, Sadeh, Kohyama e How, 2010; Mindell, Sadeh, Wiegand,
How e Goh, 2010). Nomeadamente, verificaram diferenas entre pases asiticos e caucasianos.
Nos pases asiticos, os bebs e crianas (com idades entre os 0 e 3 anos) so mais provveis de
ter uma hora de deitar mais tarde, dormir menos, de ter mais relatos de dificuldades de sono e
dormir na cama ou quarto dos pais, em comparao com os pases caucasianos. Por outro lado,
os comportamentos parentais relacionados com o sono, so mais preditivos do sono das crianas
nos pases caucasianos, do que nos pases asiticos (Sadeh, Mindell e Rivera, 2011).
Sadeh, Mindell e Rivera (2011) afirmam que, segundo um estudo longitudinal, realizado
na Suia, a durao do sono em crianas e adolescentes tem diminuido, e a hora de deitar tem
sido adiada, durante as ltimas decadas (Iglowstein, Jenni, Molinari e Largo, 2003). Em mdia,
as crianas japonesas vo para a cama mais tarde do que as crianas australianas (Kohyama,
Shiiki, Ohinata-Sugimoto, Hasegawa, 2002; Armstrong, Quinn, Dadds, 1994), tal como as
crianas islandesas em comparao com as europeias (Thorleifsdottir, Bjornsson,
Benediktsdottir, Gislason e Kristbjarnarson, 2002).
Biggs et al. (2010) referem que a durao de sono recomendada para crianas dos 6 aos
12 anos 11 horas (National Sleep Foundation, 2009), mas devido s crianas se deitarem mais
tarde e se levantarem mais cedo, as crianas de culturas Asiticas (Liu, Liu, Owens e Kaplan,
2005; Ng et al., 2005; Shinkoda, Matsumoto, Park e Nagashima, 2000; Yang, Kim, Patel, &
Lee, 2005) tm uma menor durao do sono nocturno do que as crianas Americanas e
Europeias (Adam, Snell e Pendry, 2007; Gulliford, Price, Rona e Chinn, 1990; Iglowstein,
11
Jenni, Molinari e Largo, 2003; Spilsbury et al., 2004; Spruyt, OBrien, Cluydts, Verleye e Ferri,
2005; Thorleifsdottir, Bjornsson, Benediktsdottir, Gislason e Kristbjarnarson, 2002).
As diferenas culturais nos padres de sono de crianas de idade escolar, pode ser
explicada por um factor cultural, a atitude dos pais face aos trabalhos de casa e a sua
importncia relativamente ao sono (Liu et al., 2005; Steger, 2006; Yang et al., 2005). Por
exemplo, pais coreanos e chineses so menos propensos a impor regras ao sono, e mais
propensos a encorajar a criana a ficar acordada at tarde para estudar (Biggs et al. 2010).
Estudos recentes sugerem que as crianas jogam computador, em mdia, 1 hora e 40
minutos por dia, e 10 horas por semana (Paavonen et al. 2006).
Enquanto se joga computador pode-se experienciar vrias emoes, acompanhadas por
alteraes fisiolgicas (Dworak, Schierl, Bruns e Struder, 2007). Alguns estudos demonstraram
que, enquanto ver televiso gasta a mesma energia do que estar sentado, jogar computador
resulta num aumento de variveis fisiolgicas e metablicas em crianas mais novas (como, por
exemplo, batimento cardiaco, presso arterial, frequncia respiratria e gasto de energia),
resultando assim num aumento do estado de excitao do Sistema Nervoso Central (Wang e
Perry, 2006). Um estado de excitao elevado nas horas precedentes a se ir dormir pode
influenciar o sono em si (Dworak, Schierl, Bruns e Struder, 2007).
As rotinas inadequadas do sono, como o uso excessivo dos media na hora de dormir
(como a televiso, jogos de computador, telemveis e computadores) interfere com o sono,
adiando a hora de dormir (Gupta, 1994).
O visionamento prolongado de televiso durante a idade escolar e adolescncia contribui
para o desenvolvimento de problemas de sono no incio da idade adulta (Johnson, 2004).
Um estudo de Owens et al. (1999), com crianas de idade escolar, demonstra que o uso da
televiso est associado resistncia ao deitar, a medos na hora de deitar e ao atraso no incio
do sono, o que resulta em sono insuficiente. O tempo gasto a ver televiso pode estar a substituir
outras actividades menos sedentrias e passivas, como jogar no exterior ou praticar desporto,
resultando num sono com fraca qualidade.
Um estudo, realizado por Bernard-Bonnin et al. (1991), evidenciou que um tero das
crianas via televiso sem haver regras impostas pelos pais, enquanto que, segundo Rideout,
Roberts e Foehr (2007), apenas 13% das crianas de idade escolar tm controlo parental e
regras sobre o contedo observado nos media. Tal no suficiente, uma vez que a visualizao
de media com contedo adulto, violento ou sexual, associada a um estado de excitao, pode
afectar o sono das crianas (Brady e Matthews, 2006), podendo resultar em dificuldade em
adormecer e/ou despertares nocturnos, relacionadas com ansiedade (Owens et al. 1999).
12
Num estudo de Owens et al. (1999), 1/4 dos pais relataram a presena de uma televiso
no quarto da criana. A existncia de uma televiso no quarto da criana leva a alteraes nos
parmetros de sono-viglia, relacionados com a hora de dormir e a durao do sono (Van den
Bulck, 2004), sendo assim o melhor preditor das perturbaes de sono e da resistncia ao deitar
(Owens et al. 1999; Christakis, Ebel, Rivara e Zimmermann, 2004).
As preocupaes sobre os media no se devem limitar apenas televiso, uma vez que
jogar computador e usar a Internet tambm esto relacionados com comportamentos do sono
(Van den Bulck, 2004). O estudo de Van den Bulck (2004), demonstra que as crianas que tm
televiso e computador no quarto ou que usam a Internet antes de irem para a cama, deitam-se
mais tarde e relatam em mdia maiores nveis de cansao. Este estudo indica tambm que a
visualizao de televiso em excesso pode estar associada a vrias perturbaes de sono durante
a adolescncia.
