UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES VALÉRIA DA SILVA · lateral do hemisfério e estruturas...

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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES VALÉRIA DA SILVA AS SEQUELAS DO ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO TRATADAS PELA ACUPUNTURA Mogi das Cruzes 2014

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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

VALÉRIA DA SILVA

AS SEQUELAS DO ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO

TRATADAS PELA ACUPUNTURA

Mogi das Cruzes

2014

UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

VALÉRIA DA SILVA

AS SEQUELAS DO ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO

TRATADAS PELA ACUPUNTURA

Monografia apresentada ao programa de Pós-

graduação da UMC - Universidade de Mogi

das Cruzes, como exigência parcial, para a

obtenção de título de Especialista em

Acupuntura.

Orientadores: Professor Esp. Luiz A. Alfredo e

Professora Ms. Bernadete N. Stolai

Mogi das Cruzes

2014

VALÉRIA DA SILVA

AS SEQUELAS DO ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO

TRATADAS PELA ACUPUNTURA

Monografia apresentada ao programa de Pós-

graduação da UMC - Universidade de Mogi

das Cruzes, como exigência parcial, para a

obtenção de título de Especialista em

Acupuntura.

Aprovado em: ____________________________

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________

Prof. Esp. Luiz A. Alfredo

UMC - UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

_______________________________________________________________

Prof. Ms. Bernadete N. Stolai

UMC - UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha filha Beatriz Silva Trindade, por toda a compreensão e de estar sempre do meu lado nos momentos que mais precisei na elaboração deste

precioso trabalho.

AGRADECIMENTOS

À

Deus, por me dar saúde para continuar meu trabalho.

AOS

Dedicados Professores: Luiz Alfredo, Romana Franco e Bernadete Stolai, que com

sabedoria e paciência, dividiram seus conhecimentos com todos.

À

Universidade de Mogi das Cruzes, por acreditar que a Medicina Tradicional Chinesa,

com a Acupuntura, está ao alcance de todos.

À

Todos os alunos do curso de Acupuntura que fizeram muita diferença na minha vida.

RESUMO

As sequelas do Acidente Vascular Encefálico incluem uma série de danos ao

paciente, dependendo do Canal de Energia acometido, uma sequela. Na Medicina

Tradicional Chinesa, o Golpe de Vento como principal Padrão de Desarmonia, levam

às sequelas de um AVE, dependendo em que intensidade um órgão for acometido.

A Acupuntura, como uma técnica milenar, e que faz parte da Medicina Tradicional

Chinesa (MTC), baseada em um antigo pensamento filosófico chinês e na

observação dos fenômenos naturais, vem sendo amplamente utilizada com relativa

frequência nos últimos anos, e está cada vez mais em evidência sendo uma

especialidade em ascensão para os profissionais da Área da Saúde. O objetivo

deste trabalho foi comprovar a eficácia do tratamento com Acupuntura em pacientes

com AVE e identificar a existência de protocolos nos pontos aplicados para cada tipo

de sequela. Após a definição da problemática, foram selecionados estudos com

relevância, utilizando-se bases de dados eletrônicos dos periódicos Capes, Pubmed,

e revisão da Literatura Ocidental e Oriental. Os resultados que foram obtidos

evidenciam que a Acupuntura no tratamento do Acidente Vascular Encefálico

apresenta eficácia terapêutica como forma única ou coadjuvante, utilizando-se de

estímulos por pontos específicos para o tratamento de pacientes acometidos por

Golpe de Vento, levando a diminuição da intensidade dos espasmos, melhora da

força motora, da fala, controle na hipertensão, não apresentando efeitos colaterais,

obtendo assim uma melhora significativa na qualidade de vida desses pacientes.

Palavras-chave: Acupuntura, Acidente Vascular Encefálico, Hemiplegia.

ABSTRACT

The sequelae of strocke, include a lot of damage to the patient, depending on the

affected Energy Channel. In Traditional Chinese Medicine, the Windstroke is a main

Pattern of Disharmony lead to sequelae of a stroke, depending on how strongly a

body is affected. Acupuncture, as an ancient technique, and that is part of Traditional

Chinese medicine (TCM) based on an ancient chinese philosophical thought and

observation of natural phenomena, has been widely used with relative frequency in

recent years, and is increasingly highlight being a specialty on the rise for

professionals in Health. The aim of this work was to prove the efficacy of

acupuncture treatment in patients with stroke and identify the existence of protocols

for each type of sequel. After defining the problem, studies of relevance were

selected, using electronic databases from Capes, Pubmed, and review of Western

and Oriental Medical literature. The results that have been obtained show that

acupuncture in the treatment of stroke presents therapeutic efficacy in monoterapy or

adjuvant form, using a specific stimulus for the treatment of patients suffering from

Windstroke points, leading to decrease in the intensity of spasms improves motor

strength, speech, control of hypertension, showing no side effects, thus achieving a

significant improvement in quality of life of these patients.

Keywords: Acupuncture, Stroke, Hemiplegia.

LISTA DE ABREVIAÇÕES

AVE.................................................................................Acidente Vascular Encefálico AVEH.........................................................Acidente Vascular Encefálico Hemorrágico AVEI...............................................................Acidente Vascular Encefálico Isquêmico AITs.............................................................................Acidente Isquêmico Transitórios MTC................................................................................Medicina Tradicional Chinesa

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................... ......... 10

2 METODOLOGIA........................................................................................ .......... 12

3 VISÃO OCIDENTAL.......................................................................................... .. 13

3.1 FISIOPATOLOGIA........................................................................................ . 15

3.2 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS.............................................................. .. 17

4 ACUPUNTURA................................................................................................. .. 18

4.1 ORIGEM DA ACUPUNTURA........................................................................ 18

4.2 DESENVOLVIMENTO DA ACUPUNTURA................................................. .. 19

4.3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ACUPUNTURA............................. .. 23

4.4 MECANISMO DE AÇÃO.............................................................................. . 24

5 A VISÃO ORIENTAL SOBRE O AVE.............................................................. ... 26

5.1 GOLPE DE VENTO................................................................................. ...... 26

5.2 FÍGADO E OS 5 ELEMENTOS.................................................................... . 26

5.2.1 CARACTERÍSTICAS DO ELEMENTO MADEIRA........................... ... .27

5.2.2 ELEMENTO MADEIRA EM RELAÇÃO A OUTRO ORGÃO............... . 28

5.3 PADRÃO DE DESARMONIA DO FÍGADO.................................................. . 29

5.4 ASPECTOS DA LINGUA............................................................................. .. 31

5.5 FATORES PATOGÊNICOS........................................................................... 32

5.5.1 SOBRECARGA DE TRABALHO E TENSÃO EMOCIONAL.............. .. 34

5.5.2 DIETA IRREGULAR E EXERCÍCIO FÍSICO EXCESSIVO.............. .... 34

5.5.3 ATIVIDADE SEXUAL EXCESSIVA E REPOUSO IRREGULAR......... 35

5.5.4 ESFORÇO FÍSICO EXCESSIVO E REPOUSO INADEQUADO......... 35

6 SEQUELAS DO ACOMETIMENTO DOS CANAIS.......................................... .. 36

6.1 HEMIPLEGIA............................................................................................. .... 37

6.2 AFASIA.......................................................................................................... 37

6.3 PARALISIA FACIAL..................................................................................... .. 37

6.4 HIPERTENSÃO........................................................................................... .. 38

7 PRINCÍPIO DE TRATAMENTO....................................................................... ... 40

8 CONCLUSÃO..................................................................................................... . 42

REFERÊNCIAS...................................................................................... 43

10

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho vem abordar as sequelas do Acidente Vascular

Encefálico com o tratamento na Acupuntura, relatando os casos clínicos que

obtiveram resultados positivos e que podem trazer melhor qualidade de vida

daqueles que sofrem com as sequelas do AVE, que está entre as causas mais

comuns nas limitações para as atividades diárias da vida.

É importante uma recuperação rápida, evitando maiores sequelas, onde a

Acupuntura é uma forte aliada ao tratamento de recuperação neurológica desses

pacientes.

Para Gans e Delisa, (2002, p.1227): “Os objetivos da reabilitação no derrame,

assim também chamado o AVE, são reduzir as deficiências por meio de terapia,

atingir o mais alto nível de independência funcional, minimizar a incapacidade,

reintegrar o paciente à sua casa, família e comunidade e restabelecer uma vida com

sentido e gratificante”.

Estes distúrbios causam manifestações de déficits da função cerebral

importantes para o nosso bom funcionamento sensorial e motor. Ou seja, as

sequelas do Acidente Vascular Encefálico. Uma série de déficits, como o

comprometimento nas funções e sentido, como a motricidade, a cognição, a

percepção e linguagem, que causam sequelas como a hemiplegia, paralisia facial,

afasia, confusão mental, cefaléia, incontinência urinária e fecal, assim como maiores

complicações com a pressão arterial sistêmica elevada. Essas sequelas podem

trazer impacto emocional, funcional e estético, sendo de diferentes graus, conforme

as áreas acometidas no Acidente Vascular Encefálico Isquêmico ou Hemorrágico.

(UMPHRED, 2004, p.784).

Umas dessas sequelas é a hemiplegia, um sinal clássico da doença

neurovascular do cérebro. É uma das manifestações da enfermidade neurovascular

e ocorre devido o AVE, envolvendo o hemisfério ou tronco encefálico. Os Acidentes

Vascular Encefálico resultam de uma insuficiência neurológica, repentina e

especifica. É, um modo súbito como ele ocorre durantes segundos, minutos, horas

ou alguns dias, que caracteriza a desordem como vascular. Apesar de uma

hemiplegia pode ser o sinal mais óbvio de um AVE, e requerer uma maior

preocupação dos terapeutas, outros sintomas são igualmente incapacitantes, como

a disfunção sensorial, a afasia, defeitos do campo visual e deficiências mentais e

11

intelectuais. A combinação especifica dessa deficiência, possibilita detectar tanto a

localização quanto o tamanho da deficiência. Os AVEs podem ser classificados de

acordo com o tipo patológico, como a trombose, embolia ou hemorragia, ou com os

fatores comportamentais, como os ataques isquêmicos completos, em evolução ou

transitórios ( UMPHRED,2004, p.783).

De acordo com Maciocia (2009, p.986)A hemiplegia, uma das sequelas do

AVE, é compreendida pela Medicina Tradicional Chinesa como Golpe de Vento, e os

princípios causais são Vento de Fígado e Fleuma. Em casos prolongados depois de

um Golpe de Vento, pode haver um desencadeamento de estase de Sangue,

causando rigidez e dor dos membros provocando a paralisia.

Segundo Stux (2004, p.34),cinco estudos que testaram a eficácia da

Acupuntura nos casos de paralisias resultante de AVE, o tratamento fora iniciado

nas primeiras 36 horas até três meses depois do AVE, em que se obteve uma

significativa recuperação desses pacientes, e que a redução de dias de internação

hospitalar representava uma economia de 26 mil dólares.

Este estudo tem como objetivo comprovar a eficácia do tratamento com

Acupuntura em pacientes com Acidente Vascular Encefálico e identificar a existência

de protocolos nos pontos aplicados para cada tipo de sequela.

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2 METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão da Literatura Científica da Medicina Ocidental e

Medicina Tradicional Chinesa, e dos artigos científicos publicados nas bases de

dados eletrônicos dos periódicos do Capes da Biblioteca da Universidade de Mogi

das Cruzes.

Através desses artigos, fora possível realizar uma análise sintetizada com

base na literatura de diferentes autores, e obter uma consideração final no

desenvolvimento deste presente trabalho.

O texto foi produzido seguindo as Normas da ABNT e de acordo com o

Manual de Trabalhos Acadêmicos da Universidade de Mogi das Cruzes.

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3 VISÃO OCIDENTAL DO ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO

O Acidente Vascular Cerebral é uma lesão dos neurônios motores superiores e resulta em perda do controle voluntário sobre os movimentos motores. Como os neurônios motores superiores decussam (se cruzam), um distúrbio do controle motor voluntário em um lado do corpo pode refletir a lesão dos neurônios motores superiores no lado oposto do cérebro. A disfunção motora mais comum é a hemiplegia (paralisia de um lado do corpo) devido a uma lesão do lado oposto do cérebro. A hemiparesia, ou fraqueza de um lado do corpo, é outro sinal. No estágio inicial do Acidente Vascular Cerebral, os aspectos clínicos iniciais podem ser a paralisia flácida e a perda ou diminuição nos reflexos tendinosos profundos. Quando esses reflexos profundos reaparecem (comumente em torno de 48 horas), o tônus aumentado é observado juntamente com a espasticidade (aumento anormal no tônus muscular) dos membros no lado afetado. (SMELTZER & BARE, 2005, p.1998).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o AVE refere-se ao

desenvolvimento rápido de sinais clínicos de distúrbios focais e/ou globais da função

cerebral, com sintomas de duração igual ou superior a 24 horas, de origem vascular,

provocando alterações nos planos cognitivo e sensório-motor, de acordo com a área

e a extensão da lesão.

É resultante da restrição na irrigação sanguínea ao cérebro, causando lesão

celular e danos às funções neurológicas. Diversas deficiências são possíveis,

inclusive danos às funções motoras, sensitivas, mentais, perceptivas e da linguagem

(SULLIVAN, 2004, p.531).

O AVE ocorre mais comumente na artéria cerebral média, que irriga a região

lateral do hemisfério e estruturas subcorticais. Após a obstrução do vaso, o indivíduo

apresenta sintomas como sonolência, perda sensorial cortical da face, perna e

braço, com predomínio dos sintomas em face e braço e hemiplegia contralateral

(SULLIVAN, 2004. p.390).

De acordo com Umphred (2004, p.783), os AVEs podem se classificados de

acordo com o tipo patológico: trombose, embolia ou hemorragia, assim como

também o AITs.

As sequelas do AVE se dao por três possíveis quadros clínicos, como as

alterações trombólicas, embólicas e hemorrágicas (UMPHERD, 2004, p.784).

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O autor explica que, no processo de trombose cerebral as placas

ateroscleróticas e a hipertensão interagem para produzir os infartos

cerebrovasculares, formadas em ramificações e curvas das artérias fixando-se,

geralmente, às primeiras maiores subdivisões das artérias cerebrais. Essas lesões

podem estar presentes durante 30 anos ou mais sem jamais se tornarem

sintomáticas. O bloqueio intermitente pode continuar até formar uma lesão

permanente. Este processo requer várias horas e explica a divisão entre AVE em

evolução ou transitório e completo. Como os AITs resultante da isquemia

passageira.

No processo de embolia cerebral, o êmbolo pode vir do coração, de uma

trombose arterial da carótida interna, ou de uma placa ateromatosa no trato da

carótida. Sendo um sinal de doença cardíaca. O acidente pode ser do tipo tênue,

hemorrágico ou misto. As ramificações da artéria cerebral média são infartadas mais

comumente como um resultado de sua continuidade direta da artéria carótida

interna.

Uma das causas mais comuns do AVE é a hipertensão arterial, aneurisma

sacular roto e malformação arteriovenosa, que levam a um a hemorragia

intracraniana. Frequentemente resultantes de uma doença cardíaca-renal

hipertensiva.Ocorrem que, o sangramento no tecido cerebral produz uma massa

oval ou redonda que desloca as estruturas da linha mediana. Não se sabe

exatamente o mecanismo da hemorragia. Essa massa de sangue extravasado

diminui em tamanho durante 6 a 8 meses (UMPHERD, 2004, p.784).

Estas alterações no metabolismo fazem com que ocorra uma patologia

cerebral denominada Acidente Vascular Encefálico, que se caracteriza por

apresentar um déficit neurológico decorrente do extravasamento de sangue em uma

região do cérebro (forma hemorrágica) ou da interrupção do suprimento sanguíneo

para o cérebro (forma isquêmica). (SULLIVAN, 2004, p386-387).

Estes distúrbios são conhecidos como Acidente Vascular Encefálico

Isquêmico ou Acidente Vascular Hemorrágico.

De acordo com Smeltzer et al., (2005, p.1997), o AVE Isquêmico é

compreendido por perda súbita da função decorrente da interrupção do suprimento

sanguíneo para uma região do cérebro, sendo este evento em geral, uma

consequência de doença vascular cerebral de longa duração. Porém, o tratamento

precoce pode resultar em menos sintomas e menor perda da função cerebral.

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Apenas 8% dos Acidentes cerebrais Isquêmicos resultam em morte dentro de 30

dias.

Já no Acidente Vascular Encefálico Hemorrágico, compreendido por uma

hemorragia intracraniana ou subaracnóide, provocado pelo sangramento no tecido

cerebral, ventrículos ou espaço subaracnóide. A hemorragia intracerebral primária

devido a uma ruptura espontânea de pequenos vasos contribui para

aproximadamente 80% desse tipo acidente vascular e é causado sobre tudo por

uma Hipertensão descontrolada (SMELTZER et al.,2005, p.2012).