Segundo Dworak, Schierl, Bruns e Struder (2007), estudos recentes indicam que depois
de se ver televiso e jogar computador h um aumento do atraso do incio do sono (Alexandru,
Michikazu, Shimako et al., 2006; Paavonen, Pennonen, Roine, Valkonen e Lahikainen, 2006),
um risco elevado de despertares nocturnos (Alexandru, Michikazu, Shimako et al., 2006),
dificuldade em adormecer e diminuio da qualidade do sono (Van den Bulck, 2004; Owens,
Maxim, McGuinn, Nobile, Msall e Alario, 1999; Johnson, Cohen, Kasen, First e Brook, 2004).
As dificuldades no dormir foram associadas a problemas de comportamento (como problemas
na frequncia escolar), maiores nveis de cansao (Van den Bulck, 2004), e uma fraca qualidade
de sono foi associada a problemas de sade mental, desempenho escolar inferior e queixas
somticas.
O estudo de Dworak, Schierl, Bruns e Struder (2007) demonstra que a exposio
excessiva aos media afecta a arquitectura e a continuidade do sono das crianas. Concretamente,
jogar computador resulta no adiamento do incio do sono, aumento do perodo de sono no
estdio 2 e diminuio no estdio 3 e 4, e ver televiso resulta na reduo da eficincia do sono.
Tais resultados indicam uma influncia negativa da exposio excessiva aos media no sono e
sade das crianas.
Consequentemente referida na literatura a importncia imposio de limites pelos pais,
sobre o contedo e o tempo de exposio aos media (Dworak, Schierl, Bruns e Struder, 2007),
sendo que os pais devem reduzir a exposio de crianas de idade escolar aos media na hora de
deitar (Blunden, 2011). A imposio de mais estrutura, como uma hora de termino de uso dos
media, pode reduzir o seu impacto (Van den Bulck, 2004).
tambm necessrio ter em conta que o consumo de medicamentos para ajudar a dormir
comum (Kerr e Jowett, 2006), e as consequncias derivantes.
13
Segundo Owens, Jones e Nash (2011) as prticas de sono saudveis (higiene de sono),
que incluem um horrio de sono regular; hora de deitar cedo; rotina de deitar regular; ausncia
de um adulto quando se adormece; ausncia de objectos electrnicos, principalmente de uma
televiso no quarto; e no consumir cafeina, tm sido associadas a uma melhor qualidade de
sono na populao peditrica (Mindell, Meltzer, Carskadon e Chervin, 2009; Cain e Gradisar,
2010; Anderson e Whitaker, 2010). Uma vez que nveis elevados de excitao fisiolgica (uso
de estimulantes como a cafeina) e cognitiva/emocional (ver televiso) podem interferir com o
sono, prticas de sono saudveis promovem o sono, ao reduzir a estimulao ambiental. Estas
boas prticas de sono permitem uma quantidade e um horrio de sono adequados, baseados na
idade e necessidades da criana (Galland e Mitchell, 2010; Hale, Berger, LeBourgeois e Brooks-
Gunn, 2009; Jan, Owens e Weiss M, et a., 2008).
Uma vez que as prticas de sono so comportamentos aprendidos, a compreenso das
crenas e atitudes dos cuidadores sobre as prticas de sono saudveis, e a identificao de falhas
no seu conhecimento, pode facilitar o desenvolvimento de materiais educacionais e estratgias
para melhorar a sade do sono nas crianas (Owens, Jones e Nash, 2011).
1.6 Percepo parental em relao ao sono
As perturbaes de sono das crianas so alvo da preocupao parental, sendo que entre
10 e 75% dos pais relatam problemas de sono (Mindell et al. 2010; Sadeh et al., 2009). No
entanto nem sempre estes problemas so relatados na consulta de pediatria e quando relatados
so frequentemente desvalorizados. Esta constatao levou autores a defender que a informao
que lhes disponibilizada deve ser a mais clara e completa possvel, mas a literatura demonstra
que muitos dos conselhos fornecidos aos pais sobre o sono das crianas so contraditrios (Kerr
e Jowett, 2006).
A este respeito, num estudo realizado na populao holandesa, 25% das crianas foram
consideradas pelos seus pais como tendo pelo menos um problema de sono, prevalncia esta
comparvel com a encontrada em outros pases, e a sonolncia diurna foi relatada mais
frequentemente como um problema (Litsenburg, Waumans, Berg. e Gemke, 2010). Num estudo
realizado na populao portuguesa, de Mendes et al. (2004), as perturbaes de sono foram
definidas como qualquer tipo de ocorrncia durante o sono, referida pelos pais como uma
alterao do que pensavam ser o sono normal do filho. Neste estudo as perturbaes de sono
foram referidas pelos pais como ocorrendo em 74% das crianas, entre os 5 aos 10 anos, sendo
as parassnias a mais referida (70 casos referidos, numa amostra total de 100 crianas).
14
A avaliao do sono das crianas atravs de questionrios destinados a serem preenchidos
pelos pais demonstrou correlaes adequadas com medidas objectivas, tal como a actigrafia,
para os horrios de sono. Apesar disso, os pais so menos precisos na avaliao da qualidade do
sono (Wiggs, Montgomery e Stores, 2005) uma vez que vrios aspectos dos problemas de sono
podem passar despercebidos pelos pais. Assim til ter tambm em conta os relatos das
crianas.
Owens, Maxim, Nobile, McGuinn e Msall (2000) no encontraram correlaes entre a
avaliao parental e a auto-avaliao da criana sobre o seu prprio sono. Diversos estudos
demonstram que as crianas de idade escolar podem ter percepes das suas experincias e
comportamentos diferentes das dos seus pais. Os pais de crianas mais velhas recebem pouca
informao, ou podem mesmo desconhecer quais as respostas emocionais e comportamentais da
criana face a uma diversidade de situaes. Assim, considerar apenas a perspectiva dos pais
sobre algo pode fornecer uma imagem incompleta da experincia da criana (Owens, Maxim,
Nobile, McGuinn e Msall, 2000). Um estudo de Owens, Spirito, McGuinn e Nobile (2000),
examinou os hbitos de sono de quase 500 crianas de idade escolar, e sugere que existem
discrepncias entre os relatos dos pais e das crianas sobre diversos comportamentos do sono,
como o atraso no incio do sono e os despertares nocturnos.
1.7 Compreenso infantil sobre o sono
Na reviso de literatura no forma encontrados muitos estudos que se centrem na
perspectiva da criana sobre o seu prprio sono.