3.1 FISIOPATOLOGIA DO ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO

De acordo com Stokes (2000, p.83-84): “O sangue chega ao encéfalo por

quatro vasos importantes. A artéria carótida direita emerge da artéria inominada, e

artéria carótida esquerda, diretamente da aorta, elas passam pela parte frontal do

pescoço e cada uma delas divide-se em duas, seus ramos: artérias cerebrais,

anterior e média, em que irrigam os lobos frontal, parietal e temporal. As duas

artérias anteriores do cérebro unem-se anteriormente através da artéria comunicante

anterior, formando a parte anterior do círculo de Wills. Essa proteção significa que a

estenose grave ou mesmo a oclusão de uma das artérias carótidas internas,

normalmente não ocasiona o Acidente Vascular Encefálico, uma vez que o sangue

passa da direita para a esquerda (ou vice versa), através da artéria comunicante

anterior”.

Existem duas outras artérias, conhecidas como vertebrais, que são menores

que as carótidas internas e são ramos dos vasos subclávicos. Seu trajeto é em

direção ao pescoço através dos forames nos processos transversos das vértebras

cervicais e se anastomosam anteriormente ao tronco encefálico, para formar a

artéria basilar. Por sua vez, os ramos dessa artéria, irrigam a medula oblonga

(bulbo), a ponte, cerebelo e o mesencéfalo. Sendo que na parte superior do

mesencéfalo, a artéria basilar divide-se em duas artérias posteriores do cérebro que

retornam para irrigar os lobos occipitais. Essas duas artérias também se unem na

parte posterior do círculo de Wills por pequenas artérias comunicantes posteriores e

assim, ocorre uma anastomose entre as carótidas internas e a circulação vertebral,

oferecendo uma proteção a mais, sendo comum ver pacientes que ficam bem,

apesar de terem as artérias carótidas internas ocluídas bilateralmente.

16

Figura 1.Irrigação sanguínea para o cérebro, mostrando o Círculo de Wills

Fonte: Stokes (2000).

Os ramos dos principais vasos cerebrais (artérias anterior, média e posterior

do cérebro), no entanto, não se anastomosam entre si e, portanto, são denominadas

artérias terminais, que irrigam partes do cérebro relativamente bem demarcadas e

distintas, embora as anastomoses ocorram na periferia de cada região. Se um

desses vasos for ocluído, teremos uma lesão cerebral que se distinguirá de acordo

com a área afetada, ou seja, onde a obstrução ocorre, estabelecendo assim, tipo

diferenciado do Acidente Vascular Encefálico como: AVE Isquêmico ou Hemorrágico

(STOKES, 2000, p.84).

17

3.2 O ASPECTO EPIDEMIOLÓGICO

O Ministério da Saúde em 2013 reconhece que no Brasil, apesar do declínio

nas taxas de mortalidade, o AVC representa a primeira causa de morte e

incapacidade no País, criando grande impacto econômico e social. Os dados de

estudos nacional indicaram a incidência anual de 108 casos por 100 mil habitantes,

taxa de fatalidade aos 30 dias de 18.5% e aos 12 meses de 30,9%, sendo o índice

de recorrência após um ano de 15,9%.

A incidência global de hemorragias intracerebrais é estimada como sendo 12

a 15 casos por 100 mil habitantes por ano. As hemorragias não traumáticas constitui

15% das admissões a hospitais por AVE em países do Ocidente e de 20% a 30%

dos casos de AVE na Ásia. Sendo as hemorragias intracerebrais a forma mais letal

das formas de Acidente Vascular Encefálico (Rowland et al.,2011).

Os três fatores de risco mais comumente reconhecidos da doença

cerebrovascular são a hipertensão, o Diabetes Melitus e as doenças do coração. O

mais importante deles é a hipertensão. Por isso, as características humanas e

comportamentais que aumentam a pressão sanguínea, incluindo os níveis altos de

colesterol, obesidade, Diabetes Melitus, alto consumo de álcool, uso de cocaína e o

fumo, aumentam o risco de Acidente Vascular Encefálico (UMPHERED, 2004,

p.784).

De acordo com Umphred (2004, p.784): “Ostfeld, observou que a média de

mortalidade por AVE tem declinado, lentamente a princípio (1900 a 1950) e depois

mais rapidamente de (1950 a 1970), com uma queda acentuada em torno de 1974.

Especula-se que maior uso de drogas hipertensivas nos anos de 1960 e 1970 tenha

determinado esse declínio, além da criação dos centros de referência para

classificação e tratamento de pressão alta”.

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4 ACUPUNTURA

De acordo com o Wen (2008, p.9): “A acupuntura é um conjunto de

conhecimentos teórico-impíricos da medicina tradicional que visa à terapia e à cura

das doenças através da aplicação de agulhas e de moxas, além de outras técnicas”.

O Chen-Chui ou a Acupuntura, como é conhecida no Ocidente, é um antigo

método terapêutico chinês que se baseia na estimação de determinados pontos do

corpo com agulha (Chen) ou com fogo (Chui), a fim de restaurar e manter a saúde.

Idealizada dentro de um contexto global da filosofia do Tao e das concepções

filosóficas e fisiológicas que nortearam a Medicina Tradicional Chinesa (Yamamura,

p.LVI, 2001).

Esta ciência surgiu na China em plena Idade da Pedra, há aproximadamente

há 4.500 anos, e que apesar de sua antiguidade, continua evoluindo. O tratamento

através da Acupuntura visa normalizar os órgãos doentes por meio de um suporte

funcional que exerce, alcançando assim, seu efeito terapêutico, sendo que todas as

estruturas do organismo se encontram originalmente em equilíbrio pela atuação das

energias Yin (negativas) e Yang (positivas), gerando a doença se essas estruturas

estiverem em desiquilíbrio. Pelo princípio do Yin e Yang, se explica os fenômenos

que ocorrem nos órgãos através dos conceitos de superfície e profundo, de excesso

e deficiência, de calor e frio. A arte da Acupuntura visa, através de suas técnicas e

procedimentos, estimular os pontos reflexos que tenham a propriedade de

restabelecer o equilíbrio alcançando os resultados terapêuticos. Um dos

mecanismos de ação da Acupuntura é alterar a circulação sanguínea, que

estimuladas por certos pontos, pode-se alterar a dinâmica da circulação regional

proveniente de microdilatações. E outros pontos promovem o relaxamento muscular,

sanando o espasmo, diminuindo a inflamação e a dor (Wen2008, p.9).

4.1 ORIGEM DA ACUPUNTURA

Segundo o Hwang Ti Nei Jing, escrito há cerca de 700 anos a C., os chineses

da Idade da Pedra descobriram que o aquecimento do corpo com areia ou pedra

quente aliviava as dores abdominais e articulares. Este foi a origem da moxa (Wen,

2008, p.10).

19

O autor explica que, em várias partes da China foram encontradas Zhem

Shih, as agulhas de pedra, que datam da Idade da Pedra. Sendo diferentes das

agulhas de costuras e que foram encontradas junto com outros instrumentos de

cura, previu-se que a Acupuntura já era conhecida e praticada naquela época,não

havendo documentos que indiquem com precisão como fora o desenvolvimento

inicial da Acupuntura, porém sabe-se que desde os tempos remotos, era uma arte

muito difundida entre os chineses.

De acordo com Wen (2008, p.29): a evolução da humanidade trouxe o

aperfeiçoamento dessa técnica, onde antes era de pedra, hoje são de ligas de prata,

de ouro ou de aço inoxidável. Juntamente, com o uso de Moxa, que da utilização

das plantas passou para o infravermelho, ultrassom, corrente elétrica e raio laser.

Concomitantemente, a teoria foi evoluindo do “ponto isolado” para a “teoria dos

meridianos”, que liga os pontos aos órgãos. Historicamente também houve uma

expansão geográfica da Acupuntura que, da China, se difundiu por todo o Oriente, e

durante a Dinastia Tang, 400 d. C., ela chegou ao Japão, e após por todo o mundo.

4.2 DESENVOLVIMENTO DA ACUPUNTURA

De acordo com Wen (2008, p.10-13), com bases nos estudos arqueológicos,

temos documentos históricos que tornou possível ter-se uma noção de

desenvolvimento desta ciência desde seus primórdios até nossa era:

I. Era do Imperador Amarelo (2704-2100 a.C.)

Através dos escritos preservados em cascos de tartaruga, chegou-se à

conclusão de que, nessa época, a Acupuntura não só já possuía suas bases como

apresentava um certo nível de desenvolvimento.

II. Dinastia Chia, Shang, Tsou (2100-1122 a.C.) e período Chuen Chiou Zhan

Kuo (1122-221 a.C.)

a) Formulação do princípio do Yin-Yang, da teoria dos cincos elementos e dos

meridioanos. No Hwang Nei Jing encontrados:

1. A descrição minunciosa dos meridianos, síndromes e tratamento das

doenças.

2. O número e o nome dos pontos dos meridianos.

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3. O estabelecimento da unidade-padrão de medida da superfície do corpo e a

localização dos pontos.

4. A descrição da modalidade e maneira de usar os nove tipos de agulhas, sua

aplicação e os métodos de tonificação e dispersão.

5. A indicação dos pontos importantes para cada tipo de doença, além dos

pontos proibidos e fatais.

O Nan Jing, escrito por Pein Chueh, segundo o autor, veio preencher as lacunas

e deficiências do Hwang Ti Nei Jing, assim como o escrito do qual se tem noticia:

Tsen Jing, foi perdido.

b) Evolução das agulhas

c) O famoso médico Pien Chueh descreveu a ressuscitação de uma pessoa

considerada já morta, pela aplicação das agulhas.

III. Dinastias Chin, Han, Hue (221 a.C. -264d.C.)

a) Tsan Kung (180 a.C.) deixou 25 relatórios médicos, tendo descrições sobre o

uso das agulhas no tratamento das doenças. Além disso deu nome a vários

pontos dos meridianos.

b) Final da Dinastia Han.

Chang Tsung Jing, livro que descreve o tratamento da malária pela

Acupuntura,dando também uma noção de aplicação de moxa, além de citar o

uso concomitante de ervas e de quimioterápicos.

c) Hua Tuo (141-203 d.C.), famoso cirurgião e acupunturista de sua época,

aconselhava o uso de poucos pontos, isto é, somente da Acupuntura.

d) Pei Wong descrece a pulsologia na aplicação da Acupuntura.

IV. Dinastias Tsin e Tang (265-959 d.C.)

Difusão dos conhecimentos da Acupuntura para o exterior.

a) Início da Dinastia Tsin.

Huang Pu Yih escreveu o Jia Yih Jing que, firmando as bases da Acupuntura,

equipara-se em valor ao livro de Ling Shu.

b) Início da Dinastia Tang

Sun Su Miao escreveu Chien Jin Fang e Chien Jin Yih Fang.

c) Dinastia Tsin.

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Kou Hung escreveu o Zhou Hou Beh Jih Fang que, contendo descrições de

vários métodos de aplicação de Moxa, escreveu também sobre a experiência

adquirida através dos tempos.

d) Hou Chuen.

e) Wang Chou.

V. Dianastia Sung (960-1279 d.C.)

O Rei Sung Jen Tsung, ficando gravemente doente e foi curado através da

Acupuntura. Passou, então, a dar-lhe grande importância. Ordenou a Wang Wei

Yi, um médico famoso, que organizasse os escritos sobre esse assunto,

avaliando seus valores, criando mapas e diagramas dos meridianos presentes no

corpo humano. E mandou confeccionar estátuas de bronze com os pontos e

trajetos dos meridianos.

a) Wang Wei escreveu Tong-Jen Shu-Xue Zhen jiou Tu Jing. You Sun Jen

escreveuTong-Jeng Zhen Jiou Jing.

b) Shi Fang Zih escreveu Min Tang Jiou Jing, somente sobre experiências da

moxabustão. Sun Tseng Ho Kuan Shu, Shen Zih Tsung Lu e Zhen Jiou Men,

explicam os tratamentos da Acupuntura com várias técnicas para diversas

doenças.

c) Wang Zhi Zhong escreveu Zhen Jiou Tsi Jing, um livro muito prático.

d) Sih Nien escreveu Pei Ji Jiou Fa falando sobre a utilização nas doenças

agudas e de emergência.

e) Sung Tou Chai escreveu o Pien Chue Chin Shu, reforçando a utilidade e os

efeitos da moxabustão.

VI. Dinastia King e Yuan (1279-1365 d.C.)

a) Haua Shou, também chamado Hua Po Jen, escreveu o Shi Sih Jing Fa Hue,

desenhou mapas dos meridianos e pontos.

b) Tou Han Chiu escreveu Zhen Jiou Jih Nan, com poesias, explicando os

meridianos e as técnicas de Acupuntura.

c) Lo Tien Yih escreveu Nei Shen Pao Jien, falando os fluxos dos meridianos

relacionados com o tratamento das doenças.

d) Huang Kuo Ruei escreveu Pein Chue Yin Zhen Jiou Yu Lung Jing, enfocando

as experiências dos específicos tratamento da Acupuntura.

22

e) Ho Juo Yu escreveu Zhe Wu Liou Zhu Zhen Jing, falando sobre seleção dos

pontos nas diversas horas.

f) Ma Tan Yang escreveu Tien Hsin Shi Ar Hsue, acentuando os efeitos dos

doze pontos mais importantes.

VII. Dinastia Ming (1366-1644 d.C.)

a) Lee Shih Jen escreveu Chih Jing Pa Mai Kao, notando as aplicações dos

meridianos extraordinários.

b) Liu Tsuen escreveu Yi jing Xiao Hsue, em forma de poemas.

c) Kao Wu escreveu Zhen Jiou Ta Chuan, fruto da observação de muitas

experiências, em poemas.

d) Lee Tin escreveu Yi Hsue Ju Men, advogando o uso do menor número

possível de agulhas (quatro no máximo).

e) Yang Jih Zhou escreveu Zhen Jiou Ta Cheng, colecionando todas as teorias,

métodos e experiências.

VIII. Dinastia Chin (1649-1910 d.C.)

a) Os médicos do Ministério da Saúde, na época do Imperador Quen Lung,

escreveram Yi Tsung Jing Jien, Chin Pein Ko Tieh e Yang Ku Tu Ming Wei

etc., e colecionaram muitas teorias e experiências; foram escritos em forma

de poemas.

b) Fan Pei Lan escreveu Tai Yih Shen Zhen, notando os tratamentos

combinados das ervas e moxabustão e selecionando pontos simples.

c) Lee Xueh Tsuan escreveu Zhen Jiou Fung Yuan, que é muito semelhante ao

Zhen Jiou Ta Cheng, mas apresenta uma organização muito melhor.

d) Os governantes dessa dinastia, que dominou a China por trezentos anos,

baniram a prática da Acupuntura.

IX. Era atual (após 1911 d.C.)

No nosso século, a Acupuntura, dotada de caráter experimental e científico, tem

atingido novos níveis de conhecimento e técnicas além do reconhecimento mundial.

23

4.3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ACUPUNTURA

Wen (2008, p.13-14) descreve também sobre o que se refere quanto a qualidade

do tratamento com Acupuntura:

4.3.1 inúmeras possibilidades de aplicação

É útil em qualquer doença, não importando sua localização, oferecendo

auxílio de uma maneira ou de outra em todas as faixas etárias e independentemente

do sexo, podendo ainda ser facilmente associada a outras modalidades

terapêuticas. Mesmo em patologias cirúrgicas, pode ser usada para melhorar o

estado imunológico do paciente e apressar sua recuperação no período pós

operatório.

4.3.2 diminuição do uso de medicamentos

Como tornou-se abusivo o uso de medicamentos, com frequentes

intoxicações, sem resultados terapêuticos algumas vezes ideais, acupuntura regula

o equilíbrio do organismo, melhorando a circulação sanguínea, aumentando a

resistência corpórea, sendo capaz de mudar a constituição corporal, assim

reduzindo o uso de drogas e aumenta a eficácia terapêutica. Além de obter um

tratamento mais econômico em relação ao tradicional método da alopatia.

4.3.3 simplicidade da instrumentação necessária

Ao contrário de certos equipamentos médicos, a Acupuntura utiliza materiais

simples, defácil transporte, principalmente em algumas emergências, como o

colapso, insolação ou angina pectoris. Assim como em locais onde não há

facilidades médicas, é mais evidente a presença de sua utilização.

4.3.4 segurança no tratamento

Sendo uma prática segura, com agulhas individuais e descartáveis, e um bom nível

técnico do terapeuta.

4.3.5 completa as lacunas da medicina moderna

Apesar do constante progresso, a medicina moderna ainda não conseguiu

resolver muitos dos problemas de doenças que atingem o ser humano como

doenças tendinomusculares.

24

4.3.6 como método auxiliar no diagnostico

A sensação proveniente da aplicação das agulhas pode demonstrar

alterações neurológicas. Assim como a localização do processo patológico pode

também ser indicada pela resposta à estimulação de determinados pontos, o que

auxilia o diagnóstico.