As crenas infantis sobre a sade e a doena, muito estudadas em Psicologia da Sade e
Peditrica, influenciam as atitudes de promoo da sade e confronto da doena (Burbach e
Peterson, 1988; Maddux, Roberts, Sledden e Wright, 1986, cit por Barros, 2003). possvel
fazer um paralelo entre as significaes das crianas sobre a sade e a doena e as suas
significaes sobre o sono, que por sua vez podem influenciar os comportamentos relativos ao
sono da criana.
O desenvolvimento cognitivo da criana, tal como definido por Piaget, determina a
construo das significaes sobre os fenmenos de sade e doena. Nos limos 30 anos
surgiram vrios modelos desenvolvimentistas, que tm caractersticas em comum, uma vez que
organizam o desenvolvimento de forma hierarquica do concreto para o abstracto, do particular
para o geral, do mais rgido para o mais flexivel, do perceptivo para o racional (Barros, 2003).
Desses modelos, o de Simeonson, Buckley e Monson de 1979 e o de Barrio de 1990, so
particularmente relevantes para o presente estudo.
15
No estdio pr-operatrio as significaes sobre os sintomas apoiam-se numa percepo
mais directa e evidente, ou seja, baseada nos sentidos (no que se v, ouve, sente, cheira), e so
descritos de uma forma indiferenciada e global, apoiando-se em atribuies de tudo ou nada; os
fenmenos tm uma causa prxima. Relativamente explicao dos sintomas de doena,
segundo o modelo de Simeonson, Buckley e Monson (1979) os conceitos so indiferenciados,
mgicos ou supersticiosos; e o modelo de Barrio (1990) afirma que ocorre apenas um
reconhecimento ou enumerao de situaes de doena, sem haver reflexo sobre o fenmeno.
No estdio operatrio concreto, ocorre a emergncia de uma causalidade objectiva e
racional, que permite obter explicaes mais complexas e menos perceptveis; existe uma maior
diferenciao entre o real e o imaginrio; e tem-se uma perspectiva mais objectiva sobre as
causas da doena. Relativamente explicao dos sintomas de doena, segundo o modelo de
Simeonson, Buckley e Monson (1979) a doena conceptualizada em termos concretos e
especficos, e no modelo de Barrio (1990) d-se o incio das definies parcialmente lgicas
mas no se chega a definir a doena de um modo abstracto, nem a relacionar os aspectos da
mesma.
No estdio formal existe a capacidade para compreender os processos internos do
organismo, e a complexidade do processo de adoecer e de curar; j no se est limitado ao
pensamento concreto, mas recorre-se ao pensamento hipottico a capacidade de abstraco.
Relativamente explicao dos sintomas de doena, no modelo de Simeonson, Buckley e
Monson (1979) a definio centrada num princpio generalizador ou abstractivo, e existe uma
compreenso do processo de doena e dos factores causais; e no modelo de Barrio (1990) ocorre
a compreenso lgica e caracteriza-se a doena como um processo fisiolgico ou psicolgico,
atravs de termos abstractos.
Conclui-se da reviso de literatura que o sono um fenmeno universal de grande
importncia para o desenvolvimento infantil e que a qualidade do sono determinada por vrios
factores, entre eles as rotinas de sono. Mais se conclui que, apesar da criana ter um papel
importante na definio do seu sono e ter mesmo opinies diferentes das dos seus pais, poucos
estudo se tm centrado na forma como elas percebem o sono.
1.7 OBJECTIVOS DO ESTUDO
O presente estudo tem como objectivo geral a identificao dos hbitos e rotinas de sono
em crianas de idade escolar, e a percepo infantil sobre o sono e as rotinas de sono. Tendo em
conta o objectivo geral, foram estabelecidos os seguintes objectivos especficos:
16
1. Identificao dos hbitos de sono e perturbaes de sono referidas pelos pais
- Comparao entre as mes e os pais
2. Identificao dos hbitos de sono referidos pelas crianas
- Comparao entre os relatos de pais e filhos no que diz respeito a rotinas e perturbaes
de sono.
3. Explorao de crenas infantis relativas ao sono e rotinas de sono
2. METODOLOGIA
2.1 Tipo de Estudo
O presente estudo exploratrio pois o seu objectivo estudar um tema de pesquisa que
no foi ainda muito abordado, e descritivo, pois permite definir as propriedades e
caractersticas da amostra, e obter concluses a partir da caracterizao da amostra (Maroco,
2003). O estudo tambm transversal, pois os dados so recolhidos num s momento, no
havendo seguimento do grupo amostral, e correlacional, pois procura avaliar as relaes que
existem entre as variveis em estudo.
Tendo em conta a sua complementaridade, o presente estudo tem um modelo misto,
conjugando metodologias quantitativas e qualitativas.
hoje considerado que as metodologias quantitativas e qualitativas no so
incompatveis, podendo assim ser usadas sequencialmente ou simultaneamente, em funo da
natureza das questes de investigao que se pretendem levantar e dos dados que se pretendem
obter (Morais e Neves, 2007).
A metodologia mista fornece uma maior compreenso do problema de investigao e
ajuda a que se obtenham as perspectivas que so deixadas de parte na pesquisa tradicional
(Greene e Caracelli, 1997, cit. por Hesse-Biber e Leavy, 2011). A seleco de cada metodologia
deve ter em considerao o problema da investigao, uma vez que uma metodologia mais
eficaz do que outra a responder a certos tipos de questes e a certas dimenses da pesquisa
(Hesse-Biber e Leavy, 2011).
Segundo Sale, Lohfeld e Brazil (2002), na metodologia quantitativa o investigador e o
investigado so entidades independentes, sendo possivel ao investigador estudar o fenmeno
sem o influenciar ou ser influenciado por ele (Guba e Lincoln, 1994). O objectivo desta
17
metodologia medir e analizar as relaes causais entre as variveis (Denzin e Lincoln, 1994), e
para que tal seja possivel so usadas tcnicas como a randomizao, protocolos estruturados e
questionrios escritos ou administrados oralmente, com um nmero de respostas pr-
determinadas limitado. O tamanho da amostra maior, nesta metodologia do que na
metodologia qualitativa, para ser possivel garantir que a amostra representativa, atravs
utilizao de mtodos estatsticos (Carey, 1993).