4.3.7 os aspectos desfavoráveis

Dois aspectos básicos que podem ser citados: temor despertado pelas

agulhas, sendo assim, muitos outros métodos tem sido desenvolvido para substituir

as agulhas, porém ainda não se conseguiu os mesmos efeitos que as agulhas

oferecem. Acupuntura exige um longo período de tratamento, de perfeição e de

maestria manual do terapeuta, o que requer longos anos de aprendizado.

4.4 MECANISMO DE AÇÃO

Segundo Stux (2004, p.49-53), nas evidências de estudos eletrofisiológicos,

indicam que a estimulação das fibras musculares aferentes (tipos IIeIII) produz

sensações “De Qi”, um reação sobre a estimulação, isto é, a captura das agulhas

pelo músculo, que por sua vez, enviam mensagens para o cérebro, que libera

substâncias neuroquímicas dos tipos: endorfinas, monoaminas, cortisol; que

provavelmente os pontos de Acupuntura são locais de fibras tipos II e III.

Para Yamamura (2001, p.39),Acupuntura pode ser definida como uma terapia

fisiológica coordenada pelo cérebro, que responde à estimulação dos nervos

sensoriais periféricos pela inserção de agulhas.

O corpo humano é formado da união de células que dão origem aos tecidos ou órgãos; estes se associam entre si e colaboram para preservar as funções de locomoção, digestão, defesa, respiração, etc. As conexões entre os diversos sistemas fazem-se, de modo geral, pelo sistema nervoso, cujo centro é o cérebro, que controla e regula todas as funções. Assim, o organismo responde como um todo às alterações do meio (WEN, 2008, p.14).

25

4.5 LOCALIZAÇÃO DOS ACUPONTOS

Os pontos de Acupuntura são denominados Hsue do chinês que significa

“buraco”. Pontos de depressão ou vias, por onde a agulha, principalmente ao ser

aplicada, encontra baixa resistência, e geralmente se localizam entre tecidos mais

rígidos, como ossos e tendões, ou ainda no meio de tecidos moles. Os pontos

usados são quase dois mil, dentre estes 670 são denominados pontos de

meridianos; os demais são constituídos pelos pontos extrameridianos, pontos da

orelha, pontos da cabeça, pontos do nariz, pontos das mãos, pontos dos pés etc.

(WEN, 2008 p.47).

No Homem, cada órgão e Víscera têm dentro de si a energia correspondente

aos Cinco Movimentos que é transmitida ao longo dos Canais de Energia Principais

e, destes, para a superfície da pele através de pontos de acupuntura específicos,

denominados Shu Antigos. Esses pontos que representam a energia dos Cinco

Movimentos, contida no Canal de Energia Principal, e servem como a essência da

dinâmica de equilíbrio entre o Yang e o Yin (YAMAMURA, 2001, p38).

Wen (2008, p.16-48), explica que: “O princípio terapêutico consiste na escolha

de um método eficaz, simples, que seja capaz de restaurar a saúde do paciente. O

resultado terapêutico na Acupuntura depende muito da precisão da aplicação”.

Yamamura (2001, p.41) diz que: “os pontos de Acupuntura exteriorizam-se

em áreas circunscritas da pele, com alguns milímetros quadrados, por onde o Qi dos

Canais de Energia e dos Zang Fu (Órgãos/Vísceras) atinge a superfície. São

aberturas dos Canais de Energia Principais onde o fluxo de Qi troca de intensidade e

de direção”.

Para a localização dos pontos podem ser usados os métodos: em relação a

elementos anatômicos permanentes, como ossos ou alguns aspectos morfológicos,

utilizar de posições ou manobras especiais, determinar o valor do tsun - medida

individual para cada paciente (YAMAMURA, 2001, p.41).

26

5 A VISÃO ORIENTAL SOBRE O AVE

O Acidente Vascular Encefálico é considerado uma patologia de Vento

Interior, caracterizada pela presença de um fator patogênico no interior do corpo.

Podendo ser do Vento, Umidade, Calor, ou por um desiquilíbrio entre o Yin e o

Yang. Assim como também o Fogo de Fígado, um fator patogênico real ou um

desiquilíbrio entre o Yin do Rim e o Yang do Fígado (MACIOCIA, 2009, p. 280-288).

5.1 GOLPE DE VENTO

O Golpe de Vento, um padrão de desarmonia na Medicina Tradicional

Chinesa para o Acidente Vascular Encefálico, corresponde a quatro possíveis

quadros médicos Ocidental: Hemorragia cerebral, trombose cerebral, embolia

cerebral e espasmo de vaso cerebral.

O Golpe de Vento é principalmente proveniente de Deficiência de

Sangue e Fleuma. Deve-se inicialmente eliminar a Fleumae, então,

nutrir e revigorar o Sangue... A hemiplegia é resultante da Fleuma

[em geral]; se o lado esquerdo for afetado, é resultante de Deficiência

e Estagnação de Sangue; se o lado direito for afetado, é resultado de

Fleuma, Fogo e Deficiência de Qi. (MACIOCIA, 2009, p.986).

É importante ressaltar que o Fígado (Gan)é um órgão alvo na Medicina

Chinesa para os padrões de desarmonia nas sequelas do Acidente Vascular

Encefálico, que tem como função assegurar a circulação livre do fluxo de Energia

(Qi), influenciando todo o organismo e em muitos sistemas Yin e Yang diferentes.

5.2 FÍGADO E OS 5 ELEMENTOS

O Fígado é o órgão ligado diretamente ao Elemento Madeira, observa-se que

os padrões de desarmonias estarão ligados ao órgão Fígado para fechar um

tratamento das sequelas do AVE.

Os Cinco Elementos, também conhecido como os Cinco Movimentos, são

representados pelos elementos: Água, Fogo, Madeira, Metal e Terra, onde Madeira,

está ligada ao órgão Fígado, o qual é nosso interesse de estudo dentro dos padrões

de desarmonias observados nas sequelas do Acidente Vascular Encefálico.

27

Segundo Maciocia (2007, p.24), “Os Cinco Elementos também simbolizam

cinco direções diferentes de movimentos dos fenômenos naturais. A Madeira

representa o movimento expansivo e exterior em todas as direções”.

De acordo com Maciocia (2007, p.23-32): A teoria dos Cinco Elementos,

também conhecida por, os Cinco Movimentos ou Cinco Fases, têm origem nos

primórdios da civilização chinesa. Esta teoria está nas bases filosóficas da

interpretação bioenergética da Medicina Tradicional Chinesa. Nesses tempos o

homem primitivo procurou entender os fenómenos naturais e os fatores de mudança

que determinam as estações, o crescimento das plantas, o clima, etc.

Compreendendo a influência que estes fatores tinham, os antigos filósofos chineses,

delinearam a Teoria dos Cinco Elementos, como: Madeira, Fogo, Terra, Metal e

Água. E a cada um deles atribuíram características específicas, em distintas áreas

do organismo.

Cada um dos elementos possui uma natureza especial cujas características

influenciam a dinâmica das nossas vidas.

Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, cada ser humano tem uma

afinidade com pelo menos um dos elementos. Esta teoria utiliza-se, ainda, como

uma ferramenta na recuperação eficaz dos doentes, pois nos ramos da MTC utilizam

a teoria dos Cinco Elementos para a aplicação de diagnósticos e terapias. Através

da observação de milhares de anos, tem-se ajustado como método de diagnóstico

na prática clínica dos médicos chineses. Isto permite esclarecer claramente como os

elementos afetam a personalidade e dão como resultado preferências patológicas

claras de cada um de nós através de sabores, sons, cores, expressão do paciente,

emoções, formas, estruturas do corpo, doenças e métodos de tratamento.

5.2.1 Características do Elemento Madeira

A Madeira possui a força e determinação do crescimento (expansão,

mudança e criatividade). A estação da primavera rege e dá as características a este

elemento. Uma pessoa deste elemento é inspirada pela aventura, pelo sentido de

descobrir e explorar novos horizontes, assim como uma grande capacidade de

adaptação, improvisação e criatividade, a Madeira gosta da mudança contínua. Num

estado negativo deste elemento a pessoa torna-se agressiva, hostil, irrita-se com

grande facilidade, levanta a voz, frustrada, isto devido a um estado de energia a

28

primar a cólera e o excesso. O Fígado é o principal órgão deste elemento. Quando

este órgão de encontra em desarmonia, as suas atividades tornam-se em pressão e

tensão, dando origem a sintomas tais como: dores de cabeça, inchaço das veias

sobretudo na zona temporal, sensação de pressão torácica, enjoos, alterações do

ciclo menstrual no caso das mulheres, sonhos perturbadores, insônias e

principalmente envolvido diretamente no quadro de AVE.

5.2.2 Elemento Madeira em relação aos outros órgãos

Figura 2-Diagrama dos cinco elementos

Fonte: Wu Xing (2009).

Portanto, na lei de Geração de acordo com Maciocia (2007, p37-38),Madeira

é mãe de Fogo, e é filho de Água, ou seja, o Fígado é mãe de Coração, e filho de

Rim.

Quando o Fígado está em Excesso, o Fogo de Fígado (Gan), consome o Yin

do Coração (Xin) gerando assim, mais Fogo.

O Coração é mãe de Baço (Pi),se o Coração (Xin) está em Excesso, causa

uma Deficiência de Pi, gerando uma Mucosidade, chamada também de Fleuma.

O Baço é mãe de Pulmão (Fei), se esse estiver em Deficiência não fornece o

Qi dos alimentos para o Pulmão, que por sua vez, não fornece o Qi para encontrar o

Qi do Rim.

O Pulmão é mãe de Rim (Shen), se esse está em Deficiência, há uma

Deficiência de Yin do Rim, que por sua vez gera um Excesso de Yang.

29

O Rim é mãe de Fígado, e estando em Excesso e sendo responsável pela

nutrição de Xue de Fígado, causa Estase de Fígado.

Deste modo temos uma sequência de Geração, ou seja, cada elemento gera

outro, sendo ao mesmo tempo gerado.

De acordo com Maciocia (2007, p31): “Madeira gera Fogo, o Fogo gera a

Terra, a Terra gera Metal, o Metal gera a Água e a Água gera a Madeira. Dessa

forma, a Madeira é gerada pela Água, que por sua vez gera o Fogo”.

De acordo com a Lei de Dominância, temos:

O Fígado (Gan) controla o Estomago (Wei) e o Baço (Pi), se o Gan estiver em

Excesso, invade o Wei e o Pi, obstruindo suas funções e causando Deficiência.

O Baço (Pi) controla o Rim (Shen), se o Pi estiver em Deficiência, suas

funções de transporte e transformação do Rim e excreção dos fluidos corpóreos

também estarão em Deficiência. Contudo, o Yang do Rim acendente e o Baço reterá

Umidade que pode se transformar em Fleuma.

O Rim (Shen) por sua vez, controla o Coração (Xin), este é um

relacionamento fundamental, entre a Água e o Fogo, é o equilíbrio mais importante e

básico do organismo, refletindo no equilíbrio entre o Yin e Yang. Sendo que se o Yin

do Rim for Deficiente, o Yin Qi não será o suficiente para atravessar o Coração (Xin),

e o Yin do Xin ficará deficiente aumentando o Calor Vazio do Xin

(MACIOCIA,2007,p.32).

5.3 PADRÃO DE DESARMONIA DO FÍGADO

De acordo com Maciocia (2007, p279) o Fígado apresenta muitas funções

importantes, entre as quais a de armazenar o Sangue (Xue) e assegurar o

movimento suave do Qi através de todo o organismo. É também o responsável pela

capacidade de recuperar o Qi e contribuir para a resistência contra a agressão dos

fatores patogênicos externos (Xue e Qi).

A função do Fígado (Gan) de regularizar o volume de Sangue (Xue) através

de todo o organismo apresenta uma influência importante sobre o nível de energia

da pessoa. Quando o Sangue (Xue) flui para um local apropriado no organismo, no

tempo adequado, nutre os tecidos, fornecendo energia.

Assim auxilia o Baço (Pi) a transformar e transportar as Essências alimentares, e o

Estomago (Wei) a amadurecer e decompor os alimentos. O Qi do Fígado também

30

auxilia o Qi do Baço (Pi) a ascender e o Qi do Estomago a descender, estimulando

assim, a secreção da Vesícula Biliar (Dan), e assegura o fluxo suave do Qi nos

intestinos (Dachang e Xiaochang) e no útero. Sendo que, se o fluxo de Qi estiver

contido por um longo período, afetará diretamente na vida emocional. Embora o

Fígado assegure o fluxo livre de QI, não é responsável na produção do fornecimento

de Qi. Não possui padrões envolvendo Deficiência de Qi, mas apresenta Deficiência

de Sangue (Xue) e do Yin, isto é, enquanto o Fígado nunca pode ser deficiente, o

Sangue e o Yin do Fígado podem. Já que em relação ao Qi, o padrão mais comum

e importante é a Estagnação de Qi do Fígado (MACIOCIA, 2007, p279-280).

O Simple Questions – Capítulo 8 diz: “O Fígado (Gan) é como um General de

exército do qual se origina a estratégia”. Possuindo esta qualidade, considera-se que

o Fígado (Gan) influencie nossa capacidade de planejar nossas vidas.

Para Maciocia (2007, 279-280) o Fígado pode ser afetado por fatores

patogênicos como o Vento e a Umidade. O Vento Exterior pode interferir facilmente

com as funções de Fígado de assegurar o fluxo suave do Qi e estocar o Xue, não

atacando diretamente Fígado, mas sim, a porção do Qi Defensivo do Pulmão (Fei).

Porém, o Vento Exterior pode agravar a condição de Vento Interior no Fígado,

causando um Acidente Vascular Encefálico.

Existem três tipos distintos de Vento de Fígado, sendo de três causas

diferentes como o Calor Extremo gerando o Vento, a Deficiência de Yin do Fígado

com aumento do Yang do Fígado causando o Vento de Fígado, a Deficiência de Xue

causando o Vento de Fígado. Neste padrão de desarmonia, ou seja, o Vento de

Fígado tem como manifestações clínicas: o tremor, tiques, parestesia, tontura,

convulsões e até paralisia, comuns no Acidente Vascular Encefálico (MACIOCIA,

2007, p287).

Quando o Calor patogênico exterior, um padrão de Calor Extremo, tiver

penetrado profundamente no nível de Sangue (Xue), dá-se origem ao Vento de

Fígado, observado sintomas febris, mas consequentemente, gera um Vento Interior,

que são características do movimento, portanto, tremores dos membros e

convulsões. Por outro lado, o Vento Interior impede o Fígado (Gan) de umedecer os

tendões, o que causa rigidez de pescoço e o opistótomo (estado no qual a cabeça e

os membros inferiores são recurvados para trás, enquanto o tronco se arca

anteriormente,por um espasmo tetânico dos músculos dorsais). Nos casos mais

severos, o Calor e o Vento extremos podem obscurecer a Mente e causar coma.

31

Portanto o Calor Extremo é decorrente da invasão do Calor ou Calor-Vento

exteriores penetrando no nível de Sangue (Xue), onde este é um nível mais

profundo, gerando o Vento Interior, onde podem ocorrer convulsões e rigidez da

língua, sinais conhecidos dentro de um AVE.(MACIOCIA, 2007, p287-289).

O Padrão de aumento do Yang de Fígado está determinado por uma

Deficiência do Yin do Fígado, que por um período logo de tempo, causa o aumento

ascendente do Yang do Fígado. Sob algumas circunstâncias, o Yang de Fígado

pode gerar o Vento Interior, neste caso, hemiplegia, desvio de boca e de olho; na

paralisia facial, ou seja, as sequelascom Acidente Vascular Encefálico.

De acordo com Maciocia (2007, p.288), na Deficiência de Xue de Fígado, já

que também o Fígado controla os tendões, e quando o Sangue (Xue) for deficiente,

os tendões não serão nutridos nem umedecidos de maneira que ocorrerá debilidade

muscular, levando a parestesias dos membros.

5.4 ASPECTO DA LÍNGUA DE ACORDO COM O PADRÃO DE DESARMONIA

A observação da língua é um pilar do diagnóstico porque proporciona sinais

claramente visíveis da desarmonia do paciente. O diagnóstico lingual é de uma

segurança notável: sempre que existirem manifestações conflitantes em uma

condição complicada, a língua quase sempre reflete o padrão básico e subjacente

(MACIOCIA, 2009, p.190).

Devemos avaliar alguns aspectos importantes da língua como: cor, corpo e

saburra, definidos no padrão de desarmonia:

Quadro 1: Padrão da Desarmonia

Padrão Cor Corpo Saburra

Calor Extremo Vermelho escura Rígida, inchada Espessa amarelada

32

Aumento do Yang

do Fígado

Vermelho escura Desviada Ausente

Deficiência de Xue Pálida Desviada Seca alaranjada

Fonte: Maciocia (2009).