Na metodologia qualitativa o investigador e o objecto de estudo esto ligados, o que faz
com que os resultados sejam criados mutuamente, tendo em conta o contexto da situao (Guba
and Lincoln, 1994; Denzin and Lincoln, 1994, cit. por Sale, Lohfeld e Brazil, 2002). Esta
metodologia foca-se na perspectiva dos participantes e no seu significado, tem em conta o
resultado como um processo e no um produto, e os dados so recolhidos como palavras ou
imagens (Padgett, 2008, cit. por Wisdom, Cavaleri, Onwuegbuzie e Green, 2012). Nesta
metodologia so utilizadas tcnicas como, por exemplo, entrevistas a focus-groups e observao
dos participantes, sendo que as amostras so relativemente pequenas, para ser possvel a recolha
de informao relevante e no porque so representativas da populao (Reid, 1996, cit. por
Sale, Lohfeld e Brazil, 2002).
Assim, o nfase da metodologia quantitativa nas relaes causais e o da metodologia
qualitativa no processo e nos significados (Sale, Lohfeld e Brazil, 2002).
2.2 Populao
A populao do estudo consttuida por crianas de 8 a 10 anos do 3 e 4 ano de
escolaridade, e os respectivos pais. Esta populao provm de uma Escola Pblica do Ensino
Bsico e de um Colgio Privado, da regio de Lisboa.
Para a participao no estudo os critrios de seleco da amostra foram os seguintes: para
as crianas: ter entre 8 e 10 anos; no estar diagnosticada com perturbaes psicolgicas; ter
competncia cognitiva para entender o que pedido nos questionrios. Para os pais os critrios
foram: ser pai/me da criana includa no estudo; ter reenchido e devolvido o consentimento
informado (Anexo I) e os questionrios enviados (Anexo II e III).
Inicialmente a amostra foi consttuida por 144 crianas que incluem 20 crianas do estudo
de Janurio (2012), 81 crianas do Colgio; e 43 crianas da escola Pblica do Ensino Bsico.
Destas crianas, 12 pais no devolveram os questionrios levando a que a amostra tenha
sido reduzida para 132 crianas. Como se pode observar no Quadro 1 a amostra dos pais
constiuida por 181 mes e 122 pais.
18
Quadro 1 Caractersticas da amostra dos pais
Me Pai
N % N %
Idade
Entre 20 e 30 anos 19 10,5% 3 2,5%
Entre 31 e 40 anos 97 53,6% 51 41,8%
Entre 41 e 50 anos 62 34,3% 64 52,5%
Mais de 51 anos 3 1,7% 4 3,3%
Total 181 100% 122 100%
Estado civil
Casado 109 60,2% 79 65,8%
Em unio de facto 27 14,9% 18 15%
Solteiro 22 12,2% 8 6,7%
Divorciado 22 12,2% 15 12,5%
Vivo 1 0,6% 0 0%
Total 181 100% 120 100%
Escolaridade
4 ano 14 7,8% 9 7,5%
9 ano 22 12,2% 23 19,2%
12 ano 53 29,4% 37 30,8%
Curso tcnico 10 5,6% 7 5,8%
Curso superior 72 40% 35 29,2%
Outro 9 5% 9 7,5%
Total 180 100% 120 100%
A amostra dos pais caracterizada por: a maioria dos pais (mes e pais) so casados; a
maioria dos mes tem entre 31 e 40 anos e um curso superior, enquanto que a maioria dos pais
tem entre 41 e 50 anos e o 12 ano.
Para a entrevista semi-estrurada foram aleatriamente consideradas 90 crianas.
2.3 Instrumentos de recolha de dados
Para a recolha de dados foi utilizado um questionrio scio-demogrfico e dois
questionrios standardizados, o Childrens Sleep Habits Questionnaire (Owens, 2000, verso
portuguesa de Silva, 2011), o Sleep Self Report (Owens, 2000), e foi tambm desenvolvido o
Questionrio da Higiene do Sono. Para responder ao 3 objectivo foi utlizada uma entrevista
semi-estruturada.
- Questionrio scio-demogrfico (Anexo II)
O questionrio do presente estudo foi adaptado do questionrio utilizado na investigao
inicial, realizada por Janurio (2012). Este teve o propsito de recolher informao sobre os
19
dados scio-demogrficos dos pais, como a idade, estado civil, escolaridade, o nmero de filhos
e se os pais habitam com a criana.
- Childrens Sleep Habits Questionnaire (CSHQ) (Anexo III)
O questionrio Childrens Sleep Habits Questionnaire foi desenvolvido por Owens,
Spirito e McGuinn (2000), e foi adaptado para a populao portuguesa por Filipe Silva (2011).
O questionrio foi desenvolvido como um instrumento de rastreio dos hbitos e
problemas de sono de crianas de idade escolar (Owens, Spirito, Meenan, 2000 cit. por
Litsenburg, Waumans, Berg e Gemke, 2010). O CSHQ um questionrio restrospectivo,
destinado a ser preenchido pelos pais. Antes do seu preenchimento pedido aos pais que
recordem o sono (incluindo rotinas e problemas de sono) da sua criana, que ocorreram durante
a semana anterior ou numa semana recente que considerem tpica (Owens, Spirito e McGuinn,
2000).
O questionrio mostrou ter validade e confiabilidade adequadas, tendo uma consistncia
interna com valores de alfa de Cronbach de 0.68 para uma amostra comunitria e 0.78 para uma
amostra clnica, e a confiana teste-reteste com valores entre 0,62 e 0,79 (Owens, Spirito e
McGuinn, 2000). A traduo de Silva (2011) demostrou tambm uma consistncia interna
adequada, com valores de alfa de Cronbach de 0,35 a 0,75, e de confiana teste-reteste de 0,69 a
0,87.
O questionrio baseado em sintomas clinicos comuns dos diagnsticos peditricos mais
prevalentes (Owens, Spirito e McGuinn, 2000).
O CSHQ consttuido por 45 itens, com 32 itens agrupados em 8 sub-escalas, referentes
aos seguintes domnios: resistncia em ir para a cama (6 itens), atraso no inicio do sono (1
item), durao do sono (3 itens), ansiedade relacionada com o sono (4 itens), despertares
nocturnos (3 itens), parassnias (7 itens), distrbios de respirao durante o sono (3 itens), e
sonolncia diurna (8 itens).
No questionrio tambm pedido aos pais que indiquem a hora de deitar, hora de acordar
e a durao do sono da criana.