5.5FATORES PATOGÊNICOS

Os principais fatores envolvidos no Padrão de Desarmonia de Golpe de

Vento, são: Vento, Fogo. Podendo não estar todos ao mesmo tempo presentes,

porém no mínimo três, podem aparecer causando o Golpe de Vento. Assim

como,podem se apresentar em diferentes graus de intensidade, resultando em

diversos tipos de Golpe de Vento, que são identificados por:

1.Tipo Brando - que envolveos canais

2.Tipo Severo - que envolve os órgãos (Zang Fu)

O Golpe de Vento que acomete os órgãos internos e canais é caracterizado

por apoplexia, perda da consciência, possível coma, afasia paralisia e formigamento.

Sendo a perda de consciência, coma e afasia, por acometimento dos órgãos

internos por ação do Vento, sendo esta a forma mais grave do golpe de Vento. Já o

Golpe de Vento do tipo Brandoque afeta os canais, é caracterizado por paralisia

unilateral, ou seja, uma das sequelas que chamamos de hemiplegia, causando

também formigamento e fala inarticulada. Não ocorre neste caso perda de

consciência ou coma, que é a sequela mais grave num AVE (MACIOCIA, 2009,

p982).

O tipo grave que acomete os órgãos internos, se a pessoa sobreviver ao

coma, levará a um estágio de sequelas, no qual as manifestações clínicas, sendo as

mesmas do Golpe de Vento do tipo brando, isto é, ocorrerá a hemiplegia,

formigamento e fala inarticulada.

Portanto essas manifestações podem ocorrer independentemente de ter

afetado os canais ou podem resultar em sequelas que afetam os órgãos internos.

O tipo grave de Golpe de Vento, que acomete os órgãos internos e os canais,

é subdividido em tipo: Tenso (ou fechado), e Flácido (ou aberto).

33

1.Tipo Tenso - corresponde ao Colapso de Yin.

2. Tipo Flácido - corresponde ao Colapso de Yang.

Figura 2. Tipos grave e moderado de Golpe de Vento.

Fonte: Maciocia (2009).

O Tipo Tenso ou espástico que corresponde ao padrão de Colapso de Yin,

caracterizado de colapso repentino, perda da consciência, coma, dentes cerrados,

punhos fechados, face e orelha vermelhas, expectoração profusa, respiração

estertorosa, constipação e retenção urinária. Aspecto da Língua: Vermelha, Rígida,

Desviada com revestimento amarelo e pegajoso. Pulso: em Corda, Cheio, Rápido e

Escorregadio.

O Tipo Flácido que corresponde a uma síndrome de Colapso de Yang, um

Colapso repentino, perda de consciência, coma, boca e mãos abertas, olhos

fechados, palidez, sudorese oleosa gotejando na região da fronte, incontinência

urinária e fecal, membros frios. Aspecto da Língua: Pálida e Edemaciada. Pulso:

Deficiente, Profundo.

34

Tabela1. Diferenciação de tipos tenso e flácido em ataque dos órgãos Internos.

Manifestações Tipo Tenso Tipo Flácido

Olhos Abertos Fechados

Boca Cerrados Aberta

Mãos Cerradas Relaxadas

Transpiração Ausente Suor oleoso na testa

Urina Retenção Incontinência

Fezes Obstipação Incontinência

Língua Vermelha,rígida,desviada,

pegajosa e amarela

Pálida, inchada

Pulso Em corda, cheio, rápido e

deslizante

Míudo,

escondido,disperso

Tratamento Salvar Yin Salvar Yang

Fonte: Maciocia (2009).

De acordo com Maciocia (2009,p.980), são quatro aspectos fundamentais

para evitaro Golpe de Vento, o Padrão de Desarmonia que pode levar ao AVE:

5.5.1 Sobrecarga de trabalho e tensão emocional

Trabalho excessivo por muitas horas sob condições estressantes e sem o

repouso adequado junto com tensão emocional gera a Deficiência de Yin do Rim.

Esta Deficiência pode gerar Deficiência de Yin do Fígado e subida do Yang do

Fígado, que especialmente nos idosos gera Vento de Fígado, causando a apoplexia,

coma, obscurecimento mental e paralisias, existindo ainda a interação já citada entre

o Vento Interno com o Externo, pois o último pode provocar o primeiro.

5.5.2Dieta irregular e exercício físico excessivo

Alimentação irregular ou ingesta excessiva de gorduras, laticínios, doces e

frituras, enfraquecem o Baço e gera a Fleuma. A Fleuma causa formigamento dos

membros, obscurecimento mental, fala inarticulada ou afasia e língua inchada com

revestimento pegajoso. O excesso de exercício físico também enfraquece o Baço,

podendo gerar a Fleuma.

35

5.5.3 Atividade sexual excessiva e repouso inadequado

A atividade sexual excessiva nos homens junto com o repouso inadequado,

levará ao enfraquecimento da Essência dos Rim, gerando uma deficiência na

Medula, a qual falha em nutrir o sangue, podendo gerar um Padrão de Desarmonia

de Estagnação de Xue.

5.5.4Esforço físico excessivo e repouso inadequado

Como o trabalho de carregar peso em excesso, ou a pratica de exercícios

físico em excesso, levam ao enfraquecimento do Baço, músculos e canais. Sendo

que o Baço deficiente não produz sangue suficiente, desenvolvendo assim, uma

deficiência de sangue nos canais. O Vento interno preexistente penetra nos canais,

aproveitando-se da Deficiência de Qi e Xue nestes canais. Lembrando que a

exposição ao Vento externo interage com o Vento interno nos canais, o que pode

gerar paralisia nos membros.

Figura 3. Os quatro aspectos etiológico no Golpe de Vento.

Fonte: Maciocia (2009).

36

6 SEQUELAS DO ACOMETIMENTO DOS CANAIS

Sendo o Golpe de Vento principal motivo da Deficiência de Sangue e Fleuma,

deve-se primeiramente eliminar a Fleuma, e então, nutrir e revigorar o Sangue,

sendo a Hemiplegia resultante da Fleuma. Assim se o lado esquerdo for afetado, é

resultante de Deficiência e Estagnação de Sangue, se o lado direito for afetado, é

resultante da Fleuma, Fogo e Deficiência de Qi.

No tratamento da paralisia unilateral dos membros, deve-se selecionar maior

quantidade de pontos dos canais Yang, que correspondem ao movimento e

agilidade.

Geralmente são usados pontos de Acupuntura do lado afetado, ou seja, do

lado paralisado, num método de sedação. Os pontos são sedados, devido o Vento e

a Fleuma causarem a paralisia, utilizando as agulhas relativamente grossas, de no

mínimo 0,34mm de diâmetro. É essencial que se obtenha sensação satisfatória de

inserção da agulha, de preferência de forma descendente do canal (MACIOCIA,

2009, p.986).

Mediante métodos diferentes, a duração do quadro determina o lado da

inserção da agulha, fazendo uma distinção entre um quadro abaixo de três meses

ou superior a três meses de duração.

De acordo com Maciocia (2009, p.986)se o Golpe de Vento ocorreu nos

últimos três meses, os pontos do lado paralisado são inseridos como método de

sedação, e os pontos correspondentes do lado saudável são inseridos como método

de tonificação, devido ao fato de que, nas primeiras semanas após o Golpe, os

canais do lado afetado, correspondem a um quadro de Excesso, significando que

estão sendo obstruídos por Vento e Fleuma, sendo os canais do lado saudável, a

um quadro de Deficiência.

Quando o Padrão de Desarmonia, isto é, o Golpe de Vento, tiver ocorrido a

mais de três meses, os pontos do lado afetados são inseridos com o método de

tonificação e Moxa, e os pontos que correspondem ao lado saudável serão inseridos

métodos de sedação, pois após três meses, os fatores patogênicos como o Vento e

a Fleumanos canais do lado paralisado, moveram-se mais profundamente, inclusive

para o lado saudável. Sendo também que, a obstrução dos canais do lado afetado,

por ação desses fatores patogênicos, gera uma má nutrição dos canais, estando em

37

deficiência em relação ao lado saudável. Os pontos escolhidos devem ser

trabalhados para extinguir o Vento e para remover obstrução dos canais.

6.1 HEMIPLEGIA

Umas das sequelas do Acidente Vascular Encefálico é a hemiplegia, tratada

como Golpe de Vento na Medicina Chinesa, que é causada pela obstrução dos

canais por ação do Vento e da Fleuma. A articulação rígida e a contração dos

músculos indica um dos padrões de desarmonia conhecida na Medicina Tradicional

Chinesa como Estagnação de Sangue (Xue). Os fatores patogênicos obstruem os

canais contra um fundo de deficiência de Energia (Qi), Sangue ou Yin (MACIOCIA,

2009, p.986).

6.2 AFASIA

Na Afasia, ou seja, fala inarticulada, deve-se resolver a Fleuma, acalmar a

mente, e os pontos devem ser inseridos como método de sedação caso o Golpe de

Vento tenha sido ocorrido há um mês, e se ocorreu a mais de um mês deve-se

utilizar o método neutro (MACIOCIA, 2009, p.987).

6.3 PARALISIA FACIAL

De acordo com Maciocia (2009, p.988) na paralisia facial deve-se distinguir o

local afetado para ser mais preciso na utilização dos pontos de Acupuntura, pois na

medicina ocidental, a paralisia facial que se segue de um Golpe é chamada de

paralisia facial central, pois tem sua origem do SNC. E a paralisia facial periférica

que ocorre sem o golpe, é causada por dano nos nervos periféricos. Após o Golpe

de Vento, os nervos acima dos olhos não são afetados, sendo que os movimentos

das sobrancelhas e dos sulcos da testa são normais. O paciente é capaz de mover

apenas uma sobrancelha ao tentar franzi-la, e o sulco da testa não se forma no lado

paralisado. Sendo assim, o sinal mais comum neste caso após um Golpe de Vento,

é o desvio de um olho e de boca.

Embora a etiologia das paralisias faciais, central e periférica sejam diferentes,

o tratamento com Medicina Tradicional Chinesa é similar. Sendo assim, o tratamento

que se segue após o Golpe de Vento (central), se aplica também na paralisia facial

38

periférica, pois na visão da MTC, a paralisia central, é proveniente de Vento Interno,

ao passo que a paralisia facial periférica é resultante de Vento Externo.

6.4 HIPERTENSÃO

De acordo com Maciocia (2009, p.456), a hipertensão é gerada por uma

Deficiência de Yin do Fígado e/ou Rim, gerando a subida do Yang do Fígado; em

outros casos, pode haver subida do Fogo do Fígado. Já a Deficiência do Baço gera

a formação de Fleuma. E em casos avançados a estagnação de sangue.

O autor explica que a maior parte dos livros chineses dizem que os principais

órgãos envolvidos nesta patologia são: Fígado, Rim e Baço. No entanto refere-se ao

Coração, a sua importância no envolvimento nos padrões de Fleuma, que leva à

obstrução dos vasos sanguíneos e Estagnação de Sangue.

Controlar a Pressão Arterial é muito importante para evitar futuros Golpes de

Vento. Como fora discutido anteriormente, no AVE as artérias e arteríolas são

afetadas ocorrendo mudanças estruturais nas mesmas, como o aumento na

espessura das paredes dos vasos com redução da luz dos vasos sanguíneos,

levando a um AVEI ou AVEH.

O princípio de tratamento deve ser baseado no Padrão de Desarmonia do

Fígado nos três tipos de Vento de Fígado. Portanto, no Calor Extremo consiste em

eliminar o Calor, dispersar o Fígado e dominar o Vento. No Aumento do Yang do

Fígado, deve-se nutrir o Yin do Fígado para dominar o Yang do Fígado e o Vento, na

Deficiência do Xue do Fígado deve-se tonificar o sangue do Fígado e dominar o

Vento: F2 (Xingfian), F3 (Taichong), ID3 (Houxi), VG16 (Fengfu), VG20 (Baihui),

VB20 (Fengchi), IG4 (Hegu), IG11 (Quchi), IG15 (Yamen), TA5 (Waiguan), PC6

(Neiguan), VB31 ( Fengshi).

Maciocia (2009, p.986-988) demonstra pontos específicos para cada área afetada:

a) Usados nos Membros Superiores: IG11, IG15, PC6, TA5, VC24 (Chengjiang)

b) Usados nos Membros Inferiores: VB20, VB34 (yanglingquan), B60 (Kunlun)

c) Usados na fala inarticulada: VC23( Lianquan), VG15 (Yamen), C5 (Tongli), R6

(Zhaohai)

d) Paralisia facial: F3, IG4, IG19 (Heliao), IG20 (Yinxiang), TA5, E2 (Sibai) E4

(Dicang), E6 (Jiache), E7 (Xiaguan), B2 (Zanzhu), VB1 (Tongziliao), VB14 (Yangbai),

VC24 (Chengjiang), VG26 (Renzhong)

39

e) Hipertensão: F3, IG4, IG11, R3, PC6, E36.

40

7 PRINCÍPIO DE TRATAMENTO

Em um estudo realizado pelo Dr. Jian-Guo et al. (2009), no Departamento de

Acupuntura Ambulatorial no primeiro Hospital de Tianjin University of Tradicional

Chinese Medicine, onde participaram 131 pacientes com idade média de 59 anos,

com quadro de hemiplegia espástica, num Grupo de Tratamento (GT) e um Grupo

de Controle (GC) com medicamentos. Observou-se uma significativa melhora do

tônus muscular, comprometimento motor e deficiência nos pacientes que receberam

o tratamento com Acupuntura combinada em comparação com o GC. Foram

utilizado 7 pontos para o tratamento: PC6 (Neiguan), BP6 (Sanyinjiao), VG26

(Shuigou), C1 (Jiquan), P5 (Chize), B40 (Weizhong), VB20 (Fengchi). Fora

observado também, que Acupuntura demonstrou uma significante melhora na

qualidade dos movimentos dos membros afetados, evidenciando uma recuperação

da paralisia muito superior, comparativamente aos pacientes que recebem outros

tipos de tratamento para essas sequelas. Os estudos revelaram que Acupuntura é

mais eficaz se o tratamento for efetuado imediatamente após o ataque,

particularmente quando daí, pode resultar em paralisia motora severa. Os cientistas

deste estudo acreditam que a estimulação sensorial na estimulação do cérebro em

pacientes com AVE tratados pela Acupuntura demonstrada nos exames realizados

por Ressonância Magnética facilitou a recuperação motora.

Num outro estudo o Dr. Liu Huafeng et al.(2013), realizaram testes de indução

a uma isquemia cerebral focal, ocluindo a artéria média, utilizando os pontos VG20

e VG26, observou-se uma redução da lesão provocada em comparação aos pontos

Sham utilizados a 5mm ao lado dos dois pontos VG20 e VG26, contribuindo assim

para a diminuição da sequela causada por AVE.

Os investigadores têm especulado sobre a hipótese da Acupuntura aumentar

o fluxo sanguíneo cerebral e/ou reduzir o edema cerebral, diminuindo assim, a

extensão da lesão no cérebro.

No artigo de Dr. Zhongguo Zhen Jiu et al. (2014), comparou dois grupos com

disfagia após Acidente Vascular Cerebral, utilizando agulhamento em pontos como:

VG20 e VC23, e com estimulação elétrica funcional. Com Acupuntura observou-se

uma eficácia de 84,2%, sendo que Acupuntura com estimulação elétrica, 58,3%.

Sendo assim, a Acupuntura combinada apresentou eficácia no tratamento da

sequela por AVC.

41

Dr. Huanmin Gao et al., em seu artigo, comparou com agulhamento

contralateral, utilizando os pontos: P5 e TA14 no tratamento para Hemiplegia, ou

seja, inserção de agulhas em pontos de Acupuntura no lado relativamente saudável.

Foram selecionados 106 pacientes, onde um grupo de 45 pacientes com

agulhamento contralateral nos membros não afetados, e em outro grupo de 45

pacientes receberam o tratamento nos membros hemiplégicos, e 16 pacientes como

Grupo Controle.

42

8 CONCLUSÃO

O presente trabalho considera a eficácia da Acupuntura no Tratamento das

sequelas do Acidente Vascular Encefálico, tratado como Golpe de Vento na

Medicina Tradicional Chinesa, proporcionando resultados significativos das sequelas

como: hemiplegias, afasia, paralisia facial, hipertensão.

Observou-se uma significativa melhora do tônus muscular, dando ao paciente

uma melhor qualidade dos movimentos dos membros afetados, evidenciando uma

recuperação da paralisia muito superior em comparação a outros tipos de

tratamentos para essas sequelas. Os estudos revelaram também que, Acupuntura é

mais eficaz se o tratamento for efetuado imediatamente após o Acidente Vascular

Encefálico. Bem como, poder aumentar o fluxo sanguíneo cerebral e/ou reduzir o

edema cerebral, diminuindo assim, a extensão da lesão no cérebro.

Não foi identificada a existência de protocolos nos pontos aplicados, porém,

nota-se que as combinações de pontos específicos para cada tipo de sequela levam

a uma potencialização no tratamento.

43

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