Os itens so classificados numa escala de Likert de 3 pontos, Normalmente se o
comportamente ocorreu 5 a 7 vezes por semana, s vezes se ocorreu 2 a 4 vezes por semana,
e Raramente se ocorreu 1 vez ou nunca na semana. O resultado final obtido atravs da soma
das vrias respostas, sendo que 6 itens foram invertidos (item 1, 2, 3, 10, 11 e 26), para que uma
maior pontuao fosse indicativa de um sono mais perturbado.
20
- Sleep Self Report (SSR) (Anexo IV)
O Sleep Self Report foi desenvolvido por Owens et al. (2000), e traduzido, depois da
autorizao da autora para ser utilizado no estudo de Janurio (2012), sendo essa a verso
utilizada no presente estudo.
O questionrio pode ser preenchido, quer inserido numa entrevista, quer por auto-
preeenchimento, e destina-se a crianas de idade escolar, entre os 7 e os 12 anos. Para o
preenchimento pedido criana que recorde a semana anterior ou uma semana recente que
considerem tpica (Owens, Maxim, Nobile, McGuinn e Msall, 2000). Este questionrio
demonstrou ndices adequados de consistncia interna com um ndice de Cronbach de 0,69.
O SSR assim um questionrio restrospectivo, consttuido por 26 itens, divididos em
duas seces. A primeira seco constituida por trs questes e a segunda seco divide-se em
3 grupos: Hora de dormir, Comportamento de dormir e Sono durante o dia, sendo que so
estes 23 itens que se consideram para a cotao final.
O questionrio foi criado para avaliar domnios do sono semelhantes aos do CSHQ
(Owens, Maxim, Nobile, McGuinn e Msall, 2000), do ponto de vista da criana. Na pontuao
total 13 itens esto relacionados com os mesmos domnios que o CSHQ: dificuldade em ir para
a cama e adormecer, durao do sono, acordar durante a noite e sonolncia diurna. assim
possivel realizar a comparao entre itens especficos do CSHQ e do SSR.
Os itens so classificados numa escala de Likert de 3 pontos, Habitualmente se o
comportamente ocorreu 5 a 7 vezes por semana, s vezes se ocorreu 2 a 4 vezes por semana,
e Raramente se ocorreu 1 vez ou nunca na semana.
Os itens 4, 5, 6, 8, 11 e 26 foram invertidos, para que uma pontuao mais elevada
indique um sono mais perturbado e comportamentos ao deitar mais problemticos.
- Questionrio da Higiene do Sono (Anexo VI)
O Questionrio da Higiene do Sono foi elaborado para o presente estudo e tem como
base:
Survey - Caregivers Knowledge, Behaviour, and Attitudes Regarding Healthy Sleep in
Young Children (Owens, Jones e Nash, 2011)
Sleep Practices Questionnaire (SPQ) (Keller & Goldberg, 2004)
Parental report on sleep-related behaviors (Mindell et. al., 2010)
O questionrio preenchido pelos pais e inclui duas dimenses. Uma primeira, que inside
sobre o que os pais consideram ser o comportamento da criana; e a segunda que inside sobre
comportamento dos pais em situaes de oposio da criana em deitar-se.
21
Em relao ao comportamento da criana so considerados 8 grupos de questes: a hora
de deitar, se apaga a luz, quem deita a criana, o local onde dorme e onde adormece, como o
seu comportamento quando levada para a cama, as suas rotinas antes de se deitar, as suas
estratgias de adormecimento e como acorda.
Em relao ao comportamento parental, so consideradas prticas parentais em situaes
de instncia da criana em ir para a cama, nomeadamente: os pais no insistem e esperam pela
criana ter sono, perguntam criana o que se passa, levam a criana para a cama ignorando a
sua oposio, ameaam castigar se no se for deitar, permitem a criana ir para a cama deles,
ver televiso, jogar, ou ler, mostram-se tristes ou zangados, ou acompanham a criana at ao
quarto dela.
- Entrevista semi-estruturada
Com o objectivo de estudar as crenas infantis sobre o sono e sobre as rotinas de sono foi
realizada uma entrevista semi-estruturada, j utlizada no estudo de Janurio (2012), com o apoio
de um guio escrito e cartes com imagens ilustrativas, para situar a criana no que pedido.
Recorreu-se a este tipo de entrevista, pois permite aprofundar os tpicos de maior interesse, uma
vez que tendo por base um guio com perguntas abertas se estimula a criana a falar livremente
sobre o tema. Para alm disso a utilizao desta metodologia permite a clarificao de dvidas
quando as respostas da criana no so inicialmente muito claras.
A entrevista utilizada divide-se em duas fases. Na primeira fase pretende-se:
(1) Explorar a compreenso infantil do sono (i.e. identificao de sinais e sintomas de
sono, causas, explicao do processo de dormir);
(2) Explorar as rotinas e hbitos de sono da criana (i.e. identificao da autoridade em
relao ao deitar, identificao de rotinas, identificao de atitudes em relao s rotinas).
A segunda fase centra-se nas rotinas de sono e pretende aceder s crenas infantis sobre
rotinas de sono. Para isso so apresentados criana vinhetas com a identificao de 6
ctividades que mais frequentemente so referidas na literatura como estando associadas s
rotinas de sono (isto , ao que a criana faz antes de ir dormir).
A entrevista iniciada com a apresentao do entrevistador e o fornecimento de uma
explicao criana sobre o propsito do estudo.
Na primeira fase apresenta-se criana um carto com uma criana a dormir para se
explorar as crenas e a compreenso da criana sobre o sono (a primeira dimenso). Questiona-
22
se a criana sobre o que ter sono, o porqu de se ter sono, para que serve dormir, as razes de
se gostar ou no de dormir, e quais as suas fontes de informao.
De seguida apresenta-se um outro carto, com uma criana a ir para a cama. Questiona-se
a criana sobre o seu horrio de deitar, quem a manda para a cama, se se deita sozinha ou est
acompanhada, e sobre as suas rotinas antes de se deitar.
Na segunda fase, com o carto da criana a ir para a cama, apresentam-se
sequencialmente, as 6 vinhetas com as actividades: jogar bola; comer; lavar os dentes; ver
televiso; jogar play-station; e ir para a cama dos pais. Quando se apresenta cada vinheta
pergunta-se criana se o menino do carto deve ou no deve realizar essas actividades antes de
ir para a cama, e pede-se que justifique a sua resposta. Estas questes destinam-se, como j se
referiu, a identificar as crenas infantis sobre os comportamentos de rotina de sono, referindo-se
segunda dimenso, as rotinas e os hbitos de sono.
2.4 Procedimento
O presente estudo foi iniciado no ano lectivo anterior, tendo sido obtida a aprovao do
Concelho de tica e Deontologia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, e das
escolas onde foi realizado.
O protocolo do estudo foi enviado ao Colgio Champagnat, e uma vez aprovado foi
realizada uma reunio com a Directora do Colgio, na qual se explicou os procedimentos da
investigao. A Directora por sua vez informou as professoras de cada turma sobre os
procedimentos.
A participao no estudo foi voluntria e foi garantida a confidencialidade dos
participantes, atravs da atribuio de cdigos a cada aluno e aos seus pais, que permitiu o
emparelhamento dos dados da criana com o dos respectivos pais.
As professoras de cada turma entregaram envelopes, com o consentimento informado e os
questionrios para os pais preencherem, aos alunos, que depois os devolveram s professoras.
De seguida, foi aplicado o questionrio Sleep Self Report, de forma colectiva, aos alunos
cujos pais autorizaram a participao. O preenchimento dos questionrios foi orientado por
elementos pertencentes ao grupo de investigao.
Assim as turmas de 3 ano foram divididas em 3 grupos, tendo cada grupo
aproximadamente 6 crianas. O elemento da investigao que orientava cada um dos grupos leu
as questes em voz alta e as crianas responderam individualmente nas folhas que foram
fornecidas. Nestas turmas as orientadoras ficaram responsveis por cada uma das filas dos
alunos incentivando o preenchimento, verificando dificuldades e disponibilizando-se para tirar
23
dvidas. Nas turmas de 4 ano os elementos da investigao leram as questes colectivamente
para a turma e os alunos responderam individualmente nas respectivas folhas com o
questionrio.
Em seguida da amostra de crianas que preencheram o SSR foram seleccionadas
aleatriamente 46 crianas para a realizao da entrevista semi-estruturada. Todas as 46
crianas se mostraram disponveis e colaboraram na entrevista. As entrevistas semi-estruturadas
foram realizadas posteriormente, de forma individual, com uma durao de 20 a 45 minutos, em
gabinetes disponibilizados pelo colgio. As entrevistas foram gravadas e posteriormente
transcritas para se realizar a sua anlise.
2.5 Anlise de Dados
Os dados quantitativos recolhidos foram analisados com o programa estatstico Statistical
Package for the Social Sciences, SPSS, verso 21. Para a informao recolhida com as
entrevistas foi utilizada a anlise de contedo.
Em relao aos dados quantitativos, foi realizada uma estatstica descritiva, sendo avaliadas
as mdias, desvios padres, frequncias, percentagens, valores mnimos e mximos, e as
medianas.
A consistncia interna das suas sub-escalas do questionrio foi avaliada atravs do alfa de
Cronbach. Para ser possivel a comparao entre as opinies dos pais e das mes utilizou-se o
teste t para amostras emparelhadas. Em relao opinio de ambos (me e pai) ao acharem que
o seu filho tem algum problema de sono, ou seja, para verificar a existncia de associaes
entre duas variveis nominais dicotmicas, foi utilizado o teste exacto de Fisher, uma vez que
os pressupostos e aplicabilidade do teste Qui quadrado no se verificam. Para estudar a
correlao entre duas variveis, de escala ordinal, foi utilizado o coeficiente de correlao de
Spearman, no qual os resultados so significativos para p0,05. Realizou-se tambm uma
anlise estatstica no paramtrica de correlao, com o teste de Wilcoxon numa sub-escala do
questionrio, e o teste de Mann-Whitney U para a comparao entre grupos, uma vez que existe
uma grande discrepncia no tamanho da amostra.
24
3. APRESENTAO DOS RESULTADOS
Os resultados so apresentados em seguida de acordo com os objectivos definidos na
Metodologia. Primeiro esto apresentados os dados recolhidos no questionrio scio-
demogrfico, de seguida o questionrio Childrens Sleep Habits Questionnaire, o Questionrio
de Hbitos e Rotinas de Sono, o Sleep Self Report e a anlise de contedo das entrevistas.
3.1 Resultados referentes ao Questionrio Socio-demogrfico
Em relao s questes scio-demogrficas verifica-se que:
- A maioria dos pais habita com a criana (99,4% das mes e 94,1% dos pais);
- As mes habitam com um nmero de filhos de 0 a 5, com uma mdia de 1,88 filhos, e os pais
com um nmero de 0 a 4, com uma mdia de 1,60 filhos (Anexo VI).
3.2 Resultados referentes ao objectivo 1 - Identificao dos hbitos de sono e
perturbaes de sono referidas pelos pais
3.2.1 Childrens Sleep Habits Questionnaire - CSHQ
A apresentao dos resultados est organizada segundo as subescalas do questionrio
CSHQ (Owens, 2000), adaptado para a populao portuguesa por Silva (2011).
Em primeiro lugar so apresentados os resultados de consistncia interna, os mnimos e
mximos para cada subescala, e as mdias e desvios padres para cada subescala e cada um dos
itens do questionrio.
25
Tabela 1 Consistncia interna, mdias, desvios padres
Subescala
Me Pai
Min Mx Alfa de
Cronbach Mdias
Desvio
Padro
Alfa de
Cronbach Mdias
Desvio
Padro
1. Resistncia em ir para a cama
Deita-se sempre mesma hora
Adormece sozinha na sua prpria cama
Adormece na cama dos pais ou irmos
Precisa de um dos pais no quarto para adormecer
Luta na hora de deitar
Tem medo de dormir sozinha
0.743 8.08
1.23
1.37
1.27
1.40
1.14
1.34
2.29
0.46
0.69
0.59
0.71
0.47
0.65
0.756 7.96
1.21
1.28
1.26
1.39
1.10
1.32
2.24
0.45
0.62
0.60
0.73
0.36
0.63
6 18
2. Atraso no Incio do Sono
Depois de se deitar, demora at 20 minutos a
adormecer
---------
1.97
0.86 ---------
1.97
0.89
1 3
3. Durao do Sono
Dorme pouco
Dorme o que necessrio
Dorme o mesmo nmero de horas todos os dias
0.639 3.89
1.31
1.22
1.37
1.24
0.58
0.47
0.59
0.619 3.78
1.27
1.19
1.34
1.15
0.56
0.43
0.55
3 9
4. Ansiedade Relacionada com o Sono
Precisa de um dos pais no quarto para adormecer
Tem medo de dormir no escuro
Tem medo de dormir sozinha
Tem dificuldade em dormir fora de casa
0.641 5.44
1.40
1.59
1.34
1.17
1.81
0.71
0.79
0.65
0.44
0.732 5.37
1.39
1.58
1.32
1.18
1.93
0.73
0.80
0.63
0.43
4 12
5. Despertares Nocturnos
Vai para a cama dos pais, irmos, etc., a meio da
noite
Acorda uma vez durante a noite
Acorda mais de uma vez durante a noite
0.613 3.65
1.27
1.34
1.10
1.13
0.59
0.58
0.36
0.719 3.56
1.19
1.32
1.06
1.10
0.48
0.59
0.23
3 9
6. Parassnias
Fala a dormir
Tem sono agitado, mexe-se muito a dormir
Anda a dormir, noite (sonambulismo)
Range os dentes durante o sono
Acorda durante a noite a gritar, a suar,
inconsulvel
Acorda assustada com pesadelos
Molha a cama (crianas com 4 ou mais anos)
0.682 8.81
1.40
1.70
1.06
1.34
1.07
1.21
1.12
2.08
0.59
0.76
0.29
0.62
0.30
0.45
0.39
0.615 8.50
1.40
1.57
1.06
1.29
1.03
1.17
1.03
1.75
0.56
0.70
0.27
0.60
0.22
0.40
0.17
7 21
7. Distrbios de Respirao durante o Sono
Ressona alto
Parece parar de respirar
Ronca ou tem dificuldade em respirar
0.710 3.46
1.23
1.11
1.13
1.03
0.49
0.39
0.41
0.499 3.32
1.19
1.06
1.10
0.71
0.39
0.30
0.33
3 9
8. Sonolncia Diurna
De manh, acorda por si prpria
Acorda mal-humorada
De manh, acordada pelos pais ou irmos
Tem dificuldade em sair da cama de manh
Demora a ficar bem acordada
Parece cansada
Na semana passada
pareceu sonolenta a ver televiso
pareceu sonolenta a andar de carro
0.721 13.31
2.23
1.37
2.60
1.83
1.38
1.32
1.25
1.40
3.01
0.73
0.58
0.69
0.72
0.64
0.53
0.58
0.70
0.714 13.08
2.14
1.28
2.56
1.72
1.34
1.28
1.26
1.50
2.97
0.77
0.49
0.67
0.67
0.62
0.49
0.65
0.78
8 24
26
No presente estudo as sub-escalas apresentam razovel a boa consistncia interna. Os
valores mais elevados encontram-se, para amostra mes: Resistncia em ir para a cama,
Distrbios de Respirao durante o sono e Sonolncia Diurna; e para a amostra pais a
Resistncia em ir para a cama e Sonolncia Diurna.
Relativamente questo inicial do questionrio Acha que o seu filho tem algum
problema com o sono ou com o adormecer?, a maioria dos pais (82 das mes e 87 dos pais,
numa amostra total de 91 pais) consideram que o seu filho no tem algum problema de sono.
Apenas 12,3% das mes e 4,8% dos pais referiram que o seu filho tem problemas de sono.
Atravs do teste exacto de Fisher, conclui-se que existe uma associao significativa entre
a opinio dos pais e das mes quanto ao acharem que o filho tem algum problema de sono ou
com o adormecer (p < 0.0001).
Em relao hora de deitar, segundo as mes e os pais, as crianas deitam-se em mdia
s 21h40 durante a semana, e no fim-de-semana, segundo as mes deitam-se em mdia s
22h35, e segundo os pais s 22h20. Em relao hora de acordar, segundo as mes, as crianas
acordam em mdia s 7h20 durante a semana, e s 8h55 durante o fim-de-semana. Segundo os
pais, as crianas acordam em mdia s 7h25 horas durante a semana, e s 8h45 durante o fim-
de-semana. Relativamente ao tempo total de sono, segundo as mes, as crianas dormem em
mdia 9h20, e segundo os pais dormem em mdia 9h15 (Anexo VI).
Atravs do teste t de student no foram detectadas diferenas estatsticamente
significativas nas respostas do pai e da me quanto hora de deitar durante a semana e fim-de-
semana, o tempo total de sono, quanto tempo a criana fica acordada durante os despertares
nocturnos, e a hora de acordar durante a semana e fim-de-semana (teste t para duas amostras
emparelhadas p>0.05). (Anexo VI).
De seguida esto apresentadas as tabelas com as frequncias das respostas a cada item,
organizadas de acordo com as dimenses do questionrio.
27
Tabela 2 - Hora de deitar
Me Pai
Habit
n
%
s
vezes
n
%
Raram
n
%
Total
n
Habit
n
%
s
vezes
n
%
Raram
n
%
Total
n
a criana deita-se sempre mesma
hora
141
78,8%
35
19,6%
3
1,7% 179
90
80,4%
20
17,9%
2
1,8% 112
a criana depois de se deitar demora
at 20 minutos a adormecer
65
38,2%
45
26,5%
60
35,3% 170
45
40,5%
24
21,6%
42
37,8% 111
a criana adormece sozinha na sua
prpria cama
132
75,4%
22
12,6%
21
12,0% 175
89
80,9%
11
10,0%
10
9,1% 110
a criana adormece na cama dos pais
ou dos irmos
13
7,8%
18
10,8%
135
81,3% 166
9
8,3%
10
9,3%
89
82,4% 108
adormece embalada ou com
movimentos ritmicos
2
1,2%
1
0,6%
158
98,1% 161
2
1,9%
2
1,9%
103
96,3% 107
precisa de um objecto especial para
adormecer (fralda, boneco, etc, no
inclui chupeta)
24
14,8%
18
11,1%
120
74,1% 162
16
15,0%
10
9,3%
81
75,7% 107
precisa de um dos pais no quarto
para a adormecer
21
12,9%
23
14,1%
119
73,0% 163
16
14,8%
10
9,3%
82
75,9% 108
resiste a ir para a cama na hora de
deitar
20
12,0%
60
36,1%
86
51,8% 166
11
10,0%
43
39,1%
56
50,9% 110
luta na hora de deitar (chora, recusa-
se ficar na cama)
8
4,9%
7
4,3%
147
90,7% 162
2
1,9%
7
6,5%
98
91,6% 107
tem medo de dormir no escuro 31
18,6%
36
21,6%
100
59,9% 167
22
19,6%
21
18,8%
69
61,6% 112
tem medo de dormir sozinha 16
9,8%
24
14,6%
124
75,6% 164
10
9,1%
15
13,6%
85
77,3% 110
adormece a ver televiso 30
18,1%
32
19,3%
104
62,7% 166
16
14,0%
22
19,3%
76
66,7% 114
Em relao dimenso Hora de deitar, de salientar que a maioria dos pais afirmam
que a criana habitualmente se deita sempre mesma hora (78,8% das mes e 80,4% dos pais) e
adormece na sua prpria cama (75,4% das mes e 80,9% dos pais), enquanto que apenas 18,6%
das mes e 17,6% dos pais afirmam que a criana adormece na cama dos pais ou irmos,
percentagens estas a soma das opes de resposta Habitualmente e s vezes.
Considerando a soma das percentagens das opes de resposta Habitualmente e s
vezes, 25,9% das mes e 24,3% dos pais afirmam que a criana precisa de um objecto especial
para adormecer, 27% das mes e 24,1% dos pais afirmam que a criana precisa de um dos pais
no quarto para a adormecer, e 37,4% das mes e 33,3% dos pais afirma que a criana adormece
a ver televiso.
28
Segundo ambos os pais, quase metade das crianas da amostra resiste a ir para a cama na
hora de deitar (48,1% das mes e 49,1% dos pais).
Relativamente aos medos, 40,2% das mes e 38,4% dos pais afirmam que a criana tem
medo de dormir no escuro, e 24,4% (as mes e 22,7% dos pais afirma que a criana tem medo
de dormir sozinha.
Tabela 3 - Comportamento durante o sono
Me Pai
Habit
n
%
s vezes
n
%
Raram
n
%
Total
n
Habit
n
%
s vezes
n
%
Raram
n
%
Total
N
A criana dorme pouco 10
6,2%
29
18,1%
121
75,6% 160
6
5,6%
17
15,7%
85
78,7% 108
Dorme muito 27
16,9%
55
34,4%
78
48,8% 160
18
16,2%
34
30,6%
59
53,2% 111
Dorme o que necessrio 136
80,5%
29
17,2%
4
2,4% 169
94
83,2%
17
15,0%
2
1,8% 113
Dorme o mesmo nmero de
horas todos os dias
113
68,9%
42
25,6%
9
5,5% 164
76
69,7%
29
26,6%
4
3,7% 109
Fala a dormir 9
5,5%
48
29,4%
106
65,0% 163
4
3,7%
36
33,0%
69
63,3% 109
Tem sono agitado, mexe-se
muito a dormir
30
18,2%
56
33,9%
79
47,9% 165
13
11,9%
36
33,0%
60
55,0% 109
Anda a dormir noite
(sonambulismo)
2
1,3%
6
3,8%
149
94,9% 157
1
0,9%
4
3,7%
102
95,3% 107
Vai para a cama dos pais ou
irmos no meio da noite
12
7,5%
19
11,9%
128
80,5% 159
4
3,8%
12
11,4%
89
84,8% 105
Queixa-se de dores no corpo
durante a noite
3
1,9%
11
7,0%
143
91,1% 157
0
0,0%
7
6,6%
99
93,4% 106
Se sim, onde?
Pescoo 1
Peito 1
Costas - 1
Membros - 1
Pernas 8
Joelho - 1
Ps - 1
14 Costas - 1
Membros - 1
Pernas - 3
Ps - 1 6
Range os dentes durante o sono 13
8,2%
28
17,6%
118
74,2% 159
8
7,5%
15
14,0%
84
78,5% 107
Ressona alto 5
3,1%
27
16,8%
129
80,1% 161
0
0,0%
20
18,7%
87
81,3% 107
Parece parar de respirar durante o
sono
4
2,5%
10
6,3%
145
91,2% 159
2
1,9%
2
1,9%
104
96,3% 108
Ronca ou tem dificuldade em
respirar durante o sono
4
2,6%
13
8,3%
139
89,1% 156
1
1,0%
8
7,6%
96
91,4% 105
Tem dificuldade em dormir fora
de casa
4
2,5%
20
12,4%
137
85,1% 161
2
1,9%
15
14,0%
90
84,1% 107
Acorda durante a noite a gritar, a
suar, inconsolvel
2
1,3%
7
4,5%
147
94,2% 156 1
0,9%
1
0,9%
105
98,1% 107
Acorda assustada com pesadelos 3
1,9%
27
17,0%
129
81,1% 159
1
0,9%
16
15,1%
89
84,0% 106
Molha a cama noite 4
2,6%
10
6,5%
141
91,0% 155
0
0,0%
3
2,8%
103
97,2% 106
29
Em relao dimenso Comportamento durante o sono, de salientar que a maioria
dos pais no considera que a sua criana dorme pouco (75,6% das mes e 78,7% dos pais), mas
que habitualmente dorme o que necessrio (80,5% das mes e 83,2% dos pais). A maioria dos
pais afirma tambm que habitualmente a criana dorme o mesmo nmero de horas todos os dias
(68,9% das mes e 69,7% dos pais).
Ambos (pai e me) afirmam que a criana raramente acorda assustada com pesadelos
(81,1% das mes e 84% dos pais).
Tabela 4 - Acordar durante a noite
Me Pai
Habit
n
%
s vezes
n
%
Raram
n
%
Total
n
Habit
n
%
s vezes
n
%
Raram
n
%
Total
N
Acorda uma vez em cada noite 9
5,3%
40
23,7%
120
71,0% 169
7
6,4%
21
19,3%
81
74,3% 109
Acorda mais do que uma vez
durante a noite
3
1,9%
10
6,3%
145
91,8% 158
0
0,0%
6
5,6%
101
94,4% 107
Quando acorda volta a
adormecer sem ajuda
88
54,3%
26
16,0%
48
29,6% 162 51
46,8%
21
19,3%
37
33,9% 109
Em relao dimenso Acordar durante a noite, de salientar que a maioria dos pais
refere que a criana raramente acorda durante a noite, tanto uma vez (71%